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Antropologia Cultural Disciplina na modalidade a distância

Antropologia Cultural LIVRO

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LIVRO COMPLETO

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  • Antropologia CulturalDisciplina na modalidade a distncia

    antropologia_cultural.indb 1 08/12/09 09:06

  • CrditosUnisul - Universidade do Sul de Santa CatarinaUnisulVirtual - Educao Superior a DistnciaCampus UnisulVirtual - Avenida dos Lagos, 41 - Cidade Universitria Pedra Branca - Palhoa SC - 88137-100 Fone/fax: (48) 3279-1242 e 3279-1271 - E-mail: [email protected] - Site: www.virtual.unisul.br

    Reitor UnisulAilton Nazareno Soares

    Vice-Reitor Sebastio Salsio Heerdt

    Chefe de Gabinete da ReitoriaWillian Mximo

    Pr-Reitor AcadmicoMauri Luiz Heerdt

    Pr-Reitor de AdministraoFabian Martins de Castro

    Campus Sul Diretor: Milene Pacheco Kindermann

    Campus Norte Diretor: Hrcules Nunes de Arajo

    Campus UnisulVirtualDiretora: Jucimara RoeslerDiretora Adjunta: Patrcia Alberton

    Equipe UnisulVirtual

    Gerncia Acadmica Mrcia Luz de OliveiraFernanda Farias

    Gerncia Administrativa Renato Andr Luz (Gerente)Marcelo Fraiberg MachadoNaiara Jeremias da RochaValmir Vencio Incio

    Gerncia de Ensino, Pesquisa e ExtensoMoacir HeerdtClarissa Carneiro MussiLetcia Cristina Barbosa (auxiliar)

    Gerncia FinanceiraFabiano Ceretta

    Gerncia de Produo e LogsticaArthur Emmanuel F. Silveira

    Gerncia Servio de Ateno Integral ao AcadmicoJames Marcel Silva Ribeiro (Gerente)Adriana da CostaAndiara Clara FerreiraAndr Luiz PortesBruno Ataide MartinsEmanuel Karl Feihrmann GalafassiGisele Terezinha Cardoso FerreiraHoldrin Milet BrandoJenniffer CamargoJonatas Collao de SouzaJuliana Cardoso da SilvaMaria Isabel AragonMaurcio dos Santos AugustoMaycon de Sousa CandidoMicheli Maria Lino de MedeirosNidia de Jesus MoraesPriscilla Geovana PaganiRychard de Oliveira PiresSabrina Mari Kawano GonalvesTaize MullerTatiane Crestani TrentinVanessa Trindade

    Avaliao Institucional Dnia Falco de Bittencourt Rafael Bavaresco Bongiolo

    Biblioteca Soraya Arruda Waltrick (Coordenadora)Paula Sanhudo da SilvaJaison GronerRodrigo Martins da Silva

    Capacitao e Assessoria ao DocenteAngelita Maral Flores (Coordenadora)Adriana SilveiraCaroline Batista Cludia Behr ValenteElaine SurianPatrcia Meneghel Simone Perroni da Silva Zigunovas

    Coordenao dos CursosAdriana RammeAdriano Srgio da Cunha Alosio Jos Rodrigues Ana Luisa Mlbert Ana Paula Reusing Pacheco Bernardino Jos da SilvaCarmen Maria Cipriani Pandini Charles Cesconetto Diva Marlia Flemming Eduardo Aquino Hbler Fabiana Lange Patrcio (auxiliar) Fabiano Ceretta Itamar Pedro BevilaquaJairo Afonso Henkes Janete Elza Felisbino Jorge Alexandre Nogared CardosoJos Carlos Noronha de OliveiraJucimara Roesler Karla Leonora Dahse Nunes Luiz Guilherme Buchmann Figueiredo Luiz Otvio Botelho Lento Marciel Evangelista CatneoMaria da Graa Poyer Maria de Ftima Martins (auxiliar) Mauro Faccioni FilhoMoacir Fogaa Moacir Heerdt Nazareno MarcineiroNlio Herzmann Onei Tadeu Dutra Raulino Jac Brning Rose Clr Estivalete BecheRodrigo Nunes Lunardelli

    Criao e Reconhecimento de CursosDiane Dal Mago Vanderlei Brasil

    Desenho Educacional Carolina Hoeller da Silva Boeing (Coordenadora)Design Instrucional Ana Cludia TaCarmen Maria Cipriani Pandini Cristina Klipp de OliveiraDaniela Erani Monteiro WillFlvia Lumi Matuzawa Karla Leonora Dahse Nunes Lucsia PereiraLuiz Henrique Milani QueriquelliMrcia LochMarcelo Mendes de SouzaMarina Cabeda Egger MoellwaldMichele CorreaNagila Cristina HinckelSilvana Souza da Cruz Viviane Bastos

    Acessibilidade Vanessa de Andrade Manoel Avaliao da AprendizagemMrcia Loch (Coordenadora) Elosa Machado SeemannGabriella Arajo Souza EstevesLis Air FogolariSimone Soares Haas CarminattiNcleo Web AulaClio Alves Tibes Jnior

    Design Visual Pedro Paulo A. Teixeira (Coordenador) Adriana Ferreira dos Santos Alex Sandro XavierAlice Demaria Silva Anne Cristyne PereiraDiogo Rafael da SilvaEdison Rodrigo ValimFernando Roberto Dias Zimmermann Higor Ghisi LucianoPatrcia Fragnani de MoraisVilson Martins FilhoMultimdia Cristiano Neri Gonalves RibeiroFernando Gustav Soares Lima PortalRafael Pessi Luiz Felipe Buchmann Figueiredo

    Disciplinas a Distncia Enzo de Oliveira Moreira (Coordenador)Franciele Arruda Rampelotti (auxiliar)Luiz Fernando Meneghel

    Gesto DocumentalLamuni Souza (Coordenadora)Clair Maria CardosoJanaina Stuart da CostaJosiane LealMarlia Locks FernandesRicardo Mello Platt

    Logstica de Encontros Presenciais Graciele Marins Lindenmayr (Coordenadora) Ana Paula de AndradeAracelli Araldi HackbarthCristilaine Santana MedeirosDaiana Cristina BortolottiEdesio Medeiros Martins FilhoFabiana PereiraFernando Oliveira SantosFernando SteimbachMarcelo Jair Ramos

    Formatura e Eventos Jackson Schuelter Wiggers

    Logstica de Materiais Jeferson Cassiano Almeida da Costa (Coordenador)Abrao do Nascimento GermanoCarlos Eduardo Damiani da SilvaFylippy Margino dos SantosGeanluca Uliana Guilherme LentzPablo Darela da SilveiraRubens Amorim

    Monitoria e SuporteRafael da Cunha Lara (Coordenador)Andria Drewes Anderson da Silveira

    Anglica Cristina Gollo Bruno Augusto Zunino Claudia Noemi Nascimento Cristiano Dalazen Dbora Cristina Silveira Ednia Araujo Alberto Karla Fernanda Wisniewski Desengrini Maria Eugnia Ferreira Celeghin Maria Lina Moratelli Prado Mayara de Oliveira Bastos Patrcia de Souza Amorim Poliana Morgana Simo Priscila Machado

    Produo IndustrialFrancisco Asp (coordenador)Ana Paula Pereira Marcelo Bittencourt

    Relacionamento com o Mercado Walter Flix Cardoso Jnior

    Secretaria de Ensino a Distncia Karine Augusta Zanoni (Secretria de ensino) Andra Luci Mandira Andrei RodriguesBruno De Faria Vaz SampaioDaiany Elizabete da SilvaDjeime Sammer Bortolotti Douglas SilveiraLuana Borges Da SilvaLuana Tarsila Hellmann Marcelo Jos SoaresMiguel Rodrigues Da Silveira JuniorPatricia Nunes Martins Rafael BackRosngela Mara Siegel Silvana Henrique Silva Vanilda Liordina Heerdt Vilmar Isaurino Vidal

    Secretria Executiva Viviane Schalata MartinsTenille Nunes Catarina (Recepo)

    Tecnologia Osmar de Oliveira Braz Jnior (Coordenador) Felipe Jacson de FreitasJefferson Amorin OliveiraJos Olmpio Schmidt Marcelo Neri da Silva Phelipe Luiz Winter da SilvaPriscila da SilvaRodrigo Battistotti Pimpo

    antropologia_cultural.indb 2 08/12/09 09:06

  • Antnio Manoel Elbio Jnior

    Viviani Poyer

    Palhoa

    UnisulVirtual

    2008

    Design instrucional

    Luiz Henrique Queriquelli

    Viviani Poyer

    Antropologia Cultural

    Livro didtico

    2 edio revista e atualizada

    antropologia_cultural.indb 3 08/12/09 09:06

  • 306E41 Elbio Jnior, Antnio Manoel

    Antropologia cultural : livro didtico / Antnio Manoel Elbio Jnior, Viviani Poyer ; design instrucional Luiz Henrique Queriquelli, Viviani Poyer. 2. ed. rev. e atual. Palhoa : UnisulVirtual, 2008.

    152 p. : il. ; 28 cm.

    Inclui bibliografia.ISBN 978-85-7817-117-9

    1. Antropologia cultural. I. Poyer, Viviani. II. Queriquelli, Luiz Henrique. III. Ttulo.

    Edio Livro Didtico

    Professor ConteudistaAntnio Manoel Elbio Jnior

    Viviani Poyer

    Design InstrucionalLuiz Henrique Queriquelli

    Viviani Poyer

    ISBN 978-85-7817-117-9

    Projeto Grfico e CapaEquipe UnisulVirtual

    DiagramaoAdriana Ferreira dos Santos

    Reviso OrtogrficaB2B

    Ficha catalogrfica elaborada pela Biblioteca Universitria da Unisul

    Copyright UnisulVirtual 2008

    Nenhuma parte desta publicao pode ser reproduzida por qualquer meio sem a prvia autorizao desta instituio.

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  • Apresentao . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .7Palavras dos professores conteudistas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .9Plano de estudo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11

    UNIDADE 1 Antropologia: definio e conceitos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17UNIDADE 2 A Antropologia como cincia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 37UNIDADE 3 O conceito de cultura e os estudos antropolgicos . . . . . 65UNIDADE 4 A interface entre a Antropologia e a Histria . . . . . . . . . . . . 95UNIDADE 5 Memria, identidade e representaes . . . . . . . . . . . . . . . . 115

    Para concluir o estudo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 141 Referncias . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 143Sobre os professores conteudistas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 147Respostas e comentrios das atividades de auto-avaliao . . . . . . . . . . . . 149

    Sumrio

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  • Apresentao

    Este livro didtico corresponde disciplina Antropologia Cultural.

