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Aposentadoria por alcoolismo na Fundação Nacional de Saúde Dezembro/2013 ISSN 2179-5568 Revista Especialize On-line IPOG - Goiânia - 6ª Edição nº 006 Vol.01/2013 dezembro/2013 Aposentadoria por alcoolismo na Fundação Nacional de Saúde Maria José Coelho de Medeiros Léda [email protected] Pós Graduação em Perícias Médicas Instituto de Pós-Graduação e Graduação IPOG Brasília, março de 2013. Resumo A aposentadoria por invalidez é reconhecida socialmente e tem apoio legal no Brasil desde o início do século XX. A legislação brasileira tem assegurado proteção ao trabalhador incapacitado, por motivos de saúde, de prover o seu sustento. O alcoolismo é considerado um problema social e de saúde pública, sendo a terceira causa de aposentadoria por invalidez no Brasil. O presente estudo teve como objetivo levantar o perfil demográfico das aposentadorias por invalidez na Presidência da FUNASA, no período de 2005 a 2011. Quanto aos métodos, foram utilizadas informações obtidas do Sistema de Administração de Pessoal (SIAPECAD) e dos processos de aposentadoria por invalidez, sistematizadas em banco de dados (planilha). No período em estudo foram concedidas 90 aposentadorias e 22 tiveram como fundamento legal a invalidez. O alcoolismo representou a primeira causa dessas aposentadorias (31,81%). Doenças cardiovasculares e transtornos mentais foram a segunda causa (22,73%), sendo as doenças osteomusculares, a terceira causa (13,64%). Considerando que o alcoolismo é evitável e que pode estar relacionado ao trabalho, urge o incremento de medidas de prevenção dessa doença, por meio de ações efetivas de vigilância integral e integrada da saúde do trabalhador. Palavras-chave: Aposentadoria. Invalidez. Alcoolismo. 1. Introdução O debate sobre a relação trabalho-saúde justifica-se pelo fato de que a atividade laboral é um processo dinâmico no qual há necessidade de se viabilizar a adequação do trabalho ao homem por meio de ações de proteção e promoção à saúde, na busca da melhoria da qualidade de vida do trabalhador. No século XVI, George Bauer, mais conhecido pelo seu nome latino de Georgius Agricola, em “De Re Metallica”, discutia os acidentes de trabalho e as doenças mais comuns dos mineiros (MENDES, 1999). Em 1700, surge uma obra de grande importância, que se tornou referência para todos os interessados no assunto: “De Morbis Artificum Diatriba” (As Doenças dos Trabalhadores), do médico italiano Bernardino Ramazzini. Ele estabeleceu, ou insinuou, alguns dos elementos básicos do conceito de Medicina Social, ao contextualizar doenças que ocorrem em mais de cinquenta ocupações diferentes, ressaltando a necessidade do estudo das relações entre o estado de saúde de uma dada população e suas condições de vida determinadas por sua posição social (RAMAZZINI, 1971). Historicamente, é sabido que a aposentadoria foi instituída no século XIX na Europa com o objetivo de garantir a sobrevivência das primeiras gerações de operários, que perdiam a capacidade laborativa devido ao envelhecimento. A França foi o primeiro país a sentir as consequências do envelhecimento de sua população e também foi a responsável pela conquista das primeiras leis sociais relativas à saúde do trabalhador (MEDINA, 1986). Somente, a partir do final daquele século foram conquistadas as primeiras leis sociais relativas à saúde dos trabalhadores: 1890 criação nas minas de delegados de segurança; 1893 lei sobre a higiene e segurança dos trabalhadores da indústria; 1898 lei sobre os acidentes de trabalho e sua indenização; 1905 aposentadoria dos mineiros; 1910 aposentadoria para os

Aposentadoria por alcoolismo na Fundação Nacional de Saúde · Os primeiros indícios de uma previdência social brasileira, que ... com o Art. 27 da Lei nº 8112/1990 não poderá

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Aposentadoria por alcoolismo na Fundação Nacional de Saúde Dezembro/2013

ISSN 2179-5568 – Revista Especialize On-line IPOG - Goiânia - 6ª Edição nº 006 Vol.01/2013 –dezembro/2013

Aposentadoria por alcoolismo na Fundação Nacional de Saúde

Maria José Coelho de Medeiros Léda – [email protected]

Pós Graduação em Perícias Médicas

Instituto de Pós-Graduação e Graduação – IPOG

Brasília, março de 2013.

Resumo

A aposentadoria por invalidez é reconhecida socialmente e tem apoio legal no Brasil desde o

início do século XX. A legislação brasileira tem assegurado proteção ao trabalhador

incapacitado, por motivos de saúde, de prover o seu sustento. O alcoolismo é considerado um

problema social e de saúde pública, sendo a terceira causa de aposentadoria por invalidez no

Brasil. O presente estudo teve como objetivo levantar o perfil demográfico das

aposentadorias por invalidez na Presidência da FUNASA, no período de 2005 a 2011.

Quanto aos métodos, foram utilizadas informações obtidas do Sistema de Administração de

Pessoal (SIAPECAD) e dos processos de aposentadoria por invalidez, sistematizadas em

banco de dados (planilha). No período em estudo foram concedidas 90 aposentadorias e 22

tiveram como fundamento legal a invalidez. O alcoolismo representou a primeira causa

dessas aposentadorias (31,81%). Doenças cardiovasculares e transtornos mentais foram a

segunda causa (22,73%), sendo as doenças osteomusculares, a terceira causa (13,64%).

