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1 “O coração de NA bate quando dois

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“O coração de NA bate

quando dois

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adictos partilham sua

recuperação”.

Texto Básico

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Prefácio

Os princípios espirituais de Narcóticos Anônimos estão no centro de nossa recuperação da doença da adicção. Os passos são “os princípios que tornam nossa recuperação possível”, mas não trabalhamos o programa de NA em isolamento. Apadrinhamento é a chave para trabalhar os passos – para compreender os princípios espirituais e praticá-los em todas nossas atividades.

O foco deste livro é apadrinhamento em NA – suas recompensas e seus desafios, e seu lugar no dia-a-dia da nossa recuperação. Quando Serviços Mundiais perguntou à irmandade em 2000, o que ela gostaria de ver num livro sobre apadrinhamento, a resposta foi esmagadora. Milhares de páginas de experiência, opiniões e idéias chegaram numa enxurrada, e tornou-se claro imediatamente que apadrinhamento varia de país para país, região para região, e indivíduo para indivíduo. O livro que resultou reflete essa rica diversidade. Ele tenta apresentar um retrato de como nossa irmandade, em constante mudança, pratica o apadrinhamento hoje.

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Os outros livros de NA oferecem mais informação sobre o programa, incluindo os passos e tradições. O Livro Narcóticos Anônimos é o Texto Básico de nosso programa. Isso Resulta: Como e Porque discute os passos e tradições e o Guia para trabalhar os Passos de Narcótico Anônimos é seu livro companheiro sobre os passos. Só Por Hoje é nosso livro de meditações diárias.

Alguns de nós pegaremos este livro com a esperança de que responderá definitivamente nossas perguntas: Tenho experiência o suficiente para ser um padrinho ou madrinha? Quantas pessoas devo apadrinhar? Meu padrinho/madrinha deverá ser do mesmo sexo que eu? O que devo fazer se não confio em meu padrinho/madrinha? E assim por diante. Mas isso não é um livro didático que dá um “Como fazer” de forma concreta para padrinhos e afilhados. É uma coleção de nossas experiências diversas sobre apadrinhamento, e sua leitura pode nos ajudar a chegar às nossas próprias conclusões sobre o que é certo para nós.

Experiências de primeira mão aparecem ao longo do livro. As citações

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em primeira pessoa foram coletadas de membros de NA ao redor do mundo. Enquanto essas citações não representam, necessariamente, a opinião de NA como um todo, elas apresentam a cada um de nós, uma oportunidade para crescer e aprender se lermos com o coração e a mente abertos. Algumas coisas que leremos aqui poderão desafiar as crenças que sustentamos por muito tempo, mas, como numa reunião, podemos tirar proveito do que nos serve e largar o resto.

Se fecharmos esse livro sentindo que ainda temos perguntas não-respondidas sobre apadrinhamento, podemos seguir as sugestões que freqüentemente recebemos quando encaramos uma pergunta que não sabemos como responder: procuramos nos passos, rezamos e meditamos a respeito, ligamos para nosso padrinho/madrinha...

CAPÍTULO UM

O QUE É APADRINHAMENTO?

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Uma pedra fundamental do programa de Narcóticos Anônimos Nenhuma crença ou filosofia, por si só, descreve ou define adequadamente o que é um padrinho ou o que faz um padrinho. Ao longo dos anos, apadrinhamento se tornou uma ferramenta básica e importante do programa de NA e é praticada de várias formas. O relacionamento de apadrinhamento, para muitos membros, é pessoal e privado. Um padrinho de NA é um membro experiente de Narcóticos Anônimos a quem procuramos para ajudar-nos em nosso programa de recuperação. Muitos membros acreditam que apadrinhamento é uma parte vital do processo de recuperação. Junto com os Doze Passos e as Doze Tradições, apadrinhamento é considerado uma das pedras angulares do programa e da maneira de viver de NA. O valor terapêutico de um adicto ajudando o outro é exemplificado neste relacionamento com um outro membro de NA. Antes de chegar às salas de NA, a maioria de nós estava vivendo à margem

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da humanidade, afundando cada vez mais em medo, isolamento e desespero. Queríamos encontrar outro modo de viver, mas a solução sempre nos iludiu. Uma vez que começamos a assistir reuniões e aprender sobre o programa de Narcóticos Anônimos, nossas vidas começam a mudar e percebemos a importância de procurar apoio.

“Para mim, meu relacionamento com meu

padrinho se tornou (e ainda é) o primeiro relacionamento com outro ser humano que

abriu meu coração à possibilidade de me tornar um

membro da raça humana”.

“Se precisei de alguém em minha vida, esse alguém foi

meu primeiro padrinho. Ele foi alguém que me fez sentir parte de NA. Ele era um rosto amigo num mundo de dor emocional. Ele foi alguém que me ajudou

a continuar indo em frente quando não mais conseguia

andar sozinho. Uma das maiores dádivas de NA é ouvir

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a mensagem levada através do amor e bondade”.

Precisamos de ajuda e queremos estender a mão para outro membro. Porém, muitas vezes tememos rejeição e podemos experimentar ansiedade avassaladora com a idéia de nos aproximarmos de alguém e pedirmos que seja nosso padrinho/madrinha. Enquanto nas garras de nossa doença, tínhamos percepções e pensamentos distorcidos. Alguns de nós acreditávamos que eram invencíveis e poderosos, enquanto outros evitavam todo tipo de contato com as pessoas. Agora que nossas mentes começaram a clarear e acordamos de nossa névoa induzida por drogas, nos sentimos vulneráveis, expostos, e indefesos. Durante esse tempo frágil em nossa recuperação, vemos que um padrinho/madrinha pode nos ajudar a lidar com estes sentimentos, para que não precisemos fugir deles.

“Para mim, aceitação é uma das partes mais importantes do programa de NA. Quando

vim a essas salas, estava perdido, sozinho, machucado,

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e sentindo como se nada importava exceto a morte. Eu

me odiava tanto. Estava quebrado e sentia que

ninguém queria ter nada a ver comigo, e especialmente, com

meu problema com drogas. Demorou um tempo para criar

a coragem de pedir que alguém fosse meu padrinho”.

“Quando fiquei limpo no

início, eu estava acabado. Mal conseguia juntar duas frases e

tinha medo de tudo e todos. Não sabia o que fazer dos

Doze Passos, muito menos sobre pedir ajuda de um outro ser humano. Não confiava em ninguém nem acreditava em nada. Porém, ouvi dizer que era importante arrumar um

padrinho. Era uma idéia assustadora – falar com um

estranho – mas era mais assustador pensar que se eu não pedisse ajuda, poderia

voltar a usar drogas de novo”.

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Enquanto procuramos por um padrinho, precisamos lembrar que ainda podemos trabalhar o programa de recuperação; o único requisito para ser membro é o desejo de parar de usar. Se formos novos ao programa, começamos a desenvolver relacionamentos com outros membros e nos envolvemos, e nossa confiança cresce. Conforme vemos que o processo funciona para outros, começamos a acreditar que funcionará para nós também.

“Cheguei perto de uma mulher após uma reunião e esperei impacientemente para falar com ela. Estava nervosa.

Gaguejei e falei baixo, mas ela me deu o telefone dela e me disse para ligar. Não foi um sim firme, mas liguei assim

mesmo. Continuo aprendendo com ela até hoje, mesmo após

anos e a distância de quilômetros que há entre nós.

Temos um relacionamento maravilhoso, e sei que nossos

espíritos estarão sempre conectados”.

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“Meu relacionamento com minha madrinha foi muito

desconfortável no início. Eu buscava todas as respostas

dela, mas tudo que via era ela vivendo a vida como a vida é.

No início, foi difícil achar coisas para partilhar sobre

mim mesma. Ela falava comigo sobre a vida dela, e eventualmente eu consegui falar com ela sobre a minha

vida também".

Um padrinho pode nos oferecer um elo pessoal ao aprendizado do programa de recuperação de NA. Especialmente quando somos novos ao programa, podemos ter dúvidas a respeito da terminologia, literatura, formatos de reunião, a estrutura de serviço, e assim por diante. Se ficamos limpos em um centro de tratamento ou outra instituição, um padrinho pode facilitar a transição para fora e esclarecer quaisquer dúvidas que possamos ter a respeito das diferenças entre tratamento e NA. Nossos padrinhos podem nos orientar ao partilharem sua experiência e conhecimento do programa de NA.

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“Achei que precisava de um padrinho para entrar numa

reunião fechada (somente para adictos). Achava que era algum tipo de sociedade

secreta, tipo ‘ele está comigo’. Eu liguei e perguntei para meu padrinho se isso era verdade.

Ele deu risada e disse ‘Oh não, não tem problema’. Achei que

um padrinho era o chefe de NA! Hoje percebo que um

padrinho é um professor que ensina por exemplo e

experiência”.

“Sou uma pessoa inteligente, mas quando era nova no

programa, precisava de muita ajuda e precisava

compreender o programa. Ligava para minha madrinha e

perguntava ‘O que significa impotência?’ ou ‘O que é ser um “membro produtivo da

sociedade”?’ Essas ligações me ajudaram a desenvolver minha própria compreensão sobre os princípios de NA”.

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Apadrinhamento nos ajuda, independente de quanto tempo temos no programa. Mesmo que estejamos em fases diferentes de nossa recuperação e trabalhando em nosso próprio ritmo, temos semelhanças. Aprendemos a focar nossa atenção nas semelhanças ao invés das diferenças. Uma das razões que o apadrinhamento funciona é que partilhamos a mesma doença, e todos buscamos recuperação desta doença. Membros que acumularam algum tempo limpo podem ser exemplos para recém-chegados e membros com mais tempo, que uma nova maneira de viver é possível.

“De conhecimento de

primeira-mão de adicção e recuperação, meu padrinho

compreende o que eu preciso passar para ficar limpo. O

sucesso de meu padrinho em ficar limpo serve como fonte

de esperança para mim”.

“Meu relacionamento com meu padrinho têm me ajudado a ficar mais honesto ao longo do tempo. Já que ele tem a

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mesma doença que eu e tem tido muitas das mesmas

experiências, ele entende a minha maneira de pensar”.

Definições totalmente diferentes do

apadrinhamento existem em NA. No entusiasmo de nossa irmandade para assegurar que nossa mensagem é claramente compreendida – por adictos assim como por outros membros da sociedade – freqüentemente fazemos muito esforço para providenciar descrições definitivas de cada detalhe do programa de NA, incluindo o conceito de apadrinhamento. A beleza de nosso programa é que cada um de nós pode ter uma compreensão pessoal do relacionamento de apadrinhamento.

O espírito que energiza e enriquece Narcóticos Anônimos se encontra na nossa união através da diversidade. Independente das diferenças entre nossas práticas, o alicerce do apadrinhamento é um serviço abnegado, boa vontade, e um compromisso para guiar e partilhar uma caminhada de recuperação através dos Doze Passos, as Doze Tradições e os Doze Conceitos.

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“Meu padrinho não só é um

guia através dos passos, mas também é alguém que me

ajuda a ver como realmente sou e quem posso ser. Meu padrinho parece saber meus

motivos muitas vezes antes de eu saber realmente o que

esses motivos são”.

“Minha madrinha faz uma coisa por mim que não confio em mais ninguém para fazer –

ela simplesmente me guia através dos passos de

Narcóticos Anônimos. Não somos amiguinhas. Não saio com ela nem vou à casa dela

toda hora. Ligo para ela regularmente, ouço-a e falo

com ela”.

Alguns adictos compreendem o apadrinhamento como um ato de amor incondicional. Outros colocam condições ou requisitos para aqueles a quem apadrinhamos. Alguns membros acreditam que a interação entre padrinho e afilhado deve ser um de não

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julgamento, enquanto outros buscam certos tipos de julgamento e direção de seus padrinhos.

“Minha primeira madrinha foi

ótima para mim quando eu era nova no programa. Ela me dizia o que fazer. Ela tinha

uma lista de cinco coisas que eu tinha que fazer para que ela me apadrinhasse. Tinha que ligar para ela todos os dias, ir

às reuniões, trabalhar os passos, servir a irmandade, e rezar e meditar diariamente. Ela me deu a recuperação

mastigadinha. Ela era durona e a força dela me assustava, mas eu queria o que ela tinha

para oferecer”.

“Meu padrinho foi uma das pessoas em NA que me amou até que eu pude amar a mim

mesmo. Quando fiquei limpo, ele pediu que eu comesse uma fruta, cereal ou qualquer coisa

de café da manhã antes de começar meu dia. Eu queria tanto ficar limpo. Eu fazia o

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que ele pedia, apesar de não saber o que tinha isso a ver

com ficar limpo. Logo, comecei a entender o que ele

estava fazendo – ele estava me mostrando como me amar e

cuidar de mim mesmo”.

“Meu padrinho é minha base de apoio. Não importa o quão traumático ou insignificante

alguma coisa é, posso depender dele e confiar meus pensamentos, sentimentos e acontecimentos a ele. Posso

receber suas sugestões e orientação através dos passos com mente aberta e coração confiante. Deixo que ele me

conheça bem – provavelmente melhor do que eu mesmo me

conheço”.

Com a crescente diversidade de nossos membros, o apadrinhamento pode tomar variadas formas que refletem nossa individualidade. Independente dessas diferenças, muitos membros acreditam que cooperação, compaixão, aceitação e responsabilidade são alguns

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dos princípios espirituais encontrados no apadrinhamento.

“Poder ter um padrinho é a

maior dádiva que a recuperação oferece para mim.

Antes de ter uma madrinha, simplesmente flutuava à

deriva, sem direção real. Eu sentia dor o tempo todo e não

sabia por que. Minha madrinha me ajudou a ver a

razão e ofereceu um caminho de mudança para que eu não tivesse que doer tanto, nem

por tanto tempo”.

“Minha madrinha é meu mentor, às vezes meu salva-

vidas, mas, sobretudo, é minha amiga. Ela é gentil,

carinhosa, amorosa e me dá apoio. Saber que sempre que eu precisar dela ela estará lá

para me apoiar é um pensamento confortante.

Minha madrinha permite que eu cresça em meu próprio

ritmo e progrida nos passos conforme minha prontidão”.

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Para muitos de nós, o

apadrinhamento pode nos dar apoio quando damos de cara com aqueles desafios que vêm de viver a vida. Entretanto, há muitas vezes nas quais nos encontramos sem um padrinho ou madrinha. Isso não significa que somos “menos que” membros que têm um padrinho ou madrinha. Durante esses momentos podemos buscar apoio no grupo e em nossos companheiros em recuperação, até que encontremos um padrinho novo.

“Tive períodos em

recuperação sem um padrinho, e fiquei bem. Continuei crescendo e

trabalhando o programa. Mas a realidade é que sentia falta de alguém na minha vida que

fosse ‘meu padrinho’”.

“Em minha recuperação houve vezes que eu não tinha uma madrinha. Acho que estava

esperando que uma caísse do céu, ou simplesmente não queria fazer muito esforço

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para achar uma. Depender de amigos não era a mesma coisa do que ter uma madrinha, nem era ter uma madrinha só para dizer que tinha. Acredito que

quanto mais esforço que coloco no meu relacionamento

com minha madrinha, mais posso me beneficiar de sua

experiência. Minha experiência mostra quer

preciso de uma madrinha para trabalhar os passos com

sucesso”.

Alguns de nós podemos estar sem afilhados, apesar de todos nossos anos no programa. Pode ser que ninguém nos tenha pedido, ou pode ser que, por alguma razão, escolhemos não apadrinhar outro adicto. Qualquer que seja a razão, se não estamos apadrinhando alguém, ainda há muitas formas que podemos servir. Trabalhando numa linha de ajuda, levando uma reunião á uma instituição, dando boas vindas e encorajando os recém-chegados, ou pegando um encargo em nosso grupo de escolha são algumas das maneiras que podemos levar a mensagem.

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“Estou em recuperação há 15

anos e nunca apadrinhei ninguém. Sou um fracasso?

Minha recuperação é uma fachada por minha

‘inabilidade’ de preencher esse aspecto do programa ainda? Acho que não. Eu

brincava (mais ou menos) com um amigo que não me pedem

para ser padrinho porque ninguém ‘quer o que eu tenho’, mas isso é me

menosprezar e menosprezar o programa de NA. Todos são diferentes, e nosso talentos e habilidades estão em áreas diferentes. Dou livremente aquilo que me foi dado de

outras formas, aquelas mais em harmonia com minhas circunstâncias e aptidões

naturais. Faço muito serviço em NA, e tenho sido e

continuo sendo aquela pessoa que ‘acredita em mim e quer

me ajudar em minha recuperação’ para muitos

amigos em NA, a quem amo”.

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Narcóticos Anônimos continua a crescer e alcançar diversas comunidades ao redor do mundo. Algumas dessas comunidades são geograficamente isoladas de comunidades já estabelecidas de NA, outras podem ter dificuldades legais ou culturais para estabelecer reuniões ou com os princípios do programa. Enquanto nossa irmandade se diversifica, é importante permitirmos que membros adaptem o programa de NA para se encaixar em suas comunidades.

“Nos primeiros dias, eu era a primeira mulher em

recuperação no meu país. Em desespero, confiei em alguém

que viajava e me conhecia bem para achar uma madrinha

para mim. Funcionou! As cartas de minha madrinha sempre pareciam chegar

quando eu mais precisava. Foi o melhor relacionamento

‘via correio’”.

“A mulher que pedi para me amadrinhar estava visitando meu país para a convenção

anual. Ela trabalha os passos

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de NA. Ela é prática, segura de si, e eu a amo. Tenho

trabalhado os passos com ela, aprendido sua língua e praticado fé no Poder

Superior, pessoas e em mim mesma. Quando eu a visitei

no ano passado, partilhei meu Quinto Passo com ela.

Felizmente, conhecíamos alguém no programa que

podia traduzir para nós. Agora estou fazendo o Sétimo Passo,

e na língua dela!”

“Encontrei minha madrinha na Internet. Iniciamos nosso

relacionamento por e-mail. Eu demorei a entendesse os

horários dela, e por uns oito meses eu acordava às 4:30

para ligar para ela. Moramos em continentes diferentes,

temos culturas diferentes, e eu tinha que me esforçar para ligar para alguém que não

conhecia, falando a língua dela (toda minha recuperação é

feita em outra língua). Escrevo os passos e os

mando por correio. Eu leio

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junto pelo telefone. Fica caro, mas eu me permito. Esse é o

relacionamento mais enriquecedor que já tive com

outra mulher”.

O conceito de apadrinhamento tem ajudado a moldar o programa de Narcóticos Anônimos que conhecemos hoje. Com o tempo, percebemos que a recuperação é um processo em evolução. Podemos tentar atravessar algumas de nossas dificuldades sozinhos. No entanto, através de amor incondicional, aceitação e união, muitos de nós encontram alívio do vazio criado pela nossa doença.

“Ao longo dos últimos oito

anos de minha recuperação, apadrinhamento – tanto como

afilhado quanto como padrinho – tem tido um papel importante em minha jornada. No início, as ligações diárias

me ajudaram a aprender como pedir ajuda. Os altos e baixos

do início da recuperação faziam com que eu ficasse

perdido emocionalmente, e o

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compromisso que eu fiz de ligar para meu padrinho

diariamente, ajudou a tornar o passeio de montanha russa

mais brando. Nenhuma outra coisa me fez sentir tão aceito e amado como o apoio de meu

padrinho”.

“Meu relacionamento de apadrinhamento mudou com o

tempo. Quando era nova e estava perdida, minha

madrinha me dava direções claras e muito amor. Quando ela ouviu meu Quinto Passo

obsessivamente longo, ela foi carinhosa e falou que eu tinha feito um bom trabalho. Ela me

apoiou quando mudei de carreira, e mais tarde em minha recuperação, nos

tornamos amigas. Às vezes nos encontramos só para nos divertirmos. Agora busco dela

conselhos e encorajamento para continuar me arriscando

e crescendo. Hoje, quando ela está tendo dificuldade, ela me

liga para chorar”.

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Um Adicto Ajudando ao Outro

Apadrinhamento pode oferecer a ajuda que tão desesperadamente precisamos, mas temos medo de pedir quando primeiro ficamos limpos. Ficar limpo e freqüentar reuniões de NA não significa que nossas vidas se tornarão livres de dificuldades enquanto nossos problemas vão desaparecendo. Se fosse simples assim, as salas de NA não poderiam conter a multidão de pessoas que buscariam recuperação! Os anos que passamos praticando comportamentos auto-destrutivos e vivendo em prisões auto-impostas de medo, ódio próprio e desespero tornaram muitos de nós raivosos e desconfiados. Esses velhos hábitos não somem com um passe de mágica. Recuperação é, freqüentemente, um processo dolorosamente lento. Se quisermos melhorar, precisamos fazer um esforço para sermos honestos, e termos mente aberta e boa vontade. Trabalhar com um padrinho pode facilitar nosso aprendizado deste novo modo de vida.

“Não posso expressar a

importância de meu primeiro

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padrinho – aquela primeiríssima pessoa que estava preparada para me

ouvir e me deixar chorar pelo telefone. Foi muito importante que ele não me julgava, e que ele podia compreender como

eu me sentia através da própria experiência dele. Lá estava alguém para me guiar

na minha escuridão, oferecendo uma mão que se estendia para dentro do meu

inferno pessoal e me ajudou a ficar de pé sozinho

novamente”.

“Sei que ter um padrinho ainda é vital para minha

recuperação. Para mim, o maior benefício de ter um padrinho é que eu tenho a chance de aprender como

viver a vida através dos Doze Passos. Tenho confiado em

meu padrinho para me aconselhar e ajudar quando não sei o que fazer. Tenho

certeza que meu padrinho não sabe de quantas formas e

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quantas vezes ele me ajudou ao longo dos anos”.

Cuidadosamente baixando nossas

defesas, nos abrimos para outro adicto, e começamos a quebrar os padrões de isolamento emocional e falsa independência que marcaram nossas vidas por tanto tempo. Aprendemos que é possível com a ajuda de outros, fazer o que não podíamos fazer sozinhos. Temos agora a oportunidade de experimentar, por nós mesmos, o valor terapêutico de um adicto ajudando o outro.

“Sendo um adicto muito

independente e auto-suficiente, tenho aprendido

muito sobre a necessidade de usar meu padrinho e pedir ajuda. Nem sempre é fácil,

mas eu o faço. Meu padrinho tem me mostrado muita

compaixão, amor e tolerância, e tento repassar esses

princípio espirituais aos meus afilhados.”

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“O que foi mais importante para mim com meu primeiro

padrinho foi, que pela primeira vez, e com 42 anos, eu podia ter um relacionamento íntimo

com outro homem. Eu o deixei entrar em minha vida e me conhecer bem, para que ele pudesse me confrontar

quando eu agia mal. Eu podia dizer que o amava e precisava

dele em minha vida”.

Apadrinhamento, para muitos de nós, pode ser nosso primeiro relacionamento que envolve confiança e intimidade – isto é, honestidade verdadeira e proximidade a outra pessoa. Alguns de nós sentimos um elo de confiança com nosso padrinho ou afilhados imediatamente, enquanto outros constroem confiança através de empatia e amor incondicional. Esse elo pode ajudar a nos livrar do isolamento e da falta de confiança que fazem parte da enorme obsessão e compulsão da adicção ativa.

“Trabalhar com meu padrinho me permitiu, pela primeira vez em minha vida, a confiar em alguém e honestamente falar

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com outra pessoa sobre mim. Parei de me sentir sozinho, desesperançado e perdido. Me senti apoiado, e ainda

sinto”.

“A primeira vez que aprendi a desenvolver confiança em outra pessoa foi quando

arrumei uma madrinha (me tornei madrinha). Minha

madrinha não me culpava, nem me fazia sentir mal, ou me

falava que eu estava errada. Conforme o tempo foi

passando, aprendi a confiar e aprendi a ser confiável”.

“Partilhar meus segredos com

meu padrinho foi a primeira ação de confiança e humildade

por minha parte, e foi o primeiro passo para quebrar

meu isolamento. Nesse relacionamento, comecei a ter

objetividade e uma perspectiva equilibrada a respeito das situações em

minha vida”.

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Quando a solidão e alienação da adicção começam a amenizar, muitos de nós começamos a encontrar conforto na identificação que achamos em Narcóticos Anônimos. O relacionamento entre padrinho e afilhado pode se tornar um sistema de apoio mútuo. Experimentamos o amor incondicional e uma conexão com outras pessoas. Começamos a apreciar a generosidade, companheirismo e responsabilidade que esse relacionamento geralmente oferece. As habilidades que aprendemos no apadrinhamento podem nos dar a oportunidade de participar em nossas próprias vidas novamente. Para alguns de nós, essa é a primeira vez que temos a oportunidade de nos tornarmos parte da sociedade. Podemos arranjar empregos, voltar à escola, nos reunirmos com família e amigos, e realizar sonhos perdidos.

“Hoje, apadrinhamento evoluiu

a um nível muito mais profundo do que eu jamais

imaginei possível. Escrever os passos tem sido uma parte

muito importante da minha recuperação, e o amor e

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cuidado que meu padrinho demonstra quando falamos

sobre o que eu escrevi têm me ajudado tremendamente nas

áreas de honestidade e confiança. O elo que nós temos como resultado de

trabalhar os passos tem sido extremamente poderoso”.

“Quando primeiro cheguei a NA, senti que ninguém podia compreender os sentimentos intensos de desespero, falta

de esperança e vergonha que eu sentia. Em minha primeira reunião, conheci um homem

que logo se tornaria meu padrinho. Ele me deu um

folheto e pediu que eu lesse a parte ‘Quem é um adicto?’. Conforme eu lia, comecei a

sentir aquele medo que carregava por tanto tempo, se amenizar. A simples sugestão de um companheiro adicto foi o início de um relacionamento

profundo e amoroso com respeito mútuo e partilhas

honestas”.

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“Não conseguia entender porque meu padrinho era tão feliz e contente com todas as coisas pequenas em sua vida. Ele posteriormente me contou

que é mais importante contribuir do que exigir.

Depois, eu entendi que isso era a chave para me tornar

parte da sociedade”.

Nosso trabalho com padrinhos e afilhados freqüentemente ajuda a dar sentido para muitas das nossas experiências – passadas e presentes.

“Me lembro do primeiro Quinto

Passo que fiz com uma madrinha. Partilhei meus

segredos mais profundos e sombrios. Achei que minha madrinha não ia querer mais

nada comigo. Ela, no entanto, partilhou parte de seu passado

comigo, e eu percebi que eu não era a pior pessoa na face da terra. Na verdade, minha

madrinha me ajudou a ver que algumas coisas, das quais eu

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tinha mais vergonha – algumas das minha

experiências sexuais – nem eram minha culpa”.

Através do percurso de trabalhar e

vivenciar os Doze Passos e as Doze Tradições, a ilusão de auto-suficiência pode ser suavemente quebrada, enquanto nos tornamos mais responsáveis por nossa própria recuperação. Ao partilhar honesta e abertamente, ambos o padrinho e o afilhado começam a aprender um com o outro. Percebemos que não mais estamos sós e não precisamos encarar o processo de recuperação sozinhos.

“Meu padrinho é um

professor, um exemplo, alguém em quem confio, um ouvinte, um confortador, um

espelho, e dispensa a verdade que ele vê em mim. Ele é um

barômetro para minha recuperação e, de acordo com o quanto eu permito, é a voz

da razão quando estou tomando decisões difíceis e

confusas”.

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“Apadrinhar outros reforça

minha recuperação e mantém minha gratidão viva através da partilha de minha recuperação. Serviço abnegado é o antídoto para o egocentrismo, que é o centro de minha doença. Se

eu sugerir que um afilhado vá a uma reunião ou escreva

algum passo, é mais provável que eu faça o mesmo”.

“Ter um padrinho me deu um senso de responsabilidade. Esse relacionamento tem ajudado a reconquistar a

confiança em outros seres humanos. Tenho aprendido

ao longo dos anos que posso falar com meu padrinho em completa confiança sobre

qualquer coisa que eu pensar ou fizer. Ele mantém o

anonimato que nós temos, e não me julga”.

O relacionamento de

apadrinhamento é humanidade em ação, providenciando compaixão e apoio, não

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importando as experiências de vida que cada membro pode estar atravessando.

“Ainda preciso de uma

madrinha após tantos anos no programa. Hoje os tópicos

não são como ficar limpa, etc., mas mais os problemas

cotidianos que aparecem como resultado de ficar limpa.

Muitas vezes descubro que ainda acredito na ilusão de

que ficar limpa significa automaticamente viver uma

vida livre de problemas. E, na maioria das vezes, descubro

através de partilhar com minha madrinha, que tenho uma vida normal, como qualquer outra pessoa que não usa drogas”.

Durante nossa adicção ativa, o único

compromisso que a maioria de nós tinha era o de conseguir e usar mais drogas. Em NA, muitos de nós assumimos o compromisso de trabalhar com um padrinho e, mais tarde, um afilhado. Não mais fugimos de nossas responsabilidades. Cumprir com nosso compromisso de apadrinhamento pode

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nos ajudar a sentir o valor próprio que vem de encararmos nossos medos.

“Pedir que alguém me apadrinhasse foi um grande

compromisso para mim. Significa que eu ia ter que

fazer mais do que falar sobre minha recuperação. Eu ia

pedir que alguém se comprometesse comigo e isso

era assustador. Tinha tanta dificuldade em confiar nos

outros, mas no final percebi que meu grande problema era

coragem”.

“Meu compromisso com apadrinhamento ajudou a me tornar uma pessoa amorosa, digna de confiança e apoio.

Antes de assumir a responsabilidade de ser uma

madrinha, eu era egoísta, egocêntrica, e só pensava em mim. Como resultado do meu

trabalho com minhas afilhadas, descobri o verdadeiro sentido de

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compromisso. Hoje sou comprometida com minhas afilhadas; compartilho suas

alegrias e tristezas, ouço com mente aberta e coração aberto,

amo incondicionalmente, aceito e respeito-as

exatamente como são. Mais importante é o meu

compromisso em guiá-las através dos passos e apoiá-las

em seus processos de recuperação”.

Às vezes, o relacionamento

padrinho/afilhado pode ser desafiador. Mal-entendidos podem surgir, e sentimentos podem ser feridos. Por alguma razão, podemos sentir que nossas necessidades não estão sendo atendidas. Porém, a maioria de nós descobre que a “cura” emocional e espiritual que pode vir de partilhar com um padrinho/afilhado vale a pena o esforço. Alguém que acredita em mim e quer ajudar na minha recuperação

Um padrinho/madrinha pode ser um mentor, professor e confidente, não só

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para aqueles que são novos no programa, mas para membros com tempo limpo significante também. Apadrinhamento pode nos ajudar a aprender maneiras saudáveis de viver e oferecer um santuário de apoio e empatia durante tempos de luto, perda, e outras tribulações da vida. Um padrinho pode ainda participar em nossas experiências alegres, que celebram nossa vida e nossa recuperação.

Outros membros procuram um padrinho estritamente para conhecimento sobre e orientação através dos Doze Passos, e, para alguns membros, as Doze Tradições e os Doze Conceitos. Não importa como entendemos o papel do padrinho, podemos todos concordar sobre uma coisa: um padrinho é “alguém que acredita em mim e quer me ajudar em minha recuperação”.

“Para mim, minha madrinha foi

a primeira pessoa que eu permiti que visse o verdadeiro

eu. Ela é meu banco de memória de experiências,

detalhes e padrões. É importante ter alguém para

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quem posso jogar minhas idéias e mudanças possíveis, e ela os jogará de volta. Dois

corações são sempre melhores do que um só”.

“Meu padrinho é alguém em

quem confio, além de respeitá-lo – e isso é importante

também. Meu padrinho é alguém com quem posso ser honesto e para quem posso

me revelar. Algumas das coisas que aprendo sobre mim mesmo me chocam, e preciso poder partilhar essas coisas e

sentir-me confortável o suficiente para permitir que meu padrinho revele coisas

para mim”.

“Estava no início de minha recuperação quando meu pai

morreu. Eu o adorava. Ele era o mundo para mim. Estava

desolada e me senti totalmente impotente. Me vi

frente a frente com muita dor e raiva. Essas emoções se

tornaram entidades vivas para mim, e senti que elas iam me

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consumir. Mas, minha madrinha me ouviu – a

qualquer hora do dia. Nem é que ela me disse alguma coisa profunda; era mais sobre ela

estar lá e me ouvir e amar durante tudo isso”.

Quando começamos a viver sem o uso de drogas, vemos que o apadrinhamento pode oferecer uma amizade e conexão espiritual com outros adictos, que podem ter experimentado muitas das mesmas emoções e circunstâncias que nós. O elo que freqüentemente se forma entre um padrinho e afilhado pode ser poderoso, conforme cada membro pode partilhar e identificar-se com muitos dos mesmos sentimentos.

“Em recuperação eu tenho

experimentado uma gama de sentimentos que eu me

recusava a reconhecer. Esses sentimentos me fizeram sentir que eu não era importante. Eu

não me valorizava, e como resultado, não tinha a

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habilidade de colocar limites. Meu padrinho me ajudou a

expressar-me honestamente, e aprendi que não tinha

problema não saber algumas coisas, e pedir ajuda. Através do amor e orientação do meu padrinho, adquiri uma idéia de

quem eu era, que tipo de pessoas eu queria em minha

vida, e o que eu precisava para conseguir tudo isso. A

atração inicial para mim era não ter que fazer tudo sozinho.

