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Ação Penal É o direito subjetivo público de se dirigir ao Estado-juiz pedindo a aplicação do direito objetivo no caso concreto. Classificação das ações: a) quanto à tutela jurisdicional invocada: i. ação de conhecimento 1) constitutiva - revisão criminal é uma ação constitutiva negativa ou desconstitutiva. 2) declaratória HC para ver declarada extinta a punibilidade. 3) condenatória é a regra no processo penal. É imprescindível que na denúncia e na queixa venha expresso o pedido de condenação? Não! Não há necessidade do pedido vir expresso pois toda a vez o MP denuncia alguém, o único pedido que ele pode fazer é a condenação que pode vir implícito na denúncia. O mesmo ocorre em relação à queixa, onde o legislador só exige pedido de condenação em sede de alegações finais. Por esse motivo, o princípio da correlação no processo penal é observado entre fato imputado e sentença uma vez que o pedido é sempre o mesmo. É possível obter provimento condenatório em sede de HC?

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Ação Penal

É o direito subjetivo público de se dirigir ao Estado-juiz pedindo a

aplicação do direito objetivo no caso concreto.

Classificação das ações:

a) quanto à tutela jurisdicional invocada:

i. ação de conhecimento

1) constitutiva - revisão criminal é uma ação constitutiva negativa ou

desconstitutiva.

2) declaratória – HC para ver declarada extinta a punibilidade.

3) condenatória – é a regra no processo penal.

É imprescindível que na denúncia e na queixa venha expresso o

pedido de condenação?

Não! Não há necessidade do pedido vir expresso pois toda a vez o MP

denuncia alguém, o único pedido que ele pode fazer é a condenação que

pode vir implícito na denúncia. O mesmo ocorre em relação à queixa, onde

o legislador só exige pedido de condenação em sede de alegações finais.

Por esse motivo, o princípio da correlação no processo penal é observado

entre fato imputado e sentença uma vez que o pedido é sempre o mesmo.

É possível obter provimento condenatório em sede de HC?

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De acordo com o art. 653, CPP é possível condenar a autoridade

coatora ao pagamento das custas.

ii. ação cautelar

Existe no processo penal uma ação cautelar semelhante ao do processo

civil?

Não existe nos termos do processo civil, ou seja, dotado daquela

organização, autonomia etc. O que existe no processo penal são as

chamadas medidas cautelares, ou seja, trata-se de uma expressão genérica

utilizada sempre que houver algum bem em risco no processo penal.

Apesar de não ser semelhante ao processo civil, estas medidas cautelares

devem apresentar os mesmos requisitos e as mesmas características de um

verdadeiro processo cautelar (instrumentalidade, legalidade, etc).

Existe poder geral de cautela no processo penal?

Esse poder de cautela significa a possibilidade do juiz decretar de ofício

medidas cautelares com ou sem previsão legal. Dependendo da espécie de

cautelar, excepcionalmente a doutrina admite:

Cautelares reais – são aquelas que visam resguardar um patrimônio

para uma futura ação indenizatória. Ex: arresto, especialização de

hipotéca legal. Em relação a estas admite-se o poder geral de

cautela.

Cautelares probatórias – são aquelas que visam preservar e

arrecadar uma prova para o processo penal. Ex: busca e apreensão,

interceptação telefônica. Em relação a estas admite-se o poder

geral de cautela.

Cautelares pessoais – são aquelas que impõe uma restrição à

liberdade individual. Tradicionalmente no Brasil estas cautelares

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eram prisionais. Com a entrada em vigor do CTB (art. 294, L. 9503

– suspensão da habilitação), L. 11340 – Maria da Penha e L. 12403

foram criadas cautelares restritivas de direito. Em relação as

cautelares pessoais doutrina e jurisprudência entendem que elas se

submetem ao rígido controle da legalidade, ou seja, o juiz não pode

decretar sem previsão legal.

De acordo com o art. 118, §2° da LEP, na hipótese de fuga do

condenado, antes do juiz determinar a regressão ele deverá ouvir o preso.

