25
Anne Tamy Nagata Enucleação em paciente felino (Felis catus) Curitiba/PR 2012

Anne Tamy Nagata - Equalis · endoftalmite, trauma ocular grave com hemorragia (GOES, 2012), segundo Rahal et al., (2000), Gellat (2003) e Bojrab (2005) inclui também a panoftalmite,

  • Upload
    others

  • View
    4

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: Anne Tamy Nagata - Equalis · endoftalmite, trauma ocular grave com hemorragia (GOES, 2012), segundo Rahal et al., (2000), Gellat (2003) e Bojrab (2005) inclui também a panoftalmite,

Anne Tamy Nagata

Enucleação em paciente felino (Felis catus)

Curitiba/PR

2012

Page 2: Anne Tamy Nagata - Equalis · endoftalmite, trauma ocular grave com hemorragia (GOES, 2012), segundo Rahal et al., (2000), Gellat (2003) e Bojrab (2005) inclui também a panoftalmite,

Anne Tamy Nagata

Enucleação em paciente felino (Felis catus)

Monografia Apresentada como requisito para

conclusão do Curso de Pós-graduação,

Especialização em Clínica Médica e Cirúrgica de

Pequenos Aninais, do Centro de Estudos Superiores

de Maceió, da Fundação Educacional Jayme de

Altavila, orientada pelo Prof. M. Sc. Masahiko Ohi

Curitiba/PR

2012

Page 3: Anne Tamy Nagata - Equalis · endoftalmite, trauma ocular grave com hemorragia (GOES, 2012), segundo Rahal et al., (2000), Gellat (2003) e Bojrab (2005) inclui também a panoftalmite,

AGRADECIMENTOS

Aos meus pais que ajudaram, me deram suporte para realizar meu sonho de ter uma

profissão a qual eu sou apaixonada;

Ao meu Professor orientador Doutor Masahiko Ohi que com sua sabedoria, me

encaminhou para o sucesso desse trabalho;

Ao meu colega e amigo Médico Veterinário Rafael Ryosuke Ohi que também

colaborou para elaboração desse trabalho;

Ao meu namorado Rafael Grott de Carvalho que me proporcionou material, ajuda e

apoio para realizar minha monografia.

Page 4: Anne Tamy Nagata - Equalis · endoftalmite, trauma ocular grave com hemorragia (GOES, 2012), segundo Rahal et al., (2000), Gellat (2003) e Bojrab (2005) inclui também a panoftalmite,

RESUMO

O olho é um órgão bastante complexo, sendo este que permite detectar a luz e transformar

essa percepção em impulsos elétricos que são enviados até o cérebro. Sendo assim é de

grande importância o conhecimento anatômico e sua fisiologia. Neste trabalho será realizada

uma revisão de literatura da anatomia do olho e suas estruturas, assim como um relato de caso

de um gato, o qual foi realizado enucleação transpalpebral devido a um trauma

automobilístico que comprometeu a função de seu olho direito, assim como reconstrução da

sínfise mentoniana, reposicionamento da mandíbula e orquiectomia. Houve recuperação

completa do animal, mantendo uma boa qualidade de vida.

Palavras-chave: enucleação, gato, trauma.

Page 5: Anne Tamy Nagata - Equalis · endoftalmite, trauma ocular grave com hemorragia (GOES, 2012), segundo Rahal et al., (2000), Gellat (2003) e Bojrab (2005) inclui também a panoftalmite,

LISTA DE FIGURAS

Figura 01 – Localização anatômica das estruturas oculares ....................................................... 8

Figura 02 – Paciente felino, macho, sem raça definida, de aproximadamente 3 anos,

apresentando anisocoria, midríase e hifema no olho direito (a) e sangramento nasal e oral (b)

.................................................................................................................................................. 15

Figura 03 – Técnica de cerclagem de sínfise mentoniana em um gato .................................... 16

Figura 04 - Técnica de enucleação transpalpebral em um cadáver de um cão ......................... 17

Figura 05 - Radiografia em decúbito ventral do crânio, verificando a cerclagem da sínfise

mentoniana (a), e a luxação do ramo direito da mandíbula (b) ................................................ 19

Figura 06 - Foto do paciente no pós operatório. A – paciente no pós-operátório; B – paciente

alguns dias após a cirurgia ........................................................................................................ 19

