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Ano II – número 16 – dezembro/2007sisejufe.org.br/wprs/wp-content/uploads/2012/08/REVISTA-16.pdf · Max Leone foi à Vila Mimosa ou- ... Paulo Roberto Garcia Coelho TRE-RJ Se

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Í N D I C E

EditorialUm estudo no orçamento das Jus-

tiças Federais mostra: há recursospara o pagamento dos passivos.Página 4

Cartas de LeitorTranstornos no TRT da Lavradio

em dias de chuva, a polêmica da am-pliação no horáro de atendimento nobalcão determinado pelo CJF e o res-sarcimento dos planos de saúde noTRE são os assuntos dos nossos lei-tores nessa edição.Página 5

PassivosConsultoria contratada pelo sin-

dicato indica que, principalmente naJF, há sobras orçamentárias para pa-gamentos de dívidas.Página 6 e 7

SindicaisPlanos de saúde terão ressarci-

mento. Os atos de dezembro em Bra-sília. Diretor sindical é impedido departicipar de assembléia.Página 9

Dicas CulturaisBianca Rocha sugere o DVD e o

CD de Diogo Nogueira, o livro sobrea vida de João Saldanha e o projetoTeatro para Todos, com 58 espetá-culos a preços reduzidos. Aproveite!Página 10

SindicaisCNJ retalia dirigente sindical que

entrou com ação popular no STF parasuspender pagamentos de passivosde magistrados e prejudica toda acategoria.Páginas 20

ArtigoRoberto Ponciano exorta: “Nes-

te Natal, esqueçam o Deus da Mer-cadoria”.Páginas 18 e 19

Jornada de TrabalhoReproduzimos artigo em que

Luiz Carlos Azenha traça o perfil dooperário-padrão do século XXI –aquele que não pára de trabalhar.Página 15

Meio AmbienteA jornalista Lia Bock mostra que o

sanitário compostável não é só alter-nativa para evitar desperdício deágua. Tranforma também o excre-mento humano em húmus.Página 21

Nossa HistóriaNo quarto artigo da série, o his-

toriador Helder Molina analisa o sin-dicalismo durante os anos de chum-bo da ditadura militar o surgimentodo Novo Sindicalismo.Página Central

Revolução RussaArtigo do sociólogo Emir Sader fala

dos 90 anos da revolução que marcouo século XX. Saiba também como foi oseminário promovido pelo Sisejufe.Páginas 22 e 23

MulheresSentenças de juiz de Minas Gerais

demonstram o quanto nossa socieda-de é contaminada pela visão machistae violenta no tratamento às mulheres.Página 24

Teia de IdéiasAlexandre Kieling, jornalista e

professor universitário brasileiro, re-sidente em Paris, conta que as grevesde novembro na França vão além doembate entre esquerda e direita.Página 26 e 27

Sindicais – TRTRegulamentação do AQ vai na con-

tramão do CSJT e desagrada servidores.Página 8

RacismoCientista norte-americano afirma

que os negros são menos inteligen-tes do que os brancos.Página 11

NacionalO prédio onde funcionou o Museu

do Índio, próximo ao Maracanã, estáhá um ano ocupado por indígenas.Conheça esta história na reportagemde Max Leone e Samuel Tosta.Páginas 12 e 13

InternacionalNosso colaborador Mário Augusto

Jakobskind analisa a situação políticana Birmânia e diz quais grupos eco-nômicos têm interesses naquele país.Página 29

Justiça FederalDecisão do CJF sobre jornada de

trabalho gerou apreensão na catego-ria. Sisejufe encaminha novo pedidode redução de carga horária.Página 14

LatuffNosso cartunista, ao contrário do

anacrônico magistrado de Minas Ge-rais, comemora a Lei Maria da Penha.Página 30

MulheresMax Leone foi à Vila Mimosa ou-

vir as profissionais do sexo sobre oprojeto, rejeitado na Câmara, que re-gulamentava sua atividade.Página 25

InternacionalMauro Santayana foi um dos pou-

cos na grande imprensa que viu ar-rogância no rei Juan Carlos ao man-dar Chávez calar-se.Página 28

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Editorial Envie seu comentário para o e-mail [email protected]

DIRETORIA: André Gustavo Souza Silveira da Silva, David Batista Cordeiro da Silva, Dulavim de Oliveira Lima Júnior, Flávio Braga Prieto da Silva, João RonaldoMac-Cormick da Costa, Leonor da Silva Mendonça, Lucilene Lima Araújo de Jesus, Márcio de Souza Marques, Nilton Alves Pinheiro, Otton Cid da Conceição, RenatoGonçalves da Silva, Ricardo de Azevedo Soares, Roberto Ponciano Gomes de Souza Júnior e Valter Nogueira Alves.

Filiado à FENAJUFE e à CUT

SEDE: Avenida Presidente Vargas 509, 11º andar – Centro – Rio de Janeiro-RJ – CEP 20071-003TEL./FAX: (21) 2215-2443 – PORTAL: http://sisejuferj.org.brENDEREÇO ELETRÔNICO: [email protected]

IDÉIAS EM REVISTA – REDAÇÃO: Henri Figueiredo (MTb 3953/RS) – Max Leone (MTb 18.091) – Bianca Rocha (Estagiária de Jornalismo)PROJETO GRÁFICO ORIGINAL: Claudio Camillo (Mtb 20.478) – DIAGRAMAÇÃO: Deisedóris de Carvalho – ILUSTRAÇÃO: LatuffASSESSORIA POLÍTICA – Márcia BauerCONSELHO EDITORIAL – Roberto Ponciano, João Mac-Cormick, Henri Figueiredo, Max Leone, Márcia Bauer, Valter Nogueira Alves, Nilton Pinheiro.IMPRESSÃO: ARCTURUSVEGA Editora Ltda-ME/Gráfica Minister (8 mil exemplares)

Impresso emPapel Reciclato

As matérias assinadas são de responsabilidade exclusiva dos autores. As cartas de leitor estão sujeitas a edição por questões de espaço.Demais colaborações devem ser enviadas em até 2 mil caracteres e a publicação está sujeita a aprovação do Conselho Editorial. Todos ostextos podem ser reproduzidos desde que citada a fonte.

semanas parou a França em 1995, derrotando o pla-no Juppe; a revolta dos jovens das banlieues em2005; e sobretudo a luta estudantil de 2006, apoi-ada por centenas de milhares de trabalhadores, emuma das maiores mobilizações da história da Fran-ça, que derrotou o CPE (Contrato de Primeiro Em-prego).

Nas últimas semanas, foi agregada a entrada emcena do movimento estudantil na preparação da gre-ve do dia 14 de novembro. Foi um elemento “ines-perado” para o governo, que pensava ter evitado aresistência estudantil aprovando as reformas emplenas férias. A mobilização francesa é, a um só tem-po, alento e alerta. Alento em vermos o que a resis-tência da classe trabalhadora organizada é capazde fazer. Alerta para a onda “direitizante” européia,contrapeso geopolítico aos governos democráticose populares que começam a mudar a realidade daAmérica Latina.

Idéias em Revista traz também reportagens so-bre o primeiro ano de ocupação do antigo prédiodo Museu do Índio; a opinião das profissionais dosexo sobre a rejeição pela Câmara do projeto de leique regulamentava a atividade; um artigo que pro-põe o uso da privada ecológica para evitar o desper-dício de água potável; discussões sobre a arrogân-cia do rei Juan Carlos I, da Espanha, e a situação deopressão em que vive o povo da Birmânia, país asi-ático também chamado de Myanmar. E, como esta-mos em dezembro, Idéias trata também do Natal ede seu significado, num texto que propõe uma mu-dança de atitude em relação ao “Deus Mercado”.Boa leitura!

OOOs leitores desta última edição de Idéias em Re-

vista, em 2007, vão encontrar um tema central paraa categoria: a dívida do Judiciário com os servidores.Apresentamos detalhes da situação orçamentária dasJustiças Federais no Rio de Janeiro e demonstramosque existem recursos para o pagamento dos pas-sivos. No quarto artigo da série sobre a história doMovimento Sindical, mostramos como o golpe de1964 colocou organizações sindicais e políticas nailegalidade e como a estrutura corporativa sindicale trabalhista foi mantida, com novos decretos bus-cando aumentar o controle da ditadura sobre as or-ganizações sindicais.

As entidades de classe dos trabalhadores, nãoobstante a intensa campanha de desqualificação pro-movida pela mídia conservadora, continuam impor-tantes e decisivas na vida política contemporânea.O exemplo mais recente é o da França, que esteve àsportas de uma greve geral, em novembro, contra asreformas do governo Sarkozy – hoje o mais impor-tante aliado de George W. Bush na Europa. No paísda “Revolução Burguesa”, os trabalhadores em edu-cação, dos correios, telecomunicações, transportese eletricidade foram às ruas denunciar a retirada dedireitos conquistados ao longo de décadas. Um pa-norama da situação francesa nos é apresentado numartigo produzido em Paris para Idéias em Revista.

Ao longo do período entre 1986 e 2006, sobre-tudo a partir de 1995, o movimento de massas fran-cês tem protagonizado um ciclo de lutas contra aofensiva neoliberal dos distintos governos da direi-ta ou “socialistas”. Os pontos mais altos foram agreve geral do funcionalismo público, que por duas

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Cartas dos leitoresNa Lavradio, em dia de chuva faltam soluções e solidariedade Determinação do CJF sobre

jornada não trará benefícios

Sou funcionária da Justiça Fede-ral há mais de 13 anos. Também tiveoportunidade de trabalhar em umbanco, mais precisamente no anti-go Banerj. Quando ali exercia mi-nhas atividades, necessitávamos deum horário somente para execuçãodas tarefas internas. Naquela oca-sião, o horário de atendimento aopúblico era mais extenso do que éhoje. Atualmente sabemos que osbancos têm um horário de atendi-mento ao público menor para me-lhor adequação dos serviços inter-nos. Aqui no Judiciário não é dife-rente. Precisamos de tempo parapodermos exercer nossas atribui-ções internas sem a concomitânciacom o atendimento às partes. Nos-sa atividade exige uma maior con-centração já que envolve cerca de90% de práticas intelectuais. Poroutro lado, hoje, todo tipo de con-sulta processual pode pode ser fei-ta pela internet ou outros meioseletrônicos. Considerando todosestes aspectos, sugiro ao nossosindicato que interceda junto aosconselhos e tribunais para que es-tes ponderem melhor sobre essanova determinação de ampliar paraoito ou mais horas o horário deatendimento ao público. Tal medi-da não trará benefício algum para ojurisdicionado, já que, com certe-za, virá a obstaculizar a efetivaçãosatisfatória das nossas tarefas, cau-sando ainda mais estresse para to-dos. Principalmente àqueles queatendem ao público. E, o mais gra-ve, não aumentará em nada a pro-dutividade e a celeridade.

Jarluce da Motta Delgado PazosJustiça Federal/RJ

– Cara Jarluce, sobre esseassunto veja esclarecimentos do Si-sejufe na página 14 desta edição.

O portal do Sisejufe e o ressarcimento de plano de saúde no TRE

Quero cumprimentar a todos que fazem o Sisejufe por disponibilizar

um site de boa qualidade aos sindicalizados e a todos em geral. Aproveito

também para parabenizar pela nova carteira de associado que é de altíssima

qualidade. Estou preparando um material escrito, baseado em levantamen-

to feito em órgãos do Judiciário e do Executivo, em que opino sobre a

Assistência de Saúde dada aos servidores do TRE, irrisórios R$ 90,00 para

qualquer faixa etária. Creio ser o TRE o órgão que menos destina aos servi-

dores recursos de ressarcimento à Assistência de Saúde dentre os Três

Poderes. Isto porque não se preocupa em trabalhar bem na elaboração de

seu orçamento. É impossível que os aposentados, na maioria acima de 65

anos, que pagam em média cerca de R$ 600,00 por um plano de saúde,

recebam apenas R$ 90,00 de ressarcimento.

Paulo Roberto Garcia Coelho TRE-RJ

Se alguém me contasse, com certe-za eu não acreditaria. O caos instaladona sede da Justiça do Trabalho na Ruado Lavradio, no último dia 24 de outu-bro, foi surreal. Há tempos que todossabem que essa rua alaga quando cho-ve muito. Não importa quais são osmotivos (bueiros entupidos, falta degalerias pluviais, terreno baixo, etc.).O que importa é que a administraçãodo tribunal tem que agir preventiva-mente antes que os problemas se repi-tam. Aliás, o planejamento é uma li-ção básica aprendida no Curso de Ad-ministração Judiciária da FGV, no qualvários gestores deste tribunal têm par-ticipado. A medida que determinou ofechamento das varas às 15h não veioacompanhada de uma solução para aretirada de pessoas do prédio. Sim,porque o problema era justamente sairdo prédio sem colocar os pés e as rou-pas na água e nos candidatar a contra-ir leptospirose ou cair num bueiro. Nasaída, ficamos no sinal pedindo caro-na. Sem contar que ficamos até as 15hsem comer nada. O pior é que vimosvários servidores e juízes saindo comseus carros vazios sem sequer abrir ajanela para justificar o motivo de nãoretirar o colega do prédio. Tambémnão foram poucos os que fizeram “carafeia” quando eram abordados com pe-

didos de carona. Vi, inclusive, algunspreocupados com o “sobrepeso” nosseus carros novos. Dizem que é na horada crise que conhecemos os verdadei-ros amigos. É claro que não esperáva-mos demonstrações de amizade depessoas que não nos conhecem ou quemal nos conhecem, mas, ao menos,um mínimo de solidariedade. Espero,sinceramente, que tal acontecimentotenha servido de alerta para que a ad-ministração do tribunal tome as me-didas cabíveis no sentido de que issonão se repita. Um tribunal que, pelomenos em tese, deve resguardar o di-reito à dignidade da pessoa humana,expresso por um princípio constituci-onal, deve primeiramente dar o exem-plo na aplicação de tal princípio comseus servidores, juízes e jurisdiciona-dos. Como gestora, muitas vezes erroquerendo acertar e é neste sentido quefaço tal crítica. Desejo que a mesmaseja recebida como crítica construtivaassim como recebo humildemente ascríticas de meus colegas, juízes e ju-risdicionados através de diversos mei-os tais como reuniões, conversas in-formais, ouvidoria e pesquisa de satis-fação.