O que aprendi através do apadrinhamento não tem

preço, e a beleza verdadeira está em partilhar essas experiências com meus

afilhados”.

“Minha afilhada e eu passamos por divórcios na mesma época. Eu tinha a

amadrinhado por muitos anos, e nosso relacionamento se

tornou realmente uma via de mão dupla. Aquela época era

um dos momentos mais difíceis de minha recuperação,

mas falar com ela e escutar

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ajudaram a amenizar. Partilhávamos uma com a

outra, chorávamos juntas, e dividimos insights e

ferramentas”.

Alguns membros trabalham profissionalmente como terapeutas, advogados, ou médicos, por exemplo. No entanto, a responsabilidade de um padrinho não é a de um profissional, mas simplesmente a de um adicto partilhando de seu coração e levando a mensagem. Escolhemos um padrinho baseado em sua recuperação em NA. Às vezes precisamos buscar ajuda profissional de algum tipo. Podemos discutir essa necessidade com nosso padrinho, mas não devemos esperar que nosso padrinho ou afilhado nos preste serviço profissional de qualquer tipo. Temos que perceber que um padrinho é um adicto praticando serviço abnegado e não um profissional num emprego. Isso se baseia em nosso alicerce espiritual de anonimato, que nos torna todos iguais em NA.

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“Membros da irmandade em minha área sabem que

trabalho no setor de recuperação de dependência

química, e às vezes se aproximavam de mim para

facilitar sua admissão a uma clínica de tratamento. Eu

deixo meus limites bem claros. Digo a eles que estou em NA

para me recuperar; posso apadrinhá-los, talvez, mas não me envolvo em assuntos fora

de NA nem faço favores especiais. Isso torna nosso

relacionamento na irmandade mais igual e menos aberto a

complicações”.

“Os benefícios de ser apadrinhado tem me servido bem nesse programa. Por muito tempo eu pude ficar

limpo, ir a reuniões, me envolver em serviço, e

participar em várias funções, mas eu ainda me sentia

sozinho e vazio por dentro. Quando permiti que um

padrinho entrasse em minha vida, e nutri nosso

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relacionamento como parte do meu processo, comecei a crescer e mudar, e minha recuperação deslanchou.

Acho que a linguagem sem palavras da empatia, da qual o Texto Básico fala me ajudou

mais do que qualquer médico ou terapeuta poderia ter

ajudado naquele ponto em minha vida”.

É importante para padrinhos manterem sua própria identidade e serem responsáveis por sua própria recuperação, não as de seus afilhados, e vice-versa. Queremos nos assegurar que levamos a mensagem de recuperação aos nossos afilhados, e não a bagunça de nossa doença. Muitas vezes dizemos “só podemos manter o que temos ao dar para outros”, mas também é verdade que temos que ter nossa própria recuperação para poder “dar”. Apadrinhamento pode ser uma oportunidade para praticar os princípios do programa de NA em todas as nossas atividades, onde cada pessoa, idealmente, está recebendo o melhor que cada uma tem a oferecer.

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“Se eu não cuidar de minha doença em minha própria recuperação, então estou

passando minha doença aos meus afilhados”.

“Quando voltei a estudar,

diminui minha freqüência a reuniões porque senti que

estava muito ocupada. Não ligava para minha madrinha

com muita freqüência, nem lia muito. Estava apadrinhando várias pessoas, e sempre que

alguma delas ligava, eu me sentia como se fosse um peso. No final da ligação, eu estava

estressada e sem energia. Engraçado com quando eu

dediquei mais tempo à minha própria recuperação, me senti menos estressada e não via a hora de chegar um intervalo nos meus estudos para falar

com uma afilhada”. O Décimo Segundo passo em ação

Apadrinhamento muitas vezes se torna parte do serviço abnegado do qual

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ouvimos no décimo segundo passo. Muitos membros acreditam que o apadrinhamento é uma oportunidade de levar a mensagem de recuperação e praticar os princípios encontrados no programa de NA. Parte disso envolve um compromisso de trabalhar com outros e providenciar um sentido de aceitação através de empatia e compreensão.

“Para mim, não há pressão maior do que um afilhado dedicado que trabalha os

passos com paixão. Me sinto obrigado a fazer o melhor que

posso em minha própria recuperação. Sinto empatia

pelos meus afilhados quando fazem tantas perguntas e se

esforçam para aprender e entender o cominho de NA. Sinto também, compaixão,

pois eu estava no lugar deles em algum momento de minha

recuperação”.

“Meu padrinho cria uma atração para mim. O caminho

que ele percorreu antes de mim me trouxe a ele nesse

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momento centrado. Ele é sereno, sólido e

espiritualmente equilibrado. Ele leva uma vida simples e

calma, um programa sólido e trabalha conscientemente os Doze Passos. Simplesmente,

quero o que ele tem a oferecer”.

Achando, e trabalhando com, um padrinho pode acalmar a confusão que muitos de nós experimentam quando ficam limpos. Após passar muitos anos na adicção ativa, muitos de nós não sabiam quem eram ou como nos tornarmos membros produtivos da sociedade. Um padrinho pode providenciar uma perspectiva mais objetiva sobre nossa realidade. Através da partilha de sua experiência, força e esperança, padrinhos podem guiar afilhados na construção de um alicerce em recuperação.

“Meu padrinho me dá uma

perspectiva totalmente diferente da minha vida, já que

minha bagagem tende a

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influenciar minha perspectiva e minha percepção”.

“Cedo em minha recuperação,

tinha uma ‘reputação’ por causa de meu comportamento

com homens. Finalmente, quando tinha alguns anos

limpa, minha madrinha meio que me ‘falou um monte’. Eu estava lhe contando como eu gostava dos ‘homens maus’ e ela sacudiu a cabeça, dizendo

que o desejo dela para mim era que, ao longo do tempo, como resultado de trabalhar

os passos com ela, eu aprenderia a parar de tomar decisões péssimas – que eu

viria a apreciar o amor verdadeiro e o apoio que eu

poderia vir a ter num relacionamento. Aquela

conversa foi um momento de virada, e como resultado, comecei a sair com um

homem ‘bom’ que não teria pensado em sair antes.

Estamos juntos a 16 anos”.

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Além de nos ajudar a nos enxergarmos mais claramente, trabalhar com um padrinho pode começar a nos mostrar a importância do serviço. Alguns padrinhos encorajam aqueles a quem apadrinham a se envolverem formalmente na estrutura de serviço de NA; outros simplesmente agem pelo poder de exemplo, dando deles mesmos e não esperando nada em troca. O apadrinhamento é uma espécie de serviço abnegado, e nesse relacionamento podemos a aprender como expressar nossa gratidão através do serviço seja ele formal ou informal.

“Minha primeira madrinha foi a

alma mais maravilhosa, carinhosa e amorosa que sabia exatamente quando

segurar minha mão e quando largá-la. Ela me deu a base de

compreensão de NA e os Passos, Tradições e

Conceitos. Ela plantou em mim a importância de

‘devolver’ a NA através da estrutura de serviço. Apesar

dela não ser mais minha madrinha, ainda é uma parte

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ativa de minha recuperação e uma amiga querida”.

“Meu primeiro padrinho não estava muito envolvido na

estrutura de serviço, mas ele nunca perdeu a oportunidade

de me encorajar a servir. Lembro quando eu era novo no programa, eu fui a uma reunião e um companheiro

ingressou. Depois da reunião, meu padrinho perguntou ‘Você

deu seu telefone àquele companheiro?’ Não achava

que eu tinha muito a dar, mas ele me demonstrou que nunca era cedo demais para começar a ‘dar livremente’. Agora faço bastante serviço formal, mas

aprendi muito daquele primeiro padrinho sobre o

espírito do serviço e como não tem a ver com um encargo

específico, mas sim com a boa vontade de dar”.

Apadrinhamento, como muitas

aspectos de nossa vida em recuperação, é um relacionamento-em-progresso. Um padrinho é simplesmente um adicto em

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recuperação, não um perito infalível. Enquanto muitos de nós sentimos, às vezes, que não poderíamos ficar limpos sem a orientação e apoio de nosso padrinho, precisamos manter em mente que padrinhos não são Poderes Superiores, mas sim, adictos partilhando sua experiência, força e esperança.

“Meu padrinho é um ser

humano que tem alegrias e tristezas, necessidades e

sonhos, forças e fraqueza, e defeitos de caráter com os quais ele tem dificuldades.

Para mim, isso é uma grande lição, para ver outra pessoa ter

dificuldades às vezes, como eu tenho, e ainda ter fé,

confiança e esperança, e trabalhar para manter o foco

na solução ao invés do problema”.

“Tenho tido afilhados ao longo de minha recuperação. É um presente maravilhoso poder ajudar aos outros e me abrir para que os outros possam

ver quem eu sou.

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Freqüentemente, quando me perco em mim mesmo, meus afilhados me ajudam a sair

disso. Eles me ensinam sobre confiança e compromisso.

Trabalhar os passos com eles é nada mais do que eu mesmo trabalhar os passos. Muitas vezes meus afilhados têm

mais respostas do que eu. É uma lição de humildade no serviço. Muitas vezes seus

problemas são meus, e suas soluções são minhas também. Tenho aprendido através deles que não sou o único que tem dificuldades ou o único que está perdido e tem medo”.

A simplicidade do relacionamento padrinho/afilhado – aquele de um adicto ajudando outro – pode ajudar ambos os membros a entrar em contato com sua própria humanidade enquanto passando pelas dificuldades da vida, juntos. A mensagem de recuperação não vem só do padrinho; em muitos casos o afilhado partilha insights e sabedoria. Isso faz parte da via de mão dupla: o dar e receber que faz do Décimo Segundo

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passo uma parte necessária do processo de recuperação. Levar a mensagem a outros adictos e dar livremente o que nos foi dado livremente não é só uma honra e privilégio, é também essencial para enriquecer nossa condição espiritual.

“A importância de apadrinhar outros é que me ajuda a me

envolver mais com, e conhecer mais sobre, os Doze Passos e as Doze Tradições. Tenho que estar trabalhando meu programa pessoal para

poder oferecer algo aos meus afilhados”.

“Recentemente tive um

afilhado partilhar honestamente um assunto sobre o qual eu mesmo não

tinha sido honesto. O quanto isso vale para o meu

programa? Vale ouro”.

“Quanto a ser um padrinho, tento incorporar as coisas que aprendi sobre como eu gosto de ser apadrinhado em meu apadrinhamento. Quando

meus afilhados partilham os

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passos comigo, partilho minhas próprias experiências

com passos também. Uma das maiores dádivas em

recuperação é encontrar as semelhanças em nossas

jornadas e aprender sobre nossas diferenças. Acho que

a lição mais valiosa que o apadrinhamento me dá é a oportunidade de praticar o

amor incondicional. Aprofunda minha apreciação

do que me foi dado”.

“Para mim, apadrinhamento, junto com reuniões, é a coisa

mais importante em NA. Apadrinhamento me ensina

humildade. Preciso ser humilde para ligar para minha

madrinha e pedir ajuda. Preciso também ser humilde

em relação a minhas afilhadas estando disponível e ouvindo-

as sem ser julgadora ou controladora. Minha madrinha e afilhadas têm me ensinado sobre a importância de ter

relacionamentos com outras mulheres e como amar e ser

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amada pelo meu próprio gênero. Com isso, aprendi a

me amar”.

Muitas vezes ouvimos dizer que Narcóticos Anônimos é um programa “nós”, e o apadrinhamento para muitos de nós, está no centro de um senso de comunidade e apoio mútuo. NA funciona por causa da ajuda que damos uns aos outros. E a melhor ajuda que um adicto pode receber vem de outro adicto em recuperação. Nós, que passamos tanto tempo de nossa vida recebendo, preocupados somente com nós mesmos, acordamos para um mundo de possibilidades quando nos abrimos para as dádivas que o apadrinhamento pode nos dar.

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CAPÍTULO DOIS

PARA O AFILHADO Porque adictos buscam um padrinho

Temos aprendido de nossa experiência como irmandade que precisamos fazer mais do que apenas assistir às reuniões de Narcóticos Anônimos. O programa de NA ensina conceitos e princípios dos quais a maioria de nos não tinha conhecimento durante nossa adicção ativa. Agora, limpos e novos a NA, estamos em território desconhecido. Ouvindo o que outros membros dizem sobre “trabalhar” e “praticar” os passos e tradições ou desenvolver contato consciente com um Poder Superior pode nos encher de confusão e suspeita. Sabemos que não será fácil parar de usar drogas, mas não percebemos que viver uma vida em recuperação requereria tanto esforço.

Esses conceitos podem contrariar nossa maneira de encarar o mundo. Podemos não querer aprender a viver

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com integridade ou nos oferecermos em serviço abnegado a outros adictos. Tudo o que queremos é parar a dor e o ciclo horroroso de desespero e remorso causado por nossa doença. A ultima coisa que muitos de nós esperam fazer ou saber fazer quando ficamos limpos é “trabalhar” nesta coisa chamada de recuperação.

“Quando cheguei a NA, não

tinha idéia do que era o programa. Tudo o que queria

era só parar de usar. Mas, com o tempo, li os passos,

trabalhei-os com um padrinho, e fiz o mesmo com as

tradições. Foi difícil no início, mas meu padrinho, tanto como outros adictos em

recuperação que eu conheci, me deram amor incondicional, encorajamento, e partilharam

sua compreensão do programa. E funcionou:

tenho tido muito mais do que simples abstinência”.

Ter um padrinho ajuda muitos de nós

a aprendermos sobre o programa de NA e adquirirmos “insights” sobre nós

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mesmos, que seria difícil fazermos sozinhos. Um padrinho é alguém com quem podemos partilhar nossos segredos profundos e escuros, e ainda alguém que pode partilhar novas idéias conosco e nos oferecer direção quando pedimos. Isso é verdade tanto para aqueles de nós que são novos ao programa, como para o membro que já acumulou algum tempo limpo. Mais importante para muitos de nós, nosso padrinho/madrinha é a pessoa para quem podemos ligar quando temos vontade de usar.

“Não acordei um dia e disse: ‘Puxa, acho que gostaria de

tornar minha vida muito melhor escrevendo um

inventário, fazendo algumas reparações ou entregando

minha vida e minha vontade aos cuidados do meu Poder Superior...’ quando nunca

tinha feito nenhuma dessas coisas antes. Precisava de

alguém que estava do lado de fora do meu processo de

tomada de decisões para me dar um empurrão que eu

precisava na direção certa”.

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“Lembro quando escolhi meu primeiro padrinho. Precisava achar aquela pessoa em quem podia confiar 15 minutos antes de usar ou 15 minutos depois

de ter usado. Em quem poderia confiar nesse nível? Não queria saber sobre os

passos. Era para eu ir preso por muito tempo. Ele me disse ‘Se é para você ir preso, talvez

é onde deveria estar.’ Eu queria responder ‘Quem pediu a sua opinião’? mas pedi para que ele fosse meu padrinho.

Precisava que ele me dissesse isso. Era exatamente o que eu

buscava”.

Muitos de nós escolhemos nossos padrinhos pela honestidade ou profundidade de suas partilhas. Podemos ter históricos ou outras características em comum, permitindo que confiemos mais nas sugestões que eles oferecem. Às vezes, temos simplesmente um sentimento intuitivo que alguém é o padrinho certo para nós. Freqüentemente, um elo especial se forma, que pode nos levar a ter uma

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profunda conexão espiritual com nosso padrinho.

“Acredito que minha madrinha

hoje (e há sete anos) foi enviada por Deus! Nos conhecemos em uma

convenção. Ela pediu que ficasse junto com ela, e

ficamos conversando o final de semana inteiro. Até o

sábado de manhã, eu sabia que queria que essa pessoa

me guiasse em minha recuperação. Mais tarde

naquela noite, ela me desafiou abertamente quando deixei passar um comportamento

inadequado que estava tolerando há tempos, de um membro do meu grupo de

apoio. Fiquei chocada! Ela mal me conhecia. Mas, na verdade, ela me conhecia

melhor do que qualquer outra pessoa que eu tinha

conhecido. Ela ainda é a mulher que quero ser quando eu crescer. Mas nunca quero

me vestir como ela!”

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“Para mim, meu padrinho é

aquela pessoa a quem posso levar minhas perguntas pessoais – aquelas que

poderiam me envergonhar ou aquelas de natureza muito

particular. Posso ir a reuniões e coletar experiência, força e esperança da irmandade, mas

quando preciso de atenção especial, meu padrinho é o

adicto em recuperação especial enviado pelo Deus da

minha compreensão”.

“Alguns meses antes do meu terceiro ano limpa, minha

madrinha se mudou para outra cidade, em busca de sua

carreira. Mais uma vez, tinha a tarefa de achar outra

madrinha. Escolhi uma mulher que havia me

confortado uma noite quando eu estava mal. Ela parecia segura e confortável. Não pensei em minha decisão

antecipadamente; simplesmente perguntei se ela havia trabalhado os passos e

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depois pedi que fosse minha madrinha. Ela ficou

maravilhada’.

Quando chegamos ao programa, um padrinho pode facilitar o processo de ficarmos confortáveis com fazer parte da irmandade de NA. Nosso padrinho pode nos apresentar a outros membros que têm mais tempo limpo ou que tiveram experiências de vida semelhantes. Trabalhar com um padrinho pode nos ajudar a entender aspectos do programa que podem ser confusos para nós: que tipo de coisas queremos partilhar nas reuniões e o que é melhor ser discutido particularmente, quando estamos prontos para aceitar certos compromissos, e assim por diante. Desenvolver um relacionamento com um padrinho pode nos fazer sentir parte de algo maior do que nós.

“Fiquei limpo numa pequena

área de NA. Só tínhamos sete reuniões naquela época, então

muitos dos membros eram bem próximos. Era como uma família grande e no início me

senti um estranho. Meu

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padrinho me convidava para ir quando o grupo saia para tomar café ou comer. Ele

sempre me incluía nas conversas. Foi tão

confortante que logo comecei a me sentir parte do grupo. Foi a primeira vez que senti

que pertencia”.

“Quando eu era nova no programa, minha madrinha me

convidou para uma das reuniões do comitê de serviço que traduzia literatura de NA para nossa língua. Eu fui e

descobri que gostei do serviço e das pessoas prestando o serviço. Me tornei membro

regular, como minha madrinha. Aprendi a trabalhar com outros, e logo, muitas das

pessoas no comitê se tornaram meus amigos. Senti que fazia parte da irmandade e

aprendi muito a respeito”.

Apadrinhamento é tão vital para membros que estão na irmandade há vários anos quanto para aqueles que são

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novos no programa. Enquanto o programa de Narcóticos Anônimos pode ser simples, seus princípios têm uma riqueza que se aprofunda conforme nossa recuperação amadurece. Assim como nossa doença é progressiva, nossa recuperação também é. Quanto mais tempo ficarmos limpos e trabalharmos o programa, mais ferramentas teremos e mais rica nossa vida espiritual pode ser tornar.

“Continuando a ficar limpo em NA, vim a acreditar que uma

das minhas responsabilidades em ser um adicto em

recuperação é crescer através do aprendizado de novas

idéias e experimentando-as através de ação”.

“Quanto mais tempo fico

limpa, mais mágicos e místicos os passos se tornam. É como olhar as nuvens e vê-las se tornarem centenas de rostos e imagens. Vejo os passos assim – mudando

conforme cresço e evoluo em minha recuperação. Estou

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fazendo os passos novamente com minha nova madrinha, e

sei que será uma jornada emocionante. Rezo para que eu nunca veja os passos ou a

mim mesma como um trabalho ‘completo’”.

“Quando era novo em NA,

pensava sobre mente-aberta somente em termos de meu sistema de crenças. Era um ateu evangelista, e tinha que

trabalhar duro para ouvir com mente aberta o que os outros tinham a dizer em reuniões.

Agora, anos depois, meu padrinho me ajudou a ver que mente aberta vai muito além

de minhas idéias a respeito de Deus ou um Poder Superior,

englobando idéias sobre o que me faz feliz, o que quero para mim, meus sonhos, e assim por diante. Amo minha vida hoje, e nada nela é como eu

poderia ter imaginado ou sonhado para mim se eu não

tivesse aprendido a me abrir a possibilidades novas”.

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Membros com tempo limpo razoável podem se ver tão vulneráveis quanto recém-chegados ao encarar certas incertezas em suas vidas. Tempo limpo não significa sempre que um membro entende facilmente os princípios do programa de NA. Nossa doença não some, e não somos libertados dos problemas da vida simplesmente porque estamos limpos há alguns anos. Ter um padrinho durante tempos difíceis tem valor enorme.

“Após sete anos sólidos de trabalhar o programa e os

passos com um padrinho, eu lentamente - mas

eventualmente – parei de ligar para meu padrinho. A próxima

coisa que eu sei, estou num hotel em uma cidade

conhecida por seu brilho e jogatina com estranhos que

estão se drogando. Tudo isso aconteceu com nove anos

limpo, mas eu não tinha um padrinho, e obviamente não tinha um programa. Estava

verdadeiramente perdido. Meu padrinho (hoje) partilhou

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comigo que meu Poder Superior me ama muito e que eu fui o cara mais sortudo por sobreviver a minha jogatina

sem desastre!”

“Houve épocas em recuperação onde me sentia perdida ou abandonada ou como se tivesse perdido

minha conexão com Deus e NA. Mas eu fui ensinada que a porta está sempre aberta. E, às vezes, é uma madrinha ou um amigo muito próximo que estende a mão para mim e me

leva de volta “para casa”. Sempre reagi bem à amizade e

carinho das pessoas. Acho que passei tanto tempo nos

meus dias de uso me machucando que quando cheguei a NA totalmente

quebrada e cabisbaixa, o que realmente precisava era me

sentir amada e aceita independente de quem eu era

ou o que tinha feito”.

Muitos membros olham ao padrinho para ajuda em aceitar os desafios e

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obstáculos que às vezes nos encaramos enquanto aprendemos a viver uma vida limpa. Um padrinho pode oferecer sugestões sobre como lidar com “os destroços de nosso passado” e os desafios de nosso presente.

“Quando minha irmã morreu de overdose há cinco meses, estava arrasado pela perda. Meu padrinho escutou sobre minha dor e disponibilizou tempo para mim quando eu

precisei. Moramos a 640 quilômetros um do outro, mas

quando eu ligava para ele parecia que ele estava ali ao meu lado. Ele apareceu de surpresa no funeral dela só

para me apoiar. Sei que largar tudo e pegar um vôo para

estar ali apoiando alguém não está na ‘descrição do encargo’

de um padrinho, mas nunca encontrei as palavras para

dizer o quanto significou para mim tê-lo perto naquele

momento e quanto me ajudou a atravessar meu luto”.

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“Estava à beira de um desastre financeiro quando

minha ex-esposa me processou por pensão

atrasada. Meu padrinho me ajudou a reconhecer a

importância de encarar o passado, fazer reparações

com restituição financeira, e me tornar livre para o meu

futuro”.

Partilhar intimamente com outro membro igual a nós ressalta o fato de que os sentimentos e as experiências que temos não são tão únicos. Freqüentemente, um padrinho trilhou o mesmo caminho que um afilhado e pode partilhar seu conhecimento e experiência a respeito da situação. Isso, por sua vez, pode ajudar o afilhado a evitar algumas das armadilhas que o padrinho já experimentou.

“Quando estava com dez anos

limpa, estava passando por dificuldades da meia-idade em relação à minha sexualidade.

Precisava de uma nova madrinha, mas conhecia

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pouquíssimas pessoas que tinham passado por esses

problemas e que tinham mais tempo limpas do que eu.

Então pedi a uma mulher que tinha um ano a menos em

recuperação, mas tinha dez anos a mais de idade e tinha

acabado de passar pela mesma coisa que eu. Ela tinha procurado por amor em todos

os lugares errados e havia aprendido a amar com

responsabilidade”.

Apadrinhamento pode ter um papel crucial no Segundo Passo; muitos creditam o apadrinhamento como fator importante em vir a acreditar que podemos ser devolvidos à sanidade. Isso não significa que um padrinho é como um Poder Superior, mas sim que o apadrinhamento nos guia nas nossas tomadas de decisão e auto-compreensão. Nossos padrinhos podem nos ajudar a obter uma perspectiva melhor sobre nós mesmos e nossas vidas. Isso pode ser um dos benefícios de ter o mesmo padrinho por um período longo de tempo; conforme os anos vão passando, eles nos conhecem cada vez melhor.

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“Minha madrinha me ajudou a compreender que

‘incontrolável’ não se aplicava somente a coisas ‘externas’,

mas também à maneira que eu me sentia. Ela me ensinou a respeito de insanidade e me ajudou a ver onde eu estava tentando fazer as mesmas

velhas (e ineficazes) coisas para resolver meus problemas.

Ela fazia isso de forma amorosa, sem pisar nos meus

calos”.

“Após muitos anos limpo, eu entrei numa briga física e logo

desenvolvi uma série de medos. Achei que havia

progredido além desse tipo de comportamento. Meu

padrinho me lembrou que eu sou um trabalho em

andamento. Ele me ouviu e me trouxe de vota aos passos.

Me vi indo em direção à solução e não mais preso no

problema”.

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“Meu padrinho é aquele que ajuda a segurar a lanterna

espiritual para mim”.

As razões pelas quais adictos procuram padrinhos são inúmeras; porém, vemos que o que nos une é que todos buscamos recuperação. Muitos de nós valorizamos nossos relacionamentos em NA, e particularmente os relacionamentos com nossos padrinhos, pelas formas nas quais eles são, às vezes, diferentes de nossos relacionamentos fora do programa. O princípio espiritual de anonimato assegura que somos todos iguais dentro das salas de NA. Os princípios de nosso programa muitas vezes podem nos ajudar a encarar e ultrapassar nossos problemas de maneira produtiva e responsável. Podemos ficar unidos e saber que não temos que enfrentar os desafios sozinhos.

“Anonimato – a condição de

não ter nome – é essencial nos meus relacionamentos de

apadrinhamento. Uma sólida compreensão da Décima

Segunda Tradição significa

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compreender o anonimato em vários níveis (deve ser importante – não só é o

alicerce espiritual de todas as nossa tradições, é metade de nosso nome). Um é que não divulgamos os segredos dos

outros. Outro, mais importante para mim, é que

somos todos, em alguns sentidos, iguais. Meu

padrinho não é uma pessoa melhor ou um adicto melhor

do que eu; tenho tanto quanto, ou até mais, para aprender de meus afilhados do que eles de

mim”. Como sabemos se alguém tem “o que nós queremos”?

Narcóticos Anônimos não tem regras rígidas a respeito da seleção de um padrinho. No entanto, queremos manter em mente algumas qualidades básicas. Uma dessas é encontrar alguém com quem nos identificamos e que “tem o que nós queremos”. Muitos membros procuram por um padrinho, que eles sentem que irão aceitá-los e respeitá-los não importando o que possam partilhar.

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Alguns membros simplesmente querem um guia através dos passos, enquanto outros tentam encontrar um padrinho que será seu companheiro e amigo. O que buscamos num padrinho no início de recuperação pode ser diferente do que buscamos mais adiante em recuperação. É importante nos perguntarmos não só o que queremos para nossa vida e recuperação, mas também o que sentimos que precisamos. Como com qualquer outro elemento de nossa recuperação, podemos sempre buscar orientação de nosso Poder Superior para tomar uma decisão.

“Não quero um padrinho que tem o que eu quero; quero um

padrinho que tem o que eu tenho e sabe viver com isso”.

Para alguns, o relacionamento do

padrinho em potencial com o programa é a consideração mais significativa. Eles procuram alguém que vai às reuniões, participa no serviço, trabalha os passos, tem um padrinho/madrinha, e é comprometido com o programa. Encontrar um padrinho com mais tempo limpo também é importante para muitas pessoas. Aqueles que são novos no

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programa, especialmente, provavelmente deveriam procurar por um membro mais experiente como padrinho, a não ser que não haja tais indivíduos em sua comunidade.

Além de olhar o que as pessoas fazem por sua recuperação, podemos considerar outras qualidades pessoais. Alguns procuram primeiramente por um membro que é honesto e íntegro, e que tem mente aberta. Para alguns, é mais importante encontrar alguém amistoso e disponível que é respeitoso e confiável. Outros explicam que achar alguém divertido é tão importante quanto o resto.

Uma lista das considerações poderia continuar interminavelmente, e, é claro, ninguém terá todas essas qualidades. Porque nosso padrinho é humano, ele ou ela terá qualidades e defeitos. Podemos achar alguém que tem apenas uma (ou nenhuma) dessas qualidades, mas que, independente disso, é o padrinho perfeito para nós. Como determinamos exatamente quais características sentimos que são necessárias depende inteiramente de nós. Alguns de nós podemos querer alguém que nos direciona firmemente, por exemplo,

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enquanto outros podem procurar por alguém que nos deixará tomar nossos próprios tombos. Quando somos novos, muitos pedimos à pessoa que nos faz sentir mais bem-vindo. Escolher um padrinho é nossa decisão.

“Uma vez cheguei a um padrinho com uma lista de

problemas que queria que meu padrinho abordasse. Queria

alguém cuja visão do programa era semelhante à minha. Queria alguém que

tinha lidado com os mesmos tipos de problemas que eu tinha. Queria alguém que

fosse gay como eu. Queria alguém que tinha mais tempo limpo do que eu, etc. etc. etc. Enquanto essas expectativas não pareciam exorbitantes,

não consegui encontrar ninguém que preenchia os

requisitos. Depois de vários meses, conheci um cara numa

reunião, e sem nem saber nada sobre ele, pedi que ele

fosse meu padrinho. No final,

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ele preenchia cada um dos meus requisitos pré-

determinados. Era mais uma ocasião que os planos de

Deus eram melhores que os meus. Eu tinha apenas que

sair do caminho”.

“Eu olhava bem as pessoas, pois às vezes o que elas dizem não combina com como elas vivem. Tinha tanto medo de

rejeição que tinha uma lista de três pessoas que eu poderia

pedir caso uma me rejeitasse. O companheiro que eu

finalmente pedi tinha uma barba cinza e a aparência que eu achava que um padrinho

deveria ter. Ele tinha alguma coisa que eu gostava. Quando

pedi que ele fosse meu padrinho, ele disse que iria

perguntar ao padrinho dele se ele devia me apadrinhar. Faço

a mesma coisa hoje quando alguém me pede para ser seu

padrinho”.

“Eu já sou muito duro comigo mesmo, então para mim, a

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coisa mais importante tem sempre sido encontrar um

padrinho gentil. Nos primeiros dez anos de minha

recuperação, não conseguia encontrar alguém que

preenchia todos os ‘ideais’ em minha lista de padrinho ideal.

Simplesmente não tinha homens em minha área com

mais tempo limpo, estabilidade emocional e um

bom senso de humor. O único homem que preenchia essa descrição era, ironicamente, meu afilhado, então tive que

decidir o que era mais importante para mim e fazer

concessões”.

Examinar nossos motivos para considerar alguém na escolha de um padrinho também é uma boa idéia. Quando muitos de nós chegamos às portas do NA, estávamos quebrados fisicamente, mentalmente, emocionalmente e espiritualmente, e freqüentemente necessitados financeiramente. Como recém-chegados ao programa de NA, podemos ser atraídos a outros membros por causa de

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suas posses ou sua aparência. Podemos ver seu “dinheiro, propriedade e prestígio” como medida de seu status e sucesso em recuperação. Podemos não compreender inteiramente que o programa de NA é trabalho interior e suas recompensas têm mais a ver com crescimento espiritual e paz mental do que estilo de vida e bens materiais.

“Minha primeira madrinha

tinha um carro novo, se vestia bem, e tinha uma casa

maravilhosa. Achei que ela me mostraria como conseguir todas essas coisas, mas ela me levou aos passos e um despertar do meu espírito”.

“Procurava alguém que tinha o

que eu queira: a maior quantidade de jóias, o melhor

carro, e mais mulheres. Descobri depois que eu

deveria arrumar um padrinho com o que eu precisava –

aceitação!”.

Alguns membros tem tido experiências de relacionamento difíceis

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com relacionamentos familiares, amorosos, no trabalho, e outros membros da sociedade antes de entrar em recuperação. Às vezes sentimentos como carência ou desespero podem nos tornar hesitantes a cometer os mesmos erros do passado, ou podem nos encorajar a desenvolver novos relacionamentos que parecem iguais aos antigos. Quando escolhemos um padrinho, podemos não identificar que tipo de relacionamento de apadrinhamento será melhor para nossa recuperação.

“Meu primeiro padrinho era

muito rígido, e pensei que isso tornaria mais fácil para eu

introduzir disciplina em minha vida, como a criancinha que faz a coisa certa porque tem medo dos pais. Na verdade

essa é a forma que eu fui criado, e estava acostumado ao abuso e ser forçado a me provar. Esse relacionamento durou dois encontros, e eu acabei chorando no meu

grupo de escolha, me sentindo quebrado por causa de sua

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crítica severa e controle. Me senti rejeitado”.

“A verdade é que, quando era nova no programa, queria uma madrinha para que as pessoas parassem de me dizer que eu

precisava arrumar uma. A mulher que pedi para ser

minha madrinha era, de muitas maneiras, meu oposto, e achei

que era isso que eu deveria querer. Era baixinha, loira e estava sempre sorrindo. Eu

gostava de seu namorado, que era médico. O cabelo dela

nunca estava fora do lugar, e ela era muito determinada, que

eu achava legal. E, ela tinha mais que cinco anos limpa e

não me tratava come se fosse idiota. O problema é que éramos tão diferentes que

nenhuma das duas conseguiu aprender a entender a outra. A

frase que ela mais usava comigo era ‘Estou tentando te entender, realmente estou.’,

frustrada. Mas ela nunca conseguia. E eu não lembro

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de ela ter mencionado os passos para mim, mas ela me deu um monte de sugestões práticas úteis – mais do que

eu sabia na época”.

