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Antropologia Nos Textos de Sigmundo Freud - Gedeon J Lidório Jr
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ANTROPOS Revista de Antropologia Volume 3, Ano 2, Dezembro de 2009 ISSN 1982-1050
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Uma anlise de TOTEM E TABU: implicaes fenomenolgicas
INTRODUO
Freud tem interesse pela antropologia, no como buscas etnolgicas, mas como conceitos e
fatos que promovam a concretizao de sua doutrina, principalmente no que diz respeito ao
Complexo de dipo, sendo que o mesmo coloca o seu surgimento junto com a civilizao e
sendo assim, ele afirma todo o significado da qualquer institucionalizao a partir do seu
conceito elaborado em Totem e Tabu onde a horda primitiva mata o pai primevo e a partir
dessa conceituao ele elabora sua doutrina.
O texto dividido em quatro ensaios onde ele apresenta o 1) horror ao incesto (elaborado a
partir de anlises antropolgicas dos povos aborgines principalmente) e tambm explica o
conceito de 2) Tabu e ambivalncia emocional entrando em 3) Animismo, magia e onipotncia
dos pensamentos e voltando ao tema desenvolve 4) A volta do totemismo na Infncia.
No final do primeiro captulo do livro, Freud explica coerentemente o que tenciona mostrar
com tais fatos:
Somos levados a acreditar que essa rejeio , antes de tudo, um produto da averso que os
seres humanos sentem pelos seus primitivos desejos incestuosos, hoje dominados pela
represso. Por conseguinte, no de pouca importncia que possamos mostrar que esses
mesmos desejos incestuosos, que esto destinados mais tarde a se tornarem inconscientes,
sejam ainda encarados pelos povos selvagens como perigos imediatos, contra os quais as mais
severas medidas de defesa devem ser aplicadas. (Freud, Totem e Tabu, pgina 35)
O PONTO DE PARTIDA
Ao estabelecer o ponto de partida Freud demonstra que esse desejo recalcado e repetidamente
tratado com represso nada mais que a contnua fora com que o pai exerce ao coibir e at
mesmo destruir qualquer tentativa dos filhos de se auto-governarem, andando ento na
contramo, os filhos da horda primitiva matam o pai que ao mesmo tempo traz alegria (foi
morto o tirano que nos controlava!) e ao mesmo tempo peso na conscincia pela satisfao do
desejo recessivo; neste aspecto ento a horda primitiva resgata o que lhe foi impedido, ou o
que lhe foi tomado pelo pai.
ANTROPOLOGIA NOS TEXTOS DE SIGMUND FREUD
Gedeon J Lidrio Jr Artigo
Revista Antropos Volume 3, Ano 2, Dezembro de 2009
ISSN 1982-1050
ANTROPOS Revista de Antropologia Volume 3, Ano 2, Dezembro de 2009 ISSN 1982-1050
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Tendo como objetivo neste trabalho apresentar a religio nos textos de Sigmund Freud nos
remetemos a uma citao sobre a refeio totmica, onde diz:
A refeio totmica, que talvez o mais antigo festival da humanidade, seria assim uma
repetio e uma comemorao desse ato memorvel e criminoso, que foi o comeo de tantas
coisas: da organizao social, das restries morais e da religio. (Freud, Totem e Tabu, pgina
145)
Que necessariamente mostra a viso de Freud quanto ao conceito de Deus como animal
totmico sob a forma do sacrifcio onde o significado do ato o mesmo: santificao por meio
da participao numa refeio comum. O sentimento de culpa, que s pode ser aliviado pela
solidariedade de todos os participantes, persiste tambm (Freud, Totem e Tabu, pgina 149,
150).
Ao aludir sobre o sacrifcio de Jesus, como Deus, mas como Filho, ele evoca a elucidao do
conceito cristo de como o Filho, ao ser morto, na presena do Pai tem como objetivo, segundo
Freud, de tomar o lugar do Pai, sendo colocado ao lado direito dele e vendo nascer uma
religio que se centraliza no Filho e no no Pai. Ao comermos da Santa Ceia, celebrando a
morte de Jesus, o partir do seu corpo em sacrifcio, estaramos, os cristos, atestando a troca
de Deus Pai pelo Deus Filho e, portanto, matando o Pai, como o fizeram os filhos unidos da
horda primitiva; assim a religio crist, mais precisamente a comunho crist , no centro de
sua vida, uma eliminao do pai.
