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Walber da Silva Pereira Filho Universidade CEUMA [email protected] Análise histórica e urbana de contrastes em áreas residenciais brasileiras: o caso da Península da Ponta D’areia e Ilhinha em São Luís (MA) e a região do Pina e Brasília Teimosa em Recife (PE). Hugo José Abranches Teixeira Lopes Farias Universidade de Lisboa [email protected] Marluce Wall de Carvalho Venâncio Universidade Estadual do Maranhão [email protected] 623

Análise histórica e urbana de contrastes em áreas ... · A pesquisa levanta questões de como os contrastes urbanos brasileiros estão sendo tratados ansiando por um País mais

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Page 1: Análise histórica e urbana de contrastes em áreas ... · A pesquisa levanta questões de como os contrastes urbanos brasileiros estão sendo tratados ansiando por um País mais

Walber da Silva Pereira Filho

Universidade CEUMA

[email protected]

Análise histórica e urbana de contrastes em áreas residenciais brasileiras: o caso da Península da Ponta D’areia e Ilhinha em São Luís (MA) e a região do

Pina e Brasília Teimosa em Recife (PE).

Hugo José Abranches Teixeira Lopes Farias

Universidade de Lisboa

[email protected]

Marluce Wall de Carvalho Venâncio

Universidade Estadual do Maranhão

[email protected]

623

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º CONGRESSO LUSO-BRASILEIRO PARA O PLANEAMENTO URBANO,

REGIONAL, INTEGRADO E SUSTENTÁVEL (PLURIS 2018) Cidades e Territórios - Desenvolvimento, atratividade e novos desafios

Coimbra – Portugal, 24, 25 e 26 de outubro de 2018

ANÁLISE HISTÓRICA E URBANA DE CONTRASTES EM ÁREAS

RESIDENCIAIS BRASILEIRAS: O CASO DA PENÍNSULA DA PONTA D’AREIA

E ILHINHA EM SÃO LUÍS (MA) E A REGIÃO DO PINA E BRASÍLIA TEIMOSA

EM RECIFE (PE)

W. S. Pereira Filho, H. J. A. T. L. Farias e M. W. C. Venâncio

RESUMO

Com seu crescimento urbano, a cidade de São Luís - MA apresenta duas áreas de

contrastes: a Península da Ponta D´areia e a Ilhinha. Já no Recife - PE, uma ocupação

irregular se iniciou ficando conhecida como Brasília Teimosa, chamando atenção pela sua

disparidade com seu entorno: o Pina. A escolha dos locais se deu pela importância no

contexto urbano das cidades e por serem pontos de antigo contraste urbano e conflito

social. O estudo aborda a análise de fatores históricos em ambos os casos, de seus dados

socioeconômicos e do uso e ocupação do solo. Utilizou-se de pesquisa bibliográfica e

documental, visitas técnicas, levantamento físico e fotográfico. Com a realização deste

estudo, percebemos muitas semelhanças nas áreas de contraste urbano em ambos os casos.

A pesquisa levanta questões de como os contrastes urbanos brasileiros estão sendo tratados

ansiando por um País mais igualitário.

1 INTRODUÇÃO

Os contrastes urbanos estão cada vez mais presentes nas cidades brasileiras. Observa-se

quase sempre que ao lado de zonas com condições insalubres encontramos condomínios de

alto nível social e econômico. Coexistem bairros nobres sendo margeados por favelas,

palafitas ou moradias sem condições mínimas de infraestrutura. Este impacto é muito

presente em todo o Brasil.

A cidade de São Luís (MA) consolidou o seu crescimento no final do Séc. XX surgindo

assim, duas áreas de contraste urbano: a Península da Ponta D´areia e a Ilhinha. Já no

Recife (PE), no final dos anos cinquenta, uma ocupação irregular se inicia numa área

aterrada para receber uma expansão do Porto (fato que não se concretizou) ficando

conhecida como Brasília Teimosa e chamando atenção pela disparidade com seu entorno, a

região do Pina.