Achar um padrinho pode ser um dos compromissos mais importantes que faremos em recuperação. Precisamos fazer todo esforço possível para olhar para dentro de nós mesmos, não importando a dificuldade de manter a objetividade. É claro, que porque essa escolha é tão pessoal e há tanta diversidade entre nossos membros, algumas considerações podem não ser tão importantes quanto outras para nós. Por outro lado, podemos sentir que certas características de personalidade, não mencionadas aqui, são cruciais. Independente, é importante lembrar que um padrinho é um ser humano que pode errar.

“A tendência de colocar padrinhos, especialmente aqueles que apadrinham

muitas outras pessoas, em pedestais, isola

profundamente esses membros. A primeira vez que

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perguntei para uma pessoa como era ter muito tempo

limpo, ele respondeu ‘solitário’”.

“Eu escolhi minha madrinha

porque ela partilhou sobre ser humana e cometer erros, e eu achei que isso significava que ela teria que ser gentil comigo se eu não fosse perfeita. Sua filha estava na adicção ativa, e

a luta obsessiva de minha madrinha para administrá-la freqüentemente significava

que ela não estaria emocionalmente disponível ou que ela não retornaria minhas ligações quando queria que o fizesse. Aprendi a depender de outras pessoas para me

apoiarem nessas horas, pois ela era quem eu queria que

fosse minha madrinha. Apesar de ser imperfeita, às

vezes louca, em minha opinião ela era gentil e amorosa e era

disso que eu precisava”.

Muitos de nós achamos que ajuda ter um sentido de nossas próprias

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expectativas para o relacionamento de apadrinhamento e para ser direto a respeito dessas expectativas quando pedimos para alguém ser nosso padrinho. Para aqueles de nós que são novos no programa, isso pode ser mais difícil. Pode levar algum tempo no programa para desenvolver esse tipo de compreensão. No entanto, se, como um membro novo, precisamos de mais tempo e atenção de um padrinho, temos que aprender a pedir. Podemos querer perguntar a padrinhos em potencial se podemos ligar tarde à noite se queremos usar, e quais são suas expectativas se recairmos (eles ainda irão nos apadrinhar?). Aqueles de nós com algum tempo limpo estabelecido também têm que pedir o que precisamos. Se buscarmos ajuda com um passo ou tradição, como lidar com um encargo de serviço ou com uma situação de vida, podemos discutir essas necessidades com um padrinho em potencial.

“Quando pedi que minha atual madrinha me

apadrinhasse, falei com ela sobre confidência. Ela é a

melhor amiga de minha chefa, e eu precisava saber

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que poderia falar com ela sobre o trabalho com certeza de que minha

confidência seria mantida, e que ela se sentiria

confortável com isso. Ele deixou claras suas

expectativas e também me explicou que só porque era

minha madrinha, não significava que seríamos

melhores amigas. No final, nos tornamos boas amigas

(apesar de seu ‘aviso’)”.

Ao aprendermos a arriscar e superar nosso medo, podemos desenvolver a habilidade de expressar nossas necessidades. Isso é uma ferramenta que podemos usar em todos nossos relacionamentos ao crescermos em recuperação. Nossa experiência tem mostrado

Enquanto a maioria dos membros de nossa irmandade podem concordar entre si sobre vários aspectos de apadrinhamento, NA como um todo não tem opinião sobre muitos assuntos polêmicos a respeito de apadrinhamento.

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Nossos membros individuais, porém, freqüentemente desenvolvem crenças fortes e em muitos casos, sentem que há uma maneira “correta” para abordar o apadrinhamento. Entretanto, é importante que nós, como uma irmandade, não façamos que qualquer grupo de membros se sinta excluído ou defender a idéia de que um método de praticar o princípio de apadrinhamento é melhor que outro. Padrinhos múltiplos

A maioria de nossos membros sente que é importante ter somente um padrinho. Esses membros têm visto que ter um padrinho ajuda a manter as coisas simples e minimizar o risco de escolher entre várias respostas que recebemos; um padrinho é como um “único ponto de decisão e responsabilidade” explicado no quinto conceito. Alguns membros, no entanto, têm tido sucesso com mais de um padrinho. Às vezes circunstâncias especiais, como serviço, doença ou divórcio, motivam membros a procurar alguém com experiência semelhante para apadrinhar ou guiá-los, além de seu padrinho de muito tempo.

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“Não era para eu ter dois padrinhos, mas acabei

nessa situação por uma semana, e foi muito

confuso. Os dois queriam que eu fizesse coisas

opostas. Um queria que eu continuasse com o Quarto Passo, e o outro queria que eu recomeçasse o Primeiro

Passo”.

“Ter dois padrinhos era confuso no começo, mas

me ajudou a decidir o quão honesto eu realmente queria ser; o que eu

pensava, acreditava, sentia; o que era importante –

honestidade, integridade, viver com princípios, etc.

No início, tinha saídas com os dois – se um tentasse

me confrontar sobre algum defeito e não estava pronto, eu diria ‘Ah, estou cuidando dessa parte com meu outro padrinho’. Paguei o preço. Demorou mais para eu me enxergar, mas acho que o

processo aconteceu no

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tempo de Deus. Aprendi tanto por ter tido dois

padrinhos que só posso dizer que foi positivo”.

“Achei uma madrinha antes até de ficar limpa. Ela me trouxe às reuniões, e eu comecei a trabalhar os

passos o melhor que podia. Assim que fiquei limpa, me

interessei muito pelo serviço, mas minha madrinha não tinha

experiência nessa área, então arrumei uma

‘madrinha de serviço’, que me guiou nessa área do meu programa. Quando

completei três meses limpa, tinha quatro encargos de

serviço que tomavam todo meu tempo. Estava

sobrecarregada e queria desistir de tudo. Minha madrinha de serviço me

ajudou muito. Ela disse que uma vez que tivesse me

comprometido com o serviço, tinha que

completar o encargo ou

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achar um substituto. Achei um substituto para uma de

minhas posições, mas completei os outros

encargos. Essa experiência realmente ajudou que eu me

desenvolvesse na pessoa que sou hoje. Nenhuma

dessas mulheres é minha madrinha hoje, mas sou

amiga das duas, e sou grata pela orientação que elas me

deram nas áreas diferentes”.

“Quando entrei em

recuperação, tinha um padrinho em NA e um em AA. Logo, o que estava

ouvindo de meu padrinho do AA não condizia com o que ouvia do padrinho de

NA. Então, larguei o padrinho de AA e só usei o de NA. A lição que aprendi era que se quero aprender carpintaria, preciso falar com um carpinteiro. Se

quiser aprender a consertar carros, devo falar com um

mecânico. Se quiser

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aprender como viver o programa de NA, preciso

um padrinho de NA”. Apadrinhamento temporário

Em algumas regiões, uma prática denominada apadrinhamento “temporário” ou de “transição” é comum, especialmente para aqueles novos no programa. Às vezes instituições obrigam seus pacientes a arrumar um padrinho temporário. Um padrinho temporário ou de transição é alguém que pode trabalhar conosco até encontrarmos uma pessoa que sentimos que podemos pedir para ser nosso padrinho. Podemos também pedir que alguém seja nosso padrinho temporário quando temos uma circunstância impedindo que nosso padrinho esteja disponível por um período de tempo: se, por exemplo, nosso padrinho está doente ou temos que nos mudar por um período de tempo. Apesar dessa pratica ser popular em algumas regiões, ela é desencorajada em outras. Alguns membros sentem que ter um padrinho temporário indica falta de compromisso ou reservas. “Essa doença não é temporária”, eles explicam.

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“Meu primeiro padrinho temporário durou quatro

anos”.

“Tive relacionamentos temporários suficientes; é

hora de aprender a ter relacionamentos permanentes”.

“Meu centro de tratamento me

obrigou a ter um padrinho, então pedi à primeira pessoa que encontrei numa reunião que fui quando internado.

Ambos estávamos cientes que o acordo era temporário”.

Gênero

O gênero de nosso padrinho/madrinha – isso é, se eles deverão ser do mesmo sexo que nós - é outra área na qual opiniões variam de comunidade em comunidade e adicto para adicto. Muitos adictos sentem fervorosamente que um padrinho/madrinha do mesmo sexo pode melhor ajudá-los a trabalhar certas dificuldades e mais facilmente identificar-se com eles e sentir empatia. Outros não

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vêem o sexo como um fator determinante em trabalhar as questões de recuperação ou estabelecer empatia. Em algumas comunidades pequenas de NA, o número de padrinhos locais em potencial pode ser limitado, influenciando as escolhas dos membros nesse sentido. Independente do que decidirmos a respeito do sexo de nosso padrinho ou madrinha, devemos tomar cuidado para que a atração sexual não se torne parte de nosso relacionamento de apadrinhamento.

“Tenho um padrinho amoroso e bondoso do mesmo sexo porque só posso partilhar

algumas das coisas em minha vida que dizem respeito ao

sexo oposto com alguém que se identifica. Por exemplo, ele

compreende minhas dificuldades de comunicação

com minha ex-mulher. Ambos temos filhos que moram com nossas ex-mulheres, e ambos temo experiência com tentar

fazer isso funcionar”.

“Como homem gay, tenho tido alguns tipos diferentes de

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padrinhos. Fui apadrinhado por outro homem gay, uma

mulher gay, um homem heterossexual, e uma mulher

bissexual. Acredito que o sexo de meu padrinho só é

importante no seguinte sentido: que ninguém deve ser apadrinhado por alguém, onde

qualquer nível de tensão romântica ou sexual existe”.

“Preciso de uma madrinha

mulher não só por causa de dificuldades com atração

sexual, mas principalmente para aprender a confiar, gostar de, e amar alguém do mesmo gênero que eu, e confiar em mim mesma como mulher”.

“Sempre tive padrinhos do

sexo oposto porque quando entrei em recuperação, a irmandade estava apenas

começando no meu país, e não havia mulheres em recuperação. Acho que

apadrinhamento pelo sexo oposto pode funcionar quando

o único propósito é

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recuperação. Minha própria experiência é que eu me

aproximei de um membro por quem eu sentia atração, com a

intenção de pedir que ele fosse meu padrinho.

Felizmente, ele me rejeitou, dizendo que sentia atração por mim e não seria meu padrinho.

Sugeriu que eu procurasse outra pessoa. Me senti muito

magoada pela rejeição; nenhum homem jamais me

rejeitou antes, mas foi a primeira lição em dignidade que recebi nos grupos de Narcóticos Anônimos”.

“Quando entrei em

recuperação e procurava um padrinho, alguém explicou

para mim que ‘Recuperação não e sexualmente

transmitida’; não escolha alguém por quem sente

atração’”.

“Percebi que desde minha infância, homens eram

competidores – por atenção, em esportes, por mulheres, no

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trabalho por uma posição, salário, etc. Agora, preciso vê-los com outros olhos. Preciso

vê-los como amigos e confidentes em vez de

competidores. Isso demorou um tempo. Mas uma vez que superei o medo de intimidade

com um homem, minha recuperação deslanchou.

Acredito que essa intimidade é muito importante para o

relacionamento padrinho/afilhado”.

“Quando tinha quatro meses limpa, pedi para um homem

ser meu padrinho. Era minha forma de rebelar; afinal, homens e mulheres são

iguais, disse a mim mesma. Achei que a sugestão de

apadrinhamento do mesmo sexo só tinha a ver com sexo. Meu padrinho emprestava meu

dinheiro e não me pagava depois. A gota d’água foi

quando descobri que ele não pedia dinheiro a seus

afilhados homens, e eu percebi que homens e

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mulheres se manipulam de várias outras formas além de

sexualmente”. E se eu não puder achar um padrinho de NA?

Às vezes não conseguimos achar um padrinho imediatamente. Especialmente em comunidades mais novas ou menores de NA, pode haver poucos membros com tempo limpo significante. Em tal situação, alguns membros tem tido que achar padrinhos em outras irmandades de Doze Passos ou pela Internet, e alguns têm usado co-apadrinhamento (uma situação na qual cada pessoa apadrinha a outra) para ajudá-los em sua recuperação. Alguns desses arranjos funcionam e duram por muitos anos.

“Não tinha nenhuma outra mulher em recuperação com minha quantidade de tempo limpo, então procurei uma madrinha no exterior para

trabalhar os passos tradições e conceitos. Quando pedi à mulher, ela disse que tinha o mesmo problema e sugeriu o co-apadrinhamento. Desde

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então, nos comunicamos via e-mail, correio e telefone. Por

agora, está funcionando”.

“Como moro numa comunidade de NA pequena, onde não há mulheres com mais tempo do que eu, fui a

outra irmandade buscar uma madrinha. Ela me ajudou com os passos e me amadrinhou

por alguns anos. Mas, aí percebi que eu estava muito

mais envolvida em trabalhar o programa do que ela. Ela

também parou de ir às reuniões. Percebi que tinha

que encontrar outra madrinha, e comecei a procurar em um

país vizinho”.

“A maioria de minha comunicação com meu

padrinho ocorre on-line. Nos escrevemos regularmente.

Escrever nos dá tempo para pensar entre comentários e

isso realmente dá bons resultados. No telefone posso

enrolar por horas dentro da minha doença, mas escrever

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me dá estímulo para ser mais preciso e mais direto. E nós dois nos beneficiamos de ter

nossas conversas por escrito. Claro, meu serviço de e-mail é através do meu trabalho, então

é uma dádiva e também uma dificuldade. Significa que meu

chefe tem acesso a todas as conversas com meu padrinho.

É importante que eu lembre que e-mail não é uma forma anônima ou confidencial de comunicação; há algumas

coisas que simplesmente não posso discutir on-line”.

Independente de...?

Em NA, aprendemos que as qualidades particulares ou filiações de nossos membros como indivíduos, não afetam seus direitos a ser membro de NA e status como adicto em recuperação. Nosso Texto Básico explica que qualquer um pode ser membro de NA independente de sua raça, religião, identidade sexual, idade, etc. No entanto, alguns adictos se perguntam se eles deverão considerar estes fatores quando escolherem um padrinho; eles deverão

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procurar alguém com crenças políticas ou religiosas semelhantes, ou etnia e status sócio-econômico semelhante, e uma cultura ou passado semelhante? Enquanto alguns adictos procuram um padrinho que é igual a eles em algumas dessas características, muitos outros têm visto que esses aspectos quase não têm importância frente a trabalhar um programa espiritual, e alguns, na verdade, buscam alguém que não é semelhante a eles.

“Conheci meu padrinho por sete anos antes de pedir que ele fosse meu padrinho. Nos

primeiros cinco anos, dividimos o mesmo padrinho. Ele já tinha me apadrinhado por mais de um ano antes de

descobrir que ele era rico. Não acredito que eu teria

pedido para ser meu padrinho se soubesse de antemão

sobre seu status econômico. Sou grato por ter tomado

conta do interior dele antes de o julgar por seu exterior”.

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“Em minha adicção, fui ensinado a odiar todas as

religiões e tons de pele que não fossem os meus. Em

recuperação, fui atraído por um padrinho ministro. Ele me ensinou, por exemplo, que em

NA o espírito de anonimato poderia substituir todos os meus julgamentos; minha

intolerância foi substituída por amor, paciência e tolerância”.

“Minha madrinha e eu éramos

diferentes radicalmente em termos de cultura e morais. Viemos de partes diferentes

do país, religiões diferentes e classes sociais diferentes.

Então havia muitas coisinhas estranhas que não

compreendíamos uma sobre a outra. Cheguei a esperar e até

me divertir com a pergunta ‘Isso é uma diferença cultural

ou um defeito de caráter?’ Falamos muito sobre a Quarta

Tradição porque ser sua afilhada não significava que eu teria que me tornar igual a ela

– significava que ela me

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ajudaria a me tornar mais e mais como mim mesma.

Autonomia significava não ser igual, não confundir unidade

com uniformidade”.

“Fiquei limpo na cidade. A raça do meu padrinho era

diferente que a minha. Não enxergava cores nem bairros. Só me lembro de sentir tanta

dor e lutar tanto para não usar drogas, e esse adicto dizendo sim quando pedi que ele fosse meu padrinho. Como eu vejo,

as drogas não foram impedidas pelas fronteiras da

cor, então porque minha recuperação devia ser?”

“Se eu esperasse por um

homem da mesma raça entrar nas salas para arrumar um padrinho, estaria usando

agora”.

“Tive que trocar de madrinha, pois a minha não conseguia

me dar sugestões sem a influência de sua crença particular sobre Deus”.

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“Como afilhado, minha maior dificuldade foi pedir que meu

atual padrinho norte americano me apadrinhasse.

Tinha que superar meu julgamento, assim como barreiras de linguagem e

distância. Meu relacionamento com ele é principalmente através da

Internet. Aprendi que a linguagem do amor é mais

forte do que qualquer barreira”.

Como cada um de nós encara essas

várias diferenças não é certo nem errado; é simplesmente como nós, membros individuais de NA, encaramos essas diferenças. Enquanto os princípios espirituais de unidade e anonimato expressados nas tradições enfatizam nosso elo comum como adictos em recuperação, também valorizamos o princípio espiritual da autonomia, que protege nossa diversidade. Em NA, valorizamos nossa unidade, mas não buscamos uniformidade.

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Estendendo a mão

Pedir que alguém seja nosso padrinho pode ser assustador. Como membros novos, podemos nos sentir amedrontados pelo tempo limpo de outro membro ou acreditar que de alguma forma somos mais doentes do que os outros. Nossa auto-estima pode ser tão baixa que acreditamos não ser merecedores de um padrinho. Por outro lado, nossa arrogância e auto-suficiência podem nos impedir de admitir que sequer precisamos de ajuda e, como conseqüência, podemos resistir nos envolver com outro membro.

“Outra pessoa conseguiu meu primeiro padrinho para mim. Uma menina que conhecia na

clínica me apresentou seu namorado numa reunião. Ela me disse que achava que ele seria um bom padrinho para

mim. Eu disse que tudo bem e ele concordou. Ele foi meu padrinho por dois anos. Eu era tímido e não teria pedido

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sozinho. Teria tentado fazer parte fingindo”.

“Quando pedi que meu

padrinho me apadrinhasse, estava nervoso e duvidaria se ele teria tempo para mim. Eu o

via como o ‘grande Deus de NA!’ Como resultado, sempre

me sentia culpado quando pedia que passasse algum tempo comigo. Finalmente

partilhei meus sentimentos de culpa sobre tomar seu tempo. A resposta dele foi linda: ‘Não

ouse tirar meu direito de devolver o que me foi dado.’

Essa única frase fez mais para fortalecer o elo entre mim e

meu padrinho do que qualquer outro evento em nosso

relacionamento”.

“Conheci meu primeiro padrinho na minha primeira

reunião. Estava limpo há dois dias, e morava num prédio

abandonado. O primeiro cara que pedi me rejeitou. Eu era

muito bravo e ‘durão’ nos primeiros dias. Ninguém

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queria muito a minha companhia, mas eu não tinha mais aonde ir, então fiquei na sala. Eventualmente, fiquei

humilde o bastante para pedir a outra pessoa. Meu atual

padrinho é uma das pessoas mais importantes na minha vida. Ele era meu afilhado irmão – isso é, tínhamos o mesmo padrinho. Estamos

juntos há 18 anos”.

Recém-chegados não são os únicos que tem dificuldades em pedir que alguém os apadrinhe. Membros com bastante tempo limpo podem relutar em trocar de padrinho. Podemos precisar achar um novo padrinho por inúmeras razões. Conforme ficamos limpos e nos tornamos membros produtivos da sociedade, nossas vidas podem se transformar tremendamente. Após trabalhar com o mesmo padrinho há anos, podemos nos ver crescendo em direções diferentes. Responsabilidades de trabalho ou oportunidades de carreira podem fazer com que seja necessária uma mudança da atual comunidade de NA – ou nossa ou de nosso padrinho. Obrigações familiares podem encurtar o

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tempo que nosso padrinho tem para dedicar a nós. Nossos padrinhos podem ficar doentes, morrer ou até recair. Qualquer que seja a razão, podemos nos ver sem padrinho e saber que precisamos pedir a alguém. Muitos membros acham difícil a idéia de conhecer alguém novamente, num nível tão íntimo.

“Trabalhei duro para construir um novo relacionamento com um novo padrinho, apesar de

estar em luto do último. Não é fácil escolher um padrinho em quaisquer circunstâncias, mas pode ser especialmente difícil

após estarmos limpos por algum tempo. Tenho uma

idéia muito mais clara sobre quem eu sou e do que preciso (ou penso que preciso) agora do que quando era novo no

programa e achei meu primeiro padrinho. Isso faz

com que seja mais difícil lembrar que eu não posso apadrinhar a mim mesmo. Mas, significa também que posso trabalhar muito mais

conscientemente na

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construção desse relacionamento e que posso

lidar com problemas no relacionamento muito melhor

do que antes”.

Sabemos que podemos encontrar aceitação nas reuniões de NA que freqüentamos, mas alguns de nós evitamos pedir que outro membro nos apadrinhe por medo de rejeição. Podemos não querer perder aquela sensação de “fazer parte”. No entanto, não devemos nos negar a possibilidade de participar em um relacionamento enriquecedor simplesmente por causa de nossos medos.

“Com três anos limpa, me vi estagnando em recuperação. Não estava crescendo, e senti que precisava de outra mulher

para me guiar nos passos. Tinha medo de mudar de

madrinha, pois não queria perder sua amizade. Sabia, porém, que se eu quisesse crescer em recuperação,

precisaria de outra madrinha. Hoje, estou trabalhando os

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passos e crescendo em recuperação com a orientação

de minha nova madrinha”.

Independente do tempo que temos no programa, buscamos um padrinho de maneira semelhante, na maioria das vezes. Podemos começar por ir às reuniões e ouvir aos membros presentes. Se a partilha de alguém nos emociona, devemos chegar até eles, pegar o telefone deles e começar a ligar. Isso é uma boa maneira de conhecer outro membro, mesmo se nossa vida parece estar fluindo bem no momento e não temos nenhum problema a resolver. Podemos ainda falar com outros membros para ver se eles podem sugerir alguém como padrinho em potencial. Não precisamos estar no final de nossa corda para pedir ajuda.

Convenções, workshops, serviço, e outras atividades relacionadas a NA também são solo fértil para seleção. Ao escolher um padrinho, muitos de nós acham melhor usarmos nossa intuição, enquanto outros analisam e tomam essa decisão racionalmente. Podemos querer considerar ainda aqueles adictos que parecem estar interessados em nossa

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recuperação. É importante lembrar de ir com calma. Se alguém que pedirmos disser não, então continuamos nossa busca.

“Pedi para cinco ou seis homens, que disseram não,

serem meu padrinho, antes de meu primeiro padrinho aceitar. Tenho certeza que foi um Deus

amoroso me guiando para o padrinho certo”.

“Sou uma mulher muito orgulhosa, e quando a

primeira mulher a quem pedi disse que não podia ser minha madrinha, me senti sem valor nenhum e burra por ter pedido a ela. Mas, continuei pedindo

às pessoas, e finalmente minha persistência deu frutos. Finalmente pedi a uma mulher

que parecia saber como ter relacionamentos e pertencer a

NA, pois era isso que eu queria – e ela disse sim.

Acredito que eu sou o tipo de pessoa que valoriza coisas

difíceis de conseguir e provavelmente foi importante

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para mim - ter que dar duro para achar uma madrinha. As

outras coisas que minha experiência com persistência

me ensinou é viver a vida como a vida se apresenta”.

Em comunidades com poucos

membros de NA, podemos precisar buscar um padrinho à distância: alguém que conhecemos na Internet, através do serviço, em uma convenção ou outra maneira similar. Nem todos os membros acreditam que essa opção funcionará para eles, mas alguns de nós têm tido sucesso com tais relacionamentos, particularmente em comunidades pequenas de NA onde apadrinhamento à distância pode ser um elo vital para o resto da irmandade. Apadrinhamento à distância pode ser também uma solução para membros encarcerados ou aqueles de nós em hospitais ou instituições nas quais o contato pessoal é limitado.

“Conheci minha primeira madrinha nua reunião de

serviço regional, e apesar dela

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morar a mais de 100 quilômetros de distância, eu

queria o que ela tinha e estava disposta a fazer qualquer coisa para conseguir. A

distância entre nós tornou ligar difícil às vezes, mas

tenho um sistema de apoio maravilhoso onde moro, e nós

pudemos manter contato regular e trabalhar através de

encontros em oficinas, reuniões de comitês de

serviço e é claro, convenções! Chamávamos de recuperação na estrada. Sim, admito que

há momentos em que gostaria de encontrar minha madrinha

para tomar um café – NAQUELE MOMENTO! Mas,

escrevo, uso o telefone, e vou a reuniões regularmente, e tenho aprendido aceitação,

paciência, responsabilidades, e dádivas demais para escrever todas aqui”.

“A distância simplesmente desaparece quando ouço a voz de minha madrinha do outro lado do telefone. Sua

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experiência em viver o programa e os passos é o que eu quero dela. A chave é ter

outras mulheres à minha volta, mulheres que podem me ajudar a viver princípios

espirituais, me amar, e me dizer quando preciso ligar

para minha madrinha”. Desenvolvendo nosso papel como afilhado/afilhada

Podemos tomar várias medidas para assegurar que nosso relacionamento com nosso padrinho é enriquecedor e satisfatório. Grande parte do quanto ganhamos com apadrinhamento depende de nossa boa-vontade em ser apadrinhado. Quando abrimos nossos corações e mentes e fazemos um compromisso de trabalhar com um padrinho, temos a oportunidade de aprender muitas coisas novas e novas maneiras de pensar. Descobrimos como enxergar a vida através de uma outra perspectiva. Muitas vezes, perdemos nosso egocentrismo e nos tornamos sensíveis às necessidades de nosso padrinho. Começamos a desenvolver

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confiança conforme crescemos em nosso relacionamento de apadrinhamento. Muitos de nós aprendemos a desenvolver equilíbrio em nossas vidas.

“Quando estou confuso e preciso de orientação, ligo

para meu padrinho. A perspectiva dele sobre o

assunto pode ser diferente, e ele pode me ajudar a limpar minha cabeça com uma ou

duas sugestões. Não acredito ter todas as respostas e

experiências, então mantenho meu ego no seu lugar

seguindo meu padrinho”.

“Tinha cinco anos limpa, e minha madrinha abriu mão de mim porque não seguia suas

sugestões. Não confiava nela. Não confiava em ninguém.

Quando encontrei minha atual madrinha, me sentia vazia e

miserável. Continuei voltando. Não usei. Fiz os passos com

minha nova madrinha. Ela pediu que eu ligasse todos os dias para ela. Eu odiava, mas

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o fazia. E aí, ficou estranho. Alguma coisa começou a acontecer. As pessoas

sentavam perto de mim nas reuniões e eu falava com elas. Meu telefone começou a tocar. Percebi que eu ria mais. Acho que o que aconteceu é que eu

fui forçada - ok , talvez ‘direcionada’ é uma palavra melhor - para construir o primeiro relacionamento

íntimo de minha recuperação e talvez de minha vida. A razão que eu sempre tinha amizades e relacionamentos amorosos

insatisfatórios é que não deixava ninguém chegar perto

de mim para me conhecer. Por conseguinte, não queria

nem conseguia me conhecer. Trabalhar com uma madrinha e aprender a confiar nela tem

feito uma diferença enorme em minha vida.

“Cada vez que falo com meu

padrinho, me lembro de perguntar como ele está. No

início do relacionamento, nunca perguntava. Depois,

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quando perguntava, era a última coisa que perguntava antes de desligar o telefone. Agora quando ele pergunta ‘Como está?’ partilho o que está acontecendo, e depois

digo ‘E como está você?’ Sim, recuperação é possível”.

Quando escolhemos um padrinho,

não estamos contratando um profissional para nos ensinar, analisar, tratar ou salvar. Nosso padrinho simplesmente partilha sua experiência força e esperança conosco; no final, somos responsáveis por nossa própria recuperação. Ter um padrinho envolve mais do que conversa. Ser um afilhado é uma ação. Temos que fazer nossa parte. E para fazer essa parte, temos que nos abrir. Buscando apoio individual de outro adicto em recuperação nos ajuda a perceber que podemos fazer muito mais juntos do que jamais poderíamos fazer sozinhos.

“Ter um padrinho é um

lembrete de minha responsabilidade para comigo para progredir nos passos. Ao

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partilhar esse processo com um padrinho, tenho uma testemunha sobre quanto trabalho estou fazendo e a

velocidade na qual estou indo adiante com meu trabalho de passos. Desse modo, meu relacionamento com meu

padrinho me mantém honesto sobre meu progresso em

recuperação”.

“Demorou bastante para eu conseguir distinguir terapia de

apadrinhamento. As quatro maiores diferenças na minha

opinião: Apadrinhamento não custa dinheiro. Ninguém

nunca pediu comprovante de pagamento numa reunião de

NA. Não posso ligar para minha terapeuta todos os dias.

Minha madrinha nunca me disse que ‘O tempo acabou’ quando estava chorando”.

“Quando entrei em

recuperação, sempre ligava para minha madrinha para

pedir que ela me dissesse o que fazer em certas situações.

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Ela sempre disse para rezar. Lembro ter implorado que ela me desse direcionamento –

ordens, na verdade – mas ela nunca dava. ‘Sou sua

madrinha’, ela me dizia ‘não seu Poder Superior. Se você não sabe o que fazer, então espere’. Na época, isso me

frustrava enormemente, mas agora posso ver que ela não

queria a responsabilidade que pertencia a mim. Agora, faço

o mesmo com minhas afilhadas”.

Quer sejamos novos ao programa ou

tenhamos bastante tempo limpo, comunicação tem um papel vital num relacionamento funcional de padrinho/afilhado. Muitos dos princípios que aprendemos quando somos novos sobre como o programa de NA funciona são os mesmos para o membro com bastante tempo. Temos que passar por nosso medo, nos abrir e aprender a confiar. Se nosso padrinho pede que liguemos regularmente, precisamos fazer o esforço para fazê-lo. Se sentirmos vontade de usar, devemos ligar para nosso padrinho e “nos dedurar”. Ao

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partilhar honestamente com e ouvir ao nosso padrinho, podemos freqüentemente aprender a ouvir sugestões, e nos arriscarmos.

“Eu me mudava tanto quando era criança que perdi a

oportunidade de ter uma melhor amiga por muito

tempo. Quando finalmente cheguei a NA e arrumei uma madrinha, como foi sugerido que eu fizesse, senti como se

tivesse escolhido minha primeira melhor amiga.

Éramos todos bastante novos em recuperação naquela

época então apadrinhamento era muito via de mão-dupla.

Lembro como minha madrinha era gentil e como ouvia com tanta paciência e um coração sábio. Eu sabia e ela sabia;

isso é empatia. Ela é provavelmente a primeira

pessoa que eu verdadeiramente deixei entrar

no meu mundo. Partilhar meus pensamentos mais

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íntimos e segredos com ela, senti minha primeira conexão

com ser um ser humano”.

“Sempre recaía. A última vez, liguei para meu padrinho e lhe disse que eu estava usando.

Ele disse que era uma pena, e que ‘prisões, instituições e

morte’ não vinham necessariamente nessa

ordem, e me desejou sorte. A última foi a pior experiência de todas. Quando voltei entendi o que a ‘dádiva do desespero’

significava. Sabia que morreria se não estivesse

disposto a fazer o que meu padrinho sugeria. De uma

certa forma, entreguei minha vida e minha vontade a ele e

esse programa até que encontrasse meu próprio

Poder Superior. Desespero me trouxe a rendição que eu

precisava para seguir as sugestões do meu padrinho e fazer desse programa minha

nova maneira de viver”.

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“Nunca pensei que teria que contar para alguém as coisas que fazia, sentia, ou pensava. Sofria muito, selecionando as

coisas que partilharia com minha madrinha. Um dia,

consegui contar-lhe as terríveis coisas que pensava de meu marido, que ele se

envolveria com muitas outras mulheres mesmo estando casado comigo, e outras

coisas. Depois de lhe contar tudo isso, percebi que era

tudo paranóia. Desde aquela experiência de confiar em minha madrinha, tem sido

mais fácil para mim hoje. Não posso ficar muito tempo sem

contatá-la, porque sofro. Minha melhor experiência foi

partilhar o Quinto Passo – minha confiança aumentou e hoje vivo muito mais feliz”.

Se nosso padrinho sugere que

devemos ir a mais reuniões, ler literatura de NA regularmente, ou começar nosso inventário, temos que fazer o esforço de fazê-lo. Não queremos dizer ao adicto a quem pedimos ajuda, como nos ajudar.

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Quando pedimos ajuda, precisamos nos manter ensináveis.

“Sempre relutei em ligar para

outras pessoas em recuperação – até hoje.

Porém, meu padrinho não faria os passos comigo até que eu

tivesse ligado para pelo menos cinco pessoas, cujas recuperações eu admirava,

para perguntar sobre recuperação. Fazer essas

ligações tem me ajudado a ter uma melhor perspectiva sobre

minha vida. Estou trabalhando um programa que inclui a ajuda e sugestões dos

outro. Em certo ponto de minha recuperação, estava seriamente considerando a

recaída. Tinha a visão de um adicto a quem admirava; meus

pensamentos então ficaram focados em todas as minhas

novas associações, e os pensamentos de usar

sumiram”.

