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APOIO A DECISÃO EM SISTEMAS DE PRODUÇÃO: UM ESTUDO DE CASO NA CONSTRUÇÃO NAVAL Maria de Lara Moutta Calado de Oliveira (UFPE ) [email protected] Elidiane Suane Dias de Melo (UFPE ) [email protected] Daniela Didier Nunes Moser (UFPE ) [email protected] RODRIGO GAYGER AMARO (UFPE ) [email protected] Em virtude da exigência cada vez maior da busca pela competitividade, a indústria naval depara-se com o grande desafio de tomar decisões cujas consequências são importantes e os resultados incertos. Esses casos, em geral, ocorrem em problemmas não repetitivos onde o decisor irá tomar uma decisão única, e sua preferência básica não lhe torna capaz de manipular intuitivamente a complexidade da situação. Este trabalho tem como proposta um estudo de caso, através da aplicação do Método ELECTRE, na priorização dos Sistemas de produção no contexto da retomada da indústria naval brasileira especificamente em Pernambuco. Palavras-chaves: Sistemas de Produção,Construção Naval, ELECTRE XXXIII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO A Gestão dos Processos de Produção e as Parcerias Globais para o Desenvolvimento Sustentável dos Sistemas Produtivos Salvador, BA, Brasil, 08 a 11 de outubro de 2013.

APOIO A DECISÃO EM SISTEMAS DE PRODUÇÃO: UM … · O limiar da concordância é determinado tal que a Indexação da Concordância sempre deve ser maior ou igual a ele (C(A,B)

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APOIO A DECISÃO EM SISTEMAS DE

PRODUÇÃO: UM ESTUDO DE CASO NA

CONSTRUÇÃO NAVAL

Maria de Lara Moutta Calado de Oliveira (UFPE )

[email protected]

Elidiane Suane Dias de Melo (UFPE )

[email protected]

Daniela Didier Nunes Moser (UFPE )

[email protected]

RODRIGO GAYGER AMARO (UFPE )

[email protected]

Em virtude da exigência cada vez maior da busca pela competitividade,

a indústria naval depara-se com o grande desafio de tomar decisões

cujas consequências são importantes e os resultados incertos. Esses

casos, em geral, ocorrem em problemmas não repetitivos onde o

decisor irá tomar uma decisão única, e sua preferência básica não lhe

torna capaz de manipular intuitivamente a complexidade da situação.

Este trabalho tem como proposta um estudo de caso, através da

aplicação do Método ELECTRE, na priorização dos Sistemas de

produção no contexto da retomada da indústria naval brasileira

especificamente em Pernambuco.

Palavras-chaves: Sistemas de Produção,Construção Naval, ELECTRE

XXXIII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO A Gestão dos Processos de Produção e as Parcerias Globais para o Desenvolvimento Sustentável dos Sistemas Produtivos

Salvador, BA, Brasil, 08 a 11 de outubro de 2013.

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1. Introdução

Muitos estaleiros no Brasil possuem parques industriais antigos e praticamente sem condições

de competir com o mercado internacional. Dessa forma, o parque industrial dos estaleiros

brasileiros, para se tornarem competitivos precisam ser modernizados. Assim, a retomada da

indústria naval brasileira apresenta uma necessidade contínua de alterações de processos e

decisões quanto a novos sistemas produtivos e até mesmo construção de novas plantas

industriais. Neste contexto, muitos estaleiros apresentam dúvidas na determinação das

melhores alternativas, visando investimentos mínimos e redução de desperdícios.

O trabalho proposto foi realizado na indústria naval em implantação no estado de

Pernambuco, fornecedora de navios para uma importante estatal brasileira. A indústria em

estudo, como muitas indústrias do seguimento de navipeças, passou por um constante e

gradual processo de modificação de seus sistemas produtivos, a problemática se sucedeu no

processo de tomada de decisão quanto ao sistema de produção que melhor atendesse aos seus

objetivos.

