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Antologia poética de um segundo de inspiração

Antologia Poética de um Segundo de Inspiração

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Antologia poética de um segundo de inspiração

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EDITORA MULTIFOCO

Rio de Janeiro, 2012

Antologia poética de um segundo de inspiração

R O B E R T O D A L M O

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EDITORA MULTIFOCOSimmer & Amorim Edição e Comunicação Ltda.Av. Mem de Sá, 126, LapaRio de Janeiro - RJCEP 20230-152

REVISÃO Roberto Dalmo

CAPA Roberto Dalmo e Natália Caruso

IMAGEM DE CAPA: Jeanne Hebuterne with necklace de Amedeo Modigliani

DIAGRAMAÇÃO Natália Caruso

Antologia Poética de um segundo de InspiraçãoDALMO, Roberto

1ª EdiçãoJulho de 2012ISBN: 978-85-7961-959-5

Todos os direitos reservados.

É proibida a reprodução deste livro com fins comerciais sem

prévia autorização do autor e da Editora Multifoco.

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Aos filósofos, poetas, pintores, cientistas e boêmios que precederam minhas palavras. Há

um pouco de todos aqui.

Aos muitos amigos e familiares que pacientemente leram e opinaram em cada

detalhe com carinho, e aos muitos amigos que não participaram do processo de elaboração, mas que são importantíssimos por existirem. Aos Filhos da Boemia, grupo muito sabido e

muito querido.

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SUMÁRIO

09_ Cortina10_ Amadas minhas 11_ Poesia da melhor amiga12_ Devaneios13_ Stella14_ Brasa15_ Comanda16_ Bueiro17_ A mulher perfeita18_ PARAJEANNE ou... “O Buquê”20_ Elas21_ Poema de todas as coisas22_ A quarta23_ Arpo a dor24_ Sob os Arcos25_ Solidão nº 226_ Água sagrada28_ Clichê30_ Tempos que até Márquez invejaria31_ Aroma33_ Necrófagos36_ 365 dias38_ Respiração39_ Poesia para um samba

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40_ Levianarte: poesia, filosofia e declaração de amor41_ Depressivamente estáticos43_ O silêncio e as palavras45_ Dedo mindinho46_ A pequena história de amor de Rafaela e um qualquer48_ Singela poesia para uma nádega esbelta50_ Numa manhã de Primavera51_ Maquinarização55_ Dada56_ Reinventação57_ Malbec59_ Reflexões inadequadas a um ensolarado domingo de Páscoa64_ Sinestesia sem tintas... ou o Pássaro de fogo66_ Transitoriedade humana70_ O Voo do Morcego72_ Algumas coisas deveriam ser eternas... 74_ Aborto Artísico75_ Aparências76_ Antologia poética de um segundo de inspiração

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Cortina

Aqui não está a Cortina que esconde a ALMAA manipulação fria da sociedade

A oposição do serA manutenção das aparências

A dor de viver

Aqui não está o perigo da originalidadeAs rédeas da moralidade

Muito menos as falsas esperanças

Aqui não está uma vida não vivida

Transparência e sutilizaPara saborear os doces momentos

sem a cortina...

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Amadas minhas

Viver apaixonado por três mulheres é possível?Uma possui a doçura, o mel, o charme, o borogodó

o quebrado que o capeta depositou sobre as ancas das mais inalcançáveis.

Possui o sentimento, o carinho e a ternura,o sorriso e a bravura de viver a nostalgia.

A outra... Ah... possui a originalidade, é extrovertidaé despojada, uma menina de olhos transparentes e cristalinos

mostrando a verdade do meu ser.A terceira é ela mesma... Eu gosto, e sem precisar adjetivar

Qual a graça de tanta incerteza?É a cabeça de poeta, que me permite deixar a dúvidaEram elas três, ou as três que eu enxergo em você?

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Poesia da melhor amiga

Ahh minha amiga mais queridaCura-me dos sofrimentos

Traz a pazDeixa-me com saudade

Me faz sofrerLinda toda

Deixa-me felizTraz a tona meus sentimentos

Deixa-me felizA cada instanteDeixa-me felizHoje e sempre

Minha bela

Cerveja

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Devaneios

...Doce loucura é o amorLouco sou homem que vivo para amar

Amor louco que faz sofrerSofrer que me faz chorarChorar que me faz viver

Viver nos faz amar...Um segundo depois

Só nos restará pedir um viva à desilusão Um viva e palmas à toda sedimentação que se instaura em

nossos sentimentosDeixando-os rochosos

Nossa mente a cada dia mais descrenteForte.

Transformando-nos todos os dias na podre figura humana que se degrada

Por medo de sofrer.

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Stella

A cada cerveja um poema que me aproxima de tiA cada tragada um suspiro que me revela a doçura de

tu’almaPensar o momento

Pensar a arbitrariedade da existênciaPensar e pensarMe faz existir?

Pensar e pensarMe faz indagar das belezas inexoráveis do mundo ao seu

lado?Pensar me faz atingir a essência

A essência poética que apreende o mundo minha e a existência...

Pensar, me faz ser.

Não porque pensando logo existo, mas porque pensandocreio no amor

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Brasa

O amor é como uma brasa que cai em nosso tapete.Em um momento teremos que retirá-la de sua posição

estáticaQual a melhor forma ?

Esperar que a brasa apague ou correr o risco de se queimarmachucando os dedos?

Haverá momento certo para limpar todo o ambiente?

O amor é a dúvida, a incerteza.É a luz e a escuridão

O breu no momento de maior reflexão.É a perda da racionalidade

Tão intransponível e tão venerada.

É a Loucura,Leve e doce loucura que nos leva à(a) vida.

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Comanda

Comanda minha vida, mulher amadaAbraça-me na relva de sua pureza, na beleza da mais límpida

seiva.Perco-me em seus braços!

Não é assim?Palmas!

Então como é?É terna, efêmera?

É a beleza e a doçura da mais cara mulata do cabaréÉ o preço de uma noite como amantes, sussurrando desejos,

declamando poesias...É a minha barba mal feita que carrega um sorriso frívolo

É o desejo em seu ventre ardente

Como uma piadaFaz rir

Da prazer Passa

Amar é simplesCusta apenas alguns réis.

