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E.E. PROFª. IRENE DIAS RIBEIRO Antologia Antologia Poética Poética Vinicius de Morais . Mestre. Mestre. Maria Inês de Souza Vitorino Ju Maria Inês de Souza Vitorino Ju Eliezer Cavalcante Eliezer Cavalcante William Oliveira Rosa de William Oliveira Rosa de Paula Paula 201 1

Antologia Poética - Vinícius de Moraes - 3ª A - 2011

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E.E. PROFª. IRENE DIAS RIBEIRO

Antologia Antologia PoéticaPoética

Vinicius de Morais

Profª. Mestre. Profª. Mestre. Maria Inês de Souza Vitorino Justino Maria Inês de Souza Vitorino Justino

Eliezer Cavalcante Eliezer Cavalcante William Oliveira Rosa de William Oliveira Rosa de PaulaPaula

2011

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BIOGRAFIA:BIOGRAFIA:Foi em 1913, na cidade do Rio de Janeiro, que nasceu, em meio a um forte temporal, Marcus Vinícius da Cruz de Mello Moraes, filho de Clodoaldo Pereira da Silva Moraes, funcionário da Prefeitura, poeta (amigo de Olavo Bilac), violonista e cantor de modinhas, que iniciaria Vinicius na música. O tio mais moço, boêmio e seresteiro, também exerceu forte influência sobre ele. Além de sua mãe, Lydia Cruz, e o avô, que eram hábeis pianistas.

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Como é possível notar, nascido no seio de uma família de músicos (e de poetas!), Vinicius, tal como Bach, terá forte presença dessa arte superior, que é a música, por toda sua vida. Vinicius de Moraes foi diplomata, músico, boêmio, advogado, crítico de cinema e, sobretudo, poeta, que se auto-intitulava o "branco mais preto do Brasil".

Um crítico certa vez disse que Vinicius era um homem plural, e que essa pluralidade era percebida nas várias atividades que o poeta desenvolveu, nos vários amores que teve (seus biógrafos afirmam que teve, oficialmente, 9 mulheres), e no próprio nome: Marcus Vinícius da Cruz de Mello Moraes.

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Como diplomata, ele residiu em várias capitais do mundo. Além de formado em Direito, foi agraciado com a primeira bolsa do Conselho Britânico para estudar língua e literatura inglesas na Universidade de Oxford.

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OQUE É UMA ANTOLOGIA ?

Antologia significa, etimologicamente, "coletânea de flores"; o termo remete à idéia de escolha, coleção. Sendo assim, antologia é uma coleção de trabalhos literários; neste caso, coleção de trabalhos poéticos.

A importância de se ler uma obra como esta ("Antologia Poética") está no fato de que estamos tendo contato com uma seleção de poemas feita pelo próprio autor.

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Primeira fase o AutorA primeira inicia-se em 1933 e abrange os livros O caminho para a distância (1933); Forma e exegese (1935); Ariana, a mulher (1936). Nesse período encontramos um poeta místico, que escrevia versos longos, de tom bíblico-romântico, de espiritualidade católica e visionária. O próprio poeta caracterizou esta fase como "o sentimento do sublime". Na "Advertência" à sua Antologia Poética ele afirmava que "a primeira (fase), transcendental, frequentemente mística, (era) resultante de sua fase cristã".

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Principais Características da Primeira Fase;• Poesia mística, de tom bíblico-romântico, de

espiritualidade católica e visionária, daí a expressão “o sentimento do sublime”.

• Poesia transcendental: resultante de sua fase cristã”; elevação espiritual mística (participação em grupo simbolista).

• Poesia solene, de inspiração bíblica; religiosidade vista de maneira angustiada e duvidosa; linguagem alegórica; derramamento declamatório povoado de visões estranhas e presságios. (fruto da ligação do poeta com um grupo de poetas neo-simbolistas, religiosos e metafísicos).

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• Expressão contraditória: a experiência amorosa e a mulher amada são vistas de maneira contraditória, entre a transcendência e o apelo físico, a espiritualidade e a materialidade.

• Dúvida existencial: sentimento de pecado; constante e angustiada interrogação da existência; expressão de sofrimento e inconstância; aproximação de opostos (antíteses e paradoxos).

• Consciência torturada pela precariedade da existência: busca de superação pela transcendência mística.

