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Apostila de história geral

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3História Geral

Carlos Alberto Schneeberger

1a Edição

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© Copyright - Todos os direitos reservados à

Av. Casa Verde, 455 – Casa VerdeCep 02519-000 – São Paulo – SP

e-mail: [email protected]

Proibida qualquer reprodução, seja mecânica ou eletrônica,total ou parcial, sem prévia permissão por escrito do editor.

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Expediente

Editor Italo AmadioEditora Assistente Katia F. Amadio

Assistente Editorial Edna Emiko NomuraRevisão Sérgio Torres

Projeto Gráfico Jairo SouzaDiagramação Cristhiane Garcia

Pesquisa Iconográfica Equipe RideelCartografia Kid’s Produções Gráficas Ltda.

e Mauri CamiloCapa Antonio Carlos Ventura

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

Schneeberger, Carlos AlbertoHistória geral : teoria e prática / Carlos Alberto

Schneeberger. – 1. ed. – São Paulo : Rideel, 2006.

ISBN 85-339-0810-5

1. História – Estudo e ensino I. Título.

06-0013 CDD-907

Índice para catálogo sistemático:1. História : Estudo e ensino 907

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5História Geral

APRESENTAÇÃO

Essa obra foi concebida para aqueles que almejam de-senvolver ou concluir seus estudos, para os que se preparampara participar dos principais vestibulares do país, e a todosque se interessam pela matéria. Sua importância está tam-bém, em sua utilização como fonte de pesquisa, pois além dea teoria ter sido apresentada de forma objetiva e com lingua-gem clara, foi distribuída com o equilíbrio necessário para asistematização dos estudos e das consultas.

O conteúdo conceitual da obra vem acompanhado de fotos,mapas e esquemas que dialogam com o texto auxiliando nasua compreensão.

Todos os capítulos receberam, ao final, questões de ves-tibulares aplicadas pelas melhores instituições educacionaisde Ensino Superior do país.

O Editor

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SUMÁRIO

PARTE 1 – A PRÉ-HISTÓRIACapítulo 1 – A pré-história ................................................. 13

Questões de vestibular ........................................................... 17

PARTE 2 – ANTIGÜIDADE: DAS CIVILIZAÇÕESORIENTAIS ATÉ O FIM DO IMPÉRIO ROMANO

Capítulo 2 – Antigüidade Oriental ..................................... 18As civilizações dos grandes vales fluviais .............................. 18A civilização egípcia ............................................................... 19A civilização mesopotâmica .................................................... 27As civilizações mediterrâneas orientais .................................. 33Civilizações periféricas ........................................................... 41Exercícios propostos .............................................................. 46Questões de vestibular ........................................................... 49

Capítulo 3 – Antigüidade Ocidental ................................... 50O mundo grego ....................................................................... 50O mundo romano .................................................................... 64Exercícios propostos .............................................................. 81Questões de vestibular ........................................................... 86

PARTE 3 – IDADE MÉDIACapítulo 4 – Introdução ..................................................... 91Capítulo 5 – Alta Idade Média ........................................... 92

A civilização bizantina ............................................................. 92A civilização muçulmana ........................................................ 95Os reinos germânicos ........................................................... 100Exercícios propostos ............................................................ 105Questões de vestibular ......................................................... 106

Capítulo 6 – Baixa Idade Média ...................................... 108Conjuntura européia ............................................................. 108As cruzadas ........................................................................... 110As rotas comerciais ............................................................... 113As crises religiosas e as transformações culturais ................ 113

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8 História Geral

Transição do feudalismo ao capitalismo ................................ 116As monarquias nacionais ...................................................... 118As grandes crises do século XIV .......................................... 124Exercícios propostos ............................................................ 127Questões de vestibular ......................................................... 130

PARTE 4 – IDADE MODERNACapítulo 7 – Expansão marítima e comercial européia .... 133

Introdução ............................................................................. 133O pioneirismo de portugal .................................................... 134A expansão marítima espanhola .......................................... 136A expansão marítima inglesa, francesa e holandesa ........... 137Exercícios propostos ............................................................ 139Questão de vestibular ........................................................... 140

Capítulo 8 – O Renascimento Cultural ............................ 140O pioneirismo italiano ........................................................... 142O Renascimento nos Países Baixos .................................... 144O Renascimento na península Ibérica ................................. 144O Renascimento na Inglaterra e na França ......................... 145O Renascimento na Europa Central ..................................... 146Exercícios propostos ............................................................ 146Questões de vestibular ......................................................... 147

Capítulo 9 – A Reforma Religiosa ................................... 149O desencadeamento da Reforma na Alemanha .................. 149A Reforma na Suíça: O calvinismo ....................................... 153A Reforma na Inglaterra e na Escócia: O anglicanismoe o presbiterianismo ............................................................. 154A Reforma católica ou Contra-Reforma ................................ 155Exercícios propostos ............................................................ 157Questões de vestibular ......................................................... 158

Capítulo 10 – O Estado moderno ................................... 159O mercantilismo .................................................................... 159A colonização ....................................................................... 163O absolutismo ....................................................................... 164Exercícios propostos ............................................................ 166Questões de vestibular ......................................................... 167

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9História Geral

Capítulo 11 – O absolutismo na Inglaterra ...................... 169Apogeu e crise ...................................................................... 169As revoluções inglesas no século XVII ................................. 170Exercícios propostos ............................................................ 173Questões de vestibular ......................................................... 174

Capítulo 12 – O absolutismo na França ......................... 175Exercícios propostos ............................................................ 178Questões de vestibular ......................................................... 179

Capítulo 13 – O Iluminismo e o Pensamento Liberal ...... 180Exercícios propostos ............................................................ 184Questões de vestibular ......................................................... 184

Capítulo 14 – O despotismo esclarecido ........................ 185Exercícios propostos ............................................................ 187Questão de vestibular ........................................................... 188

Capítulo 15 – A independência dos Estados Unidosda América ...................................................................... 188

A formação das colônias ...................................................... 188O processo de independência .............................................. 191Exercícios propostos ............................................................ 193Questões de vestibular ......................................................... 194

Capítulo 16 – A Revolução Industrial .............................. 196O pioneirismo da inglaterra .................................................. 196Exercícios propostos ............................................................ 200Questões de vestibular ......................................................... 201

PARTE 5 – IDADE CONTEMPORÂNEACapítulo 17 – A Revolução Francesa de 1789 ................ 203

Exercícios propostos ............................................................ 213Questões de vestibular ......................................................... 214

Capítulo 18 – O período napoleônico (1798-1815) ......... 216Exercícios propostos ............................................................ 219Questões de vestibular ......................................................... 220

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10 História Geral

Capítulo 19 – O Congresso de Viena e a Santa Aliança .... 220Questões de vestibular ......................................................... 223

Capítulo 20 – A independência das colôniasespanholas na América ................................................... 224

Exercícios propostos ............................................................ 226Questão de vestibular ........................................................... 227

Capítulo 21 – As grandes correntes ideológicasdo século XIX: liberalismo e socialismo .......................... 228

O liberalismo ......................................................................... 228O socialismo ......................................................................... 231O pensamento social da igreja católica:Rerum Novarum ................................................................... 233Exercício proposto ................................................................ 234Questões de vestibular ......................................................... 234

Capítulo 22 – As revoluções liberais de 1830 e 1848 ..... 235Exercícios propostos ............................................................ 237Questões de vestibular ......................................................... 238

Capítulo 23 – A evolução da inglaterra até aI Guerra Mundial ............................................................. 239

Exercícios propostos ............................................................ 242Questão de vestibular ........................................................... 243

Capítulo 24 – A unificação política da Alemanhae da Itália ......................................................................... 243

A fundação do império Alemão (II Reich) ............................. 243A unificação política italiana ................................................. 246Exercícios propostos ............................................................ 249Questões de vestibular ......................................................... 249

Capítulo 25 – Os Estados Unidos no século XIX ............ 250Exercícios propostos ............................................................ 254Questões de vestibular ......................................................... 255

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11História Geral

Capítulo 26 – O imperialismo e a partilha da Áfricae da Ásia ......................................................................... 257

Exercícios propostos ............................................................ 263Questões de vestibular ......................................................... 264

Capítulo 27 – A Primeira Guerra Mundial (1914-1918) ... 265Origens ................................................................................. 265A guerra ................................................................................ 268Exercícios propostos ............................................................ 271Questões de vestibular ......................................................... 272

Capítulo 28 – A conferência de Paris e ostratados de paz (1919) .................................................... 274

A Conferência de Paris ......................................................... 274O Tratado de Versalhes ........................................................ 275Os demais tratados .............................................................. 276A Liga das Nações ................................................................ 277Exercício proposto ................................................................ 278Questão de vestibular ........................................................... 278

Capítulo 29 – A revolução de 1917 na Rússia ................ 279Antecedentes ........................................................................ 279A revolução liberal-burguesa de fevereiro de 1917 .............. 282A revolução socialista de outubro de 1917 ........................... 283Primeiras medidas do governo comunista ........................... 283Uma nova política econômica (NEP) .................................... 285O triunfo de Stalin e os Planos Qüinqüenais ........................ 286Exercícios propostos ............................................................ 287Questões de vestibular ......................................................... 288

Capítulo 30 – As democracias ocidentais noperíodo entre guerras...................................................... 289

A Europa perde a liderança .................................................. 289A hegemonia dos Estados Unidos ........................................ 291Exercícios propostos ............................................................ 293Questão de vestibular ........................................................... 295

Capítulo 31 – A crise do capitalismo liberal e o New Deal .... 295

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12 História Geral

Os primeiros sinais da crise ................................................. 295A crise se manifesta: o crash na Bolsa ................................. 298A crise se torna mundial ....................................................... 300Franklyn Roosevelt e a era do New Deal ............................. 301Exercícios propostos ............................................................ 302Questões de vestibular ......................................................... 304

Capítulo 32 – A ascenção do totalitarismo de direita: fascismoe nazismo ........................................................................ 305

O fascismo italiano ............................................................... 306O nazismo alemão ................................................................ 308O militarismo japonês ........................................................... 313Exercícios propostos ............................................................ 314Questões de vestibular ......................................................... 315

Capítulo 33 – A Segunda Guerra Mundial (1939-1945) .... 316Antecedentes imediatos ....................................................... 316O desencadeamento do conflito ........................................... 318Os Estados Unidos na guerra .............................................. 320O início do fim ....................................................................... 322A derrota do Eixo .................................................................. 323O balanço da guerra ............................................................. 325Exercícios propostos ............................................................ 326Questões de vestibular ......................................................... 327

Capítulo 34 - O Mundo Pós II Guerra Mundial ................ 329A fundação da Organização das Nações Unidas (ONU) ...... 329A Guerra Fria ........................................................................ 330A reconstrução da Europa Ocidental .................................... 332A socialização do Leste europeu .......................................... 333A corrida armamentista ......................................................... 335O triunfo do comunismo na China Continental ..................... 336As grandes crises durante a Guerra Fria ............................. 338A descolonização da África, Ásia e Caribe ........................... 358As transformações nos Estados Unidos ............................... 361A União Européia .................................................................. 362

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PARTE 1PARTE 1A PRÉ-HISTÓRIA

Capítulo 1

Chama-se de Pré-História o período que se estende do apare-cimento do ser humano até o surgimento da escrita (4000 a.C.).O conhecimento desse período se faz pelo estudo dos vestígiosdeixados pelos povos que nele viveram, tarefa principalmenteda Arqueologia e da Antropologia.

Divide-se a Pré-História em períodos: Paleolítico, Neolítico eIdade dos Metais.

Esses períodos foram divididos levando-se em consideraçãoo estágio cultural dos grupos humanos e o grau do seu conheci-mento técnico. Emborahaja uma seqüência lógi-ca na evolução humana,isto é, pode ocorrer umasimultaneidade. Assim,numa mesma época, po-dem coexistir os três pe-ríodos. Basta considerar,para efeito de exem-plificação, o Brasil: emnosso território ainda hágrupos indígenas isola-dos, iletrados, vivendo empleno “Neolítico”.

Pintura pré-histórica(Lascaux, França).

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14 História Geral

Se compararmos a Pré-História com a História propriamentedita, notaremos que a primeira corresponde a milhões de anos;a segunda, aproximadamente, a 6 mil anos. Mas há estudiososque preferem localizar o início da Pré-História a partir de 600 mila.C., no início do processo de evolução do ser humano primitivo.Ainda assim, observa-se enorme diferença em relação à dura-ção de cada período.

O Paleolítico, ou Idade da Pedra Lascada, corresponde ao perío-do mais remoto da humanidade, sua infância. Nessa época, o serhumano teve de lutar duramente para garantir sua sobrevivência.A obtenção de alimentos era difícil e perigosa, pela ameaça e con-corrência de outros animais. O ser humano vivia da caça, pesca ecoleta. Era um extrativista, um predador, pois nada produzia. Suaorganização social era extremamente simples (vida grupal), e o

local de abrigo e refúgio mais uti-lizado eram as cavernas. O do-mínio do fogo foi fundamentalpara sua sobrevivência.

Nossos ancestrais já conse-guiam então produzir facas,pontas de flechas e lanças,usando a pedra. Os avançostécnicos eram lentos, mas ex-tremamente importantes. Para-lelamente, suas característicasfísicas se modificavam: a caixacraniana se ampliava, sua pos-tura ereta (bípede) tornava am-plo seu campo de visão e libe-rava seus braços e mãos, trans-formados em verdadeiras ferra-mentas. Suas mãos foram semodificando, os dedos se afas-taram, permitindo-lhes manipu-

A grande maioria dos his-toriadores considera a capa-cidade do ser humano deproduzir o fogo, dominá-lo esaber utilizá-lo como o maioravanço técnico no PeríodoPaleolítico. Pesquise em enci-clopédias e descubra a impor-tância desse avanço. Para suareflexão: esse avanço pode sercomparado à importância daenergia elétrica em nossosdias. Reflita a respeito e ima-gine como seria sua vida se,num dado momento, cessasseo fornecimento de eletricidade.

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15História Geral

lar instrumentos e levar alimentos à boca. A técnica da caça aospoucos evoluía, e vestimentas de pele eram confeccionadascom ajuda de agulhas feitas com ossos. A evolução da lingua-gem foi extremamente importante, pois possibilitou a transmis-são de idéias, por meio da articulação dos sons. Assim, a expe-riência de uma pessoa se tornava um conhecimento coletivo.

Na fase final do Paleolítico surgiram as primeiras manifesta-ções artísticas: adornos para o corpo; estatuetas femininasestilizadas, relacionadas com cultos de fecundidade; pinturas deanimais nas paredes das cavernas (pintura rupestre). Retrata-vam basicamente cenas de caça e possuíam um caráter mági-co. Arte realista por excelência, reproduzia o mundo em que aspessoas viviam. Muitos símbolos desenhados podem ter sido oprimeiro passo em direção à escrita ideográfica.

Por volta de 10 mil a.C., ocorreu o fim da última glaciação. Acamada de gelo, que havia coberto boa parte da Terra, recuou,alterando ecossistemas, provocando o desaparecimento de mui-tos animais e a migração de outros, mais afeiçoados ao frio. Obri-gados a se adaptar às novas condições climáticas para sobrevi-ver, muitos grupos humanos acompanharam os animais em seuprocesso migratório. Alargava-se a área ocupada pelos humanos.

No Neolítico, ou Idade da Pedra Polida, a evolução técnica seacelerou. Com o polimento, os instrumentos e armas se torna-ram mais eficazes.

Os grupos humanos, a partir de então, passaram a transfor-mar seu meio ambiente. Com a domesticação e a criação deanimais, e o surgimento da agricultura, a produção de alimentosmelhorou. A esses notáveis progressos chamamos de Revolu-ção Neolítica ou Agrícola. Os grupos humanos se sedentarizaram,com a construção de habitações e a formação de comunidades.As atividades econômicas se diversificaram, especialmente nosetor do artesanato, destacando-se a fiação de fibras vegetais eanimais, a tecelagem e a cerâmica.

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16 História Geral

Desenho de uma aldeia neolítica, com pessoas trabalhando na agricultura,pecuária, artesanato, atividades domésticas etc.

O conjunto das atividades econômicas determinou uma divi-são de tarefas entre o homem e a mulher, ao mesmo tempo emque se estruturavam as instituições político-sociais. Ao homemcabia a caça, a preparação da terra para a lavoura e, certamen-te, as atividades militares (construção da paliçada, a defesa, aprodução de armamentos). O cuidado com a lavoura, incluindo acolheita, era encargo feminino, bem como o cuidado da habita-ção, das crianças e a preparação da comida. A organização po-lítica congregava todos os membros masculinos adultos da al-deia, para assegurar sucesso na defesa, no ataque e manuten-ção do domínio das áreas de caça. A chefia, então, já repousavana experiência, não tanto na força.

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17História Geral

No final do Neolítico, iniciou-se a Idade dos Metais, com o em-prego de instrumentos de metais graças ao domínio, ainda querudimentar, da técnica de fundição. Utilizou-se, a princípio, o co-bre, o estanho, sua liga (o bronze) e o chumbo, metais cuja fu-são é mais fácil. A melhoria na fusão, pelo uso de foles, estimu-lou e diversificou a produção metalúrgica, culminando na produ-ção do ferro, usado principalmente na feitura de armas.

Datam do Neolítico a construção de monumentos colossaisem pedra (megalíticos), chamados dólmens e menires. Os pri-meiros são construções que se assemelham a uma mesa. Estu-diosos acreditam que deveriam ter a função de câmaras mor-tuárias. Já os menires são enormes pedras fincadas no solo emposição vertical, formando fileiras longilíneas ou circulares.

Questão de vestibular1) (UNICAMP) “Diferentemente das outras espécies de animais, o

homem possui poucas defesas corporais para enfrentar as condiçõesdo meio ambiente. Essa deficiência física, aliada a um cérebrocomplexo, permite ao homem grandes quantidades de movimentose capacidade para criar seu equipamento material.” Deste textopodemos concluir que:

a) O homem, por sua capacidade física, conseguiu dominar a natureza.b) A cultura humana não é hereditária, o conhecimento humano é um legado

social.c) O homem é a única espécie animal que possui técnica para transformar

a natureza.d) A produção de alimentos (agricultura) provoca uma profunda modifi-

cação na formação física e biológica do homem.e) Com a economia produtora, o homem tinha o controle de sua so-

brevivência, embora não possuísse ainda o poder de previsão daprodução.

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18 História Geral

PARTE 2ANTIGÜIDADE: DAS CIVILIZAÇÕES ORIENTAISATÉ O FIM DO IMPÉRIO ROMANO

PARTE 2

Capítulo 2 - Antigüidade Oriental

As civilizações dos grandes vales fluviais

A história da civilização ocidental teve origem no Oriente, hámais de cinco mil anos. Nessa região alguns povos, já seden-tarizados, haviam descoberto a escrita, desenvolvido formas com-plexas de sociedade e atividades organizadas de trabalho, pro-duzido notáveis obras artísticas, organizado governos com es-truturas bem definidas e leis que disciplinavam a vida e os inte-resses das comunidades. A complexidade de suas culturas per-

Mapa do nordeste da África (Egito) e Oriente Médio.

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19História Geral

mite aos historiadores chamá-las de “grandes civilizações”. Se-ria o Oriente Médio, portanto, o “berço da civilização ocidental”.

A civilização egípcia

O Egito antigo, no geral, foi território relativamente fechadodurante milênios, de sorte que não sofreu muitas invasões dospovos que permaneciam nômades. Isolados, protegidos ao nor-te pelo mar Mediterrâneo, à leste e à oeste pelos desertos, e aosul pelas cataratas do Nilo, os egípcios criaram uma grande cul-tura, notável pela sua originalidade e conservadorismo.

Aspectos geográficosO nordeste da África é uma região seca e desértica. Mas, o

Nilo, nascido no centro do continente, cruza o deserto em buscado Mediterrâneo. Em suas margens, de solo muito fértil, a pre-sença humana, em grande número, é possível.

O regime das cheias do rio está associado às chuvas nas ca-beceiras do Nilo. Certamente, no Egito as cheias eram, e ainda

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20 História Geral

Busto de Akhenaton e Pirâmide Egípcia.

são, relacionadas com as boas colheitas e prosperidade. Essaciclotimia, ou seja, enchentes e vazantes anuais que se repe-tem, contribuiu decisivamente para a formação de uma civiliza-ção original. O calendário era uma conseqüência do regime dorio, cujas águas alcançam maior volume por volta de junho, quan-do os sedimentos férteis (húmus) são depositados nas margens.Aos camponeses cabia a tarefa de aproveitá-las, cultivando osolo, num modo de vida tradicional, pacato e pacífico.

O Egito pré-dinásticoO Nilo favoreceu a sedentarização dos grupos humanos. O volu-

me e a perenidade de suas águas facilitaram a abertura de canaisde irrigação, ampliando as áreas cultiváveis. As comunidades primi-tivas (nomos), agrupamento de famílias, possuíam um chefe(nomarca) que organizava e administrava o trabalho coletivo.

O crescimento populacional, a multiplicação das comunida-des, a facilidade de transportes e comunicações pelo Nilo esti-mularam a união dos nomos, surgindo assim, com o decorrerdo tempo, dois reinos: o do Norte (Delta do Nilo ou Baixo Egito)e o do Sul (Vale do Nilo ou Alto Egito), que lutaram pela hege-

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monia política. Menés, rei do Alto Egito, derrotou seu rival doNorte e unificou o país por volta de 3200 a.C., pondo sobre suacabeça a dupla coroa, branca e vermelha, e estabelecendo acapital do reino em Mênfis. Iniciava-se a administração unificadado Egito antigo, cuja história pode ser dividida em três grandesperíodos: Antigo Império, Médio Império e Novo Império, comfases intermediárias.

Antigo ImpérioDurante esse período, os egípcios viveram em isolamento qua-

se total dos outros povos. O faraó detinha o poder máximo, con-siderado um juiz supremo, encarnação de Hórus, filho do deusRá. Sua existência era fundamental, pois até ordenava que oNilo “nascesse e renascesse” anualmente, conforme a crençageral. É desse período a construção das famosas pirâmides deQueops, Quéfrem e Miquerinos, nomes de importantes faraós.

Uma poderosa nobreza fundiária (descendentes dos antigosnomarcas) cooperava na administração e exploração dos campo-neses. Os nobres apoiaram o poder do faraó até o momento emque lhes garantiu uma posição social. Mas, quando se sentiramsuficientemente seguros e fortes, passaram a disputar o poder,ocorrendo um período de anarquia, que pôs fim ao Antigo Império.

Médio ImpérioCom o apoio da classe sacerdotal de Tebas, temerosa do po-

der da nobreza, uma nova dinastia passou a governar a partirdessa cidade. Restabelecida a ordem interna, a produção agrí-cola se expandiu por causa da ampliação de canais de irrigação.O Egito tornava-se o celeiro do Oriente Médio, rompendo seuisolamento tradicional. O comércio, interno e externo, se tornavabastante ativo, quer na bacia do Nilo, quer no Mediterrâneo.

Mas a prosperidade cobrou seu preço: atraiu povos asiáticos,guerreiros e nômades, que invadiram o Egito. Um povo semitainvadiu e ocupou o país: os hicsos. Dotados de armamentos de

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22 História Geral

ferro, de ousadas táticas militares e de cavalos, animais desco-nhecidos no Egito até então, os invasores derrotaram as forçasdo faraó e dominaram o país. O domínio hicso facilitou o estabe-lecimento de judeus na região, por serem também semitas.

Novo ImpérioPor volta de 1580 a.C., os hicsos foram expulsos, restauran-

do-se a independência política do Egito. Mas havia uma novarealidade. O egípcios aprenderam a arte de guerrear. Iniciava-sea época da expansão territorial. As fronteiras do império foramampliadas e povos conquistados, formando-se um grande impé-rio. A economia assumia um caráter dinâmico, com a animaçãodo comércio urbano no delta do Nilo e intensas relações com aFenícia e a Mesopotâmia.

A reforma monoteísta de AmenófisO perigo do poder clerical era imenso.

Rivalizava com o do faraó. Em muitas oca-siões até o sobrepunha. Contra o poli-teísmo tradicional e a ameaça do cle-ro levantou-se o faraó Amenófis IVque determinou o fechamento demuitos templos e distribuiu as ter-ras pertencentes ao clero. Instituiuo culto a um único deus, Aton (Sol),considerado como a primeira reli-gião monoteísta no mundo. Orga-nizou uma nova classe sacerdotal, a ele subordinada, e adotou onome de Aquenáton, ou seja, “filho de Aton”. A arte logo refletiuessa mudança: liberada da influência sacerdotal tradicional, apintura passou a retratar com mais realidade os modelos, ga-nhando movimentos, leveza e graciosidade. Uma verdadeira re-volução cultural.

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23História Geral

PERÍODOS INÍCIO (DATAS APROXIMADAS) TÉRMINO (DATAS APROXIMADAS)

Pré-dinástico Fundação de comunidades Formação dos dois reinos

Unificação do Egito Antes de 3200 a.C.

Antigo Império Unificação do Egito Revolta dos nobres de 3200 a 2300 a.C.

Médio Império Fim da anarquia Invasão dos hicsos de 2300 a 1750 a.C.

Novo Império Expulsão dos hicsos Conquista persa de 1750 a 525 a.C.

Com a morte do faraó Aquenáton, a reforma não se manteve.O clero voltava ao poder, reassumindo o controle do Estado.Grandes templos, então, foram construídos em Luxor e Karnak.

Por volta de 670 a.C., os assírios, oriundos da Mesopotâmia,invadiram e conquistaram o Egito. Expulsos, um novo governoindependente se instalou na cidade de Saís, no delta do Nilo.

Mas a autonomia dos egípcios estava definitivamente com-prometida em conseqüência de sua riqueza. Novas invasões sesucederam: os persas em 525 a.C., os macedônios em 332 a.C.,e os romanos em 30 a.C.

Sistema socioeconômicoA sociedade se dividia entre os que se apossaram das terras e

aqueles que tinham apenas a força de trabalho. As melhoresterras ficaram nas mãos dos mais fortes militarmente (nobreza)que, sob a proteção dos sacerdotes e dos deuses, controlavamos trabalhadores.

O topo da pirâmide social era ocupado pelo faraó e sua família.Considerado inicialmente descendente dos deuses, chegou a serum deles, identificado, ao longo do tempo, ora com Hórus, oracom Amon-Rá e, até mesmo, com Osíris, deus considerado ofundador do Egito. Os sacerdotes fortaleciam o poder do faraó,ocupando, assim, uma posição privilegiada com a nobrezafundiária. Os funcionários, como os escribas, “os que sabiam ler

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24 História Geral

e escrever”, demarcavam as propriedades, conferiam a produ-ção e o armazenamento dos cereais (trigo e cevada), controla-vam os rebanhos e coletavam os impostos dos camponeses.

Os camponeses formavam a grande camada popular, encar-regados de arar a terra, semear, cuidar da plantação, colher, abrircanais, construir reservatórios. Na época de menor necessidadede mão-de-obra na lavoura, boa parte dela era empregada naconstrução de monumentos. Os escravos eram pouco numero-sos, pois as guerras eram raras, pelo menos até o Novo Império.

O politeísmo egípcioA origem da religião egípcia se iniciou no período pré-dinásti-

co quando havia uma série de cultos dedicados aos totens. Cadanomo tinha seu deus protetor. À medida que os nomos se agru-pavam, o número de deuses crescia. Deuses animais (zoomór-ficos), com forma meio humana e meio animal (antropo-zoomórficos), e forma humana (antropomórficos), ocupavam oimaginário religioso egípcio antigo, como Anúbis, com cabeça dechacal sobre o corpo humano; Hórus, o falcão protetor do faraó;Ápis, o boi; Hator, a vaca; além dos elementos da natureza, comoSet (o vento), Osíris (o Nilo), Rá (o Sol).

Acreditavam em um Juízo Final, quando Osíris então coloca-ria em uma balança o coração do morto para julgar seus atos.Os justos e os bons iriam para o paraíso, enquanto os maus,tendo seu coração devorado por Anúbis, seriam condenados aviver nas trevas.

A religião egípcia mandava que se conservassem os corposdos grandes (mumificação). Já os do povo, não era possível pas-sarem pelo mesmo processo. Eram as múmias parte do Cultodos Mortos, tão acentuado na vida desse povo. Seguiam-se àmorte as cerimônias fúnebres, que terminavam com a colocaçãodas múmias em sarcófagos. Era um complicado processo de

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25História Geral

Uma das características da arquitetura egíp-cia antiga era a monumentabilidade das cons-truções. Em muitas edificações contemporâneas,observa-se também essa tendência. Descubraquais os mais altos edifícios e faça uma listaposteriormente; reflita sobre o porquê da gran-diosidade dessas construções. Explore as váriasrespostas. Haveria alguma preocupação seme-lhante a dos governantes egípcios antigos?

Pintura em túmulo egípicio.

embalsamamento do corpo, uma prepa-ração do invólucro terreno da alma, vi-sando conservá-lo à sua espera. A muni-ficação propiciou, por outro lado, umgrande conhecimento de anatomia, atéhoje admirado.

Relações entre religião e arteA arquitetura egípcia era a principal

manifestação artística dos egípcios, for-temente influenciada pela religião. Asprincipais edificações, monumentais emsuas dimensões, foram os túmulos (pi-

râmides e hipogeus), templos e palácios.

Os templos eram considerados moradias pessoais dos deu-ses. Obras imponentes, sustentadas por enormes colunas e or-namentadas com estátuas colossais de divindades e faraós. En-tre os túmulos, destacavam-se as pirâmides, cujas técnicas deconstrução ainda hoje intrigam os engenheiros e historiadores, e

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26 História Geral

continuam sendo objetos de estudo. Outro tipo de construçãotumular eram os hipogeus, escavados diretamente nas rochas.Para dificultar a ação de bandidos, os túmulos tinham passa-gens secretas, verdadeiros labirintos, muitas estátuas de deu-ses e salas pintadas, visando proteção e garantia de sobrevivên-cia ao corpo embalsamado. Tudo em vão. Os saques acontece-ram desde a Antigüidade.

A escultura era predominantemente religiosa, com a represen-tação dos incontáveis deuses. Quando a estátua representavaum faraó, um sacerdote, um nobre, ela substituía o risco da des-truição física causada pela morte. Esculpiam também sarcófagosde vários materiais, como madeira e granito. A pintura egípcia,além dos temas do cotidiano, retratava cenas religiosas e temasfunerários, geralmente acompanhadas de descrições hiero-glíficas, normalmente encontradas nas câmaras mortuárias.

Aplicava-se às figuras humanas retratadas o princípio da fron-talidade (a cabeça e as pernas de perfil, um olho e o tronco defrente). O tamanho das figuras correspondia ao grau de hierar-quia social, ou seja, o faraó era representado em tamanho maior;seguindo-se sua mulher, os sacerdotes e os nobres, as pessoasda corte, os militares, em tamanho cada vez menor. Finalmente,as pessoas do povo, bem diminutas.

Os hieróglifos e sua decifraçãoA escrita egípcia, chamada pelos gregos de hieróglifos (escrita

sagrada), surgiu antes de 3000 a.C. Durante muito tempo ousoudesafiar os estudiosos interessados em sua decifração. Coube aChampollion, sábio francês, nas primeiras décadas do século XIX,o grande mérito. Comparando, pacientemente, um texto em gregoclássico, em demótico (escrita egípcia popular, mais simplificada)e em hieróglifo, existentes na Pedra de Roseta, um achado arque-ológico da campanha de Napoleão no Egito, decifrou a escritaegípcia, dando início à Egiptologia. Com isso, abriu-se um largo

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27História Geral

Mapa da Mesopotâmia.

campo para resgatar opassado dessa civiliza-ção. Com mais de 600símbolos gráficos, oshieróglifos, escritos epintados principalmenteem papiro, eram vincu-lados à função religiosa.

A civilização mesopotâmica

Geograficamente, a Mesopotâmia era a região do Oriente Mé-dio compreendida entre os rios Tigre e Eufrates, com caracterís-ticas semelhantes às do Egito, pois os dois rios forneciam facili-dades excelentes ao transporte de mercadorias e à irrigação dasterras. O regime dos rios era condicionado pelo derretimento do

Gravuras e hieróglifos em sarcófago egípcio.

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28 História Geral

gelo das montanhas na Ásia Menor, onde se situam suas cabe-ceiras, cujas cheias inundavam suas margens, estimulando aabertura de canais de irrigação e a construção de diques. Po-rém, suas cheias eram mais irregulares.

Uma multiplicidade de povos se estabeleceu nessa região, porser de transição e aberta, como os sumérios, acadianos, amoritas,assírios, caldeus etc. Em geral, eram semitas, que lutavam pelaposse das terras fertéis. Nas planícies, no baixo curso dos rios,os agricultores eram freqüentemente atacados, desde remotasépocas. Por outro lado, os povos dos planaltos viviam mais dosaque e do pastoreio.

Nas sociedades hidráulicasda Mesopotâmia, a disputa pelaposse das melhores áreas cul-tiváveis e da água foi muito in-tensa. Os povos mais fracos fo-ram, então, submetidos pelosmais fortes que se valeram daviolência para reduzi-los à es-cravidão e ao trabalho forçado.

As cidades-Estado, que nelasurgiram, disputavam perma-nentemente as terras aráveis,transformando a região num ce-nário de lutas constantes. A re-volução urbana, em que a re-gião foi provavelmente a pionei-

ra, explica-se pela necessidade de proteção. Com a expansãodo comércio, facilitado pela sua localização estratégica, e o con-tato constante entre os povos, as cidades foram construídas comoimportantes centros de defesa e de comércio.

Um grande número de cidades surgiu, no terceiro milênio an-tes de nossa era, ao longo dos rios Tigre e Eufrates, como Ur,Uruk, Lagash, Acad e outras.

A água, mais do que qual-quer outra riqueza natural,tem sido na história objeto deprocura e disputa entre ospovos. Pesquise e descubraexemplos, no passado e nopresente. Com o crescimentodo seu consumo, o que pode-rá acontecer no decorrer donosso século, segundo oscientistas? Verifique possíveisconseqüências para o meioambiente e para a saúde.

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29História Geral

Pesquise a respeito do Código de Hamurabi. Transcreva al-guns artigos e descubra o que significa a “lei do talião”. Pos-teriormente, compare-o com alguns importantes documentosdo mundo contemporâneo, como a Declaração de Independên-cia dos Estados Unidos (1776), a Declaração dos Direitos doHomem e do Cidadão na França (1789) e a Declaração Universaldos Direitos Humanos da ONU (1948). Observe os principaisartigos. O que você deduz? Assim, você pode conhecer seus di-reitos como cidadão. Mas, lembre-se, há também os deveres.

Dominadas por sacerdotes e guerreiros, nelas, o soberano,representante dos deuses e proprietário da maior parte das ter-ras, recebia impostos e a maior parte do saque nas guerras. Nesseperíodo, as cidades eram independentes politicamente.

Há dois principais períodos na história política da Mesopotâmia:

a) Primeiro Período Babilônico (por volta de 4000 a 1275 a.C.),com a fundação de cidades como Lagash, Ur, Uruk e a pri-mitiva Babilônia;

b) Período Assírio (1275 a 538 a.C.), incluindo os períodos dedomínio da Caldéia (de 612 a 538 a.C.) e também o segundoPeríodo Babilônico, sob o reinado de Nabucodonosor (604 a561 a.C.).

Centro comercial de grande importância, controlando o trânsi-to pelo rio Eufrates, Babilônia se tornou uma potência militar.Seu rei, Hamurabi, conquistou longínquas regiões ao norte e aregião conheceu um período de grande atividade comercial, coma fundação de novas cidades. Consolidado o seu poder, paramantê-lo, bem como regulamentar as relações sociais, o rei de-cretou um código para todo o seu império. O Código de Hamurabié um modelo de jurisprudência na língua babilônica. Concebidohá 37 séculos, o código legislava a partir da existência de três

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30 História Geral

grupos sociais distintos: os ricos, o povo e os escravos. Portan-to, não havia igualdade de todos perante a lei, como em princípioocorre no mundo contemporâneo.

Curiosamente, os delitos cometidos pelos ricos eram punidosmais severamente e os escravos tinham alguns direitos garanti-dos. O código garantia grande independência da mulher em re-lação ao marido, mas este podia castigá-la por infidelidade. Osfilhos herdeiros ficavam com os bens dos pais, mas as mulherestinham direito apenas a um dote.

Contudo, novas invasões aconteceram no século XVI a.C., quedevastaram toda a região, destruindo a hegemonia da Babilônia,como a dos assírios, que preponderaram na Mesopotâmia emdecorrência de sua superioridade militar (carros de combate,catapultas, aríetes, cercos e assaltos de cidades). Notabilizaram-se pela crueldade no tratamento dos prisioneiros. A partir do altovale de Acad onde fundaram a cidade de Assur, comandadospelo rei Sargão II, e seus sucessores Senaqueribe e Assurbanípal,conquistaram toda a Mesopotâmia e anexaram parte do vizinhoreino judeu.

Com as guerras, o número de escravos aumentou muito eum poderoso exército mantinha a dominação, aterrorizando aspopulações. Tal desumanidade fez com que os povos domina-dos se levantassem contra a opressão dos assírios e destruís-sem a Assíria.

Novamente o Império BabilônicoA nova dinastia babilônica, iniciada por Nabupolasar, teve cur-

ta duração, embora houvesse um notável desenvolvimento sobo governo de seu filho Nabucodonosor (605-563 a.C.). Seus do-mínios se estenderam por toda a Mesopotâmia, conquistaram oreino de Judá, e trouxeram os judeus cativos para a Babilônia,episódio relatado na Bíblia. Nabucodonosor determinou a constru-

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31História Geral

Ambições políticas, luta pelo poder, golpes de Estado, inte-resses pessoais e de grupos. Todos os períodos da históriaapresentam esses processos. Observe como os políticos jus-tificam seu interesse pela política. O que eles dizem corres-ponde à realidade? Desenvolva sua capacidade de observaçãoe seu espírito crítico. Exercite a sua cidadania, cobrando dosgovernantes as promessas eleitorais.

ção dos famosos Jardins Suspensos, uma das sete maravilhasdo mundo antigo, segundo os gregos. A economia passou porgrande expansão com o uso das rotas comerciais, tendo comoepicentro a cidade da Babilônia.

Após sua morte, seus sucessores se envolveram em lutaspelo poder, provocando a debilidade estatal e militar. Os co-mandantes defendiam seus próprios interesses, o que possibi-litou aos persas, comandados por Ciro, a conquista da Babilônia,em 539 a.C.

Religião e cultura na MesopotâmiaPoliteístas como os egípcios, os povos mesopotâmicos dedi-

cavam aos seus deuses templos, oferendas e sacrifícios. Umadas preocupações era explicar a origem do mundo por meio dosmitos envolvendo os deuses, como Shamash, o Sol; Ishtar, deu-sa do amor; e Marduc, o criador dos homens. A atenção geralera voltada para os fatos do dia-a-dia. Os sacerdotes faziam asprevisões diárias, interpretando a posição dos astros no céu eeditavam horóscopos, interferindo na vida das pessoas, preven-do o futuro etc.

A complexidade das relações econômicas urbanas favoreceuo desenvolvimento cultural. A escrita mesopotâmica eram ideo-gramas simplificados, escritos em tábuas de argila com o uso de

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um estilete em forma de cunha. Por isso, é conhecida como es-crita cuneiforme. Dividiram o dia em 24 horas (quatro períodosde seis horas) e o ano por meio dos dos ciclos da Lua.

Dada a escassez de materiais de construção resistentes, a ar-quitetura e a estatuária da região não se situa entre as mais ricasda Antigüidade. Tijolos de barro era o material de que dispunhamos engenheiros da região. Além dos Jardins Suspensos, destaca-ram-se os “zigurates”, construções altas que serviam de templo ede observatório astronômico. Construídos em forma de torre, naépoca sumeriana, era uma pirâmide de faces escalonadas.

Zigurate.

Observe como já na Antiguidade havia uma preocupação peloajuntamento e conservação de obras, ou seja, formar uma bi-blioteca. Em seu bairro há alguma biblioteca pública? No casode existir, você a freqüenta? O que mais o atrai? Lembre-se deque sua curiosidade destaca você de forma positiva dentre aspessoas. Por outro lado, seu desinteresse também é notado.Portanto, desperte a curiosidade que deve existir em você.Cresça intelectualmente.

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33História Geral

A habilidade no uso dos números fez avançar as operações ma-temáticas e a geometria aplicada. Estudos de astronomia, divisãode ângulos, calendário de sete dias, divisão do círculo em grausforam outras realizações culturais desses povos. Na literatura so-breviveram narrativas, como a do herói Gilgamesh, que aparece naBíblia com o nome de Noé. Era famosa a biblioteca do reiAssurbanípal, pelo número e diversidade dos documentos e livros.

As civilizações mediterrâneas orientais

Os feníciosNem todas as civilizações da Antigüidade oriental estavam asso-

ciadas à agricultura, à pecuária e ao artesanato. Alguns povos, comofenícios, semitas, dedicavam-se principalmente ao comércio no Me-diterrâneo oriental. Oriundos da região da Caldéia, na Mesopotâmia,os fenícios se estabeleceram no atual território libanês, uma estrei-ta faixa de terra, entre as montanhas e o Mediterrâneo.

Mapa da Fenícia.

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As façanhas marítimas e comerciais dos fenícios os tornaramfamosos. Além disso, eles colaboraram enormemente para o pro-gresso intelectual humano com a criação do alfabeto fonético.

Vários fatores estimularam a expansão comercial e marítimada Fenícia. O cedro, abundante nas montanhas do Líbano, era amadeira ideal para a construção naval. Por outro lado, com ex-ceção dos vales, o solo pobre não possibilitava alcançar umasuficiente produção agrícola. A solução foi lançar-se ao mar àprocura de meios de subsistência e riquezas. Favoreceu o de-senvolvimento do comércio a localização estratégica da Fenícia,entre o Egito, “o celeiro da Antigüidade”, a Ásia Menor e aMesopotâmia. Marinheiros e artesãos eram numerosos em suapopulação, que trabalhava para uma aristocracia formada pornotáveis mercadores que monopolizavam o poder político nascidades-Estado.

Na Fenícia nunca houve uma unidade político-administrativa.Eram cidades-Estado, como Biblos, a primeira a se destacar co-mercialmente, explorando as rotas do Mediterrâneo oriental. Porvolta de 2500 a.C. alcançou tamanha importância comercial quese tornou preponderante na Fenícia. Posteriormente, por voltade 1400 a.C., sua rival Sidon alcançava a supremacia naval emilitar ao atingir mercados no Mediterrâneo ocidental. Tiro foi aterceira a se destacar ao acumular enormes riquezas, funcio-nando como intermediária entre o Egito e os mercados do Orien-te. Fez alianças com assírios, babilônicos e persas, para a práti-ca do comércio e para o transporte marítimo de tropas, garantin-do assim uma certa autonomia política em relação aos povosconquistadores.

Os fenícios desenvolveram extraordinariamente o artesanato,produzindo mercadorias de grande procura na região mediterrâ-nea, como armas, vasos, adornos de cobre e bronze, tecidosbrocados, espelhos, objetos de vidro colorido. Produziam umatinta púrpura, obtida de moluscos marítimos (múrice), para tingirtecidos, o que lhes garantia bons lucros.

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35História Geral

Dotados de enorme conhecimento técnico-naval, dominaramas rotas mediterrâneas, ultrapassaram o estreito de Gibraltar emdireção ao Atlântico e alcançaram as ilhas Britânicas. Acredita-se mesmo que tenham feito a primeira viagem de circunavega-ção da África muitos séculos antes dos portugueses.

Os fenícios alcançaram fontes produtoras de matérias-primas,como cobre e estanho na península Ibérica. Estabeleceram vári-as cidades-colônia no litoral mediterrâneo, que funcionavam comoentrepostos comerciais. No norte da África, fundaram Cartago,futuramente a grande rival de Roma. Era um entreposto de mer-cadorias que, produzidas na África Central, atravessavam o de-serto do Saara em caravanas. Escravos, peles e penas, ouro,marfim e madeiras preciosas eram alguns dos muitos produtosque chegavam a Cartago.

Os fenícios foram os criadores do alfabeto, um sistema de es-crita no qual cada sinal representa um som (grafia fonética). Fa-cilitava consideravelmente suas transações comerciais e seus

Mapa do Mediterrâneo ocidental.

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trabalhos de contabilidade. O alfabeto fenício compunha-se de22 sinais, correspondentes apenas às consoantes, pois se trata-va de uma língua semita. Mais tarde, os gregos introduziram ossímbolos correspondentes às vogais. Com algumas modificações,tornou-se o alfabeto latino utilizado pela grande maioria dos po-vos ocidentais.

Os hebreusO judaísmo é a origem de duas outras religiões que possuem

milhões de adeptos em todo o mundo: o cristianismo e o isla-

Quadro comparativo do alfabeto fenício, grego e latino.

Pense na importância do alfabeto fonético fenício e na impor-tância de saber ler e escrever, especialmente em uma socie-dade moderna urbano-industrial. Reflita sobre as dificuldadesque uma pessoa enfrenta em um grande centro urbano se nãosouber ler. Liste alguns problemas que esta pessoa enfrentadiariamente. Depois troque idéias com seus colegas. Comentea situação do Brasil quanto à alfabetização de sua população.Questione se o governo tem feito o que deveria.

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37História Geral

mismo. Ele surgiu entre os hebreus na Antigüidade, primeiro povoefetivamente monoteísta da história.

Várias tribos semitas, originárias da Mesopotâmia, fixaram-sena região da Palestina, a partir do século XX a.C., em caráterseminômade. Entre elas, os hebreus. Com a posse da área, de-dicaram-se principalmente ao pastoreio (bovinos, caprinos e ovi-nos). Para satisfazer suas necessidades básicas, dedicaram-seao cultivo de trigo, cevada, oliva, figo, fava etc. A produção deleite, lã e pele complementava a alimentação e fornecia matéria-prima para suas atividades artesanais. A localização geográficada Palestina favorecia o comércio com outros povos. A seden-tarização veio com o tempo.

A sociedade hebraica tinha como base a família patriarcal. Opoder do patriarca era incontestável, mas regido pelo bom sen-so. A poligamia era institucionalizada e havia a prática da vendade filhos para estrangeiros, como forma de aliviar os problemasem épocas de penúria. A mais grave delas levou o povo hebreu ase deslocar para o Egito, no século XVII a.C., em busca de ali-

Mapa da Palestina na Antigüidade.

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38 História Geral

mentos, aproveitando estar esse país sob domínio dos hicsos,também semitas.

Por volta de 1290 a.C., o líder Moisés chefiou a saída do povohebreu do Egito em busca da Palestina, a “Terra Prometida” porIavé. Era o “Êxodo”. Os hebreus vagaram muitos anos pelos de-sertos, até adquirir uma forte solidariedade tribal. Boa parte datradição e crenças religiosas judaicas surgiu nesta época, comoas Tábuas da Lei (Dez Mandamentos) e a Arca da Aliança. Ten-do morrido Moisés, outro líder, Josué, iniciou a conquista da Pa-lestina, expulsando ou submetendo outros povos semitas que aíhaviam se estabelecido.

Os hebreus desenvolveram um sistema tribal, baseado no sis-tema de propriedade familiar dos meios de produção. Os idososeram respeitados por sua sabedoria e conhecimento das leis cos-tumeiras, exercendo a função de “patriarcas”. O direito da primo-genitura assegurava a transmissão do poder ao filho mais velho.Já os juízes eram os chefes das tribos, que se constituíram coma agregação das comunidades, e eram escolhidos pelos patriar-cas. Sansão foi o mais famoso. Certamente as mulheres ocupa-vam uma posição inferior na sociedade.

Como os povos que viviam na região haviam oferecido granderesistência, sendo vencidos com dificuldades, especialmente osfilisteus, o precário domínio dos hebreus revelava a sua fragili-dade político-militar. Divididos em doze tribos, chefiadas pelosjuízes, os hebreus compreenderam a importância da concretiza-ção da unidade político-militar. Um chefe militar, Saul, foi acla-mado rei dos judeus, em 1 010 a.C.

Assim, a consolidação da monarquia hebraica foi conseqüên-cia das guerras na Palestina. Saul foi sucedido por Davi, outrocomandante militar. Ao mesmo tempo que completou a conquis-ta da Palestina, iniciou a construção do Templo de Jerusalém.Davi conseguiu unir todas as tribos e transformou Jerusalém nacapital do reino. Líder carismático, legitimou o seu poder através

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de alianças com os sacerdotes. Organizou um exército de mer-cenários e iniciou uma política expansionista para financiar osgastos do Estado.

Salomão foi o terceiro rei. Governou de 966 a 933 a.C., épocaem que o reino hebraico alcançou o seu maior desenvolvimentopolítico e econômico. O templo teve a sua construção completada, abrigando a Arca da Aliança, símbolo do pacto entre o povohebreu e Iavé (Deus). O templo de Jerusalém simbolizava refe-rência nacional e a religião funcionava como meio de união dopovo e elo de ligação com o poder político.

Porém, o individualismo dos chefes políticos provocou a sepa-ração das tribos. Após a morte de Salomão, ocorreu o CismaHebraico. Dez tribos ao norte constituíram o Reino de Israel, cujacapital era a cidade de Samaria. As duas tribos restantes forma-ram o Reino de Judá, ao Sul, com capital em Jerusalém. A divisãoenfraqueceu o povo hebreu, estimulando a cobiça dos povos vizi-nhos. O Reino de Israel foi atacado e conquistado pelos assíriosem 720 a.C. Judá não resistiu ao ataque de Nabucodonosor, ten-do sido sua população levada cativa para a Babilônia em 586 a.C.Episódio conhecido na Bíblia como “Cativeiro da Babilônia”.

O drama judeu só terminou quando o rei persa Ciro conquistoua Babilônia, em 539 a.C., e permitiu que os judeus regressassemàs suas terras. O Templo de Jerusalém foi restaurado e a classesacerdotal manteve uma política de aliança com o Estado persa.

Posteriormente, novas invasões e domínios se tornaram co-muns. Ocorreu a conquista de Alexandre, em 333 a.C., depois ado greco-egípcio Ptolomeu. Seguiu-se a invasão romana, coman-dada por Pompeu. Em 63 d.C., os hebreus se revoltaram, mas,derrotados, foram dispersos pelo Império Romano, no episódioconhecido como Diáspora. Seu fim ocorreu somente com a fun-dação do Estado de Israel, em 1948.

Os judeus, por ocasião da formação do seu Estado na Antigüi-dade, já cultuavam apenas um deus, Iavé.

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40 História Geral

A crença em Iavé ou Jeová foi institucionalizada pelas leis deconduta e princípios espirituais e religiosos, escritos por Moisés,e que correspondem ao Pentateuco bíblico (Torá), destacando-se os Dez Mandamentos. Jeová é o elo de ligação, assegurandoa existência da nação de Israel por toda a história. Entre as prá-ticas religiosas destacam-se: guardar o shabath (sábado), cele-brar a Páscoa (Psach), adorar Iavé na sinagoga, a circuncisão, obarmitzva, a dieta, o jejum no Yon Kippur etc.

A Bíblia (Antigo Testamento, para os cristãos) contém toda umatradição oral milenar dos hebreus. Destacam-se a explicação dacriação do mundo (Gênesis) até o Êxodo (Pentateuco); os Livros

Muro das Lamentações.

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Históricos; os Salmos, de David; os Provérbios, de Salomão; eos Livros Proféticos, de Daniel, Ezequiel e Isaías.

O Talmud é formado pelos comentários dos rabis sobre asleis e as coleções de preceitos morais, espirituais, religiosos,higiênicos etc.

Civilizações periféricas

Os persasOs persas pertenciam ao grupo étnico indo-europeu, também

chamado ariano. Originários do Cáucaso, os arianos invadiramo planalto do Irã no segundo milênio a.C.; dividiam-se em medose persas. Povos guerreiros, conquistadores e expansionistas, do-minaram povos do Oriente antigo, desde o Egito até a Índia, es-tabelecendo um grande Império. A grande vantagem militar: eramhábeis no uso de cavalos e possuíam carros de combate. Prova-velmente foram os medos os primeiros a domesticar cavalos.

Em 546 a.C., Ciro se tornou rei da Pérsia. Formou um grandeexército, com soldados armados com longas lanças, corpos dearqueiros e cavalaria. Era um conquistador diferente, pois as ci-dades conquistadas não eram destruídas e os povos domina-dos, menos explorados.

O cristianismo e o islamismo têm sua origem no judaísmo.Ambas são religiões monoteístas, mas possuem entre si ele-mentos de diferenciação e identificação. Consulte livros, enci-clopédias, Internet ou entreviste pessoas. Faça um quadro sin-tético comparativo indicando algumas diferenças. Reflita sobreelas. Mas lembre-se: o respeito ao diferente é fundamental.Afinal, vivemos em um mundo multirreligioso e essa diversida-de enriquece o patrimônio cultural da humanidade.

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Seus domínios se estenderam até o Mediterrâneo oriental coma conquista de cidades gregas na região da Jônia e a aliançacom os fenícios. Em 539 a.C., conquistou a parte ocidental daÍndia. Governante hábil, concedia liberdade religiosa, conseguindoassim o apoio dos povos dominados. Autorizou até mesmo osjudeus cativos na Babilônia a voltarem para Jerusalém e recons-truir o Templo de Jerusalém. Com a paz o comércio se desenvol-veu, abrangendo desde a Índia até o Mediterrâneo. Foi o genialconstrutor de um grande Império.

Nos domínios de Ciro, a idéia de justiça desempenhava umafunção fundamental. Ciro criava condições para que os povossob seu domínio fossem capazes de pagar tributos. Concedia-lhes também certa autonomia, sob supervisão de um administra-dor persa por ele nomeado. Seu sucessor, Cambises, anexou oEgito em 525 a.C. Foi sucedido por Dario, o grande administra-dor persa, cujo domínio se estendia do Egito até a Índia, incluin-do parte do litoral do Mediterrâneo oriental. O Império foi divididoem diversas regiões conhecidas como satrapias, administradaspor funcionários de sua confiança. Mantinha um corpo de funcio-nários de confiança que percorria as províncias (“os olhos e osouvidos do rei”), e era responsável pela fiscalização dos atosdos sátrapas.

Por causa da grande extensão do Império, organizou um efi-ciente sistema de comunicações, por meio de estradas e de men-sageiro. Havia quatro cidades administrativas: Susa, Persépolis,Passárgada e Ecbátana.

Graças a essa obra e ao tratamento aos povos submetidos, oImpério sobreviveu por longo tempo, mas acabou sendo con-quistado por Alexandre, em 331 a.C.

No seu apogeu, o Império controlava as rotas da China e daÍndia até o Mediterrâneo. Havia uma longa estrada, a “Real”, com2.400 Km, ligando a cidade de Éfeso, no litoral do mar Egeu, aSusa, dotada de hospedarias para os viajantes e estábulos para

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cavalos, bem como um correio oficial regular. As reservas gover-namentais em ouro eram tão grandes que a moeda persa, odárico, era aceita internacionalmente.

Os persas eram politeístas até a reforma feita por Zaratustraou Zoroastro, no século VI a.C., que concebeu uma religião ba-seada na noção de justiça. Concebia a existência de dois deu-ses principais (dualismo), querepresentavam princípios dife-rentes e antagônicos. Aura-Mazda era o princípio da vida,luz, bem, verdade, virtude eoutras qualidades. Ahriman,representado por uma ser-pente, simbolizava a morte,trevas, mal, discórdia, doen-ças, conflitos e outras desgra-ças. Ambos estariam emconstante luta. As pessoasque seguissem Aura-Mazdaseriam recompensadas; os Escultras em Persépolis.

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que seguissem seu opositor seriam castigados eternamente. Por-tanto, acreditavam em outra vida, mas apenas para as almas.

Os ensinamentos do dualismo persa foram reunidos em umlivro, o Avesta ou Zend-Avesta. Nele, Zaratustra descreveu o JuízoFinal, quando os valores morais e o comportamento das pes-soas seriam pesados numa balança. Anunciava a vinda de umMessias, o “ungido”, salvador.

