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1 APOSTILA DE HARMONIA Professor: Marco Aurélio Koentopp

Apostila de Harmonia - Koentopp

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Harmonia

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    APOSTILA DE HARMONIA

    Professor: Marco Aurlio Koentopp

  • 2

    Sumrio

    1. INTROUO .............................................................................................................................. 4

    2. ACORDES DE QUINTA - TRADES ........................................................................................ 5

    2.1. ACORDES NAS ESCALAS.......................................................................................................... 6

    3. ENCADEAMENTO DE ACORDES........................................................................................... 8

    3.1. DOBRAMENTOS ...................................................................................................................... 9 3.2. POSIO ABERTA E POSIO FECHADA ................................................................................. 14 3.3. MOVIMENTO DAS VOZES ....................................................................................................... 17 3.4. OITAVAS E QUINTAS PARALELAS E OCULTAS ..................................................................... 18

    4. ENCADEAMENTO DE TRADES NO ESTADO FUNDAMENTAL NO MODO MAIOR .. 20

    4.1. TRADES NO MODO MAIOR SEGUNDO SCHNBERG .................................................................. 20 4.2. TRADES NO MODO MAIOR SEGUNDO PISTON ......................................................................... 26 4.3. TRADES NO MODO MAIOR SEGUNDO KOSTKA & PAYNE ......................................................... 32

    4.3.1. Posio fundamental com acordes repetidos ...................................................................... 32 4.3.2. Posio fundamental com acordes separados em 4 ou 5 ................................................... 33 4.3.3. Posio fundamental com acordes separados em 3 ou 6 ................................................... 34 4.3.4. Posio fundamental com acordes separados em 2 ou 7 ................................................... 35

    4.4. EXERCCIOS ......................................................................................................................... 37

    5. ENCADEAMENTO DE TRADES NO ESTADO FUNDAMENTAL NO MODO MENOR . 39

    5.1. ENCADEAMENTO DE TRADES NO MODO MENOR SCHNBERG ............................................... 39 5.2. ENCADEAMENTO DE TRADES NO MODO MENOR PISTON ...................................................... 43 5.3. ENCADEAMENTO DE TRADES NO MODO MENOR KOSTKA & PAYNE...................................... 47 5.4. EXERCCIOS ......................................................................................................................... 47

    6. PRIMEIRA INVERSO DAS TRADES ................................................................................ 48

    6.1. O CONCEITO DE INVERSO DE RAMEAU ................................................................................. 48 6.2. DEFINIO E UTILIZAO DO ACORDE EM PRIMEIRA INVERSO .............................................. 49 6.3. EXERCCIOS ......................................................................................................................... 53

    7. SEGUNDA INVERSO DAS TRADES.................................................................................. 54

    7.1. EXERCCIOS ......................................................................................................................... 57

    8. ACORDES DE STIMA - TTRADES ................................................................................... 57

    8.1. ORIGEM E TIPOS DE ACORDES DE STIMA .............................................................................. 57 8.2. ACORDES DE STIMA NAS ESCALAS DIATNICAS ................................................................... 59 8.3. O ACORDE DE I7 (TNICA COM STIMA) ................................................................................ 59 8.4. O ACORDE DE II7 (SUPERTNICA COM STIMA) ..................................................................... 60 8.5. O ACORDE DE III7 (MEDIANTE COM STIMA) .......................................................................... 60 8.6. O ACORDE DE IV7 (SUBDOMINANTE COM STIMA) ................................................................ 61 8.7. O ACORDE DE V7 (STIMA DA DOMINANTE) ......................................................................... 63 8.8. O ACORDE DE VI7 (SUBMEDIANTE COM STIMA) ................................................................... 67 8.9. O ACORDE DE VII7 (STIMA DIMINUTA) .............................................................................. 68 8.10. O ACORDE DE VII7 (STIMA DA SENSVEL) .......................................................................... 71 8.11. EXERCCIOS ......................................................................................................................... 72

    9. INVERSES DOS ACORDES DE STIMA ........................................................................... 73

    9.1. PREPARAO DA STIMA ...................................................................................................... 73 9.2. PRIMEIRA INVERSO DOS ACORDES DE STIMA ...................................................................... 76 9.3. SEGUNDA INVERSO DOS ACORDES DE STIMA ...................................................................... 77 9.4. TERCEIRA INVERSO DOS ACORDES DE STIMA ...................................................................... 78 9.5. ACORDES DE STIMA E SUAS INVERSES NO MODO MENOR ..................................................... 79 9.6. EXERCCIOS ......................................................................................................................... 81

    10. TRATAMENTO MAIS LIVRE DO VII GRAU (SCHNBERG) ........................................... 81

    11. CADNCIAS ............................................................................................................................. 83

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    11.1. CADNCIA AUTNTICA PERFEITA .......................................................................................... 84 11.2. CADNCIA AUTNTICA IMPERFEITA ...................................................................................... 85 11.3. MEIO CADNCIA .................................................................................................................. 85 11.4. CADNCIA INTERROMPIDA .................................................................................................... 85 11.5. CADNCIA PLAGAL .............................................................................................................. 86 11.6. CADNCIA FRGIA ................................................................................................................ 87 11.7. CADNCIAS E O RITMO ......................................................................................................... 87

    12. DOMINANTES SECUNDRIAS ............................................................................................. 88

    12.1. EXERCCIOS ......................................................................................................................... 91

    13. NOTAS NO PERTENCENTES AO ACORDE ..................................................................... 92

    13.1. NOTA DE PASSAGEM ............................................................................................................. 92 13.2. BORDADURA ........................................................................................................................ 93 13.3. SUSPENSO .......................................................................................................................... 93 13.4. RETARDO ............................................................................................................................. 94 13.5. APOJATURA.......................................................................................................................... 95 13.6. ESCAPADA ........................................................................................................................... 96 13.7. GRUPO DE BORDADURA ........................................................................................................ 96 13.8. ANTECIPAO ...................................................................................................................... 97 13.9. PEDAL.................................................................................................................................. 98 13.10. EXERCCIOS ..................................................................................................................... 99

    14. ACORDES DE EMPRSTIMO MODAL ................................................................................ 99

    14.1. EXERCCIOS ....................................................................................................................... 102

    15. HARMONIZAO DE MELODIAS ..................................................................................... 103

    15.1. EXERCCIOS ....................................................................... ERRO! INDICADOR NO DEFINIDO.

    16. ACORDE NAPOLITANO ...................................................................................................... 108

    16.1. EXERCCIOS ....................................................................................................................... 110

    17. ACORDE DE SEXTA AUMENTADA ................................................................................... 111

    17.1. EXERCCIOS ....................................................................................................................... 115

    18. ACORDE DE QUINTA AUMENTADA................................................................................. 116

    18.1. EXERCCIOS ....................................................................................................................... 119

    19. ACORDES DE 9; 11; 13. ..................................................................................................... 120

    19.1. ACORDES DE 9 ................................................................................................................... 120 19.2. ACORDES DE 11 ................................................................................................................. 122 19.3. ACORDES DE 13 ................................................................................................................. 123 19.4. EXERCCIOS ....................................................................................................................... 124

    20. MODULAO ........................................................................................................................ 124

    20.1. EXERCCIOS ....................................................................................................................... 130

    21. REFERNCIAS ...................................................................................................................... 132

    22. ANEXOS ................................................................................................................................. 134

    22.1. TABELAS DAS PRINCIPAIS FORMAS MUSICAIS ....................................................................... 134 22.1.1. Forma Binria........................................................................................................... 134 22.1.2. Forma Ternria ......................................................................................................... 135 22.1.3. Forma Sonata............................................................................................................ 136 22.1.4. Forma Rond ............................................................................................................ 136

    22.2. TABELA DAS PRINCIPAIS DANAS ........................................................................................ 137

  • 4

    1. INTROUO

    Esta apostila vem suprir uma necessidade de um material didtico, em lngua

    portuguesa, para ser usado com segurana dentro da disciplina da graduao chamada:

    Harmonia. Desde o sculo XVIII este assunto vem sendo foco de estudos e vrios

    autores que se dedicaram a encontrar um guia para seus alunos. Dentre eles, um dos

    desbravadores foi i francs Jean-Philippe Rameau que em 1722 lanou o seu Trait de

    lHarmonie, .

    Trs livros, dentre os muitos j lanados at hoje, vem sendo usados nas

    graduaes pelo Brasil e pelo mundo, como referncia. So eles : Harmonielehere de do

    autraco Arnold Schnberg; Harmony do norte-americano Walter Piston; e Tonal

    Harmony, with an introduction to twentieth-century music da dupla de norte-americanos

    Stefan Kostka e Dorothy Payne.

    Harmonielehere de Arnold Schnberg escrito em 1911 por este autodidata,

    proveniente da escola germnica, o mais antigo dos trs. Destaca-se pela mincia

    filosfica abordada pelo autor e pela preocupao da compreenso por parte do aluno.

    No traz nenhum exemplo de obra de outros autores. Consegue construir o texto usando

    apenas exerccios de encadeamento no mesmo tom d maior ou na relativa l menor.

    Foi um revolucionrio da composio musical, criador de uma nova tcnica de

    composio, o dodecafonismo.

    Harmony do norte-americano Walter Piston, escrito em 1941, procura

    exemplificar com obras do repertrio internacional para dar respaldo s suas afirmaes.

    Walter Piston tem ainda, outros dois livros de renome internacional em outras

    disciplinas. So seus livros de Contraponto, e Orquestrao.

    Fechando o grupo das trs obras, est Tonal Harmony, with an introduction to

    twentieth-century music escrito em 1984 pela dupla de norte-americanos: Stefan Kostka

    e Dorothy Payne. Obra mais recente das trs, esta j possui outros apelos tecnolgicos

    como o acompanhamento de um CD com as gravaes dos exemplos e exerccios

    propostos. Todavia, nem todos os alunos aqui no Brasil tm acesso a este matria

    devido principalmente ao preo.

    Constatamos ento que estas trs obras so de muita relevncia ao estudo da

    Harmonia. E cada qual direciona o estudo por um vis interessante. Ao se ter que tomar

    uma deciso de escolha de mtodo a ser usado em aula, surge uma dvida de qual

    seguir, j que todos atuam de forma didtico-pedaggica de maneira diferente e com

    pontos de vista que, vez ou outra, divergem. Alm disso, muitos mitos acercam o estudo

    dos encadeamentos, como por exemplo, a dobra da tera ou o uso de quintas diretas,

    entre outros.

