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linguistica aplicada
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APONTAMENTOS SOBRE A HISTÓRIA DA EVOLUÇÃO DA LÍNGUA
Guilherme Ribeiro
NOÇÕES ELEMENTARES DE FONÉTICA HISTÓRICA
A FONÉTICA é a ciência que estuda os fonemas que constituem a linguagem.
A FONÉTICA HISTÓRICA, um dos ramos da FONÉTICA, estuda a evolução dos fonemas no tempo e no espaço.
Os FONEMAS são o sons linguísticos produzidos oralmente; as letras ou grafemas são representações gráficas desses sons. Mas nem sempre a relação entre som e grafema é de correspondência unívoca: há fonemas que são representados por mais que uma letra, como acontece, por exemplo, com o r duplo (rr _ carro), do mesmo modo que há letras que correspondem a mais que um fonema, como é o caso de X, que tanto tem o valor de KS, como de Z, como de CH (táxi, exame, enxame).
Os fonemas classificam-se em três grupos: VOGAIS, SEMIVOGAIS e CONSOANTES:
VOGAIS: são fonemas produzidos pela corrente de ar expirado dos pulmões que, fazendo vibrar as cordas vocais, ganha a cavidade bucal e se escoa livremente;
SEMIVOGAIS: são os i e u, quando formam sílaba com uma vogal. Caracterizam-se pelo timbre, próprio das vogais, e pelo ruído, próprio das consoantes;
CONSOANTES: são fonemas produzidos pela corrente de ar expirado dos pulmões que, fazendo ou não vibrar
as cordas vocais, é interceptado na cavidade bucal por um obstáculo.
1. VOGAIS
1.1. Segundo o papel das cavidades bucal e nasal, as vogais agrupam-se em:
a) ORAIS: a, e, i, o, u; b) NASAIS: ã, ~e, ~i, õ, ~u.
1.2. Segundo o ponto de articulação:
a) Médias: a; b) Anteriores: e, i; c) Posteriores: o, u.
1.3. Quanto ao timbre:
a) Abertas: á, é, ó; b) Fechadas: ê, ô; c) Reduzidas: a (vida), e (vale), o (fino).
1.4. De acordo com a Intensidade:
a) Tónicas: sopé, só;lido, sofá, peru, saí, etc.; b) Átonas: casa, vale, sopé, sofri, etc..
2. ENCONTROS VOCALICOS
São três os casos que fazem parte do que denominamos de "Encontros Vocálicos": Ditongos, Tritongos e Hiatos.
2.1. O DITONGO resulta de um encontro entre uma VOGAL + uma SEMIVOGAL, ou de uma SEMIVOGAL + uma VOGAL, dentro da mesma sílaba: pai; rei; herói; quando; etc..
É fácil depreender que haverá diferentes tipos de DITONGOS, segundo a especificidade das vogais que os compõem e a combinação que se estabelece entre elas. Assim, temos a considerar, pela natureza das vogais, DITONGOS ORAIS __ formados por vogais orais: produzidas pelo aparelho fonador, mas sem a intervenção das narinas __ e DITONGOS NASAIS __ formados por vogais nasais: quando produzidas com auxílio das fossas nasais __; e,
pelo teor da combinação entre as vogais que os corporizam, DITONGOS CRESCENTES (semivogal antes da vogal) e DITONGOS DECRESCENTES (vogal antecedendo a semivogal).
DITONGOS CRESCENTES e DITONGOS DECRESCENTES
Este tipo de ditongos respeita apenas a combinação das vogais a (=á), e (=é) e o (=ó ou ô) com i ([i]) e u ([u]), das quais só as duas últimas (i e u) podem realizar-se quer como vogais ([i], [u]) quer como semivogais ([j], [w]). O o pode, em alguns casos, formar ditongo __ como sucede em certas ocorrências -io __, tendo nessas situações um valor idêntico ao da semivogal [w].
Denominam-se DITONGOS CRESCENTES (orais e nasais) os que se formam pela combinação SEMIVOGAL (realização fónica parcial) + VOGAL (realização fónica plena):
qual:- [wa] Linguística: -[wi] cinquenta - [w~e]
Denominam-se DITONGOS DECRESCENTES (orais e nasais) aqueles que são formados pela combinação VOGAL (realização fónica plena) + SEMIVOGAL (realização fónica parcial):
em [aj]: ai!, sai, vai; em [aw]: mau, pau, calhau, etc. em [éj]: papéis, etc. em [ój]: herói, constrói, etc. em [uj]: fui, Tui, Rui, etc. em [ãj] __ grafia em -ãe, -ãi-, -em (em posição final absoluta) e -en- (no interior de palavras derivadas): mãe, cãibra, benzinho; etc. em [ãw] __ grafia em -ão e -am: mão, vejam; em [õj] __ grafia em -õe: põe, sermões;
2.2. TRITONGOS
Quando o encontro entre vogais é formado por SEMIVOGAL + VOGAL + SEMIVOGAL, denomina-se tritongo.