Lilia Moreira Vianna MouraDiretora da 2ª VT/RJ

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Passivos Consultoria contratada pelo sindicato indica o

Sobram recursos noDados obscuros, que pareciam ar-

mazenados numa caixa preta, agoraestão claros como água cristalina. Éassim que os números do orçamentoda folha de pessoal ativo, inativo e dospensionistas das Justiças Federais po-dem ser vistos após análise da consul-toria financeira contratada pelo Sise-jufe, como noticiado no jornal Contra-ponto de novembro. Ao se debruçar eesmiuçar as planilhas dos três segmen-tos (Justiça Federal, do Trabalho e Elei-toral), o economista Washington LuizMoura Lima encontrou uma situaçãofavorável no orçamento, principal-mente no que diz respeito à JustiçaFederal no Rio. Semanas antes de oano acabar, de acordo com o estudoencomendado pelo sindicato, no de-monstrativo destinado ao TribunalRegional Federal da 2ª Região, e de-mais instâncias, há sobra de recursosda ordem de 30,50% do custo total dafolha em 2007 dos funcionários ativos.

“Entre o que foi orçado e o que aca-bou executado sobram R$68.453.231,52 nos cofres da JustiçaFederal”, aponta o economista. Eleressalta que dos R$ 3.053.611.265,00do orçamento total, a folha consumi-rá R$ 2.985.158.033,48 em 2007.

Tal saldo, para Roberto Ponciano,diretor do Sisejufe, deveria ser utiliza-do na quitação dos passivos que se ar-rastam ao longo dos anos como osQuintos e o juros dos 11,98%. Os da-dos do orçamento levam em conta queestão incluídas o pagamento da ter-ceira e da quarta parcelas do Plano deCargos e Salários (PCS) pagas aos ser-vidores da Justiça Federal em 2007. “OSindicato intensificará a luta para que

Max Leone* esses recursos sejam utilizados no pa-gamento dos passivos. Temos de pres-sionar a direção da Justiça Federal paraque o pagamento seja efetuado e essadívida com o funcionalismo seja sana-da”, afirma Ponciano.

Em melhor situação encontra-se ascontas do orçamento da folha de ser-vidores inativos e dos pensionistas daJustiça Federal no Rio. De acordo como estudo encomendado pelo Sisejufe,existe uma sobra de caixa de R$21.961.238,33, o equivalente a58,60% do orçamento total da folhados aposentados que é de R$509.184.343,00. O gasto estimadocom o pagamento dos inativos e pen-sionistas, segundo Washington LuizMoura Lima é de R$ 487.223.104,67em 2007. “O risco desse saldo não serexecutado é a Justiça devolver os re-cursos ao Tesouro, sem remanejá-lospara outros fins”, avalia Washington,ressaltando que também há um saldode 7% nas contas do orçamento daUnião para pagar à Previdência Socialdo servidores.

Déficit no TRT e no TRE

A análise da consultoria também foifeita nos outros órgãos da Justiça. Nocaso do Tribunal Regional do Traba-lho (TRT) e do Tribunal Regional Elei-toral (TRE), o levantamento encontrouuma situação diferente em relação àda Justiça Federal. No TRT, por exem-plo, foi constatado um déficit de R$12.086.177,22, ou seja, 34,48% dos R$454.106.417,00 orçados para 2007. Ogasto estimado com a folha dos servi-dores ativos atingiu R$466.192.594,22. Já a folha dos inati-vos e pensionistas do TRT teria um sal-do na casa dos R$ 7.880.062,12, ou

37,53% do orçamento total para 2007,que é de R$ 280.842.054,00.

“Essa situação poderá ser melho-rada se o Tribunal Superior do Traba-lho (TST) remanejar para o TRT partedo expressivo saldo que tem nas dota-ções para o pagamento de pessoal eencargos sociais, alterando o déficitpara saldo de orçamento. De uma do-tação autorizada de gastos de R$638,4 milhões, foram liquidados até2 de novembro, pelo TST, módicos R$271,4 milhões, Ou seja, apenas42,51%”, avalia Washington.

Para Roberto Ponciano, mesmo que oTST cubra o déficit de R$ 12 milhões doTRT do Rio haverá uma folga de R$ 267milhões no caixa do TST que seriam ca-pazes de quitar os passivos reivindicadospela categoria, como a Unidade Real deValor (URV) e o Adicional de Qualifica-ção (AQ), sem contar a possibilidadede se pedir créditos suplementarespara cobrir despesas do orçamento.

No Tribunal Regional Eleitoral(TRE), o estudo do economista Wa-

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*Da Redação.

o caminho para os pagamentos

os tribunais

shington Luiz Moura Lima estimou umdéficit de R$ 15.375.986,78. O orça-mento autorizado da folha de paga-mento de pessoal ativo, para 2007, erade R$ 78.388.316,00, mas foram gas-tos R$ 93.764.302,78. No entanto, nodia 5 de novembro, foi publicado noDiário Oficial da União (DOU) a libera-ção de um crédito suplementar, oriun-do do Tribunal Superior Eleitoral (TSE)de R$ 12,8 milhões, reduzindo, assim,o déficit para apenas R$ 2,5 milhões.O mesmo ocorre com a dotação orça-mentária para pagar as aposentadori-as e as pensões. No dia 5 de novembrotambém saiu no DOU a liberação decrédito suplementar vindo do TSE deR$ 4.111.059,00, reduzindo o déficitanterior para R$ 6.869.824,88.

Recursos do TSE e vagas no TRE

“Está provado que o TSE tem recur-sos de sobra para cobrir os déficits dotribunais, seja por meio de crédito su-plementar, ou remanejamento. Aindaassim haveria recursos para pagamen-to dos passivos, como as verbas indeni-zatórias, o AQ, Progressão Funcional e

Gratificação de Agentes de Segurança(GAS)”, avalia Ponciano. O estudo do eco-nomista Washington Lima confirma quehá recursos no TSE. Segundo ele, a umadotação inicial de R$ 184.611.292,00foram acrescidos R$ 175.931.001,00,totalizando R$ 360.542.293,00 em2007. Mas só foram liquidados R$51.662.904,00, ou seja, 14,33%.

Ponciano lembra da necessidade depreenchimento de vagas no TRE doRio. O dirigente ressalta que as vagasexistem, mas a direção do tribunal tei-ma em não convocar os aprovados noúltimo concurso público para o órgão.“O Tribunal deveria aproveitar esseremanejamento de verbas do orça-mento e convocar os concursadosaprovados para ocuparem os cargosque estão em aberto. É uma maneirade acabar com a sobrecarga de traba-lho para quem está no atrás do bal-cão, ao mesmo tempo em que aumen-ta a qualidade da prestação do serviçopúblico à população”, defende o dire-tor do Sisejufe.

TRT é obrigadoa pagar a URV

A ida da diretoria do Sisejufe aoCSJT, em Brasília, em 13 de novembro,surtiu efeito. Como tinha sido adian-tado naquela data pelo diretor-geraldo Conselho Superior da Justiça doTrabalho (CSJT), Cláudio GuimarãesRocha, o ministro Rider Nogueira deBritto determinou ao TRT do Rio o pa-gamento dos 11,98% para os servido-res, com prioridade sobre qualqueroutro passivo a ser pago pelo tribunal.Em novembro, o sindicato protocolouos pedidos administrativos PET152529/2007-3 e 152535/2007-3 re-querendo providências nesse sentido.O CSJT determinou o pagamento deR$ 14.448.501,00, para a URV e de R$3.520.815,00 , para pagamento doscréditos decorrentes da Lei nº 11.416/2006 - PCS ( GAE, GAS e AQ).

Além da determinação para o pa-gamento da URV com prioridade, oCSJT determinou o congelamento dopagamento de juízes. Esta conquistaé fruto de uma luta sem precedentesdo Sisejufe em 2007. As sobras orça-mentárias existentes que serão usadasnesses pagamentos serão repassadaspelo CSJT, já que na execução orçamen-tária do TRT não há sobras que possi-bilitem pagamento de passivos a nãoser sobras oriundas de outras áreas,como pagamento de auxílio-saúde,treinamento e outras não vinculadas apagamento de pessoal.

Não há possibilidade de o TRT des-tinar a verba para pagamento diversos,como, por exemplo, passivo de juízes.Isto porque, em resposta ao PAs do Si-sejufe, o CSJT determinou ao TRT quenão deveria fazer quaisquer pagamen-tos aos magistrados. É preciso conti-nuar a luta conjunta em busca de ou-tras conquistas e tensionar para o pa-gamento do AQ ainda este ano. Pelaregulamentação do próprio TRT, aidéia é criar mais um passivo pagandoo AQ só em 2008.

8 Ano II – número 16 – dezembro/2007http://sisejuferj.org.br

Aprovada no TRT regulamentação do AQ

A regulamentação do Adicional deQualificação (AQ) pelo TRT foi uma pé-rola da falta de bom senso e de desres-peito aos servidores. Em lugar de usarcomo base a regulamentação do Con-selho Superior da Justiça do Trabalho(CSJT), que é mais abrangente que ado STJ, o TRT decidiu inovar e usar atabela da Justiça Federal, restringindoo direito de seus próprios servidores.Fica a pergunta: para que, então, exis-te o CSJT? O sindicato já impetrou umpedido ao Conselho para que a regu-lamentação a ser feita seja a do órgãosuperior e aguarda a resposta do pedi-do para avaliar quais outras medidaspodem ser usadas para garantir o di-reito dos servidores.

O sindicato também coloca o seuDepartamento Jurídico à disposiçãopara aqueles servidores que se senti-rem prejudicados pela regulamenta-ção restritiva do TRT. Tanta purpurinapara nada: a tal comissão de notáveis

oi aprovada no dia 22 de novem-bro, em sessão extraordináriado Órgão Especial do TRT, a re-gulamentação do Adicional de

Qalificação (AQ) que o Sisejufe vinhacobrando ao tribunal. O sindicato, in-clusive, formalizou a cobrança atravésdo pedido administrativo nº 152535/2007-3, formulado ao Conselho Supe-rior da Justiça do Trabalho (CSJT), em13 de novembro, através dos direto-res do sindicato Roberto Ponciano eNilton Pinheiro e do coordenador daFenajufe Roberto Policarpo.

O Órgão Especial usou como parâ-metro a Portaria Conjunta nº 1, de 7de março de 2007, que regulamenta oAQ nos tribunais e conselhos superio-res. No entanto, foram efetuadas alte-rações para adequação à realidade doTRT, tais como: 1) Quando não houverservidor capacitado para afirmar a va-lidade ou não do curso a ser avaliado,será contratada empresa para este fim.2) Haverá uma comissão, ligada aESACS, para efetuar a avaliação e pos-teriormente seguirá os trâmites juntoa Secretaria de Gestão de Pessoas –

Sindicais–TRT Servidor que se sentir prejudicado deve procurar o sindicato

SGP. 3) Caso haja a necessidade de apre-sentação de documento, solicitadopela administração, será estabelecidoprazo de 30 (trinta) dias para entregado mesmo.

Qualquer servidor que se sentir pre-judicado em relação à não validação decurso para AQ deve procurar o sindica-to. Vale lembrar que o Sisejufe tambémé contrário à contratação de empresapara gerir o processo de seleção dosdocumentos por considerá-la uma ter-ceirização branca do Judiciário.

F

TRT, na contramão do TST, desagrada servidoresRoberto Ponciano* feita pelo TRT, que demorou meses

para regulamentar o que já estava re-gulamentada pelo CSJT, resolveu...copiar o STJ (!). Ora, se hoje os sindica-tos e a Fenajufe pedem ao STJ que re-veja sua regulamentação e copie a doCSJT, que é mais abrangente, que ra-zão levou a tal comissão dos notáveisa usar como base uma regulamenta-ção que restringe o direito do servidor.

Para piorar, o TRT demorou mesespara responder que vai criar mais umpassivo, regulamentou para pagar so-mente o ano que vem, sendo que exis-te verba específica destinada para o pa-gamento deste ano. Em resumo, o TRTdo Rio fez aquilo em que é mestre: crioumais uma dívida. É lamentável que, emlugar de a administração do TRT se es-forçar para pagar as dívidas atuais, elaelabore meios de ampliá-las.

Para coroar o festival de falta de cri-térios, o TRT ainda pretende “contra-tar assessoria especializada” para ave-riguar a pertinência dos currículos para

o percebimento da vantagem. Em ou-tras palavras, o TRT pretende terceiri-zar a fiscalização dos critérios paraconcessão de AQ. A “competência” doTRT do Rio é inconteste quando se tra-ta de terceirizar e privatizar setores.Os notáveis do TRT reuniram-se e con-cluiram que, naquele tribunal, não háservidores competentes para avaliar ospróprios servidores. É a típica admi-nistração terceirizante, bem ao estiloda Fundação Getúlio Vargas. Na sema-na em que o TRT foi denunciado aoCSJT, pelo Sisejufe, por não regulamen-tar o AQ, ele o faz da pior maneira pos-sível: criando dívidas, restringindo di-reitos e terceirizando a análise. É umaadministração que dá reiteradas provasde que não se preocupa nem um poucocom o direito de seus servidores.

Os servidores que se sentirem pre-judicados pelos “critérios” da comis-são de “notáveis” devem acionar o De-partamento Jurídico do Sisejufe.

*Diretor do Sisejufe

Opinião: a montanha pariu um rato

Ano II – número 16 – dezembro/2007 9http://sisejuferj.org.br

CJF decide que planos de saúde terão ressarcimentoSindicais Resolução do ministro Gilson Dipp atende pedido do Sisejufe

Imprensa Sisejufe*

Apesar da acanhada parti-cipação da categoria, haja vis-ta a importância da Assem-bléia Geral convocada pelo Si-sejufe neste 28 de novembro,em frente à Justiça Federal daavenida Rio Branco, forameleitos quatro delegados dacategoria para os atos do DiaNacional de Lutas da Fenaju-fe, em 4 de dezembro, e paraa 4ª Macha da Classe Trabalha-dora, da CUT, em 5 de dezem-bro. Ambos os atos aconte-cerão em Brasília.

