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“AS LABORIOSAS CONQUISTAS DO PROGRESSO”: as estratégias para integração e exploração do território piauiense nas primeiras décadas do século XX Laila Pedrosa da Silva E-mail: [email protected] Casa de Oswaldo Cruz/ COC/ FIOCRUZ “Sertão Árido e ingratíssimo” A natureza do solo, sujeito a estação ardentíssima de metade do ano, e a carência de chuva por todo esse tempo, a disseminação da população por um extenso território, cujos povoados, muito distantes uns dos outros, não se ligam por boas vias de comunicação. A indolência proverbial dos filhos da província, devido talvez a influência do clima, e os melhores proveitos que auferem da criação de gado, são em minha opinião as principais causas do atraso (PIAUÍ, 1861, p.16). O trecho acima retirado do relatório do presidente da província, Manoel Antônio Duarte de Azevedo, evidencia a caracterização do Piauí a partir da ideia de sertão, ora usada como espaço geográfico distinto, marcado por uma natureza que determinava o modo de vida dos sujeitos, ora como lugar isolado e abandonado pelas autoridades públicas. As dificuldades imposta pelo meio físico compunha discurso que apontava para necessidade de maiores investimentos do poder central, a fim de romper com o cenário degradante que afetava as populações. Janaína Amado destaca que o termo sertão é variante, podendo ter “significados tão amplos, diversos e aparentemente antagônicos”, dependendo da posição social e espacial do anunciante, sendo seu uso mais simbólico do que geográfico (1995, p.149). Nesse sentido, sertão não é aqui entendido somente por meio de sua espacialidade geográfica, nos interessa compreendê-lo enquanto uma construção social que foi conformada pelos interesses das elites políticas locais para construir um Piauí que viesse a ser moderno. Sertão enquanto lugar geográfico ou social configurou-se por meio de um discurso dual, apresentado tanto de forma positiva como negativa, ou seja, uma representação que sofria modificações, pois “tudo dependeria do lugar de quem falava” (AMADO, 1995). Lucia Lippi Oliveira (2015, p.21) enfatiza que os diferentes significados assumidos pela palavra sertão, nos ajuda a compreender os meios em que se processou a construção de uma identidade para a nação. Tal identidade foi fortemente evocada com o advento da

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“AS LABORIOSAS CONQUISTAS DO PROGRESSO”: as estratégias para integração

e exploração do território piauiense nas primeiras décadas do século XX

Laila Pedrosa da Silva

E-mail: [email protected]

Casa de Oswaldo Cruz/ COC/ FIOCRUZ

“Sertão Árido e ingratíssimo”

A natureza do solo, sujeito a estação ardentíssima de metade do ano, e a

carência de chuva por todo esse tempo, a disseminação da população por um

extenso território, cujos povoados, muito distantes uns dos outros, não se

ligam por boas vias de comunicação. A indolência proverbial dos filhos da

província, devido talvez a influência do clima, e os melhores proveitos que

auferem da criação de gado, são em minha opinião as principais causas do

atraso (PIAUÍ, 1861, p.16).

O trecho acima retirado do relatório do presidente da província, Manoel Antônio

Duarte de Azevedo, evidencia a caracterização do Piauí a partir da ideia de sertão, ora usada

como espaço geográfico distinto, marcado por uma natureza que determinava o modo de vida

dos sujeitos, ora como lugar isolado e abandonado pelas autoridades públicas. As dificuldades

imposta pelo meio físico compunha discurso que apontava para necessidade de maiores

investimentos do poder central, a fim de romper com o cenário degradante que afetava as

populações.

Janaína Amado destaca que o termo sertão é variante, podendo ter “significados tão

amplos, diversos e aparentemente antagônicos”, dependendo da posição social e espacial do

anunciante, sendo seu uso mais simbólico do que geográfico (1995, p.149). Nesse sentido,

sertão não é aqui entendido somente por meio de sua espacialidade geográfica, nos interessa

compreendê-lo enquanto uma construção social que foi conformada pelos interesses das elites

políticas locais para construir um Piauí que viesse a ser moderno. Sertão enquanto lugar

geográfico ou social configurou-se por meio de um discurso dual, apresentado tanto de forma

positiva como negativa, ou seja, uma representação que sofria modificações, pois “tudo

dependeria do lugar de quem falava” (AMADO, 1995).

