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169 Anuário da Produção Acadêmica Docente Vol. III, Nº. 6, Ano 2009 Guilherme A. de Lima Nicésio Faculdade Anhanguera de Campinas unidade 3 [email protected] A ESTRUTURA TEXTUAL I 1 RESUMO Esse artigo apresenta como tema principal, em continuidade do conteúdo já apresentado em artigos anteriores do módulo “Técnicas de Comunicação Docente”, o texto como instrumento essencial do labor acadêmico e pedagógico. Primeiramente, há a exposição de definição básica e orientativa do texto e de suas características estruturais; em um segundo momento do artigo, expõem-se tanto os elementos estruturantes do texto (frase, oração, período), como os problemas decorrentes do uso inadequados desses componentes que são, na verdade, considerados desvios na norma culta da língua, em ocorrência de frases lacunas, estruturas tópico-comentário. Por fim, o componente do texto a ser tratado é o parágrafo, como recurso coesivo de um texto, suas características e sua aplicação. O objetivo do artigo é instrumentalizar os alunos do curso de Capacitação Docente para a produção de textos acadêmicos adequados, de acordo com as exigências das condições de trabalho em cursos de ensino superior. Palavras-Chave: prática docente; ensino superior; instrumentalização. ABSTRACT This article presents as its main theme, in continuation of the content already presented in previous articles of the module “Teaching Communication Skills” the text as an essential instrument of academic work and teaching. First, there is the basic definition and explanatory text for guidance and its structural features, in a second moment of the article sets out both the structural elements of the text (phrase, sentence, period), as the problems arising from inappropriate use of these components that are actually considered deviant in the cultural norms of language, gaps in the occurrence of phrases, topic-comment structures. Finally, the text component to be treated is the paragraph, as use of a cohesive text, its characteristics and application. The purpose of this article is orchestrate the students of Teacher Training for the production of academic texts adequate in accordance with the requirements of the working conditions in higher education courses. Keywords: teaching practice; higher education; instrumentation. 1 Material da 3ª aula da Disciplina Técnicas de Comunicação Docente, ministrada no Curso de Pós-Graduação Lato Sensu em Didática e Metodologia do Ensino Superior – Programa Permanente de Capacitação Docente. Valinhos, SP: Anhanguera Educacional, 2009. Anhanguera Educacional S.A. Correspondência/Contato Alameda Maria Tereza, 2000 Valinhos, São Paulo CEP 13.278-181 [email protected] Coordenação Instituto de Pesquisas Aplicadas e Desenvolvimento Educacional - IPADE Informe Técnico Recebido em: 1/8/2009 Avaliado em: 24/1/2010 Publicação: 9 de agosto de 2010 ANUDO n6_miolo.pdf 169 22/03/2011 11:28:55

Anuário da Produção A ESTRUTURA TEXTUAL I1 Acadêmica … · do texto e de suas características estruturais; em um segundo momento do artigo, expõem-se tanto os elementos estruturantes

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Anuário da Produção Acadêmica Docente Vol. III, Nº. 6, Ano 2009

Guilherme A. de Lima Nicésio Faculdade Anhanguera de Campinas unidade 3 [email protected]

A ESTRUTURA TEXTUAL I1

RESUMO

Esse artigo apresenta como tema principal, em continuidade do conteúdo já apresentado em artigos anteriores do módulo “Técnicas de Comunicação Docente”, o texto como instrumento essencial do labor acadêmico e pedagógico. Primeiramente, há a exposição de definição básica e orientativa do texto e de suas características estruturais; em um segundo momento do artigo, expõem-se tanto os elementos estruturantes do texto (frase, oração, período), como os problemas decorrentes do uso inadequados desses componentes que são, na verdade, considerados desvios na norma culta da língua, em ocorrência de frases lacunas, estruturas tópico-comentário. Por fim, o componente do texto a ser tratado é o parágrafo, como recurso coesivo de um texto, suas características e sua aplicação. O objetivo do artigo é instrumentalizar os alunos do curso de Capacitação Docente para a produção de textos acadêmicos adequados, de acordo com as exigências das condições de trabalho em cursos de ensino superior.

Palavras-Chave: prática docente; ensino superior; instrumentalização.

ABSTRACT

This article presents as its main theme, in continuation of the content already presented in previous articles of the module “Teaching Communication Skills” the text as an essential instrument of academic work and teaching. First, there is the basic definition and explanatory text for guidance and its structural features, in a second moment of the article sets out both the structural elements of the text (phrase, sentence, period), as the problems arising from inappropriate use of these components that are actually considered deviant in the cultural norms of language, gaps in the occurrence of phrases, topic-comment structures. Finally, the text component to be treated is the paragraph, as use of a cohesive text, its characteristics and application. The purpose of this article is orchestrate the students of Teacher Training for the production of academic texts adequate in accordance with the requirements of the working conditions in higher education courses.

Keywords: teaching practice; higher education; instrumentation.