    O material foi elaborado visando a uma aprendizagem autnoma e aborda contedos especialmente selecionados e relacionados sua rea de formao. Ao adotar uma linguagem didtica e dialgica, objetivamos facilitar seu estudo a distncia, proporcionando condies favorveis s mltiplas interaes e a um aprendizado contextualizado e eficaz.

    Lembre-se que sua caminhada, nesta disciplina, ser acompanhada e monitorada constantemente pelo Sistema Tutorial da UnisulVirtual, por isso a distncia fica caracterizada somente na modalidade de ensino que voc optou para sua formao, pois na relao de aprendizagem professores e instituio estaro sempre conectados com voc.

    Ento, sempre que sentir necessidade entre em contato; voc tem disposio diversas ferramentas e canais de acesso tais como: telefone, e-mail e o Espao UnisulVirtual de Aprendizagem, que o canal mais recomendado, pois tudo o que for enviado e recebido fica registrado para seu maior controle e comodidade. Nossa equipe tcnica e pedaggica ter o maior prazer em lhe atender, pois sua aprendizagem o nosso principal objetivo.

    Bom estudo e sucesso!

    Equipe UnisulVirtual

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  • Palavras dos professores

    Os estudos produzidos pela Antropologia Cultural tiveram, no ltimo sculo, um desenvolvimento rpido em funo da ampliao considervel dos temas abordados.

    A Antropologia Cultural empreendeu com entusiasmo a tarefa de pesquisar a cultura em suas diversas manifestaes. Nesse sentido, o estudo sobre os fenmenos culturais permitiu detalhar as relaes sociais em suas expresses religiosas, artsticas, simblicas e materiais.

    Voc ir ver a partir do estudo desta disciplina que a cultura, como elemento e objeto de anlise da Antropologia Cultural, pode ser compreendida a partir de diversas leituras tericas. Ver tambm que as definies de cultura so histricas, ou seja, correspondem a uma determinada leitura sobre a realidade humana, desenvolvida em um momento especfico.

    Poder perceber que a realidade humana apresenta-se atravs de variadas e complexas formas de manifestao. A Antropologia Cultural, ao lidar com a cultura, procura ler e interpretar as expresses humanas a partir das suas singularidades.

    O assunto parece inesgotvel, assim como a capacidade humana de produzir cultura.

    Todavia, nossa inteno foi a de elaborar um texto didtico e, portanto, claro para sua compreenso, no pretendendo se esgotar nele mesmo. Nesse sentido, o presente livro servir de embasamento terico inicial as suas curiosidades e a aprofundamentos posteriores ao estudo da disciplina. Ou seja, leituras complementares e demais estudos acerca da mesma so vistos como interessantes contribuies e necessrias a sua formao acadmica, uma vez que este visto por ns como uma introduo aos estudos desta cincia.

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    Universidade do Sul de Santa Catarina

    Se, desde a Antiguidade, foram comuns as tentativas de explicar os comportamentos humanos, a partir das variaes ambientais ou atravs das especificidades individuais, ainda hoje essa procura no cessou.

    Questes um tanto complexas e relacionadas a diversidade como as que seguem podem ser muitas vezes respondidas a partir do estudo de uma cincia to instigante e curiosa como a Antropologia: por que a carne de vaca proibida aos hindus e a de porco aos mulumanos? Por que o nudismo uma prtica comum nos balnerios europeus enquanto que nos pases islmicos de orientao xiita as mulheres no podem nem mesmo mostrar o rosto? Por que, no Brasil, as brincadeiras com a figura do boi se apresentam de formas to diversas?

    Como j colocamos anteriormente nossa inteno no responder a todas essas questes ou mesmo muitas outras, que surgem na tentativa de explicar a cultura humana. Antes, procuraremos fornecer instrumentos a partir do estudo de conceitos fundamentais para uma leitura mais acurada das representaes e expresses da cultura do homem.

    Por isto, convidamos voc a iniciar essa leitura procurando estabelecer relaes com suas experincias sociais e assim, compreender as nuances das diferenas e semelhanas das sociedades humanas.

    Boa leitura!

    Professores

    Antnio Manoel Elbio JniorViviani Poyer.

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  • Plano de estudo

    O plano de estudos visa orient-lo/la no desenvolvimento da Disciplina. Nele, voc encontrar elementos que esclarecero o contexto da Disciplina e sugeriro formas de organizar o seu tempo de estudos.

    O processo de ensino e aprendizagem na UnisulVirtual leva em conta instrumentos que se articulam e se complementam. Assim, a construo de competncias se d sobre a articulao de metodologias e por meio das diversas formas de ao/mediao.

    So elementos desse processo:

    o livro didtico; o Espao UnisulVirtual de Aprendizagem - EVA; as atividades de avaliao (complementares, a distncia e presenciais).

    Ementa

    Antropologia: definio e objeto. Origens da humanidade. Cultura. Cultura e sociedade. Cultura e identidade. Temas contemporneos em Antropologia.

    Carga Horria

    60 horas-aula.

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    Universidade do Sul de Santa Catarina

    Objetivos

    Geral:

    Estudar a Antropologia Cultural como instrumento de anlise das atividades humanas.

    Especficos:

    Analisar os fundamentos conceituais da Antropologia Cultural e sua relao com a cultura humana.

    Problematizar o conhecimento antropolgico e sua interface com as manifestaes artsticas e culturais.

    Demonstrar a importncia de estudos sobre a diversidade cultural para o desenvolvimento de prticas e de uma cultura voltada ao respeito s diferenas entre os indivduos e grupos sociais.

    Contedo programtico/objetivos

    Veja, a seguir, as unidades que compem o Livro didtico desta Disciplina e os seus respectivos objetivos. Eles se referem aos resultados que voc dever alcanar ao final de uma etapa de estudo. Os objetivos de cada unidade definem o conjunto de conhecimentos que voc dever possuir para o desenvolvimento de habilidades e competncias necessrias sua formao.

    Unidades de estudo: 5

    Unidade 1 A Antropologia: definio e conceitos

    Nesta unidade voc ter a oportunidade de conhecer de uma forma breve como a Antropologia teve a sua sistematizao enquanto cincia. Procuramos desenvolver, uma rpida contextualizao a fim de explicar seu histrico percebendo-a como mais uma das cincias sociais que surgiu no incio no sculo XIX, momento de efervescncia dos estudos cientficos.

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    Antropologia Cultural

    Voc conhecer tambm seus campos de estudo, as diversas escolas antropolgicas e adentrar nas questes conceituais e metodolgicas que norteiam as pesquisas nessa rea.

    Unidade 2 - Antropologia como cincia

    Na presente unidade voc ir ver como se deram os estudos nas primeiras dcadas do sculo XX, ir perceber a influncia dos pesquisadores e das escolas antropolgicas anglo-americana e francesa para o delineamento da Antropologia atual, bem como, compreender seus objetos de anlise. Por fim conhecer um pouco sobre o trabalho de campo na Antropologia e os chamados - rituais de passagem.

    Unidade 3 O conceito de cultura e os estudos antropolgicos

    Nessa Unidade, voc estudar os principais conceitos que servem de instrumento investigao antropolgica e que, por sua vez, definem o campo de estudo dessa cincia. O conceito de cultura um dos mais complexos e nossa discusso se deter de forma mais concentrada nas diversas tentativas de definio deste. Para isto se faz necessrio o entendimento de demais conceitos como o de etnocentrismo e de relativismo cultural. Diretamente relacionados a estes, aproveitamos o momento para incluir discusses muito atuais e presentes no nosso dia-a-dia sobre diversidade cultural e multiculturalismo.

    Unidade 4 A interface entre a Antropologia e a Histria

    Nessa unidade, voc aprender sobre o conceito de tradio, e suas relaes com os estudos das manifestaes culturais. Ver, tambm, algumas notas sobre as relaes entre antropologia e histria, bem como, a importncia de se entender o conceito de patrimnio cultural e perceber sua relao com o exerccio da cidadania.

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    Universidade do Sul de Santa Catarina

    Unidade 5 Memria, identidade e representaes

    Na ltima unidade, voc vai estudar, os conceitos de imaginrio, memria, representao e identidades. Atravs desses conceitos, voc poder perceber como a Antropologia Cultural pode elaborar uma interpretao que leva em considerao esses aspectos da cultura humana e das relaes sociais.

    Agenda de atividades/ Cronograma

    Verifique com ateno o EVA, organize-se para acessar periodicamente o espao da Disciplina. O sucesso nos seus estudos depende da priorizao do tempo para a leitura; da realizao de anlises e snteses do contedo; e da interao com os seus colegas e tutor.

    No perca os prazos das atividades. Registre no espao a seguir as datas, com base no cronograma da disciplina disponibilizado no EVA.

    Use o quadro para agendar e programar as atividades relativas ao desenvolvimento da Disciplina.

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    Antropologia Cultural

    Atividades

    Demais atividades (registro pessoal)

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  • 1UNIDADE 1Antropologia: definio e conceitos

    Objetivos de aprendizagem

    Compreender o processo de surgimento da Antropologia evidenciando seu campo de abordagem.

    Conhecer as diferentes reas em que se dividem os estudos antropolgicos de acordo com os objetos de investigao.

    Sees de estudo

    Seo 1 Antropologia: uma breve histria

    Seo 2 Campos de estudo da Antropologia

    Seo 3 A Antropologia e suas diversas escolas

    Seo 4 Adentrando no campo conceitual e metodolgico da Antropologia

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    Universidade do Sul de Santa Catarina

    Para incio de estudo

    Nesta unidade voc vai estudar a trajetria da Antropologia, bem como sua definio como rea de investigao cientfica. Nesse sentido, o percurso que voc ir fazer durante a leitura desse texto ser aquele atinente s principais vertentes conceituais e metodolgicas do campo de estudo antropolgico.

    SEO 1 - Antropologia: uma breve histriaVoc certamente j ouviu falar na palavra Antropologia. Podemos at afirmar que ultimamente de forma direta ou indireta esta palavra anda bastante em evidncia. A todo momento ouvimos as pessoas dizerem que estudos histricos e antropolgicos revelam novos aspectos de determinada cultura, ou que antroplogos esto estudando os comportamentos de uma etnia ou de uma tribo indgena at ento desconhecida...

    Pois bem, os breves exemplos anteriormente citados nos apontam, alm da presena da palavra antropologia, palavras como cultura, comportamento, etnia e histria. E partindo desta breve introduo podemos lanar alguns questionamentos que sero objetos de estudo desta unidade e desta disciplina:

    O que tudo isso tem a ver com o estudo desta cincia? De quando data o seu surgimento? O que essa rea do conhecimento se prope a estudar? Qual a importncia de estudos como estes para a humanidade e para as sociedades atuais?

