33
1 Análises funcionais moleculares e molares: um passo a passo Lorena Bezerra Nery | Flávia Nunes Fonseca Existem diferentes modelos de causalidade na Psicologia. De maneira geral, tanto na linguagem cotidiana quanto em grande parte das abordagens psicológicas, o comportamento é visto como um indício de processos que ocorrem dentro da pessoa (processos neurológicos, fisiológicos ou mentais), como manifestações de acontecimentos internos (desejos, expectativas, sentimentos, etc.) ou também como a expressão de um agente interno ou de uma entidade com vontades próprias. Skinner, em seu famoso livro Ciência e Comportamento Humano (1953/2003), discorre sobre diversas causas popularmente utilizadas para explicar comportamentos, desde a posição dos planetas quando a pessoa nasce ou a estrutura física do indivíduo (p. ex., as proporções do corpo, o formato da cabeça, a cor da pele e dos olhos, os sulcos nas palmas das mãos) até causas interiores conceituais, quando se usam descrições redundantes como forma de atribuir explicações (p. ex., “Joaquim fuma porque é viciado”, “Larissa come porque tem fome”). De acordo com o autor, esse tipo de explicação envolve riscos por sugerir que as causas do comportamento já foram encontradas e não precisam mais ser investigadas. A perspectiva analítico-comportamental traz um contraponto às abordagens tradicionais, definindo a Psicologia como estudo do comportamento, isto é, das interações organismo-ambiente (de Rose, 2001; Todorov, 1989). A filosofia que embasa a Análise do Comportamento é o Behaviorismo Radical, o qual propõe um modelo selecionista de causalidade. De acordo com esse modelo, dentro de 22

Análises funcionais moleculares e molares: um passo a passo · nas palmas das mãos) até causas interiores conceituais, quando se usam descrições redundantes como forma de atribuir

  • Upload
    others

  • View
    39

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: Análises funcionais moleculares e molares: um passo a passo · nas palmas das mãos) até causas interiores conceituais, quando se usam descrições redundantes como forma de atribuir

1

Análisesfuncionaismolecularesemolares:umpassoapassoLorenaBezerraNery|FláviaNunesFonseca

Existem diferentes modelos de causalidade na Psicologia. De maneira geral,tanto na linguagem cotidiana quanto em grande parte das abordagenspsicológicas, o comportamento é visto como um indício de processos queocorrem dentro da pessoa (processos neurológicos, fisiológicos ou mentais),como manifestações de acontecimentos internos (desejos, expectativas,sentimentos,etc.)outambémcomoaexpressãodeumagenteinternooudeumaentidade com vontades próprias. Skinner, em seu famoso livro Ciência eComportamento Humano (1953/2003), discorre sobre diversas causaspopularmente utilizadas para explicar comportamentos, desde a posição dosplanetas quando a pessoa nasce ou a estrutura física do indivíduo (p. ex., asproporçõesdocorpo,oformatodacabeça,acordapeleedosolhos,ossulcosnas palmas das mãos) até causas interiores conceituais, quando se usamdescrições redundantes como forma de atribuir explicações (p. ex., “Joaquimfumaporque é viciado”, “Larissa come porque tem fome”).De acordo comoautor, esse tipo de explicação envolve riscos por sugerir que as causas docomportamentojáforamencontradasenãoprecisammaisserinvestigadas.

Aperspectivaanalítico-comportamental trazumcontrapontoàsabordagenstradicionais,definindoaPsicologiacomoestudodocomportamento,istoé,dasinteraçõesorganismo-ambiente(deRose,2001;Todorov,1989).AfilosofiaqueembasaaAnálisedoComportamentoéoBehaviorismoRadical,oqualpropõeummodeloselecionistadecausalidade.Deacordocomessemodelo,dentrode

22

Page 2: Análises funcionais moleculares e molares: um passo a passo · nas palmas das mãos) até causas interiores conceituais, quando se usam descrições redundantes como forma de atribuir

uma ampla faixa de possibilidades, os padrões comportamentais de cadaindivíduo são selecionados, mantidos e fortalecidos por eventos ambientais.Assim,asexplicaçõescausaissãodadasemtermosderelaçõesinterativasentreoindivíduoeoambiente(antecedenteseconsequentesàemissãodaresposta).

Essavisãoconsideraacausalidadeao longodo tempo;ouseja,nãoháumevento único ou uma causa que produza linear e diretamente um efeito,mas,sim, relações funcionais, demaneiraqueo comportamento é consideradoumavariável dependente em relação aos eventos ambientais, os quais seriamvariáveis independentes. Conclui-se daí que o comportamento é função decondições ambientais. Em uma perspectiva selecionista de causalidade, paraexplicar o comportamento não é necessário que os acontecimentos sejamcontíguos(próximos)noespaçoenotempo,mas,sim,quesejamcontingentes,isto é, que exista uma relação de dependência entre o comportamento e asvariáveis ambientais que o controlam. A probabilidade de ocorrência docomportamentonofuturoé,portanto,determinadapelascondiçõescontextuaiseconsequências produzidas pelo comportamento. Desse modo, as relações dedependênciasãobidirecionais,ouseja,ocomportamentodoindivíduomodificaoseventosambientais,que,porsuavez,alteramaprobabilidadedeocorrênciafutura do comportamento (Catania, 1999; Chiesa, 1994/2006; Marçal, 2010;Skinner,1981;Todorov,1989).

Moore(2008)destacaque,nasconcepçõesvigentesarespeitodaorigemdocomportamento, as explicações causais se dão de forma simples, linear eunidirecional,muitasvezesbaseadasemrelaçõesdecontiguidadenoespaçoenotempo(p.ex.,“Pedrobateunoprimoporqueestavacomraiva”,“Marianatocapianobemporqueétalentosa”).Deacordocomoautor,oBehaviorismoRadicalrejeita essas explicações do comportamento em termos da noção de umaentidadepresumidaqueantecederiaocomportamentoeteriaopodermecânicodecausá-lo, bemcomo rejeitaqualquer explicação internalista/mentalista, umavezqueessetipodeexplicaçãonãopermiteprevisãoecontrole,queseriamosobjetivosprimordiaisdeumaciência.Ademais,emboraconsiderearelevânciaea contribuição de aspectos fisiológicos, a perspectiva behaviorista rejeita aconcepção tradicional de que variáveis fisiológicas exerceriam algum tipo deforçainternacapazdecausarcomportamentosporsisó.

Tendo emvista essemodelo de causalidade,Moore (2008) aponta que, naproposta do Behaviorismo Radical, o ambiente seleciona característicascomportamentais da mesma forma que seleciona características morfológicas,segundoanoçãodeevoluçãopela seleçãonaturalpropostaporDarwin.Nessa

23

Page 3: Análises funcionais moleculares e molares: um passo a passo · nas palmas das mãos) até causas interiores conceituais, quando se usam descrições redundantes como forma de atribuir

perspectiva, determinadas características comportamentais são selecionadas aolongodo tempode acordo com sua adequação ao ambiente.Há três níveis deseleção do comportamento por suas consequências: o filogenético, oontogenético e o cultural (Skinner, 1981). O nível filogenético diz respeito àseleçãodecomportamentosinatosaolongodahistóriaevolucionáriadaespécie.A adequação do comportamento inato é analisada a partir das consequências:sucessodiferencialnocontatocomformasespecíficasdeestimulaçãoambientale sucesso reprodutivo. Assim, por exemplo, as borboletas com tom amareloescuro têm maior vantagem ao pousar nos troncos das árvores de umadeterminada região porque ficam menos visíveis aos predadores do que asborboletasdetommaisclaro.Essesindivíduos,portanto,tenderãoadeixarmaisdescendentes, de modo que, na próxima geração, seu genótipo será maisfrequente. Nesse contexto, as borboletas com os genes para o tom amareloescurosobreviverãomaisnaquelaregião,emmédia,e,portanto,deixarãomaisdescendentes. Assim, aos poucos, a população irá se tornando mais escura(Baum,1994/2006).

Já o nível ontogenético se refere à seleção de comportamentos durante ahistóriadevidadeumorganismo, istoé,asconsequênciasdeumdeterminadocomportamento afetam a probabilidade futura de sua ocorrência em umasituação semelhante, selecionando comportamentos com característicasespecíficas dentro de uma ampla faixa de possibilidades. O resultado dessaseleçãoéorepertóriodecomportamentooperantedoindivíduo.Aadequaçãodocomportamento,assimcomononívelanterior,édefinidaapartirdasdemandasdo ambiente (Moore, 2008). Por exemplo, um bebê balbucia uma amplavariedadedesons,porém,somenteossonsprópriosdalínguadeseuscuidadoresterão maior probabilidade de serem recebidos com expressões dereconhecimento/alegria ou com o acesso a consequências que satisfaçam asnecessidadesdobebêaofalar.Assim,aolongodahistóriadedesenvolvimentodo bebê, os sons da língua de sua comunidade verbal serão fortalecidos egradualmente se tornarão, emmédia,mais frequentes do que os sons que nãofazempartedaquelalíngua(Cole&Cole,2004).

Por fim, há o nível de seleção cultural, que trata da seleção de práticasculturaisao longodahistóriadeumacultura.Nessecontexto,háreforçamentosocial das práticas que são benéficas para a cultura, as quais se tornam partedela. As práticas culturais, assim, são transmitidas e mantidas por meio dascontingências sociais entrelaçadas e dos padrões de reforçamento social dacultura.Oresultadodesseníveldeseleçãoéoquesechamadecultura(Glenn,

24

Page 4: Análises funcionais moleculares e molares: um passo a passo · nas palmas das mãos) até causas interiores conceituais, quando se usam descrições redundantes como forma de atribuir

1991, 2004; Moore, 2008). Exemplos de comportamentos que podem serafetados pelo nível de seleção cultural são os comportamentos de gênero, ouseja,oscomportamentostípicosdemeninas/mulheresedemeninos/homens,quevariamdeacordocomoscostumes,asregraseosvaloresdediferentesculturas.Nesse contexto, nas Olimpíadas de 2016 no Brasil, por exemplo, as atletasbrasileiras jogaramvôlei de praia de biquíni, enquanto as egípcias jogaramdecalçacompridaehijab(véusobreacabeça),ouseja,asjogadorasdecadapaísjogaramcomvestimentascoerentescomosvalores/costumesdesuasrespectivasculturasnoqueserefereàpráticadamodalidadeesportivavôleidepraia.

Em conclusão, de acordo com a perspectiva behaviorista radical, ocomportamento atual é resultante de características genéticas únicas, de umahistóriaúnicadereforçamento(experiênciadevida)edasrelaçõesdoindivíduocom o ambiente atual e com as práticas culturais da comunidade em que seinsere.Assim,considera-seapossibilidadedecausaçãomúltipla,ouseja,dequeumúnico comportamento possa ser função demais de uma variável e de queuma única variável possa afetar mais de um comportamento (Marçal, 2010;Skinner,1953/2003,1981).

Na perspectiva daAnálise do Comportamento, os comportamentos podemser classificados basicamente de acordo com duas categorias: respondentes eoperantes. Os comportamentos respondentes (ou reflexos) são aqueles queenvolvemumarelaçãoorganismo-ambienteemqueumaresposta (mudançanoorganismo) é eliciada/provocada por um estímulo antecedente (mudança emparte do ambiente). Por exemplo, comida na boca (estímulo) elicia salivação(resposta), luz nos olhos (estímulo) elicia a contração da pupila (resposta),encontrar o namorado (estímulo) por quem se está apaixonada pode eliciarrespostasemocionais,comosudoreseetaquicardia.Oparadigmaquerepresentaa contingência respondente é S → R (de Rose, 2001; Moreira & Medeiros,2007), enfatizando-sequeas respostas respondentes sãocontroladaspor seu(s)antecedente(s).Entretanto,partesignificativadocomportamentoanimal/humanonão é eliciada por estímulos antecedentes, mas, sim, controlada por suasconsequências.