1 Material da 3ª aula da Disciplina Técnicas de Comunicação Docente, ministrada no Curso de Pós-Graduação Lato Sensu em Didática e Metodologia do Ensino Superior – Programa Permanente de Capacitação Docente. Valinhos, SP: Anhanguera Educacional, 2009.

Anhanguera Educacional S.A. Correspondência/Contato

Alameda Maria Tereza, 2000 Valinhos, São Paulo CEP 13.278-181 [email protected]

Coordenação Instituto de Pesquisas Aplicadas e Desenvolvimento Educacional - IPADE

Informe Técnico Recebido em: 1/8/2009 Avaliado em: 24/1/2010

Publicação: 9 de agosto de 2010

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SOBRE A NOÇÃO DE TEXTO: A TEXTUALIDADE

Leia o texto da Figura 1, uma charge do famoso cartunista Angeli.

Fonte: Disponível em: <http://www2.uol.com.br/angeli/?imagem=335&total=335>.

Acesso em: 24 jul. 2009. Figura 1 – Charge sobre Brasília.

Na charge da Figura 1, há um evidente efeito provocado pelo contraste de

escalas, por meio da representação de um grampo de cabelo em escala ampliada em

relação aos turistas que observam e fotografam o monumento. Como o título refere-se aos

edifícios que formam a região central de Brasília, o grampo gigante seria mais um

monumento componente do conjunto arquitetônico da capital brasileira, em grande parte

projetado pelo arquiteto Oscar Niemeyer (Diz-se de Brasília, porque, ao fundo, observa-se

a Praça dos Três Poderes, com todos os seus edifícios característicos: o Palácio do Planalto;

o Congresso Nacional; a Catedral de Brasília; o Obelisco a JK; a Esplanada dos

Ministérios), em comparação com os turistas. Além disso, sabemos que são turistas, pois,

além de sua caracterização peculiar (vestimenta, câmeras fotográficas à mão) todos

observam o suposto monumento devido à presença da palavra TOUR (do francês, viagem

ou passeio), escrita na lateral do ônibus.

Há também o uso de sentidos denotativo e conotativo, com o emprego de

significados possíveis da palavra grampo no Brasil (prendedor de cabelo feito de arame

recurvado; escuta clandestina ou secreta por meio de aparelhagem eletrônica – Dic. Eletrônico

Houaiss. São Paulo: Ed. Objetiva, 2001). Também é importante comentar tanto o título (o

grampo como elemento ou prática comum no ambiente político) como o diálogo do

turista (ao mesmo tempo, uma escultura e uma alusão ao grampo telefônico clandestino

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como prática ilegal, que fere a privacidade individual e ameaça as instituições públicas

que necessitam de sigilo para gerir assuntos de Estado).

Ao realizar essas considerações, é inevitável tratarmos o objeto analisado em

questão como um texto, que é a noção que pretendemos tratar aqui. E o que é, de fato, um

texto? Esse termo é usado amplamente por todos aqueles que trabalham com a linguagem

(professores, jornalistas, escritores, estudantes etc.). No entanto, se questionarmos a nós

mesmos, profissionais docentes que somos, o que é um texto, teremos geralmente

dificuldade para definir exatamente o conceito veiculado por essa palavra. O texto

anteriormente apresentado é exemplar para demonstrar dois dados na leitura de um

texto:

a) Em um texto, o significado de uma parte não é autônomo, mas depende das outras com que se relaciona. Tanto é verdade que, no caso da charge, devemos considerar ambos os sentidos que a palavra grampo possui naquele contexto.

b) O significado global de um texto não é o resultado somente da soma de suas partes componentes, mas também de uma combinação geradora de sentidos. Não fosse esse fator, a leitura da charge poderia ser destituída tanto de sua intenção humorística como provocar uma leitura bizarra, sem sentido.

Para explicar o que é um texto, é necessário apresentar suas propriedades.

1ª propriedade:

Um texto possui coerência de sentido, o que significa que ele não é um amontoado de

frases. Ao contrário, é um todo organizado de sentido. A palavra texto vem de uma das

formas do verbo latino texo, que quer dizer “tecer”. O texto é um tecido, não um

aglomerado desconexo de fios. Nele, o sentido de suas partes constituintes é dado pelo

todo. Logo, por extensão, o significado de uma frase do texto será devidamente

compreendido se mantivermos sempre em vista a totalidade do texto original, do qual a

frase faz parte (e que define seu contexto); também podemos depreender a seguinte

conclusão: a mesma frase utilizada em um contexto diferente poderá apresentar outros

sentidos.