Figura 07 – O paciente 7 meses depois da cirurgia de enucleação........................................... 20

Page 6: Anne Tamy Nagata - Equalis · endoftalmite, trauma ocular grave com hemorragia (GOES, 2012), segundo Rahal et al., (2000), Gellat (2003) e Bojrab (2005) inclui também a panoftalmite,

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ........................................................................................................................ 7

1. REVISÃO DE LITERATURA ............................................................................................ 8

1.1. Anatomia do olho .......................................................................................................... 8

1.2. Globo ocular .................................................................................................................. 8

1.2.1. Córnea......................................................................................................................... 9

1.2.2. Esclera ........................................................................................................................ 9

1.2.3. Coróide, Corpo ciliar e Íris ....................................................................................... 10

1.2.4. Retina ........................................................................................................................ 10

1.2.5. Nervo óptico ............................................................................................................. 10

1.2.6. Conjuntiva ................................................................................................................ 11

1.2.7. Cristalino .................................................................................................................. 11

1.2.8. Câmaras do olho ..................................................................................................... 111

1.2.9. Terceira pálpebra ...................................................................................................... 12

1.2.10. Aparelho lacrimal ................................................................................................... 12

1.2.11. Músculos dos olhos ................................................................................................ 13

1.3. Técnica de enucleação transpalpebral ......................................................................... 13

2. RELATO DE CASO........................................................................................................... 14

2.1. Avaliação do paciente .................................................................................................. 14

2.2. Procedimento para redução da Sínfise Mentoniana .................................................... 15

2.3. Enucleação ................................................................................................................... 16

2.4. Orquiectomia ............................................................................................................... 18

2.5. Pós operatório .............................................................................................................. 18

3. DISCUSSÃO ....................................................................................................................... 21

CONCLUSÃO.......................................................................... Erro! Indicador não definido.

4. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .............................. Erro! Indicador não definido.

Page 7: Anne Tamy Nagata - Equalis · endoftalmite, trauma ocular grave com hemorragia (GOES, 2012), segundo Rahal et al., (2000), Gellat (2003) e Bojrab (2005) inclui também a panoftalmite,

7

INTRODUÇÃO

O órgão da visão é bastante complexo, e depende de cada estrutura anatômica para

ocorrer a percepção óptica completa (KONIG, 2004).

Conforme Cunha (2008) os olhos são órgãos sensitivos, sendo protegidos pela

estrutura óssea, muscular e cutânea, além de uma camada de foto receptores, possui também

um sistema de lentes e nervos para a condução de impulsos dos receptores.

São diversas as enfermidades que envolvem o bulbo ocular e seus anexos. É de

grande importância o conhecimento anatômico e fisiológico de suas estruturas para sua

melhor compreensão e para aplicá-las tanto na clínica cirúrgica quanto na rotina da clínica

médica veterinária (CUNHA, 2008).

Das cirurgias oculares, a enucleação é uma cirurgia comum, porém bastante radical

aplicada à clínica de pequenos e grandes animais, que consiste na retirada de todo bulbo

ocular e seu revestimento fibroso interno. A utilização do procedimento é indicada em

diversas enfermidades como glaucomas crônicos incontroláveis, neoplasias intra-oculares,

endoftalmite, trauma ocular grave com hemorragia (GOES, 2012), segundo Rahal et al.,

(2000), Gellat (2003) e Bojrab (2005) inclui também a panoftalmite, ruptura do nervo óptico

e prolapso do bulbo ocular por diversas causas.

Será relatado um caso de enucleação transpalpebral em um gato (Felis catus) com

trauma ocular por acidente automobilístico, realizando ampla revisão da anatomia do

bulboocular, com seus anexos, assim como sua fisiologia.

Page 8: Anne Tamy Nagata - Equalis · endoftalmite, trauma ocular grave com hemorragia (GOES, 2012), segundo Rahal et al., (2000), Gellat (2003) e Bojrab (2005) inclui também a panoftalmite,

8

1. REVISÃO DE LITERATURA

1.1. Anatomia do olho

Figura 01: Localização anatômica das estruturas oculares . Fonte: TALIERI e DÓREA NETO, 2006

1.2. Globo ocular

O olho é um órgão sensorial que permite que ocorra a visão através da detecção da luz

transformando-a em impulsos elétricos (COLVILLE, 2008).