Denomina-seoperanteocomportamentoqueoperanoambienteproduzindoconsequências (modificações no ambiente), as quais, por sua vez, afetam aprobabilidade de ocorrência futura do comportamento. Dirigir um carro, ler,escrever,falar,solucionarproblemasmatemáticos,namorarouorganizaracasasão exemplos de respostas operantes, ou seja, controladas por suasconsequências. Assim, os operantes são definidos pelas consequências que

25

Page 5: Análises funcionais moleculares e molares: um passo a passo · nas palmas das mãos) até causas interiores conceituais, quando se usam descrições redundantes como forma de atribuir

produzem,esãoelasquedeterminarãoseocomportamentovoltaráaocorrerouse ocorrerá em maior ou menor frequência. Uma consequência é reforçadoraquando mantém ou aumenta a probabilidade de ocorrência da resposta que aproduziu.Diferentemente,aconsequênciaépunitiva/aversivaquandodiminuiaprobabilidade de ocorrência da resposta que a antecede. O paradigma querepresenta a contingência operante é R → C (de Rose, 2001; Moreira &Medeiros, 2007;Pierce&Cheney, 2004;Skinner, 1953/2003;Todorov, 1982).Destaca-se que um mesmo comportamento pode produzir simultaneamenteconsequências reforçadoraseaversivas,demodoquemúltiplasvariáveisestãoenvolvidasnadeterminaçãodeumdadocomportamento.

ANÁLISESFUNCIONAIS

A unidade de análise utilizada para descrever comportamentos individuais nonível ontogenético é a contingência de reforçamento, que mostra relaçõesfuncionais entre o comportamento operante e o ambiente com o qual oorganismointerage.Assim,deacordocomTodorov(1989),acontingênciapodeserdefinidacomoumaregraqueespecificarelaçõesentreeventosambientaisouentrecomportamentoseeventosambientais.NaAnálisedoComportamento,oconceitodecontingência se refereauma relaçãodedependênciaquedescrevecomo a probabilidade de um evento pode ser afetada por outros eventos. Arelaçãofuncionalsubstituianoçãotradicionaldecausaeefeito(Catania,1999;deSouza,2001).

O comportamento operante é definido como um grupo de respostas detopografiasdiferentesqueconstituemumaclassefuncionalporproduziremumaconsequência comum (Glenn, 1986/2005). Com a utilização do termo“operante”, enfatiza-se que o comportamento opera sobre o ambiente gerandoconsequências.Ascontingênciasdereforçoenvolveminter-relaçõesdecorrentesde pelo menos três aspectos: a) a ocasião em que ocorre uma resposta, b) aresposta e c) as consequências por ela produzidas. Segundo Skinner(1953/2003), uma formulação adequada da interação entre um organismo e oambiente deve conter pelo menos esses três termos, a chamada contingênciatríplice,ferramentabásicaparaarealizaçãodeanálisesfuncionaismoleculares.MoreiraeMedeiros(2007)enfatizamqueaanálisedecontingênciasouanálisefuncionalconsistenaidentificaçãodasrelaçõesentreoindivíduoeoseumundo,istoé,naobservaçãodeumcomportamentoenacompreensãodequal tipodeconsequênciaeleproduz.

26

Page 6: Análises funcionais moleculares e molares: um passo a passo · nas palmas das mãos) até causas interiores conceituais, quando se usam descrições redundantes como forma de atribuir

Quandosetratadecondicionamentooperante,aprobabilidadedeocorrênciade uma resposta é influenciada por suas consequências (modificações noambiente).Aofazerumaanálisefuncional,éimportanteidentificarquetipoderelação entre resposta e consequência está em operação. O reforçamento édefinidoquandoaprobabilidadedeocorrênciadeuma respostaaumentaousemantém, o que pode ocorrer devido à adição de um estímulo reforçador(reforçamento positivo) ou pela retirada de um estímulo aversivo/punitivo(reforçamentonegativo).Poroutrolado,quandohápunição,aprobabilidadedeemissão de uma resposta diminui pela apresentação de um estímuloaversivo/punitivo(puniçãopositiva)oupelaretiradadeumestímuloreforçador(punição negativa) (Baum, 1994/2006; Moreira & Medeiros, 2007; Pierce &Cheney, 2004; Skinner, 1953/2003; Todorov, 1982). Além disso, também épossível verificar diminuição da frequência de uma resposta por meio doprocesso de extinção operante, que ocorre quando há uma quebra nacontingência,ouseja,oreforçoanteriormentecontingenteaumarespostadeixadeocorrer(Skinner,1953/2003).

Caberessaltarquehádiferentestiposdereforçadores.Algunsestímulos,porsuarelevânciaparaasobrevivênciadaespécie(p.ex.,alimento,águaesexoparaindivíduosprivadosdeacessoaessesestímulospordeterminadoperíodo),nãorequeremumahistóriadeaprendizagemparaadquiriremfunçãoreforçadora.Asensibilidade de nosso comportamento à propriedade reforçadora dessesestímulos é herdada. Trata-se de estímulos reforçadores primários, ouincondicionados, cujo valor reforçador é determinado filogeneticamente, deforma que sua função de fortalecer comportamentos (nas devidas condiçõesmotivacionais) é inata (Baum, 1994/2006; Pierce & Cheney, 2004; Tomanari,2000).

Já os reforçadores condicionados são estímulos inicialmente neutros queadquirem função reforçadora por meio de um processo de aprendizagem, oreforçamentocondicionado,queserefereaumahistóriadeassociaçãocomumestímulo reforçador já estabelecido (primário ou condicionado) (Tomanari,2000).Há, portanto, reforçadores e punidores adquiridos ou condicionados aolongo da história pessoal de reforçamento, uma vez que, desde o início dainfância, as pessoas de nosso ambiente social nos ensinam reforçadores epunidorescondicionados,ouseja,ensinamadenominarboasasconsequênciasque reforçame as atividades que são reforçadas e,más, as consequências quepunem e as atividades que são punidas. Vale ressaltar que os reforçadorescondicionadosvariamdeacordocomaépoca,ahistóriadevidadapessoaecom

27

Page 7: Análises funcionais moleculares e molares: um passo a passo · nas palmas das mãos) até causas interiores conceituais, quando se usam descrições redundantes como forma de atribuir

aculturaemqueelaseinsere.Trata-sedeconsequênciascujovalortemorigemsocial, como é o caso de notas, elogios, medalhas, prêmios e críticas (Baum,1994/2006;Tomanari,2000).Existem,ainda,osreforçadoresgeneralizados,cujafunção reforçadora independe de variáveis motivacionais. Um reforçadorcondicionadotorna-segeneralizadoapartirdoemparelhamentocommaisdeumreforçador primário. Pode-se citar como exemplo de reforçador condicionadogeneralizadoodinheiro(Skinner,1953/2003).

Além da classificação dos reforçadores como incondicionados econdicionados, ressalta-se também a diferença entre reforçadores naturais earbitrários.Os reforçadores naturais são consequências produzidas diretamenteporumaresposta.Porexemplo,umaboanotaéconsequêncianaturaldarespostade dedicar-se bastante aos estudos ou um quarto limpo e organizado e afacilidade para encontrar objetos são consequências naturais da resposta dearrumaroquarto.Porsuavez,consequênciasarbitráriassãoprodutoindiretodocomportamento,comoéocasodeestrelinhas,“parabéns”oupresentesdospaispor emitir as respostas de estudar ou arrumar o quarto.Destaca-se que, nessecaso, as consequências não são diretamente produzidas pelos comportamentosdescritos.

De acordo com Kohlenberg e Tsai (1991/2001), esses dois tipos dereforçadoresdiferememquatroaspectosbásicos.Aocontráriodoqueocorreemrelaçãoaosreforçadoresarbitrários,oreforçamentonaturalselecionaumaamplaclasse de respostas, leva em conta o repertório inicial do indivíduo, beneficiaprimordialmente a pessoa cujo comportamento está sendo reforçado e não oagente que provê o reforço, alémde sermais comumno ambiente natural, deformaquefavoreceageneralizaçãodoaprendizado.Contudo,emalgumassitua-ções,osreforçadoresarbitráriossãonecessáriosemummomentoinicial,atéqueo organismo entre em contato com os reforçadores naturais, especialmente nocaso de repertórios que envolvem alto custo para serem desenvolvidos. Porexemplo, no caso de uma criança que está aprendendo a ler, estrelinhas epresentes podem ser importantes como reforçadores intermediários, até que acriançadesenvolvaahabilidadedelereoacessoanovasinformações(reforçonatural) passe a controlar a resposta de ler. Ademais, nem sempre é possívelestabelecer umadistinção clara entreosdois naprática e, frequentemente, ummesmoestímulopodeapresentarcaracterísticasdeambosostipos.

Aanálise funcionalconfigura-se,portanto,comouminstrumentobásicodetrabalhodosanalistasdocomportamento.Nessecontexto,ocomportamentodeumorganismoindividualéavariáveldependente,easvariáveis independentes

28

Page 8: Análises funcionais moleculares e molares: um passo a passo · nas palmas das mãos) até causas interiores conceituais, quando se usam descrições redundantes como forma de atribuir

seriamas condições externas das quais seu comportamento é função (Skinner,1953/2003).Oanalistadocomportamentobuscaidentificarcontingênciasatuaise inferir sobre contingências que operaram no passado a partir da observaçãodiretaouderelatosdecomportamentos(Meyer,2001).

Na prática clínica, a análise funcional permite a elaboração de hipóteses arespeitodaaquisiçãoemanutençãoderepertórioscomportamentais,possibilitaaprogramaçãodeintervençõesvisandoaodesenvolvimentodenovosrepertórioseé fundamental para o planejamento da manutenção e generalização para oambiente natural das mudanças alcançadas. Verifica-se assim que a análisefuncional tem papel importante durante todo o processo terapêutico (Delitti,2001;Meyer,2001).

Complementando,deacordocomDelitti(2001),aanálisefuncionalconstituiumdosinstrumentosmaisvaliososparaapráticaclínica,umavezquefavoreceo levantamento dos dados necessários para o desenvolvimento do processoterapêutico.Apartirdela,épossíveldescobrirafunçãodocomportamento,emque contingências se instalou e em quais se manteve, bem como planejar aconstrução de novos padrões comportamentais. De modo geral, a análisefuncionalacompanhaoterapeutanoiníciodoprocesso,comolevantamentodashipóteses;duranteoprocesso, comaobservaçãodocomportamentodoclientedurantea sessãoedeseu relatosobreoqueacontece foradela,oquepermiteestabelecer objetivos terapêuticos e planejar o desenvolvimento de novosrepertórios; e, no final do processo, com o planejamento da manutenção egeneralizaçãodasmudançascomportamentaisalcançadas.

SegundoCirino(2001),paraidentificarosmotivospelosquaisumindivíduose comporta da forma como se comporta, é preciso investigar tanto ascontingênciasatuaisemvigorcomoascontingênciashistóricas.Sugere-sequeahistóriaestádiluídanocomportamentoatual.Dessamaneira,paraquehajaumacompreensão ampla de um caso, é preciso ir além de uma investigação dedeterminantes de comportamentos atuais específicos, mas buscar uma análisemolar, isto é, uma análise que inclua aspectos ligados à história de vida e aodesenvolvimentodepadrõescomportamentais(Marçal,2005).

Assim sendo, na perspectiva analítico-comportamental, ainda que umcomportamento seja aparentemente inadequado ou socialmente reprovado, eletemuma função no repertório daquele que o emite e foi selecionado por suasconsequências. Logo, é papel do terapeuta investigar em que contingências ocomportamentoseinstalouesemantém,utilizando,paraisso,dadosdahistória

29

Page 9: Análises funcionais moleculares e molares: um passo a passo · nas palmas das mãos) até causas interiores conceituais, quando se usam descrições redundantes como forma de atribuir

de vida do cliente, das contingências atuais e da relação terapêutica (Delitti,2001).