O contexto é uma unidade linguística maior em que se insere uma unidade

menor: a oração serve de contexto para a palavra; o período, para a oração; o texto

integral de um romance, para cada capítulo. O contexto pode ser explícito, quando não

está expresso linguisticamente, ou implícito, quando não precisa ser verbalizado, porque

pode ser depreendido da situação. Em outras palavras, o contexto é o conhecimento de

mundo pressuposto por uma unidade linguística. Vejamos quatro exemplos que

demonstram um texto determinado pelo contexto:

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a) Acabou a água lá em casa. Não sabíamos a que se devia o fato. Pensamos que fosse um corte de abastecimento não anunciado pela Sabesp, mas, quando fomos ver, era a bomba.

b) Um telefonema foi recebido por nós, avisando que uma bomba tinha sido colocada no prédio. Notificamos a polícia, que mandou evacuar o edifício e passou a procurar algum objeto suspeito, até que, em um dos banheiros, localizou um pequeno embrulho: era a bomba.

c) O porta-voz do Banco Central anunciou uma máxi-desvalorização do real. Era a bomba que, segundo insistentes boatos, o governo lançaria sobre o mercado.

d) Apesar de ter estudado bastante, Pedro não tinha ido bem no vestibular. O que temia não era a bomba, mas ter que recomeçar o cursinho.

O seguimento linguístico era a bomba tem sentidos distintos, compreensíveis em

cada um dos contextos acima. Esta mesma característica está presente na charge de

Angeli, com o uso da palavra grampo. E, em ambos os exemplos, pressupõe-se um

conhecimento de mundo para a devida compreensão de sentido desses textos. Assim, se

um texto é um todo organizado de sentido, quais são os fatores que tornam o texto o que

ele é e não um simples amontoado de frases? Há vários, mas citaremos aqui dois desses

fatores, que serão tratados posteriormente na próxima aula de maneira pormenorizada: a

coerência e a coesão.

2ª propriedade:

O texto é delimitado por dois brancos, isto é, por dois espaços de não sentido. Se a

primeira característica de um texto é ser um todo organizado de sentido, um texto não

precisa ser necessariamente verbal: um filme, um livro, um quadro, uma telenovela, uma

história em quadrinhos, um gesto, uma peça musical são textos. Independentemente de

sua forma de manifestação (visual, sonora, verbal, etc.), o texto tem um início e um fim.

Antes do começo e após o término, há dois espaços de não sentido (dois brancos, dois

momentos de silêncio) que delimitam o texto.

3ª propriedade:

Um texto é produzido por um sujeito em um dado tempo e em um determinado espaço.

Todo o texto assimila as idéias da sociedade e da época em que foi produzido. Esse fato,

contudo, não significa que os textos narram fatos históricos de um país ou cultura, mas,

além disso, revelam os ideais, as concepções, os anseios e os temores de um povo numa

determinada época. Cabe lembrar também que uma sociedade não produz uma única

forma de ver a realidade. Como ela é dividida pelos interesses antagônicos dos diferentes

grupos sociais, produz frequentemente idéias contrárias entre si. Assim, para

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compreender um discurso apresentado por um texto, é preciso também conhecer

devidamente pontos de vista antagônicos a ele.

Podemos, a partir da depreensão dessas propriedades, extrair uma definição:

UM TEXTO É UM TODO ORGANIZADO DE SENTIDO, DELIMITADO POR

DOIS BRANCOS, QUE MANIFESTA UM PONTO DE VISTA SOCIAL SOBRE UMA

DADA QUESTÃO.

Dessa definição, por sua vez, conclui-se que:

a) Uma boa leitura nunca pode se basear em fragmentos isolados do texto, já que o significado das partes sempre é determinado pelo contexto dentro do qual se encaixam; logo, produzir um texto não é amontoar frases sem qualquer relação entre elas.

b) Uma boa leitura nunca pode deixar de apreender o pronunciamento contido por trás do texto, já que sempre se produz um texto para marcar posição frente a uma questão qualquer (apoiando-a ou opondo-se a ela); por conseguinte, produzir um texto é adotar uma posição sobre um dado assunto e argumentar em favor dela.

ASPECTOS MICRO-ESTRUTURAIS: A SINTAXE

Para iniciar devidamente nosso trabalho, é necessário retomar elementos fundamentais à

compreensão global das estruturas do texto. Como vimos, o texto é um todo composto de

partes menores: frases, orações, períodos e parágrafos compõem a chamada macro-

estrutura do texto. Logo, para compreendê-la, é preciso conhecer também o

funcionamento dessas micro-estruturas.

Para facilitar esse exercício de entendimento amplo do funcionamento do texto e

de suas partes, é necessário retomar alguns aspectos das aulas anteriores, principalmente

o que diz respeito às relações entre a linguagem oral e a linguagem escrita:

a) Escrevemos (ou tentamos escrever) a variedade padrão da língua, variedade essa cujas formas linguísticas nem sempre são as nossas; como já visto nas aulas anteriores, há diferenças sensíveis entre umas e outras.

b) Apesar de utilizarmos na fala recursos próximos à língua padrão, teríamos de adequar, ao escrever, nossa fala à escrita, que tem regras próprias; muitos recursos são eficientes na fala, como a redundância, mas são péssimos se usados na linguagem escrita; dedos apontados e outros gestos manuais, que em uma conversa não deixam espaço para ambiguidade, transformam-se na escrita em palavras usadas para nos referirmos adequadamente a um objeto ou ser (como os pronomes pessoais do caso oblíquo: -los, -na, -o(a); -lhe etc.).

c) A linguagem oral dispõe de um número quase infinito de recursos expressivos (entonação, gestos, expressão facial), que são reduzidos na escrita a um número limitado de sinais gráficos de pontuação. Assim, o

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domínio da pontuação é um dos indícios de domínio da estrutura da frase escrita, para que as entonações (e outras possibilidades de pronúncia e de interpretação das frases) sejam compreensíveis ao leitor.

