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ANÁLISE NUMÉRICA DE TESTE EXPERIMENTAL DE POÇO DE
PETRÓLEO
Rosana F. Correiaa, Eduardo M. R. Fairbairn
a, Romildo D. Toledo Filho
a, Marcos
M. Silvosoa, Cristiane R. Miranda
b
a Laboratory of Structures and Materials – PEC/COPPE, University Federal of Rio de Janeiro,
Centro de Tecnologia – Bloco I Sala 216 CEP 21945-970, Rio de Janeiro, Brasil,
[email protected], http://www.coc.ufrj.br
b PETROBRAS Petróleo Brasileiro S/A, Rio de Janeiro, Brasil, [email protected],
http://www.petrobras.com.br
Keywords: Oil well, cement sheath, finite element analysis
Abstract. An experimental test was developed to evaluate the structural behavior of the
cement sheath of an oil well which is submitted to steam injection cycles. Five cementitious
systems were tested and the thermal gradients that cracked the specimens together with the
crack widths were obtained for each material. Furthermore their mechanical properties such
as compressive and tensile strength, Young's modulus and Poisson´s ratio were also
measured. Finite element analysis with software DIANA TNO©
was performed in a thermo-
mechanical model with axisymmetric geometry. The stress analysis showed that the increase
in temperature creates tangential tensile stresses that cause the failure of the material. These
results agree with published data on numerical modeling of wells. Although the numerical
and experimental results presented the same tendency some quantitative differences in the
stresses calculations have been observed. This can be due to simplified hypothesis that was
used in the numerical model such as the non-consideration of creep and the invariability of
the thermal properties with temperature.
Mecánica Computacional Vol XXIX, págs. 9739-9757 (artículo completo)Eduardo Dvorkin, Marcela Goldschmit, Mario Storti (Eds.)
Buenos Aires, Argentina, 15-18 Noviembre 2010
Copyright © 2010 Asociación Argentina de Mecánica Computacional http://www.amcaonline.org.ar
1 INTRODUCTION
A injeção de vapor é um método térmico utilizado em reservatórios que
apresentam óleos com elevada viscosidade. Sua aplicação consiste na injeção de
vapor aquecido dentro do poço por um período pré-determinado de dias. Tal
procedimento permite a dissipação de calor no poço proporcionado a redução da
viscosidade do óleo e, consequentemente, o aumento da produção.
Apesar dos benefícios comprovados na recuperação de reservatórios de óleo
pesado, foi verificado também que após as aplicações de vapor havia um incremento
significativo na produção de água. Estudos apresentados na literatura (Dean e Torres,
2002; Pedersen et al., 2006 e Stiles, 2006) têm mostrado que a perda do isolamento
hidráulico na zona de produção é devido ao surgimento de fissuras na bainha de
cimento, oriundas do estado de tensão que é imposto pela aplicação de vapor e
também pela variação de pressão dentro do poço.
Pesquisadores tais como: Bosma et al., 2000; Dean e Torres, 2002; Myers et al.,
2005; Pedersen et al., 2006; Stiles, 2006 e Thiercelin et al., 1997 indentificaram, através
de análises numéricas, que os materiais cimentícios apresentavam melhor
desempenho quando possuiam menores módulos de elasticidade e maior
tenacidade. Tais propriedades proporcionavam ao material maior capacidade de
absorver as deformações produzidas pela variação térmica atenuando o problema da
fissuração. Desta forma, tem-se buscado desenvolver pastas de cimentação com tais
características e para isto, materiais como fibras minerais e sintéticas, polímeros e
aditivos espumantes estão sendo empregados.
Além da avaliação do desempenho do material por análises numéricas, são
também realizados testes em campo com o intuito de validar os resultados obtidos
por tais simulações. Contudo, os testes em campo são geralmente dispendiosos.
Desta forma, visando criar um dispositivo que avalie o comportamento estrutural de
pastas de cimentação sob condições ambientais de injeção de vapor; Correia (2009)
desenvolveu um modelo termomecânico de poço com similaridade física e
geométrica capaz de receber uma carga 250ºC de gradiente térmico.
