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APLICAÇÃO DA METODOLOGIA PRODUÇÃO MAIS LIMPA (P+L) COMO SUGESTÃO DE REDUÇÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS EM AGROINDÚSTRIAS DE CAFÉ Jéssica Zimmermann Espíndola (UFF) Ednilton Tavares de Andrade (UFF) James Hall (UFF) Resumo O presente trabalho fundamentou-se na análise do processo de beneficiamento de uma agroindústria do café de maneira que fosse identificada a etapa com maior geração de resíduos. Os dados foram obtidos através de visitas técnicas, dados de eescritório, e percepção individual para que, a partir daí, pudessem ser processados e apresentados nesse trabalho. Para tal, foi empregada a metodologia, a Produção mais Limpa (ou simplesmente PmaisL) criada pelo órgão ambiental das Nações Unidas, composta por uma seqüência de etapas que visam detalhar a situação atual, propor e estabelecer ações e implementá-las a posteriori. Concluiu-se que a maioria das atividades do fluxo operacional apresenta características geradoras de resíduos, em particular na etapa do descascamento, em que estes são captados para sua posterior reutilização na lavoura. Com o objetivo de reduzir a geração de resíduos oriundos da etapa do descascamento (casca, pó) bem como os demais resíduos sólidos retirados ao longo do processo produtivo, ou até mesmo minimizar seus impactos, foram estabelecidas medidas alternativas de reutilização desses resíduos as quais caracterizaram sugestões relevantes ao desenvolvimento sustentável, à administração de produção e adequando à proposta da gestão da Produção mais Limpa. Palavras-chaves: Produção mais Limpa, resíduos, café. 12 e 13 de agosto de 2011 ISSN 1984-9354

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APLICAÇÃO DA METODOLOGIA

PRODUÇÃO MAIS LIMPA (P+L) COMO

SUGESTÃO DE REDUÇÃO DE

RESÍDUOS SÓLIDOS EM

AGROINDÚSTRIAS DE CAFÉ

Jéssica Zimmermann Espíndola

(UFF)

Ednilton Tavares de Andrade

(UFF)

James Hall

(UFF)

Resumo O presente trabalho fundamentou-se na análise do processo de

beneficiamento de uma agroindústria do café de maneira que fosse

identificada a etapa com maior geração de resíduos. Os dados foram

obtidos através de visitas técnicas, dados de eescritório, e percepção

individual para que, a partir daí, pudessem ser processados e

apresentados nesse trabalho. Para tal, foi empregada a metodologia, a

Produção mais Limpa (ou simplesmente PmaisL) criada pelo órgão

ambiental das Nações Unidas, composta por uma seqüência de etapas

que visam detalhar a situação atual, propor e estabelecer ações e

implementá-las a posteriori. Concluiu-se que a maioria das atividades

do fluxo operacional apresenta características geradoras de resíduos,

em particular na etapa do descascamento, em que estes são captados

para sua posterior reutilização na lavoura. Com o objetivo de reduzir a

geração de resíduos oriundos da etapa do descascamento (casca, pó)

bem como os demais resíduos sólidos retirados ao longo do processo

produtivo, ou até mesmo minimizar seus impactos, foram estabelecidas

medidas alternativas de reutilização desses resíduos as quais

caracterizaram sugestões relevantes ao desenvolvimento sustentável, à

administração de produção e adequando à proposta da gestão da

Produção mais Limpa.

Palavras-chaves: Produção mais Limpa, resíduos, café.

12 e 13 de agosto de 2011

ISSN 1984-9354

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1. Introdução

Toda e qualquer atividade humana, independente do seguimento econômico

(mineração, industrial, agropecuária, agroindustrial ou urbana), gera resíduos que, uma vez

inadequadamente dispostos, promovem agressões, muitas das vezes, irreparáveis ao meio

ambiente. Logo, identificar o objeto causador do problema e a sua etapa constituinte, requer

um estudo aprofundado do processo.

A crescente conscientização sobre a importância da proteção ambiental e dos possíveis

impactos associados a produtos manufaturados e consumidos tem aumentado o interesse no

desenvolvimento de métodos para melhor compreender e diminuir estes impactos. (ABNT,

2001). As estratégias preventivas de gestão ambiental e práticas têm se expandido muito

rapidamente desde a década de 1980 sob uma gama de condições diferentes, incluindo, por

exemplo, a Eco-Eficiência de Produção Mais Limpa, Prevenção à Poluição e Ecologia

Industrial.

A PmaisL objetiva evitar ou mitigar a geração de resíduos, tornando mais eficiente o

uso dos materiais e energia, através de modificações nos processos produtivos, no emprego de

materiais, nas práticas industriais e nos produtos e serviços. A redução de resíduos deve ser

vista como a responsabilidade de todos os trabalhadores e gerentes envolvidos na produção

desde o planejamento até a implementação da redução de resíduos. (CHEREMISINOFF,

1995)

Devido à complexidade da cadeia produtiva, a agroindústria de processamento e

beneficiamento do café tem como resultado não-intencional a geração de diferentes resíduos e

rejeitos ao longo do processo, constituindo fonte de custos a ser contabilizado no processo

produtivo. Além disso, uma vez entendido que reconhecer a etapa com maior geração de

resíduos implica na diminuição dos impactos ambientais ocasionados pelos mesmos, o artigo

optou por utilizar a ferramenta PmaisL como proposta de Gestão Ambiental, enfaticamente

quanto aos resíduos sólidos.