Os cretensesComo a Fenícia, Creta foi uma civilização dominada por cida-

des-Estado, especialmente Cnossos, a mais importante. A pro-teção natural do mar proporcionava aos cretenses uma vida re-lativamente tranqüila. Mesmo assim, uma poderosa frota vigiavaseu litoral contra o ataque de piratas que, por vezes, perturba-vam seu comércio, sua principal atividade econômica. Paramantê-lo ativo, importavam matérias-primas para a produçãometalúrgica, como cobre, de Chipre e estanho, da Ásia Menor, e

Mapa de Creta.

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exportavam objetos de cerâmica e de metal, tecidos, armas e,principalmente, azeite e vinho. Também agiam como intermediá-rios, ao transportar madeira do Líbano para o Egito.

As terras, bem aproveitadas, supriam com a atividade agro-pecuária as necessidades da população. Geralmente havia ex-cedente, que era exportado para pagar as importações. Na ilhade Creta, as oliveiras e as videiras se desenvolviam muito bem.Os palácios reais eram dotados de oficinas e armazéns para aatividade artesanal. Nele, os artesãos, organizados profissional-mente, trabalhavam com enorme perícia.

As mercadorias eram de fina qualidade: jóias, armas, vasoscom armação de ouro, ferramentas etc. Os negócios eramregistrados em papiro importado do Egito, mas os cretenses de-senvolveram uma escrita bem mais simplificada.

O domínio cretense sobre o sul da península Balcânica fez comque muitas lendas fossem elaboradas, como a do Minotauro, um

monstro meio homem e meio touro, que habitava ailha e exigia sacrifícios humanos de que eram víti-mas os gregos. O minotauro habitava o Labirinto(na verdade, o grande palácio de Cnossos), com

seus múltiplos corredores, onde as vítimas seperdiam e eram por ele devoradas.

O padrão de vida para a época, em Cnos-sos, era elevado. Havia ruas calçadas, ca-sas confortáveis para os mercadores. Seus

habitantes conheciam hidráulica, pois sa-bemos que suas residências e as casasde banhos públicos eram dotadas deágua corrente.

O declínio cretense, após 1400 a.C., deveter sido motivado pela invasão dórica da pe-nínsula Balcânica, com reflexos sobre a vidaem Creta.

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46 História Geral

A civilização creto-micênicaPovos indo-europeus ocuparam a península Balcânica, a partir

do ano 2000 a.C. Viriam a formar o povo grego. A primeira vagaera constituída pelos aqueus que fundaram pequenas vilas, comoMicenas e Tirinto, na região sul da península. Conheceram a civi-lização cretense, cujo comércio transformou Micenas em uma im-portante cidade, cuja influência se difundiu pela Grécia. Atacada edestruída pelos dórios, Micenas praticamente desapareceu.

Exercícios propostos

Responda os testes 1 e 2 usando este código:a) Todas as frases estão certas.b) Só as frases I e II estão certas.c) Só as frases I e III estão certas.d) Só as frases II e III estão certas.e) Todas as frases estão erradas.

1) I - O Egito antigo tinha na agricultura a grande concentração de mão-de-obra.II - Os camponeses cuidavam das plantações e dos canais de irrigação.III- Os artesãos produziam peças de vestuário e objetos do mobiliário.

2) I - Menés unificou o Egito e iniciou a primeira das dinastias.

As lendas, embora produto do imaginário de um povo, po-dem ser um importante material para se conhecer a históriade um povo. É o caso da lenda do Minotauro. Leia sobre ela eidentifique passagens que, interpretadas, permitem se conhe-cer a história dos cretenses, suas características e costu-mes. Informe seus colegas sobre suas descobertas. Lembre-se de que quem tem curiosidade, pesquisa com prazer e revelao desejo de saber sempre mais.

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47História Geral

II - Os nomarcas constituíam a classe sacerdotal.III- O Egito antigo tinha um sistema político fortemente centralizado.

3) No Egito antigo, a classe sacerdotal monopolizava a religião e influen-ciava o poder político e o povo. Podemos afirmar que:

a) A classe sacerdotal nunca contestou o poder dos faraós.b) O politeísmo egípcio contava com um grande número de divindades,

zoomórficas e antropozoomórficas.c) O faraó era o deus supremo dos egípcios.d) Os egípcios sempre foram monoteístas.e) O mundo pós-morte era reservado ao faraó e à classe sacerdotal.

4) O Egito antigo entrou numa era de caos interno quando, provenientesda Ásia Menor, armados de carros de guerra, forte cavalaria e armasde ferro, desconhecidas dos egípcios, eles invadiram e tornaram-sesenhores do Egito. Eram eles os:

a) Hebreus. c) Gregos. e) Assírios.b) Hicsos. d) Persas.

5) Assinale a proposição incorreta:a) O célebre código de Hamurabi surgiu durante o Primeiro Império Babilônico.b) Sargão II, Senaqueribe e Assurbanipal foram grandes reis hititas.c) Os assírios celebrizaram-se pela sua ferocidade e dedicação à guerra.d) Em 612 a.C., os caldeus, aliados dos medos, arrasaram Nínive.e) A típica construção mesopotâmica é o Zigurate.

6) Assinale a frase incorreta:a) Por ser uma região aberta, a Mesopotâmia distinguia-se por seu co-

mércio e invasões.b) Em 587 a.C., Nabucodonosor conquistou o Egito, escravizando milhares

de judeus.c) Em 539 a.C., Ciro, rei dos Persas, conquistou a Babilônia.d) Predominaram na Mesopotâmia os assírios e os caldeus.e) O barro era o material mais usado na escrita cuneiforme mesopotâmica.

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48 História Geral

7) De acordo com o texto assinale a alternativa correta:“A arte da Mesopotâmia do Norte herda da arte babilônica, comoa civilização ninivita herda da sociedade caldaica. A língua que osartistas falam é pouco mais ou menos a mesma, porque o solo, océu e os homens não são diferentes. O que aconteceu foi que,com a transformação da ordem social e das condições de vida, opositivismo caldeu fez-se brutalidade. O sacerdote sábio cedeuao chefe militar, que usurpou em seu proveito e no uso da suaraça os comandos que seus companheiros de caça e de combatelhe confiavam.”

(Aymard e Auboyer – História Antiga)De acordo com o texto, podemos afirmar que:

a) A arte da Mesopotâmia do Norte não teve qualquer influência externaem sua constituição.

b) O chefe militar substituiu a sabedoria pela violência.c) Nota-se uma total disparidade de temas, técnicas, motivos nas artes

dos povos mesopotâmicos.d) A transformação da ordem social nada tem a ver com a arte.e) A sociedade caldéia herdou dos assírios um legado cultural vasto que

marcou profundamente sua maneira de ser.

8) O maior legado dos fenícios para o Ocidente foi:a) A religião dualista baseada nos princípios do Bem e do Mal.b) O Direito escrito baseado na lei de Talião.c) O culto a uma divindade agrária, a Deusa-Mãe.d) O pensamento filosófico humanista.e) A invenção e a divulgação do alfabeto.

9) A diáspora foi a(o):a) Exílio dos hebreus na Babilônia.b) Formação do Reino de Israel.c) O individualismo dos chefes políticos.d) A política de unificação das tribos.e) A dispersão dos hebreus pelo Antigo Mundo Romano.

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10) Dario I é considerado o grande líder dos persa. Isto se deve à:a) Criação de uma justiça preocupada com os valores fundamentais do homem.b) Derrota frente aos gregos nas Guerras Médicas.c) Reorganização administrativa do Império, dividindo-o em satrapias.d) Preocupação em impedir a exploração dos povos conquistados.e) Elaboração de tratados sobre a organização militar persa.

Questões de vestibular

1) (PUC-SP) Um império teocrático, baseado na agricultura, na arregi-mentação de camponeses para grandes obras e profundamentedependentes das águas de um grande rio. Esta frase se refere aos:

a) Fenícios e a importância do Tigre.b) Hititas e a importância do Eufrates.c) Sumérios e a importância do Jordão.d) Cretenses e a importância do Egeu.e) Egípcios e a importância do Nilo.

2) (FUVEST) O Código de Hamurabi dispunha em um de seus artigos:“Se um homem deixar de reforçar o seu dique, se isto provocar umaruptura e as águas inundarem os campos, este homem será con-denado a restituir o cereal destruído por sua negligência”. Esse Có-digo pertence à civilização:

a) Egípcia. c) Grega. e) Persa.b) Cretense. d) Mesopotâmica.

3) (UFPR) As condições geográficas da Fenícia, região mediterrânea,determinaram a dupla vocação dos fenícios, de:

a) Comerciantes e industriais.b) Mercadores e navegantes.c) Agricultores e comerciantes.d) Mercadores e agricultores.e) Comerciantes e artesãos.

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50 História Geral

4) (UFAC) Quanto aos hebreus, é correta a afirmação de que:a) Formaram o primeiro povo a elaborar uma religião monoteísta.b) Sua religião sempre foi politeísta.c) Durante toda sua história tiveram uma religião monoteísta.d) Foram um dos únicos povos da chamada Antigüidade oriental que, du-

rante a maior parte de sua história, teve uma religião monoteísta.e) Adotaram facilmente a religião politeísta dos romanos.

5) (UnB-DF) A questão seguinte apresenta duas proposições, I e II,referentes a um quadro histórico. Analise a questão e assinale:

I. A religião dos persas, na época do Império, era o Zoroastrismo ouMazdeísmo, criada por Zoroastro ou Zaratustra, algumas centenasde anos antes da expansão militar dos persas.

II. O Zoroastrismo tinha, com a vinda de um Messias, a ressurreiçãodos mortos, o julgamento final e a trasladação do redimido para umparaíso eterno.

a) Se as proposições I e II forem verdadeiras e a proposição II for causa daproposição I.

b) Se a proposição I for verdadeira, mas a proposição II for falsa.c) Se a proposição I for falsa, mas a proposição II for verdadeirad) Se as proposições I e II forem verdadeiras, mas não existir relação de

causalidade entre elas.e) Se ambas foram falsas.

Capítulo 3 - Antigüidade Ocidental

O mundo grego

Os Gregos antes de HomeroA partir do segundo milênio a.C., povos arianos, vindos do norte,

invadiram a península Balcânica. Primeiro foram os aqueus, de-

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Mapa da Grécia Antiga, com as invasões dos indo-europeus.

pois os jônios e os eóleos e, finalmente, os dórios. Esses quatropovos formaram o povo grego.

A quarta e última grande invasão ariana, a dos dórios, superio-res militarmente, causou enorme destruição. Muitos aqueus e jôniosfugiram da península, refugiaram-se nas numerosas ilhas do marEgeu ou fundaram colônias no litoral da Ásia Menor. Era a primei-ra “diáspora” (dispersão). O contato dos gregos com as culturasasiáticas, tecnológica e culturalmente mais desenvolvidas, contri-buiu para fazer da Grécia asiática uma região muito dinâmica.

A história grega antiga pode ser dividida didaticamente emperíodos: homérico (antes do século VIII a.C.), Arcaico (sécu-los VII e VI a.C.), Clássico (século V a.C.) e Helenístico (sécu-los IV e III a.C.).

Período HoméricoConhecido pelas obras de Homero e pelos estudos arqueo-

lógicos, abrange as conseqüências da invasão dos dórios e,

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52 História Geral

especialmente, a existência da comunidade gentílica (ou genos),formada por pessoas ligadas por laços familiares a um chefecomum, o “páter-famílias”. Ele conduzia as orações aos deu-ses e era respeitado como elo de ligação entre as divindades ea população. Dotado de grande poder, aplicava a justiça, exer-cia o poder político e distribuía as tarefas econômicas. Nessapequena comunidade, de economia natural e trabalho coletivo,havia a igualdade social, pois a terra era propriedade comum ea produção era igualmente dividida. Porém, esse sistema viriaa se autodestruir.

Período ArcaicoCom o aumento da população, a área plantada não mais aten-

dia às necessidades. Os parentes mais afastados do “páter” pas-saram a se dedicar a outras atividades econômicas (comércio)ou à ocupação de outras regiões. Entre os que permaneciam nacomunidade não era possível evitar a insatisfação, pois os quetrabalhavam ganhavam tanto quanto os que não trabalhavam. Adiscórdia forçou a substituição do coletivismo pelo individualis-mo, e nessa passagem os interesses pessoais se sobrepuseramaos do conjunto. O sistema comunitário se desintegrou: a divi-são foi feita pelo “paterfamílias”, certamente beneficiando os pa-rentes mais próximos, enquanto muitos nada receberam. Nas-ciam assim as classes sociais na Grécia arcaica.

A fim de proteger suas propriedades, os aristocratas uniram-se formando uma fratria, e a junção de várias fratrias geravauma tribo.

Com o crescimento populacional, as pequenas vilas evoluí-ram para cidades-Estados, que necessitavam ser protegidas dosinimigos. Por isso, cada cidade-Estado se localizava e crescia,geralmente, em torno de uma elevação, dotada de uma muralha,facilitando sua defesa. Era a Acrópole.

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Acrópole de Atenas.

A formação do Estado atendia aos interesses da aristocracia,chamados eupátridas em Atenas, chefiados por um rei (basileu) eum conselho, o Areópago. O povo não participava do governo. Oantigo poder coletivo da comunidade passara para o Estado, do-minado pela aristocracia, que decidia sobre o destino de todos.

O comércio se desenvolveu, com importação de trigo e maté-rias-primas das colônias e exportação de vinho, azeitonas, armas,cerâmicas e outros produtos artesanais. Os comerciantes enri-queciam, enquanto a aristocracia eupátrida concentrava a possedas terras. A situação difícil causada pela importação levou ospequenos lavradores a hipotecarem suas terras para pagar suasdívidas. Incapazes de resgatá-las, muitos pequenos proprietárioseram escravizados, outros emigravam e houve aqueles que setransformaram em pequenos artesãos. Para facilitar as relaçõescomerciais, as cidades-Estados cunhavam suas próprias moedas.

No século VI a.C., Atenas conheceu grandes transformações.A economia, a política e a sociedade ateniense mudaram em

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54 História Geral

Pesquise sobre a legislação codi-ficada por Dracon, que manteve o“status quo” em Atenas. Descubra osignificado dessa expressão latina esaiba por que, exceto a elite, todasas demais classes sociais ficaraminsatisfeitas. Lembre-se de que te-mos em nossa língua a expressão“draconiano”. Descubra também qualfoi a importância da codificação.

função do crescimento do comércio, do artesanato e da exporta-ção. As antigas estruturas políticas não se ajustavam à nova rea-lidade e seguiu-se um período de agitações sociais e políticas. Asclasses baixas tomavam consciência da sua marginalização polí-tica e passaram a pressionar por reformas. Os eupátridas resisti-ram. Um dos meios: substituíram o rei (basileu) por nove Arcontes,magistrados encarregados de exercer o poder executivo.

Diante da pressão dasclasses sociais insatisfei-tas, era preciso mudar alegislação. O legisladorDracon, em 621 a.C., co-dificou a lei costumeira, oque provocou a revoltadas classes populares.

Anos depois, o políticoe legislador Sólon (594a.C.) foi incumbido deachar uma solução paraos conflitos. Decidiu peladivisão da sociedade não mais segundo o nascimento, mas a par-tir da riqueza. Foram criadas quatro classes sociais, da mais ricapara a mais pobre: pentacosiomedimnos, zeugitas, hipe Períodoise tetas. Além disso:

a) Estimulou a expansão do comércio e do artesanato, permitindoinclusive que estrangeiros (metecos) vivessem em Atenas.

b) Ampliou a emissão de moedas com a exploração de minasde prata na região do Láurion, perto de Atenas. Padronizoupesos e medidas.

c) Proibiu a escravidão por dívidas.

d) Redistribuiu as terras aos seus antigos proprietários.

A participação dos cidadãos na política e nas magistraturascorrespondia à sua riqueza, ou seja, os mais ricos participavam

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Organograma do sistema político de Atenas.

da Assembléia (Eclésia), dos Tribunais (Heliae), do Conselho(Bulé) e das magistraturas (Arcontado). Os mais pobres (thetas),somente da Assembléia.

Porém, a obra reformadora de Sólon criou insatisfações pornão atender os interesses de todas as classes. Veio a luta civil,que durou cerca de trinta anos e que propiciou o aparecimentode demagogos e tiranos. No conceito grego, tirano era aqueleque chegava ao poder por meios ilegais. Em 560 a.C., Psístratose transformava no primeiro tirano ateniense, promovendo a pa-cificação política por meio da construção de obras públicas. As-sim, equilibrava-se entre as classes sociais, agradando os po-bres, criando mais empregos e incentivando o comércio, que be-neficiava os mercadores. Após a sua morte, seus filhos assumi-ram o poder, mas Hiparco foi assassinado e Hípias, afastado.

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56 História Geral

Anos mais tarde (508 a.C.), o político Clístenes assumiu o po-der e fez as reformas que implantaram a democracia em Atenas.É conhecido, por isso, como o “pai da democracia”.

Dividiu todos os cidadãos de Atenas em dez tribos. Cada triboera formada por três demos (um da planície, outro da montanha,outro do litoral), anulando os antagonismos. Todas as tribos ti-nham representantes nos diversos órgãos públicos. A Eclésia,ou assembléia de todos os cidadãos, era o órgão político máxi-mo e indicava os dez estrátegos, um por tribo, para exercer opoder executivo. O Arcontado e o Areópago foram mantidos portradição, zelando apenas pela constitucionalidade das leis.

Para defender a democracia foi instituído o ostracismo, quepermitia exilar, mediante votação pela Assembléia, os que amea-çavam o Estado.

Contudo, não se deve confundir a antiga democracia gregacom a idéia de democracia elaborada pelos iluministas france-ses do século XVIII, nem com a atual.

Afinal, quem era cidadão em Atenas? O escravo, o homemliberto, o estrangeiro, as mulheres e mesmo o grego nascido nacidade, cujo pai tivesse vindo de outra cidade-Estado, todos eramexcluídos. O sistema democrático comportava só os cidadãos, eestes eram apenas 10% de toda a população. A condição decidadão se iniciava pela exigência de ter pai e mãe atenienses.Daí o número tão pequeno de cidadãos.

Por outro lado, a democracia grega era direta, e não represen-tativa. Os cidadãos compareciam à assembléia pessoalmente.

A cidade-Estado de Esparta era a grande rival de Atenas naluta pela hegemonia sobre a Grécia.

O isolamento geográfico de Esparta e suas terras férteis paraa prática da agricultura propiciaram a sobrevivência da comuni-dade. As instituições se mantiveram intactas durante séculos.Porém, por causa do crescimento demográfico, Esparta poderiaconhecer as mesmas transformações das demais cidades-Esta-

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do gregas. Optou pela conquista da vizinha região da Messênia,alargando assim a posse de terras e escravizando boa parte dapopulação local. Os espartanos passaram a depender do traba-lho dos hilotas (escravos).

Como a existência de numerosos escravos ameaçava o domíniodos espartanos, estes passaram a se preparar militarmente a maiorparte de sua vida. Os escravos, pertencentes ao Estado, eram re-partidos e distribuídos à razão de seis por lote de terra, tambémpertencente ao Estado, mas de usufruto do cidadão espartano.

O sistema político estabelecia que somente os espartanos po-diam ter cidadania (“os iguais”), mas o poder efetivo ficava nasmãos dos idosos (Gerontocracia). A legislação, atribuída a Licurgo,um personagem lendário, instituiu o sistema governamentaloligárquico. Havia a diarquia, ou seja, dois reis que cuidavamdos negócios internos e externos; a Assembléia dos Cidadãos

Organograma do sistema político espartano.

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(Ápela), que aprovava ou não as leis elaboradas pelo Conselhode Anciãos (Gerúsia) e o Eforado, composto por cinco magistra-dos, os Éforos, que fiscalizavam e exerciam o poder, mas sub-metidos aos gerontes.

Havia em Esparta três classes sociais:

a) Espartíatas ou espartanos, detentores do poder, dedicando-se ao adestramento militar. Formavam a aristocracia espar-tana, embora fossem iguais entre si.

b) Periecos, descendentes dos aqueus, antigos senhores da regiãoque não se opuseram à conquista dos dórios. Livres, faziam ocultivo de suas próprias terras na periferia ou faziam o comércio,mas não tinham participação nem direitos políticos.

c) Hilotas, submetidos pela guerra, trabalhavam como escravosnas terras do Estado e nos lotes dos espartanos. Seu númeroera controlado, pois um aumento excessivo colocaria em riscoo domínio dório. Quando havia aumento populacional, osespartanos eliminavam o excedente.

A educação em Esparta era muito rígida, com ênfase nas prá-ticas físicas e militares, exigindo-se do jovem total obediênciaaos mais velhos e ao Estado. Ao nascer, a criança espartana eraexaminada pelo éforos. Se apresentasse algum defeito, erasacrificada em nome da eugenia (pureza racial). Aos sete anos,era colocada sob os cuidados do Estado; a partir dos doze anos,educada no campo, onde aprendia a suportar os rigores de umavida simples, desprovida de conforto. Assim, os fracos eram eli-minados. Até os 60 anos os espartanos estavam obrigados aotreinamento militar.

Período Clássico: as grandes guerras no mundogrego antigo

Os persas foram os grandes inimigos dos gregos, que haviamcriado uma brilhante civilização no litoral da Ásia Menor, onde

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floresciam numerosos núcleos de comércio e de intensa vidacultural. A região da Jônia, berço da filosofia grega, caiu sob do-mínio persa, mas se revoltou, ainda que sem sucesso. O impe-rador Dario decidiu então atacar a Grécia Continental, devido aoauxílio prestado pelos atenienses à Jônia.

Em 490 a.C., os persas desembarcaram na Ática, onde sedeu a célebre batalha de Maratona, em que os atenienses derro-taram os persas, muito mais numerosos. Maratona ficou imorta-lizada nos anais da história, pela façanha militar e pelo aviso davitória dado por um soldado, que correu cerca de 40 quilôme-tros, sem parar, até Atenas.

Xerxes, sucessor de Dario, preparou os persas para a desfor-ra, com muitos navios e milhares de soldados.

Os persas desceram pela Trácia, alcançando o desfiladeirodas Termópilas, onde os aguardavam 300 espartanos e 6 milaliados, que durante dias resistiram aos invasores. Para garantira retirada dos aliados, o comandante espartano Leônidas optoupor resistir apenas com seus soldados, com sucesso. Mas umtraidor conduziu os persas por um atalho, permitindo-lhes atacara retaguarda grega. Foram todos massacrados.

A Ática foi abandonada por seus habitantes, e Atenas, ocupada edestruída. Mas, em Salamina (480 a.C.), as numerosas embarca-ções persas moviam-se com dificuldade no estreito. Aí, as peque-nas embarcações atenienses, valendo-se habilmente de um espo-rão frontal, perfuravam os navios persas abaixo da linha d’água. Aderrota persa foi completa e Xerxes retirou-se para a Ásia.

Tomando a ofensiva, os gregos atacaram a retaguarda do exér-cito persa (batalha de Platéia, 479 a.C.), funesta aos persas, tantoquanto as diversas batalhas navais. Decidiram então os gregosir combater o inimigo no seu próprio território. Era a terceira guerra,e novamente vencido o exército persa. O tratado celebrado em449 a.C., estabelecia que os persas não poderiam mais ocuparnem aproximar suas tropas das colônias gregas da Ásia Menor,

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60 História Geral

nem tampouco ameaçar com suas esquadras as ilhas do MarEgeu, que passou a constituir um lago helênico. Os persas, su-cessivamente batidos, retiraram-se do Mediterrâneo.

O poderio de Atenas confirmava-se. Reforçado seu poderionaval, era necessário organizar o poderio em terra. Mas já nãoera contra os persas que se armava Atenas, mas contra sua ri-val, Esparta. Foi criada a Confederação de Delos (478 a.C.), cujafinalidade era afastar definitivamente qualquer ameaça persa naÁsia Menor. Mas, Esparta não aderiu. As cidades participantescontribuíam com dinheiro, arrecadado e administrado por Ate-nas, para a construção de navios, que ficavam certamente sob ocomando dos atenienses, que não deixaram de empregar, emproveito próprio, certas quantias do tesouro comum, embelezandosua própria cidade.

Diante das evidências de desvio de fundos, algumas cidadesameaçaram abandonar a Liga. Os atenienses impuseram suavontade e, com o uso da esquadra, atacaram os dissidentes.Evidenciava-se, nesse momento, o imperialismo político e militarde Atenas.

Sob o governo Péricles, Atenas chega a seu apogeu cultural,passando a ser o centro da civilização grega. Com o dinheiro daConfederação de Delos, a cidade foi reconstruída, ergueu-se o,Partenon. Fídias dirigia a produção escultórica e os mais notá-veis pensadores do mundo grego se estabeleceram em Atenas.

As construções e as festas faziam de Atenas a primeira cidademediterrânea, onde se ouviam muitas línguas e muitos filósofos.Era a união da beleza plástica com a profundidade do espírito.Sófocles, Ésquilo e Eurípedes transformavam o teatro, nascido quefora de festas religiosas. Outros subversivos falavam livremente,entre eles Sócrates, que levava ao extremo a análise moral.

Platão, Demócrito, Hipócrates, Anaxágoras... Jamais uma so-ciedade reunira tantos talentos, tornados imortais.

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Atenas tinha então (século V a.C.) cerca de 300 milhabitantes. Surpreende como uma cidade relativamentepequena para os nossos padrões pudesse ter produzidotantos intelectuais. Que fatores influenciaram nesse ver-dadeiro fenômeno? Por que nosso país, com quase duascentenas de milhões de habitantes, tem uma produçãobastante limitada na área intelectual? Reflita e discutacom seus amigos. O respeito às opiniões dos outros éfundamental, para a construção da cidadania.

O imperialismo exploratório ateniense sobre as demais cida-des não podia durar para sempre. Os submetidos haveriam dese revoltar. Esparta, a grande rival, assumiu o papel de líder daoposição. A paz de trinta anos assinada com Atenas era precá-ria. Reuniu as cidades do Peloponeso e apoiou as cidades marí-timas que se rebelavam contra a Confederação. Estruturada aLiga do Peloponeso, sob a liderança de Esparta, a guerra foiinevitável. O choque dos dois imperialismos se materializou naGuerra do Peloponeso (431-404 a.C.). A devastação caracteri-zou a Grécia. A força marítima ateniense atacou os aliados dosespartanos, enquanto que estes, com seu exército superior, des-truíam os aliados de Atenas.

A desorganização econômica arruinou os atenienses. A peste,a fome, os cercos e as mortes minaram sua capacidade. O pró-prio Péricles foi vítima de epidemia. Em Egos Pótamos, osespartanos venceram a esquadra ateniense, graças à ajuda dacidade de Corinto. Derrotada Atenas, os espartanos a ocuparame dissolveram a Confederação de Delos, pondo fim ao imperia-lismo ateniense.

Esparta se tornava a nova potência hegemônica da Grécia eexercia um domínio de força sobre as cidades gregas. Conhe-ceu um desenvolvimento econômico para o qual suas estruturas

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tradicionais não se encaixavam. Para consolidar ser imperialis-mo, tropas eram mantidas nas cidades submetidas. E as mes-mas cidades que lutaram contra Atenas, agora se voltavam con-tra o imperialismo espartano. Tebas liderou, com o apoio de Ate-nas, uma revolta geral contra o domínio espartano, vencido emLeuctras, em 371 a.C.

O gosto pela hegemonia e pelo imperialismo impregnou ostebanos. Porém, em Mantinéa, em 362 a.C., foram derrotadospor uma coligação ateniense-espartana. As lutas internas enfra-queceram as cidades-Estado. A ameaça de uma intervenção es-trangeira era iminente, agora procedente do norte: os macedônios.

Período HelenísticoA região da Macedônia, ao norte da Grécia, adentrava a histó-

ria, envolvida que fora nas guerras contra os persas. Seu rei,Felipe II, concentrou todos os poderes em suas mãos, organizouum poderoso exército e iniciou a conquista da Grécia, usando adiplomacia e a corrupção. Segundo suas palavras, “não há mu-ralhas que resistam a um burro carregado de ouro”. Quando di-plomacia e corrupção falhavam, apelava à força militar. Destamaneira, Felipe conquistou a Grécia (338 a.C.), unificando-a po-liticamente, pela primeira vez.

Tendo sido assassinado (336 a.C.), legou a seu filho Alexan-dre, educado pelo filósofo Aristóteles, um Estado homogêneo eum exército greco-macedônio poderoso e disciplinado.

Em 334 a.C., começava a invasão da Ásia Menor, cujo objeti-vo maior era a conquista do mundo persa. Após as primeirasvitórias fulminantes sobre os persas, Alexandre passou à con-quista das cidades fenícias. Aquelas que se rendiam pacifica-mente eram integradas ao novo império; as que resistiam, arra-sadas, e sua população, em geral, escravizada. Ao conquistar oEgito, foi recebido como libertador.

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63História Geral

A seguir, conquistou sucessivamente a Mesopotâmia, a própriaPérsia, em 329 a.C., e a parte ocidental da Índia. Seus soldadosse recusaram a ir mais longe. Voltava para a península balcânica,quando veio a falecer na região da Babilônia, com 32 anos. Nestemesmo ano (323 a.C.), morria Aristóteles, seu preceptor.

Suas conquistas possibilitaram a organização de uma econo-mia “universal”, que tinha por eixo articulador o MediterrâneoOriental. As cidades costeiras prosperaram e o fluxo de merca-dorias se intensificou.

A idéia central de Alexandre era a criação de um império cos-mopolita, unindo o Oriente e o Ocidente.

Suas ações se perpetuam por meio do estímulo à miscigena-ção étnica e cultural entre orientais e ocidentais; da transforma-ção do grego em língua internacional; da fundação de importan-tes centros culturais, como Alexandria no Egito e muitas outrascidades também chamadas Alexandria; da tolerância religiosa.

Da fusão do pensamento grego e oriental surgiu a culturahelenística, responsável pela notável evolução intelectual nos sé-culos III e II a.C.

Após a morte prematura de Alexandre, seu império, cujas fron-teiras se estendiam desde o Egito até a Índia, se desintegrou, divi-dido entre seus ambiciosos generais, por não haver um herdeiroadulto. Ptolomeu ficou com o Egito, conservando suas instituiçõestradicionais, desenvolvendo o comércio, apossando-se dos cen-tros comerciais. Cleópatra foi uma das herdeiras dessa dinastia.

Entre as pessoas que se notabilizaram pela produção intelec-tual, podemos citar: Euclides, fundador de uma escola de mate-mática em Alexandria, onde Arquimedes estudou; Aristarco, quecalculou a distância entre a Terra e a Lua, e se posicionou emfavor do heliocentrismo, teoria pela qual a Terra giraria em tornode seu próprio eixo e em torno do Sol, bem como a Lua girariaem torno da Terra, e as estrelas fixas estariam mais distantesque o Sol; Eratóstenes, quer calculou a circunferência da Terra e

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Pode-se estabelecer semelhanças entre a difusão do gregona época de Alexandre, do latim, durante o Império Romano e aIdade Média, e o inglês, atualmente. Todas essas influênciascaracterizam um processo de aculturação. Pense sobre os fa-tores que estimulam a expansão da língua inglesa, em quesetores principalmente ela se manifesta. Faça um levantamen-to de várias palavras e atitudes que correspondem a esse pro-cesso de aculturação.

Você aceita facilmente ou procura manter uma certa resis-tência? Opine. É importante.

fez um mapa com um oceano em volta de todo o globo. Todoesse conhecimento científico só seria retomado no Ocidente àépoca do Renascimento (século XV).

O mundo romano

Origens de RomaHá duas explicações sobre as origens de Roma: a lendária e

a histórica.

Sua origem histórica é um assunto polêmico. Pela lenda, Romafoi fundada em 753 a.C., por Rômulo e Remo. Para os historia-dores, Roma foi formada por povos pastores arianos que se es-tabeleceram na região do Lácio, na parte centro-ocidental da pe-nínsula da Itália. Constantemente atacados pelos etruscos, umpovo estabelecido ao norte do Lácio, os pastores construíramuma fortaleza entre “sete colinas”. Essa cidadela militar latinapassou a dominar uma passagem estreita pela qual principal-mente os mercadores cruzavam o rio Tibre, ao transportar o saldo litoral até a Etrúria (“Rota do Sal”).

As classes sociais na Roma primitiva se estruturaram a partirda posse ou não da terra. Os mais antigos habitantes monopoli-

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Mapa da Itália, na época de Roma primitiva.

zaram as melhores terras cultiváveis, constituindo grandes pro-priedades. Eram os patrícios, enquanto os pequenos proprietá-rios, artesãos e estrangeiros formavam a plebe.

Roma monárquicaSó os patrícios tinham direitos políticos. Administravam a cida-

de por meio dos chefes das famílias (gens ou clãs), que se reu-niam no Conselho dos Anciãos ou Senado e aprovavam leis apli-cadas pelo rei.

A tradição se refere a sete reis, mas provavelmente os primei-ros nunca tenham existido: Rômulo, Numa Pompílio, Túlio Ostílio,Anco Márcio, Tarquínio Prisco, Sérvio Túlio e Tarquínio, o Sober-bo, sendo os três últimos de origem etrusca, pois Roma, a partirde 640 a.C., foi dominada por esse povo. Tarquínio, o último rei,fez construir grandes obras públicas com o objetivo de ter o apoiodos plebeus e diminuir o poder dos patrícios. Estes reagiram e

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expulsaram-no da cidade pondo fim à monarquia e ao domínioetrusco, em 509 a.C.

Roma republicanaOs patrícios instituíram a República, totalmente controlada por

eles. Portanto, era uma República aristocrática (dos “bens nasci-dos”). O Senado era o órgão máximo, decidia pela paz e guerra,controlava a arrecadação e as despesas do Estado, elaboravaas leis e as fazia executar por meio de magistrados, como osdois cônsules, eleitos por um ano. Enquanto um tratava dos as-suntos internos, o outro se encarregava das guerras e das rela-ções com outros povos.

Os demais magistrados da República romana eram os:

a) Questores: encarregados da cobrança dos impostos e daadministração das finanças.

b) Pretores: eram juízes, portanto encarregados de aplicar ajustiça.

c) Censores: faziam o recenseamento da população e zelavampelos “bons costumes”.

d) Edis: administravam a área urbana, tendo como principaisfunções: zelar pelo policiamento para manter a ordem pública,fiscalizar o comércio, determinar os pesos e medidas, organi-zar o abastecimento etc.

Em época de crise ou quando a guerra estava sendo desfavo-rável aos romanos, os dois cônsules escolhiam um ditador parasubstituí-los por um período máximo de seis meses, dotado degrande poder (dictatus). Quando o fator que determinava a neces-sidade da ditadura deixava de existir, o poder voltava aos cônsu-les. Portanto, na Roma antiga a ditadura era uma instituição legal.

A reunião geral dos romanos ocorria na Assembléia Centu-riata. Todos os homens, equipados para lutar, se reuniam no Cam-

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Organograma das instituições da República.

po de Marte para referen-dar as decisões do Sena-do. Como as centúrias dospatrícios eram melhorequipadas e mais nume-rosas (98 contra 95), elesdominavam as decisõesda Assembléia. A plebe,sentindo-se prejudicada,passou a reivindicar direi-tos, pois lutava nas guer-ras em que Roma se en-volvia. Foi o longo perío-do de lutas sociais naRoma antiga.

Os plebeus ameaçavamabandonar Roma, faziam greves, até os patrícios cederem. Em494 a.C., conseguiram a aprovação do “Tribuno da Plebe”, esco-lhido pelos plebeus. O tribuno, considerado sacrossanto einviolável no exercício de suas funções, tinha o direito de vetaras decisões da Assembléia quando prejudiciais aos interessesda plebe.

Posteriormente, a plebe exigiu que a lei oral fosse codificada.Dez juristas (Decenviros) escreveram as primeiras leis em dezplacas de bronze, expostas publicamente. A essas foram acres-centadas, posteriormente, mais duas placas. Nascia assim, cer-ca de 450 a.C., a Lei da XII Tábuas. Outras leis se seguiram: a“Lei Canuléia”, permitindo casamentos entre patrícios e plebeus;a “Lei Licínia Sextia”, proibindo a escravidão por dívidas; em 287a.C., foi aprovado o plebiscito, pelo qual as decisões votadaspela plebe em Assembléia teriam foça de lei.

Assim, a instauração da igualdade jurídica fez desaparecer osprivilégios tradicionais dos patrícios. Os plebeus, certamente os

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enriquecidos, assumiam postos importantes da República, alia-dos aos patrícios. Ricos plebeus se casavam com patrícias po-bres, juntando em uma mesma união a riqueza e a tradição. Dessaunião surgia a nova elite romana. Formaram-se, então, dois “par-tidos”: o aristocrata (conservador) e o popular (reformista), masambos dominados por elementos da nova elite.

Como a produção agrícola não fosse suficiente para atender àdemanda de sua população, Roma ambicionou e realizou a con-quista da Campânia e da Magna Grécia, ricas pela produção detrigo e pelo comércio.

O próximo alvo era a Sicília, dominada por Cartago, cidadenorte-africana de origem fenícia, uma república oligárquica quemonopolizava o comércio no Mediterrâneo ocidental. Era a se-gunda mais rica cidade mediterrânea, superada apenas porAlexandria, localizada no Egito.

A guerra entre Roma e Cartago se iniciou em 264 a.C. obje-tivando o controle do estreito de Messina, entre a Sicília e o sulda Itália. Durante quatorze anos, a guerra devastou a região.Vencida Cartago, Roma ocupou a Sicília. O poder romano seestendia da Sicília aos Alpes.

Como compensação, Cartago iniciou a exploração econômicada Península Ibérica, fundando Cartagena, anexando minas de pratae desenvolvendo o comércio. Cartago se recuperava rapidamente.

A segunda fase das Guerras Púnicas, como as chamaram osromanos, iniciou-se quando o comandante cartaginês AníbalBarca atacou, com sucesso, a Itália. Os romanos, que espera-vam o ataque pelo sul, foram surpreendidos, pois o exércitocartaginês, usando elefantes, transpôs os Alpes ao norte e des-truiu várias legiões romanas, em 216 a.C. Passavam-se os anos,e as tropas de Aníbal, após muitas vitórias, acamparam na Itáliae, aos poucos, se enfraqueciam. Em 212 a.C. Roma reagiu erecuperou a Sicília, que havia se rebelado, e decidiu atacar aIbéria. Conquistada a península pelos romanos, o general Cipião,

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o Africano, atacou o norte da África, ameaçando diretamenteCartago. Este perigo determinou a volta de Aníbal ao norte daÁfrica. Na batalha de Zama, em 202 a.C., os cartagineses forambatidos. Solicitaram a paz, mas foram despojados de suas rique-zas, colônias e frotas. Seu poderio econômico e militar foi des-montado, sendo ainda obrigados a pagar uma elevada indeniza-ção aos romanos. A terceira guerra (150-146 a.C.), provocadapor Roma, levou à total destruição de Cartago, em 146 a.C.

De Gibraltar até o mar Adriático, o domínio era de Roma, amaior potência naval e terrestre de seu tempo. A seguir, os roma-nos se expandiram pelo Mediterrâneo Oriental, estimulados peladecadência dos reinos e impérios orientais.

A conquista do Mediterrâneo repercutiu profundamente nasestruturas socioeconomicas da península Itálica. Mercadorias pro-venientes das províncias, mais baratas, como o trigo da Sicília,arruinavam os pequenos produtores. Utilizando a mão-de-obraescrava em grande quantidade, os latifúndios, geralmente im-produtivos, cresciam, incorporando os minifúndios.

Mapa do Mediterrâneo sob domínio romano.

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A nova classe social, enriquecida pelo comércio, cavaleiros ou“homens novos” reivindicavam o poder político, enquanto as mas-sas urbanas aumentavam numericamente, geralmente campo-neses deslocados do campo para a cidade. Essa massa huma-na representava um perigo para o Estado. Os prisioneiros escra-vos formavam o grande conjunto da mão-de-obra ativa, desde aagricultura até as atividades domésticas. A classe média tendiaa desaparecer.

Diante da situação socialmente crítica, Tibério Graco assumiuos ideais populares. Embora patrício de origem, foi eleito tribunoda plebe, em 133 a.C. Propôs que aos plebeus fossem distri-buídas as terras conquistadas, sob a forma de pequenas propri-edades. Acabou sendo assassinado.

Uma segunda tentativa da lei agrária foi feita pelo seu irmão,Caio Graco, também tribuno da plebe, em 123 a.C. Estabelecia:

a) fundação de colônias na região da antiga Cartago, o que eraum sacrilégio;

b) baixa no preço do trigo vendido à plebe;

c) participação dos “homens novos” nas magistraturas;

d) extensão do direito de cidadania a todos os povos aliados.

A reação dos privilegiados levou-o ao suicídio, executado porum seu escravo.

A Crise da RepúblicaDois partidos disputavam o poder: o popular e o aristocrático,

mas ambos formados pela elite. O “popular” Mário era um gene-ral vitorioso nas campanhas, um “homem novo” que contava como apoio da plebe, pois sustentava muitos. Eleito cônsul, impôsao Senado a distribuição das terras, reformou o exército, trans-formando-o em mercenário, composto da plebe assalariada. Máriopagava parte dos soldos com seu próprio dinheiro, daí o exércitoser mais fiel a ele que à Republica.

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A perseguição aos seus inimigos causou a guerra civil roma-na. Aproveitando a anarquia, escravos assassinavam seus se-nhores, os saques populares se sucediam e as províncias daItália se voltavam contra Roma. Mário se manteve no poder àforça, até sua morte, em 86 a.C.

Com sua morte, um prestigioso general aristocrata, Sila, apos-sou-se do poder, também apoiado no exército, expurgado dos mem-bros do partido popular. Combateu as regiões rebeldes, impôs aordem e procurou fortalecer as instituições tradicionais como o Se-nado. Muitos privilégios dos patrícios foram restabelecidos. Renun-ciou no ano 79 a.C. Pretendia a unificação das instituições italianas,mas enfrentou enorme oposição de patrícios reacionários.

Sucederam-se novos levantes populares. A carreira militar erao principal meio para se alcançar o poder político, com o indis-pensável apoio da plebe, verdadeira massa de manobra de polí-ticos ambiciosos. Diante da crise de autoridade, os escravos serevoltaram, constituindo um poderoso exército liderado pelogladiador Espártaco, duramente esmagada pelo exército roma-no, no século I a.C. Espártaco foi crucificado às portas de Roma,com 6 mil outros escravos, cujos corpos foram pendurados empostes ao longo das estradas.

Uma aliança entre três militares ambiciosos foi acertada: César,general de prestígio e detentor de grande popularidade; Crasso,muito rico, houvera esmagado a revolta liderada por Espártaco;e Pompeu, que restabeleceu o domínio romano no Oriente.

Pretextando a defesa de manutenção da ordem, os três consti-tuíram um consulado tríplice, em 60 a.C. Era o “primeiro triunvirato”.Os triúnviros repartiram entre si o território romano. Crasso ficavacom a Síria, onde morreu; César partiu para a conquista e domí-nio da Gália, e Pompeu administrava o norte da África e a Espanha,além de ter muitos aliados no Senado. Certamente ele teria futu-ramente o poder nas mãos. Quando tudo apontava para a vitóriafinal de Pompeu, as vitórias de César na Gália, onde se aproveitou

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Esculturas de soldados da época de César.

das divisões entre as tribos gaulesas, alteraram o quadro político.Os gauleses se levantaram sob a liderança de Vercingetorix, masforam esmagados pela eficiente máquina de guerra dos romanose a capacidade de liderança e estratégia de César. Milhares degauleses foram mortos ou vendidos como escravos. Em 50 a.C.,César tornava-se o senhor da Gália.

Porém, o Senado, pressionado por Pompeu, não confirmava aautoridade de Júlio César sobre a Gália. Decidiu voltar para aItália e, ao atravessar o rio Rubicão, limite máximo para um ge-neral avançar com seu exército em direção a Roma, proclamoua célebre frase: “A sorte está lançada”. A luta civil ressurgia. Pom-peu fugiu, com César em sua perseguição. Acabou por se refu-giar no Egito, porém foi assassinado a mando do faraó Ptolomeu,irmão de Cleópatra.

César executou uma série de medidas. Entre elas, destaca-ram-se:

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a) O restabelecimento das finanças do Estado, com controlesevero dos gastos.

b) A desapropriação de grandes propriedades improdutivas edistribuição de terras nas províncias a colonos e veteranosde guerra.

c) A diminuição do número de pessoas com direito à distribuiçãogratuita de trigo.

d) A reforma do calendário, introduzindo um ano bissexto a cadaquatro anos (calendário juliano).

e) A construção de obras públicas, para ocupar trabalhadores.

f) O controle severo sobre os cobradores de impostos (pu-blicanos), para evitar abusos.

Pretendia diminuir a oposição dos aristocratas no Senado,ampliando o número de senadores. Os financistas apoiavamCésar que prometia novas conquistas, pois era das guerras quevinham os grandes lucros.

Mais uma vez, porém, a conspiração política se instalava, agoracom a participação de Bruto, Cássio e outros. No dia 15 de mar-ço de 44 a.C., César chegou ao senado, quando os conspirado-res se aproximaram dele e o apunhalaram até a morte.

Mas o golpe fracassara, pois Marco Antônio, general compa-nheiro de César, subverteu a plebe com notáveis discursos. Uti-lizou-se dela para conquistar o poder. Aliou-se a Lépido, que fi-nanciava suas campanhas, e a Otávio, sobrinho de César. For-mava-se o “segundo triunvirato”. Atacaram seus inimigos, con-denaram 300 senadores e dividiram o território romano entre eles:na divisão final, Otávio ficou com o Ocidente; Lépido, com o nor-te da África; e Marco Antônio, com o Oriente.

Lépido se afastou da política e Marco Antônio se aliou aCleópatra, estabelecendo-se no Egito. O Senado declarou-o pros-crito e Otávio iniciou uma campanha para derrotá-lo.

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Ruínas de um fórum em Roma.

Na batalha de Actium, em 31 a.C., Marco Antônio foi derrota-do, suicidando-se em seguida. Cleópatra, que fracassara ao ten-tar se aliar a Otávio, também se suicidou. Otávio era o únicoherdeiro do poder político de César.

Roma imperialApós a aclamação de Augusto, primeiro imperador, em 27 a.C.,

Roma conheceu o apogeu de sua civilização, transformada tam-bém em capital intelectual, com uma elite helenizada.

Otávio monopolizava a política e promovia grandes obras pú-blicas, mantendo ocupados a plebe e os patrícios. Os comícios,que formavam a base do poder político, perderam toda a impor-tância. O exército e o tesouro se constituíram nas bases de sus-tentação do imperador. Otávio, declarado “divino” (“augustus”),foi até objeto de culto religioso nas províncias orientais.

O império foi dividido em províncias; as pacificadas, subordi-nadas diretamente ao Senado, e as rebeldes, ao imperador. O

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comércio se desenvolveu enormemente. Para um povo, cansadode campanhas militares e mortes, Otávio Augusto oferecia umgoverno forte, seguro. Era a “paz romana”, especialmente sobrea região do Mediterrâneo, chamado de “Mare Nostrum”, pelosromanos. Em seu governo, nasceu Jesus.

Ao povo se dava “pão e circo”, isto é, distribuía-se trigo e seoferecia espetáculos nos estádios: lutas entre gladiadores, lutascontra animais ferozes. Tudo para distrair a povo.

A presença romana no Ocidente, especialmente durante o “AltoImpério” (séculos I e II), deixou marcas tão profundas que jamaisse apagaram. Por toda a Europa, os romanos fundaram vilas,cidades, portos, acampamentos militares e fortificações, origemde muitas modernas cidades.

Mas, a partir do século III (Baixo Império Romano), a crisecomeçava a se manifestar. A expansão territorial cessara, limita-da pela natureza (desertos, mares, florestas) e pela resistênciados germanos (na Europa Oriental) e dos partas (no Oriente). Atributação romana destruía a riqueza da população, especialmen-te das províncias, tornando-as incapazes de investir na produ-ção. Agravava a situação de Roma vir a perder seu ouro, acumu-lado com as conquistas, transferido para a Ásia por causa docomércio deficitário. Afinal, a elite romana consumia largamenteespeciarias e produtos de luxo, importados do Oriente. A crisefiscal aumentou com o déficit da balança comercial, forçando con-tínuas desvalorizações da moeda. A inflação se avolumava.

A crise da oferta de mão-de-obra escrava é outra conseqüênciado fim da expansão territorial. O preço do escravo subiu tanto queos proprietários amenizaram o tratamento. Outros perceberam queera mais vantajoso dividir e arrendar as terras. Agricultores livrestornavam-se sua mão-de-obra em troca de parte da produção.

A anarquia militar passou a imperar. Vários generais se procla-mavam imperadores simultaneamente. Em cinqüenta anos (235a 286), 23 imperadores foram aclamados pelo exército. A guerra

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pelo poder político enfraquecia Roma militarmente e abria as por-tas do império às invasões. O exército estava mais a serviço dosseus comandantes que da proteção das fronteiras. Povos sub-metidos pela força se revoltavam na Germânia, na Gália, na Áfri-ca e no Oriente. Fortalezas e muralhas eram construídas, masisto não impediria as futuras grandes invasões.

As crises ocorridas na época do Baixo Império fizeram o domí-nio romano agonizar. O exército se enfraquecia irremediavelmen-te. O governo não conservava estradas, os mercados não rece-biam mercadorias, os compradores sumiam. As cidades tiveramque se fortificar cercando-se de muralhas, sob a administraçãodos ricos proprietários locais. A moeda se desvalorizava rapida-mente. O eixo econômico se deslocou para Constantinopla. Acos-sada pela fome e pela possibilidade de sobrevivência no campo,a plebe abandonava as cidades. Os aristocratas refugiavam-seem suas vilas no campo.

Diocleciano tornou-se imperador em 284 e governou até 305.Para enfrentar a crise, dividiu o império em duas partes, ficou como Oriente e confiou o Ocidente ao general Maximiano, incorporan-do mais dois auxiliares ao governo, estabelecendo uma Tetrarquia.Havia, assim, dois imperadores e dois césares (auxiliares). Comoa desvalorização da moeda tornava insignificante o valor dos im-postos recolhidos, estes passaram a ser calculados de acordo coma quantidade de bens possuídos pela região. Passava-se do reco-lhimento monetário para o recolhimento em espécies. As provín-cias empobreciam e Roma não resolvia seus problemas.

O CristianismoApós a conquista da Palestina por Alexandre, os judeus que aí

permaneceram viviam em pequenas comunidades inseridas emum mundo predominantemente helenístico. Mantinham-se uni-dos e identificados pela sua religião. Mas, idéias como a crençana vida eterna, no julgamento das almas, a concepção dualísticado bem e do mal, foram absorvidas pelo judaísmo.

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Mapa da Palestina na época de Jesus e difusão do cristianismo.

Quando Roma estendeu seus domínios ao Oriente Médio, en-controu aí um poderoso aliado em Herodes, rei da Palestina.Este se uniu aos romanos, intensificou o comércio e manteve aunidade política judaica. Porém, sua morte, em 4 a.C., assinaloua desintegração do seu reino.

A aristocracia judaica aceitava a dominação romana para ob-ter vantagens econômicas. Os sacerdotes judeus não se opu-nham desde que detivessem o monopólio da religião. Mas fac-ções religiosas se multiplicavam: os fariseus, radicais naciona-listas, pregavam abertamente uma revolução pela independên-cia; os essênios pregavam a vinda do Messias, um rei poderosoe forte que lideraria o povo à independência. Nesse clima deagitação sociopolítica nasceu Jesus.

Adulto, Jesus se dedicou à pregação de suas idéias por toda aPalestina. Oferecia-se a todos os homens de boa vontade, os quaischamava para a fé, esperança e caridade. Os sacerdotes o consi-

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deraram um dissidente e o enquadraram na lei religiosa. Instigaramos romanos a prendê-lo, julgá-lo e condená-lo à morte na cruz.

Todavia, as idéias de Jesus frutificaram. Como os sacerdotesperseguiam os cristãos de Jerusalém, esses foram divulgar a“boa nova” em outras partes do Império. Os apóstolos levaramsuas idéias, construindo sua doutrina, particularmente Paulo, quedeu caráter universal à nova religião. Por não considerar o impe-rador divino, os cristãos foram perseguidos.

Mas em vão, pois a simplicidade da doutrina cristã e a crençano paraíso seduziam a plebe e os escravos. O cristianismo devol-via a esperança ao povo depois de um século de lutas, trazendoesperança às consciências angustiadas pela crise moral e social.Neste momento, o cristianismo se apresentava como uma síntesedas idéias judias e persas. Por seu lado, as autoridades acusa-vam os cristãos de atentar contra a segurança do Estado.

As perseguições se iniciaram sob o pretexto de que os cris-tãos eram os responsáveis por toda a desgraça que se abatiasobre o Império. Diziam os pagãos que seu monoteísmo provo-caria reações violentas dos deuses.

Nero iniciou a primeira grande perseguição, uma forma de dis-trair a opinião pública dos graves problemas pelos quais o Impé-rio passava. O incêndio de Roma foi atribuído aos cristãos. Mes-mo assim, seu número aumentava paulatinamente. Diante dosuplício dos mártires, muitos espectadores se convertiam.

A Igreja cristã se organizou com o surgimento dos bispos epresbíteros. A área imperial foi religiosamente dividida pelos cris-tãos em dioceses ou províncias eclesiásticas. Os patriarcas, au-toridades superiores cristãs, dominavam a partir do controle dasprovíncias subordinadas aos grandes centros, como Roma,Constantinopla, Alexandria etc. O bispado de Roma se sobrepôsaos demais, alegando que o bispo de Roma era o herdeiro dePedro, pois ali ele morrera, ele que recebera de Jesus a incum-bência da propagação da fé.

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Mapa da divisão do Império Romano.

A Igreja, quando não perseguida, se afirmava como poder au-tônomo. O concílio de Nicéia (325) reconheceu a primazia dobispo de Roma e combateu a heresia ariana, que dizia que Cris-to não era Deus, e, portanto, não era igual ao Pai.

Em 270, o exército aclamava o imperador Aureliano que pre-parou o Império para resistir às invasões, erguendo fortalezas emuralhas. O novo imperador Constantino, necessitando do apoiodo povo, publicou o Édito de Milão, em 313, que determinava atolerância religiosa no Império. Na verdade, o grande beneficia-do foi a cristianismo. Em 360, assumiu o trono Juliano, o Apóstataque tentou reviver o paganismo. Com sua morte, três anos maistarde, morreu com ele o próprio paganismo romano.

Teodósio, para acabar com as divisões internas, oficializou ocristianismo, em 391, e determinou o massacre dos dissidentes.Total reviravolta.

Em 395, o Império foi definitivamente dividido. Os dois filhosde Teodósio assumiram o poder: Arcádio, herdeiro do Oriente,cuja capital era Constantinopla, e Honório, imperador do Oci-dente, com sede em Roma.

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Mapa das invasões “bárbaras”.

O epílogo do Império Romano Ocidental:as grandes invasões germânicas

Inicialmente, os povos germanos se infiltraram no Império Roma-no pacificamente. Havia necessidade de mão-de-obra, de revitalizara economia e de completar os quadros do exército. Eram osgermanos utilizados nos trabalhos rurais, em atividades domésti-cas e no exército. Assim, não se lutava mais por patriotismo, maspor obrigação ou interesse imediato. Às vezes, até o comandantesupremo do exército romano (magister militum) era um germano.

Acossados pelos hunos, terríveis cavaleiros vindos das este-pes asiáticas, os visigodos invadiram o Império, atacaram a Itá-lia e saquearam Roma, em 410. Os vândalos, aproveitando-seda anarquia, invadiram a Gália, atravessaram a Ibéria e estabele-ceram-se no norte da África, ameaçando o Mediterrâneo ociden-tal, tendo inclusive saqueado Roma em 455.