Como ele vai ser ouvido se ele fugiu? Como expedir as ordens de captura

sem a regressão?

1ª orientação – em nome do poder geral de cautela, o juiz poderá

determinar a regressão cautelar, expedir as ordens de captura para após a

localização e oitiva do preso ela ser ou não convertida em definitiva.

2ª orientação – poder geral de cautela não autoriza o juiz a criar

medidas cautelares sem previsão legal. O juiz deverá aguardar o

comparecimento do preso para, após a sua oitiva, determinar a regressão.

3ª orientação – Não há necessidade de recorrermos ao poder geral de

cautela, pois a ordem de captura terá como base a sentença condenatória

transitada em julgado, caso contrário, a fuga do preso estaria

condicionando uma decisão judicial.

iii. execução

Qualquer execução no processo penal pressupõe a existência de uma

sentença condenatória transitada em julgado.

b) quanto ao ponto de vista subjetivo

i. Ação Pública:

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Princípios Orientadores das Ações Públicas

Princípio da Obrigatoriedade

O MP é obrigado a deflagrar a ação penal, ou seja, ele não pode deixar

de fazê-lo por questões de política criminal.

Transação penal, prevista no art. 76 da L. 9099/95, mitigou este

princípio?

1ª orientação- Ada Pellegrini (posição majoritária) – houve mitigação

pois o MP deixa de deflagrar a ação penal para propor uma medida

alternativa, ou seja, surge aqui a chamada discricionariedade regrada.

2ª orientação –Afrânio Silva Jardim (posição minoritária) – não houve

mitigação pois quando o MP faz a proposta de transação ele está exercendo

uma ação penal diferente, pois há imputação, há análise, há proposta de

aplicação de pena e tudo isso ocorre perante o Poder Judiciário. Logo,

trata-se de uma ação penal sui generis.

Qual a natureza jurídica da transação?

1ª orientação – Ada Pellegrini e Polastre (posição majoritária) - os

requisitos legais é direito subjetivo do acusado.

2ª orientação - Afrânio Silva Jardim e Mirabete - nas ações privadas o

querelante pode perdoar, renunciar, mas nem por isso existe direito

subjetivo ao perdão e à renúncia. Essa discricionariedade que havia nas

ações privadas foi trazida para a pública, ou seja, é poder discricionário do

membro do MP oferecer ou não a transação penal.

O que pode ser feito quando o MP se recusa a fazer a proposta de

transação?

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1ª orientação – como é um direito subjetivo do acusado, o juiz faz a

proposta de ofício. Crítica: transação penal é um acordo feito entra as

partes e o juiz não é parte, ou seja, haveria ofensa à inércia e a

imparcialidade da jurisdição.

2ª orientação – Damásio – para que não haja ofensa ao sistema

acusatório, o juiz fará a proposta a pedido da defesa.

3ª orientação – Mirabete – como é um poder discricionário do MP não

há nada a ser feito.

4ª orientação – Bittencourt – não podemos aplicar o art. 28 do CPP

pois este artigo existe para tutelar interesses do Estado e não do réu. A

solução será impetrar um HC contra o membro do MP.

5ª orientação – devemos aplicar analogicamente a S. 696, STF com a

remessa do feito ao PGJ conforme artigo 28, CPP. (essa é a orientação

usada em concurso).

Cabe transação penal em crime de ação penal privada?

1ª orientação – Ada Pellegrini, TJRJ e STJ – nas ações privadas o

querelante pode perdoar e renunciar, logo ele também pode transacionar

pois quem pode o mais pode o menos. Además haveria ofensa ao princípio

da isonomia se estabelecessemos tratamento diferenciado simplesmente em

razão da natureza da ação penal.

2 ª orientação – Geraldo Prado – todos os institutos que dão ao

querelante a disponibilidade da ação são de direito processual. Em nenhum

lugar do mundo é permitido que particulares negociem pena, sob pena de

afronta ao princípio da dignidade da pessoa humana.

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3 ª orientação – Polastre – o art. 76 da L. 9099/95 só permitiu

transação para crime de ação pública. Nas ações privadas o acordo deve

gerar em torno da composição dos danos.