Os sistemas de apoio à decisão auxiliam os decisores, com o objetivo de estruturar e definir

qual a melhor escolha a ser tomada, com relação aos sistemas já existentes e novos sistemas

propostos. As abordagens multicritérios em apoio à decisão (MCDA) têm como característica

principal considerar que os processos decisórios são complexos. “As abordagens MCDA

reconhecem os limites da objetividade e, assim, levam em conta a subjetividade dos atores”

(ROY, 1993).

Nesse sentido, o objetivo desta pesquisa é apresentar um modelo para auxiliar a escolha do

sistema de produção na construção e edificação dos cascos em um estaleiro em implantação

no estado de Pernambuco.

2. Metodologias da decisão multicritério

Dentre as metodologias de decisão multicritério conhecidas pode-se destacar a teoria de

utilidade multiatributo e os métodos outranking.

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Os métodos baseados na teoria de utilidade multiatributo, permitem encontrar uma função que

ordene o espaço de ações, utilizando funções matemáticas encontrando a melhor solução.

Dessa forma, sabe-se que se uma ação conhecida “A” é melhor que “B” e “C”, tem-se que é

irrelevante a análise de preferência entre “B” e “C”. Afirma-se que estas duas ações podem

perfeitamente permanecer incomparáveis, sem por em risco a decisão do problema.

No entanto, sabe-se também que o processo de decisão é temporário e envolve sempre novas

preferências de acordo com novas informações. Logo, é importante ter-se em mãos um

modelo que possa resolver situações quando as mesmas forem incomparáveis. O método

outranking se preocupa em analisar estas incomparabilidades, obtendo um resultado menos

rico do que comparado com a utilidade multiatributo, (podendo evitar introdução de hipóteses

matemáticas que são mais complexas, e questionamentos com o decisor), porém o mesmo é

melhor que a relação de dominância. Em outras palavras este método se preocupa em

enriquecer a relação de dominância, estabelecendo preferências.

A construção da relação outranking, é baseada em desenvolvimento de técnicas, que

procuram eliminar alternativas dominadas, através de um conjunto de pesos conhecidos. Estes

pesos correspondem à importância de cada alternativa para a tomada de decisão.

2.1 Método ELECTRE

Uma técnica usualmente usada é o método ELECTRE, conhecida também por família

ELECTRE (Elimination and Choice Translating algorithm), de origem francesa, foi

inicialmente proposta por Benayoun, Roy e Sussman, em 1996 e posteriormente desenvolvida

por Bernard Roy (ROY,1996). A principal ideia desta técnica é diminuir as alternativas de

escolha, através da análise de alternativas dominadas, eliminando-as. Vale a pena destacar,

que neste trabalho será utilizado o ELECTRE I e uma simulação numérica do ELECTRE II.

O método ELECTRE I procura diminuir o número de alternativas para o decisor, utilizando

uma metodologia de construção bem definida que facilita a montagem, organização e

posterior solução do problema. A metodologia de construção consiste em definir os elementos

básicos para montagem do problema. Estes elementos são a chave para a diminuição ou

mesmo eliminação das alternativas dominadas. Os elementos são conhecidos como a

indexação da concordância, a indexação da discordância, o slicing planes e o Kernel,

(VINCKE,1992; OLSON,1996; ROY,1996).

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2.1.1 A indexação da concordância e a indexação da discordância

A Indexação da Concordância é definida como: Dado uma alternativa “A” com relação a uma

alternativa “B” tem-se uma proporção de pesos do qual “A” prefere “B”. Ou seja, a indexação

da concordância determina a vantagem que uma alternativa tem em relação às outras.