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“Durante muito de minha recuperação, não estava

disposto a seguir as sugestões de um padrinho –

ou de mais ninguém – até que a agonia e solidão de fazer as

coisas do meu jeito era tão grande que não tinha escolha

se quisesse ficar limpo. Mesmo assim, não acreditava

verdadeiramente que as outras pessoas tinham idéias muito

melhores que as minhas. Com o tempo, conforme minha vida tem melhorado devido à minha abertura a sugestões, cada vez

mais eu vejo que qualquer pessoa pode me dar melhor direção do que eu posso me

dar”.

Pode haver momentos nos quais nosso padrinho não estará disponível quando precisamos de ajuda. Muitos de nós encontramos uma necessidade de criar uma rede de pessoas no programa para quem podemos pedir ajuda e apoio, além de nosso padrinho. Em algumas comunidades, é uma prática comum buscar ajuda de outros membros conectados a nós através de

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apadrinhamento. Conhecer outros membros que também são afilhados de nossos padrinhos pode nos oferecer uma rede de segurança. Se não podemos falar com nosso padrinho, podemos sempre ligar para alguém na nossa rede de apadrinhamento. Em alguns lugares, isso é denominado “família de apadrinhamento”; em outros locais, “linha” ou “árvore” de apadrinhamento. Independente da terminologia, para alguns membros, fazer parte de uma rede desse tipo é importante e pode dar-lhes uma sensação de segurança e de pertencer a algo maior do que eles.

“Em minha área, há poucas mulheres que tem madrinhas, e eu tive que ir a outra cidade

onde a ‘família’ de apadrinhamento é a forma

primária de apadrinhamento. SOMENTE queria trabalhar os passos com minha madrinha e

receber sugestões dela, em vez de toda a social e viagens de longa distância necessárias

em muitas das redes de apadrinhamento locais. Agora

eu tenho tido uma madrinha em outro país há dois anos, e

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viajei até lá para conhecê-la e minhas afilhadas ‘irmãs’.

Gostei tanto do companheirismo de fazer as

coisas juntas que decidi voltar por seis meses e passar tempo com as afilhadas ‘irmãs’ porque quero”.

“Participo em uma reunião mensal da minha linha de

apadrinhamento, então se em algum momento eu precisar arrumar outro padrinho, já

tenho um grupo de adictos em recuperação em quem posso

confiar, com quem me identifico, de quem gosto e

não tenho medo de intimidade”.

Alguns membros, porém, consideram

o apadrinhamento um relacionamento muito pessoal e não querem incluir nele uma “família” estendida. Para esses membros, ter esse tipo de rede anexada ao apadrinhamento pode parecer muito restringente ou que traz certas obrigações indesejadas.

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“Minha madrinha faz parte do que chamam aqui de ‘família de apadrinhamento’, mas não

tenho interesse nisso. Felizmente, ela não liga se eu vou ou não aos eventos. Me

parece que é como fazer parte de um rebanho, me identificar com dezenas de mulheres que

são afilhadas da fulana ou afilhada das afilhadas dela.

Nem gosto muito de algumas das outras pessoas em minha

rede de apadrinhamento. Penso que já tenho uma família disfuncional. Não

preciso de mais uma”.

Mesmo se somos felizes em fazer parte de uma rede de apadrinhamento, podemos ser tentados, às vezes, a nos compararmos com os outros. Pode parecer, às vezes, que nosso padrinho gosta mais de alguns afilhados do que de outros, ou nosso ego pode ficar inflado ao nos sentirmos o afilhado favorito. É importante reconhecermos que cada relacionamento de apadrinhamento é único. Cada um tem seus próprios desafios e suas próprias dádivas. Nada

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ganhamos ao nos compararmos com outros.

“Sempre tive necessidade de ser a ‘favorita’ em todas as

situações. Fui a única afilhada de minha madrinha por mais

de um ano, e fiquei muito surpresa e insegura quando ela aceitou outra afilhada. Aprender a amar outras

pessoas e não ter ciúmes tem sido um processo longo e

doloroso para mim. Quando me sinto insegura ou

desconfortável, falo com minha madrinha. Em vez de agir por emoção, tento me

aproximar das outras mulheres a quem ela

apadrinha. Tenho quatro ‘irmãs’ agora, e elas todas são mulheres maravilhosas. Eu as

amo muito e estou honrada por tê-las em minha vida”.

Quer tenhamos ou não uma rede

estendida de apadrinhamento, podemos desenvolver uma rede de apoio sólida para que não precisemos depender unicamente de nosso padrinho. Construir

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amizades com outros no programa e fortalecer nosso relacionamento com um Poder Superior pode nos ajudar a atravessar momentos nos quais nosso padrinho não está à nossa disposição.

“Meu Deus está comigo sempre; às vezes meu

padrinho não pode estar”.

“A orientação suave que tenho recebido de meu padrinho tem dado resultados. Mas passei

por períodos em minha recuperação quando não tinha um padrinho e usava amigos

próximos em recuperação como meus guias, e graças a

Deus por todos eles. Ao longo dos anos, Deus sempre

colocou o professor em minha vida quando pedi”.

Nossa recuperação pode ser uma

jornada incrível através da auto-descoberta e auto-aceitação. Juntos, com Narcóticos Anônimos, nosso Poder Superior e a ajuda de nosso padrinho, muitos de nós podemos alcançar uma

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sensação de liberdade e alegria de viver que não acreditávamos ser possível. Se escolhermos, como afilhados podemos absorver o conhecimento e sabedoria que nosso padrinho tem a oferecer a respeito do programa de NA. Podemos aprender a viver sem o uso de drogas e vir a amar e apreciar nossa nova vida em recuperação.

CAPITULO TRÊS

PARA O PADRINHO

Minha gratidão fala: Sobre ser um padrinho

Apadrinhamento está no âmago do Décimo Segundo passo, e é uma das principais maneiras pelas quais levamos a mensagem de NA. Muitos adictos acreditam que apadrinhar um companheiro membro de NA é a melhor maneira de experimentar e expressar gratidão pela dádiva de recuperação. Como padrinhos, podemos devolver livremente o que nos foi dado tão livremente. É um relacionamento responsável e parte de como podemos oferecer serviço abnegado a outros.

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Enquanto cada um de nós pode usar palavras diferentes para explicar nosso papel como padrinhos, é simplesmente uma questão de um adicto ajudando outro. Vemos que quando ajudamos outros, ajudamos a nós mesmos também.

“Apadrinhamento é um dos

relacionamentos mais importantes no programa de recuperação de NA. Acredito que apadrinhamento seja uma

via de mão dupla na qual o padrinho adquire insights

sobre si mesmo, e o afilhado adquire conhecimento da experiência do padrinho.

Muitas vezes eu tenho dito, ‘Em momentos de dificuldade, não fosse pelo meu padrinho,

não estaria limpo hoje’”.

“Quando comecei a amadrinhar mulheres, preciso ser honesta e dizer que não

achava tão grande coisa assim. Era o que o programa dizia que eu deveria fazer para me manter limpa, e eu queria ficar limpa. Hoje, estou em

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recuperação há algum tempo, e não consigo imaginar minha

vida sem essas mulheres maravilhosas. É como se

tivéssemos crescido juntas. Vimos uma à outra em nossos

piores momentos, e assim mesmo permanecemos juntas. Recebi tanto quanto dei, e elas também. De fazer esse salto

em fé para ‘devolver o que me foi dado tão livremente’ tenho

relacionamentos ricos e profundos que não teriam entrado em minha vida de

outra forma”.

Um padrinho freqüentemente oferece apoio e encorajamento ao afilhado. A experiência pessoal partilhada pelo padrinho pode fazer com que seus afilhados se sintam aceitos, compreendidos, e guiados através do programa. Essa partilha pode trazer a sensação de aproximação para ambos o padrinho e o afilhado, amenizando um pouco do isolamento emocional que muitos de nós sentimos, quer sejamos novos ao programa ou quer estejamos limpo a algum tempo.

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“Antes de ter apadrinhado

outros, eu não tinha idéia de quanta alegria e auto-

aceitação poderiam vir de amar e gostar de outra pessoa.

Todos os meus relacionamentos anteriores tinham sido baseados em conseguir o que eu queria,

mas ainda me sentindo necessitado e não amável.

Para minha surpresa, quando comecei a ajudar meus

afilhados e aprendi a dar sem esperar retorno, comecei a me

valorizar e aceitar mais”.

“Ser uma madrinha tem me ajudado a sair da escuridão de minha auto-obsessão e entrar

no mundo dos relacionamentos verdadeiros.

Quando só havia a mim mesma no mundo, a vida era chata, repetitiva, e pequena.

Mesmo que a recuperação me mostrou que isso poderia

mudar, ainda não tinha experimentado uma mudança significativa até que tive que

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compreender e ter empatia com as vidas das mulheres a

quem eu amadrinhava; amadrinhá-las me tem dado a

oportunidade de ouvi-las, aprender com elas, amá-las e fazer parte da raça humana”.

“Muito cedo em recuperação

ouvi meu padrinho falando em uma reunião. Ele disse que sentia como se se escondia

num cinema à noite, e quando saía do cinema às três da

manhã saia desorientado, sem saber aonde ir. Ele se sentia só, perdido, e abandonado.

Eu entendia exatamente como ele se sentia, mas ao mesmo tempo tinha muito medo de deixar alguém saber que eu

sentia a mesma solidão gélida. Agora que estou limpo a

algum tempo e estou apadrinhando outros

membros, tenho tentado ser exemplo do que ele me

mostrou naquela época. Em várias outras formas no nosso

relacionamento ele tornou claro que se eu quisesse

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aceitação de mim mesmo, eu tinha que ter a coragem e fé para ser honesto e partilhar com outros adictos sobre

meus pensamentos e medos. Acho que comunico a mesma

coisa a meus afilhados através de minhas palavras e ações”.

Nesse relacionamento individual,

somos encorajados, e às vezes pessoalmente desafiados – a olhar para nós mesmos enquanto tentamos dar sugestões àqueles que apadrinhamos. Quando aceitamos a responsabilidade de apadrinhar as pessoas, independente de seu tempo limpo, tentamos trazer o melhor de nós ao relacionamento.

“Meus três afilhados me dão a oportunidade de estar

disponível incondicionalmente para as outras pessoas.

Apadrinhar outros me põe em uma posição de

responsabilidade onde é mais importante ser honesto do que ser gostado. Me tem ensinado a respeito dos meus motivos ao fazer as coisas, e sobre

como entregar”.

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“Conforme fui ficando limpo,

vim a entender mais profundamente que uma de

minhas responsabilidades em ser um adicto em recuperação

e padrinho é abrir minha mente a novas idéias e estar

disposto a tentar novas coisas. Com o tempo, também

percebi – através de meus inventários – que nem todo

adicto respondia bem àquelas coisas que me motivaram.

Não era justo insistir que eles agissem, ou reagissem, como

eu”.

Um padrinho pode ser um exemplo, providenciando um modelo aos seus afilhados, de como viver os princípios espirituais encontrados em Narcóticos Anônimos. Um padrinho pode guiar afilhados numa jornada espiritual e ensiná-los sobre o programa de NA.

“Minha madrinha me ensinou que seu amor é incondicional, mas eu tenho que merecer sua

ajuda e respeito. Ensino o mesmo às minhas afilhadas.

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Contanto que vejo uma faísca de boa vontade de sua parte

em continuar a jornada, estarei ao seu lado. Meu trabalho como madrinha é liderar e

guiar, não puxar e arrastar”.

“Minha abordagem ao apadrinhamento das mulheres em minha vida é encorajá-las a tomarem decisões sadias por si próprias. Não posso estar

em recuperação por elas, mas posso apoiá-las enquanto

trabalham o programa de NA em suas vidas. Em vez de

tomar decisões por elas, tento guiá-las para a construção de ferramentas de recuperação

baseadas nos princípios espirituais do programa de

NA”.

“Acredito que seja minha responsabilidade preparar meu afilhado para ser um

padrinho ao ajudá-lo a praticar os princípios espirituais encontrados nos Doze

Passos”.

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Quando apadrinhamos, freqüentemente aprendemos sobre os princípios de rendição e tolerância. Precisamos lembrar que estamos apenas partilhando nossa experiência força e esperança com nossos afilhados, não ditando cada passo que eles tomam. Tentamos manter uma perspectiva equilibrada a respeito de nossa vida e nossos relacionamentos com nossos afilhados. Enquanto podemos tentar prevenir que eles cometam os mesmos erros que nós cometemos, a recuperação de nossos afilhados é a responsabilidade deles, não nossa.

“A filosofia que meu padrinho

tem e que uso com meus afilhados é que raramente damos conselhos. Apenas

partilhamos uma experiência similar se temos uma ou

partilhamos o que podemos fazer ou sentir em situação

similar. Também não corremos atrás uns dos outros nem nos damos tarefas. Uma

das coisas ótimas que meu padrinho me dizia quando

estava pensando se eu deveria

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sair com uma mulher seria me perguntar ‘Estaria disposto a casar com esta mulher?’ Isso

ajudou a me manter fora de muitos relacionamentos

nocivos”.

“Aprendi a amar e aceitar as pessoas que apadrinho por

quem elas são – não pequenas imagens de mim ou de

qualquer outra pessoa em recuperação”.

“Apadrinhar me ajudou a

compreender melhor minha impotência perante outras pessoas. A princípio, me

sentia responsável por seus sucessos ou falhas, mas logo percebi com a ajuda de meu padrinho, que se eu não for

responsável por seu sucesso em ficarem limpos, também

não preciso me responsabilizar por suas

recaídas”.

Muitos adictos descobrem que ser um padrinho ou madrinha se torna parte significante de sua recuperação. Ser um

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padrinho nos dá uma avenida espiritual para partilhar num nível mais profundo e íntimo e nos oferece a oportunidade de partilhar nossa recuperação com aqueles que querem e precisam. Cada um de nós leva consigo uma riqueza de experiência e como padrinhos podemos partilhar aquilo que funcionou e não funcionou para nós. Como padrinhos, podemos guiar nossos afilhados na prática dos Doze Passos de Narcótico Anônimos e mostrar-lhes o modo de vida de NA.

“Apadrinhamento tem sido um

presente enorme em minha vida. As mulheres a quem

amadrinho freqüentemente me ajudam e apóiam. Somos

todas professoras e alunas. É meu dever como madrinha dizer a verdade às minhas

afilhadas. Se estiver bem com meu Poder Superior, então saberei quando meu Poder

Superior me toca com a luz da verdade. É minha

responsabilidade dizer a verdade às minhas afilhadas, mas nem sempre sou bem-vinda quando o faço. Às

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vezes, me deparo com resistência e raiva. Como diz

o ditado: ‘a verdade te libertará, mas primeiro te fará

ficar com raiva’”.

“Minha experiência, especialmente recentemente, é que meu papel como padrinho tem colocado o meu foco de volta no programa. Tem me ajudado a manter o contato com os passos, que preciso

para manter minha recuperação na trilha certa.

No final de cada ligação com meu afilhado, ele sempre diz ‘Obrigado por me ouvir’, e eu sempre respondo ‘Obrigado

por ligar’. Para mim, apadrinhamento está sendo uma via de mão dupla – eu recebo conforme eu dou”.

“Ser um padrinho me tem

dado uma oportunidade de ouvir sobre as vidas dos

outros. Tenho testemunhado bravura profunda, corações fortes, e espíritos corajosos.

Tenho aprendido a amar e

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respeitar aos outros mais profundamente do que em qualquer outra experiência

anterior”.

Escapando do fardo do egocentrismo

Apadrinhamento pode ajudar a contrabalançar o egocentrismo e encorajar generosidade de espírito entre nós. Podemos aprender a dar carinho aos outros – em muitos casos, pessoas bem diferentes de nós mesmos. Como padrinhos, alguns de nós atingimos um novo nível de humildade ao percebermos nossos limites e forças. Esse relacionamento pode nos ajudar a colocar nossos próprios problemas em perspectiva conforme nos aproximamos de outras pessoas, presenciamos suas dificuldades, e aprendemos a amar e aceitá-los.

“Algumas das maiores coisas

que aprendi sobre apadrinhamento são como

levar a mensagem através do exemplo e como praticar

honestidade de compaixão o melhor que posso.

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Apadrinhamento me tem ensinado a necessidade de

‘mostre, não conte’”.

“Recuperação parece amadurecer com

apadrinhamento, quando uma pessoa aceita o desafio de

ajudar a outra – profundamente e

individualmente. Tenho uma chance de focar os passos

novamente sempre que ajudo um afilhado a trabalhá-los.

Apadrinhamento me dá uma lição sobre deixar outra

pessoa crescer na direção que o Poder Superior escolhe para ela. É uma lição em abrir mão

do controle e não necessariamente forçar regras

rígidas ou caminhos aos outros”.

Sermos padrinhos pode nos manter

focados em nossa própria recuperação. Apadrinhamento nos dá meios de lembrarmos de nossos desafios no início de recuperação. Quando apadrinhamos alguém novo ao programa, é difícil esquecer de onde viemos. Nos

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tornarmos padrinho é normalmente uma afirmação de crescimento e pode enriquecer nossa recuperação. Muitos de nós encontramos dificuldades em sermos complacentes quando estamos ativamente apadrinhando outros adictos.

“Muitas, muitas vezes, me peguei dizendo algo a um afilhado, que eu mesmo

precisava ouvir!”

“Apadrinhar outros me mantém ciente de onde vim e

o que me mantém indo adiante em minha recuperação. Só

posso manter o que tenho ao dá-lo para outros. Praticar os

princípios de compaixão, carinho, bondade, empatia, e

partilha, me mantém conectado com meu Poder Superior enquanto sirvo a

outro ser humano. Me ajuda a permanecer responsável por

um relacionamento com compromisso”.

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“Ser padrinho sempre me traz de volta à minha própria

recuperação e seu progresso”.

Partilhar nossas experiências com nossos afilhados pode ser curativo para ambos. Com freqüência, nossos afilhados começam a confiar em nós conforme expomos nossas fraquezas, contamos sobre nossos erros e somos honestos a respeito de nossos medos. Esse tipo de partilha honesta nos lembra ainda que somos meros mortais e não o Poder Superior da compreensão de nosso afilhado!

“No final de cada semana, um de meus afilhados e eu vamos até o interior. É um momento

de paz para nós dois. Falamos sobre tempos difíceis dele, os meus tempos difíceis, como é o pôr-do-sol, tudo. Parece que

estamos a milhões de quilômetros de distância de

tudo e nada pode nos perturbar ou ferir. Como padrinho, sei mais sobre

passos e tradições, mas isso não significa que não posso

ter uma semana dura. De vez

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em quando sou eu que digo oi com um cumprimento ‘não-muito-padrinho’: ‘Graças a

Deus você está aqui’!”

“Tento passar para minhas afilhadas que não importa como sentimos sobre nós

mesmas, acredito que Deus nos ama a todos igualmente.

Quando posso oferecer minha experiência a afilhadas sem me sentir ou agir melhor ou pior do que elas, sinto como se estivesse cumprindo meu

dever como madrinha”.

“Pessoalmente, acredito que como padrinho, minha

responsabilidade é não só colocar tanto esforço no

relacionamento quanto faz meu afilhado, mas adicionar,

no mínimo, ‘um centavo a mais’. Afinal, eu fui escolhido

para ser o padrinho porque tenho mais experiência do que

o afilhado. Me parece que deveria ser pelo menos um

relacionamento ‘51/49’”.

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Com o tempo, ser um padrinho pode nos ajudar a ouvir sem julgamento, aceitar sem condições e amar sem expectativas. De muitas maneiras, o apadrinhamento nos ensina como desenvolver e manter relacionamentos sadios.

“É importante para mim me desvencilhar de qualquer tentativa de controlar meu

afilhado. É importante também, ser um bom ouvinte e

não cortar meu afilhado enquanto está falando ou

colocar palavras em sua boca. A maioria do tempo, se eu

deixá-lo falar o suficiente, a solução sairá naturalmente

após a partilha do problema”.

“Eu tinha uma afilhada que era a rainha do drama, totalmente auto-centrada com um caso

severo de ‘Eu-ismo’. Às vezes temia ouvir a voz dela do outro lado da linha. Imediatamente,

ia ao meu Poder Superior, pedindo ajuda. Conforme o

tempo foi passando, fui

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melhorando, convidando o Poder Superior a me guiar na

conversa. Meu Poder Superior geralmente me dava mente aberta, tolerância e amor

incondicional. Hoje, ainda sou madrinha da não-mais rainha do drama, que ainda sofre às

vezes de ‘Eu-ismo’. Tenho me beneficiado de formas que são difíceis

descrever. Tenho certeza que sou uma pessoa melhor como resultado dela ter me ensinado

muitas das lições da vida. Somente aprendi essas lições porque estava disposta a ouvir

- apesar de achar que a maioria das coisas que ela

dizia pareciam loucas. Mais importante, me tornei mais dependente de meu Poder

Superior quando interagia com qualquer uma de minhas

afilhadas”. Como saber se somos certos um para o outro?

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148

Como padrinho ou madrinha, queremos tomar um tempo para examinar nosso próprio sistema de valores e nos perguntar se podemos apadrinhar com aceitação, compaixão e compreensão. Se tivermos expectativas quanto aos nossos afilhados, temos que ser claros sobre essas expectativas. Nossa recuperação pessoal deve vir em primeiro lugar. Quando estabelecemos parâmetros claros sobre o que podemos e não podemos dar, asseguramos que o relacionamento terá boas chances de sucesso.

“Uma mulher que chegou à sala estava sempre brava, e essa raiva a distanciava das outras pessoas. Um dia, ela

se aproximou de mim e perguntou se eu seria sua

madrinha. Fiquei surpresa e não achava que tinha o tempo para dar a ela, então disse que

não poderia. Ao longo dos próximos anos ela me pediu algumas vezes novamente. Fiquei emocionada com sua

boa vontade e humildade que ela estava escondendo por trás de seu comportamento

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149

raivoso. Decidi que independente de eu ter tempo

ou não, precisava ser sua madrinha.

Esse relacionamento se

tornou o mais íntimo, amoroso e repleto de

confiança de minha vida. Era sua boa vontade de continuar

pedindo diversas vezes e encarar o que ela pode ter sentido como rejeição que

me permitiu ver além da raiva que ela tinha usado para se

proteger da vida”.

Antes de nos comprometermos com um afilhado, podemos querer considerar quantos afilhados já temos, se nós mesmos temos um padrinho ou madrinha, se estamos ou não disponíveis, e se nossa situação de vida atual nos permitirá passar tempo adequado com nosso afilhado.

“Eu sou madrinha de várias mulheres em recuperação.

Tenho também uma vida cheia fora da sala. Há momentos

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nos quais me pergunto se estou disponível o suficiente

para suprir suas necessidades. A maioria do

tempo, as coisas se equilibram – quando algumas precisam de mais atenção, as outras não precisam. Eu também

acredito que é importante que eu as ajude a desenvolverem relacionamentos com outras

mulheres em recuperação para apoio”.

“Me foi sugerido esperar até que fizesse um Quinto Passo antes de apadrinhar alguém, e é isso que sugiro às mulheres que amadrinho. Não acredito

que tempo limpo é tão importante quanto a

habilidade de ser honesto consigo mesmo”.

“Tento não ter mais afilhadas do que minha agenda permite. Preciso levar em consideração

o tempo que preciso para trabalhar com minha

madrinha, me relacionar com meus filhos e netos, e

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151

trabalhar. Três afilhadas é o máximo que consigo manejar. Porém, isso não constitui uma fórmula para julgar o número de afilhadas que posso apoiar confortavelmente. Cada uma é diferente, e suas necessidades

também diferem”.

Se nunca apadrinhamos alguém antes, sem dúvida teremos que nos perguntarmos se estamos prontos para fazê-lo. Podemos querer considerar se trabalhamos ou não todos os passos e se estamos preparados para guiar alguém em seu trabalho. Muitos de nós pedimos orientação ao nosso Poder Superior e perguntam a nosso próprio padrinho ou madrinha se eles acham que estamos prontos para apadrinhar alguém.

“Não tinha muito tempo no

programa quando fui convidada a ser madrinha. Me

senti extremamente inadequada, mas ela insistiu

que eu podia ajudá-la. Só tinha feito os primeiros três passos e estava no quarto.

Bom, não querendo negar um

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pedido de NA, comecei a amadrinhá-la. Ela me ligava

todos os dias, e eu fiz o melhor que pude naquele

momento. Isso durou uns três ou quatro meses, e ela

conheceu uma mulher numa reunião de área com cinco

anos limpa. Ela descobriu que tinha bastante em comum com

essa mulher então ela abriu mão de mim. Ela se

desculpou bastante e me agradeceu por todo meu

tempo e esforço. Na verdade, eu me senti aliviada. Depois disso, esperei até estar mais

tempo limpa e tinha trabalhado mais passos até amadrinhar

outra pessoa”.

Podemos ter dúvidas a respeito de apadrinhar certas pessoas. Há momentos que não nos sentimos “qualificados” para ajudar. Talvez a pessoa pedindo que sejamos seu padrinho tenha mais tempo limpo que nós mesmos, ou nossas situações de vida são radicalmente diferentes. Qualquer que seja a razão, devemos ser honestos sobre nossos sentimentos enquanto

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lembramos que nos pediram por alguma razão. Talvez tudo que precisemos seja fé.

“Quando eu tinha em torno de sete anos limpa, uma mulher com três meses a menos do

que eu pediu que eu fosse sua madrinha. A madrinha dela,

que era bem antiga no programa, tinha acabado de se

mudar. Essa mulher tinha sido minha amiga durante os

últimos cinco anos, e ela também tinha várias afilhadas. Eu me senti honrada que ela

me considerou, e muito inferior por causa de sua

última madrinha. Me perguntei o que eu teria a oferecer. Ela me falou que me escolheu por causa de minha conexão com um Deus amoroso. Isso já faz

oito anos, e ainda sou sua madrinha. Por sinal, há mais ou menos uma semana, ela pegou sua ficha de 15 anos, Sua primeira madrinha e eu

lhe demos um bolo. É impressionante como funciona

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o apadrinhamento: nós não decidimos o que temos a oferecer; quem decide é o Poder Superior. O que nós fazemos é partilhar nossa

experiência, força e esperança”.

Às vezes, alguém com quem tivemos

um relacionamento prévio ou primário – como membros de nossa família, colega de trabalho, colega de cela ou amigo – pode nos pedir que o apadrinhemos. Esses relacionamentos podem trazer desafios específicos devido aos nossos diferentes papéis nesses relacionamentos. Em tal situação, devemos pensar cuidadosamente se podemos apadrinhar essa pessoa de maneira eficaz. Podemos querer falar com nosso próprio padrinho ou madrinha sobre a situação. É possível que nossas responsabilidades nesses papéis diferentes serão conflitantes (por exemplo, como chefe e padrinho)? Seremos muito afetados pelo que já sabemos a respeito da pessoa para podermos apadrinhá-la? Poderemos “abrir mão” e deixar que eles cresçam em seu próprio ritmo? Como em qualquer relacionamento de apadrinhamento, se

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decidirmos aceitar, comunicação é a chave para trabalharmos bem juntos.

“Eu apadrinhei meu cunhado, e foi uma experiência triste e

importante para mim. Ele pediu que eu fosse seu

padrinho, e eu não tomei isso como um pedido frívolo, nem ele foi frívolo ao pedir. Nós

nos encontrávamos nas reuniões e em casa, e às vezes

eu o dava sugestões que ele nunca seguia. O tempo mais

longo que ele ficou limpo foi o tempo que nós tivemos

contato mais intenso. Quando ele recaiu, eu sabia que era

impotente. Estava com raiva dele como parente, mas sempre o aceitei como

afilhado”.

“Eu desenvolvi amizades muito próximas com mulheres que amadrinhei ao longo dos

últimos 13 anos. Infelizmente, as amizades podem às vezes ter um impacto sobre minha

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eficácia como madrinha se eu não tomar cuidado. A

intimidade do relacionamento tem a capacidade de distorcer minha visão. Ainda, às vezes tenho medo de confrontá-las a

respeito de suas ‘coisas’ porque não quero que a amizade seja ameaçada.

Então tenho que rezar muito nesses relacionamentos para que eu não prejudique minha amiga e afilhada. Quero dar a elas tudo que esse programa

de recuperação tem a oferecer, e isso começa com

honestidade”. Nossa experiência tem mostrado

Ao longo dos anos, opiniões individuais, diferenças culturais, e outras circunstâncias específicas têm levantado uma gama de opiniões a respeito do apadrinhamento. Narcóticos Anônimos tem experimentado crescimento incrível, em membros e países ao redor do mundo. Comunidades de NA ao redor do mundo usam praticas variadas de apadrinhamento. Muitas dessas práticas são adaptadas à cultura daquela

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comunidade em particular. Diretrizes definitivas provavelmente seriam muito rígidas para a diversidade de NA hoje. Os seguintes tópicos podem apresentar desafios específicos para nossa adicção a respeito de apadrinhar alguém. Freqüentar outras irmandades

Muitos membros acreditam que podemos melhor apadrinhar aqueles membros que freqüentam somente reuniões de NA. Alguns membros sentem que a irmandade que o membro freqüenta é menos importante do que a vontade do afilhado em seguir sugestões e praticar os princípios do programa de NA. Devemos, no entanto, considerar como nós, como padrinhos, seremos afetados por nossa decisão em apadrinhar alguém que freqüenta outras irmandades além de NA.

“Me arrependo das

oportunidades que neguei por causa de minha visão

‘somente NA’ – oportunidades de adicionar idéias novas e

perspectivas frescas à nossa comunidade e modo de vida.

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Hoje, acho que se alguém demonstra que quer o que NA tem a oferecer, eu não julgo o quanto eu acho que ele quer”.

“Como padrinho, tive um afilhado que sentiu que

precisava ir a outras irmandades por razões que ele não compreendia muito bem. Imediatamente senti medo, raiva, e baixa auto-estima.

Senti como se eu estivesse fazendo algo errado no meu

apadrinhamento desse homem. Após dar uma olhada em mim mesmo e sentir o que estava acontecendo comigo,

tomei a decisão que eu continuaria a amar e

apadrinhá-lo. Eu disse que se eles quisesse continuar a

trabalhar com a literatura da outra irmandade, eu não

poderia ser seu guia, pois não tinha familiaridade com o material deles. Após dois

meses de estar dividido entre as duas irmandades, ele decidiu que Narcóticos

Anônimos supria todas as

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suas necessidades de recuperação. Ele ficou muito grato pela liberdade e amor que ele teve para tomar sua

própria decisão”.

“As mulheres que eu amadrinho são todas pessoas individuais especiais. Cada uma tem sua própria visão

sobre recuperação e como ela mentem sua recuperação. Se

parte disso envolve ir a reuniões de outra irmandade, bom, é isso que funciona para ela. Não funciona para mim,

mas isso é minha experiência, e minha experiência é

realmente tudo o que tenho para partilhar. Respeito suas decisões, e faço o que posso

para não julgar. Tenho apadrinhado uma mulher há 14

anos, e ela ocasionalmente freqüenta outra irmandade. Eu abriria mão da nossa história maravilhosa por essa razão?

Absolutamente não”. Gênero

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Apesar de todos nós estarmos em recuperação para atingir a mesma meta, muitos membros acreditam que o processo interno para se alcançar esta meta é diferente para homens e mulheres. Eles sentem que pode haver falta de atenção e empatia entre membros do sexo oposto. Portanto, esses membros estão firmes em suas crenças a respeito de apadrinhamento do mesmo sexo.

“Quando comecei a freqüentar reuniões, considerei pedir que um dos homens mais velhos

me apadrinhasse. Ele parecia a boa figura paterna, e eu estava interessada em ser

cuidada. Uma das mulheres me explicou que é fortemente

sugerido que mulheres busquem apadrinhamento de outras mulheres. Isso foi um

conselho ótimo. Nunca poderia ter partilhado minha

experiência sexual e de relacionamentos com um

homem. No meu caso, esses assuntos são ligados a muita

vergonha, e eu precisava

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partilhá-los com alguém que realmente compreendia como era para uma mulher ter que

se comprometer para sobreviver como adicta na

ativa”.

“Amadrinhei um jovem rapaz (sou mulher) por um longo

período de tempo, e trabalhamos os primeiros três passos juntos. Porém, ele foi

trabalhar com um padrinho homem quando chegou no

Quarto Passo. Não acredito que seja fácil se identificar

completamente com um padrinho ou afilhado do sexo oposto. Afinal, há igualdade

entre homens e mulheres, mas definitivamente somos

diferentes”.

“Eu só amadrinho mulheres agora, mas mais cedo em

recuperação, um homem pediu que eu fosse sua madrinha. Ele disse que eu tinha o tipo

de recuperação que ele queria e ele não se identificava com

nenhum dos homens em

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nossa pequena comunidade de NA. Acredito que me senti lisonjeada, e porque não havia nenhuma química sexual entre

nós eu achei que não teria problema. Mas esse

relacionamento trouxe à tona toda a raiva que eu tinha

escondido em relação aos homens. Eu lhe dava mais tarefas do que jamais tinha

dado às mulheres, eu co confrontava mais do que

confrontava as mulheres, e fiquei frustrada com seu

progresso. Quando reconheci que estava me comportando

desta forma, não gostei então eu disse a ele que achava que ele precisava trabalhar com

homens. Gostava muito dele, mas senti que não podia dar o

amor incondicional que é preciso no relacionamento de

apadrinhamento”.