Emsíntese,aanálisefuncionalconstitui,paraoanalistadocomportamento,uminstrumentofundamentaldediagnóstico,intervençãoeavaliaçãodoprocessoterapêutico. Trata-se de um ponto de partida para o planejamento eacompanhamentodasintervenções.Asanálises,quesãorealizadasbasicamenteapartir do relatoverbal edos comportamentospúblicosdoclienteobservadosduranteassessões,podemserconstruídaspeloterapeutae/ouemconjuntocomocliente.Ademais,destaca-sequeesse instrumentocontribuiparaapromoçãodeautoconhecimento,aampliaçãodorepertóriocomportamentaleaocorrênciademudanças.

A construção de análises funcionais relevantes para o Caso clínico seapresenta frequentemente comoumdesafio para os terapeutas, umavez que éumprocessoqueenvolvedificuldadeseobstáculos.Emprimeirolugar,éprecisoqueoprofissionaltenhaclarezasobrequaléaunidadedeanálisequepretendeestudar. A determinação de qual é o fenômeno a ser analisado depende doobjetivo, da conveniência e das informações coletadas. Por exemplo, pode-seescolhercomounidadedeanáliseumaclassemaisampla,comoa“depressão”,aqualenvolvediversasrespostasmaisespecíficasecomdiferentestopografias,ouumarespostamaisespecífica,comoo“relatoautodepreciativo”.

Outra possível dificuldade é o fato de que a fonte de informações doterapeuta é frequentemente restrita ao relato do cliente e ao comportamentoobservadoduranteasessão.Dessaforma,épossívelquehajadistorções,alémdevariáveis relevantes que o cliente desconheça ou das quais não se lembre, ouseja, variáveis que o terapeuta dificilmente conseguirá acessar. Há diferentesrecursos para lidar com essa limitação da terapia.Um exemplo seria convidarpessoasrelevantes,comoconsentimentodocliente,paraparticipardoprocessoe/ou observar o comportamento do cliente em ambientes diferentes doterapêutico.

Além dos obstáculos listados, outro ponto essencial é que as análisesfuncionaisrealizadasnocontextoclínicoenvolvemoperantescomplexos,istoé,diferentemente das análises lineares aprendidas quando se está iniciando oestudodaAnálisedoComportamento,naprática,trabalha-secomsituaçõesemque múltiplas contingências estão em operação ao mesmo tempo, bem comocom cenários em que contingências contraditórias (envolvendo reforçadores eestimulação aversiva) controlamomesmo comportamento.Nesse contexto, háque se considerar as interações entre diferentes comportamentos/padrões

30

Page 10: Análises funcionais moleculares e molares: um passo a passo · nas palmas das mãos) até causas interiores conceituais, quando se usam descrições redundantes como forma de atribuir

comportamentaisesuasvariáveisdecontrole,deformaquesejamcontempladoseventospúblicoseprivados,variáveisatuaisehistóricas.Oclínicoutiliza-sedediferentesrecursos,comofantasias,desenhos,sonhos,músicas,poemas,diários,filmesecartas,comoformadeacessaroselementosfundamentaisàcomposiçãodasanálisesfuncionais1.

Este capítulo tem como objetivo apresentar, de forma didática, o passo apasso para a realização de análises funcionais no contexto clínico. Serãoabordadosdoismodelosdeanálisesfuncionais,quaissejam:análisesfuncionaismoleculares (microanálises) e análises funcionais molares (macroanálises).Destaca-se que as informações reunidas neste capítulo foram sistematizadas apartir de conteúdos, slides de aulas e outros recursos de ensino de diversosprofessoresdoInstitutoBrasiliensedeAnálisedoComportamento(IBAC).Porisso, agradecemos enormemente aos professores João Vicente de S. Marçal,Andréa Dutra, Ana Karina C. R. de-Farias, Helen Tourino, Marianna Braga,CarlosAugustodeMedeiroseLucianaVerneque,pelascontribuições,emaulasediscussões,quenospermitiramorganizarestecapítulo.

Análisesfuncionaismoleculares(microanálises)A análise funcional molecular envolve a análise de contingências pontuais(moleculares) importantes para a compreensão de comportamentos específicosem contextos específicos. A sua composição é a base para a construção deanálises mais amplas, as chamadas análises molares. O recurso básico para acomposição de análises moleculares é a tríplice contingência, que envolve aidentificação de antecedentes, respostas e consequências (A: R → C). Alémdisso, podem ser acrescentados efeitos (emocionais e/ou de frequência daresposta) e o processo comportamental envolvido na contingência analisada(reforçamento positivo, reforçamento negativo, punição positiva, puniçãonegativa ou extinção). Os passos para a composição de análises funcionaismolecularessãoosseguintes:

1ºPasso:Identificararesposta:atividadedoorganismo,queenvolveeventospúblicos e privados. Em outras palavras, o terapeuta identificará desde açõespublicamenteobserváveisatérespostasprivadas/encobertas,comopensamentos,sentimentoseemoções.

31

Page 11: Análises funcionais moleculares e molares: um passo a passo · nas palmas das mãos) até causas interiores conceituais, quando se usam descrições redundantes como forma de atribuir

1. Escolherrespostasrelevantesaocaso,considerandoaqueixadocliente,asdemandasidentificadaspeloterapeutaeosobjetivosterapêuticos.Aolongodo processo terapêutico, os clientes apresentam uma infinidade de relatoscomdiferentesconteúdos.Entretanto,nemtudooqueéfaladotemrelaçãodireta comas demandas a serem trabalhadas na terapia.Assim, entre umaampla faixa de possibilidades, é necessário que o terapeuta selecione asrespostas de maior valor terapêutico, considerando-se as característicasidiossincráticasdecadacliente.

2. Evitarrespostasnegativas.Aoescolherarespostaparaanálise,oterapeutadeve lembrar-se de que não é possível analisar “não comportamentos”, demodoqueéimportantetrabalharcomoqueoclientefazenãocomoqueeledeixade fazer.Afinal, é inviável identificarosprocessoscomportamentaisenvolvidos quando se trata da não ocorrência de uma resposta, isto é,identificar,deacordocomaconsequênciaproduzida,seuma“nãoresposta”aumentououdiminuiudefrequência.Porexemplo,nocasodeumacriançaque não segue uma determinação de seu pai de não correr, seria maisadequadoanalisaroqueela faz,ouseja,“ignoraaorientaçãoecorre”,doqueescolhercomounidadedeanálise“nãoobedece”.

3. Evitarrespostasquenãoestãosobcontroleoperante,comomorrer,caireesbarrar em objetos acidentalmente, sentir-se angustiado, taquicardia,ansiedade,sudorese,umavezqueessasrespostasnãoestãosobcontroledesuas consequências. Respostas respondentes podem ser incluídas nasanálisesfuncionais;contudo,éimportanteespecificarquesãorespondentes,ou seja,queestão sob controledos antecedentes enãodas consequências.Destaca-setambémque,quandoincluídasnaanálisefuncionalmolecular,asrespostas respondentes podem ser especificadas em uma contingênciatríplicededuasmaneirasdiferentes:a. logo depois do antecedente e, nesse caso, trata-se de uma resposta respondente eliciada

diretamente pelo estímulo que a antecede. Por exemplo, entrada do chefe autoritário na sala(estímuloantecedente)→ansiedade (resposta respondente).Respostasoperantespodemocorrerconcomitantemente,evocadaspelomesmoestímuloantecedente;ou

b. como efeito de uma contingência operante, de modo que uma resposta operante produz umaconsequência,eotipoderelaçãoqueseestabelecenessacontingênciaoperanteproduzumefeitoemocional,ouseja,uma resposta respondente.Porexemplo,estudara semana inteiraparaumaprova (respostaoperante)→notabaixa (consequência)–efeitoemocional: frustração (respostarespondente).

2ºPasso: Identificar antecedentes: ocasião na qual o comportamento ocorre.Dividem-sebasicamenteemduascategorias:estímulosdiscriminativos(SDs)e

32

Page 12: Análises funcionais moleculares e molares: um passo a passo · nas palmas das mãos) até causas interiores conceituais, quando se usam descrições redundantes como forma de atribuir

operações estabelecedoras (OEs). Estímulos discriminativos são estímulos napresençadosquaisumarespostaéreforçada.Napresençadonamorado(SD),orelato queixoso de dor da namorada (resposta) é reforçado positivamente comatenção e carinho (consequência). Operações estabelecedoras são eventosantecedentesquepodemalterarmomentaneamenteaefetividadereforçadoradeumestímuloeevocaroscomportamentosqueoproduzem(Michael,1982,1993;Miguel, 2000). Os exemplos mais comuns são privações, saciações e contatocomestimulaçãoaversiva.Nocontextodaanálisesobreosnamorados,poder-se-iaclassificaradorcomoumaestimulaçãoaversivaquefuncionacomooperaçãoestabelecedoraaoalterarmomentaneamenteovalorreforçadordaatençãoedocarinho providos pelo namorado, alterando, também, a probabilidade derespostasqueproduzamatençãoecarinho.Valeressaltarqueregras(instruções,conselhos, ordens e valores) também podem ser especificadas entre osantecedentes, como SDs, OEs ou estímulos alteradores de função de outrosestímulos(FAS).2

3º Passo: Identificar consequências: estímulos no ambiente produzidos poruma resposta e que alteram a probabilidade de ocorrência dessa resposta nofuturo, ou seja, trata-se de uma variável independente. Destaca-se que, nessecaso,amudançaénoambiente.Podem-seespecificarconsequênciasemcurto,médioelongoprazo.

4º Passo: Identificar processos: para cada consequência, deve-se especificarqual é a contingência envolvida a partir da relação entre a resposta e aconsequência produzida, ou seja, se o processo caracteriza contingência dereforçamentopositivo(R+),reforçamentonegativo(R-),puniçãopositiva(P+),puniçãonegativa(P-)ouextinção.OQuadro1.1sintetizaosprocessos:

Quadro1.1Tiposdeprocessosdereforçamento

TipodeestímuloTipodeprocesso

Reforçador Punidor(estímuloaversivo)

Positivo(acréscimodeestímulo) Reforçamentopositivo↑ Puniçãopositiva↓

Negativo(retiradadeestímulo) Puniçãonegativa↓ Reforçamentonegativo↑

↑,aumentodafrequênciadarespostaemanálise;↓,diminuiçãodafrequênciadarespostaemanálise.

Valeressaltar,comofoimencionadoanteriormente,queumamesmarespostapodeterdiferentesantecedenteseproduzirváriasconsequências,comfrequênciaenvolvendoprocessosdiferenteseatécontraditóriosentresi.

33

Page 13: Análises funcionais moleculares e molares: um passo a passo · nas palmas das mãos) até causas interiores conceituais, quando se usam descrições redundantes como forma de atribuir

5º Passo: Identificar possíveis efeitos: são subprodutos de contingênciasoperantes. De acordo com Baum (1994/2006), são os efeitos que definemcomportamentosbememalsucedidos,demodoqueumaatividadeé tidacomobem-sucedidaquandoéreforçada,enquantoatividadesmalsucedidassãoaquelasmenosreforçadasoupunidas.Assim,osefeitossãocolateraisàscontingências,ou seja, são produtos da contingência inteira e não determinam diretamente afrequênciadocomportamentonofuturo.Trata-sedevariáveisdependentes,quepodemserdedoistipos:

1. Frequência:tendênciadafrequênciadarespostasobanáliseemaumentarouem diminuir após uma determinada consequência. Respostas reforçadastendem a ocorrer com mais frequência, enquanto as punidas ou nãoconsequenciadas(emextinção)tendemaocorrercommenosfrequência.