FRASE, ORAÇÃO, PERÍODO

Em uma produção de texto, o domínio do conceito de frase e de sua estrutura é

considerado fundamental para definir as características e o estilo do texto. Não se pode

prescindir de uma elaboração adequada de frases e orações, em termos de estrutura

sintática e sua correlação lógica com o estilo, sem que o contexto apresente clareza de

sentido, concisão e estruturas harmônicas.

Uma definição de frase adequada aos nossos propósitos poderia ser a seguinte:

Construção que encerra um sentido completo, podendo ser formada por uma ou mais palavras, com verbo ou sem ele, ou por uma ou mais orações; pode ser afirmativa, negativa, interrogativa, exclamativa ou imperativa, o que, na fala, é expresso por entonação típica e, na escrita, pelos sinais de pontuação. (cf. HOUAISS, 2002)

Outro conceito, presente na definição acima, é o termo oração: frase, ou membro de

frase, que contém um verbo. E o período pode também ser depreendido dali: frase que contém

uma ou mais orações. Temos, assim, estruturas como:

Que calor!

Contramão.

Ótimo!

“Muito riso, pouco siso”. (provérbio popular)

Tomara que vocês sejam felizes!

Penso; logo, existo. (Descartes)

A frase e a oração são elementos constituintes da linguagem cujo

desconhecimento pode representar problemas para o professor que assinale, em forma de

nota ou conceito, um texto com problemas de escrita (portanto, de compreensão parcial

ou totalmente comprometida). Frases e orações mal formuladas são comuns em textos

produzidos pelos alunos. Parte dessas dificuldades com a escrita decorre da contaminação

do texto escrito com a linguagem oral, problema este que se manifesta com evidência em

atividades de produção textual.

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A ESTRUTURA FRASAL

Frase: A Estrutura Básica

No padrão formal escrito, as orações possuem essencialmente a seguinte estrutura:

Sujeito Predicado (Verbo + Complemento do Verbo + Circunstâncias)

Mesmo que as palavras exerçam a função de sujeito sejam de diferentes classes

morfológicas e estruturas, ou ainda, que haja ausência de algum desses termos, a

estrutura da oração, com a presença de um verbo, será sempre constante:

A aluna sentia vontade de rir sem parar.

Eles parecem loucos, fora de si mesmos.

Viver é lutar.

É evidente que as pessoas não são tão indiferentes assim.

Roubaram um banco em pleno centro da cidade. (sujeito indeterminado)

Dançavam-se muito os ritmos de salão no nosso tempo. (sujeito de oração em voz passiva)

Houve poucas reprovações no curso desse semestre. (oração sem sujeito)

Informação Básica e Complementar

É importante, contudo, destacar que, mesmo que não dominemos esses conceitos, ou

lancemos mão deles em momentos de produção de texto (como esquemas de aula,

inventários, textos complementares, gabaritos e expectativas de resposta para questões),

sempre notamos a presença de elementos constituintes para a compreensão da frase.

Observe a primeira oração, exposta acima, e sua decomposição a seguir:

a) A respeito de quem estamos falando?

Da aluna.

b) O que é dito a respeito dessa aluna?

Diz-se que ela sentia vontade de rir sem parar.

Ou seja: aquilo de que estamos falando (o sujeito) e aquilo que dizemos a respeito

do sujeito (o predicado) constituem o que denominamos informação básica, cuja

estrutura pode ser aplicável a quase todas as orações, já que uma oração bem escrita deve

contar, no mínimo, com essas duas partes.

Há ainda a ser considerado o caso das orações complexas, pois é preciso

classificar outras orações e estruturas que poderiam se associar à informação básica. Nesse

caso, como proceder? Tomemos uma das informações como a mais importante (o fato

considerado o de maior interesse, a informação básica) e transformamos as demais em

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informações complementares. Ou, em outras palavras, tomamos uma informação como o

foco da notícia e as demais como subordinadas a ele (as circunstâncias da notícia).

Veja o seguinte exemplo e o esquema sintático correspondente:

Naquele dia, quando menos esperava, Flávia recebeu uma nova proposta de emprego.

Circunstância 1 Circunstância 2 Sujeito Verbo Complemento Verbal Complemento nominal

Informação Complementar Informação Básica

Note que, no caso do exemplo anterior, as circunstâncias são formadas por uma

locução adverbial (“naquele dia”) e por uma oração adverbial temporal (“quando menos

esperava”). Outros tipos de oração e de locução podem desempenhar a função de

informação complementar:

Apesar de ninguém esperar, choveu.

Informação Complementar Informação Básica

O operário caiu, quebrando a perna.

Informação básica Informação Complementar

Tendo estudado bastante, os estudantes obtiveram boas notas, vendo então seu esforço recompensado.