“Como homem gay, sempre falo com afilhados em

potencial sobre o fato que sou gay. Se eles estão

interessados em trabalhar sua

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sexualidade, eles precisam ir a outro lugar. Apadrinhamento é sobre os princípios de NA.

Algumas mulheres me pediram para apadrinhá-las já

que sou gay. Não havia atração sexual, mas ainda

havia diferenças o suficiente para tomar a decisão de dizer

não a pedidos futuros”.

“Acho importante ter um padrinho ou madrinha do

mesmo sexo. Sou um homem, e uma vez apadrinhei uma mulher gay. Tenho que ser

perfeitamente honesto e dizer que a energia sexual e desejo

por essa mulher eram os mesmos para mim se ela fosse uma mulher heterossexual. Eu

a apadrinhei por mais ou menos uma semana, e sou

grato que não agi nem machuquei nenhum de nós dois. Foi uma verdadeira

experiência de aprendizado para mim”.

Alguns membros têm tido sucesso

com apadrinhamento do sexo oposto.

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Ambos os membros permanecem focados em sua recuperação, e o relacionamento funciona bem, sem maiores complicações. Em algumas comunidades de NA, pode não haver uma proporção equilibrada entre homens e mulheres dos quais poderão selecionar um padrinho ou madrinha do mesmo sexo. Aqui membros de NA exercitam sua criatividade em fazer seu melhor para assegurar que estão levando a mensagem de NA.

“Sou mulher em uma

comunidade onde eu era um dos primeiros membros

limpos. Me vi dizendo ‘sim’ para amadrinhar homens, já que não havia outra pessoa naquela época. De minha

experiência, sinto que esses homens me vêem com

respeito, mas não acho que seja saudável para nenhum

dos dois. Por outro lado, acho que isso é um programa

espiritual, e se conseguirmos manter nosso relacionamento focado em recuperação, tudo

estará bem”.

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“Como homem que tem

apadrinhado, e ainda apadrinha, mulheres, tenho tido que trabalhar alguns assuntos para poder me

manter responsável com meu compromisso. A primeira mulher que pediu que eu a apadrinhasse já tinha sido

afilhada das três mulheres em NA em nossa área que tinham mais tempo limpas do que ela.

(Isso era em meados da década de oitenta, e éramos

uma área nova). Busquei orientação de meu padrinho e

ele me deu algumas regras para apadrinhamento, com as quais concordei e continuo a

honrar hoje. Primeiro, apadrinhamento não é um

serviço de namoro, um partido político ou psicanálise.

Segundo, apadrinhamento é platônico. Assegurar que ele

se mantenha assim requer que o padrinho trabalhe um

programa ativo que inclui fazer inventário de intenções

regularmente. Finalmente, é

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essencial permitir que afilhados cheguem a suas próprias compreensões de

uma forma que funciona para eles. Graças aos conselhos de meu padrinho, ainda sou padrinho daquela mulher e

nosso relacionamento funciona”.

“Eu tenho apadrinhado um

homem gay (sou mulher) por aproximadamente oito anos. Quando ele me pediu, minha primeira intenção era dizer

não, já que nossa literatura no passado tem sugerido que

tenhamos padrinhos e madrinhas do mesmo gênero.

Mas eu sou grata por ter seguido minha ‘intuição’, também conhecida como

Poder Superior, já que esse relacionamento tem sido um dos mais recompensadores

que eu já tive em apadrinhamento. Eu me

pergunto, se sugerimos que heterossexuais tenham

padrinhos do mesmo sexo, então como aplicar esse

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167

mesmo conjunto de normas à comunidade homossexual, na qual intimidade é baseada em parceiros do mesmo sexo”?

Se membros do sexo oposto nos

pedem para lhes apadrinhar, é nossa responsabilidade examinarmos nossos motivos assim como os motivos do afilhado em potencial. Sentimentos românticos ou atrações por parte de qualquer um dos dois membros podem não ser óbvios. É imprescindível, em apadrinhamento do sexo oposto, que façamos todos os esforços possíveis para distinguir entre atração romântica ou sexual e o desejo sincero de nosso afilhado de buscar conhecimento sobre o programa de NA. Se parecer que o afilhado tem segundas intenções, então cabe a nós, como padrinhos, estarmos cientes do potencial para atração sexual. O potencial se aplica aos dois membros envolvidos no relacionamento de apadrinhamento. Temos que ter certeza que levamos a mensagem de NA e não abrigamos desejos secretos em relação a nossos afilhados. Esses tipos de sentimentos normalmente resultam em um relacionamento arriscado para ambos os membros.

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“Sou uma pessoa transexual, e tenho sido bem sucedida

apadrinhando homens em meu papel como mulher. Durante minha transição, um homem me apadrinhou. Porém, uma

vez que minha transição estava bem avançada, tive que

mudar para uma madrinha. Agora, o único homem que

apadrinho é gay”.

“Eu sou um homem que não apadrinhará mulheres nesse

ponto em minha recuperação. Acredito que eu perderia a objetividade, mas acho que

poderia apadrinhar um homem gay”.

“Como mulher bissexual, tenho possibilidades de

relacionamento românticas com pessoas de ambos os

sexos. Rezo para ser guiada e peço que a atração sexual, por menor que seja, seja revelada

se houver. Dessa forma, posso ser mais útil para os

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dois; dizendo ‘sim’ para aqueles que vejo

verdadeiramente como irmã ou irmão em recuperação e ‘não’ a qualquer um que eu

possa ver como namorado/a em potencial. Para esse fim,

normalmente apadrinho mulheres heterossexuais e

homens gays. Amo a mim e aos meus companheiros o

suficiente para honrar a intenção do relacionamento

padrinho/afilhado”. Apadrinhar membros em prisões e instituições

A maioria dos comitês de serviço que leva reuniões a adictos em instituições pede que seus membros não participem em apadrinhamento quando conduzem apresentações. No entanto, alguns membros de NA acham padrinhos e afilhados em situações institucionais. Temos que tomar cuidado especial quando consideramos se devemos apadrinhar ou não um membro que ainda está em tratamento, em uma instituição ou encarcerado. NA é um programa

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espiritual que pode ser trabalhado em qualquer lugar; porém, muitas instituições têm seu próprio conjunto de regras que pode afetar nossa interação com um membro residindo lá.

Enquanto os princípios do apadrinhamento são iguais para membros nessas circunstâncias especiais, temos que considerar quanto esforço estamos prontos a fazer, tanto como quanto tempo podemos dar. Alguns de nós podemos dar mais do que outros, e alguns de nós sentem que as demandas de nosso tempo e energia podem ser demais. Essas circunstâncias, sem dúvida, podem afetar nossa decisão em aceitar tal afilhado. Qualquer que seja nossa decisão, devemos nos proteger de nossas vidas se tornarem incontroláveis como resultado dessa decisão. Se formos incapazes de estarmos presentes para nós mesmos, então seremos incapazes de estarmos presentes para outra pessoa.

“Sou madrinha de uma mulher que conheci quando fui fazer

um painel institucional. Não é como apadrinhamento normal.

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Ela não tem meu telefone. Cada mês, quando vou visitar, dou leitura e tarefas para ela

fazer. No mês seguinte, revisamos o que ela escreveu,

e eu respondo quaisquer perguntas que ela possa ter”.

“Dou meu telefone a adictos

em tratamento e peço que eles mantenham contato comigo

até que eles saiam do tratamento. Acredito que me

colocar à disposição para recém chegados é uma parte

importante da minha recuperação”.

“Quando me pedem para

apadrinhar alguém em tratamento, não peço que eles escrevam nada. Eles já têm muitas tarefas escritas para

fazerem. Peço que eles leiam o Primeiro Passo todos os dias, grifando palavras e

frases que tenham especial significado para eles. Nos

encontramos semanalmente e falamos sobre os passos.

Dessa forma, sinto que

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estamos construindo nosso relacionamento”.

“No momento, estou

apadrinhando alguém que está em uma instituição. É difícil

nos comunicarmos, pois paredes e cercas nos

separam. Trabalhamos os passos via correio e telefone,

e uma vez por mês nos encontramos na sala de

visitas. Quando chegou a hora de ouvir o Quinto Passo

dele, funcionou bem. Qualquer informação que era

incriminadora ou sensível, escrevíamos em código, só para lembrarmos do que se

tratava. Posteriormente, pudemos falar mais a fundo

em particular. Ambos estávamos comprometidos e

dispostos a fazer esse relacionamento funcionar – dentro das paredes - e até

agora tem sido uma bênção enorme para nós dois”.

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Apadrinhar membros com culturas diferentes

A doença da adicção não discrimina. Ela nos prende independente de nossa família, raça, classe social, religião ou falta de religião. Assim como a doença não diferencia, a recuperação também não. Qualquer adicto disposto a trabalhar o programa de NA pode encontrar recuperação. Fazemos o possível para apadrinhar sem discriminação. Apadrinhar membros com experiências de vida diferentes e históricos familiares diferentes pode ser desafiador, mas os passos e tradições são princípios universais que podemos partilhar não importando de onde viemos.

“‘Como esses princípios

podem funcionar para mim quando NA é sobre unidade e

minha religião é sobre nós como um povo escolhido?’

uma afilhada com muitos anos limpa me perguntou. Tive a oportunidade de olhar para

como as tradições poderiam funcionar na vida dela.

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Acredito que muitos de nós que saem pelas portas pelo

zelo religioso o fazem porque não conseguem conciliar recuperação com religião. Parte de meu dever como

madrinha é levar a sério as dificuldades de minhas

afilhadas com as Tradições, independente de sua religião, e ajudá-las a alcançarem uma

compreensão de nossos princípios que podem

funcionar com suas outras crenças. As tradições, com

seus firmes direcionamentos contra misturar NA com outros

sistemas de crenças ou estruturas de serviço, tornam claro que tal reconciliação é

possível”.

“Mesmo com o caos e miséria em minha vida quando

cheguei a NA, sai que algumas pessoas me chamariam de

uma adicta que teve um fundo de poço ‘alto’. Cresci numa

família de classe média e fiquei limpa relativamente

jovem. Hoje, tenho um

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diploma avançado e um estilo de vida confortável.

Recentemente, arrumei uma afilhada nova que vem a NA por ordem judicial, após ser presa. Ela não tem dinheiro, nem emprego e tem um carro quebrado. Em cima de tudo isso, ela perdeu a guarda de

seus filhos. Me preocupei que não teria nada a oferecer para ela. Nunca tive filhos; como

saberia com é perdê-los? Porém, ao longo dos meses que a amadrinhei, pude falar com ela a respeito de perda e

aceitação e impotência. Temos essas coisas em

comum. Sinto tanto amor e respeito por ela, e acho que isso provavelmente é mais

importante do que ter a mesma história”.

“Moro numa área repleta de

imigrantes, mas minha comunidade local de NA não

reflete essa diversidade. Acho que minha recuperação pessoal é fortalecida por

variedade e diversidade, então

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fiz um compromisso com me tornar disponível como

padrinho a pessoas desses grupos. Não tenho certeza se isso fez alguma diferença, mas estou feliz por ver mais desses

adictos em nossas salas hoje”.

“Uma das razões que acredito

que NA pode alcançar uma população tão diversa é a

liberdade de escolha que nos é dada. Tendo a liberdade de escolher, especialmente meu Poder Superior, tem permitido que eu, como ateu, fique aqui

e me beneficie desse programa de recuperação. Os adictos a quem apadrinho têm suas próprias compreensões

de um Poder Superior. Respeito isso, assim como espero que eles respeitem

minha escolha. Eu os encorajo a rezar, meditar e manter contato consciente

com seus Poderes Superiores. Para mim, os passos oferecem

verdades universais que atravessam as barreiras de

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‘idade, raça, identidade sexual, credo, religião ou falta de religião’. Não temos que

acreditar no mesmo Poder Superior para trabalharmos os

passos juntos”. Tomando a decisão

Queremos tomar a melhor decisão que podemos, e às vezes essa decisão pode incluir dizer não quando nos pedem para apadrinhar alguém. Idealmente, com o que aprendemos em NA e de nosso padrinho ou madrinha, compreenderemos que não tem problema dizermos não.

Por outro lado, podemos sentir que entrar em um relacionamento temporário ou de transição pode nos beneficiar, tanto como a nosso afilhado em potencial. Como padrinho temporário, podemos ajudar a um afilhado com sua recuperação por um período curto, até que ele ou ela ache alguém com quem se sentem mais confortável. Alguns padrinhos pedem a um afilhado ou outro membro se eles gostariam de ter um afilhado ao invés de simplesmente falar não. Dessa forma, podemos ajudar ao

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afilhado em potencial a conseguir o apoio e orientação de um padrinho. Não importando quais são as circunstâncias, não queremos que adictos buscando recuperação se sintam sozinhos ou que não pertencem aqui.

“Sou o padrinho temporário de um companheiro há quase

doze anos. Por que estragar um relacionamento

maravilhoso”?

“Quando alguém me pede e eu preciso dizer não, por

qualquer razão, normalmente pego seu telefone e ligo para eles, para que não se sintam

rejeitados. Às vezes digo que se sentem atraídos por minha

recuperação, talvez eles se sintam atraídos por um de

meus afilhados. Daí, ambos temos uma saída – eu posso encaminhá-los a outro, e eles

não se sentem rejeitados”.

“Não sei qual é o problema em ter padrinhos temporários –

parece uma opção viável para mim. Acho que é só jogo de

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palavras de qualquer forma. O que é temporário? Um dia?

Uma semana? Um mês? Acho que é melhor ter um

padrinho por um tempo do que nenhum padrinho”.

Desenvolvendo nosso papel como padrinho

Métodos de apadrinhamento diferem de adicto para adicto. Alguns de nós apadrinhamos da forma que fomos apadrinhados, enquanto outros apadrinham da forma que gostaríamos de ter sido apadrinhado. Alguns acreditam que não há regras para apadrinhamento a não ser oferecimento de amor e aceitação incondicionais. Independentemente, os princípios espirituais nas tradições – incluindo anonimato, não-profissionalismo e serviço – providenciam uma pedra fundamental em comum para todos os relacionamentos de apadrinhamento. O espírito de apadrinhamento pode ser encontrado no fato de ajudarmos aos outros e dar a eles o que nos foi dado. Muitos de nós sabemos como confiança,

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fé e honestidade podem providenciar o alicerce necessário para ambos o padrinho e afilhado trabalharem na construção de seu relacionamento.

“Meu maior desafio como padrinho foi desenvolver

paciência e rendição quando apadrinhei dois adictos muito jovens. Eles precisavam viver seu momento de cabeça-dura,

não só por serem recém chegados, mas por serem

jovens experimentando algumas situações de vida, às

vezes pela primeira vez”.

“Acredito que o propósito dos passos é ter um despertar

espiritual, e é meu papel como padrinho guiar meus afilhados

pelos passos até o Deus de sua compreensão. Sinto que o

contato mais forte com meu Poder Superior vem quando estou ativamente levando a

mensagem”.

“É difícil apadrinhar alguém sem trabalhar o programa

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diretamente, então isso me encoraja a trabalhar os passos

com meu padrinho. Desenvolvo mais habilidades com os dos passos através de ajudar outros a encontrarem

seu caminho na mesma estrada”.

“Meu primeiro padrinho me levou pelo exemplo. Ele me

levou a diversas reuniões e me envolver com H&I. Eu

trabalhei os passos com ele. Após dez anos, ele se tornou

um amigo em quem podia confiar completamente com

qualquer coisa. Depois, ele se mudou e eu tive que achar

outro padrinho. Meu padrinho novo me disse para começar

no primeiro passo – impotência. Relutei e disse que já tinha trabalhado os

passos. Ele queria que eu os trabalhasse com ele sobre assuntos da vida, não só drogas. Foi muito difícil

conseguir aquela intimidade e confiança com outro padrinho,

mas acabou sendo a melhor

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coisa que podia ter acontecido: uma nova

perspectiva, um novo desafio, uma voz nova. Ir mais a fundo do que anteriormente tem sido

recompensador”.

Apadrinhar alguém pela primeira vez pode parecer demais para nós. Muitos de nós começamos seguindo o exemplo de nossos próprios padrinhos. Com o tempo, ganhamos um sentido sobre o que funciona melhor para nós e para cada um dos nossos relacionamentos de apadrinhamento. Como resultado, nosso relacionamento com nosso próprio padrinho ou madrinha pode crescer e mudar. A experiência coletada conforme passamos pelos Doze Passos juntos nos ensina como ser um padrinho.

“Eu nunca tive que ligar tanto para meu padrinho na minha recuperação inteira, quanto

quando comecei a apadrinhar pessoas. Me sentia muito

inseguro com o direcionamento que eu dava.

Cada vez que desligava o telefone com um afilhado,

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ligava para meu padrinho para dizer o que tinha falado ao

meu afilhado. Tiveram muitas vezes quando meu padrinho me dizia algo completamente diferente, então eu ligava para

meu afilhado para revisar minha sugestão. Hoje meu padrinho e eu nem sempre

concordamos sobre as sugestões que dou aos meus

afilhados. Aceitei que não sou exatamente como meu

padrinho e que tenho minha própria abordagem. Se meus afilhados quisessem alguém

exatamente igual ao meu padrinho, teriam pedido a ele.

Mas, eles me escolheram porque eu sou a pessoa a

quem eles querem pedir ajuda para trabalhar os passos”.

Algumas vezes aprendemos lições

dolorosas quando tentamos administrar, controlar ou consertar a vida e recuperação de nosso afilhado ou afilhada. Podemos nem perceber que estamos engajando nesse tipo de comportamento. No entanto, afilhados precisam aprender a tomar suas próprias

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decisões, não aquelas que nós queremos que eles tomem.

“Uma vez apadrinhei um adicto que manifestou

tendências suicidas. Tentei, sem sucesso, encaminhá-lo a um profissional para ajudá-lo.

Não sabia o que fazer, mas sentia que tinha que fazer

alguma coisa. Fiz algumas ligações, e ele foi

hospitalizado contra sua vontade. Ele se sentiu traído e

abriu mão de mim como padrinho. Apesar de eu ter um pouco de vergonha, estou feliz

por ter um ex-afilhado que está vivo, ao invés de um que

está morto”.

“Meu foco principal com meus afilhados é o trabalho de

passos e tradições. Não só escrevemos a respeito deles,

tentamos praticar os princípios em nossas vidas diárias. Parte de meu dever

como padrinho é ajudar meus afilhados a definirem seus

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próprios valores e não copiar os meus”.

“Fui ensinado a não

apadrinhar até que tivesse feito o Quinto Passo. Desde

então aprendi que não me tornei um bom padrinho até trabalhar o Nono Passo. Foi

quando aprendi o que significa ter um relacionamento sadio e que eu precisava resistir tentar

controlar meus afilhados”.

Precisamos ser vigilantes conosco mesmos para permitirmos que nossos afilhados cresçam em seu próprio ritmo. Enquanto queremos oferecer orientação com amor, é também importante deixar que afilhados sofram as conseqüências de suas próprias ações. Isso não significa que ignoraremos uma ação em particular, nem que abandonaremos ou viraremos nossas costas para eles. Na verdade, deixamos os resultados nas mãos do Poder Superior e apoiamos nossos afilhados durante suas dificuldades.

Alguns de nós deixam seus afilhados tropeçarem e crescerem conforme tomam

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suas próprias decisões. Outros podem usar um enfoque mais didático. Conforme experimentamos o quão recompensador é ver alguém crescer, recebemos uma chance de aprender sobre impotência perante nossos afilhados e sua doença. Praticamos o princípio de rendição e tentamos nos lembrar que recuperação é um processo.

“Minha afilhada estava

determinada a continuar praticando comportamentos que estavam em conflito com os princípios que ela estava

aprendendo através dos passos. Ela sentia que roubar de um provedor de serviços

públicos era justificado porque eles cobravam demais de seus clientes. Infelizmente, ela se justificou até a prisão.

Hoje ela ainda paga restituição por seu crime. Eu lhe falei que

escrever os passos não tem fundamento nenhum se ela

não incorporar aqueles princípios em sua vida e fazer mudanças sadias. Eu acredito

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187

que o adicto que não muda usará novamente.

Eu a amei e apoiei ao longo das conseqüências de suas ações. Nunca tive que dizer ‘não falei?’ Não posso negar meus afilhados a dor de suas

conseqüências. Só posso amá-los incondicionalmente

enquanto eles experimentam a vida. Deixo bem claro que

estou apoiando a elas, e não seu comportamento”.

“Sim, cada adicto é diferente e

segue a estrada de recuperação em seu próprio ritmo. Mas uma regra geral a

respeito do ritmo é que, enquanto não posso fazer

muito (se é que posso fazer alguma coisa) para aumentá-

lo, eu posso diminuí-lo. Acredito que uma das maiores responsabilidades de ser um padrinho é encorajar avanço, não atraso. Tento pegar cada oportunidade que posso para

ajudar meus afilhados rumo ao despertar espiritual que eu, e

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188

outros adictos, tem tido como resultados desses passos”.

Alguns membros acreditam que a

partilha de experiência, força e esperança ao invés de teoria, ajuda a esclarecer a diferença entre apadrinhamento e terapia. Outros membros preferem partilhar pouco de sua experiência pessoal e depender mais de literatura de NA para explicar como usar as ferramentas do programa. Às vezes nosso papel mais importante como padrinho é de ouvinte. Alguns de nossos afilhados podem precisar mais do que qualquer outra coisa, sentir que alguém os ouve.

Como padrinho ou madrinha, precisamos estar cientes dos recursos que nós temos e o que temos a oferecer. Queremos ter certeza de que levamos a mensagem de esperança e não o desespero de nossa doença.

“Uma das coisas mais legais sobre apadrinhamento é que

me lembra de praticar as Tradições de NA – não-

organização e não-profissionalismo. Idealmente,

é um relacionamento

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189

totalmente informal, e se torna o que os dois indivíduos querem que se torne”.

“Normalmente digo aos meus afilhados no começo de nosso relacionamento que não sou

conselheiro ou terapeuta. Encorajo meus afilhados a

falarem sobre as coisas comigo. Faço o melhor que

posso para guiá-los aos passos para obterem

respostas e orientação em seus problemas, mas não

tento dar as soluções. Acredito que as respostas se encontram nos passos e nas tradições. Meu papel como padrinho é falar sobre ficar

limpo em NA. Também acho útil falar sobre a Décima

Tradição – não tendo opiniões sobre assuntos alheios –

especialmente ao lidar com assuntos como remédio,

relacionamentos com família, carreiras, etc. Para esses e

outros assuntos, sugiro procurar ajuda profissional”.

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“Antes de pedir para um afilhado novo ler ou trabalhar no Texto Básico, Isso Resulta:

Como e Porque, ou Só Por Hoje, sugiro que eles leiam

nossos folhetos. Isso parece ser menos intimidador ou

sobrecarregador e os acostuma com os básicos – particularmente quando são

novos e estão confusos”.

Enquanto todo relacionamento é diferente, alguns dos fatores fundamentais que tornam um relacionamento saudável e produtivo são constantes. Apadrinhamento depende de confiança, e como padrinhos devemos ter a capacidade de manter as confidências das pessoas a quem apadrinhamos. Isso pode apresentar desafios se, por exemplo, somos confrontados por membros da família, ou cônjuges de nossos afilhados. Se apadrinharmos um menor de idade, talvez precisemos criar alguma espécie de relacionamento com seus pais. Em quaisquer circunstâncias, precisamos ser vigilantes em manter nossas responsabilidades perante aqueles que apadrinhamos. A confiança

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de nosso afilhado ou afilhada é uma dádiva preciosa, e devemos honrá-la.

“Um dos aspectos mais

difíceis de apadrinhar alguém menor de 18 anos é que às

vezes você tem que criar um relacionamento com o pai ou

responsável do afilhado. Quando apadrinhei um recém chegado de 15 anos, às vezes tinha que ligar para a mãe dele e explicar as coisas para ela, como o fato de que eu tinha

falado ao meu afilhado que ele deveria ir a reuniões todos os dias. E, claro, tinha que falar

com meu afilhado o tempo todo sobre minhas conversas com sua mãe, assegurando

que ele se sentia confortável e seguro com isso. Demorou,

mas ela começou a confiar em mim porque eu tomava o

tempo para explicar o processo de recuperação a

ela. Hoje, meu afilhado de 19 anos, limpo há 5 anos, tem um relacionamento incrível com sua mãe. Ela aprendeu que

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ela podia ser somente sua mãe e não tinha que estar

envolvida em seu relacionamento de

apadrinhamento. Nos feriados eles me convidavam para a casa deles e tudo o que ela

podia fazer era me agradecer por devolver seu filho a ela.

Disse a ela para não me agradecer, mas sim agradecer

a Narcóticos Anônimos”.

“Em um momento de minha recuperação, fui madrinha de

uma mulher que estava saindo com um de meus parentes. O

tempo passou e seu relacionamento foi ficando

mais sério, e foi ficando mais difícil para eu ser sua quase-parente e sua madrinha. Eu tinha informação que eu não queria, vindo dela e de meu

parente. Gostaria de dizer que lidei com isso de forma

madura, mas na verdade eu lutei com isso até que tudo

explodiu numa grande briga e nós quebramos a confidência uma da outra. Depois que as

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193

coisas se acalmaram, conversamos a respeito do

que aconteceu. Nós concordamos que ela estaria melhor com outra madrinha.

Hoje, somos amigas e eu aprendi minha lição e não

apadrinho mais pessoas que estão envolvidas em minha

vida dessa forma”.

Quando somos pedidos para apadrinhar alguém, às vezes ficamos entusiasmados demais em mostrar nosso conhecimento do programa, especialmente se vários membros nos pedem. Quanto mais pessoas procuram respostas em nós, mais fácil é para nos enchermos de auto-importância. Por mais que tentemos resistir ficarmos confiantes e egoísticos demais, podemos nos ver caindo na armadilha do “superpadrinho” – pensando que sabemos tudo e somos infalíveis!

“Você nunca sabe quem vai dar certo nessa irmandade.

Eu não posso ignorar ninguém nem nada que é dito em uma reunião, já que aquela pessoa

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ou o que ela disse pode ser exatamente o que eu preciso

em algum momento do futuro”.

“Como um padrinho com

bastante tempo limpo, percebi que já que eu nunca fui a uma formatura do NA, deve ainda

haver mais para eu aprender!”

“Eu fiquei muito julgador a respeito de meus afilhados com nove ou dez anos em recuperação, que não me

ligavam mais tanto. Mas meu padrinho disse ‘Não ache que

você é tão importante’”.

Nos mantendo cientes de nossas limitações e continuando a fazer nosso inventário pessoal pode impedir que entremos no pensamento de “melhor que”. Apadrinhamento permite que cresçamos por experimentarmos nossas limitações. Ao admitirmos essas limitações e sermos honestos com nossos afilhados, fortalecemos o elo entre nós.

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“O negócio é partilhar experiência, força e

esperança. O que exatamente isso significa? Significa não falar sobre o que eu faria se estivesse naquela situação,

mas sim falar sobre o que eu fiz em situação similar. Se não

tive nenhuma experiência, acredito que não tenha

problema indicar alguém que tenha tido. Isso não significa que sou um ‘mau’ padrinho. Significa que sou um bom

padrinho que leva recuperação a sério”.

“Me lembro de ter 21 anos

limpo e querendo simplesmente morrer. Estava

sentindo tamanha dor emocional, mas estava com

medo de partilhar como estava sentindo em meu grupo de escolha. Era eu quem tinha mais tempo daquela área, e

vários afilhados também freqüentavam aquele grupo.

Tinha ouvido que eu não posso salvar minha pele e meu

ego ao mesmo tempo.

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Finalmente deixei o ego de lado e partilhei como estava

realmente sentindo. Sabia que meus afilhados iam ficar

envergonhados e me largar como seu padrinho. Pelo

contrário, arrumei mais dois afilhados que queriam o que

eu tinha. Vai entender!”

Haverá momentos nos quais nossa experiência não se aplica ao momento de um afilhado ou ele ou ela está com algum problema além de nosso conhecimento. Talvez tenhamos que dizer “Não sei” ou encaminhar nossos afilhados a outros que podem ajudar quando nós não podemos. Não queremos oferecer orientação a respeito daquilo que não temos experiência. Nós, também, podemos buscar ajuda de outros sobre como lidar com as coisas, tendo certeza de manter a confidencia e anonimato de nosso afilhado ou afilhada. Oferecer sugestões aos nossos afilhados sobre onde eles poderão encontrar ajuda não significa que falhamos como padrinhos. Significa o oposto, na verdade. Enquanto podemos nem sempre saber o que é melhor para nossos afilhados, podemos lhes oferecer um ombro amigo e

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assegurar-lhes que eles não estão sozinhos.

“Partilhando somente minha experiência, estou em solo firme. Sei que estou sendo

honesto, e que se meu afilhado fizer o que eu fiz, ele pode ficar limpo. Se eu der

conselhos, não estou em base firme. Se meu afilhado segue

meus conselhos e acaba usando ou experimentando

conseqüências desfavoráveis, eu seria responsável. Deixo

os conselhos para os profissionais que sabem lidar com essas conseqüências”.

“Quando digo ‘sim’ a alguém

que pede que eu seja seu padrinho, estou me

comprometendo com outra pessoa e comigo mesmo, assim como com minha

recuperação em geral. Vejo meu papel não como dar conselhos, mas partilhar

minha experiência, força e esperança num nível mais

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198

íntimo. Isso começa por ouvir”.

Se não temos certeza sobre como

encarar uma pergunta ou pedido de nosso afilhado ou afilhada, podemos perguntar a nosso padrinho. Não estamos a sós nos nosso processos de tomada de decisões. Aqui, a corrente de recuperação pode ser vista em sua mais pura forma – um adicto ajudando outro a ajudar a outro. Na maioria dos casos, muitos de nós descobrimos que nosso padrinho tem a resposta exata que estamos precisando.

Um dos maiores desafios como padrinho pode ser o desejo de protegermos nossos afilhados das situações avassaladoras em suas vidas. Devemos estar cientes que nosso papel como padrinho não é proteger nossos afilhados da vida, mas ajudá-los a usar os princípios do programa para viver a vida plenamente.

“Falo para meus afilhados que crescimento pode ser

doloroso e solitário às vezes. É como remover as rodinhas

da bicicleta. Nem sempre

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posso correr do lado da bicicleta para impedir que

você caia. Tudo o que posso fazer é estar lá para te ajudar a

levantar e te estimular para tentar novamente, até que

você aprenda a andar. Aqueles cortes e hematomas vão compensar bastante no

futuro”.

“Para mim, ser um bom padrinho significa que, talvez,

meu afilhado irá aprender tanto com seus próprios erros

quanto com seu padrinho!”

Para a maioria de nós, apadrinhamento oferece muitas vantagens e dádivas. È uma forma de nos mantermos conectados a NA, a servirmos, e aprofundarmos nossa intimidade. Temos a oportunidade de compartilhar o despertar espiritual em outro membro. Apadrinhamento pode se tornar um relacionamento saudável e respeitoso, e freqüentemente uma amizade profunda. Cada relacionamento é especial de seu próprio jeito. Podemos nos sentir mais próximos a algumas pessoas que apadrinhamos do que

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outras, mas tentamos dar o melhor de nós em cada relacionamento e assegurarmos que estamos igualmente disponíveis e receptivos a todos os nossos afilhados.

“Muitos dos relacionamentos que entrei como padrinho me

deram grandes amigos”.

“Eu não me aproximo muito dos meus afilhados por

algumas razões que acho importantes. Eu trabalho com eles somente em recuperação, não como melhores amigos,

conselheiro profissional, banco, conselheiro

matrimonial, etc. É importante que eles saibam que meu

único interesse é sua recuperação. Isso lhes dá a

oportunidade de serem honestos comigo e não

enfeitar nada por medo que eu os julgue ou desaprove.

Também, acreditando que meu único interesse é sua recuperação lhes dá a

habilidade de ouvir o que digo sobre certos assuntos”.

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“Tenho muitos tipos de relacionamento com as pessoas que apadrinho.

Alguns são meus ‘melhores amigos’, alguns são mais

como ‘negócios’, e outros são emocionalmente distantes.

Tento não pré-julgar que tipo de relacionamento deveria ter com um afilhado, permitindo

que o relacionamento cresça e mude naturalmente”.

Enquanto nossa jornada através do apadrinhamento irá variar de membro para membro e comunidade para comunidade, estamos todos buscando o mesmo destino em recuperação. Através de trabalhar os passos e tradições com nossos afilhados, aprendemos a ser consistentes e termos boa vontade para praticarmos os princípios espirituais.

“Trabalho com meus afilhados num grupo de estudo de

passos, assim como individualmente. Usamos o novo guia para trabalhar os passos, junto com o Texto

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Básico e Isso Resulta: como e porque. A maioria dos

companheiros que apadrinho têm múltiplos anos limpos, e

poucos são novos ao programa. Também enfoco as

tradições e fortemente encorajo adesão à Décima

Segunda Tradição”.