Lucia Lippi Oliveira (2015, p.21) enfatiza que os diferentes significados assumidos

pela palavra sertão, nos ajuda a compreender os meios em que se processou a construção de

uma identidade para a nação. Tal identidade foi fortemente evocada com o advento da

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República, inaugurando uma nova fase na história do Brasil. O antigo sistema político passou

a ser visto como arcaico e estagnado, enquanto o recém regime instituído representava o que

de mais moderno se tinha no período. No entanto, José Murilo de Carvalho aponta que a

República não foi capaz de provocar grandes mudanças do ponto de vista político,

considerando as muitas permanências do sistema monárquico (2002, p.42).

A partir dessa conjuntura se desenvolveu projetos ambiciosos que visavam alcançar as

mais diferentes partes do território brasileiro, levando melhoramentos a fim de integrar e

explorar os recursos naturais da nação. Ocupar as regiões mais distantes do país significava

expandir as fronteiras e implementar elementos que pudessem torna-las civilizadas. Assim os

lideres políticos da jovem República passaram a apostar na construção de grandes

infraestruturas como meio de incorporar esses lugares ao conjunto da nação.

Os projetos de integração nacional que já vinham sendo desenvolvidos desde o século

XIX ganham maior destaque durante a Primeira República, quando o discurso higienista cria

representações sobre o Brasil e suas populações. As mazelas tornam-se o ponto principal do

movimento sanitarista, que passa a pensar a nação a partir da dicotomia litoral/sertão,

saúde/doença, moderno/atrasado (HOCHMAN, LIMA, 2004, p.497). Nesse momento o

estado do Piauí é tomado por projetos que visavam realizar melhoramentos, a fim de combater

inúmeras doenças que afligia sua população, romper com o isolamento que dificultava o

comércio do estado com outras regiões e introduzir novos conhecimentos científicos na sua

produção econômica.

O movimento pelo saneamento do Brasil também teria tido papel primordial para

construção de uma identidade nacional a partir do prisma de um “Brasil doente”, ao

determinar que fosse necessário realizar ações públicas que viessem combater as doenças que

afetavam as populações do interior do país consideradas atrasadas e impermeáveis ao

desenvolvimento e progresso (HOCHMAN, LIMA, 2004). Daí a necessidade de ocupar,

povoar, explorar e integrar essas regiões habitadas pelo homem sertanejo marcado pelo

abandono, espírito de rotina, ociosidade e misoneísmo (NEIVA, PENNA, 1916).

Nesse período, as viagens científicas contribuíram para o conhecimento das condições

de vida das populações do interior. Com esse intuito em 1912 o Instituto Oswaldo Cruz

promoveu uma viagem científica ao norte e nordeste do Brasil, organizada por Arthur Neiva e

Belisário Penna, percorrendo regiões localizadas no norte da Bahia, sudoeste de Pernambuco,

sul do Piauí e norte a sul de Goiás. Como resultado das pesquisas realizadas durante o período

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que os médicos do IOC permaneceram nessas regiões, foi publicado um relatório contendo

informações sobre a fauna, flora, geografia e povos do Brasil central, sendo esses

caracterizados como incivilizados e sem perspectiva de progresso (NEIVA, PENNA, 1916).

[...] Ao considerar a dificuldade material de vencer as distancias, de povoar

aqueles ermos, que nunca chegará o dia do caminho de ferro por ali passar,

que, embora velho não percebia a menor diferença para melhor do que

quando era criança, e, certo de que seus netos morrerão anciãos deixando as

coisas como encontraram, acabou encerrando resignadamente em dolorosa

mas verdadeira imagem: “isto aqui, é uma sepultura aberta”(NEIVA,

PENNA, 1916, p.174).

A partir desse quadro de doenças e isolamento foram desenvolvidas políticas voltadas

para tais questões, sendo a retórica do abandono uma das principais causas enfatizadas para

justificar a situação em que se encontravam os sertões. Com isso as elites políticas piauienses

passaram a investir cada vez mais em uma maior divulgação das riquezas naturais do

território, ao mesmo tempo em que, aspectos de miséria e atraso foram destacados como

forma de denunciar o descaso do Governo Federal, a fim de atrair investimentos. Esse sertão

doente, seco, isolado, atrasado e abandonado versus um sertão rico, com grande potencial de

desenvolvimento, constituiu a base do discurso das elites políticas piauienses no início do

século XX.

As autoridades públicas são apontadas como as principais responsáveis pela situação

degradante dos chamados “sertões brasileiros”. O isolamento em que viviam esses indivíduos

teria causado uma ausência de “sentimento de identidade nacional”, pois segundo Arthur

Neiva e Belisário Penna essas populações mal sabiam o que era o Brasil.

