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2012 Copyright. Curso Agora eu Passo - Todos os direitos reservados ao autor. Apostila Direito Constitucional

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    Apostila

    Direito Constitucional

  • Direito Constitucional

    Agora eu Passo 2

    PODER CONSTITUINTE

    Apenas a pessoa pode ser sujeito de direitos, quer se trate de pessoa fsica,

    quer se trate de pessoa jurdica. Isto porque somente ela possui personalidade

    jurdica, isto , a aptido genrica para adquirir direitos e contrair obrigaes. Tal

    capacidade no existe nos animais irracionais.

    A pessoa fsica (ou natural), segundo o Cdigo Civil de 2002, adquire a sua

    personalidade no momento de seu nascimento com vida. J as pessoa jurdicas,

    por ocasio da inscrio de seu ato constitutivo no registro competente. Assim,

    nasce uma associao ou uma fundao quando seus estatutos so registrados

    no Cartrio de Registro de Pessoas Jurdicas. Surge uma sociedade empresria

    quando seu contrato social registrado na Junta Comercial.

    Em se tratando de pessoas jurdicas de direito pblico, a personalidade

    dada pela lei criadora do ente. Logo, uma autarquia (INSS, IBAMA, INCRA...) passa

    a existir no mundo jurdico pela simples edio do diploma legal que o originou.

    Ora, a Repblica Federativa do Brasil uma pessoa jurdica de direito

    pblico externo. Como tal, tambm possui personalidade jurdica, ou seja, pode

    titularizar direitos e assumir deveres. Ocorre que a sua personalidade no foi

    extrada de uma lei qualquer, mas sim da Constituio da Repblica, a Lei Maior.

    como se tivesse havido o registro de um ato constitutivo, qual seja, a

    promulgao da Constituio Federal. Portanto, nossa Carta Magna um ato que

    constitui nosso Estado enquanto pessoa jurdica, cujo nascimento se deu em 5 de

    outubro de 1988.

    O poder de originar (constituir) um Estado, mediante a elaborao de uma

    Constituio, chamado poder constituinte originrio. Na Teoria Democrtica,

    titularizado pelo povo, mas exercido pelos seus representantes: os membros da

    Assemblia Nacional Constituinte. Portanto, preciso que fique claro: poder

    constituinte originrio aquele apto a criar uma constituio e,

    consequentemente, um pas, na medida em que a constituio o ato

    constitutivo deste.

    O poder constituinte originrio no sofre limitaes jurdicas. Assim, segundo j

    decidiu o STF, no lhe so oponveis a coisa julgada, o ato jurdico perfeito ou o

  • Direito Constitucional

    Agora eu Passo 3

    direito adquirido. Alguns autores, no entanto, reconhecem-lhe limitaes

    sociolgicas.

    Como derivao do constituinte originrio, trs classificaes foram feitas:

    poder constituinte reformador, poder constituinte decorrente e poder constituinte

    revisor. Todos so ditos constituintes derivados e se caracterizam por serem

    limitados juridicamente.

    O constituinte reformador aquele responsvel pela elaborao de

    emendas constitucionais, ou seja, de modificar (ou, muitas vezes, deturpar) a obra

    do constituinte originrio. Como foi dito, sofre limitaes jurdicas. Ei-las:

    Art. 60. A Constituio poder ser emendada mediante proposta:

    I - de um tero, no mnimo, dos membros da Cmara dos Deputados ou do

    Senado Federal;

    II - do Presidente da Repblica;

    III - de mais da metade das Assemblias Legislativas das unidades da

    Federao, manifestando-se, cada uma delas, pela maioria relativa de seus

    membros.

    A iniciativa traduz uma limitao formal.

    1 - A Constituio no poder ser emendada na vigncia de interveno

    federal, de estado de defesa ou de estado de stio.

    Trata-se da chamada limitao circunstancial, pois a Constituio no poder

    ser emendada nessas circunstncias: estado de defesa, estado de stio e

    interveno federal. Isto porque, em situaes de anormalidade como essas,

    haver uma tendncia de restringir os direitos fundamentais.

    2 - A proposta ser discutida e votada em cada Casa do Congresso

    Nacional, em dois turnos, considerando-se aprovada se obtiver, em ambos, trs

    quintos dos votos dos respectivos membros.

    V-se que o quorum de 3/5 (60%) para a aprovao de uma emenda

    constitucional mais dificultoso do que aquele previsto para as demais espcies

    normativas que, em geral, exigem apenas maioria simples e, excepcionalmente,

    maioria absoluta. exatamente essa caracterstica que faz de nossa Constituio

  • Direito Constitucional

    Agora eu Passo 4

    uma constituio rgida: o fato de seu procedimento de elaborao ser mais

    dificultoso que o das outras normas infraconstitucionais. Tambm so exigidos dois

    turnos, o que acaba por dificultar ainda mais a aprovao de uma PEC (proposta

    de emenda Constituio).

    Esta uma limitao formal, assim como a do pargrafo seguinte.

    3 - A emenda Constituio ser promulgada pelas Mesas da Cmara dos

    Deputados e do Senado Federal, com o respectivo nmero de ordem.

    4 - No ser objeto de deliberao a proposta de emenda tendente a abolir:

    Diferentemente, aqui as limitaes so materiais, ou seja, de contedo. Os

    incisos seguintes trazem matrias que no podem ser modificadas nem mesmo por

    emenda constitucional, pois so clusulas ptreas, tambm chamadas de

    clusulas de inamovibilidade ou de ncleo intangvel. importante saber que esse

    rol no exaustivo (numerus clausus), eis que h outras clusulas ptreas que no

    foram mencionadas, as implcitas.

    I - a forma federativa de Estado;

    II - o voto direto, secreto, universal e peridico;

    III - a separao dos Poderes;

    IV - os direitos e garantias individuais.

    5 - A matria constante de proposta de emenda rejeitada ou havida por

    prejudicada no pode ser objeto de nova proposta na mesma sesso legislativa.

    O poder constituinte decorrente, por sua vez, aquele responsvel pela feitura

    das cartas estaduais ou da lei orgnica distrital. Decorre, pois, da autonomia

    desses entes, que implica capacidade auto-organizatria.

    Art. 25. Os Estados organizam-se e regem-se pelas Constituies e leis que

    adotarem, observados os princpios desta Constituio.

    Tambm houve previso no art. 11, do Ato das Disposies Constitucionais

    Transitrias (ADCT):

    Art. 11. Cada Assemblia Legislativa, com poderes constituintes, elaborar a

    Constituio do Estado, no prazo de um ano, contado da promulgao da

    Constituio Federal, obedecidos os princpios desta.

    Ambos os dispositivos admitem a limitao do constituinte decorrente,

    afirmando que as constituies estaduais devem obedincia aos princpios da

    CF/88. Segundo a doutrina, esses princpios so os chamados princpios

  • Direito Constitucional

    Agora eu Passo 5

    constitucionais estabelecidos, princpio sensveis e princpio constitucionais

    extensveis.

    Por fim, resta ainda analisar o constituinte revisor. Este excepcional e no

    poder se manifestar novamente. Tambm relativo edio de emendas, no

    entanto, no pelo procedimento apontado no Art. 60. O constituinte revisor

    apenas foi previsto para adequar o contedo da CF/88 ao resultado do plebiscito

    de 1993 (art. 2, ADCT):

    Art. 2. No dia 7 de setembro de 1993 o eleitorado definir, atravs de plebiscito,

    a forma (repblica ou monarquia constitucional) e o sistema de governo

    (parlamentarismo ou presidencialismo) que devem vigorar no Pas.

    Art. 3. A reviso constitucional ser realizada aps cinco anos, contados da

    promulgao da Constituio, pelo voto da maioria absoluta dos membros do

    Congresso Nacional, em sesso unicameral.

    Considerando que foi previsto em uma norma transitria, uma vez ocorrida a

    reviso, sua eficcia se esgota, no sendo possvel nova reviso.

    PRINCPIOS FUNDAMENTAIS

    Um pas pode assumir vrias caractersticas. Incumbe quele que o instituiu

    eleger um tipo de Estado (federal ou unitrio), uma forma de governo (republicana

    ou monrquica), um sistema de governo (presidencialista ou parlamentarista),

    bem como adotar um regime poltico (democrtico ou totalitrio). Todas essas

    escolhas foram reveladas pelo caput do Art. 1 da Constituio Federal:

    TTULO I

    Dos Princpios Fundamentais

    Art. 1 A Repblica Federativa do Brasil, formada pela unio indissolvel dos

    Estados e Municpios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrtico de

    Direito e tem como fundamentos:

    A expresso indissolvel, a rigor, um pleonasmo (explicitao desnecessria,

    repetitiva). Isto porque o pacto federativo tem como uma de suas maiores

    caractersticas o fato de no se permitir o direito de secesso, ou seja, os entes

  • Direito Constitucional

    Agora eu Passo 6

    federativos no podem separar-se uns dos outros. A clusula de indissolubilidade

    foi mera explicitao, eis que j estava implcita no adjetivo Federativa.

    O federalismo tem, ainda, outros traos importantes: igualdade e autonomia

    dos entes polticos. Significa que Municpios no se subordinam aos Estados (nem

    ao DF) que tambm no so hierarquicamente inferiores Unio. Todos foram

    equiparados e considerados autnomos, nos limites da Constituio. Uma lei

    estadual no deve conformidade a uma lei federal, devendo ambas obedincia

    repartio constitucional de competncias. Tanto uma como outra extraem o

    seu fundamento de validade do mesmo lugar: da CRFB (Constituio da

    Repblica Federativa do Brasil). Por fora da autonomia, os entes possuem

    capacidade de autogoverno, auto-administrao, auto-organizao e de

    normatizao prpria.

    I - a soberania;

    Muito se ouve e se l que um Estado possui trs elementos constitutivos: povo,

    territrio e poder. Este ltimo justamente a soberania, que representa o mais alto

    grau de poder, no se submetendo, pois, a nenhum outro. Nas palavras de Ives

    Gandra da Silva Martins, ... a soberania o direito de dizer, dentro desse pas, qual efetivamente o Direito que ter de ser observado. (...) A intromisso de

    outras naes no seu Direito s ser aceita se respaldada em tratados, pactos ou

    acordos internacionais..

    A prpria ESAF j cuidou de conceituar esse atributo exclusivo do Estado:

    Segundo a melhor doutrina, a soberania, em sua concepo contempornea,

    constitui um atributo do Estado, manifestando-se, no campo interno, como o

    poder supremo de que dispe o Estado para subordinar as demais vontades e

    excluir a competio de qualquer outro poder similar. (Analista de Finanas e

    Controle CGU 2004).