Informação Complementar Informação Básica Informação Complementar

As informações complementares – da maneira como estão articuladas no período –

não podem ocorrer como orações independentes, já que – como o próprio nome diz –

complementam o sentido da informação básica e não têm, portanto, autonomia sintática:

Apesar de ninguém esperar.

Quebrando a perna.

Tendo estudado bastante, vendo assim o esforço recompensado.

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Também o aposto – termo que "traduz" um substantivo ou pronome com uma

qualidade ou característica inerente – é uma informação complementar. Observe o

exemplo:

O réu, parente de senador, conseguiu, pela segunda vez, adiar o seu julgamento.

aposto circunstância

Inf. Básica Inf. Complementar Inf. Básica Inf.Complementar Informação Básica

Pelo que se pode notar nos exemplos anteriores, as informações complementares

são normalmente separadas das informações básicas por um sinal de pontuação: vírgulas,

travessões ou parênteses (sinais que não terminam um período, caso do ponto final).

Essa nova maneira de se abordar as chamadas micro-estruturas do texto pode

facilitar o trabalho de análise minuciosa de textos de alunos e professores.

Problemas mais frequentes da Estrutura Frasal

Frases Lacunares

Nos exemplos anteriores, não há ausência desses elementos constituintes da

frase. Já na fala, frequentemente as frases apresentam lacunas, que o(s) interlocutor(es)

preenchem por dados presentes no contexto. Veja:

- Vocês, caros alunos, trouxeram o livro-texto hoje, conforme o combinado?

- Trouxemos.

Nessa situação de fala, não se observa a necessidade de utilização, na resposta,

da expressão “livro-texto” ou do pronome equivalente “Trouxemo-lo”. O complemento do

verbo não está preenchido. Trata-se, portanto, de um vazio na estrutura sintática da frase,

que pressupõe, nesse caso, um verbo e um complemento verbal.

Já em um contexto escrito formal, tal situação, no entanto, não é adequada. Se

uma determinada palavra exigir um complemento, não se pode escrever ignorando tal

comportamento linguístico. Podemos afirmar, portanto, que muitas categorias sintáticas

que são lacunares na fala devem ser preenchidas na modalidade escrita da língua, na

qual, na maioria das vezes, não devem existir categorias vazias, subentendidas.

Podemos pensar no seguinte esquema sintático:

Sujeito Verbo Complemento do Verbo Circunstâncias

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Esse esquema seria aquele de um período simples, escrito em ordem direta,

formado por um verbo transitivo (isto é, verbo que necessita de complemento). Como o

do período abaixo:

Eu encontrei meu tio na padaria.

Conforme situações específicas, algumas categorias podem não estar preenchidas

(como a do sujeito ou a das circunstâncias); a do complemento do verbo, no entanto, deve

estar preenchida no caso de verbos transitivos diretos e indiretos, para que não ocorra

inadequação:

Verbo Complemento do Verbo + Complemento Nominal (de alunos) Circunstâncias

Há alunos excelentes nesse ano.

Além dos verbos transitivos, alguns nomes precisam de um complemento (são

nomes que possuem também transitividade). Veja o seguinte esquema sintático:

Sujeito Complemento Nominal (de temor) Verbo Complemento Verbal

O temor da guerra aterroriza muitas pessoas.

O nome que pede um complemento pode estar no sujeito, nos complementos

verbais ou nas circunstâncias (de tempo, lugar, modo, causa etc.), quando essas funções

sintáticas forem exercidas por um nome que necessite de um complemento; nesse caso,

teríamos o seguinte esquema:

a. Eles têm muita necessidade de comunicação.

Sujeito Verbo Complemento Verbal Complemento Nominal

b. O concorrente não compareceu à entrevista por falta de meio de transporte.

Sujeito Verbo Complemento Verbal Circunstância (causa) Complemento Nominal

ESTRUTURA TÓPICO/COMENTÁRIO

Outro aspecto que evidencia as diferenças bastante marcadas entre a modalidade oral da

língua e a modalidade escrita, além das frases com lacunas, diz respeito à construção

sintática dos enunciados. É bastante comum na língua falada a chamada estrutura

tópico/comentário, que pode ser assim exemplificada:

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As vagas do concurso, ele não pode participar do processo de preenchimento.

A característica mais marcante do tópico é o fato de que ele estabelece a

referência para o que vai ser dito a seguir.

Observemos o enunciado acima: o falante inicia a frase com o termo “as vagas”,

que expõe o assunto sobre o qual vai tecer comentários. Trata-se do tópico. O que vem a

seguir na sentença é um comentário feito por uma oração completa “ele não pode participar

do processo de preenchimento”. Há evidente relação temática entre o tópico e o comentário,

mas o tópico não se articula sintaticamente com o restante da oração. Ele acaba por

"sobrar" na estrutura sujeito/verbo.