Raro o indivíduo que sabe o que é o Brasil. Piauí é uma terra, Ceará outra

terra, Pernambuco outra e assim os demais estados. O governo, é para esses

párias um homem que manda na gente, e a existência desse governo

conhecem-na porque esse homem manda todos os anos cobrar-lhes os

dízimos (impostos). Perguntados se essas terras (Piauí, Ceará, Pernambuco

etc) não estão ligadas entre si, constituindo uma nação um país, dizem que

não entendem disso (NEIVA, PENNA, 1916, p.191).

O quadro de isolamento só seria vencido com a implementação de elementos que

permitissem a penetração do progresso, como, por exemplo, a construção de estradas,

ferrovias e linhas telegráficas que deveriam partir de uma iniciativa do Governo, tendo em

vista que “por iniciativa própria aqueles habitantes seriam incapazes de sair da grande pobreza

em que vivia, o espírito de iniciativa era pequeno, e esse mesmo, anulava-se diante do

isolamento em que jazia” (NEIVA, PENNA, 1916, p.181).

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A questão do isolamento era um problema que afetava o Piauí desde finais do século

XIX, quando a situação econômica não era boa devido às inúmeras crises financeiras

provocadas pelas secas. O quadro era ainda mais agravado pelas grandes distâncias que se

encontravam as populações, o que acabava impedindo o desenvolvimento de uma atividade

econômica mais planejada, pois a falta de transportes e estradas dificultava a exportação dos

seus produtos (PIAUÍ, 1861, p.16).

Em mensagem apresentada a Câmara dos Deputados, o governador Antonino Freire

da Silva, aponta que não era somente a falta de transportes que prejudicava o comércio e as

indústrias, mas também a falta de meios de comunicação, tendo em vista que, não haviam

ocorrido mudanças nesses serviços nos últimos anos. Assim, o governador defendia a

necessidade da construção de ferrovias e linhas telegráficas que pudessem ligar o Piauí de

norte a sul (PIAUÍ, 1910, p.23).

Tanto o problema das secas como do isolamento eram pautas das autoridades políticas

piauienses, pois essas consideravam que a partir do momento em que tais dificuldades fossem

solucionadas, seria possível explorar as riquezas naturais do território e desenvolver as

diferentes indústrias. Com o aumento da circulação de capitais poderia realizar outros

melhoramentos que contribuiriam para construção de uma nova imagem para o estado,

diferente do quadro de abandono e decadência descrito. Assim a partir do século XX projetos

nesse sentido tiveram maior visibilidade.

A construção de uma nova imagem para o Piauí

[...] desvaneço-me de verificar que, embora os embaraços de toda sorte que

lhe entravam a marcha progressiva, o Piauhy de hoje não é mais,

absolutamente, a atrazada e empobrecida província de 1889. O regime

federativo implantou-se aqui definitivamente e o nosso estado avança seguro

e desassombrado no caminho futuro. [...] Resta agora que, por um esforço

harmonioso, convirjamos as nossas forças para a acceleração da marcha do

nosso estado, em busca das laboriosas conquistas do progresso e da

civilisação (PIAUÍ, 1910, p.43).

Em 1 de junho de 1910 Antonino Freire da Silva, então governador do Piauí, noticia

euforicamente em mensagem apresentada a câmara legislativa, que o estado não é mais aquela

região pobre, atrasada e isolada do século passado. A consolidação da organização política

republicana teria viabilizado o surgimento de novas ideias e possibilidades de

desenvolvimento para a região. Rompendo com um sistema político que só teria ocasionado

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seu atraso e isolamento devido ao “excessivo centralismo político e administrativo” relegando

à segundo plano iniciativas que viessem a explorar os seus recursos naturais (QUEIROZ,

1984, p.49).

Marcado desde o início de sua colonização como uma região essencialmente agrária e

pecuarista, o Piauí não teria recebido as devidas atenções do Governo Imperial, o que segundo

as autoridades políticas locais teria impossibilitado o seu desenvolvimento. Na segunda

metade do século XIX o estado foi apresentado como uma região deplorável, sem nenhum

recurso que chamasse atenção e arrasado pelas secas (PIAUÍ, 1861, p.19). A situação precária

passou a ser associada ao antigo “regime decaído”. Neste sentido, o advento da República

causou ânimo nas autoridades piauienses, esperançosos de que o novo regime impulsionasse

as transformações necessárias para o desenvolvimento da região. É o que nos mostra o

governador do Piauí Coriolano de Carvalho e Silva em mensagem apresentada à câmara

legislativa em 1894;

Não me cansarei de atribuir a maior parte dos nossos problemas ao triste

legado que nos deixou o regime decaído [...]. Somos parte integrante da

federação, e dela temos o direito de esperarmos favores que as mãos largas

tem-se derramado em outros estados mais felizes que o nosso. Não é

possível que na República continuemos ainda no estado de abandono em que

vivemos no regime passado; a constituição não estabeleceu preferências em

favor deste ou daquele estado, por isso não é muito que se nos dê hoje aquilo

que nunca conseguimos obter no regime decaído, quando alias vivíamos

cercados de uma atmosfera aparente de imperialismo (PIAUÍ, 1895, p.4).