Na assembléia também foireferendada a nota do Siseju-fe contra a retaliação do Con-selho Nacional de Justiça (CNJ)que, ao revidar a uma açãopopular de um cidadão de Bra-sília no STF, acabou por sus-pender todos pagamentos depassivos até o julgamento daação. Com isso, o CNJ não sóimpediu o pagamento dospassivos recentemente reco-nhecidos dos magistrados,como também todo o paga-

O Conselho da Justiça Federal (CJF)aprovou na sessão de segunda-feira, 26,por maioria de votos, resolução segun-do a qual a assistência à saúde de magis-trados e servidores do Conselho e da Jus-tiça Federal de 1º e 2º graus poderá serprestada por meio de ressarcimento par-cial aos que optarem por planos priva-dos de saúde. O valor limite será de R$90,00 por beneficiário titular ou depen-dente.

De acordo com a proposta aprovada,só fará jus ao ressarcimento o beneficiá-

rio que não receber auxílio semelhantenem participar de outro programa de as-sistência à saúde de servidor custeadopelos cofres públicos. A resolução disci-plina quem são os beneficiários do auxí-lio, os documentos necessários à suainscrição e em que casos o beneficiárioperde o direito ao seu recebimento.

Relatada pelo coordenador-geral daJustiça Federal, ministro Gilson Dipp, aproposta de resolução atende pedidoformulado pelo Sisejufe e pela associa-ção dos Juízes Federais do Brasil (Ajufe)acerca da regulamentação do pagamen-to de verba indenizatória de auxílio-saú-de aos seus associados, prevista no arti-

go 230 da Lei 8112/90, com redação dadapela Lei 11.302/06. Em sua fundamenta-ção, o ministro citou a regulamentação doauxílio-saúde pelo Tribunal de Contas daUnião, na Portaria 129/2001, pelo Superi-or Tribunal de Justiça, por meio da Porta-ria nº 49/2007, e pelo Conselho Nacionalde Justiça, em sua Portaria nº 38/2007.

A sessão do Conselho, realizada emBrasília, foi presidida pelo ministro Ra-phael de Barros Monteiro Filho, presi-dente do CJF e do Superior Tribunal deJustiça.

O diretor do Sisejufe Da-vid Batista Cordeiro da Sil-va, servidor do TRT-RJ, foiimpedido de participar daAssembléia Geral da catego-ria ocorrida às 12h de quar-ta-feira, 28 de novembro,em frente à Justiça Federalda Rio Branco. O superiorimediato de David, LuísHenrique Amaro, que é che-fe da Seção de Apoio às Va-ras da Capital (Sapov), nãoautorizou que o dirigentese ausentasse do tribunalsob a alegação de que nãohaveria substituto no perí-odo de sua ausência e de queo dirigente não poderia ga-rantir que a assembléia seencerrasse antes das 14h.

Em abril deste ano, o di-retor do Sisejufe David Cor-deiro da Silva requereu, numPA, o direito de se ausentarpara participar do Congres-so da Fenajufe. O tribunalconsiderou, à época, que o

*Com informações do portal do CJF.

Quatro delegados representamcategoria em atos de dezembro

mento de antigos passivosdos servidores do JudiciárioFederal. Na nota, o Sisejufetambém criticou a ato pesso-al do cidadão que entrou coma ação popular, já que ele ocu-pa cargo de dirigente sindicalno Distrito Federal e não con-sultou nenhuma instância an-tes de entrar com uma açãoque pode significar transtor-nos à maioria da categoria.

Foram eleitos quatro de-legados tanto para o Dia Naci-onal de Lutas da Fenajufe, em4 de dezembro, quanto para a4ª Marcha da Classe Trabalha-dora, no dia seguinte. Os de-legados eleitos foram: Rober-to Ponciano (JF- Rio Branco),João Mac-Cormick (TRE),João Cunha (JF-Venezuela) eDavid Batista Cordeiro da Sil-va (TRT-Lavradio) – este últi-mo teve o seu nome ratifica-do na assembléia apesar deter sido impedido pela chefiade participar do ato (veja notaao lado).

Diretor sindical é impedidode participar de assembléia

fato de o servidor ser diri-gente sindical lhe permiteeventuais ausências, desdeque compensadas, e quenão teria direito apenas avale-alimentação e auxílio-refeição do período de au-sência. Apesar disso, Davidjá fora instado pelo chefe daSapov a encaminhar pedidode autorização para se au-sentar – mesmo para umaassembléia que aconteceriaem frente ao tribunal emque trabalha.

Em decorrência disso, osservidores reunidos na As-sembléia Geral de 28 de no-vembro, em frente à JustiçaFederal, aprovaram a umamoção de repúdio ao ato dochefe da Sapov do TRT, porconsiderá-lo atentatório à li-berdade de organização eatuação sindical e porqueestá, inclusive, em desacor-do com decisão anterior to-mada pelo próprio TRT.

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I S Diogo Nogueira ao vivo

Teatro para todos

Diogo Nogueira lança o primeiro disco de suacarreira. O cantor que se apresentou no 8° Botequimdo Sisejufe destaca-se nos palcos do samba carioca.A dúvida que poderia pairar é se o moço seguraria aonda de um CD como faz no palco. A resposta veioem dose dupla, com o lançamento de CD e DVDambos ao vivo, que levam o nome do rapaz. Nostrabalhos, Diogo conta com a participação de Mar-celo D2, Xande de Pilares e Marcel Powell.

Diogo é filho de João Nogueira, mestre do sambaque fez história na Portela. Das 14 faixas do CD,há duas canções do pai: “Poder da criação” e “Ba-tendo a porta” (ambas parcerias com Paulo CésarPinheiro). Mas Diogo não fica só nos vocais, emalguns momentos acompanha no violão um timede grandes músicos, formado, entre outros, porAlceu Maia – que além do cavaquinho, assina a

produção –, Dirceu Leite, Wallace Peres e Marçalzinho,filho de Mestre Marçal. O DVD é um registro mais longodo show, com seis músicas que não foram incluídas nodisco: “Minha missão”, “Súplica”, “Do jeito que o reimandou”, “Água de chuva no mar”, “Espelho” e o sam-ba-enredo da Portela para o Carnaval 2008, que leva aassinatura de Diogo (ao lado de Ciraninho e Celsinho deAndrade).

Durante o mês de dezembro, os cariocas vão poder ir aoteatro pagando menos. É o projeto Teatro para Todos, inicia-tiva da Associação dos Produtores de Teatro do Rio de Janeiro(APTR). O evento terá cerca de 70 mil ingressos para 58 espetá-culos, adultos e infantis. Com o objetivo de renovar o públicodo teatro e fazer as artes cênicas integrarem o cotidiano dacidade, a quinta edição da campanha Teatro Para Todos co-meça no dia 30 de novembro e vai até 23 de dezembro. Entreos espetáculos incluídos no evento, os cariocas poderãoassistir, por preços populares, sucessos como “O Bem Ama-do”, de Dias Gomes, com Marco Nanini, por R$ 25 – o preçonormal é R$ 80. Outras comédias de sucesso também fa-zem parte do projeto como, “Não sou feliz mais tenho ma-rido” e “Cada um com seus probrema”. O musical “7”, quetem a trilha sonora assinada por Ed Motta, também estácom desconto. Para as crianças, uma boa pedida é o espetá-culo “Um lobo nada mal”. Os ingressos podem ser compra-

O livro escrito por André Iki Siqueira, reconstitui os 73 anos da vida de João Salda-nha, e vai bem além do futebol. São imagens, depoimentos e documentos inéditos dearquivos dos órgãos de informação da ditadura militar. Foram mais de três anos depesquisa e mais de 70 entrevistas com jogadores de futebol, jornalistas, desportistas,amigos, adversários e familiares do ex-craque do Botafogo.

Quem conheceu João Saldanha apenas como um homem do futebol vai se surpreen-der com o ativista político e se apaixonar pelo personagem mais polêmico do esportebrasileiro. O livro aborda as aventuras, a paixão pelo Botafogo, as brigas, os debates, asfrases antológicas e os principais fatos históricos do Brasil e do mundo que tiveraminfluência na vida de João Saldanha, o mais consagrado comentarista esportivo do país.

As 551 páginas contam a história do menino de pai rico que virou dirigente estudan-til e do Partido Comunista, depois se tornou jornalista e cobriu a Segunda Guerra naEuropa e terminou como comentarista de futebol nos grandes jornais, rádios e Tvs.Saldanha foi o técnico que classificou o Brasil para a Copa do Mundo de 1970, desafiouo regime militar, foi demitido da seleção e correu risco de vida.

João Saldanha, uma vida em jogo

dos através da internet, pelo site: www.ingresso.com, noquiosque na Cinelândia (segunda à sexta, das 9h às 19h eno sábado das 9h às 12h – até 9 de dezembro). Ou nas lojasAmericanas de Ipanema, Centro, Barra da Tijuca ou Rio Sul,na Modern Sound em Copacabana, e nos postos BR (Mara-canã e Lagoa) e no Shell de Niterói.

Ano II – número 16 – dezembro/2007 11http://sisejuferj.org.br

Racismo Cientista diz que brancos são mais inteligentes do que negros

Estupidez à flor da peleganhador do prêmio Nobel deMedicina de 1962, o america-no James Watson, conhecidopor suas declarações controver-

tidas, criou uma nova polêmica na Grã-Bretanha ao afirmar que os africanossão menos inteligentes do que os bran-cos. O geneticista de 79 anos recebeuuma salva de críticas após uma entre-vista publicada pelo Sunday Times. Ocientista, premiado com o Nobel de Me-dicina em 1962 por ser co-descobridorda estrutura do DNA, se disse “pessi-mista a respeito do futuro da África”.

“Nossas políticas sociais são funda-das no fato de que sua inteligência é amesma da nossa (ocidentais brancos),enquanto que todas as pesquisas di-zem que não é exatamente este ocaso”, explicou nesta entrevista o Dr.Watson, que dirige um importante ins-tituto de pesquisas nos Estados Uni-dos. Sempre afirmando que deseja aigualdade entre os homens, o cientis-ta assegurou que “as pessoas que têmnegócios com funcionários negrosacham que isto não é verdade”.

Os protestos não tardaram. O famo-so Museu de Ciências de Londres cance-lou a participação do Dr Watson em umdebate. “Sabemos que cientistas emi-nentes podem às vezes provocar contro-vérsias e o Museu de Ciências não recuadiante de um debate sobre idéias con-troversas”, explicou o porta-voz. “Mas oMuseu de Ciências considera que as re-centes declarações do prêmio Nobel Ja-mes Watson passaram dos limites acei-táveis de um debate e em conseqüênciacancelamos sua participação”.

O secretário de Estado de Ensino,David Lammy, afro-descendente, tam-bém condenou as declarações “pro-fundamente chocantes” do Dr Watson.

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“É lamentável que um cientista tãoeminente possa deixar seus própriospreconceitos interfiram em seu traba-lho”, comentou Lammy. Para o depu-tado trabalhista e ex-ministro KeithVaz, “é triste ver um cientista de talrenome fazer comentários tão infun-dados, não-científicos e extremamen-te chocantes”. A comunidade científi-ca também rejeitou as afirmações dopesquisador americano.

A Federação de Cientistas America-nos (FAS) declarou-se indignada comas afirmações “racistas” pronunciadaspelo prêmio Nobel de Medicina. “Nummomento em que a comunidade cien-tífica se sente ameaçada por forçaspolíticas que buscam diminuir sua cre-dibilidade, é trágico que um dos mem-bros mais eminentes da ciência moder-na desonre assim a profissão”, decla-rou nesta quinta-feira em comunica-do Henry Kelly, presidente da FAS.

“A atividade científica está funda-mentada na promoção e na veracida-de de novas idéias, que se apóiam em

fatos, embora controversos, mas Wat-son optou por usar sua estatura inte-lectual para promover preconceitosracistas, rancorosos e sem fundamen-to científico”, acrescentou. “Estas de-clarações mostram que (Watson) per-deu a razão”, prosseguiu Kelly. A FAS,que conta com 68 prêmios Nobel emtodas as disciplinas, foi criada em 1945por cientistas do projeto Manhattan quepermitiu a criação da bomba atômica.

O professor Steven Rose, neurobi-ologista britânico, lembrou que o dr.Watson inicia freqüentemente estetipo de controvérsia. “Ele é conhecidopor suas declarações mordazes (...)que são racistas, sexistas, homófobas,profundamente chocantes”, declarouà BBC. O Dr Watson já havia causadopolêmica entre seus pares ao afirmarque as mulheres deveriam ter o direi-to de abortar se os exames pudessemidentificar os genes da homossexuali-dade no feto.

Também teria dado a entender quepoderia haver ligação entre a cor dapele e os impulsos sexuais, o que ex-plicaria o porquê de os negros teremuma libido mais desenvolvida que osoutros, segundo ele. No mesmo cami-nho, aquele que é considerado pormuitos “o avô do DNA” afirmou que sepoderia um dia modificar a genéticapara criar pessoas mais belas. “As pes-soas dizem que seria horrível se pu-déssemos fazer com que todas as pes-soas fossem bonitas”, declarou, deacordo com a imprensa. “Eu acho queisto seria fantástico”. Esta nova polê-mica deverá de qualquer forma as-segurar uma publicidade eficaz para oúltimo livro do cientista intitulado“Evitem as pessoas chatas”...

Da Agência France Press.

Henry Kelly: “A atividadecientífica estáfundamentada napromoção e naveracidade de novasidéias, que se apóiam emfatos, emboracontroversos, mas Watsonoptou por usar suaestatura intelectual parapromover preconceitosracistas, rancorosos e semfundamento científico”.