1.1 Objetivo

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Sabendo que todo processo resulta na transformação da matéria, e por conseqüência,

gera resíduos, desenvolver tecnologias mais eficientes e menos poluentes nas agroindústrias

permite contribuir, sob o aspecto técnico, na criação de um sistema totalmente voltado para a

preocupação com a questão ambiental. O presente artigo teve como objetivo analisar o

processo agroindustrial do café, identificando a etapa com maior potencial gerador de resíduo

e propondo medidas de redução deste, além de estabelecer possíveis alternativas de

reutilização do resíduo sólido gerado no processamento e beneficiamento do café.

1.2 Relevância do estudo

Em decorrência da modificação dos processos de globalização e revolução

tecnológica, acrescido do compromisso ético e social com o meio ambiente, surge o conceito

de sustentabilidade, hoje incorporado ao sistema sócio-econômico. Produzir com

responsabilidade social e ecológica constitui um dos fatores passíveis de adoção e imperativos

em qualquer atividade econômica. No entanto, promover o desenvolvimento de tecnologias

limpas, e processos sustentáveis, conciliando competitividade, produtividade e gestão

ambiental não é uma tarefa fácil, mas também não é impossível.

A atividade da cafeicultura colabora significativamente no desenvolvimento econômico

e humano regionais, no entanto, ainda é uma atividade com grande potencial de geração de

resíduos. Sendo assim, a proposta do artigo fundamenta-se na identificação da etapa

potencialmente geradora de resíduos, atribuindo ênfase aos resíduos sólidos, propondo-lhes

alternativas de reutilização e destinação adequada.

2. Fundamentação Teórica

Com a Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente, realizada em

Estocolmo, em 1972, a questão ambiental foi amplamente discutida e permitiu, segundo Lima

(1984 apud Guimarães, 1995), “uma abordagem multidisciplinar para nova área de

conhecimento, abrangendo todos os níveis de ensino incluindo o nível não formal, com a

finalidade de sensibilizar a população para os cuidados ambientais”.

Evocado pela primeira vez em 1987, durante a reunião da Comissão Mundial sobre o

Meio Ambiente e o Desenvolvimento, o conceito de desenvolvimento sustentável é amparado

por diversos seguimentos: organismos internacionais e supranacionais, sociedade civil,

poderes públicos e empresas. Seu conceito é bastante amplo, pois compreende as

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necessidades do momento atual sem o comprometimento da sobrevivência das gerações

futuras.

Por outro lado, o que se percebe é que o termo desenvolvimento, muita das vezes, é

restrito ao seguimento econômico – desenvolvimento econômico – por vezes com ele

confundido, o que culmina em desastres ambientais significativos e no aumento das

desigualdades sociais, constituindo-se em motivos de uma crise paradigmática. A promoção

de novas percepções quanto ao desenvolvimento (incluindo outras dimensões como a social, a

ecológica, a espacial e a cultural, sem excluir a econômica, contemplando-as de maneira

harmoniosa), permite atingir o verdadeiro conceito do desenvolvimento sustentável. Dessa

maneira, a abordagem das dimensões base (social, econômica e ecológica, que formando um

tripé do conceito, expostos na Figura 1) permite captar os fenômenos numa perspectiva

tridimensional e interdisciplinar do conceito.

Figura 1 - Tripé da participação no Desenvolvimento Sustentável

Hoje, o conceito de sustentabilidade atinge as mais variadas camadas da sociedade,

tanto civil quanto corporativa, uma vez que o aumento da produção está diretamente

associado à eficiência econômica e deve ser avaliado, mais precisamente, na esfera macro do

que apenas por meio de critérios de lucratividade microempresarial. A contribuição

coorporativa é estabelecida quando há um planejamento significativamente ativo da produção,

mediante adoção de práticas sustentáveis que, quando alcançado, recebem como feedback o

reconhecimento no mercado competitivo.

O conceito de desenvolvimento sustentável impulsionou a criação de tecnologias

gerenciais ligadas ao controle e implantação de processos de gestão voltada a uma

mentalidade ecologicamente adequada. As normas de Gestão Ambiental é uma das principais

tecnologias limpas gerenciais, que foram elaboradas pela International Organization for

Standardization (ISO), cujo braço executivo no Brasil se dá pela Associação Brasileira de

Normas Técnicas (ABNT).

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O Sistema de Gestão Ambiental (SGA), presente na ISO 14001, consiste numa

transformação na forma de agir e pensar das empresas no desenvolvimento de práticas que

visam harmonizar o crescimento econômico com o equilíbrio ecológico no uso dos recursos

naturais. Além das expectativas ambientais, as vantagens de sua aplicação são atrativas tanto

aos olhos da sociedade quanto daqueles que possuem um empreendimento. Tais vantagens

consistem em: aumentar a eficiência; aumentar a produção, e a produtividade; redução dos

custos operacionais; melhoria da imagem pública, ampliando o alcance do marketing; e a

redução dos riscos ambientais.

A busca por um modelo que atenda de forma gestão adequada aos resíduos, capaz de

contemplar inovações nas áreas ambiental, social e econômica e que possa ser implementado

no setor agrícola e segmentos agroindustriais, tem sido um grande desafio para planejadores e

gestores desse segmento. A metodologia Produção mais Limpa, sob o ponto de vista

gerencial, fundamenta-se na mudança de ênfase dos conceitos de prevenção, controle e

tratamento de resíduos (como mostra a Figura 2).

Figura 2 - Mudança de ênfase dos conceitos da Gestão de Resíduos.