    Desta forma, apresentamos aqui uma opo de guia para o estudo da Harmonia

    com as diferentes vises de cada um dos pontos caractersticos do plano pedaggico

    destes autores. Temos ainda, em algumas vezes, intervenes do livro Harmonia de

    Diether de la Motte, que procura explicar estatisticamente alguns fenmenos.

    Acrescentamos tambm exerccios de encadeamentos para a prtica do aluno, bem

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    como sempre um momento em branco para que este crie o seu prprio encadeamento

    visando a composio.

    Abordamos tambm um pouco sobre algumas formas principais que por muito

    tempo perduraram no repertrio dos grandes mestres da msica ocidental. Este assunto

    no est to aprofundado neste material didtico tal como o estudo da Harmonia, mas

    entendemos que importante uma viso geral das formas para melhor compreender o

    caminho dos encadeamentos harmnicos nas msicas.

    Insistimos em dizer que este material no deseja substituir a leitura dos autores

    supracitados, mas sim, de prover uma oportunidade de comparao de ideias e conceitos

    por eles usados.

    2. ACORDES DE QUINTA - TRADES

    Este estudo da harmonia ser baseado no sistema Tonal, e este desenvolvido sobre

    dois tipos principais de escalas: as escalas maiores e as escalas menores. Cada uma

    delas composta por sete notas diferentes que se sucedem com intervalos de tons e

    semitons. Sobre cada nota da escala ser construdo um acorde que formar o Campo

    Harmnico da escala.

    Acorde a emisso de trs ou mais notas, simultneas ou arpejadas. Estas notas so,

    na verdade uma sucesso de teras sobrepostas. Muito embora, elas podem aparecer na

    msica em seu formato de inverso, onde a nota que d o nome do acorde, conhecida

    como fundamental, pode estar em outra posio, surgindo outros intervalos entre elas.

    Os acordes de trs sons, ou tambm chamados de trades ou acordes de quinta, so a

    forma mais simples que podemos ter de um acorde. Lembrando que duas notas apenas

    no formam um acorde, mas sim so chamados de intervalos.

    Com a sobreposio de trs notas em teras obtemos apenas quatro combinaes

    possveis que sero chamados de: acorde perfeito maior, acorde perfeito menor, acorde

    de quinta diminuta e acorde de quinta aumentada. A nota de base do acorde chama-se

    fundamental; chama-se tera do acorde aquela que forma um intervalo de tera com a

    fundamental e a nota que forma uma quinta com a fundamental, chama-se quinta do

    acorde.

  • 6

    Figura 1 Acordes de 3 sons - Trades

    Existem outras disposies de acordes alm deste em teras sobrepostas. Como por

    exemplo, uma sucesso de quartas, chamados acordes de quarta, ou ainda, uma sucesso

    de segundas, que so chamados de cluster. Este termo foi batizado no sculo XX pelo

    compositor Henry Cowell. Veremos mais adiante, que mesmo um acorde de teras

    sobrepostas, quando acrescentamos mais notas de tenso, por exemplo, a 9, a 11 ou a

    13, podemos dispor estas notas numa harmonia seccional no formato de um cluster ou

    ainda numa disposio em quartas. No entanto, continua sendo uma harmonia de teras.

    Este assunto ser discutido mais frente.

    2.1. Acordes nas Escalas

    Quando dispomos um acorde sobre cada uma das notas de uma escala, chamamos

    este conjunto de acordes de campo harmnico da escala.

    Ao colocarmos os acordes numa escala maior observamos que: so trades maiores os

    graus I, IV e V; so trades menores os graus II, III e VI; o VII grau uma trade de

    quinta diminuta; e no contm nenhuma trade de quinta aumentada. Percebemos

    algumas diferenas na simbologia usada de alguns autores. Schnberg e Piston usam

    algarismos romanos maiores para todos os acordes, enquanto Kostka & Payne usam

    algarismos romanos maisculos para os acordes maiores, algarismos romanos

    minsculos para os menores, o sinal () usado junto com o algarismo minsculo para o

    acorde diminuto e o sinal (+) junto com o algarismo maisculo para o aumentado.

    Figura 2 Simbologia da Escala Maior

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    Pequenas diferenas se apresentam tambm na definio dos nomes dos graus da escala.

    SCHNBERG PISTON KOSTKA & PAYNE

    I (I) Tnica Tnica Tnica

    II (ii) Supertnica Supertnica

    III (iii) Mediante Mediante Mediante

    IV (IV) Subdominante Subdominante Subdominante

    V (V) Dominante Dominante Dominante

    VI (vi) Superdominante Submediante Submediante

    VII (vii) Stimo grau da

    maior e stimo

    grau elevado da

    escala menor

    Sensvel Sensvel Sensvel

    VII Stimo grau no

    elevado da escala

    menor

    Subtnica Subtnica

    Quadro 1 Nomes dos graus da escala

    A escala menor possui trs verses diferentes que so: escala menor natural,

    escala menor harmnica (com o stimo grau elevado em meio tom) e a escala menor

    meldica (com o sexto e o stimo graus elevados na forma ascendente e naturais na

    forma descendente). Em decorrncia destes graus elevados, formam-se, com exceo do

    i grau, duas verses para cada acorde do modo menor.

    Figura 3 Acordes nas escalas menores.

    Cada autor vai dar a sua verso da utilizao destes acordes. Schnberg diz que

    todos os acordes podem ser usados respeitando-se o nvel de aprendizado do aluno, bem

    como as regras que ele mesmo estipula para os encadeamentos. Os acordes diminutos

    devem seguir a regra de preparao das dissonncias. Os sons elevados devem seguir o

    caminho normal da resoluo, ou seja, aps o sexto grau elevado dever vir o stimo

    grau elevado que dever resolver por semitom ascendente na tnica. Schnberg prefere,

    no incio do aprendizado, que o aluno evite os cromatismos gerados pelas alteraes.

    Estes detalhes sero abordados mais a frente neste trabalho no item sobre Modulao.

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    Piston apresenta o quadro abaixo com as trs formas de escalas menores, onde

    aponta alguns aspectos da utilizao dos acordes.

    Figura 4 Uso dos acordes na escala menor - Piston p. 46

    Kostka & Payne apresentam uma tabela com os acordes que devem ser

    memorizados para a utilizao no modo menor. Ateno ao detalhe da trade aumentada

    do III grau ter sido descartada. O acorde de quinta aumentada ser tratado num captulo

    especfico.

    ACORDE GRAU

    Maior III, V e VI

    Menor i e iv

    Diminuto ii e vii

    Aumentado nenhum Quadro 2 Trades diatnicas comuns no modo menor - Kostka & Payne p. 60

    3. ENCADEAMENTO DE ACORDES

    O estudo da harmonia ser desenvolvido atravs de trs caminhos: anlise de obras

    consagradas do repertrio dos grandes mestres, o encadeamento de acordes, e a

    composio por parte do aluno dos seus prprios encadeamentos.

    O encadeamento dos acordes serve para melhor compreenso do nexo harmnico e

    de como se desenvolvem as combinaes dos acordes entre si e tambm da conduo

    das notas nas vozes. Vamos tratar o encadeamento como se fosse uma disposio para

    coral a quatro vozes. Assim temos um parmetro de relao entre as notas do acorde e

    um ponto de referncia para distribuio destas na tessitura total de abrangncia das

    vozes e da ento partimos para uma distribuio instrumental. Utilizaremos ento:

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    soprano como sendo a mais aguda, em seguida contralto, depois tenor e como mais

    grave o baixo. As tessituras usadas sero:

    Figura 5 Tessitura mdia das vozes.

    Lembrando que se trata apenas de uma tessitura mdia para uso pedaggico. E

    que existem cantoras e cantores que possuem uma abrangncia maior em seus naipes.

    Vamos trabalhar sempre com dois pentagramas. A distribuio das vozes ser de duas

    formas: soprano, contralto e tenor no pentagrama superior em clave de sol e o baixo no

    inferior em clave de f na quarta linha; ou soprano e contralto no superior em clave de

    sol com tenor e baixo no inferior em clave de f na quarta linha.

    3.1. Dobramentos

    Ao dispormos trs sons para quatro vozes notamos que uma das notas do acorde

    dever ser duplicada. Schnberg categrico em dizer que a primeira opo sempre

    de se dobrar a nota fundamental do acorde. Como segunda opo aparece a quinta e, por

    ltima opo, a tera do acorde. Schnberg explica que esta uma consequncia da

    srie harmnica, ou seja, a preferncia da nota a ser duplicada segue ao aparecimento

    delas na srie. Como numa srie harmnica, a fundamental a nota que aparece mais

    vezes, ela que tem prioridade. A quinta a segunda nota que nela mais aparece. A

    tera surge mais tarde na srie harmnica em relao fundamental e a quinta, logo

    entre estas trs, seria a tera a mais dissonante. A tera tem tambm o papel de

    caracterizar o gnero do acorde em maior ou menor, o que j lhe d um destaque

    especial, no necessitando assim de ser duplicada. O mesmo efeito vai acontecer com as

    outras dissonncias, como a quinta diminuta, a stima (maior, menor ou diminuta), os

    intervalos de nona, dcima primeira e dcima terceira. Estas notas devem aparecer uma

    vez apenas no encadeamento. No VII grau da escala maior, a quinta do acorde, por

    tratar-se de uma quinta diminuta, ou seja, uma nota dissonante, no ser dobrada.

    Mais uma razo para no se dobrar a quinta diminuta do stimo grau que ela uma

    das notas que pedem resoluo, sendo obrigada a descer para a nota mais prxima do

    acorde seguinte, logo, a duplicao desta nota, acarretaria um movimento de oitava

    paralela, movimento este que ser evitado para o aluno de harmonia. No caso do VII, a

    nota fundamental no gera as notas que esto no seu acorde (conforme atesta a srie

    harmnica). Portanto, a tera de um acorde de VII diminuto, no como uma tera de

    um acorde maior ou menor, o que a deixa habilitada e propcia para ser dobrada num

    exerccio de harmonia. desta forma que Schnberg descreve as prioridades no

    dobramento: seguindo o efeito da srie harmnica.

