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REVISTA USP, São Paulo, n.61, p. 94-101, março/maio 2004 94 Minisséries: la créme de la créme da ficção na TV ANNA MARIA BALOGH ANNA MARIA BALOGH é professora da ECA-USP e da Unip.

ANNA MARIA BALOGH

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Minisséries:

la créme de la crém

e

da ficção na TV

ANNA MARIA BALOGH

ANNA MARIA

BALOGH é professora da

ECA-USP e da Unip.

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As minisséries, como já se teve

oportunidade de analisar em ou-

tras obras (Balogh, 1996; 2002),

constituem um formato sui generis

dentro do conjunto de formatos mais

consagrados de ficção: a telenove-

la, a série, o seriado e o unitário.

Trata-se do formato mais fechado

do gênero: produto terminado an-

tes de sua transmissão pelas emis-

soras, estruturalmente muito mais

coeso que a novela, com fortes

marcas de autoria no texto roteiri-

zado. A novela, pelo contrário, dada

sua enorme extensão e simultanei-

dade da elaboração e da veiculação,

constitui um formato muito mais po-

roso. Tais características da novela

bem como sua cotidianidade a tor-

nam muito mais vulnerável às inva-

sões do merchandising tout court,

bem como do merchandising social

e político. A minissérie, pelo con-

trário, abre pouco espaço para esse

tipo de estratégia discursiva.

As marcas de autoria e a clausu-

ra da minissérie em relação aos

demais formatos de ficção na TV a

tornam ideal para as adaptações

da literatura, pois o formato repre-

senta o seu congênere mais próxi-

mo em termos audiovisuais, posto

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que é o produto que menos se insere nosmoldes da “estética da repetição” ou neo-barroca tal como concebida por Omar Cala-brese (1). Enquanto as séries, seriados enovelas se caracterizam por reiterações, tan-to no nível narrativo, quanto no nível figu-rativo, as minisséries oferecem traços de ori-ginalidade raros na ficção televisiva, até mes-mo em um universo fictício já per se origi-nal como o da teledramaturgia brasileira.

Em todos os seminários e cursos que seorganizaram na USP, bem como em entre-vistas feitas (2) e declarações recolhidas nacrítica especializada, todos os profissionaisforam unânimes em considerar a minissériecomo a crème de la crème da produçãotelevisiva nacional de ficção, o que não épouco, posto que o Brasil é mundialmenterespeitado nesta forma de realização, so-bretudo devido à telenovela, mas a minis-série já vai se revelando como a próximagrande consagração de nosso know-how noramo. As condições de trabalho própriasdo contexto brasileiro, mão-de-obra maisbarata, ressalvados os salários de grandesestrelas da realização e da interpretação, e,

sobretudo, muito talento e criatividadepossibilitam a realização de minissériesmuito mais extensas do que as estrangeirasque em geral não passam de uma dezena decapítulos, sobretudo as européias. Asminisséries brasileiras muitas vezes ultra-passam os 30 ou 40 capítulos, duração im-pensável para as congêneres estrangeiras.A Muralha (Globo, 2000) teve duração de49 episódios e A Casa das Sete Mulheres(Globo, 2003) se desenvolveu em 53 capí-tulos, apenas para exemplificar. A exten-são do produto tem-se revelado ideal parauma visão mais aprofundada do universopassional dos personagens e uma evoluçãonarrativa mais coesa e sucinta, bem comouma melhor exploração dos recursos técni-co-expressivos do meio e do universo sim-bólico das obras, entre outros.

O formato se insere de maneira geraldentro de uma estratégia festiva das emis-soras, como os 20 anos da Globo, com trêsminisséries transmutadas de obras dosmaiores escritores de nossa literatura (3),ou produtos mais recentes como Um SóCoração de Maria Adelaide Amaral, rotei-ro original que traz na urdidura da ficçãoparte importante da história de São Paulono momento dos festejos dos 450 anos daurbe, centrada na figura de Yolanda Pen-teado (Ana Paula Arósio) e de sua fortepresença como patronesse das artes juntocom Ciccillo Matarazzo (Edson Celulari),tendo como pano de fundo momentoscruciais da evolução artística brasileiracomo a Semana de Arte Moderna de 1922,entre outros fatos sociais e históricos im-portantes na evolução da urbe. A Muralha,por sua vez, inaugurou em 2000 a progra-mação festiva da Globo por ocasião dascomemorações dos 500 anos do Descobri-mento. Mesmo que não se insira dentro deum momento tão celebrado quanto os men-cionados, a minissérie e muitas de suasmanifestações guardam algo do sabor fes-tivo que tinham no pretérito os atos de ir aocinema ou ao teatro.