Fonte: FERREIRA,2002.

Sua implementação como ferramenta de Gestão Ambiental possibilita o aumento da

produção e, concomitantemente, a redução da geração de resíduos. Assim sendo, a adequação

de tecnologias mais limpas ao processo produtivo atua positivamente sobre a saúde

ocupacional otimizando as relações entre o ambiente laboral e o meio ambiente propriamente

dito.

3. Metodologia: Produção Mais Limpa, ou P+L, ou PmaisL

A Produção mais Limpa surgiu com o Programa Cleaner Production criado pela

United Nations Industrial Development Organization (UNIDO) em conjunto com o United

Nations Environmental Programme (UNEP). Tendo a consciência da necessidade da busca de

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soluções definitivas para o problema da poluição ambiental, esse programa teve a finalidade

voltada para as atividades de prevenção da poluição. (CNTL, 2010a)

De acordo com o Centro Nacional de Tecnologias Limpas SENAI (CNTL), “a Produção

mais Limpa consiste na aplicação contínua de uma estratégia econômica, ambiental e

tecnológica integrada aos processos e produtos, a fim de aumentar a eficiência no uso de

matérias-primas, água e energia, através da não-geração, minimização ou reciclagem de

resíduos gerados em um processo produtivo” (CNTL, 2010b).

Já a tecnologia convencional, ou Tecnologia de Fim de Tubo (End-of-Pipe

Technologies) consiste no conjunto de procedimentos para o tratamento, minimização e

inertização de resíduos, efluentes e emissões, tais como: filtros de emissões atmosféricas, as

estações de tratamento de efluentes líquido (ETE), as tecnologias de tratamento de resíduos

sólidos. A tabela (Tabela 1), a seguir, relaciona as distinções entre as referidas tecnologias.

Tabela 1 - Diferença entre a Tecnologia de Fim de Tubo e a PmaisL

Tecnologia de Fim de Tubo Produção Mais Limpa

Como se pode tratar os resíduos existentes? De onde vêm os resíduos?

Pretende reação. Pretende Ação.

Leva a custos adicionais. Ajuda a reduzir custos.

Os resíduos são limitados através de filtros e unidades de

tratamento: soluções de fim de tubo, tecnologia de reparo

e armazenagem de resíduos.

Prevenção da geração de resíduo na fonte, o que evita

processos materiais potencialmente tóxicos.

Proteção ambiental foi introduzida depois que os produtos

e processos foram desenvolvidos.

A proteção ambiental é uma parte integrante do design

do produto e da engenharia de processo.

Os problemas ambientais são resolvidos a partir de um

ponto de vista tecnológico.

Resolvem-se os problemas ambientais em todos os

níveis e envolvendo a todos.

A proteção ambiental é um assunto para especialistas

competentes que são trazidos de fora e aumentam o

consumo de material e energia.

A proteção ambiental é uma tarefa de todos, pois é

uma inovação desenvolvida dentro da empresa e com

isto, reduz o consumo de material e energia.

Complexidade dos processos e os riscos são aumentados. Os riscos são reduzidos e a transparência é aumentada.

A proteção ambiental focada no cumprimento de

prescrições legais. É o resultado de um paradigma de

produção que data de um tempo em que os problemas

ambientais ainda não eram conhecidos.

É uma abordagem que cria técnicas e tecnologias de

produção para o desenvolvimento sustentável.

Fonte: SENAI, 2003

A metodologia Produção mais Limpa contempla as seguintes etapas: planejamento

(comprometimento, escopo); diagnóstico do Processo Produtivo; oportunidades de melhoria;

e implementação: avaliação (técnica, ambiental e econômica), estudo de viabilidade,

monitoramento. Todas as fases do PmaisL são realizadas com envolvimento integral e inter-

relacional da direção e funcionários, como forma de garantir a introdução e assimilação do

conceito da metodologia.

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4. Aplicação da Metodologia Produção mais Limpa (P+L)

A metodologia da PmaisL admite diversos níveis de aplicação junto às empresas,

desde o simples ato de refletir criticamente sobre as possibilidades de melhoria de seus

processos, até a efetiva implementação de um Programa de PmaisL (CETESB, 2010). Dessa

maneira, a aplicação da PmaisL na agroindústria do café permite a busca pela melhoria

contínua nos sistemas de gestão ambiental impulsionada pela proposta de revisão de conceitos

sobre a geração de resíduos.

4.1 Planejamento

Uma das etapas decisivas do programa faz referência à escolha dos responsáveis pela

implantação do projeto: o ECOTIME. Tais profissionais são escolhidos conforme suas

competências, rendimento, proatividade e compromisso com a empresa. Como o artigo

discorre sobre uma proposta de aplicação, a escolha dos responsáveis cabe somente à empresa

onde a proposta será implementada.

4.2 Diagnóstico do Processo Produtivo

A atividade do processamento e beneficiamento do café é uma atividade considerada

complexa pela riqueza de detalhes e equipamentos ao longo da produção. Logo, o

conhecimento do fluxo operacional faz-se imprescindível, já que o resíduo é gerado ao longo

da produção. A Figura 3 mostra o fluxograma hierarquizado das etapas da produção do café

em uma agroindústria, apresentando as várias formas de processar o café colhido.

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(Frutos Verdes)

Colheita do Café

Moega de Recepção

Abanador

Lavador e Separador

Frutos Verdes e Cereja Bóia

Descascador

Desmucilador Fermentação

Secagem

Armazenamento

Beneficiamento

Armazenamento e Comercialização

Figura 3 - Fluxograma do Processamento e beneficiamento de Café

Fonte: BORÉM, 2008.