• Linguagem abstrata e alegórica, solene, altissonante; “versos parágrafos” que se desdobram em largos movimentos. Adjetivação farta, tendência para enumeração. Tom declamatório e teatral.

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• Imagens criadas a partir de impressões sensoriais, carregadas de intenso sensualismo sempre em contraste com o sentimento religioso.

• Amor: elemento negativo que prende ao mundo terreno e que impede a libertação espiritual. Concepção de vida como pecado e tortura insuportável.

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Exemplo de suas Obras:

Purificação

Eu, Senhor, pobre massa sem seivaEu caminheiNem senti a derrota tremendaDo que era mau em mim.A luz cresceu, cresceu interiormenteE toda me envolveu.

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A ti, Senhor, gritei que estava puroE na natureza ouvi a tua voz.Pássaros cantaram no céuEu olhei para o céu e cantei e cantei.Senti a alegria da vidaQue vivia nas flores pequenasSenti a beleza da vidaQue morava na luz e morava no céuE cantei e cantei.

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A minha voz subirá até ti, SenhorE tu me deste a pazEu te peço, SenhorGuarda meu coração no teu coraçãoQue ele é puro e simplesGuarda a minha alma na tua almaQue ela é bela, Senhor.Guarda o meu espírito no teu espíritoPorque ele é minha luzE porque só a ti ele exalta e ama.

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Segunda Fase do AutorA segunda fase (ou como se costuma dizer: o segundo Vinicius) tem início em Cinco Elegias, de 1943. O novo tom, a nova linguagem, as novas formas e temas, que vinham desde Novos poemas, de 1933, intensificam-se e diversificam-se nos livros posteriores - Poemas, sonetos e baladas (1946) e Novos poemas II (1959) -, em que se mostram tanto as formas clássicas (soneto de tradição camoniana e shakespeariana) quanto a poesia livre (em "A última elegia", os versos têm forma de serpente). O poeta sente-se à vontade para inventar palavras, muitas vezes bilíngues, ou praticar a oralidade maliciosa.

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• Passagem do sublime ao cotidiano: a partir de Novos poemas, de 1938, observa-se um novo tom poético; nova linguagem, novas formas e temas; substituição paulatina da linguagem solene (pedante) por uma linguagem mais coloquial (Soneto de Intimidade).

• Desejo de transcendência cede, aos poucos, lugar a aceitação da imanência: a angustia a insatisfação e o desespero deixarão de ser problemas místicos e metafísicos para se incorporar experiência de vida direta.

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• A mulher cresce como foco de interesse: ocupa lugar primordial ainda envolvida em misticismo; a mulher e a experiência amorosa vão, aos poucos , substituindo a crença e a religiosidade.

• Divinização da mulher: ser superior para onde convergem as formas elevadas da existência;

• Amor experiência limite: síntese do platonismo amoroso medieval (trovadores), do amor espiritualizado dos românticos e do “amor louco” dos surrealistas, concebido como valor supremo acima mesmo da moral e da religião.

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• Sensualismo e erotismo: dimensão integrada aos apelos espirituais (e não mais como “perdição da carne”; fusão carne e espírito: poemas sensuais, realistas com espontaneidade e fluência.

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Principais Características da Segunda fase;

• Apelo ao cotidiano, à aparente banalidade da existência diária aproveitando os estímulos da realidade circundante, a pátria e as questões sociais.

• Linguagem eclética: incorporação da conquistas da geração de 22: linguagem coloquial e enxuta mais simples e direta; espontaneidade, jogos verbais, estilo engenhoso, poder de síntese e concisão. Mescla de tradições (sonetinhos).

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• Experimentações formais: verso livre, incorporação da linguagem modernista (“A última elegia”, os versos em forma de serpente).

• Linguagem tradicional: verso curto, tradição medieval, sonoridade e musicalidade herdada da cantiga;

• Exploração da sonoridade: rima, figuras de linguagem sonoras, sugestões musicais, inclusive nos títulos.

• Neologismos: invenção de palavras; utilização de estrangeirismos; linguagem oral e maliciosa.

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• Abandono da superstição e do purismo, presentes na primeira fase; direcionamento para uma atitude mais bem humorada, descontraída e amorosa perante a poesia, daí o nome “O encontro do cotidiano pelo poeta”.