A escrita quase nunca admite essas rupturas sintáticas na sua modalidade formal

(a não ser em contextos especiais, por exemplo, em textos poéticos em que a ruptura é

intencional, visa a um propósito artístico). Na modalidade escrita, seria conveniente

estabelecer também a conexão sintática e a frase resultante seria: ele não pode participar do

processo de preenchimento das vagas do concurso.

Vejamos outro exemplo:

Os estudantes que fizeram a prova substitutiva, não sabemos se o professor aprovou todos.

Nesse caso, há uma redundância: uma mesma idéia aparece duas vezes. O

enunciado é iniciado pelo termo “Os estudantes que fizeram a prova substitutiva”. Esse

termo é o tópico. No entanto, o tópico não se articula sintaticamente com o restante da

oração, uma vez que a palavra "todos" substitui o tópico como complemento do verbo

"aprovou" (ou seja, os termos “todos” e “os estudantes que fizeram a prova substitutiva”

tem a mesma função sintática: são complementos verbais).

Observe que a estrutura tópico/comentário tem a função de enfatizar o assunto

sobre o qual queremos fazer alguma afirmação. A posição do tópico corresponde

justamente ao lugar da ênfase. Compare as orações abaixo:

A ata da reunião, Silvia já a deixou pronta.

Silvia já deixou pronta a ata da reunião.

Nesse caso, para adequar a primeira oração acima citada para o padrão escrito

formal, utilizamos estruturas como:

Quanto à, Silvia já a deixou pronta.

A respeito dos problemas da semana anterior, o gerente já os solucionou.

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Em/Com relação aos estudantes que fizeram a prova substitutiva, não sabemos se o professor aprovou todos.

A ESTRUTURA DO PARÁGRAFO

Pode-se dizer que, composto de um ou mais períodos, o parágrafo é uma unidade de

composição de um texto que subdivide o assunto de um texto em diferentes aspectos, por

meio de separações espaciais. Cada parágrafo constrói-se em torno de uma idéia central e

apresenta um estágio da exposição do raciocínio do autor; logo, a cada novo enfoque, a

cada nova abordagem, haverá novo parágrafo.

Cabe lembrar que, por ser uma unidade de composição do texto de caráter

intuitivo, não existe correspondência sempre direta entre as divisões realizadas pelo autor

e o plano de estruturação do texto. Além disso, a paragrafação dependerá da intenção, do

destinatário e do assunto do texto. O bom domínio do parágrafo não é simplesmente uma

questão técnica de escrita: a noção de parágrafo depende, de certo modo, da percepção

mais ou menos intuitiva que temos de uma hierarquia de ideias e de fatos, de uma

organização de mundo que não se reduz a somente a um macete ou a uma regra fixa.

Ainda sim, podemos falar da estruturação de um parágrafo padrão, no sentido

de que ele é o tipo mais comum nas diferentes espécies de texto. Alunos frequentemente

dizem que não conseguem escrever a resposta a uma questão dissertativa por não

encontrarem maneira de iniciá-la e estruturá-la. Para orientá-los, a solução seria

apresentarmos modelos de resposta em forma de parágrafo-padrão, em momentos-chave

de nossas aulas e materiais de apoio.

Esse procedimento visa evitar dois tipos básicos de problemas com relação à

produção de um parágrafo, que afetam sensivelmente a macro-estrutura do texto:

a) ausência completa de paragrafação do texto: o texto é um bloco maciço de linhas, que emprega um único período, sem qualquer subdivisão gráfica. Essa ocorrência muitas vezes demonstra falta de compreensão global do contexto e do assunto a ser avaliado na tarefa, ou pode demonstrar uma execução descompromissada e, assim, suscetível a equívocos, da tarefa;

b) paragrafação total do texto, frase a frase: cada oração do texto forma um parágrafo gráfico. Nesse caso, estamos diante de um subterfúgio – nada benéfico, por sinal – que os alunos frequentemente utilizam: ao fazer mais parágrafos, frase a frase, seus textos alcançam mais rapidamente o limite de linhas e/ou de palavras frequentemente estipulado pelo professor para a execução da tarefa.

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Parágrafo Padrão: Tópico Frasal + Desenvolvimento

O parágrafo padrão contém uma introdução, em forma de uma frase, que é a exposição,

de maneira sucinta, da ideia central do parágrafo (chamada de tópico frasal); um

desenvolvimento do tópico e, muito raramente, uma conclusão. Como unidade textual

menor, o parágrafo reproduz a estrutura básica de um texto.

O tópico frasal consiste em uma declaração, uma opinião, uma definição, um

julgamento que apresenta a idéia central em torno da qual se desenvolve o parágrafo. É

usualmente constituído de apenas um período e aparece no início do parágrafo. E o

desenvolvimento são informações, dados, fatos, exemplos que esclarecem, comprovam,

defendem, expandem a idéia central introduzida pelo tópico frasal.

Exemplo:

Diversos grupos de pesquisadores da Universidade de Harvard, em Boston, publicaram estudos ontem no site na revista "Nature Medicine", revelando o resultado de experimentos feitos com camundongos que relacionam obesidade e diabetes. Segundo as pesquisas, a obesidade pode causar o diabetes tipo 2 (resistência à insulina), induzindo uma pane no sistema de defesa do corpo. Além disso, uma descoberta simultânea de quatro grupos de pesquisa indica que drogas antialérgicas podem prevenir e tratar a doença em indivíduos acima do peso.