O processo produtivo do café inicia-se com o descarregamento dos grãos na moega de

recebimento para ser então direcionados a dois tipos de processo: de via úmida1 e de via seca

2.

Em ambos os processos há formação de resíduos, que podem ser classificados como: líquidos

e sólidos. O resíduo líquido constitui-se basicamente da água de lavagem dos frutos do café,

componente fundamental do processo em via úmida por ser o principal meio de transporte

desses frutos. Já os resíduos sólidos secos, são encontrados no processo de via seca, mais

precisamente nos armazéns onde ocorre parte do processamento e do beneficiamento. São

locais onde coexistem várias máquinas responsáveis pela limpeza e a separação dos grãos (por

diferença de densidade, cor e tamanho). Durante a fase da remoção da casca, concedida por

meio mecânico, o grão é submetido à movimentação que, aliada à vibração, acarreta na

liberação de resíduos secos, como: casca, pó e impurezas.

O beneficiamento, quando é feito na própria fazenda, possui a vantagem de reduzir

custos quanto ao transporte longínquo do produto, proporcionando a garantia que o volume

chegará ao beneficiamento sem grandes perdas (provocados pelo transporte e injúrias

1 Via úmida: etapa em que são produzidos cafés em pergaminho.

2 Via seca: etapa pelo qual os frutos são processados com casca, produzindo café coco ou natural.

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decorrentes de impactos mecânicos durante o trajeto). Tal etapa consiste no conjunto de

operações que transformam o “café em coco” ou “em pergaminho”3 já seco, em “café em

grão”. Tais operações podem ser classificadas, obedecendo ao fluxo de processo, conforme o

esquema mostrado na Figura 4 a seguir:

Figura 4 - Etapas do Beneficiamento de café

Fonte: BORÉM, 2008.

Após a correta secagem, o café é destinado a um conjunto de operações responsáveis

pela remoção da casca (fase de descascamento), retirada das impurezas (torrões, paus, pedras,

metais, entre outros é realizada por equipamento comumente denominado de “catador de

pedras”) e separação dos grãos (fase de separação) em diferentes tamanhos, sendo

posteriormente ensacados em sacos de juta de 60kg, para posterior comercialização.

4.2.1 Avaliação de entradas e saídas de processo

Como mostra a Figura 5, o balanço de material fundamenta-se no detalhamento do

processo permitindo a definição da entrada (inputs) e a saída (outputs) de cada etapa.

– Entrada (Inputs) – provenientes das matérias-primas ou insumos necessários para a

realização de determinada etapa do processo (matérias-primas, água e energia).

– Saída (Outputs) – provenientes dos resíduos gerados na realização de determinada etapa do

processo.

Figura 5 - Diagrama Operacional

É importante quantificar o emprego de insumos, e identificar os resíduos que

porventura serão gerados e, além disso, que haja o registro de todas as etapas do processo,

3 Café em pergaminho consiste no resultado do processamento do café em via úmida, em que, ao final, ele

encontra-se estando envolto apenas pelo endocarpo e seu teor de água varia entre 11 e 12% (base úmida), sendo

então, direcionado ao beneficiamento.

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uma vez que este pode ser a fonte de dados que esta etapa necessita. No caso do

processamento e beneficiamento de café, a Tabela 2 abaixo apresenta os componentes do

balanço de material que deve ser explorado e registrado na referida atividade.

Tabela 2- Entradas e Saídas de material do processamento do café

Entrada (INPUT) Saída (OUTPUT)

Descrição Unidade Descrição Unidade

Água m³ Efluente m³

Energia elétrica Kwh Embalagens kg

Produto Químico Kg Resíduo sólido Kg

Madeira (lenha) kg Impurezas kg

Combustível m³ Vapor m³

A energia é comumente obtida pela combinação de energia elétrica, fornecida e

distribuída pela companhia de luz local, com outras formas de obtenção de energia,

geralmente advinda de processos alternativos, como: a queima da lenha de eucalipto (de

reflorestamento) ou outras culturas; gás natural; biogás; dentre outras. A água é o principal

insumo no processo de via úmida, cujo fornecimento é, geralmente, realizado pelas

companhias de abastecimento local. Há casos que tal insumo é obtido pelos sistemas de poços

artesianos, ou recalcados de corpos hídricos em suas proximidades. Quanto aos demais

insumos, alguns combustíveis (diesel, gasolina) são utilizados para o funcionamento de alguns

maquinários. O mesmo ocorre com os lubrificantes (graxas) responsáveis pelo impedimento

do desgaste das engrenagens que, pela sua natureza, possuem dois agravantes: tanto podem

caracterizar-se como resíduo, quanto agente responsável pelo tal, devido à embalagem que o

contém.

Entende-se como impureza todo o material retirado do processamento e

beneficiamento do café que não é passível de aproveitamento para o produto final, sendo

estes: folhas, ramos, talos e pedras. O efluente é caracterizado por conter tanto a água quanto

o material miscível (mucilagem, polpa) quanto a escuma e cascas provenientes da etapa do

descascamento pela via úmida. Já os resíduos sólidos e secos são aquele que correspondem à

parcela do fruto que é retirado para a obtenção do grão de café em si, e caracterizam como:

cascas, pó e pergaminho.

Em posse do fluxograma de processo apresentado e depois da caracterização das

entradas e saídas de processo, tornou-se possível realizar o balanço de material, sendo

apresentado na Tabela 3, a seguir.