O que poderá ser feito quando a transação penal é homologada e não

cumprida?

1ª orientação – STF e STJ – transação homologada e não cumprida

equivale a transação inexistente. Logo, o MP deverá deflagrar a ação penal.

2 ª orientação – Polastre – se o objeto da transação for a multa, ela

deverá ser executada conforme uma divida de valor. Se o seu objeto for

uma pena restritiva de direitos ela deverá ser executada nos termos do CPC,

ou seja, execução de obrigação de fazer.

3 ª orientação – a transação deve conter uma cláusula condicionando a

sua homologação ao integral cumprimento, caso contrário não há nada a ser

feito.

Princípio da Indisponibilidade

O MP não pode desistir do andamento da ação penal. Uma vez

proposta ela deve ir até o final.

EXCEÇÃO: suspensão condicional do processo, art. 89, L. 9099/95.

Art. 385, CPP:

“Art. 385, CPP - Nos crimes de ação pública, o juiz

poderá proferir sentença condenatória, ainda que o

Ministério Público tenha opinado pela absolvição, bem

como reconhecer agravantes, embora nenhuma tenha

sido alegada.”

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Quando o MP pede a absolvição ele está dispondo da ação, ou seja, o

art. 385 é compatível com o sistema acusatório?

1ª orientação – majoritária – o MP não pode dispor do que não lhe

pertence, ou seja, a pretensão punitiva não é dele, é do Estado. Además, o

pedido que vincula o juiz é aquele contido implicita ou explicitamente na

denúncia ou queixa. O que o MP faz, em sede de alegações finais, é opinar

sobre o mérito, algo que ele possui total liberdade.

2ª orientação – Geraldo Prado e Paulo Rangel – a pretensão punitiva é

do Estado, o que o MP possui é a pretensão acusatória, e sem isso não é

possível condenação. Quando o MP pede a absolvição ele está retirando

esta pretensão, desta forma o artigo 385, CPP não foi recepcionado pela

Constituição por ser incompatível com o sistema acusatório.

Princípio da Indivisibilidade

A ação pública deve ser proposta em face de todos os autores do

crime.

OBS: para o STF a ação pública é divisível pois eventuais omissões na

denúncia não gerarão qualquer consequência processual uma vez que não

existe a figura do aquivamento implícito.

Princípio da Intranscendência

A ação pública é proposta apenas em face do autor do crime e não do

responsável cível.

Princípio da Oficialidade

Ação pública é proposta pelo MP, que é um órgão oficial que integra o

Estado.

Espécies de Ação Pública:

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a) ação pública incondicionada – é aquela cuja atuação do MP

independe da manifestação de vontade de quem quer que seja. É a regra no

Código Penal.

b) ação pública condicionada a requisição do Ministro da Justiça:

requisição – ato discricionário de forte cunho político do Ministro da

Justiça. Diferente da representação, ela não se subordina a um prazo

específico, porém deve ser exercida dentro do prazo prescricional do crime.

Não há previsão legal sobre a possibilidade de revogação da

requisição. Porém, como é um ato político, a revogabilidade é da sua

própria natureza.

c) ação pública condicionada à representação:

*Após várias alterações no CP e no CPP, diversos crimes que

possuíam a ação incondicionada ou privada, passaram a exigir a

representação da vítima, como também é possível que o agente seja

denunciado por um crime de ação pública incondicionada e, em razão de

desclassificação, passe a ser exigida a sua representação. Podemos

enfrentar a situação de duas formas: a vítima deve ser intimada para que no

prazo de 30 dias exerça o seu direito de representação com a aplicação

analógica do art. 90 da L. 9099/95; devemos perquirir o comportamento da

vítima ao longo do processo, ou seja, se ela cooperava sempre que era

chamada devemos presumir o seu interesse no feito sem necessidade de

cobrarmos dela a representação.

* É possível a retratação da retratação?

Apesar da retratação levar à extinção da punibilidade, o que impediria

a retratação da retratação, o STF entende que é possível desde que dentro

do prazo decadencial de 6 meses.