(Folha Online. Disponível em: <http://www1.folha.uol.com.br/folha/ciencia/ult306u600774.shtml>. Acesso em: 27 jul. 2009 – Adaptado)

TIPOS DE PARÁGRAFOS E SEUS DESENVOLVIMENTOS

Há três tipos parágrafos mais frequentes, conforme o tópico frasal:

1. Generalização – consiste em uma declaração afirmativa (ou negativa) de uma idéia cuja

justificação ou fundamentação será feita no desenvolvimento, por meio de exemplos,

exposição de razões, comparações, analogias, confrontos de posicionamentos, etc.

Exemplo:

Muitos são os que desconhecem o fato de que a previsão do tempo já é vista como uma ferramenta estratégica de negócios para grandes empresas dos mais diferentes segmentos da economia, como energia, petróleo, varejo, bebidas e até agências de publicidade. Por isso, muitas empresas estão com suas atenções voltadas para a cidade de Cachoeira Paulista (SP), onde está localizada a sede do Centro de Previsão do Tempo e Estudos Climáticos (CPTEC), responsável por definir se o El Niño vai estar oficialmente presente entre nós na temporada 2009/2010. O motivo desse acompanhamento por parte das empresas seria a tentativa de amortizar ou até mesmo evitar possíveis prejuízos, devido aos efeitos do fenômeno fruto da elevação atípica da temperatura das águas do Pacífico que provoca alterações climáticas em diversas partes do mundo. No Brasil, o El Niño é sinônimo de temperaturas mais elevadas nas regiões Sudeste e Centro-Oeste (até 2° C acima das temperaturas habituais), chuvas acima da média no Sul e abaixo do padrão no Norte e Nordeste.

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(“Lucro das empresas e clima andam juntos” in: Portal Exame. Seção exame/negócios. 28 jul. 2009. Disponível em: <http://portalexame.abril.com.br/negocios/lucro-empresas-clima-andam-juntos-487658.html>. Acesso em: 28 jul. 2009 – Adaptado)

No exemplo acima, os dados apresentados são usados para introduzir o assunto

(o uso de dados meteorológicos como recurso de gestão estratégica) por meio da

generalização; o desenvolvimento serve para expor evidências desse crescente interesse

de empresas de diversas áreas em dados do clima.

2. Definição – conforme o próprio nome indica, apresenta a definição de um conceito

qualquer, que será discutido no desenvolvimento do parágrafo. É comum que o

desenvolvimento desse tipo de tópico frasal seja uma exemplificação ou um comentário a

respeito do conceito apresentado.

O mito, entre os povos primitivos, é uma forma de se situar no mundo, isto é, de encontrar o seu lugar entre os demais seres da natureza. É um modo ingênuo, fantasioso, anterior a toda reflexão e não-crítico de estabelecer algumas verdades que não só explicam parte dos fenômenos naturais ou mesmo a construção cultural, mas que dão, também, as formas da ação humana. (ARANHA, Maria Lúcia de Arruda; MARTINS, Maria Helena Pires. Temas de Filosofia. São Paulo, Moderna, 1992, p. 62)

El Niño representa o aquecimento anormal das águas superficiais e sub-superficiais do Oceano Pacífico Equatorial, assim definiu o pesquisador do Inpe, Gilvan Sampaio, em seu livro o “El Niño e Você – o fenômeno climático”. A palavra El Niño é derivada do espanhol, e refere-se a presença de águas quentes que todos os anos aparecem na costa norte de Peru na época de Natal. Os pescadores do Peru e Equador chamaram a esta presença de águas mais quentes de Corriente de El Niño em referência ao Niño Jesus ou Menino Jesus. Na atualidade, as anomalias do sistema climático que são mundialmente conhecidas como El Niño e La Niña representam uma alteração do sistema oceano-atmosfera no Oceano Pacífico tropical, e que tem consequências no tempo e no clima em todo o planeta. Nesta definição, considera-se não somente a presença das águas quentes da Corriente El Niño, mas também as mudanças na atmosfera próxima à superfície do oceano, como o enfraquecimento dos ventos alísios (que sopram de leste para oeste) na região equatorial. Com esse aquecimento do oceano e com o enfraquecimento dos ventos, começam a ser observadas mudanças da circulação da atmosfera nos níveis baixos e altos, determinando mudanças nos padrões de transporte de umidade e, portanto, de variações na distribuição das chuvas em regiões tropicais e de latitudes médias e altas. Em algumas regiões do globo também são observados aumento ou queda de temperatura. (Site oficial do CPTEC – Centro de Previsão do Tempo e Estudos Climáticos. Disponível em: <http://www.cptec.inpe.br/glossario/>. Acesso em: 28 jul. 2009)

Em ambos os parágrafos, redigidos a partir de apresentação de conceitos nos

tópicos frasais, seus respectivos desenvolvimentos distinguem nuanças dessas definições

ou mesmo as relativizam.