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Bueiro

Cheiro pútrido da libertinagem libertaMomentos de luxúria que ludibriam minutos da existência.

Sol de 40° ao meio dia e a necessidade do artista de criarProcurando nos subterrâneos mais profundos a sua próxima

criação.Ofuscado pela beleza mais triste de amar uma nova mulher

ele entra pela porta dos fundos.

Viaja nessa experiência que desde muito cedo o consomeDiz - Um doze anos, por favor!

E assim Tenta aventurar-se na mais nova e antiga odisseia.

A coragem lhe falta.Então ele continua vivendo a genialidade das mais nobres

aventurasContinua a sonhar com o dia que não lhe faltará a coragem

E enfim encontrará sua maior obra.Talvez não debaixo de um sol de 40° ao meio dia

Talvez não sob a podridão da luxúria barataTalvez não sob o bueiro mais pecaminoso da cidade

Mas no colo da mulher amada.

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A mulher perfeita

A mulher perfeita não precisa de tanto quanto ele já tivera dito

Precisa apenas de uma relação simétrica entre os dedos do pé estabelecida a 45º de inclinação

Uma leve cor rósea nas bochechasUm pescoço sensual que mostre sua graça e que possa

suavemente ser mordido e acariciadoPrecisa de uma doce felicidade expressa no sorriso

E uma amarga tristeza expressa no olharPrecisa ter uma beleza amável e uma destreza de amante

francesa. – Não conheço as amantes francesas, mas falam tão bem que não podem estar mentindo.

Precisa de um ouro no olhar retratado por Klimt Precisa trazer a art nouveau com sua a simplicidade e

complexidade todo o dia em nosso amor

Ela deve ter e uma voz encantadora e sussurrar-me sublimes palavras

Ela deve me faz suspirar. Ao ser atingido por uma simples gotícula de chuva

Deve me faz largar tudo e pensar na existênciaSer a caça e o caçador das noites embriagadas

Ela precisa ser,e assim sorrir.

Dar a felicidade, e mesmo que morra um diaviva e ame.

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Precisa amar e crer.

No fimEla não precisa de quase nada...

A mulher perfeita se faz perfeita no olharA mulher perfeita é, e isso basta!

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PARAJEANNE... Ou O buquê

Eu não conseguiria pintar-teNão conseguiria transpor para uma simples tela

todo o brilho presente em teu olhar,Toda a paz de seu sorriso

Toda a luz de sua face.

Nem se fosse Modigliani!Não conseguiria retratar seu tom de pele enlouquecedor

Seu beijo de poesia, seu doce aromaO mais apaixonante de todos os aromas já sentidos.

Seria impossível Mesmo dotado das melhores tintas, telas, da mão mais

habilidosa, e de dez mil dias ao seu lado!

Não consigo, e simplesmente não consigo.Vou guardar-te apenas em meu coração.

Faço apenas um buquê, tentando lembrar seu cheiroPor toda minha vida.

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Elas

Todas elas fazem poesiaErrantes, audaciosasBrilhantes, formosas

Como uma marchinha de carnaval

Em poucos segundos todas fazem meu coração pulsarFortemente pulsar!

Despertam-me uma doce nostalgia e arrancam bruscamente um sorriso de meu rosto.

A forte batida no peito acelera a respiração e eu digo:

-Vamos cantar!

PulamosUnimos nosso suor

Atritamos nossas rótulase passa...

Como a gota de orvalho de uma quarta feira de cinzas

Voltemos pra vida, pois a boemia é um luxo para os finais de semana!

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Poema de todas as coisas

Todos vivem Mas só os poetas tiram versos da mais simples badalada

de um antigo relógio.

Todos vivemMas só os poetas enxergam o toque de algodão doce nas carregadas nuvens de um fim de tarde de um dia de calor

Todos vivemMas só os poetas transmutam seus sofrimentos em doces

palavras ao invés de se romperem em prantos.

Todos bebem a sagrada cerveja gelada do fim de semanaMas só os poetas trazem a cada porre versos de esperança.

Todos vivemMas só os poetas

Vivem!

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A quarta

Dalí me olha em mundos imagináriosFaz todos meus pêlos do braços ficarem eretos

Coração disparado, como no clímax do Bolero de RavelComo durante a melodia do Trenzinho Caipira

Como o mágico momento de encontro das almas no distanteespaço de (in)consciência a dois

A luz que incide sobre seu brinco me lembra algo...Não, a perfeição não foi criada. Ela é, simplesmente é.

Um dia de carnaval, uma manhã de domingoA lembrança mais pura da longínqua e adjacente infância

O forte atrito de coxas que se entrelaçamSe unem em frenético ritmo meio frevo, maracatu,

candomblé.

És tu, a quarta! Talvez a de Cinzas

E o sorriso finalNada desperta mais a emoção do que um doce sorriso.

A perfeição é!

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Arpo a dor

Solidão à tarde Num vivo e ensolarado sábado de carnaval

-Estarei mesmo sozinho?Forte brisa bate em minhas costas e o pensamento voa

Vai longe Distante

Me leva a mundos desconhecidos, talvez esquecidos

O som de um trio chama a presença da ausente amadaO som do mar invade minh’alma e traz a essência de um dia.

Só?

Acompanhado de lembranças,Pensamentos,

Paixões...Barco que passa seguido de gaivotas e levando peixes e para

o mercado

E eu, entre a pedra e o marLendo meu Neruda e vagando

Em pensamentos de águas verdes e calmasEm uma tarde de amante.

Amante do que sou, ou do que estou sendoPoeta do instante e de tardes infantes

Tudo issoEntre a pedra e o/a mar.

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Sob os arcos

Arcos do amor num sonho de carnavalAo som das mais antigas marchinhas

O poeta renasceEscreve momentos

Leves e brevesTrazem à luz do meu dia

Uma mistura verdadeiramente brasileira Cachaça e fumo!

Te encontrei Meus olhos brilharam ao anoitecer

Sigo e penso em ti.

Em nossos momentos ao lado de bons amigosVivo o mais límpido e sincero

Aquele que faz do dia minha noite e da noite ouro reluzente.