“Antes de trabalhar com minhas afilhadas, rezo e

convido Deus para a experiência. Precisamos

lembrar que Deus é o poder maior. Peço sabedoria,

conhecimento, e coragem para ver a verdade e significados dos passos para que mais cura possa ocorrer. Após

trabalharmos o passo, rezamos e agradecemos a

Deus por mais uma oportunidade de nos curarmos

aplicando os princípios. É incrível a distância que

podemos percorrer com os Doze Passos!”

“As tarefas que dou aos meus

afilhados dependem de seu

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tempo limpo. Digo a todos os recém-chegados: ligue para

mim todos os dias e deixe um recado se eu não estiver em

casa; se você mentir não posso te ajudar, então por favor não minta; não sou

conselheiro, nem conselheiro matrimonial nem alguém que

vai ser facilitador, não empresto dinheiro; se você

quer ficar limpo, posso ajudar, mas se não vai fazer nenhum esforço, não posso te fazer

bem nenhum; vá a 90 reuniões em 90 dias e começaremos a trabalhar o Primeiro Passo

juntos; se você tiver vontade de usar, me ligue antes de

fazê-lo. Dou sugestões diferentes a afilhados com

mais tempo limpo. Mas independente das tarefas diferentes, trato todos os

meus afilhados com o mesmo respeito e amor. Quando eles

ligam, é para nós nos conhecermos melhor e

criarmos um elo”.

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204

“Algumas de minhas afilhadas se encontram com mulheres com o mesmo tempo limpo

para trabalhar nos guias dos passos juntas. Elas acham

motivador fazer isso, e dizem que isso ajuda a criar

relacionamento mais fortes. Conforme completam o passo, escolhem partilhá-lo comigo”.

Apadrinhamento abre a porta para

nossos próprios corações, e podemos aprender a não nos levarmos tão a sério. Partilhamos as realidades da vida com nosso afilhado ou afilhada – alegria e tristeza, felicidade e depressão, coragem e medo, verdade e decepção, nascimento e morte. Através da simplicidade do programa de Narcóticos Anônimos, é possível partilharmos uma vida de liberdade além dos nossos mais incríveis sonhos.

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205

CAPÍTULO QUATRO

O RELACIONAMENTO DE APADRINHAMENTO:

DESENVOLVENDO E SUSTENTANDO-O

Desenvolvendo e sustentando o relacionamento de apadrinhamento

Relacionamentos requerem trabalho. A maioria das pessoas acha difícil ser vulnerável, aprender a confiar e a ser confiável, e se comprometer. Para adictos, essas coisas são especialmente difíceis. Muitos de nós não tivemos exemplos ótimos no que diz respeito a respeito mútuo e carinho. Em nossa adicção, corremos de intimidade, freqüentemente nos fechando para aqueles que mais se importavam conosco.

No apadrinhamento, temos a oportunidade rara para aprendermos uns dos outros, ensinar uns aos outros, e gostar uns dos outros. O apadrinhamento nos mostra como trabalhar com os outros enquanto nos

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206

conhecemos. Podemos aprender a confiar. Naturalmente, o relacionamento nem sempre será fácil. Iremos cometer alguns erros. Mas nos tornamos dispostos a arriscar e encarar aqueles medos que nos impedem de experimentar relacionamentos ricos e significativos. Através do apadrinhamento, podemos aprender a viver mais plenamente.

“Ao apadrinhar outros adictos, vim a entender que tenho a capacidade de gostar e até amar outras pessoas. Fui

forçado a ver que elas precisam de mim. Elas em escolheram para guiá-las

através dos passos. Sei agora que tenho algo a dar: minha experiência de recuperação

em NA. Tenho orgulho disso.”

“Se estar em recuperação significasse somente ir às

reuniões, poderia continuar com minha vida sem nem trabalhar em mim. Nem

precisaria de ajuda. Poderia somente ir às reuniões, ficar com companheiros, e ir para

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casa. Mas essa não é a realidade. Preciso trabalhar

em meus relacionamentos – a maneira que meus defeitos de caráter, minhas dificuldade se

minhas crenças afetam a maneira que lido com as

outras pessoas. Preciso fazer bastante para me tornar a

pessoa que quero ser. Se eu fizer isso sem a orientação e o

apoio de meu padrinho, não crescerei tanto. Sem seu

percebimento, provavelmente eu não iria tão a fundo quanto

poderia ir.”

“Estou ciente de quem eu era antes de ter uma madrinha:

uma pessoa solitária e isolada. Minha madrinha me tem ajudado a construir um

relacionamento forte com meu Poder Superior e ao trabalhar os Doze Passos, através dos quais eu tenho aprendido a

lidar com meus comportamentos adictivos. Meu relacionamento com

minha madrinha é precioso

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para mim. Sou grata por sua presença em minha vida”.

Às vezes o relacionamento de

apadrinhamento de desenvolve com facilidade desde o começo. Ambos os membros se sentem confortáveis um com o outro quase imediatamente e partilham com entusiasmo. Outras vezes, fazer o esforço de conhecer outra pessoa pode parecer difícil ou quase impossível. Aprender a comunicar bem é um dos desafios que encaramos ao longo da nossa caminhada em recuperação. Auto-revelação honesta e respeito mútuo podem providenciar um alicerce sólido sobre o qual pode-se construir esse relacionamento excepcional. Contato freqüente com nosso padrinho ou afilhado pode nos ajudar a abrir nossos corações e permitir que intimidade se desenvolva.

“Tenho descoberto que às

vezes apadrinhamento é fácil, e o relacionamento precisa de

pouco trabalho. Tenho trabalhado com uma afilhada

há 15 anos, cuja visão para ela mesma tem sempre sido igual

à minha. Às vezes me

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209

pergunto se o trabalho que fazemos juntas é tão

importante espiritualmente quanto aquele que faço com

pessoas que requerem bastante tempo, energia e

oração. E sabe o que? Após anos de dramas girando em

torno das drogas, e dificuldades, aprendi que a

vida nem sempre é uma luta, que paz de espírito é possível,

e relacionamentos que são fáceis são preciosos”.

“No início, eu e minha madrinha trabalhamos

somente os passos e meus problemas. Hoje, porque nos conhecemos tão bem (durante os últimos 16 anos), podemos partilhar sobre tudo. É como ter uma melhor amiga, que eu nunca tive no passado, pois não confiava em mulheres. Ter uma madrinha me fez

pensar em outra pessoa em me tem dado ferramentas para construir um relacionamento duradouro. Às vezes ainda é

difícil pedir ajuda, mas sei que

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quando peço, as recompensas são maiores do que jamais

imaginei”.

Muitos de nós temos expectativas irrealistas sobre o que um relacionamento de apadrinhamento deve ser. Podemos sempre querer ter as respostas certas para aquelas perguntas difíceis que os afilhados fazem. Podemos querer ser o afilhado preferido fazendo a coisa certa, sempre. Alguns de nós enxergarão o apadrinhamento como a forma de ter o melhor amigo que nunca tivemos nossa vida inteira. Esses desejos não são errados ou prejudiciais, mas impor condições para o que queremos ou o que achamos que queremos, limita nossas possibilidades e pode atrasar nosso crescimento. Ficar limpo e manter a mente aberta muitas vezes traz dádivas muito além do que imaginamos para nós mesmos.

“Quando cheguei ao

programa, achei que um padrinho era um super-herói

ou cavaleiro de armadura brilhante que sempre viria me salvar. Depois de achar um

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padrinho, percebi que, enquanto meu padrinho me dava enorme conforto em

momentos de dificuldade, na verdade ele está lá para me

ajudar a trabalhar os passos”.

Um elo dinâmico e significativo entre um padrinho e afilhado depende de um alicerce sólido de boa vontade. Isso inclui a boa vontade para passar por dificuldades sem deixar medo ou raiva destruírem o relacionamento. Nosso padrinho poderá nos desafiar, pedindo que olhemos para algo desconfortável, ou talvez desafiemos nosso padrinho, querendo algo mais ou diferente do que estamos recebendo. Às vezes a reação inicial de qualquer uma das partes é defensiva. Podemos até trocar palavras ásperas ou dizer coisas das quais depois nos arrependeremos. Como em qualquer relacionamento, a coragem e humildade necessária para resolver essas questões freqüentemente levam o relacionamento de apadrinhamento a níveis mais profundos.

“Não estava muito preparado para o fato de quanto

apadrinhamento iria me

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desafiar a me estender e crescer. Pensava que como o

padrinho era eu quem ia desafiar os afilhados. Eu convido abertamente os

companheiros que apadrinho a me confrontarem livremente, admitindo que cometo erros e sou totalmente humano, mas

quando eles fazem exatamente isso, minha primeira reação

instintiva é defensiva, ou dor, ou raiva. Em outros

momentos, sou eu quem diz algo que acredito que precisa

ser dito, e eles se tornam magoados ou defensivos.

Tento sempre ser sensível e respeitoso, mas às vezes a

coisa que precisa ser dita não é muito gostosa. E talvez em outros momentos não estou tão amoroso e centrado, e

digo alguma coisa que machuca, que eu levo ao meu

Décimo Passo.

Vim a enxergar esses momentos de dor e conflito

como oportunidades de ganhar habilidades básicas de

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relacionamento que posso aplicar posteriormente em

meu casamento, com meus filhos ou em qualquer outro lugar. Tive que aprender, às vezes dolorosamente, que

conflito e raiva entre as pessoas não tem que significar rejeição ou

abandono. Vivi com muito medo desses momentos de

desconforto interpessoal antes de encontrar NA. O

relacionamento de apadrinhamento tem sido a

oficina onde tenho aprendido a confiar no amor e

compromisso de outros homens em recuperação o suficiente para ficar e ter

conversas difíceis. Em quase todos os casos, se eu ficar ali com amor e respeito, e se eu

me manter focado em princípios, nós saímos das coisas com um elo maior de

confiança e respeito mútuo do que entramos. Aprendi não só

a não ter medo desses momentos desafiadores, mas a aceitá-los de braços abertos

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214

como os momentos chave para o aprofundamento do

relacionamento”.

Ambos os membros devem estar motivados a trabalharem um com o outro, comprometidos com sua própria recuperação, e dispostos a aprender mais a respeito dos princípios espirituais de NA. Quer sejamos o padrinho ou o afilhado, esse relacionamento providencia um dos nossos elos mais básicos ao programa de Narcóticos Anônimos e pode nos mostrar como viver as soluções que os passos têm a nos oferecer.

“É imperativo que eu examine

meus motivos quando concordo em apadrinhar

alguém. Ego não tem lugar em meu processo de tomada de

decisão. Com a orientação do Poder Superior e um sincero

desejo de ajuda a outro adicto, posso construir um

relacionamento baseado em amor incondicional e

compromisso. Entrar no apadrinhamento é arriscado. Partilhar algumas de minhas

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verdades mais íntimas pode se assustador. Porém, confio

que meu Poder Superior está no meio do relacionamento e

me ajudará a partilhar livremente. Verdade cria confiança, e quanto mais

verdades partilhamos, mais confiança se desenvolve. Quanto mais dou, mais

recebo, e esse processo ajuda a manter um relacionamento

duradouro”.

“Porque é que afilhados sempre parecem ter uma

‘crise’ durante meus exames finais na escola? Minha

solução no último semestre foi deixar uma mensagem simples de NA em minha caixa postal: ‘Se isso for um afilhado, vá a

uma reunião, trabalhe seu passo, e depois me ligue.’ Quando eles queriam me

contar tudo sobre o drama em suas vidas eu simplesmente

perguntei onde estavam com o passo atual. Após o longo

silêncio, eu dizia ‘Exatamente! Escreva o passo e depois me

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216

ligue’. Tenho certeza que essa abordagem não funcionaria

com todo mundo, mas parece ter funcionado bem com meus

afilhados, e comigo”.

“Como uma afilhada que acabou de começar a trabalhar

com outra madrinha, estou aprendendo tudo novamente sobre compromisso. Depois de estar limpa por mais de 20

anos, às vezes me torno complacente e muito

confortável. Esses são os momentos que preciso voltar aos básicos – aquelas coisas que eu fazia sem perguntar

quando comecei a ficar limpa. Preciso ir a reuniões

regularmente, e trabalhar os passos. Às vezes essas

coisas são difíceis de fazer. As desculpas que estou muito cansada para ir a uma reunião ou que está muito tarde para

ligar podem me meter em grandes encrencas. Sei que preciso fazer minha parte.

Não quero ir à minha próxima reunião só para pegar uma

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ficha branca. Sei que isso parece dramático, mas a questão não é realmente

essa? O Texto Básico diz: ‘tempo limpo não é igual a

recuperação’.

Ficarmos limpos, trabalharmos os passos e trabalharmos com nossos padrinhos não nos isentam das realidades de viver a vida. Às vezes nos vemos frente às circunstâncias mais difíceis da vida. Nossos relacionamentos como padrinhos e afilhados podem oferecer o apoio e compreensão que precisamos para continuar indo em frente. Somos todos sobreviventes, e tentamos fazer o melhor que podemos. Encontramos dádivas aqui em NA que a maioria das pessoas nunca experimenta em sua vida. Temos uma conexão que nos mantém unidos: compartilhamos a recuperação de uma doença devastadora.

“Fui recentemente

diagnosticado com uma doença que os médicos dizem irá tomar minha vida em mais

ou menos um ano. Medo e

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218

pânico me envolveram no início, mas aí senti uma

estranha sensação de calma. Percebi que a calma era minha doença, da adicção, dizendo

para mim ‘Ei, agora pode começar a usar drogas de

novo porque você está morrendo’. Sabia no fundo do meu coração que não queria passar meus últimos dias na terra preso nos horrores da

adicção. Imediatamente liguei para meu padrinho! Nós

conversamos, choramos, e começamos a fazer o que fazemos há anos juntos... praticamos os princípios espirituais desse lindo

programa. Encaro minha mortalidade diariamente indo a

reuniões, falando com meus afilhados e padrinho,

trabalhando os passos, e confiando no meu Poder Superior amoroso. Sabe,

sempre achei que eu seria um daqueles velhinhos que

levanta numa convenção com 50 anos limpo, mas percebo agora que tenho a dádiva de

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219

estar limpo só por hoje, e não me sinto só. É daí que vem a

minha liberdade”.

“Quando estava usando, parecia que meu coração tinha

virado pedra. Tinha feito e visto tanto que não conseguia

mais chorar ou sentir, e duvidava que iria fazê-lo

novamente. Isso mudou para mim quando ouvia o Quinto

Passo de minha afilhada. Ela partilhou sobre ser espancada por seu padrasto, e enquanto

falava, eu via seu corpinho sendo machucado por ele.

Imediatamente, me lembrei de ter apanhado do meu pai, e meu coração se partiu, com muita tristeza para nós duas.

Sua partilha honesta foi a conexão de volta para uma vida emocional para mim. Enquanto eu chorava, os

olhos dela permaneciam sem lágrimas. Ela só tinha seis meses limpa – o tempo do despertar emocional dela

estava por vir”.

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220

“Meu afilhado estava no Terceiro Passo quando sua

namorada o largou de repente para ficar com outro membro de NA com muito mais tempo

limpo que ele. Ele ficou arrasado e sentiu muita dor

por muito tempo. Estava preocupado que ele não ia

conseguir sair dessa limpo ou vivo. Tudo o que conseguia dizer a ele era para continuar tentando entregar sua vida e

vontade ao Poder Superior de sua compreensão. Para minha

surpresa, ele finalmente alcançou aceitação da

situação. Ele confiou que a vontade do Poder Superior

dele era o melhor para ele, não importando como isso sentia. Minha própria confiança em Deus e no poder do Terceiro

Passo foi imensamente melhorado por essa

experiência”.

Conforme crescemos em nosso relacionamento de apadrinhamento, nos tornamos cientes do impacto de trabalharmos com os princípios de NA.

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Começamos a ver os resultados de aplicarmos os passos e tradições em nossas vidas diárias, nas vidas daqueles à nossa volta, e em como enxergamos nosso lugar no mundo. NA nos ajuda a nos libertarmos das drogas, mas logo começamos a entender que crescer em recuperação vai muito além de simplesmente não usar.

“Me tornei menos e menos motivado pela necessidade

dos meus afilhados gostarem de mim. Com isso não quero

dizer que me tornei menos gentil ou amoroso, mas sim, que eu abri mão de minhas

tendências de agradar o outro. Posso me sentir mais

confortável sendo honesto, mesmo quando estou falando

com alguém que pode se tornar defensivo, raivoso ou

hostil. Aprendi como defender minhas crenças e praticar os princípios espirituais que NA

me ensinou. Agora tenho mais experiência para dar

orientação e direcionamento a afilhados, sempre procurando

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222

usar os Doze Passos como base da solução.

Isso, por sua vez, tem me

ajudado a ser um afilhado com mais mente aberta, com maior habilidade para confiar no meu padrinho e revelar o que está realmente acontecendo em

minha cabeça e coração. Já que confio mais em mim,

aprendi a confiar mais nos outros. Posso ouvir críticas

construtivas, sugestões e aquelas velhas verdades que tenho dificuldade de enxergar sem a ajuda de outro, com a

mente aberta. Hoje confio que meu padrinho me ama incondicionalmente e verdadeiramente me

compreende com o coração cheio de empatia e ajuda”.

Através do processo de trabalhar os

passos juntos, descobrimos que, o que pode iniciar como um relacionamento desbalanceado, com uma pessoa dando toda a ajuda, se desenvolve em uma “via de mão dupla” que tanto ouvimos falar, com cada adicto ajudando ao outro.

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Alguns membros experimentam o apadrinhamento como um elo amoroso e incondicional, enquanto outros o verão em termos da instrução ou até disciplina que ele pode providenciar. Independente de como nosso relacionamento de apadrinhamento se desenvolve, fazemos nosso melhor para ajudarmos um ao outro.

“O processo de trabalhar os passos com meus afilhados

nunca pára de me surpreender. Continuo crescendo em minha

recuperação pessoal por causa da perspectiva nova

que suas interpretações dos passos oferece. Cada vez

que eu sento com um afilhado para trabalhar os

passos, tenho novas revelações. As palavras nas paginas de nossa literatura parecem ganhar vida e falar comigo como nunca antes.

Às vezes e como se eu nunca tivesse visto certos trechos, ou ouvido certo

conceito ou principio antes. Agradeço a Deus e a meus

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224

afilhados por suas contribuições a minha

recuperação”.

“Fiquei muito chateado com meu padrinho quando senti

que ele estava fazendo corpo mole com o

compromisso dele comigo. Ficava dizendo isso a ele varias vezes, ate que ele pediu que eu fizesse um

inventario sobre ele. Foi um processo incrível para mim. Escrevi sobre tudo – porque eu o escolhi e continuei com ele; o que ele fazia que me deixava com raiva; o que

gostava nele; o que funcionava e o que não

estava funcionando. Depois, nos encontramos e discutimos o inventario de forma amorosa e madura. Ele partilhou que esteve

numa situação similar com um padrinho, e que ele fez a mesma coisa. Eu não mais

me sentia frustrado e sozinho. Ao me tornar honesto com ele, nosso

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225

relacionamento pode continuar a evoluir”.

Como trabalhamos os passos

Quando trabalhamos os Doze Passos, aprendemos a trilhar um caminho espiritual. Nossa habilidade para partilhar nossos pensamentos sobre princípios espirituais com outra pessoa é um presente poderoso de recuperação. Ajudarmos nossos afilhados a trabalharem os passos enriquece nossa própria espiritualidade. Em muitas formas, esses princípios são elementos básicos para estabelecermos e mantermos relacionamentos saudáveis – com nosso Poder Superior, nós mesmos e outro ser humano.

“Minha madrinha tem me ajudado a ver que

relacionamentos com homens me causaram muitos problemas no

passado. Ela me ajudou com minha decisão de me distanciar de romance ate

que tenha meu Poder Superior como meu primeiro

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226

e mais importante relacionamento”.

“Em um determinado

momento de minha jornada, estava me sentindo

espiritualmente inadequado, frustrado e sozinho. Me

encontrei com meu padrinho e li o que eu tinha escrito

nos últimos dias. Foi intenso, e doeu por aqueles

sentimentos para fora. Estava julgando o meu

interior pelo exterior dos outros, e sabia disso. Após ouvir a leitura e me deixar partilhar do coração, meu

padrinho me assegurou que se ele acreditasse que a

solução para minha insanidade fosse outra coisa

senão os Doze Passos de NA, ele me avisaria. Eu

entendi e segui em frente. Sabia, e muito bem, qual era

a alternativa. Isso foi ha quatro anos, e sei hoje que nunca estou só, a não ser

que eu queira estar”.

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227

“Trabalhar o Quarto e Quinto passo com minha

nova madrinha foi assustador no início. Já

tinha feito os passos com duas madrinhas anteriores e

tinha recebido uma sensação de liberdade

duradoura. Mas minha vida ainda estava sendo regida

por um desejo de aceitação social no programa, e meus muros de defesa ainda me bloqueavam da intimidade. Minha doença ainda estava

ativa em minha vida, mas de maneiras novas e antes desconhecidas. Quando estava escrevendo meu Quarto Passo usando o

guia, tive que depender de minha nova madrinha para me dar apoio, empatia, e

amor incondicional par que pudesse fazer o inventario profundo. As palavras que minha madrinha usou ainda

estão na minha cabeça: ‘Largue a velha você. Você precisa do espaço porque a

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228

nova você esta se mudando para cá’”.

Recuperação é uma experiência

altamente pessoal. Como padrinhos, cada um de nós tem desenvolvido sus própria maneira de trabalhar os passos com afilhados. Alguns de nós usam dicionários, assim como as diversas ferramentas do programa, como o Texto Básico, Isso Resulta: Como e Porque, e os Guias para Trabalhar os Passos em Narcóticos Anônimos. Podemos pedir que afilhados escrevam a respeito de certas partes desses textos e outra literatura de NA.

Há, também, versões em áudio da literatura de NA para ajudar aqueles de nós com deficiências físicas ou que não têm habilidades literárias fortes. Muitos dos textos e panfletos de NA são publicados em um grande número de línguas. Se estamos dispostos a nos esforçarmos, então podemos encontrar uma maneira de trabalharmos os passos e compreendermos o programa de NA.

“Quando apadrinho alguém

que não lê ou escreve,

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229

dependo do uso de fitas cassete. Primeiro, peço

para minha afilhada ouvir a versão áudio do texto

básico. Depois, gravo como eu quero que minha afilhada

faça a tarefa. Dou a fita a ela, para que complete,

gravando seus passos na fita. Ela pode sempre

rebobinar a fita e voltar ao começo se precisar lembrar

como fazer a tarefa, e por essa razão gravo a tarefa no

inicio da fita”.

“Somente apadrinho adictos que estão dispostos a

continuarem indo em frente com os passos. Acredito que e essencial para sua recuperação e seu bem-

estar.”

“Minha madrinha me ensina como trabalhar os passos.

Ela aprende a fazer isso através de escrever os

passos com sua madrinha. Ela esta aberta a aprofundar sua própria experiência de

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230

recuperação e não age como se ela tivesse ‘conseguido’ a recuperação e não precisa

mais crescer, mesmo estando 24 anos limpa.

Minha madrinha tem uma mente de recém chegado e

ver sua boa vontade me inspira a ter a mesma

atitude. Estamos juntas ha dez anos. Eu tenho visto ela continuar a mudar e crescer ao longo dos anos. Isso me

da esperança de que eu também posso. Tento

repassar os conceitos que aprendi dela as minhas

afilhadas”.

O processo de trabalhar os passos juntos pode tornar mais fácil o desenvolvimento da confiança. Alguns de nós temos visto que a chave para construir confiança é partilha aberta e íntima entre padrinho e afilhado. A auto-revelação honesta de um padrinho pode ajudar o afilhado a ganhar confiança na direção do padrinho.

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231

“Antigamente achava difícil falar aos meus afilhados que

eu tinha experimentado o mesmo medo e vergonha

que eles estavam sentindo. Achava que tinha que ser

perfeito sempre. Foi somente ao falar com meu

padrinho que eu aprendi que podia ter a humildade e

honestidade de ser quem sou e partilhar isso com

meus afilhados. Ser vulnerável envolve um certo

risco, e aprendi que ao trabalhar os Doze Passos,

dos pontos de vista tanto do afilhado quanto do padrinho,

ajuda aos dois desenvolverem e

aprofundarem nossa compreensão e confiança”.

“Uma vez que eu pude falar sobre coisas pessoais com minha madrinha, me vi me

tornando mais e mais confortável com ela. Foi

somente depois que comecei a confiar nela que

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pude começar o processo de escrever os passos”.

“No começo, questionava meu padrinho quando ele me dava direcionamentos sobre trabalho de passos.

Queria escolher o passo no qual iria trabalhar, e quando

fazê-lo. Ele disse que eu tinha que parar de tentar ser

meu próprio padrinho e parar de controlar o

processo de trabalhar os passos. Depois ele disse que havia uma razão pela

qual os passos estão enumerados de um a doze...

confie no processo!”

Outros de nós descobriram que revelar muitos detalhes pessoais quando ajudamos nossos afilhados a trabalharem os passos pode causar incerteza a respeito do papel do padrinho. Não queremos jogar todos os nossos problemas para aqueles a quem apadrinhamos, nem queremos dominar a conversa. Se passarmos muito tempo falando apenas sobre nós mesmos, podemos tirar o foco dos nossos

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afilhados. Parte de desenvolver um relacionamento de apadrinhamento é encorajar nossos afilhados a partilharem suas experiências. Cada relacionamento de apadrinhamento é único, e devemos descobrir o que funcionará melhor, individualmente.

“Desenvolver novos relacionamentos de

apadrinhamento não tem sido sempre fácil para mim. Encorajar meus afilhados a

partilhar honesta e livremente tem às vezes sido

desafiador. Houve vezes que parecia que eu estava arrancando dentes. Mas,

tempo e experiência me tem ensinado que paciência e

encorajamento amoroso são as chaves que destravam os

lábios e o coração”.

“Como recém chegado, ligava para minha madrinha pedindo apoio e ela passava

tanto tempo falando dela que não tinha a

oportunidade de expressar

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minhas necessidades ou adquirir a orientação que

queria nos passos. Fiquei impaciente e achei outra

madrinha. Meu único remorso e que não falei com

ela sobre a frustração naquele momento”.

Vários de nós desenvolveram

métodos específicos que usamos ao guiar afilhados pelos passos. Alguns favorecem um processo metódico e detalhado, pedindo que o afilhado escreva extensamente a respeito de cada passo e princípio, enquanto outros não têm uma abordagem tão estruturada. Conforme comentado anteriormente, alguns membros usarão dicionários para esclarecer certos princípios e conceitos. Muitos de nós temos orações que dizemos antes e após o trabalho com os passos. É importante lembrar que não temos todos a mesma abordagem em ralação aos passos.

“Quando cheguei, não tinha

guia para trabalhar os passos. Naquela época,

cada padrinho e madrinha

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tinha um jeito diferente de trabalhar os passos.

Quando terminei os passos, me foi mostrado uma maneira diferente de

trabalhar os passos Dez a Doze diariamente e como incorporá-los em minha vida. Cada dois anos eu

fazia um novo Quarto Passo, como se fosse uma revisão. Recentemente, arrumei um padrinho novo, que pediu

que eu começasse no inicio do Guia Para Trabalhar os Passos de NA. Conforme

comecei a fazer os primeiros passos, comecei a ficar com

ressentimento. Senti que algumas das perguntas eram repetitivas, e me

preocupava que usar um guia iria tirar um pouco da

orientação pessoal que tanto valorizo no processo

de apadrinhamento. Porem, eu aprendi que esse

programa e sobre mudança, e se ainda quero tudo isso preciso estar disposto a

aprender sobre mim mesmo

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236

e meu relacionamento com Deus e outros nesse novo

processo”.

“Quando trabalho com meus afilhados, eu peco que

escrevam sobre cada passo. Quando chega a hora de nos encontrarmos e revisarmos

o passo, às vezes pego o que escreveu e leio para ele. Isso nos da uma perspectiva

bastante diferente e tem provado ser uma forma

eficaz e poderosa de partilharmos nossa

experiência e aprofundar nosso relacionamento”.

“Eu ajudo meus afilhados

com o Quinto Passo, sempre fazendo uma oração antes de começarmos e depois

falado de minha experiência do Quinto passo com meu padrinho. Lhes falo sobre os sentimentos que passei

ao partilhar minhas experiências intimas pela

primeira vez. Antes do afilhado começar a ler o

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Quinto Passo, pergunto quais os seus sentimentos naquele exato momento. Isso parece relaxá-los.

Tento ser tão honesto e aberto com meus afilhados

quanto quero que sejam comigo”.

“No Oitavo Passo, peco que meus afilhados façam uma lista das pessoas a quem

causaram danos, tirada de seu inventario do Quarto

Passo e adicionando qualquer pessoa que não esteja no inventario, mas

que podem ter prejudicado. Depois, peco que coloquem os nomes em cartões com uma breve descrição do

dano causado. Ai, falamos sobre todos os cartões.

Procuramos por padrões repetitivos e danos pelos

quais eles possam estar se atribuindo muita

responsabilidade. Olhamos as reparações que podem

ser feitas imediatamente, as restituições financeiras,

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qualquer reparação que não pode ser feita, e as que precisam ser adiadas.

Falamos sobre elas detalhadamente e sempre lembramos que um Poder Superior nos ajudara ao fazer essas reparações”.

Nos dispomos a mudar e

começamos a ver que se não mudarmos nossa recuperação irá estagnar. Uma das dádivas que a recuperação oferece é uma nova perspectiva sobre os outros e nós mesmos através de nossa experiência partilhada com os passos. Quando assistimos ao crescimento de um afilhado, ficamos inspirados. Aprendemos a confiar mais num Poder Superior. Explicar os princípios do programam nos ajuda com nossa maior compreensão desses princípios.

“Quando estava limpa mais ou menos nove anos, me vi

em tumulto no meu emprego – um dos melhores

empregos que já tinha tido. Estava trabalhando lá há

três anos, e meus defeitos

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de caráter estavam vindo à tona claramente. Estava

com ressentimento de meu chefe e meus colegas, ficava

com raiva quando alguém pedia que eu lhes ajudasse,

e estava começando a expressar essa raiva de

forma inadequada. Depois de vários desentendimentos com meu chefe, percebi que

tinha que mudar alguma coisa ou perderia meu

emprego.

Tinha trabalhado os passos varias vezes em meus nove anos limpa, mas era hora de fazê-los de novo – desta vez

focando meus relacionamentos no

trabalho. Fiz um Quarto Passo sobre minha historia profissional, e depois fiz os

Quinto, Sexto e Sétimo Passos com minha

madrinha. Ela amorosamente me guiou a observar meus defeitos de

caráter, e comecei a ver como poderia me modificar

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240

com a ajuda do meu Poder Superior. Pude enxergar claramente minha parte e

iniciar o processo de mudança. Estou feliz em

poder dizer que após mais ou menos um mês, as

coisas no trabalho melhoraram muito.

Quando finalmente sai

daquele emprego por uma posição num setor que

sempre sonhei trabalhar, meu chefe estava

honestamente triste em me ver partir. Ela estava feliz por mim e disse que tinha visto muita mudança em

mim. Nunca tinha trabalhado os passos numa situação de trabalho como aquela antes. Que milagre!

Se a ajuda da opinião imparcial de minha

madrinha, teria sido mais um emprego do qual pedi

demissão, mais uma situação desconfortável da

qual fugi, e mais uma

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oportunidade para me ver como péssima profissional”.

Oportunidades para crescimento contínuo

Chegamos a NA para aprendermos como parar de usar drogas e nos recuperarmos da doença da adicção. Afinal, NA nos oferece somente uma promessa – liberdade da adicção ativa. Mas recuperação é muito mais do que simplesmente parar de usar drogas. Recuperação significa encarar o que a vida apresentar e tentar enxergar nossas circunstâncias como oportunidades em vez de obstáculos. Às vezes ficar limpo significa que estamos inteiramente presentes aos obstáculos que encaramos. Nossa diversidade é nossa força

Enquanto o princípio de anonimato nos torna todos iguais, temos diferenças que podem apresentar dificuldades em nosso relacionamento de apadrinhamento. Somos provenientes de diversos históricos étnicos, educacionais e profissionais. Nossa diversidade se estende para credo, idade, religião (ou

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falta de religião), e além. Podemos todos falar a mesma língua de recuperação, mas seria impossível todos aprendermos essa linguagem da mesma forma. As diferenças entre nós oferecem inúmeras oportunidades para crescermos conforme trabalhamos juntos como padrinho e afilhado.

“Hoje, aprendi que cor, raça ou proveniência não importa e que somos todos adictos

recuperando da mesma doença. Porem, quando

fiquei limpo, entrei em uma comunidade de NA que era composta por praticamente

todos membros de uma cultura diferente da minha. Também era mias velho do que a maioria dos membros no grupo. Crescer com as crenças e cultura de minha

família, não estava acostumado a partilhar o

que estava acontecendo em minha vida com ninguém, especialmente pessoas de

outra cultura.

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Não confiava em muitas pessoas no programa, no

inicio. Finalmente conheci o membro que tinha atendido

minha ligação à linha de ajuda, e pude fazer uma

conexão com ele. Ambos tínhamos a mesma

proveniência. Quando ele partilhou que estava

morando a uma quadra de onde eu comprava drogas e que ele estava limpo há seis anos, acreditei que ele era o único que podia me ajudar a

ficar limpo e trabalhar os passos. Cresci em todas as

áreas por causa de sua ajuda, e esse crescimento tem me ajudado a entender que outras pessoas também

podem me ajudar”.

