Apostila de Direito Constitucional I

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o movimento poltico e jurdico que visa estabelecer regimes constitucionais. um sistema onde o governo tem seus limites traados em constituies escritas. o oposto do absolutismo, por exemplo, onde a vontade do governante prevalece. A idia de que a constituio uma norma que est acima das demais surge com a Magna Carta da Inglaterra. Em 1215 foi celebrado um pacto entre o rei Joo Sem Terras e os bares feudais explicitando os limites das aes do monarca. Entretanto, os doutrinadores ingleses fazem tambm referncia petio de direitos petition of Rights de 1628 onde os comuns impuseram ao rei Carlos I o dever de respeitar os hbitos, usos e costumes seguidos. Mas foi com a independncia das 13 colnias norte-americanas e com a Revoluo Francesa que surgiu a tese em que o Estado deve ser organizado por leis fundamentais impostas aos prprios governantes. o denominado Estado de Direito. O direito constitucional, quanto a sua natureza, situa-se no ramo do Direito Pblico, destacado por ser fundamental organizao e funcionamento do Estado.Tem por objeto a constituio poltica do Estado no syentido de estabelecer sua estrutura, organizao de suas instituies e rgos, modo de aquisio e delimitao do poder. CONSTITUIO No sentido lato, constituio o ato de constituir, de estabelecer, de firmar. Mas constituir o qu? Constituir uma lei, que ser fundamental e suprema de um Estado com normas referentes sua estrutura, formao dos poderes pblicos, forma de governo e aquisio do poder de governar, distribuio de competncias, direitos, garantias e deveres dos cidados. H que se fazer uma ressalva no tocante as expresses Constituio e Carta Constitucional, normalmente tidas por sinnimas. Entretanto, a primeira tida por fundamental e de origem democrtica debatida, votada e promulgada por uma Assemblia Nacional Constituinte. J a segunda, deriva de um ato arbitrrio e ilegtimo, resultante da vontade pessoal do governante. Para Kelsen, a Constituio a lei fundamental, a primeira imposta pelo Estado e a que vincula o modo de elaborao de todas as demais normas jurdicas. Para Jos Afonso da Silva, A constituio algo que tem, como forma, um complexo de normas (escritas ou costumeiras); como contedo, a conduta humana motivada pelas relaes sociais (econmicas, polticas, religiosas, etc); como fim, a realizao dos valores que apontam para o existir da comunidade; e finalmente, como causa criadora e recriadora, o poder que emana do povo. No pode ser compreendida e interpretada, se no se tiver em mente essa estrutura, considerada como conexo de sentido, como tudo aquilo que integra um conjunto de valores.

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CLASSIFICAO DAS CONSTITUIES Quanto ao contedo, as constituies podem ser materiais ou substanciais e formais: - Materiais ou substanciais: consiste no conjunto de regras essencialmente constitucionais, escritas ou no. So materiais as constituies que tratam de assuntos relacionados diviso territorial e funes do Estado, direitos e garantias fundamentais. Conforme Vitor Bezerra, Denomina-se de constituio material aquela que contm apenas o que passou a ser conhecido como assuntos ou matrias tipicamente constitucionais, ou seja, a estruturao e estabelecimento do Estado, separao dos Poderes, estabelecimento dos direitos e garantias individuais. - Formais: o modo peculiar de existir do Estado sob a forma escrita, ou seja a constituio consubstanciada de forma escrita, por meio de um documento solene estabelecido pelo poder constituinte originrio. Tambm nas palavras de Vitor Bezerra, a Constituio ser formal quando o seu contedo contiver mais do que apenas as matrias acima mencionadas, normalmente consubstanciadas de forma escrita em um documento solene. Quanto forma, as constituies podem ser escritas ou no escritas ou consuetudinrias: - escrita: ser a constituio codificada e sistematizada num texto nico - no escrita: a constituio em que suas normas no contam de um texto nico, mas baseado em leis esparsas , costumes, jurisprudncia e convenes. Ex.: Constituio Inglesa. Quanto ao modo de elaborao, as constituies podem ser dogmticas ou histricas: - dogmticas: sempre escrita, aquela elaborada por um rgo constituinte e sistematiza os dogmas ou idias fundamentais da teoria poltica e do Direito dominantes no momento; - histrica: ou costumeira, ser sempre no-escrita e resultante da lenta formao histrica, do lento evoluir das tradies. Quanto origem, as constituies podem ser promulgadas (democrticas ou populares) e outorgadas: - promulgadas: so as constituies que derivam de um rgo composto de representantes do povo (Assemblia Nacional Constituinte), eleitos para o fim de as elaborar e estabelecer. Ex: Constituies brasileiras de 1891, 1934, 1946, 1988; - Outorgadas: so as constituies elaboradas sem a participao popular, so impostas pelo poder da poca. Ex: 1824, 1937, 1967, e EC n 01/1969. Jos Afonso da Silva elenca aqui mais um tipo de constituio, que no democrtica ainda que criada com a participao popular, nem tampouco outorgada. a chamada constituio cesarista, formada por um plebiscito popular sobre um projeto elaborado por u imperador (plebiscitos napolenicos) ou um Ditador (plebiscito de Pinochet, no Chile). A

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participao popular no democrtica porque somente faz ratificar a vontade do detentor do poder. Quanto estabilidade, as constituies podem ser imutveis, rgidas, flexveis e semi-rgidas: - imutveis: Alexandre de Moraes afirma sua existncia quando se veda qualquer modificao, salientando, entretanto, que essa imutabilidade pode ser relativa, consistindo em limitaes temporais, ou seja, determina-se um prazo para que as modificaes podem ocorrer. A Constituio brasileira de 1824, nesse sentido assim determinava em seu art. 174: Se passados quatro annos, depois de jurada a Constituio do Brazil, se conhecer, que algum dos seus artigos merece reforma, se far a proposio por escripto, a qual deve ter origem na Cmara dos Deputados, e ser apoiada por tera parte dele. Ocorre que mais adiante, o mesmo autor afirma que a constituio de 1824 era semi-rgida porquanto seu art. 178 assim determinava: s Constitucional o que diz respeito aos limites, e attribuies respectivas dos Poderes Polticos, e aos Direitos Polticos, e individuaes dos Cidados. Tudo, o que no Constitucional , pode ser alterado sem as formalidades referidas, pelas Legislaturas ordinrias. J Jos Afonso da Silva que no h constituio imutvel diante da realidade social cambiante. Nesse sentido, a estabilidade das constituies no deve ser imutvel, no deve significar imutabilidade. Deve haver sempre sua adaptao s exigncias do progresso, da evoluo e do bem-estar social. - Rgidas: so as constituies escritas que podero ser alteradas por um processo legislativo mais solene e dificultoso que os de formao das leis ordinrias ou complementares. (art. 60, CF/88) - Flexveis: quando sua alterao pode ser feita atravs de leis ordinrias. - Semi-rgida: aquela constituio que contm uma parte rgida e uma flexvel, como fora a Constituio do Imprio do Brasil, de 1824. No confundir: Constituio rgida com constituio escrita Constituio flexvel com constituio histrica. Quanto sua extenso e finalidade, as constituies podem ser analticas (dirigentes) e sintticas (negativas, garantias): - sintticas: so aquelas que prevem somente os princpios e as normas gerais de regncia do Estado, organizando-o e limitando seu poder, por meio da estipulao de direitos e garantias fundamentais; - analticas: so constituies que examinam e regulamentam todos os assuntos que entendam relevantes formao, destinao e funcionamento do Estado. A constituio Federal do Brasil de 1988 pode ser considerada ento: Formal, promulgada, rgida, dogmtica, escrita, analtica ou prolixa e ainda, segundo Alexandre de Morais, super-rgida, porquanto em regra, somente pode ser alterada por processo legislativo diferenciado e em alguns pontos imutvel (clusulas ptreas). 3

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OBJETO E CONTEDO DAS CONSTITUIES De acordo com Jos Afonso da Silva, as constituies tm por objeto estabelecer a estrutura do Estado, a organizao de seus rgos, o modo de aquisio do poder e a forma de seu exerccio, limites de sua atuao, assegurar os direitos e garantias dos indivduos, fixar o regime poltico e disciplinar os fins scio-econmicos do Estado, bem como os fundamentos dos direitos econmicos, sociais e culturais. Nem sempre as constituies tiveram objeto to amplo e isso vem acontecendo como correr da histria. ELEMENTOS DAS CONSTITUIES Como dito, nossa CF/88, quanto a extenso e finalidade, analtica. Nesse sentido, os temas com os quais se preocupa, vm agrupados em ttulos, captulos e sees, em funo da conexo com o contedo especfico que as vincula, de onde se originou o tema denominado elementos das constituies. Jos Afonso da Silva elenca cinco categoria s de elementos: 1. elementos orgnicos normas que regulam a estrutura do Estado e do poder, concentrados, na CF/88: Da Organizao do Estado, Da Organizao dos Poderes, Das Foras Armadas, Da Segurana Pblica, Da Tributao e do Oramento; 2. elementos limitativos: so os direitos individuais e suas garantias, direitos de nacionalidade e direitos polticos e democrticos. So limitativos porque limitam a ao dos poderes estatais e do a tnica do Estado de Direito; 3. elementos scio-ideolgicos: so aqueles que revelam o carter de compromisso das constituies modernas entre o Estado individualista e o Estado Social, intervencionista, como os Direitos Sociais, Da Ordem Econmica e Financeira e Da Ordem Social; 4. elementos de estabilizao constitucional: so aqueles que consagram normas destinadas a assegurar a soluo de conflitos constitucionais, a defesa da constituio, do Estado e das instituies democrticas. So as aes de inconstitucionalidade, a Interveno nos Estados e Municpios, processo de emendas constituio, defesa do Estado e das instituies democrticas; 5. elementos formais de aplicabilidade: so aquelas normas que determinam regras de aplicao das constituies como o prembulo, as disposies constitucionais transitrias, bem como a disposio do 1 do art. 5 quando diz que as normas definidoras dos direitos e garantias fundamentais tm aplicao imediata. SUPREMACIA DA CONSTITUIO De acordo com Jos Afonso da Silva: Nossa constituio rgida. Em conseqncia, a lei fundamental e suprema do Estado brasileiro. Toda autoridade s nela encontra fundamento e soa ela confere 4

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poderes e competncias governamentais. Nem o governo federal, nem os governos dos Estados, nem os dos Municpios ou do distrito Federal so soberanos, porque todos so limitados, expressa ou implicitamente, pelas normas positivas daquela lei fundamental. Exercem suas atribuies nos termos nela estabelecidos. Por outro lado, todas as normas que integram a ordenao jurdica nacional s sero vlidas se se conformarem com as normas da Constituio Federal. Resumo Constitucionalismo: movimento poltico/jurdico objetivo: estabelecer regimes constitucionais. Governo tem seus limites traados na constituio. Constituio = norma mxima de um Estado: - origem: Inglaterra Joo Sem Terra, 1215 limite ao poder do monarca; doutrinadores: petition of Rights (1628) limites ao rei Carlos I respeitar hbitos, usos e costumes - independncia das 13 colnias norte americanas + Revoluo Francesa surge a idia do Estado organizado por leis fundamentais e impostas aos governantes: o Estado de Direito Direito Constitucional natureza = ramo do Direito Pblico objeto = constituio poltica do Estado = estabelecer estrutura, organizao das suas instituies e rgos, aquisio e delimitao do poder. Constituio: ato de constituir, estabelecer, firmar o qu? lei fundamental e suprema de um Estado. Constituio x Lei fundamental, origem democrtica (debatida, votada, constituda por Assemblia Nacional Constituinte). Carta Constitucional Derivada de ato arbitrrio e ilegtimo, resultado da vontade pessoal do governante.