Sou feliz E sei

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Solidão nº 2

E mais uma vez a solidãoA volta pra casa é a angustia do momento final

Agonia e dor

Num dia, a luz de uma criança brincandoNoutrora a explosão que devasta corações e o enche de

mágoas.Um misto de agonia e êxtase que vai sutilmente

preenchendo o vazio com lembranças de uma vidavivida de verdade!

Caminhamos nessa incansável bateriaPierrôs passando, procurando por sua Colombina,

Palhaços brincando E o rei cobrindo de brilho e alegria o comando do carnaval

E as pessoas?Elas apenas passam

Em um momento de tristeza e alegria Agonia e êxtase.

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Água sagrada

Talvez eu não quisesse sair desse limboTalvez tudo que precisasse fosse um dia na escuridão.

Músculos imóveis, pensamento fracoRotações tão baixas que quase param no tempo

Faz minha alma se transportar para outros mundosSurrealistas? Imaginários?

Não importa!Por outro lado, talvez eu realmente necessitasse do breve

segundoDo cheiro de marisco queimado invadindo meu olfato.

Mesmo assim queria a vida estática dos piores vagabundosOs que não vivem, não produzem, não pensam e não são!

Só por um dia!

Quando nem isso for possívelHei de me contentar com apenas algumas horas dessa

desejada vida pífia

Em seguida Viver

Para poder expressar em arte a felicidadeCaminhar a beira-mar

Sentir o ventoO tão incomodo cheio de marisco

Ver as belas e importantíssimas nádegas das garotas que passam

e sorrir! sentido-me vivo.

Com o coração vibrante

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Sorrir e pensar Vale a pena

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Clichê

Sim, o brilho do sol foi depositado no seu olhar.Clichê? – realmente, há anos todos falam dos brilhos das

estrelas! Mas o sol não é qualquer estrela! Sem ele não haveria vida,

nem noite nem dia.

Impossível é que a cegueira não tome conta do meu ser. Ficar fronte a ti, encarar-te,

olho no olho, sem óculos escuros e muito menos filtro solar.

Tudo isso é viver o segundo que antecede a total perda de racionalidade.

Cegueira dada pelas trevas do pensamento. Logo após,

breves instantes de luz intensa. E tudo isso no seu olhar.

Paixão em poucas palavras,algumas doces, simples e sutis, outras nem tanto...

e um olharamante, brilhante, muito brilhante,

ofuscante!

A paixão e o amor de centenas de anosconcebidos em uns instante,

e o riso histérico e sem motivo nenhum toma conta de todo o ambiente.

Surgem o medo da ausência, e devaneios! Tudo isso porque o amor

é o andar sobre as nuvens para morder a lua

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e ainda esperar que ofereçam goiabada.é a chuva num dia quente de verão, e

ao olhar pro alto ver o arco-íris. Ainda assim esperar que ofereçam o pote de ouro.

E em nano segundos,a cegueira do olhar

há de curar toda a racionalidade de um beijo seu.

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Tempos que até Márquez invejaria

Ela é meu amor nos tempos de cóleraRelação inabalável e inigualável

Paixão

Ela é fogo presente em meu peitoArdendo e curando feridas como os querubins, serafins, e

muitos ins que cuidam do nosso frágil coração.

Ela é a corda bamba e o exercício de constante equilíbrio.A discórdia no momento da falaO caos no momento da criação.

Essencial, solene, esplendorosa!É a brisa, o mar, a lua, o ar, olhar,

e tudo isso na intocável pele de mulher.

Sedosa como a pétala de rosa, macia como a pluma dos mais seletos gansos da linha de produção de travesseiros

para a mais alta nobreza.

E tudo isso longe de mim!

E em tempos de cólera que até Garcia Márquez ficaria pasmo.

Espero que dure apenas alguns diasQuem sabe algumas horas?

Para que possa em um tempo muito breve Afogar-me em seus lábios macios e úmidos

E morrer de paixão

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Aroma

Corre corre!Veja só!

A chuva está chegando e com ela vem um turbilhão de sentimentos

Dor, amor, solidão, amizade, e muitos outros.Sendo sentimentos ou não,

quando a chuva chega, eles se tornam.

Tornam-se pensamento ao olhar pela janela e ter a lembrança nostálgica.

Acho que sempre que olhamos pela chuva na janela nos lembramos de nossos nove anos.

Ao sentir aquele doce aroma de terra molhadaQueremos pular, brincar, cantar...

Mas nada isso é possívelSomos adultos

Em um escritórioO cheiro de terra molhada se mistura intensamente

Aroma de papel e tinta de impressoras, caféA leve música que soava nos ouvidos acompanhando o cair

constante da chuva tornou-se gritosA doçura da criança tornou-se a distante lembrança.

Talvez por isso a cada chuva a esperança volte.

Um dia serei criança, novamente e brincarei com a terraaté que por ela digerido serei.

E serei

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parte o sonho de muitas outras pessoas.Ao ver a chuva, e sentir o doce aroma de terra molhada,

terra que farei parte.

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Necrófagos

E nós, seres humanos, dotados de telencéfalo altamente desenvolvido e polegar

opositorfomos feitos para amar.

Quem diria, a grande ironia que seria o dia, aquele que corria

esbaldando-se em uma vida vadia e em um breve instante

deleitar-se-ia da mais gostosa agonia.

A paixão!

O primeiro amor é o desesperoO mais puro anseio do coração

Pulsante no peito e brilhante em olhos de diamante com dureza de

Talco.

Tão superiores, nós humanos. Tão vulneráveis.

O segundo amor, talvez já tenha um brilho de ouroPode ser como a marcela, que amou aquele nosso colega por

alguns contos de réis, ou muitas outras “ela”s que transcenderão os quinze meses,

mas não acredito que irão transcender aos contos de réis.

E tudo termina, novamente O terceiro amor, quarto amor, quinto amor,

tudo se renova.

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No final estamos nós.Simples assim, vulneráveis assim.

Quem diria, nós humanos,dotados de telencéfalo altamente desenvolvido e polegar

opositorteríamos nossos orgulhos e nossos fracassos em algo que

nem tocado é.Quem diria, caro amigo,

gozamos por conquistar o mundo, mas não domamosnem mesmo nossos sentimentos

Somos vulneráveis!

