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VENDA EM PROCESSO EXECUTIVO 1. 1. 1. 1. as as as as JORNADAS DE ESTUDO JORNADAS DE ESTUDO JORNADAS DE ESTUDO JORNADAS DE ESTUDO DOS AGENTES DE EXECU DOS AGENTES DE EXECU DOS AGENTES DE EXECU DOS AGENTES DE EXECUÇÃO ÇÃO ÇÃO ÇÃO CENTRO MULTIMEIOS DE CENTRO MULTIMEIOS DE CENTRO MULTIMEIOS DE CENTRO MULTIMEIOS DE ESPINHO SPINHO SPINHO SPINHO 10 de Abril de 2010 10 de Abril de 2010 10 de Abril de 2010 10 de Abril de 2010 António José Fialho Juiz de Direito

Antonio Jose Fialho

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A Venda em Processo Executivo

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  • VENDA EM

    PROCESSO

    EXECUTIVO

    1.1.1.1.as as as as JORNADAS DE ESTUDO JORNADAS DE ESTUDO JORNADAS DE ESTUDO JORNADAS DE ESTUDO DOS AGENTES DE EXECUDOS AGENTES DE EXECUDOS AGENTES DE EXECUDOS AGENTES DE EXECUOOOO

    CENTRO MULTIMEIOS DECENTRO MULTIMEIOS DECENTRO MULTIMEIOS DECENTRO MULTIMEIOS DE EEEESPINHOSPINHOSPINHOSPINHO

    10 de Abril de 201010 de Abril de 201010 de Abril de 201010 de Abril de 2010

    Antnio Jos Fialho

    Juiz de Direito

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    I INTRODUO

    Com a entrada em vigor em 15 de Setembro de 2003 do Decreto-Lei n. 38/2003, de 8 de Maro (rectificado pela Declarao de Rectificao n. 5-C/2003 publicada no 3. Suplemento ao Dirio da Repblica I. srie-A de 30/04/2003 e alterado pelo Decreto-Lei n.os 199/2003, de 10 de Setembro, rectificado pela Declarao de Rectificao 16-B/2003, publicada no Suplemento ao Dirio da Repblica I. srie-A n. 253 de 31/10/2003), o Cdigo de Processo Civil foi objecto de profundas alteraes no mbito do regime jurdico da aco executiva.

    Em consequncia desta Reforma da Aco Executiva, o agente de execuo foi incumbido de todas as diligncias de pendor propriamente executivo, com destaque para a generalidade dos actos de venda e pagamento e todos quantos relativamente a estes desempenham uma funo instrumental, tais como as citaes, as notificaes ou as publicaes.

    Com as alteraes introduzidas pelo Decreto-Lei n. 226/2008, de 20 de Novembro, o regime jurdico da aco executiva sofreu um conjunto de transformaes, consubstanciadas na redefinio das competncias do juiz de execuo e do agente de execuo e na tramitao processual emergente daquela redefinio.

    Com este diploma, o legislador assumiu como objectivos a simplificao e eficcia da aco executiva, conferindo maiores competncias ao agente de execuo, eliminando formalidades processuais consideradas desnecessrias, promovendo a eficcia do processo executivo e evitando ainda as aces judiciais desnecessrias.

    Assim, a interveno do juiz passa a ter um carcter excepcional, s ocorrendo para situaes expressamente previstas na lei, sem prejuzo de um poder geral de controlo do processo (artigo 265. do Cdigo de Processo Civil), a iniciativa passa a caber ao agente de execuo, a quem compete efectuar todas as diligncias do processo de execuo e ainda providenciar pelo normal andamento do processo, determinando e realizando oficiosamente todas as diligncias necessrias realizao coerciva do direito do exequente (regra da oficiosidade dos actos processuais).

    Dessa transferncia foram naturalmente excludos certos actos que apresentam natureza jurisdicional e outros para os quais os preceitos ou princpios constitucionais impem a interveno do juiz (princpio de reserva de jurisdio), nomeadamente aqueles que dizem respeito ao exerccio de direitos fundamentais ou aquelas intervenes reclamadas pela natureza dos actos e das questes suscitadas (artigo 809. do Cdigo de Processo Civil).

    A interveno do juiz impe-se sempre que, na aco executiva, estejam em causa interesses que, face ao texto constitucional, estejam sob reserva do juiz.

    Com efeito, sendo a execuo destinada satisfao efectiva do direito do credor, esta deve ser realizada custa do patrimnio do devedor, protegido pelas garantias constitucionais conferidas propriedade privada no obstante o regime da execuo ser estruturado sobre o princpio favor creditoris (Miguel Teixeira de Sousa, A Aco Executiva Singular, Lex, 1998, 3.II.1).

    Entre a satisfao efectiva do direito do credor e o direito do devedor integridade do seu patrimnio deve resultar um princpio geral: - o sacrifcio do patrimnio do devedor s admissvel desde que absolutamente necessrio satisfao do direito do credor.

    A Constituio da Repblica Portuguesa assenta na dignidade da pessoa humana pelo que desta posio de princpio decorre a tutela reflexa de mltiplos valores que podero ser afectados pelo executado na aco executiva.

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    Com a transferncia de poderes de um magistrado judicial para o agente de execuo, bem como da supresso de algumas intervenes liminares do tribunal, quer em sede de citao do executado, quer ainda e com consequncias potencialmente mais graves, em matria de penhora ou alienao, o sistema formal de garantias do executado pode ser posto em crise pelas garantias que rodeiam genericamente a prtica de actos executivos.

    A alienao dos bens penhorados constitui, objectivamente, uma violao do direito de propriedade do executado. Todavia, essa leso legalmente justificada em favor de um interesse considerado predominante: - a satisfao do direito do credor lesado e dentro de uma clusula geral de proporcionalidade ou adequao (artigos 821., n. 3 e 834., n.os 1 e 2, ambos do Cdigo de Processo Civil).

    Assim, o princpio orientador da actuao do agente de execuo o de que esta se encontra estritamente subordinada prossecuo daquele objectivo, com observncia das regras legais que delimitam a apreenso e posterior alienao dos bens.

    Consequentemente, a actuao do agente de execuo que extravase tal propsito, traduzindo-se na violao culposa de direitos do executado ou de normas que protejam interesses desse sujeito, na medida em que seja causadora de danos, permitir ao executado exigir o ressarcimento dos prejuzos sofridos, podendo tambm verificar-se a eventual existncia de responsabilidade criminal do agente de execuo.

    Deste modo, e em particular na fase da venda dos bens penhorados, o agente de execuo decide sobre a modalidade da venda, determina o valor base de cada bem, organiza a venda quando ela se efectuar em depsito pblico e, tambm, nos casos de negociao particular, havendo acordo de todos os intervenientes.

    Por seu turno, a interveno do juiz de execuo continua a ser obrigatria: -

    a) - na venda antecipada em que seja necessria uma deciso imediata devido urgncia da venda (artigo 886.-C, n. 3 do Cdigo de Processo Civil);

    b) - quando se deva proceder venda por negociao particular e haja urgncia na realizao da venda (artigo 904., alnea c), do mesmo Cdigo);

    c) - na abertura de propostas em carta fechada de imveis (artigos 893., n. 1 e 901.-A, n. 2, ambos do Cdigo de Processo Civil);

    d) - quando haja reclamao sobre a deciso da modalidade da venda e do valor dos bens (artigo 886.-A, n. 7 do citado Cdigo);

    e) - quando no haja acordo sobre a pessoa incumbida de realizar a venda por negociao particular (artigo 905., n. 2 do referido Cdigo);

    f) - quando haja irregularidades na venda em estabelecimento de leilo (artigo 907., n. 1 do Cdigo de Processo Civil);

    g) - na deciso sobre a invalidade da venda (artigos 908. a 911., todos do Cdigo de Processo Civil).

    A dinmica do processo executivo exige uma tramitao sequencial e eficiente do processo por parte do agente de execuo com vista a obter a satisfao dos interesses do exequente, acautelando os interesses do executado ou de terceiros, e, se necessrio, sob o controlo do juiz de execuo, no tanto na perspectiva de conduzir o processo mas sim

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    para ultrapassar as dificuldades que o agente de execuo encontre ou para dirimir os conflitos que se suscitem no mbito do processo executivo1.

    justamente nas ltimas fase deste processo que a interveno do juiz de execuo se deve colocar apenas no mbito do poder geral de controlo ou circunscritas a intervenes especificamente estabelecidas, assumindo o agente de execuo a funo primordial de direco dos actos executivos que devem ser realizados.

    Visando a execuo o pagamento das despesas nela ocorridas e os crditos do exequente e dos credores com garantia real sobre os bens penhorados, aquela no deve prosseguir logo que o produto de alguns dos bens vendidos seja suficiente para assegurar esses pagamentos. Servindo a execuo de instrumento a esse fim, uma vez ele alcanado, justifica-se a sustao da venda sobre os demais bens penhorados uma vez que esta instrumental aos fins da execuo (artigo 886.-B, n. 1 do Cdigo de Processo Civil).

    Na execuo para pagamento de quantia certa, o pagamento aos credores pode ser feito (artigos 872. e 882. a 885., todos do Cdigo de Processo Civil): -

    a) - pela entrega de dinheiro;

    b) - pela adjudicao dos bens penhorados;

    c) - pela consignao judicial dos seus rendimentos;

    d) - pelo pagamento em prestaes;

    e) - pelo produto da venda dos bens penhorados.

    No mbito desta interveno, iro apenas ser analisadas algumas questes relativas ao pagamento realizado atravs da adjudicao ou pelo produto da venda dos bens penhorados, assim como algumas vicissitudes que podem surgir nesta fase processual, decorrentes da redefinio de competncias estabelecidas pelo Decreto-Lei n. 226/2008, de 20 de Novembro.

    II ADJUDICAO DOS BENS PENHORADOS

    A finalidade de qualquer execuo para pagamento de quantia certa obter uma determinada soma com a venda dos bens penhorados de forma a satisfazer o crdito do exequente e dos credores reclamantes.

    Contudo, pode acontecer que o exequente ou o credor reclamante tenham interesse em adjudicar os bens penhorados, de forma a satisfazer, total ou parcialmente, o respectivo crdito.

    A adjudicao consiste em atribuir ao credor a propriedade dos bens penhorados suficientes para o seu pagamento e, de forma diferente relativamente venda executiva, no visa obter dinheiro para com ele pagar ao credor mas satisfaz-lo directamente mediante a entrega de determinados bens do executado, anteriormente penhorados.

    A adjudicao pode ser requerida pelo exequente mas tambm por qualquer credor reclamante em relao aos bens sobre os quais haja invocado garantia. Havendo j sentena de graduao de crditos, a pretenso do requerente apenas atendida se o seu

    1 Como se afirma no prembulo do Decreto-Lei n. 226/2008, de 20 de Novembro, o sistema de execues judiciais ou processo executivo um factor essencial para o bom funcionamento da economia e do sistema judicial o que implica a desnecessidade de um controlo burocrtico da actividade do agente de execuo e a reserva da interveno do juiz para as situaes em que exista realmente um conflito ou em que a relevncia da questo o determine.