Os anglos e os saxões se estabeleceram nas ilhas Britânicas,enquanto os francos ocuparam o norte-nordeste da Gália. Po-

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rém, a pressão dos hunos aumentou e a penetração no Impérioaconteceu. Seu chefe, Átila, que já havia invadido a Itália, voltou-se para a Gália. Uma federação de romanos e visigodos se for-mou contra o perigo comum e bateu os hunos (451), que se reti-raram para a Panônia, na Europa Oriental (hoje, Hungria).

O Império Ocidental dominava apenas a Itália. Em 476, desa-pareceu oficialmente, quando os rebeldes hérulos tomaramRoma, sob o comando de Odoacro, um bárbaro romanizado. Oúltimo imperador, Rômulo Augústulo, foi deposto. O rei dos hérulosdeclarou que um só imperador bastava, o do Oriente. As insígniasimperiais foram então enviadas a Constantinopla.

Era o fim do Império Romano do Ocidente.

Exercícios propostos

1) “As revoluções haviam, de fato, enfraquecido momentaneamente atalassocracia (domínio dos mares); jamais, porém, a abateram com-pletamente. Cinqüenta anos depois, ela se reconstituirá, ainda maisforte que antes: não apenas começará, então, um novo período deriqueza, de progresso e de expansão; ela será favorecida, ainda, pelaexistência de um poder real mais solidamente constituído e pelapredominância, a partir de então incontestada, de uma verdadeiracapital: Cnossos.”O trecho trata da história:

a) Do Egito.b) Da Etrúria.c) Da Fenícia.d) Da Aquéia.e) De Creta.

2) O sistema educativo ateniense visava:a) A formação política e militar de seus cidadãos, preparando-os para a

guerra.

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82 História Geral

b) O equilíbrio harmonioso entre o físico e a mente, para serem bonssoldados.

c) A formação de soldados fortes e disciplinados para a defesa da Pátria.d) Desenvolver nos cidadãos um conjunto harmonioso de qualidades da

mente e do corpo.e) Preparar apenas filósofos e artistas.

3) O sistema de governo espartano era constituído por:a) Um rei, um conselho ou Areópago, uma Assembléia do povo ou Ápela e

cinco Éforos.b) Um rei, uma Assembléia do povo ou Apela, um Conselho ou Gerúsia e

cinco Éforos.c) Dois reis, um Conselho ou Gerúsia, uma Assembléia do povo ou Apela e

cinco Éforos.d) Dois reis, um Conselho ou Areópago, a Gerúsia e cinco Éforos.e) Apenas a Bulé e a Eclésia.

4) Péricles, célebre orador e estadista ateniense, tornou-se ainda maisfamoso por:

a) Ser notável militar e ter vencido a batalha de Maratona.b) Ao lado de Pelópidas, ter afastado o perigo espartano em Leuctras.c) Ter dado notável desenvolvimento artístico e literário a Atenas, com

dinheiro proveniente da Confederação de Delos.d) Ter atacado Felipe II nos célebres discursos chamados “Filípicas”.e) Liderar a implantação da primeira tirania ateniense.

5) Assinale a alternativa correta:O período helenístico foi uma fase da cultura grega que correspondeu àépoca:

a) Descrita por Homero em suas obras Ilíada e Odisséia.b) Desde a conquista de Alexandre até a dominação romana na Grécia.c) Em que Sócrates expôs suas doutrinas a seus discípulos prediletos:

Platão e Xenofonte.d) Em que viveu o primeiro historiador, Heródoto.

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83História Geral

e) Descrita por Cícero em sua obra “De Oratore”.

6) Assinale a alternativa correta:A cultura helenística caracterizou-se pelo(a):

a) Desenvolvimento das artes e letras entre os atenienses.b) Fusão da cultura grega e da oriental.c) Cultura dos helenos e romana.d) Fusão das culturas orientais.e) Fundação de centros culturais no Oriente.

7) Na disputa entre plebeus e patrícios em Roma alguns eventos sesobressaíram. Entre estes podemos identificar:

a) A criação do cargo de Tribuno, a lei das Doze Tábuas, a lei Canuléia e atentativa de reforma dos irmãos Graco.

b) A revolta de Spartaco, a ditadura de Fábio Máximo e as reformas dosirmãos Graco.

c) A criação do consulado e da ditadura como instituições republicanas.d) Os levantes de Bunus (Antiocus) e de Spartaco, a ditadura de Sila e a

política de Caio Flamínio.e) Os acordos feitos entre patrícios e plebeus na Segunda Guerra Púnica,

o consulado de Cipião, a lei das Doze Tábuas e o levante de Catilina.

8) É fato notável do período expansionista da Roma Republicana:a) A expulsão do último rei de Roma.b) O ditador nomeado pelo senado pelo prazo de seis meses.c) O desenvolvimento do latifúndio, o trabalho escravo e a grande

acumulação de capital.d) A formação da classe social dos patrícios.e) O fortalecimento dos pequenos agricultores que se fixaram nas terras

conquistadas.

9) “Quando venceu, apresentou imediatamente sua proposta dereforma agrária, na Assembléia Popular. Não permitia que cidadãoalgum tivesse mais de 500 iugera de terras públicas – total que

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84 História Geral

era duplicado se o concessionário de terra tivesse dois filhoscrescidos. Todas as terras no momento em mãos dos grandessenhores deveriam ser distribuídas aos cidadãos romanos que nãoeram proprietários.”O período que vai de 133 a 27 a.C. corresponde à desintegração daRepública e às origens do Império Romano. Nesse período, a propostade lei acima foi feita por:

a) Caio Graco.b) Mário.c) Sila.d) Tibério Graco.e) Júlio César.

10) O imperador Augusto tornou-se um dos mais famosos imperadoresromanos porque:

a) Restabeleceu a paz interna do Império e incentivou o desenvolvimentointelectual e artístico.

b) Mandou perseguir os cristãos, a fim de eliminar o perigo que estesrepresentavam.

c) Dividiu o Império em Oriente e Ocidente, devido às ameaças dos bárbaros.d) Mandou reconstruir as cidades de Pompéia e Herculano, destruídas

pelo Vesúvio.e) Instituiu a tetrarquia romana.

11) Enfraquecida pelas lutas internas e pelas conseqüências do expan-sionismo, a República cedeu lugar ao Império na Roma antiga. Emrelação à ordem imperial, afirma-se que:

a) A concentração dos poderes de Otávio, nos primeiros momentos doImpério, respondia pelas necessidades da nobreza senatorial emdispor de um governo capaz de sufocar a anarquia e as rebeliões deescravos.

b) A organização do Império contou com expressiva participação popular,haja vista a importância que o Partido Democrático ocupou na quedado regime republicano.

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85História Geral

c) O Império nasceu no interior da grave crise econômica que caracterizouos últimos tempos da República, crise provocada pelas derrotas deRoma nas guerras pela conquista da Itália.

d) A criação do Império, obra elaborada pelo Primeiro Triunvirato,representou o produto da vontade dos generais no sentido de criar umgoverno capaz de controlar a crise social do final da República.

e) As bases do Império foram, politicamente falando, sustentadas pelopoder dos camponeses romanos, principais interessados na existênciade uma ordem que lhes assegurasse o domínio da terra.

12) A religião romana era essencialmente politeísta, e o culto ao im-perador era de grande significado, pelo fator da unidade que repre-sentava. Contudo, como muitos se negavam a admitir o césar-deus,constituindo assim um perigo para o Estado, iniciaram-se as terríveisperseguições aos:

a) Bárbaros invasores.b) Primeiros cristãos.c) Bons espíritos familiares.d) Escravos e estrangeiros.e) Judeus vindos da Palestina.

13) “Embora não tivessem criado nem filosofia, nem arte e nem ciênciasverdadeiramente originais, souberam compendiar e assimilar o queoutros povos tinham criado antes. Sua maior realização se deuprovavelmente no domínio administrativo e no campo jurídico, ondesua influência pode ser observada ainda hoje em muitos países. Oelemento mais importante de sua influência refere-se à idéia deautoridade absoluta do Estado”. O texto refere-se aos:

a) Árabes.b) Persas.c) Romanos.d) Gregos.e) Egípcios.

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86 História Geral

Questões de vestibular

1) (UNESP) A ocupação da Grécia pelos indo-europeus ocorreu nocontexto das grandes migrações. E a expansão colonizadora subse-qüente decorreu da conjugação de vários fatores:

I. Mudança no regime de propriedade, crescimento demográfico e lutaspolíticas.

II. Solo árido e pouco irrigado.III. Espírito de empreendimento desenvolvido pelo influxo da cultura romana.IV. Crescimento do comércio e a procura de alimentos fora do continente.

Assinale:a) Se todas as afirmativas estão incorretas.b) Se todas as afirmativas estão corretas.c) Se as afirmativas I, II e IV estão corretas.d) Se apenas a afirmativa III está correta.e) Se apenas a afirmativa II está correta.

2) (FATEC-SP) Assinale a alternativa incorreta.A cidade-Estado foi a forma característica de organização social epolítica da Grécia Antiga. Podemos afirmar ainda que:

a) A cidade desempenhou no universo político dos gregos o mesmo papelque nos Estados Modernos, embora diferindo destes profundamente.

b) A cidade, tal como era, orientava na Grécia a natureza das relaçõesinternacionais, como também definia a estrutura dos imperialismos ouos limites das imigrações e das expansões.

c) Era imensa a influência que a cidade, qualquer que fosse a sua formaou seu regime, exercia sobre o cidadão.

d) Sempre e em toda parte, a cidade ocupava o primeiro lugar, e o homemera, antes de tudo, aquilo que o seu papel cívico lhe impunha.

e) Nenhuma das anteriores.

3) (UFPR) No século V a.C., a democracia urbana ateniense apoiava-seno seguinte princípio:

a) Membros da classe militar não poderiam ocupar cargos públicos.

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b) As pessoas de ambos os sexos teriam direito a voto.c) O governo auxiliaria aqueles que perdessem seus direitos civis.d) Somente os sacerdotes poderiam ocupar cargos públicos.e) Todos os cidadãos deveriam ter o direito de participar nos negócios

públicos.

4) (F.M. SANTA CASA-SP) A conferência de Delos (476 a.C.), organizadapor Aristides, teve como uma de suas conseqüências:

a) O aumento do poderio militar e econômico de Atenas, que passou aexercer uma hegemonia sobre os Estados gregos.

b) A participação dos Estados gregos, acabando com a rivalidade entreEsparta, Negara, Corinto e Tebas.

c) A decadência do imperialismo de Atenas, que se viu obrigada a agir emconcordância com os demais aliados.

d) O desprestígio político de Péricles, tendo em vista a liderança queEsparta exerce dentro da nova aliança.

e) A participação dos vários Estados gregos ameaçados em sua estruturainterna pelos persas que dominavam o Egeu.

5) (UNESP) O “ostracismo”, que na Antiga Grécia consistia na sus-pensão dos direitos políticos dos cidadãos considerados nocivosao Estado, foi uma instituição:

a) Da tirania ateniense.b) Da democracia ateniense.c) Da diarquia espartana.d) Da oligarquia espartana.e) Da monarquia tebana.

6) (UECE) Tivemos como conseqüência cultural das conquistas deAlexandre Magno:

a) A preservação da cultura clássica da Grécia sem misturar comelementos orientais.

b) O surgimento da cultura helenística, como resultado da fusão da culturagrega com as culturas do Oriente Médio.

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c) A decadência dos estudos científicos e o desenvolvimento exclusivo daarte e da literatura.

d) A hegemonia da cultura latina e a decadência da cultura grega.e) Nenhuma das anteriores.

7) (FATEC-SP) Analise as proposições I, II e III e assinale a alternativacorreta:

I. Os romanos instituíram o direito como expressão de sua sociedadepolítica, ao passo que os gregos estabeleceram a especulação filosófica,baseada na investigação científica.

II. Uma justa exigência dos plebeus de Roma, para melhor se resguardaremda opressão, resultou nas leis das Doze Tábuas, então compiladas, eque provinham de prática consuetudinária e da legislação grega.

III. O Cristianismo contribuiu para a queda de Roma, na medida em que eracontra o pacifismo e incentivava os romanos a lutas e guerras de conquista.

a) São verdadeiras as proposições I, II e III.b) São verdadeiras apenas as proposições I e II.c) São verdadeiras apenas as proposições I e III.d) São verdadeiras apenas as proposições II e IIIe) Nenhuma das anteriores.

8) (FUVEST) Ajudaram os espartanos a vencer os atenienses na Guerrado Peloponeso, mas não foram eles que acabaram por conquistartoda a Grécia. Pelo contrário, posteriormente, eles foram tambémconquistados e integrados a um novo império. Trata-se dos:

a) Egípcios e do Império Romano.b) Fenícios e do Império Cartaginês.c) Persas e do Império Helenístico.d) Siracusanos e do Império Sicilota.e) Macedônios e do Império Babilônico.

9) (UNESP) A partir do século III, o Império Romano caminhou da crisepara a decadência. E, a propósito, considerando as afirmações:

I. O exército romano fazia e desfazia imperadores.

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89História Geral

II. A decisão de tolerar o estabelecimento dos bárbaros que forçavam asfronteiras, com o tempo, mostrou-se perigosa.

III. A fixação dos camponeses à terra contribuiu para o desenvolvimentodo colonato, em detrimento do modo escravista de produção.

IV. Os invasores liqüidaram com o Império do Ocidente, não restando umaúnica instituição.

a) Se todas as afirmativas estão incorretas.b) Se todas as afirmativas estão corretas.c) Se apenas a afirmativa II está correta.d) Se apenas a afirmativa IV está incorreta.e) Nenhuma das anteriores.

10) (VUNESP) O Direito romano, instituição legada pelo Império Romanoà civilização ocidental, resultou da preocupação em:

a) Determinar as obrigações dos patrícios em relação aos plebeus.b) Garantir aos primitivos italiotas seus direitos diante dos invasores

etruscos.c) Assegurar aos primeiros reis de Roma a continuidade de seu poder.d) Aumentar o poder da República romana diante das nações vizinhas.e) Regulamentar a vida do cidadão romano estabelecendo seus direitos e

deveres diante do Estado.

11) (F.M. SANTA CASA-SP) A crise do Império Romano, entre os séculosIII e V, foi determinada, em parte, pela:

a) Fragmentação dos latifúndios, o que alterou a economia, que, assimperdeu o seu caráter rural.

b) Alteração do sistema de produção conseqüente às decisões legislativasde libertação dos escravos.

c) Transformação na sua estrutura administrativa, quando a cidade passaa ser o centro da economia.

d) Diminuição da produção dos latifúndios em decorrência da escassezde mão-de-obra escrava.

e) Reforma introduzida por Adriano, que facilitou a penetração dosbárbaros no território do Império.

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90 História Geral

12) (MACKENZIE) O Cristianismo contribuiu para a queda de Roma namedida em que:

a) Destruiu a moral política romana e representava a esperança das mas-sas oprimidas.

b) Valorizava o homem e aceitava a teocracia romana.c) Era contra o pacifismo e incentivava os romanos a lutas e guerras de

conquista.d) Sobrepunha os bens materiais aos espirituais.e) Foi responsável pela estagnação econômica do Império.

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91História Geral

Capítulo 4 – Introdução

A Idade Média é o período histórico localizado entre a Antigüi-dade e a Idade Moderna. Para a maioria dos historiadores, elase inicia em 476, com a queda do Império Romano Ocidental, ese estende até 1453, quando os turcos otomanos tomaram acapital do Império Bizantino, Constantinopla. Esta é uma divisãomeramente didática, pois os períodos históricos não são real-mente separados. Por outro lado, costuma-se ainda chamar aIdade Média de “Idade das Trevas”, pois teria sido uma época demuita ignorância e obscurantismo. Porém, esta qualificação nãocorresponde à realidade. Além de ser pejorativa e preconceituosa,a pessoa que assim se manifesta revela desconhecimento histó-rico, pois foi uma época de notáveis realizações culturais, espe-cialmente as da civilização muçulmana. Foi também a época deformação das modernas línguas e nações européias.

Pode-se dividir este longo período de mil anos em duas épo-cas: Alta Idade Média (séculos V ao XI) e Baixa Idade Média(séculos XII ao XV). Na primeira parte, destacam-se a civilizaçãobizantina, a civilização muçulmana, a formação dos ReinosGermânicos e do feudalismo. Na segunda, as transformaçõesocorridas no sistema feudal, que impulsionariam a Europa Oci-dental ao sistema capitalista e à sua grande expansão marítima.

PARTE 3PARTE 3IDADE MÉDIA

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92 História Geral

Capítulo 5 – Alta Idade Média

A civilização bizantina

Embora Roma tivesse sido conquistada pelos germanos, em476 d.C., a parte oriental do Império sobreviveu. Sua capital,Constantinopla, a antiga cidade de Bizâncio, inaugurada em 330,situada na região do estreito de Bósforo, dominava a passagemda Ásia para a Europa e do mar Negro para o Egeu.

A sobrevivência do Império Romano do Oriente ou ImpérioBizantino, como passou a ser mais conhecido, deveu-se ao con-trole das vias marítimas do comércio internacional, pois Cons-tantinopla era um dos principais terminais das rotas de carava-nas vindas da Ásia. Apesar da futura pressão islâmica, o ImpérioBizantino dominava boa parte do comércio no Mediterrâneo Ori-ental. Os lucros obtidos possibilitaram a manutenção de um exér-cito e uma armada poderosos. Os bizantinos também os utiliza-vam para pagar os “bárbaros”, como eram chamados os povos

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que não tinham a cultura greco-romana, comprando a paz e des-viando-os para o Ocidente. Enquanto a Europa Ocidental eraparcialmente germanizada, o Império Oriental se helenizava, sobforte influência oriental.

Justiniano tornou-se imperador de Bizâncio em 527. Ambicio-so, aliado da elite mercantil, reconquistou territórios para recons-truir o antigo Império Romano. Suas conquistas objetivavam asantigas rotas comerciais, principalmente na área mediterrânea.Com a reconquista do Egito, Justiniano se apossou do tradicio-nal “celeiro de trigo”, garantindo o abastecimento de Constan-tinopla. Retomou boa parte do norte da África, o sul da Itália(Nápoles) e da Espanha, ilhas como Sicília, Córsega e Sardenha.Novamente o mar Mediterrâneo pertencia aos romanos, porémos do Oriente.

Justiniano centralizou a administração, escolhendo pesso-as pela sua capacidade funcional. Submeteu a Igreja cristã aoseu domínio, particularmente o patriarcado de Constantinopla.Esta política recebeu o nome de “cesaropapismo”, ou seja, odomínio do Estado sobre a Igreja, largamente utilizado pelosseus sucessores.

Com sua morte em 565, o Império enfrentou outros proble-mas, como as famosas intrigas palacianas, disputas políticaspelos principais cargos administrativos, e os interesses dos gran-des mercadores. Um outro problema grave foram as heresias,que levariam futuramente ao divisionismo religioso e ao declíniodo Império, como o monofisismo, segundo o qual haveria umasó natureza em Cristo, a divina. A esposa de Justiniano, Teodora,era monofisista, mas mesmo assim esta heresia foi duramenteperseguida. Afinal, facções rivais poderiam levar a uma guerracivil, prejudicial à força e aos interesses do Estado teocráticobizantino. Finalmente, a opulência da corte, com seus gastos, ogrande número de mosteiros e monges, com seus privilégios,eram um prejuízo e um perigo ao Império.

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Um aspecto importante do governo de Justiniano foi o embele-zamento da capital, transformada no principal centro cultural cris-tão do Oriente, que teve na construção da catedral de Santa Sofiao mais notável exemplo da arquitetura cristã bizantina. Como oimperador se preocupasse com a herança legislativa romana, fezreunir juristas que codificaram todo o direito romano, sob o títulode Corpus Juris Civiles (Corpo do Direito Civil), um verdadeiro mo-numento jurídico. Toda a legislação romana foi revista, retificadasas omissões e suprimidas as contradições. Ela foi complementadapela edição do Digesto (coletânea de leis), Institutas (princípiosfundamentais do Direito) e Novelas (leis complementares). Essenotável trabalho jurídico serviu de base do Direito moderno.

O maior perigo surgiu no século VII, quando o Império foi acos-sado pela violenta expansão árabe-muçulmana, e regiões foramdefinitivamente perdidas. Agravando a situação, ao norte da pe-nínsula balcânica, os eslavos conquistavam territórios. O fato maisimportante foi o estabelecimento dos búlgaros ao sul do rio Danúbio.

No século VIII, Bizâncio foi atingida pelo movimento iconoclasta(quebra de imagens), contra os abusos da Igreja, acusada de

Catedral de Santa Sofia.

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idolatria e de exploração da crendice popular, comercializandolargamente estátuas de santos que ela produzia. Para quebrar aforça da Igreja, as esculturas que decoravam as igrejas foramdestruídas e proibida a sua produção. Desaparecia um inestimá-vel tesouro artístico e ampliavam-se as divergências entre asIgrejas cristãs: a do Ocidente (Roma, que tinha no latim a línguaoficial) e a do Oriente (Constantinopla, que usava o grego). Em1054, ocorreu o Cisma do Oriente, ou seja a divisão entre a Igre-ja Ortodoxa e a Igreja Católica, que permanece até hoje.

Mesmo assim, o Império revelava ainda vitalidade. Somentealguns séculos depois veio a queda definitiva de Constantinopla,conquistada pelos turcos muçulmanos, em 1453.

A civilização muçulmana

O povo árabe, à semelhança dos judeus, pertence ao gruposemita. Desde tempos, remotos, ocupa a península que tem oseu nome, localizada no Oriente Médio. Primitivamente pastoresde caprinos e ovinos, eram seminômades, vagando de oásis emoásis, em busca de pastagens para seus animais. Reunidos emclãs, governados pelos anciões, disputavam com outros clãs ocontrole dos pastos e dos poços d’água. A fome incentivava aluta entre os clãs, que limitava o crescimento da população.

Os árabes eram politeístas, místicos e animistas, adorando oselementos da natureza representados na forma de ídolos, guar-dados na Caaba, em Meca, uma importante cidade comercial. Omais importante dos símbolos era a “pedra negra”, provavelmenteum grande meteorito. Meca, como sua rival Iatreb, era uma cida-de localizada na rota comercial caravaneira, que atravessavama Arábia. O comércio era intenso em função da localização dapenínsula, entre o mar Mediterrâneo, o golfo Pérsico, o mar Ver-melho e o oceano Índico, região de passagem entre África e Ásia.As caravanas provenientes do Oriente por ela passavam carre-

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gadas de mercadorias, como especiarias, tecidos de seda, es-sências, jóias, para serem trocadas por metais preciosos, mar-fim, armas, escravos. Portanto, os clãs que viviam em Meca eramrivais, lutando pela hegemonia econômica.

Meca era dominada pelo clã dos coraixitas, que guardava todosos ídolos na Caaba quando nasceu Maomé, em 570. Maomé eraum axemita, um ramo do clã dos coraixitas, porém filho de paispobres. Órfão logo cedo, criado pelo avô e, posteriormente, pelotio Abu Talib; na juventude participou do comércio caravaneiro.Nas cidades marítimas, conheceu comunidades de judeus e cris-tãos. Ele era místico e, nas suas andanças pelos desertos, conce-beu uma religião, sob influência do monoteísmo judaico-cristão.

Boa parte de sua vida está envolvida em lendas e alegorias.Acredita-se que muita coisa tenha mudado quando se casou comuma rica viúva, Khadidja, a quem amava profundamente. Segun-do a tradição islâmica, certa vez teria lhe aparecido o anjo Gabriel,revelando-lhe a vontade de Deus. Teria revelado à sua esposa aconcepção monoteísta e dela teve firme apoio. Costumava cami-nhar pelo deserto, meditando durante muitos dias, em jejum. Se-

Mapa da península da Arábia na época de Maomé.

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guia o exemplo de Jesus, a quem considerava um dos últimosprofetas. Pensava em restabelecer a religião de Abraão que, noseu entender, judeus e católicos teriam deturpado.

Converteu inicialmente seus parentes haxemitas. Posteriormen-te, passou a pregar em praça pública, atacando o politeísmo e aidolatria. Exortava as pessoas a conquistar a salvação pela ora-ção, voltando-se a Jerusalém. Atraia as camadas mais baixas,convertendo-as. Assim, tornou-se um homem perigoso para osmercadores de Meca. Perseguido e ameaçado pelos coraixitas,Maomé fugiu da cidade, dirigindo-se à rival Iatreb, que o acolheue se converteu, tendo seu nome sido mudado para Medina, aCidade do Profeta. Este episódio, a fuga (hégira), ocorrido em622, é o marco inicial do calendário islâmico.

Meca. Ao centro da foto a Caaba.

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Maomé uniu muitos clãs na crença em um só Deus, Alá. De-pois de muitos anos de lutas, conquistou Meca, onde quebroutodos os ídolos da Caaba, exceto a pedra negra, símbolo da uniãodos homens com Deus. Meca foi transformada em uma cidadesanta e os muçulmanos passaram a orar voltados para ela.

Com incrível rapidez, as cidades árabes aderiam ao islamismo.Em 631, Maomé era senhor de toda a península Arábica e osseus ensinamentos eram fervorosamente difundidos. No anoseguinte, o profeta morreu, sendo sucedido por Abu-Bekr, o pri-meiro califa, simultaneamente chefe político, militar e religiosode um Estado teocrático, centralizado e poderoso.

Os primeiros califas determinaram a compilação dos ensina-mentos ditados por Maomé formando o Corão (ou Alcorão), olivro sagrado dos islamitas, base da sua doutrina. Entre os prin-cipais preceitos, destacam-se:

a) Absoluta crença de que “só Alá é Deus, e Maomé, seu profeta”.

b) Peregrinação a Meca, pelo menos uma vez na vida, se pos-sível.

c) Doação de esmolas na proporção da renda.

d) Obrigação de cinco orações diárias, voltado para Meca.

e) Obrigação do jejum diurno durante o mês do Ramadã.

A conjuntura da época favoreceu a expansão do Islão. Os per-sas e os bizantinos estavam enfraquecidos por lutas entre si einternas. Ademais, havia a crença na “Guerra Santa” (jihad), apromessa do paraíso para os guerreiros. Sucederam-se as con-quistas da Palestina, Síria, Pérsia e parte da Índia, em direçãoao Oriente. Paralelamente, no Ocidente, a dominação do Egito,rico na produção de cereais, da Cirenaica (hoje, Líbia).

Nessa época, o governador da Síria, Moaviá Omíada, con-quistou o poder por meio de um golpe de Estado, transferindo asede do califado para Damasco. Iniciava-se uma nova dinastia

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que governou de 660 a 750, a dos Omíadas. As conquistas pros-seguiram rapidamente, até o Marrocos e a Sicília. Em 711, ochefe muçulmano Tarik atravessou o estreito de Gibraltar e ini-ciou a invasão e a conquista da península Ibérica. Por mais desete séculos os islamitas ali permaneceram. Atravessaram osPirineus, avançaram pela França, mas foram derrotados na ba-talha de Poitiers, em 732, por Carlos Martel, chefe militar franco.

Inicialmente, as relações entre a Europa cristã e o mundoislâmico eram muito violentas. Os muçulmanos necessitavammanter o comércio, base de sua economia. Precisavam de mer-cadorias e, então, uma das soluções foi atacar as cidades eu-ropéias, especialmente as localizadas no litoral mediterrâneoda França e da Itália. Eram as “razzias”, ataques violentos mu-çulmanos com o objetivo de saquear e se apossar do butim. Apopulação, apavorada, refugiava-se no interior. O comércio cris-tão no Mediterrâneo Ocidental desapareceu, o que contribuiudecisivamente para a ruralização da população e a feudaliza-ção da economia européias.

Mapa do Império muçulmano desde a península Ibérica até a Pérsia.

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100 História Geral

Havia, em geral, uma enorme conversão ao islamismo nos ter-ritórios conquistados. Mas a grande extensão do Islão, “o mundodos crentes” estimulava a autonomia regional. As lutas violentaspelo poder se sucediam. A dinastia Omíada, massacrada, foi subs-tituída pelos Abássidas, que transferiram a capital para Bagdá.Por todo o Império circulavam moedas cunhadas na capital. Acivilização muçulmana chegava ao apogeu e orientalizava-se. OIslão possuía a hegemonia do Mediterrâneo, ainda que eventual-mente contestada pelo Império Bizantino. A Europa, isolada, evo-luía para o feudalismo.

O Império, mais especificamente, Bagdá, fervilhava cultural-mente. A capital possuía universidade, uma escola de medicina,incentivava as artes. Os estudos de astronomia foram retoma-dos; houve avanços na química, mas a geografia e a matemáti-ca eram as ciências preferidas. Bagdá fazia a síntese do pensa-mento grego e hindu. A curiosidade dos islâmicos levou-os a co-nhecer, conservar e difundir o pensamento clássico. Obras dePlatão, de Aristóteles, de Direito eram traduzidas para o árabe,tornada a língua universal. A arte dos muçulmanos era uma sín-tese dos estilos bizantino e persa. Era, portanto, uma cultura cos-mopolita, em que a tolerância religiosa possibilitava cristãos ejudeus lecionarem nas universidades.

Assim, a cultura clássica greco-romana da Antigüidade podesobreviver. As traduções árabes, estudadas na Europa medie-val, propiciaram a continuidade do pensamento greco-romano,que originaria mais tarde o Renascimento.

Porém, as imensas conquistas territoriais tornaram os árabesuma minoria dentro do Império, ainda que a sua língua fosse adominante.

Os turcos otomanos, convertidos ao islamismo, asseguraram-se do poder central e estenderam suas conquistas na penínsulaBalcânica. Maomé II, seu chefe, liderou o ataque ao que restavado Império Bizantino. Em 1453, a capital Constantinopla caía emsuas mãos. Era o fim do Império Romano do Oriente.

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101História Geral

Os reinos germânicos

Com a queda do Império Romano Ocidental, três gruposgermânicos predominaram na Europa Ocidental: os visigodos,na península Ibérica; os ostrogodos, na Itália, e os francos, naGália.

A Itália foi a região que mais conheceu invasões. Atraídos pelaimportância de Roma, pelas terras férteis e pela perspectiva desegurança, os germanos lutaram intensamente pelo domínio dapenínsula. Hérulos, ostrogodos, lombardos e normandos ataca-ram a região durante três séculos. Mas a instabilidade dos rei-nos estimulou o divisionismo político.

Mapa da Europa no século V-VI com os reinos bárbaros.

As invasões atingiram também as ilhas Britânicas, onde osanglo-saxões fundaram vários reinos, embora o norte permane-cesse sob domínio celta. Os vândalos, após uma curta perma-nência na península Ibérica, especificamente na região da

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102 História Geral

Andaluzia, deslocaram-se para o norte da África. Os visigodosinicialmente ocuparam a Gália, mas depois se estabelece-ram na Ibéria, fundando um dos mais importantes reinos me-dievais. Os burgúndios fixaram-se nos vales dos rios Reno eRódano, que foram incorporados pelos francos, em 534.

Ao se fixarem na Gália, nos fins do século V, os francos,pertencentes à etnia germânica, absorveram a cultura roma-na e se cristianizaram. Formavam clãs rivais, unificados po-liticamente por Clóvis, que se tornou seu rei, em 481. Os reisfrancos eram descendentes do antigo chefe Meroveu, ori-gem da “dinastia merovíngia” (481-751).

A aliança com a Igreja Católica possibilitou o aumento con-siderável do território franco, na medida em que a estruturaeclesiástica e o exército, engrossado pela incorporação decristãos, estimularam as conquistas. Todavia, com a mortede Clóvis, seus filhos, seguindo um costume franco, reparti-ram o reino.

Mapa do Império Franco.

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103História Geral

A conquista muçulmana do Mediterrâneo ocidental reduziu con-sideravelmente as trocas, e contribuiu para o fechamento da eco-nomia. Os reis merovíngios se enfraqueceram e o poder se des-centralizou, passando para as mãos dos proprietários de terrase para os administradores reais. O mais importante, o “prefeitodo palácio” (major domus), era o governante de fato. Os merovín-gios se tornaram “reis indolentes”.

Pepino de Heristal, prefeito do palácio, unificou o Reino Franco,ainda sob a dinastia merovíngia. Com sua morte em 714, assumiuo poder, de fato, seu filho Carlos Martel, que se notabilizou comochefe militar ao derrotar os muçulmanos na batalha de Poitiers.Durante sua administração, consolidou sua aliança com a IgrejaCatólica. Ao morrer em 741, foi sucedido por seus filhos Pepino, oBreve e Carlomano, que se retirou para um convento.

Em 743, Childerico III foi coroado o último rei merovíngio. Pe-pino, o Breve, hábil politicamente, obteve o apoio papal para asua usurpação: destronando Childerico, proclamou-se rei em 751,iniciando a dinastia carolíngia. Pepino atacou o norte da Itália,derrotou os lombardos. As terras dos lombardos foram doadasao papado, formando o Patrimônio de São Pedro. O papa, alémde chefe espiritual, tornava-se também chefe temporal.

Com a morte de Pepino, em 768, o reino foi dividido entre seusdois filhos: Carlos Magno e Carlomano. Com a morte de Car-lomano, em 771, Carlos Magno se tornou o único governante daGália. Retomou a política expansionista de seu pai e anexou aFrancônia e a Suábia (na Alemanha).

No Natal de 800, o papa, desejoso de ter como aliado um im-pério poderoso para continuar a conversão dos bárbaros e a ex-pansão de seu poder temporal, coroou e sagrou Carlos Magnoimperador. Restaurava-se, portanto, o Império Romano do Oci-dente, com base no reino franco. A edificação do Império Francofoi extremamente positiva para a Igreja. O papa era o senhorespiritual de todo o Império, e o clero formava um quadro socialútil à sobrevivência do Estado, apoiado na moral cristã.

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104 História Geral

A segurança do Império estimulou o desenvolvimento cultural,conhecido como “Renascimento Carolíngio”. Compilaram-se an-tigos manuscritos, igrejas foram restauradas, o artesanato artís-tico incentivado. Mosaicos, trabalhos em marfins, objetos de ou-rivesaria e de bronze, notáveis iluminuras se multiplicavam. Aescrita carolíngia se consolidou.

Carlos Magno governou por meio de capitulares, decretos quetratavam de questões civis, militares e religiosas. Dividiu o terri-tório em marcas e condados. Seus administradores, marquesese condes, prestavam juramento de fidelidade ao imperador, quese utilizava de funcionários especiais (missi dominici) parafiscalizá-los. Os bispos foram integrados à administração públi-ca e podiam cobrar o dízimo, um dos fatores do enriquecimentoda Igreja. O papa era o chefe espiritual, porém politica-mente submetido ao imperador.

Carlos Magno morreu em 814. Seu herdeiro, Luís, o Piedoso,morreu em 840, deixando o Império para seus três filhos, que o

Mapa do Sacro Império Romano-germânico.

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105História Geral

dividiram em 843, seguindo o costume franco. Pelo Tratado deVerdun, Lotário, o mais velho, foi formalmente sagrado impera-dor, cabendo-lhe a faixa central do Império e o norte da Itália.Carlos, o Calvo, herdou a parte ocidental (França) e a Luís, oGermânico, ficou a oriental (Alemanha). Com a morte dos her-deiros de Lotário, sua parte foi dividida entre Carlos e Luís. Jáhavia então o esboço territorial das modernas nações européias,bem como seus futuros problemas.

Com as sucessivas divisões territoriais, houve o enfraqueci-mento do poder central. Os senhores locais assumiram, de fato,o poder, relegando os reis a um plano secundário. Em 987, onobre Hugo Capeto pôs fim à dinastia carolíngia, substituindo-apela dinastia dos Capetíngios (987 a 1328). A maior obra dessadinastia foi unificar politicamente a França.

Na Germânia (Alemanha), processo semelhante ocorreu: os gran-des senhores de terras disputavam o poder, uma vez que a suces-são real tornara-se eletiva. Em 933, Oto I foi eleito pela alta nobrezae iniciou um processo de centralização do poder. Aumentou as fron-teiras do reino, invadiu o Franco Condado, anexou a Borgonha eimpôs seu domínio sobre a Lombardia, no norte da Itália. Por voltade 955, as fronteiras da Germânia atingiram as regiões da Bavierae do Danúbio. Em 962, Oto I foi coroado pelo papa como o novoimperador do Ocidente. Seu reino, denominado Sacro Império Ro-mano-Germânico, impôs-se à Europa como a nova autoridade su-prema. Porém, como o Império Carolíngio, o Sacro Império nãoconseguiu estabelecer sua hegemonia na Europa.

Exercício proposto

1) Assinale a correta:“A Igreja bizantina foi uma admirável Igreja estatal. A pompa de seuritual contribuiu para a majestade do Império, seus santos e íconescolocaram-na ao alcance do povo, sua recusa obstinada em sujeitar-

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se a ditames estrangeiros formou um sentimento de nacionalidade,e houve bastante liberdade em sua teologia para não sufocar aatividade intelectual de que o Império se orgulhava. Séculos de opres-são turca obrigaram os ortodoxos a aprender a arte de viver nassombras, mas, enquanto Constantinopla foi uma cidade cristã livre,sua Igreja manteve-se como a mais civilizada organização religiosaaté então conhecida pelo mundo.”

(Runciman, S. – A Civilização Bizantina).

Segundo o texto:a) Não havia liberdade na teologia desenvolvida no Império Bizantino.b) Constantinopla não pode ser considerada cidade cristã.c) Havia ligações íntimas entre Igreja-Estado em Constantinopla.d) A Igreja não contribuiu para a formação do caráter nacional.e) A Igreja bizantina foi o grande exemplo de uma instituição religiosa que

preservava o individualismo e a independência em relação ao Estado.

Questões de vestibular

1) (FUVEST) Os movimentos fundamentalistas, que tudo querem su-bordinar à lei islâmica (Sharia), são hoje muito ativos em vários paísesda África, do Oriente Médio e da Ásia. Eles tiveram sua origemhistórica:

a) No desenvolvimento do islamismo durante a Antigüidade, na PenínsulaArábica.

b) Na expansão da civilização árabe, durante a Idade Média, tanto aOcidente quanto a Oriente.

c) Na derrocada do socialismo, depois do fim da União Soviética, no iníciodos anos 1990.

d) No estabelecimento do Império turco-otomano, com base em Istambul,durante a Idade Moderna.

e) Na ocupação do mundo árabe pelos europeus, entre a segunda metadedo século XIX e primeira do XX.

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107História Geral

Para os testes 2 e 4, assinale conforme o código abaixo:a) Se todas forem corretas.b) Se apenas I for correta.c) Se apenas I e II forem corretas.d) Se apenas I e III forem corretas.e) Se apenas II e III forem incorretas.

2) I – Maomé era descendente da tribo coraixita.II – Meca rende-se rapidamente às palavras do profeta.III – A Caaba é o depósito dos ídolos sagrados, quando o povo árabenão era seguidor de Maomé.

3) I – É uma das características da religião islâmica jejuar durante o mêsde Ramadã.II – O 1o Califa foi Abu Becker.III – O Corão é ao mesmo tempo um livro religioso e código de leis.

4) I – As razzias eram incursões e saques realizadas pelo Islão, nas cidadesda orla do Mediterrâneo.II – Bagdá e Córdova tinham as mesmas estruturas administrativas.III – O Corão livro fundamental dos muçulmanos foi compilado, a partirdos ensinamentos feitos por Maomé.

5) (UNESP) As invasões germânicas no Império Romano do Ocidentelevaram a Europa Ocidental à desagregação política e:

a) Ao restabelecimento da autoridade imperial.b) À decadência demográfica.c) À ruralização da economia.d) Ao renascimento do comércio.e) Ao desaparecimento das cidades.

6) (UNEB) O Tratado de Verdun, de 843, é particularmente significa-tivo para o estudo da evolução política medieval, na medida em que:

a) Marcou a divisão do antigo território Carolíngio, entre os descendentesque partilharam o Ocidente, Centro e Oriente.

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108 História Geral

b) Permitiu o culto islâmico em áreas francamente dominadas pelos cristãos.c) Acentuou a centralização política, que já então se evidenciava nos

Estados medievais.d) Impediu a propagação dos bizantinos e obrigou-os a devolver territórios

conquistados.e) Obrigou o papado a ceder terras que a Igreja havia conquistado

militarmente.

Capítulo 6 – Baixa Idade Média

Conjuntura européia

A fase de grandes invasões e ataques sistemáticos ao conti-nente europeu havia passado. A partir do século XI, as ativida-des urbanas e comerciais renasciam e provocariam as mudan-ças estruturais que iriam corresponder à nova realidade. Das cri-ses do feudalismo nasceria o capitalismo, cujo período inicial deformação é chamado de pré-capitalismo, uma transição gradualnos níveis político, econômico, social e filosófico.

Cidades litorâneas européias ocidentais, como Veneza e Gêno-va, expandiam suas navegações no Mediterrâneo. O comércioentre elas e Flandres, no litoral norte europeu, crescia. Algumasregiões aumentaram a produção e a produtividade agrícolas, ge-rando excedentes, levados a áreas carentes. A tranqüilidade e apaz, maiores se comparadas ao período anterior, geravam as con-tradições do sistema feudal, como o excedente de produção, orenascimento comercial e urbano, e o aumento populacional.

O crescimento populacional também atingia a nobreza feudal.Como a herança total geralmente cabia ao filho mais velho (di-reito de primogenitura), os demais deviam ficar sob sua autori-dade, ou tornar-se membro da Igreja, ou ainda conseguir umavassalagem com outro senhor, por meio de serviços militares oucasamento, recebendo um dote em forma de propriedade rural.

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109História Geral

Em muitos casos, as soluções foram a prática de assaltos, a par-ticipação em torneios, raptos, seguidos da exigência do resgate.

Os burgos, castelos fortificados, eram uma outra solução. Mui-tas pessoas se estabeleceram em torno deles, dedicando-se aocomércio. Sua expansão os transformavam em vilas e depoiscidades, verdadeiros centros de troca de mercadorias, as me-lhores vindas do Oriente, pagas com tecidos, lã, armas e objetosartesanais. Os mercadores eram verdadeiros aventureiros quese arriscavam a ser assaltados. Mas a perspectiva do lucro jácondicionava o seu comportamento. Era o capitalismo, em suafase embrionária, já condicionando o comportamento.

As cidades nascentes lutavam contra o domínio dos senhoresfeudais, armavam-se e procuravam a sua autonomia.

Detalhe de um burgo pintado em um calendário medieval.

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110 História Geral

As cruzadas

No século XI a região do Oriente Médio foi conquistada pelosturcos seldjúcidas, que tinham se convertido ao islamismo. Faná-ticos, proibiram a peregrinação dos cristãos, particularmente aJerusalém. O papa Urbano II, em Clermont Ferrand, na França,por meio de um discurso emocionante, convocou os cristãos parauma guerra santa contra os infiéis muçulmanos. Prometia recom-pensas materiais e espirituais, como o Paraíso. Em conseqüên-cia, uma reação, caracterizada por um forte movimento de religio-sidade, envolveu toda a Europa Ocidental. Todos queriam a li-bertação dos locais santos cristãos no Oriente Médio.

A Igreja Católica soube capitalizar esse movimento. Era a pos-sibilidade de reunir a cristandade, dividida pelo Grande Cismade 1054, e estabelecer a supremacia do papado sobre toda acristandade. Assim, ao mesmo tempo, se combateria os muçul-manos e se pressionaria Constantinopla. Os senhores feudaistambém apoiavam a reação, pois seria uma forma de se livrarda pressão populacional em seus feudos e diminuir os saques.A parcela marginalizada poderia ser deslocada para o Oriente.

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111História Geral

Havia também o interesse dos comerciantes, pois poderiam con-seguir melhores condições de navegação no Mediterrâneo coma expulsão dos árabes. Certamente, o fluxo comercial aumen-taria e as mercadorias orientais chegariam à Europa com mai-or freqüência. Chegava a grande reação européia ocidental.

Nesse contexto de euforia religiosa surgiram movimentos po-pulares, chefiados por fanáticos, como o de Pedro, o Eremita,em 1095. Peregrinava e pregava, concitando as pessoas a se-gui-lo a Jerusalém, em busca da salvação eterna. Seguiram-nopessoas deslocadas, miseráveis, deficientes, desenganados,pecadores, assaltando as propriedades que encontravam nocaminho de Constantinopla. Foi a Cruzada dos Mendigos. Fo-ram transportados pelos bizantinos para o lado asiático do Impé-rio, pois representavam um perigo para a cidade. Lá chegando,a peste e a fome abateram a maioria, os sobreviventes foramliquidados pelos turcos. Pedro, o Eremita, escapou para voltar einiciar nova campanha.

Foram oito as cruzadas oficiais, isto é, organizadas pela Igrejae pelos Estados europeus ocidentais, entre os séculos XI e XIII.Mas, incontáveis as cruzadas populares. Os cavaleiros e os sol-dados tinham uma cruz bordada no peitoril do seu fardamento,daí o nome cruzadas. Gozavam de isenção de pagamento dodireito de passagem e deveriam ser alojados e alimentados aolongo do caminho. Chefiados por Godofredo de Bulhão, toma-ram Jerusalém três anos depois. Na região foram fundados vári-os reinos cristãos latinos e ordens de monges-cavaleiros paraproteger o Santo Sepulcro, como os Hospitalários e os Templários.

Mas, distantes da Europa, com problemas de apoio e abaste-cimento, a espera de um auxílio bizantino que nunca ocorreu,não tendo o apoio da população local, majoritariamente muçul-mana, os reinos cristãos estavam ameaçados de serem destruí-dos pela reação turca. Por isso, várias outras cruzadas foramorganizadas, sem terem conseguido um triunfo definitivo.

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112 História Geral

Merecem destaque a terceira cruzada, em 1189, da qual parti-ciparam Ricardo Coração de Leão, da Inglaterra, Felipe Augusto,da França, e Frederico Barba Ruiva, por isso chamada de “Cruza-da dos Reis”; e a quarta cruzada (1202), organizada pelo papaInocêncio III, que beneficiou os comerciantes de Veneza que seutilizaram dela para tomar e pilhar Constantinopla. Marcou o inícioda preponderância comercial de Veneza no Mediterrâneo Oriental.

Nas cidades orientais litorâneas os comerciantes europeusfundaram feitorias (fondacos) para facilitar as atividades mercan-tis, e a moeda veneziana tinha aceitação internacional. Para for-necer equipamentos para os cruzados, as oficinas urbanas tra-balhavam incessantemente. O comércio acelerou o renascimen-to dos burgos, surgindo outros centros urbanos. A partir do sécu-lo XII a Europa se transformava aceleradamente. O direito in-

Cruzados em batalha.

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113História Geral

ternacional voltava a ser respeitado pelas cidades comerciais eum magnífico renascimento intelectual e artístico florescia, para-lelamente ao restabelecimento do poder monárquico. Os cava-leiros cruzados, ao entrar em contato com o luxo e o esplendordo Islão e de Bizâncio, assimilaram esses hábitos e os dissemi-naram ao voltar para a Europa. O consumo de produtos orien-tais, tradicionais e novos, se ampliou, como açúcar, café, arroz,frutas cítricas, marfim, seda, perfumes. Em troca, os europeusabasteciam os mercados orientais com peixe salgado, tecidos,trigo, cevada. Uma classe de comerciantes, a burguesia, cadavez mais se consolidava, desenvolvendo novos instrumentos mer-cantis como letra de câmbio, contabilidade, e o largo uso demoedas. Era o pré-capitalismo se desenvolvendo.

As rotas comerciais

A expansão mercantil criou um grande circuito de trocas demercadorias que ligava a Itália a Flandres, passando pela regiãoalpina e a Champanha. Ao longo do caminho surgiram as feiras,que também se difundiram pelas rotas paralelas e transversais,e pelas margens dos rios navegáveis, como o Reno, o Rodano,o Danúbio, o Sena etc. Em Flandres, se produzia tecidos com alã importada da Inglaterra. Todas as regiões européias se enri-queceram no contato com a Itália, onde se destacavam as po-tências marítimas de Veneza e Gênova, e as regiões da Toscanae de Lombardia, com suas cidades de Florença, Pisa e Milão,produtoras de tecidos e armas.

As crises religiosas e as transformações culturais

A tendência à centralização monárquica, que contava com oapoio da burguesia, chocava-se contra o particularismo local dossenhores feudais e com o poder universal do papado. A vida ur-bana, a fundação de universidades e os contatos crescentes com

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114 História Geral

o Oriente originaram interpretações divergentes dos dogmas eprincípios doutrinários da Igreja Católica. E, uma vez mais, essainstituição mergulhava na corrupção e no apego aos bens mate-riais. A conjuntura estimulava o aparecimento de grandes movi-mentos heréticos. Sentia-se a necessidade de renovação no com-portamento da Igreja.

Pedro Valdo foi o fundador de uma das mais importantes here-sias na Baixa Idade Média, iniciada na cidade de Lyon, na França,no século XII. Os valdenses criticavam a corrupção do clero, rejei-tavam a autoridade eclesiástica, especialmente a papal, prega-vam a humildade, e diziam prestar obediência diretamente a Cris-to, o que tornava, portanto, a Igreja desnecessária. A Igreja orga-nizou uma cruzada contra os valdenses, levando-os ao extermí-nio. Os sobreviventes foram reconduzidos à força à fé católica.

Tribunal de inquisição.

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115História Geral

Uma outra heresia ocorreu em Albi, cidade do sul da França. Osalbigenses pregavam a existência de dois deuses: o do bem, cria-dor da alma, e o do mal, criador do corpo. Assim, para evitar aexistência do mal, proibiam o casamento, para evitar a reprodu-ção, e estimulavam o suicídio. Contra essa heresia foi organizadaa Cruzada dos Albigenses, com os mesmos resultados trágicos.

Nesse quadro de contestação aos ensinamentos e à autoridadeeclesiástica, a Igreja criou o Tribunal da Inquisição, que condenavaà morte na fogueira os hereges que persistissem em suas idéias.

Mas o enorme fervor religioso, que possibilitou a multiplica-ção de heresias, favoreceu também a fundação de várias or-dens, especialmente as mendicantes, como a dos dominicanose a dos franciscanos.

As primeiras universidades, fundadas a partir do final do séculoXI, eram verdadeiras corporações de mestres e alunos. A de Paristransformou-se no centro do pensamento católico, no século XIII.Na de Bolonha, destacou-se o estudo do direito romano. Muitosreis se utilizaram de seus professores para fundamentar a con-centração do poder político em duas mãos, que conduziria futura-mente à formação das monarquias nacionais absolutas.

Catedral de Notre-Dame, Paris.

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116 História Geral

Renovou-se o interesse pelo pensamento clássico greco-ro-mano, quebrando-se o monopólio filosófico da Igreja. Houve in-teresse crescente pelo estudo do grego antigo, do latim antigo,possibilitando ler-se Platão, Cícero e, especialmente, Aristóteles,no original. O espírito crítico e o uso da razão começavam a seimpor. Iniciava-se o questionamento de todas os dogmas religio-sos, solapando as bases doutrinárias da Igreja.

Na Itália, os literatos Dante, Petrarca e Boccaccio valorizaramo dialeto toscano, transformado na língua nacional, e prepara-ram o leitor para a revolução renascentista que se aproximava.Por outro lado, menestréis e trovadores difundiam a literaturamedieval francesa percorrendo castelos e burgos. Houve tam-bém notáveis avanços no campo da medicina, geografia, astro-nomia, álgebra, geometria e trigonometria, graças ao estudo detextos de origem árabe.

Transição do feudalismo ao capitalismo

As transformações ocorridas na Baixa Idade Média, sintomasda crise do sistema feudal, culminaram com o surgimento e aascensão da camada da burguesia. Entre outros aspectos fun-damentais, destacam-se:

a) A autonomia das cidades que se libertaram do domínio dossenhores feudais;

b) A criação de ligas de comércio, como a de Hansa;

c) A multiplicação de praças comerciais e feiras;

e) O aparecimento das corporações de ofício.

A atividade econômica expandiu com a generalização do usode moedas. A nova sociedade se hierarquizava a partir da possede bens monetários. O objetivo da burguesia era o lucro. Nãomais se satisfazia em recuperar apenas o capital investido. Alas-trava-se o espírito competitivo e prevaleciam socialmente aque-

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117História Geral

les que eram mais capazes comercialmente. Os centros urbanoseram a antítese da sociedade rural feudal. As populações doscampos são atraídas para as vilas, comunas e burgos.

Mas algumas características do feudalismo sobreviveram atéa Revolução Francesa.

Nos burgos, para ampliar a produção, a classe dos artesãosorganizou-se. Alguns eram proprietários das oficinas, dos instru-mentos de produção e comerciavam diretamente com o consu-midor ou com os intermediários. Nelas trabalhavam o mestre pro-prietário, os oficiais e os jornaleiros. Para evitar a concorrênciadesgastante, os mestres se reuniram em corporações, com es-pecialistas de um determinado setor artesanal, como tecelões,fiandeiros, armeiros, padeiros, sapateiros, marceneiros etc. Acorporação estabelecia as regras gerais da profissão, regulava opreço do produto, a qualidade do material, a quantidade a serproduzida e a margem de lucro. Nada se fazia fora das regrasestabelecidas.

Feira medieval.

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118 História Geral

As corporações de ofício formavam uma instituição poderosa,representando uma força política considerável. Seus mestrescombatiam os senhores feudais, lutavam pela autonomia urba-na e contribuíram decisivamente para a crise feudal.

Alguns fatores estimularam a centralização do poder monár-quico. O renascimento comercial e urbano diminuiu o poder po-lítico do senhor feudal, enquanto a burguesia européia se aliavaaos reis, para se livrar dos obstáculos feudais que dificultavam odesenvolvimento comercial. Desejava o fim do particularismo po-lítico, da cobrança do direito de passagem, ampliação da ordem,unificação da moeda e da justiça. A maneira de alcançá-los foiestreitar suas relações com a monarquia.

As monarquias nacionais

O Estado Moderno, centralizado e absolutista, foi resultado daaliança entre a burguesia e a realeza. A burguesia contribuiucom dinheiro, para que o monarca pudesse manter um exércitonacional permanente, contratar funcionários e estabelecer a uni-dade jurídica, monetária e tributária.

O movimento pela formação das monarquias nacionais se alas-trou por toda a Europa, exceto Alemanha e Itália, que se unifica-ram somente no século XIX. Na Alemanha, o processo de cen-tralização foi dificultado pelo imperador e na Itália, pelo papado.

Os funcionários reais, aos poucos, passaram a exercer fun-ções anteriormente desempenhadas pelos senhores feudais. Orei impôs seu direito de nomear juízes e cobradores de impos-tos, geralmente pessoas pertencentes à burguesia.

Por outro lado, assembléias nacionais, que representavamos estamentos sociais, foram criadas, como o Parlamento naInglaterra, no século XIII, e os Estados Gerais na França, noséculo seguinte.

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119História Geral

A centralização monárquica na FrançaA centralização se acelerou no reinado de Felipe Augusto (1180

a 1223), na dinastia dos Capetos, ao combater e derrotar os reisingleses, senhores feudais de boa parte do território francês, pordireito de herança. As guerras estimulavam o sentimento nacio-nal. Para ampliar sua autoridade, Felipe Augusto nomeou funcio-nários reais para a aplicação da justiça e cobrança de impostos,como os bailios e os senescais; seu sucessor, Luís IX (1223 a1226), impôs a moeda real em várias regiões da França e au-mentou o poder dos tribunais reais; Felipe IV, o Belo (1285 a1314), governou com juristas que eram adeptos da noção de Es-tado do direito romano. Combateu o poder do papa, alegandoque a Igreja interferia nos assuntos internos da França, determi-nando a prisão do papa Bonifácio VIII. Assim, de 1308 a 1378 ospapas ficaram sob tutela dos reis da França, em Avinhão, episó-dio conhecido como “Cativeiro de Avinhão”. Após a morte de

Mapa dos países europeus no final da Idade Média.