Em São Luís, a Península da Ponta D’areia possui uma relação direta com a praia e se

caracteriza por ser a área mais cara e privilegiada da cidade, tendo presença marcante

residencial. Já no Recife, a região do Pina segue as mesmas características, porém com

uma maior presença comercial que na Península (MA).

Na Ilhinha (MA) e Brasília Teimosa (PE) as condições habitacionais e de convivência

oferecem baixa qualidade de vida. Percebemos diferenças em relação aos indicadores

socioeconômicos, à infraestrutura e equipamentos urbanos quando confrontados com seus

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“vizinhos ricos”. Há também uma importante relação de trabalho entre as áreas, pois a

população economicamente ativa da Ilhinha e Brasília Teimosa é absorvida pelos

moradores da Península (MA) e do Pina (PE) que não exigem uma mão-de-obra

qualificada.

Estes contrastes urbanos nos propiciam um espaço vasto de pesquisa em campos diversos,

seja ele urbanístico, arquitetônico, social, antropológico, entre outros.

O presente artigo faz parte de uma pesquisa de campo mais alargada em curso de

Doutoramento e analisou a evolução histórica e urbana em contrastes urbanos específicos

presentes em duas cidades brasileiras: São Luís (MA) e Recife (PE), sobretudo, por

estarem em pontos estratégicos das cidades.

2 OBJETIVOS

2.1 Geral

O estudo aborda a análise de fatores históricos em ambos os contrastes urbanos (Península

e Ilhinha em São Luís - MA e a região do Pina e Brasília Teimosa em Recife - PE), de seus

dados socioeconômicos, sua densidade demográfica e de seu uso e ocupação do solo.

2.2 Específicos

i. Contextualizar historicamente, socialmente, economicamente e demograficamente

estas áreas de contrastes urbano em São Luís – MA (Península e Ilhinha) e Recife –

PE (Pina e Brasília Teimosa);

ii. Compreender o processo de urbanização nas zonas mencionadas;

iii. Perceber o uso e ocupação do solo nestas áreas.

3 JUSTIFICATIVA

A escolha dos locais decorreu, sobretudo da importância das áreas no contexto urbano das

cidades e por serem pontos de interessante contraste urbano e antigo conflito social. Assim,

podemos compreender os agentes causadores e modificadores do espaço.

4 METODOLOGIA

Utilizou-se de pesquisa bibliográfica, com abordagem qualitativa, como artigos científicos,

livros e periódicos. Também se empregou de pesquisa documental para levantamento de

dados sobre registros, fotos, mapas, histórico das áreas, análise de indicadores sociais e

elaboração de mapas para determinar o uso e ocupação do solo em ambos os contrastes

urbanos. Juntamente realizaram-se visitas técnicas, levantamento físico e fotográfico de

parte do parque habitacional em São Luís (MA) e Recife (PE).

5 HISTÓRICO DAS ÁREAS

5.1 Península e Ilhinha (MA)

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O bairro da Ponta D’Areia caracteriza-se pela sua posição estratégica para a defesa e

proteção da cidade de São Luís, desde o séc. XVII com o Forte de Santo Antônio.

Com o Plano Diretor de 1971, a área começa a ter maior destaque no cenário da cidade

com a proposição de um "Projeto de Urbanização da Ponta D'areia". Um obstáculo para a

implementação desse novo plano era a ocupação irregular existente, que até então era

formada por bares e casas de veraneio. Assim, a Prefeitura requereu junto ao Patrimônio

Imobiliário da União a transferência do domínio da área, para o Estado. Isso gerou a

viabilização do plano com a desapropriação da área e a criação e venda de lotes (Burnett,

2002).

A via de ligação entre o Centro Histórico e as praias em São Luís foi construída sobre o

Igarapé da Jansen (1970), para permitir o rápido acesso à Ponta D'areia. A ligação cidade-

praia e o saneamento da bacia do Rio Anil foram de extrema importância para as obras de

urbanização, pois estas áreas represadas e alagadas seriam, com o tempo, aterradas para

formarem novas ruas, habitações e condomínios de classe econômica média e alta.