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Um ano de ocupação

Max Leone*

A data para o início da ocu-pação não poderia ser maispropícia. Os índicos conside-ram o dia 20 de outubro como

o início do genocídio dos povos dasAméricas, após a chegada de CristóvãoColombo, “o descobridor da América”,em 1492. “Não é uma ocupação de mo-radia, e sim de resistência”, avisa umadas coordenadoras do movimento, aprofessora de história Marize Tami-kuan, descendente dos Guaranis. “É abusca pela terra sem males”, comple-menta.

Cansados e criticando o descaso dogoverno federal, especialmente da fal-ta de iniciativa do Ministério da Agri-cultura e do Incra, os índios do movi-mento Tamoios (que quer dizer “osmais velhos”, “os primeiros”) resolve-ram, por conta própria, mostrar que épossível fazer alguma coisa. Projetoseles têm. A idéia é criar um institutoque ajudará na preservação da culturanativa. Lá, segundo seus planos, have-rá espaços para aulas dos vários diale-tos, exposições de arte entre outroseventos. Tudo para acabar com o iso-lamento e reagrupar os povos indíge-nas que estão espalhados pelo Estadodo Rio e Brasil afora.

O projeto de criação do InstitutoTamoios dos Povos Originários foi en-tregue em 2006 ao governo. Mas, atéagora, o Planalto não se pronunciousobre o assunto. A ocupação ocorreu

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Fotos: Samuel Tosta

Há 30 anos abandonado e bastante danificado, o prédio que um dia foi o Museu do Índio,ao lado do Maracanã, hoje abriga os verdadeiros donos da terra brasilis. No último dia 20de outubro, o movimento de ocupação Tamoios dos Povos Originários completou um ano nolocal. Várias etnias indígenas como os Xavantes, Maiurunas, Tabajaras, Tucanos, Ianomamis,Guajajaras, Pataxós, Apurinãs, Guaranis, Carajás e Tumpinambás se revezam, dia e noite,para guardar o espaço e manter o resgate da cultura de seus povos.

em meio a informações de que o anti-go prédio do museu – que se transfe-riu para Botafogo – seria demolido e oterreno na Rua Mata Machado trans-formado em área de estacionamentopara os Jogos Panamericanos do Rio.

Passado o primeiro susto, agora exis-tem os boatos que o parking seriaconstruído para a Copa do Mundo de2014.

Trabalho e exemplo positivo

A ocupação não é desordeira. Oscoordenadores do movimento dizemque o Ministério Público Federal noRio, emitiu parecer favorável à perma-nência dos representantes dos povosnativos no espaço. Apesar de muitomal tratado, o prédio ganhou vidacom a presença dos índios, seus ver-dadeiros donos. Toda a contribui-ção é bem-vinda para eles, que vi-vem de sua resistência e de doaçõesde voluntários.

Na área em que foi montada uma

Encontro de etnias: movimento é exemplo positivo de resgate da cultura nativa

“Não é uma ocupação demoradia, e sim de resistência”,avisa Marize Tamikuan,descendente de Guaranis.

Ano II – número 16 – dezembro/2007 13http://sisejuferj.org.br

e resistência indígenapequena exposição permanente nosdeparamos, logo na entrada, comuma espécie de tótem representan-do boa parte das etnias que por alipassam e dão sua contribuição naocupação. Do lado de fora uma gran-de oca e outra menor foram monta-das. São espaços para reuniões, dan-ças, e uma disputa de Uka-Uka – umaluta indígena.

O que mais chama a atenção é ale-gria com que eles falam, se referem etrabalham pela manutenção do espa-ço. Nas horas vagas, Amauri Pakari,de 24 anos, um pataxó de Porto Se-guro, no Sul da Bahia, solta umas ba-forados de seu Timbero, espécie decachimbo, para matar a saudade dafamília que não vê há mais de seis me-ses. Ele é parente direto do índio Gal-dino, que morreu queimado por ho-mens brancos. Juntamente com Affon-so Apurinan, de 42 anos, cuja tribofica no município de Boca do Acre,“entre os rios Acre e Purus” como fazquestão de localizar geograficamen-te, os dois têm sido os responsáveispela montagem do cenário, o quepara Apurinan não é segredo. Semperder suas referências históricas, elejá atuou, como ator, em vários traba-lhos na televisão, incluindo a minis-série “A Muralha”.

O movimento de ocupação é umexemplo positivo de resgate da cul-tura, da manutenção da fé, da digni-dade, do amor desses primeiros bra-sileiros que sempre estiveram à mar-gem das prioridades da nação, se éque se tirando as elites econômicas,algum outro segmento pode ser con-siderado prioritário nesse país.

*Da Redação.

14 Ano II – número 16 – dezembro/2007http://sisejuferj.org.br

Sisejufe recebeu alguns e-mailscom reclamações a respeito daextensão do horário de atendi-mento nos TRFs. Algumas dessasmensagens culpam o sindicato

pelo aumento do horário de atendimen-to aos advogados, já que agora não have-rá mais funcionamento com balcão fecha-do – serão oito horas de funcionamentocom balcão aberto, conforme decididona última reunião do Conselho da JustiçaFederal (CJF), no dia 29 de outubro, noHotel Sofitel, no Rio de Janeiro.

Ainda que o sindicato não tenha dis-cutido nem em assembléia, nem em reu-nião de diretoria a questão do funciona-mento das varas e secretarias com o bal-cão fechado, o sentimento da maioriados servidores é de que este funciona-mento é necessário. Como o sindicatonão é uma entidade desconectada dosentimento dos trabalhadores, defende-mos então que haja este tipo de trabalhoà parte, para que as varas e cartórios pos-sam dar conta de seus serviços de umamaneira mais tranqüila.

Mas, por que então o sindicato nãointerveio na questão tentando evitar aregulamentação da maneira como foi fei-ta? Por uma razão muito simples, o Sise-jufe não teve acesso com anterioridadeà posição do ministro Gilson Dipp. Du-rante a realização da sessão é vedado àplatéia intervir no debate. A sessão, ain-da que aberta, não permite a fala das en-tidades representativas dos trabalhado-res e uma intervenção indevida pode sig-nificar a retirada do plenário.

Sindicato negociou jornadacom o presidente do TRF-2

O sindicato foi informado de que ha-veria um pedido de consulta para unifor-

Justiça Federal Decisão do CJF gerou confusão e apreensão na categoria

O Sisejufe e a jornada de 6 horasValter Nogueira Alves*

Roberto Ponciano*mização da jornada/funcionamento e quea posição dos presidentes dos TRFs erapela implementação da jornada de 8 ho-ras, mais uma de almoço. Diante destainformação, em reunião com o presiden-te do TRF 2, conseguimos que ele revissesua posição. O Sisejufe argumentou queos trabalhadores já cumprem, minima-mente, 7 horas, e que há setores com tra-balho análogo ao de digitação – onde jácaberiam as 6 horas. Na verdade, a posi-ção do sindicato é de 6 horas para todos,mas na negociação tivemos que ponderarpara evitar o pior: as 8 horas para todos.

Do desembargador Castro Aguiar, pre-sidente do TRF 2, ouvimos o pedido paramudar o horário de funcionamento dosTRFs, para de 10h às 18h, como medida deeconomia e segurança. A princípio, nãohaveria nenhum problema do sindicatoquanto a esta medida, já que muitos servi-dores são favoráveis a ela. Todavia, na reu-nião do CJF fomos surpreendidos com a

posição do ministro Dipp pelas 8 horas defuncionamento com os cartórios/secretá-rias/gabinetes abertos – posição não ven-tilada anteriormente e que acabou passan-do por unanimidade no conselho.

Naquele momento não houve como osindicato intervir. Se a categoria se sen-tir atingida pela medida de aumento dohorário de funcionamento dos balcões,faremos um pedido de revisão da posiçãono CJF. Frisamos que, não obstante estamedida que nos surpreendeu, tivemosuma vitória em continuar a dar a autono-mia aos tribunais para gesrir a jornada detrabalho, podendo ela ser regulamentadaem 6 horas diárias. Diante do novo horá-rio, temos que lutar pela jornada de 6 ho-ras com duas turmas de atendimento, oque resolveria a questão da abertura dosbalcões – como já acontece no STJ, noCJF e no TRT do Rio Grande do Sul.

*Diretores do Sisejufe

O

Novo pedido de redução de jornada é feitoNa última reunião do Conselho de

Administração do Tribunal RegionalFederal (TRF-2), foi indeferido um pe-dido administrativo acerca das 6 horasde jornada de trabalho, formulado porum servidor do TRF. Outro pedido, fei-to pelo Sisejufe, foi apenso a este, demaneira equivocada em nossa opinião.O PA do servidor, por ser um pedidoindividual, foi extinto sem julgamen-to do mérito, já que trata-se de maté-ria de direito coletivo, não aplicável aum único servidor. O PA do sindicato,mais abrangente e com melhor funda-mentação, por conta deste erro de tra-mitação do TRF, também foi descon-siderado.

Em vista disso, o Sisejufe formulounovo pedido, assinado pelo diretorValter Nogueira Alves, com base noRegime Jurídico Único (RJU) e na regu-lamentação do CNJ e do CJF, que dão

autonomia aos tribunais para normati-zarem suas jornadas entre 6 e 8 horas.Nosso novo PA é também inspirado naexperiência de redução de jornada devários tribunais (CJF, STJ, TST, TSE,TRTs do Rio Grande do Sul, de Brasíliae de Campinas). No CJF por exemplo, onúmero de feitos aumentou em cercade 30% após a redução da jornada, alémdo que houve melhora nas relações detrabalho, com menos estresse e dimi-nuição de ocorrências de doenças ocu-pacionais, como a LER/Dort.

Os diretores do Sisejufe pondera-ram que é possível a extensão das 6horas para todos os servidores e queisso significará ganho em qualidade devida, produtividade e redução no núme-ro de licenças médicas. O presidente doTRF vai estudar o pedido do sindicato eanunciou sua resposta para o mês dedezembro.

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Jornada de Trabalho A empresa-estado exige fidelidade cega

O operário-padrão do século 21Luiz Carlos Azenha*

contagem do tempo é uma in-venção humana. Se você achaque o tempo está passandomais rápido agora, tem razão.No mundo globalizado somos

bombardeados continuamente porinformação, por mensagens que nosconvocam a consumir e pela ofertado tempo que nos pertence, cadavez mais, à empresa que paga nos-so salário.

A gente mal se dá conta disso, maso celular e a internet expandiram nos-sa jornada de trabalho. Nossa autono-mia, portanto, diminuiu. Essa organi-zação social resulta da ascensão dasgrandes corporações, que se sobrepu-seram às regras de um estado que exis-tia em seu nome. Todo esse discursode que é preciso “controlar” o estado,de que o estado “pesa” e de que o es-tado deve ser “mínimo” é de graça?Não, é dos ideólogos privados, aque-

A

les que são encarregados de arregi-mentar o “exército corporativo”.

Sai o estado e entra um novo dis-curso: é preciso vestir a camisa da em-presa, defender a imagem da empre-sa, abdicar de seus direitos trabalhis-tas quando a empresa está em dificul-dades financeiras, doar seus sábados,domingos e feriados para garantir osucesso da empresa. É a lógica de acu-mulação de capital dessas empresas-estado, que precisam atuar unidas ecoesas contra o “inimigo”, na disputapor mercado.

É essencial, portanto, que elas con-trolem nosso cérebro, razão pela qualos departamentos de Recursos Huma-nos sofisticam fórmulas para nos “mo-tivar”. O contrato não escrito é esse: aempresa-estado se propõe a nos pro-teger da selva do mercado de falta detrabalho desde que juremos fidelida-de aos interesses dela. Somos con-vocados a abdicar de nossa autono-mia, de nossas idéias, de nossosamigos e de nossa família para “ser-vir ao exército”.

A empresa-estado precisa de disci-plina. De ordem unida. De coesão.Portanto, é preciso eliminar as vozesdiscordantes, independentemente deideologia. Se você não concorda com

“Abrimos mão de expressar nossas opiniões, daorganização sindical ou comunitária, daparticipação política, da convivência social com afamília e os amigos – abrimos mão de tudo issopara servir na infantaria da empresa-estado. Issolá é jeito de gastar nossa única vida?”

*Jornalista. Publicado no blog: http://viomundo.globo.com/

site.php?nome=MinhaCabeca

os princípios da empresa-estado, serácolocado na rua. Não há espaço paradissidência se “nossa” meta é ocupar50% do mercado em 6 meses.

Gripe, indigestão, dor-de-cabeça?Não me parece difícil explicar as ven-das recorde de antidepressivos. Abri-mos mão de expressar nossas opini-ões, da organização sindical ou comu-nitária, da participação política, daconvivência social com a família e osamigos – abrimos mão de tudo issopara servir na infantaria da empresa-estado. Isso lá é jeito de gastar nossaúnica vida?

Hoje pagamos para almoçar ou jan-tar dentro da empresa. Fazemos ginás-tica laboral na empresa. Deixamos osfilhos na creche da empresa. Os dor-mitórios são dispensáveis porque asnovas tecnologias – o celular, a inter-net, a videoconferência – permitem fa-zer de você um “servidor” em tempointegral. Todas as garantias constituci-onais estão subordinadas a essa lógi-ca: a liberdade de reunião, de opinião,de expressão e de organização conti-nuam valendo, desde que sejam exer-cidas em defesa da empresa-estado.

“É preciso vestir acamisa da empresa,defender a imagemda empresa, abdicarde seus direitostrabalhistas quandoa empresa está emdificuldadesfinanceiras, doarseus sábados,domingos e feriadospara garantir osucesso da empresa.”

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Da ditadura militar ao NovoHelder Molina*

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Ano II – número 16 – dezembro/2007

Entre 1964 e 1971, a dita-dura militar decretou interven-ção em 573 sindicatos, federa-ções e confederações sindicais.Policiais e agentes civis do re-gime se tornaram intervento-res no movimento sindical. Osindicalismo passou a ser to-talmente controlado pelosaparelhos militares. Em 1967,o general Castelo Branco ree-ditou o “atestado ideológico”,de triste memória do EstadoNovo. Por estes atestados, os

aparelhos de repressão política contro-lavam os candidatos aos cargos de dire-ção da estrutura sindical, fazendo um fil-tro ideológico, vetando os que tivessemqualquer vínculo, ou mesmo suspeita devínculo, com a oposição ao regime oualguma relação com as esquerdas.