Para J. Afonso da Silva, Constituio algo que tem: - como forma um complexo de normas (escritas ou costumeiras) - como contedo a conduta humana motivada pelas relaes sociais (econmicas, polticas, religiosas,...) - como fim valores que apontam apara a existncia da comunidade - como causa criadora e recriadora o poder que emana do povo. Classificao das constituies: Quanto ao Contedo materiais regras essencialmente constitucionais formais o modo de existir do Estado reduzido forma escrita e em documento solenemente estabelecido pelo poder constituinte e modificvel de acordo com suas formalidades explicitadas.

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escritas texto nico no escritas leis esparsas, convenes, jurisprudncia, costumes dogmticas sempre escrita. Sintetiza as idias da teoria poltica e do direito da poca histrica ou costumeira sempre no escrita resulta da lenta formao histrica promulgadas (ou democrticas ou populares) derivam da vontade do povo atravs de um rgo compostos por seus representantes. Brasil: 1891, 1934, 1946, 1988 outorgadas elaboradas sem a participao popular, imposta pelo poder das poca. Brasil: 1824, 1937,1967 e EC n 01/1969. cesarista formada atravs de plebiscito popular (no nem democrtica, nem outorgada). Ex. plebiscitos napolenicos. imutvel segundo Alexandre de Moraes veda qualquer modificao. J. Afonso da Silva: no h constituio imutvel em decorrncia da realidade social que se transforma a cada dia. rgida so escritas e sua alterao passa por processo solene e dificultoso que os de formao das leis ordinrias e complementares. flexvel (ou plstica) sua alterao pode ser feita por leis ordinrias . Ex. Constituio Inglesa semi-rgida contm uma parte rgida e outra flexvel. o caso da nossa constituio imperial de 1824.

Quanto ao modo de elaborao

Quanto origem

Quanto a estabilidade

analtica (dirigente) examina e regulamente todos os assuntos Quanto a sua envolvendo formao, destinao e funcionamento do Estado. extenso sinttica (negativa ou garantia) prev somente princpios e normas gerais de regncia do Estado. CF/88 classifica-se como: formal, escrita, dogmtica, promulgada, rgida (ou super-rgida, cf. Alexandre de Moraes por haver parte imutveis clusulas ptreas) e analtica. Objeto das constituies estabelecer: A estrutura do Estado Assegurar direitos e garantias aos indivduos A organizao dos seus rgos Fixar o regime poltico O modo de aquisio do poder e seu Disciplinar os fins scio-econmicos do exerccio Estado e os fundamentos dos direitos Limites se sua atuao econmicos, sociais e culturais. Elementos das constituies (J. Afonso da Silva): - orgnicos: normas que regulam a estrutura do Estado e do poder, concentrados, na CF/88

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limitativos: porque limitam a ao dos poderes estatais e do a tnica do Estado de Direito; scio-ideolgicos: revelam o carter de compromisso das constituies modernas entre o Estado individualista e o Estado Social, intervencionista de estabilizao constitucional: consagram normas destinadas a assegurar a soluo de conflitos constitucionais, a defesa da constituio, do Estado e das instituies democrticas formais de aplicabilidade: normas que determinam regras de aplicao das constituies como o prembulo, as disposies constitucionais transitrias,... PODER CONSTITUINTE

O poder constituinte a manifestao soberana da suprema vontade poltica de um povo, social e juridicamente organizado. Segundo a doutrina de Emmanuel Sieys a nao o titular do Poder Constituinte, posto que a idia do Poder se liga de soberania do Estado, uma vez que mediante o exerccio do poder constituinte originrio se estabelecer uma organizao fundamental pela Constituio (A. de Moraes). Entretanto, modernamente, predomina a idia de que o titular do poder constituinte o povo, porque o Estado decorre da soberania popular, cujo conceito mais amplo que o de nao. Temos, portanto, que a vontade constituinte a vontade do povo, expressa por meio dos seus representantes. Celso de Mello ensina que as Assemblias Constituintes no titularizam o poder constituinte. So apenas rgos aos quais se atribui, por delegao popular, o exerccio desta magna prerrogativa. Manoel Gonalves Ferreira Filho ainda leciona que no obstante o povo seja o titular do poder constituinte, no ele que o exerce. Ser o povo o titular passivo, distinguindo-se assim, a titularidade do exerccio do Poder Constituinte. O povo o titular, mas quem exerce esse poder aquele que, em nome do povo, cria o Estado, editando uma nova Constituio. ESPCIES O Poder Constituinte classifica-se em Poder Constituinte Originrio ou de 1 Grau e Poder Constituinte Derivado ou de 2 grau. PODER CONSTITUINTE ORIGINRIO Ele que estabelecer a Constituio de um novo Estado. Haver este poder tanto no surgimento da primeira constituio quanto na elaborao das posteriores. A existncia deste poder d suporte idia de que a constituio superior ao restante do ordenamento jurdico e que em regra no poder ser modificado pelos poderes constitudos. , pois, esse Poder Constituinte, distinto, anterior e fonte de autoridade dos poderes constitudos, com eles no se confundindo. 7

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No h uma forma fixada de manifestao do Poder Constituinte Originrio, posto que tem por caracterstica ser incondicionado e ilimitado. Mas historicamente possvel afirmar que ele se instaura por duas formas de expresso do poder: ou atravs da Assemblia Nacional Constituinte (conveno) e Movimento Revolucionrio (outorga). A Assemblia Nacional Constituinte, tambm denominada conveno, nasce da deliberao da representao popular, devidamente convocada pelo agente revolucionrio, para estabelecer o texto constitucional que organizar o Estado e limitar o Poder (Ex: as constituies brasileiras promulgadas). J a outorga o estabelecimento da Constituio por declarao unilateral do agente revolucionrio, que autolimita seu poder. (Ex: as constituies brasileiras outorgadas.) CARACTERSTICAS Trata-se de um poder inicial, ilimitado, autnomo e incondicionado: - inicial porque a Constituio, como sua obra, a base da ordem jurdica; - ilimitado e autnomo porque no est de forma alguma condicionado ou limitado pelo direito anterior; - incondicionado porque no est condicionado a qualquer forma prefixada para manifestar sua vontade. O poder constituinte originrio tambm pode ser considerado permanente uma vez que no desaparece aps a construo da nova constituio, ou seja, ele no esgota sua titularidade, mas permanece latente, manifestando-se novamente mediante uma nova Assemblia Nacional Constituinte ou ato revolucionrio. O Poder Constituinte Originrio no passvel de ADIN. PODER CONSTITUINTE DERIVADO Refere-se ao poder inserido na prpria constituio e, portanto, conhece limitaes constitucionais expressas e implcitas e passvel de controle de constitucionalidade. CARACTERSTICAS Apresenta como caractersticas de ser derivado, subordinado e condicionado: - derivado - porque retira sua fora do poder constituinte originrio; - subordinado porque se encontra limitado expressa ou implicitamente pelo texto constitucional; - condicionado porque seu exerccio deve seguir as regras previamente estabelecidas no texto constitucional. Limitaes do Poder Constituinte Derivado: - temporais: no pode haver reforma durante certo intervalo de tempo. A CF brasileira de 1988 no traz essa limitao; - materiais so as clusulas ptreas impedimento de reforma de determinadas matrias; - circunstanciais impede a reforma constitucional durante determinadas circunstncias excepcionais conforme art 60, 1. 8

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Dentre as espcies de poder constituinte derivado temos: o poder constituinte reformador e o decorrente. PODER CONSTITUINTE DERIVADO REFORMADOR/REVISOR Consiste na possibilidade de se alterar o texto constitucional respeitando as limitaes impostas pela Constituio Federal e ser exercitado por determinados rgos com carter representativo. No Brasil, ser pelo Congresso Nacional. S ser exercitado em Estados em que a constituio for rgida. Vide art. 3 do ADCT da CF/88 (voto: maioria absoluta dos membros do CN em sesso unicameral). PODER CONSTITUINTE DERIVADO DECORRENTE Consiste na possibilidade que os Estados-Membros e o Distrito Federal tm, em razo de sua autonomia poltico-administrativa, de se auto-organizarem por meio de suas respectivas constituies estaduais, sempre respeitando as limitaes impostas pela constituio federal. preciso lembrar que o DF regido por lei orgnica, nos termos do art. 32 da CF/88, onde o STF j a reconheceu como instrumento normativo primrio equivalente s Constituies estaduais. A limitao do Poder constituinte Derivado est subordinada s condies fixadas pelo Poder Constituinte Originrio. No Brasil, h um pequeno rol de legitimados para a apresentao da proposta (art. 60 da CF/88): - 1/3, no mnimo, dos membros da Cmara dos Deputados ou do Senado Federal; - o Presidente da Repblica - mais da metade das Assemblias Legislativas das unidades da Federao, manifestando-se, cada uma delas, pela maioria relativa de seus membros. Deve-se lembrar que a Constituio Federal no poder ser emendada na vigncia de interveno federal, de estado de defesa ou de estado de stio (art. 60, 1, CF/88) e ainda, que a proposta dever ser discutida e votada em cada Casa do Congresso Nacional em dois turnos, considerando-se aprovada se obtiver, em ambos, 3/5 dos votos dos respectivos membros (art. 60, 2, CF/88). A Emenda ser promulgada pelas mesas da Cmara e do Senado, com seu respectivo nmero de ordem e, em hiptese alguma, poder ser ela utilizada para suprimir ou abolir: a forma federativa de Estado; o voto direito, secreto, universal e peridico; a separao dos poderes; os direitos e garantias individuais. PRINCPIO DA RECEPO (Fernando Capez) Com a vigncia de uma nova Constituio, preciso verificar quais as normas do ordenamento jurdico anterior que permanecem em vigor.