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Tabela 3 - Fluxograma de processo com o balanço de material

Entrada Etapa Saída

- MOEGA DE RECEPÇÃO -

Energia elétrica ABANADOR Impurezas

Água e energia elétrica LAVADOR E SEPARADOR Impurezas e efluente

Água e energia elétrica DESCASCADOR Efluente e resíduo solido (úmido)

Água e energia elétrica DESMUCILADOR Efluente

Água FERMENTAÇÃO Efluente

Energia elétrica, lenha SECAGEM Vapor

Energia elétrica ARMAZENAMENTO -

Energia elétrica BENEFICIAMENTO Impurezas e resíduo sólido (seco)

Energia elétrica COMERCIALIZAÇÃO -

A seqüência dos procedimentos e a quantificação de cada entrada e saída permite

visualizar a dinâmica geral do processamento e beneficiamento do café. Porém, como o artigo

é de caráter qualitativo, a quantificação fica a cargo dos planejadores da implantação do

PmaisL na agroindústria.

4.3 Oportunidades de melhoria

Após a análise de toda a cadeia de processo, verificou-se que a etapa que corresponde

ao descascamento resultou na principal etapa potencialmente geradora de resíduos, tanto na

via úmida quanto na via seca (na tabela, intrínseco ao processo de beneficiamento).

Entretanto, com intuito de delimitar o tema e explorá-lo com mais eficiência, o artigo propôs

o detalhamento prioritário ao descascamento na via seca, enfatizando os resíduos secos e as

impurezas a serem retiradas do processo.

Para Borém (2008), o descascamento é chamado de “coração do beneficiamento”, uma

vez que tal etapa conta com equipamentos que dão completa cadência ao processo. Os

descascadores são os equipamentos responsáveis por remover tanto as cascas, quanto o

pergaminho e outras impurezas aderida às massas de grãos.

Embora sendo considerada uma etapa vital ao processo, eliminá-la não é o

recomendado. Todavia, é indiscutível que o descascamento é uma atividade potencialmente

geradora de resíduo. Alguns parâmetros foram levados em consideração na caracterização

desses resíduos, tais como: a matéria-prima; a tecnologia; as práticas operacionais; o desenho

do produto; e a manipulação do resíduo gerado. Dentre os parâmetros estudados, as

oportunidades para minimização de resíduos na fase do descascamento correspondem às

adequações:

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- Quanto à Tecnologia: modificações do processo e/ou do equipamento, podendo

variar somente quanto ao sistema de captação de pó e destinação adequada dos resíduos

dessa etapa, como layout da tubulação, uso de automação (alto custo).

- Quanto às Práticas Operacionais: aplicação de procedimentos, administrativos ou

operacionais, quanto à conscientização da redução de resíduos, bem como a manutenção

adequada de equipamentos, prevenção de perdas, separação de resíduos que não são

aqueles considerados “de processo”, práticas de gestão ambiental voltada para a

implementação da Produção mais Limpa (proposta do artigo).

- Quanto à Manipulação do resíduo gerado: Promover o retorno de um material

residual ao processo, seja no plantio (como adubação) ou em outra etapa do processo,

como um substituto para um material de entrada, após o seu devido tratamento

(briquetagem).

4.4 Implementação: avaliação, estudo de viabilidade, monitoramento

As questões econômicas, técnicas e ambientais devem ser analisadas e, após o estudo

de viabilidade, determina-se a possibilidade de aplicação da PmaisL. Em posse da etapa

prioritária e das oportunidades de melhoria, são realizados os estudos de viabilidade técnica,

econômica e ambiental. Para que haja maior eficiência, faz-se necessário o detalhamento das

condições de processo e, para isto, registrar todas as informações de processo, não só a

produção, mas também a geração de resíduo (o volume, a classificação, destinação e formas

de tratamento), facilitará a tomada de decisão futura, e a possível redução de custos e passivos

ambientais. Sendo assim, alternativas de reaproveitamento deste resíduo na lavoura, assim

como a transformação deste resíduo em outro material, sendo ele matéria-prima ou não, é

tangível e passível de análise.

4.4.1 Avaliação Técnica

Segundo Vilela (1998), Dentro de uma mesma região, e de uma mesma espécie e

cultivar, os tratos culturais na colheita e pós-colheita podem variar de produtor para produtor

devido às condições técnicas, econômicas, disponibilidade de mão-de-obra e equipamentos,

com grandes variações na colheita do café.

O processo de beneficiamento localiza-se no interior de um galpão, com diversos

equipamentos (descascadores, mesas densimétricas, ensacadores, e sistema de transporte das

sacas de 60 kg ao armazém). É necessário que layout corresponda ao fluxo de produção

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adotado proporcionando a integridade dos funcionários e também a integridade do

patrimônio. Entretanto, alguns procedimentos devem ser revistos. A poeira proveniente do

beneficiamento do café encontra-se suspensa no interior do galpão ou depositada na superfície

dos maquinários. O controle desse agente deve ser intensificado, com um programa de

manutenção dos equipamentos no galpão, bem como a inserção de um sistema de captação de

pó, adequadamente dimensionado.