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* crimes sexuais:

De acordo com o art. 225, CP crime de estupro com resultado morte

cuja a vítima tenha mais de 18 anos a ação penal será pública condicionada

à representação. Diante da violação ao princípio da proporcionalidade e da

exposição ao direito à vida foi ajuizada ADIn. Porém, Aury Lopes Jr

entende que, por hora, devemos aplicar analogicamente a S. 608, STF de

forma que a ação penal seja incondicionada.

OBS: o STF adotou o conceito de crime complexo do jurista italiano

Antolizei que entende que se da fusão de um fato típico (lesão corporal)

com um fato atípico (conjunção carnal), resultar em um novo crime, esse

crime é complexo. Após considerar o estupro crime complexo, o STF

afastou a aplicação do art. 225 do CP para aplicar o art. 101, CP que trata

da ação penal no crime complexo. Como na época da edição da Súmula a

lesão corporal possuia ação incondicionada assim surgiu a S. 608. Toda

doutrina criticava a Súmula, pois além do estupro não ser crime complexo

o art. 225 do CP era especial quando comparado ao art. 101. Com a entrada

em vigor da L. 9099/95, que no seu art. 88 passou a exigir a representação

para o crime de lesão corporal, todos esperavam uma alteração da Súmula,

que não ocorreu. Em 2008, em decisão do pleno publicada no Informativo

456, o STF sugere que a Súmula 608 seja interpretada de forma conjunta

com a L. 9099/95, exigindo a representação. Em 2009, a L. 12015 entrou

em vigor, mudando toda a parte do CP quanto aos crimes sexuais, de forma

que a própria lei estabeleceu que o crime de estupro cometido com lesão

leve possui ação pública não sendo necessário aplicarmos a Súmula neste

caso. Assim, a Súmula não será mais aplicada para a hipótese que foi

criada. Aury entende que devemos considerar o estupro com resultado

morte um crime complexo e como um dos elementos que o integram possui

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ação incondicionada (homicídio culposo), devemos aplicar o art. 101 do CP

e a própria Súmula do STF para que a ação neste caso seja incondicionada.

d) ação pública subsidiária da pública – art. 2°, DL. 201/67 e art. 27,

L. 7492

1ª hipótese: De acordo com o art. 2°,§2° do DL. 201/67, se as

providências para a instauração da ação penal não forem tomadas pelo

MPE, poderão ser cobradas junto ao MPF. Toda doutrina critísca este

dispositivo apontado a sua inconstitucionalidade, pois além de toda a

competência da Justiça Federal estar fixada no art. 109 da Constituição

Federal, este dispositivo coloca o MPF em uma posição de fiscal da

atuação do MPE. O STJ, na apreciação de dois incidentes de deslocamento

de competência, com base no art. 109, V-A da CF, entendeu que grave

violação de direitos humanos, de certa forma, está associado à inércia da

Justiça Estadual na apuração de determinados crimes, ou seja, o STJ

acabou “repristinando” a ação pública subsidiária da pública.

2ª hipótese: Se o Procurador da República não instaurar inquérito ou

não deflagrar a ação, qualquer interessado poderá provocar o PGR para que

ele designe outro membro do MPF para deflagrar a ação. Trata-se de mais

uma forma de fiscalização do MPF.

ii. Ação Privada

Motivos que levam o legislador a dar sinal de que a ação penal será

privada:

Tenuidade da lesão – crimes contra a propriedade imaterial.

O acentuado caráter privado do bem jurídico tutelado – crimes

contra a honra

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O prejuízo para a vítima com a publicidade de um processo –

crimes sexuais anterior ao advento da lei 12015/09.

Parte da doutrina seguida por Pacceli entende que sendo o Direito

Penal a ultima ratio não há razão para diferenciarmos as ações em pública e

privadas, ou seja, todas as ações devem ser públicas. Además, o que

fomenta a vítima é um sentimento pessoal de vingança, o que é

incompatível com os fins do direito penal. Com base nisso, não haverá

mais a ação privada no novo CPP.