Notação:

w + = Pesos dos critérios nos quais A > B

w = = Pesos dos critérios nos quais A = B

w - = Pesos dos critérios nos quais B > A

Para o cálculo da Indexação da Concordância no ELETREC I utiliza-se a fórmula abaixo :

C (A,B) = ( w + + 0.5 w= )/( w + + w= + w- )

A indexação da discordância é definida como a máxima razão para cada critério, ou seja, ela

determina as desvantagens de uma alternativa “A” com relação a uma alternativa “B”. Para o

cálculo da indexação da discordância no ELETREC I utiliza-se a fórmula abaixo:

(D(A,B) = máx (ZBK - ZAK )/(ZK * - ZK - )

Onde:

ZBK = Valor da alternativa B para o critério K

ZAK = Valor da alternativa A para o critério K

ZK * = Valor Máximo do critério K

ZK - = Valor Mínimo do critério K

Conhecendo-se a indexação da concordância e a indexação da discordância deve-se, detectar

os limites entre as mesmas, este será o ponto chave para solução do problema. Para tanto,

define-se parâmetros conhecidos como limiar da concordância (p) e limiar da discordância

(q). O limiar da concordância é determinado tal que a Indexação da Concordância sempre

deve ser maior ou igual a ele (C(A,B) p).De forma similar define-se o limar da discordância,

tal que a Indexação da Discordância deve ser menor ou igual a ele (D(A,B) q).

2.1.2 Slicing planes

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O Slicing planes é a definição de um conjunto limite entre a Indexação da Concordância e

Discordância visando sobretudo reduzir o espaço de alternativas, utilizando-se para tal os

limiares definidos acima.

2.1.3 Kernel

A definição do conjunto Kernel, corresponde ao subconjunto de alternativas que dentro do

conjunto Slicing planes não são dominadas por nenhuma outra alternativa. Pode-se dizer que

cada elemento do subconjunto Kernel, não é classificado por nenhum outro elemento dele, e

que cada elemento que não pertence ao subconjunto Kernel é desclassificado por pelo menos

um elemento do subconjunto Kernel.

2.2 Matriz consequência

Conhecendo-se limiares acima definidos, pode-se seguir para a próxima etapa que consiste na

construção da matriz de consequência.

Definindo-se a família de critérios, {k1, k2, k3, ...kn} e a ponderação dos mesmos, de acordo

com os decisores {w1,w2,w3,w4,wn }, Os pesos são números que refletem em ordem de

grandeza as preferências dos decisores em relação aos critérios.

Logo a matriz consequência é a matriz construída, com o conjunto de alternativas do espaço

de ação “A” e os valores dos critérios de cada alternativa conforme Quadro 01. A primeira

coluna corresponde às alternativas propostas e a primeira linha corresponde aos diversos

critérios que envolvem as alternativas estabelecidas.

Quadro 01: Matriz consequência

Fonte: Autores (2013)

2.2.1 Normalização da matriz consequência

A normalização da Matriz Consequência tem o objetivo de colocar os valores atribuídos aos

critérios em uma mesma escala. Seu cálculo é definido da seguinte maneira:

Atribui-se 1 para a opção de maior valor e 0 para a de menor valor (VINCKE, 1992). Para as

demais calcula-se o valor relativo conforme fórmula a seguir:

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(X=X - X- / X+ - X-)

Onde:

X= valor procurado

X- = menor valor entre as alternativas

X+ = maior valor entre as alternativas

3. Metodologia proposta

Conforme visto anteriormente, o método ELECTRE I, basicamente se propõe diminuir o

tamanho do conjunto de alternativas, explorando o conceito de dominância. É utilizado um

índice de concordância C(a,b) para medir a vantagem relativa de cada alternativa sobre outras.

De forma Similar, é definido um índice de discordância D(a,b), que mede a desvantagem.

Neste método são utilizados praticamente, três tipos de informações: a avaliação de cada

alternativa a luz de cada um dos critérios, a ponderação relativa entre os critérios

considerados, e os limites admitidos para os índices de concordância (p) e discordância (q).

No modelo proposto, as informações de ponderação entre os critérios e valores limites dos

índices são obtidos diretamente do decisor e dos clientes que representam maior peso para

indústria citada.

3.1 Definição dos critérios

Os critérios definidos foram baseados nos objetivos de desempenho proposto por Slack

(2008). Estes critérios se enquadram no contexto da abordagem deste problema em virtude do

mesmo se passar em uma indústria onde estes critérios estavam sendo formados.