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Via de regra, as normas da Constituio anterior so ab rogadas, ou seja, totalmente revogadas, j que um pas no pode conviver com duas constituies ao mesmo tempo. Mas possvel que a constituio nova admita, expressamente, como fora constitucional, regras da constituio anterior, conforme o art. 34 do ADCT da CF/88 que manteve o sistema tributrio da CF/67 por 5 meses. A legislao preexistente incompatvel no aspecto material (contedo) com o novo texto constitucional perde automaticamente sua eficcia. H uma caducidade da norma anterior, no sendo correto equiparar tal circunstncia com a inconstitucionalidade. A EVOLUO POLTICO CONSTITUCIONAL DO BRASIL (J. Afonso da Silva) A colonizao do Brasil comeou efetivamente pela organizao das capitanias hereditrias. Este sistema consistiu na diviso do territrio colonial em 12 pores irregulares que foram doadas a particulares que decidissem por morar no Brasil e fossem suficientemente ricos para coloniz-lo e defend-lo. Essas 12 capitanias serviram para criar ncleos de povoamento dispersos e contriburam para formao de centros de interesses sociais e econmicos, o que veio repercutir na estruturao do futuro Estado brasileiro. As capitanias eram organizaes sem vinculo umas com as outras. Seus donatrios (titulares) dispunham de poderes quase absolutos e exerciam seu governo com jurisdio cvel e criminal. Em 1549 instituiu-se o sistema de Governadores-Gerais que eram regidos pelo Regimento do Governador-Geral, documento de suma importncia que se traduzia em cartas organizatrias do regime colonial que conferiam ao Governador-Geral poderes atinentes ao governo poltico e ao governo militar da colnia. Este sistema unitrio rompe-se em 1572 e em 1861 a colnia dividida em dois Estados: o Estado do Brasil, compreendendo as capitanias desde o RN at So Vicente ao sul, e o Estado do Maranho, abarcando a capitania do Cear at o extremo Norte. Sob o impulso de fatores e interesses econmicos, sociais e geogrficos, esses dois Estados fragmentam-se e surgem novos centros autnomos subordinados a poderes polticoadministrativos regionais e locais efetivos. quando Minas Gerais destaca-se de So Paulo, o Piau erige-se como capitania independente do Maranho, etc. Enfim, o governo geral divide-se em governos regionais e estes em capitanias gerais subordinando as secundrias que tambm se libertam das metrpoles, erigindo-se em capitanias autnomas. Essa estrutura vai, ento, dar a caracterstica bsica da organizao poltica do Brasil na fase imperial e nos primeiros tempos da repblica. FASE DA MONARQUIA

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Esta fase inicia-se com a chegada de D. Joo VI ao Brasil em 1808. Em 1815 o Brasil elevado categoria de Reino Unido a Portugal, pondo fim ao sistema colonial e monoplio da metrpole. Um passo frente foi a proclamao da independncia do Brasil a 07/09/1822, da qual surgiu o Estado brasileiro sob a forma de governo imperial, que perdurou at 15/11/1889. Transferida a famlia real para o RJ, foi preciso instalar as reparties, os tribunais e as comodidades necessrias organizao do governo. Foram, assim, institudos, dentre outros rgos, a Intendncia Geral da Polcia, o Banco do Brasil, o Conselho Militar, o Desembargo do Pao, a Junta-Geral do Comrcio, a Casa da Moeda, etc. Nesta poca, j havia uma nobreza brasileira e uma aristocracia intelectual que influenciava a poltica deste tempo. Nesta ocasio, j se iniciava o movimento novo na Europa: o Liberalismo, o Parlamentarismo, o Constitucionalismo, o Federalismo, a Democracia, a Repblica. Tudo isso justifica o aparecimento do constitucionalismo no Brasil, ainda quando D. Joo VI mantinha sua corte no Rio de Janeiro. Com a proclamao da independncia, o problema da unidade nacional impe-se como o primeiro passo a ser resolvido pelos organizadores das novas instituies. O constitucionalismo era o princpio fundamental dessa teoria e realizar-se-ia por uma constituio escrita, em que se consubstanciasse o liberalismo, assegurado por uma declarao constitucional dos direitos do homem e um mecanismo de diviso de poderes de acordo com a Declarao dos Direitos do Homem e do Cidado de 1789. Os Estadistas do Imprio tinham ento uma rdua e difcil misso: conseguir construir a unidade do poder segundo esses princpios que no toleravam o absolutismo. E conseguiram atravs da Constituio de 1824. A CONSTITUIO IMPERIAL O sistema foi estruturado pela Constituio Poltica do Imprio do Brasil de 25.03.1824. Declarava um governo monrquico hereditrio, constitucional e representativo, o princpio da diviso e harmonia dos poderes polticos mas sob a formao quadripartite em Poderes Legislativo, Executivo, Judicirio e Moderador. O Poder Legislativo era exercido pela Assemblia Geral, composta por duas cmaras: a dos deputados, eletiva e temporria e a dos senadores, integrada a membros vitalcios nomeados pelo Imperador dentre componentes de uma lista trplice eleita por provncia. A eleio era indireta e censitria (com base na renda mnima do eleitor e para se eleger a renda era graduada conforme o cargo. Para ser eleitor: 10 mil ris; para ser deputado: 400 mil ris e Senador: 800 mil ris). O Poder Moderador era exercido privativamente pelo Imperador para que velasse incessantemente, pela manuteno da independncia, equilbrio e harmonia dos demais poderes.

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O Poder Executivo era exercido pelos ministros de Estado, e tinha como chefe tambm o Imperador. O Poder Judicirio era composto por juzes e jurados. As provncias foram subordinadas ao poder central, atravs do seu presidente e do seu chefe de polcia, escolhidos e nomeados pelo Imperador. Mas a chave de toda organizao poltica estava efetivamente no Poder Moderador, concentrado na pessoa do Imperador. Os liberais lutam por quase 60 anos contra esse mecanismo centralizador e sufocador das autonomias regionais. Em 1889, vencem as foras descentralizadoras; tomba o imprio; proclama-se a Repblica Federativa por um decreto n.1 de 15.11.1889. FASE REPUBLICANA Assumindo o poder os republicanos, civis e militares, cuidaram da transformao do regime. Instala-se o governo provisrio sob a presidncia de Marechal Deodoro da Fonseca. O governo provisrio providenciou a organizao do regime e nomeou uma comisso de 5 ilustres Republicanos para elaborar o projeto de constituio, que serviria de base para os debates na Assemblia Constituinte que seria convocada. No dia 15 de setembro de 1889 foi eleita a Assemblia-Geral Constituinte. A constituio da Repblica dos Estados Unidos do Brasil foi promulgada em 24.02.1891. Estabeleceu que a nao brasileira adotava como forma de governo a Repblica federativa e constitua-se por unio perptua e indissolvel das suas antigas provncias, em Estados Unidos do Brasil. Cada uma das antigas provncias formara um Estado e o antigo Municpio neutro se transformara no Distrito Federal, que continuou a ser a capital da Unio. A CF de 1891 rompeu com a diviso de Benjamin Constant e passou a agasalhar a doutrina tripartite de Montesquieu, estabelecendo como rgos da soberania nacional o Poder Legislativo, o Executivo e o Judicirio, harmnicos e independentes entre si. Entretanto, uma crtica que se faz a esta constituio que ela constitura-se no texto da constituio norte-americana, com algumas disposies da constituio Argentina e Sua. Assim, por no haver identidade com a realidade do pas, ela no teve eficcia social, no foi cumprida. No demorou o conflito de poderes at que a oligarquia, que mandaria nos Estados, se instala no poder com a Presidncia de Prudente de Moraes. O coronelismo foi o poder real e efetivo, no obstante as regras constitucionais traassem esquemas de organizao nacional com teoria de diviso de poderes. Veio a emenda constitucional de 1926, mas esta no conseguiu adequar a Constituio formal realidade, nem impedir que a luta contra a oligarquia prosperasse.

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REVOLUO DE 1930 Quatro anos aps a emenda de 1926 Constituio de 1891, rompe-se a revoluo, que pe abaixo a 1 Repblica. Getlio Vargas sobe ao poder como lder civil da revoluo, inclina-se para a questo social e cria logo o Ministrio do Trabalho; intervm nos Estados; afasta a influncia dos coronis, prepara o novo sistema eleitoral decretando o Cdigo Eleitoral. Por decreto, marca eleies Assemblia Constituinte para 03.05.1933. Dois meses depois estoura em So Paulo a Revoluo chamada constitucionalista. Apesar dos esforos, os revolucionrios no conseguiram obstar as eleies que se realizaram no dia agendado, organizando-se a constituio que daria ao pas nova constituio republicana: a segunda Constituio da Repblica dos Estados Unidos do Brasil, promulgada em 16.07.1934. NA CONSTITUIO DE 1934 Esta constituio inovou no contedo: ampliou os poderes da Unio, disps sobre os poderes concorrentes da Unio e Estados; discriminou com mais rigor as rendas tributrias entre Unio, Estados e Municpios; aumentou o poder do Executivo; rompeu com o bicameralismo rgido, atribuindo o exerccio do Poder Legislativo apenas Cmara dos Deputados, transformando o Senado Federal em rgo de colaborao desta; definiu os direitos polticos e eleitoral admitindo o voto da mulher, criou a justia eleitoral como rgo do poder judicirio; influenciado pela constituio de Weimar, inscreveu na constituio um ttulo sobre a ordem econmica e social e outro sobre a famlia, a educao e a cultura. O ESTADO NOVO O pas encontrava-se sob o impacto das ideologias que ingressavam no mundo do ps-guerra de 1918. Surge um partido fascista. Luis Carlos Prestes reorganiza o partido comunista, almejando o poder de Getlio, o qual, dissolve a Cmara e o Senado, revoga a Constituio de 1934 e outorga a Carta Constitucional de 1937. Institui-se a ditadura. Terminada a II Guerra Mundial, iniciaram-se os movimentos de redemocratizao do Brasil. Em dezembro de 1945 realizam-se eleies onde o General Eurico Gaspar Dutra eleito Presidente da Repblica. Nova Assemblia Constituinte foi instalada em 2.2.1946, sobrevindo a nova Constituio a qual no foi elaborada com base em um projeto preordenado. Serviram para sua elaborao as constituies de 1891 e 1934. Mas ela no prosperou, posto que nasceu de costas para o futuro. Sob sua gide, sucederam conflitos polticos e constitucionais de poderes. Aps o suicdio de Getlio que, com seu programa social e econmico inquietou as foras conservadoras, assumiu seu vice, Caf Filho, que ao adoecer, tem o poder assumido pelo Presidente da Cmara, Carlos Luz o qual deposto pelo General Teixeira Lott (11.11.1955), impedindo inclusive Caf Filho de retornar ao poder. Assume o presidente do Senado, Sen. Nereu Ramos que entrega a presidncia a Juscelino Kubitsheck de Oliveira. Concludo seu mandato, sucedido por Jnio Quadros que, aps 7 meses, renuncia. H uma