O olho fica localizado na órbita, a qual é formada por uma estrutura óssea que a

compõe, sendo os ossos frontal, lacrimal, esfenóide, zigomático, palatino e maxilar

(GELATT, 2008; MAGGS, 2008).

O órgão da visão consiste no bulbo ocular e em vários anexos, como os músculos

intraoculares, as pálpebras que o protegem e o aparelho lacrimal que umedecem a parte

exposta do olho. As pálpebras surgem das margens ósseas da órbita, são como cortinas, que

recobrem intermitentemente sobre a região exposta do olho, piscando distribui as lágrimas

para proteção (DYCE et al., 2004).

Page 9: Anne Tamy Nagata - Equalis · endoftalmite, trauma ocular grave com hemorragia (GOES, 2012), segundo Rahal et al., (2000), Gellat (2003) e Bojrab (2005) inclui também a panoftalmite,

9

O olho é composto por três túnicas sendo a camada fibrosa a mais externa formada

pela esclera e a córnea, a camada vascular pela coróide, corpo ciliar e íris e por último, a mais

interna, a camada nervosa constituída pela retina (BANKS, 2005).

1.2.1. Córnea

O revestimento fibroso possui a córnea, sendo sua principal característica a proteção e

sua transparência, devido à ausência de vascularização, sua superfície epitelial não

queratinizada, ausência de pigmento, organização e tamanho das fibras de colágeno, que são

características que mantém sua transparência (GELATT, 2007).

A córnea é a barreira entre o olho e o meio ambiente, sendo esta resistente e semi

permeável (GELATT, 2003).

Devido a ela obtemos suporte e manutenção do conteúdo intra-ocular, transparência e

refração da luz (GELATT, 2007).

1.2.2. Esclera

Sendo a estrutura que compõe a maior parte fibrosa do olho, possui a função de

proteger o conteúdo intra-ocular e manter o formato do olho. Sua aparência é branca, e possui

pouca elasticidade para suportar variações na pressão intra-ocular (FORRESTER, 2002).

A esclera inicia no limbo e acaba na região posterior do olho, sendo esta perfurada

pelo nervo óptico. As irregularidades do arranjo das fibras que a compõe e sua maior

concentração de água a diferencia da córnea (FORRESTER, 2002).

Page 10: Anne Tamy Nagata - Equalis · endoftalmite, trauma ocular grave com hemorragia (GOES, 2012), segundo Rahal et al., (2000), Gellat (2003) e Bojrab (2005) inclui também a panoftalmite,

10

1.2.3. Coróide, Corpo ciliar e Íris

A úvea é composta pelo corpo ciliar, íris e a coróide, sendo essas as estruturas da

túnica vascular. A íris é um diafragma vascular que controla a passagem de luz em seu meio,

a pupila, levando a midríase quando há pouca luz, e miose quando há aumento da

luminosidade, a íris é a porção colorida do olho (MAGGS, 2008).

O corpo ciliar está localizado posterior a íris, que possui fibras, denominadas

ligamentos zonulares que sustentam a lente. O corpo ciliar encontra-se em contato com a

esclera, o corpo vítreo e a íris formando entre eles o ângulo iridocorneano (GOEL 2010;

MAGGS, 2008).

O humor aquoso é produzido por parte do corpo ciliar, sendo sua produção igual sua

drenagem, mantendo o equilíbrio da pressão intra-ocular (CRISPIN, 2005).

A coróide é composta por inúmeros capilares que sustenta e nutre a retina, sendo ela

pigmentada, localizada entre a retina e a esclera (HU, 2008).

1.2.4. Retina

A retina faz parte da camada mais interna do olho, sendo composta por células

nervosas. Está localizada na parte posterior do bulbo, variando de formato conforme a espécie

(GELATT, 2007).

A retina é fotossensível, sendo responsável pela transdução da luz em sinais neuronais,

sendo percebida posteriormente como uma imagem (GELATT, 2007; MAGGS 2008).

1.2.5. Nervo óptico

O nervo óptico é uma estrutura única, formado pela convergência dos axônios das

células ganglionares da retina que posteriormente se mielinizam para formar o início do nervo

óptico (GELATT 2007; KLINTWORTH, 2007; MAGGS 2008; MCLELLAN, 2002).