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120 História Geral

Felipe IV, ocorreu uma crise sucessória que levou a França à“Guerra dos 100 Anos” (1337-1453).

Duas foram as causas prin-cipais da guerra: a pretensãode Eduardo III, rei da Inglater-ra, ao trono francês, por serneto de Felipe IV, e a disputapela região de Flandres, rei-vindicada pela França, mascom grandes investimentos in-gleses, especialmente no se-tor têxtil. A guerra foi travadaem território francês e duroumais de cem anos, com váriosintervalos. Envolveu na luta,principalmente, a nobreza deambos os países, que se en-fraqueceu pela morte de mui-tos nobres, seu endivida-mento, abandono de suas pro-priedades. Foram utilizadas,pela primeira vez, armas defogo, como os canhões, queprovocaram o declínio da ca-valaria feudal e dos castelos.Durante o conflito, houve epidemias, como a Peste Negra, emuitas revoltas camponesas na França, chamadas, genericamen-te, de “jacquerie”. A grande beneficiada foi a burguesia que, ape-sar das dificuldades que o comércio enfrentou, lucrou com osempréstimos concedidos ao reis e à nobreza. A França, que co-nhecera muitas derrotas na primeira fase, recuperou-se poste-riormente quando assumiu o comando de suas tropas a heroinaJoana D’Arc, ainda que acabasse prisioneira dos ingleses. Paraquebrar o nacionalismo francês que ela encarnava, os ingleses

Joana D’Arc, retratada noRenascimento.

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121História Geral

a acusaram de bruxaria e heresia. Entregue a um tribunal ecle-siástico, Joana foi condenada e morta na fogueira, em 1431. Aguerra terminou em 1453, com a derrota inglesa em Castillon.Praticamente todas as propriedades dos reis ingleses localiza-das em território francês foram perdidas.

Em 1328, iniciou-se o governo da dinastia dos Valois, que seestendeu até 1589, quando foi substituída pela dos Bourbons. Naprimeira metade do século XVI, a França conheceu um grandedesenvolvimento econômico que consolidou o absolutismo real.

A centralização monárquica na InglaterraA monarquia inglesa iniciou sua centralização no século XII,

quando Henrique II (1154-1189), de origem francesa, por meiode acordos, tratados, casamentos e guerras, ampliou seu poderna Inglaterra e seu patrimôniode terras na França.

Foram seus descendentesRicardo Coração de Leão(1189 a 1199), que participouda 3ª Cruzada, e João SemTerra (1199 a 1216), que foiobrigado a jurar a MagnaCarta (1215), pela qual secriava um Grande Conselhoque limitava o poder real. AMagna Carta proclamava asliberdades individuais, o direi-to de uma pessoa só cumprirpena de prisão após ser jul-gada e condenada por pes-soas do seu grupo social eque a cobrança de impostossó seria legal se aprovada por Magna Carta.

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122 História Geral

consulta. A Magna Carta é um documento fundamental dos di-reitos e liberdades na Inglaterra.

Em 1258, foram aprovados os Estatutos de Oxford, que deter-minavam a criação de uma assembléia composta de representan-tes do clero, da nobreza e da burguesia, origem do Parlamento.Mas os resultados da Guerra dos Cem Anos restabeleceram atendência para a centralização monárquica. No transcurso daGuerra assumiu o poder a Casa de Lancaster, que governou de1399 a 1461 em meio às trágicas derrotas inglesas. Após a Guer-ra, a Inglaterra se envolveu em novo conflito, porém interno: a“Guerra das Duas Rosas” (1455-1485), uma disputa entre as duasprincipais famílias nobres inglesas, York e Lancaster, ambas ten-do em seus brasões uma rosa como símbolo heráldico.

Depois de trinta anos de conflito, a guerra terminou quandoHenrique de Lancaster se casou com Isabel de York, dando ori-gem a uma nova dinastia, a dos Tudor. Com a nobreza enfraque-

Pintura sobre a Guerra dos Cem Anos.

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123História Geral

cida, castelos arrasados e boa parte da população morta,Henrique VII pode se impor. Como a instabilidade política nãointeressava aos burgueses, pois os conflitos prejudicavam as ati-vidades econômicas, eles apoiaram os Tudor, que representavaordem, paz, segurança e, sobretudo, apoio econômico.

A centralização se consolidou, com o triunfo do absolutismo ea expansão da economia no século XVI.

A centralização monárquica na península IbéricaA formação dos modernos Estados peninsulares foi re-

sultado das lutas contra os mouros, como eram chamados osmuçulmanos que aí viviam. A Reconquista durou vários séculos,iniciando-se a luta na região norte (Astúrias).

No século X, já havia alguns reinos cristãos ibéricos, comoCastela, Navarra, Leão e Aragão. A Reconquista foi, na verdade,um verdadeiro movimento cruzadista ocidental, com a participa-ção de nobres de outros países, desejosos de obter terras.

Mapa da península Ibérica, na Baixa Idade Média.

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124 História Geral

A junção dos reinos espanhóis se concretizou no século XV,quando Fernando de Aragão e Isabel de Aragão uniram seusdomínios por meio de um casamento. Nascia, assim, a modernaEspanha. As lutas dos “reis católicos”, como eram chamados,contra os mouros prosseguiram mais intensamente, finalizando-se em 1492, com a conquista de Granada, último território ibéri-co sob domínio mouro. Nesse mesmo ano ocorreu a descobertada América. Sua exploração econômica transformou a Espanhana primeira potência mundial no século XVI.

As grandes crises do século XIV

No século XIV, uma série de crises atingiu a Europa. Foi oséculo das guerras, da peste e da fome. A Peste Negra teveorigem na Ásia, tendo alcançado a Europa, trazida pelos comer-ciantes italianos. Esta epidemia alastrou-se rapidamente, poisas más condições de higiene nos burgos favoreciam a prolifera-

Pintura representando a devastação causada pela peste negra na Eupora.

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ção de ratos, hábitat da pulga portadora do vírus. Era uma epide-mia bubônica, pulmonar e intestinal. Como a contaminação ca-minhava pelas rotas comerciais que uniam as cidades européi-as, milhões de pessoas morreram e povoados inteiros desapa-receram. Estima-se que cerca de um terço de toda a populaçãoeuropéia tenha desaparecido, entre 1347 e 1350, fase de maiorincidência. Em Portugal, mais da metade da população. Os cam-pos se esvaziaram e a produção agrícola declinou. Por todo ladoa fome se tornava constante.

Como o misticismo atribuía a peste a um castigo divino, caça-vam-se principalmente os pecadores e os judeus, muitos mortosa pauladas e queimados, numa tentativa desesperada de apla-car a ira de Deus.

As crises afetaram profundamente a atividade agrícola. Alémdas guerras e da epidemia, a crise era agravada pelas más con-dições atmosféricas. Anos de seca seguidos por anos de muitachuva. Mal alimentada, a população mais facilmente contraíadoenças. Estabelecia-se um verdadeiro ciclo vicioso. A escas-sez da mão-de-obra rural provocava queda na produção. Os pre-ços dos produtos agrícolas aumentavam à medida que a produ-ção decaía. A população subnutrida era fácil vítima da peste. AEuropa se livrava do perigo da superpopulação, mas à custa demilhões de mortos.

As calamidades que abalaram a Europa, a sobrecarga dos im-postos e o desejo de liberdade levaram milhares de campone-ses à revolta. Levantes armados se iniciaram em Flandres e sealastraram por toda a Europa. Na França, estourava no séculoXIV a “jacquerie”. Os camponeses cansados dos saques dos ca-valeiros franceses e ingleses, envolvidos na guerra, revoltam-sechefiados por Jacques, o Simples. A revolta atingiu os centrosurbanos e o levante assumiu características revolucionárias quan-do se ameaçou o próprio rei. Milhares de trabalhadores acaba-ram massacrados pela dura reação da nobreza.

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Massacres de camponeses.

As rebeliões atingiram também a Inglaterra. Os camponesesse levantaram, liderados por Walt Tyler, avançaram em direção aLondres, invadiram-na e libertaram presos, mataram funcionáriosreais e queimaram casas. Foram recebidos pelo rei, diante doqual reivindicaram o fim da servidão e o confisco das proprieda-des dos clérigos, que deviam ser repartidas com os campone-ses. O rei contemporizou, conseguiu o apoio da nobreza e sufo-cou violentamente a rebelião.

Nos centros urbanos, também ocorreram revoltas. As péssi-mas condições de trabalho e o monopólio dos mestres dascorporações de ofício provocaram a sublevação dos artesãos,principalmente em Flandres, no norte da Itália e em Paris.

Na Inglaterra, onde houve uma forte reação quando o papa ca-tivo em Avinhão apoiou o rei da França na Guerra dos Cem Anos,John Wycliff liderou um movimento de oposição à Igreja. Em Roma,

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como reação ao “cativeiro”, foi escolhido um novo papa, certa-mente não foi reconhecido pela França. Num dado momento, ele-geu-se mais um. Portanto, três papas disputavam o papel de re-presentante de Deus na Terra. Na cabeça do católico, a confusãoera total. Na Boêmia, região pertencente ao Sacro Império, JohannHuss liderou um outro movimento de rebeldia contra a Igreja. Todaesta crise anunciava a futura reforma religiosa protestante.

Finalmente, a última grande crise para o europeu. Os turcosotomanos, desde o século XIV, ameaçavam a grande cidade cristãde Constantinopla. Sitiada atrás de suas muralhas, sem territó-rio, não teve o apoio do papa, nem de Veneza, nem da EuropaOcidental. Esquecida, sua agonia terminava em 1453, quandofoi tomada pelos turcos e duramente sacrificada. Com a sua que-da, finda-se a Idade Média e inicia-se a Moderna.

Exercícios propostos

1) A grande Importância da Igreja, durante a Idade Média, deveu-se aofato de ser:

a) A única instituição organizada desde a Alta Idade Média.

A conquista de Constantinopla pelos turcos.

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b) Apoiada pela poderosa nobreza feudal.c) Acreditada como única guardiã da justiça.d) A lançadora das bases do feudalismo.e) A mais poderosa organização econômica e militar.

2) São características das cidades italianas durante a Baixa Idade Média:a) Gênova e Veneza destacavam-se no comércio mediterrâneo.b) Em virtude da importância comercial do Mediterrâneo e, portanto, de

sua situação geográfica, faziam grande comércio com a Índia.c) A Itália torna-se a região mais rica da Europa com a evolução dos

bancos, companhias de comércio, bolsa de valores, financiamentos,cheques.

d) Sábios bizantinos, temendo os turcos, fugiram para a França, que setorna o maior centro cultural europeu.

e) Todas as alternativas estão corretas.

3) Assinale a alternativa correta:As cruzadas no Oriente Médio tiveram profunda repercussão sobre ofeudalismo porque, entre outros motivos:

a) Diminuíram o prestígio da Santa Sé, em virtude da separação das Igrejascristãs de Roma e de Bizâncio;

b) Impediram os contatos culturais com civilizações refinadas como abizantina e a árabe;

c) Aceleraram o comércio e a manufatura, promovendo o desenvolvimentode uma nova camada social;

d) Desintegraram o sistema de comércio com o Oriente, gerando adecadência dos portos de Veneza, Gênova e Marselha;

e) Estimularam a expansão da economia agrária, que minou a economiamonetária dos centros urbanos.

4) As Corporações de ofício eram organizadas com o objetivo de:a) Defender os interesses dos artesãos diante dos patrões.b) Proporcionar formação profissional aos jovens fidalgos.c) Aplicar os princípios religiosos às atividades cotidianas.

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d) Combater os senhores feudais.e) Proteger os ofícios contra a concorrência e controlar a produção.

5) Com relação às cidades medievais, podemos verificar que:a) O surto comercial, a partir do século XI, trouxe o revigoramento dos

centros urbanos europeus.b) Elas limitavam a liberdade do homem e nada mais eram que uma

circunscrição do domínio feudal.c) Elas eram arquitetonicamente planejadas, muito mais amplas que as

antigas, com ruas largas e casas arejadas e bem decoradas.d) O desenvolvimento urbano liga-se diretamente ao aparecimento do

burguês.e) O surto urbano favoreceu o aparecimento de uma única moeda, cunha-

da pelo rei, o que evitava problemas de câmbio.Estão corretas as alternativas:

a) a, eb) b, cc) a, dd) a, be) c, e

6) A Guerra dos Cem Anos colaborou para:a) O desenvolvimento dos exércitos nacionais e do sentimento de nacio-

nalidade.b) O fortalecimento da burguesia e da nobreza.c) O fortalecimento do poder real e a formação das monarquias nacionais

inglesa e francesa.d) O desenvolvimento de rotas de comércio terrestre.e) As alternativas a e c estão corretas.

7) Sobre a Peste Negra, assinale a incorreta:a) Eliminou 1/3 da população européia.b) O temor popular recaía sobre judeus e pecadores.c) Era um tipo de peste bubônica.

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d) Não chegou a se alastrar para outras regiões da Europa, ficando maisrestrita ao norte da Itália.

e) Era considerada, então, um castigo divino.

Questões de vestibular

1) (FUVEST) A Igreja Católica, na Idade Média, teve importante papel,em decorrência:

a) De sua influência política, ao formar um Estado em territórioconquistado aos ostrogodos.

b) Do seu crescimento material associado à integração com a sociedadefeudal.

c) Da sua atuação na crise do império romano, impedindo a divulgação decrenças bárbaras.

d) De seu domínio, através do colégio dos Cardeais, sobre o Sacro impérioRomano-Germânico.

e) Do seu papel no combate ao reformismo exigido pelos nomes de Clunye Cister.

2) (Fund. Carlos Chagas - SP) A Magna Carta (1215), aceita por JoãoSem-Terra, da Inglaterra, reveste-se de grande importância porque,entre outros aspectos:

a) Assegurava aos homens livres proteção contra as arbitrariedades dopoder político.

b) Solucionava o conflito entre o Estado e a Igreja, decorrente doassassinato do bispo Thomas Beckett.

c) Eliminava a influência política dos condes e barões da vida inglesa.d) Fazia com que a estrutura do governo inglês perdesse suas

características feudais.e) Pôs fim à longa disputa com Filipe Augusto sobre os feudos ingleses

na França.

3) (FGV) “...Que os ódios desapareçam entre vós, que determinamvossas brigas que cessem as guerras e adormeçam as desavenças

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e controvérsias. Entrai no caminho que leva ao Santo Sepulcro,arrancai aquela terra da raça malvada para que ficou em vosso poder.É a terra na qual, disse a Escritura, escorre leite e mel (...) Jerusalémé o centro do mundo, sua terra é mais fértil do que as outras...”O fragmento acima se refere ao apelo do papa Urbano II aos cristãos,em 1095, resultando:

a) Na instalação da Santa Inquisição.b) No Cisma da Igreja do Oriente.c) Na organização das Cruzadas.d) No Concílio de Trento.e) No combate às indulgências.

4) (FUVEST) As comunas medievais caracterizaram-se por:a) Radicalismo político que tendia ao anticlericalismo.b) Autonomia das cidades em relação aos senhores feudais, com governo,

direito e símbolos próprios.c) Aumento do clericalismo, resultando no esforço da autoridade papal.d) Fortalecimento da submissão à autoridade dos senhores feudais.e) Aglomeração de marginalizados que exerciam o banditismo.

6) (FGV) No confronto entre reis e nobreza no fim da Idade Média, osreis conseguiram obter uma certa vantagem frente aos nobres devidoao apoio que lhes foi dado pelos burgueses. Tal apoio teve por base,entre outros fatores:

a) A abolição pelos monarcas de todas as restrições feudais que pesavamsobre as guildas, bem como a promessa de abolição de todos os tributosaos burgos que ajudassem a causa real.

b) A convergência de interesses entre reis e burgueses quanto ànecessidade de um governo centralizado, bem como a possibilidade detributação que a burguesia abria aos reis dando-lhes uma fonte derecursos independente.

c) A participação maciça de burgueses nos exércitos reais, uma vez que acarreira militar lhes oferecia possibilidades de rápido enriquecimento eascensão social.

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d) Os crescentes vínculos comerciais entre os burgueses e a monarquia,visto que os monarcas necessitava de uma série de produtos fornecidospelos burgueses que os nobres não necessitavam.

e) O conflito de interesses entre os burgueses e a nobreza quanto aodireito de cobrança dos tributos devidos pelos camponeses.

6) (MACKENZIE) A desintegração do modo de produção feudal na BaixaIdade Média foi, em grande parte, conseqüência:

a) Do crescimento do prestígio da Igreja, que era o sustentáculo ideológicodo sistema.

b) Do sucesso militar do movimento das Cruzadas, e da bem-sucedidaexpansão da sociedade feudal pelo Oriente.

c) Das transformações servis de produção em assalariadas, do comércioe da economia monetária que aceleraram as contradições internas dosistema.

d) Do crescimento da população européia no século XIV e da grande ofertada mão-de-obra barata que este fato gerou economicamente.

e) Da consolidação do localismo político, fruto direto da Guerra dos CemAnos, que favoreceu a nobreza feudal.

7) (PUC-SP) O Período compreendido entre os séculos XIV e XV ca-racterizou-se:

a) Pela formação dos estado democrático substituindo o estado feudal.b) Pela constituição de contingentes militares nos moldes feudais.c) Pelo fortalecimento econômico da classe nobre, apoiando a realeza.d) Pela substituição do regime feudal pelas monarquias absolutas.e) Pela substituição do sistema de pluralidade de moedas, prejudicando o

desenvolvimento comercial.

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Capítulo 7 – Expansão marítima ecomercial européia

Introdução

O comércio com o Oriente era bastante lucrativo para os co-merciantes italianos, mas empobrecia a economia européia, poisos produtos orientais eram pagos, em boa parte, com ouro eprata, o que provocava uma “hemorragia de metais preciosos”.Na Europa ocidental, a produção de alimentos não era suficientepara alimentar sua população. Para agravar a situação, a popu-lação rural não tinha poder aquisitivo para adquirir a produçãoartesanal dos burgos. Assim, o excedente artesanal deveria sercolocado em outros mercados. A solução natural para todos es-ses problemas foi a expansão marítima.

Como Veneza dominava as principais rotas do Mediterrâneo,era necessário encontrar novas rotas. Os europeus, acostuma-dos à navegação no Mediterrâneo e próxima ao litoral atlântico,teriam que desenvolver técnicas mais ousadas, ampliar conhe-cimentos geográficos e astronômicos para orientação em maralto, e melhorar a cartografia, essencial para a representaçãodas novas regiões.

As modernas invenções criavam uma perspectiva favorávelpara as navegações: a imprensa propiciava a divulgação dosavanços, a pólvora era utilizada para armar os navios com ca-nhões e instrumentos como a bússola e o astrolábio orientavam

PARTE 4PARTE 4IDADE MODERNA

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melhor os navegantes. A introdução do leme e o uso da velalatina propiciaram o aparecimento da caravela, um navio capazde enfrentar os grandes percursos, as grandes ondas do Atlânti-co e de carregar muita mercadoria. Somem-se, a tudo isso, ointeresse econômico do Estado moderno e a obra missionáriada Igreja Católica e temos um amplo estimulante das grandesnavegações.

A queda de Constantinopla, em 1453, acelerou a expansãomarítima, pois com as rotas comerciais no Mediterrâneo orientalsob controle dos turcos, as mercadorias asiáticas alcançaramum alto preço. Assim, era preciso descobrir novas rotas para evitaro domínio comercial dos turcos e venezianos no Mediterrâneo eatingir as Índias diretamente, sem intermediação.

O pioneirismo de Portugal

A grande expansão marítima européia se iniciou com Portugalquando, em 1415, tomou Ceuta, cidade comercial árabe norte-africana, portanto bem antes da queda de Constantinopla. Loca-liza-se na parte mais ocidental da Europa. É um país voltadonaturalmente para o Atlântico. Desde o século XIV era comumnavios, que ligavam a Itália e para o mar do Norte, aportarem emLisboa, para abastecimento e reparos, transmitindo para seustripulantes conhecimentos e propiciando lucros aos portugueses.O interesse da monarquia coincidia com o dos comerciantes nabusca de riquezas, e os da nobreza e da Igreja não eram diferen-tes. A nobreza, pelos saques e terras; o clero, pela expansão doCristianismo e os benefícios que isto lhe traria. Pode-se, portan-to, considerar essa expansão como uma renovação do ideal dasCruzadas. Não esquecendo os esforços do infante D. Henrique,o Navegador, ao fundar em Sagres, em 1417, um centro de cons-trução e estudos navais, onde concentrava boa parte dos maio-res conhecedores da ciência náutica da época.

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As principais etapas do avanço marítimo português foram:

a) 1415 – Conquista de Ceuta, no norte da África, primeira passona expansão.

b) 1434 – Alcance do Cabo Bojador, por Gil Eanes.

c) 1488 – Alcance do Cabo da Boa Esperança, no extremo sulda África, por Bartolomeu Dias.

d) 1498 – Chegada de Vasco da Gama às Índias, por navegação,contornando o continente africano; a mais longa viagemmarítima até então.

e) 1500 – Chegada de Pedro Álvares Cabral ao Brasil, em suaviagem às Índias.

Feitorias comerciais e militares foram estabelecidas no litoralafricano e asiático, como em Calicute, Goa, Timor e Malaca. Em1520, os portugueses atingiam a China e o Japão. Para consoli-dar o seu domínio no comércio das especiarias, Portugal edificouum império na Ásia, que enriquecia mais especificamente a no-breza e o Estado. Lisboa era, nas primeiras décadas do séculoXVI, a principal praça comercial européia.

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A expansão marítima espanhola

A Espanha ainda estava envolvida na guerra da Reconquistaquando os portugueses já atingiam a região do Cabo da BoaEsperança. Só em 1492, expulsos os mouros, os espanhóis sedispuseram a financiar grandes navegações. A questão daesfericidade da Terra era então amplamente discutida, ainda quecontra a posição da Igreja. Cientistas do Renascimento critica-vam antigas teorias que afirmavam ser a Terra plana. As idéiassobre a esfericidade do planeta empolgavam muitos, entre elesColombo. Em 1477, viajando pela Islândia, deve ter tido conhe-cimento das antigas lendas viquingues sobre viagens a terras aoeste. Cristóvão Colombo deduzia que se poderia alcançar oOriente, navegando-se no sentido ocidental (ciclo ocidental), paraquebrar o monopólio comercial português na costa africana, quelevaria Portugal às Índias (ciclo oriental).

Obtido o apoio dos “reis católicos”, deixou a Espanha no co-meço de agosto, navegando com três navios no sentido ociden-tal. Depois de muitos problemas e ameaças de motim, avistouterra em 12 de outubro de 1492. Ao desembarcar na ilha deno-

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minada por ele San Salvador, Colombo chamou os habitantesde índios, pois acreditava sinceramente ter chegado nas Índias.Foram feitas várias explorações, especialmente nas ilhas de Cubae Haiti. Nos anos seguintes, mais três viagens foram feitas porColombo, explorando a costa da Venezuela e a América Central,regiões insular e continental. Porém, as fabulosas riquezas asiá-ticas não eram localizadas, para sua frustração.

Merece destaque a grande viagem iniciada por Fernando deMagalhães, em setembro de 1519. Navegante português a ser-viço da Espanha, propôs-se a circunavegar o mundo. Desceu oAtlântico próximo ao litoral da América do Sul, atravessou oestreito que leva seu nome (estreito de Magalhães), adentrou epercorreu o imenso oceano denominado por ele de Pacífico,mas morreu nas Filipinas em 1521. Seu substituto, Sebastiãodel Cano, concluiu a viagem em setembro de 1522. Dos 265tripulantes e cinco embarcações, apenas 18 homens e um na-vio haviam regressado.

A expansão marítima inglesa, francesa e holandesa

Somente no começo do século XVI, a Inglaterra iniciou suaexpansão marítima. A Guerra dos Cem Anos e a Guerra das DuasRosas haviam atrasado o seu desenvolvimento marítimo. Mas,com a participação da burguesia, aliada ao governo dos Tudor,navegadores italianos a serviço da Inglaterra, como Sebastião eJoão Caboto, exploraram as regiões do Labrador e Terra Nova,no Canadá; e Walter Raleigh, explorou a região da Nova Ingla-terra (costa nordeste dos Estados Unidos). Lembrando que aInglaterra muito se utilizou de corsários para atacar navios deoutros países, para apropriação de carga.

Por seu lado, os reis franceses eram os que mais contesta-vam as decisões papais que beneficiavam apenas os países ibé-ricos. Ironicamente, Francisco I exigia ver o testamento de Adão

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que dividia o mundo apenas entre Espanha e Portugal. O nave-gador italiano Giovanni Verrazano, em 1524, chegou ao sul doCanadá, explorou o rio Hudson e a baía onde mais tarde seriafundada Nova York; Jacques Cartier, em 1534, explorou o rioSão Lourenço, o mesmo tendo feito Samuel Champlain, quefundou Quebec (1609); La Salle, em 1682, navegou pela regiãodo Mississipi, reivindicando sua posse pela França, com o nomede Luisiana.

Mapa das navegações inglesas, francesas e holandesas.

A Holanda iniciou sua expansão apenas em meados do sécu-lo XVI, após as “Províncias Unidas da Holanda” se libertarem dodomínio espanhol. O navegante inglês Hudson, a seu serviço,explorou o rio que leva o seu nome. Mas, na verdade, a principalação da Holanda foi a criação de companhias mercantis privile-giadas. Essas companhias estabeleceram feitorias no Oriente efundaram colônias na América do Norte (Nova York). Organiza-ram ataques ao Brasil, que redundaram no “domínio holandês”do litoral nordestino.

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Exercícios propostos

1) Entre as várias conseqüências das grandes navegações, temos:a) Gênova e Veneza passaram a monopolizar definitivamente o comércio

de especiarias, pois detinham em suas mãos o mercado consumidor.b) O Atlântico tornou-se o principal eixo marítimo econômico, em de-

trimento do comércio mediterrâneo.c) O rei perdeu seus poderes absolutistas, pois as despesas com as na-

vegações desgastaram o tesouro real.d) Não houve a necessidade de uso da mão-de-obra escrava nas colônias,

pois nas terras descobertas havia povos em um estágio elevado decivilização.

e) Os países mais favorecidos inicialmente foram a França e a Inglaterra.

2) Durante os séculos XV e XVI, as grandes navegações e descobrimentospermitiram uma relativa preponderância ibérica em termos marítimose comerciais, podendo-se apontar como principal elemento cons-titutivo de tal preponderância:

a) O monopólio do “caminho marítimo” para as Índias.b) O monopólio de Veneza sobre o comércio das especiarias.c) O papel de Lisboa como entreposto comercial para o comércio africano.d) A participação das coroas ibéricas na organização e exploração das

conquistas.e) O reconhecimento do Tratado de Tordesilhas pelas demais potências

marítimas européias.

3) A participação castelhana nas grandes navegações e descobrimen-tos dos séculos XV e XVI e, particularmente, a descoberta da Amé-rica por Cristóvão Colombo podem ser explicadas em termos de:

a) Mero acaso, dada a não crença e recusa portuguesa diante dos planose exigências apresentadas por Cristóvão Colombo.

b) Conseqüência da hegemonia italiana, especialmente genovesa, nosportos espanhóis no Mediterrâneo.

c) Simples prolongamento da “Reconquista às terras ultramarinas”.

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d) Existência de fatores geográficos e socioeconômicos favoráveis àexpansão marítima, na Andaluzia, possibilitando a empresa de Colombo.

e) Desejo de rivalizar com os feitos lusitanos.

Questão de vestibular

1) (FGV) Vários fatores poderiam ser apontados como incentivos àsexplorações marítimas européias ligadas aos grandes desco-brimentos. Entre os quais poderíamos citar:

a) A crescente rivalidade religiosa européia que se refletia nas competiçõespara a aquisição de novas terras e em melhorias na arte da navegação.

b) As crescentes necessidades financeiras dos governos europeus, quetornaram imperativo o desenvolvimento de novas fontes de rendaatravés de colônias ultramarinas.

c) O crescimento populacional europeu que tornava imperativa adescoberta de novas terras onde a população excedente pudesse serinstalada.

d) O desenvolvimento da arte da navegação, bem como o desejo dos paísesatlânticos de ter ligações diretas com o Oriente sem a intermediaçãodos italianos e dos árabes.

e) Uma mistura de idealismo religioso, espírito de aventura e desejo deenriquecimento em tudo semelhante à que levou à formação dasCruzadas.

Capítulo 8 – O Renascimento Cultural

O notável desenvolvimento literário, artístico e científico queocorreu no fim da Idade Média e começo da Idade Moderna foidenominado Renascimento pelos próprios homens daquela épo-ca, embora não seja um termo apropriado. O Renascimento tevesua origem na Itália e difundiu-se pela Europa ocidental. E a pri-meira pessoa a usar a expressão “rinascita” foi o pintor Giorgio

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Vasari (1511-1574) ao escrever: “Quem contemplou a história daarte em sua ascensão e em seu declínio compreenderá maisfacilmente o sucesso de seu renascimento e da perfeição a quetem chegado em nossos dias”.

As condições básicas que proporcionaram o renascimentocultural foram as transformações socioeconômicas ocorridas naEuropa durante a Baixa Idade Média, e explicadas nos capítu-los anteriores, com destaque para a expansão urbano-comer-cial, a ascensão da burguesia, o fortalecimento do poder real, afundação de universidades e a renovação dos contatos com omundo oriental.

Os ricos mercadores iniciavam a conquista do poder, dominandoas repúblicas de Veneza, Gênova e Florença, governadas por mer-cadores enobrecidos que tinham interesses políticos. Agiam comomecenas, financiando artistas e literatos, pois isso significava pres-tígio político. A posse demuitas obras de arte emcasa significava manifesta-ção de riqueza, patrimônioe crédito junto aos banquei-ros, além de projeção estatus social. Destacavam-se os Sforza de Milão e osMedicis de Florença. Atémesmo papas, como Jú-lio II, Pio II, Alexandre VI eLeão X, contribuíram patro-cinando artistas.

Havia uma crescentevalorização do ser huma-no em oposição ao teo-centrismo medieval quecolocava Deus e o misti- Retrato de Leão X, também foi mecenas.

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cismo no centro das preocupações filosóficas. Como reação, osrenascentistas estimulavam o antropocentrismo e o humanismo,ou seja, o ser humano como sendo o centro de atenção de todasas áreas de conhecimento. Por isso, os renascentistas procura-vam inspiração na Antigüidade Clássica, nos modelos greco-ro-manos, onde estes ideais estavam presentes.

O pioneirismo italiano

Pioneira nas profundas transformações ocorridas na Baixa Ida-de Média, a Itália também o foi no Renascimento cultural. Algunseruditos, sobretudo de Florença, iniciaram um movimento quali-ficado por muitos como pré-renascentista, enquanto outros pre-ferem a expressão “Trecento” (século XIV). Dante Alighieri (1265-1321) que escreveu a Divina Comédia; Petrarca (1204-1374),pensador humanista, influenciado pela cultura greco-romana; eBoccaccio (1313-1375), autor de Decameron, uma dura crítica àIgreja, ao egoísmo e à covardia da sociedade, formam a trincados grandes literatos florentinos. A pintura retomava a naturezacomo tema, como em Giotto, com sua obra mais famosa, SãoFrancisco Pregando aos Pássaros.

O desenvolvimento cultural do século XV, conhecido como“Quatrocento”, estimulou nas artes um estilo independente e novo,individualista, tendo como tema central o ser humano. Curiosa-mente, a inspiração greco-romano era utilizada na retratação dossantos, dando-se especial ênfase aos aspectos da natureza, aonu artístico, visto como um elemento plenamente natural nesseambiente. A técnica se enriquecia com novas combinações detintas e estudos de perspectiva e nas figuras representadas oartista procura alcançar o ideal anatômico.

No campo do pensamento político destacou-se Maquiavel, oprincipal teórico do Estado moderno absolutista. Para ele, o so-berano não devia ter escrúpulos se quisesse manter o poder e o

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controle sobre o Estado. Criticado por seu cinismo e desprendi-mento, sua obra foi o guia para aquele que almejava se tornargovernante. Escreveu O Príncipe, para seu mecenas Lourençode Médici, obra clássica para os que querem se instruir em ciên-cia política, cuja idéia central pode ser sintetizada na frase: “osfins justificam os meios”.

A medicina evoluiu graças ao estudo de anatomia, realizadocom a dissecação de cadáveres. A física e a astronomia se desen-volveram paralelamente. Aquele que é considerado o primeiro cien-tista, Leonardo da Vinci, o ser humano ideal na perspectivarenascentista, destacou-se no conhecimento de hidráulica, mecâ-nica, anatomia, arquitetura etc. A teoria heliocêntrica ganhou fun-damentação com Copérnico, que contribuiu para colocar a Terraem seu devido lugar, ou seja, girando em torno do Sol.

No Cinquecento (século XVI), o grande prestígio da Itália per-mitiu que ela fornecesse intelectuais para toda a Europa Ociden-tal. O interesse dos papas pelas artes transformou Roma no prin-cipal centro renascentista. Um dos destaques foi Rafael, pintorde famosas “madonas”. Um outro foi a “Escola Veneziana”, cujospintores, como Ticiano e Tintoreto, se preocuparam com as for-mas e os efeitos cromáticos da pintura sobre os espectadores.

Mas o maior gênio artístico foi Michelangelo, que pintava eesculpia com uma vigorosidade e dramaticidade, que o tornaramúnico em sua época. No teto da Capela Sistina pintou cenasmagníficas do Velho Testamento e, na parede atrás do altar, oJuízo Final. Como escultor, produziu, entre outras obras-primas,a Pietá e Moisés.

O italiano Galileu revolucionou a física moderna, abrindo lar-gas perspectivas para essa ciência. Dedicou-se ao estudo da leida queda dos corpos e da gravitação universal, sendo conside-rado o fundador da dinâmica. Suas pesquisas astronômicas olevaram a estudar a Via Láctea e a descobrir as manchas sola-res e os quatro satélites de Júpiter.

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Pintura de Michelangelo.

O Renascimento nos Países Baixos

O avanço mais notável ocorreu no campo das artes, sobretudona pintura, com a criação da técnica “a óleo”. Grandes nomes retra-taram os modos e costumes da época, como os irmãos Van Eyck.

O filósofo “príncipe dos humanistas”, Erasmo de Roterdã, fezduras críticas à sociedade da época em sua obra Elogio da Lou-cura. Denunciou a imoralidade dos membros do clero, pedindouma reforma da Igreja.

O Renascimento na península Ibérica

O renascimento em Portugal se manifestou principalmente naliteratura. A glorificação dos feitos náuticos portugueses foi a mis-são de Camões, em Os Lusíadas, um épico da literatura mundial.Gil Vicente reformulou o teatro nacional, escrevendo autos.

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Na Espanha, o grande gênio foi Cervantes, com sua famosasátira à cavalaria decadente e aos costumes medievais em D.Quixote, recentemente escolhida como a maior obra literária detodos os tempos. D. Quixote é o mais emocionante herói da ima-ginação humana. A pintura espanhola foi imortalizada por ElGreco, autor de O Enterro do Conde de Orgaz.

O Renascimento na Inglaterra e na França

Sem dúvida, o grande nome é William Shakespeare, o maiordramaturgo de todos os tempos. O moderno teatrólogo escreveuobras como Romeu e Julieta, Hamlet, O Rei Lear, Júlio César emuitas outras, cujas encenações sempre encantam as platéias

A principal obra do filósofo Thomas Morus, Utopia, é uma agu-da crítica à sociedade e aos costumes de sua época. Nela, ima-ginava uma cidade onde as diferenças sociais não existiam e afelicidade era um estado permanente.

Enterro do Conde de Orgaz, do pintor El Greco.

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O renascimento francês reflete fortemente a influência dos in-telectuais italianos. As sátiras contra a Igreja e seu monopólioeducacional, as superstições e a repressão marcaram Rabelais,crítico fino e irônico, autor de Gargântua e Pantagruel. O senti-mento de estar em harmonia com o universo é a essência daobra Ensaios, escrita por Montaigne. A obra desses literatos abriuo caminho para o classicismo, que atingiu seu ponto alto na Fran-ça, quando Paris assumiu a posição preponderante na produçãointelectual européia.

O Renascimento na Europa Central

Os estudos de astrônomos produziram novas concepções as-tronômicas, como as do alemão Kepler e do polonês Copérnico.Ambos defendiam o princípio do heliocentrismo, isto é, o Sol sero centro do universo. Na Medicina, Paracelso dedicou-se ao es-tudo da Medicina Farmacêutica e dos Fundamentos Químico-Físicos dos processos vitais.

A pintura mística de Albrecht Dürer e os retratos famososfeitos por Hans Holbein notabilizaram o renascimento artísti-co alemão.

Exercícios propostos

1) O Renascimento marcou o início de uma época porque:a) Traduzia uma nova visão do mundo, em que o homem e o humanismo

eram valorizados.b) Expressava uma nova tendência, traduzida pela aceitação dos valores

do mundo helenístico.c) Fazia renascer uma cultura que foi obscurecida durante um século de

trevas da Idade Média.d) Significava o abandono dos padrões éticos legados pelo Cristianismo.e) Promoveu o racionalismo, fazendo desaparecer a alquimia.

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147História Geral

2) O Renascimento marcou um momento de ruptura com as concepçõesda cultura medieval ao incorporar o:

a) Individualismo e o teocentrismo.b) Naturalismo e o liberalismo.c) Antropocentrismo e o universalismo.d) Nacionalismo e o idealismo.e) Racionalismo e o Cristianismo.

3) Assinale a errada:“Considero-me feliz por ter encontrado tão grande aliado na buscada verdade. É realmente lamentável que haja tão poucos que pugnempela verdade e estejam prontos a abandonar as falsas filosofias.Mas este não é o lugar para lamentar as misérias do nosso tempo.”

Trecho de carta enviada por Galileu a Kepler.

Ao tempo em que viveram esses dois grandes iluminares da ciência,cujos nomes estão ligados respectivamente ao aperfeiçoamento daluneta telescópica e às leis da mecânica celeste, o Brasil:

a) Não tinha sido descoberto.b) Vivia sob o regime de Colônia.c) Era um vice-reino.d) Já tinha sido elevado à condição de Reino Unido.e) Era uma Monarquia.

Questões de vestibular

1) (FUVEST) Com relação à arte medieval, o Renascimento destaca-sepelas seguintes características:

a) A perspectiva geométrica e a pintura a óleo.b) As vidas de santos e o afresco.c) A representação do nu e as iluminuras.d) As alegorias mitológicas e o mosaico.e) O retrato e o estilo românico na arquitetura.

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148 História Geral

2) (FGV) Acerca do Renascimento:I. As características do homem no Renascimento são: racionalismo,

individualismo, naturalismo e antropocentrismo, em oposição aosvalores medievais baseados no teocentrismo.

II. O Renascimento não foi um processo homogêneo. Seu desen-volvimento foi muito desigual e as manifestações mais expressivas sederam nos campos das artes e das ciências, sendo que no campoartístico, a literatura e as artes plásticas ocupavam lugar de destaque.

III. A arte renascentista tornou-se predominantemente religiosa, retra-tando a vida de santos, de clérigos e o cotidiano cristão da época.

IV. A Itália foi o centro do Renascentismo porque era o centro do pré-capitalismo e do desenvolvimento comercial e urbano, que gerava osexcedentes de capital mercantil para o investimento em obras de arte.

V. A ascensão do clero foi fundamental para que se desenvolvesse nosEstados italianos um poderoso mecenato, plenamente identificadocom as concepções terrenas dominantes entre os eclesiásticos.É correto apenas o afirmado em:

a) I, II, IIIb) I, II, IVc) I, II, Vd) I, III, Ve) II, IV, V

3) (VUNESP) “Hoje não vemos em Petrarca senão grande poeta italiano.Entre os seus contemporâneos, pelo contrário, o seu principal títulode glória estava em que de algum modo ele representava pessoal-mente a Antigüidade (...) Acontece o mesmo com Bocácio (...) Antesdo Decameron ser conhecido (...) admiravam-no pelas compilaçõesmitográficas, geográficas e biográficas em língua latina”

(Jacob Burckardt, A Civilização da Renascença Italiana)Petrarca e Bocácio estão intimamente relacionados ao:

a) Nascimento do Humanismo.b) Declínio da literatura barroca.c) Triunfo do protestantismo.d) Apogeu da escolástica.e) Racionalismo clássico.

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149História Geral

Capítulo 9 – A Reforma Religiosa

As transformações ocorridas na Europa, na passagem da Ida-de Média para a Moderna, atingiram os princípios e os valoresreligiosos tradicionais. Os “grandes males” do século XIV revela-vam que a vida valia muito pouco, que era preciso pensar maisna alma, na vida após a morte, preparar-se para o dia do JuízoFinal. Porém, os princípios da Igreja, como a proibição da usura,que limitava os lucros, não se encaixavam nos ideais e objetivosda burguesia. Além disso, os reis e a nobreza cobiçavam os bensda Igreja, especialmente suas terras.

Agravava a crise o fato de que leitura da Bíblia e dos textosbásicos do Cristianismo contradiziam muitas atitudes e condiçõesda Igreja. Observa-se que havia um descompasso entre a doutri-na e a realidade. As riquezas oriundas das rendas das terras ecle-siásticas, da venda de indulgências, da cobrança do dízimoembelezavam os palácios episcopais e corrompiam o alto clero.Era uma Igreja que pregava a simplicidade, para os outros.

E politicamente havia, dentro dela, uma disputa pela ampliaçãode poder entre o papado e a Cúria Romana, seu mais alto órgãocolegiado. Como a possibilidade da Igreja se reformar de dentropara fora não se concretizou, ela aconteceu de fora para dentro.

O desencadeamento da Reforma na Alemanha

A situação da Alemanha estimulou o movimento reformista.Nela, a Igreja, além de possuir boa parte das terras, possuía umalto clero aristocrático, sem vocação, corrupto e com má forma-ção intelectual, embora o povo fosse profundamente religioso.

A venda das indulgências foi o fator que precipitou a Reforma.Eram títulos comprados para abonar os pecados cometidos ou aser cometidos. Um “passaporte para o Paraíso”, que beneficiava

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os ricos Para concluir as obras da basílica de São Pedro, a Igrejaescolheu a obediente Alemanha para a venda de indulgências. Acasa bancária dos Fuggers foi a encarregada da venda, adian-tando o dinheiro à Igreja. Contra essa comercialização da fé,colocou-se o monge agostiniano Lutero, que afixou suas 95 te-ses na porta da catedral de Wittenberg, em 1517. Pretendia pu-rificar a religião, e não criar uma divisão dentro da Igreja. Porém,uma das teses afirmava que só a fé assegurava a salvação, ne-gando portanto o livre arbítrio, um dos princípios oficiais da Igre-ja. Em 1520, o papa Leão X, por meio de uma bula, exigiu suaretratação. Lutero respondeu com a queima da bula papal. Foiexcomungado. No ano seguinte, o imperador Carlos V convocouuma assembléia, a Dieta de Worms, para encontrar uma solu-ção. Condenado, Lutero obteve o apoio do duque da Saxônia,que o abrigou em seu castelo.

A ação de Lutero teve o apoio entusiasmado da pequena no-breza, que pretendia se apossar das terras clericais e dos campo-neses, que se aproveitaram da anarquia gerada pela nobreza, ata-cando as propriedades feudais. A revolta mais importante foi a dos

anabatistas (contrários à forma ba-tismo realizada pela Igreja); lide-rados por Tomaz Münzer, critica-vam o acúmulo de riquezas e ocomportamento do clero. A revo-lução social estourou na Alema-nha. Diante da terrível situação,Lutero se aliou à nobreza que re-primiu com violência a revoltacamponesa.

A Reforma permitiu aos prínci-pes alemães se apoderarem dosbens patrimoniais da Igreja. Ou-tros estenderam essa posse aodomínio espiritual.

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Assim, até a consciência religiosa dos súditos ficava submetidaaos príncipes. Afinal, o movimento de Lutero se encaixava nosinteresses dos governantes, ou seja, a submissão da Igreja aopoder político. A centralização do poder só se completaria com osgovernantes controlando, também, a hierarquia eclesiástica.

A Igreja luterana adquiriu características nacionais. O próprioLutero traduziu a Bíblia para o alemão, e o latim foi substituídopelo alemão na celebração do culto, estimulando o interesse dopovo. O luteranismo manteve a idéia da presença espiritual deCristo na eucaristia (consubstanciação), mas rejeitou a transu-bstanciação (transformação do pão e do vinho em corpo e san-gue de Cristo). Outras mudanças estabelecidas pela Reformaluterana foram:

a) Salvação da alma apenas pela fé; livre leitura e interpretaçãoda Bíblia.

Lutero, que traduziu a Bíblia para o idioma alemão.

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152 História Geral

b) Conservação apenas do batismo e da eucaristia.

c) Abolição do celibato clerical.

d) Rejeição da hierarquia eclesiástica católica e da autoridadepapal.

e) Rejeição do culto dos santos e da adoração das imagens.

O Imperador ainda tentou controlar a crise, convocando uma as-sembléia (Dieta de Spira), em 1529. O Imperador respeitaria oluteranismo onde ele já havia sido implantado. As demais regiõesdo império continuariam católicas. A resposta de muitos príncipesvaleu a eles o nome de protestantes. Os príncipes protestantes for-maram a Liga de Smalkalde para combater Carlos V. A guerra du-rou quase vinte anos. No final, as partes concordaram em assinar aPaz de Augsburgo, em 1555. Carlos V abdicou ao trono imperial eseu sucessor, Fernando I, convocou a Dieta de Augsburgo, em 1559,em que determinou que cada príncipe decidiria a religião que queriaadotar. Mas a religião do príncipe deveria ser obrigatoriamente se-guida pela população. Portanto, não havia tolerância religiosa. Ossoberanos impunham ao povo a sua religião.

Mapa da difusão da Reforma na Europa.

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A Reforma na Suíça: o calvinismo

Na Suíça, a Reforma foibem mais radical. UlrichZwinglio foi o introdutordas idéias da Reforma naregião. Apoiado no huma-nismo de Erasmo de Ro-terdã, combateu todos ossacramentos e a própriahierarquia clerical. Suasidéias se propagaram porvários cantões (provín-cias) suíços, mas os ca-tólicos reagiram eclodindoa guerra civil, na qual mor-reu Zwinglio, em 1531.

A obra reformista teveprosseguimento com oteólogo francês Jean Calvino que criticava duramente a açãoda Igreja na França. Perseguido, refugiou-se em Genebra, naSuíça, onde conquistou rapidamente o poder e pôs em práticasuas idéias. Estabeleceu uma verdadeira ditadura teocrática,com os princípios religiosos confundindo-se com a administra-ção pública. Era até mesmo favorável à pena de morte paraquem não fosse adepto de sua religião. Uma das mais famosasvítimas foi o médico espanhol Miguel de Servet que, tendo es-capado da Inquisição católica, foi julgado, condenado e quei-mado vivo em Genebra.

O calvinismo pregava a predestinação e reforçava a rigidezdoutrinária e moral. Do catolicismo conservou apenas o batismoe a eucaristia. A salvação se dava pela fé, que é outorgada porDeus às pessoas. O culto foi extremamente simplificado. Suasidéias se difundiram pela França, Inglaterra, Escócia e Holanda.

Calvino.

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Os calvinistas franceses, denominados huguenotes, estabele-ceram-se temporariamente no Rio de Janeiro e no Maranhãonos primeiros séculos da colonização.

Os valores éticos do calvinismo foram adotados pela burgue-sia capitalista. Estimulava a acumulação de capitais e a práticada usura. Segundo o calvinismo, o ser humano deve lutar peloseu progresso. Assim, o calvinismo valorizava o trabalho, comoforma de justificar a obra criadora de Deus. Portanto, das religiõesreformadas, o calvinismo era a que mais de ajustava aos inte-resses da burguesia.

A Reforma na Inglaterra e na Escócia: o anglicanismo e o presbiterianismo

O calvinismo alcançou a Escócia pela obra reformadora deJohn Knox. Seus seguidores foram chamados de presbiterianos.Na Inglaterra, os calvinistas eram conhecidos como puritanos.

Mas a verdadeira reforma na Inglaterra ocorreu de cima parabaixo, por obra do rei Henrique VIII, que se afastou da Igreja porquestões políticas, ou seja, pretendia o fortalecimento do poderreal. O pretexto foi a não-anulação do seu casamento comCatarina de Aragão. O rei desejava um herdeiro masculino eCatarina já passara da idade fecundável. A Igreja, pressionadapela Espanha, não concordou com a anulação. O rei então rom-peu com a Igreja, anulou seu casamento, criou a Igreja Anglicanae casou-se com Ana Bolena, sua amante, já grávida. O filósofoThomas Morus, por não reconhecer o ato anulatório, foi preso,julgado e condenado por crime de traição ao rei. Foi decapitado,mas manteve-se fiel à Igreja, apesar de todas as suas críticas.

Henrique VIII pretendia construir um Estado nacional absolutis-ta, livre da influência papal e dos impostos cobrados pela Igreja.Apoderou-se dos seus bens, fechou os conventos e editou o Atode Supremacia, em 1534, pelo qual se nomeava chefe da Igreja

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na Inglaterra. Assim, era um catolicismo sem o papa. Foramadotados o divórcio, a salvação pela fé, a celebração da liturgiaem inglês e o fim do celibato clerical. A nova religião, imposta pelaforça, desencadeou muitas perseguições. Os filhos de HenriqueVIII tentaram impor sua autoridade ao povo: Eduardo VI, ocalvinismo; Maria I, o catolicismo; mas foi Elisabeth I quem conso-lidou o anglicanismo e o poder do Estado sobre a Igreja.

A Reforma católica ou Contra-Reforma

Os avanços do protestantismo ameaçavam seriamente a su-premacia da Igreja Católica. Com exceção de Portugal e Espanha,todo o resto da Europa ocidental conhecia movimentos reformis-tas, o que forçou a Reforma Católica, também conhecida comoContra-Reforma. A Igreja não só se armou contra o protestantis-mo, como também reformou-se internamente.

O Concílio de Trento iniciou a Reforma Católica. De 1544 a1563, com intervalos, os conciliares discutiram as medidas aserem adotadas. Decidiram manter o monopólio do clero na in-terpretação dos dogmas, reforçar a autoridade papal e a discipli-na eclesiástica. Outras medidas foram:

a) Formação obrigatória e ordenação dos padres em seminários.

b) Confirmação do celibato clerical.

c) Proibição da venda de indulgências e relíquias.

d) Manutenção do direito canônico.

e) Edição oficial da Bíblia e do catecismo.

O espanhol Inácio de Loiola fundou a Companhia de Jesus,em 1534, ordem religiosa com características militares, exigin-do dos seus membros completa obediência. Dirigida contra oespírito de independência do humanismo, combateu a razãocom suas próprias armas e organizou sua ação a partir do ensi-no. Os jesuítas foram bem-sucedidos em regiões da Alema-

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nha, Polônia e Suíça. Colaboraram na restauração da discipli-na clerical, devolvendo-lhe a pureza. Lutaram pela supremaciada autoridade papal. Participaram ativamente das colonizaçõesportuguesa e espanhola. Desembarcaram na Ásia e na Áfricapara difundir o catolicismo. No Brasil, os jesuítas destacaram-se por sua ação catequética.

O Concílio de Trento decidiu pelo fortalecimento dos tribunaisde inquisição para combater o protestantismo. Os dogmas cató-licos foram defendidos pela política do terror e da delação dossuspeitos de heresia. Em 1564, o papa Paulo IV, antigo grandeinquisidor, investiu até contra as obras científicas que contrarias-sem os princípios e dogmas católicos. Foi criada a Congregaçãodo índex, um órgão com a função de elaborar a “relação doslivros proibidos”, ou seja os livros que os católicos não poderiamler. A Contra-reforma tomava, assim, aspectos de uma verdadei-ra contra-renascença. Muitos livros e suspeitos de heresia foramcondenados à fogueira.

Imagem da época do Concílio de Trento.

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Exercícios propostos

1) Alguns séculos antes da Reforma do século XVI, o Cristianismo me-dieval sofreu uma série de reformas que visavam à restauração dasinstituições da Igreja, a fim de fazê-las retornar ao anterior estadode pureza. O primeiro desses movimentos reformadores foi desen-cadeado pelos religiosos do Mosteiro de Cluny, fundado em 910, eobjetivava principalmente:

a) A reforma do monasticismo, com a conseqüente purificação davida conventual, e a quebra da dominação exercida pela ordem do-minicana.

b) O estabelecimento de costumes mais ascéticos entre os religiosos e aquebra da dominação exercida pela ordem cartuxa.

c) A reforma do monasticismo, com a conseqüente purificação da vidaconventual e a libertação da dominação feudal.

d) O estabelecimento de costumes mais ascéticos entre os religiosos e alibertação da dominação burguesa.

e) A reforma do monasticismo, com os conseqüentes ataques à simonia,e a quebra da dominação exercida pela ordem franciscana.

2) A Reforma católica, dentro do espírito do Concílio Trentino, em 1545,procurou enfrentar o cisma luterano usando várias medidas. Paraesse fim:

a) Favoreceu a interpretação individual da Bíblia, desde que fosse feitasegundo os princípios do fundamentalismo.

b) Adotou uma atitude mais liberal em relação aos livros, atenuando,assim, o rigor da censura medieval.

c) Estimulou a ação de ordens religiosas em vários setores, sobretudo noeducacional.

d) Estabeleceu uma nova composição para o Sacro Colégio, de forma quetodas as nações cristãs nele estivessem representadas.

e) Criou uma comissão para melhoria do relacionamento com os povosnão cristãos, com vistas a evitar a propagação do protestantismo.

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158 História Geral

Questões de vestibular

1) (FUVEST) Sobre a Reforma religiosa do século XVI é correto afirmar que:a) Nas áreas em que ela penetrou, obteve ampla adesão em todas as

camadas da sociedade.b) Foi um fenômeno tão elitista quanto o Renascimento, permanecendo

afastada massas rurais e urbanas.c) Nada teve a ver com o desenvolvimento das modernas economias capitalistas.d) Fundamentou-se nas doutrinas da salvação pelas obras e na falibilidade

da Igreja e da Bíblia.e) Acabou por ficar restrita à Alemanha luterana, à Holanda calvinista e

à Inglaterra anglicana.

2) (FATEC-SP) Henrique VIII, Lutero e Calvino foram vultos da Reformaprotestante. Indique a alternativa ligada, respectivamente, a seus nomes:

a) 95 Teses contra a venda de Indulgências, Instituições da Religião Cristãe Doutrina da Justificação pela Fé.

b) Doutrina da Predestinação Absoluta, criação da Igreja AnglicanaIndependente e a Paz de Augsburgo.

c) Concílio de Trento, venda de Indulgências e Índex.d) Criação da igreja Anglicana Independente, 95 Teses contra a venda de

Indulgências e Doutrina da Predestinação Absoluta.e) Edito de Nantes, Paz de Augsburgo e Paz Kappel.

3) (CESGRANRIO) Qual das opções abaixo não guarda relação com acrítica e a oposição à Igreja expressas pelas reformas protestantesdo século XVI?

a) A influência do pensamento humanista que condenava a ignorância do clero.b) O descrédito das concepções difundidas pela Igreja após as descober-

tas científicas de Newton e Galileu.c) Os interesses dos príncipes absolutistas em fundar Estados nacionais.d) A expansão das concepções que valorizavam a busca de riquezas.e) A necessidade de adequar as idéias religiosas aos interesses dos

grupos mercantis em expansão.

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Capítulo 10 – O Estado moderno

O Estado moderno se assentava em três elementos básicos:o absolutismo monárquico, o mercantilismo e o colonialismo. Elese formou a partir da aliança entre a realeza e a burguesia co-mercial, e sua centralização administrativa tinha fundamentaçãono direito romano. O rei era a própria lei e seu poder era delega-do por Deus.

Como os nobres mais importantes viviam na corte real, o reipodia mandar vigiá-los, distribuía cargos honorários e pensões,criando, assim, uma dependência econômica. A nobreza pala-ciana se submetia à autoridade real.