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reao militar contra a posse do vice, Joo Goulart, que, despreparado, inseguro e demagogo perde o estribo do poder em 01.04.1964. Domina o poder um Comando Militar Revolucionrio. Expediu-se um Ato Institucional em 9.4.1964 mantendo a ordem constitucional mas impondo vrias cassaes de mandatos e suspenses de direitos polticos. Elege-se presidente o Marechal Humberto de Alencar Castello Branco. Vieram os atos institucionais n. 2, n. 3, n. 4. Estes dois ltimos regularam o procedimento a ser estabelecido pelo Congresso para votar a nova constituio cujo projeto o governo apresentou e fora promulgado em 24.1.1967. A CONSTITUO DE 1967 Esta constituio entrou em vigor quando assumia a presidncia o Marechal Arthur da Costa e Silva. Sofreu influncia da Carta de 1937, mas durou pouco, posto que as crises no cessaram.Veio o AI 5 de 13.12.1968 que rompeu a ordem constitucional e concentrou os poderes nas mos do Presidente. declarado temporariamente impedido o exerccio da presidncia pelo AI 12 que atribuiu o exerccio do poder executivo aos Ministros da Marinha de Guerra, Exrcito e Aeronutica que completaram o preparo de novo texto constitucional, promulgado em 17.10.1969 como EC n. 01 Constituio de 1967, para entrar em vigor em 30.10.1969. Terica e tecnicamente no se tratou de emenda, mas de nova constituio. A emenda s serviu de mecanismo de outorga. Ela foi modificada por outras 25 emendas, mas foi com EC n. 26 de 27.11.1985, mais um ato poltico que propriamente uma emenda, que foi convocada a Assemblia Nacional Constituinte para elaborar nova constituio. As foras democrticas no desanimaram e lanaram Tancredo Neves candidatura. Sua eleio marca o incio da chamada Nova Repblica que haveria de ser democrtica e social, livre e soberana. Prometeu que nomearia uma Comisso de Estudos Constitucionais a que caberia elaborar estudos e anteprojeto da constituio a ser enviado Constituinte. Com a morte de Tancredo, assume Jos Sarney, o qual deu andamento s suas promessas e nomeou a Comisso de Estudos. Enviou ao Congresso Nacional projeto de emenda constitucional convocando Assemblia Nacional Constituinte. Aprovada a EC n. 26, convocara membros da Cmara dos Deputados e do Senado Federal para se reunirem em Assemblia Nacional Constituinte, livre e soberana. Finalmente foi estabelecida a nova constituio com um texto mais moderno, inovaes relevantes para o constitucionalismo brasileiro. chamada de constituio cidad porque teve a ampla participao popular em sua elaborao e especialmente porque se volta decididamente para a plena realizao da cidadania. Resumo Poder Constituinte manifestao suprema da vontade poltica do povo social e juridicamente organizado. 14

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a vontade do povo expressa por meio de seus representantes Titular do Poder Constituinte o povo. Por qu o povo? Porque o Estado decorre da soberania popular Quem exerce o Poder Constituinte? No o povo (titular passivo) mas quem o representa, logo exercente sero os membros da Assemblia Constituinte. ESPCIES Classifica-se em : - Poder Constituinte Originrio (ou de 1 Grau) - Poder Constituinte Derivado (ou de 2 Grau) o Poder constituinte Derivado Reformador o Poder Constituinte Derivado Decorrente ORIGINRIO estabelece a constituio de um novo Estado Instaurao historicamente pode ter 2 formas: - Via Assemblia Nacional constituinte (conveno) convocada pelo agente revolucionrio para elaborao do texto constitucional - Via Movimento Revolucionrio (outorga) Caractersticas: inicial ; ilimitado e autnomo no se subordina ao direito anterior; incondicionado DERIVADO inserido na prpria constituio limitaes expressas e implcitas e passvel de controle de constitucionalidade Caractersticas: derivado, subordinado (limitaes) e condicionado (regras DERIVADO de REVISO (ART. 3 DO ADCT, CF/88) ou de REFORMA - somente em pases com constituio rgida - alterar o texto de acordo com as regras impostas pela CF - somente rgos com carter representativo DERIVADO DECORRENTE - possibilidade de modificao das constituies estaduais e lei orgnica do DF Limitaes ao Poder Constituinte Derivado: - Rol de legitimados art. 60, CF/88 - No pode ser emendada: o Vigncia de interveno federal o Estado de stio o Estado de defesa

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votada e discutida a proposta em dois turnos em cada casa do Congresso Nacional aprovao por 3/5 no pode abolir: o a forma federativa de Estado; o o voto direito, secreto, universal e peridico; o a separao dos poderes; o os direitos e garantias individuais.

Princpio da Recepo: - constituio anterior ab rogada (totalmente revogadas) - nova constituio permite a recepo expressamente art. 34 do ADCT, CF/88 (manuteno do sistema tributrio por 5 meses aps sua promulgao.) EVOLUO POLTICO CONSTITUCIONAL DO BRASIL Diviso poltica do Brasil - incio capitanias hereditrias 12 pores Capitanias: - ncleo de povoamento, centros de interesse econmico e social - no havia vnculo entre elas 1861 Brasil divide-se em 2 Estados: - Estado do Brasil RN at So Vicente (ao sul) - Estado do Maranho CE at extremo norte Os dois Estados se fragmentam e surgem novos centros autnomos e a eles subordinados Minas separa-se de So Paulo, Piau do Maranho Surge a organizao poltica do Brasil. A MONARQUIA 1808 vinda da famlia real para o Brasil Reino Unido de Portugal 1822 Proclamao da Repblica Brasil sob a forma de governo imperial at 1889 - Instalao do Banco do Brasil; tribunais, Casa da Moeda, Junta-Geral do Comrcio... - Europa liberalismo, constitucionalismo, parlamentarismo incio do constitucionalismo no Brasil - Surge a Constituio de 1824. A CONSTITUIO DE 1824 Constituio Poltica do Imprio do Brasil de 25.03.1824: - governo monrquico, hereditrio representativo e constitucional - diviso e harmonia dos poderes (4 poderes: legislativo, executivo, judicirio e moderador) - liberais lutam porque o poder moderador concentrava o poder e em - 1889 Proclamao da Repblica Decreto n. 1 de 15/11/1889.

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A REPBLICA - governo provisrio de Marechal Deodoro da Fonseca: o governo providenciou: convocao de 5 republicanos para elaborar um projeto de constituio promulgada em 15/09/1891 que estabeleceu apenas 3 poderes e harmonia entre eles Crtica constituio de 1891 - baseada na constituio norte-americana, Argentina e Sua dissociada da realidade do pas no foi cumprida. A oligarquia (Prudente de Moraes) se instala no poder crise. Coronelismo no poder apesar das regras constitucionais. REVOLUO DE 1930 - Getlio sobe ao poder como lder civil da revoluo - Inclina-se questo social cria o Ministrio do Trabalho - Instala novo sistema eleitoral - Convoca, por decreto, eleies Assemblia Constituinte para 03.05.1933 - Promulga-se a Constituio de 1934 A CONSTITUIO DE 1934 - aumentou os poderes do executivo - mulher adquire direito ao voto - poder legislativo apenas unicameral Senado mero rgo de colaborao da Cmara dos Deputados - insere na Constituio ttulo da ordem social e econmica e outro sobre famlia, educao e cultura Fim da 1 GM surge o partido fascista - Luis Carlos Prestes reorganiza o partido comunista quer tomar o poder de Getlio Getlio d o golpe, dissolve Cmara e Senado e outorga a Carta Constitucional de 1937. Ps 2 GM movimentos de redemocratizao 1945 Eurico Gaspar Dutra eleito presidente. Nova Assemblia Constituinte Nova Constituio promulgada 1946 baseada nas constituies de 1891 e 1934 Suicdio de Getlio assume o vice Caf Filho. Adoece. Assume o Sen. Nereu Ramos que d posse a Juscelino Kubitschek JK conclui seu mandato Sucedido por Jnio quadros (renuncia aps 7 meses)

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Assume Joo Goulart e em 1964 o poder dominado pelos militares. Vieram os Atos Institucionais e nova constituio em 1967 A CONSTITUIO DE 1967 Poder retirado do presidente Marechal Arthur da Costa e Silva e o poder exercido pelos ministros da marinha, exrcito e aeronutica - prepararam novo texto constitucional, promulgado em 1969 como Emenda constitucional. No era emenda terica e tecnicamente era uma constituio, modificada por 25 emendas. A 26 emenda de 1985 convocou assemblia nacional constituinte para formular nova constituio. Tancredo eleito esperana de nova fase democrtica, livre, soberana. Morre Tancredo, Jos Sarney assume e d prosseguimento s promessas de Tancredo: - nomeia Comisso de Estudos constitucionais - envia ao CN projeto de emenda para convocao de Assemblia Nacional Constituinte - Estabelecida a nova Constituio chamada constituio cidad teve participao popular em sua elaborao. APLICABILIDADE DAS NORMAS CONSTITUCIONAIS Normas de eficcia plena, segundo J. Afonso da Silva so aquelas que, desde a entrada em vigor da constituio, produzem, ou tm possibilidade de produzir, todos os efeitos essenciais, relativamente aos interesses, comportamentos e situaes que o legislador constituinte, direta e normativamente, quis regular. Ex.: remdios constitucionais Normas de eficcia contida so aquelas em que o legislador constituinte, apesar de regular suficientemente os interesses relativos determinada matria, deixou margem atuao restrita por parte da competncia discricionria do poder pblico, nos termos que a lei estabelecer ou nos termos de conceitos gerais nelas enunciados. (Alexandre de Moraes) Exemplo o artigo 5, XIII o qual, apesar da previso de que livre o exerccio de qualquer trabalho ou profisso, pode a lei estabelecer requisitos para a qualificao profissional. o que ocorre com o exame da OAB. Normas de eficcia limitada so aquelas que apresentam aplicabilidade indireta, mediata e reduzida, porque somente incidem totalmente sobre esses interesses, aps uma normatividade ulterior que lhes desenvolva a aplicabilidade. quando a constituio utiliza-se de expresses como nos termos da lei, na forma da lei, a lei dispor. Exemplo o direito de greve previsto no art. 37, VII onde este direito ser exercido nos termos e nos limites definidos em lei especfica. Outro exemplo clssico do texto original, mas hoje j revogado pela EC n. 40/2003 era o art. 192, 3 que estipulava a limitao fixao das taxas de juros em 12% ao ano, nos termos da lei complementar.