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    crdito tiver sido reconhecido e graduado (artigo 875., n.os 1 e 2 do Cdigo de Processo Civil).

    Todos os bens penhorados so adjudicveis, quer sejam imveis, quer mveis ou direitos, ficando de fora apenas os bens que, nos termos do disposto nos artigos 902. e 903. do Cdigo de Processo Civil, tenham necessariamente que ser vendidos nas bolsas de capitais ou de mercadorias ou a determinadas entidades (artigo 875., n. 1 do mesmo Cdigo).

    O requerimento para adjudicao deve conter os seguintes elementos: -

    a) - a indicao do preo que oferecido pelo exequente ou credor reclamante;

    b) - se pretende adjudicar a totalidade ou parte dos bens penhorados;

    c) - se a pretendida adjudicao suficiente para garantir a totalidade do crdito ou se inferior e em que medida, ou sendo superior, a indicao de depsito do valor excedente.

    Sob pena de no atendimento, deve ainda o requerente da adjudicao indicar o preo que oferece, no podendo a oferta ser inferior a 70 % do valor base dos bens, que o valor a anunciar para a venda mediante propostas em carta fechada (artigo 875., n. 3 do Cdigo de Processo Civil).

    Deve ser este o preo para que a adjudicao no possa redundar em prejuzo do executado, do exequente ou dos outros credores, interessados em que o adjudicatrio receba os bens por preo no interior ao que poderia ser conseguido naquela venda.

    Cabe ao agente de execuo fazer a adjudicao pelo que este deve, em primeiro lugar, verificar em que fase a execuo se encontra e, por outro lado, publicitar a mesma, fazendo-se meno ao preo oferecido, nos termos previstos para a venda mediante propostas em carta fechada (artigo 876., n. 3 do Cdigo de Processo Civil).

    Em relao fase da execuo, se data do requerimento j estiver anunciada a venda por propostas em carta fechada, esta no se sustar e a pretenso apenas ser considerada se no houver interessados que ofeream preo superior, ou seja, o agente de execuo no pode aceitar imediatamente o valor da adjudicao, s o fazendo se, na data designada para a abertura de propostas, no surgirem pretendentes que ofeream preo superior (artigo 875., n. 4 do Cdigo de Processo Civil).

    No se apresentando, neste caso, qualquer proponente, adjudicar-se-o de imediato os bens ao requerente (artigo 877., n. 3 do citado Cdigo). Se aparecerem proponentes que ofeream preo superior, procede-se abertura de propostas como se o pedido de adjudicao no tivesse sido feito (artigo 877., n. 2 do mesmo Cdigo).

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    Se a venda por propostas em carta fechada ainda no tiver sido anunciada, publicitada a adjudicao requerida, em conformidade com o disposto no artigo 890. do Cdigo de Processo Civil, com a meno do preo oferecido (artigo 876., n. 1 do citado Cdigo).

    O dia, a hora e o local para a abertura de propostas sero notificados ao executado e s pessoas que poderiam ter requerido a adjudicao, estas seguramente para oferecerem preo superior ao indicado pelo requerente, de forma a evitar que a adjudicao se faa por preo inadequado ao real valor dos bens.

    Outrossim sero notificados os titulares de qualquer direito de preferncia, legal ou convencional com eficcia real, na alienao dos bens, para o poderem exercer, querendo (artigo 876., n. 2 do Cdigo de Processo Civil).

    A abertura das propostas tem lugar perante o juiz, se se tratar de bem imvel, ou tratando-se de estabelecimento comercial de valor superior a quinhentas unidades de

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    conta, se o juiz, solicitado para tanto, o determinar; sendo o bem de outra natureza, as funes reservadas ao juiz na venda de imvel so desempenhadas pelo agente de execuo, aplicando-se, devidamente adaptadas, as normas da venda por propostas em carta fechada, por se aplicar o regime desta modalidade de venda adjudicao de bens mveis penhorados (artigo 876., n. 3 do Cdigo de Processo Civil)2.

    O agente de execuo deve elaborar auto de adjudicao onde se consigne o preo oferecido (considerando a exigncia do n. 3 do artigo 875.), a natureza dos bens a adjudicar, se a adjudicao total ou parcial, se com a adjudicao preexiste crdito exequendo e reclamado e quais o montantes ou se, sendo os bens a adjudicar de valor superior ao crdito exigido na execuo, qual o montante sobrante de modo a que, salvaguardadas as custas e encargos da execuo, possa este ser conferido ao executado.

    No dia designado para a abertura de propostas, podem verificar-se duas hipteses: -

    a) - no aparecer nenhuma proposta e ningum se apresentar a exercer o direito de preferncia (artigo 877., n. 1 do Cdigo de Processo Civil);

    b) - haver proposta de maior preo (artigo 877., n. 2 do mesmo Cdigo).

    Na primeira hiptese, aceita-se a proposta do requerente da adjudicao e pelo preo por ele oferecido devendo, no auto a elaborar, proceder-se sua notificao para, com a cominao prevista no artigo 898., n.os 1 a 3 ex vi do artigo 878., ambos do Cdigo de Processo Civil, no prazo de quinze dias, depositar numa instituio de crdito a parte do preo excedente ao seu crdito, se os crditos ainda no estiverem graduados, ou tambm a necessria para pagar aos credores graduados antes dele, se a graduao j tiver acontecido (artigos 878. e 887., ambos do citado Cdigo).

    Em ambos os casos, deve tambm depositar a importncia correspondente s custas provveis da execuo, de acordo com o clculo prvio a efectuar pelo agente de execuo.

    A deciso de adjudicao identifica os bens, certifica o pagamento do preo e o cumprimento das obrigaes fiscais, declarando ainda a data em que os bens foram adjudicados (artigo 900., n. 2 do Cdigo de Processo Civil).

    Na segunda hiptese, ou seja, havendo proposta de maior preo, no h adjudicao, mas antes venda, a efectuar segundo as regras da venda por meio de propostas em carta fechada.

    De igual modo, no h lugar adjudicao, sempre que o titular de um direito de preferncia, legal ou convencional com eficcia real, se apresente a exerc-lo.

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    A adjudicao de direito de crdito pecunirio no litigioso faz-se pelo valor da prestao devida, depois de efectuado o desconto correspondente ao perodo a decorrer at ao vencimento, taxa legal de juros de mora, salvo se, no sendo prxima a data do vencimento3, o requerente pretender optar pela via das propostas em carta fechada, indicando o preo que oferece (artigo 875., n. 5 do Cdigo de Processo Civil).

    2 Nesta situao, o agente de execuo que dirige todo o procedimento de adjudicao de bens mveis penhorados (neste sentido, Mariana Frana Gouveia, Penhora e Alienao de Bens Mveis na Reforma da Aco Executiva, in Themis, Ano IV, n. 7, pg. 196; Eduardo Paiva e Helena Cabrita, O Processo Executivo e o Agente de Execuo, pg. 183). 3 Trata-se de mais um conceito indeterminado que deve ser preenchido pelo agente de execuo ou, em caso de discordncia com o critrio adoptado por este, pelo juiz de execuo, a solicitao do exequente, do executado ou de credor reclamante. Seja como for, parece que o agente de execuo deve avaliar, em funo do tempo necessrio para a realizao da abertura de propostas em carta fechada e da data de vencimento do crdito, se vantajosa para a execuo esta forma de adjudicao.

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    Esta adjudicao feita pelo valor da prestao devida, adjudicando-se o direito ao requerente mas, se estiver a decorrer a decorrer um determinado perodo at ao vencimento desse direito de crdito, efectuado o desconto correspondente taxa legal de juros de mora, a no ser que, sendo prxima a data de vencimento, os credores proponham (ou o agente de execuo decida oficiosamente) a suspenso da execuo sobre o crdito penhorado at ao vencimento; porm, se a data de vencimento no for prxima, o requerente pode optar pela via das propostas em carta fechada, indicando o preo que oferece por esse crdito (artigos 876., n. 3 e 877., ambos do Cdigo de Processo Civil).

    A adjudicao de direito de crdito feita a ttulo de dao pro solvendo, se o requerente o pretender e os restantes credores no se opuserem, suspendendo-se a instncia, caso a execuo no prossiga sobre outros bens (artigo 875., n. 6 do citado Cdigo).

    Assim, a adjudicao apenas ter esse efeito se o prprio requerente o indicar no pedido de adjudicao e os restantes credores no se opuserem, devendo o agente de execuo notificar os restantes credores4 para, querendo e no prazo de dez dias, se pronunciarem com a indicao de que, no manifestando a sua oposio, considerar-se que a adjudicao do crdito ao requerente ter o efeito pretendido.

    Os credores podem acordar, ou o juiz determinar, a suspenso da instncia sobre o crdito penhorado, se for prxima a data do seu vencimento (artigo 875., n. 7 do mesmo Cdigo).

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    A adjudicao de rendas, abonos, vencimentos, salrios ou outros rendimentos peridicos faz-se mediante a entrega directa das quantias ao adjudicatrio (artigos 861., n. 3 e 875., n. 8, ambos do Cdigo de Processo Civil).

    Assim, caso tenham sido penhoradas rendas, abonos, vencimentos, salrios ou outros rendimentos peridicos, estes podem ser directamente entregues ao adjudicatrio, findo o prazo de oposio, se esta no tiver sido deduzida, ou julgada a oposio improcedente, que no garantam crdito reclamado, at ao valor da dvida exequenda, depois de descontado o montante relativo a despesas de execuo (artigos 875., n. 8, 861., n. 3 e 821., n. 3, todos do Cdigo de Processo Civil).

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    O requerimento de adjudicao dos bens penhorados, quer seja apresentado pelo exequente, quer por qualquer dos credores reclamantes pode ter lugar em qualquer fase do processo - desde que os bens no tenham sido vendidos ou adjudicados -, mesmo na situao de se ter frustrado a venda por propostas em carta fechada e a execuo tenha prosseguido para venda por negociao particular (ou venda em estabelecimento de leilo ou leilo electrnico).

    Com efeito, nesta ltima hiptese, a venda por negociao particular (ou outra modalidade da venda) ter lugar pela circunstncia de no terem sido apresentadas propostas, devendo assim o requerente da adjudicao indicar o preo que oferece e no podendo este ser inferior a 70 % do valor base dos bens (artigos 875., n. 3 e 889., n. 2, ambos do Cdigo de Processo Civil).

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    A adjudicao no dispensa a citao das entidades referidas nas leis fiscais (Fazenda Pblica, do Instituto da Segurana Social I.P. e do Instituto de Gesto Financeira da Segurana Social I.P.) as quais devero ser citadas, exclusivamente por meios

    nosso entendimento que este conceito indeterminado de proximidade poder situar-se, num conceito de razoabilidade, num perodo no superior a seis meses, salvo interpretao diversa que seja aferida perante um caso concreto. 4 Se no o tiver feito antes (artigo 876. do Cdigo de Processo Civil).

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    electrnicos, no prazo de cinco dias contados da realizao da ltima penhora (artigo 864., n. 4 do Cdigo de Processo Civil).