O mercantilismo

A expansão marítima e comercial se intensificou no século XVI,em conseqüência principalmente da descoberta e exploraçãoeconômica da América. A transferência de uma grande quantida-de de metais preciosos da América para a Europa provocou achamada “Revolução dos Preços”, ou seja, um processo inflacio-nário que beneficiou a burguesia, pois os salários não acompa-nhavam a alta dos preço. O comércio de escravos africanos ge-rava grandes lucros e o fluxo de capitais e a navegação amplia-ram enormemente o comércio internacional. Em 1531 surgiu aprimeira bolsa de valores, em Antuérpia, nos Países Baixos. Ocapitalismo comercial, ou Revolução Comercial, consolidou-seassumindo um caráter universal. Foi uma etapa fundamental entreo feudalismo e a futura industrialização.

A política econômica e financeira praticada pelos monarcaseuropeus se denominava mercantilismo. Vinculava os interes-ses econômicos do Estado aos da burguesia, e dominou a Euro-pa entre os séculos XV e XVIII. O governo intervinha diretamen-

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te na economia, por meio de regulamentos, assumindo um cará-ter nacionalista. Estimulava o crescimento econômico nacional,privilegiando os setores comercial, manufatureiro e de transpor-tes marítimos. E a colonização era um dos elementos-chave parao sucesso da política mercantilista.

Entre seus princípios básicos destacavam-se:

a) Intervenção e dirigismo estatal.

b) Taxação alfandegária, para proteger a produção interna.

c) Desestímulo às importações e estímulo às exportações.

d) Manutenção da balança comercial favorável (exportação maiorque importação).

e) Acumulação de metais preciosos (metalismo).

Considerava-se, então, que uma nação seria tanto mais ricaquanto mais metais preciosos ela pudesse acumular. Dessamaneira, eram fundamentais manter um comércio externo favo-rável e possuir colônias ricas em metais preciosos.

Comerciantes holandeses.

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A Inglaterra é considerada a nação pioneira na adoção demedidas mercantilistas. Já no século XV, surgiram as primeirasmedidas protecionistas no setor têxtil, proibindo a exportação delã e tributando as importações de tecidos. A preocupação realera garantir a produção interna de tecidos, incentivar as vendaspara o exterior e acumular metais preciosos a partir de uma ba-lança comercial favorável.

O mercantilismo espanhol era chamado de metalista (ou bu-lionista). O objetivo era acumular o máximo de prata, obtido pormeio da exploração das minas no México e no Peru, respectiva-mente, bem como a tributação sobre todas as colônias. Os me-tais foram transportados para a Espanha e entesourados. Po-rém, esta política a longo prazo fracassou. Com a descobertados metais preciosos na América houve uma grande emigraçãoespanhola, estimulada pela “febre do ouro”, perdendo a metró-pole boa parte de sua mão-de-obra economicamente ativa. Cam-pos foram abandonados, caiu a produção de alimentos e maté-ria-prima, e, conseqüentemente, a produção de manufaturados.A solução foi a importação para atender às necessidades do paíse de sua colônias. Como a balança comercial se tornara deficitá-

Navios comerciantes.

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162 História Geral

ria para a Espanha, a diferença foi paga com os metais preciososacumulados. Assim, eles foram transferidos para a Inglaterra,Holanda e França, os países abastecedores da Espanha.

A Inglaterra praticou um mercantilismo comercial-manufatureiro.Através do Ato de Navegação, de 1651, derrubou a hegemonia co-mercial holandesa, determinando que os produtos importados sópodiam ser transportados em navios ingleses ou dos próprios paí-ses produtores das mercadorias. Como a base do comércio holan-dês, então, era a intermediação, seu prejuízo foi imediato e profun-do. Consolidava-se a hegemonia marítimo-comercial britânica.

Na França, a orientação mercantilista foi determinada pelo mi-nistro de Luís XIV, Colbert, cuja essência era produzir artigosmanufaturados de luxo, mais caros, portanto mais rentáveis, edestiná-los à exportação. Colbert declarou que para a Françaser rica (acumulação de metais preciosos) era preciso que seusvizinhos se tornassem pobres (perda de metais preciosos).

Interior do Palácio de Versalhes, onde existem exemplos de tapeçaria Gobelin.

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163História Geral

*Palavra castelhana muito comum nos livros de história. Os que vieram à frente:adelante.

O setor manufatureiro francês privilegiava a produção de tecidosde seda, perfumes, móveis, tapetes (estilo Gobelin) e cristais. O“colbertismo” também pode ser qualificado como comercial-manufatureiro, à semelhança do mercantilismo inglês.

A colonização

A conquista da América pelos espanhóis, determinada pelanecessidade de acumular ouro e prata, provocou um verdadeirogenocídio das civilizações ameríndias. A riqueza obtida dos nati-vos era repartida entre os adelantados* conquistadores e o go-verno espanhol.

Fernão Cortês, a partir da ilha de Cuba, comandou uma expe-dição militar contra os astecas, para a conquista do México, em1519. Com apenas quatrocentos homens, canhões, cavalos,

A conquista da América pelos espanhóis.

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164 História Geral

aliança com outros grupos indígenas, fez uma das maiores ma-tanças que a história registra. Facilitou a conquista, uma profe-cia indígena que previa a vinda de “deuses brancos”, em barcosestranhos e montados em animais desconhecidos. Os astecasprocuraram agradar os espanhóis, mas Cortês preferiu capturaro imperador Montezuma, para forçar a entrega de tesouros. Apopulação asteca reagiu, mas foi brutalmente dizimada.

Pouco tempo depois, outro aventureiro conquistador, Pizarroconquistou o Império Inca, localizado nos Andes. Quem sobrevi-veu ao massacre acabou escravizado para trabalhar nas minasde prata. As conquistas se ampliaram e a Espanha tornou-seproprietária da maior parte das terras americanas, estendendoseu império desde a Califórnia, ao norte, até o sul da América doSul, sendo o Brasil a grande exceção.

O absolutismo

A centralização dos Estados modernos foi feita graças ao apoioda burguesia mercantil. Os monarcas modernos europeus con-centraram em sua pessoa grande poder, pois representavam oideal nacional e corporificavam a própria nação. Entre os instru-mentos mais importantes para estabelecer e manter sua autori-dade absoluta destacavam-se:

a) Existência de um exército permanente, sob seu comando.

b) Criação de uma extensa burocracia para administrar o reino.

c) Emissão de uma moeda nacional.

d) Direito de decretar leis fundamentais ao Estado e ao rei.

e) Aplicação da justiça em todo o reino, em nome do rei.

f) Ampliação da arrecadação de impostos, para cobrir os gastosdo Estado.

g) Domínio sobre as terras coloniais, consideradas patrimônioreal.

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165História Geral

Maquiavel.

O absolutismo foi o apogeu da centralização monárquica na Eu-ropa durante a Idade Moderna (séculos XVI a XVIII). Mas era preci-so justificar sua origem e suas características. Os teóricos mais im-portantes do absolutismo foram Maquiavel, Bodin, Hobbes e Bossuet.

O pensamento deMaquiavel (1469-1527)desenvolvido em suaobra O príncipe propu-nha que na luta pela su-premacia real todos osmeios eram válidos,desde que atingissem ofim almejado. Se era ne-cessária a força, ela de-veria ser aplicada, durae racionalmente. Todosos obstáculos deveriamser removidos, nem queo príncipe recorresse aassassinatos, traições,falsidades e prisões. O Estado, amoral e desvinculado de preocu-pações ético-religiosas, encarnado no rei estava acima do interes-se individual, sacrificado pelo bem do Estado.

Jean Bodin (1530-1596) concebeu um Estado como sendo aextensão de uma família. Comparava o rei a um pai. Assim, aobediência do povo ao soberano seria a mesma que um filhodeveria ter para com seu pai. Thomas Hobbes (1588-1679), au-tor de Leviatã, justificou o absolutismo a partir da idéia de que asociedade primitiva vivia em um imenso caos, por falta de autori-dade; e que, a partir de um dado momento, os homens delega-ram poder a um dos seus membros, para estabelecer a ordem.Havia, portanto, um contrato social entre o rei e seu povo. Paraalcançar o ordem e, conseqüentemente, o progresso e a felici-dade, os seus poderes deveriam ser absolutos.

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166 História Geral

A teoria da origem divina do poder dos reis foi fundamentadapelo bispo francês Jacques Bossuet (1627-1704). Para ele, o reirecebeu de Deus o seu poder, estando, por isso, os seus atosacima da limitação e do julgamento dos homens. Bossuet ba-seou suas idéias na Bíblia. Servir ao rei seria servir a Deus. Osoberano era escolhido por Deus, sendo portanto seu represen-tante e, como tal, todos lhe deviam obediência.

Exercícios propostos

1) As nações européias desenvolveram o mercantilismo e o sistemacolonial aplicado no continente americano. Uma das característicasdo mercantilismo era o monopólio que:

a) Favorecia totalmente a colônia, pois impedia que suas riquezas fossemexportadas.

b) Transformava a colônia em exportadora de miséria e acumuladora deriqueza.

c) Considerava os habitantes da colônia com os mesmos direitos eprivilégios dos metropolitanos.

d) Arruinava a colônia, pois impedia o livre comércio e garantia oenriquecimento da metrópole.

e) Abria perspectivas para a adoção do livre-cambismo colonial.

2) Entre as conseqüências do mercantilismo, podemos citar:a) A consolidação de bases para o capitalismo moderno e a ascensão de

uma nova classe social: a burguesia.b) A Revolução Comercial, que se constitui na base da Revolução Indus-

trial do século XVIII.c) O restabelecimento da escravidão utilizada pelos países europeus como

fonte de mão-de-obra nas colônias.d) Em termos de cultura e costumes, a europeização do mundo, desde

que ocorreu um maior número de relações e contatos entre os países,propiciando assim a difusão da cultura européia.

e) Todas as respostas anteriores estão corretas.

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167História Geral

3) Governar em nome de Deus e somente a Ele prestar conta de seusatos foi a teoria que justificou na Europa:

a) O reconhecimento do poder temporal dos Papas.b) A questão das indulgências.c) A prática de que “o rei reina e não governa”.d) A separação da Igreja do Estado, conforme os princípios do Liberalismo.e) A concepção do poder temporal na pessoa do rei.

4) “Os homens, apesar de todos os privilégios do estado de natureza,são rapidamente levados à sociedade. Os inconvenientes a que estãoexpostos pelo exercício irregular e incerto do poder que todo homemtem de castigar as transgressões dos outros, os obrigam a serefugiar sob as leis estabelecidas de governo e nele procurarem apreservação da propriedade.”Esse pensamento identifica-se com:

a) Michel Bakunin e o anarquismo.b) Thomas Hobbes e o Estado absolutista.c) Maquiavel e o Estado moderno.d) John Locke e o liberalismo.e) Lenin e a social-democracia.

5) A obra de Maquiavel – O Príncipe (1513) – é um marco do novo pen-samento político, por defender a tese:

a) De que a política está acima da moral.b) De que os príncipes devem ouvir os súditos antes de agir.c) De que o poder deve ser contestado sempre.d) De que o Papa deve ser sempre ouvido pelo Príncipe.e) De que os meios justificam os fins.

Questões de vestibular

1) (CESGRANRIO) Os Estados modernos, formados na Europa a partirdos séculos XV e XVI, caracterizam-se por todos os elementos abaixo,COM EXCEÇÃO DE UM:

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168 História Geral

a) A centralização de poderes nas mãos do Príncipe – o absolutismomonárquico.

b) A unificação territorial como forma de afirmação nacional.c) A eliminação do poder político e social da alta nobreza.d) A burocratização do Estado expressa pela constituição de um numeroso

corpo de funcionários.e) O intervencionismo econômico através da adoção de práticas

mercantilistas.

2) (FGV) Buscar o fortalecimento da economia como um meio parafortalecer o Estado, através de uma Balança Comercial superavitáriae da manutenção da maior quantidade possível de metais preciososdentro das fronteiras do país. Esta pode ser a descrição sumáriada doutrina defendida pelos:

a) Fisiocratas.b) Economistas clássicos.c) Mercantilistas.d) Economistas neoliberais.e) Economistas Keynesianos.

3) (OSEC) O mercantilismo representou um conjunto coerente de me-didas econômicas adotadas pelo Estado Absolutista da ÉpocaModerna. Qual das proposições abaixo expressa o conjunto dosprincípios e práticas mercantilistas?

a) Pequena interferência do Estado na vida econômica, livre-concorrência,busca de uma balança comercial favorável.

b) Busca de uma balança comercial favorável, sistema colonial, monopólios,metalismo.

c) Grande interferência do Estado na vida econômica, protecionismo,industrialismo.

d) Valorização do trabalho e da terra como as verdadeiras fontes deriqueza; liberdade de ação econômica, abolição das corporaçõesde ofício.

e) As proposições b e c se completam.

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169História Geral

Capítulo 11 – O absolutismo na Inglaterra

Apogeu e crise

O estabelecimento do absolutismo atingiu o apogeu a partir daascensão ao trono de Henrique VIII (1509-1553). Para fortalecerseu poder político, rompeu com a Igreja Católica, criando uma igre-ja nacional, da qual se tornou chefe (Ato de Supremacia). Afastava-se a influência de Roma nos assuntos internos da Inglaterra. Po-rém, o governo de seus herdeiros foi envolvido por questões religio-sas que quebraram temporariamente a precária estabilidade inter-na. Seu filho Eduardo VI, herdeiro com apenas nove anos, foi total-mente dominado por seus preceptores calvinistas. Faleceu cincoanos depois, sendo sucedido pela sua irmã, Maria I (1553-1558),que tentou à força impor o catolicismo. As perseguições lhe vale-ram o apelido de “Maria, a sanguinária”. Casou-se com Felipe II,futuro rei da Espanha e católico; envolveu-se numa guerra contraa França, e perdeu o porto de Calais, último baluarte britânico emterritório francês, desde o fim da Guerra dos Cem Anos.

Com sua morte, sem herdeiros diretos, o poder passou parasua irmã, Elizabete I (1558-1603), que revelou toda a autoridadedo pai, assumindo as rédeas do poder. Restabeleceu oanglicanismo e se tornou chefe da Igreja Anglicana. Com ela, opaís conheceu o “absolutismo disfarçado”, pois, embora a rainhaconvocasse o Parlamento, ele, de fato, fazia o que ela desejava.

A rainha perseguiu os adversários do anglicanismo, acusando-os de desobediência ao Estado, o que acarretou o aumento daemigração para a América. Mas a rainha também incentivou afundação de colônias na América do Norte, como a Virgínia. Poroutro lado, a produção da cultura inglesa se expandiu, destacan-do-se intelectuais como William Shakespeare e Francis Bacon.

O governo estimulou ataques de corsários aos galeões e colô-nias da Espanha na América, ficando com uma parte do saque

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conseguido. Os ataques, além da rivalidade religiosa entre umpaís protestante e o outro católico, geraram a tentativa espanho-la de invadir a Inglaterra, com a “Invencível Armada”, de Felipe II,em1588. Constituída de 130 navios, foi atacada por navios ingle-ses e tentou se refugiar em Calais. Porém, um violento temporaldispersou a frota, que voltou para a Espanha sem efetivamentecombater. Foi o fim da hegemonia espanhola.

Com a morte de Elizabete, sem herdeiros diretos, o trono pas-sou para seu primo Jaime I (1603-1625), rei da Escócia, da di-nastia Stuart. Iniciava-se a história do Reino Unido da Grã-Bretanha, que congrega Inglaterra, Escócia, Gales e Irlanda (doNorte), ainda hoje. Sendo o rei escocês ligado aos grandes pro-prietários de terras, houve a formação de uma frente nacionalis-ta no Parlamento inglês contra ele, liderada pela burguesia.

As perseguições religiosas se intensificaram, com a imposi-ção forçada do anglicanismo, redundando na grande emigraçãode ingleses. Muitos puritanos partiram para a América a bordodo Mayflower; católicos se envolveram na “Conspiração da Pól-vora” para matar o rei, mas descobertos foram executados, oque motivou a expulsão dos jesuítas da Inglaterra.

Com dificuldades, o rei se impôs ao Parlamento.

Filho de Jaime I, Carlos I (1625-1649) tentou ampliar seu po-der absolutista, contra os direitos do Parlamento. Necessitandode recursos financeiros para custear as guerras externas, assi-nou a Petição dos Direitos (Bill of Rights) em 1628, que limitavaseus poderes e ampliava os do Parlamento. Confirmou-se, en-tão, o princípio pelo qual um imposto só seria legal se aprovadopelo Parlamento.

As revoluções inglesas no século XVII

O rei, desesperado, convocou o Parlamento em busca de apoiopolítico e de aprovação de novas taxas e impostos. Seu desejo,

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no entanto, foi negado. Nova dissolução do Parlamento, e a cri-se se agravava. Em 1640 ocorreu uma nova convocação. Ini-ciou-se, então, a reação parlamentar: dissolução dos tribunaisreais, supressão dos tributos ilegais, convocação obrigatória doParlamento, pelo menos uma vez a cada três anos. Novo cercomilitar do Parlamento. Porém, os políticos, a burguesia e o popu-lação de Londres recorreram às armas, tendo início, em 1642, aguerra civil, com o Parlamento opondo-se ao absolutismo real.De um lado, o exército real, constituído pelos grandes proprietá-rios de terras (cavaleiros) e seus mercenários, anglicanos majo-ritariamente; e, de outro, a burguesia, os artesãos e os campo-neses, conhecidos como os “cabeças-redondas”, pela forma ar-redondada do seu corte de cabelo. Seu comandante era OliverCromwell, radical puritano.

A guerra favorecia o Parlamento, por causa do apoio financeiroda burguesia e pelas reformas militares introduzidas por Cromwell.

Em situação difícil, o rei fugiu para a Escócia, em busca deapoio. Porém, Carlos I foi preso e, posteriormente, vendido aoParlamento inglês. Julgado, condenado, foi decapitado.

O poder era disputado pelo Parla-mento e pelo Exército. Cromwell,apoiando-se nos seus soldados, rea-lizou um grande expurgo no Parla-mento, afastando os presbiterianosmonarquistas que temiam a radica-lização das reformas propostas pe-los puritanos. Cromwell, chefe mili-tar puritano, detinha de fato o poder;mas era preciso legalizá-lo. A Câma-ra dos Lordes, uma das casas doParlamento, foi dissolvida, substituí-da por um conselho puritano. Crom-well representava a burguesia ingle- Cromwell.

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sa e os interesses econômicos dessa classe. Em 1651, editou oAto de Navegação e a riqueza da nação se expandiu.

Oliver Cromwell implantou, então, uma ditadura pessoal como apoio do exército e da burguesia comercial. A república foi pro-clamada, e Cromwell recebeu o título de Lorde Protetor daInglaterra. A sua ditadura estimulou o crescimento econômico edela se aproveitou. O mercantilismo proporcionou grandes lu-cros e o acúmulo de capitais que futuramente propiciariam aRevolução Industrial. Sua morte, em 1658, reabriu a luta pelopoder entre o Parlamento e o Exército. O Parlamento, em 1660,decidiu reconduzir ao trono um Stuart, com a condição de obe-decer aos direitos parlamentares.

Porém, Carlos II, filho de Carlos I, decidiu enfrentar o Parla-mento, optando pelo absolutismo. Agravando a situação, o reisimpatizava com o catolicismo. O Parlamento reagiu e aprovouuma lei que obrigava todos os funcionários reais a prestar jura-mento ao anglicanismo, em 1679. Era o Ato de Exclusão. Assim,um católico não poderia ser soberano da Inglaterra.

A França na época da Revolução Gloriosa.

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173História Geral

Em 1685, o rei morreu sem ter herdeiros diretos. O trono pas-sou para seu irmão, o Duque de York, Jaime II, possivelmenteconvertido ao catolicismo. Havia, portanto, o perigo da volta dainfluência papal nos assuntos internos do país.

Perante a impossibilidade de arranjo entre a posição do rei eos interesses britânicos, iniciou-se o processo de seu afastamen-to. O Parlamento, reaberto em 1688, convocou Guilherme deOrange, príncipe holandês protestante, casado com a filha dorei, Maria Stuart, para assumir o trono. Enquanto Guilherme en-trava em Londres, o rei Jaime II se refugiava na França.

O novo rei jurou a Declaração de Direitos em 1689. Por essedocumento a autoridade real foi drasticamente reduzida, tornan-do-se o Parlamento o verdadeiro governo do país. A chamada“Revolução Gloriosa” fazia triunfar a monarquia parlamentar.

Exercícios propostos

1) Com o “Bill of Rights”, inspirado em idéias iluministas de J. Locke, oParlamento ganhou maior força política; mas o verdadeiro parlamen-tarismo somente surgiu:

a) Com a dinastia Windsor, em 1901.b) Com a dinastia Tudor, em 1721, na época de Jorge I, como ministro Walpolle.c) Com a dinastia Stuart, em 1714, com a rainha Ana I.d) Em 1689, mesmo com a própria publicação do “Bill of Rights”.e) Com a Magna Carta em 1215.

2) Na Revolução Gloriosa de 1688:a) Cromwell e os puritanos triunfam sobre as forças que apoiavam o rei

Carlos I, proclamando-se Cromwell, Lorde Protetor.b) Henrique VIII por motivo do seu divórcio, negado pelo Papa, separa a

Igreja de Roma e funda a Igreja Anglicana.c) As treze colônias americanas proclamam a sua independência da

Inglaterra.

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174 História Geral

d) Cromwell, após a conquista da Irlanda, estabelece as bases do Impériobritânico, fato que foi apoiado por todas as camadas da sociedadebritânica em 1688.

e) São limitados os poderes da monarquia e ampliados os do Parlamento

Questões de vestibular

1) (FGV) Acerca do Absolutismo na Inglaterra, NÃO é possível afir-mar que:

a) Fortaleceu-se com a criação da Igreja Anglicana.b) Foi iniciado por Henrique VIII, da dinastia Tudor, e consolidado no longo

reinado de sua filha Elizabeth I.c) A política mercantilista intervencionista foi fundamental para a sua

solidificação.d) Foi conseqüência da Guerra das Duas Rosas, que eliminou milhares de

nobres e facilitou a consolidação da monarquia centralizada.e) O rei reinava mas não governava, a exemplo do que ocorreu durante

toda a modernidade.

2) (UFPA) Relativamente à história do absolutismo monárquico naInglaterra, é possível sustentar que:

a) A revolução que derrubou o governo de Jaime II, da dinastia Stuart,não assinalou apenas o fim do regime absolutista inglês, mas,igualmente, o triunfo da burguesia e do parlamento sobre a Coroabritânica.

b) O regime absolutista instala-se na Inglaterra em conseqüência dasguerras de religião, já que somente dispondo de um governo centralizadoe autoritário é que Henrique VIII poderia implantar o protestantismono país.

c) O estabelecimento do regime absolutista na Inglaterra foi prejudicialaos interesses do país, posto que a burguesia britânica, privada daliberdade política, emigrou em massa para a França e para a Holanda.

d) O fim do regime absolutista inglês ocorre com a revolução comandadapor Oliver Cromwell, oportunidade em que as forças parlamentares sob

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175História Geral

a sua chefia depõem Carlos I e encerram o ciclo dos governosautoritários dos Tudor.

e) Comparados a outros governos absolutistas europeus, os inglesesforam mais tolerantes e maleáveis. Veja-se, por exemplo, que durante oreinado dos Stuart a liberdade de religião sempre foi respeitada naInglaterra.

Capítulo 12 – O absolutismo na França

Foi na França que o absolutis-mo alcançou maior importância,servindo de modelo para outrospaíses europeus. Luís XIV, o “ReiSol”, da dinastia Bourbon, estabe-leceu uma centralização notáveldo poder, controlando amplamen-te o Estado, confundindo-se atémesmo com ele. Há uma frase ge-ralmente atribuída a ele: “O Esta-do sou eu”.

Porém, quando parecia que acentralização monárquica seriaalcançada no século XVI, a Fran-ça se viu envolvida em gravesconflitos internos, religiosos e di-násticos, que acabaram por adiaro processo. Foram confrontos envolvendo a nobreza fundiáriacatólica e uma parte da burguesia, a que se tornaram “huguenote”,como era chamado o calvinista na França. Um dos episódiosmais terríveis ocorreu na “Noite de São Bartolomeu” (24 de agostode 1572), quando houve o assassinato de milhares de protes-tantes, por intolerância religiosa católica.

A Noite de São Bartolomeu: pintura sobremassacre de protestantes.

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176 História Geral

A crise política se manifestou agudamente quando o poder realfoi disputado por Henrique III, Henrique de Guise, chefe católico,e Henrique de Navarra, protestante. Foi a “Guerra dos 3 Hen-riques”. Tendo os dois primeiros sido assassinados, o trono ca-beria a Henrique de Navarra, da família dos Bourbon. Hábil ne-gociador, converteu-se ao catolicismo, fez valer seu direito, massoube conservar o apoio dos huguenotes. Cinicamente, disseuma famosa frase: “Paris bem vale uma missa”. Reunindo o apoiodas duas alas rivais, tornou-se rei com o título de Henrique IV,em 1589. Sua maior preocupação era a paz, interna e externa.

No plano interno, procurou evitar conflitos entre católicos e pro-testantes. Em 1598, promulgou o Edito de Nantes, concedendoliberdade religiosa aos huguenotes. Ironicamente, foi assassina-do em 1610, por um fanático católico. A França perdia um deseus grandes monarcas. Seu sucessor foi Luís XIII e, com ele, oabsolutismo francês se consolidou. A Assembléia dos EstadosGerais, que poderia limitar o poder real, foi convocada pela últi-ma vez em 1614. Só o seria novamente às vésperas da Revolu-ção Francesa, em 1789.

Em 1624, o cardeal Richelieu se tornava primeiro-ministro. Per-sonalidade marcante, hábil, culto, procurou governar como sefosse o próprio soberano. Controlava os assuntos do Estado eexercia o absolutismo em nome de Luís XIII. O cardeal liderouuma terrível luta contra a nobreza e os huguenotes que se opu-nham ao absolutismo. Defendia o princípio do direito divino dorei. Diminuiu a liberdade religiosa dos protestantes, permitindoque eles praticassem seu culto apenas em algumas cidades,como La Rochelle. Envolveu o país em guerras, como a “dos 30Anos” (1618-1648). Curiosamente, aliou-se a países protestan-tes (Prússia) contra o imperador austríaco, católico. Era uma for-ma de diminuir o poderio ameaçador dos Habsburgos, que go-vernavam a Áustria e a Espanha, e formavam um anel que cer-cava a Franca. Era a rivalidade entre as duas principais casasreais européias: Habsburgo e Bourbon.

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177História Geral

Com a morte de Luís XIII, em 1643, a regência passou para aviúva Ana d’Áustria, mãe do futuro Luís XIV, ainda menor.Richelieu indicou o cardeal Mazzarino para ocupar seu lugar deprimeiro-ministro. Durante dezoito anos, Mazzarino governou aFrança, continuando a política de Richelieu (“política dos cardeais”),mas parte da nobreza e da burguesia se revoltou, aproveitandoa menoridade de Luís XIV. Essas revoltas foram chamadas de“Frondas”, mas os rebeldes foram vencidos. A população dese-java paz e a burguesia trocaria sua oposição política pela possi-bilidade de administrar seus negócios num clima de tranqüilida-de. O desejo de um governo forte facilitou o avanço do absolutis-mo monárquico.

Após a morte de Mazzarino, em 1664, Luís XIV decidiu assu-mir diretamente as atividades governamentais (“Serei ministrode mim mesmo”). A grande nobreza foi politicamente neutraliza-da. Atraída para a corte de Versalhes, palácio real, ocupava car-gos decorativos e vivia às custas do Estado. Essa dependênciaeconômica a submetia ao rei, tornava-a parasita e fraca, emboraonerosa ao tesouro real.

Os altos postos governamentais eram geralmente ocupadospor membros da alta burguesia, que adquiriam títulos, originan-do a “nobreza de toga”. Luís XIV ocupava efetivamente o topoda administração e interessava-se pessoalmente por todos osnegócios do Estado.

Para alcançar o objetivo de existir a unidade nacional, comapenas “um rei, uma lei, uma fé”, Luís XIV revogou o Edito deNantes, em 1685. Esta revogação foi uma catástrofe econômicapara a França, com a saída de 200 mil comerciantes e artesãos,e seus capitais.

Além disso, a França do “Rei Sol” se envolveu em custosascampanhas militares, contra os Países Baixos, contra a Áustria,na “Guerra da Sucessão Espanhola” etc. Somem-se a elas osgastos com a corte e as festas em Versalhes, o parasitismo da

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178 História Geral

nobreza, o enorme número de funcionários. A conseqüência eraum déficit governamental crônico. As soluções eram as de sem-pre: mais impostos sobre o povo e empréstimos junto à burguesiafinanceira, a juros altos. Assim, apenas se adiava a crise. Luís XIVteria dito, no final de sua vida: “Depois de mim, o dilúvio”.

Com a sua morte, em 1715, assumiu o trono seu bisneto LuísXV, que passou a maior parte de seu reinado (1715-1774) viven-do na corte, envolvendo-se com suas amantes, ocupando-se defrivolidades. A crise foi agravada pela derrota na Guerra dos SeteAnos (1756-1763) contra a Inglaterra. Além dos gastos com oconflito, a França perdia suas possessões coloniais na Ásia e aprovíncia de Quebec, no Canadá.

As finanças públicas se desgastavam, pois o déficit orçamen-tário crescia. À burguesia não mais interessava em manter umrei e uma corte custosos. Nesse quadro caótico, Luís XVI assu-miu o trono francês, em 1774. Com a situação se deteriorando,na medida em que novos problemas surgiam e a monarquia nãoconseguia resolvê-los, a grande revolução se aproximava.

Exercícios Propostos

1) A “Noite de São Bartolomeu” foi:a) Grande festa religiosa comemorando o aparecimento do protestan-

tismo na França.b) Noite em que o rei Luís XIV decretou a liberdade de culto religioso.c) Noite de agosto de 1572 na qual, a pedido da rainha Catarina de Médicis,

houve uma grande matança de nobres huguenotes.d) Matança de um grande número de nobres católicos, a pedido do rei da França.e) Início da Guerra dos Sete Anos entre a França e a Inglaterra.

2) A política de Colbert, na França (1661/83), durante o reinado de LuísXIV, tinha como principal objetivo:

a) Eliminar a influência do Estado na economia francesa.b) Evitar que a França se empenhasse numa política financeira metalista.

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179História Geral

c) Promover o enriquecimento do país através do comércio.d) Desmembrar o império colonial francês por ser contrário ao imperialismo.e) Aplicar uma política de laissez-faire, laissez-passer, a fim de que as

indústrias não sofressem a interferência estatal.

3) O “Edito de Nantes”, de 1598, assinado por Henrique IV de Navarra:a) Concedeu liberdade religiosa e direitos políticos e econômicos aos

huguenotes da França.b) Proibiu o culto protestante no território francês.c) Decretou a imposição da religião católica aos nobres franceses que

eram huguenotes.d) É o nome do Tratado de Paz que pôs fim à Guerra de Sucessão da Espanha.e) Afirmou a adesão do rei definitivamente ao catolicismo.

Questões de vestibular

1) (FGV) Alexandre Dumas, em seu famoso épico “Os Três Mosque-teiros”, conta como D’Artagnan ficou amigo de Athos, Porthos eAramis: os quatro unem-se contra os guardas do cardeal Richelieu,que interrompem um duelo em que se defrontariam. Este episódiorevela de forma romanceada:

a) A luta entre Richelieu e o rei Luís XIII pela posse do trono francês.b) A tentativa de impor aos nobres a justiça real, proibindo o duelo

(chamado de “o julgamento de Deus”) como forma de resolver pendênciasentre eles, abrindo caminho para o absolutismo de Luís XIV.

c) A posição anticatólica de Luís XIII, combatida a ferro e fogo pelo cardeal-ministro.

d) A disputa entre facções pró-inglesas e pró-espanholas na cortefrancesa, dentro do jogo de alianças da Europa do século XVII.

e) Enfraquecimento do poder real na França do século XVII.

2) (UFPA) Observadas as realidades históricas pertinentes ao abso-lutismo monárquico na Europa moderna, é possível apresentar-se aseguinte conclusão:

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a) As monarquias absolutas foram mais expressivas nos países em quepredominou a influência protestante, haja visto que o luteranismoexaltava os poderes do Estado como necessários para a glória de Deus.

b) Na Inglaterra, a monarquia absoluta é suprimida, ainda no século XVII,através da revolução com que Oliver Cromwell derrubou a dinastia dosStuart e consagrou o papel do Parlamento como agente constitucionalbritânico.

c) Nos países em que foi menos expressiva a presença da Igreja Católica,inexistiu, virtualmente, a monarquia absoluta, fato que se verificou emrelação a Portugal e Espanha.

d) As monarquias absolutas resultaram, em última análise, das profundastransformações produzidas pelo fim do feudalismo. Na Itália, porexemplo, o desmoronamento da ordem feudal resultou na formação doEstado moderno italiano.

e) Na França, o apogeu do sistema absolutista ocorre num momento emque a economia francesa experimentava uma fase de desenvolvimentoe de consolidação, graças à política executada por Colbert no governode Luís XIV.

Capítulo 13 – O Iluminismo e oPensamento Liberal

O Antigo Regime apresentava três características básicas: o ab-solutismo político, a sociedade estamental e a economia mer-cantilista. Contra esta estrutura se colocaram muitos pensadoresna segunda metade do século XVIII. Almejavam liberdade, segu-rança e participação na resolução dos problemas comuns. Seu pen-samento correspondia às novas necessidades e objetivos da bur-guesia industrial e financeira que começavam a se organizar.

Esse amplo movimento filosófico, o Iluminismo, analisava asociedade a partir de uma perspectiva racional.

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Ele teve origem no racionalismo europeu do século XVII, embo-ra já esboçada desde o Renascimento. O filósofo francês RenéDescartes (1596-1650) teve enorme influência. Elaborou uma novametodologia, partindo do princípio de que tudo deve ser compre-endido pela razão e pela experiência (método experimental). Suainfluência foi tão grande que, após Descartes, não se podia maispensar cientificamente sem usar o seu método. Segundo o filóso-fo, o pensamento humano deve considerar todas as manifesta-ções da natureza por meio de uma compreensão racional, e o quenão pode ser reconhecido pela racionalidade do espírito humanodeve ser desprezado. Famosa a sua frase: “Penso, logo existo”. Oracionalismo cartesiano foi o método utilizado pelos iluministas in-teressados no estudo da sociedade.

O cientista inglês Isaac Newton (1642-1727) contribuiu para oracionalismo através dos estudos da Física, Matemática e Astro-nomia. Formulou as leis naturais, isto é, aquelas que ocorrem nanatureza, independentes da vontade humana, como os princípiosda gravidade. Criou a mecânica celeste, revolucionando a física.

Os iluministas, influenciados pelo racionalismo, criticaram oAntigo Regime. Para eles, não era racional que somente o reigovernasse. A teoria da origem divina do poder era contestada,pois não era racional. Seria racional o povo não só escolher seusgovernantes, como também de lhes exigir prestações de contasde sua ação.

A própria existência de Deus também deveria ser compreen-dida racionalmente. Deus estaria em todos os lugares, mani-festando-se na Natureza. Por essa razão, os iluministas com-batiam o monopólio religioso da Igreja Católica. Para encontrarDeus não havia necessidade de se dirigir à Igreja, pois Ele po-deria ser encontrado dentro do coração do próprio homem.

A partir do pensamento de Descartes, os filósofos estru-turaram uma nova visão de mundo: o liberalismo. Esse movi-mento nasceu na Inglaterra, mas alcançou enorme desenvolvi-

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182 História Geral

mento na França do século XVIII. Os principais expoentes doliberalismo foram:

a) John Locke (1632-1704): criticou as idéias de Hobbes, poisacreditava que no estado natural não havia o caos. Mas o serhumano, dotado de capacidade racional, delegou seus direi-tos a um soberano, seu representante. O indivíduo não exis-te em função do Estado, e sim o contrário. A função funda-mental do governo é garantir a propriedade, a liberdade e asegurança dos indivíduos. Assim, os cidadãos têm o direitode se rebelar contra um governo que não cumpre com assuas obrigações. Defendia a existência do poder legislativo(Parlamento) e a liberdade religiosa. Apoiou a Revolução Glo-riosa, de 1688, e ajudou na redação do Bill of Rights.

Seu pensamento inspirou os colonos americanos a lutar pelasua independência. Principal obra: Tratado do Governo Civil.

b) Montesquieu (1689-1755) propôs a divisão do poder em exe-cutivo, legislativo e judiciário, cada qual com suas atribuições,independentes mas har-mônicos entre si. Era aforma ideal para evitar odespotismo. Principaisobras: O Espírito das Leise Cartas Persas.

c) Voltaire (1694-1778) nota-bilizou-se pelos ataques àIgreja, mas não era ateu,e sim, deísta, isto é, acre-ditava que Deus se mani-festava na Natureza e quepodia ser entendido pelarazão. Satirizou a nobre-za e o clero, atacou o ab-solutismo e a Igreja, de- Voltaire.

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183História Geral

fendeu as liberdades individuais de expressão, a igualdadejurídica. Suas idéias lhe custaram perseguições e exílios. Prin-cipais obras: Cartas Inglesas, Cândido.

d) Rousseau (1712-1778) destacou-se por lutar pelo princípiodemocrático, pois o liberalismo propunha um governo baseadona lei, mas não necessariamente democrático. Dizia que osseres humanos viviam felizes no estado natural, afirmandoque o homem nascia bom, mas a sociedade o corrompia.Assim, a sociedade não produzia a felicidade, pois esta estariano estado natural.

Para Rousseau, a desigualdade entre os homens seria acausa dos conflitos sociais. As diferenças de força, inteligên-cia, constituição seriam inevitáveis, pois são naturais. Contu-do as desigualdades artificiais seriam geradas pelas condi-ções sociais. Essas podiam ser combatidas e atenuadas. ParaRousseau, a propriedade privada gerava a desigualdade so-cial e destruía a liberdade social. Pregava a volta a uma vidasimples, cheia de sentimentos e de solidariedade. Sonhavacom uma sociedade em que os conflitos sociais seriam resol-vidos racionalmente.

No Contrato Social, seu livro mais importante, defendia o Es-tado democrático. Para eliminar os conflitos causados pelo apa-recimento da propriedade privada, os homens teriam assinadoum contrato social. Foi a origem da sociedade civil. Nela, a fun-ção do Estado seria regular as relações entres os cidadãos. OEstado deve sempre representar a maioria dos cidadãos, deven-do ser, portanto, democrático.

As obras dos iluministas eram debatidas nos salões literários,clubes sociais, cafés e universidades. Um grupo de intelectuais,do qual faziam parte Diderot e D’Alembert, ficou conhecido comoenciclopedista, por escrever a Enciclopédia, um dicionário uni-versal, uma síntese do conhecimento na época.

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Exercícios propostos

1) As idéias iluministas que tinham por base o culto da razão e a crençanas leis naturais:

a) Eram favoráveis a uma organização estamental da sociedade.b) Propiciavam um embasamento teórico ao sistema monárquico, em qualquer

uma de suas modalidades (constitucional, parlamentar ou absolutista).c) Eram contrárias à libertação das colônias da América.d) Propunham uma política econômica liberal.e) Favoreciam os princípios mercantilistas.

2) O absolutismo não resolveu os problemas de sua época. Daí o sur-gimento de novas idéias políticas que ficarão conhecidas pelo nomede Iluminismo. Neste movimento destacam-se vários autores, comexceção de um, que deverá ser assinalado:

a) John Locke, que se preocupou mais com os problemas da liberdade indi-vidual do que com os problemas do estabelecimento de uma nova ordemeconômica e social.

b) Voltaire, autor do dicionário filosófico e das novelas satíricas.c) Montesquieu, de “O Espírito das Leis”.d) Tomás de Aquino, autor da “Suma Teológica”.e) Rousseau, autor de “O Contrato Social” e de “Discurso sobre a Origem

da Desigualdade”.

Questões de vestibular

1) (FGV) Um crítico do racionalismo, em meio a uma plêiade de filósofosracionalistas; tido por muitos como inspirador da fase mais radicalda Revolução Francesa; autor de “Discurso sobre a Origem eFundamentos da Desigualdade entre os Homens”; considerado umdos pais da moderna Democracia. Referimo-nos a:

a) René Descartes.b) Charles de Secondat, Barão de Montesquieu.c) Rousseau.

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185História Geral

d) Voltaire.e) Diderot.

2) (FGV) A Constituição da França de 1791, a partir dos princípios pre-conizados por Montesquieu, consagrou, como fundamento do novoregime:

a) A subordinação do judiciário ao Legislativo, que passou a exercer umpoder fiscalizador sobre os tribunais.

b) A identificação da figura do monarca com a do Estado, que a partirdesse momento se tornou inviolável.

c) A supremacia do Poder Legislativo, deixando de ser o rei investido depoder moderador.

d) O poder de veto monárquico que se restringiu a assuntos fiscais,limitando assim a soberania popular.

e) A separação dos poderes até então concentrados, teoricamente, napessoa do soberano.

Capítulo 14 – O despotismo esclarecidoO Iluminismo influenciou muitos gover-

nantes europeus na segunda metade doséculo XVIII. Tomaram iniciativas para me-lhorar as condições de vida da população,porém sem abrir mão de sua autoridadepolítica. Os governantes assimilavam eaplicavam as idéias que lhes interessa-vam. Por isso, foram chamados de “dés-potas esclarecidos”.

A humanização da justiça foi obtida coma reforma dos códigos penais, criação detribunais e garantias de defesa. Em váriospaíses a servidão foi abolida. A tortura nas

Catarina II estava entre osdéspotas esclarecidos.

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186 História Geral

prisões foi desestimulada. Procurou-se estabelecer a igualdadede direitos e deveres. Vários governantes aplicaram políticas deassistência social e de educação do povo.

Aproveitando-se das críticas à Igreja Católica, alguns déspo-tas procuraram se livrar da influência do papa e do clero. Proprie-dades eclesiásticas foram confiscadas e transformadas em hos-pitais e escolas.

O desenvolvimento econômico, por meio do incentivo às ati-vidades setoriais, foi outra preocupação dos déspotas, que seapoiavam na burguesia.

Na Rússia, o principal déspota foi Catarina II. Controlou a no-breza, dividiu o país em províncias, com o governador ligadodiretamente ao poder central. A servidão foi parcialmente abolida.Suas reformas econômicas propiciaram o desenvolvimento co-mercial e manufatureiro, e a colonização de extensas áreas naUcrânia e no vale do rio Volga.

Na Espanha, os ministros de Carlos III, como Aranda, sustenta-ram as reformas liberais, que se refletiram na América Espanhola.

A dinamização comercial incentivou o desenvolvimento das tro-cas internas e o fortalecimento econômico. A nobreza foi comba-tida e o poder, concentrado nas mãos reais. A Igreja foi colocadasob controle, expulsando-se os jesuítas, acusados de constituí-rem um Estado dentro do Estado.

O mais importante déspota esclarecido foi José II, da Áustria.Suas reformas foram profundas, atingindo vários setores do país.Procurou impor o alemão como língua nacional, pois a existên-cia de inúmeros dialetos, frutos do particularismo regional, difi-cultava a administração do Império Austríaco. A servidão foiabolida e a posse da terra se estendeu aos camponeses. A igual-dade tributária colocava todos os proprietários no mesmo nível.A tortura foi abolida; o divórcio, implantado; e o casamento civil,reconhecido.

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187História Geral

A preponderância da Igreja foi minimizada pela supressão de con-ventos e ordens, tendo transformado os edifícios em escolas e hos-pitais. Em 1781, estabeleceu a liberdade de religião e consciência.

Na Prússia governava a dinastia dos Hohenzollern. O primeirodéspota, Frederico Guilherme I, o rei sargento, organizou o exér-cito e reformulou a administração. Frederico II, seu sucessor,praticou todas as reformas propostas pelo Iluminismo, dandoespecial ênfase ao desenvolvimento comercial e manufatureiro.

Em Portugal, o destaque foi o Marquês de Pombal, título nobi-liárquico de Sebastião José de Carvalho e Melo, ministro do reiD. José I. Desencadeou uma dura luta contra a nobreza e o cle-ro, considerados parasitas e contrários à modernização. Pombalenfrentou principalmente a Companhia de Jesus, afastando osjesuítas do controle educacional que exerciam na metrópole enas colônias. Conseguiu, posteriormente, expulsá-los do Brasile de Portugal. Implantou uma grande reforma na Universidadede Coimbra, além de admitir professores estrangeiros.

Pombal procurou incentivar o comércio externo, aumentandoa lista dos produtos portugueses exportáveis. Aplicou tarifas pro-tecionistas, evitando os déficits comerciais, e incrementou o co-mércio colonial com a criação de companhias de comércio, so-bretudo no Brasil.

Exercícios propostos

1) Os monarcas citados a seguir se identificam com a forma de despo-tismo esclarecido adotada por vários príncipes europeus durante oséculo XVIII, exceto:

a) Catarina II (Rússia).b) José I (Portugal).c) Frederico II (Prússia).d) Luís XIV (França).e) Carlos III (Espanha).

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188 História Geral

2) O reformismo ilustrado desenvolveu-se no século XVIII naquelas socie-dades européias que tinham em comum as características seguintes:

a) Domínio aristocrático, defasagem econômica, atraso cultural.b) Predominância do clero, domínios ultramarinos, falta de escolas.c) Reação feudal, mercantilismo, secularização do ensino.d) Ascensão burguesa, expansão capitalista, enciclopedismo.e) Posição de destaque dos jesuítas, fisiocratismo, censura inquisitorial.

Questão de vestibular

1) (VUNESP) “Os filósofos adulam os monarcas e os monarcas adulamos filósofos”. Assim se refere o historiador Jean Touchard à formade Estado europeu que floresceu na segunda metade do século XVIII.Os “reis filósofos”, temendo revoluções sociais, introduziram refor-mas inspiradas nos ideais iluministas.Estas observações se aplicam:

a) Às Monarquias Constitucionais.b) Ao Despotismo Esclarecido.c) Às Monarquias Parlamentares.d) Ao Regime Social Democrático.e) Aos Principados ítalo-germânicos.

Capítulo 15 – A independência dosEstados Unidos da América

A formação das colônias

As treze colônias inglesas, fundadas pelos ingleses no litoralAtlântico da América do Norte, estavam voltadas para o comér-cio externo, a navegação e o intercâmbio com a Europa. Eram,em sua maioria, colônias de povoamento, em que famílias britâ-nicas se estabeleciam criando raízes.

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189História Geral

Para muitos, a América significava libertar-se das persegui-ções políticas e religiosas que sofriam na metrópole. Além disso,as enormes áreas inexploradas, em princípio, “terra sem dono”,atraíam aqueles que nada possuíam. Era a possibilidade de setornarem proprietários, cidadãos e obterem ascensão social.

Podem ser identificadas três áreas:

a) No Norte: Massachusetts, New Hampshire, Rhode Island eConnecticut;

b) No Centro: Pennsilvânia, New York, New Jersey e Delaware;

c) No Sul: Virgínia, Maryland, Carolina do Norte, Carolina doSul e Geórgia.

As características específicas das colônias se acentuaram como passar dos tempos. Para simplificar podemos agrupá-las emSul e Norte, este último englobando as do Centro.

Nas colônias do Norte, de colonização mais espontânea, de-senvolveram-se a pequena e a média propriedades fundiárias,onde o trabalho era livre, exercido pelos próprios proprietários.Havia a chamada “servidão temporária” (indentured servants),

Mapa das treze colônias.

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190 História Geral

imigrantes que tinham sua passagem paga por um proprietáriorural, sujeitos a um contrato de trabalho, em geral com duraçãode sete anos. Cumprido o contrato, obtinham a liberdade e pro-curavam um lote de terra, para se tornarem proprietários.

Com um clima semelhante ao da metrópole, não tinham umaprodução agrícola para exportar para a Inglaterra. Como não ti-nham o que exportar, não podiam importar, genericamente. Poroutro lado, a produção de matérias-primas e a presença deartesãos propiciaram um relativo desenvolvimento artesanal emanufatureiro no Norte, atendendo às suas necessidades. Des-tacava-se também a sua construção naval, em conseqüência daabundância de madeira.

No Sul, a colonização foi uma iniciativa da metrópole, que fun-dou os primeiros núcleos coloniais. Por causa do clima subtropical,nele se organizou uma produção agrário-exportadora, que o co-locou na dependência do comércio e do mercado metropolita-nos, fornecendo produtos tropicais, como o algodão e o tabaco.

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191História Geral

As importações supriam as necessidades locais e provinham emgeral da Inglaterra. A economia exportadora condicionava a exis-tência da grande unidade monocultora, cujos proprietários for-mavam a aristocracia rural, que se utilizava de muita mão-de-obra escrava negra e poucos trabalhadores livres. Era uma socie-dade conservadora, aristocrática e escravocrata.

Merecem destaque os triângulos comerciais. Os produtos eramlevados às Antilhas pelos colonos e trocados por açúcar e mela-ço. Levados para as colônias do Norte, eram transformados emrum, utilizado no escambo de escravos na África que, por suavez, eram vendidos nas Antilhas. Assim, havia uma importanteacumulação de capitais nas colônias do Norte.

O processo de independência

Porém, após a “Guerra dos Sete Anos” (1756-1763), as relações“metrópole-colônias” se alteraram radicalmente, levando à ruptura.A situação se agravou ainda mais por causa da influência de idéiasiluministas sobre a elite colonial. O político Thomas Paine notabili-zou-se pela difusão dessas idéias por meio de panfletos.

Endividado pelas despesas da guerra, o governo inglês deci-diu fazer das colônias a solução de seus problemas financeiros.O Parlamento lançou mão de novos impostos, como a Lei doSelo e do Açúcar. O açúcar importado de regiões não-perten-centes à Inglaterra pagaria taxas. A Lei do Selo determinava quetodos os documentos e publicações tinham que ser selados, oque implicava na elevação dos custos. Em 1765, os colonos en-viaram uma petição ao parlamento, solicitando a revogação dasleis, pois as consideravam ilegais. O argumento era consistente:eles não tinham representantes no Parlamento, não participan-do, portanto, da votação dessas leis. Sob o lema “No taxationwithout representation”, os colonos se rebelaram, negando-se apagar os novos impostos.

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192 História Geral

O governo metropolitano, estrategicamente, recuou, suspen-dendo a Lei do Selo e diminuindo o imposto sobre o açúcar. Mas,como compensação, determinou que os produtos importados te-riam uma tarifa mais elevada. Os colonos decidiram então boico-tar os produtos importados da Inglaterra, provocando uma semi-paralisação das operações comerciais, prejudicando os merca-dores ingleses.

Em 1773, o monopóliodo comércio do chá foi en-tregue à Companhia dasÍndias Orientais. A reaçãodos colonos foi imediata.A carga que estava emnavios da companhia foiatirada ao mar, no episó-dio conhecido como “Fes-ta do Chá em Boston”.

A Inglaterra não podiarecuar sob pena de desmoralização total. Assim, foram aplica-das novas determinações (Leis Intoleráveis). O porto de Bostonfoi interditado e o governador de Massachussetts obtinha pode-res excepcionais para enfrentar a crise. Pela Lei do Aquartela-mento, os colonos arcariam com as despesas feitas com a ma-nutenção das tropas inglesas.

No ano seguinte (1775), representantes dos colonos se reuni-ram na Filadélfia e liderados por Samuel Adams e ThomasJefferson repeliram as Leis Intoleráveis. A decisão não tinha ca-ráter separatista, ainda. Os colonos queriam igualdade de direi-tos, pois se consideravam súditos britânicos residentes fora daInglaterra. Contudo, o rei Jorge III era duramente atacado, aindaque as decisões, na verdade, fossem do Parlamento.

Porém, a não renovação das Leis Intoleráveis fez com osrepresentantes optassem pela separação. Thomas Jefferson re-

Imagem da “Festa do Chá em Boston”.

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193História Geral

digiu a Declaração da Independência, promulgada em 4 de ju-lho de 1776. Ela proclamava o desejo de liberdade, busca dafelicidade, igualdade e o direito de rebelião contra o auto-ritarismo. Foram feitas violentas críticas ao rei Jorge III, o sím-bolo do despotismo.

Iniciava-se a “Guerra da Inde-pendência”. George Washingtonfoi nomeado comandante das tro-pas americanas que, despre-paradas, sem adestramento, compouca quantidade de armas e mu-nições, sofreram inicialmente mui-tas derrotas. Mas a vitória ameri-cana na batalha de Saratoga(1777) estimulou países europeuscomo a França, rivais dos ingle-ses, a ajudarem os americanos. Era a oportunidade de vingar aderrota na “Guerra dos Sete Anos”.

Em 1781, ocorreu a batalha de Yorktown, na qual os inglesescapitularam. A Inglaterra decidiu reconhecer a independênciados Estados Unidos. A paz foi firmada, em 1783, pelo Tratadode Versalhes.

A Constituição dos Estados Unidos da América foi promulgadaem 1787. As colônias se constituíram em Estados unificados,formando uma república federativa, com a divisão de poderes(executivo, legislativo e judiciário). Os direitos civis eram asse-gurados, mas, contraditoriamente, a escravidão foi mantida.

Exercícios Propostos

1) “Em 1763, a Inglaterra, semelhante a uma nova Cartago, atinge o apogeudo poder, do prestígio e torna-se a primeira potência naval e comercialda Europa. Vinte anos mais tarde, não se apercebeu de que a perda das

Congresssos Continentais de Filadélfiaforam decisivos para a Independência.

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194 História Geral

colônias da América, que constituíam a base do seu Império, era umsimples revés temporário ou o sintoma de declínio mais grave.”

(Hampson - A Primeira Revolução Européia)De acordo com o texto:

a) A comparação sugerida pelo texto entre Inglaterra e Cartago refere-se às guerras que aceleraram a decadência de ambas.

b) A perda da América significou o começo da ruína do Império ColonialInglês.

c) A consolidação da supremacia da Inglaterra ocorreu no final do séculoXVIII liderada pela América.

d) Não se podia atestar qual a ressonância que a Independência daAmérica poderia provocar no Império Britânico.

e) Ambas conquistaram o Mediterrâneo na mesma época.

2) A colonização inglesa da América do Norte chegou a ser diferenteda efetuada pelos espanhóis e portugueses no sul do continente,pela conjugação de uma série de fatores:

I) Inexistência de metais preciosos no solo das 13 colônias.II) A negligência fiscal por parte da Inglaterra, possibilitando um desen-

volvimento quase autônomo.III) Muitos elementos nela envolvidos eram, em sua maioria, refugiados

religiosos e políticos em busca de liberdade para professar suas crençase idéias.Assinale:

a) Se apenas as proposições I e II estão corretas.b) Se apenas as proposições I e III estão corretas.c) Se apenas as proposições II e III estão corretas.d) Se todas as proposições estão corretas.e) Se todas as proposições estão erradas.

Questões de vestibular

1) (CESGRANRIO) O processo de Independência das treze colôniasinglesas da América do Norte, origem dos Estados Unidos da Amé-

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195História Geral

rica, na segunda metade do século XVIII, articula-se às demais ques-tões então em curso na Europa ocidental, com exceção de uma.Assinale-a.

a) O conflito colonial e comercial entre a França e a Inglaterra, particu-larmente grave nas respectivas colônias da América do Norte.

b) A difusão das idéias liberais, ligadas ao Iluminismo, hostis à dominaçãoe à exploração exercidas pelas metrópoles sobre suas colônias,especialmente o pacto colonial.

c) O desenvolvimento acelerado do capitalismo na Inglaterra, favorecen-do os segmentos políticos e sociais hostis ao protecionismo mercan-tilista.

d) A ampla divulgação das idéias fisiocráticas favoráveis às restriçõesadotadas pelas autoridades inglesas, contra as relativas isençõesfiscais e a autonomia político-administrativa das colônias norte-americanas.

e) A influência das idéias políticas e sociais, especialmente as obras de J.Locke e de Montesquieu, contrárias ao absolutismo e aos privilégios doAntigo Regime.