Dessa forma conhecendo-se os critérios propostos e a metodologia para a priorização das

alternativas de acordo com estes critérios, através de pesquisa com os decisores e os clientes,

foram definidas as ponderações de cada critério para estruturação do problema. Vale a pena

destacar as dificuldades impostos para definir estas ponderações. Além dos decisores e

clientes não conhecerem a metodologia proposta, os mesmos, no inicio do desenvolvimento

do trabalho, não percebiam a importância e os benefícios que os resultados trariam.

Definindo as matrizes índice de concordância e índice de discordância conforme definido

acima e aplicando-se os limiares de concordância e discordância pode-se realizar as

desclassificações utilizando os procedimentos descritos do ELECTRE I.

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3.2 Estudo de caso num estaleiro em Pernambuco

O estaleiro objeto de estudo conta com capacidade de processamento de 160 mil toneladas de

aço/ano, 1 milhão e 620 mil metros quadrados de terreno, área industrial coberta de 130 mil

metros quadrados e um dique seco de 400 metros de extensão, 73 metros de largura e 12

metros de profundidade. O dique é servido por dois pórticos Goliaths de 1.500 toneladas/cada,

dois guindastes de 50 toneladas/cada e dois de 35 toneladas/cada. O porte destes

equipamentos permite reduzir substancialmente o tempo de edificação, possibilitando a

indústria figurar no seleto time das plantas navais de quarta geração, junto aos estaleiros

asiáticos, considerados a vanguarda da construção naval mundial.

O estaleiro possui também um cais de acabamento com 730 metros de extensão, equipado

com dois guindastes de 35 toneladas. Outros 680 metros de cais são utilizados para a

construção de plataformas offshore.

Vale a pena destacar que, por questões de autorização, não foi divulgado o nome do estaleiro.

Porém diversas dúvidas entraram em questão com relação a qual sistema de produção deveria

ser investido ou mesmo como definir o que tornaria a empresa mais competitiva. De forma

inicial, foi identificada a necessidade de um estudo de mercado, para entender e conhecer

quais eram as expectativas do cliente com relação ao produto e como o sistema de produção a

ser escolhido influenciaria nestes fatores. Após a definição deste escopo inicial, ficou clara a

necessidade de conhecer os processos de produção existentes, sua relação com as expectativas

do cliente bem como a formalização das expectativas do cliente com relação aos desempenhos

de produção propostos pelo Slack (2008).

Dessa forma, conhecendo as propostas dos sistemas de produção, bem como sua influência

sobre as expectativas dos clientes, pode-se propor um estudo sobre a influência de cada

desempenho de produção com relação ao mercado e através da ponderação destes

desempenhos, pode-se construir uma relação de ordenamento entre as alternativas de sistemas

de produção propostas pela diretoria, chegando desta forma a uma solução que agregaria os

principais objetivos de cliente e fornecedor. A metodologia de apoio à tomada de decisão foi

o método ELECTRE, que por sua simplicidade de aplicação e visto que as alternativas de

escolha do estudo em questão permitiam incomparabilidades, foi identificado como o método

mais aconselhável.

3.1 Estudo do mercado

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O estudo de mercado foi elaborado com base em entrevista formal com os principais clientes,

os clientes potenciais, os acionistas, bem como os clientes internos. Vale a pena destacar que

o processo inicial de obtenção de dados preliminares, com relação às expectativas dos clientes

foi muito difícil, ora porque o processo formalizou uma lista de reclamações com relação à

empresa, ora porque as perguntas não eram entendidas ou mesmo o próprio cliente não

conhecia de forma clara suas expectativas.

Em virtude das dificuldades obtidas utilizou-se os objetivos de desempenho definidos por

Slack (2008), como fonte de questionamento e pesquisa para obtenção dos pesos dos critérios

para cada cliente. Dessa forma mudou-se o foco da pesquisa para identificar dentre os

objetivos de desempenho qual a ponderação que cada cliente daria para atender as suas

expectativas.