    A falta das citaes para o concurso de credores tem o mesmo efeito que a falta de citao do ru, mas no importa a anulao das vendas, adjudicaes, remies e pagamentos j efectuados, dos quais o exequente no haja sido exclusivo beneficirio, ficando salvo pessoa que devia ter sido citada o direito de ser indemnizada, pelo exequente ou outro credor pago em vez dela, segundo as regras do enriquecimento sem causa, sem prejuzo da responsabilidade civil, nos termos gerais, da pessoa a quem seja imputvel a falta de citao (artigo 864., n. 11 do Cdigo de Processo Civil).

    H falta de citao quando o acto tenha sido completamente omitido, quando tenha havido erro de identidade do citado, quando se tenha empregado indevidamente a citao edital, quando se mostre efectuada depois do falecimento do citando e quando se demonstre que o destinatrio da citao pessoal no chegou a ter conhecimento do acto, por facto que lhe no seja imputvel (artigo 195. do citado Cdigo).

    A falta de citao dos credores determina a anulao do que se tiver processado aps ela, exceptuando-se as vendas, adjudicaes, remisses ou pagamentos j efectuados, dos quais o exequente no haja sido o exclusivo beneficirio, o que suceder quando seja comprador, quando seja adjudicatrio outro credor, quando os bens adquiridos pelo exequente forem remidos ou quando for reconhecido direito de preferncia doutra pessoa na aquisio feita pelo exequente, havendo ento dois beneficirios: - imediatamente o comprador, adjudicatrio, remidor ou preferente e, mediatamente, o exequente, que vir a ser pago pelo preo da alienao (Lopes Cardoso, Manual da Aco Executiva, pg. 501).

    O exequente apenas ser exclusivo beneficirio da venda ou adjudicao quando seja ele o comprador ou adjudicatrio, sem que sobrevenha preferncia ou remio, ou quando lhe caiba em pagamento todo o preo da coisa adquirida.

    As vendas ou adjudicaes no se anulam, em regra, por a lei querer proteger os que adquirem bens na execuo, que no se podem considerar responsveis pela falta de citaes. Com essa proteco, os bens so tambm vendidos por melhor preo e com menor dificuldade.

    Subsistindo as vendas, adjudicaes, remies ou pagamentos, a pessoa que devia ter sido citada fica com o direito a ser indemnizada, pelo exequente ou outro credor pago em vez dela, segundo as regras do enriquecimento sem causa, sem prejuzo da responsabilidade civil, nos termos gerais, da pessoa a quem seja imputvel a falta de citao, isto porque a pessoa no citada, se o tivesse sido, poderia receber parte do produto da venda, que acabou assim por reverter para os demais.

    Arguida e julgada procedente a falta de citao, depois da venda ou adjudicao, mas antes de efectuados os pagamentos, a venda mantm-se, mas os pagamentos no podem ser efectuados, devendo antes ser ressarcido o lesado com o produto daquela. Tendo em conta que o exequente ou qualquer outro credor ainda no viram satisfeita a sua pretenso, seria injustificado que contra eles se instaurasse uma aco de indemnizao para reparao do dano da pessoa que devia ter sido citada.

    Assim, civilmente responsvel, nos termos gerais e de harmonia com o disposto no artigo 483. do Cdigo Civil, pela falta de citao, o agente de execuo, por a este quem competia efectuar as citaes (artigo 808., n. 1 do Cdigo de Processo Civil), cabendo ao lesado o nus da prova no que concerne verificao dos requisitos da responsabilidade civil.

    Preenchendo-se tanto os pressupostos da responsabilidade civil do agente de execuo como aqueles de que depende a indemnizao segundo as regras do enriquecimento sem causa por parte do exequente ou de outro credor beneficiado pelo

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    pagamento, pode o lesado lanar mo de ambos os meios ressarcitrios contra cada um dos respectivos obrigados.

    Outro argumento que justifica que a adjudicao no dispensa a citao dos credores a inexistncia de disposio normativa semelhante quela que existe para a consignao de rendimentos (artigo 879., n. 3 do Cdigo de Processo Civil) em que se prev expressamente que no h lugar citao dos credores, se o exequente requerer a consignao judicial de rendimentos antes da convocao daqueles e o executado no requerer a venda dos bens pois a razo desta dispensa filia-se na desnecessidade de se proceder expurgao de nus ou encargos, no havendo lugar venda ou adjudicao.

    III VENDA ANTECIPADA DE BENS

    Estabelece o artigo 886.-C do Cdigo de Processo Civil a venda antecipada de bens (mveis ou imveis) quando: -

    a) - No poderem os bens conservar-se, por se encontrarem sujeitos a deteriorao ou depreciao;

    b) - Haver manifesta vantagem na antecipao da venda.

    A venda antecipada pode ser realizada ou autorizada pelo agente de execuo, a requerimento do exequente, do executado ou do depositrio. Sobre o pedido so ouvidos o exequente e o executado, a menos que um deles seja o requerente, salvo se a urgncia da venda impuser uma deciso do juiz de execuo (artigo 886.-C, n.os 2 e 3 do Cdigo de Processo Civil).

    Cabia ao juiz de execuo autorizar a antecipao da venda, competncia agora atribuda ao agente de execuo que passa a poder realizar ou autorizar essa antecipao da venda e desde que no seja exigida uma deciso imediata.

    No sendo os bens vendidos em bolsas ou a determinadas pessoas ou entidades, a venda ser feita pelo depositrio, de harmonia com o que se estabelece para a venda por negociao particular, ou pelo agente de execuo, nos casos em que o executado ou o detentor dos bens tenha assumido as funes de depositrio (artigo 886.-C, n. 4 do Cdigo de Processo Civil.

    Assim sendo, que critrios devero ser seguidos pelo agente de execuo que, confrontado com uma situao de depreciao ou deteriorao dos bens ou uma manifesta vantagem na antecipao da venda, deva optar pela sua realizao ou autorizao ou por suscitar a deciso imediata do juiz de execuo.

    Em primeiro lugar, importa ter presente que, por um lado, a antecipao da venda implica uma limitao dos direitos do executado em consequncia mas, por outro lado, essa mesma antecipao (incidindo sobre bens em risco de depreciao ou deteriorao ou havendo manifesta vantagem nessa mesma antecipao) realizada em benefcio do exequente e do executado que, desta forma, no so afectados pela reduo do valor dos bens.

    No sendo requerida pelo exequente, executado ou pelo depositrio - os quais tero que fundamentar adequadamente o pedido formulado -, e seja qual for o fundamento para a antecipao, o agente de execuo deve efectuar um juzo de prognose temporal relativamente ao perodo de audio do exequente e do executado e o tempo previsvel para a deteriorao ou depreciao dos bens penhorados ou para a ocorrncia da circunstncia que determina a manifesta vantagem na antecipao da venda.

    Se este for inferior ao lapso temporal de observncia do contraditrio, o agente de execuo deve propor a realizao urgente da venda ao juiz de execuo,

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    fundamentando as razes da sua proposta (artigo 886.-C, n. 3 do Cdigo de Processo Civil).

    Se, pelo contrrio, o lapso temporal for superior, a deciso sobre a venda antecipada cabe ao agente de execuo (n. 2 do mesmo artigo).

    Para este feito, importa ter presente que os prazos a observar para o exerccio do contraditrio so os seguintes: -

    a) - o prazo para a audio do exequente ou do executado (ou de ambos), que corre em simultneo e que, no estando expressamente previsto, corresponde ao prazo geral de dez dias (artigo 153., n. 1 do Cdigo de Processo Civil);

    b) - o prazo de que o agente de execuo dispe para efectuar a notificao do exequente e do executado e que se encontra fixado em cinco dias (artigo 808., n. 12 do mesmo Cdigo);

    c) - o prazo que cada uma das partes dispe para impugnar as decises do agente de execuo (dez dias) (artigo 153., n. 1 do citado Cdigo);

    d) - o prazo que o juiz de execuo fixou para a audio da parte contrria, em consequncia da impugnao apresentada sobre a deciso do agente de execuo e que, normalmente e por no existir prazo diverso, fixado em dez dias (artigo 153., n. 1 do mesmo Cdigo);

    e) - o prazo que o juiz de execuo dispe para decidir as impugnaes de decises do agente de execuo e que se encontra fixado em dez dias (artigo 809., n. 1, alnea c), do referido Cdigo);

    f) - a todos estes prazos, devero ser somados os prazos de dilao e os prazos para a prtica de actos por parte da secretaria judicial para apresentao do processo para concluso ao juiz de execuo, prazos esses que variam de acordo com os actos que devam ser praticados pelo juiz de execuo, pelo agente de execuo ou pelas partes (artigos 144., n. 1, 166., 254., n.os 3 a 5 e 255., n. 1, todos do Cdigo de Processo Civil).

    Com base neste juzo de prognose temporal, possvel estabelecer que um perodo de depreciao ou deteriorao dos bens penhorados ou na ocorrncia de uma circunstncia que implique manifesta vantagem na antecipao da venda situado entre sessenta a noventa dias, deve implicar a interveno do juiz de execuo (artigo 886.-C, n. 3 do Cdigo de Processo Civil).

    Convm ter presente que, embora a lei processual civil no o diga expressamente, a tramitao processual deste incidente de venda antecipada de bens deve revestir natureza urgente e, desta forma, correr em frias judiciais. Seria absolutamente incompreensvel, por exemplo, que o agente de execuo efectuasse a penhora de um lote de pescado no dia 25 de Julho e que a venda deste bem tivesse que aguardar o dia 1 de Setembro quando sabido que aquele lote estaria depreciado ou deteriorado em alguns dias caso a venda no fosse realizada com a necessria urgncia.

    De igual modo, as despesas decorrentes do depsito dos bens penhorados devero ser atendidas para efeitos de eventual antecipao da venda, nomeadamente quando a natureza dos bens implique custos anormais do depsito que aconselhem ou justifiquem a sua venda antecipada, nomeadamente quando estejam em causa animais vivos5, objectos de grande dimenso6 ou cujas condies de mercado o exijam7.

    5 Os custos com o depsito de animais vivos implicam a alimentao e tratamento destes animais que podero implicar valores incomportveis para os fins e os valores envolvidos na prpria execuo. Basta

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    Uma questo que se pode colocar a propsito da venda antecipada de bens radica na possibilidade de venda de veculos automveis penhorados, por ser sabido que o valor de mercado dos mesmos sofre depreciao em consequncia do tempo e o perodo de realizao da venda executiva se tem prolongado excessivamente, conduzindo a situaes de absoluta reduo dos valores venais do veculo que, por vezes, nem sequer justificam os custos e encargos da execuo.

    nosso entendimento que, em condies normais8, a penhora de um veculo automvel no implica, necessariamente, que, na fase posterior da venda, se devam aplicar as regras da antecipao da venda previstas no artigo 886.-C do Cdigo de Processo Civil na medida em que esta previso normativa pretende abranger as situaes em que a deteriorao ou depreciao do valor dos bens penhorados no se encontra dependente da demora do processo executivo mas sim da prpria natureza ou das caractersticas dos bens9.

    IV VENDA DIRECTA

    A venda directa tem lugar nas seguintes situaes (artigo 903. do Cdigo de Processo Civil): -

    a) - se os bens penhorados deverem ser entregues a determinada entidade, por fora da lei;

    b) - se os bens penhorados tiverem sido objecto de contrato promessa de compra e venda com eficcia real e o promitente comprador pretender exercer o direito de execuo especfica.