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As normas de eficcia limitada podem ser de princpio institutivo ou podem ser programticas. Norma constitucional de princpio institutivo aquela que traz um incio de estruturao de uma entidade como, por exemplo, o art. 18, 2 da CF/88 o qual estabelece que lei complementar regulamentar a criao de territrio. J a norma de princpio programtico aquela que estabelece um programa a ser desenvolvido pelo Estado, mediante a regulamentao, pelo legislador ordinrio, do direito nela previsto. So normas de aplicao diferida (para o futuro) que se limitam a traar linhas diretoras que devem ser seguidas pelo Poder Pblico. Assim temos que as Normas Programticas so normas que no so de aplicao imediata. Seu destinatrio , a princpio, o legislador e aparecem muitas vezes acompanhadas de conceitos indeterminados ou parcialmente indeterminados. Os objetivos fundamentais da CF/88 so normas programticas. So exemplos ainda: art. 21, IX, 23, 170, 205, 211, 215, 218, 226 e seu 2 por no regularem diretamente interesses ou direitos nela consagrados mas limitarem-se a traar alguns preceitos a serem cumpridos pelo Poder Pblico. Mara Helena Diniz prope uma outra classificao: - Normas constitucionais de eficcia absoluta: so intangveis; no h sequer o poder de emenda, decorrendo da uma fora paralisante total de toda legislao que vier contrari-las. o caso do art. 1 que ampara a federao, o art. 14 que ampara o voto direto, secreto, universal e peridico, etc. - Normas de eficcia plena: so aquelas imediatamente aplicveis por conterem todos os elementos imprescindveis para que haja a possibilidade de produo imediata dos efeitos previstos. - Normas com eficcia relativa restringvel: correspondem s de eficcia contida explicitada acima. So aquelas que restringem a produo de seus efeitos. So normas passveis de restrio. - Normas com eficcia relativa dependente de complementao legislativa: so as normas de eficcia limitada acima descrita, porquanto apesar de haver preceitos constitucionais de aplicao mediata, dependem de norma posterior que lhes desenvolva referida eficcia permitindo o exerccio do direito ou do benefcio consagrado. PREMBULO DA CONSTITUIO O prembulo de uma constituio pode ser considerado como um documento de intenes do diploma e consiste, segundo A. de Moraes, em uma certido de origem e legitimidade do novo texto e uma proclamao de princpios que demonstram a ruptura com o ordenamento anterior e o surgimento de um novo Estado. Apesar de no fazer parte do texto constitucional propriamente dito, no se pode dizer que ele juridicamente irrelevante posto que deve ser observado como elemento de interpretao e integrao dos diversos artigos que lhe seguem.

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Podemos dizer ento que o prembulo: - Sintetiza os grandes fins da constituio - fonte interpretativa porquanto traa diretrizes polticas, filosficas e ideolgicas da Constituio. A meno de Deus no prembulo da CF/88 indica que a maior parte da sociedade brasileira testa, ou seja, cr em uma fora superior como causa do mundo, embora o Brasil no possua uma religio oficial, por isso denominado pe leigo, laico ou no confessional. Princpios constitucionais A palavra princpio equvoca. Pode significar incio de alguma coisa, como princpios institutivos ou podem ter outra idia, como o na nossa CF. A palavra princpio, da expresso princpios fundamentais exprime a noo de mandamento nuclear de um sistema. (J. Afonso da Silva). Desta forma, sua violao muito mais grave que a de um dispositivo legal especfico, pois ofende uma regra fundamental informadora de todo um sistema jurdico. Os princpios constitucionais so basicamente de duas categorias, nos ensinamentos de Gomes Canotilho: - princpios poltico-constitucionais: so decises polticas fundamentais concretizadas em normas definidoras do sistema constitucional positivo. Manifestam-se como princpios constitucionais fundamentais. - princpios jurdico-constitucionais:so princpios constitucionais gerais informadores da ordem jurdica nacional. So os princpios da legalidade, da isonomia, da independncia da magistratura, ... DOS PRINCPIOS FUNDAMENTAIS (ART. 1 /4, CF/88) Os princpios fundamentais visam essencialmente definir e caracterizar a coletividade poltica e o Estado e enumerar as principais opes poltico-constitucionais. Da anlise dos princpios fundamentais da CF/88 pode-se fazer a seguinte discriminao (J. Afonso da Silva): - princpios relativos existncia, forma, estrutura e tipo de Estado: (art. 1) o Repblica Federativa do Brasil o Soberania o Estado Democrtico de Direito - princpios relativos forma de governo e organizao dos poderes: (art. 1 e 2 ) o Repblica; o Separao dos Poderes - princpios relativos organizao da sociedade: (art. 3, I) o p. da livre organizao social o p. de convivncia justa o p. da solidariedade - princpios relativos ao regime poltico: (art. 1, nico) 20

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o p. da cidadania o p. da dignidade da pessoa humana... princpios relativos prestao positiva do Estado: (art. 3, II, III, IV) princpios relativos comunidade internacional: (art. 4)

FUNDAMENTOS DA CF/88 ART. 1 (J. Afonso da Silva) Pas a palavra que se refere aos aspectos fsicos, ao habitat, paisagem territorial. O termo pas manifesta a unidade geogrfica, histrica, econmica. Estado, por seu turno, constitui-se de quatro elementos indispensveis: poder soberano de um povo num territrio com certas finalidades. E a constituio o conjunto de normas que organizam estes elementos constitutivos. Desta forma temos que: Repblica Federativa do Brasil o nome do Estado Brasileiro Brasil o nome do pas Federativa a forma de Estado Repblica a forma de governo Forma de Estado O modo de exerccio do poder poltico em funo do territrio d origem ao conceito de forma de Estado. Se existe unidade de poder sobre o territrio, pessoas e bens, tem-se o Estado unitrio. Segundo Vitor Bezerra, no Estado Unitrio existem divises internas sem autonomia, podendo, entretanto, existir administraes regionalizadas. Prossegue sua lio ainda ensinando que a confederao representa a forma mais instvel de Estado, pois as divises internas so todas soberanas sendo possvel, a qualquer tempo, que qualquer delas se retire deste Estado. Esta prerrogativa denominada Direito de Secesso, vetada, em regra, nos estados unitrios e federaes. Se ao contrrio, o poder se reparte no espao territorial, gerando um multiplicidade de organizaes governamentais, distribudas regionalmente, temos uma forma de Estado composto, denominado Estado federal ou Federao de Estados. Nas federaes as divises internas do Estado sero autnomas (Vitor Bezerra). O Estado unitrio pode ser descentralizado, mas no ser de tipo federativo, mas sim, autrquico, gerando uma autarquia territorial no mximo e no uma autonomia poltico-constitucional e nele as coletividades internas ficam na dependncia do poder unitrio, central, nacional. O federalismo nasceu com a constituio norte-americana de 1787. a unio de coletividades polticas autnomas.

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O Brasil assumiu essa forma com a proclamao da repblica em 1889 e foi mantido nas constituies posteriores, apesar de na constituio de 67 e 69 (emenda) ter sido apenas nominal. O cerne do conceito de Estado Federal est na configurao de dois tipos de entidades: a Unio e as coletividades regionais autnomas: Estados federados. Ateno: Estado federal o todo, dotado de personalidade jurdica de direito internacional pblico. Unio a entidade federal formada pela reunio das partes componentes e, portanto, pessoa jurdica de direito pblico interno a quem cabe exercer as prerrogativas da soberania do Estado brasileiro.

Os Estados federados so dotados de autonomia federativa (art. 18 a 42) que se assenta em dois elementos bsicos: existncia de rgos governamentais prprios; posse de competncias exclusivas. O Estado federal foi concebido constitucionalmente como a unio indissolvel dos Estados, Municpios e Distrito Federal. Entretanto, foi um equvoco do legislador constituinte incluir municpio como componente da federao. Municpio diviso poltica do Estado-membro. MUNICPIO COMPONENTE DA FEDERAO e no entidade federativa O princpio da indissolubilidade, expresso no caput do art. 1 da CF/88 j integra o conceito de federao e os limites da repartio de poderes dependem da natureza e do tipo histrico de federao. Numas a descentralizao mais acentuada e os Estados-membros tm competncias mais amplas (EUA). Noutras a competncia da Unio mais dilatada, reduzindo o campo de atuao dos Estados-membros como foi na nossa Constituio de 67 e 69. A CF/88 por seu turno, buscou resgatar o princpio federalista e estruturou um sistema de repartio de competncias que tenta refazer o equilbrio das relaes entre o poder central e os poderes estaduais e municipais. Forma de governo O termo Repblica tem sido empregado no sentido de forma de governo contraposta monarquia. Aristteles concebeu trs formas de governo: E que essas formas podem se (degenerar): - monarquia governo de um s - tirania - aristocracia governo de mais de - oligarquia um, mais de poucos - democracia

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O princpio republicano, como j visto, no instaura a Repblica, mas mantm-na como princpio fundamental da ordem constitucional, passvel de modificao pela emenda. Outro conceito que pode ser trazido tona o conceito de sistema de governo. aquele que diz respeito ao modo como se relacionam os poderes, especialmente o legislativo e o executivo, que d origem aos sistemas parlamentarista e presidencialista. Voltaremos a falar nesta matria quando da discusso sobre a organizao dos poderes. De acordo com Fernando Capez em obra conjunta, os dispositivos constitucionais que enunciam os primeiros fundamentos do Estado Brasileiro servem como regra-matriz para a elaborao, interpretao e integrao do sistema jurdico nacional. So comandos-regras que admitem aplicabilidade imediata. O primeiro fundamento da Repblica a soberania, ou seja, carter supremo de um poder, que no admite outro que lhe seja superior. O segundo fundamento a cidadania. A cidadania o direito de participar da vida do Estado e do seu destino e ainda o direito de usufruir os direitos civis fundamentais previstos na CF/88. A dignidade da pessoa humana o terceiro fundamento. A dignidade um valor espiritual e moral inerente pessoa que se manifesta no sentido de buscar o respeito por parte das demais pessoas. A dignidade da pessoa humana uma referncia constitucional unificadora dos direito fundamentais inerentes pessoa humana, ou seja, daqueles direitos que visam garantir o conforto existencial das pessoas, protegendo-as de sofrimentos evitveis na esfera social. Como quarto fundamento, temos os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa. Foram consignados de forma conjunta para que houvesse uma harmonia e cooperao entre a mo-de-obra e os detentores do capital, explicitando, assim, um dos elementos scioideolgicos da constituio. Por fim, o pluralismo poltico, vem discriminando o quinto fundamento da CF/88. caracterizado pela convivncia harmnica dos interesses contraditrios e das diversas ideologias, servindo de fundamento s diversas liberdades (informao, religio, ...) e ao pluripartidarismo. ART. 2, CF/88 A separao dos poderes Celso Ribeiro Bastos (Saraiva:1996) em seu Curso de direito constitucional expe que Montesquieu concebia sua teoria da separao dos poderes como tcnica posta a servio da conteno do poder pelo prprio poder.