A promoção de incentivo tecnológico quanto à destinação dos resíduos sólidos de

processo proporcionará um melhor direcionamento desde resíduo, reduzindo

significativamente os custos futuros

4.4.2 Avaliação Econômica

Segundo Borém (1998), o processamento do café pode ser realizado de formas

distintas. A escolha do modo de processamento do café é decisiva na rentabilidade da

atividade cafeeira, e dependerá de diversos fatores. Entretanto, a relação custo/benefício

envolve outras variáveis tais como: porcentagem de café cereja, porcentagem de café verde,

ágio e deságio no momento da comercialização. Assim, em decorrência da existência de

tantas variáveis é comum o produtor questionar a viabilidade do descascamento em relação à

produção de cafés naturais.

Evidentemente, a tomada de decisão não é simples, necessitando, portanto, de

ferramentas computacionais. O cálculo financeiro de cada processamento deve considerar os

custos: fixos (aqueles que não variam conforme a quantidade de café produzido, em que o

custo é calculado a longo prazo) e variáveis (aquele que varia de acordo com a quantidade

produzida e cuja duração é igual ou menos que o ciclo produtivo, como a mão-de-obra e

energia elétrica).

Dessa maneira, para saber se um projeto deve ou não ser aceito faz-se necessário uma

análise financeira detalhando os fluxos de caixa de maneira a obter o fluxo de caixa líquido tal

que proporcione: um VPL (Valor Presente Líquido) positivo e uma TIR (Taxa Interna de

Retorno) maior que a TMA (Taxa Mínima de Atratividade), ou pelo menos igual a esta.

Assim, reduzem-se os riscos financeiros, proporciona a redução do custo variável e,

conseqüentemente, aumenta o Ponto de Equilíbrio (PE) da agroindústria. Já a análise feita

pelo método do payback permite analisar o retorno do investimento, em um determinado

espaço de tempo, tornando o projeto viável ou não, a saber, que: quanto maior o tempo de

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retorno do investimento, maior o risco, tornando este um projeto contraproducente. Para tanto,

possuir profissionais com a finalidade de acompanhar o mercado financeiro (regime

inflacionário, taxa de câmbio, taxa SELIC, dentre outros) é de grande valia, cabendo isso à

equipe especializada (Ecotime).

4.4.3 Avaliação Ambiental

A partir do momento que a agroindústria possui a consciência de qualidade ambiental

na produção, visando o controle no consumo de recursos naturais, obtém-se como resultado a

redução dos impactos ambientais negativos advindos desse processo produtivo. Essa idéia é

defendida pelo modelo da eco-eficiência.(CEBDS, 2010)

De acordo com Stüp (2005 apud SCHIMIDHEINY, 2002), o princípio da eco-

eficiência baseia-se em alguns elementos como: redução do consumo de materiais com bens e

serviços; redução do consumo de energia com bens e serviços; redução da dispersão de

substâncias tóxicas; intensificação da reciclagem de materiais; maximização do uso

sustentável de recursos renováveis; prolongamento da durabilidade dos produtos; e agregação

de valor aos bens e serviços.

Visto isso, nortear o projeto de implementação do PmaisL depende da verificação da

disponibilidade de recursos financeiros, humanos e técnicos, para que torne exeqüível a

avaliação do desempenho ambiental. Tal desempenho é avaliado segundo os seguintes

parâmetros: otimização do consumo de água e do uso da energia; prevenção da poluição

atmosférica; prevenção da poluição dos corpos hídricos; adequação tecnológica ao produto

(produtos sustentáveis, ACV); e gerenciamento dos resíduos sólidos.

A seleção dos resíduos na fase de descascamento em função de sua natureza e a sua

correta destinação (seja o descarte ou o reaproveitamento) constituem ações prioritárias no

programa PmaisL. Todavia, outras etapas do processamento também podem tornar-se

passíveis de implementação, visto o sucesso da aplicação da referida metodologia.

4.4.4 Viabilidade

Uma vez reconhecida a viabilidade da implementação do PmaisL, o próximo passo é

adequar o cronograma de implantação da metodologia. Esse período de tempo varia conforme

as condições da agroindústria. Como o setor agrícola conta com a sazonalidade como um

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dificultador, o período é ajustado conforme a safra do cultivar. No caso do café, esse período

corresponde à safra, do mês de abril ao mês de setembro.

Quanto aos recursos financeiros, o cronograma deve incluir: as atividades planejadas;

os resultados esperados (feedback); as datas de reavaliação; a identificação da alocação de

recursos; a data de finalização, dentre outros. Já no tocante aos recursos humanos, a escolha

de profissionais especializados é de suma importância. Suas funções tangenciam à

necessidade de documentar as atividades do programa, bem como aquelas que deverão

continuar e aquelas que não foram bem sucedidas.

Considerando os estudos de viabilidade de projeto, esse passo consiste na implantação

de um Programa de Gerenciamento de Resíduos Sólidos (PGRS), vertente do SGA, como

proposta de ações do PmaisL quanto a redução da geração e a reutilização dos mesmos. Uma

das alternativas do programa consiste no inventário do Conselho Nacional do Meio Ambiente

– CONAMA e da norma NBR 10.004 (Classificação dos Resíduos Sólidos) atuando na

identificação da quantidade e tipo de resíduo gerado, em cada etapa do processo.

Além disso, a sugestão de um programa de sensibilização dos funcionários, através de

palestras e informativos gráficos dispostos em murais, incentivando a redução e o reuso dos

resíduos sólidos gerados, bem como o apanhado de idéias dos próprios funcionários. Outra

proposta do programa consiste num estudo detalhado do processo produtivo a fim de

identificar oportunidades de redução da geração de resíduos sólidos, na tentativa de agregar

valor aos resíduos sólidos gerados, com a possibilidade deste retornar ao processo de

beneficiamento de café, como matéria-prima, ou parte integrante do processo.