A comédia dos sentimentos inicia-se pela não compreensão,pela necessidade do consolo irmão e pelo pedido, e por

muitos poemasao longo de muitos anos que utilizam-se de “ao” para rimar

com coração. Que devaneio romântico é apaixonar-se por algumas

palavras!Sim, acontece.

Somos vulneráveis!

Dias e noites e as palavras envolvem o coração, já não dominávamos nossos sentimentos,

agora dominamos muito menos.As palavras chegam, nos arrancam sorrisos, os transmutam

em lágrimas,e nos da a sensação de ter vivido.

Muito, e além!Em momento seguinte não há paixão, não há amor. sofrimento e dor, ingratidão e talvez um pouco de

compaixão.

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Às vezes nem isso. Sofrimento e dor, e pronto!

Somos vulneráveis!

Mas há de chegar o dia em que dominaremos nossos sentimentos

em uma racionalidade ímpar.Nesse dia talvez falte ar,

talvez o sangue não corra,talvez os pequenos e desprezados seres decompositores

estejam láe vejam, o dia que os seres superiores

dotados de telencéfalo altamente desenvolvido e polegar opositor

estarão dominando seus sentimento! E de camarote eles presenciarão tal momento enquanto

deliciam-secom nossos restos mortais!

Tudo isso porque somos vulneráveis!

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365 dias

Existe sensação melhor no mundo?

Estar apaixonado é melhor do que amar!Estar apaixonado é deixar o coração pulsar mais forte

As pupilas dilatarem Sem esquecer do importantíssimo sorriso

Para mostrar que você está realmente apaixonado é preciso sorrir.

Sorrir para todos e todas Mas muito cuidado!

Sorrir para todas é perigoso, pode despertar a irá da mulher amada.

Ciuminho bobo de amanteA paixão é o cálice de vinho do tempo presente e o devaneio

latente.Racionalidade de embrião Digo mesmo que é bom!

Queria eu me apaixonar 365 dias por ano e 366 em anos bissextos.

Entregar-me, viverNão deixar que o medo tome conta

Queria eu, que dentre esses 365 dias e366 em anos bissextos, houvesse um dia para o amor.

Provavelmente seria 1º de abril. Mas se não encontrar, que venham os próximos 365 dias

e 366 em anos bissextos. A paixão é o amor de um instante

Contada por um navegante

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Marinheiro destemido que viaja os sete mares em busca de terra firme.

Vaguemos pela infinitude dos oceanos!

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Respiração

Amor amante, tão perto e distanteEm tragos e trovas tramoNosso momento adiante.

Trancado, trancafiado, em transe.tramo.

Viajando e transitando, pelo instante em que se torna impossível qualquer

movimento....

Respiração profunda, peito acelerado, sensoriedade, sensibilidade.

O despertador toca

Ainda imóvel continuo....

Aos poucos...

Sinto meu peito desacelerando, pelos, e a respiraçãovoltando ao normal

músculos descontraindo, levemente...

A doce capacidade de admirar tão breve momento com

olhos de eternidade.

Apreciar o êxtase não é para qualquer um, mas olhos de poeta bastam.

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Poesia para um samba

Não há nada mais democrático do que o samba!O negro, o branco, o rico o pobre.

Recital de versos ritmados A gênese da sinfonia do morro

Do povo, da nossa gente!

Invade a alma e mexe com o serE logo, tomado pelo espírito do bom malandro

O corpo desfruta da beleza que é o samba.

O samba é amor em melodia a paixão em harmonia

um batuque em alegria.

Alegria de povo sofrido e cheio de esperançaexaltado em notas acordes e fé

muito batuque, gira e axé.

Terreiro da paixão, que no conforto do coração

faz transparecer toda emoção!Saudando a cultura negra que mostra

o dom que o samba tem,Trazer felicidade onde mora agonia,

fazer chorar de nostalgia E lembrar que pra viver é preciso só alegria!

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Levianarte: poesia, filosofia e declaração de amor.

LevianartelevianaRepita diversas vezes, deixe o som invadir seu corpo

e me digaSeria mesmo a vida uma incoerência?

Quem estabeleceu o que é coerência para que possamos classificar

A vidaLogo ela

Tão...Tudo.

Achou banal? pense outra palavra que expresse melhor a vida.

Sem a vida não haveria homem que não haveria pensamento que não haveria reflexão que não haveria

coerência.

Então, logo existo e, porque existo penso ou vice versa.O homem fez a coerência,

logo ele, imperfeito que só, estabelece alguns padrões e fala-Isso é coerente! -Isso não é!

A vida realmente é uma incoerência na sua coerência humana.

Talvez seja uma incoerência porque algum dia tentaram achar uma coerência.

Inexistente, porque a exceção é a coerência.

Sorte que tenho meus amigosCom eles posso afogar as mágoas de tanta razãoEm um mundo que só precisa um pouco mais

de sentimentos.

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Depressivamente estáticos

Sem as mulheres nós não nasceríamos Muito menos seríamos.

Mas, se por alguma aleatoriedade do destino, ainda houvesse vida não haveria o doce aroma das rosas

o canto dos pássaros não ecoariaE o dia passaria mais rápido porque o sol não teria pra quem

olhar.

Sem as mulheres não haveria arteE se houvesse - Meu Deus!

Não teria 1/3 da beleza.

Os quadros não trariam paixãoPorque a paixão, dessa forma, não seria reconhecida.

Seria apenas um “gostar muito”No meio de tantas cores e formas não estaria aquele olhar

penetrante.Seria apenas um pequeno brilho nos olhos

Nada demais.

Sem as mulheres não haveria música,e se houvesse, seria chata

falando apenas de natureza, quem sabe de algumas divindades

só!

Nunca chegariam na essência

Sem as mulheres faltariam razões para viver.Faltaria o ímpeto para descobrir a essência se é que existe a

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essência.

Sem elas seriamos um barco vagando na infinitude do oceano

Sem destino e sem paz.Inevitável amar e adorar criatura tão divina

-Algumas nem tanto, realmente.

Sem as mulheres não haveria poesia.Que mundo triste esse, sem uma bela razão para escrever?

A rima só seria dissaborE o verso, coitado.

Não seria amor,nem desamor, humor, fulgor, e muito menos calor.