    Apenas a Repblica Federativa do Brasil soberana. A Unio, os Estados, o DF

    e os Municpios no ostentam o atributo da soberania, mas sim o da autonomia,

    pois sofrem limitaes jurdicas. exatamente por isso que tais entes tm suas

    competncias traadas na Constituio, que nada mais so do que limitaes, eis

    que os entes polticos no podem atuar fora delas.

    II - a cidadania;

    Cidadania qualidade de quem cidado. Este, por sua vez, o nacional

    que est no gozo de seus direitos polticos, podendo participar dos negcios do

    Estado. Trata-se do verdadeiro protagonista de uma democracia.

    III - a dignidade da pessoa humana;

  • Direito Constitucional

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    A dignidade da pessoa humana um princpio densificado ao longo do texto

    constitucional e conexo com inmeros dispositivos. Por fora desse inciso,

    reconhece-se aos indivduos o direito a uma existncia digna.

    IV - os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa;

    Fundem-se dois valores aparentemente paradoxais: o valor social do trabalho,

    tpico de um Estado Social, com a livre iniciativa, comum em Estados Liberais.

    Assim, a explorao da atividade econmica poder ser livremente desenvolvida

    pelos particulares, devendo-se, no entanto, assegurar a dignidade do trabalho

    humano.

    V - o pluralismo poltico.

    O fundamento do pluralismo poltico no se confunde com o pluripartidarismo.

    Este significa diversidade de legendas partidrias, enquanto aquele mais amplo:

    traduz a coexistncia das mais diversas correntes de pensamentos e ideologias.

    Pargrafo nico. Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de

    representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituio.

    Acaba de ser consagrado o princpio da soberania popular, que exercida de

    maneira indireta (democracia representativa) ou diretamente (democracia

    participativa), nos termos do Art. 14: mediante sufrgio, voto, plebiscito, referendo

    e iniciativa popular.

    Art. 2 So Poderes da Unio, independentes e harmnicos entre si, o

    Legislativo, o Executivo e o Judicirio.

    A soberania, em verdade, una. Logo, no correto falar-se em Poderes, mas em funes. O poder no se divide, apenas o seu exerccio repartido. Da

    aludir-se corretamente ao postulado da Tripartio das Funes. No entanto,

    quando escrita no texto constitucional com P maisculo, a palavra Poder assumir o significado de rgo. Dessa forma, so rgos da Unio,

    independentes e harmnicos entre si, o Legislativo, o Executivo e o Judicirio.

    A tripartio das funes, tal como teorizada por Montesquieu (Teoria dos Freios e Contrapesos), est ultrapassada. No existe mais uma rgida separao entre as atribuies que antes eram distribudas de forma pura. Hoje, pode-se falar

    em funes tpicas e atpicas.

    A independncia entre os Poderes consagra implicitamente o sistema

    presidencialista, eis que, no sistema parlamentarista, h uma interdependncia

    entre eles. a maioria do parlamento que escolhe o chefe de governo, que, por

    sua vez, pode dissolver esse mesmo parlamento que o escolheu. Logo, no sistema

    parlamentarista, ambos so dependentes.

  • Direito Constitucional

    Agora eu Passo 8

    Art. 3 Constituem objetivos fundamentais da Repblica Federativa do Brasil:

    Os objetivos da repblica so normas programticas, isto , normas que

    encerram um programa de governo a ser cumprido. Para se concretizarem,

    dependem de atividade meta-jurdica, na medida em que no suficiente a sua

    regulamentao pelo legislador, sendo imprescindveis providncias

    administrativas para a sua implementao.

    I - construir uma sociedade livre, justa e solidria;

    II - garantir o desenvolvimento nacional;

    III - erradicar a pobreza e a marginalizao e reduzir as desigualdades sociais e

    regionais;

    A marginalizao o ato de marginalizar. V-se que o constituinte buscou

    erradicar a causa (marginalizao) e no a conseqncia (marginalidade).

    objetivo da Repblica to somente reduzir, ao invs de aniquilar, as desigualdades

    sociais. Isto porque tais desigualdades sempre existiro em maior ou menor grau.

    Imaginar a sua ausncia absoluta seria utpico. Objetiva-se, ento, reduzi-las para

    patamares mnimos, razoveis.

    IV - promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raa, sexo, cor,

    idade e quaisquer outras formas de discriminao.

    Percebe-se, j aqui, uma ntida referncia isonomia, um dos princpios mais

    reforados ao longo do texto constitucional. No se deve realizar uma

    interpretao literal do dispositivo, pois h determinadas discriminaes aceitas

    constitucionalmente, como, por exemplo, as chamadas aes afirmativas.

    Discriminar to-somente tratar de forma diferenciada, nem toda discriminao

    negativa ou reprovvel.

    O STF, em uma interpretao sistemtica do art. 3, IV c/c Art.1, III, entendeu

    que a unio estvel admite, inclusive, a modalidade homossexual, valendo-se da

    expresso homoafetividade. Segundo o Excelso Pretrio, tais unies so qualificadas como entidade familiar (famlia), luz do direito fundamental implcito

    da busca da felicidade (ADPF 132/RJ 05/05/2011).

    Art. 4 A Repblica Federativa do Brasil rege-se nas suas relaes internacionais

    pelos seguintes princpios:

    Os princpios apresentados ao diante formam um declogo que norteia a

    Repblica Federativa do Brasil no plano internacional.

    I - independncia nacional;

  • Direito Constitucional

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    A independncia nacional decorre diretamente de nossa soberania externa,

    atributo que nos permite atuar no plano internacional de modo a no acatar

    intromisses indesejadas nas decises polticas de nosso pas.

    II - prevalncia dos direitos humanos;

    III - autodeterminao dos povos;

    IV - no-interveno;

    Por respeitar a auto-determinao dos povos, nosso pas no intervm em

    outros Estados, diferentemente do que os Estados Unidos fizeram no Afeganisto e

    no Iraque. O Brasil no poder declarar guerras de conquista ou ingressar nos

    combates de retaliao. Segundo o Art. 84, XIX compete ao Presidente da

    Repblica declarar guerra em caso de agresso estrangeira. Assim, inexistindo tal

    agresso, no h que se falar em guerras.

    V - igualdade entre os Estados;

    No porque um Estado menos poderoso que no ter o mesmo prestgio

    que outras naes junto comunidade internacional. Todos devem ser

    igualmente ouvidos e respeitados. A ONU, no entanto, privilegia os pases que

    compem o seu Conselho de Segurana, situao que evidentemente no

    defendida pelo Brasil.

    VI - defesa da paz;

    Nosso pas vocacionado para a paz, tanto que assinamos o Tratado de No-

    proliferao de Armas Nucleares, onde ficou acordado que toda a produo

    brasileira de energia nuclear poder ser inspecionada duas vezes por ano, sendo

    uma das fiscalizaes com prvio aviso e outra de surpresa.

    VII - soluo pacfica dos conflitos;

    Justamente por primar pela soluo pacfica dos conflitos, as tropas brasileiras

    enviadas ao Haiti foram tropas de paz, ou seja, para restaurar a ordem, e sob a

    superviso da ONU. Esta tem poder de ingerncia internacional e enviou soldados

    a pedido dos prprios haitianos. A soluo pacfica dos conflitos deve ser tida

    como regra, mas no impede a adoo de uma excepcional providncia blica

    no plano internacional, desde que para assegurar a prpria independncia

    nacional.

    VIII - repdio ao terrorismo e ao racismo;

    IX - cooperao entre os povos para o progresso da humanidade;

    X - concesso de asilo poltico.

  • Direito Constitucional

    Agora eu Passo 10

    Pargrafo nico. A Repblica Federativa do Brasil buscar a integrao

    econmica, poltica, social e cultural dos povos da Amrica Latina, visando

    formao de uma comunidade latino-americana de naes.

    DIREITOS FUNDAMENTAIS

    Conceito:

    Os direitos fundamentais, na sua essncia, no se diferem dos direitos

    humanos. Ambos visam a atribuir uma digna existncia ao ser humano, como, por

    exemplo, os direitos sade, vida, liberdade, igualdade, moradia, previdncia,

    propriedade, segurana e tantos outros. A distino no ontolgica, vale dizer,

    de contedo. Diferenciam-se no mbito em que se encontram, pois direitos

    fundamentais esto no plano interno (constituies), enquanto direitos humanos

    localizam-se no plano externo (tratados internacionais).

    Assim, o constituinte livre para, em um determinado universo de direitos

    humanos, eleger aqueles que vo compor o elenco de direitos fundamentais da

    Constituio que vier a elaborar. Em suma: direitos fundamentais so direitos

    humanos que foram constitucionalizados por um Estado, isto , reconhecidos pela

    sua ordem constitucional.

    Caractersticas:

    Justamente por ostentarem caractersticas prprias, ganharam uma categoria

    especfica. Diferentemente da maioria dos demais direitos, os direitos

    fundamentais so imprescritveis, inalienveis, irrenunciveis, indisponveis,

    histricos, no-taxativos e relativos.

    Prescrio um instituto que pune o titular do direito pela sua inrcia,

    atingindo a sua pretenso de exerc-lo. Em outras palavras, pune-se o indivduo

    pelo seu desleixo, pois o Direito no socorre os que dormem. exatamente por

    isso que no se pode cobrar uma dvida eternamente, afinal, a mora do credor

    pode faz-lo perder a oportunidade de efetuar a cobrana judicial. Isso presta

    obsquio segurana jurdica, eis que as relaes sociais no podem ficar

  • Direito Constitucional

    Agora eu Passo 11

    eternamente sujeitas a incertezas. Direitos fundamentais so imprescritveis, vale

    dizer, no desaparecem com o decurso do tempo.

    A inalienabilidade, por sua vez, significa impossibilidade de transferncia, seja

    a ttulo gratuito (doao) ou oneroso (venda). Tais direitos no podem ser

    transferidos, exceto os direitos autorais, que so transmissveis aos herdeiros pelo

    tempo que a lei fixar.

    Outra peculiaridade dos direitos fundamentais a irrenunciabilidade, na

    medida em que no podem sofrer abdicao por parte de seu titular. No mximo,

    podem no ser exercidos, mas nunca se pode renunciar a eles. Isso converte a

    eutansia em homicdio, por exemplo, pois a ningum dado abreviar a vida de

    outrem, mesmo que a vtima consinta. Tal consentimento irrelevante para o

    Direito, porquanto traduz uma abdicao ao prprio direito de viver, que

    irrenuncivel.

    Por fora da inalienabilidade e irrenunciabilidade, conclui-se que os direitos

    fundamentais esto fora do mbito de disposio de seus titulares, isto , no

    esto disponveis. Isso significa indisponibilidade: no se pode dispor (fazer deles o

    que se deseja).

    A historicidade revela que os direitos do Homem so fruto de uma poca. A

    Constituio fotografa os valores de uma sociedade, em um dado momento no

    curso da Histria. Assim, diretos fundamentais ao patrimnio gentico do indivduo

    no surgiriam no incio do Sculo XX, pois a sociedade estava aqum das

    descobertas cientficas. A depender do momento histrico, os direitos

    fundamentais podem existir ou no.