Mesmo diante das dificuldades de ordem financeira e da falta de auxílio do poder

central, o discurso oficial assume o compromisso de superar todos os empecilhos percebidos

como obstáculos a marcha pelo progresso no Piauí. Tentando romper com a imagem de atraso

atribuída a região, as autoridades governamentais procuram apresentar o estado por meio de

suas riquezas naturais, incentivando a exploração do território com a introdução de novas

tecnologias, visando o melhoramento de sua produção econômica.

O Estado do Piauhy é um dos grandes Estados do Norte do Brasil,

admiravelmente dotado pela natureza para atingir ao mais alto grão de

prosperidade. O Piauhy é, entretanto, um dos menos conhecidos dos Estados

da grande República da América do Sul, dispondo de inúmeras riquezas que

poderiam fazer a fortuna de muitos milhões de indivíduos. Quem visita e

percorre os seus campos de luxuriante vegetação, sente a natureza americana

em toda a sua força, em toda a sua beleza. Do terreno fertilíssimo surge uma

variedade de produções, que encantam a vista e dão confiança no futuro do

trabalho (CORREIO DE OEIRAS, 31de maio de 1909, p.2).

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O discurso otimista de progresso e a euforia perante novas possibilidades trazidas pela

modernização permeará toda a primeira década do século XX. Tais ideias serão sentidas em

diversos setores da sociedade piauiense, entretanto, as representações criadas em torno desse

projeto modernizador terão alcances diferentes entre as camadas da sociedade. Isso por que o

mesmo foi pensado e desenvolvido por uma elite que tencionava legitimar suas ideias a fim de

alcançar benefícios. Assim ao mesmo tempo em que as novidades trazidas pela modernidade

causavam fascínio com suas inovações, também geravam medo e desconfiança naqueles que

estavam à parte.

Tais novidades estavam mais concentrados na capital, Teresina, compreendendo

também alguns municípios que funcionavam como polos produtores e exportadores da

economia, como, por exemplo, Floriano e Parnaíba. É importante destacarmos que o Piauí do

início do século XX apresentava grandes disparidades entre seus municípios, assim quando

falamos em projetos de melhoramento e desenvolvimento, devemos deixar claro que esses

nem sempre contemplavam todo o território, estando na maioria das vezes concentrados em

partes especificas, tendo em vista os interesses de uma elite política local.

Como exemplo claro de tal discrepância, podemos mencionar as reformas realizadas

em Teresina nas primeiras décadas do século XX. A cidade foi palco de inúmeras mudanças

em sua estrutura urbanística com abastecimento de água canalizada (1903); criação de

serviços telefônicos (1907); iluminação publica (1914) entre outros serviços (FONTINELES

FILHO, 2008, p.33). Surge um novo modo de vida na capital do Piauí com a adoção de

hábitos que passam a ser considerados modernos em contraposição aos costumes tradicionais.

Porém, essas mudanças não ultrapassaram Teresina, ficando restrito aquele espaço,

enquanto outras cidades apresentavam uma estrutura ainda muito precária. Arthur Neiva e

Belisário Penna também deixa em evidencia a existência de uma diferença entre o norte e sul

do estado, apontando que as condições de vida das populações localizadas naquela parte do

território percorrido eram mais rudimentar, consequência do isolamento e da presença de um

maior número de doenças. (NEIVA, PENNA, 1916, p.201).

Quase todas as regiões percorridas foram consideradas abandonadas, com exceção das

capitais dos estados e alguns municípios (NEIVA, PENNA, 1916, p.222). Com isso,

queremos ressaltar a importância de não tomarmos os sertões como um todo, dentro deles

existiam particularidades. Nesse sentido, a imagem que os dois médicos descreveram sobre o

Piauí - doente, abandonado, atrasado, incivilizado – não serve para representa-lo como um

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todo, tendo em vista que a expedição só esteve na parte sul. Não estamos aqui defendendo a

ideia de que o estado não apresentasse tais características descritas pelos viajantes, apenas

queremos evidenciar até que ponto essa visão reforçava estereótipos sobre o mesmo.