A malha urbana do bairro ficou praticamente inalterada até à década de 80 quando houve

apenas a construção de algumas casas e edifícios residenciais; e até o ano de 2013 a área

não contava com nenhum espaço público digno e comparável às unidades habitacionais.

Apenas em 2014, com a construção do Espigão Costeiro, verificou-se uma preocupação no

que se refere a espaços públicos e equipamentos urbanos. Além disso, essa melhora

urbanística também teve a função de controlar a erosão da orla protegendo suas edificações

e melhorando o tráfego das embarcações. Como consequência houve o aumento da faixa

de areia da praia presente na enorme passarela que invade o mar.

A expressão "Península da Ponta D’Areia" foi e está sendo muito utilizada pelo mercado

imobiliário de modo a alavancar ainda mais o preço do metro quadrado de construção da

área, pois a expressão "morar na península" gera uma posição social de destaque na cidade,

elevando assim, o famoso status social.

Ocupando território contíguo, a Ilhinha tem na sua origem os mesmos fatores da Península

(aterro da Ponta D’areia e o represamento do Igarapé da Jansen). A área de maré/mangue

foi ocupada por pessoas humildes, que fizeram suas palafitas e passaram a morar na

localidade, originando assim uma ilha pequena, a Ilhinha.

Um fator de crescimento para a Ilhinha foi a Avenida Castelo Branco, que no decorrer do

crescimento dos seus bairros adjacentes (São Francisco e Renascença), no final dos anos

80, foi alargada se transformando numa das mais movimentadas e importantes de São Luís.

A Ilhinha foi-se expandindo internamente, consolidando-se como uma ocupação

permanente, caracterizando-se, porém, pela falta de um planejamento urbanístico

adequado.

Na década de 90, foi construída a ampliação da Avenida Litorânea e a Ilhinha passou a ter

melhores acessos, facilitando assim o fluxo viário de seus moradores com a praia. Ocorreu

na mesma época, a remoção das palafitas encontradas na Lagoa da Jansen para serem

relocadas num conjunto habitacional com uma infraestrutura básica já implantada

(Residencial Ana Jansen). Este residencial presencia o crescimento de inúmeras palafitas

ao seu redor, muitas delas, construídas por famílias que ali pretendem se estabelecer.

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Com o passar do tempo a Ilhinha foi crescendo e se consolidando na vertente

socioeconômica de São Luís. As casas que antes eram de palha, madeira, papelão, deram

lugar às casas de taipa, e, mais tarde, às de alvenaria. Com muita persistência da

comunidade, foi implantado saneamento básico (precário), água canalizada, eletricidade,

pavimentação de ruas e escolas. Abaixo, na figura 1 temos uma vista aérea do contraste

urbano em São Luís – MA.

Figura 1– Vista aérea do contraste urbano em São Luís: Península e Ilhinha. Fonte:

Autor, 2016.

5.2 Pina e Brasília Teimosa (PE)

Na época do Brasil colonial, Olinda era a capital de Pernambuco e Recife mostrava-se

como um pequeno povoado que abrigava pescadores. Nesse cenário, o bairro do Pina

envolvia ilhas e terras alagáveis. A nomenclatura do bairro se origina de uma ilhota que

havia em um sítio de posse do português André Gomes Pina (Santos, 2011).

O bairro do Pina era muito pretendido em função de sua praia, frequentada sobretudo por

famílias de alto poder aquisitivo. Tinha seu acesso apenas por barco e em 1915 começou a

perder importância e status quando foi lançado o primeiro sistema de esgoto sanitário da

cidade cuja instalação acabava nesta praia. Seu acesso ao restante da cidade ocorreu em

1920 quando foi construída a primeira ponte no bairro (Santos 2011).

Em 1980, surgiu no entorno restaurantes e bares no bairro: “o Polo Pina”, uma área que

ficou característica pela presença de movimentos artísticos e culturais gerando um local de

badalação e visitação que permanece até os dias atuais (Pereira, 2017).