No modelo termomecânico foram testados cinco tipos de materiais. O primeiro
material apresentou uma formulação convencional (PREF) contendo cimento classe G,
sílica ativa, aditivos e água. Outros três materiais foram desenvolvidos a partir do
primeiro contendo 10% de polímero SBR (PP10), 4,6% de fibra de volastonita (PW4,6)
e a combinação de 10% de polímero SBR e 4% de fibra de volastonita (PP10W4). O
quinto material utilizado foi um material compósito denominado de SHCC (do inglês
Strain Hardening Cementitious Composites) que contém em sua formulação fibras de
PVA. O SHCC foi proposto por possuir propriedades de alta tenacidade, ductilidade, e
múltipla fissuração quando submetido a esforços de tração. Todos os materiais foram
ensaiados no modelo termomecânico, sendo aplicados dois ciclos de aquecimento e
ao final destes as fissuras foram medidas com o auxílio de um fissurômetro.
Com o intuito de validar os resultados obtidos experimentalmente foram
realizadas simulações numéricas do ensaio termomecânico. O software utilizado nas
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análises numéricas foi o DIANA da empresa The Netherland Organization for Applied
Scientific Research (TNO Company) baseado no Método dos Elementos Finitos (MEF).
Foram realizadas simulações de carregamento térmico iguais às apresentadas no
ensaio experimental para cada tipo de material e os resultados de temperatura
externa no modelo, bem como tempo de abertura de primeira fissura foram
comparados numérico e experimentalmente. Além destes resultados, são
apresentadas as curvas tensão versus tempo das tensões principais geradas durante o
carregamento térmico e padrão de fissuração dos materiais.
2 MODELO NUMÉRICO
A geometria do modelo numérico foi baseada na geometria do modelo físico de
poço (Figura 1 a) sendo considerada a simetria do mesmo com relação ao eixo
longitudinal (Figura 1 b). Desta forma, o tipo de modelo numérico adotado foi
axissimétrico conforme Figura 1.b.
(a) (b)
Figura 1: (a) modelo físico de poço e (b) modelo númerico axssimétrico
As curvas de carregamento térmico foram aplicadas na superfície interna do
modelo de acordo com os dados de temperatura aquisitados no ensaio experimental.
Vale salientar ainda que na superfície externa foi considerada a troca de calor com o
meio por convecção natural (Figura 2 a). Como condição de contorno física
considerou-se que as faces extremas do modelo são restritas ao longo da direção y,
confome o ensaio experimental (Figura 2 b).
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(a) (b)
Figura 2: Condições de contorno: (a) carregamento térmico e (b) restrições físicas
Cinco tipos de materiais foram considerados na modelagem númerica: casing ou
tubo de revestimento, suporte/anéis, material cimentício e dois materiais de
contorno. Esses materiais de contorno apresentam apenas a propriedade térmica de
coeficiente de conveção, o que permite a troca de calor do modelo numérico com o
ambiente, sendo especificados para os anéis e para o material cimentício. A Tabela 1
apresenta as propriedades mecânicas obtidas através de ensaios realizados por
Correia (2009) e utilizadas nas análises. A tabela 2 apresenta as propriedades térmicas
adotadas com base em resultados de bibliografia (TNO DIANA, 2007) e a partir da
retroanálise dos resultados experimentais. As propriedades retro-ajustadas foram a
condutividade térmica, o calor específico e o coeficiente de convecção.