Considerando que o alcoolismo é evitável e que pode estar relacionado ao trabalho, urge o

incremento de medidas de prevenção dessa doença, por meio de ações efetivas de vigilância

integral e integrada da saúde do trabalhador.

Palavras-chave: Aposentadoria. Invalidez. Alcoolismo.

1. Introdução

O debate sobre a relação trabalho-saúde justifica-se pelo fato de que a atividade laboral é um

processo dinâmico no qual há necessidade de se viabilizar a adequação do trabalho ao homem

por meio de ações de proteção e promoção à saúde, na busca da melhoria da qualidade de vida

do trabalhador. No século XVI, George Bauer, mais conhecido pelo seu nome latino de

Georgius Agricola, em “De Re Metallica”, discutia os acidentes de trabalho e as doenças mais

comuns dos mineiros (MENDES, 1999). Em 1700, surge uma obra de grande importância,

que se tornou referência para todos os interessados no assunto: “De Morbis Artificum

Diatriba” (As Doenças dos Trabalhadores), do médico italiano Bernardino Ramazzini. Ele

estabeleceu, ou insinuou, alguns dos elementos básicos do conceito de Medicina Social, ao

contextualizar doenças que ocorrem em mais de cinquenta ocupações diferentes, ressaltando a

necessidade do estudo das relações entre o estado de saúde de uma dada população e suas

condições de vida determinadas por sua posição social (RAMAZZINI, 1971).

Historicamente, é sabido que a aposentadoria foi instituída no século XIX na Europa com o

objetivo de garantir a sobrevivência das primeiras gerações de operários, que perdiam a

capacidade laborativa devido ao envelhecimento. A França foi o primeiro país a sentir as

consequências do envelhecimento de sua população e também foi a responsável pela

conquista das primeiras leis sociais relativas à saúde do trabalhador (MEDINA, 1986).

Somente, a partir do final daquele século foram conquistadas as primeiras leis sociais relativas

à saúde dos trabalhadores: 1890 – criação nas minas de delegados de segurança; 1893 – lei

sobre a higiene e segurança dos trabalhadores da indústria; 1898 – lei sobre os acidentes de

trabalho e sua indenização; 1905 – aposentadoria dos mineiros; 1910 – aposentadoria para os

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trabalhadores com idade superior a 65 anos, denominada de “aposentadoria para os mortos”,

pois apenas 15% dos franceses atingiam essa idade (DEJOURS, 1998). Em 1919 foi criada a

Organização Internacional do Trabalho (OIT) que adotou, em sua primeira reunião, seis

Convenções com o propósito de proteger a saúde e a integridade física dos trabalhadores.

Essas Convenções se referiam à limitação da jornada de trabalho, ao desemprego, à proteção à

maternidade, ao trabalho noturno, à idade mínima de admissão de criança e ao trabalho

noturno para menores (OLIVEIRA, 1998).

Os primeiros indícios de uma previdência social brasileira, que beneficiava segmentos de

servidores públicos, remontam ao início da República (MARIN e IGUTI, 1997). A Lei Eloy

Chaves (1923) é um marco histórico no surgimento da Previdência Social Brasileira, com a

criação da primeira Caixa de Aposentadorias e Pensões (CAP) dos ferroviários. Após a

promulgação desta lei, outras empresas também foram beneficiadas e seus empregados

passaram a ser segurados da Previdência Social. O primeiro trabalhador aposentado no Brasil,

através da Lei Eloy Chaves foi o imigrante espanhol Bernardo Gonçalves, após 37 anos de

serviço, no dia 14 de abril de 1923 (MPAS, 1923). Surgiram depois os Institutos de

Aposentadorias e Pensões (IAP), organizados por categorias funcionais, com o objetivo de

abranger todos os trabalhadores ativos do setor privado. O primeiro foi o dos marítimos

(IAPM) em 1933, seguido do dos comerciários (IAPC) e dos bancários (IAPB) em 1934, o

dos industriários (IAPI) em 1936 e em 1938, o dos empregados em transportes de cargas

(IAPETEC) e o dos servidores do Estado (IPASE) (MENDES, 1993). Em 1966, esses

Institutos e CAP foram unificados no Instituto Nacional de Previdência Social (INPS) o qual

foi substituído, em 1989, pelo Instituto Nacional de Seguridade Social (INSS). Com base na

Lei nº 8.213/1991, o INSS assegura aposentadorias, pensões e benefícios, por motivo de

doença, a trabalhadores regidos pela Consolidação das Leis do Trabalho (CLT).

Os servidores federais, investidos legalmente em cargo público, são regidos pela Lei nº

8.112/1990 Regime Jurídico Único (RJU), que prevê, nos casos de incapacidade laboral,

licença médica para tratamento de saúde, com vencimentos integrais e aposentadoria por

invalidez. Os proventos da aposentadoria são integrais quando a aposentadoria for motivada

por doença do trabalho ou acidente em serviço ou por doença grave, contagiosa ou incurável

especificada em Lei (Art. 186 Inciso I da Lei nº 8.112/1990) e, proporcionais nos demais

casos. No RJU não é exigido tempo mínimo de carência para o servidor ter direito a esses

benefícios, o que não ocorre no regime celetista (BRASIL, 1990).