    Esta modalidade da venda tem lugar sempre que os bens tenham que ser entregues a certas entidades para salvaguarda de determinados interesses e, da sua realizao, deve ser incumbido o depositrio que a ela proceder pelo preo estabelecido na lei.

    Estas situaes de venda directa so difceis de admitir por se mostrarem incompatveis com a proibio de monoplios comerciais no interior da Unio Europeia (artigo 49. do Tratado de Lisboa e Decreto-Lei n. 214/86, de 2 de Agosto), sendo apenas exemplo da possibilidade de venda directa o exclusivo de aquisio pela Casa do Douro de vinho da regio demarcada do Douro.

    Nos termos do disposto no artigo 903. do Cdigo de Processo Civil (com a redaco introduzida pelo Decreto-Lei n. 38/2003) tambm poder haver venda directa a

    pensar, por exemplo, que a manuteno de um cavalo a penso pode implicar valores dirios bastante elevados e que no sero compensados pela prpria venda do animal, ainda que este seja um cavalo de raa. 6 o caso, por exemplo, de mquinas de construo ou veculos de transporte de grandes dimenses, cujo depsito e guarda pode implicar valores desproporcionados face aos valores previsivelmente alcanados com a venda. 7 possvel considerar nesta situao a venda de aces em que se prevejam variaes de mercado que podem conduzir sua depreciao ou a venda de bens em que surja um potencial interessado na sua aquisio cuja aceitao do negcio esteja dependente de determinado prazo. 8 O que no invalida que, verificadas as condies exigidas pela disposio normativa em causa, no se possa antecipar a venda de um veculo automvel penhorado. 9 H que ter presente que na previso legislativa no so consideradas duraes dos prazos da venda de vrios meses ou anos e que se verificam no processo executivo provocados, nem sempre, pelos prprios sujeitos processuais mas tambm pelas caractersticas do mercado, nem sempre ajustado s regras da venda executiva.

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    favor de quem queira exercer o direito de execuo especfica quando os bens lhe tiverem sido prometidos vender, com eficcia real.

    Na doutrina, discute-se sobre a inconvenincia ou inconstitucionalidade desta disposio normativa, sendo afirmado que a mesma constitui flagrante violao da norma substantiva que permite o direito de execuo especfica e inconstitucionalidade por no permitir ao promitente vendedor a possibilidade de questionar o direito de aquisio do promitente comprador no mbito da aco executiva, tendo ainda o promitente comprador a possibilidade de exercer os seus direitos mediante embargos de terceiro (neste sentido, Fernando Amncio Ferreira, Curso de Processo de Execuo, 8. edio, pgs. 355-357), enquanto que outros afirmam inexistir qualquer problema no mbito desta disposio normativa (neste sentido, Lebre de Freitas, Cdigo de Processo Civil Anotado, 3. vol., pg. 596; Paula Costa e Silva, A Reforma da Aco Executiva, 2. edio, pg. 113; Rui Pinto, A Aco Executiva Depois da Reforma, pg. 204).

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    Contudo, nem os defensores desta soluo normativa nem a prpria norma nos diz por que preo so os bens vendidos ao promitente comprador, designadamente se deve ser abatido o sinal passado, caso o haja, e de que forma podem o exequente e os credores reclamantes, estes se tiverem garantia real sobre os bens a vender, questionar o valor fixado pelo agente de execuo.

    A tese prevalecente inclina-se para que o preo da venda directa deve corresponder ao montante que o promitente vendedor se obrigou a pagar pela aquisio do bem, sendo eventualmente deduzido o valor do sinal entregue.

    O executado (promitente vendedor) no fica impedido de discutir o direito de aquisio do promitente comprador mas deve faz-lo em aco declarativa autnoma e que, eventualmente, poder ser causa de suspenso da execuo quanto venda deste bem em face da existncia de questo prejudicial (artigo 279., n.os 1 a 3 do Cdigo de Processo Civil).

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    Os bens sujeitos a venda directa no podem ser adjudicados em pagamento (artigo 875., n. 1 do Cdigo de Processo Civil) e, como s as pessoas ou entidades determinadas na lei podem adquirir os bens, no pode tambm neste tipo de venda ser exercido nem o direito de preferncia nem o direito de remio (artigo 886., n. 2 do Cdigo de Processo Civil).

    V VENDA DE ESTABELECIMENTO COMERCIAL

    Na doutrina, o conceito de estabelecimento comercial tem sido definido da seguinte forma: -

    a) - unidade jurdica fundada em organizao de meios que constitui um instrumento de exerccio relativamente estvel e autnomo de uma actividade comercial (Coutinho de Abreu, Curso de Direito Comercial, vol. I, 3. edio, Almedina);

    b) - complexo de foras produtivas e de bens destinado a um dado exerccio comercial (Mrio de Figueiredo, Natureza Jurdica do Estabelecimento Comercial, BFDUC, Ano VIII, 1926, pg. 49);

    c) - conjunto ou complexo de coisas corpreas e incorpreas organizado para o exerccio do comrcio por determinada pessoa singular ou colectiva (Barbosa de Magalhes, Do Estabelecimento Comercial, tica, 1951, pg. 13);

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    d) - complexo de organizao comercial do comerciante (Ferrer Correia, Lies de Direito Comercial, vol. I, Universidade de Coimbra, policopiado, pg. 201);

    e) - um conjunto de meios que projecte no pblico a imagem da empresa, que projecte os valores de organizao e explorao que verdadeiramente indicam o estabelecimento como bem (Orlando de Carvalho, Alguns Aspectos da Negociao do Estabelecimento, Revista de Legislao e Jurisprudncia, n. 3699, Ano 115., pg. 167);

    f) - conjunto de bens e servios organizado pelo comerciante com vista ao exerccio da sua explorao comercial (Fernando Olavo, Direito Comercial, vol. I, 2. edio, pg. 260);

    g) - conjunto de coisas corpreas e incorpreas devidamente organizadas para a prtica do comrcio, constituindo uma esfera jurdica e no apenas um patrimnio, incluindo ou podendo incluir o passivo e toda uma srie de posies contratuais recprocas (Menezes Cordeiro, Manual de Direito Comercial, Almedina, pg. 239 e 258).

    A venda de estabelecimento comercial de valor superior a quinhentas unidades de conta10 tem lugar, sob proposta do exequente, do executado ou de um credor que sobre ele tenha garantia real, mediante propostas em carta fechada (artigo 901.-A, n. 1 do Cdigo de Processo Civil).

    Compete ao juiz de execuo determinar se as propostas sero abertas na sua presena, sendo-o sempre na presena do agente de execuo e aplicando-se, com as devidas adaptaes, as normas previstas para a venda mediante propostas em carta fechada (n.os 2 e 3 do mesmo artigo).

    Se o estabelecimento comercial tiver valor igual ou inferior a quinhentas unidades de conta, ser o mesmo vendido ou por negociao particular (artigo 905. do citado Cdigo), em estabelecimento de leilo (artigo 906. do referido Cdigo) ou em leilo electrnico (artigo 907.-A deste Cdigo).

    Cabe ao agente de execuo, quando a lei no dispuser diversamente e ouvidos os interessados (exequente, executado e credores com garantia sob os bens a vender), determinar quer a modalidade da venda, quer o valor base dos bens a vender, quer a eventual formao de lotes, com vista venda em conjunto dos bens penhorados (artigo 886.-A, n.os 1 e 2 do Cdigo de Processo Civil).

    Esta deciso deve ter como objecto a modalidade da venda (relativamente a todos ou a cada categoria de bens penhorados11), o valor base dos bens a vender e a eventual formao de lotes, com vista venda em conjunto dos bens penhorados.

    10 Com esta definio, o legislador veio concretizar o conceito de valor consideravelmente elevado que constava da redaco da norma emergente do Decreto-Lei n. 38/2003, de 8 de Maro, pelo que, considerando o valor da unidade de conta fixado para o ano de 2010 (cento e dois euros), o valor do estabelecimento comercial que justifica a venda mediante propostas em carta fechada encontra-se estabelecido actualmente em trinta e um mil euros (artigo 5., n. 2 do Regulamento das Custas Processuais). A Portaria n. 1514/2008, de 24 de Dezembro, que havia actualizando o indexante de apoios sociais e, consequentemente, o valor da unidade de conta, foi revogada pela Portaria n. 1458/2009, de 31 de Dezembro, ficando o valor da unidade de conta para 2010 inalterado, ou seja, em 102,00 (esta interpretao no uniforme na medida em que pode ser entendido que, sendo o valor dos indexantes de apoio social de 419,22, o valor da unidade de conta deveria ser de 105,00, de acordo com o artigo 3. do Decreto-Lei n. 323/2009, de 24 de Dezembro). 11 De acordo com a alnea e), do artigo 904. (venda por negociao particular em consequncia da frustrao da venda em depsito pblico ou equiparado por falta de proponentes ou no aceitao de propostas e, atenta a natureza dos bens, aquela seja aconselhvel), da alnea b), do n. 1 do artigo 906. (venda por estabelecimento de leilo de coisa mvel que o agente de execuo entenda fazer preterir a venda por

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    O valor de base dos bens imveis igual ao seu valor patrimonial tributrio, nos termos da avaliao realizada h menos de trs anos ou igual ao seu valor de mercado, nos restantes casos (artigo 886.-A, n. 3 do mesmo Cdigo).

    Cabe ao agente de execuo fixar o valor dos restantes bens penhorados de acordo com o valor de mercado, promovendo as diligncias necessrias fixao desse valor, quando o considere vantajoso ou algum dos interessados o pretenda (artigo 886.-A, n.os 4 e 5 do citado Cdigo).

    Esta avaliao do estabelecimento comercial (e dos demais bens penhorados cujo valor de mercado no esteja legalmente estabelecido) deve ser realizada por pessoa idnea e habilitada para o efeito.

    A penhora do estabelecimento comercial feita por auto12, no qual se relacionam os bens que essencialmente o integram13, incluindo os direitos de crdito e o direito ao arrendamento14, se do estabelecimento fizerem parte bens dessa natureza (artigo 862.-A, n. 1 do Cdigo de Processo Civil).

    Deste modo, o estabelecimento comercial deve ser penhorado como uma universalidade, devendo ser relacionados as instalaes, utenslios, mercadorias e quaisquer outros bens indispensveis ao normal funcionamento do estabelecimento (artigo 1112., n. 2, alnea a), do Cdigo Civil).

    Com a descrio no auto de penhora dos valores patrimoniais que integram o estabelecimento, pretende-se facilitar, desde logo, a prova da ligao de certos bens ao estabelecimento e dificultar a subtraco, alienao ou onerao fraudulenta desses bens (Antunes Varela, Revista de Legislao e Jurisprudncia, Ano 115., pg. 267).

    Por uma questo de segurana jurdica, afigura-se conveniente fazer figurar a indicao do valor da renda no auto de penhora ou na declarao posterior do senhorio (artigo 856., n.os 2 e 3 do Cdigo de Processo Civil) de forma a evitar a insubsistncia da penhora e a invalidade da venda subsequente do estabelecimento comercial (neste sentido, Lebre de Freitas, A Aco Executiva, pgs. 488-490; em sentido contrrio, Amncio Ferreira, Curso de Processo de Execuo, pgs. 275-276).