Esse que deveria ser definido como Fluido exalante do peito das mulheres,

com a capacidade de invadir o coração alheio e contagiar.Instantaneamente.

O verso seria como a pálida folha do outono.Porque sem as mulheres, não haveria primavera.

Não haveria o doce e o amargo, o ser nem o não ser.Não haveria mais nem menos.

Não haveria o devir.Seriamos todos depressivamente estáticos

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O silêncio e as palavras

A maldição do egocentrismo é o prazer da solidão.Momentos em silêncio fazem com que a existência seja

curada.Doente é a humanidade

comunicativa e ambiciosaAcredita realmente num progresso barato.

Comprado no botequim da esquina pra acompanhar a cerveja da sexta.

É necessário que chamem o curativo, por mais estranho que possa parecer.

Necessário mas praticamente inalcançável. É ele sim, o silêncio.

Quem diria que ao falar simples palavrasum jogo de poder começa a ser traçado.

Questões ditas vão além do quem, por que, onde, e pra quem disse.

Fortes debates me instigam a pensar nos simples momentos de solidão.

De repente uma vontade me domaO jogo começa, tento falar

Brevemente sinto que algo inibe a palavra. Será que a poesia poderá fazer com que esse jogo se dilua?

Tudo isso poderia acabar ou nunca ter começado? Bastaria simplesmente a solidão tomar meu peito

o silêncio gozar minh´almaE imediatamente as palavras morreriam.

Todas, absolutamente todas.

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Trazendo o querido silêncioReduzindo a hipocrisia

Quem disse que eu consigo?Comunico-me pra viver, e vivo por me comunicar

Diria mais e alémO silêncio é tão o oposto da vida quanto a morte

O silêncio faz com que a mais bela flor de um jardim de primavera murche

E nós, simples aprendizes Jogamos o jogo

Dominamos as palavras Transformamos tudo em arte.

A arte cala o silêncio e dá sentido ao serViva esse mundo mesquinhamente comunicativo.

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Dedo mindinho

Hoje me peguei pensando em você.Provavelmente estava no meio de bilhões de pensamentos

Digo que só me dei conta porque tomado por tamanha distração fui surpreendido por uma forte dor de batida.

Meu pé tinha acabado de travar uma batalha sangrentaDedo mindinho versus pé da cama.

Não preciso dizer quem ganhou.

O que importa é que a dor me fez lembrar. Distraidamente pensava em ti

Não com pensamentos megalomaníacos e muito menos com devaneios românticos

Mas com um carinho que toma o peito e invade a alma

Amor maior é aquele que não se perpetuaE está sempre na segura distância que o torna eterno. O devir transforma-se na inalterável e sólida certeza

É a inconstância, a loucura e a clareza,É a dor do não viver

Muito maior do que a topada no pé da cama.

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A pequena história de amor de Rafaela e um qualquer

É ela Gabriela, de todas a mais belasaborosa e donzela,

que me tira da capela enganando o sentinelae me leva a uma ruela trocando-me em passos Eis que estava Rafaela, a mais linda da favela,

que já fiz em minha tela seu olhar de Cinderela. Com ciúmes foi aquela que o sapato atirou em minha

costela.

E acertou, viu!Falando assim

- “Larga essa cachaça, seu safado”!

Minha dama da favela pediu para largar “ela”, a donzela, a mais gostosa, Gabriela.

Mas eu não! -“Se largar a Gabriela, trocar-te-ei por uma dama bem

singela”.E Rafaela sentiu-se ameaçada!

Parou de bater panela.

Aceitou a Gabriela, a cachaça mais gostosa.E disse

-“Traga-me uma de siriguela, já que a sua é de cravo e canela!

Prefiro perder-te pro álcool do que pra todas ´elas´, de todas as zonas da favela”.

E ambos embriagaram-se E amaram-se

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2002 noites sem parar Isso da aproximadamente 5 anos e 177 dias, sem contar os

bissextos

Morreram de cirrose hepática, sim!Mas se amaram por bem mais tempo do que Romeu e

Julieta.Fim

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Singela poesia para uma nádega esbelta

Nádegas esbeltas foram construídas com grande destreza Todas as mais belas se encaixam perfeitamente na geometria

Não Euclidiana.Descrevem formas sinuosas,

levam boêmios ao delírio desde bem antes da invenção do carnaval.

Tristes eram os cubistas retratando-as retas realmente muito pouco desejadas.A história teria se escrito diferente

se ao invés de serem influenciados pelas máscaras africanasfossem influenciados pelas quentes negras

que vieram para o Brasil toda sua formosura Seria o ápice das Belas Artes

se a grande odalisca mudasse o seu ângulo de inclinação Ingres teria feito muito mais sucesso!

E digo mais,se seu violino fosse um pandeiro soaria muito mais

harmônico,muito mais brasileiro!

Seria um samba erudito de batidas sincopadasSeria a passagem da garota de Ipanema, e de todas as outras garotas de Ipanema,

vindo do Leblon e indo à Copa, desfilando,

simplesmente desfilando.

Depois uma leve subida no Arpoador, para alegria geral da Nação.

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Ela exibiria a maior beleza da humanidade.tão bela, que nem Pablo resistiu.

Fugiu de suas formas secasem apenas quatro traços a eternizou.

E ratificando a máxima Viniciana,as sem bunda que me perdoem, mas nádegas são

fundamentais.

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Numa manhã de Primavera

Pulsa Cálido, pálido, sempre presente.

Árido, válido, vibra latentePulsando, pulsante, perto, distante

seus olhos, meus olhos,amor tão instante

Brincando, levando, marcando, amando.

Pulsae

Para

lento, vagarosamentePara

Digo que é a primavera, a primazia da paixão.

Ironicamente Meu coração que pulsava em busca do desabrochar das flores

já cambia entre o pulsar e não pulsarPara

Na primeira manhã de Primavera

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Maquinarização

Troco facilmente uma noite pelos bares da cidadepor uma noite a escrever

O curto momento onde o Eu está comigo “mesmo” fingindo ser outro

Troco toda efemeridade de noites vazias pela profundidade das palavras

Tortas, calejadas, marcadas de historicidade.

Falar sobre temas já falados como amor, dor, solidãoamizade, ciúme, paixão

Falar sobre a liberdade do homem!