    A no-taxatividade indica que os direitos sobreditos no esto previstos em

    um rol exaustivo, ou seja, taxativo (numerus clausus). Pelo contrrio, foram

    insculpidos em um rol exemplificativo, pios no se esgotam no art. 5 e nem mesmo

    na Constituio Federal.

    Por derradeiro, a relatividade demonstra que os direitos tidos como

    fundamentais no so absolutos, isto , podem ser flexibilizados por excees. O

    direito vida, por exemplo, atenuado pela possibilidade de pena de morte em

    caso de guerra declarada, de abortamento sentimental ou teraputico, de

    legtima defesa etc.

  • Direito Constitucional

    Agora eu Passo 12

    Coliso:

    possvel que ocorra uma coliso entre direitos fundamentais, como, por

    exemplo, quando uma testemunha de Jeov se recusa a sofrer a transfuso de

    sangue em razo de sua convico religiosa. Neste caso, o direito vida pode

    colidir com a inviolabilidade de crena. O mesmo fenmeno ocorre quando um

    cinegrafista amador escala uma rvore e fotografa uma celebridade

    amamentando seu filho recm-nascido no jardim de sua casa. O ltimo exemplo

    revela um choque entre a liberdade de imprensa, com a conseqente vedao

    censura, e os direitos intimidade e imagem.

    Nunca se poder afirmar, a priori, qual direito fundamental dever

    prevalecer, porquanto inexiste hierarquia entre eles. Hipoteticamente, esto todos

    no mesmo patamar. Apenas no caso concreto ser possvel avaliar qual foi

    exercido de forma abusiva, devendo ceder em face do outro, luz do princpio

    da razoabilidade ou proporcionalidade. Este ser usado pelo aplicador da lei, que

    realizar um sopesamento, um juzo de ponderao acerca do conflito em

    questo. Destarte, em outra situao, possvel que o direito fundamental outrora

    afastado triunfe sobre o mesmo que o afastou. Em suma: tudo depender do caso

    concreto, no dos direitos em jogo, que podem ser aplicados ou no, a depender

    da situao.

    TTULO II

    Dos Direitos e Garantias Fundamentais

    CAPTULO I

    DOS DIREITOS E DEVERES INDIVIDUAIS E COLETIVOS

    Art. 5 Todos so iguais perante a lei, sem distino de qualquer natureza,

    garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no Pas a inviolabilidade

    do direito vida, liberdade, igualdade, segurana e propriedade, nos

    termos seguintes:

    Embora no contemplados expressamente pelo dispositivo, luz do princpio

    da dignidade da pessoa humana, at mesmo os estrangeiros no residentes no

    Pas desfrutaro da garantia da inviolabilidade do direito vida, liberdade,

    igualdade, segurana e propriedade.

    No que tange vida, no se trata de um direito absoluto, embora se

    reconhea que verdadeira condio de desfrute dos demais direitos. No Brasil,

  • Direito Constitucional

    Agora eu Passo 13

    possvel tirar a vida de outrem licitamente, a exemplo da legtima defesa, do

    estado de necessidade, da pena de morte em caso de guerra, do abortamento

    sentimental, teraputico ou de fetos com anencefalia. Urge salientar que o

    plenrio do STF admitiu o abortamento de fetos anenceflicos, asseverando que

    essa conduta no foi criminalizada pelo Cdigo Penal (ADPF 54).

    I - homens e mulheres so iguais em direitos e obrigaes, nos termos desta

    Constituio;

    O princpio da isonomia ou igualdade foi consagrado repetidamente na

    Constituio. Nas palavras de Rui Barbosa, a igualdade consiste em tratar

    igualmente os iguais de desigualmente os desiguais, na medida em que se

    desigualam. Portanto, tal princpio no veda discriminaes, mas impe um critrio

    razovel para tal. Foi o que o STF consolidou na Smula 683: O limite de idade

    para a inscrio em concursos pblicos s se legitima em face do Art. 7, XXX, da

    Constituio, quando possa ser justificado pela natureza das atribuies do cargo

    a ser preenchido.

    Alis, em se tratando de restries impostas aos candidatos de concursos

    pblicos, a previso dever ser encontrada na lei, no somente no edital.

    Exigncias referentes altura mnima, idade ou sexo excepcionam a igualdade e,

    por conseguinte, devem ser razoveis e ter matriz legal (STF - RE 400754 AgR / RO).

    Outro exemplo de discriminaes lcitas so as chamadas aes afirmativas,

    isto , polticas pblicas que visam incluso de minorias, como, por exemplo,

    vagas em universidades para hipossuficientes.

    Tais discriminaes podem ser estabelecidas pela prpria Constituio, quer

    se trate do constituinte originrio ou reformador, bem como pelo legislador

    infraconstitucional. A Carta Magna discriminou ambos, por exemplo, ao

    estabelecer um tempo mais brando para a aposentadoria da mulher, ao fixar o

    servio militar obrigatrio unicamente para homens, ao determinar que o

    legislador crie incentivos especficos para a incluso feminina no mercado de

    trabalho etc. A lei tambm trouxe diferenciaes no que tange punio da

    violncia domstica (Maria da Penha) e tantas outras.

    No campo do funcionalismo pblico, o STF editou a smula 339: No cabe

    ao Judicirio, que no tem funo legislativa, aumentar vencimentos de servidores

    pblicos sob fundamento de isonomia..

    Cumpre mencionar que este dispositivo acarretou vrias mudanas no direito

    de famlia, ao no recepcionar expresses contidas na legislao

    infraconstitucional, dentre outras, a do ptrio poder, que foi posteriormente substituda por poder familiar. Isto porque o poder exercido sobre os filhos no se resume figura paterna, estendendo-se me.

  • Direito Constitucional

    Agora eu Passo 14

    Por fim, a doutrina costuma distinguir isonomia formal de isonomia material.

    Enquanto a primeira representa tratamento isonmico atribudo pelo legislador e

    aplicador da lei, a segunda significa igualdade real ou ftica, vale dizer, atuaes

    positivas do Estado que distribuam, de maneira equnime, sade, educao,

    moradia, etc.

    II - ningum ser obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa seno em

    virtude de lei;

    Cuida-se do princpio da legalidade, viga mestra de um Estado Democrtico

    de Direito. A lei, como expresso da soberania popular, o nico meio legtimo de

    se delimitar a esfera individual dos cidados. Somente estes decidem, ainda que

    por representantes, sobre os limites de sua prpria liberdade.

    Lei deve ser entendida em sentido amplo, ou seja, todas as espcies

    normativas primrias elencadas no Art. 59: emenda Constituio (que no

    espcie normativa primria, mas pode criar obrigaes), lei complementar,

    ordinria, delegada, medida provisria, decreto-legislativo e resoluo. Princpio

    da legalidade no se confunde com princpio da reserva legal, que significa que

    determinada matria foi reservada para ser disciplinada, em regra, pela lei

    ordinria ou, excepcionalmente, pela lei complementar.

    A legalidade para os particulares (Art. 5, II) no a mesma legalidade para a

    Administrao (Art. 37, caput). Enquanto ao particular lcito fazer tudo aquilo

    que no for proibido por lei (princpio da no-contradio), a Administrao

    Pblica s poder agir se existir lei autorizadora ou impositora (princpio da

    subordinao lei).

    III - ningum ser submetido tortura nem a tratamento desumano ou degradante;

    A Lei n. 9.455/97 conceitua o delito de tortura como constranger algum com o emprego de violncia ou grave ameaa, causando-lhe sofrimento fsico ou

    mental.

    Ao proteger o direito vida, o constituinte no se referia mera existncia, ao

    simples fato de estar vivo ou sobrevivendo, mas sim a uma vida digna. Logo, a

    prtica de tortura recebeu tratamento constitucional severo, na medida em que

    tal delito foi considerado como inafianvel, ou seja, que no admite liberdade

    provisria, bem como insuscetvel de graa ou anistia.

    Embora no se admita mais a anistia, no se deve olvidar que foram

    respeitadas aquelas que operaram efeitos no passado. O STF pronunciou-se pela

    recepo da Lei da Anistia, ou seja, torturadores do regime militar foram

    legitimamente anistiados, o que no poder mais acontecer doravante.

    Consoante a Suprema Corte, "A chamada Lei da anistia veicula uma deciso

    poltica assumida naquele momento o momento da transio conciliada de 1979. A Lei 6.683 uma lei-medida, no uma regra para o futuro, dotada de

  • Direito Constitucional

    Agora eu Passo 15

    abstrao e generalidade. H de ser interpretada a partir da realidade no

    momento em que foi conquistada. (...); e o preceito veiculado pelo art. 5, XLIII, da

    Constituio que declara insuscetveis de graa e anistia a prtica da tortura, entre outros crimes no alcana, por impossibilidade lgica, anistias anteriormente a sua vigncia consumadas. A Constituio no afeta leis-medida

    que a tenham precedido." (ADPF 153, Rel. Min. Eros Grau, julgamento em 29-4-

    2010, Plenrio, DJE de 6-8-2010.)

    IV - livre a manifestao do pensamento, sendo vedado o anonimato;

    Embora seja livre o ato de externar opinies e idias no Brasil, por vezes, tal

    manifestao poder atingir direitos de terceiros, razo pela qual vedado o

    anonimato. Apenas assim ser viabilizada a posterior responsabilizao judicial do

    agressor, afinal, ela seria impossvel se ele estivesse acobertado pelo anonimato,

    mediante pseudnimos, por exemplo.

    Em razo disso, segundo o STF, inquritos policiais no devem ser instaurados se

    embasados unicamente em delaes annimas ou escritos apcrifos. Em outras

    palavras, o servio denominado popularmente de disque-denncia no tem o condo de iniciar investigaes criminais. Por outro lado, a autoridade responsvel

    dever averiguar a veracidade das informaes, de maneira cautelosa.

    Segundo o voto da lavra do Ministro Celso de Mello, Os escritos annimos aos quais no se pode atribuir carter oficial no se qualificam, por isso mesmo, como atos de natureza processual. Disso resulta, pois, a impossibilidade de o

    Estado, tendo por nico fundamento causal a existncia de tais peas apcrifas,

    dar incio, somente com apoio nelas, persecutio criminis, (...) eis que peas

    apcrifas no podem ser incorporadas, formalmente, ao processo, salvo quando

    tais documentos forem produzidos pelo acusado, ou, ainda, quando constiturem,

    eles prprios, o corpo de delito (Inq. n. 1957/PR).