Page 11: Anne Tamy Nagata - Equalis · endoftalmite, trauma ocular grave com hemorragia (GOES, 2012), segundo Rahal et al., (2000), Gellat (2003) e Bojrab (2005) inclui também a panoftalmite,

11

Sendo este um nervo sensorial da retina, ele passa através do canal óptico (CUNHA,

2008).

Os nervos de cada olho se encontram dentro do crânio alongam-se até o quiasma ótico

onde as fibras se cruzam, após isso continuam até o córtex visual onde ocorre a compreensão

visual, e de ofuscamento, resposta a ameaça dentre outros (CRISPIN, 2005).

1.2.6. Conjuntiva

A conjuntiva é a membrana mais exposta do organismo, possui a função de proteção

mecânica do bulbo ocular, além de proteger contra a entrada de microorganismos (LAVACH,

1990; SHEFFY, 1981; SLATTER, 1990).

A conjuntiva sendo uma membrana mucosa, ela recobre porções internas das

pálpebras, ambos os lados da terceira pálpebra e a parte anterior do bulbo (CUNHA, 2004).

1.2.7. Cristalino

O cristalino encontra-se na região anterior do olho, na fossa patelar sendo ela suspensa

entre a íris e o vítreo pelas fibras zonulares e circundada pelos processos ciliares (BANKS

1992; STAFFORD 2001).

A lente é transparente, biconvexa, avascular, sendo 65% de água e 35% proteína,

pouca quantidade de lipídios e outras substâncias. Sua função é conduzir os estímulos

luminosos para a retina, realiza reajustes para objetos de diferentes distâncias (HELPER,

1989).

1.2.8. Câmaras do olho

O olho pode ser dividido em dois segmentos, o anterior e o posterior, onde o anterior

se encontra anterior a lente e o posterior a lente. Ainda podemos encontrar uma divisão no

Page 12: Anne Tamy Nagata - Equalis · endoftalmite, trauma ocular grave com hemorragia (GOES, 2012), segundo Rahal et al., (2000), Gellat (2003) e Bojrab (2005) inclui também a panoftalmite,

12

segmento anterior, que é a câmera anterior do bulbo onde sua limitação anteriormente é a

córnea e posteriormente a íris, e a câmara posterior onde limita-se entre a íris e a lente, há

uma comunicação entre essas câmaras através da pupila. Essas câmaras são preenchidas por

um líquido denominado humor aquoso. Posteriormente, entre a lente e a retina está a câmara

vítrea que contem o corpo vítreo (CUNHA, 2008).

1.2.9. Terceira pálpebra

A terceira pálpebra está localizada na porção nasal do fórnix conjuntival inferior, entre

a córnea e a pálpebra inferior, sendo uma estrutura cartilaginosa em forma de T que faz uma

proteção móvel (MOORE, 1997; SLATTER, 2005).

Parte da terceira pálpebra é composta por folículos linfóide que encontram-se na

conjuntiva, e internamente possui uma glândula lacrimal, responsável por 35% da produção

lacrimal (GELATT, 2007).

1.2.10. Aparelho lacrimal

O aparelho lacrimal envolve a produção das lágrimas e sua remoção. Sendo composta

por glândulas que se encontram na região da órbita, entre o globo nasalmente e o ligamento

orbital e o processo zigomático do osso frontal temporalmente e possui ductos em média de

20 a 30 que abrem através da conjuntiva no fórnix temporal (CUNHA, 2004).

Ainda é composto pela glândula da terceira pálpebra, os canalículos lacrimal que tem a

função de drenagem até o saco lacrimal, que continuamente vai desembocar no ducto

nasolacrimal (HORST et al., 2006). O ducto nasolacrimal tem início no saco lacrimal, e

desemboca no assoalho da cavidade nasal (CUNHA, 2004).

Page 13: Anne Tamy Nagata - Equalis · endoftalmite, trauma ocular grave com hemorragia (GOES, 2012), segundo Rahal et al., (2000), Gellat (2003) e Bojrab (2005) inclui também a panoftalmite,

13

1.2.11. Músculos dos olhos

O olho possui músculos que o mantém em sua forma anatômica (COLVILLE, 2008),

composto por quatro músculos retos (medial, lateral, dorsal e ventral) os quais se inserem na

esclera na região posterior ao limbo, possui também dois oblíquos (dorsal e ventral)

(CUNHA, 2004). Alguns animais possuem também o músculo retrator do bulbo que retrai o

bulbo como forma de proteção (COLVILLE, 2008).