Quem deveria ento tomar o lugar do pai na horda primitiva? Se algum o fizesse, com
certeza o ritual de morte repetiria e seria feito de maneira concreta em todo tempo. Por isso,
os filhos, em comum acordo resolvem que as mulheres no mais pertenceriam a nenhum
deles, portanto, nenhum deles seria o pai originando da a questo das evitaes quanto
relacionamento sexual ou casamento entre membros de um mesmo cl totmico.
Quando ento os filhos se do conta do que foi feito, da morte do pai primevo, sentem-se
culpados e essa culpa os persegue, permeando a mente humana de gerao em gerao at que
aparece a crena de um filho que morre sacrificialmente no lugar dos que originalmente
cometeram o assassinato do pai, e ento todos podem ser, mesmo que imerecidamente,
perdoados do seu crime original.
O TABU E A CONSCINCIA
Freud diz ser importante o estudo dos tabus por causa de quatro motivos principais: 1)
porque vale a pena tentar solucionar qualquer problema psicolgico por ele mesmo e que 2)
os tabus dos homens primitivos no se encontram to distantes de ns, homens civilizados,
outra que 3) as proibies morais e as convenes pelas quais nos regemos podem ter uma
relao fundamental com esses tabus primitivose que 4) uma explicao do tabu pode lanar
luz sobre a origem obscura de nosso prprio imperativo categrico (Freud, Totem e Tabu,
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pgina 40, 41). Desses fatos, Freud tira seu arcabouo de idias, provadas puramente na
observao de acontecimentos do seu mito cientfico.
Assim, proibies impostas por algum de fora geram uma manifestao consciente de
indisposio quanto proibio e tambm quanto ao proibidor gerando o princpio de
ambivalncia emocional onde os sentimentos opostos envolvidos (de um lado algum probe
que se toque e de outro algum tem a possibilidade de desobedecer e tocar) sero mantidos
pela imposio daquele que probe e, portanto a violao dos tabus resulta em um castigo,
punio do indivduo ou da comunidade que sofre a proibio.
As neuroses, formadas a partir dos tabus constituem a estrutura social que enxergamos,
melhor dizendo numa no estrutura social que convivemos.
Freud diz que o tabu vinculado ao que tratamos anteriormente, o totemismo, surgindo
principalmente a partir do fato do crime e sentimento de culpa dos filhos da horda que
matam o pai primevo. O desejo e a no concretizao do desejo ou a negao do desejo
constituem a ambivalncia emocional relatada que resulta numa neurose obsessiva.
CONCLUSO
Apesar de olhar antropologicamente para os fatos do mito cientfico de Freud, arrisco-me a
citar que a cosmoviso ocidental e, portanto nossa vida diria do sculo XXI confronta-se
literalmente com a viso dos fatos nessas culturas primitivas e nada mais irresponsvel que
traar um paralelo entre as seqncias lgicas da antropologia social primeva e a vida,
pensamentos, emoes e movimentao religiosa do homem ps-moderno.