3. Divisão – apresenta a distinção ou discriminação de idéias a serem desenvolvidas.

Exemplo:

Duas iniciativas diferentes prometem incentivar a leitura e um hábito estranho: o de esquecer um livro. Um deles (uma delas) é a campanha Livro Livre da Companhia Paulista de

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Trens Metropolitanos (CPTM, que disponibilizará cerca de 5 mil títulos e 15 mil exemplares para doação em 27 estações de trem da Grande São Paulo. Essa campanha tem como única exigência que, terminada a leitura, o livro seja colocado em algum lugar público para que outro leitor possa recolhê-lo. Outro projeto com o mesmo objetivo ( outro projeto de incentivo à leitura) é o Livre para Voar, da Ale Combustíveis, que distribuirá mais de 6,7 mil exemplares de 20 títulos em postos de gasolina em todo o Brasil. O projeto dessa campanha exige que os leitores registrem na Internet um comentário sobre o que leram, abandonem o exemplar lido em um local público e indiquem o último lugar em que o livro foi visto. Segundo o coordenador do Projeto Livro para Voar, essa exigência possibilita que as obras sejam encontradas mais facilmente por leitores interessados.

(“Pegue, leia e deixe o livro em um local público” in O Estado de S. Paulo. 28 out. 2008. Disponível em: <http://www.saopaulo.sp.gov.br/spnoticias/lenoticia.php?id=99971>. Acesso em: 28 jul. 2009)

Ao dizer que há dois projetos distintos, fica logo clara a direção que o parágrafo

seguirá: no desenvolvimento, as características peculiares das iniciativas deverão ser

expostas, para que o leitor compreenda minimamente a similitude e as diferenças entre

ambas. Já exemplo a seguir demonstra que o tópico frasal por divisão também pode ser

formulado em forma de uma oração interrogativa:

Somos ou não um país racista? O Brasil pode ser considerado um país racista, se por racismo entendermos a disseminação no nosso cotidiano de práticas de discriminação e de atitudes preconceituosas que atingem prioritariamente os pardos, os mestiços e os pretos. Práticas que diminuem as oportunidades dos negros de competir em condições de igualdade com pessoas mais claras em quase todos os âmbitos da vida social que resultam em poder e riqueza. Por outro lado, há décadas, o debate sobre "raças" para muitos intelectuais e instituições ficou para trás, substituído pelo das culturas, como conjunto de comportamentos e valores comuns, o que gera outra leitura: não somos racistas, mas sim fazedores de preconceitos. Houve um duplo movimento: a afirmação da importância do fator cultural como fonte de diferença e conflito e a desconstrução da noção de cultura como algo coerente, inalterado pelo tempo. Aparentemente contraditórias, essas afirmações introduziram questões muito distantes de "se há racismos ou não". Elas perguntam em que medida defender minorias ajuda a perpetuar uma diferença que não está longe da idéia de raça, dando suporte ao etnocentrismo. Ou questionam se o reconhecimento de identidades culturais é compatível com os princípios de igualdade e liberdade, que são os das modernas democracias.

REFERÊNCIAS

ARISTÓTELES. Retórica (Tradução e notas de Manuel Alexandre Júnior, Paulo Farmhouse Alberto e Abel do Nascimento Pena). Lisboa: Imprensa Nacional; Casa da Moeda, 1998.

FARACO, Carlos Alberto; TEZZA, Cristovão. Prática de texto para estudantes universitários. 16.ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2007.

FARACO, Carlos Alberto; MARUXO JR., José Hamilton; MOURA, Francisco M. Gramática. 20.ed. São Paulo: Ática, 2007. (PLT – Vol. 100)

FIORIN, José Luiz; SAVIOLI, Francisco Platão. Lições de texto: leitura e redação. 3ª ed. São Paulo: Ática, 1998.

GARCIA, Othon. Comunicação em prosa moderna. Rio de Janeiro: Fundação Getúlio Vargas, 2006.

HOUAISS, Antônio et al. Dicionário Eletrônico Houaiss da Língua Portuguesa. São Paulo: Objetiva, 2001. [CD-ROM].

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MARTINS, Dileta Silveira; ZILBERKNOP, Lúbia Scliar. Português Instrumental: de acordo com as atuais normas da ABNT. 25. ed. São Paulo: Atlas, 2004.

Guilherme Alves de Lima Nicésio

Especialista Lato Sensu em Teoria e Crítica Literária pela Universidade Estadual de Campinas (2008), é graduado em Bacharelado e Licenciatura em Letras pela Universidade Estadual de Campinas (2001). Atualmente é assessor acadêmico da Anhanguera Educacional S.A., e

professor assistente do curso de Letras da Faculdade Anhanguera de Campinas - unidade 3. Tem experiência na área de Letras, com ênfase em Literatura Comparada, com ênfase nos seguintes temas: literatura comparada, literatura brasileira, estudo de religiões, produção e revisão de textos e de material didático.

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