1.3. Técnica de enucleação transpalpebral

Realiza-se primeiramente tricotomia ampla e anti-sepsia com álcool iodado (RAHAL,

1996).

Mitchell (2008) descreve a técnica iniciando com sutura das pálpebras, com uma

sutura simples contínua, após isto incisão ao redor da pálpebra, próximo às margens da

mesma com bisturi. Com auxílio de uma pinça tecidual de Allis, traciona-se o bulbo para

dissecação em toda margem da órbita, até secção total dos ligamentos e músculos extra

oculares, tomando cuidado para não perfurar o saco conjuntival.

Após dissecação, traciona-se o bulbo para visualizar o nervo óptico e seus vasos

sanguíneos, que são ligados e seccionados com fio Náilon 4-0 (RAHAL, 1996).

Alvim (2007) descreve transfixação dupla com fio categute 4-0 e depois se realiza a

excisão do pedículo óptico.

Para Freitas (2003) o nervo óptico é ligado com fio categute cromado 2-0 e depois

seccionado. É realizada então aproximação do subcutâneo com fio categute cromado 2-0 e em

seguida a pálpebra superior e inferior com fio nylon 2-0 com padrão de sutura simples

isolada.

Page 14: Anne Tamy Nagata - Equalis · endoftalmite, trauma ocular grave com hemorragia (GOES, 2012), segundo Rahal et al., (2000), Gellat (2003) e Bojrab (2005) inclui também a panoftalmite,

14

2. RELATO DE CASO

2.1. Avaliação do paciente

Em abril de 2012, um felino, sem raça definida, pelagem média de cor bege e branco,

com aproximadamente três anos de idade, macho não castrado, foi encontrado na rua, recém

atropelado e foi encaminhado para a Clínica Veterinária Pangea Zoo localizada em Curitiba –

PR. O animal apresentava-se apático, responsivo a estímulos externos, com presença de

sangue na região dos membros torácicos e cabeça, oriundo das cavidades nasal e oral (Figura

02). O animal foi sedado para melhor avaliação, na dose 10 miligramas por quilo via

intramuscular de xilazina e 2 miligramas por quilo via intramuscular de cloridrato de

cetamina, ao qual o animal apresentou sedação após 10 minutos. Durante a avaliação foi

constatado que o animal apresentava epistaxe, apresentava fratura na sínfise mandibular

detectável à palpação, olho direito com hifema, edemaciado, impossibilitando a visualização

de estruturas internas como lente e íris. O animal foi encaminhado para cirurgia para

reconstrução da sínfise mandibular, enucleação e também foi realizado juntamente a

orquiectomia.

Page 15: Anne Tamy Nagata - Equalis · endoftalmite, trauma ocular grave com hemorragia (GOES, 2012), segundo Rahal et al., (2000), Gellat (2003) e Bojrab (2005) inclui também a panoftalmite,

15

Figura 02: Paciente felino, macho, sem raça definida, de

aproximadamente 3 anos, apresentando anisocoria, midríase e

hifema no olho direito (a) e sangramento nasal e oral (b).

2.2. Procedimento para redução da Sínfise Mentoniana

Foi realizada a redução da disjunção da sínfise mandibular, com a passagem de fios de

aço pelos tecidos moles na região dos caninos, entre o osso e a pele, cerclando a mandíbula,

conforme Harvey et al. (1990). (Figura 03)

Page 16: Anne Tamy Nagata - Equalis · endoftalmite, trauma ocular grave com hemorragia (GOES, 2012), segundo Rahal et al., (2000), Gellat (2003) e Bojrab (2005) inclui também a panoftalmite,

16

Figura 03: Técnica de cerclagem de sínfise mentoniana em um gato. Fonte:

CARNEIRO, 2012.