“Meu maior desafio tem sido apadrinhar um adolescente.

Quando comecei a apadrinhar esse

companheiro, ele tinha uns 16 anos, e eu uns 16 anos

limpo! Tenho muito cuidado com o que digo porque sei

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que ele esta ainda aprendendo sobre a vida.

Penso nele como se fosse o filho que nunca tive. Ele agora tem pouco mais de

um ano limpo e é uma inspiração para mim, especialmente como

trabalha os passos. Ele escreve os passos tão bem,

que muitas vezes preciso pedir que ele não escreva

como se estivesse escrevendo um livro! Ele

me liga quase todos os dias e me lembra de como eu era

no inicio de minha recuperação e como eu

deveria tentar ser novamente. Ele me da muita esperança. Não tenho que ser outra pessoa com ele.

Adoro que temos um relacionamento tão

honesto”. Necessidades adicionais

Como resultado de nossa adicção ativa, alguns de nós sofremos conseqüências físicas que continuam

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conosco em recuperação. Em muitos casos, nossa saúde sofreu danos irreparáveis devido ao uso de drogas ou nos colocarmos em situações de risco para alimentarmos nossa adicção. Claro, nem todas as necessidades adicionais de nossos membros são relacionados à doença da adicção; temos que lidar com os mesmos desafios físicos que afetam a população geral: deficiências físicas e problemas congênitos, e os resultados de acidentes e doenças.

“No inicio de minha

recuperação, eu pedia a meus afilhados fizessem o

que meu padrinho fazia comigo. Mas quando

comecei a trabalhar com um companheiro que tinha

lesão cerebral devido a um acidente de motocicleta, tive que repensar. Se eu pedisse

que ele escrevesse uma pagina sobre algum tópico, descobri que poderia levá-lo de 20 a 30 horas de esforço para aquela pagina, mas ele

o faria – mesmo se não conseguisse entender aquilo

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que tinha acabado de escrever. Então agora falamos muito sobre os passos e como ele pode aplicá-los em sua vida

diária”.

“Cinco anos atrás, tive que começar a tomar um

medicamento para uma doença que contraí como resultado direto de minha

adicção. Os efeitos colaterais eram horríveis.

Acabou com minha energia, e eu dormia umas doze horas por dia. Minhas afilhadas realmente me

ajudaram em meu momento de necessidade. Foram

pacientes e compreensivas do fato que eu não poderia

estar disponível tanto quanto estive no passado.

Na verdade, estavam disponíveis para mim:

fazendo tarefas para mim, me dando injeções quando precisava, indo ao médico

comigo, me levando a reuniões, etc. Só faltei em

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três reuniões do meu grupo de escolha aquele ano

inteiro. E, minha madrinha foi incrível. Ela me ligava

todos os dias, e falávamos por horas. Ela me encorajou

e me ajudou a aplicar os princípios do programa, especialmente gratidão,

aceitação, e humildade, à situação pela qual estava passando. Realmente me

mostrou que isso é um programa ‘nós’. Nunca esquecerei a amizade e

amor que me foi mostrado durante um dos momentos

mais difíceis de minha recuperação”.

Mais e mais de nossos membros

estão acumulando tempo limpo no programa; temos crescido em NA, e agora estamos envelhecendo. Como adictos em recuperação, muitos de nós vivemos tempo suficiente para encararmos problemas de saúde que vêm com o passar dos anos. Com a ajuda de nossos padrinhos e o apoio de nossos afilhados, fazemos as mudanças possíveis e aceitamos o que precisamos

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aceitar. Às vezes somos forçados a pedir ajuda, e crescemos e prosperamos como resultado.

“Uma das coisas que queria de um padrinho era alguém que me daria algum tempo

toda semana. Meu padrinho disse ‘Sem problemas. Esteja aqui sábado de manha. Estava muito

animado. Quando cheguei a sua casa aquela manha, perguntei aonde íamos,

sabendo que ia ser algum lugar muito espiritual. A

resposta dele foi ‘O consultório do meu medico’.

Ele continuou me dando tempo toda semana. Achei que ele realmente amava

ficar comigo, dirigindo, indo a reuniões comigo, apesar da diferença de 40 anos em nossas idades... descobri que já que ele foi ficando

mais velho, já não gostava mais tanto de dirigir. Graças a Deus ele precisava de mim para ajudá-lo porque me deu

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tanto tempo com ele e tornou nosso

relacionamento incrível. Fui dado a oportunidade de

ajudar alguém que tem me dado muito”.

Muitos de nós não escrevemos

bem, ou podemos ter dificuldades para ler. Como resultado, podemos nos sentir inadequados, e às vezes evitaremos escrever os passos.

“Fui madrinha de uma

mulher que lia muito pouco, com compreensão limitada

do material. Nos encontrávamos cinco ou

seis vezes por mês para ler os passos. No inicio, eu lia, parando para explicar o que

significavam as frases, palavras e parágrafos, etc.

Uma vez que ela começou a confiar mais em mim, ela me

fazia perguntas, me falava quando não tinha entendido,

e tentava ler em voz alta para mim. Eu a encorajei-a e desafiei-a a escrever sobre

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cada passo, desenhar símbolos ou figuras, qualquer coisa para

conseguir fazê-lo. Após o Terceiro Passo

concordamos que ela tentaria gravar o Quarto. Ela

deixou a fita no meu trabalho, mas eu não quis

ouvir desta maneira. Então, ouvimos a fita juntas, parando para que ela

partilhasse o que ela sentia ao longo do processo. Isso foi para mim uma renovação dos passos, e me ajudou a

aumentar minha compreensão deles. Minha paciência, tolerância e auto estima foram levantados, e ela estava florescendo em

sua nova vida”.

Por uma variedade de razões, alguns de nós lutamos com completar tarefas diárias que são fáceis e naturais para outros. Se apadrinhamos membros com necessidades adicionais, podemos ajudá-los a perceber o que o NA tem a oferecer. Muitas de nossas reuniões têm acesso para cadeiras de rodas, e

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algumas têm até interpretes para aqueles com dificuldades auditivas. Há um número de versões áudio dos textos de NA e panfletos assim como literatura em Braille e fonte grande. Podemos ainda trabalhar os passos com afilhados simplesmente com partilha individual. Enquanto muitos membros acreditam que a melhor maneira de fazer os passos é por escrito, não há nenhuma regra rígida que se encaixe para todos os membros da irmandade.

“Morava em uma cidade onde havia um centro de

tratamento de longo prazo que se especializava em

tratar adictos surdos. Um dos pacientes tinha vindo de outro estado para se tratar, e

eu me tornei seu padrinho temporário enquanto

morasse lá. Isso foi bem antes de e-mail e chats on-

line, e normalmente nos comunicavam através de um sistema de intermédio. Ele digitava para um operador que lia a mensagem para mim. Eu tinha dificuldade

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com o esquema no inicio, pois ficava um pouco

envergonhado com alguns dos detalhes pessoais que ele estava revelando a um estranho (o operador). Ele me explicou que isso e o

que ele precisava para ficar limpo, e isso me endireitou

rapidinho. Podia me identificar com o nível de

boa vontade dele, e começamos a falar mais

livremente após o despertar por minha parte”.

“Alguns anos atrás, tive uma

serie de doenças debilitantes. Me vi

fisicamente dependente de outros para fazer minhas

tarefas diárias. Isso foi uma reversão total para mim. Eu

era sempre a pessoa que estava a disposição para

ajudar os outros. Tinha sido um servidor em Narcóticos Anônimos por décadas e

estava no serviço mundial ha anos. Amava servir em

todos os níveis, mas ai tudo

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mudou. Tive que me render ao fato de que eu tinha que

praticar o que tinha aprendido a respeito do principio espiritual de

receber. Sempre foi mais fácil para mim, dar do que receber. Uma das maiores dádivas da minha doença e que deu a meus afilhados,

padrinho, família e amigos, a oportunidade de me

ajudarem. Como resultado, tenho experimentado um sentido mais profundo de

amor e intimidade nos meus relacionamentos,

especialmente com meu Poder Superior”.

Como afilhados e padrinhos, é

nossa responsabilidade trabalharmos os passos da melhor maneira possível, usando os meios possíveis. Independente dos desafios que nos confrontam, se tivermos boa vontade para fazermos um esforço, encontraremos uma maneira de trabalharmos juntos. Prisões e instituições

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Estar num relacionamento de

apadrinhamento enquanto preso, num centro de tratamento ou outra instituição na qual está confinado, oferece um grupo diferente de desafios. A necessidade de manter o foco na recuperação e trabalhar os passos será especialmente importante durante esse tempo, quer seja nosso afilhado ou padrinho que está na instituição.

Se nosso padrinho ou afilhado está encarcerado, teremos que levar em conta as regras do local e como essas regras afetarão nossa habilidade de comunicarmos com alguém “dentro”. Talvez tenhamos que depender de comunicação via telefone ou cartas. Dependendo da situação específica, talvez não possamos ver nosso afilhado padrinho regularmente. Pode funcionar como apadrinhamento à distância. Ambos os membros terão que manter a mente muito aberta e ter boa vontade excepcional para que esse relacionamento seja eficaz, mas pode funcionar, e funciona.

“Quando fui preso, só estava limpo há 11 dias. Nunca

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saberei se eu teria ficado limpo se não tivesse sido

preso, mas gosto de pensar que sim. Acredito que estar

limpo e ter alguma experiência em NA naquela época foram

grandes dádivas naquela época. Havia uma reunião de

NA que vinha a cada duas semanas para a cadeia onde eu estava. Conhecia um dos caras porque tínhamos nos

conhecido em reuniões antes de eu ser preso. Puxa, como eu estava feliz em vê-lo! Eu era o traficante durão, mas

quando o vi comecei a chorar – na frente de todos. Em todo

caso, pedi para ele ser meu padrinho, e ele concordou em se corresponder comigo. Nos escrevemos algumas vezes, e ele me ajudou a começar os

passos. Li o Texto Básico de capa a capa e comecei o

Quarto Passo. Não queria mais carregar aquelas coisas comigo mais. Acabei fazendo

meu Quinto Passo com um ministro porque o meu

padrinho só podia me visitar

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durante a reunião de NA marcada. Com o tempo, cumpri minha pena e sai.

Hoje, às vezes sou chamado para a Unidade de Tratamento Intensivo da cadeia, para ouvir o Quinto Passo de algum cara

que vai sair. Eu sempre os encorajo a arrumarem um padrinho e começarem a

trabalhar os passos assim que saem. É o que funcionou para

mim”.

“Com 17 anos limpo, fui

trancado em uma instituição por mais de três anos. Pude

ficar limpo durante esse tempo através do trabalho dos Doze Passos e mantendo contato com meu grupo de apoio em

NA pelo correio e os orelhões. O tempo passou, e eu tive a benção de poder apadrinhar quatro outros companheiros

presos, um que, como eu, estava limpo antes de ser

preso. Eu pude continuar meu relacionamento de

apadrinhamento não só com

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alguns membros fora das paredes da instituição, mas

dentro também. Que presente! É dito em NA que ‘nunca mais precisamos estar sós’ e isso, com certeza, tem sido minha

verdade em todos esses anos”.

Apadrinhar um membro em uma instituição pode tomar muito de nosso tempo e energia. Devemos estar atentos para o impacto que a instituição pode ter em nosso relacionamento de apadrinhamento. Apesar de a maioria dos comitês de serviço pedirem que não apadrinhemos membros de uma instituição enquanto servindo no painel, alguns de nós têm encontrado afilhados ou padrinhos em tais situações.

Em algumas partes do mundo, instituições, centros de tratamento e fóruns, obrigam adictos a passarem uma certa quantia de tempo com padrinhos e trabalharem os passos de uma determinada forma. Adicionalmente, algumas facilidades têm regras rígidas que devemos seguir se vamos apadrinhar alguém lá. Nossa visão e experiência de

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trabalhar os passos pode ser diferente de como a instituição direciona nosso afilhado. Enquanto não queremos abandonar nosso afilhado, os regulamentos que muitas instituições têm podem ser muito inflexíveis ou até conflitantes com nossa visão do programa, e devemos pensar honestamente sobre nossa capacidade de apadrinhar alguém nessas circunstâncias. Antes de concordar em apadrinhar alguém na prisão ou outra instituição, devemos aprender sobre os requerimentos do local para podermos tomar uma decisão informada. Dessa forma, poderemos assegurar que nossa decisão beneficiará da melhor forma nosso afilhado ou afilhada.

“Recentemente tive o

privilegio de amadrinhar uma companheira internada. Tenho apadrinhado pessoas

em tratamento antes, mas essa foi provavelmente a

experiência mais maravilhosa de todas para mim. Ela me disse que o

centro de tratamento requeria que eu a pegasse

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uma vez por semana para ir a uma reunião de que

trabalhássemos os passos juntas. Expliquei que eu tinha uma família, outros

compromissos de serviço, e trabalhava mais que 40

horas por semana. Ela disse que entendia que eu tinha outros compromissos, e

baseado nas expectativas das duas, concordamos em

trabalhar juntas.

Porém, uma vez que começamos a trabalhar

juntas, ficou claro que ela tinha expectativas diferentes

de mim do que concordamos inicialmente. Ela sutilmente me indicava que os ‘outros padrinhos’ levavam os afilhados para

jantar fora, davam-lhes dinheiro e deixavam os

internos ficarem em suas casas nos finais de semana. Eu disse que não poderia ter esses tipos de obrigações.

Ela fez bico. Eu fiquei ressentida, Fui apresentada,

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mais uma vez, a oportunidade de trabalhar

minhas tendências a agradar as pessoas. Isso tem

sempre sido meio difícil para mim. Tinha que deixá-la

ficar brava comigo por não atender aos seus desejos”.

“Eu passei por um centro de

tratamento quando fiquei limpa, e tento ajudar,

apadrinhando mulheres lá. Acho extremamente difícil às vezes, por que o centro tem muitas regras rígidas com as quais nem sempre concordo. Apesar disso,

percebo que a idéia e ajudar o recém chegado, e hoje sinto que tenho muito a

oferecer para alguém que e novo”.

Doença em recuperação

Às vezes em nossa recuperação, temos que manter nosso tempo limpo em face de doença, cirurgia ou lesão. Durante esses tempos, podemos precisar mais do que nunca de um padrinho.

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Devemos lembrar que doença e dor não são desculpas para usar. Nossa recuperação é nossa responsabilidade, e precisamos partilhar sobre nossas dificuldades de saúde com nosso padrinho e membros em quem confiamos. Nossas condições médicas podem requerer que tomemos remédios que podem causar vontade de usar. Qualquer que seja a causa, trabalhar com um padrinho pode nos ajudar a aceitar que isso faz parte de viver a vida. Precisamos informar nossos médicos sobre nossa doença da adicção para que somos tratados de forma apropriada. Já que a adicção não diferencia entre usar e tomar medicamentos para tratar dor ou doença, devemos no manter vigilantes com nosso programa. Somos particularmente vulneráveis durante esse tempo, e nossa recuperação pode estar em perigo. Muitos membros recaíram por não seguirem as sugestões de seu médico, pedir ajuda ao seu padrinho, ou prestar atenção aos sinais de uma ameaça que acordou – sua adicção.

“Graças a Deus por meu padrinho e NA. Estou limpo

ha mais de 25 anos, e durante esse tempo tive que

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passar por várias cirurgias. Fui ensinado cedo em

recuperação que minha doença não sabe a diferença entre usar remédio para dor

‘real’ e usar remédio por causa de pensamentos

adictivos. Toda vez, antes de ter que passar por algum procedimento médico que

requer o uso de medicamentos, eu lia o folheto Em Tempos de

Doença. Rezava e meditava, e mais importante, deixava meu padrinho e meu grupo de apoio em NA saber que estava tomando remédio para que eles pudessem

ajudar a monitorar meu uso durante esse período critico. Já vi muitos companheiros adictos com tempo limpo variado começarem a usar de novo como resultado de subestimar o poder dessa

doença”.

Procuramos nosso Poder Superior para nos apoiar e continuamos praticando nosso programa espiritual. Alguns

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membros da irmandade podem ser julgadores a respeito de outros membros tomando remédios, e queremos nos assegurar que isso não nos desvia do que precisamos tomar para tomar conta de nós mesmos. Coletamos tanta informação quanto possível para que possamos tomar a melhor decisão para nossa saúde. Se precisarmos tomar algum medicamento, nos matemos próximos a nosso padrinho e rede de apoio, partilhando nossos medos e dor.

“Com oito anos limpo, me vi

em uma situação que necessitava o uso de

medicamentos. Estava com muito medo. Tinha medo de

recaída, fofoca, e o que minha família de NA iria

pensar. Alguns dos meus medos foram realizados – fui

severamente julgado por alguns membros e alguns

fofocaram sobre mim – mas eu não recaí. Tomei meu

remédio conforme ele me foi prescrito, e mantive minha

recuperação através de oração, trabalho dos

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passos, indo a reuniões, e falando sobre minha

situação com meu padrinho. Com a orientação de um

Poder Superior e um médico maravilhoso que sabe que

sou adicto, pude tomar uma decisão informada a

respeito de minha saúde. Me senti seguro no

conhecimento de que se eu mantiver minha recuperação

aberta e honesta, tudo estará bem. Hoje, continuo

minha jornada de recuperação com mais de 13

anos de tempo limpo ininterrupto. Graças a Deus

por apadrinhamento”.

Como padrinhos, precisamos tratar cada situação individualmente, oferecendo nossa experiência força e esperança, e mantermos em mente que o que funciona para uma pessoa não necessariamente funcionará para outra. Nossos afilhados podem pedir ajuda de diversas formas. Talvez nosso afilhado vai precisar falar conosco com maior freqüência. Afilhados com doenças crônicas podem precisar nosso apoio

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enquanto mantém a saúde que têm e encaram a perspectiva de morte. Se for nosso padrinho quem está doente, talvez tenhamos que pedir ajuda extra enquanto tentamos apoiar nosso padrinho em qualquer forma que pudermos. O valor de um adicto ajudando a outro é como funciona nosso programa. Não temos que passar por isso sozinhos.

“Um ano atrás, minha

madrinha teve que fazer cirurgia cerebral. Após a cirurgia, imediatamente

achei alguém que admirava e pedi que ela me

amadrinhasse, já que minha madrinha estava doente.

Uma vez que cuidei do que eu precisava fazer no meu programa, pude apoiar – com amor e gratidão – minha madrinha, uma

mulher que sempre acreditei que me apoiou e me apóia”.

Os sintomas de doença mental são

sutis às vezes, e estar em um relacionamento de apadrinhamento com alguém diagnosticado com doença

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mental pode ser desafiador. Devemos nos manter vigilantes para nos resguardarmos contra qualquer confusão de papéis que podem emergir no nosso relacionamento; como padrinhos, não somos terapeutas, psiquiatras ou psicólogos. Como em qualquer relacionamento de apadrinhamento, parte do que podemos fazer como padrinhos é ajudar nossos afilhados que convivem com doenças mentais, a encontrarem equilíbrio em suas vidas. Focar o trabalho dos passos, em conjunto com seu tratamento médico prescrito, irá ajudar cada um de nós em nossa recuperação, mesmo quando a adicção não é nossa única doença.

“Como adicto em

recuperação com uma doença mental, tenho

gratidão pela oportunidade de poder apadrinhar outros que também convivem com doença mental. Mas preciso

lembrar que meu papel como padrinho é ajudar aos outros a aplicarem os Doze Passos em todas as áreas de suas vidas. Pode haver

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áreas nas quais a doença mental nos limita, mas

podemos nos recuperar se praticarmos esses

princípios o melhor que pudermos. Os princípios de honestidade, mente aberta e boa vontade são essenciais

à recuperação para meus afilhados e para mim”.

“Nunca tive uma opinião a respeito de medicamentos ou terapia e como eles se

relacionam com trabalhar os programa de NA. Porém,

quando comecei a amadrinhar uma mulher com uma doença mental, tive que

admitir que ela tinha que buscar ajuda externa devido

a sua inabilidade de se concentrar. Minha afilhada

tinha a mente aberta e aceitou a sugestão. Hoje ela consegue se manter focada

em viver e trabalhar o programa, o melhor que ela pode. Já se passaram onze

anos e ela vive uma vida

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absolutamente fabulosa, da maneira de NA”.

“Um dos desafios no

apadrinhamento para mim tem sido apadrinhar

pessoas que convivem com doença mental. Às vezes

eles se sentem com se não pertencessem. Uso o

panfleto Em Tempos de Doença e lhes lembro da Terceira Tradição – que o único requisito para ser

membro é o desejo de parar de usar. Quero fazer meu

melhor para que eles sintam que pertencem, que não são separados da irmandade”.

O tratamento de outras doenças

além da doença da adicção é além do alcance do que Narcóticos Anônimos pode lidar. Como padrinhos, somos adictos em recuperação, não profissionais. Se, por acaso, formos um profissional de saúde física ou mental, como padrinho nosso papel não é receitar ou desencorajar tratamento médico de qualquer tipo.

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“Quando tomei a decisão de tomar remédio para minha

depressão, também tomei a decisão de mudar de madrinha, pois minha

madrinha na época não acreditava em tomar

antidepressivos. Passei os primeiros quatro anos e

meio de minha recuperação lutando com a depressão e imaginei que se fosse a um

numero suficiente de reuniões, fizesse serviço o suficiente, e trabalhasse arduamente os passos,

passaria. Finalmente tive que me render ao fato de

que isso não era algo que eu podia controlar, que levou à pergunta “Como quero viver

minha vida?’ No final, sou eu quem precisa conviver comigo, e precisava me

sentir apoiada o suficiente para me sentir segura com

minha decisão”.

“Uma de minhas afilhadas regularmente se

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desestabiliza, e preciso constantemente lembrá-la

de tomar seu remédio. Preciso lembrá-la do que

pode acontecer se ela parar de tomar seus remédios –

zanzando por ai sem propósito, não me ligando

ou indo a reuniões, e eventualmente usando de novo. Passamos por esse

ciclo muitas vezes e é muito difícil mas eu a amo e quero

ajudá-la a melhorar. Uma vez que ela se estabiliza, ela começa a me ligar de novo, vai a reuniões e trabalha os

passos de novo”. Em tempos críticos dentro de nosso relacionamento de apadrinhamento

Às vezes temos uma crise em nossos relacionamentos de apadrinhamento, como morte, recaída, quebra de anonimato, ou abuso. Há muitas razões pelas quais nosso relacionamento pode ter problemas. No entanto, lidamos com essas situações conforme elas acontecem e fazemos o que podemos para alcançar uma solução.

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Aceitamos uns aos outros como adictos caminhando na mesma estrada em busca de recuperação, sabendo que tudo que temos a oferecer ao outro é nossa experiência, força e esperança. A realidade da recaída

Não importa quanto tempo estamos limpos, recaída é uma possibilidade. Enquanto muitos de nós lutamos com diversas manifestações de nossa adicção, não podemos nunca esquecer que o sintoma mais destrutivo de nossa doença sempre será o uso de drogas.

Assistir a um membro e companheiro mergulhar na insanidade da adicção ativa pode partir nosso coração. Podemos nos sentir abandonados ou inseguros, especialmente se a pessoa que recaiu é nosso padrinho ou afilhado. Independente de nossos sentimentos, precisamos nos esforçar para oferecermos nosso amor incondicional e dar as boas-vindas ao nosso padrinho ou afilhado se ele ou ela voltar à irmandade. Enquanto a dinâmica de nosso

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relacionamento de apadrinhamento será sem dúvida afetada por uma recaída, podemos encontrar meios de dar nosso apoio através dos princípios que aprendemos em NA. Infelizmente, nem todos voltam depois de uma recaída. Alguns morrem; outros continuam vivendo, perdidos nos horrores da adicção ativa.

“O maior desafio que tive

que encarar desde que entrei em recuperação foi

quando meu padrinho recaiu e largou a comunidade de NA. Eu, é claro, levei isso

para o lado pessoal e comecei a me perguntar o

que é que eu tinha sido ensinado. Me vi duvidando

e analisando quase tudo que eu fazia. Tinha que lidar

com o sentimento de abandono e falta de

confiança. Sei que meu padrinho é apenas humano, mas ainda me amedrontou muito. Depois de alguns anos, e muito apoio de amigos e gente em NA,

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ainda estou limpo. Finalmente achei um

padrinho novo, também. Ainda tenho um pouco de

raiva, mas estou mais forte hoje”.

“Após estar no mesmo

relacionamento de apadrinhamento pelos

últimos dez anos, liguei para meu padrinho e perguntei se ele trocaria minha ficha de dez anos. Percebi que ele

tinha usado. O processo de luto daquele relacionamento foi muito difícil. A tristeza, raiva, e medo foram difíceis de lidar. Mas o mais difícil

foi ir buscá-lo no hospital de desintoxicação e levá-lo a

uma reunião. O que eu queria fazer era chutá-lo por

ter me abandonado. Uma vez que tirei meus

sentimentos egoístas do caminho, com a ajuda do meu Poder Superior pude ajudá-lo como a qualquer

recém chegado, com amor,

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compaixão – e eu o levei àquela reunião!”

Não precisamos abandonar nosso

padrinho ou madrinha se eles voltarem a NA após uma recaída. Porém, não podemos permanecer na negação sobre a escolha feita por essa pessoa, e provavelmente iremos querer procurar outro membro para ser nosso padrinho ou madrinha. A recaída de um afilhado é diferente. Podemos sentir a mesma dor se nosso padrinho recair, mas o relacionamento de apadrinhamento tem maior chance de ser reconstruído se nosso afilhado sobrevive e retorna. Podemos lutar com nossos sentimentos que como padrinhos dissemos ou fizemos algo que levou nosso afilhado a recair, ou podemos acreditar que não dissemos ou fizemos o suficiente, ou não oferecemos apoio o suficiente. Talvez sentimos que não encorajamos bastante o trabalho com os passos ou que não estivemos tão disponíveis quanto “deveríamos” estar. A lista de “deveríamos” e “não deveríamos” pode ser interminável. Mas enquanto tentamos ter alguma influência sobre aqueles que tentamos ajudar, precisamos lembrar que no final, somos impotentes perante nosso afilhado e a adicção de

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nosso afilhado. A recaída de nosso afilhado não é nem nossa culpa nem responsabilidade. Cada um de nós é responsável por sua própria recuperação – e a de mais ninguém.

“Fiquei realmente devastada quando descobri que minha afilhada tinha recaído, mas provou ser uma lição muito valiosa para mim. Olhando

hoje, é como se tudo tivesse acontecido em câmera lenta. Veja, ela tinha algum tempo em recuperação, achei que ela tinha uma compreensão

de como trabalhar o programa. Nos duas nos

tornamos muito confortáveis em nossas vidas, e ficamos

um pouco complacente. Não estava lembrando a

sobre seu trabalho com os passos, e ela não estava me ligando tão freqüentemente.

Eu nem percebi que ela tinha recaído ate que ela me contou, que demorou mais

de um ano. Minha recuperação foi realmente

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afetada. Não e que senti como se tivesse feito algo de errado. É mais como se

eu não tivesse prestado atenção. Estava tão

absorvida em minha própria vida que achei que a

recuperação dela estava meio garantida. Como

resultado, tenho aprendido que o valor de um adicto ajudando outro realmente

não tem igual. Porem, devo estar presente e disponível

se esse conceito vai funcionar. Hoje, sempre

pergunto as minhas afilhadas como estão nos passos, e faço tempo para ouvir e me abrir com maior freqüência. Hoje acredito

que sou uma madrinha melhor”.

A forma que cada um de nós, como

padrinhos, lida com a recaída de um afilhado é, novamente, uma escolha individual. Antes de falar com nosso afilhado sobre se devemos continuar ou não nosso relacionamento de apadrinhamento, ou tomar qualquer

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decisão, podemos querer partilhar nossos sentimentos com nosso afilhado. Naturalmente, muitos de nós sentirão raiva e frustração ou se sentirão traídos. Podemos querer abrir mão de nosso afilhado, ou pior, podemos querer excluí-los de nossas vidas. Essas emoções são naturais, e precisamos partilhá-las tão honestamente quanto possível com nosso padrinho ou outro membro em quem confiamos. Um dos piores sentimentos que podemos experimentar após voltar de uma recaída, como padrinho ou afilhado, é rejeição.

“Apadrinhei um companheiro que estava tomando remédio para dor. Ele ficava ignorado minhas sugestões de procurar

por supervisão médica qualificada. Ele dobrava sua dose, especialmente quando

se sentia emocionalmente estressado. Seu

comportamento se tornou evasivo e adictivo. Às vezes ele estava tão chapado que

não conseguíamos falar. Ele não trabalhava os passos nem

aceitava sugestões, e aí começou a usar outras

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drogas. Ao longo de tudo isso, ele ainda esperava que

eu o apadrinhasse, mesmo se recusando a abrir isso na sala.

Finalmente disse que não poderia mais apadrinhá-lo,

pois ele se recusava a aceitar minhas sugestões e estava

negando seu uso de drogas. Suas ações tinham falado”.

Se escolhermos permanecer como

padrinho ou madrinha, provavelmente vamos querer conversar com nosso afilhado sobre o que aconteceu. Ele ou ela tinha reservas, voltou a freqüentar lugares de ativa, ou parou de freqüentar reuniões regularmente? A recuperação estava no centro de sua vida? Podemos querer direcionar nosso afilhado ou afilhada de volta aos básicos da recuperação – 90 reuniões em 90 dias, se possível, nos ligar regularmente, e partilhar honesta e abertamente sobre a experiência da recaída. Podemos sugerir que nosso afilhado comece a trabalhar o Primeiro Passo imediatamente, ou podemos escolher recomendar um ritmo mais lento. Alguns membros sugerem que seus afilhados deverão desintoxicar

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primeiro. Nossa orientação provavelmente dependerá da situação.

Precisamos deixar os resultados dos esforços de nossos afilhados aos cuidados de um Poder Superior. Nosso afilhado pode decidir que a melhor coisa para sua recuperação é achar outro padrinho. Fazemos o melhor que podemos para aceitar e apoiar sua decisão. Claro, há sempre a chance que o afilhado não voltará ao programa, e pode alcançar os fins previsíveis: prisões, instituições e morte.

“Tinha uma afilhada que passou por uma série de

recaídas. Quando ela começava a passar pela

abstinência, ela me ligava, desesperada, pedindo ajuda e sugestões. Com cada recaída ela me assegurava que ‘dessa vez vai ser diferente’. Mas não

era. Nunca larguei essa mulher como afilhada, pois ela

dizia que queria ficar limpa. Estava terrivelmente confusa, e não queria mudar; só queria um salva-vidas. Enquanto ela

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sem considerava membro eu senti um dever de ajudá-la. Ele finalmente morreu de

overdose. Tinha uma sensação terrível sobre essa companheira porque parte de mim sentiu como se tinha a falhado deixando-a fazer de

conta que eu era sua madrinha, quando na realidade ela não queria o que eu tinha.

Hoje, graças a Deus, compreendo que ela teria

morrido não importando o que qualquer pessoa tivesse feito”.

O que acontece se nós, como

padrinhos, recaímos? Orgulho e ego podem ser fatais e freqüentemente nos impedem de voltar a NA e permanecer em recuperação. Porém, não podemos nos melhorar se não encararmos a realidade de nossa recaída. Podemos nos sentir totalmente devastados por termos usado, mas não podemos nos dar ao luxo de deixar isso impedir nossa volta às reuniões. É nas reuniões de Narcóticos Anônimos que mais provavelmente encontraremos alívio dos danos que nossa recaída nos causou. Podemos nos sentir envergonhados

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sobre o que aconteceu, mas quando admitimos que recaímos, somos dados uma nova chance para nos recuperarmos.

“Recai após 15 anos limpo em Narcóticos Anônimos e acabei

numa clínica de tratamento. Enquanto estava internada, trouxeram uma reunião à clinica. Uma noite, uma

mulher partilhando estava celebrando dez anos limpa, a coordenadora tinha um ano

limpa, e uma mulher na reunião era madrinha de uma e afilhada de outra. Quando vi

as três maravilhadas por causa dos relacionamentos e

o amor que partilhavam, entendi que as muitas mulheres que eu tinha

apadrinhado, algumas há anos, estavam tendo que

partilhar que sua madrinha tinha recaído, e também falar a

respeito da dor, confusão, raiva e medo que estavam

sentindo. Naquele momento senti a terrível dor de como o

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egocentrismo por trás de minhas escolhas tinha afetado

tantas pessoas que eu amava”.

“Tinha muita raiva comigo por ter recaído. Estava cheio de ódio e me senti falhado. Foi assustador como algumas pessoas ainda me tratavam

como se nunca tivesse recaído, quando eu sabia que

era recém chegado novamente. Porem, me senti

desesperançado e desesperado. Precisava me cercar de pessoas que me

amariam e me fariam aceitar responsabilidade. Meu

padrinho foi uma dessas pessoas. Ele me levou para

tomar sorvete uma noite depois de uma reunião. O problema, pelo menos para mim, não foi conseqüências

físicas. Estou de volta (e limpo) há mais de 17 anos, e

nunca quero me esquecer como me senti péssimo

emocionalmente e espiritualmente”.

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Lidando com a morte

O que acontece se nosso padrinho ou afilhado morre? Perder alguém com quem temos desenvolvido um relacionamento tão profundo e amoroso é chocante, no mínimo. Sabemos que a morte é inevitável, e no entanto, se não é esperada como no caso de uma doença terminal, sempre parece vir como surpresa. Como começamos a construir um relacionamento com outro membro como padrinho ou afilhado após passar por tamanha perda? Às vezes parece impossível que novamente poderemos encontrar uma pessoa especial para amarmos e em quem confiaremos.