Entre os anos de 1914 e 1920 o engenheiro Agenor Augusto de Miranda esteve no

Piauí, incumbido de construir linhas telegráficas naquela região para dar serviço aos

flagelados pelas secas. Durante esse período, o engenheiro realizou alguns estudos sobre os

aspectos que caracterizavam o estado, publicando um livro com o titulo “Estudos Piauienses”

(1938). Essa obra é de suma importância, pois trás informações sobre diferentes partes do

território piauiense, o que nos possibilita confrontar algumas questões levantadas pelos

médicos do Instituto Oswaldo Cruz.

Diferentemente de Arthur Neiva e Belisario Penna que descreveram a região sul do

Piauí como insalubre e infestada de doenças, Agenor Augusto de Miranda destaca que toda

essa vasta zona do interior era a “mais bela pela amenidade de seu clima, abundancia de águas

cristalinas, vastas campinas de criar e as mais viçosas matas secas” (MIRANDA, 1938, p.70).

O engenheiro apresentava uma visão positiva sobre essa parte do território, destacando que o

único problema era o abandono do Governo e o isolamento causado pela falta de vias de

comunicação.

A solução para tais dificuldades estava na integração desses lugares ao litoral

piauiense, sendo o rio Parnaíba e seus portos importantes elementos dinamizadores do

comercio regional. O eixo da economia acabava sendo orientado pelo rio, o que resultou na

instalação de várias casas comerciais responsáveis pela importação e exportação de produtos

entre o litoral e o interior. A navegação pelo Parnaíba acabou influenciando na vida

econômica, social e na infraestrutura das cidades, inserindo o Piauí no mercado nacional e

internacional (ROCHA, GANDARA, 2009, p.299).

O que estamos querendo afirmar é que esses discursos que buscaram construir uma

nova imagem para o Piauí foram pautados, acima de tudo, por interesses políticos e

econômicos, tendo em vista, que a implementação de mecanismos para uma maior exploração

das riquezas com a construção de estradas, ferrovias, telégrafos e portos de navegação

estavam concentrados em regiões com maior possibilidade de desenvolvimento, pois na

medida em que o isolamento fosse combatido seria possível uma maior convergência de

produtos dos municípios do interior para o litoral.

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Um dos interesses diz respeito ao incremento da produção pecuária, principal base

econômica. A criação de gado era realizada de forma precária pelo interior, a falta de vias de

comunicação impossibilitava a exportação do gado pelo porto de Parnaíba, sendo esse

transportado pelo rio São Francisco para ser comercializado na Bahia. Dessa forma a

economia acabava sendo prejudicada, pois perdia os impostos que os produtores pagavam

para a Bahia, além disso, ao realizar a exportação pelo Parnaíba havia a possibilidade de

comercializar os produtos diretamente com a Europa ou América Latina (MIRANDA, 1938,

p.73).

A construção de vias de comunicação que interligasse toda a vasta região sul do estado

com o litoral, seria um dos primeiros passos para atrair capitais estrangeiros, o que

possibilitaria maior desenvolvimento e exploração das riquezas. Porém era preciso que o

Governo Federal destinasse recursos que viessem financiar projetos nesse sentido, como pedia

A. Parentes em texto publicado no periódico Andorinha, em 1905.

[...] Tratem os poderes competentes de ir em auxílio de todas as indústrias

viáveis; haja por parte dos representantes federais um pouco de atenção para

em nosso bem vir algum melhoramento, como o de estradas de ferro (quiçá a

maior das nossas necessidades de progresso), que nos liguem a outros pontos

adiantados e inevitavelmente resultará uma nova fase de animo e

engrandecimento para o comércio atrofiado e pequeno que temos, para a

nossa lavoura insignificante, para a indústria pastoril em decadência; enfim

para tudo quanto concorrer possa para fazer a felicidade e o relativo

engrandecimento do nosso caro Piauí (ANDORINHA, 12 de outubro de

1905, p.10).

O suposto descaso que já era denunciado pelas autoridades políticas locais desde finais

do século XIX, acabou sendo reforçado pelos médicos do IOC e o engenheiro das linhas

telegráficas, corroborando com as demandas das elites locais. Portanto, era “interesses de

elites locais, estaduais, bem como da União que, concomitantemente, estabeleciam uma linha

tênue entre o que aquele espaço era e o que o mesmo deveria ser” (SOUZA, 2018, p.18).

Nessa missão civilizadora de expansão das fronteiras, inúmeros interesses se encontraram,

determinando o traçado da integração.