Material fc – CV E – CV
ν - CV (%) ft – CV ρ - CV
(MPa) - (%) (GPa) - (%) (MPa) - (%) (kg/m³) - (%)
PREF 61,3 - 2,6 13,2 - 2,9 0,21 - 12,6 3,90 - 5,8 1730 - 0,82
PP10 31,1 - 2,1 8,4 - 2,7 0,23 - 6,8 3,18 - 7,7 1540 - 0,46
PW4,6 69,9 – 2,2 15,4 – 2,9 0,20 – 3,6 3,42 – 11,4 1770 – 0,80
PP10W4 34,6 – 2,7 9,3 – 2,3 0,23 – 0,9 3,84 – 15,6 1540 – 1,84
SHCC 45,9 – 3,2 21,4 – 5,2 0,20 – 8,5 3,50 – 7,02 1870 – 190
Casing - 200 0,28 - 7850
Anéis - 210 0,30 - 7860
Table 1: Propriedades mecânicas dos sistemas cimentícios com os respectivos coeficientes de variação (CV)
Material
Condutividade Calor
específico Coeficiente
de Dilatação
Térmica (ºC-1
)
Coeficiente
de
Convecção
(W/m²ºC) (W/mºC) (J/kg ºC)
PREF 0,25 1100 12,0 x 10-6
20
PP10 0,26 1000 12,0 x 10-6
20
PW4,6 0,28 1200 12,0 x 10-6
20
PP10W4 0,28 940 12,0 x 10-6
20
SHCC 0,45 1100 12,0 x 10-6
15
Casing 45,1 461 12,0 x 10-6
-
Anéis 52,9 468 11,7 x 10-6
35
Table 2: Propriedades térmicas dos materiais utilizados
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O comportamento pós-ruptura dos materiais cimentícios estudados foi analisado
utilizando um modelo multidirecional de fissuração distribuída com decomposição de
deformações (TNO DIANA, 2007), tendo como critério de ruptura a maior tensão
principal de tração. Para os materiais PREF, PP10, PW4 e PP10W4 foram utilizados o
comportamento frágil pós-ruptura, enquando que para o material SHCC, foi adotada
uma lei de softening linear, com energia de fratura Gf = 1x106 N/m. Esse valor foi
considerado de modo a simular o comportamento de um material com grande
capacidade de deformação. As análises foram realizadas considerando um
acoplamento termo-mecânico em estado transiente com duração de 7200s, o que
corresponde ao tempo de aquecimento e de regime do ensaio experimental do
modelo físico do poço.
A malha de elementos finitos utilizada foi composta por 818 elementos
quadriláteros axisimétricos de oito nós do tipo CQ16A (TNO DIANA, 2007) com um
grau de liberdade no modelo térmico e com dois graus de liberdade no modelo
mecânico. Para a região de contorno, ou seja, em contato com o ar foram utilizados
72 elementos do tipo B2AHT (TNO DIANA, 2007) para considerar a troca de calor por
convecção com o meio (Figura 3).
Figura 3: Discretização em FEM do modelo
3 RESULTADOS
Os resultados apresentados a seguir, com exceção da evolução da temperatura,
são referentes a elementos localizados em duas faixas da seção longitudinal do
modelo numérico axissimétrico (Figura 4). A primeira seção é restrita pelos anéis
correspondendo aos elementos 430 (31,32 mm), 645 (43.00 mm) e 817 (52.33 mm). A
segunda pela seção livre correspondendo aos elementos 425 (31,32 mm), 640 (43.00
mm), 812 (52.33 mm) e ao nó 40.
Serão analisadas as tensões relativas à direção tangencial (direção Z indicada na
Figura 4) denotada como tensão tangencial (σzz), e a tensão na direção radial (direção
X indicada na Figura 4), denotada como tensão radial (σθ).
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Figura 4: Localização dos nós e elementos de análise
3.1 Evolução da temperatura
As respostas do carregamento térmico na face externa do modelo estão ilustradas
na Figura 5. Verifica-se para todos os cinco materiais estudados, que a resposta
numérica do carregamento térmico na face externa do modelo convergiu com os
resultados obtidos experimentalmente. Desta forma, o modelo térmico
implementado reproduziu satisfatoriamente o comportamento experimental. Além
das curvas de temperatura, a Figura 6 apresenta os campos de temperatura (em
Kelvin) nos instantes que, numericamente, surgem as primeiras fissuras na face
externa do modelo na análise.