4.4.5 Monitoramento

O monitoramento das atividades só é possível quanto há a interação das partes

interessadas com a equipe especializada através de ações, como: controlar e monitorar

programas; obter as semelhanças e diferenças de procedimentos, comparando-as entre os

períodos escolhidos; calcular a eficiência do PmaisL através de indicadores, em função das

mudanças na geração de resíduos. Uma proposta envolve o cálculo da quantidade de resíduo

gerado em função da quantidade de sacas de café produzidas em um determinado período.

A produção média de café é de, aproximadamente, 35 sacas por hectare (ha). Em

posse da área de plantio e a quantidade de sacas produzidas, a quantidade de café beneficiado

(X), em quilogramas, equivale à:

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Área de plantio (ha) x 35 = Nº de sacas de café. Eq. (1)

Nº de sacas de café x 60 kg = X kg de café beneficiado Eq. (2)

Segundo FERRONI & TUJA (1992), cerca de 50% do café é constituído de resíduo. Ou

seja, para uma proporção de 0% de café verde e 100% de café cereja (em número de frutos),

temos o peso coco de 463,40 e o peso do café beneficiado de 234,01, em gramas (g). A

diferença entre o peso coco e o peso do café beneficiado resulta no peso correspondente ao

resíduo de processo do beneficiamento, sendo este 229,39 g. Logo a quantidade de resíduo

alcança uma margem de 49,5% da quantidade total de produto beneficiado. Para uma

determinada produção de café beneficiado, em quilogramas, a quantidade de resíduo gerado

(Y) equivale à:

X kg de café beneficiado x 0,495 = Y kg de resíduo Eq. (3)

Deste modo, é possível quantificar os resíduos de processo de maneira tal que permite

monitorar a variação dos indicadores no decorrer da implantação do PmaisL. O ideal é que

diminua a relação entre resíduo e produto. Uma vez identificada a possibilidade de

reutilização do resíduo, este deixará de ser quantificado como um passivo ambiental, também

podendo transformar-se, qualitativamente, em matéria-prima.

O custo do investimento desse processo deverá levar em consideração os cálculos do

VPL, do TIR e do payback. Entretanto, existem algumas alternativas de implementação de

melhorias na adequação da agroindústria à metodologia da PmaisL que não prevê custo

adicional, como é o caso de alguns procedimentos que são imprescindíveis para o sucesso de

um projeto, tais como: promover o treinamento das equipes; evitar ultrapassar o orçamento

previsto; realização do controle adequado sobre a instalação, através do devido

monitoramento.

Sendo assim, o sucesso da ferramenta gerencial depende da interação entre os

profissionais, da seleção e divulgação das informações recolhidas em todas as etapas e da

adequação destas variáveis ao processo. Discutir com toda a equipe, antecipar os problemas,

elaborar projetos de fácil entendimento, promover mecanismos de atualização e acompanhar

novas tecnologias constituem os parâmetros fundamentais para a implementação da PmaisL

em qualquer atividade econômica, inclusive a de caráter agroindustrial.

5. Alternativas para o Reaproveitamento dos Resíduos do Café

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A inserção de novas tecnologias no Brasil vem proporcionando a indústria cafeeira um

sistema de manejo sustentável minimizando os riscos econômicos de produção e a adequação

quanto às questões ambientais que tangenciam o mundo. Os principais impactos apontados no

estudo ambiental são diferenciados quanto ao benefício ao meio ambiente e a sociedade, e

pontos a melhorar.

- Positivos: Melhoria da qualidade de vida e aumento da renda da população com o

aproveitamento da mão-de-obra local, ainda que temporários, na fase de implantação do

programa; adequação estrutural do palheiro para o recebimento de resíduos mais grosseiros;

o resíduo sólido é uma fonte rica de potássio, importante na fase do plantio; reutilização dos

resíduos para a obtenção de briquetes substituindo a lenha proveniente do eucalipto.

- Pontos a melhorar: há a necessidade de estudar o impacto da sobrecarga de potássio no

solo devido à reutilização do resíduo orgânico na lavoura.

5.1 Reaproveitamento da Casca

Segundo MATOS (2008), a casca constitui o primeiro resíduo e representa cerca de

39% da massa fresca ou 29% da massa seca do fruto. De Lima (2006) diz que a mucilagem

constitui uma capa de aproximadamente 0,5 a 2,0 mm de espessura que está fortemente

aderida ao pergaminho, sendo este último a parte anatômica que envolve o grão e representa

cerca de 12% em termos de matéria seca do fruto. Quanto às cascas, os usos mais viáveis são:

I. Combustível: constitui utilização economicamente interessante, com poder calorífico de

cerca de 3.500 kcal/kg, permitindo autonomia energética a uma instalação de secagem e

acondicionamento VEGRO & CARVALHO (1993 apud CLAUDE, 1979). Quaisquer

excessos desse resíduo podem ser queimados não oferecendo, portanto, problema sério.

(ADAMS & DOUGAN, 1987)

II. Carvão: a transformação de cascas em carvão pode proporcionar algum retorno

financeiro. Técnicas de gaseificação e hidrogenação estão sendo estudadas para a conversão

térmica desse resíduo cultural relativamente seco. (ADAMS & DOUGAN, 1987)

III. Adubo orgânico: as cascas são usadas como cama para animais, pisoteadas e misturadas

com esterco de curral e outros resíduos orgânicos, fermentadas como composto, podendo ser

acrescidas de adubos químicos. Podem também participar dos ciclos biogênicos através da

compostagem (transformação de um produto que pode ser utilizado como adubo para o solo).