Esta mudança facilitou a construção do Quadro 02, devido à redução da pesquisa bem como o

melhor entendimento dos clientes. O resultado obtido foi o peso dos critérios de acordo com

os clientes. Este quadro foi definido utilizando, como dito anteriormente, os objetivos de

desempenho bem como os critérios para serem ponderados. O quadro definiu o nível de

importância de cada critério para os clientes pesquisados.

Quadro 02: Pesos dos critérios de acordo com os clientes

Critérios /pesos

Custo Qualidade Rapidez Confiança Flexibilidade

Média 3 2 4 0,5 0,5

Fonte: Autoras (2013)

O quadro obtido demonstrou a preocupação dos clientes com relação a custo,

qualidade e velocidade. Vale a pena destacar que praticamente todos os clientes da empresa

responderam o questionário, porém por questões de sigilo industrial, os números possuem a

mesma ordem de grandeza, mas não são exatamente os mesmos, bem como os clientes não

autorizaram a divulgação dos nomes.

3.2 Definição dos sistemas de produção.

A definição dos sistemas de produção consistiu em estudar quais são os Sistemas de Produção

atuais utilizados neste seguimento industrial, qual o impacto com relação aos valores dos

critérios acima definidos.

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Três sistemas específicos foram selecionados e definidos. (1) Os sistemas de produção em

massa, conhecidos também como células de produção centralizadas; (2) os sistemas de

produção japoneses conhecidos como células de produção descentralizadas e (3) um sistema

de produção misto com características intermediárias entre os dois sistemas acima.

O sistema de produção misto surgiu de estudos da engenharia de processo do estaleiro onde

foi proposto um sistema simples, porém com características intermediárias com relação aos

outros dois sistemas bem conhecidos.

4. Aplicação da metodologia de priorização baseado no método ELECTRE I

Na fase inicial da metodologia, é necessária a definição dos critérios bem com as ponderações

de cada critério com relação às alternativas definidas.

Conforme já definido acima, para utilização da metodologia ELECTRE é necessário à

definição dos índices de concordância e discordância, para a construção da matriz índice de

concordância e a matriz índice de discordância.

Definição dos Valores de Cada Critério

O custo foi definido para cada Sistema de produção proposto em valores monetários,

que correspondem uma ordem de grandeza do valor real. O estaleiro não autorizou a

divulgação real destes números.

A qualidade é baseada no critério de qualidade já utilizado na empresa, a saber:

Definiu–se uma nota de qualidade que varia de 0 a 5, onde 0 é a nota máxima e 5 é a

nota mínima.

A rapidez foi definida em percentuais em virtude de representar a quantidade de

atendimento a pedidos extras e a programação preestabelecida.

A confiança foi definida utilizando-se o conceito do “nível de segurança” que os

principais clientes teriam de acordo com os três sistemas propostos e a expectativa que

os mesmos teriam. Definiu-se uma tabela com valores que variaram entre 15 e 5,

sendo confiança máxima o 15 e confiança mínima 0.

Vale a pena destacar que a cada contato direto com os clientes, ao longo do desenvolvimento

do trabalho, os mesmos começaram a ficar mais acessíveis e houve um aumento no interesse

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pelo trabalho e seus resultados. O Quadro 03 define bem a confiança dos clientes com relação

aos sistemas propostos.

Outro fator importante a deixar claro é que cada cliente recebeu explicações sumária sobre os

sistemas de produção propostos. Os clientes potenciais e principais definiram a própria

engenharia de processo para responder o preenchimento do Quadro 03.

Quadro 03: Confiança dos clientes nos sistemas em estudo

Sistemas 1 2 3

Média dos Cliente 9 11 10

Fonte: Autores (2013)

A flexibilidade foi definida em valores que variam entre 5 e 15 que definem como sendo 15

máxima flexibilidade de atendimento e 5 apenas o cumprimento do planejado, ela foi

respondida pela própria engenharia de processos da fábrica que definiu de acordo com os

dados do Quadro 04, a matriz consequência.

Quadro 04: Matriz consequência

Fonte: Autores (2013)

Descrição do problema: Tomada de decisão com relação aos sistemas de produção

propostos.