2. Emocional:sentimentos,sensaçõeseemoçõesproduzidospelocontatocomas consequências. Trata-se demudanças no comportamento emocional dopróprioindivíduocujasrespostasestãosendoanalisadas.Baum(1994/2006)destaca que as pessoas se sentem mal quando seus comportamentos sãopunidos. Por sua vez, em situações nas quais seus comportamentos sãoreforçados,aspessoasexperimentamsensaçõesagradáveis.Deacordocomo autor, situações que envolvem contingências de reforçamento positivogeram reações emocionais de bem-estar, como alegria, prazer, felicidade,confiança e orgulho. Contingências de reforçamento negativo costumamproduzir como efeito a sensação de alívio. Por outro lado, contextos queenvolvempuniçãopositivageramreaçõesemocionaisdesagradáveis,comomedo, ansiedade, pavor, vergonha e culpa. Já o cancelamento dereforçadores,ouseja,apuniçãonegativa,produzsentimentosdefrustração,decepção e desapontamento. Destaca-se, portanto, nesse contexto, quesentimentos são subprodutos das contingências e não causas docomportamento.

VejamosalgunsexemplosnoQuadro1.2.

Quadro1.2Exemplosdeconsequênciasversusefeitos

Consequências Efeitodefrequência Efeitoemocional

Atenção(quandochora) Continuarchorandocomfrequência -

Castigosemvideogame(quandodesobedeceaopai)

Desobedeceraopaicommenosfrequência

Ficarchateado

34

Page 14: Análises funcionais moleculares e molares: um passo a passo · nas palmas das mãos) até causas interiores conceituais, quando se usam descrições redundantes como forma de atribuir

Perderacessoadiversosreforçadores(aoterminaronamoro)

- Entrarem“depressão”

Críticaseveradaprofessora(aofazerumapergunta)

Nuncamaisperguntaremsaladeaula

Sentir-seenvergonhado

Aumentodoprazodeentregadeumtrabalho(aocomentarcomochefequeestavadoente)

- Sensaçãodealívio

Vamostreinar?

Patrícia (nome fictício) chegou à terapia com a queixa de que ficava triste derepente,choravacomfrequênciasemsaberomotivo.Elaveiodeoutracidadepara fazergraduaçãoemBrasília.Segundoela,a situaçãopioroumuitodepoisque semudou para a nova cidade. Relatou sentir-se insegura e impotente emrelaçãoa tudo:namorado,família,amigosefaculdade.Atribuíaaqueixaàsuainsegurançaeincompetênciapararesolverosprópriosproblemas.Seusobjetivosnaterapiaeram:aprenderalidarmelhorcomosprópriosproblemasemelhorararelaçãocomamãeeonamorado.

Embora inicialmente Patrícia não identificasse qualquer relação entre asmudançasdehumorevariáveisambientaispresentesnoseudiaadia,aolongodas primeiras sessões, observou-se que suas relações sociais mais relevanteseram pouco reforçadoras e receptivas às suas tentativas de interação, além deserempermeadasporcríticas.Assim,quandosurgiamconflitosouquestõesnasrelaçõescomamãeeonamorado,Patríciatomavaainiciativadefalarsobreoassunto,expressarsuasopiniõeseproporsoluções.Onamoradoeosfamiliaresinvalidavamsuasqueixas,criticavamsuacondutaousimplesmenteadeixavamsem resposta. Nesse contexto, fazia sentido que Patrícia se sentisse triste,insegura e impotente, efeitos da contingência de controle aversivo. Então, aqueixapoderiaseroperacionalizadacomomostradanoQuadro1.3.

Quadro1.3OperacionalizaçãodaqueixainicialdePatrícia

Antecedentes Respostas Consequências Processos Efeitos

Problemas/conflitosnosrelacionamentosinterpessoais

Conversar,aproximar-se,expressarsentimentoseopiniões

Críticas/represálias P+ Tristeza

Osproblemascontinuam

P+ Insegurança

Poucointeresseepoucaatençãodaspessoas

Extinção Sensaçãodeimpotência

P+,puniçãopositiva.

35

Page 15: Análises funcionais moleculares e molares: um passo a passo · nas palmas das mãos) até causas interiores conceituais, quando se usam descrições redundantes como forma de atribuir

Nodecorrerdassessões,Patríciarelatouváriosconflitosnorelacionamentoamoroso.Quandoela conversavacomonamorado sobreoquea incomodava,elemudavadeassunto,diziaqueconversarsobrearelação“nãolevavaanada”equepreferia“deixarascoisasacontecerem”(Quadro1.4).

Quadro1.4AnálisefuncionaldastentativasdePatríciaderesolverasdificuldadescomonamoradonoiníciodoprocessoterapêutico

Antecedentes Respostas Consequências Processos Efeitos

ConflitosnorelacionamentoamorosoPresençadonamorado

Patríciaconversacomonamoradosobreoqueaincomoda

Elemudadeassunto,dizquepreferedeixarascoisasacontecerem

Extinção Tristeza,frustração,insegurança.

Repetiçãodeproblemasouocorrênciadenovosproblemasnorelacionamento

P+

P+,puniçãopositiva.

Patrícia contou que sua relação amorosa era muito monótona. No fim desemana,elageralmente ficavaemcasacomonamorado.Depoisde refletirnaterapia sobre o que gostaria de fazer com o namorado, a cliente tomou umainiciativa.Emumsábado,elaoconvidoupara fazerumprogramadiferente, eele disse que preferia ficar em casa, pois estava cansado. Ela ficou muitochateada(Quadro1.5).

Quadro1.5AnálisefuncionaldarespostadePatríciadetomariniciativanarelaçãocomonamoradoapósreflexõesnoprocessoterapêuticoarespeitodeoutraspossíveisformasdelidarcomosaspectosqueaincomodavamnorelacionamento

Antecedentes Respostas Consequências Processos Efeitos

MonotonianarelaçãocomonamoradoDiscussõesemterapiaFimdesemanaemcasacomonamorado

Patríciatomaainiciativadeconvidaronamoradoparairaocinema

Eledissequepreferiaficaremcasa,poisestavacansado

Extinção Patríciaficouchateada

Na terapia, Patrícia relatou que a monotonia também era característica davidasexualdocasal.Asrelaçõessexuaissempreaconteciamdomesmojeito:nahora de dormir, sempre no mesmo local, por iniciativa do namorado.Novamente, no contexto terapêutico, foram discutidas as possibilidades que acliente tinha para melhorar o relacionamento sexual com o namorado, com oobjetivodequeeladiscriminasseoquegostariaquefossediferente.Assim,noaniversário de namoro, Patrícia comprou uma lingerie nova. Contou para o

36

Page 16: Análises funcionais moleculares e molares: um passo a passo · nas palmas das mãos) até causas interiores conceituais, quando se usam descrições redundantes como forma de atribuir

namoradoepediuqueelepreparassealgodiferenteparaanoite.Elerespondeuquea lingerie serviaapenasparaqueamulher se sentissebem,masnão faziadiferença para o homem.Não preparou nada de especial.Na ocasião, Patríciarelatouquesesentiurejeitadaporeleemuitotriste(Quadro1.6).

Quadro1.6AnálisefuncionaldarespostadePatríciadetomariniciativanarelaçãosexualcomonamoradoapósreflexõesnoprocessoterapêuticoarespeitodepossíveisformasdelidarcomosaspectosqueaincomodavam

Antecedentes Respostas Consequências Processos Efeitos

MonotonianavidasexualdocasalDiscussõesemterapiaDatacomemorativadonamoro

Patríciacomprouumaroupaíntimanovaepediuqueonamoradopreparasseumanoitediferenteparaosdois

Elerespondeuquelingerieéparaqueamulhersesintabem,masnãofazdiferençaparaohomem

P+ PatríciasesentiutristeerejeitadapelonamoradoElenãopreparounadaespecial Extinção

P+,puniçãopositiva.

A cliente apresentou também demandas relacionadas às suas relações deamizade. Afirmou ser conhecida pelos amigos como uma pessoa prestativa.Geralmente, atendia a qualquer pedido que lhe fizessem. Ela disse para aterapeutaquenãogostavadeentraremconflitocomninguémenãoqueriaservista como egoísta. Descreveu uma situação em que sua colega de cursotelefonou pedindo ajuda para um trabalho de última hora.Os pais de PatríciaestavamlhefazendoumavisitaemBrasíliaepassariamofimdesemanaemsuacasa.Ademais,elatambémtinhaoprópriotrabalhodadisciplinaparafazer.Porisso, explicou a situação e respondeu que não poderia ajudar a amiga daquelavez,poisnãoteriatempo.Nodiaseguinte,acolegaadesqualificounafrentedaturma toda, dizendo que Patrícia era egoísta e só pensava em si mesma.Entretanto,apesardodesconfortoportersidopublicamentedesqualificadapelaamiga,aclientediscriminouemterapiaque,àmedidaquenegouopedido,tevetempoparapassearcomsuafamíliaeparasededicaràconclusãodeseutrabalhocomtranquilidade(Quadro1.7).

Quadro1.7AnálisefuncionaldasrespostasdePatríciadeatenderatodosospedidosquelhefazemversusdizer“não”aopedidodeumacolega

Antecedentes Respostas Consequências Processos Efeitos

PedidosdequalquerpessoaRegradequesempresedeveajudarosoutrosparaserumapessoaboa

Patríciaatendeaospedidos(evitadizer“não”)

Evitaconflitos,críticas R- Satisfaçãopeloreconhecimentoeautocobrançaparacorresponder

Éconsideradaportodosumapessoaprestativa

R+

Sobrecarga P+

37

Page 17: Análises funcionais moleculares e molares: um passo a passo · nas palmas das mãos) até causas interiores conceituais, quando se usam descrições redundantes como forma de atribuir

àsexpectativasCansaço/somatizações

ColegatelefonapedindoajudadeúltimahoraVisitadosfamiliaresTrabalhodafaculdadeparafazer

Patríciaexplicaasituaçãoparaacolegaedizque,dessavez,nãopoderáajudá-la,mesmosesentindodesconfortávelcomofatodenegarumpedido

Acolegaadesqualificanafrentedaturma,dizqueelaéegoístaesópensaemsimesma

P+ Vergonhaeculpa

Patríciatemtempoparapassearcomafamíliaeparaconcluiroseutrabalhocomtranquilidade

R+ Alegriacomocontatocomafamília

R-,reforçamentonegativo;R+,reforçamentopositivo;P+,puniçãopositiva.

Ainda no contexto dos relacionamentos de amizade, uma das queixas dePatrícia era a de que, muitas vezes, sentia-se inadequada e desinteressante.Quandosaíacomamigos,quandoentravaemcontatocomoutraspessoas,falavaapenasonecessário,evitavadarsuaopiniãoouiniciarumassunto.Relatavaquetinhamedodareaçãodaspessoas,nãoqueriaqueninguémpensassemaldelaouacriticasse.Alémdisso,apartirdasdiscussõescomaterapeuta,discriminouqueseurepertóriodehabilidadessociaiserarestrito,umavezquetinhadificuldadeeminiciaredesenvolverconversas,apresentandopoucavariabilidadeemrelaçãoaos assuntos sobre os quais conseguia conversar. Dessa forma, ela se sentiaextremamenteansiosaemsituaçõesdecontatosocialcomamigos(Quadro1.8).

Quadro1.8AnálisefuncionaldasrespostasdePatríciaemsituaçõessociais

Antecedentes Respostas Consequências Processos Efeitos

Situaçõessociaiscomamigos

Patríciafalapouco,somenteonecessário(Respondentesdeansiedade:taquicardia,sudoreseerubornaface)

Evitacríticasequeaspessoasajulgueminadequada

R- Alívio

Perdeoportunidadesdeaprofundamento/fortalecimentodasrelaçõesdeamizade

P- Insegurançaesolidão

R-,reforçamentonegativo;P-,puniçãonegativa.