Entre os bairros do Pina e Boa Viagem, situa-se Brasília Teimosa, que teve sua origem em

função da ocupação irregular de uma área denominada “Areal Novo” próxima ao Porto do

Recife, em função de uma ampliação de parte do complexo portuário que não aconteceu,

ficando o terreno em litígio e consequentemente sendo ocupado (Pereira, 2017).

Um fato histórico marcante ocorreu em 1956 quando cinco pescadores moradores da área

até então ocupada, foram ao Rio de janeiro em uma pequena jangada para comparecer a

posse do então presidente Juscelino Kubitschek e ter a atenção para a comunidade, que se

encontrava sob constante ameaça de expulsão do local. Daí origina-se o nome da

comunidade, uma homenagem a Capital do País e a insistência de seus moradores em

nunca deixar o local (Nunes, 2004).

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Em 1980, a cidade do Recife mostrou um cenário marcado pelas lutas comunitárias das

Associações de Moradores em prol da população pobre; e frente às pressões exercidas

pelos movimentos sociais, apresentou-se uma proposta de modificação da Lei de Uso e

Ocupação do Solo, onde se estabeleceu o Plano de Regularização das Zonas Especiais de

Interesse Social (ZEIS), que viabilizou a urbanização e regularização fundiária das áreas

(Pereira, 2017). Fato este, presenciado também na Ilhinha, em São Luís – MA.

Uma das primeiras ocupações irregulares do País, Brasília Teimosa também passou a ser

um dos primeiros locais a ser urbanizados através do programa Promoradia. Este processo

de urbanização teve a participação e foi desenvolvido pelos próprios moradores gerando

um projeto que ficou conhecido como Teimosinho (1982). Este projeto previa

principalmente a retirada das palafitas do local, bem como a urbanização da orla e

incremento de equipamentos comunitários, entretanto foram ações que não se

concretizaram, deixando a área favorável à nova ocupação (Melo, 1986).

Em 1986 houve uma segunda relocação na área, transferindo seus moradores para a Vila

Moacir Gomes, porém a área novamente não foi urbanizada, gerando nova ocupação. No

ano de 1989, os ocupantes das novas palafitas que surgiram foram relocados para a Vila

Teimosinha, gerando um novo ciclo de ocupações (Nunes, 2004).

Um novo projeto urbanístico com participação da Prefeitura do Recife e Governo Federal

surge em janeiro de 2004. O plano englobava além de ações urbanísticas, intervenções

ambientais, sociais, econômicas e culturais. Em consequência houve a remoção das

palafitas e seus ocupantes foram relocados para um conjunto habitacional no bairro

próximo do Cordeiro (Nunes, 2004).

Com a demolição das palafitas, a cidade do Recife passou a contar com mais uma rota para

o turismo local, com mais de 1,3 km de praia, incluindo-se piscinas naturais compostas por

arrecifes que constitui, na atualidade, a avenida principal, passando a se chamar “Brasília

Formosa”, abrangendo pista de caminhada, parques e restaurantes. Tem-se, assim, o bairro

de Brasília Teimosa dos últimos anos, que mostra uma realidade totalmente inversa da

comunidade do passado. Abaixo, na figura 2 temos uma vista aérea do contraste urbano

presente na cidade de Recife.

Figura 2 – Vista aérea do contraste urbano em Recife: Pina e Brasília Teimosa.

Fonte: Autor, 2017.

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6 CARACTERIZAÇÃO SÓCIO-ECONÔMICA E DEMOGRÁFICA

6.1 Península e Ilhinha (MA)

Segundo dados censitários mais recentes do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

(IBGE) de 2010, a área da Península possuía um total de 404 domicílios particulares

permanentes em uma área de 577.374,66m². Havia abastecimento de água tratada e acesso

à rede geral de esgoto em 95,80% dos domicílios. O lixo era coletado quase que em sua

totalidade (99.49%).

A maioria dos habitantes da Península recebia mais de 05 salários mínimos. Essa condição

denota a boa condição das habitações na área. Um dado interessante que serve para

confirmar esta referência é que 15.35% dos habitantes recebiam mais de 20 salários

mínimos. A área analisada também possui alto nível de escolaridade, uma vez que 98.76%

da população residente são alfabetizadas.