Em busca de uma identidade piauiense

José Murilo de Carvalho (1990, p.33) mostra que a busca por uma identidade coletiva

para o país, de uma base para a construção da nação, foi uma das preocupações da

intelectualidade brasileira durante toda Primeira República. No Piauí não seria diferente, o

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que podemos observar é um esforço excessivo para construção de uma identidade a partir das

características territoriais, ou seja, daquilo que o diferenciava do conjunto da federação,

apostando na divulgação de um sentimento de “piauiensidade”1.

Paulo Gutemberg de Carvalho Souza (2008) destaca que nas três primeiras décadas

do século XX os chamados “intelectuais-historiadores” desenvolveram uma produção

historiográfica que procurava romper com narrativas monarquistas e viabilizar a construção

de uma história patriótica piauiense republicana. Na escrita dessa história local, o sertão ganha

visibilidade como dinamizador da vida do sertanejo, enquanto as calamidades são evocadas

para introduzir o Piauí na história do Brasil.

Logo surgem as primeiras obras literárias e históricas escritas por intelectuais

piauienses2. Esses sujeitos transitavam pelos diferentes espaços da sociedade, era na maioria

das vezes formados em direito, medicina, engenharia e ocupavam altos cargos na

administração do estado. Embora existissem inúmeras cisões entre eles, possuíam um objetivo

em comum: “construir uma memória histórica a fim de integrar o Piauí na história nacional

sob o ponto de vista republicano” (SOUZA, 2008, p.67). Assim vão introduzir em suas

escritas ideias de abandono, isolamento e atraso como forma de reivindicar um lugar para o

estado.

Seus argumentos também serão pautados em elementos “raciais e mesológicos”, sendo

a natureza definidora da personalidade dos sujeitos. Entretanto, esses conceitos serão

evocados de forma paradoxal nas inúmeras narrativas do período, uma vez que, os aspectos

físicos da região serão descritos tanto de forma negativa como positiva, o que nos leva a

pensar que no Piauí não houve uma única identidade, as tensões entre os grupos locais gerou

um debate mais complexo. O que podemos ver são narrativas que vão ao encontro de

interesses políticos e econômicos das elites. Desse modo, a população piauiense foi

caracterizada de formas diferentes dependendo da região (ARAÚJO, 2018, p.23).

1A piauiensidade foi um processo de constituição de uma identidade histórica-cultural para a sociedade

piauiense, visando dar maior visibilidade ao estado expondo suas mazelas para reivindicar maior atenção do

poder central. 2Entre os sujeitos que despontaram na vida política e intelectual e se ocuparam em escrever uma história

republicana local podemos citar Abdias Neves, Antonino Freire, Miguel Rosa, Matias Olímpio, Clodoaldo

Freitas e Higino Cunha.

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O primeiro a discutir sobre o assunto foi Abdias Neves3, elegendo elementos

geográficos como determinantes da “piauiensidade”. Em “A guerra do Fidié”(1907) o autor

descreve o piauiense como um “reflexo do meio”, apontando que a abundancia de recursos

naturais disponíveis era responsável pela degeneração dos habitantes, tornando-os fracos,

pacíficos, indolentes, preguiçosos e incapazes de uma reforma, tendo em vista, que não

precisavam de muitos esforços para obterem os meios de sobrevivência.

[...] Tinha, apenas, que cruzar os braços e ceder a fatalidade das

circunstâncias. Não era preciso a sua intervenção. Nenhum esforço se lhe

exigia. E como por toda parte abundavam frutos, sobrava a caça, e

serpeavam os rios piscosos, a luta pela vida não tinha grandes exigências e o

homem, amolentado pelo calor, perdia, pouco a pouco, os traços de seu

caráter de origem. De irrequieto, corajoso, aventureiro e esforçado, fizeram-

no o calor, a facilidade dos meios de subsistência e a vida monótona das

fazendas um temperamento morno, um caráter passivo, um tipo indolente.

[...] E como as suas necessidades eram prontamente satisfeitas, desde que

encontrava ao alcance da mão o gado, as frutas, a caça e a pesca de que se

alimentava; como se vestia e se veste de algodão grosseiro (tecido em

rústicos aparelhos de madeira) e do couro curtido dos veados; como de nada

mais necessitava, foi recuando cada vez mais o horizonte das ambições e

perdendo o espírito de iniciativa (NEVES, 1907, p.219-220).

Abdias Neves tencionava a integração do Piauí a história nacional, pois evidenciava a

importância da participação dos piauienses nas lutas pela independência, conferindo ao estado

um lugar na história do Brasil a fim de romper com narrativas que excluíam o seu

protagonismo. Porém, teria elegido somente a elite local como responsável por conduzir o

movimento, tendo em vista, que considerava o povo incapaz de tal ato (SOUZA, 2008, p.67).