• Passagem do metafísico para o físico, do espiritual para o sensual, do sublime para o cotidiano: o poeta retoma sugestões românticas (lua, cidade, samba).

• Poesia Erótica: refugia-se no erotismo: há contemplação do amor, poemas “sobre a mulher” e adoração panteística da natureza.

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• Poesia Social: compôs também poemas de indignação, crítica e denúncia social, cujos exemplares são: “Balada dos mortos dos campos de concentração”, “O operário em construção” e “A rosa de Hiroshima”.

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Exemplo de Suas Obras:A rosa de Hiroxima

Pensem nas crianças Mudas telepáticas Pensem nas meninas Cegas inexatas Pensem nas mulheres

Rotas alteradas Pensem nas feridas Como rosas cálidas Mas oh não se esqueçamDa rosa da rosa Da rosa de Hiroshima A rosa hereditária

A rosa radioativa Estúpida e inválida A rosa com cirrose A anti-rosa atômica Sem cor sem perfume Sem rosa sem nada.

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Análise do Poema:

Numa postura humanista, em que cria figuras com fortes tintas, o poeta canta contra a guerra. Usando o verbo "pensar" no imperativo ("pensem"), "convida-nos" a todos a refletir diante das atrocidades causadas pela guerra; e, principalmente, a causada pelo mais novo rebento gerado pelo ser humano: a bomba atômica. A culpa não é apenas de um indivíduo ou outro. A culpa, a responsabilidade da destruição não é de um país X ou Y, mas de toda a humanidade. O que está em jogo aqui é a própria existência, ou melhor dizendo, a própria sobrevivência humana.

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Vinícius grafa Hiroxima com X, pois a rigor é essa a adaptação do nome próprio japonês para a língua portuguesa. Em tempos mais recentes, devido à influência do inglês, é mais comum que se grafe a palavra com SH. Ambas as formas são aceitas na norma culta.

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ELEGIA DESESPERADAAlguém que me falasse do mistério do Amor Na sombra - alguém! alguém que me mentisse Em sorrisos, enquanto morriam os rios, enquanto morriam As aves do céu! e mais que nunca No fundo da carne o sonho rompeu um claustro frio Onde as lúcidas irmãs na branca loucura das auroras Rezam e choram e velam o cadáver gelado ao sol! Alguém que me beijasse e me fizesse estacar No meu caminho - alguém! - as torres ermas Mais altas que a lua, onde dormem as virgens Nuas, as nádegas crispadas no desejo Impossível dos homens - ah! deitariam a sua maldição! Ninguém... nem tu, andorinha, que para seres minha Foste mulher alta, escura e de mãos longas...

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Revesti-me de paz? - não mais se me fecharão as chagas Ao beijo ardente dos ideais - perdi-me De paz! sou rei, sou árvore No plácido país do Outono; sou irmão da névoa Ondulante, sou ilha no gelo, apaziguada! E no entanto, se eu tivesse ouvido em meu silêncio uma voz De dor, uma simples voz de dor... mas! fecharam-me As portas, sentaram-se todos à mesa e beberam o vinho Das alegrias e penas da vida (e eu só tive a lua Lívida, a lésbica que me poluiu da sua eterna Insensível polução...). Gritarei a Deus? - ai dos homens! Aos homens? - ai de mim! Cantarei Os fatais hinos da redenção? Morra Deus Envolto em música! - e que se abracem As montanhas do mundo para apagar o rasto do poeta!

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E o homem vazio se atira para o esforço desconhecido Impassível. A treva amarga o vento. No silêncio Troa invisível o tantã das tribos bárbaras E descem os rios loucos para a imaginação humana.

Do céu se desprende a face maravilhosa de Canópus Para o muito fundo da noite... - e um grito cresce desorientado Um grito de virgem que arde... - na copa dos pinheiros Nem um piar de pássaro, nem uma visão consoladora da lua.

É o instante em que o medo poderia ser para sempre

Em que as planícies se ausentam e deixam as entranhas cruas da terra Para as montanhas, a imagem do homem crispado, correndo É a visão do próprio desespero perdido na própria imobilidade.