Como produto diferenciado, a minis-série costuma ser transmitida após as 22horas dentro do mosaico de programaçãodas emissoras e se dirige presumivelmente

1 O crítico classifica os produtosde ficção atuais, como séries etelefilmes, entre outros, dereplicantes “que nascem comoprodutos de repetição mecâni-ca e de aproveitamento de tra-balho” e criam, assim, uma“estética da repetição” (Analisi,1984, pp. 71-2).

2 Curso de Roteirização paraCinema e TV, organizado pelaautora (ECA-USP, 1986) compresença de Doc Comparato,Walter George Durst, CarlosLombardi e outros. Aula deencerramento do curso de Pósde Adaptações da Literatura aoCinema e à TV (ECA-USP,1988) ministrado pela autora,que contou com depoimento epresença de W. G. Durst e Jú-lio Medaglia. Entrevista pesso-al concedida por Durst à auto-ra em novembro de 1990.

3 O Tempo e o Vento, roteiro deGilberto Braga – a partir daprimeira parte da obra homôni-ma de Érico Veríssimo (Globo,1985, 25 caps.); Tenda dosMilagres, roteiro de AguinaldoSilva com base na obra homô-nima de Jorge Amado (30caps.); Grande Sertão: Vere-das, roteiro de W. G. Durst apartir da obra homônima deJoão Guimarães Rosa (25caps.).

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a um público mais seleto e com mais am-plas opções de lazer do que o da telenovela.Em termos culturais, as minisséries trans-postas da literatura, as mais freqüentes, emgeral representam forte incentivo para asvendas dos romances originais e trazemconsigo estratégias especiais por parte daseditoras em conjunção com o lançamentode uma nova série.

O esmero na realização de grande partedas minisséries brasileiras pode ser aferidotambém pela ampla paratextualidade quesão capazes de gerar, entendendo-se o ter-mo tal como o conceitua Lorenzo Vilches:a publicidade, os comentários da impren-sa, tudo o que atua para a série sem ser asérie em si (Analisi, 1984, p. 68). Um gran-de número de artigos, entrevistas, pressreleases, boletins das emissoras, entre ou-tros, procura detalhar o trabalho e a compe-tência exigidos em todas as etapas da rea-lização, das quais se mencionam apenasalgumas mais ilustrativas com base empesquisas feitas, bem como na paratex-tualidade disponível.

No tocante à roteirização, as minissériessão solicitadas aos profissionais mais con-sagrados da produção fictícia e em muitoscasos resultam de uma luta pessoal dosroteiristas por produzir marcas duradourasdentro da cultura audiovisual do país comofoi a verdadeira cruzada de Walter GeorgeDurst para conseguir que uma obra do por-te de Grande Sertão:Veredas pudesse serproduzida pela televisão brasileira, o queocorreu, por fim, na comemoração dos 25anos da Globo, conforme entrevista pesso-al concedida à autora do artigo, já citada.

Com freqüência, as minisséries trans-mutadas da literatura são clássicos de épo-ca ou biografias romanceadas de figurasde destaque do pretérito, exigindo, por-tanto, ampla pesquisa para a sua recons-trução e um maior respaldo financeiro daemissora, posto que a reconstituição deépoca costuma encarecer a produção emcerca de 60% conforme veiculado pelaimprensa a respeito de Chiquinha Gon-zaga. A série ofereceu ainda uma dificul-dade adicional no tocante a esse aspecto,a ausência de fotos de interiores de casas

brasileiras da época do século XIX, obri-gando os profissionais a pesquisar fotosestrangeiras (França, 1999).