    Podemos iniciar os estudos acerca desta cincia procurando conceituar a palavra antropologia. Etimologicamente, antropologia vem do grego anthropus que significa homem e logos que significa estudo, ou seja, de forma mais direta e abreviada sua definio seria: estudo do homem. O dicionrio Luft (1984) define antropologia da seguinte maneira: Cincia que estuda a origem, evoluo, costumes e instituies

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    Antropologia Cultural

    Unidade 1

    culturais da espcie humana. Sobretudo, como cincia, esta se preocupa em conhecer cientificamente o ser humano na sua totalidade, podendo ainda ser considerada ao mesmo tempo, como nos aponta Marconi (1992), como Cincia Social, uma vez que se prope a conhecer o homem enquanto elemento integrante de grupos organizados; como Cincia Humana ao passo que se preocupa em estudar o homem como um todo, investigando sua histria, crenas, costumes, filosofia, etc. e por fim, como Cincia Natural ao interessar-se pelo conhecimento psicossomtico do homem e sua evoluo.Agora que voc j conhece um pouco sobre o significado da palavra antropologia e de forma geral, o que esta cincia se prope a estudar, acreditamos que voc possa conhecer um pouco sobre a histria da Antropologia e aprofundar ainda mais seus conhecimentos sobre esta rea do conhecimento.

    Est empolgado para conhecer mais sobre esta disciplina? Ento vamos seguir em frente?

    A Antropologia sistematizada enquanto cincia no final do sculo XIX, como resposta s diversas preocupaes de uma sociedade que passava por mudanas intensas e num rtmo talvez nunca antes visto. A compreenso das transformaes que a sociedade passava no era objeto de investigao somente dos estudos antropolgicos, mas tambm de outras cincias que despontam naquele mesmo momento como a Sociologia.

    Apesar de tais reas do conhecimento ganharem estatuto de cincia somente no sculo XIX, constatam-se que os estudos de carter cientfico em torno da Antropologia comearam a se fortalecer com as idias Iluministas surgidas no sculo XVIII, principalmente a partir de intensos debates sobre seu objeto e mtodo de estudo. Porm, se levarmos em conta que aspectos que hoje compem o campo de abordagem da Antropologia, j eram alvo de investigao dos antigos gregos, pode-se afirmar ento, que os primeiros estudos de carter antropolgico j tenham ocorrido na Antiguidade Clssica, quando o homem pensou em si mesmo e na sua relao com o outro. Diversos eram os pensadores e filsofos gregos que se preocupavam em estudar outros povos ou outras culturas, como a chinesa e a romana.

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    Universidade do Sul de Santa Catarina

    Em seus estudos procuravam apontar diferenas e semelhanas cuturais, bem como aspectos de suas relaes com estes povos.

    Foi, sem dvida, na Antiguidade Clssica que a medida Humana se evidenciou como centro da discusso acerca do mundo. Os gregos deixaram inmeros registros e relatos acerca de culturas diferentes das suas, assim como os chineses e os romanos. Nestes textos nascia, por assim dizer, a Antropologia, e no sculo V a.C. um exemplo disto se revela na obra de Herdoto, que descreveu minuciosamente as culturas com as quais seu povo se relacionava. Da contribuio grega fazem parte tambm as obras de Aristteles (acerca das cidades gregas) e as de Xenofonte (a respeito da ndia). (...)

    Embora no existisse como disciplina especfica, o saber antropolgico participou das discusses da Filosofia, ao longo dos sculos. Durante a Idade Mdia muitos escritos contriburam para a formao de um pensamento racional, aplicado ao estudo da experincia humana, como o fez o administrador francs Jean Bodin, estudioso dos costumes dos povos conquistados, que buscava, em sua anlise, explicaes para as dificuldades que os franceses tinham em administrar esses povos. Com o advento do movimento iluminista, este saber foi estruturado em dois ncleos analticos: a Antropologia Biolgica (ou Fsica), de modo geral considerada cincia natural, e a Antropologia Cultural, classificada como cincia social. (, acesso em 10 jan. 2008).

    Como voc pode perceber, observar costumes e hbitos diferentes dos nossos, e ter curiosidade acerca dos mesmos, no algo to novo assim, mas ao passo que o homem foi ganhando espao no mundo, conquistando novos territrios e entrando cada vez mais em contato com diferentes povos, essa curiosidade foi se aguando. A Expanso Martima e Comercial a partir do sculo XII e as Grandes Navegaes empreendidas a partir do sculo XV foram, pode-se dizer, propulsoras de um processo cada vez mais intenso em relao percepo da diferena a partir do encontro com o outro. Nesse sentido, a contribuio dos viajantes europeus, missionrios e comerciantes que entravam em contato com povos de territrios at ento desconhecidos foi de grande valor para esta cincia.

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    Antropologia Cultural

    Unidade 1

    Como exemplos desta contribuio podemos apontar as cartas de Pero Vaz de Caminha, os relatos de viajantes como Saint Hilaire e Hans Staden, e de missionrios como o Frei Bartolomeu de Las Casas.

    E da voc pode estar se perguntando: mas como tais viajantes podem ter contribudo nesse processo? Bem, a resposta que por meio de suas cartas, dirios e outros documentos, os mesmos apontavam aspectos importantes, como as diferenas e os choques culturais que ocorriam a partir dos contatos estabelecidos. Havia em seus relatos um misto de encantamento, desconfiana e curiosidade em relao ao novo e ao outro.

    Aqueles que pretendem que os ndios so brbaros, responderemos que essas pessoas tm aldeias, vilas, cidades, reis, senhores e uma ordem poltica que, em alguns reinos, melhor que a nossa (...). Esses povos igualavam ou at superavam muitas naes e uma ordem poltica que, em alguns reinos, melhor que a nossa.

    (...) Esses povos igualavam ou at superavam muitas naes do mundo conhecidas como policiadas e razoveis, e no eram inferiores a nenhuma delas. Assim, igualavam-se aos gregos e os romanos, e at, em alguns de seus costumes, os superavam. Eles superavam tambm a Inglaterra, a Frana e algumas de nossas regies da Espanha (...). Pois a maioria dessas naes do mundo, seno todas, foram muito mais pervertidas, irracionais e depravadas, e deram mostra de muito menos prudncia e sagacidade em sua forma de se governarem e exercerem as virtudes morais. Ns mesmos fomos piores, no tempo de nossos ancestrais e sobre toda a extenso de nossa Espanha, pela barbrie de nosso modo de vida e pela depravao de nossos costumes. (LAPLANTINE, 2005, p.38)

    Foi ento a partir de meados do sculo XVIII que a Antropologia passou a adquirir estatuto de cincia e medida que fsseis e restos humanos comeavam a ser descobertos esta foi se fortalecendo enquanto tal.

    Fonte:

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    Universidade do Sul de Santa Catarina

    A partir de tais estudos a Antropologia Fsica ganhou grande impulso e comearam a surgir os primeiros tericos desta cincia, entre eles, Tylor, Morgan, Bachofen, Maine e Bastian.

    Posteriormente, no sculo XX, a Antropologia ganha grande impulso, a partir dos trabalhos de especialistas influenciados por Frans Boas, pai da Antropologia moderna.

    SEO 2 - Campos de estudo da AntropologiaAgora que voc j sabe como surgiu esta cincia, vamos adiante procurar entend-la e conhec-la um pouco mais!

    A Antropologia tem um campo de estudo, pode-se dizer, bastante vasto, pois abrange, no espao, toda a terra habitada; no tempo, pelo menos dois milhes de anos e todas as populaes socialmente organizadas (Marconi, p.23, 1992).

    Voc tinha idia da importncia e da abrangncia desta cincia?

    Acredito que no! Pois bem, talvez seja um tanto assustador, ou encantador dependendo do ponto de vista, mas o fato que esta uma cincia de suma importncia para a compreenso da sociedade e do homem em sociedade. Pode-se dizer que a mesma se divide em dois grandes campos de estudo, com objetivos e interesses tericos bem prprios. Assim temos de um lado a Antropologia Fsica ou Biolgica e do outro a Antropologia Cultural, sendo esta ltima nosso principal foco de estudo.

    Mas antes de nos embrenharmos nos estudos da Antropologia Cultural muito importante conhecermos um pouco sobre estes diferentes campos de estudos da Antropologia como um todo.

    antropologia_cultural.indb 22 08/12/09 09:06

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    Antropologia Cultural

    Unidade 1

    2.1 Antropologia Fsica ou Biolgica

    Os objetos de estudo desta vertente da Antropologia seriam a natureza fsica do homem, em que alvo sua origem e evoluo, sua estrutura anatmica e seus processos fisiolgicos. Tem por objetivo compreender como os processos de evoluo biolgica se deram at que nos tornssemos o que somos hoje. Tais estudos so desenvolvidos a partir do trabalho com fsseis, pequenos fragmentos de ossos humanos ou vestgios materiais, e com o auxlio de outras cincias como Biologia, Zoologia e Medicina, tendo ainda os seus estudos divididos em diversas reas menores como:

    Paleontologia estuda a origem e a evoluo humana a partir de fsseis;

    Somatologia estuda as diferenas entre seres humanos, como as diferenas fsicas individuais e sexuais;

    Antropometria estuda o ser humano a partir de tcnicas de medio de ossos, crnios, etc.

    Alguns autores, como Marconi (1992), apontam ainda outras duas reas que seriam a Raciologia e os Estudos comparativos do crescimento, como complementares a este campo da Antropologia Fsica ou Biolgica.

    2.2 - Antropologia Cultural

    Este campo da Antropologia tem como objeto de estudo os aspectos culturais do homem e as sociedades humanas. Constitui-se na rea mais ampla da Antropologia e tem como focos de investigao as questes religiosas, os hbitos e costumes alimentares, as guerras, os laos de parentesco, organizao poltica e social, entre outros. Assim, pode-se afirmar que a Antropologia Cultural tem sua origem na Antiguidade clssica,

    Fonte:

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    Universidade do Sul de Santa Catarina

    (...) quando os primeiros relatos escritos acerca de outros povos iniciaram as discusses acerca da cultura dos mesmos. Estas origens se desenvolveram aps o perodo das grandes navegaes, cujos registros discutiam os povos descobertos como exticos e estranhos ao mundo europeu. Tambm conhecida como Antropologia Social, esta vertente surge da necessidade de compreender a alteridade sociocultural, ou seja, a apreenso da viso de mundo expressa pelos comportamentos, mitos, rituais, tcnicas, saberes e prticas de sociedades de tradio no-europia. (, acesso em 14 jan. 2008).

    Entende o homem enquanto ser cultural e, enquanto cincia social que tambm , tem como objetivo estudar o problema da relao entre modos de comportamento instintivo (hereditrio) e adquirido (por aprendizagem), bem como o das bases biolgicas gerais que servem de estrutura s capacidades culturais do homem. (Heberer, p.28, 1967).