    Piston no redige nenhuma explicao, apenas diz que, com o acorde no estado

    fundamental, a nota fundamental tem a preferncia em ser duplicada, uma ou duas

    oitavas acima ou at mesmo em unssono, mas a quinta e a tera tambm podem vir a

    ser dobradas no lugar da fundamental conforme a ocasio. Porm se o acorde estiver na

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    primeira inverso esta regra no precisa necessariamente ser aplicada. Neste caso a

    escolha da nota a ser dobrada independe se o acorde maior, menor, aumentado ou

    diminuto. mais freqente se basear na posio da nota dentro da tonalidade. Ou seja,

    sero dobrados aqueles sons que contribuem para a solidez da tonalidade1. Para Piston,

    o procedimento de dobradura na primeira inverso est submisso s seguintes

    condies:

    1. Se a nota do baixo na primeira inverso da trade um grau tonal2

    (lembrando que os graus tonais da escala so: o primeiro, o quarto e o

    quinto), est ser dobrada;

    2. Se a nota do baixo no um grau tonal, esta no ser dobrada, mas sim o

    grau tonal do acorde. 3

    Figura 6 Dobramentos Piston p. 72

    Piston mostra o cuidado que se deve ter com o dobramento de notas num acorde

    na primeira inverso. Todas as trs notas da trade devem estar presentes na disposio

    do acorde em qualquer que seja a inverso. Caso uma nota for omitida, pode causar uma

    ambiguidade no acorde. Se a fundamental for omitida na primeira inverso, este acorde

    pode ser entendido como um acorde no estado fundamental sem a quinta no acorde

    situado uma tera acima da verdadeira fundamental. Se a quinta for omitida, o acorde

    pode ser interpretado como a segunda inverso de um acorde sem a fundamental:

    Figura 7 Dobramento de notas na primeira inverso Piston p. 73

    Piston diz que, se tivermos um acorde de I grau na segunda inverso em situao

    de cadncia, deve-se dobrar a nota do baixo, ou seja, a quinta do acorde. Sendo esta

    nota do baixo uma nota longa, as outras duas notas estaro funcionando como

    apojaturas do acorde seguinte, que dever ser o acorde de dominante (V grau).

    1 No original Solidity of the key. (Minha traduo). 2 No origina tonal degree. (Minha traduo).

    3 (Minha traduo).

  • 11

    Figura 8 Dobramento na segunda inverso Piston p. 159

    Piston acrescenta ainda uma exceo: numa progresso V VI, a nota guia

    (neste caso a sensvel da escala), move-se para cima no sentido da tnica, enquanto as

    outras duas vozes descem para a nota mais prxima do acorde seguinte. A tera do

    acorde de VI ficar dobrada. Esta regra vale para quando a sensvel estiver no soprano

    do V. Quando estiver numa das vozes internas, esta pode ser reconsiderada:

    Figura 9 Excees de dobras de tera Piston p. 27

    Kostka & Payne no expressam diretamente o conceito de dobradura no comeo

    dos exerccios de encadeamento de acordes. Quando eles apresentam o encadeamento

    de acordes com a mesma fundamental, ou seja, uma simples mudana de posio do

    mesmo acorde, Kostka & Payne trazem a seguinte afirmao:

    a. Para quatro vozes:

    - Todas as notas da trade usualmente devem estar presentes. Se for um acorde

    final de I grau pode estar incompleto, contendo assim uma triplicao da

    fundamental;

    - A fundamental usualmente dobrada. A sensvel da escala nunca deve ser

    dobrada por ser uma nota com tendncia a resoluo (resoluo esta que vai

    certamente acarretar numa oitava paralela se a nota atrativa, neste caso a

    sensvel, estiver dobrada).4

    b. Para trs vozes:

    - A quinta pode ser omitida. Um acorde final de I grau pode consistir de uma

    triplicao da fundamental;

    - Com uma trade incompleta a fundamental deve ser dobrada. A sensvel

    nunca deve ser dobrada.5

    4 (Minha traduo). 5 Idem.

  • 12

    Para trades na primeira inverso, Kostka & Payne so um pouco mais

    detalhistas quanto escolha da nota a ser dobrada, e tambm separando entre quatro e

    trs vozes no encadeamento:

    - Numa textura de contraponto: se as linhas meldicas tiverem uma relativa

    independncia entre elas, a nota dobrada ser aquela que resultar a melhor

    sequncia de conduo destas melodias;

    - Numa textura homofnica: ou seja, numa formao de melodia com

    acompanhamento coral, a nota a ser dobrada deve ser aquela que produzir a

    sonoridade desejada;

    - Em qualquer textura, usualmente melhor no dobrar a nota guia6.

    Com relao textura contrapontstica, Kostka & Payne no acrescentam

    nenhuma informao. Quanto textura homofnica, ele sugere que o aluno escute os

    exemplos abaixo cantados e com outras combinaes instrumentais. Ele relaciona do

    mais usado para o menos usado pelos compositores. Porm isso no deve ser tomado

    como uma regra. A qualidade sonora mais afetada pelo espaamento das notas do que

    pela nota dobrada, como podem ser comparados nos dois ltimos exemplos abaixo:

    Figura 10 Dobramentos - Kostka & Payne p. 123

    Dobrar a nota guia implica em oitavas paralelas devido forte tendncia da

    resoluo da sensvel para a tnica. Kostka & Payne sugerem que o aluno execute os

    exemplos abaixo, e, ao faz-lo vai concordar que o exemplo c produz o melhor efeito

    sonoro o qual est com a quinta dobrada num acorde de primeira inverso. O exemplo

    a est incorreto devido s oitavas paralelas. O exemplo b apesar de no apresentar

    as oitavas paralelas na resoluo produz um efeito sonoro pouco interessante,

    provavelmente por apresentar a dobra da nota guia (a tera do acorde de V grau).

    Figura 11 Dobramentos proibidos - Kostka & Payne p. 123

    6 Os autores americanos consideram as notas guias como: a tera, a stima, a sexta (para acordes com

    sexta); a quarta (para acordes de quarta ou sus4); a quinta diminuta. Estas notas so notas que

    caracterizam o acorde e num encadeamento no deve ser duplicadas (Minha traduo).

  • 13

    Este ponto apresenta algumas diferenas. Schnberg interdita de momento o

    dobramento da tera, e, sua explicao est na srie harmnica. Sendo importante o

    dobramento da fundamental do acorde, ou dobrar-se- a quinta. Piston j nos mostra

    uma viso um pouco diferente. Se o acorde estiver na fundamental dobra-se a tnica do

    acorde. Se o acorde estiver invertido, deve-se dar preferncia para duplicar a nota do

    acorde que for um dos graus tonais (I grau, IV grau ou V grau). O aluno deve estar

    atendo ao detalhe que, num acorde invertido no se deve omitir nenhuma nota da trade

    para no descaracterizar o acorde. J para Kostka & Payne o importante dobrar a

    fundamental e na primeira inverso prefervel que a dobra seja a voz do soprano com

    uma das vozes internas. E na segunda inverso o baixo deve ser dobrado em situao de

    cadncia. Estes autores lembram ainda que seja importante no se dobrar nem a sensvel

    e nem a stima, porque estas notas tidas como notas guias7 pedem resoluo no acorde

    seguinte e se estiverem dobradas causaro oitavas paralelas.

    Diether de la Motte afirma j no comeo do seu livro que: nas trades maiores

    so dobradas sempre a nota fundamental; nas trades menores, na maioria dos casos

    dobra-se a nota fundamental. At 1550 era comum nas trades maiores se omitir a tera

    nos acordes finais, porm, a partir de 1600 a afirmao da tera tornou-se um

    componente obrigatrio. A tera pode ser dobrada numa condio meldica de

    movimento contrrio. Esta tambm uma condio de dobra da tera apresentada por

    Piston.

    Mais a frente no seu livro de Harmonia, Diether de la Motte apresenta os dois

    quadros abaixo, demonstrando estatisticamente que falso dizer que desde a poca de

    Bach no se dobra a tera. Na comparao abaixo, vemos que nas obras de Bach e

    Hndel mais freqente se dobrar a tera do que a quinta. A quinta aparece dobrada

    mais vezes do que a tera a partir dos quartetos de Haydn.

    Duplicao de notas em:

    Trades Maiores Acordes maiores 1 inverso

    Fund. 3 5 Fund. 3 5

    Oito fragmentos de corais

    de Bach 153 7 5 21 32 20

    Cinco passagens de

    O Messias de Hndel 122 21 3 24 7 29

    Quatro passagens de

    Te Deum de Charpentier 112 8 6 13 11 8

    TOTAIS: 387 36 14 58 50 57

    Quadro 3 Estatstica das teras no Barroco - Diether de la Motte p. 32

    7 Tendency tones a 7 tende ir tnica e a 4 da escala tende ir 3. KOSTKA, S.; PAYNE, D. Tonal

    Harmony with an Introduction to Twentieth-Century Music. 5. ed. New York: Mac Graw Hill, 1984, p.

    72. (Minha traduo).

  • 14

    Duplicao de notas em:

    Trades Maiores Acordes maiores 1 inverso

    Fund. 3 5 Fund. 3 5 Trs passagens da

    Harmoniemesse de Haydn 80 25 6 25 14 21

    Passagens em quatro

    quartetos de corda de

    Haydn

    93 5! 10! 28! 5! 4!

    Quadro 4 Estatstica das teras no Clssico - Diether de la Motte p. 32

    3.2. Posio Aberta e Posio Fechada

    A posio fechada caracteriza-se pelo fato de que, entre as trs vozes superiores

    (soprano-contralto; contralto-tenor) no h espao para outra nota do acorde. Por outro

    lado, se entre estas trs vozes superiores puder ser inserida mais uma nota do acorde,

    ento ele estar em posio aberta. Apesar de concordar com esta idia, Kostka & Payne

    definem as posies de outra forma: Posio Fechada (Close structure) quer dizer que

    entre soprano e tenor deve haver menos de uma oitava; Posio Aberta (Open structure)

    quer dizer que entre soprano e tenor haver ter uma oitava ou mais.

    No existem restries ao uso desta ou daquela posio, mas, Schnberg define

    a posio aberta como mais suave, enquanto que a fechada como mais cortante8. Piston

    acredita que se a voz do soprano estiver muito aguda, melhor utilizar a posio aberta

    para que as outras vozes no fiquem numa regio demasiada aguda.

    Entre soprano e contralto e entre contralto e tenor no deve ter mais de uma

    oitava. Schnberg comenta que desta forma se obtm um melhor complexo harmnico,

    a no ser que o objetivo a ser alcanado no seja de uma sonoridade homognea, ento,

    para isso, as vozes podem e devem estar dispostas de uma maneira mais espaada

    ultrapassando uma oitava. Kostka & Payne falam desta observao utilizando o termo:

    conveno9 e, no momento em que o aluno tiver obtido certa experincia nas

    composies, ele pode comear a experimentar as excees destas convenes.

    O espaamento entre o tenor e o baixo pode ser maior que uma oitava, porm,

    Piston sugere que no se ultrapasse duas oitavas.