O universo animista choca-se com a cosmoviso ocidental na categorizao de foras
espirituais/invisveis e materiais/visveis, desdobrando-se em uma cadeia de micro
cosmovises distintas que se baseiam nesta diferena central. No universo tribal estas
inseparveis e indistinguveis foras so um resultado vvido da conscincia do
relacionamento entre homens e espritos, pequenos e grandes deuses, ancestrais e foras
impessoais (mgicas) que, ao contrrio do que pensar a antropologia tradicional , no so
expressas apenas nas cerimnias, rituais e sacrifcios de uma maneira simplista e
institucional, mas especialmente na lida diria quando sopra-se a terra antes de ar-la
pedindo permisso aos espritos controladores da natureza; segura-se firme um juju qualquer
durante tempestades a fim de sentir-se seguro atravs de foras mgicas; olha-se para baixo
quando passa por uma encruzilhada em sinal de respeito aos espritos que frequentemente se
postal ali, ou mesmo quando murmura-se com reverncia o nome de certo ancestral ao
aproximar-se da cabaa que marca onde fora enterrado, somente para citar algumas das
milhares de circunstncias onde homens e espritos relacionam-se no cotidiano de uma vida
mstica no mais amplo sentido da palavra. (Lidrio, Comunicao Missionria, pgina 10)
De vrias formas cultura comunicao, portanto cada forma cultural repleta de valores e
expresses, atitudes e conotaes que variam de pessoa a pessoa, grupo a grupo; e o fato de
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haver comunicao por parte da cultura para quem est de fora e tambm o fato dessa
comunicao variar conforme a cultura e no conforme os conceitos que eu assimilo da
cultura, portanto fao de minha anlise antropolgica a coero da verdade e no um
arcabouo que contm valores distintos e, portanto, que marcam o ritmo das diferenas
conceituais. Todos os problemas da vida, independente se forem problemas de ordem social
ou transacional, que so efeitos, possuem no apenas uma causa como nos quer fazer crer o
pai da psicanlise, mas tambm uma fonte.
Na cultura ocidental um cncer tem como reao um tratamento de acordo com a histria,
conhecimentos adquiridos pela medicina e estatsticas de cura ou morte. Na cosmoviso tribal
um cncer visto como um problema dissociado de qualquer histria de ocorrncias. Torna-se
necessrio achar a causa do por que a enfermidade atinge a pessoa em um longo processo.
Procura-se a fonte que normalmente um esprito, uma magia quebrada ou um ancestral
insatisfeito. A causa normalmente punitiva, mas com complexo grau de peso e o efeito
depender das atitudes tomadas aps saber-se fonte e causa. (Lidrio, Comunicao
Missionria, pgina 16)
Numa cultura animista, nem tudo que diferente religioso, portanto, nem tudo na vida da
cultura animista tem conexo com o fato religioso. A neurose esprito-fenomenolgica que nos
submetemos e que Freud tenta empurrar-nos goela abaixo tentando analisar religiosamente
todo e qualquer fenmeno, interpretando e concluindo a partir da numa dissecao da
religiosidade cultural sem, entretanto ver o povo como uma sociedade que vive e no apenas
cultua.
Outro princpio que Freud passa por cima que nem tudo que cerimonial demonaco ,
contrapondo a afirmao sua, citando Wundt de que as verdadeiras fontes de tabu tm sua
origem na base do mais primitivo e ao mesmo tempo mais duradouro dos instintos humanos:
o medo dos poderes demonacos.
Freud deixa escapar de sua anlise o seu fantasma, seu relacionamento com seu pai e,
portanto, depois de longo tempo de objees e rejeies de suas idias ele delonga-se em
analisar criticamente o cristianismo baseado em fatos no por ele observados ou vividos
uma identificao cultural no pode se dar longe da cultura onde se estabelece o princpio da
observao, mas dentro do contexto, seno causa-se o que ocorreu com ele ao analisar
profundamente as culturas aborgines sem mesmo estar presente no seu contexto particular.
Freud no faz uma interpretao cultural com Totem e Tabu, que poderia ser feita a distncia,
mas desce a uma classificao religiosa fenomenolgica. Mesmo vendo que ele analisa
substancialmente cada dificuldade humana a partir de pontos de referncia mitolgica,
devemos, entretanto, descartar o objeto desse estudo como algo srio e conclusivo, posto que
quebra as regras mais simples de interpretao fenomenolgica, onde pressupe a presena do
intrprete ou mesmo o contato direto com a cultura assimilada.
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REFERNCIAS
FREUD, Sigmund. Totem e Tabu. Imago, 2 edio
LIDRIO, Ronaldo. Comunicao Missionria. Edio prpria
CASTRO, M Lcia. Totem e Tabu: fantasma freudiano ou mito cientfico. UFPB
BARRETO, C Alberto. dipo Desvitalizado. SPRJ
CARVALHO, Josefa D D. Totem e Tabu: uma reflexo sobre o complexo de dipo. CienteFico