2.3. Enucleação

A técnica de enucleação transpalpebral foi aplicada, onde primeiramente foi realizada

tricotomia ampla, anti-sepsia com álcool e iodo PVPI, e colocação de campo cirúrgico (Figura

04 - A), após isto foi realizada sutura para unir as pálpebras, superior e inferior com pontos

simples isolados com fio nylon 2-0 (Figura 04 – B), após sutura foi realizada incisão

transpalpebral ao redor de toda a órbita (Figura 04 – C e D), seguido de dissecção e divulsão

transpalpebral ao redor do globo ocular, evitando perfurar a conjuntiva palpebral. Com auxílio

de uma pinça hemostática, as pálpebras foram pinçadas para facilitar a tração e acessar aos

músculos, tecido adiposo, glândula lacrimal e fáscias que foram retiradas junto com a

conjuntiva das pálpebras (Figura 04 – E, F, G e H), ao visualizar o pedículo óptico, o mesmo

foi pinçado com duas pinças hemostática Kelly curvas para evitar hemorragias excessivas

(Figura 04 – I e J), então realizada ligadura simples com fio poliglactina (Vicryl®) 2-0 (Figura

04 – L) para posterior excisão do pedículo óptico (Figura 04 – M). As pálpebras foram

suturadas com sutura simples isolada com fio nylon 2-0 (Figura 04 – N, O e P).

Page 17: Anne Tamy Nagata - Equalis · endoftalmite, trauma ocular grave com hemorragia (GOES, 2012), segundo Rahal et al., (2000), Gellat (2003) e Bojrab (2005) inclui também a panoftalmite,

17

Figura 04: Técnica de enucleação transpalpebral em um cadáver de um cão.

Page 18: Anne Tamy Nagata - Equalis · endoftalmite, trauma ocular grave com hemorragia (GOES, 2012), segundo Rahal et al., (2000), Gellat (2003) e Bojrab (2005) inclui também a panoftalmite,

18

2.4. Orquiectomia

Foi realizada a técnica aberta de orquiectomia, realizada incisão com o bisturi sobre a

bolsa escrotal, uma incisão aprofundada através da túnica vaginal e da albugínea feita abertura

para passagem do testículo. Com o testículo exposto, foi realizada dissecção do cordão

espermático e o plexo pampiniforme, e realizada ligadura com os mesmos, um nó com três

sobre nós, após isto excisão com bisturi e feito o mesmo procedimento no testículo oposto

utilizando-se a mesma incisão, após isto feita sutura simples isolada com fio nylon 2-0 na

pele.

2.5. Pós operatório

No pós operatório, a terapia suporte do paciente, foi realizada com fluidoterapia com

solução salina 0,9% mantido continuamente até recuperação do animal, que foi observado por

três dias, antibioticoterapia com penicilina na dose de 10.000 unidades internacionais por

quilo a cada 72 horas realizado 12 aplicações ao todo, antiinflamatório cetoprofeno injetável,

2 mg/kg via subcutânea a cada 24 horas durante cinco dias. Realizada limpeza local com iodo

PVPI e extrato de própolis a cada 24 horas até cicatrização total. O animal apresentou

dificuldade para se alimentar nos primeiros dias, sendo fornecida alimentação pastosa, a qual

foi ingerida somente a partir do terceiro dia do pós operatório. O animal também apresentou

secreção serosa da ferida cirúrgica ocular, sendo cessada após 14 dias da cirurgia.

Após 14 dias realizou-se a retirada dos pontos do animal, apresentando boa

cicatrização.

Com colaboração de outros médicos veterinários, foi realizada radiografia do crânio

do animal onde constatou-se a luxação de mandíbula (Figura 05), que posteriormente sob

anestesia realizou-se a recolocação para seu local anatômico normal. Houve com essa

manobra grande melhora para o animal, que começou a se alimentou melhor, aumentando

assim a qualidade de vida. (Figura 07)

Page 19: Anne Tamy Nagata - Equalis · endoftalmite, trauma ocular grave com hemorragia (GOES, 2012), segundo Rahal et al., (2000), Gellat (2003) e Bojrab (2005) inclui também a panoftalmite,

19

Figura 05: Radiografia em decúbito ventral do crânio, verificando a cerclagem da sínfise mentoniana (a),

e a luxação do ramo direito da mandíbula (b).

Figura 06: Foto do paciente no pós operatório. A – paciente no pós-operátório; B – paciente alguns dias após a

cirurgia.

Page 20: Anne Tamy Nagata - Equalis · endoftalmite, trauma ocular grave com hemorragia (GOES, 2012), segundo Rahal et al., (2000), Gellat (2003) e Bojrab (2005) inclui também a panoftalmite,

20

Figura 07: O paciente 7 meses depois da cirurgia de enucleação.