Em muitas tramas é exigido o desloca-mento de equipes imensas para locaçõesagrestes e sem infra-estrutura adequada,como ocorreu em Grande Sertão: Veredas,exigindo muito mais da equipe de produ-ção e de direção. Em outras ocasiões, o des-locamento é mais modesto, como no casode Um Só Coração, em que a cidade deSantos serviu para reproduzir a cidade deSão Paulo no início do século representadana trama. Ainda assim, constitui uma difi-culdade adicional. A produção pode inclu-sive recorrer a localidades no estrangeiro,como em Os Maias. Para reproduzir o uni-verso de Eça a equipe realizou filmagensna cidade medieval de Óbidos e em Lisboa.Não só os deslocamentos com as equipesse revelam custosos. As tomadas de estú-dio exigiram o gasto de um milhão de reaisem mobília antiga para recriar os salões daépoca (Marthe, 2001).

De maneira geral, as minisséries, sejamelas adaptadas ou de roteiro original, cos-

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tumam exigir intensa pesquisa. Em Um SóCoração, os realizadores receberam a co-laboração de familiares no tocante a dados,relatos e documentação em geral sobre ospersonagens reais retratados, tais comoYolanda Penteado, Brecheret e CiccilloMatarazzo (Jacintho, 2004). Em Os Maias,tanto atores quanto membros da produçãotiveram que assistir a palestras com especia-listas na obra de Eça de Queiroz. Em AnosRebeldes Gilberto Braga contava com avantagem de ter vivido a sua juventude nosanos retratados, bem como com a parceriade Sérgio Marques; ainda assim, serviu-sedas obras de Alfredo Sirkis, OsCarbonários, Memórias da Guerrilha Per-dida, e de Zuenir Ventura, 1968, O Ano queNão Terminou sobre aqueles anos obscu-ros da história brasileira para respaldar seuroteiro. O diretor Denis Carvalho ofereceuaos atores toda espécie de informação quepudesse aprimorar o conhecimento da épo-ca, inclusive depoimentos de Bete Men-des, militante política durante os anos re-tratados na série (Gianini, 1992).

Além de roteiristas e profissionais con-sagrados na área de realização, as minis-séries costumam reunir elencos hollywoo-dianos de fazer inveja a qualquer diretor.Ainda assim, os diretores exigem exausti-vos ensaios do elenco, como Denis Carva-lho em Anos Rebeldes e Daniel Filho em OPrimo Basílio, por exemplo.

O ritmo industrial de produção das no-velas só permite algumas incursões ocasio-nais em padrões fílmicos de realização, emgeral nos primeiros capítulos, visando cau-sar grande impacto de público e de audiên-cia, ainda que as telenovelas mais assisti-das tenham o selo do padrão Globo de qua-lidade. Das minisséries, no entanto, exige-se um padrão estético muito mais apuradoainda ao longo de toda a série. O PrimoBasílio, além das interpretações magistraisde Marília Pera e Giulia Gam, trouxenuanças de ordem visual para nos mostraro gradual mergulho das protagonistas noamargo processo de vingança e chantagemde Juliana em relação a Luísa, enchendo desombras o mundo representado. Anos Re-beldes mostrou um período inicial de mais

luz e brilho e foi gradualmente tornando aatmosfera mais azulada conforme a situa-ção sociopolítica do país e dos militantesrepresentados se obscurecia, e, por fim, oazul e o alto contraste de luz se mesclam natriste morte da militante Heloísa vivida porCláudia Abreu, como recolhe Narciso Lobo(2000, p. 265) a partir de um boletim daemissora mostrando o cuidado na utilizaçãodos recursos técnico-expressivos na série.

Críticos nacionais, como Maria Apare-cida Baccega (1996), entre outros, atesta-ram a importância da novela na nossa cul-tura. Michèle e Armand Mattelart (1989, p.131) chegam a referir-se ao papel desme-surado que a televisão desempenha na so-ciedade e na cultura brasileiras, sobretudo

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mutação de textos literários consagradospela tradição cultural brasileira. Clássicos,enfim, que representam a maioria dasminisséries realizadas. Clássicos conside-rados intransmutáveis, como Grande Ser-tão: Veredas foram traduzidos por WalterGeorge Durst e Walter Avancini. Eça deQueiroz foi adaptado em duas minissériesprimorosas: O Primo Basílio, com roteirode Gilberto Braga, e Os Maias, com roteirode Maria Adelaide Amaral. Érico Veríssimofoi transposto para a TV em O Tempo e oVento, com adaptação de Doc Comparato.A Muralha foi transposta da obra homôni-ma de Dinah Silveira de Queiroz por MariaAdelaide Amaral.