A faixa etária predominante na Península é adulta de 30 a 59 anos. As pessoas com mais de

60 anos alcançam índice de 23,76% da população residente total. A proporção de jovens de

18 a 29 anos representou apenas 11.88%.

No bairro adjacente, a Ilhinha, encontrava-se um total de 1.119 domicílios particulares

permanentes em uma área de 518.617,20 m². Havia abastecimento de água tratada em

95,35% dos domicílios. Possuía acesso à rede geral de esgoto 71,58% das habitações. O

que nos chama a atenção é o fato de quase 20% dos domicílios não possuírem instalação

sanitária e não havia banheiro em 17% deles.

A maioria dos habitantes na Ilhinha recebia até dois salários mínimos. Essa condição

denota a falta de infraestrutura nas casas. A área analisada possui ainda 10% de pessoas

não alfabetizadas.

A faixa etária predominante na Ilhinha é de 20 a 24 anos. As pessoas com até 44 anos

alcançam índice de 85,5% da população residente total. A proporção de jovens e adultos

apresentou-se superior à de idosos.

Analisando o valor máximo e mínimo da densidade demográfica nas áreas tem-se um dado

interessante, pois enquanto na Península temos quase 228 habitantes/km² na Ilhinha

encontramos mais de 13.000 habitantes/km². O número de habitantes extremamente alto na

Ilhinha gera carência de habitações, degradação do meio ambiente, ocupações irregulares,

entre outros.

6.2 Pina e Brasília Teimosa (PE)

O bairro do Pina possuía um total de 9.457 domicílios particulares permanentes em uma

área de 686.800 m². Havia abastecimento de água tratada em 82,94% deles. Possuía acesso

à rede geral de esgoto apenas 58,77% das habitações segundo dados ainda do IBGE de

2010.

A maior parcela de seus moradores (34,61%) recebia mais de ½ até 1 salário mínimo. Em

seguida, temos 20,16% que recebiam entre 1 e 2 salários mínimos. Apenas 6,71%

apresentam uma renda entre 3 a 5 salários mínimos. Uma parcela de 12,05% de seus

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habitantes não apresentava rendimento. Ainda encontrava-se um percentual de pessoas não

alfabetizadas (9,34%).

A faixa etária predominante no Pina era de adultos de 30 a 59 anos que correspondia a

40,66%. Em seguida, temos a parcela de crianças e adolescentes com 26,11% dos

moradores. Os jovens de 18 a 29 anos correspondiam a 21,19%. Os idosos representavam

12,04% de seus habitantes.

Já, a área de Brasília Teimosa possuía um total de 5.464 domicílios particulares

permanentes em uma área de 727.000 m². Havia abastecimento de água tratada em 82,65%

deles. Encontrávamos apenas 63,63% dos domicílios com acesso à rede geral de esgoto.

Este dado é preocupante, pois demonstra a falta de investimento do Governo Federal com

saneamento básico.

Ao analisarmos a renda dos habitantes de Brasília Teimosa tínhamos a maior parcela

(41,98%) recebendo entre ½ até 1 salário mínimo. Em seguida, temos 24,89% que

recebiam entre 1 e 2 salários mínimos. Apenas 4,66% apresentavam uma renda entre 3 a 5

salários mínimos. E o que nos chama a atenção é que uma parcela de 11,47% não

apresentava rendimento. Estes dados contribuem para o baixo índice de desenvolvimento

econômico e social da área. Na área encontrava-se ainda um percentual de quase 10% de

pessoas não alfabetizadas. Outro retrato da falta de investimentos em educação pelo

Governo Federal.

A faixa etária predominante da área analisada era de adultos de 30 a 59 anos que

correspondia a 40,41%. Em seguida, temos a parcela de crianças e adolescentes com

27,52% dos moradores. Os jovens de 18 a 29 anos correspondiam a 20,90%. Os idosos

representam 11,17% de seus habitantes.