Princípios Gerais

Princípio da Oportunidade ou Conveniência

O querelante não é obrigado à deflagrar a ação penal. Ele analisa,

discricionariamente, se deve ou não iniciar a ação.

Quais são as causas de extinção de punibilidade ligadas a este

princípio? Renúncia e Decadência.

Princípio da Disponibilidade

Uma vez proposta a açãoo querelante poderá desistir do seu

andamento a qualquer momento.

Quais são as causas de extinção de punibilidade ligadas a este

princípio? Perdão e Perempção.

Princípio da Indivisibilidade

O querelante deve propor a ação em face de todos os autores.

A, B e C foram indiciados pela prática de um crime de ação penal

privada, porém o querelante ofertou queixa em face de A e B, se omitindo

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em relação a C. Houve renúncia tácita em relação a C (art. 49) ou o MP

poderá aditar a queixa velando pela indivisibilidade (art. 45 e art. 48)?

1ª orientação – Polastre – o CPP não deu ao MP poderes para aditar a

queixa, que velará pela indivisibilidade pedindo a renúncia tácita, causa da

extinção da punibilidade, que beneficiará todos os envolvidos.

2ª orientação – Sérgio Demoro – diante da contradição entre os arts.

45, 48 e 49, CPP a solução será interpretar pró réu, ou seja, renúncia tácita

para todos os envolvidos.

3ª orientação – Mirabete - devemos perquerir a razão da omissão. Se

ela foi proposital houve renúncia que extinguirá a punibilidade para todos.

Se ocorreu um erro material, caberá ao querelante aditar a queixa.

4ª orientação – Pacceli e Tourinho – o querelante não é obrigado a

concordar com o indiciamento feito pelo delegado. Em situações como esta

cabe ao MP como custus leges velar pela indivisibilidade e aditar a queixa.

Princípio da Intranscendência

Espécies de Ação Privada:

a) ação penal privada propriamente dita: é aquela promovida mediante

queixa com possibilidade de sucessão ou substituição processual.

b) ação penal privada personalíssima: somente o ofendido pode

deflagrá-la e a sua morte extingue a punibilidade pois aqui não há a

possibilidade de sucessão ou substituição processual. Somente há um crime

em nosso ordenamento jurídico desta espécie: induzimento a erro essencial

no casamento.

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Normalmente isso é perguntando em prova como: É possível que a

morte da vítima leve a extinção da punibilidade do fato? Neste crime isso é

possível já que somente ela pode deflagrar e dar andamento ao feito.

c) ação privada subsidiária da pública (art. 29, CPP): é uma forma de

controle e fiscalização da atuação do membro do MP, ou seja, findo o prazo

da denúncia se o promotor permanecer inerte surge, para a vítima, uma

legitimidade concorrente para o oferecimento da queixa.

Inércia é a ausência de manifestação do membro do MP.

A, B e C foram indiciados pela prática de um crime de ação pública. O

MP ofereceu denúncia em facede A e B. Se omitindo em relação a C. É

possível ação penal privada subsidiária da pública em relação a C?

1ª orientação – Tourinho – é possível pois em relação a C houve

inércia.

2ª orientação – posição do STF – não é possível pois inércia é a

ausência de manifestação do membro do MP, que não ocorreu na hipótese.

Pedido de arquivamento inconsistente autoriza ação privada

subsidiária da pública?

Para Barbosa Moreira um pedido feito nestes termos equivale a

inércia, o que justificaria a ação privada subsidiária mesmo porque o direito

de ação tem sede constitucional e neste caso ele foi violado. O que

prevalece é a posição do STF de que neste caso não houve inércia.

É possível o perdão e a perempção na ação privada subsidiária da

pública?

Como esses crimes possuem a sua ação penal de natureza pública, não

é possível que ocorram estes institutos típicos de ações privadas. Neste

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caso, isso fará com que o membro do MP retome a ação como parte

principal.

O prazo para o querelante oferecer a queixa subsidiária é decadencial?

Para toda doutrina o prazo de 6 meses para o querelante oferecer a

queixa substitutiva possui natureza decadencial. Porém trata-se na verdade

de um prazo preclusivo pois impõe apenas a perda da faculdade processual.