Poderíamos seguir a listagem ainda porum longo tempo… O formato também trou-xe obras de autores clássicos muito aceitospelo público, como a obra de Jorge Amado,Tenda dos Milagres, muito embora o escri-tor tenha estado mais presente em novelas.A minissérie acolheu também autores maispopulares igualmente bem-vindos e bemadaptados como Marcos Rey em Memó-rias de um Gigolô e Letícia Wierzchowskiem A Casa das Sete Mulheres, entre outros,ou seja, a maioria das facetas de nossa cul-tura plasmada na literatura se encontra re-presentada no formato em termos de adap-tações. Há formatos de roteiro original tam-bém, como Aquarela do Brasil e Um SóCoração, entre outros.

Há um outro aspecto bastante instigan-te nas minisséries, tanto as adaptadas quantoas de roteiro original: mesmo que elas nãosejam realizadas com a intenção específicade constituir um painel histórico de umadeterminada época, devido ao cuidado naelaboração da maioria desses produtos elasterminam por fazer esta função, quase di-dática. O formato acaba constituindo vá-rios painéis históricos em som e imagem,dada a precisão buscada nas reproduçõesdas mais diversas temporalidades represen-tadas no microuniverso narrativo. Adicio-na-se, assim, um novo valor à perfeita car-pintaria dramatúrgica da maioria dasminisséries. Esta característica é palpávelem O Primo Basílio, Os Maias, Anos Dou-rados, Um Só Coração e muitas outras.

a novela, em O Carnaval das Imagens. Oformato assume em parte essa responsabi-lidade desmesurada na Globo através daampla inclusão de merchandising social epolítico no interior de suas tramas: o feijãoe o sonho andam de mãos dadas.

O papel das minisséries é diverso, masnão menos importante: cabe assinalar quemuitas dessas obras de ficção televisiva vêmtrazendo para o público retratos decertoainda mais sutis, mais aprofundados emultifacetados da cultura brasileira em suasproduções do que é permitido às novelas,dado o seu ritmo de produção.

Pelo caráter estrutural da minissérie, aclausura poética do texto, já apontada, oformato se presta admiravelmente à trans-

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Outro aspecto que merece atenção nasminisséries é a ênfase dada às heroínas,sejam estas produtos de pura ficção, pro-dutos de biografias romanceadas ou umavisão fictícia de heroínas de nossa história,ou ainda uma aproximação, a mais fielpossível, ao real dentro do contexto da fic-ção. Neste rico veio já existe um númeroponderável de personagens fortes a seremlembrados, como a protagonista de Chi-quinha Gonzaga, em sua juventude e emsua maturidade, seus amores, suas atitudespolêmicas e vanguardistas e seu imensotalento; Anita Garibaldi (Giovanna An-tonelli), a guerreira, e Manuela (CamilaMorgado), a observadora e a relatora dasvidas das sete mulheres e seus homens emA Casa das Sete Mulheres; Maria Monforte(Simone Spoladore), bela e desafiadora doscostumes da época, em Os Maias; as belasavant-garde impulsoras do mundo artísti-co de Um Só Coração, como Yolanda Pen-teado (Ana Paula Arósio), Tarsila do Ama-ral (Eliane Giardini) e muitas outras; a sel-vagem e corajosa Ana Terra (Glória Pires)de O Tempo e o Vento. Isso para não falarna mais instigadora e misteriosa dentretodas, Diadorim-Maria Diadorina (BrunaLombardi) de Grande Sertão: Veredas.