    Assim, o valor resultante da avaliao do estabelecimento comercial realizada aquando da penhora o valor de referncia que deve ser considerado para determinar a modalidade da venda, sem prejuzo de, na fase da venda, ser fixado valor diverso.

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    A deciso do agente de execuo que fixe a modalidade da venda, o valor base dos bens a vender e a eventual formao de lotes deve ser notificada ao exequente, ao executado, aos credores reclamantes com garantia sobre os bens a vender, bem como aos titulares de direitos reais de gozo caducveis sobre os bens a vender, desde que a penhora se tenha estendido aos seus direitos, preferencialmente por meios electrnicos (artigo 886.-A, n. 6 do Cdigo de Processo Civil).

    Caso algum destes interessados discorde da deciso, cabe ao juiz resolver, sem possibilidade de recurso (artigo 886.-A, n. 7 do citado Cdigo).

    negociao particular) e do n. 3 do artigo 907. (venda por propostas em carta fechada ou por negociao particular em consequncia de anulao de leilo). 12 Para a penhora de estabelecimento individual de responsabilidade limitada (EIRL), convm ter presente o disposto no artigo 22. do Decreto-Lei n. 248/86, de 25 de Agosto, que estabelece a penhora deste tipo de estabelecimento, cujas regras no so muito diversas das fixadas para a penhora do estabelecimento comercial em geral (neste sentido, Rui Pinto Duarte, A Penhora e a Venda Executiva do Estabelecimento Comercial, Revista Themis, Ano V n. 9, 2004, pg. 125). 13 O elenco de bens mveis no tem que ser exaustivo mas permitir a identificao dos bens relativamente ao estabelecimento comercial em causa. 14 Assim, pertencendo o local de funcionamento do estabelecimento a um terceiro, deve este ser notificado de que o direito ao arrendamento fica ordem do agente de execuo.

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    Optando-se pela realizao da venda mediante propostas em carta fechada, o valor a anunciar para a venda do estabelecimento comercial de valor superior a quinhentas unidades de conta ser igual a 70 % do valor base dos bens (artigo 889., n. 2 do mesmo Cdigo).

    A venda mediante propostas em carta fechada feita no tribunal da execuo a menos que o juiz, oficiosamente ou a requerimento dos interessados, ordene que tenha lugar no tribunal da situao dos bens (artigo 889., n. 3 do citado Cdigo).

    No afirma a lei processual civil como que o juiz, que no trata da promoo e realizao da venda executiva, pode, oficiosamente conhecer desta questo e s pode determinar que a venda se faa no tribunal da situao dos bens se o processo lhe foi apresentado por qualquer razo, designadamente para a designao de dia e hora para a abertura de propostas em carta fechada15.

    Por outro lado, no sendo as propostas abertas na presena do juiz de execuo mas, obrigatoriamente, na presena do agente de execuo, cabe a este determinar se a venda realizada na rea da comarca onde corre a execuo ou, por sua prpria iniciativa ou a requerimento dos interessados, ser realizada na rea da comarca onde se encontre localizado o estabelecimento comercial.

    Parece-nos que, quer seja decidida oficiosamente pelo agente de execuo, quer seja requerida a realizao da venda mediante propostas em carta fechada na rea da comarca onde se encontre localizado o estabelecimento comercial, o critrio de deciso dever assentar nas vantagens que podero ocorrer para a realizao da venda e para a apresentao de potenciais compradores, no apenas pelo melhor conhecimento das caractersticas do estabelecimento, da sua localizao e da divulgao que tenha sido realizada relativamente venda.

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    Tratando-se de estabelecimento comercial de valor superior a quinhentas unidades de conta e, ouvidos os interessados, o agente de execuo tenha decidido pela modalidade da venda mediante propostas em carta fechada, deve este requerer ao juiz de execuo que decida se as propostas devero ser abertas, ou no, na sua presena e, bem assim, se a venda dever ter lugar no tribunal da situao do estabelecimento comercial.

    Se o juiz de execuo determinar que as propostas devem ser abertas na sua presena e no tribunal da execuo16, dever ainda designar dia e hora para a abertura das propostas, o qual dever ser publicitado pelo agente de execuo com a antecipao mnima de dez dias para se dar ao facto a maior publicidade, por meio de edital a afixar na porta do estabelecimento comercial a vender e mediante anncio em pgina informtica de acesso pblico (artigo 890., n. 1 do Cdigo de Processo Civil).

    Por iniciativa do agente de execuo ou por sugesto dos interessados na venda, podem ainda ser utilizados outros meios de divulgao que se considerem eficazes, como atravs do recurso a dirios ou semanrios nacionais ou regionais, a notas informativas impressas em grande formato e em pginas relevantes (estranhas s de

    15 Nada impede, contudo, que o prprio agente de execuo possa sugerir ao juiz que a venda se faa no tribunal da situao dos bens se esta propiciar uma maior eficcia, pelo conhecimento das caractersticas especficas do bem e da sua localizao. Contudo, face ao regime legal, s em situaes excepcionais e devidamente fundamentadas, deve a venda ser realizada no tribunal da situao dos bens. 16 Importa ter presente que o juiz da execuo pode determinar que as propostas sejam abertas no tribunal da localizao do estabelecimento comercial e na presena do juiz, para o que dever mandar expedir carta precatria para a realizao da venda no tribunal da situao do estabelecimento comercial (neste sentido, Eduardo Paiva e Helena Cabrita, O Processo Executivo e o Agente de Execuo, pg. 157).

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    publicidade) dos peridicos, rdio, televiso e a stios na Internet17 (artigo 890., n. 2 do Cdigo de Processo Civil).

    Por meio da publicidade pretende-se que a venda seja o mais rendosa possvel, mediante a maior concorrncia praticvel na apresentao de propostas, em vista adjudicao de bens pelo preo mais elevado que se possa obter (Alberto dos Reis, ob. cit., vol. II, pg. 334).

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    A deciso que designa o dia e hora para a abertura das propostas notificada ao exequente, ao executado e aos credores reclamantes de crditos com garantia sobre os bens a vender (artigo 886.-A, n. 6 do Cdigo de Processo Civil), bem como aos titulares do direito de preferncia, legal ou convencional com eficcia real, na alienao dos bens, estes para poderem exercer o seu direito no prprio acto, caso alguma proposta seja aceite (artigo 892., n. 1 do citado Cdigo).

    A publicidade da venda faz-se atravs de anncio na pgina informtica de acesso pblico, no endereo electrnico http://www.tribunaisnet.mj.pt (artigo 35., n. 1 da Portaria n. 331-B/2009, de 30 de Maro).

    O anncio (e os editais e demais elementos de divulgao e notificaes) deve conter (n. 2 do artigo 35. da Portaria n. 331-B/2009): -

    a) - a identificao do processo de execuo (nmero, tribunal e juzo);

    b) - o nome do executado;

    c) - a identificao do agente de execuo;

    d) - as caractersticas do bem (estabelecimento comercial indicando, por exemplo, o ramo de actividade, a identificao do alvar de funcionamento, o modo de utilizao do local onde funciona);

    e) - a modalidade da venda;

    f) - o valor (mnimo) para a venda;

    g) - o dia, hora e local de abertura das propostas;

    h) - a meno, sendo caso disso, ao facto de a sentena que serve de titulo executivo estar pendente de recurso ou se encontra pendente oposio execuo ou penhora;

    i) - quaisquer outras informaes relevantes, designadamente nus e encargos que incidam sobre o bem18, bem como, sempre que possvel, fotografias que permitam identificar as caractersticas exactas do bem e o seu estado de conservao (n. 3 do mesmo artigo);

    j) - se for caso disso, a notcia de protesto pela reivindicao da coisa por parte de terceiro que invoque direito prprio incompatvel com a transmisso (artigo 910. do Cdigo de Processo Civil);

    17 Entendemos que nada impede que o agente de execuo no disponha de pgina informtica na internet onde publicite a realizao das vendas que tiver em curso, desde que essa divulgao se faa de acordo com as regras processuais exigidas. 18 O que inclui a meno dos direitos reais de gozo que no caducam, quer por terem registo anterior ao de qualquer arresto, penhora ou garantia, por se terem garantido anterior, quer por a penhora a eles se no ter estendido, em caso de registo ou constituio posterior (artigo 824., n. 2 do Cdigo Civil).

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    j) - a indicao das horas em que, durante o dia, o estabelecimento comercial pode ser observado e examinado pelos interessados na sua aquisio (artigo 891. do Cdigo de Processo Civil).

    Com vista a possibilitar a prova sobre a publicidade da venda, o agente de execuo deve fazer constar do processo uma cpia do edital, na qual declare o dia e hora em que procedeu sua afixao, bem como a impresso do anncio electrnico e dos demais instrumentos que utilizou para a divulgao19.

    Durante o prazo do edital e anncio e at ao dia de abertura das propostas, o depositrio obrigado a mostrar o estabelecimento comercial a quem pretenda examin-lo (artigo 891. do Cdigo de Processo Civil) para que os possveis compradores possam ajuizar sobre os preos que devam propor, atendendo natureza, s qualidades, ao estado de conservao e ao valor dos bens exibidos e que o constituem.

    Para que esta obrigao no se torne demasiado onerosa para o depositrio, permite a lei que ele fixe as horas em que, durante o dia, facultar a inspeco, desde que torne isso pblico, por qualquer meio, designadamente pela insero dessa informao no edital da venda e no anncio.

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    Caso sejam abertas na presena do juiz, as propostas devero ser apresentadas em cartas fechadas, referindo-se no exterior destas a venda a que respeitam20, e devem ser entregues na secretaria do tribunal at ao momento da abertura21.

    Depois de apresentadas, as propostas no podem ser retiradas, a no ser que a sua abertura seja adiada por mais de noventa dias (artigo 893., n. 4 do Cdigo de Processo Civil) e, sendo uma delas aceite, fica o proponente obrigado a pagar o preo, sob pena de se sujeitar s sanes do artigo 898. do citado Cdigo.

    Junto com a proposta, devem os proponentes apresentar, como cauo, um cheque visado, ordem do agente de execuo ou, na sua falta, da secretaria, do montante correspondente a cinco por cento do valor base dos bens ou garantia bancria do mesmo valor22 (artigo 897., n. 1 do Cdigo de Processo Civil).