Sobre o pensamento...

Se é que existe outro lugar onde o homem é realmente livreeu não conheço.

Talvez em um picadeiro anarquista em um palco esquizofrênico,

mas não.Não acredito mesmo que a real noção de liberdade

transcenda ao pensamento.

Basta que nós, domados por nós mesmos, libertemo-nosBasta que nos afastemos de toda a prisão domiciliar existente

afastemo-nos das redes e conexões,do emaranhado de sinapses,

Afastemo-nos da mecanização do homem.

Para obter, enfim A liberdade.

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Temos instantes de escrita, voz, temos instantes de humanização na humanidadeonde nossa presença se faz realmente presente.

E nesse breve momentoEstamos amarrados.

Correntes de âncora nos prendem ao pé da camaIncessantemente tentamos cerrar elo por elo

da imensidão estrutural ao invés de apenas cerrar o pé da cama

madeira envelhecida, quebradiça, imperceptível.

A impossibilidade se faz e a liberdade foge de nosso ser antes mesmo de chegar à boca.

Foge e corre como uma criança que não conhece as maldades do mundo

mas que não aceita doce de estranhos.Foge rapidamente para onde ela possa se fazer presente

novamente.

Vai para o pensamento de muitos outros, Amantes calados

poetaspara o pensamento dos solitários.

Foge para o pensamento daqueles que aproveitam o pensamento

E escorre em uma fluidez muito pouco tensionada

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Escorre para outros enquanto o homem se faz máquina

E nesse momento incessante Maquinarização, amarraHumanização, amante

Um som de ferrovia invade a almae nos lembra, novamente

de nossa sofreguidão,De nossa ânsia por liberdade

Fluida que escorre por palavras,

armadilhas sociaissilábicas e sedentas e saturadas.

Armadilhas instauradasUm prego para cada braço e um para os pés

E a contemporaneidade repete de forma sutil o ritual

É o preço por tentar a liberdade em um mundo onde os pensamentos se transformam em palavras

e as palavras se transformam em um mundo

É o preço de tentar a liberdade em uma palavra onde o mundo se transforma em palavras

e as palavras se transformam em pensamentos

Espero apenas o dia em que o silêncio marcará a liberdade

Enquanto isso seguimos

Em bares, em noites de escritaem bons sorrisos, e choros marcantes.

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dia após dia com a consciência de nossas amarras, a invisibilidade do pé

da cama Sempre transformando

homem em máquina, máquina em homemE com medo do porvir.

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Dada

No meio do caminho tinha uma palavraTinha uma palavra no meio do caminho

A N

A R Q

U I

S M O

Às vezes ordem produz tanto sentido quanto a desordemInevitavelmente complementares

São estabilidade e progressoNecessidade e vida

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Reinventação

Que saudade do TempoDesde que paraste

Meu coração busca-te nas singelas batidas desritimadasProcura pela ordem, localização.

Estou perdido, mas a brisa que vem do martraz com ela a respiração ofegante

Minhas pupilas dilatam E não muito depois

A calmaria açoita todas as ideias ordenando-as e tornando-as improdutivas

pré-existentes

Nesse instante faltam motivos para escreverDe uma hora pra outra o mundo se tornou cinza e as loucuras pós modernas tornaram-se a razão

Razão do tempo presenteE tudo

NovamenteEstagnado

O bonito da vida é que ela se reinventaComo a lua, que em quartos Constantes e Contrastantes

É iluminada aparentando-se luminosaRetirando lágrimas das flores

e suspiro dos amantes

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Malbec

Em Travessia leve, ritmada, sensorialTravessia travessa transcende.Transcende o tempo, o espaço

A paixão, o bom gostoRequinte da boemia imperial

Resplandece.

Em compassos ordenados e sons desconcertantes Como o da flauta.

Transversal e o doce som da flauta. O Bandolim em melodias históricas

O retrato de amantes

Rio De Janeiro a Dezembro

O violãoEm Cinco linhas, uns compassos, sete cordas

Leva-nos a Mil Novecentos e vinte!Em um rio que

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Reinventa, renasce, rejuvenesce Recria, recanta, recresce, encantaretrata, relata, remexe, se espanta

corre em água e deságua em Choromorre e mágoa, deságua em Samba

reina vibrante ao som consoanteretumbante em peito infante

Em presente Rio se fazvida, fé e paz luz de velaluz da lua luz do RioReinante

Resplandecente

Agora vou tomar um gole desse vinho que está acima!Ouvirei chorinho e fumarei um bom charuto

Nesse delicioso e nostálgico clima

- Com licença, pois tenho muito a comemorar!

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Reflexões inadequadas a um ensolarado domingo de Páscoa

Não, eu nunca li poesiaEu nunca tive a ânsia de expressar em versos todo o respiro

Muito menos tive a paciência de retratar o mundo tão sem significado em palavras com menos significado

ainda

A poesia nasce, e nasceNão sei bem de que

Não sei quem é seu pai, sua mãeSeus avósEla nasce

Talvez ela esteja pré-escritaQuando meu lápis toca o papel ela já esteja pronta

Pronta pela aleatoriedade que move o mundoPronta pela complexidade

Pronta para que o mundo (que acredito que exista)Possa acreditar-me

Talvez ela nasça pelo medo do esquecimentoMensageira dos mais nobres sentimentos

Talvez nasça pelo medo da morteAssim como cinquenta por cento das “coisas” do mundo.

Metapoesia é o pensar racionalmenteSe dizem

Afastem a metafísica, agora todos devemos pensar racionalmente.

E então

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Utilizam-se da metafísica E num momento seguinte a apagam, e dizem

Ninguém passou por aqui...Aqui jaz a metafísica e reina o esplendor da lógica.

E digoSe fazem isso,

permitam-me utilizar da metapoesia antes de ir ao papelE ainda dizer que a palavra é polissêmica, logo

você irá pensar e pensar para descobrir o meu sentido de metapoesia

mas nada disso adiantaráNo final, muito cansado, irá utilizar o seu sentido e me

julgar.-louco, burro, despreparado.