OBS: Aditamento da queixa pelo MP

Em crime de ação privada subsidiária da pública o MP pode aditar a

queixa para incluir novos fatos ou novos autores, pois ele na verdade é o

titular da ação.

Na ação privada propriamente dita existem 4 orientações sobre a

possibilidade do MP aditar a queixa para incluir novos autores. Porém o

MP poderá aditá-la para incluir novos fatos que caracterizem novos

crimes? Se esses crimes forem de ação penal privada não será possível

aditamento pelo MP, sob pena de ofensa ao princípio da oportunidade. Se

os fatos caracterizarem crime de ação pública, o MP não possui

legitimidade para aditar a queixa, cabendo a ele oferecer denúncia.

Ajuizada a queixa, os autos serão conclusos ao MP que elaborará

parecer sobre a sua admissibilidade. O promotor poderá apontar algum

motivo ou vício de natureza processual para que a queixa não seja recebida

para após a decisão judicial, se for o caso, oferecer denúncia.

Se o MP não atuar nesta ação, a hipótese é de nulidade relativa,

conforme art. 572, CPP.

d) ação penal privada adesiva – é aquela que é proposta ao lado da

denúncia nas hipóteses de conexão.

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Ação Penal nos Crimes Contra a Honra

Em regra, a ação é privada, com as seguintes exceções:

Crime contra a honra do Presidente da República ou Chefe de

Governo Estrangeiro – a ação penal é pública condicionada à

requisição do Ministro da Justiça.

Injúria preconceituosa – art. 140, §3°, CP – ação pública

condicionada à representação.

Injúria Real praticada com o emprego de lesão corporal – ação

pública condicionada à representação.

Crime contra a honra de funcionário público relacionado ao

exercício da função – pelo CP a ação é pública condicionada à

representação, porém o STF editou a S. 714 dando legitimidade

concorrente ao ofendido mediante queixa.

Para aqueles crimes contra a honra cuja pena supere o patamar de dois

anos aplicaremos o rito previsto nos arts. 519 e seguintes do CPP. Antes do

ajuizamento da queixa o ofendido poderá formular o pedido de explicações

previstos no art. 144 do CP. Trata-se de medida facultativa de caráter

preparatório que tem por objetivo esclarecer as ofensas. É medida que não

interrompe o prazo decadencial e sua única consequência processual será a

prevenção.

Nos crimes contra a honra que a ação é pública, cabe pedido de

explicações? Não! O CP só deu legitimidade ao ofendido.

Com ou sem pedido de explicações, o querelante oferecerá queixa,

porém antes do juiz decidir se recebe ou não a inicial ele deverá designar

audiência de conciliação prevista no art. 520 do CPP. Essa audiência possui

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natureza jurídica de condição de procedibilidade imprópria, cuja

inobservância é causa de nulidade.

Nos crimes contra a honra que a ação é pública, cabe audiência de

conciliação? Não, por conta do princípio da indisponibilidade.

O juiz deve marcar esta audiência de conciliação mesmo na hipótese

da queixa ser manifestamente inepta?

1ª orientação - Neste caso ele pode rejeitar liminarmente a queixa pois

caso contrário a audiência acabaria se caracterizando em um

constrangimento ilegal.

2ª orientação – ele deve marcar a audiência antes de decidir pois os

juízes devem sempre tentar pacificar os conflitos de interesse.

A ausência do querelante na audiência de conciliação é causa de

perempção?

1ª orientação – majoritária - é causa de perempção pois demonstra o

seu desinteresse com a relação processual

2ª orientação – só é possível falarmos em perempção quando tiver

sido instaurada a persecução processual. Como na hipótese a queixa não foi

recebida, não há perempção. Además, a sua ausência significa apenas que

ele não quer qualquer acordo.

OBS: Crimes contra a honra e exceção da verdade

Crime Conceito Exceção da Verdade

Calúnia Imputar fato criminoso

que sabe-se falso.