    8 Schnberg no explica o qu ele quis dizer com os termos: suave e cortante. Ele apenas os apresenta

    para classificar as posies aberta e fechada. Por isso, preferimos repeti-los neste trabalho como eles

    aparecem no seu livro por acharmos que qualquer outra explicao poderia ser uma causar uma

    interpretao errnea dos adjetivos por ele escolhidos. SCHNBERG, Arnold. Harmonia. So Paulo:

    Unesp. 1999, p. 80. 9 No original convention. (Minha traduo).

  • 15

    Figura 12 Posies segundo Schnberg; Piston e Kostka & Payne

    Nos exerccios propostos de encadeamentos de acordes, podemos ser bem

    maleveis quanto ao uso do espaamento. Todavia, quando vamos aplica-lo num arranjo

    ou numa composio, muito importante que se escolha a disposio das notas a ser

    usada conforme o efetivo requerido.

    Quando vamos dispor um acorde para vozes de um coral, necessrio que se

    tenha conhecimento da tessitura real que este coral atinge. Da mesma forma quando

    queremos uma sonoridade mais compacta e com timbres mais misturados, se faz

    necessrio uma disposio fechada entre soprano e contralto e entre contralto e tenor.

    Quando quisermos um pouco mais de distino entre os naipes, ento melhor se

    trabalhar com a posio aberta. Lembrando que o baixo sempre mantm a sua liberdade.

    Figura 13 Espaamentos mais apropriados para Coral.

    Quando tratamos com instrumentos, temos muitas diferenas nas disposies.

    Ao se trabalhar com o naipe das cordas (violinos, viola, violoncelo e contrabaixo), de

    maneira geral, melhor uma disposio mais fechada entre os instrumentos. Isso vai dar

  • 16

    mais impacto e melhor nexo harmnico. por isso que, numa disposio para orquestra

    de cordas, trabalhamos muito com divisi entre os naipes, permitindo que mais notas

    sejam colocadas por todo e espectro entre a regio mdia e a regio aguda. Numa

    disposio de Quarteto de Cordas (violino I e II, viola e violoncelo) se pode conseguir

    um efeito parecido com notas duplas, o que torna um pouco mais difcil a execuo bem

    como a montagem dos acordes. Da mesma forma, para no se perder a sustentao da

    sonoridade, quando o naipe dos primeiros violinos estiver muito agudo, importante

    que os segundos violinos sustentem a mesma nota uma oitava abaixo. Ou mesmo um

    divisi de oitavas no mesmo naipe. Neste caso, este efeito no representa oitavas

    paralelas, porque se est assumindo a condio de repetio daquela voz.

    Figura 14 Disposio para o naipe das cordas.

    O mesmo fato ocorre quando, comumente se dobra o contrabaixo com o violoncelo

    em oitavas. Ou ainda, podemos citar o primeiro movimento da 4 Sinfonia em F menor

    op. 36 de P. I. Tchaikovsky no qual por diversos trechos do movimento, todas as cordas

    trabalham em oitavas, fazendo com que o naipe funcione como um nico instrumento.

    Figura 15 Tchaikovsky - I mov. 4 Sinfonia compassos 157 a 161.

  • 17

    Numa orquestrao para metais, podemos seguir o mesmo princpio deste das

    cordas, no entanto, tomando o devido cuidado com as tessituras dos instrumentos que

    diferem bastante das tessituras das cordas.

    Muito diferente o caso no naipe das madeiras. Como este naipe bastante

    heterogneo, cada instrumento responde melhor em determinada regio. No vamos nos

    aprofundar muito neste ponto, tendo em vista que este j seria um estudo de

    Orquestrao ou de Arranjo, mais do que de Harmonia, mas um detalhe que vai

    garantir em muito o sucesso da disposio. Aqui, a posio aberta muito mais

    apropriada. Devemos tentar projetar a flauta transversal, um pouco mais para o agudo,

    caso contrrio, corremos o risco de perder o equilbrio das notas. Deixamos o obo um

    pouco mais abaixo e o clarinete mais na regio mediana e o fagote com os graves. Claro

    que obos e clarinetes podem tocar mais agudo e assim o devem fazer quando

    necessrio uma maior exposio do seu timbre. Mas, no caso de um coral entre as

    madeiras, para melhor equilbrio seguimos as orientaes acima.

    Figura 16 Disposio para o naipe das madeiras.

    3.3. Movimento das vozes

    Schnberg define no seu livro apenas trs tipos de movimento entre as vozes

    enquanto Piston define quatro e Kostka & Payne definem cinco, so eles:

    MOVIMENTO Schnberg Piston Kostka & Payne

    Oblquo Seitenbewegung Oblique motion Oblique motion

    Contrrio Gegenbewegung Contrary motion Contrary motion

    Paralelo Parallelebewegung Parallel motion Parallel motion

    Similar Similar motion Similar motion

    Esttico Static motion Quadro 5 Tipos de movimento.

    Apesar de escritos em lnguas diferentes, os movimentos tm a mesma definio

    nos trs livros, exceto o movimento paralelo. Vamos definio dos termos:

  • 18

    Movimento Oblquo: aquele onde uma voz permanece na mesma

    nota enquanto a outra realiza um movimento ascendente ou

    descendente;

    Movimento Contrrio: aquele onde uma voz realiza um movimento

    ascendente e a outra um movimento descendente;

    Movimento Paralelo: Para Schnberg: aquele onde, as duas vozes

    se movem no mesmo sentido, ascendente ou descendente; Para Piston

    e Kostka & Payne: aquele onde as duas vozes se movem no mesmo

    sentido, ascendente ou descendente mantendo-se o mesmo intervalo

    numrico entre elas, ou seja, no primeiro acorde as duas vozes em

    questo esto num intervalo de tera e no segundo acorde tambm,

    mesmo que num seja tera maior e no outro seja tera menor;

    Movimento Similar: aquele em que duas vozes se movimentam no

    mesmo sentido, porm, formando um intervalo diferente do intervalo

    de partida;

    Movimento Esttico: aquele onde, as duas vozes permanecem nas

    mesmas vozes nos dois acordes.

    Devemos lembrar que estas definies dos movimentos servem para quaisquer

    duas vozes, no necessitando que estas sejam adjacentes. Por exemplo, podemos definir

    que o soprano e o baixo esto em movimento contrrio.

    Segue abaixo o exemplo do livro de Kostka & Payne para cada um dos

    movimentos descritos acima.

    Figura 17 Movimentos segundo Kostka & Payne p. 78

    3.4. Oitavas e Quintas Paralelas e Ocultas

    Ao realizarmos o encadeamento das vozes, podem surgir intervalos paralelos.

    De todos, sero evitados os movimentos de: oitavas paralelas e os de quintas paralelas.

    Schnberg comea a sua explanao proclamando as antigas regras da harmonia

    que proibiam os movimentos de oitavas e quintas paralelas e ocultas, as quais eram

    assim definidas. Quando duas vozes procedem de uma oitava e recaem em outra oitava por

    movimento direto, ou quando procedentes de uma quinta recaem, por

  • 19

    movimento direto, em outra quinta, formam-se, respectivamente, as

    denominadas oitavas paralelas e quintas paralelas, constituindo assim as

    denominadas paralelas descobertas (offene Parallelen). Todo movimento direto entre duas vozes que leve a uma consonncia perfeita (oitava ou quinta) fica

    proibido.10

    Schnberg explica que tambm ficavam proibidas as quintas e oitavas ocultas

    (verdeckte Parallelen), onde a regra assim proclamava:

    Quando duas vozes, procedentes de qualquer intervalo (incluindo as oitavas e quintas) formam, por movimento direto, uma oitava ou uma quinta, produzem-

    se ento quintas paralelas e oitavas paralelas, descobertas ou ocultas.11

    Schnberg vai buscar justificativas filosficas e estticas para desmistificar o

    uso de quintas e oitavas paralelas, mas acaba por concordar que o aluno deve evit-las

    sempre, mesmo proclamando: Qualquer outra tentativa de justificar a proibio das

    oitavas e quintas ocultas ilusria.12

    O autor Diether de la Motte concorda plenamente com as explicaes dadas por

    Schnberg. Ele complementa dizendo que no sculo XIV havia um menosprezo pela

    sonoridade que vinha de antes, a qual era realizada sobre a validao de oitavas e

    quintas paralelas. E, por isso, dali para frente, estes movimentos ficaram proibidos.

    Como estes movimentos no aparecem nas obras, a no ser por raras excees, ele

    mantm a proibio dos paralelos. Quanto aos movimentos de oitavas e quintas ocultas,

    so movimentos permitidos por Diether de la Motte seguindo as mesmas restries

    impostas por Piston e Kostka & Payne.

    Piston e Kostka & Payne por sua vez, concordam que os intervalos de oitava e

    quintas paralelas, por serem mais pobres devem ser evitados, principalmente entre a voz

    do soprano e a voz do baixo.

    Figura 18 Movimentos proibidos Piston p. 31

    No entanto, so permitidas as oitavas que ocorrem em orquestras, quando, por

    exemplo, violoncelos e contrabaixos tocam a mesma parte, porm em diferena de

    oitava. O mesmo ocorre em muitas escritas para piano.

    Em relao s quintas e oitavas ocultas, Piston e Kostka & Payne dizem que

    podem acontecer e todos os trs livros nos trazem explicaes semelhantes que

    podemos resumir da seguinte forma: ocorrem quando duas vozes atingem uma quinta

    ou uma oitava pelo mesmo sentido do movimento. prefervel sempre se atingir o

    intervalo de quinta e oitava por movimento contrrio. Caso deva ser por movimento

    direto, ser prefervel que uma das vozes esteja se movimentando por grau conjunto, ou

    seja, que se evite que as duas vozes saltem em direo quinta ou oitava. Prefervel

    tambm que estas duas vozes em questo no sejam as duas extremas, que uma delas

    seja um voz intermediria. Caso uma das vozes seja o baixo, que este salte, deixando o

    caminho por grau conjunto para a outra voz.

    10 SCHNBERG, Arnold. Harmonia. So Paulo: Unesp, 1999, p. 110. 11 Idem, p. 111.

    12 Idem, p.. 121.

  • 20

    Figura 19 Oitavas e quintas diretas Piston p. 32

    Quintas irregulares so definidas por Kostka & Payne como a passagem de uma

    quinta justa para uma quinta diminuta ou vice-versa. 13

    Aparentemente os compositores de msica tonal probem estas sequncias

    envolvendo a nota do baixo, outros, a sequncia quinta justa para quinta diminuta, mas,

    o contrrio permitido. Kostka & Payne permitem as quintas irregulares nos exerccios

    propostos no seu livro exceto as que envolvam, entre o baixo e outra voz, o intervalo

    quinta diminuta para quinta justa.