    A Antropologia cultural abrange diversas reas, entre elas:

    Arqueologia estuda culturas extintas por meio de vestgios materiais no perecveis e resistentes ao tempo, devido falta de registros escritos;

    Etnografia alm de rea pode-se dizer que tambm o mtodo utilizado pela Antropologia na coleta de dados. Preocupa-se em descrever detalhadamente as caractersticas das sociedades humanas;

    Etnologia o estudo de etnias, povo ou grupo social, por meio de anlise, interpretao e comparao, considerando suas semelhanas e diferenas. Os dados que sero objetos de estudo das pesquisas desenvolvidas por esta rea da Antropologia so coletados geralmente pelo etngrafo;

    Lingustica como o prprio nome j diz, esta se empenha em estudar as diversas formas de linguagem e as modernas formas e tcnicas de comunicao;

    Folclore estudo da cultura espontnea das sociedades humanas sejam elas rurais ou urbanas;

    Fonte:

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    Antropologia Cultural

    Unidade 1

    Antropologia Social estuda a sociedade e as instituies sociais, bem como os processos culturais. So alvo de investigao, sempre de forma integrada, instituies como a famlia, a religio, a poltica e a economia;

    Cultura e Personalidade procura desenvolver seus estudos sempre de forma a relacionar a cultura e a personalidade. As aes dos indivduos no podem ser estudadas enquanto resultado de aes individuais e unilaterais. O sujeito resultado de aes e reaes num processo dinmico e inovador.

    Agora que voc j tem uma pequena noo da amplitude do campo de investigao da Antropologia e mais especificamente da Antropologia Cultural importante voc estar ciente de que o conceito de antropologia cultural abrange outros dois conceitos, os de Cincia Social, que prope conhecer o homem enquanto elemento integrante de grupos organizados; e o de Cincia Humana, que volta-se especificamente para o homem como um todo: sua histria, suas crenas, usos e costumes, filosofia, linguagem etc. (, acesso em 14 jan. 2008).

    SEO 3 - A Antropologia e suas diversas escolasComo voc j viu anteriormente a Antropologia enquanto cincia se fortaleceu a partir das idias iluministas e teve sua sistematizao a partir do sculo XIX. Pode-se dizer que foi a partir da publicao de duas obras de Charles Darwin A Origem das Espcies (1859) e A Descendncia do Homem (1871), que nasce a Antropologia Fsica ou Biolgica.

    Pode-se afirmar que a Antropologia passou por diversos momentos, ou diferentes fases, ou ainda, se levarmos em conta que no era necessrio que uma fase ou momento acabasse para surgirem novos estudos orientados por diferentes conceitos ou mtodos, podemos dizer tambm que houve diferentes escolas antropolgicas. E voc conhecer algumas dessas escolas a partir de agora.

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    Universidade do Sul de Santa Catarina

    Antropologia Evolucionista

    Foi um primeiro momento da Antropologia sistematizada. Marcada e influenciada diretamente pelo Darwinismo Social, considerava as idias evolucionistas como fundamento para seus estudos. Para estes primeiros antroplogos a sociedade europia se encontrava no topo da escala da evoluo social e os demais povos com os quais se entrava em contato, eram vistos como povos primitivos. Consideravam estes povos como pertencentes a um estgio anterior ao do homem dito civilizado, centrando o debate no modo como as formas mais simples de organizao social teriam evoluido, de acordo com essa linha terica essas sociedades caminhariam para formas mais complexas como as da sociedade europeia. (, acesso em 15 jan.

    2008). Teve como principais representantes: Henry Summer Maine, Herbert Spencer, Edward Burnet Tylor, Lewis Henry Morgan e James George Frazer.

    Antropologia Difusionista

    Conhecida tambm como Particularismo Histrico ou pelo termo historicismo, pode-se dizer que foi um movimento de reao ao evolucionismo do sculo XIX. Surgiu nos Estados Unidos e difundiu-se nas trs primeiras dcadas do sculo XX, mais precisamente entre os anos de 1900 a 1930, negava a orientao terica e metodolgica evolucionista, mas no abandonou em seus estudos os conceitos bsicos evolucionistas.

    Desenvolvia seus estudos embasados na idia de difuso cultural, ou seja:

    (...) procurava explicar o desenvolvimento cultural atravs do processo de difuso de elementos culturais de uma cultura para outra, enfatizando a relativa raridade de novas invenes e a importncia dos constantes emprstimos culturais na histria da humanidade. (Barbosa apud Silva, 1982, p. 348)

    Charles DarwinFonte:

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    Antropologia Cultural

    Unidade 1

    Para os antroplogos representantes desta linha, as semelhanas e diferenas entre os povos poderiam ser explicadas a partir da idia de surgimento de um grupo especfico num determinado local (o Egito, por exemplo) e de que a partir dos contatos entre os povos ocorreria a difuso dos costumes e hbitos ou do inventrio cultural deste povo por todo o mundo.

    Esta escola antropolgica foi responsvel por conceder aos mtodos de estudo da Antropologia Cultural mais rigor cientfico, por meio do desenvolvimento de novas tcnicas de pesquisa de campo, entre elas a observao participante.

    Pode-se afirmar que esta foi uma teoria alternativa compreenso da diversidade cultural. Sua diviso se d em trs linhas:

    Escola hiperdifusionista inglesa, cujos principais representantes foram: Grafton Elliot Smith e William James Perry;

    Escola histrico-cultural austro-germnica, cujos principais representantes foram: Fritz Graebner e Wilhelm Schmidt;

    Escola histrico cultural norte-americana, cujos principais representantes foram: Franz Boas, C. Wissler e S. L. Kroeber.

    Antropologia Funcionalista

    Esta linha da Antropologia se fundamenta nas idias fucionalistas e nos estudos de Durkheim e de Herbert Spencer. Desenvolvia o estudo das culturas sob o ponto de vista da funo, ou seja, ressalta a funcionalidade de cada unidade da cultura no contexto cultural global (Marconi, 1992, p.34).

    Com tendncias organicistas v o estudo de uma cultura como o estudo de um organismo, ou seja, um estudo fisiolgico, em que se faz necessria a observao das diversas partes componentes, as relaes que cada uma delas desenvolve e funes que desempenha, bem como a forma como mantinha a sua continuidade. O foco no seria mais as origens ou a histria

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    de tal cultura ou sociedade, mas esta dentro de um determinado momento histrico viso sincrnica, e relacionada a um todo organizado viso sistmica.

    Na viso funcionalista cada costume deveria ser visto como socialmente significativo e integrante de uma estrutura, em que a cultura no era simplesmente um organismo mas um sistema.

    Bronislaw MalinowskiFonte:

    Teve como principais representantes: Bronislaw Malinowski, Radcliffe Brown, Evans-Pritchard, Max Glukman, Victor Turner, Raymond Firth e Edmund Leach.

    Antropologia Estrutural ou Estruturalismo

    Esta uma escola terica considerada ainda de certa forma atual devido a sua utilizao em estudos antropolgicos considerados recentes. Teve seu desenvolvimento paralelo a escola anterior Funcionalista e considerada por alguns autores como um refinamento desta ltima, uma vez que no se ope a ela e possui muitos pontos de convergncia com a mesma.

    Foi considerada uma super teoria, mas tambm sofreu crticas e questionamentos principalmente em relao a utilizao dos modelos, pois ao observar as relaes sociais se utiliza de modelos que possam explicar todos os fatos observados. O estruturalismo

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    Antropologia Cultural

    Unidade 1

    pode ser considerado como uma linha antropolgica ao mesmo tempo que um mtodo de anlise, e possui alguns postulados bsicos como os citados por Marconi (1992, p. 277):

    1. Viso sincrnica e sistmica da cultura.2. Viso globalizante do fenmeno cultural (o

    conhecimento do todo leva compreenso das partes).3. Adoo das noes de estrutura social e relaes sociais.4. Utilizao de modelos na anlise cultural.5. Unidade de anlise: estruturas mentais inconscientes.6. Compreenso ampla da realidade cultural.

    Tem como principal representante Lvi-Strauss, que entende as culturas como sistemas de signos partilhados e estruturados por princpios que estabelecem o funcionamento do intelecto (, 05 jan. 2008). Seus trabalhos so caracterizados pela subjetividade, o que demonstra uma preocupao central em estudar a mente humana.

    Lvi-StraussFonte:

    Entre outros representantes esto: Lvi-Bruhl, Marcel Griaule, Dieux dEau, Germaine Dieterlen e Le Renard Ple.

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    Universidade do Sul de Santa Catarina

    SEO 4 - Adentrando no campo conceitual e metodolgico da Antropologia CulturalA Antropologia enquanto cincia social e humana possui seus campos de ao bem definidos, como voc j pde constatar anteriormente, e por sua vez, tambm seus prprios mtodos e tcnicas de trabalho. Considerando os dois grandes campos de estudos antropolgicos Antropologia Fsica ou Biolgica e Antropologia Cultural importante salientar que cada um deles possui mtodos e tcnicas pertinentes. Aqui nos ateremos mais aos aspectos relacionados a Antropologia Cultural, alvo de nossos estudos.

    Segundo Paul Mercier, o conceito de cultura, antes de ser objeto de exame minucioso e de esforos sistemticos de definio, foi posto em evidncia pelos antroplogos. O termo antropologia cultural, nesse sentido, surge no momento em que, no estudo sobre o homem, se esboa uma distribuio de tarefas, ligada ao desenvolvimento e elaborao de tcnicas especializadas de pesquisa (MERCIER, 2000, p.8).

    A utilizao dessa nomenclatura antropologia cultural quase sempre est ligada tradio da antropologia americana.

    O termo antropologia social um tanto mais recente, mais especificamente do incio do sculo XX.

    Na Gr-Bretanha, a tradio resultou na popularizao dessa segunda nomenclatura - antropologia social. Por sua vez, antroplogos franceses como Claude Lvi-Strauss enfatizaram a vantagem de uma dupla qualificao, pois exprimiria dois nveis e possibilidades de pesquisa.

    Todavia, assim como esse debate ainda no se encerrou, tambm foi tardia a constituio da antropologia como uma rea ou campo de pesquisa com instrumental conceitual e com tcnicas de pesquisa prprias (MERCIER, 2000, p. 9). Segundo Mercier, a diviso da Antropologia em sua acepo ampla em campos especializados prefigura-se desde a metade do sculo XIX pelas

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    Antropologia Cultural

    Unidade 1

    rubricas utilizadas na classificao dos dados ou da bibliografia, j abundantes e variadas. Porm a especializao, tanto na coleta de dados quanto na anlise e elaborao de tese, consolida-se apenas em meados do sculo XX.

    Entretanto, conforme destacou Lvi-Strauss, foi o socilogo francs mile Durkheim, no final do sculo XIX, o primeiro a introduzir nas cincias do homem a exigncia de especificidade que permitiria uma renovao na produo de estudos sociais.

    Para o mesmo autor, para toda forma de pensamento e atividade humana, no se pode questionar a natureza e a origem dos fenmenos sem antes t-los identificado e analisado, e tambm descoberto em que medida as relaes que os unem bastam para explic-las.