Algumasdificuldadescomuns...1.Realizaranáliseslineares,emqueumarespostaéantecedidaporapenasumestímuloeproduzapenasumaconsequência,mesmoquandoháoutrosdadosjádisponíveis.

Vejaoexemploaseguir,considerandoarespostadeSheilacomoobjetodesuaanálise:

38

Page 18: Análises funcionais moleculares e molares: um passo a passo · nas palmas das mãos) até causas interiores conceituais, quando se usam descrições redundantes como forma de atribuir

AmãedeSheilaeBetinhodissequeiriaaomercadoedemorariaavoltar.Deixouaroupadecamaquehaviaacabadodepassaremcimadamesa.Betinhoteveumaideiabrilhante:chamouSheilaparapegararoupadecamaeusarparadeslizaremnocorrimãodaescada,entreumandareoutro,jáqueamãenãoestavaemcasa.Sheilaaceitouoconvite,eosdoisbrincaramporhoras.Quandoamãevoltou,deuumabroncanelesemandouSheilalavarepassarnovamentearoupadecama.Betinhocontinuoubrincando.

UmexemplodeanáliselinearéapresentadonoQuadro1.9.

Quadro1.9Exemplodeanálisefuncionallinear

Antecedentes Respostas Consequências Processos

ConvitedeBetinhoparabrincarcomaroupadecamalimpa

Sheilaaceitaoconviteebrincacomoirmão

Mãedábroncaaochegaremcasa

P+

P+,puniçãopositiva.

Veja como a análise fica mais completa da seguinte maneira (Quadro1.10):

Quadro1.10Exemplodeanálisefuncionalmaiscompleta,secomparadaàdoquadroanterior

Antecedentes Respostas Consequências Processos Efeitos

RoupadecamalimpadisponívelAusênciadamãeemcasaConvitedeBetinhoparabrincarcomaroupadecamalimpa

Sheilaaceitaoconviteebrincacomoirmão

Diversãoebrincadeiracomoirmão

R+ Alegria

Mãedábroncaaochegaremcasa

P+ Tristeza,raivaefrustração

MãemandaSheilalavarepassararoupadecama

P+ Sente-seinjustiçada

Betinhocontinuabrincando,enquantoelalavaroupa

P+

R+,reforçamentopositivo;P+,puniçãopositiva.

2.Confundir consequência e efeito: como já se comentou anteriormente nestecapítulo, consequência e efeito são aspectos diferentes. A consequência serefere a um estímulo do ambiente que é produzido pela resposta e alteradiretamente a sua probabilidade futura de ocorrência, enquanto o efeito éproduto de toda a contingência, de modo que variará de acordo com aconsequênciaproduzida.

Observeosexemplosaseguir:Antesdesairparaotrabalho,opaideLuísafezumagraça,lhedeuumabraçoeumbeijo,despediu-seefoicumprirseuscompromissosprofissionais.Amãecobrouqueelaterminassedesearrumarlogoparaque pudesse deixá-la na escola sem atraso.No caminho,Luísa disse à suamãe: “Mamãe, eu te amo

39

Page 19: Análises funcionais moleculares e molares: um passo a passo · nas palmas das mãos) até causas interiores conceituais, quando se usam descrições redundantes como forma de atribuir

muito,muito,masamomaisomeupai”.Amãesorriuerespondeu:“Nãotemproblema,minhafilha,navidaéassimmesmo:sempregostamosmaisdeumaspessoasdoquedeoutras, temosmaisafinidadecomalgumaspessoasdoquecomoutras.Fazsentidoquevocêsesintaassimemrelaçãoaoseupai.Eleé muito carinhoso, não é? A mamãe te ama muito, muito, também!”. Luísa seguiu satisfeita para aescola.

Frequentemente, observam-se análises em que os efeitos sãoespecificadosnolugardaconsequência,deformaqueaanálisefuncionalficaincompleta, uma vez que a verdadeira consequência, que enfraquece oufortalece a resposta que a produziu, não é identificada.Veja o exemplo noQuadro1.11:

Quadro1.11Exemplodeanálisefuncionalemqueaconsequêncianãoéidentificada

Antecedentes Respostas Consequências Processos

PaifazcarinhoantesdeirparaotrabalhoMãecobraquesearrumelogoparanãoseatrasarCaminhadacomamãeparaaescola

Luísaexpressasentimentos:“Mamãe,euteamomuito,muito,masamomaisomeupai”.

Alegria,satisfaçãoetranquilidade.(Observequeesseéoefeitoenãoaconsequência!)

R+(Cuidado:oefeitopodedarpistassobreoprocessoenvolvido,masénecessárioidentificararelaçãoentrearespostaeaconsequênciaparaquesepossadeterminá-lo)

R+,reforçamentopositivo.

A análise da contingência ficaria correta da seguinte maneira (Quadro1.12):

Quadro1.12Exemplodeanálisefuncionalemqueconsequênciaeefeitossãoidentificados

Antecedentes Respostas Consequências Processos Efeitos

PaifazcarinhoantesdeirparaotrabalhoMãecobraquesearrumelogoparanãoseatrasarCaminhadacomamãeparaaescola

Luísaexpressasentimentos:“Mamãe,euteamomuito,muito,masamomaisomeupai”

Mãeacolhe,dáatenção,validaossentimentosdafilha

R+ Alegria,satisfaçãoetranquilidade

R+,reforçamentopositivo.

Veja que os efeitos seriam diferentes se a reação da mãe de Luísa(consequência)fosseoutra:Antesdesairparaotrabalho,opaideLuísafezumagraça,lhedeuumabraçoeumbeijo,despediu-seefoicumprirseuscompromissosprofissionais.Amãecobrouqueelaterminassedesearrumarlogoparaque pudesse deixá-la na escola sem atraso.No caminho,Luísa disse à suamãe: “Mamãe, eu te amomuito,muito,masamomaisomeupai”.Amãechora,mudao tomdevozeresponde:“Comoassimvocêamamaisoseupai?Suaingrata!Façotudoporvocê,eéassimquevocêreconhece?Seupainãoestáaquiparalevarvocêàescola.Quemfoiquefezoseucafédamanhã?Issonãoécoisaquesedigaa

40

Page 20: Análises funcionais moleculares e molares: um passo a passo · nas palmas das mãos) até causas interiores conceituais, quando se usam descrições redundantes como forma de atribuir

umamãe!Estoumuitochateadacomvocê”.Luízapassouodiatriste,culpando-seporterfaladoalgotãoinadequadoàsuamãe(Quadro1.13).

Quadro1.13Exemplodeanálisefuncionalemqueosefeitosmudamdeacordocommudançasnasconsequências

Antecedentes Respostas Consequências Processos Efeitos

PaifazcarinhoantesdeirparaotrabalhoMãecobraquesearrumelogoparanãoseatrasarCaminhadacomamãeparaaescola

Luísaexpressasentimentos:“Mamãe,euteamomuito,muito,masamomaisomeupai”

Mãecritica,invalidaedemonstrachateação

P+ Sentimentosdeculpa,tristezaeinadequação

P+,puniçãopositiva.

3.Identificarumacadeiaderespostas:frequentemente,orelatodoclientepodeserdesmembradoemmaisdeumaanálisemolecular,demodoacaracterizarumacadeia.Nemsempreeventosespecíficospodemserdescritospormeiodeumaúnicaanálisemolecular.

Vejaoexemplo:Dudaestavanacreche.Viuoamigotomarbanhomaiscedo,emhoráriopróximoaodolanche(poiseletinhaumaconsultamédica),epediuparaaprofessoraparatomarbanhotambém.Aprofessoraexplicouasituaçãoedissequenãoseriapossívelqueela tomassebanhonaquelemomento,poiseraahoradolanche.Duda,então,derramousuconaroupaedisseàprofessoraqueagoraprecisariadeumbanho,poisestavasujadesuco.Aprofessoradissequenãolhedariabanho,poiseraahoradolanche,equeDudahavia derramado suco na roupa de propósito. Então, Duda se levantou, fez xixi na roupa e disse àprofessora que agora, sim, ela teria de lhe dar banho, pois estava “mijada”. Muito contrariada, aprofessorafoidarbanhoemDuda.

Observe que a situação descrita envolve uma cadeia de respostas, deformaqueumaanálisemaiscompletaseráobtidaapartirdaidentificaçãodasrespostasseparadamentecomaespecificaçãodosantecedentesespecíficosdecadaumadelas.Nesse caso, é interessante salientar que a consequência deumarespostaassume,depois,funçãodeestímuloantecedenteparaarespostaseguinte(Quadro1.14).

Quadro1.14Exemplodeanálisefuncionaldeumacadeiaderespostas

Antecedentes Respostas Consequências Processos Efeitos

Nacreche,amigotomabanhoemhoráriodiferentedevidoàsituaçãoespecialHoradolanche

Dudapedeàprofessoraparatomarbanhotambém

Aprofessorarecusa,explicandoqueaqueleeraohoráriodolanche

Extinção Frustração,raivaerevolta

41

Page 21: Análises funcionais moleculares e molares: um passo a passo · nas palmas das mãos) até causas interiores conceituais, quando se usam descrições redundantes como forma de atribuir

Recusadaprofessora Dudaderramasuconaroupaerefazpedidoparatomarbanho

Aprofessorarecusa,explicandoqueaqueleeraohoráriodolanche

Extinção Frustração,raivaerevolta

Recusadaprofessora Dudafazxixinaroupaerefazpedido

Aprofessoraatendeaopedidoedábanhonela

R+ Satisfação

R+,reforçamentopositivo.

4.Especificar respostas como antecedentes e/ou consequências: é importanteressaltar que,mesmo que se identifique no relato do cliente uma cadeia ousequência de respostas, em última instância, os antecedentes e osconsequentes são estímulos do ambiente. Portanto, respostas do próprioindivíduoemanálisedevemser evitadasao seespecificaremantecedenteseconsequentes.

Por exemplo, Ricardo é um jovemmuito autoexigente e bem-sucedidoprofissionalmente.Desde pequeno, sempre teve facilidade para aprender osconteúdos das disciplinas escolares.Graduou-se cedo e passou emdiversosconcursos públicos. No trabalho, executa bem as atividades de suaresponsabilidade.Costuma conversar sobre suas conquistas comos colegasde trabalho e é bastante admirado em seu contexto profissional (Quadro1.15).

Quadro1.15Exemplodeanálisefuncionalemqueumarespostadopróprioindivíduoemanáliseéespecificadacomoantecedente

Antecedentes Respostas Consequências Processos Efeitos

Executabemasatividadesdesuaresponsabilidade(Cuidado:essatambéméumarespostadeRicardoenãoumantecedente)

Ricardoconversasobresuasconquistascomoscolegasdetrabalho

Admiraçãodoscolegasemseucontextodetrabalho

R+ Orgulhoesatisfação

R+,reforçamentopositivo.

Na descrição anterior, não fica claro o antecedente, o que pode levar oterapeuta a ter dificuldade de identificá-lo. Nesse contexto, enfatiza-se aimportância de que o profissional desenvolva o repertório de elaborarhipótesesefazerperguntasquefavoreçamacomposiçãodetodosostermosda contingência descrita. No exemplo citado, tanto executar bem asatividades quanto conversar com os colegas sobre suas conquistas sãorespostasdeRicardoedevemseranalisadascomo tais,conformeomodelonoQuadro1.16.