    Figura 20 Quinta diminuta para quinta justa - Kostka & Payne p. 80

    4. ENCADEAMENTO DE TRADES NO ESTADO FUNDAMENTAL NO MODO MAIOR

    4.1. Trades no modo maior segundo Schnberg

    Schnberg apresenta em seu livro o item Encadeamento de trades tonais:

    principais e secundrias. Neste, Schnberg diz, primeiramente, que no sero

    apresentadas leis nem regras para o encadeamento, mas sim instrues. A primeira

    destas instrues diz respeito conduo das vozes: realizar somente aquilo que

    estritamente necessrio para o encadeamento dos acordes.14

    O que ele quer dizer que

    cada voz mover-se- apenas quando for preciso e atravs dos menores passos ou saltos,

    que possibilitem que as outras vozes faam o mesmo procedimento: A lei do caminho

    mais curto.15

    Ou seja, quando dois acordes consecutivos tiverem uma nota em comum

    esta ser mantida na mesma voz. Schnberg sugere ento, que nos primeiros

    13 KOSTKA, S.; PAYNE, D. Tonal Harmony with an Introduction to Twentieth-Century Music. 5. ed.

    New York: Mac Graw Hill, 1984, p. 80. (Minha traduo). 14 SCHNBERG, Arnold. Harmonia. So Paulo: Unesp. 1999, p. 83. 15 Palavras de Bruckner. Idem, p. 84.

  • 21

    encadeamentos o aluno escolha graus que contenham um ou mais sons em comum. Tais

    notas sero usadas como enlace harmnico.

    GRAU Tem sons em comum com:

    I III IV V VI

    II IV V VI (VII)

    III I V VI (VII)

    IV I II VI (VII)

    V I II III (VII)

    VI I II III IV

    VII II III IV V Quadro 6 Notas comuns Schnberg p. 85

    Da tabela acima se conclui que aqueles acordes cujas fundamentais distam entre

    si de uma quarta ou de uma quinta tm uma nota em comum; os que distam de uma

    tera ou de uma sexta tm duas notas em comum; e os de graus conjuntos no possuem

    notas em comum.

    Outra instruo dada por Schnberg : Nestes primeiros exerccios, a

    fundamental deve ser usada sempre como o som mais grave do acorde, a saber: no

    baixo.16

    O aluno vai trabalhar somente com os acordes na posio fundamental. Acima

    do baixo vir a nota do Tenor, acima deste a voz Contralto, e como mais aguda a voz

    Soprano. O aluno deve evitar o cruzamento das vozes. A escolha de se utilizar a posio

    fechada ou aberta ficar a critrio do aluno. Ao critrio do aluno ficar tambm a

    distribuio das notas para as outras vozes (j que a nota do baixo j est previamente

    decidida pela fundamental). Para Schnberg a melhor maneira para o aluno evitar erros

    na disposio do acorde fazer a si mesmo as seguintes perguntas:

    1 pergunta: Qual som estar no baixo? (neste caso, a fundamental)

    2 pergunta: Qual som estar no soprano?

    3 pergunta: O que falta? (ou seja, completar as outras vozes que faltam

    decidindo tambm pela posio aberta ou fechada)

    Para a realizao do encadeamento Schnberg sugere mais trs perguntas para o aluno:

    1 pergunta: Qual som a fundamental? (ou seja, a fundamental do

    prximo acorde que tambm deve estar no baixo);

    2 pergunta: Qual som o nexo harmnico? (as notas comuns a ambos

    os acordes e que devem permanecer na mesma voz)

    3 pergunta: Que sons faltam? (as outras vozes devem se deslocar para

    as notas mais prximas do acorde seguinte e que estejam

    ausentes at o momento)

    Como Schnberg no est levando em conta questes de sonoridade, neste

    momento do processo ser duplicada somente a fundamental do acorde. Schnberg

    ressalta tambm que o pensamento do aluno deve ser o de imaginar o deslocamento

    meldico das notas de cada uma das vozes e no isoladamente em cada um dos acordes.

    Pelo momento, Schnberg vai realizar os encadeamentos sem divises de compasso e

    16 SCHNBERG, Arnold. Harmonia. So Paulo: Unesp. 1999, p. 85.

  • 22

    com semibreves apenas, e que o aluno no deve se confundir com os termos: Nota do

    Baixo e Fundamental. At que se trabalhe com inverses de acordes a nota do baixo

    ser sempre a fundamental do acorde:

    Figura 21 Encadeamentos com notas comuns Schnberg p. 87

    Em seguida, Schnberg apresenta o item Encadeamento de trades tonais:

    principais e secundrias em pequenas frases. Aps o aluno ter se ambientado a

    encadear dois acordes com notas comuns entre eles, a exceo do acorde de VII grau

    (que ser explicado mais adiante), Schnberg habilita o aluno a fazer pequenas frases

    com at seis acordes no exerccio. O objetivo sugerido que o aluno use dos recursos

    at aqui aprendidos e consiga com eles expressar a tonalidade. Para tal, Schnberg

    afirma alguns pontos para que o aluno siga em forma de requisitos e no em forma de

    lei eterna.17

    Estas frases sero ento curtas (com seis acordes, como j foi mencionado),

    os acordes encadeados consecutivamente devero apresentar notas comuns a ambos, a

    repetio de acordes dever ser evitada para no causar monotonia, exceo do acorde

    de I grau que dever aparecer como primeiro e ltimo acorde por definir a tonalidade.

    Entre estes dois acordes de I grau, afirmar-se-o mais quatro acordes diferentes. Como

    se pretende que se tenham notas comuns, antes do ltimo acorde dever aparecer um

    acorde de III, IV, V ou VI grau. Importante perceber aqui que Schnberg no afirma

    como obrigatoriedade uma cadncia no final desta pequena frase. At porque at este

    momento do livro o aluno ainda no teve contato com elas. Da mesma forma, no

    comeo do exerccio, aps o I grau vir um acorde que tambm tenha com ele nota(s)

    em comum; aps este escolhido, o terceiro acorde segue o mesmo procedimento e assim

    por diante at o fim do exerccio, evitando-se a repetio do mesmo acorde no decorrer

    da frase. Schnberg sugere no seu livro que se use sempre um primeiro exemplo na

    tonalidade de D Maior, e em seguida o aluno deve praticar os mesmos exerccios em

    outras tonalidades. Agora Schnberg aconselha que o aluno atinja todas as combinaes

    possveis com os acordes contendo notas comuns.

    Neste momento do livro, o aluno no precisa se preocupar com a melodia. Claro,

    a conduo das vozes deve ser meldica, mas Schnberg comenta neste item do

    captulo, que o conceito de melodia vem se modificando com o passar dos sculos,

    portanto a preocupao deve ser de se evitar os movimentos que resultem desagradveis

    e vetada qualquer ornamentao. Apenas o baixo, por estar sempre no estado

    fundamental estar sujeito a grandes saltos. Em geral, portanto, o menor movimento

    possvel. Pois, quanto menor for esse movimento, menos faltas sero cometidas na

    movimentao e na conduo das vozes. 18

    Quanto ao movimento meldico, os primeiros cuidados so com a nota do baixo.

    Schnberg d a primeira instruo devem-se evitar dois saltos meldicos justos, de

    quarta ou de quinta na mesma direo, porque, assim, os sons, inicial e final formam

    17 O que Schnberg quis dizer com lei eterna que suas instrues e os tais requisitos so afirmados ao

    aluno em certos momentos do aprendizado para que se atinjam os resultados propostos, e s para tal razo

    tero validade. Com o surgimento de objetivos mais elevados, estas podem ser suprimidas. 18 SCHNBERG, Arnold. Harmonia. So Paulo: Unesp. 1999, p. 89.

  • 23

    uma dissonncia. (dois saltos intervalares na mesma direo, cuja soma venha a ser uma

    dissonncia, resultam antimeldicos).19

    Figura 22 Caminhos do Baixo Schnberg p. 90

    Segunda instruo meldica: nenhuma voz deve realizar saltos maiores do que

    uma quinta (o salto de oitava por ser uma repetio da nota permitido). 20

    Os saltos

    de stima so evitados por serem de difcil entonao, e lembrando que Schnberg trata

    os exerccios de harmonia como se fossem realmente para serem cantados, pois se assim

    o forem, para instrumentos sero tambm realizados. Quanto ao no uso do salto de

    sexta, Schnberg explica que os antigos consideravam-no como um salto de uma

    debilidade efeminada, porm ele no acredita nesta razo subjetiva, e nos explica que

    para uma voz realizar um salto de sexta necessrio que haja espao entre as notas para

    este salto, e neste momento que podem surgir problemas de paralelismos proibidos.

    Outro motivo deste intervalo ser estranho ao ouvido pode ser pelo fato deste caminhar

    no sentido contrrio da fundamental da srie harmnica, por exemplo, mi-d, onde na

    srie seria: d-d-sol-d-mi-sol-d. Desta forma Schnberg afirma que este intervalo

    mais duro do que dbil21

    .

    Figura 23 - Saltos no encadeamento Schnberg p. 92

    O prximo item tratado no livro de Schnberg o cuidado que se deve ter no

    encadeamento do VII grau devido ao seu intervalo de quinta diminuta. Sendo este um

    intervalo dissonante (por estar mais longe na srie harmnica) um intervalo que causa

    alguns problemas como, por exemplo, a dificuldade que se tem na entoao de todo

    intervalo dissonante e o efeito de turbulncia que causa ao processo harmnico, j que a

    19 SCHNBERG, Arnold. Harmonia. So Paulo: Unesp, 1999p. 90. 20 Idem, p. 91. 21 Idem, p. 92.

  • 24

    dissonncia tem uma tendncia de muito destaque ao estar rodeado de consonncias.

    Para se amenizar estes efeitos causados por ela, a proposta de Schnberg que a

    dissonncia deve ser preparada e resolvida. A preparao se dar fazendo com que a

    nota dissonante venha como consonante no acorde anterior e se mantenha na mesma

    voz tornando-se assim a dissonante em questo. Desta forma, antes do VII grau poder

    vir o IV grau (onde a nota que ser a quinta diminuta no VII grau fundamental) ou o

    II grau (onde a nota que ser a quinta diminuta tera). A resoluo da nota dissonante

    se dar fazendo-a realizar um movimento descendente no acorde seguinte. Segundo

    Schnberg a fundamental desta quinta diminuta dever dar um salto de quarta

    ascendente (ou quinta descendente) porque uma dissonante tem um carter de

    dominante e toda dominante tem muitas vezes uma tnica depois dela. Assim a

    resoluo para o acorde de VII grau vem a ser o III grau. Para uma melhor conduo

    das vozes a opo mais interessante entre exemplos abaixo a letra e, abrindo-se mo

    da instruo de se manter a nota comum na mesma voz (no caso abaixo a nota si).