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Ele traz em si mesmo a maior das doenças Sobre o seu rosto de pedra os olhos são órbitas brancas À sua passagem as sensitivas se fecham apavoradas E as árvores se calam e tremem convulsas de frio.

O próprio bem tem nele a máscara do gelo E o seu crime é cruel, lúcido e sem paixão Ele mata a avezinha só porque a viu voando E queima florestas inteiras para aquecer as mãos.

Seu olhar que rouba às estrelas belezas recônditas Debruça-se às vezes sobre a borda negra dos penhascos E seu ouvido agudo escuta longamente em transe As gargalhadas cínicas dos vampiros e dos duendes.

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E se acontece encontrar em seu fatal caminho Essas imprudentes meninas que costumam perder-se nos bosques Ele as apaixona de amor e as leva e as sevicia E as lança depois ao veneno das víboras ferozes.

Seu nome é terrível. Se ele o grita silenciosamente Deus se perde de horror e se destrói no céu. Desespero! Desespero! Porta fechada ao mal Loucura do bem, desespero, criador de anjos!

Oxford

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O Operário em construçãoE o Diabo, levando-o a um alto monte, mostrou-

lhe num momento de tempo todos os reinos do mundo. E disse-lhe o Diabo: - Dar-te-ei todo este poder e a sua glória, porque a mim me foi entregue e dou-o a quem quero; portanto, se tu me adorares, tudo será teu. E Jesus, respondendo, disse-lhe: - Vai-te, Satanás; porque está escrito: adorarás o Senhor teu Deus e só a Ele servirás. Lucas, cap. V, vs. 5-8.

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Era ele que erguia casas Onde antes só havia chão. Como um pássaro sem asas Ele subia com as casas Que lhe brotavam da mão. Mas tudo desconhecia De sua grande missão: Não sabia, por exemplo Que a casa de um homem é um temploUm templo sem religião Como tampouco sabia Que a casa que ele fazia Sendo a sua liberdade Era a sua escravidão.

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De fato, como podia Um operário em construção Compreender por que um tijolo Valia mais do que um pão? Tijolos ele empilhava Com pá, cimento e esquadria Quanto ao pão, ele o comia... Mas fosse comer tijolo! E assim o operário ia Com suor e com cimento Erguendo uma casa aqui Adiante um apartamento Além uma igreja, à frente Um quartel e uma prisão: Prisão de que sofreria

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Não fosse, eventualmente Um operário em construção. Mas ele desconhecia Esse fato extraordinário: Que o operário faz a coisa E a coisa faz o operário. De forma que, certo dia À mesa, ao cortar o pão O operário foi tomado De uma súbita emoção Ao constatar assombrado Que tudo naquela mesa - Garrafa, prato, facão - Era ele quem os fazia Ele, um humilde operário, Um operário em construção.

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Olhou em torno: gamela Banco, enxerga, caldeirão Vidro, parede, janela Casa, cidade, nação! Tudo, tudo o que existia Era ele quem o fazia Ele, um humilde operário Um operário que sabia Exercer a profissão. Ah, homens de pensamento Não sabereis nunca o quanto Aquele humilde operário Soube naquele momento! Naquela casa vazia Que ele mesmo levantara Um mundo novo nascia

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De que sequer suspeitava. O operário emocionado Olhou sua própria mão Sua rude mão de operário De operário em construção

E olhando bem para ela Teve um segundo a impressão De que não havia no mundo Coisa que fosse mais bela. Foi dentro da compreensão

Desse instante solitário Que, tal sua construção Cresceu também o operário. Cresceu em alto e profundo Em largo e no coração E como tudo que cresce

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Ele não cresceu em vão Pois além do que sabia - Exercer a profissão - O operário adquiriu Uma nova dimensão: A dimensão da poesia. E um fato novo se viu Que a todos admirava: O que o operário dizia Outro operário escutava.E foi assim que o operário

Do edifício em construção

Que sempre dizia sim Começou a dizer não. E aprendeu a notar coisas

A que não dava atenção:

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Notou que sua marmita Era o prato do patrão Que sua cerveja preta Era o uísque do patrão Que seu macacão de zuarte Era o terno do patrão Que o casebre onde moravaEra a mansão do patrão Que seus dois pés andarilhos Eram as rodas do patrão Que a dureza do seu dia Era a noite do patrão Que sua imensa fadiga Era amiga do patrão. E o operário