Considerando-se os três sistemas propostos e definidos, não dominados, conforme matriz

consequência definida no Quadro 04, o problema consiste em identificar qual as melhores

alternativas, ou a melhor, sob ponto de vista dos objetivos de desempenho como critérios

simultaneamente, de acordo com as ponderações já definidas no Quadro 01.

Normalização da matriz consequência

A normalização da Matriz Consequência tem o objetivo de colocar os valores atribuídos a

qualquer um dos critérios em uma mesma escala, apresentada abaixo no Quadro 05.

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Quadro 05: Matriz consequência normalizada

Fonte: Autores (2013)

Cálculo da matriz dos índices de concordância

Utilizando-se a fórmula do cálculo de cada índice de concordância de acordo com as

alternativas propostas definiu-se a matriz índice de concordância conforme apresentado no

Quadro 06.

Quadro 06: Matriz índice de concordância

Fonte: Autores (2013)

Cálculo da matriz dos índices de discordância

Utilizando-se a formula do cálculo de cada índice de discordância de acordo com cada

alternativa proposta definiu-se a matriz índice de discordância conforme Quadro 07.

Quadro 07: Matriz índice de concordância

Fonte: Autores (2013)

Seleção das alternativas que irão compor o subconjunto “Kernel”

A seleção das alternativas consiste em procurar por alternativas que não são dominadas por

qualquer outra e colocá-las no subconjunto “Kernel”;

Eliminar alternativas dominadas por este conjunto.

Interagir até que todas as alternativas estejam em um dos 2 conjuntos.

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Definindo-se o limiar da concordância de concordância, p, e o limar de discordância, q , pode-

se aplicar o ELECTRE I .

Definição do conjunto kernel utilizando o limiar de concordância p=0.6 e limiar de

discordância q=0.5.

Adotando-se o limiar de concordância e de discordância como p=0.6 e q=0.5, conforme

sugerido por Oslon, (1996), tem-se a definição do conjunto Kernel.

1 > {2}

2 > { }

3 > { }

Logo, pode-se concluir que apenas a alternativa 02 seria nestes limiares, dominada por outras

alternativas, definindo-se dessa forma o conjunto Kernel. Baseado nos dados acima o

conjunto Kernel será o conjunto composto pelas alternativas que não aparecem nos

subconjuntos dominados que são 1,3, logo: Kernel ={1,3}:

De forma semelhante o conjunto “not Kernel” será composto pelas alternativas

desclassificadas definidas acima. Not Kernel={ 2}:

Definição do conjunto Kernel utilizando o limiar de concordância p=0.5 e limiar de

discordância q=0.75.

Adotando-se o limiar de concordância e de discordância como p=0.5 e q=0.75, conforme

sugerido por Oslon, (1996), tem-se a definição do conjunto Kernel para outros limiares.

Logo,

1 > { 2,3}

2 > { }

3 > { }

Para estes novos limites o Kernel seria definido pela alternativa 1, dessa forma o conjunto

Kernel seria definido como: Kernel={ 1}:

De forma semelhante pode-se definir o conjunto Not kernel, a saber: Not Kernel={ 2,3}.

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Definição do conjunto kernel utilizando o limiar de concordância p=0.6 e limiar de

discordância q=0.25.

Adotando-se o limiar de concordância e de discordância como p=0.6 e q=0.25, conforme

sugerido por Oslon, (1996), tem-se a definição do conjunto Kernel nestes outros limiares.

Logo,

1 > { }

2 > { }

3 > { }

Neste limiar nenhuma alternativa é desclassificada, dessa forma o conjunto Kernel é definido

a saber: Kernel={ 1,2,3}:

Vale a pena destacar que para estes limiares nenhuma alternativa e desclassificada, dessa

forma o conjunto Not Kernel será definido como conjunto vazio. Not Kernel={ }:

Definição do conjunto Kernel utilizando o limiar de concordância p=0.2 e limiar de

discordância q=0.5.

Adotando-se o limiar de concordância e de discordância como p=0.2 e q=0.5, conforme

sugerido por Oslon, (1996), tem-se a definição do conjunto Kernel para este novo limar.