São quatro as espécies de aposentadoria disponíveis no serviço público federal: a

aposentadoria por invalidez; a aposentadoria compulsória aos 70 (setenta) anos de idade; a

aposentadoria especial para os que exercem atividades especiais que prejudiquem a saúde ou a

integridade física e a voluntária por idade, combinada ou não com tempo de contribuição

(MAIA e MAIA, 2008).

A aposentadoria por invalidez decorre da incapacidade total e permanente do indivíduo para o

trabalho. Para a constatação dessa condição, faz-se necessária avaliação pericial do servidor

por Junta Médica Oficial objetivando subsidiar a emissão de Laudo Médico Pericial (LMP)

conclusivo de invalidez. Esse laudo é imprescindível para desencadear o processo da

aposentadoria por invalidez.

De acordo com o estabelecido no Art. 188 da Lei nº 8.112/1990, a aposentadoria por invalidez

será precedida de licença médica para tratamento da saúde por período não excedente a 24

meses (§1º). Expirado o prazo mencionado e não estando em condições de reassumir o cargo

ou de ser readaptado, o servidor será aposentado (§2º). O servidor aposentado por invalidez

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poderá solicitar a Reversão da Aposentadoria (retorno à atividade laboral), em caso de se

tornarem insubsistentes os motivos da aposentadoria (Art. 25 da Lei nº 8112/1990). De acordo

com o Art. 27 da Lei nº 8112/1990 não poderá reverter o aposentado que já tiver completado

setenta anos de idade.

A Fundação Nacional de Saúde (FUNASA) é uma fundação pública vinculada ao Ministério

da Saúde, com jurisdição em todo o território nacional e tem sede e foro no Distrito Federal.

Foi instituída pelo Decreto nº 100 de 16/04/1991, mediante a incorporação da Fundação de

Serviços de Saúde (FSESP) e da Superintendência de Campanhas de Saúde Pública

(SUCAM). A nova instituição teve como finalidade promover e executar ações e serviços de

saúde pública (BRASIL, 1991).

A Fundação Nacional de Saúde era representada pela sigla (FNS) desde a sua instituição até o

Decreto nº 3450, de 09 de maio de 2000, quando passou a ser designada pela atual sigla

FUNASA (MS, 2000-b). De acordo com o Artigo 2º do seu Regimento Interno, publicado

pela Portaria nº 410, de 10 de agosto de 2000, a FUNASA passou a ter como competências: a

prevenção e controle de doenças e outros agravos à saúde; a promoção da prática de hábitos

saudáveis que contribuam para a prevenção de doenças e outros agravos à saúde; a

fomentação de soluções de saneamento e a garantia da saúde dos povos indígenas (MS, 2000-

a). A FUNASA herdou da SUCAM a experiência e a infraestrutura das ações de combate às

endemias e da FSESP, as atividades de assistência médico-sanitária e de saneamento básico

das populações interioranas. Foi a coordenadora técnica e normatizadora das ações de

prevenção e controle das endemias, num contexto em que a descentralização/municipalização

dessas ações de saúde estava sendo implantada em nível nacional.

As atividades de combate e controle das endemias foram transferidas para a Secretaria de

Vigilância em Saúde (SVS) - Ministério da Saúde por meio do Decreto nº4726 de 09/06/2003

e as ações de atenção à saúde indígena foram transferidas para a Secretaria Especial de Saúde

Indígena (SESAI) do Ministério da Saúde, por meio de Decreto da Presidência da República

datado de 19 de outubro de 2010, o qual criou a referida secretaria.

Atualmente, a FUNASA é composta pela Presidência e por vinte e seis Superintendências

Estaduais (SUEST), anteriormente denominadas de Coordenações Regionais (CR/CORE),

tendo como missão: “Promover a Saúde Pública e a Inclusão Social por meio de ações de

saneamento e Saúde Ambiental”. As suas competências, de acordo com o Estatuto criado pelo

Decreto nº 7335, de 19/10/2010, são fomentar soluções de saneamento para a prevenção e

controle de doenças e fomentar e implementar ações de promoção e proteção à saúde

relacionadas com as ações estabelecidas pelo Subsistema Nacional de Vigilância e Saúde

Ambiental (MS, 2010).

Em 1990, o alcoolismo foi definido pela Sociedade Americana de Dependências como “uma

doença crônica primária que tem seu desenvolvimento e manifestações influenciadas pelos

fatores genéticos, psicossociais e ambientais, frequentemente progressiva e fatal” (MS, 2001).

“É tênue a fronteira entre o chamado bebedor pesado que abusa do consumo do álcool e o

alcóolatra” (REVISTA VEJA,1997).

O álcool etílico (etanol) é a droga lícita mais utilizada pelo homem. Presume-se que o

consumo de álcool pelo ser humano date de cerca de 6.000 anos a.C. A associação do uso de

bebidas alcóolicas à sociabilidade, à virilidade e ao trabalho também é antiga (RUBIN;

FABER, 2002).

De acordo com a Organização Mundial de Saúde, 76,3 milhões de pessoas no mundo têm

diagnosticada alguma desordem orgânica causada pelo abuso da ingestão de bebidas

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alcoólicas. Presume-se que existem mais de 60 doenças relacionadas ao consumo do álcool, o

qual vem aumentando nos países em desenvolvimento. No Brasil, 30 milhões de brasileiros

fazem uso abusivo de bebidas alcoólicas, sendo que 22 milhões são homens. O total de

alcoólicos chega a 17 milhões, dos quais 12 milhões são do gênero masculino. Nos últimos 10

anos houve um aumento de 30% do número de usuários de bebidas alcoólicas para os homens

e 50% para as mulheres (REVISTA VEJA, 2009).