Page 21: Anne Tamy Nagata - Equalis · endoftalmite, trauma ocular grave com hemorragia (GOES, 2012), segundo Rahal et al., (2000), Gellat (2003) e Bojrab (2005) inclui também a panoftalmite,

21

3. DISCUSSÃO

O animal apresentou seroma alguns dias após cirurgia de enucleação, também

apresentou dificuldade de se alimentar nos primeiros três dias após esta cirurgia. A drenagem

do seroma cessou após duas semanas, e se manteve o antibióticoterapia com penicilina

durante 21 dias. O animal passou a se alimentar normalmente após o terceiro dia da cirurgia

de enucleação e após 14 dias foram retirados os pontos do animal tanto do olho quando do

saco testicular, com boa cicatrização das feridas cirúrgicas. Após detectar luxação da

mandíbula, o animal foi novamente anestesiado para recolocação do mesmo em seu local

anatômico, sendo observado após o procedimento, melhor encaixe da mandíbula e melhora na

mastigação e deglutição dos alimentos.

Page 22: Anne Tamy Nagata - Equalis · endoftalmite, trauma ocular grave com hemorragia (GOES, 2012), segundo Rahal et al., (2000), Gellat (2003) e Bojrab (2005) inclui também a panoftalmite,

22

CONCLUSÃO

A técnica cirúrgica de enucleação transpalpebral foi realizada conforme a maioria dos

autores, havendo pouca variação em alguns pontos como o fio utilizado na ligadura do nervo

óptico e seus vasos. Podendo ser utilizado fio não absorvível conforme Rahal (1996) ou fio

absorvível como relata Alvim (2007) e Freitas (2003), sendo optado neste caso por um fio

absorvível de poliglactina 2-0.

Os resultados obtidos no pós operatório foram bastante satisfatório, vendo que é

bastante comum a produção de seroma que ocorre na maioria dos casos devido a

complicações pós operatórias como inflamação e hemorragias conforme Rahal (1996) e Gellat

(2003) relataram.

Page 23: Anne Tamy Nagata - Equalis · endoftalmite, trauma ocular grave com hemorragia (GOES, 2012), segundo Rahal et al., (2000), Gellat (2003) e Bojrab (2005) inclui também a panoftalmite,

23

4. REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS

ALVIM, Nivaldo César. Enucleação Transpalpebral por carcinoma espinocelular em bovino

zebu criado a campo. Revista Ciêntifica Eletrônica de Medicina Veterinária, Garça, ano

IV, n. 08, janeiro de 2007.

BANKS, William J. Histologia Veterinária aplicada.2 ed. São Paulo; Manole, 1992.

BOJRAB, M. Técnicas Atuais em Cirurgias de Pequenos Animais. 3. ed. São Paulo:

Rocca, p. 114-117, 2005.

CARNEIRO, Andre. Cirurgia Veterinária. Rio de Janeiro, 2012. Disponível em:

<http://cirurgiavet.wordpress.com/tag/fratura>. Acessado em: 20 de novembro de 2012.

COLVILLE, T. P., BASSERT, J.M. In: Clinical Anatomy and Physiology for Veterinary

Technicians. 2. ed. Publisher: Mosby; 2008. p.568, 2008.

CRISPIN, Sheila M. Notes on Veterinary Ophthalmology. 1. ed. Publisher: Blackwell; p.

371, 2005.

CUNHA, Olicies da. Manual de Oftalmologia Veterinária. Palotina, 2004.

CUNHA, Olicies da. Manual de Oftalmologia Veterinária. Palotina, 2008. Disponível em:

<http://200.18.38.50/www/biblioteca/Oftalmo.pdf>. Acesso em: 07 de junho de 2012.

DYCE, K. M.; WEKSING, C. J. G.; SACK, W. O. Tratado de Anatomia Veterinária. 3. ed.

Rio de Janeiro: Saunders, 2004.

FORRESTER, John V.; DICK, Andrew D.; MCMENAMIN, Paulo G.; LEE, William R. The

eye: Basic Sciences in Practice. 2. ed. Saunders, p. 447, 2002.

FREITAS, S.H. Enucleação transpalpebral em ema (Rhea americana): Relato de caso.

Revista Cientifica de Medicina Veterinária Pequenos Animais e Animais de Estimação.

Brasil, v.1 (3), p. 219- 222, jul-set 2003.