(a) (b)
X Z
Y
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(c) (d)
(e)
Figura 5: Curvas da temperatura na face externa experimental versus numérico – (a) PREF, (b) PP10, (c)
PW4.6, (d) PP10W4 e (e) SHCC
(a) (b)
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(c) (d)
(e)
Figura 6: Campo de temperatura (em Kelvin) – (a) PREF aos 31 segundos, (b) PP10 aos 100 segundos,
(c) PW4,6 aos 35 segundos, (d) PP10W4 aos 68 segundos e (e) SHCC aos 33 segundos
3.2 Tensão versus tempo
As Figuras 7a-10a apresentam as curvas tensão tangencial versus tempo para a
seção restrita (elementos 430, 645 e 817) de cada material e as Figuras 7b-10b
apresentam as curvas tensão tangencial versus tempo para a seção livre (elementos
425, 640 e 812). Verifica-se, de forma geral, que a tensão tangencial na seção restrita
é de tração ao longo de todo o material cimentício até o momento da ruptura,
tornando-se posteriormente, de compressão na interface tubo de
revestimento/bainha de cimento. Observa-se também que na seção livre, sem o
confinamento dado pelos anéis, a ruptura ocorreu antes da seção restrita, e a tensão
tangencial não desenvolveu tensões de compressão nas proximidades da interface
tubo de revestimento/bainha de cimento.
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(a) (b)
Figura 7: PREF - (a) tensão tangencial (σzz) na seção restrita versus tempo (300 s) e (b) tensão
tangencial na seção livre (σzz) versus tempo (300 s)
(a) (b)
Figura 8: PP10 - (a) tensão tangencial (σzz) na seção restrita versus tempo (300 s) e (b) tensão
tangencial na seção livre (σzz) versus tempo (300 s)
(a) (b)
Figura 9: PW4,6 - (a) tensão tangencial (σzz) na seção restrita versus tempo (300 s) e (b) tensão
tangencial na seção livre (σzz) versus tempo (300 s)
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(a) (b)
Figura 10: PP10W4 - (a) tensão tangencial (σzz) na seção restrita versus tempo (300 s) e (b) tensão
tangencial na seção livre (σzz) versus tempo (300 s)
Para a análise mecânica do modelo com o material SHCC foi utilizada a
propriedade de energia da fratura, sendo adotado um Gf de 1x106 N/m
2, visando
reproduzir um comportamento perfeito de múltipla fissuração após ruptura na tração
proporcionada pela ação das fibras de PVA. A Figura 11 apresenta a curva tensão
tangencial versus tempo para o modelo com material SHCC tanto para a seção
restrita quanto para a seção livre.
(a) (b)
Figura 11: SHCC - (a) tensão tangencial (σzz) na seção restrita versus tempo (300 s) e (b) tensão
tangencial na seção livre (σzz) versus tempo
A tensão tangencial apresentou-se como de tração nos primeiros instantes do
ensaio, comportando-se como de compressão após 90s na interface tubo de
revestimento/bainha. É possível observar também na Figura 11a (elementos 430, 645
e 817) o endurecimento na tração com o posterior amolecimento. Tal
comportamento é também observado no gráfico da seção livre, Figura 11b,
(elementos 425, 640 e 812) que é predominante de tração. A Tabela 3 apresenta o
resumo dos valores da tensão tangencial obtidas numericamente. Observa-se que a
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seção livre apresentou valores superiores à seção restrita e que as tensões
desenvolvidas se aproximaram dos valores médios de resistência à tração (ft) do
material.