    V - assegurado o direito de resposta, proporcional ao agravo, alm da

    indenizao por dano material, moral ou imagem;

    VI - inviolvel a liberdade de conscincia e de crena, sendo assegurado o

    livre exerccio dos cultos religiosos e garantida, na forma da lei, a proteo aos

    locais de culto e a suas liturgias;

    O Estado brasileiro no ateu, porquanto reconhece a proteo de Deus no

    prembulo de sua Constituio. Por outro lado, trata-se de um Estado Laico ou

    no- confessional, vale dizer, que no adota uma religio como oficial, havendo,

    portanto, um hiato entre a Igreja e o Poder Pblico. Disto decorre a liberdade de

    crena do indivduo, que livre para crer em qualquer credo religioso, sem

    ingerncia estatal em sua ntima convico. No Brasil, todos so livres para

    expressar o agnosticismo ou o atesmo, pois h liberdade para aderir a uma

    religio, migrar para outra ou at mesmo no aderir a nenhuma delas.

  • Direito Constitucional

    Agora eu Passo 16

    Como decorrncia da postura neutra adotada pelo Estado, o ensino religioso

    nas escolas de matrcula facultativa, no podendo ser apto a reprovar o aluno

    que se recuse a freqentar suas aulas. Os feriados religiosos, por sua vez, devem ser

    tidos como datas de cunho comercial e, assim como os crucifixos em reparties

    pblicas, justificam-se por razes histrico-culturais.

    VII - assegurada, nos termos da lei, a prestao de assistncia religiosa nas

    entidades civis e militares de internao coletiva;

    No Brasil, o ser humano tem o direito constitucional de ser assistido por um

    sacerdote, mesmo que cumpra pena em um presdio ou quartel. Em se tratando

    de judeu, protestante, catlico ou umbandista, ser possvel a visita de um rabino,

    pastor, padre ou pai de santo, respectivamente. Veda-se, pois, a

    incomunicabilidade espiritual do preso.

    VIII - ningum ser privado de direitos por motivo de crena religiosa ou de

    convico filosfica ou poltica, salvo se as invocar para eximir-se de obrigao

    legal a todos imposta e recusar-se a cumprir prestao alternativa, fixada em lei;

    Portanto, plenamente possvel que algum se exima de cumprir as suas

    obrigaes eleitorais ou militares (exemplos de obrigaes a todos impostas) por

    questes de foro ntimo. Nenhum direito deixar de ser exercido por essa escusa

    de conscincia, impondo-se, no entanto, que a pessoa cumpra uma prestao

    alternativa. A segunda opo necessariamente deve ser oferecida pelo Poder

    Pblico.

    Se tambm houver uma recusa de cumprir esta ltima, o indivduo perder os

    seus direitos polticos (art. 15, IV, CRFB). Caso o indivduo decida cumprir a

    obrigao devida, reaver sua capacidade eleitoral.

    IX - livre a expresso da atividade intelectual, artstica, cientfica e de

    comunicao, independentemente de censura ou licena;

    X - so inviolveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das

    pessoas, assegurado o direito a indenizao pelo dano material ou moral

    decorrente de sua violao;

    Para Alexandre de Moraes, o conceito de intimidade relaciona-se s relaes subjetivas e de trato ntimo da pessoa humana, suas relaes familiares e de

    amizade, enquanto o conceito de vida privada envolve todos os relacionamentos

    da pessoa, inclusive os objetivos, tais como relaes comerciais, de trabalho, de

    estudo etc..

    Prevalece o entendimento de que pessoas jurdicas possuem honra objetiva, ou

    seja, podem sofrer dano moral. o que preceitua o CC/02, que reconheceu-lhes

    os direitos personalidade compatveis com a sua natureza. No mesmo sentido,

    veja-se a Smula n. 227/STJ: A pessoa jurdica pode sofrer dano moral.

  • Direito Constitucional

    Agora eu Passo 17

    H, no entanto, uma corrente minoritria que afirma a impossibilidade da

    pessoa jurdica sofrer dano moral. Segundo Arruda Alvim, conspurcar a honra de

    uma pessoa jurdica redundaria sempre num prejuzo econmico, portanto,

    patrimonial. Coaduna-se com essa tese o Enunciado n. 286 da IV Jornada de

    Direito Civil.

    XI - a casa asilo inviolvel do indivduo, ningum nela podendo penetrar

    sem consentimento do morador, salvo em caso de flagrante delito ou desastre, ou

    para prestar socorro, ou, durante o dia, por determinao judicial;

    O conceito de casa deve ser tomado em sentido amplo, para alcanar

    qualquer compartimento fechado e no franqueado ao pblico, o que inclui

    escritrios, consultrios, estabelecimentos comerciais, quartos de hotis ocupados

    pelo hspede, garagens, oficinas, alm da prpria residncia.

    Parte da doutrina aponta o dia como perodo compreendido entre 6h s 18h.

    O eminente Ministro Celso de Melo, a seu turno, se vale do critrio fsico-

    astronmico: aurora e o crepsculo. Recomenda-se a posio adotada por

    Alexandre de Moraes, para quem ambos os critrios devem ser levados em

    considerao.

    O ingresso no domiclio, a no ser nas ressalvas constitucionalmente previstas

    (flagrante delito, desastre ou para prestar socorro), matria submetida reserva

    de jurisdio. Isto significa que apenas poder ocorrer por ordem judicial.

    Logo, no se permite que uma CPI (comisso parlamentar de inqurito)

    determine uma busca e apreenso domiciliar. Se o fizer, estar incorrendo em

    inconstitucionalidade, sendo ilcitas todas as provas decorrentes dos objetos e

    documentos apreendidos.

    Tambm a Administrao Fazendria no poder, atravs de seus agentes,

    penetrar nas dependncias de uma empresa sem o consentimento do dono do

    estabelecimento, ainda que a pretexto de fiscalizar. O atributo da auto-

    executoriedade dos atos administrativos no se aplica nessa hiptese (STF HC 79.512/RJ), na medida em que no se dispensa a autorizao judicial, nem mesmo

    para a fiscalizao inerente ao poder de polcia.

    Segundo o STF, possvel a priso do traficante de drogas em sua residncia,

    no perodo noturno, mesmo sem ordem judicial, pois, em se tratando de crime

    permanente, o estado de flagrncia est caracterizado (HC 84.772).

    Urge apontar que o STF reconheceu excepcionalmente a possibilidade de

    ingresso no domiclio, sem o consentimento do morador, para se cumprir ordem

    judicial noite. Trata-se da instalao de equipamentos de escuta ambiental ou

    captao acstica em escritrios vazios, com o desiderato de investig-los

    (Inq.2424).

  • Direito Constitucional

    Agora eu Passo 18

    XII - inviolvel o sigilo da correspondncia e das comunicaes

    telegrficas, de dados e das comunicaes telefnicas, salvo, no ltimo caso, por

    ordem judicial, nas hipteses e na forma que a lei estabelecer para fins de

    investigao criminal ou instruo processual penal;

    A interpretao literal do dispositivo conduz idia de que apenas o sigilo das

    comunicaes telefnicas pode ser quebrado, mediante ordem judicial, desde

    que para fins investigatrios criminais (inqurito) ou instrues processuais penais

    (produo de provas em processo criminal).

    Sucede que o Supremo Tribunal Federal tem flexibilizado esse dispositivo, ao

    argumento de que nenhum direito absoluto, sobretudo quando os direitos

    fundamentais so utilizados como um escudo protetivo para salvaguardar prticas

    ilcitas. Em situaes como essa, o sigilo de epistolar (de correpondncia) pode ser

    quebrado, como, por exemplo, quando o diretor de uma penitenciria abre a

    correspondncia de um preso (HC 70814) e confirma a suspeita acerca de um

    plano de fuga. O mesmo vale para a inviolabilidade da comunicao telegrfica,

    bem como da comunicao de dados, expresso que abrange o sigilo fiscal e o

    sigilo bancrio.

    As Comisses Parlamentares de Inqurito, por estarem investidas de poderes

    investigativos, podem determinar a quebra do sigilo bancrio, fiscal e telefnico

    (registros telefnicos, o que no se confunde com a interceptao telefnica),

    independentemente de autorizao judicial (STF - MS 23 3452).

    de se ressaltar que, nas hipteses de decretao de estado de defesa e

    estado de stio, o sigilo de correspondncia e das comunicaes telegrficas e

    telefnicas pode ser restringido (art. 136 1, I, b, c e art. 139, III).

    Impende destacar que interceptaes podem ser utilizadas em processos

    administrativos como prova emprestada de processos ou procedimentos criminais.

    Consoante asseverou o STF, dados obtidos em interceptao de comunicaes telefnicas e em escutas ambientais, judicialmente autorizadas para produo de

    prova em investigao criminal ou em instruo processual penal, podem ser

    usados em procedimento administrativo disciplinar, contra a mesma ou as mesmas

    pessoas em relao s quais foram colhidos, ou contra outros servidores cujos

    supostos ilcitos teriam despontado colheita dessa prova. (Inq 2.424-QO-QO, Rel. Min. Cezar Peluso, julgamento em 20-6-07, Plenrio, DJ de 24-8-07)..

    XIII - livre o exerccio de qualquer trabalho, ofcio ou profisso, atendidas as

    qualificaes profissionais que a lei estabelecer;

    Cuida-se de tpica norma de eficcia contida, ou seja, que j produz seus

    efeitos plenamente desde o incio, podendo, todavia, ser posteriormente

    restringida a sua eficcia (segundo o STF, desde que o ncleo essencial do direito

    nela previsto seja preservado). Enquanto no surgir a lei regulamentadora, ser

    livre o exerccio de qualquer trabalho ou profisso. A lei regulamentadora, no

  • Direito Constitucional

    Agora eu Passo 19

    obstante, deve revestir-se de carter proporcional. O legislador, ao restringir a

    liberdade profissional, deve faz-lo se for necessrio, de maneira adequada e que

    implique o menor sacrifcio possvel liberdade do indivduo. Uma limitao

    desarrazoada ser inconstitucional.

    No entendimento do Supremo Tribunal Federal, a exigncia de diploma para

    jornalista (no julgamento do RE 511.961, declarou como no recepcionado pela

    Constituio de 1988 o art. 4, V, do Decreto-Lei 972/1969). O mesmo foi entendido

    relativamente exigncia de inscrio na Ordem dos Msicos para artistas, luz

    da liberdade de manifestao artstica (RE 414.426, Rel. Min. Ellen Gracie,

    Plenrio, DJE de 10-10-2011). Os controles exercidos sobre as aludidas atividades

    foram tidos por ilegtimos. Por outro lado, considerou-se constitucional o exame de

    ordem para bacharis em Direito, como condio para o exerccio da advocacia

    (RE 603.583, Rel. Min. Marco Aurlio, julgamento em 26-10-2011, Plenrio, com

    repercusso geral.). Assim, tudo depender da razoabilidade da restrio

    normativa, afinal, a regra a liberdade.