    Segundo Durkheim, citado por Lvi-Strauss, impossvel discutir sobre um objeto, reconstruir a histria que lhe deu origem, sem antes saber o que ele ; resumindo: sem ter esgotado o inventrio de suas determinaes internas (LVI-STRAUSS, 1993, p.14).

    Refazendo o percurso dos estudos da antropologia no sculo XIX, podemos afirmar que um mesmo pesquisador, naquele perodo, poderia dominar todos os conceitos e tcnicas, acreditando na possibilidade de elaborao de uma sntese sobre a questo estudada. Alm da dificuldade proveniente da diversidade de terminologias, isso tambm se reflete no que diz respeito aos procedimentos e mtodos de investigao.

    Contudo, podemos inferir que, no incio de qualquer trabalho antropolgico, a coleta e descrio de dados (etnografia) no podem ser dissociadas da presena em campo do pesquisador. Todas as escolas antropolgicas consideram essa como sendo uma fase fundamental no estudo de qualquer realidade scio-cultural.

    De qualquer forma, como assevera Mercier, h algo em comum nos estudos da Antropologia e nas incurses ao universo social e cultural dos grupos humanos.

    Para ele:

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    A antropologia marcada desde o princpio pela preocupao de ampliar perspectivas no espao e no tempo, exigncia que decorre da colocao de questes fundamentais. Visando a estudar a maior gama possvel de diversidade de modos de vida humana, de formas de organizao social, de comportamentos e crenas, ela levada a dar primazia observao de sociedades que permanecem permaneceram colocadas fora deste quadro unificado, que representa a civilizao tcnica e cientfica do Ocidente moderno. (MERCIER, 2000, p.11)

    Partindo dessa preocupao, a Antropologia procura investigar o homem sob todas as suas dimenses. Foi nos sculos XV e XVI, momento da expanso dos domnios europeus, que se tornou possvel perceber com maior nitidez as diversidades da cultura humana. Os primitivos foram os primeiros objetos de anlise desse olhar que passava a comparar, a partir das referncias eurocntricas, as sociedades humanas no novo mundo. Tambm, para a frica, inmeras expedies, sobretudo de sociedades de explorao geogrfica, partiram com o propsito de coletarem

    dados sobre as comunidades primitivas.

    Pode-se dizer que tanto as condies quanto a natureza do trabalho definem e incidem, sobremaneira, nos resultados e na linguagem que so apresentados nos relatrios. Tambm podemos afirmar que os tipos de problemas ou de populaes estudadas, da mesma forma, influenciam nas elaboraes conceituais e nas construes tericas. Nesse sentido de

    extrema importncia voc tomar conhecimento sobre os mtodos e tcnicas de pesquisa utilizados na Antropologia.

    Quanto ao mtodo em Antropologia podemos elencar os que seguem:

    Mtodo Histrico procura investigar acontecimentos passados a fim de compreender aspectos ou modos de vida do presente;

    Mtodo Estatstico os dados coletados so transformados em termos quantitativos e dispostos em tabelas, quadros e grficos para uma anlise posterior;

    Mtodo Etnogrfico anlise descritiva das sociedades humanas, principalmente das consideradas primitivas ou aquelas que no possuem escrita;

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    Antropologia Cultural

    Unidade 1

    Mtodo Comparativo ou Etnolgico faz comparaes entre padres, costumes, modos de vida de culturas do passado e do presente, sobretudo, procura compreender os grupos estudados a partir das diferenas e semelhanas;

    Mtodo Monogrfico ou Estudo de Caso desenvolve estudo aprofundado de determinado caso ou grupo humano em todos os seus aspectos;

    Mtodo Genealgico desenvolve o estudo do parentesco e suas implicaes sociais; e

    Mtodo Funcionalista desenvolve o estudo das culturas a partir de sua funcionalidade dentro de um universo cultural mais amplo.

    Uma pesquisa antropolgica no se faz apenas por meio de mtodos, necessrio tambm tcnicas de pesquisa que a Antropologia tem muito bem definidas. No campo da Antropologia Cultural so utilizadas tcnicas de pesquisas e recursos ligados observao de campo. O campo considerado o laboratrio para os estudos culturais em Antropologia. Entre as tcnicas podemos apontar:

    observao sistemtica e participante; entrevista dirigida ou livre; e formulrio.

    Bem, agora que voc j teve uma breve introduo histria da Antropologia, campos de estudo, mtodo e conceitos, vamos fazer uma breve pausa para descansar e retomar os estudos na prxima unidade, aprofundando um pouco mais algumas dessas questes j introduzidas aqui e conhecer outros aspectos at ento desconhecidos.

    No se esquea de desenvolver as atividades de auto-avaliao elaboradas especialmente para voc praticar os conhecimentos adquiridos no estudo dessa unidade e d tambm uma olhada no que apresentamos a voc na seo Saiba mais. At a prxima unidade.

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    Atividades de auto-avaliao

    Aps voc ter desenvolvido os estudos desta unidade realize uma leitura cuidadosa das questes a seguir. S aps a realizao das atividades voc dever consultar seus comentrios e respostas, que se encontram no final deste livro.

    1) Com base no que voc estudou nesta unidade, desenvolva com suas palavras um conceito de Antropologia, apontando os campos de estudo que a mesma se divide e o que cada um deles se prope estudar.

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    Antropologia Cultural

    Unidade 1

    2) Aponte as diversas escolas antropolgicas descrevendo de forma resumida o que cada uma delas se prope estudar.

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    Universidade do Sul de Santa Catarina

    Sntese

    Nessa unidade voc pde conhecer um pouco sobre a histria dessa cincia fascinante que a Antropologia. Quando ela surgiu, como foi seu processo de sistematizao enquanto cincia, seus campos de estudo. Pde estudar sobre as principais vertentes conceituais e metodolgicas da Antropologia a partir do final do sculo XIX. Evidenciou tambm a trajetria da definio da disciplina e as diversas correntes que contriburam para a ampliao temtica e epistemolgica da Antropologia.

    Saiba mais

    GIUMBELLI, Emerson. Para alm do Trabalho de Campo: reflexes supostamente malinowskianas. In: Revista Brasileira de Cincias Sociais, v. 17, n 48, 2002.

    LANNA, Marcos. Nota sobre Marcel Mauss e o Ensaio sobre a Ddiva. In: Revista Sociologia Poltica, 14, 2000.

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  • 2UNIDADE 2A Antropologia como cincia Objetivos de aprendizagem

    Perceber a influncia dos pesquisadores e das escolas antropolgicas anglo-americana e francesa para o delineamento da Antropologia atual.

    Compreender os mltiplos objetos de anlise da Antropologia Cultural.

    Estudar os temas e objetos da Antropologia Contempornea.

    Identificar o trabalho de campo da Antropologia.

    Sees de estudo

    Seo 1 Os estudos nas primeiras dcadas do sculo XX

    Seo 2 Antropologia Cultural: temas, objetos e trabalho de campo

    Seo 3 A incurso a campo e o ritual de passagem

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    Universidade do Sul de Santa Catarina

    Para incio de estudo

    Nesta unidade voc conhecer um pouco mais sobre importantes nomes da Antropologia, principalmente aqueles que fundaram a Antropologia como uma disciplina que investiga as culturas humanas, a saber: Franz Boas, Marcel Mauss e B. Malinowski.

    Ver que a diversidade cultural humana um rico material de estudo. As diferenas regionais, lingsticas, de manifestaes religiosas e rituais, as diferenas de vesturio, alimentao e formas de moradia, as diferenas de hbitos do cotidiano, de significar o mundo e os fenmenos sociais se constituem, por intermdio da Antropologia Cultural, num manancial que nos permite interpretar as sociedades humanas.

    Estudar ainda os principais conceitos que instrumentalizam a investigao antropolgica e que, por sua vez, definem o campo de estudo dessa cincia.

    Todavia, preciso ressalvar que voc encontrar, de acordo com as fontes que analisa, diferenas tericas, sobretudo no que tange ao conceito de cultura. Essa falta de uniformidade conceitual permite-nos inferir que a cultura sempre um conceito em construo, de redefinio constante e dinmica.

    Faa uma boa leitura e procure estabelecer conexes com a sua realidade social e cultural.

    SEO 1 - Os estudos nas primeiras dcadas do sculo XXNesta unidade iremos primeiro apresentar algumas referncias atinentes aos temas e reflexes dos pesquisadores da antropologia no perodo que abrange o final do sculo XIX e primeiras dcadas do sculo XX. Claro que essa periodizao no se encerra em si mesma, pois algumas tendncias dominantes continuam at nossos dias.

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    Antropologia Cultural

    Unidade 2

    Podemos pensar essa questo imaginando que as influncias de Franz Boas, A. L. Kroeber, A. R. Radcliff-Brown, ainda que suas pesquisas datem da primeira metade do sculo XX, repercutem no pensamento e nos estudos antropolgicos contemporneos. Todavia, numa disciplina cujas posies j esto definidas, os tipos de pesquisas e as elaboraes tericas se diversificam com maior amplitude, embora sejam mais complementares e possam dialogar.

    Para Paul Mercier, os herdeiros de um mesmo mestre podem afastar-se uns dos outros, explorando os mltiplos caminhos de pesquisa propostos. Basta citar o exemplo do importante antroplogo americano Franz Boas que influenciou sobremaneira a interpretao que o intelectual Gilberto Freyre produziu sobre o Brasil, principalmente em sua obra magistral Casa Grande & Senzala, publicada em 1933.

    Da mesma maneira, no decurso do perodo seguinte, pesquisadores formados na Frana por Marcel Mauss encaminharam-se em direes muito diversas do seu predecessor. Por outro lado, por causa do aumento do nmero de pesquisadores e da multiplicao das correntes de pensamento, torna-se mais difcil discernir completamente a teia de influncias diretas ou indiretas, unilaterais ou recprocas, que constitui o campo da Antropologia.

    Segundo Mercier, o primeiro momento de estudo da Antropologia foi o do evolucionismo. O segundo momento foi o da histria cultural, que deseja abordar de maneira mais flexvel e objetiva os problemas do desenvolvimento das sociedades e das culturas. Os antroplogos americanos, depois que Franz Boas convidou considerao de cada fenmeno como resultante de acontecimentos histricos, procuram elaborar conceitos definidos para o estudo dos fatos da difuso cultural, sem deixarem, no entanto, de continuar a acumular uma massa impressionante de dados (MERCIER, 2000, p. 56).

    Figura: Bustos de Pedra Ilha de Pscoa

    Fonte:

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    Universidade do Sul de Santa Catarina

    Por sua vez, na Alemanha, a escola histrico-cultural, acompanhando F. Graebner, dedicou-se definio de crculos culturais concretos a partir dos quais se operou o desenvolvimento cultural da humanidade. Por ltimo, na Inglaterra, foi estabelecido o que se chamou de hiperdifucionismo com G. Elliot Smith.