Material
Tensões Tangenciais (MPa) ft
Seção
Restrita Seção Livre (MPa)
PREF 3,40 3,57 3,90
PP10 2,62 2,93 3,18
PW4,6 3,10 3,34 3,42
PP10W4 3,17 3,57 3,84
SHCC 3,34 3,49 3,50
Table 3: Resumo dos valores máximos das tensões tangenciais
As Figuras 12-16 ilustram o comportamento da tensão radial no tempo. Observa-
se que a tensão radial é sempre de compressão ao longo de toda a seção do modelo,
tanto na seção restrita quanto livre. A Tabela 4 apresenta o resumo dos valores das
tensões radiais obtidas numericamente nos materiais estudados. É possível observar
que nas seções restritas as tensões de compressão apresentaram valores maiores que
nas seções livres devido à ação dos anéis.
(a) (b)
Figura 12: PREF - (a) tensão radial (σzz) na seção restrita versus tempo e (b) tensão radial na seção livre
(σzz) versus tempo
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(a) (b)
Figura 13: PP10 - (a) tensão radial (σzz) na seção restrita versus tempo (300 s) e (b) tensão radial na
seção livre (σzz) versus tempo (300s)
(a) (b)
Figura 14: PW4,6 - (a) tensão radial (σzz) na seção restrita versus tempo (300 s) e (b) tensão radial na
seção livre (σzz) versus tempo (300s)
(a) (b)
Figura 15: PP10W4 - (a) tensão radial (σzz) na seção restrita versus tempo (300 s) e (b) tensão radial na
seção livre (σzz) versus tempo (300s)
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(a) (b)
Figura 16: SHCC - (a) tensão radial (σzz) na seção restrita versus tempo e (b) tensão radial na seção livre
(σzz) versus tempo
Material
Tensões Radias (MPa)
Seção
Restrita Seção Livre
PREF 26,80 4,47
PP10 24,40 4,22
PW4,6 28,10 6,08
PP10W4 25,30 4,53
SHCC 23,50 8,74
Table 4: Resumo dos valores máximos das tensões radiais
Thiercelin et al. (1997) apresentaram um estudo sobre os efeitos da aplicação de
carregamentos de pressão e temperatura em poços de petróleo. Foi desenvolvido um
modelo numérico em elementos finitos composto do tubo de revestimento, bainha
de cimento e rocha da formação. Nas análises de carregamento térmico, verificou-se
que quando o módulo de elasticidade da bainha de cimento é maior que o módulo
de elasticidade da formação a tensão radial é sempre de compressão e a tensão
tangencial é de compressão na interface entre o tubo de revestimento/bainha e de
tração na interface bainha/rocha. No entanto, quando o módulo de elasticidade da
bainha é menor que o da formação, a tensão tangencial de tração é cerca de sete
vezes menor que o caso anterior e tende a ser de compressão com o passar do
tempo. Nesse trabalho a região restrita apresentou, após a ruptura, tensão tangencial
de compressão na interface tubo de revestimento/bainha e de tração na interface
bainha/anéis, tal comportamento foi semelhante ao obtido por Thiercelin et al.
(1997). No entanto, na região livre o comportamento foi predominantemente de
tração, o que vem indicar, como esperado, que a interação entre a bainha de cimento
e a formação, nos casos reais, é importante para determinar o tipo de ruptura do
material cimentício. A tensão radial apresentou o mesmo comportamento tanto na
seção restrita quanto na seção livre o mesmo demonstrado por Thiercelin et al.
(1997). O objetivo do ensaio termomecânico foi verificar o comportamento mecânico
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das modificações realizadas na matriz cimentícia. A utilização dos anéis teve como
propósito reproduzir a ação da formação. Mediante aos resultados obtidos verifica-se
que os anéis proporcionaram uma restrição parcial, apenas nas seções as quais
estavam presentes. Todavia, tal limitação não prejudicou as análises comparativas dos
comportamentos de fissuração dos materiais, uma vez que todos foram submetidos
às mesmas condições de restrição.
3.3 Fissuração
No modelo numérico o surgimento da primeira fissura ocorreu próximo a interface
tubo de revestimento/bainha de cimento se propagando até a face externa segundo
depois. As Figuras 17a-21a apresentam o instante do surgimento da primeira fissura,
na face externa do modelo, e as figuras 17b-21b apresentam as configurações finais
dos materiais fissurados.