Após 1965, o movimento sindicalpraticamente desaparece. Emboracontinuem existindo, os sindicatoscumprem um papel de prestação deserviços assistenciais, médicos e jurí-dicos aos seus filiados, funcionandocomo uma repartição vinculada e con-trolada pelo Estado, um balcão homo-logador de rescisões de contratos ouum cartório de ofício burocrático. Nãohavia mais função política, reivindica-tória ou ideológica.

Até a metade da década de 70, asombra, as botas e a bodurna domina-ram a cena política. A estrutura sindi-cal, herdada do Estado Novo, perma-neceu intocada. Os empresários e ospelegos (denominação dada aos diri-gentes sindicais interventores ou queconcordavam e participavam da estru-tura sindical estatal militar) mantive-ram-na sem alterações. Mudança ape-nas no final dos anos 70, a partir dasmobilizações autônomas e indepen-dentes dos trabalhadores, via oposi-

ções sindicais, e o início da pressãocontra a intervenção e pela liberdadede organização sindical.

O imposto sindicale a dívida externa

Toda a estrutura sindical, sob dire-ção dos pelegos e policiais intervento-res, sobreviveu durante o regime mili-tar com os recursos financeiros recolhi-dos pelo imposto sindical criado na EraVargas. O imposto sindical sustentouos sindicatos oficiais, o empresariado(e suas federações e confederações pa-tronais) e parte do Estado (fascista dosmilitares). Não houve por parte das di-reções sindicais qualquer contestaçãoformal ao imposto e à estrutura sindi-cal entre 1964 e 1979. Mesmo no perí-odo anterior à ditadura, de 1945 a1964, em que viveu-se num ambienterelativamente democrático, o movi-mento sindical pouco fez para superara estrutura corporativista. A nosso vero sindicalismo, mesmo o dominadopelos comunistas e trabalhistas, adap-tou-se e acomodou-se no corporativis-mo e no atrelamento ao Estado.

Os militares trataram de implemen-tar uma série de medidas para superara crise econômica do país e acelerar aexpansão capitalista. Por um lado pro-curaram aumentar a taxa de explora-ção da força de trabalho para aumen-tar os lucros das empresas e, por ou-tro, incentivaram um rápido processode concentração do capital. Os instru-mentos usados para garantir o aumen-to da exploração da força de trabalhoforam a política salarial, os sindicatosatrelados e a repressão policial militardireta. Para concentrar capital, a dita-dura promoveu fusões e incorpora-ções, favorecendo ao mesmo tempo ainstalação de multinacionais e estimu-lando a associação do grande capitalnacional ao capital estrangeiro – daí ofortalecimento dos produtores de

bens de consumo duráveis (automó-veis e eletrodomésticos). A ditaduraencarregou-se de incorporar-noscomo economia dependente e subor-dinada ao capital externo e aos inte-resses e humores do capitalismo mo-nopolista transnacional.

O crescimento de uma economiadependente, como a brasileira, fazaumentar as necessidades de impor-tações de máquinas, equipamentos,matérias primas, produtos químicos epetróleo. Como as exportações nãocresceram na mesma proporção dasimportações, a tecnoburocracia mili-tar buscou volumosos empréstimosestrangeiros para pagar tais importa-ções, comprometendo grande parcelados recursos internos do país para pa-gamento de credores externos. Acon-tece, nesse período, o aprofundamen-to da dívida externa e da dependênciaaos capitais multinacionais ou de go-vernos do capitalismo central.

Como conseqüência, vimos grandeparte do setor agrícola voltar-se para

Ano II – número 16 – dezembro/2007 17http://sisejuferj.org.br

A Américaminada

A Colômbia já é a líder mundial de vítimas de minas terrestres

*Historiador, assessor de forma-ção da CUT-RJ e coordenador

do curso Marxismos do Sisejufe.

Ano II – número 16 – dezembro/2007

o Sindicalismo: o renascimento

plantações extensivas visando a expor-tação, em detrimento da variedade e doabastecimento interno. Agrava-se, des-se modo, a situação dos trabalhadoresdo campo e da cidade. Em regiões deprodução agrícola, como Goiás, Pará eMato Grosso, explodem conflitos pelaposse da terra. Em São Paulo e no Pa-raná os pequenos proprietários, pos-seiros e meeiros são reduzidos quaseà extinção, produzindo-se uma mul-tidão de bóias frias e o aumento doêxodo rural, com intensa migração docampo para as cidades. Assim incha-ram as periferias e se acirrou a com-petição no mercado de trabalho.

Essa abundante força de trabalho dis-ponível no mercado faz com que os ca-pitalistas superexplorem e utilizem da

rotatividade para rebaixar os salários esolapar direitos dos trabalhadores. Erao “milagre econômico” que, segundo apropaganda do regime militar, transfor-maria um Brasil numa potência mundi-al. Tais políticas provocaram o cresci-mento das cidades e o surgimento deuma classe média consumidora. Cres-ceu, também, o número de trabalhado-res nas indústrias, no comércio, nos ban-cos e nos serviços. E, do mesmo modo,avolumou-se o exército de desemprega-dos e subempregados. A burguesia agrá-ria se fortalecia ao passo em que cresciao número de assalariados rurais.

O Novo Sindicalismo

O aumento do número de assala-riados, principalmente em São Paulo,

Rio e Belo Horizonte, conjugado com aspéssimas condições de trabalho e bai-xos salários, faz com que se generalizemas lutas, principalmente na segundametade da década de 1970. Eram, con-tudo, lutas fragmentadas e isoladas.Centenas de greves tinham as mesmasreivindicações, a luta contra o arrocho ea busca de autonomia e liberdade sindi-cal. A vanguarda desse processo está emSão Paulo, o pólo mais dinâmico do ca-pitalismo industrial dependente brasi-leiro, com grande concentração de em-presas, principalmente de automóveis,eletrônicos e eletrodomésticos, e ondea classe operária se torna sujeito políti-co importante no processo de constru-ção de um novo projeto sindical e políti-co. No coração do capitalismo pulsa osangue da classe que tende a enfrentá-lo com vigor e vontade. A luta dos traba-lhadores industriais de São Paulo torna-se referência para o país.

Nos anos de 1977, 78 e 79, no augeda política de arrocho e de controle dossindicatos, são as oposições sindicaisque buscam mobilizar a classe. Na re-gião do ABC (Santo André, São Bernardodo Campo e São Caetano do Sul (incluí-do D de Diadema) e na capital São Pauloeclodem, de forma crescente e unifica-das, fortes mobilizações contra a políti-ca salarial e o regime militar. O desejode desatrelar o sindicato dos patrões edo Estado, o fim do imposto sindical e aconstrução de uma nova estrutura sindi-cal, de combate, de classe, de luta, sur-gida da base, num sentido antiditadurae anticapitalista, se colocam como pala-vras de ordem das massas em movimen-to. Surge, então, da boca dos trabalha-dores, uma proposta de ruptura com ovelho sindicalismo, que a história e asociologia vão identificar como matrizesde um “Novo Sindicalismo”.

O desejo de desatrelar o sindicato dos patrões e do Estado,o fim do imposto sindical e a construção de uma novaestrutura sindical, de combate, de classe, de luta, surgidada base, num sentido antiditadura e anticapitalista, secolocam como palavras de ordem das massas em movimento.

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Chegou o Natal e as pessoas estãovítimas de uma espécie de embriaguez:comprar, comprar, comprar, comprar,comprar, comprar, comprar... As lojascheias, pessoas se afogando em pres-tações, brinquedos e presentes eletrô-nicos caríssimos... é a grande celebra-ção do Deus Manon, não o Deus Meni-no, o filho do homem, aquele que sefez carne para sofrer como todos nós,e que pobre, carpinteiro e operário, va-gou pelo mundo pregando a igualda-de e a solidariedade entre os homens.Aquele que disse, simplesmente: meumandamento é este, que vos ameis unsaos outros, revogam-se as disposiçõesem contrário, esta lei entra em vigorna data de sua divulgação.

O que há de comum entre o nasci-mento do Menino Deus, a encarnaçãodo espírito vivo, aquele que veio dis-tribuir o perdão entre todos os ho-mens, que foi capaz de salvar a adúlte-ra (ou prostituta, é sempre uma ver-são, a leitura) de ser apedrejada; quedisse que não veio salvar os sãos, masos pecadores, desta festa mercantili-zada, com um velhinho gorducho doanúncio da Coca-Cola propagando oide e consumi-vos, pois esta é a razãode viver!

Que solidariedade é esta que se faznão através do abraço e da compreen-são, mas sim através da compra, ven-da e troca de mercadorias?

E o que falar então para aqueles quenão tem acesso à grande festa da mer-cadoria, colocados de lado pelo gran-de templo do consumo, sem dinheiropara comprar os presentes desta troca

Artigo Está na Bíblia: ou se adora a Cristo ou ao Deus da Mercadoria

Neste Natal, esqueça ManonRoberto Ponciano*

insana, e que pedem apenas um pou-co de pão para que não morram defome enquanto a humanidade celebrao desperdício?

Que me contradigam e falem queestou exagerando, mas a insanidadeque vejo nesta época, com pais sacrifi-cados para dar o “brinquedo” ou a “vi-agem dos sonhos”, me faz perguntar,que espírito de Natal é este?

Afinal, o Cristo proletário, car-pinteiro e filho de carpinteiro, nas-ceu numa manjedoura pobre, e seuspresentes foram símbolos de adora-ção e não a festa do comprar. A po-bre criança da manjedoura com cer-teza olha com reprovação quando ahumanidade transforma sua mensa-gem em cifras.

“O que há de comumentre o nascimentodo Menino Deus, aqueleque veio distribuiro perdão entre todosos homens (...) quedisse que não veiosalvar os sãos, masos pecadores, destafesta mercantilizada,com um velhinhogorducho do anúncioda Coca-Colapropagando o idee consumi-vos?”

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Sim, porque para confraternizarbasta uma mesa, um pouco de comi-da, solidariedade, conversas, abraços.

Na sociedade do desvínculo, ondea única “pessoa” que fala nas casas é aTV (este tótem da solidão moderna, naqual existem milhares de meios de co-municação que não comunicam nin-guém com ninguém) o Natal seria, emtese, o momento em que as famílias sereúnem e celebram. Celebram mesmo?Se o ápice da festa é conferir se o pre-sente mais caro do ano foi recebido ounão, qual o sentido desta confraterni-zação?

Nem religioso, no sentido estritosou, já que não sou membro de nenhu-ma igreja, mas, talvez, tenha entendi-do a mensagem do Cristo Vivo mais doque muitos religiosos. Afinal, como sepode ser solidário por um dia? Comose pode se celebrar a cristandade umdia? E nem falo da cristandade em ter-mos de seguir uma religião, mas deseguir sua mensagem.

Solidariedade é para todos os dias,ou somos solidários, ou não somos.Amor, carinho, fraternidade, lutar pelaigualdade, ou é para todos os dias, oué para dia nenhum. Não adianta nadarasgar as vestes, bater no próprio cor-po, arranhar o corpo com as unhas den-tro de uma igreja, achando assim quese está seguindo a mensagem de Jesus– isto é apenas ritualística vazia.

O que fazes para que a terra, nossoplaneta, seja o paraíso prometido porJesus no Sermão da Montanha?

A mensagem que o Revolucionárioque condenou a riqueza (passará umcamelo por uma agulha, mas um riconão entrará no Reino dos Céus) foi a daigualdade e a da fraternidade, a da es-perança, a da amizade entre todos ospovos, a do perdão, a da fraternidade.

Que fizeste no dia de hoje, semanado Natal para que nosso mundo sejamais igual? Qual foi a última vez que

olhastes paraum pobre comoum irmão, nãocomo uma ame-aça? Qual foi aúltima vez quete apiedaste dodestino dos des-graçados? Dosdeserdados, dosque tiveram ogrande azar denascerem pobresou paupérrimos,na sociedade deManon, Deus daMercadoria?

Para mim é esta a verdadeira e úni-ca mensagem de Cristo. E não dá paraadorar dois deuses, ou se adora Cris-to, ou se adora Manon (são palavrasda Bíblia). Posso não ser religioso, mascaptei a mensagem da pregação cris-tã, que no Natal não celebramos amercadoria, mas sim a nossa humani-dade comum, nossa irmandade, queestá em cada homem e mulher, inde-pendente de cor, raça, credo, etnia.

A humanidade que nos faz iguaisestá em muçulmanos e judeus, em ne-gros e brancos, em evangélicos e espí-ritas, em pobres e ricos.

Portanto, ao celebrar o Natal, pen-se que não é através do ter, da merca-doria, do comprar e gastar que esta-rás seguindo a palavra do Deus vivo.Mas sim através do ser, do compreen-der, do entender que a mensagem donatal é a mensagem da solidariedade,de que todos somos iguais e que émissão nossa então acabar com a de-sigualdade, que não é criação divina,muito ao contrário, é uma criação dohomem, que assim se tornou lobo dopróprio homem.

Natal para mim é compreender,mais uma vez, que a missão de cadahomem aqui é transformar a terra nonosso jardim, na nossa utopia, compaz e igualdade social. *Diretor do Sisejufe.

“Afinal, o Cristoproletário,carpinteiro e filhode carpinteiro,nasceu numamanjedoura pobre,e seus presentesforam símbolos deadoração e não afesta do comprar.A pobre criançada manjedouracom certeza olha comreprovação quandoa humanidadetransforma suamensagemem cifras.”

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Sisejufe discorda da forma como foi proposta ação popularSindicais

CNJ suspende pagamento de passivoso dia 20 de novembro, o Conse-lho Nacional de Justiça (CNJ) de-terminou a suspensão de todoe qualquer pagamento de ver-

ba extra a juízes federais, trabalhistase militares até que o Supremo Tribu-nal Federal (STF) julgue a ação popu-lar que contesta legalidade do recebi-mento destas verbas, cuja liminar ain-da não foi apreciada pelo relator, mi-nistro Eros Grau.