“Com vinte anos limpo, meu padrinho de 16 anos morreu

subitamente de forma trágica. O choque, a tristeza e a

confusão emocional que senti foram incríveis. Mas

imediatamente meu telefone começou a tocar diariamente

com ligações de meus afilhados, perguntando como

estava. Essa reversão de

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papéis teve um impacto positivo em minha habilidade

de trabalhar esse período difícil”.

A perda que sentimos com a morte

de nosso padrinho ou afilhado pode ser avassaladora, mas descobrimos que a vida continua, e sempre levaremos o espírito dele ou dela em nossos corações. Se for nosso padrinho quem morre, devemos compreender a importância de achar outra pessoa para ser nosso padrinho. Podemos honrar a memória de nosso padrinho ficando limpos a continuando a partilhar o que temos aprendido com aqueles a quem apadrinhamos.

“Tinha um afilhado com 14

anos limpo, que morreu num acidente de carro enquanto levava um recém chegado

para casa após uma reunião em seu grupo de escolha.

Tinha o apadrinhado por mais de sete anos e o conheci

desde seu primeiro dia limpo. Nosso relacionamento cresceu

até um nível profundo de

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confiança e admiração mútua. Quando ajudei a carregar seu caixão no enterro, me senti muito triste, mas também

honrado por ter experimentado as dádivas de

ser o padrinho desse homem e amigo ao longo dos anos. Ele

morreu limpo e levando a mensagem Que legado”.

“Meu primeiro padrinho me

pegou como afilhado quando tinha menos de 90 dias limpo.

Ele me apadrinhou até meu sexto ano antes de adoecer e falecer. Ele me disse no dia

que faleceu que eu tinha sido preparado para sua morte

através do trabalho com os Doze Passos, que nosso

trabalho juntos estava nos ajudando a lidar com essa

situação. Acredito que nosso relacionamento pessoal com

Deus, trabalho de Décimo Segundo Passo, e

envolvimento com a irmandade nos prepara para

recaída ou doença em recuperação”.

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Quando nosso padrinho ou afilhado

morre, assim com quando qualquer um querido por nós morre, partilhar nossos sentimentos de luto e perda com outros adictos em recuperação pode ajudar. Alguns de nós buscamos ajuda profissional para conciliarmos os sentimentos de raiva e impotência. Como decidimos trabalhar nossos sentimentos é nossa escolha. Não importa o tamanho de nossa dor ou perda, queremos fazer tudo o que pudermos para continuar conectados à recuperação. Não podemos nos dar ao luxo de deixar que o luto nos remova os benefícios de apadrinharmos e sermos apadrinhados. Com a ajuda do tempo e os princípios espirituais do programa, podemos eventualmente encontrar aceitação e começarmos a ir em frente com nossas vidas de novo. Quebras de confidência

Requer muita coragem para conseguirmos começar a confiar em alguém. Para alguns de nós, leva anos trabalhando com um padrinho para estabelecer aquele elo especial para nos sentirmos seguros, sabendo que os

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segredos que partilhamos permanecerão entre nós e nosso padrinho. Mas pode haver vezes nas quais nossas confidências são quebradas ou vezes que temos dúvidas sobre manter uma confidência ou não.

Em casos extremos, alguns de nós somos confrontados com acontecimentos que nos fazem pensar que não manter a confidência pode ser a ação mais ética a tomar. Durante esses momentos devemos procurar conselhos de outros e orientação de nosso Poder Superior, mas no final devemos tomar uma decisão pessoal a respeito do que fazer.

“Como padrinho sei que

minha responsabilidade para com meus afilhados é manter

suas confidências e sua confiança. Lutei com isso

quando um de meus afilhados partilhou comigo que estava tendo um caso com a esposa de outro dos meus afilhados!

Lembrei ao meu afilhado que o Texto Básico diz que nossos defeitos crescem no escuro,

mas morrem à luz da

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exposição. Ofereci orientação, mas não tentei tomar nenhuma decisão ou ditar um resultado

a ele. Sugeri que ele escrevesse, rezasse,

meditasse, e depois tomasse sua própria decisão sobre o

que achava que deveria fazer e com o que sua consciência

pudesse lidar”.

Termos nossa confidência quebrada por ouvir nosso segredo partilhado por alguém que não é nosso padrinho ou afilhado pode der devastador. Podemos nos sentir violados e traídos. E agora? Antes de tomarmos conclusões, devemos ter certeza que a fonte da fofoca foi realmente nosso padrinho ou afilhado. Se agirmos somente com suspeitas antes de sabermos todos os fatos, podemos causar mais danos e ferir nosso padrinho ou afilhado desnecessariamente.

“Ficava ouvindo coisas em meu grupo de apoio que eu

tinha especificamente pedido que meu padrinho não

repetisse. Fiquei chateado, e muito bravo. Falei com ele a

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respeito dessas coisas e ele sempre negou ter contado a

outra pessoa. Isso continuou por alguns anos. Finalmente, após um amigo querido disse que se sentiu ferido por algo

que eu tinha partilhado exclusivamente com meu

padrinho, larguei meu padrinho. Foi uma das coisas

mais difíceis que tive que fazer. Amava meu padrinho muito e tinha confiado nele sem questionar. Me senti

traído. Era como se ele não me levasse a sério. Falamos e

choramos juntos, mas eu fiquei firme. Abri mão dele e arrumei um padrinho novo.

Ainda somos amigos, mas não confio mais nele. Confiar em alguém é um presente. Eu lhe

dei esse presente e ele escolheu jogá-lo fora. Acho

que isso, mais do que qualquer coisa, é o que me

deixa mais triste”.

“Estava apadrinhando alguém que me contou sobre um assunto de saúde muito

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sensível que o preocupava. Já que não tinha certeza como lidar com isso, perguntei a meu padrinho. Alguns dias

depois, para meu horror, ouvi meu padrinho perguntar para

meu afilhado sobre a condição. Isso magoou a mim

e a meu afilhado. Ainda é difícil saber como lidar com isso porque meu padrinho é

como se fosse o pai ou irmão mais velho em nossa

comunidade de NA. Ele ajudou a estabelecer NA no

meu país, e acredito que seu interesse nos outros é apenas

manifestação de gentileza. Não acho que ele mudara sua visão sobre isso. Depois que

meu estresse inicial se acalmou, decidi mantê-lo

como padrinho, mesmo tendo traído minha confiança, pois

ele continua me dando estabilidade de outras

formas”.

Precisamos encarar o assunto de forma orientada para a recuperação. Alguns de nós vamos escolher terminar o

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relacionamento imediatamente. Se nossa confiança foi violada, podemos sentir que não há alternativa, percebendo o quão difícil é reconstruir o relacionamento. Podemos não ser capazes de reparar os danos e, portanto podemos decidir romper o relacionamento.

Alguns de nós podemos escolher confrontar nosso padrinho ou afilhado para discutir como restabelecer nosso relacionamento. Falamos sobre nossos sentimentos e tentamos chegar em uma solução favorável para os dois. Freqüentemente nosso relacionamento de apadrinhamento se aprofunda quando encaramos esses obstáculos juntos, com amor e compaixão, atravessando a situação mais fortes e comprometidos.

“Minha madrinha partilhou minha informação muito

pessoal com uma de minhas irmãs afilhadas. Ouvi e

confrontei minha madrinha. Ela imediatamente admitiu que

tinha falado sobre meus assuntos e disse que estava profundamente arrependida. Fiquei com raiva e magoada,

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mas estava aliviada que ela tinha sido honesta comigo.

Ela disse que não comprometeria minha

confiança novamente, mesmo se eu escolhesse ter outra

madrinha. Isso foi há quatro anos, e ela ainda é minha madrinha. Acredito que

passar por esse incidente anos atrás tornou nosso

relacionamento mais profundo e muito mais íntimo. Perdão tem sido uma ferramenta e princípio espiritual muito poderoso desde então”.

Abuso no relacionamento de apadrinhamento

Estar num relacionamento de apadrinhamento abusivo é desmoralizante, e pode comprometer nossa recuperação. Uma das muitas dádivas que NA nos dá é a habilidade de vivermos com dignidade. Narcóticos Anônimos nos ensina a amar incondicionalmente e a ajudar outros adictos em recuperação. Porém, em recuperação, podemos às vezes regredir, agindo dos velhos modos destrutivos.

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Quer sejamos o padrinho ou o afilhado, podemos causar dor e fazer com que um outro adicto sofra.

Na adicção ativa, as únicas maneiras que muitos de nós sabíamos nos relacionar com outro ser humano era sendo auto-destrutivos ou abusivos. Esses velhos padrões podem tornar difícil, mesmo estando em recuperação, determinar se um relacionamento é sadio.

“Minha primeira madrinha

pedia que eu a fizesse favores, como limpar sua casa, ir à

lavanderia, pintar, trabalhar no quintal, e coisas assim. Ela

me pagava para fazer a limpeza, mas parecia que não me pagava uma quantia justa, e sempre havia coisas extras a

serem feitas. Sempre sentia como de tivesse que retribuir,

e achei que fazer esses trabalhos era tudo o que eu podia dar. Eventualmente começou a parecer que ela estava tirando vantagem de

mim. Era muito difícil pensar em dizer não ou pedir que ela

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me pagasse pelas coisas extras; afinal, não estava

trabalhando na época. Foi difícil dizer alguma coisa.

Achei que se dissesse não, ela não me amaria mais. Era uma

situação terrível. Me senti presa e ressentida. Senti que cada vez que ela ligasse, tinha

que ser porque ela queria alguma coisa de mim. Agora,

apadrinhando mulheres no programa, me lembro de como

me sentia, e cada vez que penso que uma delas poderia fazer alguma coisa por mim,

faço o melhor que posso para não tirar vantagem delas, e

pago-as como pagaria a qualquer outra pessoa”.

Dizer coisas que machucam,

desrespeitam ou são condescendentes pode ser considerado formas sutis de abuso. Atrapalhar a dignidade e auto-respeito de um adicto pode também ser visto como abuso. Por outro lado, podemos nos engajar em comportamentos mais extremos como assédio sexual, ameaçar de machucar nós mesmos ou a outra pessoa para

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atrairmos atenção, ou assediar alguém verbalmente se as coisas não acontecem como queremos. Abuso pode se manifestar de tantas formas diferentes que seria impossível listar todas. E enquanto algumas formas de abuso são gritantes, outras não são tão óbvias. O que parece abuso para uns pode não parecer para outros. É importante continuar a fazer nosso inventário sobre como o apadrinhamento nos faz sentir.

“Escolhi meu padrinho porque ele era forte e parecia saber o que queria de sua vida. Tinha

me perdido e queria alguns direcionamentos claros a

respeito de como trabalhar o programa. Depois que

começamos o Segundo Passo, ele exigiu que eu acreditasse em suas crenças religiosas. No início concordei porque parecia que sua idéia de um Poder Superior funcionava

para ele. Ele me disse que eu tinha que fazer grandes

mudanças na forma que eu compreendia meu Poder

Superior, na forma que rezava,

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e como estava criando meus filhos. Depois ele me disse

que eu teria que me separar de minha esposa se ela não

aceitasse suas idéias. Disse que eu iria para o inferno se não fizesse o que ele dizia.

Estava confuso. Queria

melhorar, e tinha feito um compromisso comigo mesmo de fazer o que meu padrinho

mandasse, mas me senti encurralado e ameaçado. Finalmente contei para os meus amigos, e eles me

ofereceram seu apoio, dizendo que eu deveria mudar de padrinhos novamente.

Foi difícil dizer ao meu

padrinho que queria sair de nosso relacionamento,

especialmente quando ele me disse que minha vida estaria

pior como resultado de minha decisão. Levou alguns anos antes que pudesse acreditar

que meu Poder Superior cuidaria de mim novamente. Minha fé nas pessoas e no

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programa tinha realmente sido abalada. Graças a Deus eu

tinha meus bons amigos, meu grupo de escolha, e bastante

tempo para me ajudar a passar por isso. Alguns anos depois,

esse homem fez uma reparação comigo. Foi bom

perdoá-lo e começar a gostar dele de novo”.

“Acho que às vezes

(especialmente quando somos novos ao programa)

escolhemos padrinhos que são tão doentes quanto nós ou

que irão reforçar nossas dúvidas e ódio próprio. Uma

de minhas primeiras madrinhas era assim comigo. Eu ligaria para ela e choraria

que eu era uma pessoa horrível, e ela me dizia, ‘Você

está certa; você precisa escrever sobre isso e pedir

perdão a Deus’. E eu o faria. Isso durou mais ou menos um ano – até que eu precisei de

cirurgia para remover um osso quebrado do meu pé. Ela me disse que eu não poderia usar

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anestesia geral – que eu teria que usar acupuntura –

anestesia é droga e seria igual a usar. Bom, mesmo em

minha própria escuridão, sabia que algo nessa direção dela estava errado. Então liguei

para outra mulher com tempo limpa que me ajudou a ver a

natureza de meu relacionamento com minha madrinha. Em retrospecto,

vejo que eu a escolhi porque ela não tinha barriga e tinha

uma conta corrente em ordem – não porque ela estava

espiritualmente saudável ou tinha um bom programa.

Como sempre, devemos ter cuidado com o que pedimos!”

É hora de mudar?

Relacionamentos evoluem, e passam naturalmente por ciclos. Devemos alimentá-los se queremos que continuem a crescer. Através do processo de trabalhar os passos, somos dados a habilidade de encarar aquelas dificuldades que às vezes acompanham qualquer relacionamento íntimo.

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Conforme passamos pelos desafios e decepções da vida, enquanto trabalhamos com outros em nosso relacionamento de apadrinhamento, aprendemos a nos relacionar de forma sadia.

“Minha madrinha me tem

ajudado a aprender a não ter tantas expectativas em relação

a amigos, família e pessoas em geral. Ela me ensina sobre aceitação e como permitir que as pessoas sejam humanas. Claro que eu aprendi isso da forma mais difícil! Cedo em recuperação, tinha colocado

minha madrinha num pedestal – contra seus desejos. Fiquei com raiva e magoada quando eu a vi sendo humana. Achei

que de alguma forma ela deveria ser um guru espiritual

porque ela estava limpa há alguns anos e parecia ter uma

boa conexão com Deus. Acordar à realidade de que ela era apenas uma pessoa foi um

choque. No entanto, me ajudou não só a entrar em

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contato com sua humanidade, como também a minha”.

Mesmo que possamos estar fazendo

tudo que podemos para apoiar e contribuir para nossos relacionamentos de apadrinhamento, há momentos que veremos que simplesmente não está funcionando. Isso não significa que falhamos. Simplesmente significa que não está funcionando, e pode ser a hora de passar para outro.

“Ao longo de 16 anos em

recuperação, tive que mudar de padrinhos por uma

variedade de razões. Um padrinho mudou para o outro lado do país; os horários de trabalho de outro mudaram,

tornando contato regular impossível. Outro padrinho, um terapeuta profissional, tinha começado a me tratar

como se fosse paciente. E a pior situação foi a morte de um homem que apadrinhava muitas pessoas em minha área. Enquanto cada uma

dessas situações,

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especialmente a última, levantaram sentimentos

desagradáveis, tenho gratidão por elas. Não fico mais emocional quando um relacionamento como

padrinho ou afilhado muda. NA tem dado a mim e a meus vários padrinhos e afilhados novas vidas. É maravilhoso

quando, como resultado dessa dádiva, nossa situação tem mudado, nos obrigando a irmos adiante. Mudar de

padrinhos não precisa ser um sinal de falha; pode ser um

sinal de sucesso espetacular”.

“Um afilhado chegou para mim e disse que tinha achado um novo padrinho. Senti um negócio no meu estômago e

imediatamente me senti inseguro. Aprendi em NA que

meus sentimentos não precisam ditar minhas ações. Pude dizer, ‘Que fantástico.

Fico feliz que você tomou uma decisão positiva para si

mesmo’. Foi muito difícil dizer isso e não mencionar como

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estava realmente me sentindo, mas realmente ajudou a nós

dois mantermos um relacionamento positivo, mas

diferente”.

Se não cuidarmos de nosso relacionamento de apadrinhamento, pode começar a se desintegrar e se tornar nocivo. Apatia e mente fechada são obstáculos comuns e podem danificar o relacionamento. Muitos de nós temos visto que quanto mais apáticos nos tornamos, mais fácil é sermos desonestos ou termos má vontade. Uma vez que nos fechamos e paramos de partilhar honestamente um com o outro, como padrinho ou afilhado, construímos muros que podem ser altos demais para serem transpassados.

“Acabei de pedir que uma

afilhada achasse uma nova madrinha. Isso foi uma

decisão difícil para mim; não queria fazer isso. Tive um relacionamento de 15 anos

com essa pessoa, e ela é uma das minhas melhores amigas,

mas ela se recusava a

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trabalhar os passos. Não poderia, em sã consciência, continuar a deixá-la pensar e

dizer que eu era sua madrinha. De minha perspectiva, éramos amigas, mas não estávamos no caminho espiritual que

experimento como madrinha e afilhada”.

O que podemos fazer nesse ponto é

examinarmos nossa parte e determinarmos se realmente precisamos terminar o relacionamento ou se podemos consertar as coisas com nosso padrinho ou afilhado. Não estamos casados com nossos padrinhos ou afilhados, e não precisamos permanecer no relacionamento. Se, como afilhados, sentimos que nossas necessidades não estão sendo preenchidas ou se como padrinhos não podemos preencher as expectativas de nossos afilhados, talvez seja hora de reavaliar nosso relacionamento. Apadrinhamento é voluntário, e como lidamos com as dificuldades que surgem é nossa decisão, no final das contas.

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“Após cinco anos, ficou claro que meu relacionamento de

apadrinhamento tinha se estagnado e não estava

funcionando. Tinha que dizer ao homem que ajudou a salvar minha vida e que me ensinou tanto sobre recuperação, que

era hora de ir em frente em minha recuperação. Falei do meu coração e tive seu apoio. Eventualmente, pude ver que

não tem problema buscar crescimento através de

mudança. Se que ele me ama incondicionalmente o

suficiente para me ajudar nessa transição”.

“Eu tinha um afilhado que

tinha idéias diferentes do que eu sobre como trabalhar o programa e sobre como eu

deveria fazer como padrinho. Tentei manter o foco em minha

experiência com o trabalho dos passos, mas ele estava mais interessado em pedir

conselhos a respeito de coisas que eu não tinha

experimentado. Quando ele

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começou a resistir ir às reuniões, fiquei frustrado.

Falei com meu padrinho, que me lembrou de manter o foco em mim, e que se eu tivesse

que interromper o relacionamento, para fazê-lo

de forma amorosa.

Algumas semanas frustrantes depois, eu marquei de

encontrar com meu afilhado para tomar um café. Após estarmos confortáveis, eu

disse que minha recuperação tinha tomado um rumo

diferente daquele que ele queria percorrer e que ele

realmente tinha que encontrar outro padrinho. Disse que eu

o amava, mas que seria melhor para ele se ele achasse

alguém que estivesse passando pelas mesmas

coisas que ele. Até sugeri algumas pessoas me nossa área, lembrando que quando não podemos servir em NA,

devemos sempre indicar outra pessoa.

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Aquele afilhado conseguiu encontrar alguém com quem fez uma conexão. Antes de

muito tempo, comecei a vê-lo em mais reuniões e mais

envolvido com a irmandade. Muitos anos depois, ele

continua limpo e ainda está aqui. De nossas interações,

aprendi a lição valiosa que há muitas maneiras de trabalhar o

programa, e minha maneira pode não ser atrativa para

todos”.

Alguns de nós achamos grandes recompensas ao permanecermos com nossos padrinhos e afilhados nos tempos difíceis do relacionamento. Muitos de nós temos um histórico de desistência e não fazer nada até o final, especialmente no que diz respeito a relacionamentos. Atravessarmos dificuldades com nossos padrinhos ou afilhados pode nos ensinar novos níveis de compromisso, honestidade e intimidade.

“Ocasionalmente, me perco

em minha vida ocupada e me distancio de meu padrinho.

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Quando percebo o que está acontecendo, eu ligo para ele.

Felizmente, meu padrinho conhece esses meus ciclos e me diz que preciso participar

ativamente do relacionamento – senão, não há

relacionamento. Ele deixa a escolha a meu critério. Estou disposto a trabalhar para que o relacionamento funcione, ou escolho não continuá-lo? Ele

me ajuda a perceber que minha vida nem sempre será

balanceada, que terá seus altos e baixos. No entanto, ele me ensina que posso passar

por isso e perceber meus padrões para que posso

mudá-los e impedir que eles aconteçam com tanta

freqüência. Fui um desistente na maioria de minha vida.

Seria fácil ir em frente e não olhar para trás. Sou grato por

ter escolhido continuar a crescer nesse relacionamento maravilhoso que tenho com meu padrinho. Claramente, não seria a pessoa que sou hoje se não fosse por um

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compromisso que fiz para ficar com meu padrinho e tentar ser mais consistente. Passar por

isso com meu padrinho me tem ajudado a ser uma pessoa

que é capaz de ter um relacionamento íntimo”.

Apadrinhamento nos ensina a tomar

decisões saudáveis para nós mesmos, mesmo quando encontramos dificuldades em fazê-lo. Nos mostra as coisas que precisamos saber para participarmos ativamente em todos os nossos relacionamentos. Com o tempo aprendemos a ser melhores amigos, amantes, pais, parceiros, cônjuges, colegas de trabalho, e assim por diante. Nossos relacionamentos de apadrinhamento podem nos ajudar a desenvolvermos aquelas qualidades que buscamos e gradualmente nos tornarmos a pessoa que sempre quisemos ser.

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CAPÍTULO CINCO

APADRINHAMENTO: UMA JORNADA CONTÍNUA

A jornada continua

Para muitos de nós, nossa primeira conexão verdadeiramente espiritual com outro ser humano ocorre quando nos abrimos e partilhamos honestamente com nossos padrinhos. O apoio e amor que recebemos quando andamos juntos em nossa jornada através dos Doze Passos ajuda a nos libertar do medo egocêntrico que está no âmago de nossa doença. Apadrinhamento nos oferece um caminho para a mudança e uma ponte para desenvolver outros relacionamentos.

A adicção nos rouba a habilidade de nos relacionarmos. A recuperação restaura nossa conexão a nós mesmos e ao mundo. Nós temos agora a liberdade de viver uma vida com significado. Com boa vontade que forma o alicerce do símbolo de NA e o apadrinhamento, podemos crescer em nosso relacionamento conosco mesmos, a sociedade, serviço e Deus.

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Um programa universal: Eu, Sociedade, Serviço e Deus

Ao ficarmos limpos e vivermos o programa, muitos de nós descobrimos que somos libertados dos defeitos de caráter que nos atazanaram durante nossa adicção ativa. Aprendemos a viver responsavelmente reparando comportamentos passados e buscando compreender os outros através de perdoá-los e a nós mesmos. Não mais estamos sozinhos, e encaramos alguns de nossos maiores medos e permanecemos vigilantes para evitarmos auto-destruição. Aos poucos, com a ajuda de nosso Poder Superior, nosso padrinho ou madrinha e outros membros no programa, nossos espíritos acordam e começamos a melhorar.

“Minha madrinha tem me mostrado como sair de mim

mesma. Isso tem me ajudado em todas as áreas da minha vida. Percebo que o mundo

nem sempre gira em torno de mim. Hoje, tenho a habilidade

de focar em outras coisas e pessoas fora de mim. Minha

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madrinha também me ajuda a permanecer na minha verdade e partilhar minha verdade sem atacar outra pessoa. Aprendi a ter jogo de cintura. Minha madrinha me mostrou essas coisas de forma amorosa e

carinhosa sem ser muito dura comigo. Por causa do que

aprendi de minha madrinha, desenvolvi um sentido

saudável de mim mesma, e isso tem afetado minha família como um todo. Posso passar isso agora para minha filha, que agora tem sua própria

auto-confiança”.

“Meu padrinho tem sido essencial em me ajudar a formar um relacionamento com minha parceira, que é baseado em integridade,

sinceridade, e amor. A boa vontade de meu padrinho em partilhar o que sabe, em me

ajudar a trabalhar os passos, e sua honestidade a respeito da minha recuperação, têm me

ajudado a moldar meu relacionamento. Ele nunca

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ofereceu ser um conselheiro matrimonial e sempre manteve o foco em minha recuperação, não em meu relacionamento. Agora sei que devo continuar

a fazer minha parte se vou crescer em recuperação. Um sub-produto desse trabalho é que meu relacionamento com minha parceira se fortaleceu”.

Estamos freqüentemente impressionados que alguém realmente quer nos ajudar. Quando pedimos ajuda, demonstramos compromisso com Narcóticos Anônimos. Em troca, começamos a sentir amor incondicional profundo e aceitação dos outros, e queremos partilhar esse sentimento de humildade com outros. E então o círculo do apadrinhamento continua quando apadrinhamos nosso afilhado ou afilhada – queremos dar a eles o que nos foi dado.

“Ser um bom padrinho me tem ajudado a ser um pai melhor. Aprendi a ser compassivo e

compreensivo e olhar as pessoas de forma diferente.

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Aprendi que a vida é ser feliz, alegre e livre, não deprimido e

quebrado. Agora me olho como alguém com fragilidades que é humano. Meu padrinho

ter sido um exemplo, me ajudando a encarar alguns dos

assuntos chaves em minha vida”.

“Fiquei limpo quando ainda

adolescente, e era muito difícil sentar numa reunião e ficar honesto com o que estava

acontecendo. Foi duro pedir ajuda. Meu padrinho é mais velho do que eu, ele tem um

relacionamento de muito tempo, tem seu próprio

negócio e é profundamente comprometido com o

programa. Depois que eu passei por um relacionamento

falido no início de minha recuperação, assisti ao meu

padrinho praticando princípios do programa quando interagia

com sua mulher. Ele era estável, e eu sabia que ele ia ficar limpo e em recuperação.

Precisava depender de alguém

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que acreditava no que ele falava para mim. Podia ver

isso só pelo jeito que ele vivia sua vida. Tenho um padrinho

hoje que acredita em Narcóticos Anônimos, os Doze

Passos, e mim. Nosso relacionamento é

verdadeiramente um presente”.

Às vezes através de nossas

dificuldades no apadrinhamento, desenvolvemos maior compreensão sobre humildade. Vemos que crescemos devido a todos os aspectos desse relacionamento – as experiências enaltecedoras que partilhamos, assim como os desafios e momentos difíceis que podemos passar. Parte da lição que o apadrinhamento nos ensina é parar de colocar expectativas irrealistas nas pessoas em nossas vidas. Começamos a entender que, apesar de não estarmos nunca a sós, ninguém pode sempre estar disponível para nós. Porém, não importa onde estamos, sempre temos nosso Poder Superior e os princípios do programa. Através de NA, nos é dada a liberdade de escolher quem e o que é

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melhor para nossas necessidades pessoais.

“Apadrinhamento tem sido

uma experiência enriquecedora para mim. Nos meus primeiros dias, porque

NA estava ainda se desenvolvendo no meu país, estava desesperado para ter

outros membros. Minhas expectativas eram altas, e eu

era rígido. Através do apadrinhamento, aprendi a ser

flexível. Tenho aprendido muito a respeito de meus

defeitos e vim a me aceitar. Tenho começado a aprender

sobre amor incondicional com meus afilhados. Ser um padrinho me ajudou a contrabalançar meu

egocentrismo. Meus afilhados me conhecem, e eles se

sentem muito confortáveis em me desafiar. Adoro o

componente de mão dupla do relacionamento de

apadrinhamento e o componente ‘nós’ do

programa”.

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“Quando cheguei nas salas de

NA, estava espiritualmente morta, insana, deprimida, e

tinha uma vida completamente descontrolada. Meu

casamento estava em ruínas; meus filhos eram negligenciados e

sobreviveram de alguma forma, apesar de mim. Hoje, sou adicta em recuperação,

uma boa mãe, uma amiga, uma aluna, e uma madrinha. Tenho um casamento feliz, trabalho bem no meu emprego, e sou um membro ativo em minha

igreja. A parte mais significativa de minha

recuperação é a serenidade e sanidade que sinto por dentro,

e a maturidade com a qual posso agora navegar através de minha vida – muito do que se tornou possível através da ajuda de minha madrinha, dos

Doze Passos, e meu Poder Superior. Isso não significa que outros não estiveram lá para me ajudar, mas minha

madrinha foi, e continua

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sendo, uma parte instrumental de minha recuperação”.

“Sinto que serviço em NA me

beneficia mais do que a qualquer pessoa que eu tento ajudar. Nosso Texto Básico diz que a melhor ferramenta

em recuperação é o adicto em recuperação, que me lembra

de uma frase que meu padrinho me fala quando fico

egocêntrico e auto-obcecado – quando tudo o resto parece estar falhando, trabalhe com um recém chegado. Tenho visto que quando me torno humilde o suficiente para

trabalhar o programa espiritual e dar, sem nenhum motivo a não ser ajudar a outro adicto,

me abro para as dádivas profundas que NA oferece”.

Aprendemos do apadrinhamento que

relacionamentos nunca são bem do jeito que nós os imaginamos. Apadrinhamento nos ensina que encarar problemas verdadeiros traz recompensas

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profundamente ricas e realizadoras. Levamos nossa nova compreensão mais realista sobre relacionamentos para o mundo enquanto brincamos, trabalhamos e amamos. Começamos a apreciar as pessoas por quem elas são, não por quem queremos que sejam. Nos aceitamos por quem nós somos e reconhecemos o valor de nossa contribuição. Nossa gratidão pelo Poder Superior e NA fala quando colocamos em prática os princípios que aprendemos através do apadrinhamento.

“Nunca tive relacionamentos significativos durante minha

adicção ativa. Meus relacionamentos eram sempre superficiais, e meus motivos incertos. A primeira vez que namorei foi quando cheguei a

NA. Desde que comecei a trabalhar com minha

madrinha, aprendi a checar meus motivos. Aprendi sobre

compromisso e como ser vulnerável e altruísta. Através do apadrinhamento, tive uma

chance de ser um ‘eu’ diferente. Um dos maiores

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eventos foi o casamento de minha filha. Seu padrasto e eu

levamos a noiva ao altar juntos”.

“Minha madrinha tem me

ajudado a aprender a ser uma boa esposa. Ela me dizia para lhe ligar primeiro e contar as coisas para ela que eu queria dizer ao meu marido. Tinha tanta dificuldade em confiar

nos homens, e tenho um monte de velhos

comportamentos com os quais ela me ajudou. Aprendi a me

manter firme nos meus compromissos. Através do apadrinhamento, aprendi a não ser um capacho e a me

respeitar”.

“Minha primeira madrinha era muito dependente de Deus e

tinha um relacionamento profundo e significativo com seu Poder Superior. Ela fazia

Deus parecer tão real e pessoal. Eu certamente queria o que ela tinha então percebi

que tinha que escolher fazer o

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que ela fazia para consegui-lo. Comecei a rezar e meditar regularmente e me tornei

disposta a seguir quaisquer sugestões que ela me desse

para desenvolver esse relacionamento especial.

Parte de seus direcionamentos foi ir a 90 reuniões em 90 dias e voltar direto para casa (sem social) para passar mais uma hora sozinha com Deus. Isso

significava sem televisão, rádio, livros, música, telefone,

etc. – só Deus e eu. A sugestão foi incrível –

funcionou para mim! Quando terminei com os 90 dias, tinha

um relacionamento com o Poder Superior de minha

compreensão, e ele era tão real para mim quanto o pão na mesa. Isso me deu a base que

tenho hoje. Enquanto não tenho a mesma madrinha que eu tinha naquela época, minha

madrinha hoje também é dependente do Poder Superior

e continua me direcionado para a prática de minha fé a cada dia. O Deus de minha

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compreensão trabalha de várias formas, e a primeira

língua do meu Poder Superior é silêncio então preciso ficar quieta e ouvir à natureza, aos

outros, e especialmente a minha madrinha. Minha

experiência tem mostrado que se eu manter minhas

prioridades (Deus, NA, e família) em ordem, o resto

estará bem”. O círculo do apadrinhamento

Logo percebemos que não podemos manter esse maravilhoso presente de recuperação sem dar o que recebemos. Queremos partilhar a esperança de viver uma vida rica e plena com aqueles que buscam seguir o mesmo caminho que nós. Podemos fazer isso com o apadrinhamento.

Praticar serviço abnegado não só beneficia nossos esforços em viver uma vida limpa, mas também ajuda a fortalecer nosso desejo de permanecermos em recuperação. Ao partilhar nossa experiência e esperança com outro adicto, ajudamos a fortalecer o

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espírito do programa de Narcóticos Anônimos. Mais e mais, nossa experiência manifesta aquilo que ouvimos em reuniões desde o começo: quando pedimos ajuda, oferecemos a outro adicto a oportunidade de dar, e quando estendemos a mão a outro adicto necessitado, recebemos as maiores recompensas de todas. Apadrinhamento pode ser onde aprendemos a praticar nossos novos princípios, e é o relacionamento no qual nossa gratidão fala mais claramente. O alimento espiritual que recebemos quando damos aos outros é uma das razões que escolhemos permanecer em NA. Sempre que damos livremente do que temos encontrado em recuperação, recebemos muito mais de volta.