2) (CESGRANRIO) “[...] Estas colônias unidas são, e têm o direito aser, Estados livres e independentes e toda ligação política entre elase a Grã-Bretanha já está e deve estar totalmente dissolvida.”

(Thomas Jefferson - Declaração de Independência, 1776).A afirmação de liberdade e independência contida no trecho acima serelaciona:

a) Ao propósito das colônias do Norte de se separarem do Sul escravista,em função dos entraves que a organização social sulina criava ao de-senvolvimento capitalista.

b) Ao interesse dos colonos norte-americanos em se alinharem com aFrança revolucionária, que lhes oferecia oportunidades mais ricas eproveitosas para as trocas comerciais.

c) À reação dos colonos, sustentada nas idéias dos filósofos iluministas,contra o reforço das medidas de exploração colonial imposto pela In-glaterra.

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196 História Geral

d) Ao propósito de alcançar a autonomia política, embora preservando omonopólio comercial, que favorecia a economia das colônias do Norte.

e) À formalização de uma separação que, na verdade, já existia, comoatesta a liberdade comercial que gozavam tanto as colônias do Nortequanto as do Sul.

Capítulo 16 – A Revolução Industrial

O pioneirismo da Inglaterra

A primeira nação a se industrializar foi a Inglaterra. Reunindo con-dições favoráveis, utilizou os capitais acumulados durante a Revo-lução Comercial como investimentos no setor de transformação.

Os grandes proprietários também colaboraram, pois ao cerca-rem suas terras (enclosure), inclusive as comunais (de uso co-mum), arruinaram os pequenos proprietários; ao substituírem alavoura pela pecuária (criação de ovelhas) liberaram mão-de-obra, cujo excedente deslocou-se para as cidades, e iriam seconstituir nos futuros trabalhadores fabris.

Por outro lado, devido ao crescimento populacional em escalamundial, houve um aumento da procura de mercadorias paraatender às necessidades de consumo, estimulando assim a pro-dução e a produtividade. A solução foi a invenção e o uso demáquinas, tanto na lavoura como nas manufaturas. Certamenteas invenções industriais não surgiram por acaso, mas da neces-sidade de se aumentar a produção e diminuir os custos, propor-cionando maiores lucros ao empresário.

Os principais inventores, que contribuíram para a industriali-zação têxtil, foram:

a) John Kay: inventou a lançadeira volante em 1735, instrumen-to que, adaptado aos antigos teares manuais, aumentou acapacidade de produção das tecelagens.

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197História Geral

b) James Hargreaves: in-ventou a “spinningjenny”, em 1767, querevolucionou a fiação,pois produzia até 80fios simultaneamente,operada por um só tra-balhador.

c) Richard Arkwright: in-ventou a “water frame”em 1769, máquina mo-vida a água e que pro-duzia fios grossos.

d) Samuel Crompton: inventou a “mule jenny”, em 1779, queproduzia fios finos mas resistentes.

e) Edmond Cartwright: inventou o tear mecânico, em 1785.

O desenvolvimento da máquina a vapor por James Watt, em1768, possibilitou superar o obstáculo da força motriz. Tradicio-nalmente eram utilizadas a energia humana, a animal, a eólica ea hidráulica. Nenhuma delas porém era tão adaptável e eficientecomo a energia a vapor, que podia ser utilizada nas fábricas, eestas podiam ser construídas próximas às fontes fornecedorasde matérias-primas.

As máquinas primitivas de madeira foram substituídas pelasde ferro. A fabricação de ferro fundido ganhou grande impulso apartir da substituição do carvão vegetal pelo mineral, transfor-mado em coque e com maior poder calorífico. Todas essas trans-formações arruinaram as pequenas oficinas artesanais e osartesãos foram transformados em operários.

Porém, apesar de todo o progresso econômico, as condiçõesde trabalho, na primeira fase da Revolução Industrial (1760 a1860) eram desumanas. Não havia legislação trabalhista nemproteção do Estado à classe trabalhadora. Assim, o trabalho nas

A máquina de fiação “Spinning Jenny”.

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198 História Geral

fábricas era realizado em ambientes úmidos e insalubres, e asjornadas atingiam dezesseis horas por dia, seis dias por sema-na. O salário meramente mantinha o trabalhador vivo. Nos bair-ros operários, as moradias eram péssimas, sem rede de água eesgoto, e muitos se entregavam ao alcoolismo. Não havia con-trato de trabalho, aposentadoria, férias, nem pensão para as viú-vas. As crianças órfãs eram encaminhadas aos orfanatos e aprostituição era a opção para muitas mulheres.

Em muitas fábricas era comum o em-prego de mulheres e crianças, por seruma mão-de-obra mais barata. Muitascrianças, retiradas dos orfanatos, mora-vam na própria fábrica, sujeitas à fome,frio, excesso de trabalho e acidentes commáquinas. Havia crianças, com menosde seis anos, trabalhando em fábricasde fiação e tecelagem.

Essas condições geraram protestosdos trabalhadores, mas como a lei ingle-sa proibia greves e associações operá-rias, a polícia reprimia-os com violência.

Fábricas foram destruídas pelos artesãos que temiam as con-corrências, porém inutilmente.

A máquina a vapor tambémrevolucionou o setor de trans-portes. A invenção do navio avapor por Robert Fulton, em1808, e a locomotiva, desenvol-vida por Stephenson, em 1825,foram os principais avanços. Aestrada de ferro revolucionouos transportes terrestres a tal ponto que o século XIX é chamadode “o século das ferrovias”. Em 1830 foi construída a primeira

Camponês artesão.

Barco a vapor.

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199História Geral

estrada de ferro comercialmente rentável na Inglaterra, ligandoManchester (centro têxtil) a Liverpool (porto marítimo).

Na verdade, a industrialização, sinônimo de desenvolvimento,foi o que a Inglaterra mais exportou. Nas primeiras décadas doséculo XIX, ela se difundiu pela Bélgica, França, Alemanha, Itá-lia e Estados Unidos.

Os meios financeiros ganharam extraordinária importância. Ocomércio e a indústria necessitavam de créditos para transformá-los em capital de giro. Os bancos financiavam os empreendi-mentos, criando uma dependência das indústrias, do comércio eaté mesmo dos governos. Os financistas se transformavam naaristocracia burguesa. Iniciava-se a era do “capitalismo financei-ro”, ainda hoje dominante.

As pesquisas, o desenvolvimento tecnológico e as transfor-mações sociais continuavam aceleradamente, apesar das cri-ses cíclicas, típicas do capitalismo. A segunda fase da revolu-ção, a partir de 1860, caracteriza-se pela produção do aço, pelainvenção do motor à explosão interna, energia elétrica e explora-ção do petróleo. Bessemer conseguiu, em 1856, produzir aço apartir da injeção de ar comprimido. A invenção do dínamo porFaraday possibilitou a utilização da energia elétrica em larga es-cala. Multiplicaram-se os métodos produtivos, objetivando bai-xar o custo de produção. Uma maior quantidade de pessoas po-dia adquirir esses produtos, transformando os hábitos sociais.

A urbanização era crescente. As cidades da Europa e dos Es-tados Unidos ganhavam iluminação a gás, rede de água e esgo-to, jornais, comunicação telegráfica, áreas de lazer etc. Mas ha-via muito contraste entre os bairros ricos e os bairros pobres.

Algumas grandes empresas passaram a absorver as peque-nas, dominando desde a produção de matéria-prima até a vendafinal dos produtos, formando os trustes. A associação de váriasempresas do mesmo ramo, controlando e garantindo os preçosde mercado, mas mantendo sua independência jurídica, consti-

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200 História Geral

Fábrica do século XIX.

tuíam os cartéis. Grupos finan-ceiros poderosos passaram acontrolar as bolsas de valores eo mercado acionário, compran-do ações de empresas de capi-tal aberto, detendo seu controleempresarial. Constituíam-se nosholdings.

O papel-moeda, com lastro noouro, substituiu a circulação demoedas metálicas. Iniciava-se aépoca do “padrão ouro” e que durou até a década de 1930.

Exercícios propostos

1) A Revolução Industrial, ao consolidar o modo de produção capitalista,trazia em seu bojo a contradição que impreterivelmente nasceria darelação capital–trabalho. Desta contradição nasceu a chamada“questão social”, que surgiu em decorrência dos problemas econô-micos e sociais criados pelo capitalismo. As forças de transforma-ção eram agora representadas pelas forças revolucionárias prole-tárias que passaram a levantar a bandeira do socialismo. Assim, ocapitalismo passou a ser contestado pelo socialismo que defendia,exceto:

a) A organização da classe operária revolucionária que, unida, implantariaao socialismo, derrubando pela força todas as condições sociaisexistentes.

b) A propriedade privada dos meios de produção, pois só assim oproletariado teria acesso aos instrumentos de trabalho e, conseqüen-temente aos frutos da produção.

c) A organização sindical, pois através dela o proletariado se organizariacomo classe e estabeleceria sua luta diária contra o capital.

d) A ditadura do proletariado, como objetivo de alcançar uma sociedadesem classes, em que todos desfrutariam de todos os bens sociais.

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201História Geral

e) A organização do Estado socialista que seria uma etapa transitóriada ditadura do proletariado, inevitável para atingir a sociedadecomunista.

2) Dentre as chamadas pré-condições da Revolução Industrial Inglesa,aquela que se relaciona mais diretamente com a questão da liberaçãoda mão-de-obra é:

a) O desenvolvimento científico e técnico exigindo sempre maior númerode trabalhadores.

b) A imigração irlandesa e escocesa que veio suprir os quadros inglesescarentes de operários.

c) O cercamento dos campos para criação de ovelhas e produção de lãnecessária à indústria fabril.

d) O declínio econômico e conseqüente desagregação das corporações deofícios.

e) O cercamento dos campos promovendo a desestruturação dospequenos produtores agrícolas, e o desenvolvimento do feudalismoagrário.

Questões de vestibular

1) (CESGRANRIO) A Revolução Industrial foi um fenômeno inglês queacelerou o processo de diferenciação entre as sociedades inglesa efrancesa, no decorrer do século XVIII. A variável social presente naFrança e que explica a desigualdade de ritmos no processo dedesenvolvimento capitalista das duas sociedades foi:

a) A existência de uma intensa e regular exportação de artigos de luxofranceses para as suas colônias, impedindo a ampliação da produçãode bens de primeira necessidade.

b) A carência de recursos monetários a serem investidos no diversificadosetor manufatureiro francês, em função dos gastos suntuários e dasaventuras bélicas da corte.

c) A incapacidade técnica dos franceses, devido ao estímulo do Estadoabsolutista à difusão das artes e à produção filosófica.

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202 História Geral

d) A escassez de mão-de-obra assalariável, em virtude de uma políticaestatal de tolerância em relação aos vadios e desempregados, queperambulavam pela principais cidades francesas.

e) A sobrevivência das terras comunais e a multiplicação de famíliascamponesas, inviabilizando o controle do capital no campo e a redefiniçãodas relações deste com a cidade.

2) (CESGRANRIO) A Revolução Industrial parte integrante de umprocesso bem mais amplo, que é do desenvolvimento do capitalismo,está intimamente ligada às mutações que se operaram em diferentessetores do campo econômico-social entre os séculos XV/XVI e o séculoXVIII, entre as quais se destacam as seguintes, COM EXCEÇÃO DE:

a) As transformações das estruturas agrárias, sobretudo os “cerca-mentos” dos campos, típicos da Inglaterra.

b) O constante declínio da utilização da mão-de-obra feminina e infantilpela burguesia, que investia nas indústrias nascentes.

c) A expropriação, em numerosas regiões, dos pequenos produtorescamponeses, levando-os ao êxodo rural.

d) A contínua formação e expansão de um exército de trabalhadores semmeios de produção próprios, nos campos e nas cidades.

e) O declínio das corporações de ofícios e o crescimento das manufaturasdomésticas ou não, rurais ou urbanas.

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203História Geral

Capítulo 17 – A Revolução Francesa de 1789

A Revolução Francesa causou profundas transformações eco-nômicas, políticas, sociais e culturais, além de tornar a burgue-sia a classe dominante. Ela foi uma verdadeira “revolução atlân-tica”, pelos seus efeitos na Europa Ocidental e na América Colo-nial, e seus efeitos foram sentidos ao longo de todo o século XIX.O mundo contemporâneo é, em boa parte, produto da Revolu-ção Francesa, por suas idéias de igualdade política e jurídica.

A crise geral, a sobrevivência de instituições políticas e jurídi-cas arcaicas, a persistência do sistema absolutista e dos privilé-gios socioeconômicos foram algumas de suas causas principais.

PARTE 5IDADE CONTEMPORÂNEAPARTE 5

Palácio de Versalhes.

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204 História Geral

Às vésperas da revolução, a França era uma nação rica, masem crise. A indústria e o comércio haviam-se desenvolvido, po-rém, as más condições climáticas na década de 1780 provoca-ram a escassez de alimentos e, conseqüentemente, faltava trigona mesa. Os salários eram baixos, e as terras mais férteis, con-centradas nas mãos da nobreza, eram improdutivas. Essa situa-ção favorecia a ação de revolucionários que culpavam o regimepelas crises.

A má situação financeira sufocava o orçamento do Estado. Aqueda na arrecadação contrastava com o desperdício de recur-sos governamentais. A dívida pública era alta e a burguesia serecusava a conceder novos empréstimos para cobrir o déficit dotesouro. A nobreza e o clero, as duas ordens privilegiadas, eramisentos do pagamento dos impostos. Em compensação, os cam-poneses ainda eram submetidos a obrigações feudais, como acorvéia, talha, banalidades e capitação.

O terceiro Estado (tiers) era composto de todo o “resto da po-pulação”, rural e urbana, estimada em 98% da nação. A burgue-sia formava a elite do “tiers”, mas dividia-se em várias camadas.A alta burguesia era constituída de financistas, banqueiros, ar-madores, industriais e grandes mercadores que procuravam searistocratizar, por meio de casamentos com mulheres da nobre-za e compra de títulos (nobreza de toga).

A média burguesia era formada pelos arrendatários, que vivi-am de suas propriedades urbanas e rurais, profissionais liberais,artistas etc. Já a pequena burguesia formava uma camada ativa,revolucionária, antiabsolutista e lutava pela implantação dos di-reitos individuais e liberais.

Nas cidades vivia uma massa de trabalhadores assalariados,artesãos, diaristas e servidores conhecidos, como sans-culottes(“sem calções”, traje usado pela nobreza), miseráveis que leva-vam uma vida desgraçada. Seriam a grande força da Revoluçãona sua fase mais radical. Nos campos habitava a maioria dos

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franceses (três quartos da população), ou seja, camponeses, ex-plorados pelos tradicionais privilégios senhoriais, sem terras eespoliados pelos grandes proprietários. O terceiro estado lutavapor igualdades civis, jurídicas e melhores condições de vida.

Em 1789, o déficit governamental previsto correspondia ao do-bro de todo o dinheiro que circulava na França. As despesascom a corte e setor militar eram as maiores. Como a nobreza e oclero não aceitavam perder seus privilégios, como a isenção, aúnica saída era a reunião dos Estados Gerais, ou seja, a assem-bléia dos representantes das ordens do Antigo Regime, nãoconvocada desde 1614.

Convocada por Luís XVI, a Assembléia se reuniu em Versalhespara discutir a crise francesa, em maio de 1789. O terceiro esta-do, representado pela burguesia, pretendia reformas profundas.

A Versalhes do rei Luís XVI.

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206 História Geral

No entanto, de acordo com a tradição, as matérias eram vota-das separadamente por cada estado. Como havia apenas trêsvotos, a união dos representantes do clero e da nobreza não per-mitia nenhuma mudança contra seus interesses. Mas, sendo onúmero de deputados do tiers (578) equivalente ao dos privilegia-dos (561), a burguesia propôs que a votação fosse por cabeça enão por ordem, ou seja, cada representante teria direito a um voto.A burguesia contava ainda com o apoio do baixo clero e de parteda nobreza (dissidentes), o que lhe daria maioria folgada.

Recusada a proposta, os representantes do Terceiro Estado aban-donaram Versalhes, dirigiram-se para Paris, onde, em um salão dejogos, se declararam em “Assembléia Nacional” (17 de junho), so-berana para decidir os rumos da França. O rei tentou fechar a As-sembléia Nacional, mas fracassou. No dia 9 de julho, o rei capitu-lou: determinou que os demais deputados se reunissem aos doTerceiro Estado: surgia a Assembléia Nacional Constituinte.

O objetivo era aprovar uma Constituição para a França, subs-tituindo o absolutismo pela monarquia constitucional. Enquantoa burguesia empolgava o povo com idéias inovadoras, a misériae a fome empurravam a massa para a revolução.

Em 14 de Julho de 1789 ocorreu, em Paris, o ataque à fortale-za-prisão da Bastilha, símbolo do absolutismo. Enquanto isso, oscamponeses queimavam os castelos, destruindo os documentosque especificavam os direitos senhoriais. Era o “Grande Medo”.Muitos nobres fugiam para os países absolutistas (emigração).

Na noite de 4 para 5 de agosto, a Assembléia Nacional Cons-tituinte revogou todos os direitos tradicionais, destruindo os ve-lhos privilégios. Era o fim do feudalismo. Em 26 de agosto, apro-vava a “Declaração de Direitos do Homem e do Cidadão”, esta-belecendo a igualdade civil e jurídica, direito de resistência àopressão e garantindo o direito de propriedade. A nova ordemburguesa chegava à França, baseada não mais no nascimento(origem), mas na propriedade (riqueza). A Guarda Nacional,

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207História Geral

formada após a queda da Bastilha, comandada por La Fayette,era o instrumento de manutenção da ordem burguesa.

Os grupos políticos se multiplicavam, destacando-se os jaco-binos, republicanos, liderados por Robespierre, e que represen-tavam os interesses da pequena e média burguesia.

Em 1790 foi aprovada a Constituição Civil do Clero francês.Os bens da Igreja foram confiscados e usados como lastro danova moeda, os “assignats”. Os clérigos foram transformadosem funcionários do governo. Tendo a Igreja condenado as medi-das, ocorreu uma divisão entre os seus membros: o “clero refra-tário”, que não aderiu, e o “clero juramentado”, que aceitou aconstituição, aliando-se à burguesia revolucionária.

No plenário da Assembléia, os deputados se agruparam deacordo com suas tendências. À esquerda, sentaram-se os revo-lucionários jacobinos; à direita, os reacionários monarquistas

“A Queda da Bastilha”.

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absolutistas. No centro, os moderados. É a origem das expres-sões políticas, largamente utilizadas ainda hoje.

Em 1791, a Constituição foi promulgada, transformando a Fran-ça em uma monarquia constitucional. O poder foi dividido emexecutivo, legislativo e judiciário. O rei, a Assembléia Nacional eos tribunais exerceriam esses poderes, respectivamente. Os de-putados seriam eleitos pelo voto censitário, excluindo-se das elei-ções a grande maioria da população.

Luís XVI tentavarecuperar seu po-der absoluto. Cons-pirava internamen-te com os aristocra-tas e, externamen-te, com os reis ab-solutistas. Disfarça-do, tentou fugir daFrança, mas foi re-conhecido e apri-sionado em Va-rennes, na fronteiracom o Império Austríaco. Acusado de traição, foi levado a Paris emantido sob vigilância. Formaram-se dois partidos: os aristocra-tas monarquistas e os patriotas republicanos, subdivididos emgirondinos (moderados, representavam ideologicamente a alta bur-guesia), ‘brissotins” (ligados à média burguesia instruída) ejacobinos (próximos à pequena burguesia).

Os reis europeus absolutistas ameaçavam a França com seusexércitos. Luís XVI, manobrando politicamente, buscou apoio nosgirondinos e “brissottins”. Formou um ministério com seus novosaliados, que declarou guerra à Áustria, principal país absolutista.O rei tinha certeza da derrota francesa, o que permitiria recupe-rar seus poderes absolutos. Agravando a situação, padres re-

Uma época marcada por revoluções.

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209História Geral

fratários manobravam os camponeses contra a revolução (“Re-belião da Vendéia”). A situação da França era crítica.

Os austríacos, aliados aos prus-sianos, invadiram o país, em dire-ção a Paris. Para defendê-la, aAssembléia proclamou “a pátriaem perigo”. Numerosos batalhõespopulares foram formados, hinospatrióticos (como a Marselhesa)foram compostos. Um verdadeirodelírio popular. Surpreendente-mente, os exércitos invasores fo-ram derrotados na Batalha deValmy, em 20 de setembro de1792. Luís XVI, acusado de cum-plicidade, foi deposto. A monarquiados Bourbon chegava ao fim, coma implantação da República. Ini-ciava-se a fase da Convenção Re-publicana, dominada inicialmente pela alta burguesia republica-na (Convenção da Gironda).

Em 1793, foi promulgada a nova Constituição, também cha-mada de Constituição do Ano I da República, de acordo com onovo calendário revolucionário. Uma imensa onda de des-cristianização varreu a França. O poder executivo foi entregue àConvenção, onde a montanha (que agrupava os jacobinos) e aplanície (núcleo dos girondinos) se rivalizavam. Introduziu-se osufrágio universal masculino e a Igreja foi separada do Estado.Pela primeira vez na história o povo tinha direito ao voto.

Os jacobinos e os sans-culottes exigiram o julgamento do rei,contra a vontade dos moderados girondinos, que temiam aradicalização do movimento. Passado por julgamento, o rei foicondenado à morte e guilhotinado, em 21 de janeiro de 1793.

Luís XVI depede-se da família.

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Temerosos, os monarcas europeus formaram a “primeira coli-gação” para esmagar a revolução. A ameaça externa provocou aadoção de medidas excepcionais. A montanha assumiu o poder,instaurando-se a “ditadura jacobina” (Convenção da Montanha).Foram reforçados o Comitê de Salvação Pública, o Comitê deSegurança Geral e os Tribunais Revolucionários, instrumentosda ditadura que dominava a França.

Os montanheses eram lide-rados por Robespierre (nocentro da esquerda), Danton(à direita) e Marat (à esquer-da). Ultra-radical, Marat que-ria levar a revolução às suasúltimas conseqüências. Edita-va o jornal “O Amigo do Povo”e liderava os sans-culottes,até ser assassinado pelagirondina Charlotte Corday.

O regime se radicalizou.Iniciava-se o Terror em se-tembro de 1793.

Os acusados de “anti-revolucionários” eram sumariamente jul-gados e guilhotinados. A montanha, dominada por Robespierre,“o incorruptível”, colocou-se ao centro, liquidando a esquerda dopolítico radical “enraivecido”, Hebért (sucessor de Marat), e adireita chefiada por Danton, “o indulgente”, ambos guilhotinados.

O anticlericalismo acentuou-se com a introdução do culto dadeusa Razão. A escravidão foi abolida nas colônias. As proprie-dades, abandonadas pela “nobreza emigrada”, foram confiscadase vendidas, ou distribuídas em parcelas aos camponeses.

Nesse quadro de radicalização republicana jacobina, as na-ções absolutistas formaram a segunda coligação, atacando oterritório francês e tomando-lhe possessões no Atlântico e no

“A morte de Marat”, de David.

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Mediterrâneo. Embora parlamentar, a Inglaterra participava daguerra, alegando a necessidade de salvar a civilização. Na ver-dade, procurava eliminar sua grande rival.

Enfraquecida externamente, a França via surgir a “reação daalta burguesia”. Os remanescentes girondinos prepararam umgolpe contra Robespierre, isolado e desgastado pela luta pelopoder. A crise de abastecimento, a alta dos preços, as traições, afuga de capitais enfraqueciam seu governo. Desencadeou-se ogolpe “9 Termidor”, pelo calendário revolucionário. Nesse dia (25de julho de 1794), Robespierre foi preso, julgado sumariamentee guilhotinado. Era o fim da Convenção da Montanha, do gover-no jacobino e do Terror. A alta burguesia voltava ao poder, com aConvenção Termidoriana.

Uma nova Constituição foi promulgada: a de 1795, ou doAno III da República, que restabelecia o voto censitário; 2/3do legislativo foi ocupado obrigatoriamente pelos termidoria-nos, isto é, por aqueles que participaram do golpe. Instituiu-se o Diretório, encarregado do poder executivo, composto porcinco diretores. O legislativo foi transformado em bicameral,constituído pelo Conselho dos Anciãos (Senado) e pelo Con-selho dos Quinhentos (Câmara dos Deputados). O povo foiexcluído do processo político.

O novo governo procurou ganhar o apoio dos setores descon-tentes. A liberdade de culto foi restabelecida e a propriedadeparticular protegida. Iniciou-se a volta dos “emigrados” (aristo-cratas e absolutistas) às atividades políticas.

A agitação revolucionária ia sendo liquidada. Uma última ten-tativa popular de ganhar o poder fracassou. A “Conspiração dosIguais”, um movimento pré-socialista, chefiada por Babeuf, foidenunciada, seus líderes presos e executados. Para desviar asatenções e obter recursos para sanar o déficit governamentalpor meio de saques, o Diretório preparou uma grande ação mili-tar contra a Áustria. O comando da “Campanha da Itália” foi entre-

å

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212 História Geral

gue ao jovem Napoleão, que havia sufocado uma tentativa degolpe dos realistas (monarquistas). Vencedor na península,Napoleão fez a paz em separado com os austríacos e iniciou a“Campanha do Egito”, para cortar uma das rotas do comércioinglês com a Índia.

Porém, a situação política na França se agravou. Os boatosdiziam que o Diretório estava ameaçado por um golpe da es-querda. Por sua vez, os jacobinos acusavam a burguesia e osrealistas de tramar um golpe de direita. A instabilidade do regimeera evidente.

Perante o clima golpista da esquerda e da direita, os detento-res do poder tramaram o seu próprio golpe. Convocaram o ge-neral Napoleão de volta a Paris, entregaram a ele o comando detodas as tropas sediadas na Capital. Iniciava-se o “18 Brumário”e o “Período Napoleônico”.

Napoleão Bonaparte durante uma de suas campanhas.

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213História Geral

Exercícios propostos

1) “Para a maior parte do país, a ditadura se revelava mais evidente – emais perigosa – quando se infringia a lei”.Em teoria, o regime adaptava o ponto de vista que, mais tarde, viriaa ser chamado ‘ditadura democrática do proletariado’, regime benignopara com o ‘povo’, mas impiedoso para com os seus inimigos. Barèreexplicava que a verdadeira humanidade consistia em exterminar osinimigos da humanidade.”

(Hampson - A Primeira Revolução Européia.)Assinale a alternativa correta:

a) A ditadura jacobina tornou-se perigosa quando ela infringiu suaspróprias leis.

b) A “ditadura democrática do proletariado” é a mesma de Marx.c) A idéia de Barère era exterminar todos os inimigos da humanidade,

apenas para o triunfo da Revolução.d) A idéia da ditadura jacobina era baixar a revolução ao nível de pequena

burguesia.e) Entende-se por “povo” todos os seres humanos que constituem a

sociedade.

2) Um dos episódios históricos de maior relevância para a humanidadefoi a Revolução Francesa. Sobre ela pode se afirmar que:

a) A denominada fase do Terror ocorreu sob a liderança de expressivosmembros do Primeiro Estado, principalmente dos grupos extremistasgirondinos.

b) Marat, Danton e Montesquieu, liderando a ala dos jacobinos, organi-zaram o golpe de Estado de Napoleão Bonaparte.

c) Foi amplamente influenciada pelas idéias de Rousseau, quepressupõem que os seres humanos nascem livres e iguais, e que acomunidade pode destituir os governantes que se negam a executara vontade geral.

d) Adotou a forma tripartite de governo concebida por Robespierre, atravésdo movimento conhecido como Reação Termidoriana.

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e) Teve no 18 brumário um de seus eventos mais importantes, com a quedada Bastilha e o fim da era vitoriana.

Questões de vestibular

1) (FUVEST) Do ponto de vista social, pode-se afirmar, sobre a RevoluçãoFrancesa, que:

a) Teve resultados efêmeros, pois foi iniciada, dirigida e apropriadapor uma só classe social, a burguesia, única beneficiária da novaordem.

b) Fracassou, pois, apesar do terror e da violência, não conseguiu impediro retorno das forças sócio-políticas do Antigo Regime.

c) Nela coexistiram três revoluções sociais distintas: uma revoluçãoburguesa, uma camponesa e uma popular urbana, a dos chamados sans-culottes.

d) Foi um fracasso, apesar do sucesso político, pois, ao garantir aspequenas propriedades aos camponeses, atrasou em mais de um século,o progresso econômico da França.

e) Abortou, pois a nobreza sendo uma classe coesa, tanto do ponto devista da riqueza, quanto do ponto de vista político, impediu que aburguesia a concluísse.

2) (FUVEST) “Mesmo se o alvo perseguido não tivesse sido alcançado,mesmo se a constituição por fim fracassasse, ou se se voltasseprogressivamente ao Antigo Regime, ... tal acontecimento é pordemais imenso, por demais identificado aos interesses da humani-dade, tem demasiada influência sobre todas as partes do mundopara que os povos, em outras circunstâncias, dele não se lembrem enão sejam levados a recomeçar a experiência”

(Kant, O Conflito das Faculdades, 1798.)O texto trata:

a) Do iluminismo e do avanço irreversível do conhecimento filosófico;revelando-se falso nos seus prognósticos sobre o futuro político-constitucional.

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b) Do retorno do Antigo Regime, na Europa, depois do fracasso daRevolução Francesa, revelando-se incapaz de vislumbrar o futuro dahistória.

c) Da Revolução Francesa, dos seus desdobramentos políticos e cons-titucionais, revelando a clarividência do autor sobre sua importância eseu futuro.

d) Da Revolução Inglesa, do impacto que causou no mundo, com seusprincípios liberais e constitucionais, revelando-se profético sobre seufuturo.

e) Do despotismo ilustrado, dos seus princípios filosóficos e cons-titucionais e de seu impacto na política européia, revelando caráterpremonitório.

3) (CESGRANRIO) “A Assembléia Nacional, desejando estabelecer aConstituição francesa sobre a base dos princípios que ela acaba dereconhecer e declarar, abole irrevogavelmente as instituições queferem a liberdade e a igualdade dos direitos. Não há mais nobreza,nem pariato, nem distinções hereditárias, nem distinções de origens,nem regime feudal ... Não existe mais, para qualquer parte da Nação,nem para qualquer indivíduo, privilégio algum, nem exceção ao direitocomum de todos os franceses...”O texto anterior, preâmbulo da Constituição francesa de 1791, ca-racteriza com nitidez a obra da Revolução Francesa em sua primeirafase, sendo, a esse respeito, possível afirmar, com exceção de:

a) Nesta etapa, a Revolução Francesa caracteriza-se pela abolição detodas as sobrevivências feudais.

b) Sob a liderança da burguesia, a Revolução afirma os princípios daigualdade e da liberdade de todos os cidadãos.

c) A burguesia, embora abolindo as instituições feudais, buscou preservartudo aquilo que se originasse do direito de propriedade.

d) A forma política adotada em 1791 foi a da monarquia constitucional,mais o menos inspirada no modelo inglês.

e) A fim de garantir os direitos individuais, foram mantidas as corporaçõese guildas mercantis ou artesanais há muito existentes.

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Capítulo 18 – O período napoleônico(1798-1815)

A ascensão de Napoleão ao poder ocorreu quando os própri-os membros do Diretório articularam um golpe de Estado, ocorri-do no dia 18 Brumário do Ano VIII (9 de novembro de 1799).

Napoleão fora nomeado comandante das tropas sediadas emParis, quando se difundia um boato de que os jacobinos prepa-ravam um golpe. Desesperados, os jacobinos ocuparam o Se-nado e o Conselho dos 500, negando o golpe e acusando oDiretório e Bonaparte de serem os verdadeiros golpistas. Criadoo tumulto, as tropas napoleônicas invadiram o legislativo, a cha-mado do presidente, Luciano Bonaparte, seu irmão, para impora ordem. Fechado o legislativo, Napoleão proclamou a destitui-ção do Diretório e outorgou uma nova Constituição, preparadade antemão, instituindo o consulado. Um governo provisório foiorganizado na forma de um Consulado tríplice, exercido porNapoleão Bonaparte, Ducos e Sieyes.

Napoleão, primeiro-cônsul, procurou a pacificação interna e ex-terna. Permitiu a volta dos emigrados, desde que não reivindicas-sem os seus bens confiscados pela Revolução, e normalizou asrelações com a Igreja Católica por meio da assinatura da Concordatade 1801. O papa Pio VII aceitou a perda dos bens da Igreja, a liber-dade de culto e a nomeação dos bispos pelo governo. Em troca, aFrança se comprometeu a pagar os salários do clero. Com isso,cessava a oposição do clero refratário, e a população católica pas-sava a apoiar o Consulado. Era o grande objetivo de Napoleão.

A ascensão de um governo forte propiciou a consolidação daalta burguesia no poder. A sua confiança no Estado cresceu coma fundação do Banco da França, que passou a emitir papel-moe-da com lastro no ouro depositado. Estabilizava-se o sistema fi-nanceiro francês.

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Uma comissão redigiu o Código Civil. O princípio fundamental seassentava na igualdade de todos perante a lei e a proteção da pro-priedade particular. Teve enorme influência nos códigos de outrospaíses. A reforma administrativa teve o apoio do povo francês. Comoa popularidade de Napoleão era grande, ele aproveitou para sub-meter uma reforma constitucional a um plebiscito. Obtida uma es-magadora vitória, nascia a Constituição do Ano X, em 1802: o pri-meiro-cônsul teria uma mandato vitalício e podia designar o seusucessor. Nascia uma nova monarquia, ainda que disfarçada.

Pretextando um atentado de monarquistas, o Senado aprovouuma lei que declarava Napoleão imperador. A mudança foi apro-vada pela população em um plebiscito, por enorme maioria devotos, em 1804. A Constituição do Ano XII estabelecia que o po-der executivo seria exercido por Bonaparte como imperador. Emdezembro de 1804, coroou a si mesmo na Catedral de NotreDame. Enquanto isso, o exército francês, em campanha militar,era recebido pela população como libertador e propagador dosideais de igualdade.

As reformas econômicas foram aprofundadas. Embora se re-afirmassem os princípios liberais e de defesa da propriedade, oEstado intervinha na economia, em benefício da burguesia. Apro-vada a reforma tributária, com a simplificação dos impostos, aagricultura e a indústria conheceram enorme expansão. Tarifasprotecionistas foram aplicadas, garantindo o mercado interno paraa burguesia nacional.

Como as campanhas militares não eram decisivas, pois se aFrança tinha superioridade terrestre, a Inglaterra dominava asrotas marítimas, Napoleão optou por “uma guerra econômica”,para liquidar com a preponderância industrial britânica. Obrigouas nações européias e suas colônias a não comerciar com aInglaterra. Pensava arruinar o comércio inglês e garantir o mer-cado europeu para os produtos franceses. Era o Bloqueio Conti-nental, decretado em 1806. As nações européias ou aderiam aele ou seriam invadidas por tropas francesas. A primeira grande

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vítima foi a Espanha,ocupada pelos france-ses. A seguir, Portugal,cujo regente, D. João,contemporizava, oraagradando a Inglater-ra, ora a França. Inva-dido o país, a adminis-tração portuguesa serefugiou no Brasil.

Porém, a economiaeuropéia sofria umagrande crise provocadapelo bloqueio continental francês e pelo bloqueio naval inglês. Re-ações populares ocorreram na Península Ibérica e a Inglaterra seaproveitou dos levantes, desembarcando. Os franceses foram ex-pulsos de Portugal e da Espanha, com milhares de baixas.

A Rússia prejudicada economicamente, pois não podia expor-tar trigo para a Inglaterra, em troca de produtos industriais, rom-peu com o bloqueio, em 1812. A reação francesa foi a invasão daRússia, com os russos se utilizando da tática de terra arrasada,isto é, recuavam, mas destruíam tudo que pudesse ser utilizadopelos invasores. Moscou, abandonada, foi ocupada por Napoleão,mas o rigoroso inverno caiu sobre suas tropas. Napoleão, então,determinou a retirada. O desastre na Rússia estimulou a forma-ção de outra coligação, que derrotou o que restava do poderosoexército francês na Batalha das Nações, em Leipzig, em 1813.

Para evitar a invasão da França e a ocupação de Paris, o impera-dor abdicou. Partiu para a ilha de Elba, no Mediterrâneo, enquantoa família real dos Bourbon voltava ao poder. O irmão de Luís XVI,assumiu como Luís XVIII. Era a “Restauração Monárquica”.

Aproveitando a insatisfação geral, motivada pela má adminis-tração do rei, Bonaparte abandonou Elba, voltou a Paris, acla-mado pelo povo, enquanto Luís XVIII fugia para a Bélgica. Mas

Cena de uma das guerras napoleônicas, pintura de Goya.

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os países europeus agiram rapidamente diante da volta deNapoleão ao poder.

Decorridos cem dias de seu governo, Napoleão foi levado acombater os exércitos da sexta coligação. Tropas britânicas eprussianas derrotaram os franceses em Waterloo, em junho de1815. Preso pelos ingleses, foi confinado na ilha de Santa Hele-na, na costa africana, onde morreu seis anos depois.

Exercício proposto1) O período napoleônico pode ser considerado como:a) A anulação completa, em todos os setores políticos, sociais e

econômicos, dos ideais da Revolução Francesa de 1789.b) A consolidação das conquistas econômicas e sociais da burguesia.c) A vitória das forças monárquicas e anti-revolucionárias.

A Batalha de Waterloo.

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220 História Geral

d) A consolidação do direito de cidadania a todo o povo francês.e) O fim da Revolução Francesa, por culpa exclusiva das ambições do general.

Questões de vestibular

1) (UFRGS) Os países europeus ocupados por Napoleão assimilaramalguns princípios da Revolução Francesa de 1789, o que provocouconseqüências, como, por exemplo:

a) O aumento da influência do patrimônio da Igreja e do poder dos tribunaiseclesiásticos.

b) A consolidação das corporações de ofícios, oriundas do Antigo Regime.c) O empobrecimento da burguesia, que se desgasta materialmente ao

apoiar a Revolução.d) O enfraquecimento dos privilégios da nobreza e da autoridade do clero.e) A indignação dos camponeses, por não terem sido isentos do

pagamento de dízimos e direitos feudais.

2) (UFBA) A pressão napoleônica sobre a Europa resultava, no planosócio-econômico:

a) Do rompimento do Bloqueio Continental pelos russos.b) Do crescimento da burguesia francesa e seu interesse no controle de

mercados.c) Da rivalidade militar entre França e Inglaterra.d) Do interesse em apossar-se dos portos marítimos do Mediterrâneo.e) Da aliança franco-russa com o objetivo de dominar a Europa.

Capítulo 19 – O Congresso de Viena e aSanta Aliança

Depois de mais de duas décadas de guerras, alterações ter-ritoriais e deposições de casas reais, os países vencedores pro-curaram alcançar uma paz duradoura na Europa. Reunidos no

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Congresso de Viena, os principais governantes europeus obje-tivavam alcançar o equilíbrio de forças e o restabelecimento davelha ordem. O encontro, iniciado em 1814, foi interrompido tem-porariamente, durante os “Cem Dias” de Napoleão.

Apesar dos ideais, os interesses particulares de países, como aInglaterra, que desejava manter sua hegemonia marítima e domí-nio de mercados; a Rússia, que pretendia a hegemonia universal; aÁustria a hegemonia no continente europeu, e a Prússia, a hege-monia sobre os países germânicos dominaram os trabalhos. A Fran-ça “restaurada” também participou ativamente do Congresso.

Curiosamente, os diplomatas realmente se reuniam nos inter-valos de bailes, passeios e banquetes. Destacaram-se Metternich,chanceler austríaco e inspirador do Congresso; Talleyrand, re-presentante francês, que agia com astúcia para diminuir as puni-ções que certamente a França sofreria; Castlereagh, defensordos interesses comerciais britânicos; Alexandre I, czar russo, ultrareligioso e reacionário, ambicioso por mais possessões territo-riais; e Frederico Guilherme III, rei da Prússia, que almejava aunificação dos Estados alemães sob sua liderança.

O diplomata francês propôs o “princípio da legitimidade”, ouseja, todos os soberanos le-gítimos deviam ser restaura-dos nos seus direitos, o quesignificava a volta de reis abso-lutistas ao poder. Eles deviampertencer às dinastias quegovernavam antes de 1789.Assim, foram restaurados LuísXVIII na França, da dinastiaBourbon; Fernando VII, naEspanha, também Bourbon, ea soberania papal sobre todosos antigos territórios. Sátira ao Congresso de Viena.

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Talleyrand também defendia o retorno às fronteiras européiasdo período anterior à Revolução Francesa de 1789, uma mano-bra para preservar a integridade territorial da França. O Con-gresso de Viena organizou o “equilíbrio europeu”, repartindo ter-ritórios entre os soberanos, sem considerar os povos que os ha-bitavam. Como exemplo, a católica Bélgica foi unificada à cal-vinista Holanda.

Por seu lado, a Inglaterra, preocupada com pontos estratégi-cos, apossou-se de Malta, uma ilha no Mediterrâneo; do Caboda Boa Esperança, no extremo sul da África; da ilha do Ceilão,na Ásia. Assim, ampliou bases para assegurar domínio das rotascomerciais. E obteve ainda a recomendação de que todos ospaíses deveriam abolir o tráfico negreiro e acabar com a escravi-dão. O capitalismo industrial britânico necessitava de mercados.

Para sufocar qualquer manifestação revolucionária no conti-nente europeu, foi fundada a Santa Aliança, no dia 25 de dezem-bro de 1815, idealizada pelo czar Alexandre I. Era uma organiza-ção supranacional para impedir que o liberalismo pudesse nova-mente ser implantado em qualquer país da Europa. Algumas ten-tativas de revoluções liberais democráticas foram sufocadas pelaSanta Aliança. A intervenção militar mais importante ocorreu naEspanha, em 1822, restabelecendo o absolutismo.

Como as colônias espanholas haviam se aproveitado da de-posição de Fernando VII por Napoleão e proclamaram a sua in-dependência, a Santa Aliança trabalhou para que a Espanha asrecuperasse e restabelecesse seu monopólio comercial.

Porém, a Inglaterra, país industrial e parlamentar, se colocouradicalmente contra a intervenção européia na América. O seuinteresse era preservar a independência das ex-colônias, já en-tão mercados controlados diretamente por ela. Sem força naval,a Santa Aliança não teve condições de impor sua vontade.

Paralelamente, o presidente americano James Monroe seposicionou como defensor natural da América, com a edição da

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Doutrina de Monroe, em 1823, sintetizada na frase “América paraos americanos”. Os Estados Unidos, ao garantir a independên-cia das ex-colônias ibéricas, tentavam reservar áreas e merca-dos para a sua futura influência.

A Santa Aliança, entidade reacionária, absolutista, era anacrô-nica, portanto incapaz de deter o avanço do liberalismo, dos movi-mentos nacionalistas na Europa e emancipacionistas na América.

Questões de vestibular

1) (FUVEST) Após a queda do Império Napoleônico reuniram-se ospaíses europeus com o objetivo de restabelecer o mapa político daEuropa. Três foram os princípios fundamentas que nortearam ostrabalhos deste famoso Congresso de Viena, a saber:

a) Legitimidade, fortalecimento dos Estados limítrofes com a França eequilíbrio de forças entre as Nações.

b) Legitimidade, restauração da República em França e preponderânciaaustro-prussiana.

c) Fortalecimento dos Estados limítrofes com a França, equilíbrio de forçasentre as Nações e dominação prussiana do nordeste francês.

d) Legitimidade, fortalecimento dos Estados limítrofes com a França ereforço do colonialismo francês.

e) Legitimidade, fortalecimento político da Inglaterra e Prússia erestauração das colônias francesas.

2) (CESGRANRIO) O Princípio de Legitimidade, defendido pelo Congressode Viena, que procurava garantir o direito divino dos Reis, foi elaboradopor Talleyrand, contra as conseqüências:

a) Da Revolução Industrial.b) Da Revolução Francesa.c) Dos movimentos de emancipação da América.d) Da política mercantilista.e) Da política pontificial.

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224 História Geral

3) (PUC-SP) A idéia básica que orientou o Congresso de Viena foi a deque as dinastias reinantes da Europa antes da ação napoleônicadeveriam ser restauradas no poder e que cada país deveria readquiriressencialmente os territórios que possuía em 1789. Esta idéia,desenvolvida por Talleyrand, representante francês, chamou-se:

a) Teoria do direito divino.b) Teoria evolucionista.c) Princípio de Legitimidade.d) Sistema de Alianças.e) Princípio das Nacionalidades.

Capítulo 20 – A independência dascolônias espanholas na América

O império espanhol na América se estendia desde a Califórniaaté a Terra do Fogo. Suas principais áreas eram os quatro vice-reinos: Nova Espanha ou México, Nova Granada (Colômbia), Perue Prata (Argentina). Havia ainda as capitanias do Chile,Venezuela, Guatemala e Cuba. As audiências (tribunais) e os

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cabildos (câmaras municipais) completavam os órgãos de admi-nistração, todos submetidos ao Conselho das Índias.

A elite social era constituída pelos chapetones, administrado-res espanhóis nomeados pelo rei. A aristocracia agrária colonialera formada de descendentes de espanhóis, os criollos. Nasci-dos na América, detinham a posse das terras dedicadas à agro-pecuária e mineração. Os mestiços, de brancos e índios, forma-vam uma massa de miseráveis marginalizados.

Embora proibida, a escravidão indígena era comum. Sob opretexto da “guerra justa”, os índios que resistiam à dominaçãoespanhola poderiam ser escravizados. Sobre a população nati-va aplicavam-se o “encomenda” (sua distribuição entre os colo-nos, que podiam explorá-los em atividades agropecuárias, emtroca da catequese) e a mita (trabalho obrigatório na minas deprata). Os negros escravos eram utilizados, em grande número,na lavoura canavieira nas Antilhas.

Com a abdicação forçada de Fernando VII, rei da Espanha,para favorecer José Bonaparte, irmão de Napoleão, a elite colo-nial, que não aceitava a usurpação, organizou juntas governativas,rompendo com a metrópole.

A grande extensão colonial, as rivalidades coloniais e a exis-tência de áreas econômicas distintas motivaram movimentos pró-independência isolados.

No México, após um longo processo bastante conturbado, en-volvendo ambições pessoais de líderes criollos, como Mina eIturbide e os padres Hidalgo e Morelos, e muitos fuzilamentos, aindependência foi finalmente alcançada em 1824.

Em muitas áreas houve resistência de tropas espanholas, o quelevou à guerra da independência. Um dos destaques da luta pelaemancipação foi um jovem revolucionário criollo, Simon Bolívar,brilhante chefe militar, que derrotou o exército metropolitano nasregiões compreendidas pelos atuais Equador, Colômbia e Ve-nezuela, entre 1819 e 1822. Ali foi formado um grande Estado,sob o controle do libertador, mas posteriormente fracionado.

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226 História Geral

No Vice-Reino do Prata, o processo da independência foi con-duzido pelos criollos de Buenos Aires que formaram uma juntagovernativa, depuseram o vice-rei espanhol e entregaram poste-riormente o poder a San Martin (1816). Porém, devido à grandeextensão territorial formaram-se áreas autônomas, como em As-sunção. Não aceitando a hegemonia de Buenos Aires, os criolloslocais, liderados por Francia, proclamaram a independência doParaguai (1813).

A consolidação da soberania das colônias só poderia ser con-cretizada após a libertação do Peru, o mais importante domínioespanhol na América do Sul. Ali, exércitos espanhóis procura-vam manter o domínio metropolitano. Mas, invadido ao norte porBolívar, e ao sul por San Martin, Lima foi conquistada em 1821,sendo proclamada a independência. Três anos antes, o famoso“exército dos Andes”, comandado por San Martin, ajudouO’Higgins a libertar o Chile. Em 1824, Sucre derrotava os espa-nhóis e alcançava a independência da Bolívia.

Porém, a América do Sul de língua espanhola não alcançousua unidade administrativa. Além da grande extensão territorial,os próprios libertadores não se entendiam. San Martin e Bolívarse encontraram em Guaiaquil, em 1822, para alcançar um acor-do, mas constataram defender posições antagônicas. San Martin,adepto do federalismo, propunha autonomia local, sob domínioda aristocracia rural. Bolívar era centralista, acreditando que ape-nas um governo forte poderia manter a ordem e evitar que aregião fosse submetida a uma outra forma de dominação que jáse esboçava: a econômica inglesa.

Exercícios propostos

1) O movimento de independência na América Latina teria sido ba-sicamente o resultado:

a) Da crescente participação francesa em assuntos latino-americanosde forma a facilitar a conquista da península Ibérica por Napoleão.

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b) De amplos movimentos de massas liderados por figuras de baixaextração social como Bolívar, San Martin e outros, que esperavam coma independência dar maior oportunidade às classes menos favorecidas.

c) Da crescente participação norte-americana em assuntos latino-ame-ricanos como forma de assegurar a não-interferência européia em todasas Américas.

d) Reflexo do crescente antagonismo entre a Inglaterra e a Espanha quese traduziu, em termos coloniais, em incitações à revolta promovidaspelos britânicos.

e) Do crescente antagonismo entre os peninsulares (espanhóis) e asoligarquias locais com um elemento deflagrador representado pelainvasão da Espanha por Napoleão.

2) A Inglaterra apoiou os movimentos de independência das colôniasluso-espanholas devido ao(à):

a) Receio da expansão comercial das colônias.b) Influência das idéias geradas pela Revolução Francesa.c) Influência das novas idéias políticas do século XVIII sobre a Espanha e

Portugal.d) Necessidade de aumentar a produção industrial das colônias.e) Necessidade de assegurar novos mercados para seus produtos.

3) A Inglaterra apoiou os movimentos de independência da AméricaEspanhola no século XIX porque queria:

a) Implantar na América as idéias liberais expressas por Locke.b) Abrir mercados consumidores para sua crescente produção industrial.c) Fazer cumprir os princípios intervencionistas estabelecidos pela Santa

Aliança.d) Auxílio militar das colônias espanholas contra Napoleão.e) Dominar o tráfico de escravos para a América.

Questão de vestibular1) (UFSCAR-SP) A independência das colônias espanholas da América

deveu-se a diversos fatores.

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Assinale a opção na qual todos os fatores relacionados contribuírampara essa independência.

a) Política mercantilista da Espanha, influência da independência brasileira,interesse dos Estados Unidos no comércio das colônias espanholas.

b) Monopólio comercial em benefício da metrópole; desigualdade de direitosentre os criollos, nascidos na colônia, e os chapetones, nascidos naEspanha; enfraquecimento da Espanha pelas guerras napoleônicas.

c) Influência das idéias políticas de Maquiavel, auxílio militar brasileiro àindependência dos territórios vizinhos, exemplo da independência dosEstados Unidos.

d) Liberalismo político e econômico, adotado pelas cortes espanholas;enfraquecimento do governo espanhol por causa da intervenção militarfrancesa; política do Congresso de Viena favorável à independência dascolônias.

e) Interesse econômico da Inglaterra na independência das colônias;política de suspensão das restrições às colônias, seguida pelo governode José Bonaparte; aliança entre chapetones, colonos nascidos na Es-panha, e criollos, nascidos nas colônias, para promover a independência.

Capítulo 21 – As grandes correntesideológicas do século XIX: liberalismo esocialismo

O liberalismo

Opondo-se ao mercantilismo, surgiu uma corrente liberal, quepropunha a liberdade de produção e comercialização, o fisio-cracismo. Sua essência era: “Deixai fazer, deixai passar”. Valori-zava a agricultura como sendo realmente a atividade produtorade riqueza. A pessoa mais importante dessa escola foi o francêsQuesnay (1694-1778).

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Já os economistas clássicos, liderados por Adam Smith(1723-1790), estudaram o desenvolvimento do capitalismoindustrial e formularam as primeiras teorias da nova ciência, aeconomia política.

Em sua obra A Riqueza das Nações, Adam Smith consideravaque o trabalho é a origem de toda a riqueza, criticando os mercan-tilistas, que afirmavam ser o comércio o grande gerador de ri-queza, e os fisiocratas, que diziam ser a agricultura.

Segundo Smith, a divisão do trabalho implicaria em um au-mento da produtividade e produção. Assim, se cada operário fi-zesse apenas uma operação numa fábrica, especializando-se,haveria aumento da produtividade e, conseqüentemente, daprodução, com a diminuição dos custos. Com preços meno-res, ocorreria um aumento no consumo. Assim, mais pessoasadquiririam as mercadorias e melhorariam sua qualidade devida.

Para Smith, sendo as leis econômicas naturais, elas dis-pensariam a atuação do Estado, que não deveria se intro-meter no processo econômico, agindo apenas para evitar queocorressem abusos. A “lei da oferta e da procura” determina-ria os preços e o equilíbrio do mercado. Smith a chamava de“mão invisível”.

Caberia ao Estado garantir a liberdade individual e a proprie-dade privada.

As idéias de Adam Smith foram ampliadas por David Ricardo(1772-1823), que acreditava ser a renda nacional provenientedos três principais agentes da produção: terra, trabalho e capital.Sua preocupação fundamental era quanto aos custos da produ-ção. Assim, se os alimentos continuassem aumentando de pre-ço, os donos de empresas seriam obrigados a aumentar os salá-rios dos operários e diminuir os lucros de seus empreendimen-tos. Portanto, quanto mais barato custassem os alimentos, me-nor seriam os salários. Os produtos manufaturados, com mão-

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de-obra mais barata, custariam menos, venderiam mais e pro-porcionariam maior lucro. Obviamente, eles deveriam ser desti-nados à exportação.

Ricardo defendia o princípio do livre-câmbio. Defendia que aInglaterra deveria derrubar todas as tarifas protecionistas queincidiam sobre os produtos que importava, como no caso do tri-go. Se caísse a “lei dos cereais” (tributo sobre o trigo importado),eles custariam menos. Os salários dos trabalhadores tambémseriam menores. Com isso, o custo da produção cairia, e os ma-nufaturados, mais baratos, venderiam mais.

Segundo Ricardo, o excesso de mão-de-obra seria responsá-vel pela miséria dos trabalhadores, e não o sistema econômico.Um salário elástico (que pode aumentar) permitiria ao trabalha-dor sustentar muitos filhos, que iriam futuramente inflacionar omercado de mão-de-obra, provocando a baixa dos salários. Da-vid Ricardo era favorável à “Lei Férrea dos Salários”, que osmanteria em nível bem baixo. Acreditava que remunerar bem otrabalhador era, a longo prazo, prejudicá-lo.

Certamente, o mais polêmico membro da escola clássica libe-ral foi Thomas Malthus (1766-1834), que escreveu Ensaio Sobrea População, publicado em 1798. Fez previsões sombrias sobreo crescimento da população. Para ele, ela cresceria em progres-são geométrica, enquanto a produção (de alimentos) cresceriaem progressão aritmética. Assim, haveria fome, doenças, lan-çando uns contra outros em guerras. Sua mortalidade causaria orestabelecimento do equilíbrio entre “população e produção”. Se-ria um fenômeno cíclico.

Um controle populacional seria uma forma de evitar o caos. Pro-pôs, como soluções, salários mais baixos, casamentos tardios,estímulo ao celibatarismo.

Ainda hoje suas idéias são debatidas acirradamente e encon-tram seguidores, os neomalthusianos.

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O socialismo

Se a Revolução Industrial produziu uma enorme riqueza, elaproduziu também uma espantosa miséria. Em busca de um lucrocada vez mais maior, muitos empresários pagavam salários maisbaixos possíveis. Os governos, dominados pela burguesia, nãointervinham, a fim de diminuir os enormes desníveis sociais. Nãohavia legislação trabalhista nem proteção aos trabalhadores.