    Sendo a abertura das propostas efectuada perante o juiz, deve estar obrigatoriamente presente o agente de execuo, e a ela podem assistir, alm dos

    19 No caso da divulgao atravs da rdio e televiso, pode incluir o contrato celebrado com estas entidades, donde constam necessariamente os tempos de divulgao e a regularidade da mesma, bem como durante quanto tempo a mesma se realizou; j no que respeita divulgao atravs de jornais ou outras publicaes, deve ser junto o original da respectiva pgina de forma que permita identificar o jornal e a data de publicao. 20 Embora no seja prtica nos tribunais, o proponente deve identificar-se da mesma forma que qualquer interveniente no processo, ou seja, pelo nome, estado civil, domiclio e nmero de contribuinte, tendo em conta que tais elementos so essenciais para permitir o cumprimento do disposto no artigo 897., n. 2 do Cdigo de Processo Civil (notificao para depsito de parte ou da totalidade do preo) ou ainda, sendo a proposta admitida, tratando-se de bens sujeitos a registo, a efectivao do respectivo registo (artigo 900., n. 2 do mesmo Cdigo) e ainda para permitir o cumprimento das obrigaes fiscais emergentes da venda. 21 O texto legal parece evidenciar que as propostas no devem ser entregues ao agente de execuo, mesmo que o juiz no tenha qualquer interveno na abertura das mesmas o que pode condicionar o local de abertura destas. por isso que, em nossa opinio, ainda que o juiz determine que as propostas no sejam abertas na sua presena, o agente de execuo dever ajustar com o secretrio de justia ou administrador do tribunal (responsvel pelo edifcio do tribunal) a utilizao de um espao no interior do tribunal para que se proceda abertura das propostas, devendo este espao garantir a necessria salvaguarda da dignidade da diligncia e oferecer as mnimas condies de trabalho ao agente de execuo. 22 Este valor foi reduzido de 20 % para 5 % por cento em consequncia das alteraes introduzidas pelo Decreto-Lei n. 226/2008, deixando a percentagem de incidir sobre o valor base do bem para passar a incidir sobre o valor anunciado para a venda, valor este reduzido a 70 % (artigo 889., n. 2 do Cdigo de Processo Civil).

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    proponentes, o executado, o exequente e dos reclamantes de crditos com garantia sobre os bens a vender (artigo 893., n. 1 do Cdigo de Processo Civil); no sendo a abertura das propostas efectuada perante o juiz, sero as propostas abertas pelo agente de execuo, com a assistncia das mesmas pessoas, incumbindo quele a conduo e direco do acto.

    Abertas as propostas, podem verificar-se duas situaes (artigo 893., n.os 2 e 3 do Cdigo de Processo Civil): -

    a) - um nico proponente oferece o preo mais elevado, passando-se de imediato deliberao (artigo 894., n. 2 do Cdigo de Processo Civil);

    b) - vrios proponentes oferecem o preo mais elevado, procedendo-se logo a licitao entre os respectivos proponentes, se estiverem presentes e no declararem querer adquirir os bens em compropriedade.

    Estando presente s um dos proponentes do maior preo, pode este cobrir a proposta dos ausentes; no estando presente nenhum ou no querendo nenhum dos presentes cobrir a proposta dos outros, procede-se a sorteio para determinar a proposta que deve prevalecer.

    A deliberao sobre as propostas realiza-se logo de seguida abertura, se um nico proponente ofereceu o preo mais elevado, ou depois de efectuada a licitao ou o sorteio, se vrios proponentes ofereceram o preo mais elevado.

    Na apreciao das propostas, intervm o executado, o exequente e os credores que tenham comparecido. Caso nenhum se encontre presente, considera-se aceite a proposta de maior preo, desde que superior ao valor anunciado para a venda (artigo 894., n. 1 do Cdigo de Processo Civil).

    Comparecendo alguns ou todos os interessados a eles compete aceitar ou rejeitar a proposta mais alta; em caso de desacordo, prevalece o voto dos credores que, entre os presentes, tenham a maioria dos crditos sobre os bens a que a proposta se refere (artigo 894., n. 2 do Cdigo de Processo Civil).

    No sero aceites propostas de valor inferior ao anunciado para a venda, a menos que o exequente, o executado e todos os credores com garantia real sobre os bens a vender acordem na sua aceitao (artigo 894., n. 3 do Cdigo de Processo Civil).

    o agente de execuo quem procede elaborao do auto de abertura e aceitao das propostas, com identificao de todas as propostas apresentadas e, no que concerne a cada proposta aceite, com meno do nome do proponente, dos bens a que respeita por referncia penhora respectiva e do seu preo (artigo 899. do Cdigo de Processo Civil)23.

    No se estabelece na lei processual civil qual a forma que deve revestir o auto de abertura e aceitao das propostas, designadamente se lhe so aplicveis as regras relativas documentao dos actos presididos pelo juiz (artigo 159. do Cdigo de Processo Civil) ou a composio e assinatura dos autos e termos (artigos 163. e 164. do mesmo Cdigo) sendo certo que estas disposies normativas se referem apenas a actos da secretaria. No entanto, parece que tais disposies devem ser aplicadas relativamente documentao do auto de abertura de propostas em carta fechada por se tratar de acto processual em que se aplicam as regras gerais relativas documentao dos actos e a

    23 O auto de abertura e aceitao das propostas deve ainda conter outras ocorrncias com vista a que se possam apreciar as irregularidades que se possam assacar a esta diligncia, designadamente a indicao dos pormenores relativos s demais propostas apresentadas e que no foram aceites (artigo 895., n. 1 do Cdigo de Processo Civil).

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    circunstncia desta diligncia exigir a interveno do juiz de execuo24 justifica que o auto deva ser preenchido e completado com a assinatura deste e do agente de execuo.

    O auto de abertura das propostas (quer seja assinado conjuntamente pelo juiz de execuo e pelo agente de execuo, quer seja apenas assinado por este), deve conter a identidade de todos os presentes (proponentes, partes, credores e preferentes), a descrio sumria dos actos praticados e das deliberaes tomadas e, em especial, cada proposta aceite, o nome do proponente, os bens a que respeita e o seu preo e, bem assim25: -

    a) - a discriminao de todas as propostas apresentadas, pela indicao dos nomes dos respectivos proponentes, valores oferecidos e identificao dos bens a que respeitam;

    b) - as deliberaes tomadas a respeito das propostas no admitidas e seus fundamentos, bem como a respeito das propostas aceites e declaradas vencedoras;

    c) - a notificao logo feita ao preferente ou proponente presente cuja proposta foi aceite para, em quinze dias, depositar a parte do preo em falta e a cominao aplicvel caso no o faa.

    *

    As irregularidades relativas abertura, licitao, sorteio, apreciao e aceitao das propostas s podem ser arguidas no prprio acto (artigo 895., n. 1 do Cdigo de Processo Civil).

    No sendo a arguio deduzida no prprio acto, a nulidade fica sanada, no podendo servir de fundamento anulao da venda (artigo 909., n. 1, alnea c), do Cdigo de Processo Civil). Havendo reclamao, deve o juiz apreci-la de imediato e mandar suprir a irregularidade, se ela se verificar.

    No intervindo o juiz de execuo no acto de abertura das propostas, cabe ao agente de execuo decidir sobre as irregularidades relativas abertura, licitao, sorteio, apreciao e aceitao das propostas, podendo esta deciso ser impugnada junto do juiz de execuo (artigo 809., n. 1, alnea c), do Cdigo de Processo Civil).

    *

    Aceite alguma proposta e se nenhum preferente se apresentar a exercer o seu direito, o proponente (ou os proponentes que declararam pretender adquirir os bens em compropriedade) notificado para, no prazo de quinze dias, depositar numa instituio de crdito, ordem do agente de execuo, a parte do preo em falta (artigo 897., n. 2 do Cdigo Civil).

    No concorrendo nenhum proponente venda ou, concorrendo um ou vrios, nenhuma das propostas seja aceite, tem lugar a venda por negociao particular (artigo 895., n. 2 do Cdigo de Processo Civil).

    *

    Se o proponente (ou o preferente) no depositar a parte do preo em falta dentro do prazo de quinze dias, o agente de execuo, ouvidos os interessados na venda, poder (artigo 898., n. 1 do Cdigo de Processo Civil): -

    a) - determinar que a venda fique sem efeito e aceitar a proposta de valor imediatamente inferior;

    24 No mbito do auto de abertura de propostas, podem ocorrer irregularidades ou reclamaes que devem ser arguidas no prprio acto e que justifiquem que o juiz de execuo deva apreci-las de imediato, apenas fazendo sentido que essa deciso fique documentada em auto contendo a sua assinatura. 25 Neste sentido, Eduardo Paiva e Helena Cabrita, ob. cit., pg. 162.

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    b) - determinar que a venda fique sem efeito e efectuar a mesma atravs da modalidade mais adequada, no podendo ser admitido o proponente ou preferente remisso a adquirir novamente os mesmos bens, perdendo o valor da cauo constituda (artigo 897., n. 1);

    c) - liquidar a responsabilidade do proponente ou preferente remisso, devendo ser promovida perante o juiz da execuo o arresto em bens suficientes para garantir o valor em falta, acrescido das custas e despesas, sem prejuzo de procedimento criminal26 e sendo aquele, simultaneamente, executado no prprio processo para pagamento daquele valor e acrscimos.

    Em suma, ouvidos todos os interessados na venda, poder ser determinado que esta fique sem efeito, aceitando-se propostas de valor imediatamente inferior, no perdendo o proponente, nesta situao, o valor apresentado como cauo.

    Contudo, se o agente de execuo determinar que os bens voltem a ser vendidos mediante novas propostas em carta fechada ou por negociao particular, o proponente remisso perder o valor da cauo (artigo 898., n. 1, alnea b), do Cdigo de Processo Civil).

    Se o agente de execuo decidir que a venda fica sem efeito, pode ainda optar por uma de duas solues: -

    a) - ou aceitar a proposta de valor imediatamente inferior, caso em que dever notificar o apresentante desta proposta para depositar o remanescente do preo, com as legais advertncias;

    b) - ou determinar a realizao de nova venda, segundo a modalidade que entenda mais adequada (incluindo mediante propostas em carta fechada), caso em que o proponente ou preferente remisso no admitido a adquirir novamente e perdendo o valor da cauo constituda.

    Em caso de no depsito do preo pelo proponente ou preferente vencedor, pode ainda outro preferente, que no tenha exercido o seu direito no acto da abertura das propostas, efectuar ele o depsito do preo oferecido pelo faltoso, desde que o faa no prazo de cinco dias a contar do termo do prazo concedido ao faltoso e, neste caso, o bem ser adjudicado ao preferente depositante (artigo 898., n. 4 do Cdigo de Processo Civil).

    *

    Optando o agente de execuo pela venda por negociao particular, esta tem ainda lugar nos seguintes casos (artigo 904. do Cdigo de Processo Civil): -

    a) - quando o exequente prope um comprador ou um preo que aceite pelo executado e demais credores;

    b) - quando o executado prope um comprador ou um preo, que aceite pelo exequente e demais credores;

    c) - quando haja urgncia na realizao da venda, reconhecida pelo juiz;

    d) - quando se frustre a venda por propostas em carta fechada, por falta de proponentes, no aceitao das propostas ou falta de depsito do preo pelo proponente aceite;

    26 Inexiste qualquer previso criminal que possa ser subsumida nesta conduta.

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    e) - quando se frustre a venda em depsito pblico, por falta de proponentes ou no aceitao das propostas, e, face natureza dos bens, tal seja aconselhvel;

    f) - quando, no tendo lugar, por disposio expressa, outra modalidade da venda, o agente de execuo a entenda como a mais adequada, face natureza e ao valor dos bens em causa27.

    A deciso que ordena a venda por negociao particular compete ao agente de execuo e deve ser notificada aos interessados (artigo 886.-A, n.os 1 e 6 do Cdigo de Processo Civil).