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E o operário disse: Não! E o operário fez-se forte Na sua resolução. Como era de se esperar As bocas da delação Começaram a dizer coisas Aos ouvidos do patrão. Mas o patrão não queria Nenhuma preocupação - "Convençam-no" do contrário - Disse ele sobre o operário E ao dizer isso sorria. Dia seguinte, o operário Ao sair da construção Viu-se súbito cercado

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Dos homens da delação E sofreu, por destinado Sua primeira agressão. Teve seu rosto cuspido Teve seu braço quebradoMas quando foi perguntado O operário disse: Não! Em vão sofrera o operário Sua primeira agressão Muitas outras se seguiram Muitas outras seguirão. Porém, por imprescindível Ao edifício em construção Seu trabalho prosseguia E todo o seu sofrimento

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Misturava-se ao cimento Da construção que crescia.Sentindo que a violência Não dobraria o operário Um dia tentou o patrão Dobrá-lo de modo vário.De sorte que o foi levando Ao alto da construção E num momento de tempo Mostrou-lhe toda a regiãoE apontando-a ao operário Fez-lhe esta declaração: - Dar-te-ei todo esse poder E a sua satisfaçãoPorque a mim me foi entregue E dou-o a quem bem quiser.

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Dou-te tempo de lazer Dou-te tempo de mulher.Portanto, tudo o que vês Será teu se me adorares E, ainda mais, se abandonares O que te faz dizer não.Disse, e fitou o operário Que olhava e que refletia Mas o que via o operário O patrão nunca veria.O operário via as casas E dentro das estruturas Via coisas, objetos Produtos, manufaturas.Via tudo o que fazia O lucro do seu patrão

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E em cada coisa que via Misteriosamente havia A marca de sua mão. E o operário disse: Não!-Loucura! - gritou o patrão Não vês o que te dou eu? - Mentira! - disse o operário Não podes dar-me o que é meu.E um grande silêncio fez-se Dentro do seu coração Um silêncio de martírios Um silêncio de prisão. Um silêncio povoadoDe pedidos de perdão Um silêncio apavorado Com o medo em solidão.

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Um silêncio de torturas E gritos de maldição Um silêncio de fraturas A se arrastarem no chão. E o operário ouviu a voz

De todos os seus irmãos

Os seus irmãos que morreram Por outros que viverão.Uma esperança sincera Cresceu no seu coração E dentro da tarde mansa Agigantou-se a razão

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De um homem pobre e esquecido Razão porém que fizera Em operário construído O operário em construção.

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Os Sonetos

Ao escrever sonetos, Vinicius de Moraes soma-se à distinta lista de poetas que versejaram em língua portuguesa, tais como Camões, Gregório de Matos, Bocage, Antero de Quental, Olavo Bilac, entre outros, e que escolheram como forma de expressão esta composição poética clássica. Mas não é só; o motivo de tal escolha diz muito, também, sobre a atitude do poeta diante do fazer poético.O soneto, forma literária clássica fechada, é uma composição de quatorze versos, dispostos em dois quartetos e dois tercetos, seguindo variavelmente os seguintes esquemas de rima: abab / abab / ccd / ccd; abba / abba / cde / cde ou abba / abba / cdc / dcd., sendo que o metro mais utilizado tem sido o decassílabo (com acento na 4ª, 7ª e 10ª).

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Por encerrar o conceito fundamental do poema, o último verso constitui o que chamamos de "fecho de ouro" ou a "chave de ouro".

Tudo isso faz do soneto uma escolha formal lúcida para o poeta. Porque aí se observa a clareza e a concisão de linguagem, de características clássicas. Com ela, o poeta mantém a expressão de um lirismo controlado, ou seja, o sentimento e a emoção líricos contêm-se nos limites do equilíbrio e da harmonia. O poeta procura atenuar os impulsos do "eu", isto é, de sua subjetividade particular, em favor de uma visão impessoal ou objetiva. Daí dizer que nos sonetos existe a luta de um "eu" que ama e um "eu" que raciocina.