    XIV - assegurado a todos o acesso informao e resguardado o sigilo da

    fonte, quando necessrio ao exerccio profissional;

    XV - livre a locomoo no territrio nacional em tempo de paz, podendo

    qualquer pessoa, nos termos da lei, nele entrar, permanecer ou dele sair com seus

    bens;

    XVI - todos podem reunir-se pacificamente, sem armas, em locais abertos ao

    pblico, independentemente de autorizao, desde que no frustrem outra

    reunio anteriormente convocada para o mesmo local, sendo apenas exigido

    prvio aviso autoridade competente;

    So manifestaes do direito de reunir-se as passeatas, os comcios, os desfiles,

    as procisses etc. suficiente a mera comunicao autoridade competente,

    no se exigindo uma autorizao para tal.

    O direito de reunio, contudo, vai muito alm da mera aglomerao de

    pessoas. Mais do que isso, traz consigo o insuprimvel direito de protesto e de

    manifestao do pensamento. Por essa razo, segundo o STF, qualquer norma que

    vede o uso de carros e aparelhos sonoros em manifestaes populares no pode

    ser vista como uma limitao razovel ao direito de reunio, pois reduz o seu

    exerccio de modo a frustrar o seu propsito, tornando-a emudecida (ADIn 1969-4).

    Considerando que nenhum direito fundamental absoluto, seria razovel a

    restrio de reunio com carros e aparelhos sonoros em regies prximas a

    hospitais, resguardando-se, nesse caso, o direito dos pacientes tranqilidade e

    ao repouso.

    XVII - plena a liberdade de associao para fins lcitos, vedada a de carter

    paramilitar;

  • Direito Constitucional

    Agora eu Passo 20

    A associao uma pessoa jurdica de direito privado que, ao contrrio das

    sociedades, no possui fins lucrativos. Suas finalidades so essencialmente

    culturais, desportivas, recreativas etc. Diferenciam-se das fundaes porque no

    so uma universalidade de bens.

    No se pode criar associaes paramilitares, ou seja, verdadeiras milcias, sob

    pena de afrontar-se a segurana pblica.

    Consoante a doutrina, o direito de associao um direito individual de

    expresso coletiva, na medida em que, ao ser exercido individualmente por cada

    titular, exterioriza-se em uma coletividade.

    XVIII - a criao de associaes e, na forma da lei, a de cooperativas

    independem de autorizao, sendo vedada a interferncia estatal em seu

    funcionamento;

    XIX - as associaes s podero ser compulsoriamente dissolvidas ou ter suas

    atividades suspensas por deciso judicial, exigindo-se, no primeiro caso, o trnsito

    em julgado;

    Exige-se deciso judicial irrecorrvel apenas para a dissoluo de uma

    associao. Logo, suas atividades podero ser suspensas por decises

    interlocutrias, ou seja, proferidas no curso do processo, bem como decises de

    mrito recorrveis. As medidas de urgncia, como, por exemplo, liminares,

    antecipaes de tutela ou cautelares, so aptas, portanto, a suspender as

    atividades de uma associao.

    XX - ningum poder ser compelido a associar-se ou a permanecer

    associado;

    Consagra-se, neste dispositivo, o que a doutrina denomina de liberdade

    positiva e negativa de associao. A primeira significa que o indivduo livre para

    associar-se, enquanto a segunda preconiza que todos so livres para retirar-se de

    uma associao.

    XXI - as entidades associativas, quando expressamente autorizadas, tm

    legitimidade para representar seus filiados judicial ou extrajudicialmente;

    As associaes podem representar seus filiados em processos que tramitam no

    Judicirio ou mesmo perante a Administrao Pblica. Tal fenmeno

    denominado representao processual, ou seja, ela atua em nome dos

    representados, defendendo direito alheio. Logo, depende de autorizao desses

    filiados, embora, segundo o STF, possa estar prevista de maneira genrica no

    estatuto social.

    O STF aponta uma exceo necessidade de autorizao, quando se tratar

    de mandado de segurana coletivo, conforme se vislumbra na Smula 629 "A

  • Direito Constitucional

    Agora eu Passo 21

    impetrao de mandado de segurana coletivo por entidade de classe em favor

    dos associados independe da autorizao destes.".

    XXII - garantido o direito de propriedade;

    XXIII - a propriedade atender a sua funo social;

    XXIV - a lei estabelecer o procedimento para desapropriao por

    necessidade ou utilidade pblica, ou por interesse social, mediante justa e prvia

    indenizao em dinheiro, ressalvados os casos previstos nesta Constituio;

    A regra a expropriao ser precedida de indenizao justa e em dinheiro. No

    entanto, em se cuidando de desapropriao por interesse social, para fins de

    reforma agrria (INCRA), o desapropriado ser ressarcido em ttulos da dvida

    agrria. Apenas as benfeitorias teis e necessrias sero pagas em dinheiro. O

    Municpio, por sua vez, indenizar em ttulos da dvida pblica o proprietrio de

    imvel urbano que no promova o seu uso adequado, mesmo aps o aumento

    progressivo da alquota do IPTU. Em ambos os casos, os ttulos so de prvia

    emisso aprovada pelo Senado.

    lcito o confisco de terras onde h cultura de plantas psicotrpicas, que sero

    destinadas ao assentamento de colonos para cultivo de gneros alimentcios e

    medicamentosos (art. 243, pargrafo nico). Neste caso, no h contraprestao

    pecuniria.

    XXV - no caso de iminente perigo pblico, a autoridade competente poder

    usar de propriedade particular, assegurada ao proprietrio indenizao ulterior, se

    houver dano;

    XXVI - a pequena propriedade rural, assim definida em lei, desde que

    trabalhada pela famlia, no ser objeto de penhora para pagamento de dbitos

    decorrentes de sua atividade produtiva, dispondo a lei sobre os meios de financiar

    o seu desenvolvimento;

    XXVII - aos autores pertence o direito exclusivo de utilizao, publicao ou

    reproduo de suas obras, transmissvel aos herdeiros pelo tempo que a lei fixar;

    Smula 386 do STF: Pela execuo de obra musical por artistas remunerados

    devido direito autoral, no exigvel quando a orquestra for de amadores.

    XXVIII - so assegurados, nos termos da lei:

    a) a proteo s participaes individuais em obras coletivas e reproduo

    da imagem e voz humanas, inclusive nas atividades desportivas;

  • Direito Constitucional

    Agora eu Passo 22

    b) o direito de fiscalizao do aproveitamento econmico das obras que

    criarem ou de que participarem aos criadores, aos intrpretes e s respectivas

    representaes sindicais e associativas;

    XXIX - a lei assegurar aos autores de inventos industriais privilgio temporrio

    para sua utilizao, bem como proteo s criaes industriais, propriedade das

    marcas, aos nomes de empresas e a outros signos distintivos, tendo em vista o

    interesse social e o desenvolvimento tecnolgico e econmico do Pas;

    XXX - garantido o direito de herana;

    XXXI - a sucesso de bens de estrangeiros situados no Pas ser regulada pela

    lei brasileira em benefcio do cnjuge ou dos filhos brasileiros, sempre que no lhes

    seja mais favorvel a lei pessoal do "de cujus";

    XXXII - o Estado promover, na forma da lei, a defesa do consumidor;

    XXXIII - todos tm direito a receber dos rgos pblicos informaes de seu

    interesse particular, ou de interesse coletivo ou geral, que sero prestadas no

    prazo da lei, sob pena de responsabilidade, ressalvadas aquelas cujo sigilo seja

    imprescindvel segurana da sociedade e do Estado;

    XXXIV - so a todos assegurados, independentemente do pagamento de

    taxas:

    a) o direito de petio aos Poderes Pblicos em defesa de direitos ou contra

    ilegalidade ou abuso de poder;

    b) a obteno de certides em reparties pblicas, para defesa de direitos e

    esclarecimento de situaes de interesse pessoal;

    XXXV - a lei no excluir da apreciao do Poder Judicirio leso ou ameaa

    a direito;

    Versa o dispositivo constitucional acerca do princpio da inafastabilidade da

    jurisdio. Por fora desse princpio, qualquer leso (tutela repressiva) ou ameaa

    de leso a direito (tutela preventiva) no poder ser furtada da apreciao do

    Poder Judicirio. Isso justifica que clusulas, contidas em contratos de adeso, na

    qual o aderente se compromete a no discutir judicialmente determinada

    escolha, so nulas de pleno direito. Isso porque a inafastabilidade da jurisdio,

    como direito fundamental por excelncia, irrenuncivel.

    Ningum obrigado a esgotar as instncias administrativas para buscar

    guarida no Judicirio. Excees podem ser apontadas, dentre elas, a Justia

    Desportiva (art. 217, 1, porque o constituinte originrio pode excepcionar a si

    mesmo) e o habeas data (pela demonstrao do interesse de agir). Neste sentido

  • Direito Constitucional

    Agora eu Passo 23

    foi editada a smula n. 2 do STJ: No cabe o habeas data (CF, art. 5., LXXII, letra "a") se no houve recusa de informaes por parte da autoridade administrativa.

    A Constituio aponta ainda a impossibilidade de o Judicirio apreciar o

    habeas corpus em punies disciplinares, a no ser quanto a formalidades, nunca

    quanto ao mrito. Tambm no podero ser analisadas por rgo jurisdicional as

    lides em que houve clusula ou compromisso arbitral, o mrito dos atos

    administrativos discricionrios, as normas regimentais das Casas Legislativas e suas

    deliberaes interna corporis, bem como os chamados atos polticos. Estes ltimos

    seriam uma quarta categoria de ato, uma vez que no so legislativos, nem

    judiciais, tampouco administrativos. Exemplo de ato poltico o veto presidencial

    ao projeto de lei, que insuscetvel de apreciao judicial.

    Smula 667 do STF: Viola a garantia constitucional de acesso jurisdio a taxa

    judiciria calculada sem limite sobre o valor da causa.

    XXXVI - a lei no prejudicar o direito adquirido, o ato jurdico perfeito e a

    coisa julgada;

    O direito adquirido aquele que pode ser exercido imediatamente pelo seu

    titular, se lhe aprouver, pois j se incorporou ao seu patrimnio ou sua

    personalidade, vale dizer, todas as condies para a sua obteno j foram

    alcanadas.

    Segundo o Art. 6, 1, da LICC, reputa-se ato jurdico perfeito o j consumado segundo a lei vigente ao tempo em que se efetuou.. Representa um adicional idia de direito adquirido, pois consiste no seu exerccio e conseqente

    materializao.

    A coisa julgada (res judicata) a deciso judicial de que j no caiba recurso (Art.6, 3, LICC). Aps o trnsito em julgado de uma deciso, seu teor s poder ser modificado por meio de uma ao rescisria.

    Smula 239 do STF: Deciso que declara indevida a cobrana do imposto em

    determinado exerccio no faz coisa julgada em relao aos posteriores.