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IV. Material Filtrante: Podem ser utilizadas como materiais filtrantes para separação de

sólidos da água residuária. (MATOS, 2008)

V. Adsorvente de metais pesados: segundo Reis (2005), as cascas de café secas foram

avaliadas como potenciais adsorventes para remoção de metais pesados em solução aquosa.

Pode-se concluir que as cascas de café, em seu estado natural seco, apresentam capacidade

absortiva elevada com potencial para utilização como adsorventes de baixo custo. As cascas

inteiras apresentaram melhor desempenho como adsorventes que as cascas moídas.

VI. Ração para animais: as cascas podem complementar a ração, em mistura com outras

plantas forrageiras. Os resultados obtidos permitiram concluir que é possível o uso de até 10%

de casca de café, na fase de crescimento e, até 15% na fase de engorda. (COSTA, 1998)

5.2 Reaproveitamento do Pergaminho

De natureza celulósica, o pergaminho é o principal constituinte do endocarpo do fruto

(12% do peso seco das cerejas). A disponibilidade deste subproduto é grande, sendo comum

seu despejo diretamente nos rios. A proporção de pergaminho é de 25% sobre o peso do café

beneficiado (BARTHOLO et al, 1989). Os principais usos são:

I. Ração para animais: a substituição de milho, em rações, até 20% ou 30%, por

pergaminho, parece não afetar a absorção pelos bovinos (CLAUDE, 1979).

II. Adubo orgânico: em solos pobres em potássio, o pergaminho tem sido utilizado como

adubo, mas a restrição é o custo do transporte, por ser o produto bastante volumoso.

(BORÉM, 2008)

III. Composto orgânico: o pergaminho pode ser usado como cama em currais, pisoteado e

misturado com esterco, resultando em composto para uso como adubo. (ADAMS &

DOUGAN, 1987)

IV. Combustível: o poder calorífico é grande (CLAUDE, 1979). O produto excedente, não

utilizado como composto pode ser queimado como combustível (no local) ou vendido para

indústrias que o utilizarão na produção de calor. (ADAMS & DOUGAN, 1987).

V. Carvão: a produção de briquetes de carvão a partir do pergaminho já é um processo

conhecido, e pode ser usado como combustível domiciliar. O produto queima por mais tempo

que o carvão convencional de madeira e já foi lançado comercialmente no Quênia. (ADAMS

& DOUGAN, 1987)

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VII. Material Filtrante: assim como a casca, o pergaminho, segundo Matos (2008) também

pode ser utilizado como material filtrante para separação de sólidos da água residuária em

Estações de Tratamento de Água (ETA).

6. Resultados

Quando diferentes resíduos são gerados num processo industrial, torna-se necessário

adotar critérios para ordená-los numa escala de maior para menor prioridade. A identificação

de etapas potencialmente geradoras de resíduo consistiu em um dos objetivos específicos

deste estudo para aplicação da Produção mais Limpa. O descascamento (processo constituinte

do beneficiamento) foi identificado como a etapa prioritária para a tomada de decisão na

implementação de um sistema de minimização de resíduos.

Todavia, outros tipos de resíduos também fazem parte da etapa do descascamento,

como: folhas, talos, palha e a própria casca. Alternativas foram propostas para a reutilização

desses resíduos de forma a incorporá-los ao sistema produtivo, resolvendo a questão do

passivo ambiental e transformando-os matéria-prima assim como fonte de geração de energia.

7. Considerações Finais

A industrialização de alimentos emprega diferentes processos (físicos, químicos e

biológicos) para a obtenção dos produtos adequados ao consumo humano e que possuam

longa vida de prateleira. O processamento dos alimentos, mais precisamente os grãos, abrange

diversas etapas que inicia-se na colheita, findando no armazenamento dos produtos e a

comercialização destes. Uma vez que o produto é o propósito da agroindústria e, além dele

também são gerados outros materiais de origem não-intencional (os resíduos), um estudo

aprofundado sobre esses resíduos é parte fundamental de um sistema de gerenciamento

ambiental preventivo, visando melhorias no desempenho ambiental e processo produtivo,

reduzindo as perdas.

O PmaisL proporcionou um modelamento lógico e detalhado dos processos e, como

conseqüência, o conhecimento da etapa potencialmente geradora de resíduo. A partir daí, foi

possível direcionar o foco a esta etapa, procurando soluções para a minimização desses

materiais valorando-os dentro do processo produtivo. Porém, outras etapas do processamento

podem tornar-se passíveis de implementação mesmo em outro momento, como a destinação

adequada da água de lavagem, resíduo líquido do processo.

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Tendo em vista as considerações expostas, o pressuposto deste artigo está relacionado

ao fato de que uma adequada gestão ambiental implica na diminuição dos impactos

ambientais ocasionados pelos resíduos sólidos, a partir de uma reestruturação dos padrões.

Neste sentido, a premissa desta pesquisa está relacionada ao fato de que: quanto maior for a

adoção de práticas de Gestão Ambiental, melhor será o gerenciamento dos resíduos sólidos de

uma agroindústria, levando-se em consideração os benefícios ambientais, sociais e, sobretudo,

econômicos. Desta maneira, a implementação da Produção mais Limpa na agroindústria do

café auxiliará substancialmente na redução do passivo ambiental por atribuir uma solução

eficiente e ambientalmente correta para os resíduos gerados em sua atividade.

8. Referências Bibliográficas

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