A ação popular foi ajuizada pelo co-ordenador-geral da Fenajufe, RobertoPolicarpo, contra a decisão de setem-bro, quando o CNJ reconheceu que cer-ca de 6 mil juízes tinham direito dereceber verbas que foram incorporadasao subsídio mensal, fixado em 2005,e extintas. A ação popular foi um ato

pessoal de Policarpo e não foi discutidaem nenhuma instância da Federação.

O Sisejufe discorda forma como foiproposta a ação popular, por iniciati-va exclusiva do dirigente, sem o devi-do debate na Fenajufe. Nosso sindica-to considera que o reconhecimento eo pagamento dos passivos dos servi-dores nada tem a ver com o recentereconhecimento de passivos dos ma-gistrados. Por isso, não é admissívelque o CNJ, com o intuito de retaliar umcidadão que ocupa cargo de dirigentesindical em Brasília, cause prejuízo atoda categoria. O CNJ também deter-minou que os tribunais sustem outrospagamentos de retroativos de verbasremuneratórias e indenizatórias reco-nhecidas a magistrados e servidores

em decisões administrativas, e exce-tua aquelas verbas já apreciadas e au-torizadas pelo STF e CNJ.

Na Assembléia Geral convocadapelo Sisejufe no dia 28 de novembro,a categoria ratificou a nota crítica dosindicato ao ato do dirigente sindicalde Brasília, que levou à retaliação doCNJ. O Sisejufe também vai requererao CNJ, face à proximidade do fim deano, que mantenha todos os pagamen-tos administrativos. Nesta edição deIdéias em Revista, apresentamos de-talhes sobre a luta pelo pagamento dospassivos e informações sobre a situa-ção orçamentária das Justiças Federal,do Trabalho e Eleitoral no Rio de Ja-neiro – com dados apurados pelo sin-dicato a partir da contratação de umaconsultoria. Veja nas páginas 6 e 7.

N

No dia 8 de dezembro,a Fenajufe completa 15anos de luta em defesa dosinteresses dos trabalhado-res do Judiciário Federal edo Ministério Público daUnião. Para comemoraresta data importante paraa categoria, a diretoria daFederação realizará o Se-minário “Fenajufe: 15anos de luta”, que será nodia 8 de dezembro, às 9h,no Hotel Nacional, emBrasília.

Na atividade, a direto-ria da Fenajufe espera con-tar com a participação de

A terça-feira, 4 de dezem-bro, foi um dia de intensasatividades para a Fenajufe eos sindicatos filiados. Emtodo o país, os servidoresparticiparam de atividadesde mobilização em defesado pagamento dos passivose contra a retirada de direi-tos em todos os ramos doJudiciário Federal.

A última reunião ampli-ada da Fenajufe, realizadano dia 25 de novembro, dis-cutiu vários temas que preo-cupam a categoria, como adecisão do Conselho Nacionalde Justiça (CNJ) de suspendertodos os pagamentos admi-

nistrativos, referentes a pas-sivos, até que o Supremo Tri-bunal Federal (STF) julgue aação popular, impetradapelo coordenador da Fenaju-fe Roberto Policarpo, quecontesta legalidade do rece-bimento das verbas pelosmagistrados. Na reuniãoampliada de novembro, osservidores aprovaram reali-zar o Dia Nacional de Lutas,no dia 4 de dezembro, commobilização em Brasília, noCNJ, e atos nos Estados. (...)Os representantes da Fena-jufe e dos sindicatos reivin-dicarão o pagamento dospassivos, repudiando a deci-são do Conselho.

Dia Nacional de Lutas pelopagamento dos passivos

Leonor Costa*

*Imprensa Fenajufe.

Fenajufe completa15 anos de lutas

Leonor Costa* representantes de todosos seus sindicatos filiadospara comemorar e tam-bém discutir algumasquestões relevantes paraos trabalhadores.

A programação doevento incluirá os lança-mentos da Rádio Fenaju-fe, da campanha sobre As-sédio Moral e da revistada Fenajufe, além de pai-néis sobre: Flexibilizaçãodo direito do trabalhadore O movimento sindicalnos 15 anos de Fenajufee as perspectivas da Fede-ração.

*Imprensa Fenajufe.

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Há alguns anos o mundo vem falando,aqui e ali, sobre os sanitários compostá-veis. Nesse meio tempo muita gente tor-ceu o nariz ou simplesmente não deumuita bola. Mas hoje, quando o problemaestá todos os dias nos jornais, os sanitá-rios secos ganharam, finalmente, o statusque merecem. Eles já estão consolidadoscomo tecnologia social para viabilizar ococô sustentável há algum tempo, mas sóagora assumiram o trono.

Para quem está embarcando hoje nes-te assunto, uma rápida explicação: os sa-nitários compostáveis transformam osproblemas dos esgotos e do desperdí-cio de água das descargas em soluçãopara o solo. É uma forma eficiente deevitar que litros e litros de água limpasejam misturados aos excrementos hu-manos. Neles, os dejetos (líquidos e só-lidos) vão sendo depositados em umacâmara fechada e, com tempo e tempe-ratura adequados, tornam-se um excelen-te adubo orgânico.

Não é exagero dizer que puxar a des-carga do vaso sanitário convencional éver descer esgoto abaixo nossa tão esti-mada água. E com ela um potencial adu-bo orgânico gratuito. Para quem aindaacha estranho tamanho apreço pelo cocôhumano vão algumas informações. Umdado de 2005, fornecido pelo pesquisa-dor americano Joseph Jenkins, mostraque o mundo gasta em média 90 bilhõesde dólares com adubação química porano. Se utilizássemos nossas próprias fe-zes, esse dinheiro poderia ser emprega-do de forma mais útil e o solo ficaria li-vre dos químicos. Além disso, a Compa-nhia de Saneamento Básico do Estado deSão Paulo (Sabesp) informa em seu siteque uma privada gasta em média entre10 e 14 litros de água por descarga, po-dendo chegar a consumir 30 litros quan-do está desregulada.

O verdadeiro tronoMeio Ambiente O seu cocô também é bom para a plantação

Lia Bock*

A primeira pergunta que a maioria daspessoas faz com relação ao sanitárioseco é: mas e os coliformes fecais? Ospatógenos? O sistema do sanitário com-postável pressupõe a aniquilação de to-das as possíveis doenças presentes nasfezes. Nosso sistema digestivo funcio-na sob a temperatura de 37 graus e a me-lhor maneira de acabar com essas doen-ças é subir a temperatura. A experiênciamostra que se a temperatura do recipien-te onde ficam guardadas as fezes for de 50graus, em um dia os patógenos estarãotodos mortos. Como o ideal é deixar asfezes armazenadas entre três e seis me-ses, não há risco de contaminação.

Nesse processo não se produz poluen-tes, não se desperdiça água potável e aindahá um respeito pelos ciclos naturais. O quevai sair do seu reservatório de fezes, nadatem a ver com o seu cocô. Meses depois,o que haverá ali é húmus. Um material or-gânico decomposto, que forma a base davida no solo. Alguns podem ter esquecido,mas somos animais! O húmus eleva a capa-cidade de absorção de água do solo, forne-ce nutrientes importantíssimos e favore-ce as ações de microorganismos essenci-ais para a vida na terra.

Agora você pergunta: mas e o chei-ro? Toda vez que alguém usa o tronojoga uma porção de serragem (terra oufolhas secas) por cima. Isso elimina ocheiro, evita insetos e ainda absorve aumidade. Mesmo depois de um simplesxixi a serragem é importante para evitarodores. Quando está cheia, sua câmarade compostagem deve ser fechada paraos meses recomendados de decomposi-ção. É por esse motivo que você precisade duas câmaras (enquanto uma decom-põe, a outra é usada) ou de câmaras mó-veis, que são levadas para decompor emoutro lugar quando cheias. (...)

O sanitário compostável do IPEC foifinalista do prêmio Tecnologia Social2005, promovido pela Fundação Bancodo Brasil. Hoje, seis sanitários estão emfuncionamento, fornecendo húmus àsplantações. O material retirado das câ-maras pode ir direto para o solo, ou podepassar algum tempo no minhocário, tor-nando-se ainda mais potente. Ele mere-ce ou não merece o trono?

*Jornalista e parceira do IPEC/Permacultura Latina.

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O ano I do assalto ao céu

*Sociólogo. Agência Carta Maior.

Emir Sader*

Noventa anos depois davitória da Revolução Russa,parece difícil reconstruir oque foi o ano de 1917 para aHistória posterior. Basta di-zer que naquele ano os EUA,depois de terem teorizadoseu isolacionismo, distanci-ando-se da guerra na Europa,deram uma virada drástica eseu governo resolveu mobi-lizar a opinião pública paraintervir no conflito bélico.Entrariam para decidir a guer-ra e, principalmente, debili-

tar o concorrente imediato à sucessãoda Inglaterra decadente como novapotência hegemônica.

Ao mesmo tempo, a Rússia, com avitória bolchevique, se retirava daguerra. Começava a se desenhar omundo bipolar da segunda metade doséculo naquele duplo movimento.

Hoje, o clima instalado após o fimda URSS torna quase impossível ima-ginar o impacto que a Revolução Rus-sa representou para a História da hu-manidade. A Comuna de Paris, de1871, tinha sido a primeira vez quetrabalhadores tomavam o poder, masdurou somente algumas semanas. Em1917 se instalava o primeiro governoque se proclamara operário-campo-nês, que rompia com o capitalismo e obloco de potências imperialistas.

O livro de Victor Serge, O ano I daRevolução Russa, publicado em belís-sima edição pela Boitempo, permite amelhor reconstrução daquele momen-to mágico de “assalto ao céu”, em quetodas as utopias andavam soltas. Que-brada a carcaça que bloqueava o de-senvolvimento da sociedade russa, sobo impacto da guerra interimperialis-ta, afloraram todos os sonhos libertá-

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rios da humanidade, justamente emum país “atrasado”, asiático, não naEuropa “avançada”, como seria se ti-vesse ocorrido na Inglaterra, na Alema-nha ou na França.

As potências ocidentais acusaramo golpe, a ameaça do que aquela re-volução representava e onze exérci-tos invadiram a Rússia, apoiando acontra-revolução – talvez numa pri-meira versão das “guerras humanitá-rias”. O jovem poder soviético sofreu,além das destruições e sofrimentosprovocados pela participação na guer-ra interimperialista a que o czarismotinha levado o país e os mencheviquesderam continuidade, as agressões mi-litares e o bloqueio econômico. Paracastigar o péssimo exemplo e tentarinviabilizar a sobrevivência do poderanticapitalista.

dava de comer a todos os operários ecamponeses.

Nascida na periferia do sistema ca-pitalista, a revolução socialista russaentretanto não conseguiu se estenderpara algum país do centro, que pode-ria resgatá-la, e ficou isolada. O fracas-so da revolução alemã praticamentedefiniu o destino da revolução russa eo itinerário das revoluções, em vez demarchar para a Europa ocidental, sedirigiu para a Ásia, para um país aindamais periférico: a China.

O socialismo, que deveria ser, naconcepção de Marx, a negação e a su-peração do capitalismo, com a incor-poração do desenvolvimento promo-vido por este, pelas ironias da Histó-ria, terminava polarizando a periferiaatrasada contra o centro rico, manti-do pelo capitalismo. Olhando noven-ta anos depois, parece uma fatalida-de; mas não foi assim. A História sem-pre apresenta alternativas e o destinodo capitalismo e do socialismo conti-nua aberto.

Os tempos heróicos descritos porVictor Serge em seu livro servem parasentirmos de perto os sonhos, os dra-mas e os impasses que um processorevolucionário contém no seu bojo.São os momentos em que a históriaestá mais perto de ser definida pelaação consciente dos homens. Não poracaso a Revolução Francesa, a Revolu-ção Russa, a Revolução Cultural chine-sa, a Revolução Cubana foram incor-poradas definitivamente ao acervo dosmaiores momentos da História da hu-manidade. Momentos em que os ho-mens e as mulheres puderam tomar océu por assalto.

“Olhando noventaanos depois, pareceuma fatalidade; masnão foi assim.A História sempreapresenta alternativase o destino docapitalismoe do socialismocontinua aberto.”

Um poder que sobreviveu com umregime de comunismo de guerra, re-partindo o pouco de que dispunham,mas que suscitava a atenção e a soli-dariedade mundiais. A grande aven-tura utópica passou a ser visitar aURSS, o único país no mundo que –como disse recentemente uma espiãinglesa que trabalhava para os bol-cheviques, justificando sua atitude –

Ano II – número 16 – dezembro/2007 23http://sisejuferj.org.br

e 22 a 25 de outubro, o Sisejufe, a CUT e o Sindicato dos Bancáriospromoveram o Seminário 90 Anos da Revolução Russa para lançar luzsobre alguns episódios históricos e discutir as suas distorções, princi-palmente após a queda do Muro de Berlim. O evento reuniu lideranças e

militantes dos movimentos sindical e social, estudantes e trabalhadores emgeral. O seminário analisou o contexto histórico, o significado político, as he-ranças deixadas pela Revolução Russa, a atualidade do marxismo e da luta pelosocialismo. Conheça, aqui, opiniões de alguns dos participantes.

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O seminário foi uma im-portante iniciativa política doSisejufe e da CUT, pois discu-tir o contexto histórico e osignificado político da Revo-lução Russa recoloca a neces-sidade de um projeto coleti-vo dos trabalhadores tendocomo o horizonte o socialis-mo. O capitalismo é um siste-ma produtor de barbárie, ex-clusão, competição irracional,destruição de forças produti-vas e do meio ambiente. Acontinuidade da vida humanacorre perigo se essa lógica

destrutiva não for contida. Omercado virou uma religião,o dinheiro e o consumo foramtransformados em deuses. Oseminário serviu para recolo-car a atualidade do marxismo,das análises marxistas sobreos desafios do tempo presen-te. Vimos que as denúncias,as críticas e as propostas deMarx, escritas no século XIX,estão atuais, presentes nostempos neoliberais. Precisa-

mos enfrentar afragmentaçãoda esquerda, oneopragmatis-mo, que esva-zia a política, eo dogmatismo,que torna se-tores da es-querda im-potentesdiante darealidade.