    Smula 343 do STF: No cabe ao rescisria por ofensa a literal disposio de lei,

    quando a deciso rescindenda se tiver baseado em texto legal de interpretao

    controvertida nos tribunais.

    Smula 684 do STF: A garantia da irretroatividade da lei, prevista no art. 5, XXXVI,

    da Constituio da Repblica, no invocvel pela entidade estatal que a tenha

    editado..

    XXXVII - no haver juzo ou tribunal de exceo;

  • Direito Constitucional

    Agora eu Passo 24

    Consagrou-se o princpio do juiz natural que aquele constitucionalmente

    competente para o julgamento de uma causa. Impe-se a anterioridade desse

    juzo, ou seja, deve existir e ter competncia para tal de maneira prvia. No se

    admite, portanto, o juiz ad hoc (constitudo para aquele caso especfico), a

    exemplo do Tribunal de Nuremberg, criado para julgar os nazistas aps a Segunda

    Guerra Mundial.

    XXXVIII - reconhecida a instituio do jri, com a organizao que lhe der a

    lei, assegurados:

    a) a plenitude de defesa;

    Imprescindvel no Tribunal do Jri, pois, diferentemente dos demais rgos

    judicantes, a deciso proferida pelos jurados no motivada, mas baseada em

    suas ntimas convices.

    b) o sigilo das votaes;

    b) a soberania dos veredictos;

    A soberania do veredicto do jri no exclui a recorribilidade de suas decises (STF HC 71617-2). Pode ser interposto o recurso de apelao (art. 593, CPP), desde que para adequar a deciso do Juiz-presidente quela proferida pelos

    jurados, corrigir erros deste magistrado ou para que haja um novo julgamento pelo

    Jri. O apelo, portanto, no visa substituio do mrito do veredicto.

    Todavia, essa soberania no obstaculiza o ajuizamento da ao de reviso

    criminal que, se julgado procedente o seu pedido, poder absolver o ru. (art. 621,

    CPP).

    d) a competncia para o julgamento dos crimes dolosos contra a vida;

    A competncia do Tribunal do Jri para o julgamento de crimes dolosos contra

    a vida abrange os delitos de homicdio, infanticdio, aborto e instigao,

    induzimento ou auxlio ao suicdio. Tal competncia no pode ser suprimida, no

    entanto, outras podem ser-lhe atribudas por lei ordinria. H que se observar que

    o crime de latrocnio no ser julgado pelo Tribunal do Jri, pois se trata de um

    crime contra o patrimnio. Neste sentido foi editada a Smula n. 603 do STF: a

    competncia para o processo e julgamento de latrocnio do juiz singular e no

    do tribunal do jri.

    Em relao aos crimes dolosos contra a vida, praticados por agentes

    detentores de foro por prerrogativa de funo (membros do Judicirio, do

    Ministrio Pblico e do Tribunal de Contas, deputados federais, senadores,

    presidente da repblica, comandantes das foras armadas, chefes de misses

    diplomticas, governadores, deputados estaduais, prefeitos), fica afastada a

    competncia do Tribunal do Jri. Prevalece a norma especfica, portanto, a do

  • Direito Constitucional

    Agora eu Passo 25

    foro especial (STF AP 333). Tal raciocnio s vale entre normas da Constituio da Repblica.

    As constituies estaduais no podem derrogar a competncia do Tribunal do

    Jri, excepcionando-a em seus textos, ao atribuir foro por prerrogativa de funo a

    autoridades no contempladas por essa prerrogativa na Carta Federal. Isso

    equivale a aceitar que o constituinte decorrente contradiga o constituinte

    originrio. Eis o teor da Smula 721 do STF: A competncia constitucional do

    Tribunal do Jri prevalece sobre o foro por prerrogativa de funo estabelecido

    exclusivamente pela Constituio estadual. Portanto, se um vereador praticar crime de infanticdio, ser julgado pelo Jri, ainda que seu estado tenha atribudo-

    lhe o foro especial, pois tal prerrogativa estaria prevista unicamente na

    Constituio estadual.

    XXXIX - no h crime sem lei anterior que o defina, nem pena sem prvia

    cominao legal;

    A um s tempo, garantiu-se que crimes e penas sejam previstos em lei (princpio

    da reserva legal) e tal norma deve ser anterior conduta (princpio da

    anterioridade).

    Omitiram-se as contravenes penais e as medidas de segurana. No entanto,

    prevalece o entendimento no sentido de que, quando o constituinte disse crime, quis dizer infraes penais (gnero que abrange as contravenes); quando mencionou penas, desejava dizer sanes penais (gnero que alberga as medidas de segurana). Trata-se de pacfica interpretao garantista.

    Por fora desse princpio, a lei deve ser: ANTERIOR (aos fatos que busca

    incriminar obs.: a retroatividade benfica possvel), ESCRITA (probe o costume

    incriminador. obs.: o costume interpretativo possvel), ESTRITA (probe a analogia

    incriminadora. obs.: possvel analogia em benefcio do ru), CERTA (de fcil

    entendimento) e NECESSRIA (princpio da interveno mnima).

    XL - a lei penal no retroagir, salvo para beneficiar o ru;

    Extra-atividade gnero que compreende duas espcies: a retroatividade e a

    ultra-atividade. Ambas devem ser tidas como excees, pois a regra que seja

    aplicada a lei em vigor e para fatos ocorridos durante a sua vigncia. No entanto,

    caso uma infrao penal seja cometida e, por exemplo, antes de ser julgada,

    advenha outra lei mais benfica, ser aplicada a ltima. Neste caso ocorreu

    retroatividade.

    Mas tambm possvel que uma norma, mesmo aps revogada, continue a

    regular os fatos ocorridos durante a sua existncia, justamente p ser mais

    benfica, situao denominada ultra-atividade e que est implcita no inciso XL.

    Ora, se apenas a lei melhor retroage, a contrario sensu, se a ltima fosse pior, no

  • Direito Constitucional

    Agora eu Passo 26

    seria aplicada. E no seria, porque ocorreria ultra-atividade, ou seja, aplicar-se a

    norma revogada mais benfica (norma anterior).

    A lei mais benfica pode retroagir para alcanar fatos ocorridos anteriormente

    sua vigncia, ainda que tenham sido decididos por sentena condenatria j

    transitada em julgado. Portanto, a retroatividade da lei mais benfica no constitui

    ofensa coisa julgada, mas exceo constitucional regra insculpida no Art. 5,

    XXXVI, CF/88.

    Segundo a corrente majoritria, no se admite a retroatividade da lei penal

    mais benficas durante a vacatio legis (perodo existente entre a publicao da

    lei e o incio de sua vigncia). A corrente minoritria (Rogrio Greco) defende tal

    possibilidade, argumentando que quando entrar em vigor, necessariamente,

    ocorrer retroatividade, devendo, pois, ser economizado tempo. No entanto, tal

    lei pode nunca chegar a vigorar, pois pode ser revogada ainda no perodo de

    vacncia. Logo, prevalece o entendimento de que no pode retroagir.

    Smula 611 do STF: Transitada em julgado a sentena condenatria, compete ao

    juzo das execues a aplicao de lei mais benigna.

    Smula 711 do STF: A lei penal mais grave aplica-se ao crime continuado ou

    permanente, se a sua vigncia anterior cessao da continuidade ou da

    permanncia.

    XLI - a lei punir qualquer discriminao atentatria dos direitos e liberdades

    fundamentais;

    XLII - a prtica do racismo constitui crime inafianvel e imprescritvel, sujeito

    pena de recluso, nos termos da lei;

    Segundo o entendimento do Supremo Tribunal Federal, racismo um conceito

    que deve ser considerado em sentido divorciado do significado empregado na

    linguagem coloquial (HC 82424 / RS). Consoante Ives Gandra da Silva Martins, O racismo, como hoje interpretado pelo Supremo, um conceito muito mais lato,

    muito mais lato do aquele ligado ao mero tipo tnico, abarcando qualquer tipo

    de discriminao por motivos religiosos, raciais, culturais, etc..

    O poder punitivo estatal no absoluto, na medida em que sofre limitaes

    temporais (prescrio), territoriais (princpio da territorialidade temperada) e

    modais (princpio da dignidade da pessoa humana). H dois delitos que no

    sujeitam o poder punitivo limitao temporal, pois so imprescritveis. O crime de

    racismo um deles.

    XLIII - a lei considerar crimes inafianveis e insuscetveis de graa ou anistia

    a prtica da tortura, o trfico ilcito de entorpecentes e drogas afins, o terrorismo e

    os definidos como crimes hediondos, por eles respondendo os mandantes, os

    executores e os que, podendo evit-los, se omitirem;

  • Direito Constitucional

    Agora eu Passo 27

    Anistia uma espcie de ato legislativo federal, ou seja, lei penal de que se

    vale o Estado para, em razo de clemncia poltica, social, etc., esquecer um fato

    criminoso e apagar os seus efeitos penais. J a graa e o indulto so benefcios

    concedidos ou delegados pelo Presidente da Repblica, via decreto presidencial,

    atingindo apenas os efeitos executrios penais da condenao. Diferenciam-se

    porque a graa tem destinatrio certo e depende de provocao, enquanto o

    indulto coletivo e independe de qualquer provocao. Os trs institutos

    traduzem uma renncia do Estado ao seu direito de punir.

    Os crimes hediondos so aqueles definidos no Art. 1 da Lei n. 8.072/90 (lei de

    crimes hediondos). Consoante o diploma legal, tais crimes, alm de no admitirem

    graa e anistia, tambm so insuscetveis de indulto. Consoante o STF, no h

    inconstitucionalidade, afinal, prevaleceu a tese pela qual a Constituio trouxe

    proibies mnimas. Ademais, trata-se de mera explicitao do texto

    constitucional, pois o indulto afigura-se como uma espcie de graa.

    Todavia, no que atine especificamente ao delito de tortura, ser cabvel o

    indulto. Isso porque, semelhana do texto constitucional, a Lei n. 9.455/97, que

    disciplina tal crime, veda apenas a graa e a anistia, silenciando quanto ao

    indulto. Cuida-se de um silncio eloqente, vale dizer, de uma vedao implcita.

    Logo, luz do princpio da especialidade, entendeu-se que esse diploma legal

    deve ser aplicado, por ser mais especfico que a lei de Crimes Hediondos, o que

    acabou por consagrar a proibio de graa e anistia para o delito de tortura, mas

    no a de indulto.

    A liberdade provisria admite duas modalidades: com fiana e sem fiana. A

    expresso inafianveis, se interpretada literalmente, revela to-somente a impossibilidade de concesso da liberdade provisria com fiana, restando ainda

    uma sada para o preso. A Lei n. 8.072/90 (lei de crimes hediondos), por sua vez,

    cuidou de proibi-la, havendo fiana ou no, o que foi considerado constitucional

    pelo STF. Mas isso no significa que, diante do excesso de prazo, a priso do preso

    no possa ser relaxada. Tal entendimento foi consagrado na smula 697: A

    proibio de liberdade provisria nos processos por crimes hediondos no veda o

    relaxamento da priso processual por excesso de prazo.