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Soneto de FidelidadeDe tudo, ao meu amor serei atento aAntes, e com tal zelo, e sempre, e tanto bQue mesmo em face do maior encanto b Dele se encante mais meu pensamento a

Quero vivê-lo em cada vão momento aE em seu louvor hei de espalhar meu canto bE rir meu riso e derramar meu pranto bAo seu pesar ou seu contentamento a

E assim quando mais tarde me procure aQuem sabe a morte, angústia de quem vive bQuem sabe a solidão, fim de quem ama c

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Eu possa lhe dizer do amor (que tive): b Que não seja imortal, posto que é chama cMas que seja infinito enquanto dure . a

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Soneto de SeparaçãoDe repente do riso fez-se o pranto aSilencioso e branco como a bruma bE das bocas unidas fez-se a espuma bE das mãos espalmadas fez-se o espanto. a

De repente da calma fez-se o vento aQue dos olhos desfez a última chama bE da paixão fez-se o pressentimento aE do momento imóvel fez-se o drama. b

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De repente, não mais que de repente c Fez-se de triste o que se fez amante dE de sozinho o que se fez contente. c

Fez-se do amigo próximo o distante cFez-se da vida uma aventura errante cDe repente, não mais que de repente. d

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PoéticaDe manhã escureço De dia tardo De tarde anoiteço De noite ardo.

A oeste a morte Contra quem vivo Do sul cativo O este é meu norte.

Outros que contem Passo por passo: Eu morro ontem

Nasço amanhã Ando onde há espaço: - Meu tempo é quando.

Nova York, 1950

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a sequência vertical da primeira estrofe manhã-dia-tarde-noite obedece a um encadeamento lógico: a passagem natural do tempo. Tal encadeamento é rompido na linha horizontal, já no primeiro verso ("escureço" se opõe à "manhã") e ganha ambiguidade no quarto, em que "ardo" conota claridade, em oposição ao escuro da noite, mas, sobretudo, ganha passionalidade (arder, ardor de amor). Isso aproxima parcialmente os extremos, dia e noite, e sugere a passagem do tempo como sucessão de contrates, negação de expectativas, em um clima de intenso subjetivismo (1ª pessoa).

Análise do Poema:

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Na segunda estrofe, numa atitude de liberdade, de anticonvencionalismo, o eu lírico diz-se guiar pelo "este" e não pelo "norte" como todos fazem. O último verso da última estrofe privilegia o circunstancial (não é "aquilo que" acontece, mas o "momento quando" acontece que realmente importa), valorizando a disponibilidade do instante presente, para que seja intensamente vivido. Observando o aspecto formal do poema, parece haver ali um soneto renovado. Isso confirma a valorização da liberdade e do individualismo, da insubordinação e da disponibilidade, também para o ato de criação poética.

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EPITÁFIO Aqui jaz o Sol Que criou a aurora E deu a luz ao dia E apascentou a tarde

O mágico pastor De mãos luminosas Que fecundou as rosas E as despetalou.

Aqui jaz o Sol O andrógino meigo E violento, que

Possuiu a forma De todas as mulheres E morreu no mar.

Oxford, 1939

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Terceira Fase do Autor

O terceiro Vinicius é o compositor, letrista e cantor. Autor de mais de trezentas músicas (como atesta seu Livro de letras, lançado postumamente, em 1991, onde estão mais de 300 letras de músicas de sua autoria), difundidas pelo mundo com o grande acontecimento cultural e musical que foi a bossa nova. Seus parceiros, vão desde Bach a Toquinho.

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O PatoVinicius de Moraes , Toquinho , Paulo Soledade

Lá vem o Pato Pata aqui, pata acolá Lá vem o Pato Para ver o que é que há. O Pato pateta Pintou o caneco Surrou a galinha Bateu no marreco Pulou do poleiro No pé do cavalo

Levou um coice Criou um galo Comeu um pedaço De jenipapo Ficou engasgado Com dor no papo Caiu no poço Quebrou a tigela Tantas fez o moço

Que foi pra panela.

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Outras Composições Importantes;

Aquarela

Garota de Ipanema

Minha Namorada

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Referências Bibliográficas

www.viniciusdemoraes.com.br

www.brasilecola.com.br/educador

http://educacao.uol.com.br/portugues/antologia-poetica-vinicius-de-moraes.jhtm

http://guiadoestudante.abril.com.br/estude/literatura/livros-fuvest-2010-antologia-poetica-contem-principal-obra-vinicius-moraes-513079.shtml