Helder Molina – Historiador, professor da faculdade deeducação da UERJ e assessor de formaçãoda CUT-RJ.

A discussão sobre marxis-mo nos dias de hoje é muitomais importante do que emoutras épocas. Vivemos emum contexto de total despoli-tização e iniciativas como ado Sisejufe ajudam a plantaruma semente que vai brotar einfluenciará na transformaçãoda sociedade. Discutir o mar-xismo hoje é mais necessário,

pois naquela época muitospensadores não se contenta-vam e contestavam as contra-dições do mundo. Hoje, aspessoas pensam seus proje-tos individuais”.

Maria Onete LopesDoutora em Filosofia daEducação (UFSCAR) e da

Universidade Estácio de Sá.

Mais do que nunca é válidaa discussão da Revolução Rus-sa. Ao longo dos anos foramfeitas muitas avaliações super-ficiais das forças que atuaramno processo revolucionário.Hoje é preciso e pode ser fei-to uma discussão profunda,por exemplo, do proletaria-do. É necessário se definirmelhor o papel desse segmen-

to. Temos espaço muitogrande para essa reflexão. Te-mos que aprender a lição, dei-xar de lado a visão das duascorrentes que sempre se di-gladiaram e avançar na forma-ção de novas lideranças.

Ernesto Germano ParésConsultor sindical e asses-

sor sindical do Sintergia-RJ.

Em um período de cresci-mento das lutas sociais e for-mação de governos contrári-os ao neoliberalismo na Amé-rica Latina , a comemoraçãoda revolução soviética é degrande importância, pois con-tribui na discussão, sempre àluz da história, dos grandesavanços e também contradi-ções, muitas delas traumáti-cas, das experiências socialis-tas do século XX. Ao organi-zar o seminário, o Sisejuferesgata o que de melhor hou-ve no movimento sindical bra-sileiro, hoje infelizmente dei-xado de lado por um certo sin-dicalismo plenamente adapta-

do a ordem e profundamenteburocratizado: a discussãosobre a história do movimen-to operário mundial e seusensinamentos, elemento fun-damental tanto para a necessá-ria batalha de idéias contra osvalores de capital quanto para ao fortalecimento de um sindi-calismo que não só defenda aclasse trabalhadora diante docapital como contribua na cons-trução de um novo projeto so-cialista para o nosso país”.

Luis Eduardo MergulhãoRuas – Sociólogo, mestre

em História, professorda Rede Estadual.

É importante e atual lem-brarmos da Revolução Russa.Os bolcheviques, ao articula-rem um governo soberanopara a Rússia, optaram pornão se subordinar às econo-mias mais fortes da épocana Europa.

Mesmo entre os primei-ros revolucionários haviaquem achasse que a Rússiadevia continuar atrelada ao ca-pital estrangeiro, submetidaà força econômica da Inglater-ra, da França ou da Alemanha.Homens como Lênin eTrotsky mostraram que erapossível a independência

desses centros e a constru-ção de uma opção ao univer-so capitalista. Isso é muitoatual no Brasil de hoje. Quetipo de nação queremos?Uma nação subordinada ouindependente?

Por isso, lembrar a luta dosrussos há 90 anos é, para alémde uma homenagem, umapossibilidade de pensarmosque tipo de país estamosconstruindo.”

Raul PontDeputado Estadual PT/RS

e professor de História.

24 Ano II – número 16 – dezembro/2007http://sisejuferj.org.br

Para juiz, proteção à mulher é “diabólica”Mulheres Magistrado afirma que Lei Maria da Penha é inconstitucional

Alegando ver “um conjunto de re-gras diabólicas” e lembrando que “adesgraça humana começou por causada mulher”, um juiz de Sete Lagoas(MG) considerou inconstitucional a LeiMaria da Penha e rejeitou pedidos demedidas contra homens que agredirame ameaçaram suas companheiras. A leié considerada um marco na defesa damulher contra a violência doméstica.

“Ora, a desgraça humana começouno Éden: por causa da mulher, todosnós sabemos, mas também em virtu-de da ingenuidade, da tolice e da fra-gilidade emocional do homem (...) Omundo é masculino! A idéia que temosde Deus é masculina! Jesus foi ho-mem!” A Folha teve acesso a uma dassentenças do juiz Edilson Rumbelsper-ger Rodrigues que chegou ao Conse-lho Nacional de Justiça. Em 12 de feve-

Silvana de Freitas*

*Jornalista da sucursal de Brasíliada Folha de S.Paulo.

A Lei Maria da Penha(nº 11.340) aumentouo rigor nas penas paraagressões contraa mulher no lar,além de fornecerinstrumentos paraajudar a coibiresse tipo de violência.

Juiz Edilson Rodrigues:“Ora, a desgraçahumana começou noÉden: por causa damulher, todos nóssabemos, mas tambémem virtude daingenuidade, da tolicee da fragilidadeemocional do homem(...) O mundo émasculino! A idéia quetemos de Deus émasculina! Jesusfoi homem!”

Foto: Valter Campanato/Abr

Maria da Penha: paraplégica após agressões do marido

reiro, sugeriu que o con-trole sobre a violênciacontra a mulher tornará ohomem um tolo.

“Para não se ver even-tualmente envolvido nasarmadilhas dessa lei ab-surda, o homem terá dese manter tolo, mole, nosentido de se ver na con-tingência de ter de cederfacilmente às pressões.”Também demonstrou re-ceio com o futuro da fa-mília. “A vingar esse conjunto de re-gras diabólicas, a família estará emperigo, como inclusive já está: desfa-celada, os filhos sem regras, porquesem pais; o homem subjugado.” Elechama a lei de “monstrengo tinhoso”.

Rodrigues criticou ainda a “mulhermoderna, dita independente, quenem de pai para seus filhos precisamais, a não ser dos espermatozói-des”. Segundo a Folha apurou, o juizusou uma sentença-padrão, repetin-do praticamente os mesmos argu-mentos nos pedidos de autorizaçãopara adoção de medidas de proteçãocontra mulheres sob risco de violên-cia por parte do marido.

A Folha procurou ouvi-lo. A 1ª VaraCriminal e de Menores de Sete Lagoasinformou que ele está de férias e quenão havia como localizá-lo. Sanciona-da em agosto de 2006, a Lei Maria daPenha (nº 11.340) aumentou o rigornas penas para agressões contra amulher no lar, além de fornecer ins-trumentos para ajudar a coibir essetipo de violência.

Seu nome é uma homenagem à bi-ofarmacêutica Maria da Penha Maia,agredida seguidamente pelo marido.Após duas tentativas de assassinato

em 1983, ela ficou paraplégica. O ma-rido, Marco Antonio Herredia, só foipreso após 19 anos de julgamento epassou apenas dois anos em regimefechado. Em todos os casos em suasmãos, Rodrigues negou a vigência dalei em sua comarca, que abrangeoito municípios da região metropo-litana de Belo Horizonte, com cercade 250 mil habitantes. O MinistérioPúblico recorreu ao TJ (Tribunal deJustiça). Conseguiu reverter em umcaso e ainda aguarda que os outrossejam julgados.

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Uma grande hipocrisiaolhar de Patrícia1 parece perdidono ar. A música toca alto num am-biente sombrio de bares e peque-nas boates. Muitas mulheres cir-culam pelos corredores, algumas

seminuas. Os homens conversam, entreum copo de cerveja e outro, enquantoescolhem com quem vão se deitar. Mes-mo assim, nada parece perturbar a jovemde 26 anos, cabelos ruivos molhados eolhos claros. Parada em frente à porta deum dos estabelecimentos, está à esperade alguém – que não é o seu “príncipeencantado”. Na verdade, o que ela aguar-da ali são clientes que garantam o sus-tento de suas duas filhas e o dela pró-prio. Essa é a rotina vivida há dois anospor Patrícia, uma das muitas mulheres quefazem ponto num endereço tradicionaldas profissionais do sexo no Rio, a VilaMimosa, na Praça da Bandeira. Com maisde 80 anos de existência, a VM, como tam-bém é conhecida, atrai mais de mil visi-tantes por dia. De dia e de noite.

Ao ser abordada, Patrícia imagina queseria para fazer mais um programa. Masse espanta com a pergunta: “Vocé é con-tra ou a favor da legalização da prostitui-ção?” Sem entender, faz cara feia, cruzaos braços, como se pensasse: “Porra,esse cara tá afim de me sacanear...”, eresponde com a maior naturalidade:

“Querido, não tô sabendo de nada”,diz, imóvel, ainda encostada à porta.

O diálogo foi travado em 7 de novem-bro, dia em que a Comissão de Consti-tuição e Justiça (CCJ) da Câmara dos De-putados rejeitou o Projeto de Lei 98/2003, que propunha a legalização da pros-tituição no país. O autor da proposta é odeputado federal Fernando Gabeira (PV-RJ). O relator do projeto, deputado An-tônio Carlos Magalhães Neto (DEM-BA),apresentou parecer contrário. Se na Câ-

Mulheres Rejeitado na Câmara projeto que legalizaria a prostituição

Max Leone* mara o assunto divide opiniões, entre asmais interessadas, também há polêmi-ca. Na própria Vila Mimosa, o tema é tra-tado com reservas.

“Não gostaria de ver minha filha seguiressa vida. Se legalizar, será um sinal que elapode cair nessa”, afirma a prostituta Fer-nanda2, de 33 anos, que chega a ganhar R$2 mil por mês com programas e que já pa-gou o INSS como cabeleireira autônoma.Fernanda garante que nem todas as prosti-tutas estão na atividade por que querem.Segundo ela, muitas não têm opção de tra-balho e precisam sobreviver. Assim, aca-bam se sujeitando a vender o corpo.

“Eu mesmo deixei essa vida um perío-do. Cheguei a fazer faculdade, mas não tivecondições de continuar pagando as men-salidades. Aí a coisa apertou e voltei...”,lembra, resignada.

De acordo com a assistente social Clei-de do Nascimento Almeida, coordenado-ra de projetos de DST/ Aids da Associaçãodos Moradores, Condomínios e Amigosda Vila Mimosa (Amocavim), uma pesqui-sa realizada no ano passado com mais demil mulheres que trabalham na VM apon-tou que de 60% a 65% eram favoráveis àlegalização. Mas, esse panorama mudou,em seguida, ao se darem conta, segundoela, dos desdobramentos:

“O desdobramento é que o problema.Quem vai garantir os direitos ? A prosti-tuta pode muito bem pagar o INSS comoautônomo. Se legalizar, corre o risco deestigmatizar ainda mais”, defende.

A coordenadora da Rede Brasileira deProstitutas, Gabriela Leite, de 56 anos,acompanhou a discussão no plenário daCCJ. Segundo ela, a associação, que fun-ciona desde 1987 e reúne cerca de 20 milprostitutas de todo o país, é a favor doprojeto por acreditar que será um im-portante instrumento para melhorar as

condições de vida e de trabalho das pros-titutas. A coordenadora acredita que ainiciativa enfrenta resistência das cafeti-nas e dos donos de bordel.

“Se aprovado, eles terão que pagar osdireitos trabalhistas às profissionais comoa qualquer outro trabalhador”, explica.

Pela projeto, seria obrigatório o pa-gamento por serviços de natureza sexu-al e estariam revogados os crimes de fa-vorecimento da prostituição, manuten-ção de casas de prostituição e tráfico demulheres, previstos no Código Penal. Odeputado do PV se baseou na lei que en-trou em vigor em 1º de janeiro de 2002na Alemanha. Lá a legislação permite quea prostituta se aposente. Gabeira nãodesistirá de retomar a discussão.

“Vou estudar o que fazer. Talvez apre-sente emendas em outros projetos quetramitam na Casa e tratam no mesmo as-sunto”, afirma o deputado federal.

Gabriela Leite garante que as profis-sionais não vão desistir e lutarão pelaregulamentação. “Isso é péssimo (a rejei-ção do projeto), mas a gente não vai desis-tir. Hoje, os donos de bordéis só explo-ram as prostitutas. Somos cidadãs comotodas outras. Era o primeiro passo paracompartilhar de todos direitos dos tra-balhadores”, disse.

Mas há quem pense diferente. ComoAndréia3, de 28 anos, que deixou a vidade prostituta na Vila Mimosa e agora tra-balha com artesanato.

“Imagina assinar a carteira como pro-fissional do sexo? Não arrumaria maisemprego em lugar nenhum. Aquilo lá nãoé vida, não”, relata, referindo-se aos trêsanos em que teve que se prostituir paragarantir o sustento da família.

* Da Redação.1, 2 e 3 Nomes fictícios.

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Encerrado o primeiro embateentre o governo Sarkozy e os mo-vimentos sociais, a direita come-morou o esvaziamento das gre-ves enquanto a esquerda celebroua retomada dos protestos. Osnove dias de greve dos transpor-tes públicos, um dia de paralisa-ção dos servidores de ensino, fis-cais da receita, dos controladoresde vôo e dois movimentos de pro-testo de estudantes e advogados

alteraram a vida na França em novembro.Longas caminhadas e bons minutos depedaladas foram os únicos meios de des-locamento para muitos moradores da Ilede France, a região metropolitana de Pa-ris. O Ministério da Economia francêscalculou um prejuízo diário de 400 mi-lhões de euros. Se o número estiver cer-to, foram mais de 3 bilhões em prejuí-zos. O movimento grevista, que apresen-ta como bandeira a recuperação do po-der aquisitivo, tem como principal alvoas reformas que o governo de NicolasSarkozy se empenha em promover.