Ao analisarmos a área das duas localidades, percebemos um valor aproximado, pois existe

uma variação entre a maior área e a menor de apenas 40.200 m². Já, quando deparamos

com os valores da densidade demográfica, notamos que no bairro do Pina (4.446,87

habitantes/km²) encontra-se quase que o dobro de contingente populacional na área de

Brasília Teimosa (2.521,87 habitantes/km²). Isto é consequência do número de pavimentos

das edificações existentes no Pina, pois enquanto em Brasília Teimosa a grande maioria

das edificações são térreas (assim como na Ilhinha - MA), no Pina encontramos edificações

com um maior gabarito contribuindo assim, para o aumento de sua ocupação.

7 O USO E OCUPAÇÃO DO SOLO

7.1 Península e Ilhinha (MA)

Na área da Península observa-se uma vasta predominância residencial. Os serviços

encontrados são pontuais, embora estejam crescendo a cada ano, não estando muito

próximo uns aos outros e resumem-se dois hotéis, escritórios, salão de beleza, imobiliária,

clube de recreação, bares e o grupamento de bombeiros marítimos. Um ponto de grande

deficiência foi a inexistência de espaços chamados de "comércio de vizinhança" (padarias,

farmácias, conveniências, dentre outros). Apenas no final do ano de 2016 e no ano de 2017

que se instalaram duas conveniências que atendem por hora como padaria e alguns

estabelecimentos comerciais de refeição instalados em uma galeria de edifício residencial.

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Outro ponto deficitário é a existência relativamente grande de espaços ainda vazios. Estes

representam lotes com cobertura vegetal, como podemos observar na figura 3 abaixo.

Figura 3 – Mapa do uso e ocupação do solo da Península. Fonte: Autor, 2017

Ao analisar o gabarito das edificações, pode-se verificar que há uma clara diferença entre

os dois lados da Avenida que separa a Península (Av. dos Holandeses): na parte Sul uma

maior quantidade de quarteirões e a predominância de casas, com gabarito variando entre

um e dois pavimentos. Na parte Norte a predominância é de edifícios multifamiliares, e os

lotes que não estão em obra, possuem edifícios com 15 pavimentos.

Com relação ao padrão de ocupação do solo, percebe-se que a área é caracterizada por uma

ocupação regular, habitadas por população de renda média e alta e com bom nível de

escolaridade. Esta é a realidade da Península da Ponta D’areia que ainda conta com um

potencial paisagístico e que a especulação imobiliária vem sendo utilizada prioritariamente

para atrair investimentos de alto padrão.

Na Ilhinha a ocupação é quase toda residencial, havendo alguns pontos de comércio, como

minimercados ou mercearias. Chama a atenção na zona, a grande faixa territorial ao longo

da Avenida Ferreira Goulart, com uma presença significativa de terrenos vazios,

abandonados, desocupados e sem uso. Quanto aos equipamentos, estão presentes: duas

Igrejas, duas escolas públicas sendo uma primária e outra secundária; uma creche, que se

encontra degradada, além de não suprir a demanda local de crianças, e uma Associação

Comunitária, que funciona praticamente como uma creche infantil, na qual existe um

campo de futebol para atividades desportivas.

Em seu próprio histórico de ocupação, a Ilhinha concretizou um irreparável dano

ambiental, aterrando e construindo sobre manguezais, consolidando o terreno com areia e

entulho. Processo este que ocorreu até a década de 90 do século passado.

Após a construção da Avenida Litorânea, a criação do Residencial Ana Jansen também foi

motivo de polêmica, pois avançou mais sobre áreas de manguezais, aterrando uma área

onde a natureza não é renovável. Atualmente, o Residencial Ana Jansen serve como

escudo e máscara para as novas ocupações em palafitas que continuamente, em ritmo

acelerado, atravessam o mangue, e está cada vez mais próxima de sua área contígua - A

Península.