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A tripartio , portanto, a tcnica pela qual o poder contido pelo prprio poder, um sistema de freios e contrapesos (checks and balances), uma garantia do povo contra o arbtrio e o despotismo. De acordo com a Declarao Revolucionria Francesa de 1789, qualquer sociedade em que no esteja assegurada a garantia dos direitos, nem estabelecida a separao dos poderes no tem Constituio. Assim, ainda que o art. 2 e o 4 do art. 60 da CF/88 no tivessem mencionado a separao dos poderes, este seria um princpio extrado do prprio Estado Democrtico de Direito. No obstante o despotismo tenha subsistido por centenas de anos (feudalismo - sc. VIII a XVI e a inquisio romana do final do sc XVI) foi no sculo XVIII que Montesquieu, na obra O esprito das Leis conseguiu firmar a idia que as 3 funes estatais deveriam ser atribudas a rgos independentes e autnomos. Normas genricas so criadas pelo Legislativo, atos concretos so praticados pelo Executivo e atos de fiscalizao so realizados pelo Judicirio. A separao dos poderes clusula ptrea e por isso no pode ser abolida ou substancialmente alterada sequer por emenda constitucional. preciso lembrar ainda que apesar da tripartio dos poderes, cada um deles exercem funes que lhe so tpicas e, excepcionalmente, funes atpicas, havendo uma verdadeira interpenetrao dos poderes. O legislativo e o judicirio exercem atipicamente funes administrativas (executivas) quando, por exemplo, preenchem os cargos de suas secretarias (art. 51, IV e 96 I, f da CF/88). O legislativo s vezes julga Senado julga o Presidente da Repblica por crime de responsabilidade art. 52, I e II da CF/88). O executivo legisla (medidas provisrias) e julga (processos administrativos). O judicirio legisla ao elaborar seu regimento interno (art. 96, I, a, CF/88). A regra da separao dos poderes a indelegabilidade de funes. Quando admite delegao, a CF expressa, conforme art. 68. OS OBJETIVOS FUNDAMENTAIS DA CF/88 Os objetivos descritos no art. 3 da CF/88 constituem comandos-valores que tm por finalidade o bem-estar social, ou seja, so normas de natureza programtica que devem ser observadas pelos governantes na elaborao e na execuo de suas polticas. I construir uma sociedade livre, justa e solidria; II garantir o desenvolvimento nacional; III erradicar a pobreza e a marginalizao e reduzir as desigualdades sociais e regionais;

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Foi com a EC n. 31/00 que acrescentou-se ao ADCT os artigos 79 a 83 e criou o Fundo de Combate a Erradicao da Pobreza, regulamentado pela LC n. 111/2001. O Fundo composto basicamente pelo imposto sobre grandes fortunas, pelos rendimentos decorrentes da receita da desestatizao de sociedades de economia mista e empresas pblicas controladas pela Unio, por doaes e por adicionais sobre a CPMF (0,08%) e o IPI (+ 5% na alquota sobre produtos suprfluos). Estados e Municpios tambm devem instituir seus Fundos que sero mantidos com adicionais do ICMS(at 2,0%) e o ISS( at 0,5%) que podero incidir sobre produtos e servios suprfluos (definidos em lei federal). IV promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raa, sexo, cor idade e quaisquer outras formas de discriminao. O Decreto n. 3.952 de 04.10.2001 dispe sobre o Conselho Nacional de combate Discriminao CNCD. PRINCPIOS QUE REGEM AS RELAES INTERNACIONAIS DO ESTADO BRASILEIRO ART. 4, CF/88 I Independncia nacional; II - Prevalncia dos direitos humanos; (prevalncia das prerrogativas inerentes dignidade do ser humano e reconhecidos na ordem constitucional. Podem ser de 1, 2, 3 e 4 gerao. 1 gerao - fundados na liberdade direitos civis e polticos. Limitam a atuao do Estado na esfera individual) 2 gerao fundamentado na igualdade aps 2 GM direitos sociais direito assistncia sade e educao. 3 gerao fundamentado na fraternidade ou solidariedade necessidade de proteger o todo, a coletividade meio ambiente, a paz, a defesa do consumidor, ao progresso,.... A doutrina os agrupa dentro dos direitos difusos e coletivos cuja concretizao s possvel com a cooperao dos povos. 4 gerao Norberto Bobbio referentes aos efeitos cada vez mais traumticos da pesquisa biolgica que permitir manipulaes do patrimnio gentico de cada indivduo. III Autodeterminao dos povos; (s existe submisso de um Estado ordem internacional por ato voluntrio); IV No-interveno; V Igualdade entre os Estados; (princpio da coordenao); VI Defesa da paz; (o uso da fora a exceo); VII Soluo pacfica dos conflitos; VIII - Repdio ao terrorismo e ao racismo; IX Cooperao entre os povos para o progresso da humanidade; (grandes convenes para preservao do meio ambiente, no proliferao de armas nucelares,...); X Concesso de asilo poltico. ( o acolhimento de estrangeiro que, perseguido em seu pas de origem ou residncia, adentra outro pas e l requer o benefcio. Ato administrativo do Poder Executivo. No impede a extradio). Ainda dentro das relaes internacionais, verifica-se que o Brasil, aps ratificar o Tratado de Roma, se submete jurisdio do Tribunal Penal Internacional (art. 5, 4,

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CF/88). Com sede na Haia, na Holanda, julga crimes de guerra, genocdio, contra a humanidade e crimes de agresso (ainda no definido). DOS DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS Falamos logo acima da classificao dos direitos fundamentais realizada pela doutrina moderna, no sentido em que podem ser considerados de 1, 2, 3 e 4 gerao. J. Afonso da Silva traz que a expresso direitos fundamentais do homem so situaes jurdicas, objetivas e subjetivas, definidas no direito positivo, em prol da dignidade, igualdade e liberdade da pessoa humana. A natureza jurdica dos direitos fundamentais constitucional na medida em que se inserem no texto de uma Constituio ou mesmo constam de simples declarao solenemente estabelecida pelo poder constituinte. So direitos que nascem e se fundamentam no princpio da soberania popular. Caractersticas dos direitos fundamentais: (Capez) 1. historicidade - tiveram origem no Cristianismo e evoluram de acordo com as condies concretas que se apresentaram ao longo da histria; 2. Universalidade destinados a todos os seres humanos. No so restritos a uma determinada classe ou categoria de pessoas; 3. Limitabilidade no so absolutos. Eles podem se chocar e encontraro seus limites na prpria CF. Dessa forma, quando houver conflito entre dois ou mais direitos e garantias fundamentais, dever o intrprete utilizar-se da harmonizao de forma a coordenar e combinar os bens jurdicos em conflito, evitando o sacrifcio de um em detrimento do outro direito, realizando uma reduo proporcional do mbito do alcance de cada qual, sempre em busca do verdadeiro significado da norma e da harmonia do texto constitucional com a finalidade precpua. Ex. direito de propriedade e desapropriao. Esta ser possvel mediante justa e prvia indenizao ao proprietrio desapropriado; 4. Concorrncia em um nico titular podem ser acumulados os direitos fundamentais; 5. inalienabilidade no so disponveis, no se pode alienar esses direitos por no terem contedo econmico-patrimonial. No h como transferi-los seja a ttulo gratuito ou oneroso; 6. imprescritibilidade eles no se perdem pelo decurso do prazo. 7. irrenunciabilidade no so renunciveis, no podem os indivduos deles dispor. Podem no exerce-los temporariamente, mas no renunci-los. Dessa caracterstica surgem as discusses como a renncia ao direito vida, a eutansia, o suicdio, o aborto. DIREITOS FUNDAMENTAIS X GARANTIAS FUNDAMENTAIS A distino entre direitos e garantias fundamentais foi feita por Rui Barbosa, ao separar as disposies meramente declaratrias (imprimem existncia legal aos direitos reconhecidos) e as disposies assecuratrias que so as que, em defesa dos direitos, limitam o poder. As meramente declaratrias instituem os direitos e as assecuratrias as garantias. 26

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No raro h a fixao da garantia com a declarao do direito art. 5 VI, art. 5, X. Os direitos representam por si s certos bens e as garantias destinam-se a assegurar a funo desses bens. Os direitos so principais e as garantias so acessrias. 1. 2. 3. 4. 5. Os direitos e garantias fundamentais compreendem: direitos e deveres individuais e coletivos; direitos sociais; direito da nacionalidade; direitos polticos; direito ao meio ambiente, famlia, educao,....

O art. 5 da CF/88 cuida dos direitos individuais e coletivos nos 78 incisos nos quais temos aqueles que veiculam direitos, outros que veiculam garantias, outros que veiculam direitos e garantias e os remdios constitucionais. Os remdios constitucionais so instrumentos processuais que podem ser utilizados quando a garantia se mostra ineficaz. So o habeas corpus, o mandado de segurana, a ao popular, o mandado de injuno e o habeas data. A relao dos direitos e garantias e remdios meramente exemplificativa. Essa concluso feita se observarmos o 2 do art. 5 onde os direitos e garantias expressos nessa Constituio no excluem outros decorrentes do regime e princpios por ela adotados, ou dos tratados internacionais a que a Repblica Federativa do Brasil seja parte. Nos termos do art. 5, 1 da CF/88, as normas definidoras dos direitos e garantias fundamentais tm aplicabilidade imediata, independentemente da criao de ordenamento infraconstitucional. De regra o so. Mas essa declarao pura e simples no bastaria se outros mecanismos no fossem previstos para torn-la eficiente, por exemplo, o mandado de injuno. Os direitos e garantias individuais foram erigidos ao nvel de clusulas ptreas (intangvel e imodificvel) uma vez que h uma limitao material explcita ao poder constituinte derivado de reforma (art. 60, 4, IV). Eles s podem ser ampliados, do contrrio sero imodificveis. SUSPENSO DOS DIREITOS E GARANTIAS Nossa constituio deu enorme relevncia aos direitos e garantias fundamentais, assegurando-os de maneira quase absoluta. No entanto, h situaes em que o prprio constituinte autorizou a exceo ao Estado Democrtico de Direito (estado de normalidade constitucional). So 3 situaes: - Interveno federal (art. 34) - Estado de defesa (art. 136) - Estado de stio (art. 137) 27

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Os destinatrios dos direitos e garantias fundamentais so: Art. 5, caput brasileiros e estrangeiros residentes no pas. Isso no significa, porm, que aqueles brasileiros que aqui no residem no tero seus direitos garantidos. A idia do caput de que s pode assegurar sua validade e gozo dentro do territrio brasileiro; pessoas fsicas e jurdicas: o art. 5 destina-se principalmente s pessoas fsicas mas as pessoas jurdicas tambm so beneficirias de muitos dos direitos e garantias ali estabelecidos como princpio da isonomia, da legalidade, direito de resposta, sigilo de correspondncia, ... quase-pessoas jurdicas: so coletividades despersonalizadas dotadas de estrutura orgnica ou ncleos patrimoniais que gozam de capacidade processual, ativa e passiva, mas no tm personalidade jurdica. A ttulo de exemplos de ncleos patrimoniais temos a massa falida, o esplio, a herana jacente. Como coletividade despersonalizada: a Cmara de Vereadores, as Assemblias Legislativas, os Tribunais, o Senado, a Cmara dos Deputados, etc. Essas quase-pessoas podem titularizar direitos e obrigaes. A Cmara de Vereadores no pode estar em juzo como r (no tem personalidade jurdica prpria), mas dispe de capacidade processual para defender seus interesses e suas prerrogativas institucionais (STJ, 2 T, ROMS 12.068/MG, j. 17-9-2002). Entende-se que os direitos individuais e coletivos protegidos na CF/88 so aqueles que constam do caput do art. 5, como: direito vida, liberdade, igualdade, segurana e propriedade. DIREITO VIDA o direito fundamental mais importante posto que dele decorrem todos os demais. Cuida-se do direito de no ter o processo vital interrompido seno pela morte espontnea e inevitvel. O direito vida abrange o direito de no ser morto direito de no ser privado da vida de maneira artificial. Abrange ainda o direito s condies mnimas de sobrevivncia e o direito a tratamento digno por parte do Estado (garantia da integridade fsica, proibio da tortura, das penas cruis ou degradantes). Decorrem do direito de no ser morto: proibio da pena de morte proibio da eutansia proibio do aborto direito legtima defesa Decorrem do direito s condies mnimas de sobrevivncia garantia do salrio mnimo irredutibilidade de vencimentos direitos sade, previdncia, educao...