GELATT, Kirk N. Manual de Oftalmologia Veterinária. 3. ed. São Paulo: Manole, p. 594,

2003.

GELATT, Kirk N. Veterinary Ophthalmology. 2 vols, 4. ed. Philadelphia: Blackwell, p.

1696, 2007.

GOEL, M.; PICCIANE, R.G.; LEE, R.K.; BHATTACHARYA, S.K. Aqueous Humor

Dynamics: a review. v.4, p. 52-59, september 2010.

GOES, et al. Técnica cirurgica de enucleação – revisão de literatura. Revista científica

eletronica de medicina veterinária, Ano IX, Número 18, p. 2, Janeiro de 2012.

Page 24: Anne Tamy Nagata - Equalis · endoftalmite, trauma ocular grave com hemorragia (GOES, 2012), segundo Rahal et al., (2000), Gellat (2003) e Bojrab (2005) inclui também a panoftalmite,

24

HARVEY, C.E.; NEWTON, C.D.; SCHWARTS, A. Small animal surgery. Houston:

Lippincott, p. 68, 1990.

HELPER, L.C. Diseases and surgery of the lens. In: Magrane’s canine ophthalmology. 4.ed.

Philadelphia: Lea & Febiger, p. 215-37, 1989.

HU, D.N.; SIMON, J.D., SARNA, T. Role of Ocular Melanin in Ophthalmic Physiology and

pathology. Photochem Photobiol. V.84, n.3, p. 639-644, 2008

KLINTWORTH, G.K., CUMMINGS, T.J. Normal Eye and ocular adnexa. In: Mills SE.

Histology for Pathologists. 3. ed. Philadelphia: Lippincott Williams & Wilikins, p. 347-370,

2007.

KONIG, Erich H.; LIEBICH, Hans- Geog. Anatomia dos Animais Domésticos. Sao Paulo:

Artmed, p. 287, 2004.

LAVACH, J.D.; Veterinary Ophthalmology: Large animal ophthalmology. 1. ed.

Publisher: Mosby; p. 185-201, 1990.

MAGGS, David J.; MILLER, Paul E.; OFRI, R. Slattre”s Fundamentals Of veterinary

Ophthalmology, 4 ed. Missouri: Elsevier Health Sciences Division; p. 496 – 1696, 2008.

MCLELLAN, G. The canine fundus. In: Manual of Small Animal Ophthalmology. 2.ed.

London: Bsava; p. 227-245, 2002.

MITCHELL, Natasha. Enucleation in companion Animals. Irish Veterinary Journal, p.

100-112, fev. de 2008.

MOORE CP: Constatinescu GM. Surgery of the Adnexa Surgical Management of Ocular

Disease. In: Veterinary Clinics of North America: Small Animal Pratice. v. 27, n. 5; p.

1011-1067, 1997.

RAHAL, Sheila C.; BERGAMO, F. M. M.; ISHIY, H. M. Prótese intra-ocular de resina

acrílica em cães e gatos. Arquivo Brasileiro de Medicina Veterinária e Zootecnia, Belo

Horizonte, v. 52, n. 4, p. 1-5, 2000.

RAHAL, Sheila C. Cienc. Rural, Santa Maria, v.26, n.2, Santa Maria, maio/ago.1996.

SHEFFY, B.E.; LOEW, E.; KERN, T.J. ; SMITH, J.S. Vitamin E deficiency retinopathy in

dogs. In: American Journal of Veterinary Research, n. 42, janeiro de 1981.

SLATTER, D. In: Fundamentals of veterinary ophthalmology. 2.ed. Philadelphia:

Saunders, p.227-234, 1990.

SLATTER, Douglas H. Fundamentos da Oftalmologia Veterinária. 3 ed. São Paulo: Roca;

p 671, 2005.

STAFFORD, M.J. The histology and biology of the lens. In: Optometry Today, p.23-30,

2001.

Page 25: Anne Tamy Nagata - Equalis · endoftalmite, trauma ocular grave com hemorragia (GOES, 2012), segundo Rahal et al., (2000), Gellat (2003) e Bojrab (2005) inclui também a panoftalmite,

25

TALIERI, Ivia C.; DÓREA NETO, F.A. Exame oftálmico em cães e gatos. Revista Clínica

Veterinária, Ano XI, n. 61, p.46, março/abril, 2006.