A ampla aceitação social dessa droga é sentida pelo fato de se admitir o seu consumo, o qual é

incentivado pelos meios de comunicação, o que contribui para a sua utilização de forma

inadequada. O uso do álcool, especialmente de forma abusiva, acarreta altos custos para a

sociedade, envolvendo questões médicas, psicológicas, profissionais e familiares,

representando “um dos principais reptos mundiais da saúde pública”, conforme reconheceu a

Assembléia Mundial de Saúde, em 1975 e 1979 (ROUQUAYROL, 1994).

O alcoolismo por si só tem importância epidemiológica maior do que a soma de outros vícios,

sendo um dos principais fatores de risco para doenças evitáveis. As respostas políticas para o

enfrentamento das consequências do uso abusivo e dependência do álcool evidenciam a

importância do assunto num contexto de saúde mundial (BRASIL, 2005).

A dependência química do álcool modifica as ações corriqueiras do indivíduo, levando a uma

decadência de suas relações sociais, econômicas e de trabalho (BRASIL, 2004). O alcoolismo

é responsável por 30% dos pedidos de divórcio, 60% das ocorrências policiais, 54% dos

acidentes de trabalho e 51% dos acidentes de trânsito. Além disso, mais de 80% dos menores

abandonados têm pai e/ou mãe alcoólatra (MS, 1996). O álcool mata ou debilita em uma

idade relativamente baixa. Portanto, o uso do álcool impõe à sociedade agravos que

acometem todos os indivíduos (MEIRA, ARCOVERDE, 2010).

O objetivo geral do trabalho foi levantar o perfil demográfico das aposentadorias por

invalidez devido ao alcoolismo na Presidência da FUNASA. Os objetivos específicos foram:

levantar a prevalência de aposentadorias por invalidez na Presidência da FUNASA; analisar

as aposentadorias por invalidez em relação aos aspectos biopsicossociais dos servidores;

correlacionar o alcoolismo a outras comorbidades; analisar os fatores que contribuíram para o

alcoolismo que motivou a aposentadoria e sugerir alternativas que possam contribuir para a

redução da prevalência da doença alcoolismo na FUNASA.

A amostra foi composta por servidores aposentados por invalidez, com ênfase nos casos de

alcoolismo, da Presidência da FUNASA, na cidade de Brasília-DF, no período compreendido

entre 2005 e 2011. O total de aposentados no referido período foi de 90 servidores. Deste, 22

aposentadorias tiveram como fundamento legal a invalidez, sendo que 07 foram decorrentes

do alcoolismo. Trata-se de um estudo exploratório com pesquisa do tipo estudo de caso,

qualitativo, sustentado por meio de revisão bibliográfica, abrangendo o período compreendido

entre 2005 e 2011, com os servidores aposentados por invalidez, devido ao alcoolismo, na

Presidência da Fundação Nacional de Saúde (FUNASA). A realização da pesquisa foi

autorizada pela Coordenação Geral de Recursos Humanos (CGERH) do Departamento de

Administração da FUNASA (DEADM), que franqueou o acesso aos arquivos e processos da

instituição para a viabilização do presente estudo (Anexo 1).

Para a coleta dos dados, foi acessado o Sistema de Administração de Pessoal (SIAPECAD) e

consultadas as informações constantes dos processos de aposentadoria relativos à amostra

selecionada, com o auxílio de funcionários dos serviços envolvidos. Essas informações foram

sistematizadas em banco de dados a partir de instrumento de coleta (planilha) definido pela

pesquisadora.

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A planilha foi elaborada para condensação das informações pertinentes, contendo os seguintes

dados: iniciais do nome, gênero, cargo, nível funcional, tempo de contribuição, causa da

aposentadoria, tipo de proventos da aposentadoria. Para os casos de aposentadoria por

invalidez devido ao alcoolismo foram acrescentados os dados relativos a: data de nascimento,

data da aposentadoria, idade na aposentadoria, lotação/local de exercício, comorbidades,

estado civil, solicitação de reversão de aposentadoria e ocorrência de óbitos após a

aposentadoria (Anexo 2).

A causa da aposentadoria (diagnóstico médico) foi registrada na mencionada planilha,

segundo os capítulos da 10ª Classificação Internacional de Doenças (CID-10).

2. Cenário das aposentadorias na FUNASA

No período de 2005 a 2011, foram aposentados na Presidência da FUNASA 90 servidores.

Desse total, 22 aposentadorias (22,44%) foram decorrentes de invalidez e 68 aposentadorias

(77,46%) foram concedidas com base no tempo de contribuição. As aposentadorias devido ao

alcoolismo corresponderam a 31,81% do total das aposentadorias por invalidez. A prevalência

da correlação entre alcoolismo e transtornos mentais foi de 54,54% do total de aposentados

por invalidez. Dos 22 aposentados por invalidez, 14 (63,63%) são do gênero masculino.