O intelectual também era defensor da tese de que a herança pecuarista seria

delineadora da cultura local, ao afirmar que a história do Piauí, desde sua colonização, teria

sido construída em torno do gado, contribuindo ainda mais para a decadência dos sujeitos

piauienses, pois a economia pecuária não demandava grandes esforços ou investimentos dos

3“Abdias da Costa Neves foi Jurista, político, jornalista, poeta, professor, romancista e historiador. Dedicou toda

sua vidas as letras, onde figurou como uma das mais cintilantes culturas de sua época. Foi uma das mais altas

expressões do jornalismo piauiense, distinguiu-se pelo seu estilo enxuto, pela cultura, pela linguagem elevada e

pela argumentação incisiva. Teve uma atuação ativíssima na imprensa piauiense. Fundou os jornais A Crisálida,

A Ideia, A Notícia, O Dia. Foi co-fundador de O Redator, A Luz, O Norte, O Estafeta e o Jornal de Notícias. Nas

revistas da Academia Piauiense de Letras e do Instituto Histórico e Geográfico do Piauí, encontramos preciosos

trabalhos de Abdias Neves. Entre as obras publicadas, podemos citar: A Guerra de Fidié, 1907; Imunidades

Parlamentares, 1908; O Padre perante a História, 1908; Um Manicaca, 1909; Psicologia do cristianismo, 1910;

Elegibilidade do Marechal, 1910; Autonomia Municipal, 1913; O Brasil e as Esferas de Influencias na

Conferência de Paz, 1919; O Piauí na Conferência do Equador, 1921; Aspectos do Piauí, 1926. Foi Senador da

República por seu estado natal (1915-1923)” (GONÇALVES, 2003, p. 278-279).

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criadores, uma vez que os animais eram criados soltos em imensos pastos. Neste sentido, tal

narrativa “encontra na força do meio físico, na vida sertaneja e na atividade pecuarista os

elementos naturais e históricos fora dos quais parecia impossível pensar o Piauí, a sua cultura

e seus habitantes” (SILVA, 2013, p.91).

Mas, ao lado do calor, ao lado da excessiva facilidade da alimentação, veio

colocar-se a indústria pastoril. Coisa alguma pudera servir melhor a sua

indolência, nas condições especialíssimas em que a criação se realizava. O

gado, uma vez solto, não precisava de cuidados. Passava todo o verão

embrenhado nas catingas e o vaqueiro só o procurava no inverno para trazer

os monjolos, amansá-los e assinalá-los (NEVES, 1907, p.220).

No entanto, Paulo Gutemberg (2008) enfatiza que o principal legado da tese de Abdias

Neves não está na adoção de determinismos geográficos ingênuos, mas na ideia de que a

relação da atividade pecuária com o meio e o abandono dos poderes públicos seria

constituidora de uma marca identitária para esses povos. Com isso, podemos ver como a

“retórica do abandono-isolamento-atraso” vai sendo elaborada para demarcar o Piauí e seu

povo no início do século XX.

Artigos e ensaios de intelectuais piauienses eram constantemente publicados em

revistas e periódicos do estado, acompanhados por um movimento cultural que buscava cada

vez mais afirmar uma tradição republicana com a realização de vários eventos oficiais, entre

eles podemos citar a Exposição Nacional de 1908, as comemorações em torno do Centenário

da Independência do Brasil, em 1922, e do Centenário da Independência do Piauí, em 1923. O

incremento na produção cultural pode ser entendido como uma forma de criar elementos

simbólicos para sociedade4.

A fim de consolidar ideias que pudessem criar um sentimento de pertencimento a

comunidade, esses intelectuais também encabeçaram campanhas sobre assuntos que

mobilizavam a opinião pública, por meio de debates na imprensa local. A questão da pecuária

era pauta recorrente nos artigos, sempre voltados para tratar das péssimas condições da

economia em decorrência do suposto abandono com a região, como pode ser observado no

ensaio “Indústria Pecuária”, escrito por Abdias Neves e publicado no periódico “Nortista”

entre os anos de 1901 e 1902.

Essas providências mais se fazem necessárias no Piauí, estado principiante,

paupérrimo, cuja indústria única é a pastoril. Desgraçadamente, porém,

4Como exemplo podemos citar a criação da Bandeira (1922) e do Hino do Piauí (1923) para as comemorações do

Centenário da Independência no Piauí.