Para os socialistas, a igualdade deveria ser, acima de tudo,social e econômica. Os liberais negavam essa afirmação, sus-tentando a idéia de que os mais capazes tinham o direito naturalde acumular maiores riquezas. Alguns pensadores podem serconsiderados os precursores do socialismo, como Thomas Moruse Babeuf, que teorizaram sobre uma sociedade ideal. No entan-to, só no século XIX as teorias de igualdade se transformaramem doutrina e, em determinados casos, aplicados na prática.

Uma das correntes em que se dividiu o movimento socialistado século XIX foi a reformista. O empresário britânico RobertOwen (1771-1858) se preocupou em melhorar as condições devida de seus empregados, por meio do sindicalismo e do coope-rativismo. Reduziu a jornada de trabalho para onze horas e nãoempregou crianças com menos de dez anos em sua fábrica detecidos. Nos Estados Unidos, criou uma fazenda cooperativa, aNew Harmony.

O conde Saint Simon (1760-1825) foi um romântico e aventu-reiro, que acabou na miséria. Propôs a substituição da explora-ção do homem pelo homem pela cooperação dos homens asso-ciados. Sua frase que permaneceu: “De cada qual segundo suacapacidade, a cada qual segundo os seus méritos”. Propôs o fimdo direito de herança.

Charles Fourier (1772-1837), também francês, propôs uma so-ciedade, em que as pessoas se ajudariam mutuamente, por meiodos falanstérios, pequenas comunidades auto-suficientes.

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Luís Blanc (1811-1882), considerado o fundador do socialis-mo, foi o criador das “Oficinas Nacionais” na França, fábricaspertencentes aos próprios trabalhadores, todos recebendo omesmo salário. Sua obra também fracassou.

Pierre Joseph Proudhon (1809-1865) atacou violentamente apropriedade, acusando-a de ser um roubo. Sua hostilidade a to-dos os tipos de Estado associa-o ao movimento anarquista.

Em oposição ao socialismo reformista, também conhecido comoutópico, surgiu o socialismo científico ou revolucionário, que pro-punha a transformação total da sociedade, por meio de uma revo-lução. As obras de Karl Marx (1818-1883) e Friedrich Engels (1820-1895) foram a base desse movimento. A análise de Marx evoluiu apartir da filosofia dialética idealista do filósofo alemão Engels (aluta entre tese e antítese, resultando numa síntese). Mas Marxmaterializou a lógica dialética, partindo do princípio de que a pró-pria consciência é manifestação da matéria.

Explicava a História a partir das condições materiais em quevive a humanidade. Acreditava que as contradições inerentes aum sistema geravam sua própria destruição. Quando todas asforças produtivas se esgotam, a sociedade em decomposiçãodá origem a uma outra nova. Tanto que da crise do feudalismosurgiu o capitalismo, do capitalismo surgiria o socialismo. O mo-tor da História seria a luta de classes.

De acordo com o marxismo, as contradições da sociedade ca-pitalista a levariam à autodestruição. Quando isso ocorresse, oproletariado tomaria o poder, estabelecendo uma ditadura. Os meiosde produção seriam socializados e as classes sociais desapare-ceriam. Este estágio Marx chama de socialismo. Nesse momento,todos os remanescentes do capitalismo seriam eliminados.

O socialismo seria uma etapa intermediária entre o capitalis-mo e o comunismo, este último seria um estágio superior e finalda civilização.

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Marx atuou diretamente nomovimento socialista, fun-dando jornais, sindicatos e aI Internacional (1864), movi-mento de união de todos ostrabalhadores. A primeiratentativa de implantar assuas idéias foi a Comuna deParis, em 1871.

Finalmente, o anarquismo,que propunha a supressão de toda autoridade. Não mais haveriagoverno, leis ou qualquer força coercitiva. Pequenos grupos autô-nomos, regidos pela cooperação, se encarregariam da produção,cujo excedente seria trocado com o excedente de outro grupoautônomo. Os anarquistas mais importantes foram os russosMikhail Bakunin (1814-1876) e Piotr Kropotkin (1842-1921). O anar-quismo penetrou nos meios sindicais para alcançar uma socieda-de sem classes (anarco-sindicalismo). O anarquismo radical pas-sa a se utilizar de atos terroristas para desestruturar o Estado.Algumas vítimas importantes: o czar Alexandre III, o rei italianoHumberto I e o presidente norte-americano McKinley (1901).

O pensamento social da Igreja Católica:Rerum Novarum

Os problemas sociais influenciaram a Igreja Católica, que pro-curou conciliar os interesses antagônicos entre o capital e otrabalho, as ambições dos patrões e as reivindicações dos em-pregados.

Segundo a Igreja, a solução dos conflitos poderia ser encon-trada nos princípios básicos da solidariedade, justiça e caridadecristã. A volta ao Evangelho proporcionaria o caminho que a so-ciedade necessitava, em um ambiente de paz e harmonia social.

Karl Marx em seu escritório.

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234 História Geral

Muitas organizações cooperativas operárias católicas se ramifi-caram por todo o mundo. Mas quem iniciou oficialmente a açãosocial da Igreja foi Leão XIII, com a Encíclica Rerum Novarum(Das coisas novas), em 1891.

Esse documento reconhecia a gravidade da “Questão Social”,criticava o “capitalismo selvagem”, combatia a expansão do “ma-terialismo histórico” e do “ateísmo”, repudiando a doutrina mar-xista da “luta de classe”, que estimulava os conflitos e ódios so-ciais. Reconhecia a propriedade particular como um direito natu-ral, e a diferença como “necessária e conveniente”. Mas a pro-priedade deve estar voltada ao bem-estar social. Assim, as rela-ções entre o capital e o trabalho devem ser de colaboração, nãode luta. Muitas outras encíclicas, promulgadas ao longo do sécu-lo XX, confirmaram e reforçaram o conteúdo da “Rerum Novarum”.

Exercício proposto

1) Os pensadores do liberalismo econômico, como Adam Smith, Malthuse outros, defendiam:

a) Intervenção do Estado na economia.b) O mercantilismo como política econômica nacional.c) Socialização dos meios de produção.d) Liberdade para as atividades econômicas.e) Implantação do capitalismo de Estado.

Questões de vestibular

1) (PUC-SP) O liberalismo econômico da escola clássica que foi pro-fundamente marcado pela obra de Adam Smith – A RIQUEZA DASNAÇÕES – e que dominou toda a Europa do século XIX, pregava:

a) A total liberdade dos contratos entre as nações, mantendo-se apenasum acordo quanto aos preços dos salários.

b) O incentivo à superpopulação como garantia de plena oferta da forçade trabalho.

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235História Geral

c) A manutenção de algumas leis de comércio e navegação para assegurartrocas efetivas.

d) A intervenção do Estado, ainda que restrita, para regular o crédito eas direções dos investimentos.

e) A necessidade de se garantir a ordem natural nas atividadeseconômicas, prevalecendo a idéia de uma harmônica divisão do trabalhoentre as nações.

2) (FGV) “De cada um, segundo sua capacidade; a cada um, segundosua necessidade.”Este lema marca a proposta da sociedade:

a) Dos “Falanstérios”, na concepção do socialista francês Charles Fourier.b) Social-democrata, segundo o modelo sueco e norueguês.c) Comunista, na visão de Karl Marx e Friedrich Engels.d) Nacional-socialista, segundo Hitler em “Mein Kampf”.e) Socialista utópica, defendida por Pierre-Joseph Proudhon na obra “Idéia

Geral da Revolução no Século XIX.”

Capítulo 22 – As revoluções liberais de1830 e 1848

A dinastia Bourbon foi restaurada na França com a coroaçãode Luís XVIII. A burguesia aceitou a volta da monarquia, uma vezque o rei propunha garantir as conquistas sociais, jurídicas eeconômicas da Revolução. Jurou a Constituição de 1814, garan-tindo as liberdades essenciais e as igualdades civis. Luís XVIII,apelidado de “bonachão”, fez um governo moderado.

A nobreza “emigrada”, tendo voltado, advogava a recuperaçãodos antigos privilégios e a posse dos bens perdidos durante arevolução. Desencadeou o Terror Branco contra os republicanose pressionou para a aprovação de leis repressivas. Milhares decidadãos foram presos e muitos intelectuais deixaram a França.

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Porém, a prosperidade econômica trouxe a paz interna, que du-rou até o assassinato o duque de Berry, filho de Carlos, sobrinho dorei. Seguiu-se uma nova onda repressiva. Em 1824 Luís XVIII fale-ceu, e seu irmão, Carlos X, pai do duque assassinado, sucedeu-o.

O novo monarca era absolutista e reacionário. Suprimiu as li-berdades individuais, impondo a pena de morte aos que atacas-sem o clero ou as instituições. A repressão política levou à umanova revolução, em 1830. A população parisiense, liberal e repu-blicana, saiu às ruas e ergueu barricadas contra o governo, masas tropas aderiram ao povo. Com a queda de Carlos X e do ab-solutismo, ficava evidente que a Santa Aliança não tinha condi-ções de manter a velha ordem nem capacidade intervencionista.Uma das conseqüências foi a Bélgica se separar da Holanda.

Luís Filipe, da família Orléans, mas ligado à burguesia, era onovo rei da França. Preocupou-se com a manutenção da ordeme da propriedade. Foram restabelecidas as garantias individuaise constitucionais. Mas o quadro político era complexo. Havia osbonapartistas, liderados pelo sobrinho de Napoleão, LuísBonaparte; os republicanos, contrários ao governo; e os legi-timistas, adeptos do absolutismo.

França no séc. XIX.

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237História Geral

A crise agrícola de 1848 trouxe de volta a fome, e com ela osconflitos de ruas e as barricadas. O palácio real foi invadido,enquanto o rei fugia para a Inglaterra. A segunda República foiproclamada, formando-se um governo provisório, com socialis-tas e republicanos.

Rapidamente a revolução de 1848 se espalhou pela Europa.Quando o Congresso de Viena estabeleceu as novas fronteiras,não houve respeito ao princípio das nacionalidades. Povos semafinidades lingüísticas, culturais e religiosas foram reunidos emum mesmo Estado. Por isso, a revolução de caráter liberal apre-sentava também um aspecto nacionalista.

Na Polônia, os nacionalistas tentaram se libertar do domíniorusso. Na Itália e na Alemanha houve lutas pela unificação. Socie-dades secretas divulgavam os ideais nacionalistas e de unifica-ção sob a forma de regimes liberais. As reivindicações liberaisganharam corpo, em um movimento chamado “Primavera dosPovos”. A Revolução de 1848 motivou a queda final do absolutis-mo na Europa Ocidental, mas também estimulou o nacionalismoe o socialismo, que defendia uma profunda reforma social.

Exercícios propostos

1) Um dos principais objetivos da Santa Aliança na Europa era:a) Combater os ideais monárquicos e absolutistas do Antigo Regime.b) Combater os ideais humanistas e heréticos da Reforma.c) Combater os movimentos revolucionários liberais para manter o

Absolutismo.d) Combater o Socialismo Marxista, sob a inspiração da encíclica Rerum

Novarum.e) Pugnar pelos ideais políticos napoleônicos.

2) Em 1815, apesar do aparente triunfo da Restauração, simbolizado peloCongresso de Viena e personificado por Metternich, os princípios liberais

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238 História Geral

continuaram a ser reivindicados pela burguesia, já dominadora da vidaeconômica em função da aceleração da Revolução Industrial. Taisprincípios constam das seguintes proposições, COM EXCEÇÃO DE:

a) Regime monárquico, constitucional, de base censitária.b) Livre iniciativa econômica, na produção e no comércio.c) Liberdade de consciência e de manifestação do pensamento.d) Sufrágio universal e completa igualdade dos cidadãos.e) Difusão do ensino leigo e amparo à Ciência e à Tecnologia.

Questões de vestibular

1) (FUVEST) As revoluções de 1848 na Europa:a) Tentaram impor o retorno do absolutismo, anulando as conquistas da

Revolução Francesa.b) Foram marcadas pelo caráter nacionalista e liberal, incluindo propostas

socialistas.c) Provocaram a união das tropas de Bismarck e Napoleão III para destruir

o governo revolucionário.d) Conduziram Luís Filipe ao trono da França e deram origem à Bélgica

como Estado independente.e) Foram vitoriosas e completaram as unificações nacionais na Itália e

Alemanha.

1. Sucedeu de imediato a Napoleão III:a) Governo de Thiers.b) Governo de MacMahon.c) Governo de Defesa Nacional de Gambetta.d) III República.e) V República.

2) (FUVEST) Quase toda a Europa Ocidental e Central foi sacudida, em1848, por uma onda de revoluções que se caracterizaram por misturarmotivos e projetos políticos diferenciados – liberalismo, democracia

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239História Geral

e socialismo. Elas também foram marcadas por uma atmosfera inte-lectual e um sentimento ideológico comuns. Trata-se, no caso destesúltimos, do:

a) Realismo e internacionalismo.b) Romantismo e nacionalismo.c) Romantismo e corporativismo.d) Realismo e nacionalismo.e) Modernismo e internacionalismo.

3) (F.M. SANTA CASA-SP) O desenvolvimento das idéias socialistas naépoca contemporânea está relacionado com a:

a) Vitória que as classes operárias obtiveram durante vários movimentosrevolucionários, sobretudo os de 1830 e 1848.

b) Disseminação dos argumentos apresentados por Thomas Morus con-tra a injustiça social e a propriedade.

c) Formação de grandes concentrações operárias urbanas, em condiçõesprecárias, como conseqüência da Revolução Industrial.

d) Pregação feita por Robert de Lammenais em nome da solidariedade eda justiça social para os trabalhadores.

e) Política desenvolvida inicialmente por Guizot no sentido de aproveitaro potencial revolucionário da classe operária.

Capítulo 23 – A evolução da Inglaterra atéa I Guerra Mundial

A preponderância econômica mundial da Inglaterra se esten-deu desde o século XVIII até a I Guerra Mundial (1914-1918).Pioneira na Revolução Industrial, seu avanço tecnológico a colo-cava muito à frente dos demais países europeus. A adoção dolivre-cambismo favoreceu notavelmente sua indústria e comér-cio. Porém, a “questão social” se agravava. A fome era perma-

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nente no lar dos operários. Em 1811, explodiu a violenta revoltachamada “ludita”, pois seu pretenso líder (nunca foi provada suaexistência) chamava-se Ned Ludd.

Assim, apesar das revoluções parlamentares e burguesas doséculo XVII, a Inglaterra estava longe de ser uma democracia. ACâmara dos Lordes, aristocrática e hereditária, detinha grandeparcela do poder. A Câmara dos Comuns era composta por re-presentantes escolhidos pelo voto censitário dos cidadãos dosburgos muito antigos e que haviam perdido sua importância(“burgos podres”). As cidades industriais, como Manchester eBirmingham, não possuíam representantes no Parlamento.

A partir de 1820, as cidades industriais ganharam representa-ção no Parlamento, o voto censitário foi baixado para que umnúmero maior de cidadãos pudesse participar do processo elei-toral e os burgos podres foram extintos. Os whigs, liberais, repre-sentantes da burguesia, impuseram maiores reformas, aboliram aescravidão nas colônias e derrubaram as “Leis dos Cereais” quetaxavam a importação de trigo.

A partir de 1825, os trabalhadores puderam se reunir em sindi-catos (trade unions), para reivindicar melhores condições de tra-balho. Em 1838 surgiu um movimento popular, com a redaçãode uma “Carta do Povo”, contendo uma série de reivindicaçõesao Parlamento. Denominado “movimento cartista”, exigia: a abo-lição das “Work Houses”, instituições onde os desempregadoseram recolhidos e obrigados a trabalhar; o sufrágio universal mas-culino e a supressão do censo eleitoral. Mas as reivindicaçõesnão alcançaram seus objetivos.

Convencionou-se chamar de “Era Vitoriana” a história britâni-ca na segunda metade do século XIX. A rainha Vitória (1837-1901) reinou num período de conquistas políticas e sociais e deum grande desenvolvimento econômico. No final do seu reina-do, o império britânico contava com 400 milhões de habitantesespalhados por 35 milhões de quilômetros quadrados. A Ingla-

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terra tinha a maior rede ferroviária domundo, excelentes portos, produzia me-tade do ferro e dois terços do carvão mun-diais. Seu gigantesco império lhe forne-cia matéria-prima e importava os seusmanufaturados. O domínio naval perten-cia aos ingleses, poder consolidado coma posse de pontos estratégicos, como Gi-braltar e Malta, no Mediterrâneo; Cidadedo Cabo, no sul da África; Cingapura eHong Kong, na Ásia.

Em algumas colônias havia grande autonomia política, como oCanadá, constituindo-se em “Domínios”. Pertenciam à Common-wealth ou Comunidade de Nações. Nas colônias de exploraçãocomercial, especialmente nas áreas tropicais, o sistema de admi-nistração era variado, estando diretamente ligadas à Inglaterra ou acompanhias particulares que as administravam em nome da coroa.

Internamente, consolidou-se o parlamentarismo. O primeiro mi-nistro, chefe de governo, era responsável junto ao Parlamento.Dois partidos disputavam o eleitorado: o liberal burguês “whig”,cujo principal líder era Gladstone, e o conservador aristocrata“tory”, que tinha como líder mais importante Disraeli. O PartidoTrabalhista, nitidamente socialista, surgiu em 1902, tornando-seuma nova opção para os eleitores. Em 1911, com o “Ato Parla-mentar”, a Câmara dos Lordes perdia boa parte de seu poder,reduzida apenas à aplicação do efeito suspensivo às leis.

Aos poucos, o direito de voto foi sendo atribuído a todos oscidadãos, transformando o sistema em uma democracia. Assim,em 1918, podiam votar os homens maiores de 21 anos e mulhe-res maiores de 30 anos. Dez anos depois nova reforma – todosos maiores de 21 podiam votar.

Mas havia sérios problemas como a “Questão Irlandesa”. Osirlandeses, majoritariamente católicos, desencadearam um mo-

Rainha Vitória.

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vimento separatista, no século XIX. Depois de muitas repressõese fuzilamentos, a questão só foi resolvida após a I Grande Guer-ra. A região foi dividida em Irlanda do Sul (Eire), de maioria cató-lica, com capital em Dublin, tornada independente; e a Irlanda doNorte (Ulster), de maioria protestante, com capital em Belfast,ainda hoje domínio do Reino Unido.

Mapa da Irlanda dividida.

Exercícios Propostos

1) A Era Vitoriana caracterizou-se pelo seguinte conjunto de fatos:a) Valorização dos ideais burgueses, redução da produção industrial,

desenvolvimento do imperialismo.b) Ascensão do domínio da nobreza, fortalecimento do imperialismo e

estímulo ao desenvolvimento industrial.c) Fortalecimento do Parlamentarismo, declínio do imperialismo,

valorização dos ideais burgueses.d) Desenvolvimento do imperialismo, fortalecimento do livre-cambismo e

recuo do Anglicanismo.

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243História Geral

e) Valorização dos ideais burgueses, desenvolvimento da legislaçãotrabalhista, fortalecimento do Parlamentarismo.

2) Durante o século XIX na Grã-Bretanha, a marcha do Liberalismotraduziu-se em aspectos como:

a) Independência da Irlanda.b) Sufrágio universal para ambos os sexos.c) Supressão das grandes propriedades agrícolas.d) Reformas eleitorais e econômicas (livre-cambismo).e) Anticolonialismo e radicalismo social.

Questão de vestibular

1) (UMC) De 1837 a 1901 a Inglaterra sofreu extraordinário progressoeconômico, reforma política e florescimento das Artes e Letras. du-rante este período reinou uma Rainha que deu nome à sua época:

a) A Rainha Ana.b) Elizabeth da Inglaterra.c) A Rainha Vitória.d) A Rainha Mary.e) Mary Stuart.

Capítulo 24 – A unificação política daAlemanha e da Itália

A fundação do Império Alemão (II Reich)

Em 1806, Napoleão Bonaparte dissolveu o Sacro Império, in-corporando os Estados germânicos na Confederação do Reno.Com a derrota de Napoleão e a dissolução da Confederação do

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Reno, o Congresso de Viena (1815) agrupou-os na Confedera-ção Germânica, um estado federativo sob a liderança da Áustria.Eram três dezenas de Estados independentes, dos quais aPrússia era o mais poderoso, econômica e militarmente. Interes-sava-lhe a unidade política, pois estava em processo de industri-alização e tinha necessidade de mercados.

A unificação alemã foi uma mistura de ideais liberais e nacio-nais. Uma etapa fundamental foi a criação do “zollverein” (uniãoaduaneira). Paulatinamente, houve a redução das tarifas entreos Estados alemães, permitindo a livre circulação de mercado-rias. Um outro meio para se alcançar e consolidar a unificaçãoalemã foi a construção de estradas de ferro, integrando econo-micamente os diversos países alemães, mas com a mar-ginalização da Áustria.

Uma tentativa de unificação, sob a liderança da Prússia, fra-cassou em 1848, em conseqüência das pressões austríacas eda oposição aos liberais. A monarquia prussiana, até então, seapoiava nos junkers, proprietários de terras, hostis ao liberalis-mo e à burguesia. Todavia, o desenvolvimento industrial acelera-do ampliou a importância da burguesia, que trabalharia para al-cançar seus objetivos.

O novo rei da Prússia, Guilherme I, eOtto von Bismarck, chanceler (primeiro-ministro) a partir de 1862, foram os cons-trutores da unificação, por meio do mili-tarismo, de guerras e de uma aceleradaindustrialização, baseada nas indústriassiderúrgica, química e mecânica. Em pou-co tempo, os produtos germânicos eramlargamente vendidos em toda a Europa.Com um exército bem treinado, uma ad-ministração eficiente e poderosa, um cres-cimento econômico auto-sustentável, o Bismarck

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reino prussiano era o mais forte dos Estados alemães. Por outrolado, o crescimento populacional e a enorme influência intelectualdas universidades estimularam o projeto de unificação nacional,financiado pela burguesia. Hábil diplomata, Bismarck aproximoua Prússia da Rússia e da Inglaterra, para isolar a Áustria. Ochanceler era fervoroso nacionalista germânico.

A Dinamarca administrava os ducados alemães do Holstein eSchleswig. A insatisfação dos cidadãos germano-dinamarque-ses foi o pretexto para uma intervenção militar da Prússia, maispara testar a força da Áustria. A vitória prussiana sobre a Dina-marca possibilitou a anexação dos ducados, contra a vontade daÁustria. Antevendo a reação austríaca, Bismarck aliou-se aositalianos do Piemonte, que pretendiam anexar Veneza, sob do-mínio austríaco, e obteve a neutralidade francesa. Em 1866, osaustríacos declararam guerra, mas foram facilmente derrotadosna Batalha de Sadowa.

Como resultado, Bismarck unificou os Estados do norte emuma Confederação. Faltava unificar os Estados do sul, católicos.

Bismarck decidiu unificá-los, explorando uma grande causanacional. O grande obstáculo era a católica França. Por seu lado,o imperador francês Napoleão III viu no conflito uma maneira deampliar seu prestígio, interno e externo, apoiando-se nos gene-rais radicais, saudosistas das “campanhas napoleônicas”. Eranecessário um pretexto para Bismarck provocar a França, fazê-la declarar a guerra, e estimular a união dos alemães. E ele veiocom a disputa pelo trono espanhol, que ficou vago. Ousadamente,Bismarck apresentou a candidatura de um príncipe prussianoque, se vitoriosa, colocaria a França novamente cercada por ca-sas reais alemãs, como à época dos “cardeais”. Sem perceber acilada, Napoleão III declarou guerra à Prússia, vista como vítimada agressão francesa. Influenciados pelo nacionalismo, os Esta-dos alemães do sul se uniram à Prússia. Iniciava-se a GuerraFranco-Prussiana (1870-1871).

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A Prússia venceu a França de Napoleão III na Batalha deSedan, na qual o imperador foi feito prisioneiro. Foi proclamadaa III República na França, enquanto Paris, cercada pelo exércitoprussiano, tornava-se domínio da Comuna.

Os Estados do sul aderiram à Confederação do Norte, que setransformou em um império federativo, sob a liderança do rei daPrússia, coroado Imperador (Kaiser). Para humilhação dos fran-ceses, o império alemão foi fundado no Palácio de Versalhes.

Pelo tratado de Frankfurt em 1871, a França cedia as provínciasda Alsácia-Lorena e pagava uma enorme indenização de guerra.

O desenvolvimento econômico alemão se acelerou com a uni-ficação política. Em 1888, subiu ao trono o Kaiser Guilherme II,que afastou Bismarck da chancelaria e imprimiu uma política ex-terna personalista.

A unificação política italiana

Como conseqüência da decisão do Congresso de Viena, apenínsula da Itália continua dividida politicamente em pequenosEstados. Liberais e republicanos, ligados à burguesia nortista,lutavam pela unificação, mas enfrentavam a oposição dos lati-fundiários, que temiam perder seus privilégios tradicionais.

À semelhança da burguesia alemã, a italiana tinha interesse naunidade política na medida em que ela propiciaria a livre circula-ção de mercadorias. O ideal de unificação foi estimulado pelo Rei-no do Piemonte e Sardenha, uma monarquia constitucional. Mashavia os que queriam uma federação de Estados, sob a hegemoniado papa. Já os carbonários (assim chamados porque se reuniamem minas de carvão), liderados por Giuseppe Mazzini, propaga-vam o “Risorgimento” da Jovem Itália, exaltação do nacionalismo.

A Itália conheceu uma tentativa de proclamação da Repúblicapor Mazzini, em 1848, mas frustrada pela pressão austríaca. Orei Carlos Alberto, do Piemonte, foi forçado a abdicar, entregan-

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do o poder a seu filho, Vítor Emanuel II. Este deu asilo aos libe-rais perseguidos em outros Estados da península, e, em 1852,nomeou o Conde Cavour seu primeiro-ministro.

Cavour compreendeu que a unificação só seria possível sob aliderança de um Estado poderoso. Estabeleceu uma políticamodernizante no Piemonte, apoiando a burguesia industrial nas-cente e defendendo uma união aduaneira entre os Estados. Oreino conheceu a construção de ferrovias, de rodovias e foi dota-do de um exército organizado.

O maior obstáculo no norte da península era o domínio e ainfluência da Áustria. Incapaz de combatê-la sozinho, Cavour seuniu ao imperador francês Napoleão III. A aliança do Piemontecom a França provocou a transferência de Nice e Savóia, em1858, para a soberania dos franceses, em troca do seu apoiocontra os austríacos.

Os austríacos foram derrotados em 1859, e o Piemonte ane-xou a região da Lombardia e sua capital, Milão. A vitória italianadesencadeou movimentos favoráveis à unificação em toda a pe-nínsula. Até os Estados Papais, liderados por Pio IX estavamameaçados. A pressão dos católicos franceses e a ameaça daPrússia em socorrer a Áustria obrigaram Napoleão III a se afas-tar dos piemonteses.

Ainda assim, nos ducados de Módena, Parma e Toscana, osgovernos pró-austríacos foram derrubados por revoltas, e osducados foram anexados ao Piemonte. O sul foi unificado pelaação militar de Giuseppe Garibaldi, o herói italiano da Guerrados Farrapos, no Rio Grande do Sul. Mesmo sendo republicano,aliou-se ao Reino do Piemonte, obteve apoio militar, desembar-cou na Sicília com mil voluntários, chamados “camisas verme-lhas” e a conquistou, anexando-a ao Piemonte. Vítor Emanuel IIentrou em Nápoles, junto de Garibaldi, que o aclamou rei da Itá-lia. A seguir, as tropas piemontesas e os voluntários de Garibaldiconquistaram os Estados Papais, exceto Roma. Cavour não viua conclusão do processo de unificação, pois morreu em 1861,

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Garibaldi.

ano da convocação do Parlamento da Itália em Turim. Ainda res-tava aos italianos unificar, principalmente, Roma e Veneza.

Durante a Guerra Austro-Prussiana (1866), os italianos invadi-ram Veneza, anexando-a à Itália. Restava Roma. Napoleão IIIinsistia em garantir a soberania dos Estados Papais e a segu-rança do papa, procurando ganhar a simpatia dos católicos fran-ceses. Em 1866, estoura a Guerra Franco-Prussiana. A retiradadas tropas francesas deixou o papa à mercê dos unificadoresitalianos. Roma foi anexada e transformada em capital da Itália,apesar do não-reconhecimento da Igreja. A ruptura entre o Esta-do e a Igreja católica deu origem à “Questão Romana”: o papaPio IX e seus sucessores, fecharam-se no Vaticano e se declara-ram prisioneiros do governo italiano. A questão só foi resolvidaentre a Igreja e Mussolini, chefe do Estado fascista italiano, pormeio da assinatura do Tratado de Latrão, em 1929.

Apesar das vitórias, nem todos os italianos viviam sob a sobe-rania da Itália. Alguns territórios, como a região do Trento, per-

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maneciam sob domínio austríaco. Esses territórios só foram ane-xados após a I Grande Guerra.

Exercícios propostos

1) Eventos importantes na reunificação da Itália foram:a) O “Risorgimento”, a derrota austríaca frente às tropas franco-sardas

e a derrota das Duas Sicílias frente a Garibaldi.b) O governo de Mazzini no Reino das Duas Sicílias, a derrota das tropas

papais frente a Cavour, e a anexação da Toscana pelo Piemonte.c) Os levantes de 1848, a união da Toscana e a dos Estados papais ao Reino

das Duas Sicílias, e a derrota austríaca frente às tropas de Garibaldi.d) A derrota dos franceses na Savóia, a derrota dos austríacos na

Toscana e a anexação da Sardenha pelo Reino das Duas Sicílias.e) A união aduaneira da Confederação do Pó, a ascensão de Vítor Emanuel

ao trono das Duas Sicílias e a derrota dos austríacos por Garibaldi eseus carbonários.

2) O movimento de unificação italiana sofreu oposição dos católicos,pois estes defendiam:

a) Aclamação do papa como senhor absoluto da Itália.b) Aliança da Igreja com os carbonários.c) União de todos os italianos em torno de uma república.d) Imediata aplicação do socialismo cristão.e) Formação de uma confederação italiana sob o domínio do papa.

Questões de vestibular

1) (FGV) A reunificação da Alemanha, a partir de meados do século XIX,foi facilitada por 3 guerras, quais sejam:

a) As guerras: da Criméia de 1654/56; entre a Prússia e a Áustria de1866 e entre a Prússia e a França em 1870.

b) As guerras: entre a Prússia, a Áustria e a Dinamarca de 1864; entre aPrússia e a Áustria de 1866, e entre a Prússia e a França de 1870.

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c) As guerras: da Criméia de 1854/56, entre a Prússia e a Suécia de 1854,e entre a Prússia e a França de 1870.

d) As guerras: dos “sete dias” entre a Prússia e a Suécia (1854); entre aÁustria e a Bavária de 1869, e entre a França e a Prússia de 1870.

e) As guerras: entre a Prússia e a Polônia (1861), entre a Prússia e aFrança de 1865 e entre a Áustria e a Bavária (1869).

2) (FUVEST) “Fizemos a Itália, agora temos que fazer os italianos”.“Ao invés de a Prússia se fundir na Alemanha, a Alemanha se fundiuna Prússia”.Estas frases, sobre as unificações italiana e alemã,

a) Aludem às diferenças que as marcaram, pois enquanto a alemã foifeita em benefício da Prússia, a italiana, como demonstra a escolha deRoma para capital, contemplou todas as regiões.

b) Apontam para as suas semelhanças, isto é, para o caráter autoritárioe incompleto de ambas, decorrentes do passado fascista, no casoitaliano, e nazista, no alemão.

c) Chamam a atenção para o caráter unilateral e autoritário das unificações,impostas pelo Piemonte, na Itália, e pela Prússia, na Alemanha.

d) Escondem suas naturezas contrastantes, pois a alemã foi autoritáriae aristocrática e a italiana foi democrática e popular.

e) Tratam da unificação da Itália e da Alemanha, mas nada sugeremquanto ao caráter impositivo do processo liderado por Cavour, na Itália,e por Bismarck, na Alemanha.

Capítulo 25 – Os Estados Unidos noséculo XIX

Os Estados Unidos da América, ao longo do século XIX, trans-formaram-se em uma nova potência mundial. Os fatos mais notá-veis de sua história, então, foram, além de seu crescimento eco-nômico, a expansão territorial e a Guerra da Secessão (Civil).

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Após a independência (1776), o governo americano estimuloua ocupação das regiões além das montanhas Apalaches. A pos-sibilidade de ser proprietário de terras atraía o imigrante euro-peu. Milhares de pessoas se deslocavam para o Oeste, em carro-ças, atravessando as grandes planícies centrais, ou em navios,subindo a bacia Mississipi-Missouri. Ocupavam o interior do con-tinente, ainda que à custa do genocídio indígena. Assim, iam seformando novos territórios federais e estados.

Essa ocupação espacial foi facilitada pela incorporação deimensas áreas ao domínio dos Estados Unidos, como:

a) Luisiana, comprada da França napoleônica, em 1803;

b) Flórida, adquirida da Espanha, em 1819;

c) Texas, independente do México em 1836, incorporado à Uniãoem 1845;

d) Oregon, cedido pela Inglaterra em 1846;

e) Califórnia, Arizona e Novo México conquistados ao Méxicoem 1848;

f) Alaska, adquirido, em 1867, da Rússia;

g) Havaí, anexado em 1898.

Em meio século (1803 e 1848), os Estados Unidos triplicaramsua superfície continental contínua, estendendo-se do Atlânticoao Pacífico.

A expansão territorial teve suporte ideológico no “Destino Ma-nifesto”, a crença de que Deus seria americano e de que a mis-são de seu povo seria conquistar, mesmo que à força, os “povosbárbaros” e convertê-los à sua civilização. As primeiras grandesvítimas foram os índios e os mexicanos.

Em 1854, navios de guerra americanos forçaram o Japão aabrir seus portos. Em 1898, houve uma guerra contra a Espanhapela independência de Cuba. Os espanhóis, derrotados, cede-ram Guam, Filipinas e Porto Rico, ainda hoje um Estado asso-

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ciado. Finalmente, os americanos obtiveram o direito de cons-truir e explorar perpetuamente o Canal do Panamá. Os EstadosUnidos transformaram as Antilhas em um “lago americano”. Eraa época do “big stick” (“grande porrete”), quando os países cen-tro-americanos deveriam ceder às pressões americanas ou so-frer represálias, econômicas e militares.

Mesmo após a independência, o velho Sul continuava ligadocomercialmente à Inglaterra, exportando algodão e importandomanufaturados. Por essa razão, os sulistas eram ardentes de-fensores do livre-cambismo. Por outro lado, o Norte conheceuuma acelerada industrialização na primeira metade do séculoXIX. Preferencialmente, os seus manufaturados abasteciam oOeste americano. Desta maneira, os industriais necessitavamda proteção do Estado para controlar os mercados internos, pormeio de uma política cambial protecionista, que afastasse a con-corrência inglesa.

A produção de algodão no Sul dependia de mão-de-obra es-crava negra. Se a abolição seria a ruína dos aristocratas sulis-tas, aos nortistas ela interessava, na medida em que lhes forta-leceria e lhes daria um controle total sobre a política nacional.

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Além disso, era preciso ampliar o mercado interno, com a trans-formação do escravo em assalariado.

Para manter o equilíbrio no Congresso entre os Estados, foi apro-vado o “Compromisso do Missouri” (1820), que determinava que aentrada de um estado escravocrata seria compensada pelo ingres-so de um abolicionista. O paralelo 36o30' separaria dos dois siste-mas de mão-de-obra. Mas, a partir de 1854, caducando o “compro-misso”, cada Estado decidiria por si. A Califórnia, ao sul do paralelo,optou pelo abolicionismo, desequilibrando as relações Norte–Sul.

Diante da crescente onda antiescravista, alguns Estados dosul ameaçaram se separar da União. A campanha para a eleiçãopresidencial de 1860 provocou grande agitação. Abraão Lincoln,candidato do Partido Republicano, considerava a escravidão umproblema que deveria ser resolvido, ainda que a longo prazo. Foieleito pela maioria de votos dos Estados abolicionistas.

A Carolina do Sul não esperou a posse de Lincoln. Declarou-se fora da União. Outros Estados aderiram, formando os Esta-dos Confederados, com capital em Richmond, na Virgínia. Foieleito presidente Jefferson Davis, e o comando das tropas foientregue ao general Lee, rico proprietário. Em 12 de abril de 1861,tropas sulistas atacaram um forte nortista. Iniciava-se a GuerraCivil, que se arrastaria até 1865. Ela foi uma das mais sangren-

A Guerra Civil Americana.

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tas da história e é considerada a “primeira guerra moderna”, porenvolver a população civil e fazer largo uso de ferrovias para otransporte de tropas e armamentos.

A superioridade do Norte industrializado era evidente desde oinício da guerra. Eram vinte três estados, com 22 milhões dehabitantes, extensa rede ferroviária, sistema bancário eficiente,marinha de guerra bem aparelhada contra onze estados sulinosagrários, com nove milhões de habitantes, em boa parte escra-vos. Para surpresa dos analistas, a guerra durou tempo bem maiorque o esperado, devido à forte resistência do Sul.

Em 1863, Lincoln aboliu a escravidão e ordenou o bloqueiomarítimo, isolando os confederados. Lee atacou a Pensilvânia,tentando destruir o potencial industrial da União, mas fracas-sou. Nesse mesmo ano foi batido em Gettysburg. A derrotafinal do exército confederado ocorreu em Appomattox, em1865. Lincoln iniciava uma política de reconciliação quandofoi assassinado por John Wilkes Booth, um fanático sulista,em um teatro.

Procurando esmagar o Sul, o novo presidente, general Grant,deu poder aos negros, provocando a reação dos sulistas bran-cos. Com a posterior retirada das tropas do Norte, os negrospassaram a ser discriminados socialmente e perseguidos porseitas racistas como a Ku-Klux-Klan.

Exercícios propostos

1) “Jamais se esclareceu bem a exata extensão desse ‘Destino’ (que,realmente, foi muitas vezes obscurecido nos arroubos da oratória),mas quase invariavelmente abrangeu a expansão dos Estados Unidosaté pelo menos suas atuais fronteiras e, freqüentemente, trans-bordou por todo o Hemisfério.”

(Allen, H.C. - História dos EstadosUnidos da América).

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255História Geral

O texto acima está intimamente ligado à ideologia do “Destino Mani-festo”, muito em voga nos Estados Unidos durante o século XIX,como explicação para a política expansionista em direção ao Sul eao Oeste. Das proposições que se seguem, uma está diretamenteligada a esse texto:

a) O avanço em direção ao sul, foi detido pela oposição mexicana no Texas.b) A aquisição do Alasca abriu o caminho para o Pacífico e o continente

asiático.c) A resistência inglesa no Canadá impediu a conquista dos Grandes La-

gos e do território do Oregon.d) A intervenção em Cuba, a aquisição de Porto Rico, o estabelecimento

na Zona do Canal, eis aí algumas imposições do “Destino”.e) A incorporação pacífica de territórios como o Novo México, o Arizona, o

Utah, a Califórnia, corresponderam à prática daquela doutrina.

2) A marcha para o Oeste foi a expansão dos Estados Unidos com oobjetivo de:

a) Garantir a produção agrícola do sul.b) Beneficiar os habitantes do Norte.c) Garantir o domínio da foz do Rio Mississipi.d) Estimular a atividade comercial da Nova Inglaterra.e) Ampliar seu território no sentido do Pacífico em busca de ricas regiões.

Questões de vestibular

1) (PUC-SP) “A Guerra Civil Norte-americana (1861-65) representouuma confissão de que o sistema político falhou, esgotou os seusrecursos sem encontrar uma solução (para os conflitos políticosmais importantes entre as grandes regiões norte-americanas, oNorte e o Sul). Foi uma prova de que mesmo numa das democraciasmais antigas, houve uma época em que somente guerra podia superaros antagonismos políticos.”

(Eisemberg, Peter Louis, Guerra civil americana.S. Paulo, Brasiliense, 1982).

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Dentre os conflitos geradores dos antagonismos políticos referidosno texto está a:

a) Manutenção, pela sociedade sulista, do regime de escravidão, o queimpediria a ampliação do mercado interno para o escoamento daprodução industrial nortista.

b) Opção do Norte pela produção agrícola em larga escala voltada para omercado externo, o que chocava com a concorrência dos sulistas quetentavam a mesma estratégia.

c) Necessidade do Sul de conter a onda de imigração da populaçãonortista para seus territórios, o que ocorria em função da maior ofertade trabalho e da possibilidade do exercício da livre iniciativa.

d) Ameaça exercida pelos sulistas aos grandes latifundiários nortistas, oque se devia aos constantes movimentos em defesa da reforma agrárianaquela região em que havia concentração da propriedade da terra.

e) Adesão dos trabalhadores sulistas ao movimento trabalhistainternacional, o que ameaçava a estabilidade das relações trabalhistaspraticadas na região norte.

2) (FCMSCSP) Ao considerarmos a Guerra de Secessão nos EstadosUnidos, podemos descrever corretamente, a seguinte diferença en-tre os oponentes:

a) Os habitantes do Leste americano (enriquecido pelo tráfico marítimo,pelo sistema bancário e pelo desenvolvimento industrial) opunham-seaos do Oeste (proprietários de ricas minas de ouro).

b) Enquanto o Sul tornou-se abolicionista, o Norte e parte do Oeste eramfrancamente escravistas.

c) O partido político majoritário no Sul era o (futuro) Partido Republicano,enquanto no Norte o majoritário era o Partido Democrata.

d) Os democratas eram representados pelos agricultores, livre-cambistase escravistas, enquanto os republicanos eram representados pelosindustriais antiescravistas.

e) Com a vitória dos iankees sulistas, foi proclamada a liberação dosescravos, enquanto os confederados nortistas relutaram por muitotempo em aceitar tal atitude.

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257História Geral

Capítulo 26 – O imperialismo e a partilhada África e da Ásia

A segunda fase da Revolução Industrial gerou crescentes ne-cessidades. A produção industrial, em larga escala, exigia cadavez mais matérias-primas e mercados consumidores. Havia ex-cesso de capitais acumulados na Europa, e eles precisavam serinvestidos. Uma das soluções era aplicá-los no exterior, onde olucro seria maior. Além disso, novas possessões eram funda-mentais para a navegação a vapor, pois em caso de conflitos, aimportância das bases estratégicas aumentava. Assim, o imperia-lismo foi uma conseqüência lógica do capitalismo industrial.

A acumulação de capitais, o desenvolvimento tecnológico, aintegração mundial da economia e o rápido crescimento popu-lacional provocaram uma mudança no capitalismo. Ele passou dafase concorrencial para a monopolista, com o surgimento de trustes,holdings e cartéis, em que uma ou algumas empresas controla-vam a produção e a comercialização de uma mercadoria.

A fundamentação ideológica do imperialismo era a teoria da su-perioridade racial do homem branco (o europeu), considerado o“civilizado”, chamando para si o direito de submeter os povos con-siderados “selvagens” (os africanos) e os “bárbaros” (os asiáti-cos). O modo de vida e as instituições do “civilizado” deveriam serimpostos a todos. Como conseqüência, vieram o desrespeito, asviolações, as modificações e extinções de várias culturas nativas.

O imperialismo, também chamado neocolonialismo, foi levadoa outros continentes das mais diversas formas, até mesmo pelaação de missionários cristãos e de pesquisadores científicos,facilitando a conquista e espoliação de muitos povos. Era a mis-são civilizadora, o “destino manifesto” do homem branco.

Um dos fatores estimulantes foi a pressão demográfica na Eu-ropa, que exigia espaço para a colocação do excedente. Nas

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últimas décadas do século XIX, cerca de 15 milhões de euro-peus emigraram, procurando melhores condições de vida e agarantia de estarem vivendo sob a proteção das leis do seu paísde origem. Portanto, as novas colônias deveriam ser um prolon-gamento da nação de origem.

A superioridade tecnológica do branco, especialmente em ar-mamento, justificava e facilitava a dominação e a repressão. En-quanto tropas nativas eram postas sob o comando de oficiaisbrancos, os colonizadores se aliavam às oligarquias locais para,de comum acordo, explorar as riquezas locais.

França e Inglaterra eram, por excelência, as grandes potênciascolonialistas. Mas Rússia, Alemanha, Bélgica, Holanda, Itália, Ja-pão, Estados Unidos, e até mesmo Portugal e Espanha (paísesnão-industrializados) também participaram da corrida imperialis-ta. Muitos países colonizadores administraram diretamente suascolônias. Também utilizaram o sistema de protetorado, manten-do a administração local sob controle metropolitano. A explora-ção econômica foi a base das relações entre os países imperia-listas e seus impérios, condenados a fornecerem produtos pri-mários e consumir produtos industrializados.

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A Inglaterra colonizou o Canadá, a Austrália; conquistou a Áfri-ca do Sul, anexando as regiões do Cabo, Natal e o Transvaal.Dominava o Mar Vermelho, passagem do Mediterrâneo para oÍndico, por meio do controle acionário da companhia que admi-nistrava o Canal de Suez, inaugurado em 1869. A Índia tornou-se uma colônia de exploração, administrada em proveito exclusi-vo da Grã-Bretanha. E boa parte da África negra pertencia aoimpério britânico.

A Inglaterra começou a penetrar na China, em 1840, fornecen-do ópio, produzido na Índia, viciando o povo. O governo chinêstentou proibir esse comércio altamente lucrativo, mas os ingle-ses reagiram, ocorrendo a Guerra do Ópio (1840-1842), que ter-minou com a derrota chinesa. Pelo Tratado de Nanquim, a Chinacedeu os portos de Cantão e Shangai, além da ilha de HongKong para o Reino Unido. Mais tarde, outros países industriali-zados obrigaram a China a assinar o Tratado de Pequim, esta-belecendo áreas de influências das grandes potências. A sobe-rania chinesa não mais existia.

A França conquistou a Argélia em 1830, primeira etapa de suapolítica expansionista no norte da África, que se completou coma ocupação da Tunísia e do Marrocos. Instalou-se na Indochina;conquistou o Senegal, as embocaduras do Níger e Congo, domi-nando boa parte da costa ocidental da África. Fundou a ÁfricaOcidental e a África Equatorial.

Unificadas tardiamente, Alemanha e Itália reivindicavam umaparte na partilha da África e da Ásia. A possibilidade de ocorre-rem conflitos entre as potências imperialistas motivou o Congres-so de Berlim de 1884, convocado por Bismarck. O congressoestabeleceu normas de conquista, reconhecimento e delimita-ção das áreas conquistadas, mas sem quaisquer consultas aosnativos. Assim, a Alemanha pôde anexar a costa oriental e o su-doeste africanos, enquanto a Itália estabeleceu seu domínio naLíbia e na Somália, embora fracassasse na conquista da Etiópia.

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260 História Geral

O rei Leopoldo II da Bélgica criou uma colônia particular no Congo,depois incorporada ao Estado belga.

Várias guerras coloniais marcaram o domínio europeu na Áfri-ca e na Ásia. Na Índia, houve vários levantes contra os ingleses,como a Guerra dos Cipaios. Soldados cipaios, seguidores doislamismo, foram recrutados pelos ingleses para formar um exér-cito colonial. Porém, o uso de gordura de porco para engraxararmamentos revoltou os soldados e a rebelião se alastrou. Ter-minou com um enorme massacre dos nativos, em 1858.

Na África do Sul, ocorreu a Guerra dos Bôeres, colonos de ori-gem holandesa que fundaram os Estados de Natal e Transvaal.Gozavam de alguma independência. Mas a descoberta de ouro ediamante em território bôer, no fim do século XIX, motivou a inva-são, a guerra e a sua derrota em 1902. Houve milhares de mortos,inclusive nos campos de concentração montados pelos ingleses.

Em 1900, nacionalistas chineses, chamados “boxers”, tenta-ram expulsar os ocidentais. A Guerra do Boxers culminou com ainvasão de Pequim e a derrota dos sublevados. A dinastia manchu

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261História Geral

não conseguiu unir chineses contra o imperialismo, nem impedira divisão do império em áreas de influências das potências es-trangeiras. Uma verdadeira revolução popular estava em mar-cha. A confusa situação nacional, a humilhação do país e a fra-queza imperial manchu causaram o triunfo da República, em 1911,por Sun-Yat-Sen.

O Japão permanecia praticamente fechado ao mundo ociden-tal desde o século XVI, sob o domínio do chefe de armas impe-rial, o shogun. O período do shogunato durou até 1853, quandoos americanos forçaram a abertura dos portos.

Os japoneses concordaram em estabelecer relações comer-ciais com os americanos. Outras nações também se impuse-ram, forçando o Japão a assinar os “tratados humilhantes”. Ao

A Guerra dos Boxers.

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262 História Geral

Japão restavam duas alternativas: ou se modernizar ou se sub-meter ao imperialismo ocidental, como acontecia com a vizinhaChina. A opção foi a “Revolução Meiji”. O imperador concen-trou o poder político e extinguiu o shogunato. Substituiu-o peloprimeiro-ministro. Em 1868, o imperador Mitsuhito iniciava aocidentalização nacional.

Os antigos senhores feudais se transformaram em modernoscapitães de indústria. O Japão passava do feudalismo para aRevolução Industrial, enviando japoneses para estudar em es-colas nos Estados Unidos e Europa e importando técnicos etecnologia ocidentais, queimando etapas.

Ao se industrializar, o Ja-pão se transformava emuma potência imperialista.Por ser pobre em matéria-prima, a expansão imperia-lista era vital para o Japãomanter sua produção indus-trial, concorrendo com ospaíses ocidentais. O Japãoatacou a China, derrotou-ae se apossou de Formosa(Taiwan). Mais tarde, incorporou a Coréia, após derrotar a Rússia,que também a disputava. O domínio do Extremo Oriente era ob-jeto da geopolítica japonesa.

Os Estados Unidos consolidavam sua hegemonia na AméricaLatina, pela criação de um Conselho Pan-Americano, com sedeem Washington, em 1901. O conselho facilitava a intervençãoamericana nos assuntos internos de vários países, como o Méxi-co, a República Dominicana, Cuba, Nicarágua, Guatemala etc.Como corolário do seu imperialismo, os americanos receberamdo recém-criado Panamá o direito de construir e explorar, perpe-tuamente, o canal que ligaria o Atlântico ao Pacífico.

Estrada de ferro no Japão.

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263História Geral

Exercícios propostos

1) Durante a época da expansão imperialista das nações industrializadasda Europa, a conquista de colônias teve como principal razão de ser:

a) Os excedentes demográficos europeus.b) A busca de mercados para os excedentes de capital e de produtos

industrializados.c) A necessidade de matérias-primas para as novas indústrias.d) O ideal de levar a todos os quadrantes a civilização européia.e) A exigência de mercados mais amplos e abertos a todos os países

industrializados.

2) Na Guerra dos Bóeres defrontaram-se:a) A Inglaterra e a Alemanha pela posse da região que hoje corresponderia

à Tanzânia.b) Exércitos britânicos e colonos holandeses das repúblicas do Trasnvaal

e do Estado Livre de Orange.c) Holandeses e tropas britânicas pela posse da região correspondente à

África Sul Ocidental.d) Exércitos britânicos e colonos alemães pela posse do que seria hoje a

Rodésia.e) Colonos holandeses apoiados por tropas britânicas e negros zulus para

a implantação de uma colônia branca anglo-holandesa no sul da África.

3) A conquista da Ásia e da África, durante a segunda metade do séculoXIX, pelas principais potências imperialistas, objetivava:

a) A busca de matérias-primas, a aplicação de capitais excedentes e aprocura de novos mercados para os manufaturados.

b) A implantação de regimes políticos favoráveis à independência dascolônias africanas e asiáticas.

c) O impedimento da evasão em massa dos excedentes demográficoseuropeus para aqueles continentes.

d) A implantação da política econômica mercantilista, favorável àacumulação de capitais nas respectivas metrópoles.

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264 História Geral

e) A necessidade de interação de novas culturas, a compensação dapobreza e a cooperação dos nativos.

Questões de vestibular

1) (CESGRANRIO) Imperialismo e colonialismo.Ao longo de sua expansão imperialista na Ásia e na África, duranteo século XIX, sobretudo entre 1870 e 1914, as potências capitalistaseuropéias estabeleceram diversos tipos de colônias, as quais, doponto de vista da sua forma de exploração e de ocupação, podemser divididas em dois tipos básicos: as colônias de enquadramentoe as colônias de enraizamento ou de fixação. Tais tipos, concebidos,é claro, a partir da perspectiva do colonizador, correspondem a dife-renças quanto à maneira de empreender a colonização, mas tiveramtambém influência, bem mais tarde, no encaminhamento do proces-so de descolonização. As proposições abaixo buscam identificaraquelas formas de ocupação e de exploração em conexão com os jácitados tipos de colônias, isto é:

1) Nas colônias de enraizamento houve a expropriação do elemento nativode suas terras, obrigando-o a trabalhar para o europeu sob formas decompulsão variadas.

2) Nas colônias de enquadramento o europeu integrou-se à populaçãonativa, contribuindo a longo prazo para dificultar o processo deemancipação política.

3) Em ambos os tipos de colônias (enraizamento e enquadramento) houvea expropriação sistemática dos nativos de suas terras, introduzindo-se uma agricultura capitalista bastante modernizada.

4) Na colônia de enquadramento o europeu procurava explorar os recursosnaturais e utilizar a mão-de-obra nativa sem desalojá-la, porém, desuas terras em caráter permanente, conservando, na medida dopossível, as estruturas sociais preexistentes.

5) Nas colônias de enraizamento a chegada de grandes contingentes deagricultores europeus estimulou a união com as populações nativas naluta contra a exploração realizada pela metrópole.

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265História Geral

Assinale:a) Se as proposições 1 e 2 estiverem corretas.b) Se as proposições 1 e 4 estiverem corretas.c) Se as proposições 3 e 5 estiverem corretas.d) Se as proposições 3 e 4 estiverem corretas.e) Se as proposições 2 e 5 estiverem corretas.

2) (UFMG) “A nova era que iria se seguir à era do triunfo liberal seriabastante diferente. Economicamente, adotaria as mais diferentesortodoxias da política econômica. Politicamente, o final da era lib-eral significava literalmente o que as palavras querem dizer.”

(Eric Hobsbawn, A era do capital.)Como decorrência das mudanças político-econômicas ocorridas naEuropa, na transição do século XIX para o século XX, verificou-se:

a) O aumento das pressões protecionistas da indústria e dos interessesnacionais agrários.

b) A defesa de uma economia diversificada sujeita unicamente às leis domercado.

c) A hegemonia dos liberais em detrimento dos outros partidos políticos.d) A redução das políticas sociais em favor das classes trabalhadoras.e) A inexistência da interferência econômica em áreas não desenvolvidas.

Capítulo 27 – A Primeira Guerra Mundial(1914-1918)

Origens

O desenvolvimento ocorrido a partir da metade do século XIXcolocou a Europa diante de várias crises. Os antagonismos setornaram mais freqüentes, desembocando na Primeira GuerraMundial.

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266 História Geral

O nacionalismo era um dos elementos de freqüentes atritos. Ainsatisfação nacional na Europa provinha dos erros do Congres-so de Viena de 1815, quando os princípios nacionais foram sa-crificados diante dos interesses das grandes potências. No iníciodo século XX, alguns povos lutavam pela sua libertação e cons-tituição de um Estado nacional soberano.

A posse da Bósnia-Hezergovina, regiões anexadas pela Áus-tria-Hungria, exaltou os nacionalistas sérvios. A Itália reivindicavaterritórios majoritariamente italianos, ainda não anexados por ela.França e Alemanha disputavam a posse da Alsácia-Lorena, ale-gando possuírem, na região, maiorias nacionais. Por outro lado, oImpério Austro-Húngaro era composto por várias nacionalidades.Poloneses, tchecos, sérvios, croatas, eslovenos, italianos etc, eramgovernados pela monarquia dual austro-húngara.

O militarismo encontrou no nacionalismo seu estímulo. Os paí-ses europeus se rivalizavam no aperfeiçoamento de armamento eaumento de efetivos militares. Alemanha e Inglaterra disputavama supremacia naval, ampliando suas frotas de guerra. De 1872 a1912, ocorreu um grande aumento nos orçamentos militares.