1 > {2 }

2 > { }

3 > { 3}

Baseando-se nestes dados, a alternativas que não aparecem nos subconjuntos dominados é a

alternativa 1, logo conjunto Kernel é definido como: Kernel ={ 1}

De forma semelhante pode-se concluir que as alternativas que aparecem nos subconjuntos

dominados são as demais. Logo o Not Kernel é definido como: Not Kernel ={ 2,3}

5. Conclusões

O desenvolvimento do trabalho demonstra a importância da utilização de uma metodologia

para tomada de decisão num contexto de chão de fábrica. Vale a pena destacar que, apesar de

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ser de conhecimento de todos os gestores, a importância do processo de tomada de decisão no

contexto de gerenciamento da produção, ainda existe um campo largo a ser pesquisado no

contexto de apoio a decisão em chão de fábrica e em estaleiros. A maior dificuldade

encontrada para desenvolvimento do trabalho foi a falta de conhecimento dos decisores com

relação aos conceitos apresentados.

A metodologia referencial trata do problema de tomada de decisão com relação à definição de

qual sistema de produção que melhor represente o segmento industrial específico,

considerando para tal, as principais linhas de tendências atuais quanto à administração de

produção: de sistemas de produção em massa, sistema de produção japonês, objetivos de

desempenho da produção, bem como, conhecimentos sobre conceitos de qualidade, visando

com isso propiciar um direcionamento baseado nas estratégias da empresa.

Utilizando a metodologia ELECTRE pode-se sobreclassificar uma alternativa e sugerir o

sistema de produção conhecido como produção enxuta (japonês). Este resultado pode ser

explicado em virtude de alguns fatores específicos, que influenciaram na definição e

ponderação dos critérios, que constituiu a massa de dados apresentados neste estudo.

Com base neste estudo, o estaleiro em questão pode acompanhar toda a metodologia de

tomada de decisão bem como utilizar os conceitos e quadros desenvolvidos para a tomada de

decisões em rotinas do gerenciamento da produção sempre focando as estratégias da empresa.

O capítulo anterior exemplifica um processo simples de apoio a decisão que permitiu a

escolha correta do sistema de produção mais adequado para o chão de fábrica do estaleiro em

estudo.

Porém, é fundamental a análise do contexto em que o setor ou segmento industrial se encontra

não devendo, portanto, utilizar este resultado de forma genérica para todos os estaleiros. Isto é

explicado devido a mudança na expectativa do cliente quanto aos critérios definidos

(produtividade, flexibilidade, qualidade, rapidez e confiança). A escolha do sistema de

produção com células de produção descentralizadas foi introduzida no estaleiro em questão e

atualmente a mesma trabalha com este sistema de produção em toda a sua unidade fabril.

Para os gestores da empresa ficou a planificação de uma metodologia simplificada que

permitiu uma maior segurança quanto aos investimentos neste Sistema de Produção. Apesar

de o tratamento matemático ter sido bastante simplificado, o resultado do trabalho se mostrou

bastante satisfatório com relação a sobreclassificação das alternativas dominadas e indicação

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do sistema de produção proposto. Esta facilidade abriu uma vasta necessidade, de

conhecimento neste estaleiro, com relação à utilização de métodos simples que, mesmo não

possuindo tanto rigor matemático, auxiliam o decisor no processo de tomada de decisão,

evitando o empirismo e os “achismos” que muitas vezes são desastrosos para o resultado

industrial.

Outro aspecto importante a ser observado foi um maior compartilhamento das decisões,

gerando um maior comprometimento com os resultados de uma forma geral.

REFERÊNCIAS

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systems. EURO XV- INFORMS XXXIV Joint International Meeting; Barcelona Spain,

July 14-17, 1997.

ALMEIDA, A. T, CALADO L. , (1999); Tomada De Decisão Envolvendo Definição De

Fornecedor De Equipamento Produtivo, 1999.

BELL, D. E. KEENEY, R. L. RAIFA, H. Conflicting objectives in decisions. John Wiley &

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