    A venda por negociao particular realizada pela pessoa expressamente incumbida dela na deciso que ordena a venda (o denominado encarregado da venda) (artigos 905., n. 1 e 808., n. 1, ambos do mesmo Cdigo), ou pelo depositrio, no caso da venda antecipada (artigo 886.-C, n. 3 do citado Cdigo) que procedero como mandatrios.

    Havendo acordo de todos os credores e sem oposio do executado ou, na falta de acordo ou havendo oposio, por determinao do juiz, pode ser encarregado da venda o agente de execuo (artigo 905., n. 2 do referido Cdigo).

    Fora deste condicionalismo, para a venda de imveis28, preferencialmente designado mediador oficial29 (artigo 905., n. 3 do Cdigo de Processo Civil).

    A entidade que tiver em seu poder os bens a vender - depositrio ou encarregado da venda -, no perodo compreendido entre a data da deciso que determine a venda por negociao particular e a sua efectivao, deve mostr-los a quem pretenda examin-los (artigos 886., n. 2 e 891., ambos do Cdigo de Processo Civil).

    Ao contrrio do que sucede com a venda por propostas em carta fechada, no se estabelece em que lugar deve acontecer a venda por negociao particular. Fica assim ao critrio do encarregado da venda a sua escolha, seguramente levando em conta a sua comodidade e a do comprador e a vantagem de conseguir o melhor preo.

    Quanto forma que h-de revestir a transaco, aplicam-se as regras gerais da venda.

    Assim, pode ser celebrada por qualquer das formas admitidas para a declarao negocial (artigos 217. e 219. do Cdigo Civil) 30, exceptuando-se: -

    a) - A venda de bens imveis que deve ser celebrada por escritura pblica ou por documento particular autenticado (artigos 875. do Cdigo Civil, na redaco dada pelo Decreto-Lei n. 116/2008, de 4 de Julho);

    27 A venda por negociao particular pode ser uma das modalidades decididas pelo agente de execuo em relao ao estabelecimento comercial de valor inferior a quinhentas unidades de conta. 28 Deve ser tambm este o critrio para a venda de estabelecimento comercial que inclua imveis uma vez que o mediador imobilirio dispor de um maior leque de potenciais compradores e melhor forma de divulgao do bem a vender. 29 Sobre a actividade da mediao imobiliria, deve ser consultado o Decreto-Lei n. 211/2004, de 20 de Agosto (em particular o artigo 50. deste diploma sobre as menes que devem constar da escritura pblica ou documento particular que titule negcio sobre bem imvel). 30 A liquidao do IMT precede o acto ou facto translativo dos bens, no podendo os notrios e outros funcionrios ou entidades que desempenhem funes notariais lavrar as escrituras, quaisquer outros instrumentos notariais ou documentos particulares que operem transferncias de bens imveis, sem que lhe seja apresentada a declarao relativa liquidao do IMT acompanhada do correspondente comprovativo de cobrana, a mesma que aquele imposto no seja devido do que se far meno (artigos 6. e seguintes, 22. e 49. do Cdigo do IMT).

  • - 22 -

    b) - O trespasse do estabelecimento comercial ou industrial que deve ser celebrado por documento escrito (artigo 1069. do Cdigo Civil, na redaco dada pela Lei n. 6/2006, de 27 de Fevereiro).

    O encarregado da venda assina como mandatrio a escritura pblica e o documento escrito, bem como os outros documentos que os titulem ou a eles respeitem, mas no pode receber o preo, o qual deve ser depositado directamente pelo comprador numa instituio de crdito, ordem do solicitador de execuo ou, na sua falta, da secretaria, antes de lavrado o instrumento da venda (artigo 905., n. 4 do Cdigo de Processo Civil).

    A venda de imvel em que tenha sido, ou esteja sendo feita construo urbana, ou de fraco dele, pode efectuar-se no estado em que se encontrar, com dispensa de licena de utilizao ou de construo, fazendo o notrio consignar na escritura a falta de apresentao dessa licena, constituindo nus do adquirente proceder respectiva legalizao (artigo 905., n. 6 do Cdigo de Processo Civil).

    *

    Estando a sentena exequenda pendente de recurso (ordinrio ou extraordinrio) ou encontrando-se pendente oposio execuo ou penhora, deve o encarregado da venda dar conta dessas circunstncias ao comprador e mencion-las no ttulo de venda (artigo 905., n. 5 do mesmo Cdigo) na medida em que a anulao ou a revogao da sentena e a procedncia da oposio execuo ou penhora justificarem a anulao de venda (artigo 909., n. 1, alnea a), do Cdigo de Processo Civil).

    *

    A venda do estabelecimento comercial pode tambm ser feita em estabelecimento de leilo quando (artigo 906., n. 1 do Cdigo de Processo Civil): -

    a) - O exequente, o executado ou credor reclamante com garantia sobre o bem em causa, proponha a venda em determinado estabelecimento e no haja oposio de qualquer dos restantes31; ou

    b) - Tratando-se de coisa mvel, o agente de execuo entenda que, atentas as caractersticas do bem, se deve preterir a venda por negociao particular em caso de se frustrar a venda em depsito pblico.

    Nesta ltima situao, o agente de execuo, ao determinar a modalidade da venda, deve indicar o estabelecimento de leilo incumbido de a realizar (artigo 906., n. 2 do citado Cdigo).

    A deciso que determine a venda em estabelecimento de leilo deve ser notificada aos interessados (artigo 886.-A, n. 6 do mesmo Cdigo) e esta publicitada em anncios publicados na pgina informtica a que se refere o artigo 890., n. 1 e mediante a afixao de editais no armazm, contendo a relao dos bens a vender, bem como na pgina informtica do depositrio (artigos 907.-A n. 2 do Cdigo de Processo Civil e 42., n. 2 da Portaria n. 331-B/2009, de 30 de Maro).

    A venda feita pelo pessoal do estabelecimento segundo as regras que estiverem em uso, aplicando-se o disposto no artigo 905., n. 5 do Cdigo de Processo

    31 Permite-se agora que, no estabelecimento de leilo, se venda qualquer bem ou direito penhorado, mesmo que seja um imvel, quando at ento apenas era ali permitida a venda de bens mveis.

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    Civil32 e, quando o objecto da venda seja uma coisa imvel, o disposto no n. 6 do mesmo artigo33.

    Esta modalidade da venda tem periodicidade semanal ou mensal de acordo com o volume dos bens, sendo o depositrio o responsvel por essa organizao (artigo 43., n. 1 da Portaria n. 331-B/2009).

    O pessoal do estabelecimento obrigado a mostrar os bens a quem pretenda examin-los, antes da concretizao da venda (artigos 886., n. 2 e 891., ambos do Cdigo de Processo Civil).

    A venda deve ser realizada na presena do agente de execuo, sempre que possvel, devendo os interessados na aquisio dos bens inscrever-se junto do depositrio at ao incio da realizao da venda (artigos 42., n. 3 e 43., n. 3, ambos da Portaria n. 331-B/2009).

    Aps a identificao de cada bem ou lote de bens, podem os proponentes apresentar verbalmente propostas de aquisio, em regime de leilo. Ao interessado que apresentar a proposta mais elevada a quem o bem vendido, devendo de imediato pagar o preo.

    Caso o agente de execuo no esteja presente, deve definir previamente as condies de aceitao da venda e entreg-las ao depositrio. Se a venda for realizada nos termos das condies de aceitao definidas pelo agente de execuo, esta fica definitivamente realizada, devendo bem vendido ser entregue ao adquirente e o preo ser entregue pelo depositrio ao agente de execuo no prazo mximo de dois dias teis (artigo 43., n.os 6 e 7 da Portaria n. 331-B/2009).

    Contudo, se a venda no for realizada nos termos das condies de aceitao definidas pelo agente de execuo, esta deve ser-lhe comunicada imediatamente para que este manifeste o seu acordo ou oposio no prazo de vinte e quatro horas e, quando o agente de execuo der o seu acordo, fica a venda definitivamente realizada, devendo o preo ser entregue ao agente de execuo, no prazo mximo de dois dias teis (artigo 43., n.os 8 e 9 da citada Portaria n. 331-B/2009).

    Os bens vendidos so entregues ao adquirente, tendo sido pago o preo, at cinco dias aps a comunicao ao depositrio do acordo do agente de execuo (n. 10 do mesmo artigo).

    Do resultado da venda, lavrada acta, que deve ser assinada pelo agente de execuo responsvel pelo processo onde foram penhorados os bens, pelo adquirente e pelo depositrio (artigo 44. da Portaria n. 331-B/2009).

    *

    Contra as irregularidades cometidas no acto do leilo podem reclamar os credores, o executado e qualquer dos licitantes.

    A reclamao deve ser apresentada no processo de execuo para deciso do juiz. Este, para fundamentar o seu juzo, pode examinar ou mandar examinar a escriturao do estabelecimento, ouvir o respectivo pessoal, incluindo o dono ou gerente, inquirir as testemunhas que se oferecerem e proceder a quaisquer outras diligncias (artigo 907., n. 1 do Cdigo de Processo Civil).

    32 Estando a sentena exequenda pendente de recurso (ordinrio ou extraordinrio) ou encontrando-se pendente oposio execuo ou penhora, deve o encarregado da venda dar conta dessas circunstncias ao comprador e mencion-las no ttulo de venda. 33 A venda de imvel em que tenha sido, ou esteja sendo feita construo urbana, ou de fraco dele, pode efectuar-se no estado em que se encontrar, com dispensa de licena de utilizao ou de construo, fazendo o notrio consignar na escritura a falta de apresentao dessa licena, constituindo nus do adquirente proceder respectiva legalizao.

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    Uma vez produzidas as provas, se o juiz concluir que as irregularidades praticadas viciaram o resultado final da licitao, deve anular o leilo e condenar o dono do estabelecimento a repor o que tiver embolsado, bem como a indemnizar as pessoas prejudicadas pelos danos causados (artigo 907., n. 2 do citado Cdigo).

    Anulada a venda, o leilo pode repetir-se, mas noutro estabelecimento; no o havendo, tem de proceder-se venda por propostas em carta fechada, se for caso disso, ou por negociao particular (artigo 907., n. 3 do mesmo Cdigo).

    *

    No devendo ser vendido atravs de venda directa, a venda do estabelecimento comercial pode tambm ser efectuada atravs de leilo electrnico (artigo 907.-B do Cdigo de Processo Civil): -

    a) - quando o agente de execuo, aps ouvir o executado, exequente e os credores com garantia real sobre os bens a vender, e estes se no oponham no prazo de cinco dias;

    b) - quando se frustre a venda por proposta em carta fechada;

    c) - quando se frustre a venda em depsito pblico ou equiparado;

    d) - quando seja anulada a venda em estabelecimento de leilo.

    Convm ter presente que, nestes ltimos trs casos, tambm pressuposto que o agente de execuo entenda que a venda em leilo electrnico prefervel venda por negociao particular ou venda por propostas em carta fechada (artigo 907.-B, n. 2 do citado Cdigo).