Permita-me usar a metapoesia para pensar na morte depois a jogarei fora

Jogue-a dizendo apenas de razão se faz um cientista apenas de sonhos se faz um poeta

E mantenha esse mundo mesquinho

Jogue-a porque não queres ouvir sobre seu medo principal

O mundo dos podres morre de medo de apodrecerO mundo dos podres (por seu medo de apodrecer)

se veste

Cria-se um Deus, e um Deus cria Um podre, muitos podres

Imagem e semelhançaE o podre busca a nãopodrização de sua existência

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Daí indaga-se-Se Deus é minha imagem semelhança não sou podre.

Logo, o podre cria um não podre (criador) para se despodrizar

E talvez por isso, tenha um infame medoO de apodrecer

A criatura cria o criador que o doma e o da sentidoO podre agora passará a ser chamado de homem, para

melhor entendimento

Covarde, indagante, simplesmente homem.

Pela palavra somos modificados na essência, antes podre hoje homem.

Pelas aparências somos falsificados desde antes, talvez, da invenção do espelho

Eu estava lá para saber!

Essa fuga da realidade se faz tristeMas, triste se faz, por ser incompleta

e incompleta por ser triste

Graças à enorme racionalidade do podre, agora chamado de homem,

e graças à enorme capacidade de dominar tudo que o cercamenos sua própria existência

a soberania o deu um presente Talvez irônico, mas um presente

A memória

Sabemos todos os dias da vida que estamos um dia mais

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perto de nossa real aparência

Podres

Essa memória que a todo instante nos dizbom dia, boa tarde, boa noite

Como vai? Um pouco de melancolia?Seja ela com açúcar ou adoçante?

Ela nos faz ajoelhar para o invisívelAcreditar no sentido não sentido

Tudo isso por uma simples promessa dominatóriaou dominical

A salvação (leia como a despodrização eterna)

Essa memória de efêmeros nos faz buscar a concretudeNos faz buscar também a inconcretude para nos afastar do

concreto

Nos faz responsável pela vida e pela morte e nos faz ser

a todo instante diferentesNossa efemeridade bate na porta e diz:

-Não esqueça, você é só mais um

Aí fazemos arteBuscando a diferença

A eternidadeO prazer de brincar na e com a podridão

Rir

Como uma criança que sabe que cairá da escada,

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mas sobe assim mesmosó

pela diversão.

Cria-se Arte, e a Arte cria um podrecom algumas cores diferentes, disfarçado de menos podre

É o suficienteFicamos felizes e apodrecemos coloridamente em paz

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Sinestesia sem tintas... ou o Pássaro de fogo

Cabeças explodemTemperatura sobe falta a concentração

Choro choro choroDor

Cabeças se sacodem Falta emoção

Paro um segundo e coloco Bach ao fundo O clima barroco bastará para que o choro pare

para que a cabeça se regeneree para que a dor se refugie na América central

Sim, eu bebo demais - Me dê mais uma, por favor!

Com tanta dor não conseguirei pensar.

Parece que o clima barroco não foi o suficiente, a dor arde a pele

Suo frio.

Acredito que dissonância seja o suficiente para afastar a dorTalvez Stravinsky.

Sim, STRAVINSKYSTRAVINSKY É A SOLUÇÃO

É preciso que dor se mistureEm notas sobrepostas.

É preciso que a dor se transforme em melodiaDoce, alegre, contagiante e ao mesmo tempo

Desconcertante.

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É preciso um pouco mais de Stravinsky em nossa vidaE que a condução se faça como um pássaro de fogo.

O pássaro de fogo

Que a vida brote.

Mais STRAVINSKY

MAIS STRAVINSKY

M-A-I-S -- S-T-R-A-V-I-N-S-K-Y

SSSSSSS TTTTTT RRRRR AAAA VVVVV IIIII NNNN .SKY!!!!!!!!! (Palmas)

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Transitoriedade

A todo instanteReflita, reflita, reflita!

Superemo-nos

Refletindo que nessa noite descobri que sou poetaEndeusando pré-socráticos

Enaltecendo a anarquia. Decretando a morte de Ricardo

Também percebo que não falo de verdadesDevemos nos afastar da busca pela verdade

E nos afastando da busca pela verdade nos tornaremos verdadeiro

Incoerentemente verdadeiros Ó vil e frágil Ciência

Iludindo-nos com a falsa liberdadeCom a falsa noção de conhecimento

Eu Não me encaixo. Simplesmente,

Eu não me encaixo.

Não tentem impor parâmetros, definir gruposNão tentem fazer com que eu perca a potencialidade de

meus pensamentos e troque-a por rótulos simplórios.

Talvez a arte permita-me o não encaixe

AHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHIAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAA!!!!!!!

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Agora tudo faz sentido, sim me encaixo!Me encaixo no pequeno grupo dos que não se encaixam!

Viciado em não ter vícios Pensando-me e repensando-meE a busca se faz a todo instante

Inventando-me, reinventando-meDo animal ao Éter

Todos os dias, todos os segundos

A arte permite-me o não encaixeFalso não encaixe, mas permite-me

Se perguntam-me se estou ocupado falo que a todo instante estou ocupado

Se não estou ocupado, ocupo-me estando ocupado em estar desocupado

Afinal o tempo ocupado cansa-me, e o que seria de mim sem um tempo de desocupação.

Desocupação necessária para ir do animal ao ÉterTodos os dias, todos os segundos

AHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHH AHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHH

Mas agora que me encaixei no grupo dos sem encaixe me sinto mais Humano

Não vou do animal ao Éter

Fico demasiadamente no meio termo

Posso até pedir a um historiador que faça meu rótuloApague minha complexidade

Faça-me um ser simples, que pode ser descrito em palavras

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que serão lidas de forma simples

Faça-me uma reta, caro amigo.Uma reta que apesar de sua infinitute de pontos é apenas

uma reta

Já posso pedir para um estudioso das grandes Artes apague meu pensamento

Interpretando minhas ideias com as suas ideias, vivências Com sua cultura.

Posso pedir que coloque seu óculos embaçado para ler meu ser e acredite.

PROFUNDAMENTE, ACREDITECEGAMENTE, ACREDITE que seus embaçados óculos conseguem retratar toda complexidade do pensamento

humanoLogo eu que passei a vida nos polos.