Em relação ao nível funcional foi evidenciado que 18 servidores (81,82%) eram do nível

intermediário, dois (9,09%) do nível auxiliar e dois do nível superior (9,09%). Quanto aos

sete aposentados por alcoolismo, 100% são do gênero masculino, distribuídos nos seguintes

cargos: agente de saúde pública (três servidores), guarda de endemias (dois), agente

administrativo (um) e agente de portaria (um). (Tabelas 1, 2, 3 e 4)

Aposentadoria por invalidez Aposentadoria por tempo

de contribuição

Total

Alcoolismo Outras

causas

Total

Ano F % F % F % F % F %

2005 1 14,29 5 33,33 6 27,27 4 5,88 10 11,11

2006 1 14,29 1 6,67 2 9,09 5 7,35 7 7,78

2007 2 28,57 4 26,67 6 27,27 13 19,12 19 21,11

2008 1 14,29 3 20,00 4 18,18 15 22,06 19 21,11

2009 - - 1 6,67 1 4,55 8 11,76 9 10,00

2010 1 14,29 1 6,67 2 9,09 11 16,18 13 14,44

2011 1 14,29 - - 1 4,55 12 17,65 13 14,44

Total 7 100,00 15 100,00 22 100,00 68 100,00 90 100,00

Fonte: SIAPECAD – Presidência da FUNASA

F – Frequência - % – Percentagem por causas de aposentadoria

Tabela 1 - Distribuição de aposentadorias por ano devido à invalidez, invalidez por alcoolismo e por tempo de

contribuição na Presidência da FUNASA no período de 2005 a 2011

Quanto ao local de exercício, quatro servidores (57,14%) desenvolviam atividades laborais de

campo na Divisão de Vigilância Ambiental (DIVAL) da Secretaria de Estado de Saúde do

Distrito Federal (SES-DF) e três servidores (42,85%) trabalhavam na Coordenação de

Administração de Recursos Humanos (COARH/CGERH) no edifício sede da Presidência da

FUNASA, para onde foram colocados à disposição servidores que não conseguiram se

adaptar em outros locais de trabalho.

Gênero

Masculino Feminino Total

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Cargo F % F % F %

Agente administrativo 5 35,71 1 12,50 6 27,27

Agente de saúde pública 4 28,57 1 12,50 5 22,73

Guarda de endemias 2 14,29 - - 2 9,09

Auxiliar operacional de serviços

diversos

- - 2 25,00 2 9,09

Auxiliar administrativo - - 1 12,50 1 4,55

Atendente 1 7,14 - - 1 4,55

Auxiliar de serviços gerais - - 1 12,50 1 4,55

Agente de portaria 1 7,14 - - 1 4,55

Auxiliar de enfermagem - - 1 12,50 1 4,55

Assistente técnico 1 7,14 - - 1 4,55

Bibliotecário - - 1 12,50 1 4,55

Total 14 100,00 8 100,00 22 100,00

Fonte: SIAPECAD – Presidência da FUNASA

F – Frequência - % – Percentagem no cargo por gênero

Tabela 2 - Distribuição de aposentados por invalidez segundo cargo e gênero na Presidência da FUNASA no

período de 2005 a 2011

Constatou-se no presente estudo que dos sete servidores aposentados por alcoolismo, dois

eram casados (28,55%), quatro eram solteiros (57,14%) e um era separado (14,28%). Apenas

um servidor solicitou reversão da aposentadoria, tendo sido indeferido o pedido pela Junta

Médica pelo fato de, à época, ainda subsistir a causa ensejadora da aposentadoria. Ocorreu um

óbito entre esses aposentados após três anos e dois meses da sua aposentadoria. Dos 22

servidores aposentados por invalidez, sete (31,81%) foram aposentados com proventos

integrais. Quanto aos aposentados por alcoolismo, apenas um servidor (14,50%) foi

aposentado com proventos integrais, tendo em vista ter sido constatado o diagnóstico de

alienação mental, doença especificada em lei - Artigo 186, Parágrafo 1º da Lei nº 8112/1990.

Gênero

Masculino Feminino Total

Causa F % F % F %

Alcoolismo 7 50,00 - - 7 31,82

Doenças cardiovasculares 2 14,29 3 37,50 5 22,73

Transtornos mentais 3 21,43 2 25,00 5 22,73

Doenças osteomusculares - - 3 37,50 3 13,64

AIDS 1 7,14 - - 1 4,55

Neoplasia maligna 1 7,14 - - 1 4,55

Total 14 100,00 8 100,00 22 100,00

Fonte: Processos de aposentadoria – Presidência da FUNASA

F – Frequência - % – Percentagem por doenças por gênero/do total

Tabela 3 - Distribuição de aposentadorias por invalidez segundo causa e gênero na Presidência da FUNASA no

período de 2005 a 2011

Local de Exercício

DIVAL COARH Total

Cargo F % F % F %

Agente de saúde pública 3 75,00 - - 3 42,86

Guarda de endemias 1 25,00 1 33,33 2 28,57

Agente administrativo - - 1 33,33 1 14,29

Agente de portaria - - 1 33,33 1 14,29

Total 4 100,00 3 100,00 7 100,00

Fonte: Siapecad – Presidência da FUNASA

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F – Frequência - % – Percentagem por cargo/local de exercício

Tabela 4 - Distribuição de aposentadorias por invalidez devido ao alcoolismo segundo cargo e local de exercício

na Presidência da FUNASA no período de 2005 a 2011

As causas de aposentadorias por invalidez foram: alcoolismo, transtornos mentais, doenças

cardiovasculares, doenças osteomusculares, AIDS e neoplasias malignas. O alcoolismo

representou 31,81% do total dos aposentados por invalidez, enquanto que as doenças

cardiovasculares e os transtornos mentais foram a segunda causa (22,73%) e as doenças

osteomusculares ocuparam a terceira posição (13,64%). (Tabelas 3 e 5)