    Figura 24 Encadeamento do VII grau Schnberg p. 97

    Nos exemplos abaixo temos vrios modelos de preparao e resoluo da quinta

    diminuta. Os exemplos a, b e c fazem a preparao com o IV grau e os exemplos d e e,

    com o II grau.

    Figura 25 - Preparao da quinta diminuta Schnberg p. 100

    Curioso, na sequncia didtica do livro de Schnberg, que ele s vai falar

    sobre como encadear acordes sem notas comuns, ou seja, graus conjuntos (I II, por

    exemplo), dois captulos para frente. Como em um encadeamento de acordes vizinhos

    no temos notas comuns, ou seja, no existe a possibilidade do enlace harmnico, o

    aluno pode cometer o erro de seguir a instruo de que as vozes devem sempre procurar

    seguir pelo caminho mais prximo e isso vai resultar em oitavas e quintas paralelas.

    Portanto, o nico jeito fazer as vozes seguirem pelo caminho contrrio nota do

    baixo.

  • 25

    Figura 26 Encadeamentos de graus conjuntos Schnberg p. 176

    Schnberg apresenta tambm uma srie de exemplos em que um dos acordes

    est na 1 inverso. Nesta situao torna-se mais fcil evitar as quintas e oitavas

    paralelas. O autor menciona em seu captulo o uso das inverses como recurso para o

    aprimoramento dos encadeamentos. Apesar deste item do trabalho estar nomeado como:

    Encadeamentos de Trades no Estado Fundamental.

    Figura 27 Graus conjuntos com um deles na primeira inverso Schnberg p. 176

    Caso os dois acordes estejam na 1 inverso, Schnberg sugere que num deles se

    duplique a tera. Porm ele no explica o porqu, ele apenas apresenta os exemplos

    abaixo:

    Figura 28 Graus conjuntos com ambos na primeira inverso Schnberg p. 176

    Como j foi comentado, Schnberg, antes de mostrar os encadeamentos de graus

    conjuntos, j tratou de vrios outros pontos, entre eles: 1 e 2 inverso das trades,

    acordes de stima, inverses dos acordes de stima e encadeamentos da escala menor.

    Por isso ao final deste captulo ele apresenta um exemplo de encadeamento mais

    completo contendo todos estes pontos, trata-se de uma frase bem maior com 17 acordes,

    porm, ainda sem ritmo, feito s com semibreves, mas usando acordes com stima e as

    inverses.

  • 26

    Figura 29 Encadeamento completo - Schnberg p. 178

    4.2. Trades no modo maior segundo Piston

    Quanto ao encadeamento de acordes no modo Maior, Piston apresenta uma

    pequena tabela das sequncias mais usuais na posio fundamental. Piston afirma que

    no se trata de uma regra a ser seguida, mas simplesmente um panorama das

    combinaes comumente realizadas pelos compositores.

    Grau Seguido pelo: s vezes Menos freqente:

    I IV ou V VI II ou III

    II V IV ou VI I ou II

    III VI IV I, II ou V

    IV V I ou II III ou VI

    V I IV ou VI II ou III

    VI II ou V III ou IV I

    VII I ou III VI II, IV ou V

    Quadro 7 Seqncias mais usadas Piston p. 23

    Piston explica que importante notar as diferentes qualidades destas sucesses de

    acordes. Ele divide estas progresses em trs tipos sempre no estado fundamental:

    a. Movimento do baixo por quartas ou quintas;

    b. Movimento do baixo por tera (ou sexta);

    c. Movimento do baixo por tom (ou stima).22

    No primeiro item, com as fundamentais dos acordes em diferena de quinta ou

    quarta, Piston faz notar que existe entre eles uma nota em comum. Ele frisa tambm que

    a sequncia mais forte no sistema tonal o encadeamento V I, e que s com o

    movimento do baixo destes dois acordes pode-se perceber a fora que existe entre eles.

    22 (Minha traduo).

  • 27

    Outras relaes de baixo em quinta descendente (ou quarta ascendente) tm uma relao

    semelhante, porm mais fraca.

    Figura 30 Encadeamentos em quartas ou quintas Piston p. 23

    O movimento de quarta descendente (ou quinta ascendente) d o efeito contrrio

    da progresso anterior. Dentre estas a mais importante a progresso IV I, que

    funcionaria como um contrapeso da relao V I.

    Figura 31 Encadeamentos em quarta ascendente Piston p. 24

    Para trades com movimento do baixo em teras, Piston evidencia o fato destes

    dois acordes terem duas notas em comum, ou seja, somente uma nota difere entre os

    acordes. Graas a esta diferena to pequena, algumas destas progresses so

    consideradas fracas. No modo maior, um encadeamento com diferena de tera significa

    dizer que vai haver uma troca de um acorde maior para um menor, ou vice-versa.

    Quando a fundamental move-se uma tera acima, a nova fundamental j havia sido

    escutada como a tera do acorde anterior, assim Piston a considera fraca. Quando a

    fundamental move-se uma tera abaixo, a nova fundamental uma nota nova, desta

    forma, Piston a considera forte.

    Figura 32 Encadeamentos em tera ou sexta Piston p. 24

    Piston j explica o efeito de graus conjuntos desta forma:

    quando as fundamentais se movem por grau conjunto, no existem notas comuns, o

    que quer dizer que um novo conjunto de sons afirmado apresentando um novo colorido harmnico. Estas passagens so consideradas fortes, nem todas com a mesma

    intensidade; as fortes mais encontradas so: IV V e VI V, porm, a relativamente

  • 28

    fraca e tambm a menos encontrada a II I. O movimento por stima pode ser

    considerado como um movimento contrrio da segunda ascendente.23

    Figura 33 Encadeamento por grau conjunto Piston p. 25

    Nos exerccios onde os acordes esto no estado fundamental, os saltos do baixo

    que forem maiores do que uma quinta aparecem com pouca frequncia, exceo do

    salto de oitava o qual pode ser usado para ajudar na obteno de um melhor

    espaamento entre as notas. Neste ponto Piston tem a mesma opinio de Schnberg.

    Piston diz ainda que estas explicaes sobre as qualidades do movimento das

    fundamentais no deve ser uma prescrio fechada, e nem tampouco que estes saltos

    considerados mais fracos devam ser indesejveis, mas eles ajudam como uma forma

    variao.

    Piston sugere neste ponto do livro que para o melhor entendimento destes

    aspectos sonoros da harmonia, o aluno deve tocar ao piano vrios exemplos, em todas

    as tonalidades, em posio aberta e fechada. Assim ele conhecer o som das diferentes

    progresses e desta forma us-las nos exerccios.

    Piston vai apresentar as duas Regras de Encadeamento. Ele se baseia

    na ideia que a suave conexo dos acordes primariamente um processo meldico, no

    qual a estrutura do acorde soa simultaneamente na horizontal e esta conduo horizontal

    faz parte do processo. Piston explica no seu livro que estes estudos de encadeamento de

    acordes devem comear com os acordes no estado fundamental e que todas as vozes

    devem se mover simultaneamente, com o mximo de suavidade no movimento linear

    das vozes de um acorde para outro.

    a. Regra de encadeamento N 1.

    Se duas trades tm em comum uma ou mais notas, estes sons comuns so

    usualmente repetidos na mesma voz, as demais vozes movem-se para a nota mais

    prxima do acorde seguinte.24

    Neste ponto vemos uma total semelhana com as ditas

    instrues afirmadas por Schnberg.

    Figura 34 Regra I notas comuns mantm-se na mesma voz Piston p. 26

    23 PISTON, Walter. Harmony. 5. ed. New York: Norton & Company, 1987, p.24. (Minha traduo). 24 Idem, p.26. (Minha traduo).

  • 29

    Piston acrescenta uma exceo: Na progresso II V, quando num acorde de II grau, o quarto grau da escala estiver no soprano, costuma-se no repetir a nota comum, mas mover as trs

    vozes superiores para as notas mais prximas abaixo. Este caminho pode, mas

    no necessariamente, ser usado quando o quarto grau da escala (no exemplo

    abaixo em D Maior a nota f) estiver no contralto ou no tenor.25

    Piston s no explica o porqu desta afirmao. Simplesmente afirma o exemplo

    e parte para a regra n 2.

    Figura 35 Progresso II - V Piston p. 26

    b. Regra de encadeamento N 2.

    Se duas trades no tiverem notas comuns, as trs vozes superiores movem-se

    em direo contrria ao movimento da nota do baixo, mas sempre para a mais prxima

    possvel.26

    Nesta segunda regra, Piston tambm comunga com a idia de Schnberg.

    Com o adendo de que esta regra nmero dois tambm tem a sua exceo:

    Na progresso V VI, a nota atrativa realiza um movimento ascendente em

    direo da tnica, enquanto que as outras duas vozes descem para a nota mais prxima do acorde seguinte. A tera, ao invs da fundamental, ser dobrada no

    acorde de VI grau. Esta exceo sempre realizada quando a sensvel (a tera

    do V grau) estiver no soprano; quando ela estiver nas vozes internas, ou segue a regra ou segue a exceo.

    27

    Figura 36 Regra II acordes sem notas comuns Piston p. 26

    25 PISTON, Walter Harmony. 5. ed. New York: Norton & Company, 1987, p. 26. (Minha traduo). 26 Idem, p. 26. 27 Idem, p. 27. (Minha traduo).

  • 30

    Figura 37 Progresso V - VI Piston p. 27

    Podemos perceber que Piston trata logo de realizar diversas combinaes de

    acordes no estado fundamental, porm em nenhum momento do captulo, ele fala sobre

    o VII grau, sobre a quinta diminuta, sobre dissonncias, se devemos ou no prepar-las

    como fazia Schnberg. Piston apresenta dois exemplos da mesma sequncia de acordes,

    porm, um em posio fechada e outro em posio aberta. A que se notar que a linha

    meldica do soprano numa verso pode aparecer em outra voz interna na outra verso.