(a) (b)
Figura 17: PREF - (a) fissura externa (tempo = 31s) e (b) fissuração final
(a) (b)
Figura 18: PP10 - (a) fissura externa (tempo = 100s) e (b) fissuração final
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(a) (b)
Figura 19: PW4,6 - (a) fissura externa (tempo = 35s) e (b) fissuração final
(a) (b)
Figura 20: PP10W4 - (a) fissura externa (tempo = 68s) e (b) fissuração final
(a) (b)
Figura 21: SHCC - (a) fissura externa (tempo = 33s) e (b) fissuração final
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O instante de surgimento de primeira fissura externa foi associado ao gradiente
térmico, tanto experimental quanto numérico, calculados através das curvas de
evolução de temperatura apresentadas na seção 3.1. A Tabela 5 apresenta um
resumo com os dados de tais gradientes na face externa do modelo.
Material Gradiente (ºC)
Diferença Experimental Numérico
PREF 54 35 35%
PP10 60 40 33%
PW4,6 72 26 64%
PP10W4 98 44 55%
SHCC 131 24 82%
Table 5: Quadro comparativo dos gradientes de fissuração
Verifica-se através da Tabela 5 que o gradiente numérico é inferior ao encontrado
experimentalmente e que tal diferença é mais significativa para o material SHCC. Esta
discrepância pode ser atribuída aos valores dos coeficientes de dilatação térmica
adotados, considerados iguais para todos os materiais analisados. Não foram
realizados ensaios para aferição de tal propriedade, sendo utilizados valores
apresentados na literatura (TNO DIANA, 2007). Desta forma, sugere-se a realização
de ensaios para obtenção de tal parâmetro e posteriores análises numéricas
considerando tais resultados. Também deve ser considerado o fato do modelo
numérico utilizado não considerar os efeitos da fluência da pasta, e a conseqüente
relaxação das tensões provocadas pelas deformações térmicas impostas.
Também é importante observar que o material PW4,6 apresentou gradiente de
fissuração numérico inferior à pasta de referência, o que representa um
comportamento oposto daquele observado experimentalmente. Isso pode ser
justificado pelo fato de numericamente não ter sido considerado o efeito de controle
da fissuração proporcionado pela utilização da fibra de volastonita, pelo aumento da
rigidez da pasta PW4,6, além das simplificações do modelo numérico já citadas.
A Figura 22 apresenta as relações entre os módulos de elasticidade dos materiais
ensaiados e o gradiente numérico de fissuração. Observa-se que quanto menor o
módulo maior o gradiente do material. Desta forma, assim como exposto pelos
autores Thiercelin et al. (1997), Bosma et al. (1999) e Goodwin & Crook (1992), para
poços de petróleo submetidos a gradientes de temperatura os materiais mais
indicados são aqueles que apresentam baixo módulo de elasticidade e maior
capacidade de absorver energia de deformação.
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Figura 22: Gráfico comparativo gradiente térmico e módulo de elasticidade dos materiais ensaiados.
Com relação à fissuração a Tabela 6 apresenta um quadro comparativo com
valores normalizados de abertura de fissura aferidos experimentalmente e os obtidos
na análise numérica. Vale salientar ainda, que tais valores foram normalizados, para
cada análise experimental e numérica, com relação à abertura de fissura do material
PREF. Desta forma, observa-se que as modificações realizadas na matriz cimentícia
proporcionaram um menor padrão de fissuração tanto nos resultados experimentais
quanto nos numéricos. Contundo a magnitude do tamanho de fissuras obtidas
numericamente foram maiores que as obtidas experimentalmente.
Material
Abertura de Fissura
Normalizada
Experimental Numérico
PREF 1,00 1,00
PP10 0,69 0,78
PW4,6 0,98 0,78
PP10W4 0,60 0,76
SHCC 0,25 0,52
Table 6: Quadro comparativo do tamanho de abertura de fissura
As adições realizadas à matriz cimentícia proporcionaram um melhor
comportamento estrutural do material sob ação de carregamentos térmicos.