Gênero

Masculino Feminino Total

Cargo F % F % F %

Agente de saúde pública 3 42,86 - - 3 42,86

Guarda de endemias 2 28,57 - - 2 28,57

Agente administrativo 1 14,29 - - 1 14,29

Agente de portaria 1 14,29 - - 1 14,29

Total 7 100,00 - - 7 100,00

Fonte: Siapecad – Presidência da FUNASA

F – Frequência - % – Percentagem do gênero/do total

Tabela 5 - Distribuição de aposentadorias por invalidez devido ao alcoolismo segundo cargo e gênero na

Presidência da FUNASA no período de 2005 a 2011

Todos os sete aposentados por invalidez devido ao alcoolismo apresentaram pelo menos uma

das seguintes comorbidades: transtornos mentais e comportamentais, depressão, transtornos

de personalidade/psicopatia, transtorno obsessivo compulsivo, tabagismo, doenças

cardiovasculares, dependência química a drogas ilícitas (cocaína, merla, canabinóides, crack),

mononeurite, polineuropatia alcoólica e outas polineuropatias, neurose, obesidade, gastrite

crônica, hipercolesterolemia, hepatopatia alcóolica crônica, insuficiência vascular periférica,

varizes de membros inferiores, úlceras varicosas, embolia e trombose venosa, síndrome pós-

flebite, transtorno dos vasos linfáticos, embolia pulmonar, edema agudo de pulmão, episódios

depressivos, traumatismos/luxações/entorses/fraturas múltiplas, demência alcoólica e

alienação mental. Ressalta-se que foi constatado que todos os aposentados por alcoolismo

eram portadores de transtornos mentais e comportamentais. Esse achados são compatíveis

com os dados da literatura, os quais afirmam que as principais doenças decorrentes do uso

abusivo do álcool são: doença alcoólica do fígado (hepatite aguda), esteatose hepática, cirrose

alcoólica, gastrite, pancreatite, câncer (de boca, esôfago, estômago, fígado), hipertensão

arterial, miocardiopatia, atrofia testicular, aborto espontâneo, retardo do crescimento, retardo

mental, neuropatia periférica, rabdomiólise, degeneração cerebelar, Síndrome de Wernicke,

Síndrome de Korsakoff, cirrose biliar, entre outras.

Nível Funcional

Gênero Auxiliar Intermediário Superior Total

Causa da aposentadoria F % F % F % F %

Masculino Alcoolismo 1 100 6 50,00 - - 7 50,00

Transtornos mentais - - 3 25,00 - - 3 21,43

Doenças cardiovasculares - - 2 16,67 - - 2 14,29

AIDS - - 1 8,33 - - 1 7,14

Neoplasias malignas - - - - 1 100 1 7,14

Total 1 100 12 100 1 100 14 100

Feminino Doenças cardiovasculares - - 3 50,00 - - 3 37,50

Doenças osteomusculares - - 2 33,33 1 100 3 37,50

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Transtornos mentais 1 100 1 16,67 2 25,00

Total 1 100 6 100 1 100 8 100

Fonte: SIAPECAD e processos de aposentadoria – Presidência da FUNASA

F – Frequência - % – Percentagem por gênero, causa e nível funcional

Tabela 6 - Distribuição das causas de aposentadoria por invalidez por gênero e por nível funcional na Presidência

da FUNASA no período de 2005 a 2011

A idade média na aposentadoria por alcoolismo foi de 48,75 anos e a média do tempo de

contribuição foi de 25,58 anos. (Tabela 7) Para os servidores públicos regidos pelo Regime

Jurídico Único (RJU) (que eram celetistas anteriormente à Lei nº 8112/1990), o tempo de

serviço exercido em condições especiais (insalubridade/periculosidade) foi convertido em

tempo comum, relativo ao período anterior a 12/12/1990, de acordo com o fator de conversão

1,4 para homens e 1,2 para mulheres. Essa medida encontra amparo legal no Acórdão nº

2008/2006 do Plenário do Tribunal de Contas da União - TCU, na Orientação Normativa

(ON) nº 3 de 18/05/2007 da Secretaria de Recursos Humanos do Ministério do Planejamento

Orçamento e Gestão (SRH/MPOG) e na ON n° 7 de 20/11/2007 da SRH/MPOG. Isso explica

que o tempo de contribuição foi acrescido com base legal, de acordo com as proporções já

mencionadas.

Tabela 7- Média da idade à época da aposentadoria e do tempo de contribuição dos aposentados por invalidez

devido ao alcoolismo na Presidência da FUNASA no período de 2005 a 2011

3. Análise contextual das consequências do alcoolismo

No presente estudo, foi constatado que 54,55% do total das aposentadorias por invalidez

tiveram como causas as doenças psiquiátricas e o alcoolismo. As doenças psiquiátricas,

incluindo o alcoolismo, representaram 11% dos casos de aposentadoria por invalidez entre os

trabalhadores da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), no período de 1966 a 1999

(SAMPAIO et al, 2003).

Segundo dados do Instituto de Seguridade Social (INSS), os transtornos mentais,

especialmente os decorrentes do alcoolismo, ocupam o terceiro lugar entre as causas de

incapacidade para o trabalho relativas à concessão de benefícios previdenciários de auxílio-

doença (MEDINA, 1986). De acordo com estudos realizados no Departamento de Saúde

Coletiva do Centro de Pesquisa Ageu Magalhães (Recife-PE) sobre as causas de

aposentadoria por invalidez no INSS, constatou-se que as doenças do aparelho circulatório

representaram a primeira causa de aposentadoria por invalidez, seguidas dos transtornos

mentais e das doenças osteomusculares (SAMPAIO et al, 2003).