Pela natureza das vogais que o constituem, teremos tritongos orais e tritongos nasais:
__ orais:
em [waj]: Uruguai; em [wéj]: enxaguei; em [wej]: enxaguei; em [wiw]: delinquiu;
__ nasais:
em [wãw]:saguão; em [wõj]:saguões; etc.
2.3. Encontros intraverbais e interverbais.
Os encontros vocálicos ocorrem quer no interior dos próprios vocábulos (intraverbais = intravocabulares) quer entre dois vocábulos contíguos (interverbais = intervocabulares).
2.3.1. HIATO. __ Assim, temos a considerar o HIATO, que é o encontro de duas vogais, dentro da mesma palavra, mas pertencendo cada uma delas a sílabas diferentes (isto é, não formando ditongo): lua = lu-a; nua = nu-a; rua = ru-a; piada = pi-a-da; feriado = fe-ri-a-do; etc.
2.3.2. SINÉRESE, DIÉRESE e SINALEFA:
Porém, ao nível da realização oral __ e também por questões de métrica, na versificação __ transforma-se frequentemente o hiato em ditongo. Neste caso estaremos perante o que se denomina de SINÉRESE (o que acontece com os agrupamentos ae, ao, ea, ee, eo, ia, ie, io, oa, oe, ua, ue, uo, uu): du-e-lo > due-lo; du-un-vi-ra-to > duun-vi-ra-to, etc.
Mas pode igualmente acontecer o contrário, ou seja, transformar-se o que normalmente constituiria um ditongo em hiato. A este fenómeno dá-se o nome deDIÉRESE (o que sucede habitualmente com os agrupamentos ai, au, ei, eu, iu, oi, ui): vai-da-de > va-i-da-de; sau-da-de > sa-u-da-de; di-ur-no > diur-no; etc.
Se a ditongação de um hiato se opera não no interior da própria palavra mas entre vocábulos contíguos, dá-se-lhe o nome de SINALEFA (o que acontece frequentemente na versificação:
"O-amor de guardar ódios agrada-ao meu coração: é como-um dia sem sol a raiva na servidão" (Carlos de Oliveira)
3. AS CONSOANTES
a) Quanto ao ponto de articulação:
_ BILABIAIS: P, B e M _ LABIODENTAIS: F e V _ LINGUODENTAIS: T e D _ ALVEOLARES: S, C e Ç; S e Z; R e RR; L; N _ PALATAIS: X e CH; G e J; LH; NH _ VELARES: C (K) e Q; G (gue).
b) Quanto ao modo de articulação e FUNÇÃO DAS CORDAS VOCAIS, temos:
__ OCLUSIVAS, sudivididas em: _ SURDAS: P, T, C (K) e Q. _ SONORAS: B, D e G (gue). __ As CONSTRITIVAS, que se subdividem em: _ FRICATIVAS SURDAS: F, S, C, Ç, X e CH. _ FRICATIVAS SONORAS: V, S, Z, G e J. _ VIBRANTES SONORAS: R e RR. _ LATERAIS SONORAS: L e LH.
c) Quanto à intervenção da cavidade bucal e nasal, temos a considerar que, exceptuando as nasais M, N e NH, todas as outras são orais.
3.1. ENCONTROS CONSONANTAIS
Como acontece com as vogais, também as consoantes apresentam agrupamentos consonantais.
Podemos considerar três tipos de encontros consonantais:
a) Encontro Consonantal Puro, correspondendo ao agrupamento de consoantes pertencentes a uma mesma sílaba, como bl, br, cl, cr, dr, fl, fr, gl, gr, pl, pr,tl, tr, vr (blin-da-do, brin-car, cla-ro, cra-vo, dra-gão, pa-dre, flor, fra-de, re-frão, glu-tão, re-gra, pla-ni-fi-car, du-plo, pra-ta, a-tlas, tra-zer, pa-la-vra).