42

Page 22: Análises funcionais moleculares e molares: um passo a passo · nas palmas das mãos) até causas interiores conceituais, quando se usam descrições redundantes como forma de atribuir

Quadro1.16Exemplodeanálisefuncionalemquesãoespecificadasvariáveisambientaiscomoconsequênciaseantecedentes

Antecedentes Respostas Consequências Processos Efeitos

DemandasdetrabalhoReuniõescomcolegasdetrabalhoRegra:“Façatudobemfeitoouémelhornemfazer”

RicardoexecutabemasatividadesdesuaresponsabilidadeRicardoconversasobresuasconquistascomoscolegasdetrabalho

Sucesso/reconhecimentoprofissional

R+ Orgulhoesatisfação

Papeldedestaquenaequipe

R+

Admiraçãodoscolegasemseucontextodetrabalho

R+

R+,reforçamentopositivo.

5. Especificar apenas respostas respondentes em uma análise molecularoperante:quandoaqueixadoclienteenvolvecomportamentosrespondentes,algunsterapeutascostumamenfocarapenasasrespostasrespondentesemsuasanálises moleculares e é comum que identifiquem antecedentes econsequências, mas negligenciem a resposta operante que se relaciona àsconsequências produzidas. Faz-se relevante destacar que respostasrespondentes são controladas pelo estímulo antecedente e não porconsequências.Vejaoexemploaseguir:Eduardotem31anos,écasadoe temumafilha.Eleprocurouterapiacomaqueixadequeestá tendocrises de pânico e não conseguemais trabalhar. Foi aomédico e fez diversos exames,mas nada foidescoberto.Conclusão:oproblemanãoé físico.Relatouqueestá afastadodo trabalho,devidoaumalicençamédica,etemummêsparaficarbomevoltaratrabalharouháriscodedemissão.AscrisesdeEduardosãocaracterizadasporchoro, suor frio,desespero, angústia, coraçãoaceleradoe sensaçãodemorteiminente.Deinício,ascrisesaconteciamnotrabalhoenafaculdade.Nessassituações,pegavaocarroeiaparacasa.Aprimeiracrisefoinafaculdadeduranteumaaula.Simplesmentesentiuocoraçãoparar,teveumasensaçãofortedemedoedequesuaalmaestavasaindodocorpo.Eduardoselevantouefoiembora.Outracriseocorreuemcasa,depoisdeumadiscussãocomaesposa.Segundoele,quandodiscutem,eleadeixaficarfalandoenãoresponde,oquea irritamuito.Afirmouqueaesposaprecisaentenderqueeleestápassandoporummomentodifícil,emqueseesquecedascoisasetemmuitosono.Diantedascrises,suamãechoraeseupai tentaajudar.OpaiestámuitomaispróximodeEduardo,oacompanhaduranteascriseseoacalma,sempremuitoatencioso.Oclientedestacaqueascrisesestãoafetando a família: a esposa estámais preocupada, atenciosa e amorosa,mas está triste; amãe choramuito; a filha está constantemente em estado de alerta. Exames e consultas têm sobrecarregado oorçamentodafamília.Antesdascrises,costumavaencontrarospaisapenasumaveznosfinsdesemana.Atualmente,elestêmseencontradotodososdias.Ademais,dissequeospaissempreforamamorosos,masagorahámaiscontatofísico,cuidado,carinho,beijoseabraços.Afamíliaestámaisunida.Atéseusirmãosestãomaispróximos.Contudo,oclientedestacaa todomomentoqueascrisesestãoroubandoseudinheiro,suasaúdeeseutrabalho.

Quando se negligenciam as respostas operantes, a análise fica comonoQuadro1.17.

43

Page 23: Análises funcionais moleculares e molares: um passo a passo · nas palmas das mãos) até causas interiores conceituais, quando se usam descrições redundantes como forma de atribuir

Quadro1.17Exemplodeanálisemolecularoperanteemquesãoespecificadasapenasrespostasrespondentes

Antecedentes Respostas Consequências Processos

Demandas/cobrançasnotrabalho/nafaculdadeConflitoscomaesposa

Crisesdepânico(ansiedade,taquicardiaesensaçãodemorteiminente)

Atenção,carinhoeproximidadedafamília

R+

Licençamédicaquejustificaafastamentodotrabalhoedafaculdade

R-

Evitaconflitoscomaesposa P+

Familiaresdemonstramansiedadeepreocupação

P-

Gastosfinanceiroscomexameseconsultas

P+

Empregoameaçado P+

R+,reforçamentopositivo;R-,reforçamentonegativo;P+,puniçãopositiva;P-,puniçãonegativa.

Observe que as respostas descritas na análise anterior envolvem apenaseventosprivados,demodoquenãoafetamdiretamenteoambiente,ouseja,nãoproduzemconsequências.Umaanálisecompletadeveincluiradescriçãodas respostasoperantesqueproduzemasmodificações ambientaisdescritasno relato. Frequentemente, os clientes podem apresentar dificuldade dedescreveressasrespostas.Nessecaso,éimportantequeoterapeutasejacapazdeelaborarhipóteseseestratégiasdeintervençõesquefavoreçamadescriçãoda contingência completa, envolvendo respostas respondentes e operantes.No exemplo de Eduardo, quando a terapeuta perguntou o que ele faziaquandoacrisevinha,eledisseque“davaumjeito”devoltarparacasa,ficavaagitado,andavapara láeparacáediziaqueestavasesentindomal.VejaoexemplonoQuadro1.18.

Quadro1.18Exemplodeanálisemolecularoperantemaiscompleta,emquesãoespecificadasrespostasoperanteserespondentes

Antecedentes Respostas Consequências Processos

Demandas/cobrançasnotrabalho/nafaculdadeConflitoscomaesposa

Operantes:Saidaaula/dotrabalhomaiscedoevoltaparacasa,ficaagitado,andadeumladoparaooutro,relataseumal-estarparaquemestiverpertodele,chora.(Respondentes:crisesdepânico–ansiedade,taquicardiaesensaçãodemorteiminente)

Atenção,carinhoeproximidadedafamília

R+

Licençamédicaquejustificaafastamentodotrabalhoedafaculdade

R-

Evitaconflitoscomaesposa R-

Familiaresdemonstramansiedadeepreocupação

P+

44

Page 24: Análises funcionais moleculares e molares: um passo a passo · nas palmas das mãos) até causas interiores conceituais, quando se usam descrições redundantes como forma de atribuir

Gastosfinanceiroscomexameseconsultas

P-

Empregoameaçado P+

R+,reforçamentopositivo;R-,reforçamentonegativo;P+,puniçãopositiva;P-,puniçãonegativa.

6. Misturar aspectos históricos com os antecedentes específicos da análisemolecular: como foi dito anteriormente, as análises moleculares envolvemantecedentes pontuais para respostas específicas. Embora a história de vidasejaessencialparaacompreensãodocomportamentoatualdo indivíduo, nacontingênciatríplicenãoháumespaçoexplícitoparaopapeldesempenhadopor ela (Meyer, 2001). É possível fazer análises moleculares de situaçõeshistóricas. Entretanto, a relação entre aspectos históricos e comportamentosatuais só será estabelecida na análisemolar, que será abordada no próximotópico.

Vejaoseguinteexemplo:Améliaeraafilhacaçuladeseisirmãos.Desdepequena,osirmãosachamavamparabrincarnarua,maselasemprerecusava,poisobservavaasurraquelevavamdamãequandochegavamumpoucomaistardedoqueoesperado.ContaquesuairmãClaudetefaziaumescândalo,pareciaqueestavamorrendo,talveznatentativadecompadeceramãeeamenizaraintensidadedaspalmadas,oquedeixavaAméliamuitoassustada.Hoje,jáadulta,elaseressentedetudooqueperdeuduranteainfânciaportertidomedodeenfrentaramãeesairparabrincar,comoosirmãosfaziamdiaapósdia,apesardasurradamãe.Anosdepois,casou-secomummaridoautoritárioecontinuaabrindomãodefazercoisasdequegosta,comoviajaresaircomamigos,comreceiodareaçãodele(Quadro1.19).

Quadro1.19Exemplodeanálisefuncionalemquesãoespecificadosaspectoshistóricosnosantecedentes

Antecedentes Respostas Consequências Processos Efeitos

Históricodemedodamãe:mãedavasurraquandoosirmãosdescumpriamumaregra

Recusaconvitesparasaircomamigoseviajar

Evitaconflitoscomomarido

R- Alívio

Perdeoportunidadesdecontatocompessoaseatividadesreforçadoras

P- Frustração

R-,reforçamentonegativo;P-,puniçãonegativa.

Nesse caso, a realização de duas análises émais adequada, sendo umareferenteàsituaçãovividanopassado,eoutrarelativaaocomportamentonopresente.Destaca-sequeoantecedentehistóricodescritonaanáliseanteriornãoéválidoparaarespostaatualanalisada,poissetratadeumadescriçãodeumcomponentedahistóriadevidadeAmélia,masnãodoeventoambiental

45

Page 25: Análises funcionais moleculares e molares: um passo a passo · nas palmas das mãos) até causas interiores conceituais, quando se usam descrições redundantes como forma de atribuir

específicoqueéocasiãoparasuarespostaatualderecusarconvites.ObservecomopoderíamoscomporacontingênciahistóricaeaatualnoQuadro1.20.

Quadro1.20Exemplosdeanálisesfuncionaiscomantecedentesespecíficosepontuaisdecadaresposta

Antecedentes Respostas Consequências Processos Efeitos

Convitesdosirmãosparabrincarnarua

Recusavaconvites,ficavaemcasacomamãe(Respondente:medo)

Evitavasurrasdamãe,enquantoosirmãosapanhavamnafrentedela

R- Alívio

Hipótese:perdiacontatoreforçadorcomirmãoseamigosemsituaçõesdebrincadeira

P- Frustração

ConvitesparaviajaresaircomamigosMaridoautoritário

Recusaconvites,ficaemcasacomomarido(Respondente:medo)

Evitadesagradaromaridoeentraremconflitocomele

R- Alívio

Perdecontatocompessoaseatividadesreforçadoras

P- Frustração

R-,reforçamentonegativo;P-,puniçãonegativa.

Análisesfuncionaismolares(macroanálises)Tomando como base as análises moleculares, é preciso buscar análises maisamplasapartirdeinformaçõescoletadasaolongodotempo.Comoobjetivodeobtermaiorcompreensãosobreumcaso,aanálisedoterapeutadeveráincluirainvestigaçãodaconstruçãodepadrõescomportamentais, istoé,arealizaçãodeuma análise molar (macroanálise). A proposta da análise molar é integrar osrepertórios atuais e suas variáveis mantenedoras aos aspectos históricos queprovavelmente contribuíram para a instalação/aquisição dos padrõescomportamentais do cliente. Os aspectos a serem contemplados para acomposição das análises molares são: padrões comportamentais,comportamentos que caracterizam o padrão, história de aquisição, contextosatuais mantenedores, consequências que fortalecem o padrão (quando éfuncional)3econsequênciasqueenfraquecemopadrão(quandonãoéfuncional)(Marçal,2005),conformedescritoaseguir:

1º Passo: Identificar padrões comportamentais: um padrão comportamentalpode ser caracterizadopor comportamentos ou características que ocorrem emdiferentes contextos e apresentam a mesma função, ou seja, produzemconsequências semelhantes. O primeiro passo da análise molar, então, seria aidentificação dos padrões comportamentais relevantes para o caso e aoperacionalização desses padrões, isto é, deve-se descrever quais

46

Page 26: Análises funcionais moleculares e molares: um passo a passo · nas palmas das mãos) até causas interiores conceituais, quando se usam descrições redundantes como forma de atribuir

comportamentos caracterizam um determinado padrão. Há diferentespossibilidadesderótulosounomesparaidentificarospadrõescomportamentais,desde que sejam claramente especificados os comportamentos que ocaracterizam,comoserádetalhadoaseguir.

Destaca-se que, para uma formulação comportamental de qualidade, asrespostasutilizadasnasanálisesmolecularesdevemembasaracomposiçãodasanálisesmolares.Algunsexemplosdepadrõescomportamentaisfrequentementeencontrados em pessoas que buscam terapia são: controle,autoexigência/perfeccionismo, inassertividade (passividade, agressividade),controleexcessivoporregras(insensibilidadeàscontingências)efuga/esquiva.