Investida liberal

Na perspectiva do presidente a metaé um maior dinamismo na economia in-terna. Dos condutores de trem preten-de acabar com a aposentadoria especial,ampliando o tempo mínimo de contri-buição (que dá direito a aposentadoria in-tegral) de 37,5 anos para 40 anos. Períodoque se aplica hoje à maioria dos trabalha-dores franceses. Eliminar as aposentado-rias especiais virou símbolo das grandesreformas e está na pauta dos pontos nãonegociáveis pelo presidente. Para o sis-tema de ensino as reformas prevêem aca-bar com as aulas aos sábados o que im-plica em redução direta dos ganhos dosprofessores que atualmente recebemuma bonificação pela atividade. No ensi-no universitário a empreitada governa-mental dá conta de uma reforma no sis-tema de financiamento das universida-des (Lei Précresse) que assegura o in-gresso de recursos privados. Outro pon-to chave para o plano Sarkozy está no sis-tema de saúde pública onde as ações co-meçam por eliminar o credenciamento

automático dos médicos recém forma-dos. Na perspectiva do governo, tais re-formas significam reduzir o custo da má-quina pública (são 5, 2 milhões de servi-dores), isso quer dizer diminuir o tama-nho do estado. Para Sarkozy, com as re-formas há como assegurar mais empre-gos e aumento de poder aquisitivo.

Na visão dos sindicatos e da esquerdafrancesa estas medidas nada mais produzi-rão que inserir a França na dinâmica liberaldo mercado internacional que, por sua vez,não tem compromisso com os direitosindividuais e coletivos. Aquilo que até hojedetermina um equilíbrio regulador entre aforça do Estado francês e a indomável eco-nomia mundializada viria por ruir deixan-do a economia local à mercê do giganteglobal. Aparentemente o que se vê é maisum round da longeva tensão entre os cam-pos políticos, mas num cenário em que osque comandam os países do continenteeuropeu são sensíveis aos projetos de pri-vatização. Na França, de um lado, um go-verno de direita trabalhando pela adoçãodas medidas liberais prometidas na cam-panha eleitoral e, de outro, a oposição deesquerda apresentando uma reação atra-vés de movimentos grevistas.

País partido

Todavia, há novos ingredientes nes-se processo. Desta vez o país que já es-teve dividido nas eleições presidenciais,se manteve divido em relação à greve dostransportes. Uma pesquisa realizada pelo

instituto Opinion way mostra que, ao con-trário das greves de 1995 quando 64% dosentrevistados naquela época estavamdescontentes com as medidas do gover-no Chirac e se mostravam sensíveis aosgrevistas, desta vez 58% estavam satis-feitos como a postura de Sarkozy de nãorecuar ao mesmo tempo em que questi-onavam a legitimidade do movimento.Sim, os franceses, que sempre foramtolerantes e simpáticos aos movimen-tos de protesto, agora estão divididos.Os transtornos causados pela greve dostransportes encontraram protestos emuita insatisfação.

O baixo índice de compreensão dosusuários se transformou no grande adver-sário dos sindicalistas que , numa articula-ção estratégica, tiveram que ir retomandoo trabalho aos poucos para acalmar a popu-lação contrária (no oitavo dia o movimen-to já apresentava uma adesão mínima de22,8% na SNCF, empresa que administra ostrens, e 16,4% na RATP, empresa que admi-nistra o metrô). E no primeiro sinal de ne-gociação suspenderam a greve. A ação dascentrais sindicais foi entendida comovitória do governo – o que inclusive ge-rou certa crise entre os dirigentes dostrabalhadores. Talvez a estratégia do dis-curso governista – que defende uma uni-ficação de direitos em relação às chama-das aposentadorias especiais – tenha aju-dado na constituição deste senso dequestionar a pertinência da demanda dosmaquinistas. Mas o que parece ter inco-modado efetivamente foram os proble-mas para circular no país, especialmenteem Paris. A falta de transporte coletivonuma cidade que dele é refém fizeram asperdas pessoais parecerem pesar maisque as questões de esquerda e direita.

Prevalência do egoísmo

Os problemas do indivíduo se fizerammais presentes que qualquer sorte dequestão coletiva. Até os líderes da es-querda mantiveram cautela ao se posici-onar sobre o pleito dos maquinistas. Ouseja, entrou em cena um comportamen-to que o sociólogo Edgar Morin havia aler-tado numa carta dirigida ao país em mar-ço, durante o primeiro turno das elei-ções: “o individualismo vem se transfor-mando em egoísmo”. Do ponto de vista

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Alexandre Kieling*

Nicolas Sarkozy

Greves na França: além do em

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do pensador francês, na medida em quea solidariedade, principal instrumento davida social do país, começa a se desinte-grar num mundo internacionalizado, regi-do pela ordem dos números, ou uma me-tamorfose se impõe, ou o sistema socialcomo um todo vai se desintegrar também.

Essa questão um tanto abstrata paraa materialidade das paralisações e das re-formas nos remete às reflexões maiscomplexas sobre as greves na França. O

cidadão que ocupava enquanto indivíduolugar no coletivo, cede espaço para aum tipo de cidadão egoísta, desenga-jado, desfiliado. Assim, longe de fes-tejar uma possível vitória de Sarkozyou mesmo celebrar a retomada dos mo-vimentos de protesto contra a via úni-ca do liberalismo contemporâneo, épreciso pensar sobre este isolamentodo individuo em relação ao coletivo.

*Jornalista e professor universitário.Exclusivo, de Paris, para a Idéias em Revista.Edgar Morin

blog.pucp.edu.pe/media/410/20061103-Morin.JPG

mbate entre esquerda e direita

O filósofo Gilles Lipovestky temdito que as grandes utopias coletivasforam substituídas por pequenas uto-pias, de grupos ou individuais, e to-das se baseiam num ideal de felicida-de e bem-estar imediato do eu. Quemexperimentou horas de espera nossubterrâneos do metrô parisiensepôde testemunhar reações que dizi-am respeito às preocupações particu-lares e imediatas de cada um. A dis-cussão sobre quem estava certo, o go-verno ou os grevistas, não foi a ques-tão central. O fato é que as paralisa-ções da França ensinam bem mais queum avanço de Sarkozy e suas refor-mas, ou de um despertar para a possi-bilidade de protestos em revanche aum percurso impertinente. Há novoscomponentes nessa sociedade mundi-alizada que exigem uma renovação daspráticas sociais e da própria política.

França dividida: de um lado os liberais de Sarkozy, de outro sindicatos e movimentos sociais contrários às reformas

Gilles Lipovestky

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Foto: Agence France Presse

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O presidente Hugo Chá-vez é descuidado e francono que fala. Usa, em sua re-tórica antiimperialista, metáfo-ras quase divertidas, como chamarBush de diabo. Mas não exagerouao qualificar o ex-primeiro-minis-tro espanhol José Maria Aznar defascista. Aznar, produto típicoda Opus Dei, que se reorganizacom novo alento na Espanha,sempre tratou a América Latinacom desdém. Em 2002, em Ma-dri, atreveu-se a dar ordens aopresidente Eduardo Duhal-de, da Argentina, paraque aceitasse e cum-prisse as exigênciasdo FMI. Reincidiuna grosseria, aotelefonar aBuenos Ai-res, logod e p o i s ,como um dono de fazenda tele-fona para seu capataz, a fim de deter-minar-lhe a assinatura imediata doacordo com o órgão.

Conforme disse o próprio ministrode Relações Exteriores da Espanha, Mi-guel Angel Moratinos, Aznar deu or-dens ao embaixador da Espanha emCaracas para que apoiasse o golpe con-tra Chávez em 2002. Com o presiden-te eleito preso pelos golpistas, o em-baixador foi o primeiro a cumprimen-tar o empresário Pedro Carmona, que,também com o entusiasmado aplau-so do representante dos Estados Uni-dos, tomava posse do governo, paraser desalojado do Palácio de Miraflo-res horas depois.

Não se pode pedir a Chávez que tra-te bem o ex-primeiro ministro espa-nhol, embora talvez lhe tivesse sidomelhor ignorá-lo no encontro de San-tiago. Mas, como comentou, na edi-

Internacional Juan Carlos foi imperial e grosseiro ao mandar Chávez calar-se

A arrogância colonialistaMauro Santayana*

ção do El País (de 11 de no-vembro), o jornalista PeruEgurdide, há um crescen-te mal-estar na América La-tina com a presença econômica espa-nhola, identificada como “segundaconquista”. A Espanha opera hoje ser-viços como os bancários, de água, ener-gia, telefonia e estradas, que não sa-tisfazem os usuários. Ainda na noitede sexta-feira, em reunião fechada,Lula e Bachelet trataram do assuntocom Zapatero, de forma veemente –longe dos jornalistas.

Mas se Chávez, mestiço venezuela-no, homem do povo, fugiu à lingua-gem diplomática, o rei Juan Carlos foiimperial e grosseiro, ao dizer-lhe quese calasse. O rei, criado por Franco, temdeixado a majestade de lado para in-tervir cada vez mais na política espa-nhola - conforme o El País critica emseu editorial de ontem. Em razão dis-so, as reivindicações federalistas dospovos espanhóis (sobretudo dos cata-

lães e dos bascos) se exacerbam e indi-cam uma tendência para a forma repu-blicana de governo. Pequenos episó-dios revelam o conflito latente entreos espanhóis e seu rei. Já em 1981,

quando do frustra-do golpe contra oParlamento Espa-nhol, o comporta-mento de sua ma-jestade deixou

dúvidas. Ele levoualgumas horas antes

de se definir pela legalidade de-mocrática. Para muitos, o golpe

chefiado por Millan del Boschpretendia que todos os poderesfossem conferidos a Juan Carlos,em um franquismo coroado.

Os dirigentes latino-america-nos tentarão, diplomaticamen-

te, amenizar a repercussãodo estrago, mas o “calaa boca” de Juan Carlos

doeu em todos os homenshonrados do continente. O rei

atuou com intolerável arro-gância, como se fossem os

tempos de Carlos V ou Filipe II. A lin-guagem de Zapatero foi de outra na-tureza: pediu a Chávez que moderassea linguagem. Como súdito em um regi-me monárquico, não pôde exigir de JuanCarlos o mesmo comportamento – o queseria lógico no incidente.

Durante os últimos anos de Fran-co, a oposição republicana espanholase referia ao príncipe com certo des-dém, considerando-o pouco inteligen-te. Na realidade, ele nada tinha debobo, mas, sim, de astuto, vencendooutros pretendentes ao trono e assu-mindo a chefia do Estado. Agora, noentanto, merece que a América Latinalhe devolva, e com razão, a ofensa: émelhor que se cale.

*Jornalista. Originalmente publicadono JB de 12 de novembro de 2007.

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Internacional No mundo corporativo, energia é o que importa, não os direitos humanos

A Birmânia que a mídia prefere ignorarMário Augusto Jakobskind*

*Jornalista.

Muito se tem escrito e falado sobrea Birmânia, ou Miammar, um país asi-ático assolado por uma Junta Militarque trata o povo a ferro e fogo. O país érico em reservas de gás natural. Mas,pouco se fala de um fato relevante e quepode ajudar a matar a charada relativaao que acontece naquelas bandas.

As reservas de gás natural são con-troladas pelo regime ditatorial em so-ciedade com a multinacional petrolí-fera estadunidense Chevron, a compa-nhia francesa Total e uma outra em-presa petroleira tailandesa. A Chevron,para quem tem memória curta, tevepor muitos anos a seu serviço madameCondoleezza Rice, a poderosa Secretá-ria de Estado de George W. Bush. Riceera tão poderosa naquela multinacio-nal que, em sinal de reconhecimentopor serviços prestados, chegou até a serhomenageada com o seu nome em umnavio petroleiro da empresa. Gente finada Chevron é outra coisa...

Vale assinalar ainda que o gás na-tural extraído das plataformas em altomar é mandado à Tailândia através dooleoduto birmanês de Yadana, oleo-duto este construído com mão de obraescrava, obrigada a escravidão pelo re-gime militar do país. Não é segredonenhum o fato de figuras notórias dacúpula do governo Bush ter vínculoscom a área petrolífera, inclusive o pró-prio presidente estadunidense. O viceDick Cheney nem se fala. Este falcão,uma figura nefasta e sem escrúpulos,como Paul Wolfowitz e outros do gê-nero, agora prega a radicalização con-tra o Irã. Os grupos a que ele é ligadoprovavelmente estão de olho nas ricasreservas iranianas.

As sanções que os Estados Undiosadotam contra a Birmânia ou Miam-mar, desde 1997, são, de fato, apenas

para constar. Revelaram-se inócuas,pois nada mudou por lá em matériade violação dos direitos humanos. De vezem quando, a partir do momento que opaís asiático volta às primeiras páginas, aCasa Branca lança uma nota para enga-nar os incautos, pois no fundo, bem lá nofundo, endurecer de fato contra o regimemilitar não é lá muito conveniente. Afi-nal, negócios são negócios...

Como naquele país asiático, a Che-vron está com a bola toda, qual o inte-resse de Washington em mudar? Cla-ro, chega um momento que até padri-nhos como Dick Cheney ou a madameque tem o sobrenome em um naviopetroleiro da Chevron têm que mudarde discurso, até por uma questão eco-nômica. Em outros termos, há momen-tos em que regimes como a Junta Mili-tar birmanesa tornam-se anti-econô-micos e precisam ser mudados. Às ve-zes demora um pouco, mas há momen-tos em que a reciclagem é absoluta-mente necessária. Aqui mesmo naAmérica Latina chegou um momentoque as ditaduras militares tornaram-se obsoletas e até os padrinhos esta-dunidenses tiveram que aceitar tal re-alidade. Livraram-se dos monstros quecriaram, haja vista Pinochet e até mes-mo o regime militar brasileiro.

Em suma, falar da Birmânia e do re-gime que lá impera fica incompleto senão for lembrado o fato de a ditaduramilitar ter estreitos vínculos com a Che-vron e a empresa petrolífera francesaTotal. E neste jogo, a China fica na es-preita, pois também tem interesses naárea e não quer problemas ali. Por estase outras, a Birmânia, sempre de repentenão mais que de repente, entra e sai donoticiário conservador, o tal espaço jor-nalístico que para ser melhor entendidoem termos editoriais precisa ser analisa-do à parte dos anunciantes...

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