Constatou-se no presente estudo que 100% dos servidores aposentados por alcoolismo eram

do gênero masculino. No Brasil, o uso, abuso e dependência química do álcool são mais

prevalentes em homens (REVISTA VEJA, 2009). Em relação ao estado civil, evidenciou-se

um percentual de 71,42% de não casados, o que corrobora a afirmação da literatura de que a

incidência de doenças mentais é maior entre não casados (ROUQUAYROL, 1994).

Idade Tempo de contribuição

Nível funcional F Média ± DP Média ± DP

Auxiliar 1 47,00 - 27,00 -

Intermediário 6 50,50 6,41 24,00 7,28

Superior - - - - -

Total 7 48,75 6,41 25,50 7,28

Fonte: SIAPECAP – Presidência da FUNASA

F- frequência - Média – Média da idade (em anos) /Tempo de contribuição (em anos)

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Os contextos laborais levam a transtornos mentais e comportamentais relacionados ao

trabalho, numa interação com o corpo e a mente do trabalhador, predispondo-o a lesões

biológicas e reações psíquicas às situações de trabalho, o que pode resultar em processos

psicopatológicos. A maior prevalência de alcoolismo crônico em determinados grupos

ocupacionais permite caracterizar a doença como relacionada ao trabalho (Grupo II da

Classificação de Schilling). O bebedor alcoólico tende a não reconhecer a condição de uso

abusivo de álcool, devido as distorções do pensamento que são características desse

comportamento, especialmente a negação (MS, 2001).

De acordo com a definição de Schilling, o trabalho pode desencadear um distúrbio ou agravar

uma doença já estabelecida. A prevalência do alcoolismo é maior em trabalhadores que

desenvolvem atividades nas quais há exposição a agentes nocivos à saúde e nas situações de

trabalho em que há menor expectativa de qualificação futura e de progressão em uma carreira

(MENDES, 1999).

Em algumas das atividades laborais dos servidores de campo do presente estudo, há exigência

de esforço físico, de posturas viciosas, carregamento de peso, manuseio de materiais

inservíveis, sucatas e lixo, bem como o emprego de praguicidas e/ou larvicidas,

caracterizando a condição de insalubridade. Há no desempenho dessas atividades laborais

risco de acidentes, especialmente por animais peçonhentos, cães e roedores. A atividade de

captura de cães e de alguns animais silvestres reveste-se de um aspecto emocional bastante

negativo para o trabalhador. Nesse contexto, a ingestão de bebidas alcóolicas pelo trabalhador

é uma forma de viabilizar o desempenho dessas atividades. O vício de beber é influenciado

pelo nível de frustração dos anseios sociais do indivíduo e a bebida é usada para “entorpecer”

a percepção dos incômodos como mau cheiro, perigos e sofrimento psíquico

(ROUQUAYROL, 1994). Todos os adoecimentos estão relacionados com o trabalho, sejam

nas causas, sejam nas consequências (incapacidade) (MENDES, 2012).

O consumo coletivo de bebidas alcoólicas, associado a situações de trabalho, pode ser

entendido como uma garantia de inclusão do indivíduo no grupo. É um meio de tentar

encontrar companhia e evitar a solidão ou o isolamento. O trabalhador busca, por meio dos

efeitos induzidos pelo álcool, coragem, disposição, alegria e relaxamento (MS, 2001). Foi

evidenciado que os servidores desse estudo, aposentados por alcoolismo, que estavam em

exercício na COARH, eram portadores de várias comorbidades especialmente transtornos

mentais, comportamentais e de personalidade, transtorno obsessivo compulsivo, tabagismo e

dependência química a drogas ilícitas. Esses servidores antes de desempenhar atividades na

COARH, já haviam laborado em outros setores, sem ter conseguido adaptar-se aos referidos

ambientes de trabalho e às atividades que lhes eram facultadas, bem como apresentavam

problemas sócio familiares. Isto denota que tais servidores já apresentavam transtornos

mentais, sendo geneticamente fragilizados, com consequente propensão à busca de

mecanismos de fuga do seu sofrimento psíquico.

Na prevenção do alcoolismo é imprescindível o aumento da conscientização da doença como

um grande problema de saúde pública, por meio do incremento da política de combate ao

álcool, em nível nacional e internacional (MENDES, 1999), considerando que o bebedor

alcoólico tende a não reconhecer a condição de uso abusivo de álcool, tendo em vista as

distorções do pensamento, sobretudo a negação, que são características desse comportamento

(MS, 2001).

De acordo com a publicação: “Uso e Abuso de Álcool”, lançada pela Universidade de

Harvard, em 2008, foi evidenciado que quanto mais cedo uma pessoa começa a beber, maior é

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a probabilidade dela se tornar dependente. A luta contra o álcool, na fase de dependência, é

bem mais difícil de ser vencida, sendo que a única chance de controle da doença é a

abstinência total e permanente do álcool, uma vez que o alcoolismo não é curável. Portanto,

as intervenções de saúde devem ter caráter de prevenção primária e serem operacionalizadas

na fase que antecede o surgimento da doença. Essa estratégia visa à cura da doença e a não

ocorrência de incapacidade laboral (REVISTA VEJA, 2009). A prevenção de êxito letal

prematuro deve também ser considerada nesse contexto.