    O caso francs um caso especfico. A antropologia vai surgir, de certa forma, pelo desenvolvimento da Sociologia criada por filsofos, e principalmente por Durkheim.

    A Antropologia tanto social como cultural chegar sua autonomia aps 1930. At esse momento, manifesta interesse pela aculturao e pelo contato cultural, ambos os prenncios de todos os desenvolvimentos posteriores do estudo das transformaes sociais e culturais em curso.

    Multiplicam-se os estudos de campo e o material de coleta de dados torna-se surpreendente. Os materiais etnogrficos eram coletados por no especialistas, eventualmente homens de cincias diferentes e, muitas vezes, constituam-se material de outras investigaes. O cenrio de pesquisas at 1930, conforme Mercier, era este:

    F. Boas rene materiais etnogrficos por ocasio de uma misso geogrfica na terra de Balfin, em 1887. A. C. Haddon comea a se interessar pela pesquisa antropolgica participando de uma expedio zoolgica no estreito de Torres, em 1888. Os dados australianos de B. Spencer e F. J. Gillen, (...) foram igualmente coletados por ocasio de uma viagem de estudos zoolgicos, em 1894. Sabe-se que j antes desta data haviam sido organizadas misses especificamente antropolgicas, que vo se multiplicar. Depois da do oeste canadense, a mais clebre e a mais rica em resultado foi a que A. C. Haddon, aps sua converso antropologia, organizou em 1889 aos confins da Austrlia e da Nova-Guin, e de que participaram, entre aqueles que iriam se tornar conhecidos na histria da antropologia britnica, W. H. R. Rivers e C. G. Selignam ( MERCIER, 2000, p. 57).

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    Antropologia Cultural

    Unidade 2

    Os ltimos autores citados participaram de estudos regionais extensivos empreendendo conforme o caso pesquisas intensivas sobre pontos particulares ou projetos para outras pesquisas em decorrncia de resultados obtidos. Como podemos perceber, a multiplicao dos trabalhos soma as dezenas, assim como a renovao dos mtodos e ampliao do instrumental conceitual da disciplina. A obra de Franz Boas, por exemplo, vai redefinir o emprego de tcnicas de pesquisa em sociedades humanas. A coleta sistemtica de textos, quer o observador fale ou no a lngua da populao que pesquisa, parece-lhe de suma importncia, tanto em relao a mitos, a formas mais ou menos fixas de literatura oral quanto em relao a exposies feitas pelos prprios interessados sobre sua histria e costumes.

    Para Boas, tudo deve ser de interesse do pesquisador. Em outras palavras, a maneira total em que vivem os indivduos e como eles percebem seu universo cultural. Dos numerosos trabalhos desse antroplogo americano, podemos destacar aqueles de descrio etnogrfica.

    Boas desenvolve trs ordens de consideraes sobre a disciplina:

    Primeiramente, ele rejeita as simplificaes a que, de fato, o evolucionismo est sujeito, ao dar muita importncia noo de desenvolvimento cultural independente e por empregar um mtodo comparativo generalizado, impedindo que se apreenda como um conjunto vivo as realizaes de cada grupo humano.

    A segunda ordem diz respeito ao fato de Boas se recusar a atribuir a diversidade das realizaes culturais exclusiva influncia dos meios fsicos contrastados, em que se situam as sociedades. Ainda que sua formao em geografia pudesse conduzi-lo a uma reflexo de que o meio natural determina o universo cultural, Boas preferiu se aproximar da sociologia e adotar uma atitude possibilista, conforme analisou Mercier.

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    Universidade do Sul de Santa Catarina

    Finalmente, a terceira ordem atinente multiplicidade que Boas percebia na sociedade humana. Em outras palavras, para ele a cultura representa um desenvolvimento original, condicionado pelo meio social tanto quanto pelo meio geogrfico, e pela maneira como emprega e enriquece os materiais culturais provindos do exterior ou de sua prpria criatividade (MERCIER, 2000, p. 61).

    Voc sabia?

    No final do sculo XIX e incio do sculo XX surgem os museus etnogrficos, resultado de estudos sistemticos da distribuio espacial dos elementos de cultura. Nesses museus, separavam-se os objetos utenslios, armas, roupas, obra de arte. Ao preparar as exposies, onde se reagrupavam objetos pertencentes a grupos de populaes vizinhas, ficava-se impressionado pelas semelhanas, pelas variaes de um mesmo objeto, pela presena simultnea de certos elementos (MERCIER, 2000, p. 62).

    Na Frana, Marcel Mauss foi o principal inspirador da atual antropologia de campo com sua obra publicada na dcada de 1930 Manual de etnografia. Para Mercier, M. Mauss recusava sistematizaes e sua obra teve grande influncia entre socilogos, psiclogos e historiadores. Marcel Mauss, discpulo e sobrinho de mile Durkheim, precavia-se das construes sintticas muito ambiciosas e contra qualquer teoria muito rgida que deixasse escapar o essencial da realidade social e cultural. Mauss procurou rejeitar tambm as interpretaes generalistas tendo sempre uma concepo muito concreta do pluralismo, das especificidades das culturas e das sociedades. Para Mercier:

    (...) a preocupao constante em definir realidades scio-culturais como conjuntos profundamente integrados, e estudar de maneira completa as relaes entre todos os elementos que compem cada um desses conjuntos; a convico, enfim, de que s deve tentar deduzir numa lei uma etapa final de pesquisa, etapa que ele mesmo nunca pretendeu transpor. (MERCIER, 2000, p. 84)

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    Por sua vez, Marcos Lanna afirma, ao analisar a obra Ensaio sobre a ddiva (1923-1924), de Marcel Mauss, que o autor aprofunda uma postura crtica em relao filosofia, adotando a etnografia e abrindo-se para as sociedades no-ocidentais, assumindo cada vez mais a comparao como um mtodo de anlise. Para Lanna, Mauss interessava-se pelas manifestaes dos fenmenos humanos em qualquer tempo ou espao do planeta, e sua obra aborda uma variedade vertiginosa de temas (LANNA, 2000).

    Finalmente, podemos destacar como contribuio ao desenvolvimento da disciplina a idia, segundo Mauss, de que a vida social no s circulao de bens, mas tambm de pessoas (mulheres concebidas como ddivas em praticamente todos os sistemas de parentesco conhecidos), nomes, palavras, visitas, ttulos, festas.

    Uma segunda etapa que poderamos atribuir aos estudos da antropologia se iniciaria a partir dos estudos de Bronislaw Malinowski.

    Em Malinowski, percebe-se a preocupao de construir uma teoria que explique tudo. Alm disso, ele procura encontrar razes no mais histricas, mas lgicas da cultura. Pode-se afirmar, ainda, que o termo funcionalismo est ligado ao nome do pesquisador polons, que foi quem tentou, partindo da teoria desenvolvida sob este nome, definir a realidade scio-cultural e todos os instrumentos de que o antroplogo dispunha. Para Mercier, Malinowski define com nitidez a sua orientao de pensamento tendo em vista a seguinte tese:

    A anlise funcional tem como fim a explicao de que os fatos antropolgicos, em todos os nveis de desenvolvimento, pela funo e papel que desempenham no sistema total de cultura, pela maneira como se ligam uns aos outros no interior desse sistema e pelo modo como esse sistema se liga ao meio fsico (apud MERCIER, 2000, p. 99).

    Mauss demonstra no Ensaio como toda representao relao isto , funda-se sobre a unio de uma dualidade de contrrios (LANNA, 2000, p. 175). O argumento central do Ensaio de que a ddiva produz a aliana, tanto as alianas matrimoniais como as polticas (trocas entre chefes ou diferentes camadas sociais), religiosas (como nos sacrifcios, entendidos como um modo de relacionamento com os deuses), econmicas, jurdicas e diplomticas (incluindo-se aqui as relaes pessoais de hospitalidade).

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    Sua obra magistral Argonautas do Pacfico Ocidental publicada em 1922, sobre as Ilhas Trobriand, inaugurava um novo mtodo de trabalho de campo: a etnografia. O livro procura mostrar, atravs da viso antropolgica, como acontece o Kula sistema de trocas circular, mstico. Segundo Emerson Giumbelli (1978) para Malinowski, o trabalho de campo deveria produzir uma viso autntica da vida tribal. Sua adequao media-se pela capacidade de ultrapassar alguns obstculos e de satisfazer certas regras. Entre os obstculos, haveria tanto a falta de domnio da lngua nativa, sem a qual no se atingiria o significado intrnseco da vida tribal, quanto os preconceitos e opinies dos outros homens brancos que viviam na regio.

    Conforme analisou Gimubelli:

    (...) do lado das regras, o trabalho de campo, devidamente integrado as problematizaes tericas, ao propiciar um contato o mais ntimo possvel com o grupo estudado e permitir ao etngrafo tomar parte na vida da aldeia, forneceria os dados que cumpririam os objetivos da pesquisa etnogrfica atravs de seus trs caminhos: a documentao estatstica por evidncia concreta, a ateno aos imponderveis da vida real e a elaborao de um corpus inscriptorum. Cada um dos caminhos correspondia a uma tarefa determinada e produo de registros especficos: as regras sociais, a tradio, apresentadas por meio de quadros sinticos, recenseamentos, mapas; os comportamentos reais, detalhada e minuciosamente descritos nos dirios etnogrficos; a mentalidade nativa, por meio da transcrio, preservando-se o idioma nativo, de palavras e asseres caractersticas, narrativas tpicas, frmulas mgicas. (GIUMBELLI, 2002, p. 97)

    Em suma, o que Malinowski procurava destacar em sua anlise atinente ao campo de investigao da Antropologia ou ao princpio geral da disciplina formulado nos seguintes termos: o objetivo fundamental da pesquisa etnogrfica [...] estabelecer o contorno firme e claro da constituio tribal (MALINOWSKI, 1978, p.24). Para ele, esse objetivo estava relacionado a um ideal holstico, que exigia do etngrafo uma ateno voltada articulao entre os vrios aspectos de uma cultura.

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    A cultura o meio que permite o homem satisfazer suas necessidades, segundo Malinowski.

    Todavia, as necessidades que se mostram ao homem so de natureza diversa: primeiramente as necessidades primrias que o homem partilha com os animais e que lhe revelam a constituio biolgica alimentao, reproduo, conservao, proteo contra intempries. Outras so prprias do homem esto relacionadas s estratgias que os grupos humanos utilizam para responder as necessidades atravs da cultura. Nesse sentido, para Malinowski uma cultura deve ser encarada como uma totalidade coerente em todos os aspectos que apresenta: parentesco, economia, poltica, religio.