    Figura 38 Encadeamento em posio aberta e fechada Piston p. 27

    Piston d em seguida alguns conselhos para aprimorar os exerccios e como ir

    alm das limitaes das Regras de Encadeamento. Como a linha que mais se ouve a

    do soprano, para esta voz que devemos ter um maior cuidado na construo do seu

    contorno meldico. Assim Piston dispe quatro itens que podem ser usados para este

    aprimoramento: quando a fundamental se repete, aconselhvel que pelo menos duas

    das trs vozes superiores mudem de posio.

  • 31

    Figura 39 Mesmo acorde no compasso Piston p. 28

    Uma mudana de posio fechada para aberta e vice-versa, se a fundamental a

    mesma ou no, pode ser um bom caminho para se obter uma melhor nota do soprano.

    Figura 40 Melhor caminho do Soprano Piston p. 28

    O uso ocasional de uma trade sem a quinta e com a fundamental triplicada, pode

    tambm ajudar a dar uma liberdade para a linha do soprano. No aconselhvel se

    omitir a tera, pois pode deixar uma sonoridade de quinta aberta, ou seja, o acorde fica

    neutro, nem maior nem menor, o que no muito interessante no sistema tonal.

    Figura 41 Quinta omitida Piston p. 29

    Dobrar a quinta ou at mesmo a tera no lugar da fundamental, pode significar

    mais opes para a nota do soprano. Piston explica que um acorde composto de

    fundamental, quinta e duas teras melhor do que duas fundamentais e duas teras.

    Porm ele lembra tambm que a sensvel da escala no deve ser duplicada se esta for

    tera do V grau, ela pode ser duplicada se ela for quinta do III grau.

    Figura 42 Opes de dobra de tera Piston p. 29

  • 32

    4.3. Trades no modo maior segundo Kostka & Payne

    Kostka & Payne tambm apresentam como ponto de partida o encadeamento de

    acordes no estado fundamental, desta forma, a linha do baixo s vai ficar mais

    interessante quando se fizer uso dos acordes invertidos. As linhas intermedirias

    (contralto e tenor) tambm devem ser, na medida do possvel, to interessantes quanto

    linha do soprano. Apesar dos acordes com stima serem vistos em captulos futuros do

    livro, Kostka & Payne justificam que eles aparecero em alguns exerccios do prprio

    livro (e do livro de exerccio), desta forma o aluno j comea a ter contato com estes

    acordes mesmo antes da sua apresentao oficial.

    Como os acordes esto de momento sempre no estado fundamental, Kostka &

    Payne dividem estas possibilidades em quatro opes:

    A repetio da mesma fundamental (acorde repetido).28

    Fundamentais separadas por 4 (ou o mesmo vale para 5);

    Fundamentais separadas por 3 (ou o mesmo vale para 6);

    Fundamentais separadas por 2 (ou o mesmo vale para 7);

    Uma diferena do livro de Kostka & Payne para os outros dois que ele sempre

    vai apresentar exemplos em trs vozes, porm, observando que a disposio em quatro

    vozes ter prioridade. Ele no chama diretamente de regras ou conselhos para um

    encadeamento, mas no texto os passos vm sempre numerados em ordem como se

    assim os fossem. Para que fique bem claro a inteno pedaggica dos autores Kostka &

    Payne vamos, nesta pesquisa, manter a mesma seqncia de apresentao dos tpicos

    contidos no livro assim como o fizemos para o livro do Schnberg e para o livro do

    Piston.

    4.3.1. Posio fundamental com acordes repetidos

    Numa textura a quatro vozes todas as notas da trade esto usualmente presentes.

    s vezes, o acorde de I grau final pode vir sem a quinta passando a ter uma tera e a

    fundamental triplicada. A fundamental geralmente dobrada e a sensvel da escala

    nunca ser dobrada por causa da forte tendncia desta nota conduzir tnica.

    J numa textura a trs vozes, a quinta do acorde frequentemente omitida. O acorde de

    I grau final pode consistir em somente a fundamental triplicada. Uma trade incompleta

    ter, usualmente, a fundamental duplicada. A sensvel da escala nunca ser dobrada.

    Kostka & Payne completam dizendo que se a fundamental se repete as vozes superiores

    podem arpejar livremente. O baixo pode mudar de oitava.

    28 (Minha traduo).

  • 33

    Figura 43 Mudana de posio do mesmo acorde - Kostka & Payne p. 86

    4.3.2. Posio fundamental com acordes separados em 4 ou 5

    Kostka & Payne tambm concordam com os outros autores, que na msica tonal

    o encadeamento de acordes com o baixo em quinta descendente (ou quarta ascendente)

    um dos mais importantes. Outra recomendao inicial que os princpios so:

    espaamento das vozes, paralelismos e resoluo da sensvel para tnica quando a

    sensvel estiver na melodia. Para textura de quatro vozes Kostka & Payne afirmam trs

    mtodos a seguir:

    a. Manter na mesma voz a nota comum aos dois acordes, enquanto as outras duas vozes superiores movem-se na mesma direo por grau conjunto em

    direo contrria ao movimento do baixo29

    .

    Figura 44 Encadeamentos em quinta ou quarta, mantendo a nota comum - Kostka & Payne p. 87

    b. Como segunda opo (ou mtodo, como chamam os autores), todas as trs vozes superiores movem-se na mesma direo, no saltando mais do que

    uma tera e em movimento contrrio ao movimento do baixo (no exemplo

    abaixo, na passagem V I, a sensvel no resolve por grau conjunto

    ascendente. Em vez disso, ela desse uma tera. Este tipo de movimento

    perfeitamente aceitvel se a sensvel estiver numa das vozes internas, como

    o caso aqui).30

    Figura 45 Encadeamento no mantendo a nota comum - Kostka & Payne p. 88

    29 A ligadura que aparece nos exemplos, como explica o autor, simplesmente para uma indicao

    pedaggica, no que deva ser realmente duas notas ligadas. (Minha traduo). 30 (Minha traduo).

  • 34

    c. Uma terceira opo, porm no to suave como as duas primeiras, usada quando se quer trocar de posio aberta para fechada, ou vice-versa. Deve

    ser mantida a nota comum a ambos os acordes, e a tera do primeiro acorde

    move-se para a tera do acorde seguinte. As demais notas movem-se por

    grau conjunto. Da mesma forma que na 2 opo a sensvel no precisa

    resolver na tnica se estiver numa das vozes internas.31

    Figura 46 Trocando de posio aberta para fechada ou vice-versa - Kostka & Payne p. 88

    Para tipo de textura a trs vozes, os autores lembram a importncia de cada

    acorde deve ter ao menos uma fundamental e uma tera, e devem ser observadas as

    convenes de espaamento e paralelismo. Preferindo suavizar a conduo das vozes ao

    invs de acordes completos.

    Figura 47 Encadeamentos a trs vozes - Kostka & Payne p. 89

    O que vamos perceber de diferena entre os autores que Kostka & Payne vo

    usar nos exemplos outras tonalidades alm de d maior como prefere Schnberg.

    4.3.3. Posio fundamental com acordes separados em 3 ou 6

    Aqui os autores comentam que este tipo de encadeamento j mais suave que os

    outros devido presena de duas notas comuns.

    Numa textura a quatro vozes, contando que o primeiro acorde tenha a

    fundamental dobrada, apenas uma das vozes superiores precisa se mover. As vozes

    comuns devem ser mantidas nas mesmas notas do acorde seguinte, enquanto que a outra

    se move na direo contrria ao movimento do baixo:32

    31 KOSTKA, S.; PAYNE, D. Tonal Harmony with an Introduction to Twentieth-Century Music. 5. ed.

    New York: Mac Graw Hill, 1984, p. 88. 32 (Minha traduo).

  • 35

    Figura 48 Encadeamentos de tera ou sexta - Kostka & Payne p. 90

    J num contexto a trs vozes, os autores afirmam que as possibilidades so mais

    diversificadas. importante que em algumas situaes, como no exemplo abaixo e,

    no seja omitida a quinta, para no confundir o ouvinte com o mesmo acorde, no estado

    de primeira inverso.

    Figura 49 Tera ou sexta a trs vozes - Kostka & Payne p. 91

    4.3.4. Posio fundamental com acordes separados em 2 ou 7

    Para este tipo de encadeamento o pensamento o mesmo dos outros autores

    como veremos a seguir.

    Num encadeamento a quatro vozes, as superiores devem se mover na direo

    contrria ao movimento do baixo. Se a nota do baixo sobe as outras trs vozes descem e

    vice-versa.33

    Figura 50 Encadeamentos com grau conjunto - Kostka & Payne p. 92

    Neste tipo de encadeamento Kostka & Payne tambm vo afirmar em evidncia

    a progresso V vi, porm, eles j explicam a mesma passagem no modo menor.

    Em muitos casos da progresso V - vi a sensvel (tera do acorde de V grau)

    move-se paralelamente ao baixo, resolvendo na tnica. Todavia as outras duas vozes

    33 (Minha traduo).

  • 36

    movimentam-se para a nota mais prxima no sentido descendente em movimento

    contrrio ao baixo. Isto vai resultar na tera dobrada do acorde do vi grau (ou VI). No

    modo maior, se a sensvel estiver nas vozes internas ela poder no resolver e mover-se

    para baixo, evitando o dobramento da tera. Entretanto, no modo menor este movimento

    no poder ser realizado por causar um movimento de segunda aumentada, sendo este

    um intervalo menos interessante para a msica tonal diatnica ocidental. (Exemplo

    abaixo d).

    Figura 51 A progresso V - vi ou V - VI - Kostka & Payne p. 92

    No entanto, para um encadeamento a trs vozes, o mais suave movimento ser

    feito se uma trade completa resolver numa trade incompleta e vice-versa. O autor

    lembra que a regra para a passagem V vi continua valendo para encadeamentos a trs

    vozes.

    Figura 52 Encadeamentos de grau conjunto a trs vozes - Kostka & Payne p. 93

    Assim como Piston estabelece no seu captulo sobre encadeamento uma tabela

    com as sequncias mais usadas, Kostka & Payne tambm apresentam um roteiro para

    um bom encadeamento em forma de grfico. Tal grfico baseado no ciclo das quintas,

    por isso o primeiro roteiro nos trs o encadeamento V I. Em seguida, da mesma forma

    pelo ciclo das quintas vem o ii grau na escala de importncia. O vi grau viria como um

    antecedente do ii, e o iii como antecedente do vi. Seguindo o mesmo raciocnio das

    fundamentais em quintas, viria precedendo o iii grau, o vii grau, porm este, por sua

    similaridade com o acorde de dominante da tnica principal, possui as mesmas

    caractersticas do acorde de V ou V7. Portanto, o vii ter uma mesma funo de

    dominante, podendo substitu-la quando antecedendo a tnica. Para o IV grau Kostka &

    Payne apresentam trs funes bsicas: ele pode preceder a tnica diretamente e assim

    realizar a Cadncia Plagal; pode estar ligado ao ii grau; ou pode tambm substituir o ii

    grau vindo diretamente antes da dominante (V ou vii), ou ainda realizando a progresso

    IV ii V. O grfico apresentado trs tambm a possibilidade do V grau ser conduzido

    ao vi realizando a Cadncia de Engano34

    ; e o I grau traz uma seta em aberto indicando

    que ele pode se relacionar com qualquer grau da escala. Observamos que Kostka &

    34 Tambm chamada de deceptiva ou interrompida.

  • 37

    Payne, assim como Piston, no colocam nenhuma restrio de uso do acorde de vii

    grau como assim o fez Schnberg, por ser este um acorde de quinta diminuta. Aqui ele

    tratado da mesma forma que os outros acordes.