A conscientização do risco do abismo em tempo hábil para os bebedores abusivos é o grande

desafio da medicina, considerando que nessa fase há ainda a possibilidade de que seja

quebrado o comportamento em relação ao álcool, por meio da “redução dos danos”. Nessa

terapêutica está implícita a diminuição da quantidade e frequência da ingestão de bebida

alcóolica, sem a imposição da abstinência total (REVISTA VEJA, 2009).

Para a prevenção do alcoolismo é fundamental a adoção de práticas de saúde que

proporcionem aumento da autoestima dos trabalhadores, técnicas de autocontrole

cognitivo/comportamental, participação em grupos de auto e mútua ajuda (AA, grupos para

membros das famílias de alcoólicos), pensão protegida, entre outras.

4. Conclusão

O presente estudo levantou o perfil demográfico das aposentadorias por invalidez devido ao

alcoolismo na Presidência da Funasa de 2005 a 2011.

A prevalência de aposentadorias por invalidez na Presidência da Funasa foi de 24,44%,

enquanto que o alcoolismo foi responsável por 31,81% dessas aposentadorias. Em relação aos

aposentados por alcoolismo 100% são do gênero masculino, nenhum pertencia ao nível

superior, 100% apresentaram comorbidades, tais como doenças cardiovasculares,

hepatopatias, doenças neurológicas e transtornos mentais incluída a dependência química a

drogas ilícitas.

Sabe-se que o alcoolismo é uma doença primária que tem seu desenvolvimento e

manifestações influenciadas por fatores biopsicossociais e que pode ter frequência, incidência

ou gravidade aumentadas pelo trabalho. Sendo assim, infere-se que determinadas

peculiaridades do trabalho do campo como condições insalubres, alguns aspectos

ergonômicos (esforço físico, posições viciosas), realização de tarefas que induzem a

sofrimento psíquico, com repercussões psicológicas negativas, possam ter contribuído para

desencadear ou agravar a doença alcoolismo no trabalhador genética e emocionalmente

predisposto.

Sugere-se o incremento das ações de Vigilância Integral e Integrada da Saúde do Trabalhador,

com vistas a proporcionar melhoria da qualidade de vida e aumento da autoestima do

trabalhador, o que certamente repercutirá na prevenção da sua autodesvalorização, que pode

ser a etapa inicial de um processo depressivo, muitas vezes precursor da dependência

alcoólica. Para tanto é fundamental a identificação de situações de risco alcoólico para o

trabalhador, tanto no seu cotidiano de vida como de trabalho, abrangendo aspectos

organizacionais, ambientais e cognitivos. A falta da aceitação do alcoolismo pelo bebedor

representa uma dificuldade de se viabilizar o tratamento desta doença. Fazer o indivíduo

admitir a sua dependência ao álcool é tarefa bastante difícil e para tal quase sempre há

necessidade da ajuda de um profissional. Os exames periódicos de saúde dos trabalhadores

devem ter o objetivo de check-up, ou seja, de avaliação de saúde integral. É fundamental a

vigilância das condições dos ambientes de trabalho, com ênfase nos aspectos cognitivos, bem

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como a utilização da análise coletiva epidemiológica dos dados obtidos, para subsidiar as

intervenções pertinentes, com gestão integral dessas informações de saúde. Essa assertiva

baseia-se no fato de que cientificamente está comprovado que todos os adoecimentos estão

relacionados com o trabalho, sejam nas causas, sejam nas consequências (incapacidade) com

repercussão no desempenho laboral, o que pode levar ao absenteísmo e à aposentadoria por

invalidez. Em suma, os dados obtidos oferecem pistas importantes para novas investigações,

que permitirá a implementação institucionalizada de uma política de promoção à saúde e

prevenção do alcoolismo na FUNASA.

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Anexo 1

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Anexo 2

APOSENTADORIA POR INVALIDEZ DEVIDO AO ALCOOLISMO NA PRESIDENCIA DA FUNASA

2005 A 2011

Iniciais Gênero Data de Nascimento Estado civil Cargo Local de exercício Nível Funcional Data da

aposentadoria

Idade na

aposentadoria

Causa da

aposentadoria

Comorbidades Tempo de

contribuição

Proventos Solicitação reversão Óbitos

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Dedicatória e Agradecimentos

Dedico esse trabalho a meus filhos Larissa, Herbert e Rayssa e a

minha neta Luisa por serem a razão do meu viver e a meu querido sobrinho Marcel Vinicius

Oliveira por ser um exemplo de pesquisador.

Agradeço a meus filhos, pela dedicação e renúncia a tantas horas

destinadas ao descanso e lazer para proporcionar à mamãe apoio irrestrito na área de

informática, viabilizando a elaboração desse trabalho. Ao Coordenador Geral de Recursos

Humanos da Funasa - Cgerh - Joselias Ribeiro da Silva, por franquear o acesso aos

documentos institucionais, fonte dos dados desse trabalho, ao Coordenador de Administração

de Recursos Humanos Emival Ferreira da Silva - Coarh, à Chefe do Serviço de Assistência

Integrada ao Servidor - Seais Maria Liliane Maciel Montefusco e à Gestora da Unidade

SIASS/Funasa Nívea Pereira de Oliveira pelo apoio e colaboração.