De animal ao ÉterAo encaixar-me no grupo dos sem rótulos

Acreditando-me profundamente neste grupoAbro-me para receber um rótulo, afinal todos o receberão.

É assim que fazemos, é assim que faremos.

Transformando-me em retas No ser medíocre (no sentido de médio), ou em palavras que apesar de seus muitos significados são lidas com o

significado do rotulanteE são somadas, não de forma perfeita e angelical, ao

significado dos curiosos. Perco minha complexidade para fazer parte da história

Talvez felizes sejam os que não fazem parte dessa falsa necessidade humana

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Sim! Felizes são os apagados

Eles não serão corrompidos por interesses de outros

Eles serão Para sempre

O nada que se faz tudo por não ser nadaEles serão eles

Complexos Realmente polissêmicos.

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O Voo do Morcego

Sonar. zummmmmmmmmmmmmmmmmmm (Bate-reflete)

mmmmmmmmmmmmmmmmmmmuz stop.

Direita...

Sonar zummmmmmmmmmmmmmmmmmm (Bate-reflete)

mmmmmmmmmmmmmmmmmmmuz stop

esquerda...

Sonar zummmmmmmmmmmmmmmmmmm (Bate-reflete)

mmmmmmmmmmmmmmmmmmmuz stop

direita, esquerda

Sonar zummmmmmmmmmmmmmmmmmm (Bate-reflete)

mmmmmmmmmmmmmmmmmmmuz stop

pra cima

Sonar zummmmmmmmmmmmmmmmmmm (Bate-reflete)

stop

ÉParou de vez!

Uma clareza invisível e uma localização ímpar

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E nós, possuidores de tantos sentidose tanta razão, vivemos sensorialmente desgastados

Inlocalizavelmente refugiados. Perdidos.

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Algumas coisas deveriam ser eternas...

Flores morrem, como morrem todos os nossos sentimentosFlores nascem, assim como sentimentos novos nascem a

cada dia Eu não me vejo para o resto da vida com ninguém.

Isso é impossível!

Se o mundo é feito por constantes mudanças porque nós, simples filhos do mundo, temos que ser os mesmos a cada

dia?Estáticos

Constantes

Deprimentes

Eu quero uma vida para admirarUma vida onde cada nascer do sol seja diferente e que a lua cheia se faça sol em noites obscuras.

Definitivamente eu não tenho medo de sofrerTenho medo é de passar o resto da vida sofrendo por uma

estabilidade forçadaInexistente e imposta.

QueroTodos os dias

Mudar a finalidade do meu ser, se é que meu ser algum dia meu ser teve alguma finalidade.

Se ela existiu foi apenas uma necessidade Fez-se necessária a débil existência humana.

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Dias passam e as únicas coisas que me fazem mudar de ideia são a arte, uma bela nádega,

e seios na medida certa!Essas belezas da vida deveriam ser eternas e imutáveis.

Quanto a elas não me preocupo

Humanificação e transcendência da irracionalidade racional na bestialização da carne.

Nesse momento, tomado de um espírito humano e materialista só posso dizer que a vida é bela

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Aborto Artístico

Minha moral foi transformando-se até o ponto que minha moral permitiu que minha moral se transformasse.

Nesse jogo de coerções internas afirmo que não sou livre.

-Tragam um pouco de metafísica, por favor!E com açúcar!

Preciso de metafísica em minha vida racional e medíocre.Caminho sozinho por toda essa tecnologia

Cimento, asfalto, e um delicioso ar sufocanteA perfeita mistura do monóxido de carbono contemporâneo

e o oxigênio mal consumido das lembranças presentes. Onde estão os fios?

Não há nada mais escuro do que a luz do elevadorNão há nada mais cruel do que cultivar a dor- Salva de palmas e gritos para consolar-me

Traga-me um ventilador porque após rimas e rezas apenas um ventilador

poderá enxugar o pranto, a prata, e o ouro de minha face apaixonada

Ah, sensação latente, intrauterina, calor divino.Ah, momentos, transformações.

Ah, movimento,Eterno responsável por tudo.

A pressa presente prescreve premonições.Perdido em inspirações, transformo a poesia que não nasceu

em um Aborto Artístico

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Aparências

Bonito brilho constante no céu marca nosso mundo feito de aparências.

Ser belo é ser percebido com a grandeza de uma supernovaSer percebido é deixar nossa marca como humanos ou coisas

- Sei lá?!Simples aparência que marca o que não somos pelos olhos

dos que são. Simples aparência que nos significa

Marcas deixadas em um espectro de cores e lembranças em preto e branco

Somos nós, marcas vivas de algo muitas vezes já inexistentesMarca travada de nossa humanidade tardia

Somos nós, estrelas!

Somos a marca de nosso brilho retardado à nossa historicidade

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Antologia poética de um segundo de inspiração

I ATO De maneira inexplicável

Cada segundo revelaEm instantes de solidão e silêncio profundo

A voz! A natureza, o ser, a inspiração

Em cada segundo a alma é domada pela arte, e a arte a possui.

Simbioticamente. Empresto meu corpo ao espírito da arte,

(Re)Interpreto o mundo.Falo de amor, de vida,

Tudo isso, em um milésimo de segundoA inspiração tocou a alma, chegou ao coração,

Por meio de palavras, cores, sons, sorrisos, beijos, noites ardentes,

o dia amanhece mais instável.

II ATO O poeta é o ator das palavras

O “Eu lírico” é o único sujeito que tira a cortina de ferro que a sociedade impõe.

Valores pré-estabelecidos Sentimentos que outros sentem por mim...E você, ainda assim, quer acabar com ele?

Quer que eu revele meu segredo?Digo que não!

Nunca saberá se é ou não meu pensamento!Se vivi ou não vivi

Será que foi apenas um sonho?

Page 77: Antologia Poética de um Segundo de Inspiração

Uma história que me contaram?Pensamentos de terceiros?

Nunca saberão!O grito da criança existiu ou foram meus fantasmas?

Nunca saberão!Aquele beijo que todos beijam por mim.

Nunca saberão!O choro na quarta-feira às onze da noite.

Nunca saberãoPoesia é como a vida,

Nunca saberemos!

FIM

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Este livro foi composto em Minion Pro pelaEditora Multifoco e impresso em papel pólen 90 g/m².