    Como podemos perceber, a definio do campo de investigao e a metodologia da pesquisa em Antropologia, tm sua prpria histria. Compreender essa discusso necessrio para entender a ns mesmos quando nos lanamos para investigar a cultura do outro. Essa tentativa de lidar com um mundo diverso do nosso resulta num encontro conosco mesmos, quando s queramos desvendar a vida dos outros. Como destaca Giumbelli:

    (...) necessrio que as pesquisas sobre eles encontrem frmulas que consigam pensar sobre ns; inversamente, preciso que as pesquisas sobre ns incorporem as noes que foram e continuam a ser desenvolvidas para pensar sobre eles. Conceber a antropologia como uma perspectiva, portanto, supe dois movimentos simultneos. De um lado, negamos que se possa definir a disciplina seja pelo estudo de sociedades primitivas, tradicionais, simples etc., seja apenas por meio das aproximaes metodolgicas consagradas na noo de trabalho de campo. De outro, afirmamos ser imprescindvel que se estabelea um dilogo entre o que produzimos hoje sobre uma infinidade de objetos e mediante uma variedade de tcnicas e o que a antropologia elaborou quando estava restrita aos primitivos e ao trabalho de campo. (GIUMBELLI, 2002, p. 104)

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    Finalizando, como voc pde ver, investigar as variaes e as inmeras formas como se apresentam as sociedades humanas demanda critrios de interpretao e de pesquisa. M. Mauss, Malinowski e F. Boas contriburam ao ampliar as possibilidades de leitura e de coleta de dados do trabalho antropolgico. Cumpre destacar ento que, subjacente s definies da disciplina e do campo de investigao da mesma, est o pensamento e a reflexo desses autores. O dinamismo e a complexidade da cultura tambm se apresentam nas controvrsias e percalos da Antropologia.

    SEO 2 - Antropologia Cultural: temas, objetos e trabalho de campo

    At agora voc j viu de uma forma mais geral sobre o campo de estudo da Antropologia, sobre o mtodo e tcnicas cientficas utilizadas, bem como sobre alguns antroplogos que se tornaram referncia nesse campo cientfico. Dando continuidade aos seus estudos, agora voc adentrar um pouco mais no campo da Antropologia Cultural, conhecendo temas e objetos de estudo mais especficos desta rea da Antropologia.

    Resgatando alguns conceitos e idias, voc j viu que a interpretao de manifestaes das diversas expresses humanas pode ser percebida como o objetivo de estudo fundamental da Antropologia.

    As diferentes realidades humanas, a organizao social, os comportamentos fsicos e as variaes sociais, as relaes entre grupos humanos e as condies ambientais se constituem como campos de investigao.

    Figura: StonehengeFonte:

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    Podemos considerar, ainda, a influncia das condies econmicas nas condutas individuais e nos corpos humanos. Em outras palavras, os processos de socializao dos corpos, resultado de uma gradual incorporao de prticas sociais, podem fornecer Antropologia um quadro terico analtico sobre os comportamentos e hbitos humanos.

    Tal questo se aproxima daquilo que foi considerado como uma histria dos costumes. Ao considerar os gestos, os ritos, os pensamentos indefinidamente repetidos, o antroplogo constituiria outras possibilidades de interpretao das sociedades humanas.

    Assim, pelo exposto, podemos perceber que o outro a matria-prima da anlise antropolgica. Para Marc Aug (1999), essa configurao do campo de investigao da Antropologia se coloca de forma problemtica. Para ele, trs parmetros a definem:

    a exigncia de cientificidade domnio do objeto social; reconhecimento da alteridade cultural, social, histrica, psicolgica distncia entre o observador e o que ele observa (grupo ou indivduo);

    a evidncia, em sentido contrrio, ou seja, nada do que humano lhe estranho.

    Para Aug, esses trs parmetros guiariam o estudo de campo do antroplogo.

    Ao analisar a cultura dos outros, o antroplogo a descreveria partindo de um referencial prprio inerente sua formao e desejo de compreenso. Assim, desde as dcadas de 1940 e 1950, antroplogos europeus lanaram-se pelo mundo procurando inventariar os outros.

    Marc Aug, em viagem para a Costa do Marfim na frica em 1965, afirma que a questo que se colocava at ento, era se a viso funcionalista da sociedade poderia explicar seu funcionamento.

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    Essa viso funcionalista dizia respeito idia de que os traos culturais somente fazem sentido numa configurao especfica, singular, que lhes d estilo e coerncia.

    Outra questo que suscitava debates nesse mesmo perodo estava relacionada ao ponto de vista marxista, para o qual a cultura, como conjunto de valores e expresses, poderia deixar-se deduzir atravs da anlise da infra-estrutura econmica, ou seja, atravs do sistema produtivo (AUG, 1999, p.12).

    Por sua vez, a Antropologia Cultural passou a tratar da vida social analisando:

    1) as crenas populares;

    2) os ritos de passagem;

    3) a vida religiosa;

    Alm disso, os comportamentos mais cotidianos tambm se tornaram objetos de investigao, tais como:

    4) os cuidados corporais;

    5) as maneiras de vestir-se;

    6) a organizao do trabalho;

    7) e o calendrio das atividades cotidianas.

    Todos esses aspectos da vida social podem ser percebidos como formas de significar, organizar e representar o mundo. Porm existem ainda dificuldades de definio tanto do conceito de cultura, quanto da ampliao ou elasticidade do campo de estudo da Antropologia. Nesse sentido podemos citar exemplos como a experincia de Boas e Malinowski.

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    Depois de passar um ano entre esquims no Canad, Boas mudou-se para os Estados Unidos, onde desenvolveu pesquisas como antroplogo, influenciando toda uma gerao. A experincia entre os esquims (Inuit) rendeu-lhe anotaes que indicam sua viso de cultura como diversidade e integrao interna de especificidades, como o pequeno trecho que segue: Creio que, se esta viagem tem para mim (como ser pensante) uma influncia valiosa, ela reside no fortalecimento do ponto de vista da relatividade de toda formao (...) (BOAS, 2004, p. 9).

    Nesse sentido, o antroplogo atribuiu antropologia duas importantes tarefas para a execuo de seus trabalhos:

    1. reconstruir a histria de povos e regies particulares; e2. promover a comparao da vida social de diferentes

    povos, cujo desenvolvimento segue as mesmas leis.

    Crtico do mtodo comparativo puro e simples, Boas props a relativizao, ou seja, a comparao dos resultados obtidos atravs dos estudos histricos das culturas, das condies psicolgicas e dos ambientes onde se desenvolvem estas culturas, negando tambm as teorias deterministas, at ento predominantes (LARAIA, 1986).

    A partir de Malinowiski, com os estudos etnogrficos inaugurados em sua pesquisa sobre os povos na Nova Guin, a Antropologia nunca mais foi a mesma. Com a etnografia ampliou-se ainda mais os estudos antropolgicos. Pois, comumente, o antroplogo realizava sua experincia recluso nos gabinetes de leitura ou nas instituies cientficas.

    A viso evolucionista social, que marcou os pensamentos cientficos no sculo XIX, passou a ser transformada quando, no comeo do sculo XX, os etnlogos lanaram-se numa empreitada de observao longe de seu contexto cultural.

    Essa observao, que consistia numa participao efetiva no grupo estudado, deveria ajustar-se de acordo com os novos valores e ideologias do contexto em questo.

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    A incurso tomava inteiramente a vida do observador que, ao participar do universo cultural do grupo investigado, poderia apenas efetuar uma comparao entre suas referncias culturais com a cultura local. Assim, a pesquisa estaria limitada pelo prprio ritmo de vida social, j que o antroplogo seria o ltimo a buscar sua alterao, como um teste para suas teorizaes.

    Essa postura aventureira retirou o investigador do conforto das salas de leitura e o lanou em incertas viagens pela frica, sia e Amrica do Sul. Tal mudana de paradigma, ao fazer com que os estudos da Antropologia deixassem de classificar e colecionar curiosidades exticas acumuladas em museus como indcios de costumes e culturas irracionais, transformou a cincia numa disciplina esclarecedora das sociedades humanas.

    Ao levar os estudiosos a um mergulho direto com seus pesquisados, obrigando-os a entrar em contato com um conjunto de valores, crenas e rituais, o resultado tende a ser um processo de relativizao das culturas.

    No se trata de compilar dados e costumes exticos com o objetivo de classificar e reproduzir uma infindvel lista de hbitos e comportamentos. Essa prtica consistia mais num relatrio cultural onde classificar, sobretudo, colecionar todos os costumes era um objetivo evidente. A idia seria comparar para, assim, ilustrar os avanos cientficos e a superioridade cultural do mundo branco europeu.

    Com a pesquisa de campo, descortinou-se a impossibilidade de sistematizar e reduzir uma complexidade cultural especfica a partir de um conjunto de frases soltas ou atravs de uma listagem dos costumes humanos dispostos numa linha histrica.

    Com o contato entre o observador e o grupo local, seria possvel perceber o conjunto de aes sociais dos nativos como um sistema cultural complexo, com coerncia e significados.

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    Essa nova modalidade de pesquisa, do incio do sculo XX, permitiu o nascimento da viso antropolgica moderna. O papel da Antropologia, a partir dessa percepo, tornou-se interpretar as diferenas enquanto partes de sistemas integrados. Em outras palavras, a reflexo de Malinowski, ilustra essa posio:

    H, porm, um ponto de vista mais profundo e ainda mais importante do que o desejo de experimentar uma variedade de modos humanos de vida: o desejo de transformar tal conhecimento em sabedoria. Embora possamos por um momento entrar na alma de um selvagem e atravs de seus olhos ver o mundo exterior e sentir como ele deve sentir-se ao sentir-se ele mesmo. Nosso objetivo final ainda enriquecer e aprofundar nossa prpria viso de mundo, compreender nossa prpria natureza e refin-la intelectual e artisticamente. Ao captar a viso essencial dos outros com reverncia e verdadeira compreenso que se deve mesmo aos selvagens, estamos contribuindo para alargar nossa prpria viso (...). (MALINOWSKI, 1976, p. 374)

    A partir do mtodo etnogrfico ou da Etnografia, que inclui a observao participante, as pesquisas poderiam revelar mais aspectos das culturas investigadas. As concepes, costumes, hbitos, o que pensavam e como pensavam poderiam ser desvendadas com mais propriedade. A Etnografia com todas as tcnicas utilizadas, tornou a pesquisa de campo muito mais detalhada por meio de uma prtica que estabelece relaes, seleciona informantes, transcreve textos, levanta genealogias, mapeia campos, registra dados em um dirio.

    Claro est que esse procedimento tcnico-cientfico no reduz o empreendimento antropolgico, pois a interpretao, segundo Geertz, um esforo intelectual que resulta em uma descrio densa.