Numericamente, o material dentre as pastas que apresentou melhor desempenho foi
o PP10W4, o que vem concordar com o resultado encontrado no programa
experimental. O material PP10 e PW4,6 também apresentaram numericamente um
bom desempenho com relação à PREF, o que corrobora para a indicação de matrizes
cimentícias com polímeros e fibras de volastonita para poços submetidos a cargas
térmicas.
O SHCC foi proposto no programa experimental por apresentar comportamento
de múltiplas fissuras na ordem de 60µm de abertura com espaçamento de 2mm
(Maalej e Li, 1995). Tal material não apresenta a reologia adequanda para a utilização
em poços de petróleo sendo necessários ajustes para tal propósito. Todavia,
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analisando o comportamento global (experimental e numérico) da fissuração dos
materiais verifica-se que o SHCC apresentou menores fissuras com relação aos
demais, o que o torna uma solução em potencial para o problema.
4 CONCLUSÕES
As análises numéricas foram importantes para o entendimento do comportamento
de ruptura dos materias estudados. Verificou-se uma resposta satisfatória nas curvas
de evolução de temperatura na face externa do modelo, utilizando-se propriedades
térmicas obtidas de bibliografia (coeficiente de dilatação térmica) e retro-ajustadas
(condutividade térmica, calor específico e coeficiente de convecção).
A análise mecânica mostrou que a tensão tangencial é uma tensão principal de
tração em todos os elementos até a ruptura do material. Todos os materiais, na seção
restrita, apresentaram para o elemento de interface tubo de revestimento/bainha de
cimento o desenvolvimento de tensões tangenciais de compressão após a ruptura do
material. Tal comportamento também foi verificado por Thiercelin et al. (1997) que
modelou poços submetidos à injeção de vapor considerando as interações rocha de
formação e bainha de cimento. Desta forma, a ação dos anéis conseguiu reproduzir o
comportamento da formação no modelo apenas nas seções restritas. No entanto,
para as seções livres a ação dos anéis foi parcial. As tensões radiais tanto para as
seções restritas quanto para as livres são de compressão e também estão em acordo
com os resultados apresentados na literatura.
Os gradientes de fissuração numéricos não foram coincidentes com os
experimentais, apesar dos valores das propriedades térmicas (condutividade térmica,
calor específico e coeficiente de convecção) utilizadas reproduzirem respostas
satisfatórias nas curvas de evolução da temperatura. As discordâncias entre os dados
numéricos e experimentais da fissuração apontam para a necessidade da
determinação experimental do coeficiente de dilatação térmica das pastas, bem
como do aprimoramento do modelo numérico utilizado de modo a incorporar os
efeitos da fluência na pasta. Devido ao resultado numérico do gradiente de fissuração
do material PW4,6 ter sido inferior ao resultado numérico de PREF, sugere-se
também a repetição do ensaio experimental.
A análise comparativa entre os valores médios de abertura de fissura experimental
e valores máximos de extensão da fissuração no modelo numérico apresentaram o
mesmo comportamento indicando que utilização de materiais como polímero SBR e
fibras de volastonita proporcionam uma menor fissuração no material cimentício.
Adicionalmente verificou-se que experimentalmente que o material SHCC apresentou
menor abertura média de fissura, comportamento similar ao observado
numericamente. Tal fato colabora para a indicação do uso deste material em poços
submetidos à injeção de vapor, desde que sejam realizados os ajustes de reologia
necessários para viabilizar sua aplicação em campo.
R. CORREIA, E. FAIRBAIRN, R. TOLEDO FILHO, M. SILVOSO, C. MIRANDA9756
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5 AGRADECIMENTO
Os autores agradecem às agências financiadoras ANP e FINEP pelo apoio à
presente pesquisa e ao CENPES/PETROBRAS pelo apoio logístico, assim como
FAPERJ, CAPES, CNPq e por bolsas e auxílios pesquisa.
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