Retomando o exemplo de Patrícia, é possível identificar que a clienteapresenta um padrão comportamental que chamaremos deAutoexigência/Perfeccionismo. Esse padrão pode ser operacionalizado com acitação dos seguintes exemplos de características e respostas emitidasfrequentementepelacliente:fazerefazváriasvezesseustrabalhosesempreosavalia como não suficientemente bons, baixa tolerância ao erro, preocupa-semuito com o que qualquer pessoa pensa sobre ela, fala só o necessário emsituaçõessociaiscomreceiode“falarbesteira”,assumediversoscompromissosao mesmo tempo e considera que é a sua obrigação dar conta de todos eles,seguearegradeque“tudodeveserbemfeitoouémelhornemfazer”,assumemaisresponsabilidadesqueoscolegasnostrabalhosdegrupocomoobjetivodequetudosaiaperfeitoedificuldadedepedirajuda.

2ºPasso:Identificarhistóricodeaquisição:aanálisemolar,diferentementedamolecular,incluiainvestigaçãodoprovávelhistóricodeaquisiçãodospadrõescomportamentaisdocliente. Isso significaqueo terapeutadeveexplorar situa-ções passadas que podem ter contribuído para a construção de determinadospadrões. É importante obter informações a respeito dos diversos contextoshistóricos de vida do cliente: familiar, socioafetivo, acadêmico, profissional,médico-psicológico e religioso-espiritual. Enfatiza-se que o histórico deve serdescritoemtermosdevariáveisindependentes,ouseja,variáveisambientaisquecontribuíram para a aquisição do padrão. Em geral, terapeutas confundem ohistóricodeaquisiçãocomcomportamentosqueoclienteapresentounopassado.

Porexemplo,emvezdecitar“Patríciasemprefoiboaaluna”,queserefereaum comportamento que caracteriza o padrão de perfeccionismo, o correto, nohistórico, seria “sucesso e bons resultadosnas atividades escolares”.AindanocasodePatrícia,podemosidentificaralgunsfatosrelevantesemseuhistóricode

47

Page 27: Análises funcionais moleculares e molares: um passo a passo · nas palmas das mãos) até causas interiores conceituais, quando se usam descrições redundantes como forma de atribuir

vida que provavelmente contribuíram para o desenvolvimento do padrão deautoexigência/perfeccionismo: pais exigentes, atenção dos pais condicionada abomdesempenho(diantedenota10,amãedizia“vocênãofezmaisdoqueasuaobrigação”);netamaisvelhadasfamíliaspaternaematerna,demodoqueafamília cobrava que fosse referência/modelo para os demais netos; criação emcidadedointerioremquetodoscomentavamsobreavidaunsdosoutros;mãepreocupada com o que os outros pensam, comparações constantes com outraspessoas(amãesemprecomentava:“afilhadadonaMariapassouparaMedicinaemSãoPaulo”);históricodedificuldadesfinanceirasnafamília,comcobrançasdospaisparaqueelamudasseasituação.

3º Passo: Identificar contextos atuais mantenedores: além dos aspectoshistóricos,faz-senecessárioinvestigarpossíveiscontextosatuaismantenedores,queseriamcondiçõesemqueoclienteestáinseridoatualmenteequefavorecemamanutençãodopadrão.Novamente,érelevantedestacarqueoscontextosquemantêm o padrão também devem ser descritos em termos de variáveisindependentes (ambientais) e não de respostas do cliente.O contexto atual devidadePatrícia,noqueserefereaopadrãocomportamentalemanálise,poderiaser caracterizado pela inserção em ambiente acadêmico e de trabalho muitoexigentes e competitivos, namorado muito bem-sucedido na mesma áreaprofissional que ela (o que gerava cobranças para que ela atingisse o mesmopatamar de sucesso), círculo social restrito e composto por pessoas muitointelectualizadasecomcondiçãosocioeconômicasuperior,contatointensocomosfamiliares,queexpressavammuitasexpectativassobreseudesempenho.

4º Passo: Consequências que fortalecem o padrão/consequências queenfraquecemopadrão:umimportanteelementoparaacomposiçãodeanálisesmolares é a análise motivacional, a qual consiste na identificação deconsequências que reforçam o padrão (benéficas/reforços em curto, médio elongo prazo) e consequências que enfraquecem o padrão(perdas/desvantagens/estimulação aversiva/punidores em curto, médio e longoprazo). Ressalta-se que, com frequência, os clientes buscam a terapia nomomento em que um padrão historicamente reforçado e, assim, construído eestabelecidoaolongodesuavidapassaaproduzirconsequênciasaversivas.

Para Patrícia, o padrão de autoexigência/perfeccionismo traz diversasconsequências reforçadoras (positivas e negativas), como bom desempenho eboas notas, reconhecimento social e profissional, novas oportunidades decrescimento no trabalho e possibilidade de evitar críticas e julgamentos. Por

48

Page 28: Análises funcionais moleculares e molares: um passo a passo · nas palmas das mãos) até causas interiores conceituais, quando se usam descrições redundantes como forma de atribuir

outro lado, observam-se também importantes consequências aversivas:sobrecarga constante de atividades (que tem como efeito somatizações, comotonturaseproblemasestomacaisrecorrentes),poucotempoparalazer,pessoasseaproveitam/”seencostam”nelaematividadesdeestudoetrabalho,hádesgastenosrelacionamentos(umavezqueelasededicamuito,mastambémtemgrandesexpectativas e faz cobranças em relação ao retorno que as pessoas devem lhedar), poucas relações de intimidade (já que as atividades acadêmicas eprofissionaisocupavampraticamentetodooseutempo).

Há diferentes maneiras de apresentação das análises molares. Asinformações podem ser descritas em forma de texto ou sintetizadas em umquadro,comonoQuadro1.21.

Quadro1.21Exemplodeanálisemolardopadrãodeautoexigência/perfeccionismodePatrícia

Padrão:Autoexigência/Perfeccionismo

Comportamentosquecaracterizam

Históriadeaquisição

Contextosatuaismantenedores

Consequênciasquefortalecemopadrão

Consequênciasqueenfraquecemopadrão

FazerefazváriasvezesseustrabalhosNuncaosavaliacomosuficientementebonsDificuldadedelidarcomerrosPreocupa-semuitocomoquequalquerpessoapensasobreelaFalasóonecessárioemsituaçõessociaisAssumediversoscompromissosaomesmotempoRegra:“Façotudobemfeitoouémelhornemfazer”AssumemaisresponsabilidadesdoqueoscolegasnostrabalhosemgrupoDificuldadedepedirajuda

PaisexigentesAtençãodospaiscondicionadaabomdesempenhoComparaçõesconstantescomoutraspessoasNetamaisvelhadafamília=>Deveriaser“modelo”Mãemuitopreocupadacomoqueosoutrospensam(modelo)Criaçãoemcidadedointerior,emquetodoscomentavamsobreasvidasunsdosoutrosComparaçõesconstantes

AmbienteacadêmicomuitoexigenteecompetitivoAmbientedetrabalhoexigenteecompetitivoNamoradomuitobem-sucedidonamesmaáreaqueelaMuitasexpectativasfamiliaressobreodesempenhodelaCírculosocialrestritoecompostoporpessoasintelectualizadasecomcondiçãosocioeconômicasuperior

BomdesempenhoeboasnotasReconhecimentosocialeprofissionalOportunidadesdecrescimentonotrabalhoEvitacríticasejulgamentos

SobrecargaesomatizaçõesPoucotempoparalazerPoucasrelaçõesdeintimidadeColegasdefaculdadese“encostam”nelaDesgastenosrelacionamentos(fazmuitopelosoutrosecobramuitoemtroca)

49

Page 29: Análises funcionais moleculares e molares: um passo a passo · nas palmas das mãos) até causas interiores conceituais, quando se usam descrições redundantes como forma de atribuir

comoutraspessoasHistóricodedificuldadesfinanceirasnafamília

Como se pode observar, a análise molar permite uma compreensão maisampla e integrada do cliente, relacionando aspectos históricos e atuais, o quecontribui para o desenvolvimento do repertório de autoconhecimento e para aelaboração de estratégias de intervenção igualmente amplas, o que torna otratamento mais eficaz. Assim, as análises funcionais moleculares e molarescomplementam-se e, quando integradas, oferecem uma compreensão maisaprofundadaecompletadoscasos,oquepermiteoestabelecimentodeobjetivosterapêuticos pertinentes e de estratégias de intervenção adequadas a essesobjetivos.4

CONSIDERAÇÕESFINAIS

O presente capítulo teve como objetivo apresentar um modelo de realização,passoapasso,de análises funcionaismoleculares emolaresnaprática clínica.Dicas e exemplos de erros comuns foram utilizados como forma de prevenirpossíveisdificuldadesquepodemsurgiraolongodoprocessodeelaboraçãodeanálises funcionais. Inicialmente, foi abordado o tema das análises funcionaismoleculares (microanálises). Trata-se da análise de respostaspontuais/específicas do cliente, que ocorrem também em contextospontuais/específicos. A operacionalização da análise molecular é basicamentecaracterizada pela contingência tríplice (A: R → C), de modo que sãoidentificados:respostas,seusantecedentes,suasconsequênciaseseuspossíveisefeitos.Casooterapeutaelaboresuasintervençõesapenascombaseemanálisesmoleculares, há alguns riscos: aplicação restrita de técnicas comportamentaisparatratamentodecomportamentosespecíficos,oquefavoreceasubstituiçãodesintomas5 e dificulta a generalização do aprendizado para outros contextos;desenvolvimentoporpartedoclientederegrasfechadas,oquepodecontribuirpara uma baixa sensibilidade às contingências; dependência do cliente emrelação ao terapeuta, umavezque as análises sãopontuais e não favorecemodesenvolvimento de autoconhecimento amplo, de modo que o cliente nãoaprende a realizar novas análises ao surgiremnovos problemas.Entretanto, as

50

Page 30: Análises funcionais moleculares e molares: um passo a passo · nas palmas das mãos) até causas interiores conceituais, quando se usam descrições redundantes como forma de atribuir

análises funcionais moleculares têm papel fundamental no embasamento deanálisesmaisamplas,asanálisesmolares.

A composição da análise molar (macroanálise) envolve a integração deinformaçõeshistóricaseatuaisdavidadocliente.Asvariáveisquecompõemaanálise molar são: padrão comportamental, operacionalização doscomportamentos específicos que caracterizam o padrão, história de aquisição,contextos atuais mantenedores e consequências que fortalecem e queenfraquecem o padrão. Diferentemente das análises moleculares, as análisesmolares favorecem o desenvolvimento do repertório de autoconhecimento, demodo que o cliente passa a ter mais autonomia em relação ao terapeuta pararealizarassuasprópriasanálisesaosedepararcomnovasdificuldadesenovosdesafios. Ademais, há outras vantagens no uso das análises molares comoinstrumentoterapêutico:favoreceaexposiçãoanovascontingênciaseaumentaasensibilidadeàscontingências;favoreceaampliaçãodosrepertóriosdoclienteea sua generalização para outros contextos; favorece a ocorrência demudançasemclassesmaisamplasde respostas semque senecessitedeuma intervençãoespecífica para cada resposta ou situação; evita a substituição de sintomas; ocliente aprende a fazer análises funcionais contextuais, o que contribui para adiminuiçãodaocorrênciadegeneralizaçõesindevidas;aoconhecerasvariáveisquecontribuíramparaodesenvolvimentodesuasdificuldades,háumareduçãoda culpabilização do cliente por suas limitações e um aumento daresponsabilização pela mudança. De acordo com Skinner (1953/2003), aodesenvolver o repertório de autoconhecimento, o indivíduo assume posiçãoprivilegiada para atuar sobre si mesmo e sobre o mundo. Nesse contexto,destaca-se a importância de queo terapeuta faça perguntas e intervenções quecontribuamparaacomposiçãodeanálisesfuncionaismolecularesemolares.