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apesar de contar mais de dois séculos de existência, ela não tem saído de um

período por demais rudimentar. O gado nasce e cresce pelos campos, sem

cuidados higiênicos, sem a assistência de um veterinário, entregue em

definitivo a boa vontade do vaqueiro que comumente sabe derribar uma vez,

capar um garrote, curar bicheiras com a aplicação do mercúrio, e nada mais

(NORTISTA, 23 novembro de 1901, p.2).

Combinando o discurso de abandono ao geográfico, os intelectuais constituíram a base

para formação das narrativas sobre a identidade piauiense, definindo a atividade pecuária

como delimitadora das peculiaridades do Piauí enquanto sertão. Assim, a construção da

“piauiensidade” passa a ser evocada como forma de chamar atenção para aquela parte do

território brasileiro, considerada isolada e abandonada, mas de grandes riquezas e que tinha na

sua história aspectos primordiais que diferenciava do conjunto da federação. No entanto, o

que é importante frisar é que “a consolidação de ideias aptas a criarem sentimentos de

pertencimento à comunidade imaginada estava ligada a uma prática social de um grupo

distinto na sociedade” (SOUZA, 2008, p.81), ou seja, era um projeto elaborado pela elite

política-intelectual piauiense.

Considerações finais

Nos primeiros anos da República, as ideias modernizantes estiveram vinculadas a uma

perspectiva de integração nacional, que buscou levar para os “sertões brasileiros” elementos

que viessem sanar as mazelas que afligiam as populações. No Piauí, as elites políticas-

intelectuais, reforçaram a ideia de que a região era isolada e abandonada como forma de

reivindicar maior atenção do poder central. Tal retórica foi sendo formulada de acordo com os

interesses de grupos que determinaram as principais necessidades do estado.

A percepção de que o Piauí era abandonado foi ainda mais reforçada com o declínio

da produção pecuária. O isolamento, as secas e a falta de investimentos advindos do poder

central, foram apontados como os principais motivos da crise econômica. A saída encontrada

seria realizar uma modernização na produção, com a introdução de novas técnicas,

cruzamento de raças bovinas e expansão das vias de comunicação para um maior escoamento

da produção. Assim, as elites políticas-intelectuais passaram a mobilizar um sentimento de

identidade piauiense por meio da escrita de uma história local, a fim de realizar uma maior

regionalização dos interesses estaduais.

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Nesse sentido, o Piauí é percebido como uma região que poderia vir a ser moderna e

desenvolvida a partir do momento que suas riquezas fossem exploradas de forma mais

adequada. No entanto, tal objetivo só seria concluído a partir do momento em que vias de

comunicação permitissem o acesso às zonas interiores mais isoladas, pois segundo Neiva e

Penna “até hoje, aquelas regiões tem sido desamparadas pela nação” [...] (1916, p.182).

Mais do que um projeto nacional que visava expandir as fronteiras e explorar as

riquezas do Brasil central, o discurso de integração no Piauí passou constantemente a atender

interesses econômicos locais. O suposto isolamento era mais imaginado do que real, pois

desde a segunda metade do século XIX os produtores piauienses já comercializavam com os

estados vizinhos e até mesmo com outros países, ou seja, mantinha constantes trocas

comercias.

O Piauí já não mais negocia tão somente, pelo interior, com a Bahia,

Pernambuco, Ceará e Maranhão, e, por meio de navegação costeira, com

estas duas últimas províncias. Os seus gados são exportados também para a

Caiena Francesa e o seu algodão em rama para a Inglaterra; e estas duas

nações importam-lhe diretamente as suas mercadorias (PIAUÍ, 1864, p.24).

O sertão do Piauí não era tão isolado como se desejava destacar, pois sua elite estava

atenta e participava das discussões e projetos que eram elaborados em âmbito nacional, o que

significa que esses sujeitos circulavam e trocavam ideias em diferentes espaços da sociedade.

Assim o discurso de isolamento e abandono regional constituiu-se como ferramenta de

representação daquela região que buscava suplantar sua condição de sertão por meio da

materialização de projetos modernizadores. Por fim, a narrativa que buscamos destacar nos

ajuda a diversificar os modos de contar a história do Piauí que por muitas vezes foi escrita

sem levar em consideração a atuação de sujeitos locais.

FONTES

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ANDORINHA, Teresina, 12 de outubro 1905.

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do Amaral, no dia 15 de abril de 1861. Theresina:Typ. Conservadora, 1861.

PIAUÍ. Relatório apresentado a Assembleia Legislativa do Piauhy, no dia 01 de junho de

1864, pelo Presidente da província Franklin Américo de Menezes Doria. Typ. de B. de

Mattos, 1864.

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Governador Dr. Coriolano de Carvalho e Silva, no dia 7 de setembro de 1895, Teresina.

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