    XLIV - constitui crime inafianvel e imprescritvel a ao de grupos armados,

    civis ou militares, contra a ordem constitucional e o Estado Democrtico;

    Este o ltimo crime que, ao lado do racismo, no sujeita o poder punitivo do

    Estado limitao temporal da prescrio.

    XLV - nenhuma pena passar da pessoa do condenado, podendo a

    obrigao de reparar o dano e a decretao do perdimento de bens ser, nos

    termos da lei, estendidas aos sucessores e contra eles executadas, at o limite do

    valor do patrimnio transferido;

  • Direito Constitucional

    Agora eu Passo 28

    Consagra-se, com isso, o princpio da pessoalidade ou da intranscendncia da

    pena. Por fora desse princpio, quando a responsabilidade for penal, somente o

    autor do delito se submeter sano aplicada pelo Estado. Apenas a pessoa do

    condenado responder pela infrao e no pessoas ligadas ao seu grupo social

    ou familiar. Uma vez ocorrida a morte do agente, extingue-se a punibilidade.

    Sanes penais no podem ser herdadas.

    Socorrendo-se de uma interpretao literal do dispositivo, parte da doutrina

    aponta uma suposta exceo ao princpio: a pena de confisco, na medida em

    que o texto constitucional admite que a decretao do perdimento de bens seja

    estendida aos sucessores. No obstante, prevalece o entendimento de que so

    meros efeitos civis (patrimoniais) da condenao. Em verdade, no so os

    sucessores que suportam esses efeitos, mas o esplio (conjunto dos bens, direitos e

    obrigaes do falecido).

    XLVI - a lei regular a individualizao da pena e adotar, entre outras, as

    seguintes:

    a) privao ou restrio da liberdade;

    b) perda de bens;

    c) multa;

    d) prestao social alternativa;

    e) suspenso ou interdio de direitos;

    XLVII - no haver penas:

    a) de morte, salvo em caso de guerra declarada, nos termos do art. 84, XIX;

    b) de carter perptuo;

    Consoante o entendimento do STF, a vedao adoo de penas de carter

    perptuo extrapola os limites das sanes penais, ou seja, no se restringe ao

    mbito criminal, eis que tambm no admitida nas punies administrativas (RE

    154.134/SP).

    c) de trabalhos forados;

    d) de banimento;

    e) cruis;

    XLVIII - a pena ser cumprida em estabelecimentos distintos, de acordo com

    a natureza do delito, a idade e o sexo do apenado;

  • Direito Constitucional

    Agora eu Passo 29

    Inmeros presos cumpriam pena em regime integralmente fechado, por

    estarem aguardando o trnsito em julgado da sentena que os condenou. Assim,

    eram vtimas da prpria demora na prestao jurisdicional. Hoje, nada impede

    que progridam de regime ou lhes seja aplicado regime menos severo, mesmo

    antes de produzida a coisa julgada. Tal posicionamento foi sumulado pelo STF,

    conforme se vislumbra na smula ao diante:

    Smula 716: Admite-se a progresso de regime de cumprimento da pena ou a

    aplicao imediata de regime menos severo nela determinada, antes do trnsito

    em julgado da sentena condenatria..

    Smula 717: No impede a progresso de regime de execuo da pena,

    fixada em sentena no transitada em julgado, o fato de o ru se encontrar em

    priso especial..

    XLIX - assegurado aos presos o respeito integridade fsica e moral;

    L - s presidirias sero asseguradas condies para que possam permanecer

    com seus filhos durante o perodo de amamentao;

    LI - nenhum brasileiro ser extraditado, salvo o naturalizado, em caso de

    crime comum, praticado antes da naturalizao, ou de comprovado envolvimento

    em trfico ilcito de entorpecentes e drogas afins, na forma da lei;

    Extradio o ato pelo qual um Estado entrega um indivduo, acusado de um

    delito ou j condenado como criminoso, a outro Estado, que o reclama para o fim

    de conden-lo ou puni-lo segundo suas leis. O brasileiro nato nunca ser

    extraditado. O naturalizado, em regra, tambm no, a no ser que tenha

    cometido crimes anteriores sua naturalizao ou, mesmo aps ela, comprove-se

    o seu envolvimento com o trfico de drogas.

    luz do princpio da dupla tipicidade, o STF no reconhece a possibilidade de

    extradio quando o fato no for considerado como crime no Brasil e tambm no

    exterior. Em suma: caso se trate de mera contraveno penal, o sdito no ser

    extraditado. Tambm no se admite, segundo a jurisprudncia de nossa Corte, a

    extradio quando o sdito foi condenado a uma pena vedada pelo Brasil, como,

    por exemplo, priso perptua ou pena de morte. Admiti-la equivaleria a adotar

    tais penas pela via oblqua, ou seja, indiretamente. Nestes casos, exige-se a

    comutao das penas, que devem ser abrandadas para patamares tolerveis em

    nosso pas.

    A extradio no se confunde com a deportao, expulso ou banimento. A

    deportao consiste na devoluo do estrangeiro que entrou ou permaneceu

    irregular no territrio nacional. Logo, pressupe irregularidade documental. Na

    expulso, diversamente, ocorre a retirada compulsria do estrangeiro que praticou

    atos atentatrios segurana ou aos interesses nacionais. Finalmente, o

    banimento uma pena vedada no Brasil, portanto, seria uma resposta do Estado

  • Direito Constitucional

    Agora eu Passo 30

    prtica de uma infrao, consistente no banimento do nacional de seu prprio

    pas.

    Smula 421 do STF: No impede a extradio a circunstncia de ser o

    extraditando casado com brasileira ou ter filho brasileiro.

    LII - no ser concedida extradio de estrangeiro por crime poltico ou de

    opinio;

    Em regra, podem os estrangeiros ser extraditados, a no ser por crimes polticos

    ou de opinio. Segundo o STF, no caso de pena de morte, exige-se a comutao

    da pena para um privativa de liberdade. No caso de priso perptua, exige-se a

    comutao da pena para o prazo mximo de cumprimento segundo as leis

    brasileiras: 30 anos.

    LIII - ningum ser processado nem sentenciado seno pela autoridade

    competente;

    Autoridade competente aquela anteriormente prevista pelo Direito. o juiz

    natural, verdadeira garantia fundamental que veda a instituio de tribunais de

    exceo.

    Smula 704 do STF: No viola as garantias do juiz natural, da ampla defesa e do

    devido processo legal a atrao por continncia ou conexo do processo do co-

    ru ao foro por prerrogativa de funo de um dos denunciados.

    LIV - ningum ser privado da liberdade ou de seus bens sem o devido

    processo legal;

    O devido processo legal foi previsto pela primeira vez na Magna Carta do Rei

    Joo Sem Terra (1215). A expresso due process of law foi indevidamente

    traduzida. Mais adequado seria a traduo para devido processo de direito.

    Por fora desse princpio, todos os atos de poder (atos legislativos,

    administrativos e jurisdicionais) devem obedecer ao trmite previsto no Direito, isto

    , devem respeitar o procedimento adequado para a sua elaborao. Aplicado

    no mbito do processo, significa que processo devido aquele efetivo,

    adequado, tempestivo e leal. Trata-se da dimenso formal ou adjetiva do devido

    processo legal. Neste caso, cuida-se de um princpio que origina todos os demais

    princpios constitucionais no campo processual, inclusive a ampla defesa e o

    contraditrio.

    J a sua dimenso substantiva ou material significa que tais atos devem ser

    preenchidos por um contedo razovel. Assim, qualquer norma despida de

    razoabilidade ser inconstitucional. Segundo o STF, o princpio germnico da

    proporcionalidade (sinnimo de razoabilidade commom law) oriundo da dimenso substantiva do devido processo legal.

  • Direito Constitucional

    Agora eu Passo 31

    LV - aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados em

    geral so assegurados o contraditrio e ampla defesa, com os meios e recursos a

    ela inerentes;

    Contraditrio pressupe ouvir ambas as partes (contraditrio formal), dando-

    lhes oportunidade de influenciar na deciso (contraditrio material). A ampla

    defesa justamente o exerccio desse efetivo poder de influncia: produo de

    provas, sustentaes orais, manifestaes etc.

    Obs.: Segundo o STF, a exigncia de depsito prvio para a interposio de

    recurso administrativo inconstitucional, pois condiciona a ampla defesa

    capacidade financeira do recorrente (RE 388.359, 389.383 e 390.513).

    Smula Vinculante 21: inconstitucional a exigncia de depsito ou arrolamento

    prvios de dinheiro ou bens para admissibilidade de recurso administrativo..

    Smula Vinculante 3: Asseguram-se o contraditrio e a ampla defesa nos

    processos administrativos, junto ao TCU, quando da deciso puder resultar

    anulao ou revogao de ato administrativo que beneficie o interessado.

    Excees: apreciao da legalidade de ato de concesso inicial de

    aposentadoria, reforma e penso..

    Smula Vinculante 5 A falta de defesa tcnica por advogado no processo

    administrativo disciplinar no ofende a Constituio..

    Smula Vinculante 14 direito do defensor, no interesse do representado, ter

    acesso amplo aos elementos de prova que, j documentados em procedimento

    investigatrio realizado por rgo com competncia de polcia judiciria, digam

    respeito ao exerccio do direito de defesa..

    LVI - so inadmissveis, no processo, as provas obtidas por meios ilcitos;

    Prova ilcita aquela que, para ser obtida, houve violao de direito material,

    como, por exemplo, a confisso mediante tortura. Diferentemente, a prova

    ilegtima aquela obtida por meio da violao de um direito processual. Ambas

    so espcies do gnero prova ilegal.

    O STF adota a Teoria dos Frutos da rvore Envenenada (fruits of the poisonous

    tree) ou da prova ilcita por derivao. Esta, embora produzida validamente em

    momento posterior, encontra-se afetada pelo vcio da ilicitude originria que a ela

    se transmite, contaminando-a por nexo causal. Exemplo: grampo ilegal, do qual

    resulta uma futura apreenso de drogas.

  • Direito Constitucional

    Agora eu Passo 32

    H julgados do STF em que foi adotada a Teoria do Encontro Fortuito de Provas,

    aplicada quando a prova de determinada infrao penal obtida casualmente

    a partir da busca regularmente autorizada para a investigao de outro crime.

    Exemplo: segundo a Lei n 9.296/96, a interceptao telefnica s pode ser

    autorizada judicialmente para a investigao de crimes punidos com recluso. Se

    isso for feito e eventualmente forem descobertos crimes punidos com deteno,

    conexos com aqueles, tal prova pode ser aproveitada (HC 8.515/RS).