Outro fator que é de grande relevância para o entendimento sobre a gravidade da

degradação e descaso público ambiental na Ilhinha é a insalubridade do espaço urbano,

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ocasionada pela falta de escoamento de águas pluviais, que causa alagamentos em

inúmeras ruas da comunidade durante o período de chuvas. Junto ao escoamento precário

das águas pluviais, os restos de comida, os dejetos de animais e de pessoas, e a falta de

uma coleta eficiente de lixo, observa-se ainda uma grande falha na estrutura viária da

Ilhinha, a qual deveria permitir alcançar as áreas mais internas da comunidade, amenizando

os danos causados ao meio ambiente e também à saúde.

A ocupação da Ilhinha apresenta um sério problema fundiário, em que todos os “lotes”

foram definidos por meios de ocupação espontânea, hoje em dia já consolidados. Em sua

maioria, a área possui terrenos que variam de 10m a 20m de profundidade, pois a ocupação

se deu gradativa e informalmente. Este processo ocasionou uma certa formalidade espacial

no tamanho dos lotes ocupados pelas novas famílias. Atualmente, muitos dos terrenos

grandes já foram divididos e vendidos, ou ocupados novamente irregularmente, gerando

assim becos e pequenas vilas entre os quarteirões que eram, sem afastamentos, delimitados

pelos próprios moradores, sem nenhuma regularização legal, perpetuando assim um

ambiente urbano desconfigurado e desqualificado, dificultando seus acessos. Abaixo, na

figura 4 temos uma distribuição espacial do uso, ocupação e verticalização da Ilhinha.

Figura 4 – Mapa de uso e ocupação do solo na Ilhinha. Fonte: Autor, 2017

Atualmente, as casas já são de alvenaria, muitas com gabaritos de dois pavimentos. A sua

ocupação cresce em favor da geminação das casas, tanto vertical como horizontalmente.

Esta densificação urbana já delimita e consolida a área, que devido a uma falta de

planejamento dos lotes e casas, aumentam a densidade populacional sem haver a estrutura

urbana necessária para acompanhar o crescimento.

7.2 Pina e Brasília Teimosa (PE)

A região do Pina é caracterizada por ser um bairro predominantemente residencial. Poucos

moradores fazem de sua habitação também seu comércio (uso misto). O setor comercial do

bairro se faz presente nas áreas costeiras e limítrofes. No local encontram-se ainda alguns

vazios urbanos. A natureza é fator marcante no bairro: aproximadamente a metade de toda

a área é marcada por uma vegetação de mangue, cortada por rios e ainda conta com uma

orla marítima.

A verticalização é uma característica muito comum em todo o País, e no Recife também,

sobretudo em áreas tidas como nobre e de alto padrão, caracterizados pela disposição de

uma boa infraestrutura em geral, como acontece na orla do Pina e em seu bairro adjacente

(Boa Viagem), onde suas construções foram edificadas ao longo de toda a faixa litorânea,

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fato este, tendo sua origem devido a especulação imobiliária. De acordo com estas

características, as edificações de 15 ou mais pavimentos se encontram realmente quase que

em sua totalidade na orla, salvo algumas exceções. Já, na parte central do bairro

encontramos predominantemente edificações térreas, ou no máximo de 02 pavimentos,

como podemos perceber na figura 5 abaixo.

Figura 5 – Mapa de uso e ocupação do Pina. Fonte: Autor, 2017

Mesmo com mecanismos de conservação ambiental, muitas das construções na zona

costeira, não seguiram a legislação que estabelece um limite mínimo para a ocupação

nestas áreas que são denominadas de “terrenos da Marinha”. Dessa forma, fica perceptível

que a orla do Pina apresenta sérias implicações de caráter ambiental, especialmente no que

concerne ao uso e ocupação do solo (Silva, 2016).