Além destes grupos há também outros, de relativa frequência, como gn, mn, pn, ps, pt, tm, que, em posição inicial, se apresentam sempre inseparáveis (gno-mo, mne-mo-té-cni-co, pneu-má-ti-co, psi-co-ló-gi-co, pti-a-li-na, tme-se).
Porém, quando ocorrem em interior de palavra, devido à tensão da pronúncia, podem ser articulados ora numa só sílaba __ di-gno, ri-tmo __, ora em sílabas distintas __ di-g-no, ri-t-mo (geralmente soando com um som vocálico intercalado entre as duas consoantes: dig(ue)no / dig(ui)no; rit(e)mo / rit(i)mo)
b) Encontro Consonantal Disjunto, coresponderá a agrupamentos consonantais, mas cujas consoantes pertencem a sílabas diferentes, como pt e ct: ap-to,aspec-to; etc.
c) Encontro Consonantal Fonético, quando uma consoante tem realização equivalente a duas consoantes distintas, como sucede com X, que, em diversos casos, se pronuncia [ks]: a-xi-la = a-ksi-la; ne-xo = ne-kso; etc.
3.2. DÍGRAFOS
Antes de mais, convém advertir que nunca se deverá confundir letras com aquilo que denominamos de vogais e de consoantes. As LETRAS apenas servem para representar sons, os quais correspondem a vogais ou a consoantes.
DÍGRAFO é o agrupamento de duas letras que equivale à representação de um único fonema. Neste sentido, distingue-se perfeitamente dos encontros consonantais, em que cada letra do grupo corresponde a fonemas distintos.
Os principais dígrafos consonantais são:
__ CH: representa a palatal [1] __ som que também se obtém através da letra x (lixa: [li1A]): ficha, flecha, despacho, fecho, feche, cacho, etc.
__ LH: simboliza a lateral [?]: velho, telha, coelho, atilho, lhe, Julho, etc.
__ NH: simboliza a lateral [V]: tenho, tinha, Junho, punho, etc.
__ RR: representa, entre vogais, a vibrante velar [R] (equivalente ao som da letra r em início de palavra: rato, ralo, etc.): arremeter, arredar, carro, carril, etc.
__ SS: representa, entre vogais, a fricativa linguodental (ou dorsodental) [s] (equivalente ao som da letra s, em início de palavra: sábio, sal, etc.): assar, assado, massa, amassar, etc.
ACENTO TÓNICO
No Latim Clássico a posição do acento tónico tinha a ver com a quantidade de sílabas:
__ não existiam oxítonas (agudas);
__ Os dissíbabos eram paroxítonos (graves);
__ os polissílabos variavam entre paroxítonos (graves) e proparoxítonos (esdrúxulos): paroxítonos, se a antepenúltima sílaba era longa (amAtur);proparoxítonos, se a antepenúltima sílaba era breve (legImus).
No Latim Vulgar, a noção de quantidade acabou por perder-se e deu lugar à intensidade. Por isso, as vogais deixam de ser consideradas longas e breves e passam a distinguir-se entre átonas e tónicas.
Esta passagem da quantidade à intensidade, operada no Latim Vulgar, teve por base estas duas constantes:
1. Nas palavras proparoxítonas, cuja última sílaba continha um encontro consonantal constituído por uma oclusiva e R, o acento tónica
sofria diástole:cáthedram > cathédra > cadeira; ténebras > tenébras > trevas.
2. Quando existia hiato com o I tónico, ocorria a diástole:
__ paríetem > pariétem > parede;__ mulérem > muliérem > mulher.
No Português o acento tónico é o mesmo dos vocábulos do Latim Vulgar.
Conclui-se, pois, que o acento, e também a rima, representam também aportações valiosas do Latim para as línguas românicas, entre as quais o Português. Na época clássica não havia acento intensivo; o acento era musical ou em altura. Por volta do século V o acento de intensidade sobrepujou o acento em altura, e dele dimanou a acentuação generalizada das línguas românicas. Comediano, ao escrever o seu Carmen Apologeticum, em dáctilos, tornou-se o introdutor do verso rimado em Latim. A partir daí, a rima passa a constituir um atavio do estilo.
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FONÉTICOS) -- VOCALISMO -- CONSONANTISMO -- FORMAS DIVERGENTES E FORMAS CONVERGENTES -- PERIODIZAÇÃO DA EVOLUÇÃO DA LÍNGUA -- MORFOLOGIA HISTÓRICA -- FORMAÇÃO DO VOCABULÁRIO -- ARCAÍSMOS -- BIBLIOGRAFIA --