    O Supremo Tribunal Federal tem admitido, luz do princpio da razoabilidade, a

    utilizao de provas ilcitas em benefcio do ru, titular originrio do direito

    individual inadmissibilidade de provas ilcitas, direito este que no pode se voltar

    contra ele. Admitiu-se tambm que, em casos de investida criminosa, seqestro,

    estelionato ou qualquer outro tipo de chantagem, a vtima realize gravaes

    clandestinas na defesa de seus direitos fundamentais (HC 75.338-8/RJ).

    LVII - ningum ser considerado culpado at o trnsito em julgado de

    sentena penal condenatria;

    A doutrina costuma chamar esse princpio de princpio da presuno de

    inocncia. Atento literalidade do dispositivo (ningum ser considerado

    culpado...), o STF deu-lhe outro nome: princpio da no-culpa.

    Por fora dele, as prises devem ser efetuadas, em regra, aps o trnsito em

    julgado da sentena penal condenatria. Excepcionalmente, admite-se a

    custdia do ser humano nas prises em flagrante, temporria e preventiva,

    atendidos os requisitos elencados na legislao penal. Estas devero ser tidas

    como imprescindveis, dado o seu carter excepcional.

    Tal princpio impede o lanamento do nome do ru no rol dos culpados (para,

    por exemplo, fins de reincidncia) e a caracterizao de maus antecedentes, at

    o advento do trnsito em julgado da sentena condenatria.

    Ademais, o nus de provar a responsabilidade penal do acusado incumbe

    acusao e, na dvida, deve-se absolver o ru (in dubio pro reo).

    Fora do mbito penal, seu rigor atenuado. Neste sentido, o STF j asseverou

    que no viola o postulado da presuno de inocncia regra legal que determina a excluso de oficial da polcia de qualquer quadro de acesso promoo por

    ter sido denunciado em processo crime, enquanto a sentena no transitar em

    julgado. (RE 141.787).

    Tradicionalmente, o STF vinha admitindo o encarceramento do ru condenado

    por deciso judicial recorrvel, quando, por exemplo, os recursos manejveis

    contra a condenao eram apenas o especial e o extraordinrio, que geralmente

    no possuem efeito suspensivo. Recentemente, a Suprema Corte pacificou a

    impossibilidade de execuo provisria da pena privativa de liberdade, na

    medida em que algum presumivelmente inocente estaria sendo punido de

  • Direito Constitucional

    Agora eu Passo 33

    maneira precoce, ou seja, antes do trnsito em julgado da deciso judicial

    condenatria (HC 84.078). O novo entendimento acarretar o abandono das

    smulas 716 e 717, supracitadas.

    LVIII - o civilmente identificado no ser submetido a identificao criminal,

    salvo nas hipteses previstas em lei;

    A identificao civil feita mediante a cdula de identidade (RG) ou

    documentos a ela equiparados por lei. Em regra, os identificados civilmente no se

    submetero identificao criminal, ou seja, identificao fotogrfica ou

    datiloscpica.

    LIX - ser admitida ao privada nos crimes de ao pblica, se esta no for

    intentada no prazo legal;

    LX - a lei s poder restringir a publicidade dos atos processuais quando a

    defesa da intimidade ou o interesse social o exigirem;

    LXI - ningum ser preso seno em flagrante delito ou por ordem escrita e

    fundamentada de autoridade judiciria competente, salvo nos casos de

    transgresso militar ou crime propriamente militar, definidos em lei;

    Smula Vinculante 11 do STF: S lcito o uso de algemas em casos de

    resistncia e de fundado receio de fuga ou de perigo integridade fsica prpria

    ou alheia, por parte do preso ou de terceiros, justificada a excepcionalidade por

    escrito, sob pena de responsabilidade disciplinar, civil e penal do agente ou da

    autoridade e de nulidade da priso ou do ato processual a que se refere, sem

    prejuzo da responsabilidade civil do Estado..

    LXII - a priso de qualquer pessoa e o local onde se encontre sero

    comunicados imediatamente ao juiz competente e famlia do preso ou pessoa

    por ele indicada;

    LXIII - o preso ser informado de seus direitos, entre os quais o de permanecer

    calado, sendo-lhe assegurada a assistncia da famlia e de advogado;

    O direito constitucional ao silncio compreendido em sentido amplo, ou seja,

    como o direito absteno e, consequentemente, o direito de no apresentar

    provas contra si, de no ser compelido a participar da reconstituio do crime etc.

    Naturalmente, em se tratando de um direito, nenhum prejuzo pode advir da livre

    escolha de exerc-lo.

    LXIV - o preso tem direito identificao dos responsveis por sua priso ou

    por seu interrogatrio policial;

    LXV - a priso ilegal ser imediatamente relaxada pela autoridade judiciria;

  • Direito Constitucional

    Agora eu Passo 34

    LXVI - ningum ser levado priso ou nela mantido, quando a lei admitir a

    liberdade provisria, com ou sem fiana;

    Liberdade provisria uma medida que substitui a priso em flagrante, desde

    que o acusado preencha certos requisitos, ficando o indivduo sujeito ao

    cumprimento de determinadas exigncias.

    LXVII - no haver priso civil por dvida, salvo a do responsvel pelo

    inadimplemento voluntrio e inescusvel de obrigao alimentcia e a do

    depositrio infiel;

    O Supremo Tribunal Federal tem concedido habeas corpus para livrar o

    depositrio judicial infiel da sua priso civil (HC-QO 94307 / RS). Isto porque o pacto

    de So Jos da Costa Rica apenas prev a possibilidade de priso civil para o

    devedor de alimentos. Este, embora no seja hierarquicamente superior CF/88,

    est acima das demais leis na pirmide do ordenamento. Logo, revogou a base

    legal para a priso do depositrio infiel.

    prtica corriqueira das instituies financeiras (bancos), nos contratos de

    alienao fiduciria, equiparar o indivduo a um depositrio judicial. Isso levou a

    inmeras prises civis. Atualmente, percebe-se uma forte tendncia do STF em

    rechaar essa prtica (RE 466 343), isto , j no se admite mais priso civil nos

    casos de alienao fiduciria.

    Smula Vinculante 25: ilcita a priso civil de depositrio infiel, qualquer que seja

    a modalidade do depsito..

    LXVIII - conceder-se- "habeas-corpus" sempre que algum sofrer ou se

    achar ameaado de sofrer violncia ou coao em sua liberdade de locomoo,

    por ilegalidade ou abuso de poder;

    O habeas corpus uma ao judicial que visa a proteger o direito do indivduo

    de ir, vir e permanecer. Dada a sua importncia, qualquer pessoa pode impetr-

    lo, quer se trata de pessoa fsica, nacional ou estrangeira, ou at mesmo jurdica.

    Esta ltima, naturalmente, no poder ser paciente, podendo, no entanto,

    impetr-lo em favor de terceiro. No se exige, sequer, capacidade postulatria, ou

    seja, o impetrante no precisa de advogado habilitado nos autos.

    A autoridade coatora, responsvel pelo constrangimento ilegal, tambm

    poder ser um particular, como, por exemplo, o direto de um hospital que impede

    a sada de paciente, mesmo aps receber alta do mdico, por no ter efetuado o

    pagamento das despesas (Michel Temer, Elementos de Direito Constitucional,

    p.195-196).

    LXIX - conceder-se- mandado de segurana para proteger direito lquido e

    certo, no amparado por "habeas-corpus" ou "habeas-data", quando o

  • Direito Constitucional

    Agora eu Passo 35

    responsvel pela ilegalidade ou abuso de poder for autoridade pblica ou agente

    de pessoa jurdica no exerccio de atribuies do Poder Pblico;

    Direito lquido e certo aquele que pode ser comprovado de plano, mediante

    prova pr-constituda. No requer dilao probatria, ou seja, uma fase especfica

    para a produo de provas, eis que pode ser demonstrado documentalmente j

    na petio inicial.

    O direito lqido e certo, como se pode ver, tambm pode ser tutelado por

    habeas corpus ou habeas data. Se isso ocorrer, no caber mandado de

    segurana, que subsidirio.

    LXX - o mandado de segurana coletivo pode ser impetrado por:

    a) partido poltico com representao no Congresso Nacional;

    b) organizao sindical, entidade de classe ou associao legalmente

    constituda e em funcionamento h pelo menos um ano, em defesa dos interesses

    de seus membros ou associados;

    Deve-se atentar para o fato de que apenas as associaes devem estar em

    funcionamento h pelo menos um ano. Tal requisito no imposto s

    organizaes sindicais e entidades de classe.

    LXXI - conceder-se- mandado de injuno sempre que a falta de norma

    regulamentadora torne invivel o exerccio dos direitos e liberdades

    constitucionais e das prerrogativas inerentes nacionalidade, soberania e

    cidadania;

    LXXII - conceder-se- "habeas-data":

    a) para assegurar o conhecimento de informaes relativas pessoa do

    impetrante, constantes de registros ou bancos de dados de entidades

    governamentais ou de carter pblico;

    A regra, que quase no comporta exceo, que o habeas data seja

    impetrado para a obteno de informaes pessoais. Entretanto, o extinto Tribunal

    Federal de Recursos reconheceu a possibilidade de a famlia do de cujus impetr-

    lo para obter informaes do falecido.

    de se salientar que o habeas data pode ser impetrado contra particulares

    que possuam registros ou bancos de dados de carter pblico, a exemplo das

    pessoas jurdicas que fornecem servios de negativao de inadimplentes como

    SPC ou SERASA.

    b) para a retificao de dados, quando no se prefira faz-lo por processo

    sigiloso, judicial ou administrativo;

  • Direito Constitucional

    Agora eu Passo 36

    LXXIII - qualquer cidado parte legtima para propor ao popular que vise

    a anular ato lesivo ao patrimnio pblico ou de entidade de que o Estado

    participe, moralidade administrativa, ao meio ambiente e ao patrimnio histrico

    e cultural, ficando o autor, salvo comprovada m-f, isento de custas judiciais e

    do nus da sucumbncia;

    LXXIV - o Estado prestar assistncia jurdica integral e gratuita aos que

    comprovarem insuficincia de recursos;

    LXXV - o Estado indenizar o condenado por erro judicirio, assim como o que

    ficar preso alm do tempo fixado na sentena;

    A regra a irresponsabilidade do Estado por atos judiciais. No entanto, em se

    tratando unicamente de erro judicirio no mbito criminal, possvel mover uma

    ao indenizatria contra a Fazenda Pblica. Esta a posio do STF, que,

    inclusive, no reconhece a pretenso indenizatria daqueles que foram presos

    preventivamente e ao final do processo tiveram sua inocncia comprovada em

    sentena judicial transitada em julgado.

    LXXVI - so gratuitos p