    No estando regulamentado o modo de realizao da venda em leilo electrnico, deve o agente de execuo efectuar a venda dos bens penhorados atravs das outras modalidades legalmente admissveis em funo da natureza dos bens (propostas em carta fechada [no caso de imveis e estabelecimento comercial de valor superior a quinhentas unidades de conta) negociao particular, estabelecimento de leilo ou depsito pblico ou equiparado (o que no se aplica venda de estabelecimento comercial)].

    *

    Como o produto da venda dos bens penhorados se aplica no pagamento ao exequente e aos credores com garantia real sobre esses bens, justifica-se que, quando forem eles os compradores, fiquem dispensados de depositar as quantias que ulteriormente iriam receber.

    O disposto no artigo 887. do Cdigo de Processo Civil no se aplica s venda nem se aplica a todas as formas de venda. O seu mbito de aplicao estende-se adjudicao de bens mas no contempla a venda em bolsas ou em estabelecimento de leiles, por a disciplina destas ser incompatvel com a dispensa do depsito do preo a ttulo de compensao. Na venda directa, a dispensa do depsito s pode ocorrer se a pessoa ou entidade a quem os bens tm de ser entregues assumir a posio de credora na aco executiva (neste sentido, Alberto dos Reis, Processo Executivo, vol. II, pg. 392).

    Uma vez que a tramitao da venda executiva no depende do andamento do concurso de credores, mas s do fim do prazo para a reclamao de crditos (artigo 873., n. 1 do Cdigo de Processo Civil), pode ela efectivar-se antes ou depois da graduao de crditos.

    por isso que o artigo 887. do citado Cdigo contempla duas situaes. Numa primeira situao, sendo os bens adquiridos pelo exequente ou pelo

    credor com garantia real sobre eles, depois da graduao dos crditos, ficam obrigados a depositar no s a importncia que exceda o que tm direito a receber como tambm a

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    parte do preo necessria para pagar a credores graduados antes deles (artigo 887., n. 1 do Cdigo de Processo Civil). Caso o adquirente dos bens tenha sido graduado em paridade com outros credores, deve depositar, alm da importncia necessria para pagamento aos graduados antes dele, a parte excedente sua quota no preo dos bens adquiridos, calculada em rateio com os crditos que tenham a mesma graduao (Lopes Cardoso, Manual da Aco Executiva, pg. 617).

    Numa segunda situao, se os bens forem adquiridos antes da graduao de crditos, o exequente dispensado de depositar fraco igual quantia exequenda e o credor reclamante dispensado de depositar quinho igual ao montante do crdito reclamado, mas s no que toca ao preo dos bens sobre os quais tenha garantia (artigo 887., n. 2 do Cdigo de Processo Civil).

    Em qualquer das situaes analisadas, o montante das custas da execuo, onde se incluem as demais despesas previstas no artigo 455. do citado Cdigo, deve tambm ser depositado pelo exequente ou credor que adquira os bens penhorados, por as custas serem pagas, dada a regra da precipuidade, antes dos seus crditos.

    Em defesa dos outros credores reclamantes, a dispensa do depsito provisria quando ocorra antes da sentena de graduao de crditos na medida em que o crdito do adquirente pode no ser reconhecido ou s-lo por montante inferior quantia dispensada, podendo, ainda, ser graduados antes do crdito do adquirente, outros crditos que exaurem, total ou parcialmente, o produto dos bens cujo preo no foi depositado.

    Assim, se na sequncia da graduao de crditos, o adquirente no tiver direito quantia que deixou de depositar ou a parte dela, dever efectuar o depsito nos dez dias seguintes notificao que, para o efeito, lhe ser feita, sob pena de ser executado, iniciando-se a execuo pelos prprios bens adquiridos ou pela cauo que foi obrigado a prestar para poder receber os bens (artigo 887., n. 4 do Cdigo de Processo Civil).

    Para que esta execuo no resulte infrutfera, impe a lei certas cautelas para o caso de a dispensa de depsito ocorrer antes da graduao de crditos (artigo 887., n. 3 do Cdigo de Processo Civil).

    Assim, se os bens adquiridos forem imveis, ficam hipotecados parte do preo no depositada, consignando-se a garantia no ttulo de transmisso e no podendo esta ser registada sem a hipoteca, salvo se o adquirente prestar cauo bancria em valor correspondente. Se os bens adquiridos no forem imveis, no so entregues ao adquirente sem que este preste cauo correspondente ao respectivo valor34.

    VI DIREITO DE PREFERNCIA

    Os titulares do direito de preferncia na alienao dos bens devem ser notificados do dia, hora e local designados para a abertura das propostas, tanto no caso da venda por propostas em carta fechada (artigo 892., n. 1 do Cdigo de Processo Civil), como no da adjudicao dos bens penhorados (artigo 876., n. 2 do mesmo Cdigo), a fim de poderem exercer o seu direito no prprio acto, devendo igualmente ser notificados para preferir nas outras modalidades de venda, exceptuada a venda directa (artigo 886., n. 2 do referido Cdigo).

    No silncio da lei, compete, em princpio, ao exequente, por sobre ele incidir o principal nus do impulso processual, a indicao das pessoas que ho-de ser notificadas como preferentes. Mas tambm os credores reclamantes de crditos com garantia sobre os

    34 Esta cauo prestada por um dos meios previstos no artigo 623., n. 1 do Cdigo Civil, segundo o processo estabelecido no artigo 988. ex vi do artigo 990., ambos do Cdigo de Processo Civil, no revestindo o incidente a natureza de urgente.

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    bens a vender podero requerer a notificao das pessoas que reputem titulares do direito de preferncia35. Igualmente tal faculdade no deve ser recusada ao executado como parte no processo e o prprio agente de execuo pode ordenar o suprimento da omisso, caso ela ocorra (artigo 808., n. 1 do Cdigo de Processo Civil).

    No estabelece a lei processual civil a indicao dos eventuais preferentes na venda executiva, resultando do artigo 422. do Cdigo Civil que, no processo executivo, so reconhecidos o direito de preferncia legal e o direito de preferncia convencional que goze de eficcia real, com prevalncia do primeiro sobre o segundo, tendo em conta os interesses de ordem pblica que subjazem atribuio das preferncias legais.

    Se o direito de preferncia convencional no gozar de eficcia real, o seu titular no pode exerc-lo na alienao efectuada em processo de execuo, insolvncia ou casos anlogos, para no afastar possveis interessados na aquisio dos bens, em prejuzo dos credores, e tambm para no desviar os prprios preferentes da luta com os outros interessados.

    Sendo assim aplicvel o disposto no artigo 892. do Cdigo de Processo Civil apenas s preferncias legais e s preferncias convencionais com eficcia real, exemplifiquemos os seguintes titulares do direito legal de preferncia: -

    a) - O proprietrio de terrenos confinantes, desde que um deles tenha rea inferior unidade de cultura (artigos 1380., n. 1 do Cdigo Civil e 18., n. 1 do Decreto-Lei n. 384/88, de 25 de Outubro, e Portaria n. 202/70, de 21 de Abril);

    b) - O comproprietrio (artigo 1409., n. 1 do Cdigo Civil);

    c) - O proprietrio do solo, no que respeita ao direito de superfcie (artigo 1535., n. 1 do Cdigo Civil);

    d) - O proprietrio de prdio onerado com a servido legal de passagem quanto ao prdio dominante (artigo 1555., n. 1 do Cdigo Civil);

    e) - O co-herdeiro em relao ao quinho hereditrio (artigo 2130., n. 1 do Cdigo Civil);

    f) - O arrendatrio de prdio urbano ou de fraco autnoma, em relao ao local arrendado h mais de um ano (artigo 1091. do Cdigo Civil, na redaco conferida pela Lei n. 6/2006, de 27 de Fevereiro)36;

    g) - O arrendatrio de prdio rstico, com pelo menos trs anos de vigncia do contrato, em relao ao prdio arrendado (artigo 28. do Decreto-Lei n. 385/88, de 25 de Outubro);

    h) - O senhorio do prdio arrendado em relao ao estabelecimento comercial (artigo 1112., n. 1 do Cdigo Civil, na redaco dada pela Lei n. 6/2006, de 27 de Fevereiro);

    35 Neste sentido, Alberto dos Reis, Processo Executivo, vol. II, pg. 344. 36 O direito de preferncia no concedido ao arrendatrio de prdio urbano sempre que o contrato seja de durao limitada (artigo 99., n. 2 do Regime do Arrendamento Urbano) nem ao arrendatrio em que estejam em causa os arrendamentos previstos no artigo 5. deste Regime. Nada obsta a que esse direito seja concedido a arrendatrio que tenha celebrado contrato de arrendamento vinculstico depois da penhora, apesar da sua inoponibilidade execuo (artigo 819. do Cdigo Civil), se o arrendamento tiver durado mais de um ano, por da no resultar qualquer prejuzo para a execuo (Maria Olinda Garcia, Arrendamento Urbano, pg. 61).

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    i) - Os scios, a sociedade ou uma pessoa por esta designada quanto s quotas da respectiva sociedade por quotas (artigo 239., n. 5 do Cdigo das Sociedades Comerciais);

    j) - Os scios da sociedade em nome colectivo, em relao ao direito aos lucros e quota de liquidao (artigo 183., n. 5 do Cdigo das Sociedades Comerciais).

    A notificao dos preferentes feita de acordo com as regras da citao pessoal, no havendo lugar citao edital (artigos 256. e 892., n. 3, ambos do Cdigo de Processo Civil).

    A notificao do projecto de venda e das clusulas do respectivo contrato deve ser feita apenas ao titular do direito de preferncia, e no tambm ao seu cnjuge, sempre que a posio de arrendatrio no se comunique a este, como ocorre no arrendamento para habitao (artigo 83. do Regime do Arrendamento Urbano)37.

    Frustrando-se a notificao do preferente, mantm este o direito de propor a aco de preferncia (artigo 892., n. 4 do Cdigo de Processo Civil).

    *

    Se, apesar de notificado pessoalmente, o preferente no comparecer no momento prprio a fim de exercitar o seu direito, presume-se que renuncia a ele com a consequente perda do direito de preferir na venda em causa e no poder invoc-lo posteriormente em ulterior aco de preferncia.

    O titular do direito de preferncia deve exerc-lo, na adjudicao, no prprio acto desta (artigo 877., n. 1 do Cdigo de Processo Civil) e, na venda por propostas em carta fechada, no momento da aceitao de alguma proposta (artigo 896., n. 1 do citado Cdigo).

    Apresentando-se a preferir mais de uma pessoa com igual direito, abre-se licitao entre elas, sendo aceite o lance de maior valor (artigo 896., n. 2 do mesmo Cdigo).

    O preferente que pretenda exercer o seu direito deve apresentar, como cauo, um cheque visado, ordem do solicitador de execuo ou, na sua falta, da secretaria, no montante correspondente a vinte por cento do valor base dos bens desejados, ou oferecer garantia bancria no mesmo valor (artigos 896., n. 3 e 897., n. 1, ambos do Cdigo de Processo Civil).

    Aceite a pretenso do preferente, este notificado para, no prazo de quinze dias, depositar numa instituio de crdito a totalidade ou a parte do preo em falta (artigo 897., n. 2 do referido Cdigo).

    Se no depositar