A CF no assegura o direito vida de maneira plena. Prev uma exceo: pena de morte em caso de guerra externa declarada (art. 5, XLVII, a).

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Ao se discutir o direito vida, surge uma srie de questes como: ABORTO O constituinte de 88 no esclareceu se garante o direito vida desde a concepo ou somente aps o nascimento com vida. No o tendo feito, a questo pode ser tratada pela legislao infra-constitucional. Foi o que fez o CC de 1916 em seu art 4 e o NCC no art 2: A personalidade civil da pessoa comea do nascimento com vida, mas a lei pe a salvo, desde a concepo, os direitos do nascituro. Reconheceu-se assim, a vida intra-uterina e a prtica do aborto que a eliminao dessa vida intra-uterina crime (art. 128, CP), mas que possui duas excludentes de ilicitude, chamado aborto legal: - aborto necessrio ou teraputico - para salvar a vida da me; - aborto humanitrio ou tico realizado por mdicos para nos casos de gravidez resultante de estupro, aps expresso consentimento da gestante ou representante legal. O aborto eugnico, eugensico ou piedoso consiste na interrupo da gravidez quando o feto apresenta enfermidade ou deformidade incurvel. No permitido em nossa legislao apesar do Poder Judicirio j ter concedido liminares autorizando sua prtica. (Ver boletim informativo do STF n. 354 e o debate sobre aborto em caso de anencefalia) EUTANSIA Expresso grega que significa boa morte a interrupo da vida biolgica tendo em conta grande sofrimento fsico ou mental a que algum est submetido e para o qual no h possibilidade cientfica de recuperao. No Brasil a prtica proibida e considerada homicdio. Para configurar a eutansia necessrio que a pessoa tenha condies de continuar vivendo, ainda que com sofrimentos terrveis. Ex: paciente terminal de cncer que vive base de morfina. Assim, no se pode confundir eutansia com a situao na qual a pessoa no tem mais vida autnoma e s vive por meios artificiais, sendo lcito sua famlia autorizar o desligamento dos aparelhos. O art 66 do Cdigo de tica mdica probe qualquer ao destinada a abreviar a vida do paciente ainda que a pedido deste ou de sua famlia Fala-se tambm em outra questo difcil e polmica: a distansia que consiste no prolongamento da vida do idoso que passa por grande sofrimento. PRINCPIO DA ISONOMIA Este princpio deve ser considerado sobre duplo aspecto: o da igualdade na lei exigncia destinada ao legislador que no momento da confeco da lei no poder fazer discriminao; 29

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o da igualdade perante a lei diante da lei j elaborada, exige-se que o Executivo e o Judicirio, na aplicao da lei, no faam qualquer discriminao.

H igualdade entre as pessoas jurdicas de direito pblico interno? No, a igualdade perante a lei no compreende Unio, Estados, Municpios e DF. A igualdade jurdica consiste em assegurar s pessoas de situaes iguais os mesmos direitos e prerrogativas e vantagens o que significa tratar igualmente os iguais e desigualmente os desiguais, visando garantir sempre o equilbrio entre todos. No que toca a igualdade entre homens e mulheres temos: art. 7, XXX no haver diferena de salrios para a mesma funo; art. 226, 5 - direitos e deveres na sociedade conjugal exercidos por ambos. S valem as discriminaes feitas na prpria Constituio e sempre a favor da mulher: a pena ser cumprida em estabelecimentos distinto de acordo com idade e sexo (art. 5, XLVIII) presidirias tero direitos de permanecer com seus filhos durante o perodo de amamentao (art. 5, L) aposentadoria da mulher com menor tempo de servio e de idade (art. 40, III e art. 202, I a III). Para que as diferenciaes normativas possam ser consideradas no discriminatrias, torna-se indispensvel que exista justificativa objetiva e razovel, de acordo com critrios e juzos de valor genericamente aceitos. LIMITAO DE IDADE EM CONCURSOS PBLICOS Esta limitao somente se legitima em face do art. 7, XXX da CF quando pode ser justificado pela natureza das atribuies do cargo a ser preenchido. Ex: exigir altura mnima de advogado para preencher vaga de procurador do DF. A lei 9.029/95 probe a exigncia de atestados de gravidez e esterilizao e outras prticas discriminatrias para efeitos admissionais ou de permanncia de relao jurdica de trabalho. Constitui inclusive crime a exigncia de teste, exame, percia, laudo, atestado, declarao ou qualquer outro procedimento relativo esterilizao ou estado de gravidez. Decorrem do princpio da igualdade: P da igualdade na justia: o Condenao de juzo ou tribunal de exceo o Garantia do juiz natural onde ningum ser processado ou julgado seno por autoridade competente previamente indicada; P da igualdade perante a justia: o Garantia de acesso a ela o Assistncia jurdica integral e gratuita aos necessitados P da igualdade perante a tributao 30

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o Repartio do nus fiscal de forma mais justa possvel por meio de regras como o p. da capacidade contributiva P da igualdade sem distino de sexo e de orientao sexual P da igualdade sem distino de raa, cor, origem o Repdio ao racismo o Discriminao contra pessoas humildes, nordestinos, ... P da igualdade sem distino de idade, salvo nas excees previstas na constituio como a do limite mnimo de 16 anos para admisso no trabalho, exceto se na condio de aprendiz a partir dos 14. Vide smula 683 do STF P da igualdade sem distino de trabalho P da igualdade sem distino de credo religioso posto que a constituio garante a liberdade de religio e o livre exerccio de cultos religiosos. PRINCPIO DA LEGALIDADE

Ningum ser obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa seno em virtude de lei Este princpio visa combater o poder arbitrrio do Estado. S por meio de espcies normativas as leis devidamente elaboradas de acordo com o processo legislativo constitucional, que se podem criar obrigaes para os indivduos posto que so uma expresso da vontade geral. Para Celso Bastos e Ives Gandra Martins, o Princpio da Legalidade mais se aproxima de uma garantia que de um direito j que no tutela, especificamente um bem da vida, mas assegura ao particular a prerrogativa de repelir as injunes que lhe sejam impostas por outra via que no seja a da lei. PRINCPIO DA LEGALIDADE o Mais amplo o Genrico e abstrato PRINCPIO DA RESERVA LEGAL o restrito o Concreto o Incide apenas nos campos materiais especificados na CF

Se todos os comportamentos humanos esto sujeitos ao P. da Legalidade, somente alguns esto submetidos ao da reserva legal. Jos Afonso da Silva ensina que no raro a doutrina confunde ou no distingue estes dois princpios. P. da legalidade significa submisso e o respeito lei ou a atuao dentro da esfera estabelecida pelo legislador. P da reserva legal consiste em estatuir que a regulamentao de determinadas matrias h de fazer-se necessariamente por lei formal. Encontramos o P da reserva legal quando a constituio reserva contedo especfico, caso a caso, lei. Por outro lado, encontramos o P da legalidade quando a constituio outorga poder amplo e geral sobre qualquer espcie de relao.

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Tem-se, pois, RESERVA DE LEI (art. 68, 1, art. 7, art. 14) quando uma norma constitucional atribui determinada matria exclusivamente lei formal (ou atos equiparados, na interpretao firmada na praxe), subtraindo-a, com isso, disciplina de outras fontes, quela subordinada. A reserva de lei pode ser absoluta ou relativa. Ser absoluta quando a norma constitucional exige para sua integral regulamentao a edio de lei formal, entendida como ato normativo emanado do Congresso Nacional, elaborado de acordo com o devido processo legislativo constitucional. Por outro lado, temos a reserva legal relativa, quando a CF apesar de exigir edio de lei formal, permite que esta fixe to-somente parmetros de atuao para o rgo administrativo que poder complement-la por ato infralegal, sempre porm, respeitados os limites ou requisitos estabelecidos pela legislao. As hipteses de reserva legal relativa, so estabelecidas diretamente pela CF que permitir, excepcionalmente, a complementao da legislao por atos normativos infraconstitucionais pois, em caso contrrio, a lei deve estabelecer ela mesma o regime jurdico, no podendo declinar a sua competncia normativa a favor de outras fontes (proibio da competncia negativa do legislador). Ex.: P da reserva legal tributria: STJ: O sistema tributrio brasileiro tem como princpio basilar proeminente, decorrente da regra constitucional, o da legalidade: s lei cabe instituir impostos, definir o fato gerador e estabelecer prazos e condies de pagamento. P da legalidade e expedio de decretos e regulamentos (art. 84, IV) Art. 84, IV Compete privativamente ao Presidente da Repblica expedir decretos e regulamentos para fiel execuo da lei. Os regulamentos tm por finalidade precpua, facilitar a execuo das leis, removendo eventuais obstculos prticos que podem surgir em sua aplicao e se exteriorizam por meio de decreto. As leis devem ser gerais ficando os detalhes por conta dos regulamentos. O exerccio do poder regulamentar do Executivo situa-se dentro da principiologia constitucional da Separao dos Poderes, pois, salvo em situaes de relevncia e urgncia (medidas provisrias), o Presidente da Repblica no pode estabelecer normas gerais criadoras de direitos e obrigaes, por ser esta funo do Poder Legislativo. Assim o regulamento no poder alterar disposio legal, tampouco criar obrigaes diversas das previstas. O princpio de que o Princpio regulamentar consiste num poder administrativo. Trata-se de poder limitado. No poder legislativo. Seus limites situam-se no mbito do executivo e administrativo. Ultrapassar esses limites ser abuso de poder e usurpao de competncia.