    Figura 53 Sequncias mais usadas em modo Maior - Kostka & Payne p. 109

    4.4. Exerccios

    Resolva os encadeamentos nas respectivas tonalidades no Modo Maior.

  • 38

  • 39

    5. ENCADEAMENTO DE TRADES NO ESTADO FUNDAMENTAL NO MODO MENOR

    5.1. Encadeamento de trades no modo menor Schnberg

    Schnberg vai utilizar no seu estudo, a escala menor meldica, e da mesma

    forma que ele utilizou D Maior como referncia, aqui ele ter a escala de l menor

    como exemplo para todos os exerccios de modo menor. Quando usarmos a escala

    menor meldica, significa dizer que na escala ascendente teremos o sexto e o stimo

    graus com elevao de um semitom, ou seja, a nota f ser f# e a nota sol ser sol#, e

    na descendente estas duas notas voltam a ser: f e sol naturais. Desta forma as trades no

    modo menor sero as seguintes:

    Figura 54 Acordes no modo menor Schnberg p. 159

    Para a utilizao dos acordes sem a alterao, Schnberg no impe qualquer

    restrio aos encadeamentos com estes acordes. Lembrando que estamos tratando at

    este ponto dos acordes no estado fundamental. Ou seja, para os acordes da chamada

    escala natural, as instrues de encadeamento continuam as mesmas do modo maior,

    apenas ressaltando que o acorde de quinta diminuta acontece aqui no II grau e vai exigir

    a preparao da quinta diminuta por ser um intervalo dissonante. Para Schnberg, este

    acorde continua tendo a sua resoluo no V grau com ou sem a alterao da tera (sol

    natural ou sol# para o ex. em L Menor). Para os acordes com alteraes, Schnberg vai

    apresentar primeiro um conjunto de quatro trajetrias obrigatrias para as notas (do

    exemplo em L Menor, f, sol, f# e sol#). E pela primeira vez no livro Schnberg vai

    fazer uso da palavra regra. Diz ele ento:

  • 40

    Exporemos aqui, em forma de regra os quatro pontos de trajeto

    obrigatrio da escala menor:

    Primeiro ponto de trajeto obrigatrio: sol#. Tem que ir ao l, pois, somente usado em razo do passo de sensvel. Em nenhum caso pode

    seguir-lhe sol ou f naturais, tampouco f# (pelo menos por agora);

    Segundo ponto de trajeto obrigatrio: f#. Tem que ir ao sol#, por somente ter-se introduzido como conseqncia deste. Em nenhum caso

    pode seguir-lhe sol ou f naturais, tampouco (pelo menos at agora) mi,

    r, l, etc.;

    Terceiro ponto de trajeto obrigatrio: sol. Tem que ir ao f, pois pertence escala descendente. Em nenhum caso pode seguir-lhe f# ou

    sol#;

    Quarto ponto de trajeto obrigatrio: f. Tem que ir ao mi, pois pertence escala descendente. Em nenhum caso pode seguir-lhe f#.

    35

    Durante este momento do aprendizado, Schnberg instrui o aluno a no se valer

    dos movimentos cromticos. Acrescenta ainda que outros movimentos que no estes

    acima descritos, podem turvar a sensao de tonalidade.

    Para que o aluno possa agora fazer os encadeamentos com acordes que possuam

    os movimentos obrigatrios citados acima, uma nova pergunta deve ser feita da seguinte

    forma: pergunta: Qual a dissonncia(s) e qual o som ou sons obrigatrios (com caminhos prescritos) que temos que observar?

    O exemplo abaixo encadeando acorde do I grau com outros da escala servir de

    modelo para encadeamentos com notas alteradas:

    Figura 55 Encadeamentos em menor sem notas alteradas Schnberg p. 161

    Em seguida comeam os exemplos com graus que contm notas alteradas. De

    incio, Schnberg j elimina o acorde de III grau com a quinta aumentada. Este ser

    estudado no seu livro em outro momento. O encadeamento do I grau com o IV grau

    elevado36

    considerado como excelente pelo autor, e que aps este IV grau elevado

    deve, pelo momento, pela obrigatoriedade do trajeto, vir um acorde de II grau tambm

    elevado. Assim, conforme o exemplo abaixo, a nota f# permanece na mesma voz, e na

    seqncia deste II grau, vir o V grau alterado. Schnberg no explica porque no

    poderia vir aps o IV grau elevado diretamente o acorde de V grau levado, j que a nota

    f# seria seguida de sol#, estando este movimento dentro da regra de trajeto obrigatrio.

    Todavia, ele afirma que o nico acorde a suceder o IV grau alterado o II grau

    alterado. O V grau alterado tambm faz timo encadeamento precedendo o I grau.

    Depois do VI grau elevado fica proibido o V grau elevado, apesar do f# que poderia ir

    a sol# no acorde seguinte, o autor est trabalhando somente com os acordes no estado

    35 SCHNBERG, Arnold. Harmonia. So Paulo: Unesp, 1999, p. 158.

    36 importante lembrar que o autor chama de elevado os acordes que contm uma das notas com a

    alterao de um semitom, no caso aqui os acordes que contm f# ou sol#.

  • 41

    fundamental e, alm disso, o baixo do acorde diminuto f# deve resolver uma quarta

    acima no prximo acorde.

    Nos exemplos seguintes vemos exemplos do II grau diminuto sendo preparado

    pelo IV grau e pelo VI grau, sem a alterao, indo para o V grau alterado. O

    encadeamento do II grau com o IV grau possvel, mas segundo Schnberg,

    inadequado, j que aps o IV grau elevado deve vir o II grau elevado, fazendo ento

    uma repetio de IV II IV II. O encadeamento II e V ambos elevados no tem

    nenhum problema. Ficam excludos os encadeamentos dos elevados II VI e II VII,

    porque as duas notas f# teriam que se mover para o sol# causando oitavas paralelas.

    Figura 56 Encadeamento do II grau do modo menor Schnberg p. 161

    Figura 57 Encadeamento proibido do II grau Schnberg p. 162

    O encadeamento do IV grau sem elevar s seria possvel com V grau elevado,

    porm, Schnberg o veta, porque at o presente momento do livro ele ainda no

    apresentou encadeamentos de acordes sem notas comuns. Ficam tambm proibidos os

    encadeamentos do IV grau no elevado com: o III grau elevado;37

    com o VII grau

    elevado;38

    com o VI grau elevado porque aconteceria da nota f ir a f# no VI grau, o

    que no permitido pelo momento, e se acaso f no for a f# na mesma voz estaria o

    movimento ocorrendo no problema da Falsa relao cujo significado : Elevando-se

    ou abaixando-se cromaticamente um som, tal alterao deve ocorrer na mesma voz em

    que este apareceu, no acorde anterior sem ser alterado.39

    O prprio Schnberg

    reconhece que no tem a inteno de usar esta lei com severidade porque, na prtica

    musical, esta lei frequentemente contrariada. Afirma ainda o autor que o inverso j

    teria sido outrora uma lei, e que estas no so leis de esttica, mas que existiam para

    vencer problemas de entoao. Conclui o autor dizendo que sua preferncia pela

    conduo cromtica, j que esta propicia uma melhor linha meldica. Mesmo com sua

    preferncia, conforme suas leis de trajetria ficam estes caminhos cromticos excludos

    pelo momento.

    37 Por este ser um acorde de quinta aumentada. 38 Por este ser um acorde de quinta diminuta que deve ser preparada a nota dissonante. 39 SCHNBERG, Arnold. Harmonia. So Paulo: Unesp, 1999, p. 162.

  • 42

    Figura 58 Encadeamento com graus alterados Schnberg p. 163

    Assim, o encadeamento do IV grau elevado com o II grau elevado definido

    por Schnberg como plano, porm fica proibido o encadeamento daquele com o II grau

    sem elevar. Proibidos tambm os encadeamentos com: o VI grau elevado por ser este

    um acorde diminuto; e com o VII grau porque at o momento, Schnberg o considera

    inutilizvel. Mais a frente no seu livro, Schnberg vai dedicar um captulo para o

    tratamento mais livre do VII grau nos modos maior e menor. Proibido tambm est o

    encadeamento do IV grau alterado para o I grau, justificado pelo autor atravs da

    obrigatoriedade da trajetria f# tem que ir ao sol#:

    Figura 59 Encadeamento do V grau no modo menor Schnberg p. 163

    Como estamos vendo, Schnberg vai trilhando os encadeamentos grau a grau.

    Com relao ao V grau sem elevar, pode ser encadeado com o I grau. Porm, este no

    pode ser encadeado com acordes que tenham sol# ou f# porque Schnberg evita ao

    mximo o cromatismo neste momento da aprendisagem. Da mesma forma est proibido

    o encadeamento do V grau, com ou sem elevar, com o II grau com ou sem alterao,

    sempre justificado pela trajetria da nota sol ou sol# e com o II grau com alterao por

    este ser um acorde diminuto que exige a preparao do IV ou do VI grau. Sem

    justificar, Schnberg exclui o encadeamento do V grau com o III pelo momento.

    Figura 60 Encadeamento do VI grau no modo menor Schnberg p. 164

    Com relao ao VI grau, este, pelo momento, no poder ser encadeado com

    acordes que contenham f# ou sol#. E o VI grau elevado, por ser um acorde diminuto,

    no ser estudado agora, pelo motivo da preparao da quinta diminuta e a nota do

    baixo sendo f# teria que ir a sol#, no saltando uma quarta ascendente como Schnberg

    determina.

    Para finalizar, Schnberg sugere ao aluno que uma sucesso de acordes elevados

    deve conduzir ao I grau, j que se for feito no meio do exerccio certamente vai gerar

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    uma repetio. O V grau quando estiver como p