SIM, exceto nas

hipóteses do art. 138,

CP

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Difamação

Fato Ofensivo:

Atípico

Contravenção Penal

Não admite, exceto

quando o ofendido for

func. Pub. e a ofensa

está relacionada com o

exercício da função.

Injúria

Qualidades negativas

Não

Exceção da verdade: em regra não há julgamento prévio da exceção da

verdade, ou seja, ação e exceção são julgados simultaneamente no final do

processo, salvo quando o querelante tiver foro por prerrogativa de função.

A, juiz, ajuizou uma queixa em face de B pois B teria dito: “esse juiz

vende sentenças”. Como forma de defesa, B ajuiza a exceção da verdade

para tentar provar que o juiz vende sentenças. Neste caso, o que estará

sendo discutido na exceção é se o magistrado cometeu ou não um delito,

logo, a exceção da verdade deverá ser remetida ao tribunal para julgamento

prévio, podendo surgir duas situações:

1ª hipótese – o tribunal julga procedente a exceção da verdade, ou

seja, ele conclui que aquele fato imputado não era falso. Neste caso, a

exceção será devolvida ao juiz singular restando a ele apenas a absolvição

uma vez que o tribunal reconheceu que aquele fato imputado era

verdadeiro.

2ª hipótese- o tribunal julga improcedente a exceção da verdade. Neste

caso o juiz singular poderá condenar ou absolver de acordo com as provas

constantes nos autos.

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E se na hipótese anterior o fato ofensivo imputado por B ao juiz

caracteriza-se apenas uma difamação, como seria o processamento da

exceção da verdade?

Se o fato ofensivo envolve-se a prática de uma contravenção pelo juiz,

o que estaria sendo discutido na exceção da verdade é se o magistrado

cometeu ou não um delito, razão pela qual a solução será a mesma da

hipótese anterior. Porém se o conteúdo da difamação fosse um fato

ofensivo porém atípico não há necessidade de remessa da exceção ao

tribunal, ou seja, ação e exceção devem ser julgadas simultaneamente pelo

juiz sentenciante.

Ação Penal nos Crimes contra a propriedade imaterial

São crimes que protegem atividade intelectual das pessoas que

possuem repercussão econômica. A maioria dos crimes possuem ação

penal privada, porém antes do ajuizamento da queixa devemos observar as

peculiaridades contidas nos arts. 524 e ss., CPP.

Se a infração deixar vestígios, a parte deverá formular pedido de

busca e apreensão destes vestígios, que se for deferido será realizado

por dois peritos oficiais.

Para adoção de qualquer medida judicial a parte deverá comprovar a

titularidade do direito de ação., conforme art. 526, CPP.

Os peritos elaborarão um laudo daquilo que foi apreendido, para

após ser homologado pelo juiz.

De acordo como art. 529, CPP o querelante terá 30 dias para oferecer a

queixa com base neste laudo.Trata-se de prazo decadencial específico ou

não?

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1ª orientação – minoritária – não aplicamos o prazo de 6 meses típicos

do oferecimento da queixa, porque o prazo fixado pelo art. 529, CPP é um

prazo decadencial específico.

2ª orientação – majoritária – o prazo continua o mesmo de 6 meses, ou

seja, dentro deste período a vítima deverá solicitar a busca e apreensão,

comprovar a titularidade do direito de ação, providenciar a homologação do

laudo e assim poder utilizá-lo dentro do prazo de 30 dias, ou seja, trata-se

na verdade de um prazo específico de validade do laudo.

Elementos ou requisitos da denúncia ou queixa

Art. 41, CPP:

Qualificação do acusado – este elemento ou requisito não é

determinante deste que seja certa a identidade física (art. 259,

CPP).

Classificação do crime – este elemento também não é

imprescindível uma vez que o réu não se defende do capitulação

legal, mas sim dos fatos.

Rol de Testemunhas –

Exposição do fato criminoso com todas as suas circunstâncias

Jurisdição

Conceito: a jurisdição é, ao mesmo tempo, um poder, uma função e

uma atividade. É um poder pois é uma manifestação da soberania estatal

que decide imperativamente impondo as suas decisões. É uma função

porque expressa o encargo que o poder judiciário possui de promover a

pacificação dos conflitos de interesse. É uma atividade pois é desenvolvida

a partir de um complexo de atos processuais ao longo do processo.