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A jurisprudncia j firmou entendimento no STF o sentido de que no cabe ADIN com relao a dispositivos de decreto que regulamenta lei porquanto nesse caso, a questo se coloca no plano da legalidade e no da constitucionalidade. P. da reserva constitucional (J. A. da Silva) absoluta a reserva constitucional de lei quando a disciplina da matria reservada pela Constituio lei, com excluso, portanto, de qualquer outra fonte infralegal, o que ocorre quando ela emprega frmulas como: lei regular, a lei dispor, a lei complementar organizar,... relativa a reserva constitucional de lei quando a disciplina da matria em parte admissvel a outra fonte diversa da lei, sob a condio de que esta indique as bases em que aquela deva produzir-se validamente. Assim, quando a constituio emprega frmulas como as seguintes: nos termos da lei, no prazo da lei, na forma da lei, segundo critrios da lei, ... So em verdade, hipteses em que a CF prev a prtica de ato infralegal sobre determinada matria impondo, no entanto, obedincia a requisitos ou condies reservados lei. P. ex., facultado ao P. Executivo, por decreto, alterar alquotas dos impostos sobre importao, exportao, produtos industrializados e operaes de crdito, etc, atendidas as condies e os limites estabelecidos em lei (art. 153, 1). Legalidade e atividade administrativa A eficcia de toda a atividade administrativa est condicionada lei Na administrao pblica, ensina Hely Lopes, no h liberdade nem vontade. Enquanto na administrao particular lcito fazer tudo que a lei no probe, na administrao pblica s permitido fazer o que a lei autorize. A lei para o particular pode fazer e para o administrado deve fazer assim. Legalidade penal Trata-se tambm de garantia individual (art. 5, XXXIX): no h crime sem lei anterior que o defina, nem pena sem prvia cominao legal. (trata-se de reserva absoluta) Princpios complementares ao da legalidade o p da inafastabilidade do controle jurisdicional o proteo constitucional do direito adquirido, do ato jurdico perfeito e da coisa julgada como garantia de permanncia e estabilidade do P da legalidade; o p da irretroatividade das leis TRATAMENTO CONSTITUCIONAL DA TORTURA (ART. 5 III E XLIII)

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O art 5 XLIII da CF uma norma de eficcia limitada posto que necessita da atuao do legislador infraconstitucional para que sua eficcia se produza. Quanto inafianabilidade e insuscetibilidade de graa ou anistia, foi editada a lei dos crimes hediondos. No tocante definio do crime de terrorismo e tortura foi ainda necessria a edio de lei infraconstitucional de competncia da Unio tipificando-os. Lei 9455, de 7.4.1997 traa como caractersticas da tortura: constranger algum com emprego de violncia ou grave ameaa, causando-lhe sofrimento fsico ou mental. Quanto ao tratamento desumano ou degradante, o STJ j se manifestou. A imposio do uso de algemas ao ru, por constituir afetao aos princpios de respeito integridade fsica e moral do cidado, deve ser aferido de modo cauteloso e diante de elementos concretos que demonstrem a periculosidade do acusado. Aqueles que forem condenados pela prtica das condutas tpicas definidas como tortura estaro sujeitos a: o pena privativa de liberdade o perda do cargo ou funo ou emprego pblico o no poder exercer outro cargo ou funo ou emprego pblico durante o dobro do prazo de sua pena privativa de liberdade. Alm disso, a pena aumentada de 1/6 a 1/3 se o crime cometido por agente pblico. O crime de tortura inafianvel e insuscetvel de graa ou anistia. Inicia o cumprimento da pena em regime fechado, possibilitada a progresso. LIBERDADE DE PENSAMENTO (art. 5, IV) A manifestao de pensamento livre e garantida constitucionalmente. Os abusos cometidos sero apreciados pelo P. Judicirio com a conseqente responsabilizao civil e penal dos seus autores decorrente, inclusive, de publicao injuriosa na imprensa, que deve exercer vigilncia e controle da matria que divulga. A proteo constitucional engloba o direito de expressar-se oralmente ou por escrito, mas tambm o direito de ouvir, assistir e ler. Assim, ser inconstitucional a lei ou ato normativo que proibir a aquisio ou o recebimento de jornais, livros, peridicos, a transmisso de notcias e informaes seja pela imprensa falada seja televisiva. A proibio do anonimato ampla, abrangendo todos os meios de comunicao (cartas, matrias jornalsticas, mensagens Internet,...) vedando-se mensagens apcrifas, injuriosas, caluniosas, difamatrias. A finalidade constitucional evitar manifestaes de opinies fteis, infundadas apenas com o intuito de desrespeito vida privada, intimidade, honra de outrem ou ainda, a inteno de subverter a ordem jurdica, o regime democrtico e o bem-estar social.

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DIREITO DE RESPOSTA E INDENIZAO POR DANO MORAL, MATERIAL OU IMAGEM (ART. 5, V) A norma pretende reparar a ordem jurdica lesada, seja atravs da reparao econmica, seja atravs do direito de resposta. O direito de resposta significa o direito de retificao de notcias incorretas. O exerccio do direito de resposta se negado pelo autor das ofensas, dever ser tutelado pelo Poder Judicirio, garantindo-se o mesmo destaque notcia que se originou. A constituio estabelece como requisito para o exerccio do direito de resposta ou rplica a proporcionalidade, ou seja, o desagravo dever ter o mesmo destaque, a mesma durao (rdio/televiso) o mesmo tamanho (jornal/revista) que a notcia que gerou a relao conflituosa. A responsabilidade pela divulgao do direito de resposta da direo do rgo de comunicao e no daquele que proferiu as ofensas. O direito de resposta tambm no poder acobertar atividades ilcitas, ou seja, ser utilizado para eu o ofendido passe a ser o ofensor, proferindo ao invs de seu desagravo, manifestao caluniosa, difamante, injuriosa. LIBERDADE DE CRENA RELIGIOSA, CONSCINCIA, CONVICO FILOSOFICA OU POLTICA E ESCUSA DE CONSCINCIA. (Art. 5, VI e VIII) Dois so os requisitos para a privao dos direitos em virtude de crena religiosa ou convico filosfica ou poltica: o no cumprimento de obrigao a todos imposta o descumprimento de obrigao alternativa A liberdade religiosa A conquista da liberdade religiosa verdadeira consagrao de maturidade de um povo, sendo verdadeiro desdobramento da liberdade de pensamento a manifestao. Na histria das constituies brasileiras nem sempre foi assim. A constituio de 1824 consagrava a plena liberdade de crena, restringindo porm a liberdade de culto pois determinava que a Religio Catlica Apostlica Romana continuar a ser a Religio do Imprio. Todas as outras religies sero permitidas com seu culto domstico ou particular em casas para isso destinadas sem forma alguma exterior de templo. ESCUSA DE CONSCINCIA E SERVIO MILITAR OBRIGATRIO O art 143 da CF prev que o servio militar obrigatrio nos termos da Lei 4375/64 e Decreto 57.654/66, competindo s Foras Armadas, na forma da lei, atribuir servios alternativos aos que, em tempo de paz, aps alistados, alegarem imperativos de conscincia entendendo-se como tal o decorrente de crena religiosa e de convico filosfica ou poltica para se eximir de atividade de carter essencialmente militar.

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Entende-se por servio militar alternativo (Lei 8239/91) o exerccio de atividades de carter administrativo, assistencial, filantrpico ou mesmo produtivo, em substituio s atividades de carter essencialmente militar. O servio alternativo ser prestado em rgos militares e em rgos de formao de reservas das Foras Armadas ou em rgos subordinados aos ministrios civis, mediante convnio entre esses e o Ministrio da Defesa, desde que haja interesse recproco. Prestado o servio, ser conferido certificado de prestao de servio alternativo ou servio militar obrigatrio com os mesmos efeitos jurdicos do certificado de reservista. A recusa ou cumprimento incompleto implicara no no fornecimento do certificado pelo prazo de 2 anos aps o vencimento do perodo. Findo o prazo, o certificado s ser emitido aps a decretao pela autoridade competente, da suspenso dos direitos polticos do inadimplente que poder, a qualquer tempo, regularizar sua situao mediante cumprimento das obrigaes previstas. LIMITAO AO LIVRE EXERCCIO DO CULTO RELIGIOSO A CF assegura o livre exerccio do culto religioso enquanto no for contrrio ordem, tranqilidade, sossego pblico, bem como compatvel com os bons costumes. O ensino religioso poder desde que sempre de matrcula facultativa, constituir disciplinas dos horrios normais das escolas pblicas de ensino fundamental (art. 210, 1, CF). Destaca-se, pois, uma dupla garantia constitucional: 1. No se poder instituir nas escolas pblicas o ensino religioso de uma nica religio nem tampouco pretender-se doutrinar os alunos a essa ou aquela f. O Ensino religioso dever constituir-se em regras gerais sobre religio e princpios bsicos da f; 2. Garantia da liberdade das pessoas se matricularem ou no uma vez que a plena liberdade religiosa consiste tambm na liberdade ao atesmo. Art. 5, VII ASSISTNCIA RELIGIOSA A garantia da prestao de assistncia religiosa nas entidades civis e militares encerram um direito subjetivo dos que encontram-se internados e cabe ao Estado, nos termos da lei, a materializao das condies para a prestao dessa assistncia religiosa que dever ser de tantos credos quanto aqueles solicitados. A idia do legislador foi fornecer maior amparo espiritual s pessoas que se encontram em posio menos favorecidas, afastadas do convvio social/familiar.Trata-se de norma constitucional de eficcia limitada, cuja regulamentao veio: - com a Lei 6923/81 e Lei 7672/88 em relao s Foras Armadas; - com a Lei 7210/84 (Lei de Execues Penais) em relao aos estabelecimentos prisionais. ART. 5, IX LIBERDADE DE EXPRESSO.....

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A liberdade de expresso e manifestao do pensamento no podem sofrer qualquer tipo de limitao prvia no tocante a censura de natureza poltica, ideolgica e artstica. possvel, entretanto, a lei ordinria regulamentar as diverses e espetculos classificando-os por faixas etrias que no se recomenda, bem como locais e horrios que lhe sejam adequados. lei tambm caber estabelecer os meios de defesa das pessoas e famlias quanto a programas de rdio e TV que descumpra os princpios do art. 221, I ao IV como respeito aos valores ticos e sociais da pessoa e da famlia (art. 220, 3 e 221, CF). A censura prvia significa o controle, o exame, a necessidade de permisso a que se submete, previamente e com carter vinculativo, qualquer texto ou programa que pretende ser exibido ao pblico em geral. O carter preventivo e vinculativo o trao marcante da censura prvia, sendo a restrio manifestao de pensamento sua finalidade antidemocrtica. O texto constitucional repele frontalmente a possibilidade de censura prvia, o que no significa que a liberdade de imprensa absoluta. ART. 5, X Inviolabilidade intimidade, vida privada, honra e imagem Os direitos intimidade e a prpria imagem formam a proteo constitucional vida privada, salvaguardando um espao ntimo intransponvel por intromisses ilcitas externas. A proteo refere-se tanto a pessoas fsicas quanto jurdicas. Os conceitos constitucionais de intimidade e vida privada apresentam grande interligao. Intimidade relaciona-se s relaes subjetivas e de trato ntimo da pessoa, suas relaes familiares, enquanto a vida privada envolve todos os demais relacionamentos humanos, inclusive os objetivos, como relaes comerciais, de trabalho, de estudos, etc. Trata-se de violao ao fundamento constitucional da dignidade humana. Ex: converter em instrumento de diverso ou entretenimento assuntos de natureza to ntima quanto falecimentos ou desgraas alheias que no demonstrem qualquer finalidade pblica e carter jornalstico sua divulgao. Assim, a divulgao de fotos, imagens, notcias injuriosas, desnecessrias para informao objetiva ou interesse pblico e que acarretem dano dignidade humana autoriza a ocorrncia de indenizao por perdas e danos materiais e morais alm do respectivo direito de resposta. A defesa da privacidade deve proteger o homem contra: 1. a interferncia na sua vida privada, familiar, domstica;

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2. a ingerncia em sua integridade fsica ou mental, ou em sua liberdade intelectual e moral; 3. os ataques sua honra e reputao; 4. sua colocao em perspectiva falsa; 5. a comunicao de fatos relevantes e embaraosos relat