Ao lado de toda a excelência, inovaçãoe esmero caracterizadores da maioria dasminisséries brasileiras, chama a atenção oaparente paradoxo que parece existir entreesse primor de realização, sobretudo daGlobo, e o desleixo com que vêm sendotratadas pela emissora em passado maisrecente em termos de horário de exibição.Tal estratégia parece entrar em franca con-tradição com a trajetória de campeã de au-diência durante décadas respaldada sobre-tudo na manutenção de um “palimpsestorígido” (Bettetini, 1986), ou seja, na manu-tenção de um mosaico fixo de ofertas degêneros, formatos e horários. A emissoratem desrespeitado realizadores e públicoao começar minisséries no seu horário tra-dicional, logo após as dez da noite, na se-mana de lançamento e nas subseqüentespassá-las a horários bem mais tardios pre-terindo-as por meros clones de programasestrangeiros, como os Big Brothers de plan-

tão, ou jogos de futebol, entre outros, numautêntico vale-tudo em termos de constru-ção do mosaico de programação desafian-do as horas de sono dos espectadores edando armas para os que gostam de atribuira mediocrização da TV ao público.

Como já foi dito, as minisséries brasi-leiras têm uma extensão infinitamente maislonga do que as congêneres estrangeiras,talvez a isso se deva uma nova denomina-ção que vem surgindo: a microssérie, ter-mo com o qual se classificou O Auto daCompadecida dirigido por Guel Arraes,adaptado da obra homônima de ArianoSuassuna, com apenas quatro episódios.Além do enorme sucesso alcançado pelasperipécias de João Grilo e Chicó, a sérietrouxe uma pequena concessão romântica,inexistente na obra de Suassuna, a conquistade uma namorada (Rosinha) por parte doinventivo Chicó (Selton Mello), ajudadopelo astuto João Grilo (Matheus Nach-tergaele), bem como a inclusão de valen-tões como Vicentão, emprestado de outraobra do autor, como rival de Chicó. A no-vidade mais instigadora, no entanto, foi anova estratégia que enlaça TV e cinema,parceria já mais tradicional na Europa. Amicrossérie, gravada em película, com cor-tes de cerca de uma hora, resultou num fil-me homônimo exibido com igual sucessoem circuito nacional mostrando ser possí-vel esse tipo de otimização do produto compossibilidades de exibição em diferentesveículos e circuitos com amplo proveitopara o público e para a cultura.

Em tempos em que a globalização daeconomia e a mundialização da cultura(Ortiz, 1998) tendem a pasteurizar as pro-duções e impor visões dos países mais ri-cos, não podemos deixar de registrar comgrande prazer a existência de produtos defeitura primorosa envolvendo equipes comalto grau de competência e numerosos ato-res de grande talento num produto bembrasileiro – ainda que este esteja reservadopor ora a um público mais seleto no país –um formato, enfim, que vem sendo cadavez mais exportado e leva uma pitada denossa cultura para outros rincões d’alémmar… Vale a pena ver de novo…

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Principais minisséries

O Auto da Compadecida. Globo, 1999. Adaptação de Guel Arraes da obra homônima de Ariano Suassuna. Direção deGuel Arraes. Elenco: Matheus Nachtergaele, Selton Mello e outros.

Os Maias. Globo, 2001. Adaptação de Maria Adelaide Amaral e colaboradores da obra homônima de Eça de Queiroz.Direção geral de Luiz Fernando Carvalho. Elenco: Walmor Chagas, Ana Paula Arósio, Fábio Assunção e outros.

A Casa das Sete Mulheres. Globo, 2003. Adaptação livre de Maria Adelaide Amaral e Walter Negrão da obrahomônima de Letícia Wierzchowski. Direção geral de Jayme Monjardim. Elenco: Nívea Maria, Eliane Giardini, CamilaMorgado e outros.

Anos Rebeldes. Globo, 1992. Roteiro de Gilberto Braga e colaboradores. Direção de Denis Carvalho. Elenco: CláudiaAbreu, Cássio Gabus Mendes, Malu Mader e outros.

Chiquinha Gonzaga. Roteiro de Lauro Cezar Muniz. Direção geral de Jayme Monjardim. Elenco: Gabriela Duarte,Regina Duarte, Carlos Alberto Ricelli e outros.

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