Existe jurisdição voluntária no processo penal?

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Para Tourinho, a possibilidade do juiz nomear curador especial

prevista no art. 33, CPP seria uma das poucas hipóteses de jurisdição

voluntária. Para Pacceli uma das raras hipóteses seria a revisão criminal,

pois aqui não há lide, não existe uma pretensão que deverá ser resistida

pela parte contrária, a posição do MP é exclusiva de custus leges.

Princípio da Jurisdição

Princípio da Inércia

Toda atividade jurisdicional deve ser provocada. O juiz não pode no

processo penal agir de ofício, sob pena de comprometer além da inércia a

imparcialidade da jurisdição.

Apesar do CPP autorizar em vários momentos a possibilidade do juiz

prender de ofício ou decretar outras cautelares de ofício durante o processo,

autores como Geraldo Prado, Aury Lopes Jr, entre outros, entendem que

essa atuação viola a inércia e a imparcialidade da jurisdição. Segundo

Geraldo Prado, o juiz não poderia nem mesmo conceder liberdade

provisória de ofício, mas excepcionalmente isso é admitido para a tutela da

liberdade individual.

Princípio da Investidura

Só é possível exercer atividade jurisdicional quem tenha sido

regularmente investido no cargo de juiz. Existem exceções previstas na

Constituição Federal.

A inobservância deste princípio traz como consequência a inexistência

jurídica.

Princípio da Inafastabilidade (art. 5, XXXV, CF)

O juiz não pode recusar o exercício da atividade jurisdicional.

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Princípio da Indelegabilidade

O juiz não pode delegar a outro órgão o exercício da atividade

jurisdicional.

Exceção: art. 9, §1° L. 8038 – carta de ordem

E a carta precatória, é uma exceção? A doutrina majoritária (Ada

Pellegrini e Tourinho) entende que não, porque o juiz não pode delegar o

que ele não possui. Como ele não pode realizar atos fora da sua comarca

ele conta com cooperação judicial. Mas parte dadoutrina entende que sim

porque o juiz está delegando o exercício da atividade jurisidicional.

Princípio da Improrrogabilidade ou Princípio da Aderência

O juiz só pode exercer a sua atividade jurisdicional dentro de limites

previstos em lei, ou seja, dentro das regras de competência.

Princípio do Juiz Natural

Esse princípio surgiu no direito anglo saxão trazendo consigo três

subprincípios que lhe são consectários, sendo que no Brasil apenas dois

foram adotados, ou seja, a Constituição garante processo e julgamento

perante juiz competente e proibe a criação de tribunais de exceção.

Pro STF a inobservância do princípio do juiz natural causa

inexistência processual

Princípio do Promotor Natural

Existe princípio do promotor natural?

1ª orientação – (alguns Ministros simpatizam com essa orientação)

este princípio surgiu de forma implícita na Constituição, a partir

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das regras da inamovibilidade e independência funcional. Com a

entrada em vigor da LONMP (L. 8625) ele passou a ser

reconhecido na legislação ordinária, uma vez que a lei proibiu o

PGJ de designar auxílios sem a concordância do promotor titular.

Este princípio significa que ninguém poderá ser processado se não

pelo membro do MP dotado de atribuição.

2ª orientação – majoritariamente o STF não reconhece este

princípio. Este princípio não existe e, ainda que existisse, ele não

foi reconhecido na Instituição uma vez que, por conta do princípio

da unidade que norteia a Instituição, que autoriza a substituição de

seus membros sem comprometer a atividade-fim não há que se

falar em promotor natural.

Princípio da Correlação

Diferente do Processo Civil, no Processo Penal, o juiz poderá

condenar ou absolver de acordo com as provas constantes nos autos e tendo

como parâmetro a imputação dos fatos narrados na denúncia. Qualquer

modificação na imputação exigirá prévio aditamento pelo MP.