    Esse trabalho de levantamento de dados e envolvimento com o objeto de observao faz com que o etngrafo enfrente uma

    (...) multiplicidade de estruturas conceptuais complexas, muitas delas sobrepostas ou amarradas umas s outras, que so simultaneamente estranhas, irregulares e inexplcitas, e que ele tem que, de alguma forma, primeiro apreender e depois apresentar. (GEERTZ, 1989, p. 7)

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    Para Geertz, o trabalho da etnografia tentar ler um manuscrito estranho, desbotado, cheio de elipses, incoerncias, emendas suspeitas e comentrios tendenciosos, escrito no com os sinais convencionais do som, mas com exemplos transitrios de comportamento modelado (GEERTZ, 1989, p. 7).

    Essa leitura de que nos fala Geertz, e que envolve uma interpretao em um texto antropolgico, via de regra, se constitui a partir daqueles que informam, em primeira ou segunda mo, o investigador. Trata-se, portanto, de algo construdo, de uma descrio orientada pelo ator dos envolvimentos. Contudo, essa descrio no pode ser percebida como falsa, mas como uma fabricao do evento narrado (GEERTZ, 1989).

    Assim, podemos afirmar que, diferente da cultura que existe no campo de investigao, seja entre os ndios do Xingu ou entre os berberes na frica, a Antropologia somente existe como estudo apresentado no texto, no museu, nos filmes.

    2.1 O Trabalho de Campo

    Podemos ainda ressaltar, quanto ao campo de investigao da Antropologia, que o locus do estudo no o objeto de estudo. Em outras palavras, quando os antroplogos vo a campo em aldeias, tribos, cidades, bairros, eles estudam nesses lugares. Isto , toda e qualquer observao estar permeada pelas referncias culturais no pesquisador.

    Portanto, a abordagem antropolgica ou anlise cultural constitui um olhar sobre as dimenses simblicas da ao social; como a arte, a religio, a ideologia, a cincia, as leis, a moralidade, o senso comum.

    Nas palavras de Geertz um mergulho no meio dessas aes. Para o mesmo autor, o estudo da antropologia interpretativa no responder s nossas questes mais profundas, mas colocar nossa disposio as respostas que outros deram (...) e assim inclu-las no registro de consultas sobre o que o homem falou (GEERTZ, 1989, p. 21).

    Os berberes (que chamam a si prprios Imazighen, ou seja, homens livres, singular Amazigh) so um conjunto de povos do Norte de frica que falam lnguas berberes, da famlia de lnguas Afro-Asiticas. Estima-se que existam entre 20 e 25 milhes de pessoas que falam estas lnguas. A maioria se encontra no Marrocos e na Arglia, mas tambm entre seus falantes h os tuaregues, nmades do Sahara.) Fonte: .

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    Partindo dessa proposio, a Antropologia deve procurar tornar qualquer sociedade, em qualquer nvel de tecnologia e em qualquer circunstncia fsica, um conjunto coerente de vozes, gestos, reflexes, articulaes e valores (DAMATTA, 2000).

    Para o antroplogo Roberto DaMatta (2000), a descoberta dessa coerncia interna que torna a vida suportvel e digna para todos, dando-lhe um sentido pleno que a experincia de trabalho de campo sobretudo em outra sociedade permite localizar, discernir e, com sorte, teorizar.

    fcil justificar abstratamente o que sustenta o trabalho de campo como tcnica de pesquisa. Trata-se, sinteticamente, de um modo de conseguir os dados sem nenhuma intermediao de outros registros, sejam eles os dos historiadores, viajantes, missionrios, mdicos, assistentes sociais ou funcionrios do governo que estiveram antes na regio ou grupo em pesquisa.

    2.2 Temas e objetos

    nesse contato direto, sem mediadores, que o estudioso bem preparado teoricamente e com seu objeto de estudo claramente definido coloca muitos problemas e dilemas que a Antropologia tende a nutrir. Para DaMatta, a partir dos paradoxos do prprio estudioso que a Antropologia tem contribudo para todas as outras cincias sociais. Talvez a maior contribuio seja exatamente a carga de experincias empricas registradas em cada pesquisa de campo.

    Com efeito, essa incurso ao mundo e aos lugares do mundo tem como resultado inmeras dvidas que so suscitadas a partir do momento em que o observador-antroplogo coloca suas teorias em questo. Seja porque a definio anterior era por demais estreita, seja porque as novas descobertas, trazidas pela pesquisa de campo em profundidade, foram sempre uma nova abertura e dilogo com os instrumentos anteriormente utilizados. Para DaMatta, difcil no produzir sistematicamente esse estado de dvida terica, quando a experincia da disciplina est voltada para o estudo de novas sociedades, inclusive da nossa prpria cultural (DAMATTA, 2000).

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    Podemos mesmo afirmar que cada incurso antropolgica que se realiza em campo traz a possibilidade de relativizar os conceitos anteriormente utilizados naquele domnio terico especfico, como tambm o ponto de vista daquele grupo, classe social ou sociedade. Esse teste pode provocar novas revelaes tericas, bem como revolues nos esquemas interpretativos utilizados at ento.

    Como exemplo dessa inter-relao, relao entre o observador e o objeto de estudo, e das dvidas que surgem no trabalho de campo, podemos citar as definies clssicas de religio. A crena em seres espirituais situava a questo na relao entre os homens e as divindades mediadas pela religio.

    Atualmente a Antropologia percebe a religio de uma forma muito mais complexa, conceituando o fato religioso como uma relao entre os homens e grupos humanos estabelecida por meio dos deuses que, nesse contexto, nada mais representam do que a prpria sociedade na sua totalidade.

    So inmeros os exemplos e nossa inteno no enumer-los. Todavia, nosso objetivo mostrar como a disciplina renova constantemente sua discusso conceitual em bases pluralistas, geradas pela contradio e reviso dos temas, objetos e problemas.

    importante destacar como a Antropologia, sobretudo com a prtica das viagens, tem levado muito a srio o que dizem os selvagens, como se comportam os primitivos, qual a racionalidade ou passionalidade dos grupos tribais. Partindo dessa questo, corroboramos com a idia de DaMatta quando afirma que:

    (...) foi realizando esse trabalho de aprender a ouvir e a ver rodas a realidades e realizados humanas que ela pde juntar a pequena tradio da aldeia perdida na floresta amaznica (....) com a grande tradio democrtica, fundada na compreenso e na tolerncia que forma a base de uma verdadeira perspectiva da sociedade humana. (DAMATTA, 2000, p. 149)

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    A Antropologia, nesse sentido, vem diversificando seus temas de abordagem e se aproximando cada vez mais da lingstica, da psicologia, da histria, da sociologia. A anlise deve levar em considerao os dados histricos, os fatos econmicos, os conflitos polticos.

    SEO 3 - A incurso a campo e o ritual de passagemComo j comentamos anteriormente, o trabalho de campo da Antropologia pode ser considerado um deslocamento em que o estudioso mergulha na cultura do outro. Esse trabalho constitui-se tambm como um ritual de passagem, semelhante ao que ocorre entre os ndios do Alto Xing.

    Nesse grupo indgena, quando as jovens meninas entram na puberdade ficam reclusas por at um ano, afastadas de todo contato social. Somente mes, tias e avs mantm alguma espcie de relao com elas. Nesse perodo, elas tm seus tornozelos amarrados com faixas e seus cabelos nunca so cortados. Alm disso, sua pele constantemente escarnificada com dentes de peixes ou cascas de coco. Aps todo esse tempo, elas retornam ao convvio social para contrair casamento.

    Tal ritual de passagem pode ser interpretado como um momento de preparao, iniciao, acordos entre as famlias dos noivos, mas tambm como uma forma de proteger as jovens de abusos sexuais. Nesse espao e tempo, elas aprendem a descobrir o valor de certas regras sociais, canes, gestos, arte, fabricao de peas e instrumentos para o trabalho, enfim, os laos com o grupo social so estreitados mesmo estando distanciadas dos outros indivduos da tribo. Com efeito, tudo que as jovens devem saber para que possam ter o sentimento de pertencer exclusivamente a uma dada sociedade e dela participarem.

    Tambm os jovens meninos, no Alto Xing, iniciam sua vida adulta quando os maiores perfuram suas orelhas. Em algumas tribos, os meninos devem escalar rvores ns e, com as mos, derrubar colmias de insetos.

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    Essas breves descries de rituais se aproximam da iniciao do trabalho de campo do antroplogo, posto que o movimento de deslocamento marcado tambm como uma passagem. Os dois casos, no Alto Xing e na sada de campo do antroplogo, so situaes em que ocorre um deslocamento, ainda que temporrio, pois ambos so retirados de sua sociedade, realizando uma viagem para os limites do seu mundo dirio e em pleno isolamento, num universo marginal e perigoso. Em outras palavras, ficam individualizados, contando muitas vezes com seus prprios recursos dirios.

    Finalmente, antroplogo e jovens iniciantes retornam sua aldeia com uma nova viso de mundo dos novos laos sociais tecidos na distncia e no individualismo de uma vida com restries. Ao viverem fora da sociedade por algum tempo, acabaram por ter o direito de nela entrar de modo mais profundo. Isolados de suas relaes substantivas e individualizados, jovens ndios e antroplogos ficam predispostos a ser socialmente moldados, antes do seu renascimento social.

    Nesse sentido, em ambos os casos, eles aprendem novos fatos e adquirem um conhecimento mais aberto permeado pela amizade e pelo companheirismo. Tal procedimento implica ampliar a viso do homem e da sociedade no movimento que nos leva para fora do nosso prprio mundo, mas que acaba por nos trazer de volta e para dentro dele.

    Contudo, precisamos ainda ressaltar a importncia das possveis lies apreendidas do relacionamento com os chamados informantes no processo de um trabalho antropolgico.

    Claro que essa situao torna-se paradoxal na medida em que a intensidade dos laos entre o observador e o informante pode se estreitar a tal ponto que dificulte o estudo. Todavia, a intensidade do contato, em antropologia, uma questo fundamental, pois permite ver o outro dentro das suas relaes sociais complexas.

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    Em muitos casos, essa relao torna o pesquisador mdico, contador de histrias, mediador de conflitos familiares, entre outros. Ao entrar em contato com o grupo, o pesquisador estar sujeito a todos os humores humanos, fobias, manias e mais uma srie de interferncias que constituem e devem ser levadas em considerao na anlise.

    Segundo Roberto DaMatta, o etnlogo deve aprender as seguintes frmulas:

    a - Transformar o extico no familiar; eb - Transformar o familiar em extico.

    Para ele, necessria a presena dos dois termos (que representam dois universos de significao) e, mais basicamente, uma vivncia dos dois domnios por um mesmo sujeito disposto a situ-los e apanh-los. Assim que a primeira transformao do extico em familiar corresponde ao movimento original da antropologia quando os etnlogos conjugaram o seu esforo na busca deliberada dos enigmas sociais situados em universos de significao sabidamente incompreendidos pelos meios