As análises funcionais discutidas no presente capítulo são ferramentasfundamentaisparaaelaboraçãodaformulação(oudiagnóstico)comportamental,queserádiscutidanopróximocapítulo.

NOTAS1.OscapítulosdeAlmeidaNetoeLettieriedeSilvaeBravin,nestelivro,apresentamalgunsrecursosterapêuticosquepodemserúteisnacoletaeintervenção.

2.Aodiscutir opapel funcional da regra,Kerr eKeenan (1997) apresentamavisão tradicionaldasregras como estímulos discriminativos (Skinner, 1969/1980). Por definição, um estímulodiscriminativoevocadeterminadocomportamentodevidoaumahistóriadereforçamentodiferencialnapresençadoestímulo:háumamaiorprobabilidadedereforçamentonasuapresençadoquena

51

Page 31: Análises funcionais moleculares e molares: um passo a passo · nas palmas das mãos) até causas interiores conceituais, quando se usam descrições redundantes como forma de atribuir

sua ausência. No entanto, essa definição de regra é questionada por alguns autores (Blakely &Schlinger,1987;Hayes,1989;Schlinger,H.&Bakely,1987;Schlinger,1993), jáquehácasosemqueocomportamentodescritopelaregraéemitidoemummomentoposterior,naausênciadela.Deacordocomessesautores,hádiversoscasosemquearegraemsinãoevocaasrespostasdoouvintedamesmamaneiraqueumSD,mas,naverdade,alteraa funçãodeestímulosambientaisquesãodescritos na regra. Por sua vez, esses estímulos descritos exercem a função de estímulosdiscriminativos, os quais evocam respostas. Por exemplo, umamãe emite a regra: “filho, quandoestiverandandosozinhonarua,seumestranhofalarcomvocê,corra!”.Nessecaso,acriançanãoirá correr nomomento em que amãe lhe disser essa regra; ela apresentará esse comportamentoapenas posteriormente, em uma situação em que um estranho (SD) a abordar na rua quando elaestiversozinha.Dessaforma,sugere-sequearegrapodefuncionarcomoumestímuloalteradordafunçãodeoutrosestímulos(FAS).Noexemplo,aemissãodaregranãoteriaevocadodiretamenteocomportamentodecorrer,mas,sim,alteradoafunçãodoestímuloporeladescrito(estranhofalandocomacriançasozinhanarua),demodoqueestepassouaterfunçãodeestímulodiscriminativoeaevocarocomportamentodacriançadecorrer.

3.AterminologiaoriginalmenteutilizadaporMarçal(2005)era“quandoéfuncional”e“quandonãoéfuncional”;entretanto,ousodessestermospodegerarconfusãoparaleitoresiniciantes.AAnálisedo Comportamento compreende todo comportamento como funcional, no sentido de que, se umcomportamentoestápresentenorepertóriodeumindivíduo,necessariamenteháconsequênciasqueomantêm,aindaquehajatambémaproduçãodeconsequênciasaversivas.Dessemodo,ostermosforamsubstituídospor“consequênciasquefortalecemopadrão”e“consequênciasqueenfraquecemopadrão”,respectivamente.

4.Quinta,emseucapítulonestelivro,defendeoestabelecimentodeobjetivosterapêuticoscomobasedetodooprocessoterapêuticoeapresentaalgunscritériosparasuadefinição.

5.Asubstituiçãodesintomasacontecequandoumsintomaétratadosuperficialmentesemquesejamidentificadassuasorigens,demodoquesurgemoutrossintomascomamesmafunçãonorepertóriodo indivíduo em tratamento. Por exemplo, no caso de uma pessoa com padrão controlador(caracterizadopeladificuldadedelidarcomsituaçõesimprevisíveisepelanecessidadedequetodasas suas atividades sejam estritamente planejadas e organizadas) que chega ao consultório com aqueixa“fobiadeviagensdeavião”(situaçãoemqueopróprioindivíduoexercepoucocontrole),seas intervenções enfocarem somente o ambiente do avião sem que se trabalhem as questõesrelacionadas ao padrão controlador, há chances de que a fobia relacionada a aviões se resolvapontualmente, mas podem surgir outras dificuldades, como medo de dirigir ou de sair de casa(situaçõesquetambémenvolvemimprevisibilidade).

REFERÊNCIASBaum,W.M.(2006).CompreenderoBehaviorismo:Comportamento,culturaeevolução(2aed.,M.T.A.Silva,M.A.Matos,G.Y.Tomanari,&E.Z.Tourinho,trads.).PortoAlegre:Artmed.(Obraoriginalmentepublicadaem1994).

Blakely,E.,&Schlinger,H.(1987).Rules:Function-alteringcontingency-specifyingstimuli.TheBehaviorAnalyst,10,183-187.

Catania,A.C.(1999).Aprendizagem:Comportamento,linguagemecognição(4a.ed.,A.Schmidt,D.dasG.deSouza,F.C.Capovilla,J.C.C.deRose,M.deJ.D.dosReis,A.A.daCosta,...&A.Gadotti,trads.).PortoAlegre:Artmed.

52

Page 32: Análises funcionais moleculares e molares: um passo a passo · nas palmas das mãos) até causas interiores conceituais, quando se usam descrições redundantes como forma de atribuir

Chiesa,M.(2006).BehaviorismoRadical:Afilosofiaeaciência(C.E.Cameschi,trad.).Brasília:IBAC;Celeiro.

Cirino,S.(2001).Oqueéhistóriacomportamental.InH.J.Guilhardi,M.B.B.F.Madi,P.P.Queiroz,&M.C. Scoz (Orgs.),SobreComportamento eCognição: Expondo a variabilidade (Vol. 7, pp. 132-136).SantoAndré:ESETec.(Obraoriginalpublicadaem2006).

Cole,M.,&Cole,S.R.(2004).Odesenvolvimentodacriançaedoadolescente(M.F.Lopes,trad.).PortoAlegre:Artmed.

de Rose, J. C.C. (2001). O que é comportamento? In R. A. Banaco (Org.), Sobre Comportamento eCognição: Aspectos teóricos, metodológicos e de formação em Análise do Comportamento e TerapiaCognitivista(Vol.1,pp.82-84).SantoAndré:ESETec.

de Souza, D. G. (2001). O conceito de contingência. In R. A. Banaco (Org.), Sobre Comportamento eCognição: Aspectos teóricos, metodológicos e de formação em Análise do Comportamento e TerapiaCognitivista(Vol.1,pp.85-89).SantoAndré:ESETec.

Delitti,M.(2001).Análisefuncional:Ocomportamentodoclientecomofocodaanálisefuncional.InM.Delitti (Org.),SobreComportamentoeCognição:ApráticadaAnálisedoComportamentoedaTerapiaCognitivo-Comportamental(Vol.2,pp.35-42).SantoAndré:ESETec.

Glenn, S. S. (1991). Contingencies and metacontingencies: Relations among behavioral, cultural, andbiologicalevolution.InP.A.Lamal(Ed.),BehavioralAnalysisofSocietiesandCulturalPractices(pp.39-73).NewYork:HemispherePublishingCorporation.

Glenn,S.S.(2004).Individualbehavior,cultureandsocialchange.TheBehaviorAnalyst,27,133-151.

Glenn,S.S.(2005).MetacontingênciasemWaldenDois(R.C.Martone,&D.S.C.Ferreira,trads.).InJ.C. Todorov, R. C. Martone & M. B. Moreira (Orgs.).Metacontingências: Comportamento, cultura esociedade(pp.13-28).SantoAndré:ESETec.(Obraoriginalmentepublicadaem1986).

Hayes,S.(1989).Rule-governedbehavior:Cognition,contingencies,andinstructionalcontrol.NewYork:PlenumPress.

Kerr, P. F., & Keenan M. (1997). Rules and rule-governance: New directions in the theoretical andexperimental analysis of human behavior. In K. Dillenburger, M. F. O´Reilly, & M. Keenan (Eds.),Advancesinbehavioranalysis(pp.205-226).Dublin,Ireland:UniversityCollegeDublinPress.

Kohlenberg, J. R., & Tsai,M. (2001).Psicoterapia Analítica Funcional: Criando relações terapêuticasintensas e curativas (F. Conte, M., Delitti, M. Z. S, Brandão, P. R. Derdyc, R. R. Kerbauy, R. C.Wielenska,...&R.Starling,trads.).SantoAndré:ESETec.(Obraoriginalpublicadaem1991).

Marçal,J.V.S.(2005).Refazendoahistóriadevida:Quandoascontingênciaspassadassinalizamaformade intervenção clínica atual. In H. J. Guilhardi, & N. C. Aguirre (Orgs.), Sobre Comportamento eCognição:Expondoavariabilidade(Vol.15,pp.258-273).SantoAndré:ESETec.

Marçal, J.V.S. (2010).BehaviorismoRadical eprática clínica. InA.K.C.R.de-Farias (Org.),AnáliseComportamentalClínica:Aspectosteóricoseestudosdecaso(pp.30-48).PortoAlegre:Artmed.

Meyer, S. B. (2001). O conceito de análise funcional. In M. Delitti (Org.), Sobre Comportamento eCognição:ApráticadaAnálisedoComportamentoedaTerapiaCognitivo-Comportamental(Vol.2,pp.29-34).SantoAndré:ESETec.

Michael,J.(1982).Distinguishingbetweendiscriminativeandmotivationalfunctionsofstimuli.JournalofExperimentalAnalysisofBehavior,37,149-155.

Michael,J.(1993).Establishingoperations.TheBehaviorAnalyst,16(2),191-206.

53

Page 33: Análises funcionais moleculares e molares: um passo a passo · nas palmas das mãos) até causas interiores conceituais, quando se usam descrições redundantes como forma de atribuir

Miguel,C.F. (2000).OconceitodeoperaçãoestabelecedoranaAnálisedoComportamento.Psicologia:TeoriaePesquisa,16(3),259-267.

Moore,J.(2008).ConceptualfoundationsofRadicalBehaviorismo.NewYork:SloanPublishing.

Moreira,M.B.,&Medeiros,C.A.(2007).PrincípiosbásicosdeAnálisedoComportamento.PortoAlegre:Artmed.

Pierce,W.D.,&Cheney,C.D.(2004).Behavioranalysisandlearning.Mahwah(NJ)LawrenceErlbaum.

Schlinger, H., & Blakely, E. (1987). Function-altering effects of contingency-specifying stimuli. TheBehaviorAnalyst,10(1),41-45.

Schlinger,H.D., Jr. (1993).Separatingdiscriminativeandfunction-alteringeffectsofverbalstimuli.TheBehaviorAnalyst,16,9-23.

Skinner, B. F. (1980). Contingências do Reforço: Uma análise teórica (R. Moreno, trad.).(Coleção OsPensadores).SãoPaulo:AbrilCultural.(Obraoriginalpublicadaem1969).

Skinner,B.F.(1981).Selectionbyconsequences.Science,213,501-504.

Skinner,B. F. (2003).Ciência eComportamentoHumano (J.C. Todorov,&R.Azzi, trad.). São Paulo:MartinsFontes.(Obraoriginalpublicadaem1953).

Todorov,J.C.(1982).BehaviorismoeAnáliseExperimentaldoComportamento.CadernosdeAnálisedoComportamento,3,10-23.

Todorov,J.C.(1989).Apsicologiacomoestudodeinterações.Psicologia:TeoriaePesquisa,5,325-347.

Tomanari, G. Y. (2000). Reforçamento condicionado. Revista Brasileira de Terapia Comportamental eCognitiva,2(1)I,61-77.

54