Um dos projetos de maior impacto na área foi o projeto “Cura Beira-Mar”. O objetivo era a

reestruturação da orla, no sentido de oferecer um “melhor ambiente” para a população e

turistas, entre as modificações propostas estariam o ordenamento do comércio ambulante, a

incorporação de equipamentos de iluminação e de lazer, além da expansão do calçamento;

entretanto, as intervenções promovidas pela Prefeitura provocaram um desgaste ao

ambiente praial, uma vez que resquício de vegetação nativa foi devastado. Houve uma

expansão do estacionamento e alargamento do calçadão, ocupando, desta forma os terrenos

da praia, promovendo um grande rebaixamento da topografia da faixa litorânea,

potencializando o processo erosivo natural (Nunes, 2004). A medida adotada pela

Prefeitura foi à implantação de blocos rochosos em toda extensão da área erodida, fato este

que inviabilizou o uso natural da praia nestes trechos. Esse processo erosivo e a instalação

de blocos rochosos foi muito semelhante ao que aconteceu com a Península em São Luís.

Naturalmente, com o surgimento de prédios com numerosos pavimentos, fez-se com que

aumentasse o esgoto e o lixo doméstico, o fluxo de veículos, o impedimento da circulação

do vento e sombreamento na praia. Como resultado aumentou-se a demanda sobre recursos

hídricos, desencadeando o aumento da perfuração de poços, além de sufocar e desvalorizar

outros prédios baixos e casas, acentuando a “exclusão social” (Silva, 2016).

Já em território contíguo, apontada sempre como uma conquista social permanente, a ZEIS

de Brasília Teimosa, demonstra um amplo potencial de habitação popular e uma posição

urbana estratégica. Juntamente com suas qualidades, o local também apresenta problemas

que dificultam o seu desenvolvimento integrado junto à cidade como a falta de parâmetros

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específicos de controle e uso do solo urbano e a inexistência de espaço para o crescimento

de moradias.

A falta de áreas verdes e/ou livres para novas habitações promoveram a remoção de

pessoas que ocupavam a beira-mar, para outra região da cidade – no Cordeiro – que

embora tenha propiciado moradia, não foi considerada uma alternativa adequada em razão

da retirada da principal atividade econômica da qual sobreviviam (pesqueira), uma vez que

o deslocamento para o antigo local de pesca e transporte dos pescados ficou quase inviável

para muitos.

Analisando o gabarito, percebemos uma Brasília Teimosa predominantemente térrea.

Existem em menor número edificações que atingem de 03 a 05 pavimentos, acima desse

gabarito é praticamente inexistente como podemos observar na figura 6 abaixo. Essas

características de uso e ocupação do solo são muito marcantes também no caso da Ilhinha

em São Luís (MA).

Figura 6 – Mapa do uso e ocupação do solo de Brasília Teimosa. Fonte: Autor, 2017

8 CONCLUSÃO

Com a realização deste estudo, percebemos muitas semelhanças nas áreas de contraste

urbano: o início do povoamento na Ilhinha (MA) e Brasília Teimosa (PE) como colônia de

pescadores, o fato de expulsão e persistência de ambos moradores, a relocação dos

ocupantes das palafitas para conjuntos habitacionais, localização geográfica semelhante

(forte apelo ao mar), seus baixos indicadores socioeconômicos, seu uso e ocupação do solo

marcado pelo adensamento populacional e moradias populares de baixa qualidade

construtiva.

As várias “relocações” dos ocupantes de palafitas tanto em São Luís como no Recife nos

faz pensar como a arquitetura pode fazer para que a área ocupada irregularmente não volte

a ser povoada. Vimos no Recife uma urbanização onde a comunidade se fez presente

transformando a principal avenida do bairro (Av. Brasília Formosa) em um ponto turístico

gerando emprego e renda a seus moradores. Fato este, que precisa ser copiado em outras

situações semelhantes: fazer a comunidade “abraçar” o projeto e se tornar parte dele.

Page 13: Análise histórica e urbana de contrastes em áreas ... · A pesquisa levanta questões de como os contrastes urbanos brasileiros estão sendo tratados ansiando por um País mais

Surge um novo modelo de urbanização onde ricos e pobres convivem na mesma região

separados muitas vezes por um muro ou por um elemento natural. Este estudo levanta

questões de como os contrastes urbanos brasileiros estão sendo tratados. Espera-se algum

dia, a construção de um País mais igualitário, onde haja espaço digno para todos os seus

habitantes.

9 REFERÊNCIAS

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