A rivalidade econômica acentuou a disputa dos mercados mun-diais e o equilíbrio europeu sofreu um forte impacto com a unifi-cação alemã, em 1871. A Alemanha tornou-se uma nova forçaeconômica e militar, ameaçando a supremacia britânica.

Bismarck, para desestimular o revanchismo francês, fez alian-ças e acordos diplomáticos. Atraiu a Rússia e a Áustria-Hungriapara a Liga dos Três Imperadores em 1873. Mas ocorreu umenfraquecimento das relações entre alemães e russos. Dessamaneira, os russos se aproximaram dos franceses. A Itália ade-riu à Liga em 1882, após os franceses terem recusado certosterritórios aos italianos.

Com a queda de Bismarck em 1890, o kaiser Guilherme II pas-sou a conduzir a política exterior alemã. Mas sua incompetênciafez o sistema bismarckiano ruir. A Europa se agrupou em dois

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267História Geral

blocos antagônicos. A aliança entre a Françae a Rússia rompeu o isolamento francês ereconduziu a Europa a um sistema de equilí-brio. A ela aderiu a Inglaterra, surgindo aTríplice Entente, em oposição à Tríplice Alian-ça, formada pela Alemanha, Império Áustro-Húngaro e Itália.

A disputa do norte da África motivou o cho-que dos imperialismos europeus. A Françaobteve liberdade de ação no Marrocos em troca da mesma liber-dade concedida à Inglaterra no Egito. A Alemanha se sentiu mar-ginalizada. Provocativamente, Guilherme II desembarcou em Tan-ger, Marrocos, afirmando reconhecer a soberania e inviolabilidadedo país. Na verdade, testava a aliança anglo-francesa. A tensãoparecia levar à guerra. As partes interessadas se reuniram em1906, em Algeciras, na Espanha, e evitaram o pior. Mas posterior-mente a França ocupou a cidade marroquina de Fez. Os alemãesreagiram enviando um navio de guerra a Agadir e declarando semefeito a Conferência de Algeciras. Novamente, franceses e ale-mães se encontravam à beira de um conflito. Em 1911, há umacordo, pelo qual Marrocos era anexado à França que, por suavez, cedia parte do Congo Francês, os Camarões, à Alemanha.

Em 1908, outra crise agitou a Europa, desta vez nos Bálcãs. Aregião limítrofe do Império Austro-Húngaro e a Sérvia, conheci-da como Bósnia-Hezergovina, era pretendida pelas duas nações.Os sérvios buscaram apoio na Rússia, que incentivou o pan-eslavismo, movimento nacionalista pretendendo unir os povoseslavos. A Sérvia alimentava a idéia de se constituir na GrandeSérvia, anexando os eslavos da Bósnia-Hezergovina.

O nacionalismo sérvio se radicalizou com a criação de organi-zações extremistas, que apelou para ações violentas. Em 28 de

Guilherme II.

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268 História Geral

junho de 1914, o herdeiro do trono austríaco, Francisco Ferdinando,visitava a Bósnia. Durante o desfile pelas ruas de Serajevo, capi-tal da província, sofreu um atentado. Morreram o arquiduque esua mulher. O autor, um estudante sérvio ultranacionalista. A Áus-tria queria tirar proveito do atentado e eliminar a Sérvia.

A guerra

A recusa do ultimato austríaco pela Sérvia, para ceder parte desua soberania, motivou sua invasão, em 28 de julho. Os sérviosconseguiram o apoio russo, e estes o da França. Os russos inicia-ram uma mobilização geral. Os alemães, sentindo-se ameaçados,exigiram a desmobilização russa, mas foram negados. Diante doagravamento da situação, a Alemanha declarou guerra à Rússia. AFrança, solidária aos russos, declarou guerra à Alemanha.

Os alemães, para derrotar rapidamente a França, invadiram equebraram a neutralidade belga. Os ingleses, então, declararamguerra à Alemanha. A Itália permanecia neutra.

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Os aliados da Entente possuíam o controle do mar, tinham gran-des quantidades de matéria-prima e bloquearam a Europa. A Turquiaaliou-se à Alemanha, devido às suas rivalidades com a Inglaterra e aRússia. O Japão entrou ao lado da Entente graças ao Tratado de1902 com a Inglaterra e as perspectivas de conseguir colônias naÁsia. Os italianos almejavam os territórios nas fronteiras junto à Áus-tria. Em 1915 aderiram aos Aliados. A guerra se tornara mundial.

Na Batalha do Marne, as força francesas resistiram aos ataquesalemães. O fronte ocidental de guerra se estabilizou. Iniciava-se a“guerra de trincheiras”. Na frente oriental, os alemães obtiveramgrandes vitórias sobre os russos. Mas não eram decisivas.

Decisivo foi o ano de 1917. Os problemas políticos internos naRússia arruinaram sua organização militar. A vitória da revoluçãobolchevique, em outubro, levou a uma paz em separado com aAlemanha. Dessa maneira, os exércitos alemães puderam serdeslocados para o fronte ocidental.

A princípio, os Estados Unidos se declararam neutros. Porém, aneutralidade americana não impedia a venda de armamentos, pro-dutos agrícolas e matérias-primas principalmente para a Inglater-ra. Era a solidariedade econômica. Assim, capitais europeus eramtransferidos e acumulados nos Estados Unidos. Parte desse capi-tal era emprestado à Inglaterra. Era a solidariedade financeira.

O bloqueio marítimo imposto pelos britânicos à Alemanha foiseguido de um contrabloqueio submarino alemão, que declarouas ilhas Britânicas zona de guerra. Em poucos meses, foramafundados mais de 2 milhões de toneladas de navios britânicos.Mas navios americanos também foram torpedeados, quebrandoa resistência de muitos americanos que advogavam manter aneutralidade. Mas a grande imprensa era notoriamente favorá-vel aos aliados.

Os americanos declaram guerra à Alemanha, em 6 de abril. Arevelação do “telegrama Zimmermann” foi apenas o último pre-texto. Nessa nota, o embaixador alemão no México convidava

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esse país a juntar-se à Alemanha, caso os Estados Unidos de-clarassem guerra. Em troca, os mexicanos teriam de volta osterritórios perdidos no século XIX.

O presidente americano Woodrow Wilson, um intelectual idea-lista que ainda acreditava em uma paz justa e honrosa, sem ven-cidos nem vencedores, fez uma proposta em janeiro de 1918,chamada de “14 Pontos” que, em síntese eram:

1) Abolição da diplomacia secreta.

2) Liberdade dos mares à navegação internacional.

3) Fim das tarifas protecionistas.

4) Desarmamento geral.

5) Divisão das colônias eqüitativamente.

6) Retirada do território russo.

7) Retirada e restauração da Bélgica.

8) Devolução da Alsácia-Lorena para a França.

9) Retificação das fronteiras italianas.

10) Autonomia para os povos da Áustria-Hungria.

11) Restauração da Sérvia, Montenegro e Romênia.

12) Autonomia para os povos do Império Turco e a Interna-cionalização dos Estreitos.

13) Restauração da Polônia, com uma saída para o mar.

14) Criação de uma sociedade internacional de nações.

Como a situação militar parecia ser favorável à Alemanha, seusgenerais pressionaram para que o governo não aceitasse a pro-posta de Wilson.

O desembarque de muitos soldados americanos, armas, mu-nições e alimentos nos países aliados fizeram o resultado daguerra pender para os aliados. Em julho de 1918, os alemãesforam derrotados na Batalha do Marne. O moral das tropas caiue os produtos básicos se esgotaram rapidamente. O drástico

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271História Geral

racionamento foi imposto às tropas e à população civil. A Itáliaexpulsou os austríacos de seu território. Bulgária, Turquia eÁustria se renderam.

Os generais alemães, considerando que a guerra estava per-dida, pressionaram o kaiser a aceitar a paz baseada nos “14Pontos”. Os americanos se negaram a negociar. Convulsõessociais na Alemanha fizeram Guilherme II abdicar. A Repúblicafoi instalada e seus governantes solicitaram um armistício, emnovembro de 1918.

Exercícios propostos

1) Após a Guerra Franco-Prussiana de 1870/1871, o chanceler alemão,Bismarck, estruturou diversos “sistemas de alianças” que possuíamem comum os objetivos principais:1) Controlar os Bálcãs, dominado pelos turcos. 2) Isolar a França afim de conter-lhe o Revanchismo. 3) Por um freio à expansão italiana.4) Superar as divergências austro-russas. 5) Lançar as bases daexpansão colonial alemã.

a) 2 e 4. c) 1 e 3. e) 5 e 4.b) 2 e 5. d) 3 e 4.

2) A partir de 1890 se iniciou a aproximação da França com a Rússia e,logo em seguida, de ambas as nações com a Inglaterra. Da políticade fazer frente à diplomacia alemã surgiu:

a) A Liga das Nações.b) A Liga da Neutralidade Armada.c) A Tríplice Aliança.d) A Santa Aliança.e) A Tríplice Entente.

3) A I Guerra Mundial (1914-1918), depois de várias fases de operaçõesmilitares, apresentou uma fase de guerra submarina, iniciada em1917, e cuja principal conseqüência imediata foi:

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a) O abandono do princípio da neutralidade pela Suíça, Holanda e Espanha.b) A entrada dos Estados Unidos da América do Norte no conflito europeu.c) A derrota da armada dos Impérios Centrais na batalha naval de

Jutlândia.d) O afastamento dos russos do conflito, após a assinatura do Tratado

de Brest-Litvosk.e) A vitória das forças militares alemãs na batalha de Tannenberg.

4) Qual dos fatores abaixo não se relaciona com a entrada dos EstadosUnidos na I Guerra Mundial?

a) A guerra submarina alemã.b) Os empréstimos feitos à França e Inglaterra.c) A política Alemanha-México, com a Nota Zimmermann.d) O ataque a Pearl Harbor.e) A pressão dos grandes industriais sobre Wilson.

5) A causa imediata da I Guerra Mundial foi:a) O desejo da França em recuperar a Alsácia-Lorena.b) As rivalidades anglo-alemãs no campo industrial.c) O assassinato do príncipe herdeiro austríaco em Sarajevo.d) Os interesses russos nos Bálcãs.e) O desejo da Alemanha em ocupar a Europa.

Questões de vestibular

1) (FGV) No início do século XIX, grande parte dos problemas europeuspassava pelos Bálcãs. O aguçamento de alguns desses problemaslevaria à eclosão da 1a Guerra Mundial. Entre estes poderíamos citar:

a) As questões deixadas pendentes pelos tratados de San Stefano (1878)e Portsmouth (1905), bem como as pretensões alemãs na RuméliaOcidental.

b) O resultado do Congresso de Berlim de 1878 que instabilizou toda aregião permitindo uma expansão da influência russa a ponto de colidircom os interesses franceses e britânicos no Egito, bem como permitiu

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273História Geral

um aumento da influência alemã em regiões onde predominavam osinteresses russos como a Romênia, Bulgária e Sérvia.

c) A crescente influência alemã nos Bálcãs que conflitava com os interessesrussos na área, o pan-eslavismo fomentado pela França e Inglaterra emsua política de contenção da Turquia e a instabilidade do império austro-húngaro face às pressões italianas junto às suas fronteiras.

d) As pretensões expansionistas turcas que se chocavam com osinteresses da Rússia na Bósnia, o pan-eslavismo, bem como as duasguerras balcânicas que aumentaram consideravelmente o poderioalemão e turco em toda a área ameaçando os interesses anglo-franceses no Egito.

e) O nacionalismo eslavo, a crise bosníaca, o medo austríaco face àspretensões da Sérvia quanto à formação de uma “Grande Sérvia”, bemcomo o desejo russo de abrir os estreitos de Bósforo e dos Dardanelos.

2) (VUNESP) Ao eclodir a Primeira Guerra Mundial, em 1914, a Alemanhadispunha de um plano militar – o Plano Schlieffen – que tinha comoprincipal objetivo:

a) Ataque naval à Inglaterra.b) Neutralizar os Estados Unidos.c) A aliança com a Itália e o Japão.d) Agir ofensivamente contra França e a Rússia.e) A anexação da Áustria.

3) (Mauá-SP) O assassinato do arquiduque F. Ferdinando da Áustriaserviu como causa imediata da Primeira Guerra Mundial. Pode serindicado como uma de suas causas:

a) Os choques entre França e Inglaterra, disputando o nordeste da África.b) As disputas entre Alemanha e Áustria-Hungria, como decorrência da

reação austríaca à vitória alemã na guerra das Sete Semanas.c) Os desentendimentos entre França e Itália devido à Questão Romana.d) Os choques entre Alemanha e Rússia, como decorrência de movimentos

nacionalistas por ela liderados.e) As crises balcânicas entre Áustria-Hungria e Iugoslávia, que disputavam

o domínio da região.

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274 História Geral

Capítulo 28 – A Conferência de Paris e ostratados de paz (1919)

A Conferência de Paris

Representantes de trinta e dois países vencedores se reuniramna Conferência de Paz, no palácio de Versalhes, Paris, para discutiras sanções a serem impostas aos países derrotados. Os represen-tantes da Alemanha, Áustria, Hungria, Turquia e Bulgária, paísesperdedores, não foram admitidos na sala de conferência. Não par-ticiparam dos trabalhos. Apenas tomariam conhecimento das deci-sões. Um verdadeiro “diktat” (imposição). Os trabalhos acabaramsendo dominados pelos principais líderes dos vencedores: presi-dente Wilson, dos Estados Unidos; Lloyd George, primeiro-ministroda Inglaterra, e Clemenceau, primeiro-ministro da França, os doisúltimos agindo no interesse específico de seus países.

As demais nações foram preteridas e havia discordância entre ostrês grandes. Wilson ameaçou abandonar a conferência; Orlando,representante italiano, não ten-do as reivindicações territoriaisatendidas, abandonou Paris. Aintenção de Clemenceau e LloydGeorge era tirar o máximo pos-sível da Alemanha.

A luta pela posse dos despo-jos da guerra causou muitasvezes desentendimento entreos vencedores. A Conferênciade Paris transformou-se em umverdadeiro tribunal condena-tório dos países derrotados. Osfranceses exigiam a posse de Conferência de Paris.

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275História Geral

regiões fronteiriças com a Alemanha, ricas em ferro e carvão, alémda criação de um Estado-tampão entre os dois países. Os territó-rios em litígio seriam administrados pela futura Liga das Nações.

A conferência deu por terminados os seus trabalhos, em 1919,quando ficaram prontos os tratados. Os delegados dos paísesperdedores foram chamados à sala de conferência apenas paraassiná-los. Para cada país derrotado, um tratado em separado.

O Tratado de Versalhes

As principais disposições do Tratado de Versalhes aplicadas àAlemanha foram:

a) Princípio da culpabilidade: a Alemanha se declarava culpadapela guerra.

b) Cláusulas territoriais: devolução da Alsácia-Lorena para aFrança; cessão do porto de Dantzig e de um “corredor territo-rial” para a Polônia, que assim teria acesso direto ao mar;perda de vários territórios fronteiriços com outros paíseseuropeus; cessão das colônias para a França e Inglaterra,principalmente.

c) Cláusulas militares: desmilitarização da região do Reno; proi-bição de produção de armas pesadas e munições; reduçãosignificativa de navios da marinha de guerra; exército limitadoa apenas 100 mil homens; extinção da força aérea.

d) Cláusulas financeiras: a indenização a ser paga pela Ale-manha, estimada inicialmente em 5 bilhões de dólares, foielevada para 15 bilhões.

As indenizações financeiras impostas à Alemanha eram enor-mes. Iniciava-se com a cessão de locomotivas, navios, animais,carvão e produtos químicos. Seus rios foram internacionaliza-dos. As indenizações pagas em ouro fizeram com que a moedaperdesse seu lastro e a inflação disparou, atingindo níveis fan-

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tásticos. Um balanço resumido: a Alemanha perdia 48% de seuterritório e 6 milhões de habitantes, assim como todas as colô-nias; bancarrota financeira; incapacidade de investir; perda de10% da riqueza nacional (65 % do ferro, 45% do carvão, 72% dozinco, 57% do estanho, 15% da agricultura e 10% das fábricas);enorme redução de sua marinha mercante.

A indignação na Alemanha contra o tratado foi geral. O povo ea classe média, atingidos duramente pela depressão econômi-ca, buscaram no fascismo a resistência às imposições do trata-do. A aplicação drástica do tratado reforçou o nacionalismo, aunidade do germanismo, em vez de combatê-lo. Lançava, as-sim, as sementes de um novo conflito mundial, que não tardaria.

Os demais tratados

À Áustria aplicou-se o Tratado de St. Germain. Desmembrou-se o império. Dos 30 milhões de habitantes restaram apenasseis. Foi proibida qualquer união com a Alemanha. O exército foidrasticamente reduzido. Sem saída para o mar, sua marinha de-sapareceu. Foi obrigada a pagar indenizações de guerra. Da

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desintegração do Império Austro-Húngaro surgiram a Tchecos-lováquia e Iugoslávia.

A Hungria atingida por uma sangrenta guerra civil assinou oTratado de Trianon. Sofreu perdas territoriais, ficando reduzida aapenas 8 milhões de habitantes. O Tratado de Neully reduziu aBulgária à total impotência. Perdeu territórios tanto para a Iugos-lávia como para a Grécia.

As potências imperialistas vencedoras fragmentaram os terri-tórios do Império Turco.

À Turquia foi imposto, em 1920, o humilhante Tratado deSèvres. A Turquia cedeu territórios: a Palestina, aos britânicos, ea Síria e o Líbano, entregues à França. Os nacionalistas turcos,liderados pelo general Mustapha Kemal Ataturkl, levantaram-see depuseram o sultão. Negociaram um novo tratado, o deLausanne. Mantiveram um território na Europa, onde se localizaIstambul, e o estreito de Bósforo continuou sob controle turco. Otemor das conseqüências do triunfo do comunismo na Rússialevou as potências imperialistas a amenizar as condições impos-tas e a evitar o excessivo enfraquecimento da Turquia.

A Liga das Nações

A idéia de se criar uma entidade internacional que preservas-se a paz para toda a humanidade era anterior ao conflito. Alémdisso, o último dos “14 Pontos” de Wilson trazia uma propostaconcreta a respeito.

A nova organização fica conhecida como Sociedade ou Ligadas Nações, reunindo em Assembléia representantes de váriospaíses. Ela elegia os membros do Conselho, os juízes da CorteInternacional de Justiça de Haia e admitia novos países mem-bros. O Conselho tinha membros permanentes e temporários queescolhiam um presidente. Um Secretariado dirigia os trabalhos.Anexos ao organismo internacional funcionavam dois órgãos

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importantes, a Corte de Haia e a Organização Mundial do Traba-lho (OIT). A Liga das Nações foi a precursora da Organizaçãodas Nações Unidas (ONU).

Embora várias questões mundiais fossem resolvidas pela Liga,como o fim da Guerra do Chaco entre Paraguai e Bolívia (décadade 1930), a disputa pela cidade de Vilna entre Polônia e Lituânia,de Memel, entre Alemanha e Lituânia, sua capacidade de açãoficou muito limitada. As grandes potências agiam de acordo comos seus interesses. E os Estados Unidos, apesar de serem osautores da idéia, não participaram da Liga das Nações. O Con-gresso americano, dominado pela maioria republicana, rejeitou aadesão, optando pelo “isolacionismo”.

Exercício proposto

1) Dentre as cláusulas territoriais do Tratado de Versalhes destaca-se,pelas suas graves conseqüências para a política européia, a seguinte:

a) A restituição de Dantzig à Polônia, criando-se o chamado Corredor Polonês.b) A transformação das províncias turcas do Oriente em Estados

independentes, ou em Estados sob tutela (mandatos) da Sociedadedas Nações.

c) O desmembramento do Império Otomano.d) A anexação da Transilvânia à Romênia.e) A incorporação da Ístria à Itália, incluindo Trieste e o Trentino.

Questão de vestibular

1) (FGV) O Tratado de Versalhes, que determinou o final da PrimeiraGuerra Mundial, pode ser analisado da seguinte forma:

a) Como um tratado justo, pois, de acordo com seus termos, estabeleceu-seuma nova divisão da Europa, na qual se reconheceu o direito àautodeterminação dos povos balcânicos e das minorias étnicas e culturaisda Espanha, Itália e Alemanha, reconhecendo ainda como legítimo o governodos Sovietes instaurado na Rússia pela Revolução de 1917.

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279História Geral

b) Foi um tratado cuja inspiração se deveu aos chamados “14 pontos”propostos pelo presidente norte-americano Wilson, e que estabelecia a“Paz sem Vencedores”.

c) Ao permitir que a Alemanha mantivesse intactos seus exércitos e suaindústria bélica, bem como que a Alsácia-Lorena, região riquíssima emferro e carvão, permanecesse em mãos alemãs, já continha o germe daSegunda Guerra Mundial.

d) Foi um tratado inócuo, do ponto de vista do rearranjo das forças em jogonas relações internacionais, uma vez que não extinguiu os três grandesimpérios que dominaram a cena política européia durante o século XIX; oImpério Alemão, o Império Austro-Húngaro e o Império Russo.

e) Revela o enorme espírito de “revanche” da França, além de humilhar osalemães e reduzir sua economia e capacidade produtiva ao mínimo.Seus termos podem ser considerados como o “caldo de cultura” idealpara o futuro desenvolvimento e propagação da ideologia nazista.

Capítulo 29 – A revolução de 1917 na Rússia

Antecedentes

A monarquia russa tinha uma longa tradição de autoritarismoe de repressão, sob a dinastia dos Romanov. Uma verdadeiraautocracia. Nenhuma participação era permitida ao povo.

Vários povos viviam no império russo, que se estendia desdea Europa até os confins da Ásia. O czar Nicolau II governava aRússia desde 1894, como um protetor dos privilegiados, a no-breza proprietária de terras, um clero ortodoxo fanático e umacorte corrupta e bajuladora. A Rússia havia parado no tempo.As idéias liberais chegaram aos russos desde a invasãonapoleônica, mas circulavam apenas em grupos fechados deintelectuais. Bem como as idéias socialistas, essas entre ostrabalhadores urbanos.

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A derrota russa na guerra contra o Japão (1905) fez com que oczar abolisse alguns privilégios e convocasse a Duma (Parlamen-to). Mas os deputados não possuíam, de fato, qualquer poder.

Mesmo assim, apesar da pouca liberdade política, os partidospolíticos cresciam na Rússia, como Partido Constitucional De-mocrata (os Cadetes), favoráveis ao regime capitalista e a umamonarquia constitucional, semelhante ao modelo inglês. Defen-diam a propriedade privada e a liberdade econômica. Era forma-do por membros da burguesia e nobres reformistas.

O Partido Social Democrata Russo era partidário do coletivismoe da socialização dos meios de produção, defendia os camponesese os operários. Radicais, seus membros defendiam a proletarizaçãoda sociedade, com a extinção da propriedade privada. Porém, opartido se dividiu no Congresso de 1905. A maioria (bolchevistas),sob a liderança de Lenin, propunha uma revolução para a tomadado poder, a implantação de um governo proletário e a socializaçãodos meios de produção. A minoria, conhecida como menchevique,optou pela social-democracia, um movimento reformista.

Operários russos.

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281História Geral

O descontentamento da burguesia pela não-participação nopoder se juntava ao dos camponeses, que lutavam contra a per-sistência da servidão. O operariado era pouco numeroso, masbem ativo politicamente e organizado em sindicatos.

O czar Nicolau II era manobrado pela corte e por sua mulher,Alexandra, que, por sua vez, era influenciada pelo “monge”Rasputin, um fanático fanfarrão que se intitulava “santo”. Consi-derava-se o único capaz de salvar o herdeiro imperial da hemofilia.

Desde janeiro de 1905, quando milhares de pessoas foramassassinadas em São Petersburgo, a capital, no episódio co-nhecido como “Domingo Sangrento”, temia-se uma grande revo-lução social. A manifestação era pacífica, o povo queria “pão epaz”. Apesar dos graves problemas, o czar tinha esperanças deexpandir o território russo às custas do decadente império turco,anexando os Bálcãs e, se possível, o estreito de Bósforo. Ali-mentando a idéia do pan-eslavismo, aliou-se à França e Ingla-terra, formando a Tríplice Entente. A elite e o governo russosacreditavam que poderiam conquistar territórios estratégicos eabafar a agitação interna por meio de uma guerra vitoriosa.

Em 1914, estourou a guerra, com a imediata participação daRússia. Com estradas de péssima qualidade e comunicaçõesdeficientes, um exército despreparado, era batida pelos alemãesem várias batalhas. Logo se fez ouvir o clamor pela paz nas trin-cheiras, onde os soldados morriam de fome e de frio. Muitosdesertavam, abandonando o fronte.

Os russos na I Guerra Mundial.Revolução de 1905.

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282 História Geral

A revolução liberal-burguesa de fevereiro de 1917

As privações da guerra, as derrotas do exército e o arcaísmodas estruturas levantaram o povo contra o czar. Este ordenou oesmagamento de qualquer manifestação e mandou fechar aDuma. Um levante dos operários de Petrogrado (ex-São Pe-tersburgo) tomou a forma revolucionária, enfrentando as forçasgovernamentais, e instituindo o “Conselho dos Trabalhadores eSoldados”, os “sovietes”, que se multiplicaram pela Rússia. Paraa burguesia russa e para as potências ocidentais, só um golpecontra a monarquia poderia evitar uma revolução popular e man-ter a Rússia na guerra contra a Alemanha. A rebelião geral sedividia entre o socialismo e o liberalismo.

O czar Nicolau II tentou salvar a monarquia, abdicando em fa-vor de seu irmão, em fevereiro de 1917 (março pelo calendáriogregoriano). Mas o governo provisório não aceitou a manobra. Opoder foi assumido pelo cadete Lvov e pelo mencheviqueKerensky, que decretaram as primeiras medidas governamen-tais. Pretendiam um governo li-beral e prosseguir a guerra. OsAliados reconheceram Lvov,mas o “soviete” de Petrogradonão, alegando que era uma dis-puta entre potências imperialis-tas capitalistas. O governo pro-visório não aceitou. Enquantoisso, Lenin voltava do exílio, au-xiliado pelos alemães que que-riam a Rússia fora da guerra.Lenin assumiu a liderança dosoviete em abril de 1917, sobo lema “todo o poder para ossovietes”. Pretendia implantara ditadura do proletariado. Lenin discursa em 1917.

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A revolução socialista de outubro de 1917

O soviete desencadeou uma campanha nacional para tirar aRússia da guerra. Soldados se rebelavam e voltavam para casa.Os levantes populares se tornavam freqüentes nas cidades. Leninpregava o programa “Paz, Terra e Pão”. O governo não resistiu.Lvov se demitiu, mas Kerensky permaneceu, com poderes dita-toriais. Teimosamente, manteve a Rússia na guerra. Entre julhoe outubro de 1917, a ameaça de guerra civil era generalizada.Enquanto Lenin recrutava novos adeptos aos sovietes, Trotsky,outro líder bolchevique, organizava a Guarda Vermelha. A rebe-lião alcançava os campos, com assaltos às propriedades e per-seguição aos latifundiários. A burguesia no poder não tem asrédeas do Estado nas mãos. O abastecimento da população civile dos soldados se agravava.

Em 24 de outubro (7 de novembro pelo calendário gregoriano),os bolcheviques deram um golpe e tomaram o poder. Kerenskyfoi obrigado a se exilar, enquanto um congresso de sovietes sereunia em Petrogrado e Lenin era escolhido chefe doComissariado do Povo, com o objetivo de dirigir o país.

Primeiras medidas do governo comunista

Lenin tratou de assegurar o poder com medidas populares.Impôs uma paz imediata e confiscou todas as grandes proprie-dades em proveito dos comitês agrários. Bancos, ferrovias, gran-des indústrias foram estatizadas e sua administração entregueàs lideranças dos trabalhadores. Nomeou Trotsky para Ministé-rio do Exterior, e Stalin para o das Nacionalidades.

Lenin obteve a paz a todo custo. Desmobilizou o exército enegociou com a Alemanha, sob condições desfavoráveis. Foiimposta à Rússia uma paz humilhante. Pelo do Tratado de Brest-Litóvsky, assinado por Trotsky em 1918, os russos abriram mãoda Lituânia, Estônia, Letônia, parte da Polônia e Finlândia.

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Terminada a Grande Guerra em novembro de 1918, as tenta-tivas contra-revolucionárias não tardaram. Os monarquistas fo-ram apoiados pelos vencedores aliados que bloquearam a Rússiapelo mar. Os derrotados alemães pressionam as fronteiras oci-dentais. A França tomou Odessa; a Inglaterra, Baku; o Japão, aSibéria Oriental; os Estados Unidos ajudaram os contra-revolu-cionários a tomar Vladivostok. O Exército Branco, comandadopor Kornilov, cercou os bolchevistas em Petrogrado e Moscou.Os aliados temiam o contágio revolucionário uma vez que agita-ções e revoltas socialistas ocorriam na Alemanha e na Itália. Tro-pas e navios passaram a vigiar pontos estratégicos russos eapoiaram os “brancos” com material de guerra.

Quando tudo fazia crer que a derrota dos socialistas era inevi-tável, veio a contra-ofensiva vermelha. Trotsky organizou o Exér-cito Vermelho. A Tcheca, polícia secreta, foi estruturada. Come-çava a eliminação dos líderes contrários ao novo regime e a im-plantação de um verdadeiro terror.

Cena da Guerra Civil Russa.

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285História Geral

O governo organizou a Federação das Repúblicas SocialistasSoviéticas Russas e impôs uma economia chamada “comunis-mo de guerra”. As principais medidas foram:

a) Todas as terras foram nacionalizadas.

b) Os artigos de primeira necessidade foram tabelados e ra-cionados.

c) As propriedades da Igreja Ortodoxa foram confiscadas.

d) Os salários foram igualizados.

e) O lucro foi proibido.

Os resultados foram desastrosos. A Rússia estava em ruínas,com a produção agrícola reduzida à metade de antes da guerra,a produção industrial e os transportes destruídos e a inflaçãoincontrolada. A depressão econômica ampliava-se, enquanto osburgueses e nobres fugiam para o exterior com suas fortunas.Apesar de todos os desastres, o Exército Vermelho triunfou. Aação da III Internacional Comunista (Komintern), fundada em1919, forçou os países capitalistas a retirar seu apoio ao Exérci-to Branco e a abandonar o território russo. E, apesar de todas asadversidades, boa parte do povo apoiava o novo regime.

Uma nova política econômica (NEP)

Para enfrentar a profunda crise econômica, o governo de Leninfez grandes mudanças. O lema “Um passo para trás, para poderdar dois para frente”, algumas práticas capitalistas foram tolera-das. Entre as novas medidas, destacavam-se:

a) Liberdade de comércio aos pequenos produtores.

b) Hierarquização dos salários.

c) Reunião de trabalhadores em cooperativas.

d) Não mais requisição da produção agrícola pelo Estado.

e) Fim do racionamento para muitos produtos.

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f) Introdução de um sistema bancário sob controle do Estado.

g) Permissão para investimentos estrangeiros, sob controle doEstado.

h) Privatização de empresas com menos de vinte trabalhadores.

i) Contratação de técnicos estrangeiros, especialmente para osetor de indústria pesada.

Como conseqüência daimplantação das novasmedidas, a economia re-tomou os índices anterio-res à Grande Guerra. Aprodução, em geral, cres-ceu, os preços caíram eos salários recuperaramboa parte de seu poderaquisitivo. O governo pô-de investir mais, colabo-rando assim para a ex-pansão de todas as ativi-dades econômicas. Alguns grupos sociais foram beneficiados,contrariando um dos princípios do socialismo (sociedade iguali-tária). Os kulaks (camponeses) e os nepmen (comerciantes) eramos “novos ricos” na sociedade socialista.

O triunfo de Stalin e os Planos Qüinqüenais

Lenin morreu em 1924. A luta pelo poder se travou entre Staline Trotsky. O primeiro propunha que a Rússia deveria consolidaro socialismo internamente; Trotsky acreditava que deveria haveruma revolução proletária mundial.

As teses de Stalin triunfaram e ele se tornou o todo poderosodo Partido Comunista da URSS. Trotsky foi para o exílio. Apóspassar por alguns países, exilou-se no México, onde acabou

Operários da URSS na década de 1920.

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assassinado, em 1940, por ordem de Stalin. A política de Leninfoi mantida até 1927. Aos poucos, o Partido Comunista impunhasua autoridade sobre o Estado. Foi instalado na URSS o dirigismoestatal autoritário. A estabilidade interna permitiu uma rápida reor-ganização industrial e a melhoria de vida da população. Em 1928,surgia o primeiro Plano Qüinqüenal de desenvolvimento econô-mico. Estabeleciam-se metas de crescimento, com larga prefe-rência para a indústria de base e setor energético. Os investi-mentos do Estado, a ação do Partido Comunista e o entusiasmoda população transformavam o país numa nova potência mundi-al. As metas, em vários setores, foram alcançadas e ultrapassa-das. Também houve grande preocupação do governo com a edu-cação, transportes e saúde.

O preço político, porém, foi amargo. O sucesso econômicoalicerçou o poder de Stalin. A ditadura do partido, sob seu co-mando, anulou as liberdades democráticas que a Constituiçãode 1936 pretendia estabelecer. Ocorreram grandes perseguiçõespolíticas, os expurgos tornaram-se rotineiros e os “dissidentes”eram mandados para a Sibéria, como nos tempos do czar. Nãohavia liberdade política, nem de pensamento, nem de imprensa.O totalitarismo de esquerda se consolidava no stalinismo. Esta-do e Stalin se fundiam em um só corpo.

Exercícios propostos

1) Para se poder explicar a Revolução Russa de 1917, é necessário levarem conta diversos fatores e circunstâncias, podendo-se, no entanto,considerar como fundamental:

a) As derrotas dos exércitos russos nas frentes de batalha.b) As dificuldades políticas e econômicas da sociedade russa no início

de 1917.c) Os problemas criados pelas reivindicações das minorias nacionais.d) A ação dos líderes bolchevistas.e) As características da estrutura agrária.

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2) Após o final da Revolução, Lenin criou o NEP, que definiu como “umpasso para trás, para poder dar dois para frente”. Diante dessacitação, o NEP consistia:

a) Na autorização de manufatura privada e do comércio particular empequena escala.

b) Na hieraquização de salários.c) Na permissão para que os camponeses vendessem o trigo no

mercado livre.d) Essa política vigorou até 1928, quando da adoção do Primeiro Plano

Qüinqüenal.e) Todas as alternativas estão corretas.

Questões de vestibular

1) (FGV) Leia o seguinte texto:“É ingênuo esperar a maioria “formal” dos bolcheviques; nenhumarevolução espera isso... Precisamente as ruinosas vacilações da“Conferência Democrática” devem esgotar e esgotarão a paciênciados operários de Petrogrado e Moscou! A história não nos perdoaráse não tomarmos agora o Poder”.Diga quem o escreveu:

a) Lenin.b) Yeltsin.c) Trotsky.d) Rosa de Luxemburgo.e) Kerensky.

2) (CESGRANRIO) Uma das principais etapas da Revolução Russa foi aNEP – Nova Política Econômica, a partir de 1920/21. Não se tratou deum sistema concebido previamente e em sua totalidade mas, sim, dediversas medidas de emergência, impostas pelas circunstâncias, nãosem muitas hesitações e incertezas. Para entender o conteúdo da NEPé preciso compará-la à etapa anterior, a do chamado “comunismo deguerra”, caracterizada pela concentração e centralização da produção,

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requisições forçadas, eliminação da moeda e da própria economia demercado. No momento em que foi iniciada, a NEP era uma tentativa deenfrentar as diversas revoltas que então se verificavam nos camposbem como os efeitos catastróficos da grande seca de 1921 sobre aprodução agrícola. Pode-se afirmar então que, entre os objetivos decla-rados da NEP, dois dos mais importantes eram os seguintes:

1) Devolver a confiança aos camponeses: livres das requisições, eles podemnegociar 90% da sua produção no mercado livre.

2) Favorecer os kulaks, a minoria camponesa que se enriquece às custasdos grandes excedentes agrícolas vendidos às cidades.

3) Liberar o pequeno comércio e a pequena indústria, para que o camponêstenha o que e como comprar com seus produtos.

4) Superar o problema gerado pelos altos preços agrícolas e baixos preçosdos produtos industrializados.

5) Permitir, graças à inflação e ao predomínio das trocas, o enriquecimentorápido dos “Nepman”.Assinale:

a) Se apenas 1 e 2 estiverem corretas.b) Se apenas 2 e 4 estiverem corretas.c) Se apenas 1 e 3 estiverem corretas.d) Se apenas 3 e 5 estiverem corretas.e) Se apenas 4 e 5 estiverem corretas.

Capítulo 30 – As democracias ocidentaisno período entre guerras

A Europa perde a liderança

A guerra levou a Europa a uma crise sem precedentes. Umadas conseqüências foi a perda da sua hegemonia mundial paraos Estados Unidos. O capitalismo concorrencial no comércio in-ternacional agravava a crise inglesa e de muitos países euro-

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peus. Envolvidos na guerra, deixaram uma brecha que foi logopreenchida pelo capitalismo americano.

A Grã-Bretanha, apesar de vitoriosa, perdeu quase 1 milhãode homens, endividou-se externamente e o seu imenso impériocomeçou a sofrer um declínio irreversível. A Irlanda do Sul alcan-çou sua independência. Desemprego, instabilidade e insatisfa-ção levaram ao poder, em 1924, o Partido Trabalhista em substi-tuição ao tradicional Liberal. Pela primeira vez, um partido, quese dizia representante dos interesses dos trabalhadores, assu-mia o governo de uma das principais nações capitalistas e impe-rialistas do mundo.

O centro da economia mundial se deslocou no pós-guerra daEuropa para os Estados Unidos. O centro do capitalismo finan-ceiro deixava de ser a City de Londres, e passava a ser WallStreet em Nova York, onde se mantém até hoje.

Para a França, a guerra tinha um significado de revanche na-cional pela derrota humilhante na Guerra Franco-Prussiana de1871. Todavia, o povo francês pagou muito caro pela vitória so-bre a Alemanha. As principais batalhas foram travadas em seuterritório, acarretando muita destruição. Cerca de 10% do territó-rio, devastado, um terço da riqueza nacional destruída. Morre-ram aproximadamente 1 milhão e 500 mil franceses.

O governo enfrentava um enorme déficit orçamentário. Parasaná-lo e investir na reconstrução nacional, os franceses preci-savam das indenizações de guerra a serem pagas pelos ale-mães. A ocupação da região alemã da Renânia objetivou obrigara Alemanha a fazer os pagamentos.

No final da década de 1920, a França havia se recuperadoeconomicamente. Mas, à semelhança dos principais países, foiduramente afetada pelo grande crash de 1929. Os partidos ex-tremistas, fascista e comunista, dominaram a vida política do paísna década de 1930. A ameaça da direita de chegar ao poderestimulou os partidos de esquerda à união. Ganharam as elei-

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ções, colocando no poder a Frente Popular, com um primeiro-ministro socialista. Mas, se havia o apoio dos trabalhadores, fal-tava-lhe obviamente o apoio da burguesia, notoriamente conser-vadora. Uma soma considerável de capitais foi retirada do país.A conseqüência foi recessão e desemprego a partir de 1937.

A hegemonia dos Estados Unidos

A guerra proporcionou um crescimento extraordinário aos Es-tados Unidos. Enquanto a Europa tentava se recuperar do de-sastre econômico do pós-guerra, os americanos conheceram umanotável expansão econômica. Suas indústrias inundaram o mer-cado mundial de produtos com preços baixos e de boa qualida-de. Toda a produtividade industrial adquirida durante o conflitoagora era utilizada para a conquista do mercado mundial.

Wall Street.

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Nunca um país havia passado por um desenvolvimento tão gran-de quanto os Estados Unidos no período do pós-guerra. A prosperi-dade muito rápida durante a guerra provocou mudançascomportamentais e morais. A onda de liberalidade teve a sua con-tra-reação. O puritanismo religioso da classe média e do meio-oes-te forçam a aprovação da Lei Seca. Ficava proibida a produção,transporte e comercialização de bebidas alcoólicas nos EstadosUnidos. Estava preparado o caminho para a formação de ganguesque controlariam o mercado negro de bebidas alcoólicas. Por outrolado, o radicalismo racista se expandiu no renascimento da Ku-Klux-Klan, com freqüentes linchamentos de negros.

Durante a guerra, cresceram as reivindicações operárias, cujossalários reais se expandiram. Nem a intervenção do Estado con-tra as greves impediu o avanço social dos trabalhadores. Ade-mais, uma política de salários altos provocou o crescimento domercado interno que, em parte, absorvia a crescente produçãoindustrial. O “boom” tinha certo respaldo. Afinal, nenhum país domundo tinha, até então, um padrão de vida tão elevado como osamericanos na década de 1920. Parecia que a “utopia da socie-dade permanentemente feliz” havia se concretizado para sem-pre. O otimismo era contagioso, mas perigoso.

Músicos de Jazz: Estados Unidos na década de 1920.

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293História Geral

Desde o final do século XIX aumentara consideravelmente a par-ticipação norte-americana na economia da América Latina. A políti-ca do dólar, ou seja, o empréstimo para os países consideradosamigos, era substituída por intervenções militares, quando os inte-resses americanos sofriam qualquer risco. Durante a presidênciade Theodore Roosevelt, no começo do século XX, as intervençõesforam a norma. Uma poderosa esquadra de guerra e os fuzileirosnavais impunham os objetivos americanos. As principais vítimaseram os países centro-americanos, chamados pejorativamente de“repúblicas bananeiras”. O “corolário Roosevelt” era a política do“Big Stick” ou o “grande porrete”, sintetizada na frase: “Soft talkingand big stick”, ou seja, “fale macio e (use) o grande porrete”. Se apolítica do dólar não funcionasse, empregava-se a força.

A recusa dos Estados Unidos de participarem da Sociedade dasNações marcou o fim do internacionalismo, um ideal do presiden-te Wilson. Os republicanos, conservadores, com maioria no Con-gresso, recusaram a participação americana no cenário mundial,impondo uma política isolacionista. Mas, se a política eraisolacionista, os interesses capitalistas eram internacionalistas.

Os presidentes da década de 1920 eram republicanos, politi-camente conservadores, economicamente, liberais. A economiacapitalista devia se conduzir por si mesma. A intervenção do go-verno era totalmente repudiada. Os preços, conduzidos pela mãoinvisível do mercado.

Exercícios propostos

1) “Portanto, o desejo de controlar as fontes de matérias-primas foium segundo fator do imperialismo. O primeiro, sabe o leitor, foi anecessidade de encontrar mercado para os artigos excedentes. Haviaoutro excedente, também buscando um mercado adequado, e queconstitui a terceira e talvez mais importante causa do imperialismo.Foi o excesso de capital.

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A indústria monopolista trouxe grandes lucros a seus donos. Super-lucros. Mais dinheiro do que eles poderiam usar. Parece incrível, masem certos casos os lucros foram tão grandes que os organizadoresde trustes não poderiam gastá-los todos, mesmo que tentassem.”

(Huberman, L. – História da Riqueza do Homem.)A importância do texto é explicar que:

a) Matéria-prima gera dinheiro.b) Produto manufaturado consome dinheiro.c) Dinheiro gera cada vez mais dinheiro.d) Grandes gastos são prejudiciais ao sistema econômico.e) O Imperialismo foi “filho” da matéria-prima e do produto manufaturado.

2) Nesta questão são feitas três afirmativas, cada uma delas podeestar certa ou errada. Leia-as com atenção e responda de acordocom a tabela abaixo:

a) Se apenas a afirmativa I é correta.b) Se apenas as afirmativas I e II são corretas.c) Se apenas as afirmativas I e III são corretas.d) Se apenas as afirmativas II e III são corretas.e) Se todas as afirmativas são corretas.I. As crises geradas pela Primeira Guerra provocam o abandono progres-

sivo da organização liberal dos Estados democráticos.II. A Liga das Nações, criada após a Primeira Guerra, é a concretização

de um dos 14 Pontos de Wilson.III. A Liga das Nações é eficaz na manutenção da paz, no período após a

Primeira Guerra.

3) Uma das principais conseqüências econômicas do Primeiro ConflitoMundial foi:

a) Intenso surto inflacionário em todos os países capitalistas.b) Grande deslocamento de contingentes demográficos dentro e fora da

Europa.c) Fim dos impérios coloniais face ao movimento de Descolonização.d) Declínio relativo das potências capitalistas européias no plano mundial.e) Fortalecimento das Potências Centrais.

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4) “A Primeira Guerra Mundial, mais longa que o esperado, subverteu aeconomia européia e trouxe-lhe graves problemas financeiros, alémde ser responsável pelo recuo do Liberalismo.”Constata-se que:

a) Ambas as proposições estão incorretas.b) Ambas as proposições estão corretas.c) Ambas as proposições estão corretas, mas a razão não se refere à

asserção.d) A asserção é uma proposição incorreta e a razão, correta.e) A asserção é uma proposição correta e a razão, incorreta.

Questão de vestibular

1) (PUCCAMP) Dentre os elementos que compunham a conjuntura his-tórica favorável à difusão da propaganda fascista após a Primeira GuerraMundial, podem ser citados (indicar o único elemento estranho ao grupo):

a) A agitação social e intensificação dos movimentos de esquerda.b) As dificuldades econômicas e sociais ligadas à inflação e ao desemprego.c) A insatisfação crescente entre os elementos da classe média.d) A perda de confiança na eficácia do Estado liberal.e) O desmoronamento do sistema colonial europeu na África e na Ásia.

Capítulo 31 – A crise do capitalismo liberale o New Deal

Os primeiros sinais da crise

A grande crise do capitalismo na década de 1930 tem explica-ções várias de acordo com as diferentes visões dos historiado-res. Para uns, uma crise inicialmente econômica (excesso deprodução), para outros, uma crise financeira (especulação). Paramuitos, uma combinação de ambos os fatores.

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Certamente um conjunto de elementos interdependentes tra-balhou para a crise que provocou a maior recessão econômica eo maior abalo na história do capitalismo liberal. A ponto de ojornal Pravda, órgão do Partido Comunista da URSS, ter escrito:“O capitalismo morreu”.

Há um consenso entre os analistas da crise. Ela se iniciou nosEstados Unidos. A mecanização industrial e agrícola provocava,simultaneamente, uma superprodução e o desemprego de tra-balhadores. As mercadorias custavam menos, mas não podiamser absorvidas pelo mercado. Afinal, o desemprego se alastravae os salários não acompanhavam o crescimento da produção.Havia portanto um subconsumo. Em suma, a racionalização daprodução, com a diminuição de custos, provocava o aumento daprodução (maior oferta) e do desemprego (menor consumo).

A solução fora, durante um período, as exportações, especial-mente para a Europa. Mas o pagamento das dívidas dos paíseseuropeus, contraídas durante a Grande Guerra, diminuiu perigo-samente suas reservas. Diminuía, portanto, sua capacidade deimportar, prejudicando assim as exportações americanas. Comoos pagamentos das dívidas eram feitos em ouro, as reservas fi-nanceiras da Europa se restringiam. Essa situação crítica se agra-vou ainda mais com a recuperação econômica de muitos países,como a Alemanha. O suficiente para abastecer seu próprio mer-cado, não dependendo tanto de importações. Como os estoquesamericanos aumentavam, ocorria uma crise de superprodução.

A primeira medida dos países europeus para evitar a hemor-ragia do ouro foi a diminuição das compras no exterior. Com isso,o comércio internacional sofreu uma violenta queda, prejudican-do principalmente o maior importador e exportador, os EstadosUnidos. Por outro lado, muitos capitais europeus, especulativose produtivos, emigraram para países que ofereciam mais garan-tias e melhores condições de lucros. No caso, os Estados Uni-dos. Assim, ampliou-se a oferta de dinheiro no mercado ameri-cano, com a correspondente queda na taxa de juros. Menos ju-ros, mais tomada de empréstimos. As vendas a crédito se expan-

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diam perigosamente. O endividamento público era alto; portanto orisco de inadimplência rondava o sistema financeiro. Um proble-ma: freqüentemente os empréstimos não eram para financiar oconsumo, mas para a aquisição de ações. Como a procura eramaior que a oferta, a tendência era de alta. Especulavam os gran-des financistas e pequenos investidores. As bolsas, especialmen-te a de Nova York, apresentaram, ao longo da década de 1920,uma tendência altista. Todos queriam enriquecer facilmente. Dis-so resultaram uma formidável especulação no mercado acionárioe o excesso da utilização de créditos pelos consumidores.

Tabela referente aos números da crise.

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A crise se manifesta: o crash na Bolsa

O crescimento econômico dos Estados Unidos perdeu o seu ím-peto no final da década de 1920. A recuperação européia e o prote-cionismo se generalizavam, entravando o comércio internacional.Cada vez era mais difícil manter a liberdade de compra e venda.

O dia trágico: 24 de outubro de 1929, a “quinta-feira negra”.

Nesse dia, o mercado foi dominado pela oferta. O valor dasações despencou. Ingenuamente, a grande maioria dos agentesfinanceiros ainda acreditava que no dia seguinte viria a recupe-ração. Mas ela não veio. Esperaram pela segunda-feira, e a ten-dência de baixa se manteve. Como se manteve nas próximassemanas, meses e anos. Pelo menos, até 1932.

A bolsa, sustentada artificialmente pelos anos de grande cir-culação financeira, se via de repente sem os seus capitais degiro. Os Estados Unidos, que com a guerra haviam se transfor-

Quinta-Feira negra.

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mado no centro econômico mundial, sofreram o primeiro e maiorimpacto da quebra do mercado acionário. Seguiu-se a bancarro-ta de bancos, fábricas e minas. O desemprego, em massa, sealastrou espantosamente. A crise, inicialmente localizada (Esta-dos Unidos), tornou-se rapidamente mundial, pela integração dosmercados. Somente a URSS teria escapado de seus efeitos.

O desastre econômico evoluiu em escala mundial, desempre-gando aproximadamente 25 milhões de trabalhadores. A Europafoi duramente afetada. A Alemanha e outros países europeus ha-viam-se endividado enormemente com os Estados Unidos e nãotinham condições de saldar esse débito. Aproximadamente, 60%das reservas mundiais de ouro se concentravam na América, e ogoverno se recusava a conceder maiores créditos para o exterior.

Os produtos manufaturados abarrotavam os portos, pois o con-sumo se recolheu. Nos Estados Unidos, o algodão apodrecia

Gráfico referente à crise.

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nos campos, a carne bovina e a lã caprina não tinham comprado-res. No Canadá, boa parte do trigo foi destruída. No Brasil, o caféfoi lançado ao mar. Os produtos primários tinham seus preçosem queda vertical. De 1929 a 1931 as exportações americanasrecuaram em 68%. Com a queda dos preços dos produtos agríco-las, os produtores rurais não conseguiam resgatar suas hipotecasjunto aos bancos. Perderam suas propriedades e engrossaram amassa de desempregados. Até 1933, 85 mil empresas faliram nosEstados Unidos, o número de desempregados alcançou 14 mi-lhões. Cerca de 4 mil bancos fecharam suas portas e os saláriossofreram uma redução real de 50% do seu valor anterior à crise.

A crise se torna mundial

Mesmo os países mais ricos sofreram com a crise. Vários ban-cos ingleses, alemães e austríacos foram à bancarrota. Na In-glaterra, a indústria entrou em recessão, as importações supera-ram as exportações, provocando déficits na balança comercial.Uma das medidas foi desvalorizar a libra, desvinculá-la do pa-drão ouro, para manter as reservas metálicas. A situação só nãofoi mais grave porque havia ainda um imenso império, sistemati-camente explorado.

Uma das conseqüências da crise foi o ascensão de movimen-tos políticos extremistas, que desejavam a implantação de umEstado autoritário, para enfrentá-la. O comunismo e o fascismoforam os movimentos políticos radicais que mais se beneficia-ram dela. Esse comportamento ocorreu na Europa, na Américae na Ásia. O Brasil não foi exceção. O integralismo (o fascismobrasileiro) e o comunismo dominaram o cenário político nacionalem boa parte da década de 1930.

As medidas aplicadas em diversos países fizeram cair por ter-ra os dogmas do capitalismo liberal, como o livre-cambismo e anão-intervenção do Estado na economia. Os economistas revi-

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saram os conceitos clássicos da não-intervenção estatal e deliberalismo total. O planejamento econômico e a intervenção doEstado, para orientar os investimentos, distribuir melhor a rique-za e estimular o consumo transformaram, mas salvaram o capi-talismo. A preocupação com o superávit orçamentário governa-mental já não era mais primordial. Inflação e déficit orçamentárioeram aceitos desde que estimulassem a economia e o consumo.Os novos economistas, que passaram a conduzir a política eco-nômica das várias democracias ocidentais, eram fiéis discípulosdo teórico britânico Lorde Keynes.

Franklyn Roosevelt e a era do New Deal

A eleição de FranklynRoosevelt à presidênciados Estados Unidos, nofinal de 1932, significouum repúdio ao imo-bilismo dos republica-nos, para quem o mer-cado tudo corrigiria como tempo. Era a esperan-ça do eleitorado no Par-tido Democrata, no sen-tido de resolver a crise.Roosevelt, no discurso de posse, em janeiro de 1933, comuni-cou sua política econômica, o New Deal, pela qual o Estado sub-meteria as finanças e a produção ao seu controle e coordena-ção. A ação do Federal Reserve Bank foi fundamental, como umBanco Central. O dólar foi desvalorizado em 41% e facilitou-se ocrédito para a produção e consumo. Inaugurava-se a era do“dirigismo econômico”, do intervencionismo.

A construção de grandes obras públicas, como usinas hidre-létricas, rodovias, sistemas de irrigação, visava diminuir o de-

Discurso de Franklin Roosevelt.

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semprego e reativar o consumo. Medidas para aumentar o salárioreal dos trabalhadores, diminuir as horas de trabalho, instituir oseguro e a assistência social eram extremamente populares entreos trabalhadores. O Social Security Act, de 1935, assegurava obem-estar social, amparando os trabalhadores na hipótese dedesemprego, invalidez e velhice. A desvalorização controlada damoeda foi uma das formas de forçar a sua circulação, pois boaparte do numerário estava estocada nos grandes bancos.

Mesmo sendo acusado por empresários de “simpático ao co-munismo” e por trabalhadores de ser um “agente do novo capita-lismo”, Roosevelt foi reeleito em 1936. A razão fundamental: osucesso, em grande parte, do New Deal. Até 1937, o desempre-go se reduziu a 7,5 milhões, a produção industrial cresceu 64%,a renda nacional, 70% e as exportações, 30%. O início da Se-gunda Grande Guerra completaria o sucesso.

Exercícios propostos

1) Sobre a crise que se instalou na economia e na sociedade norte-americana após a quebra da Bolsa de Nova York, em outubro de 1929,são corretas as afirmações abaixo, com exceção de uma:

a) O agravamento das tensões sociais face ao grande número de desem-pregados nos centros urbanos e nas áreas rurais, pois a crise atingiu todosos setores da economia: comércio, finanças, agricultura e indústria.

b) A realização de uma reforma agrária que limitou a extensão dapropriedade, assegurando-se então a distribuição de parcelas de terraentre as famílias desempregadas.

c) O agravamento das dificuldades no período de 1929-32, revelando aineficiência das medidas adotadas pelo governo Hoover (republicano),criou condições para a vitória do partido da oposição (F. D. Roosevelt).

d) A adoção da política do New Deal, que sofreu críticas de algunssegmentos da sociedade, desconfiados com a forma pela qual foienfrentada a questão social, quer pela garantia de assistência

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governamental aos desempregados, quer pelo apoio do governo federalaos sindicatos.

e) A adoção do New Deal, ampliando a esfera de participação do Estadonos assuntos econômicos, permitiu que a sociedade norte-americanase recuperasse, sem prejuízo do regime capitalista e da democracia.

2) A década de 1930 caracterizou-se do ponto de vista econômico,principalmente:

a) Pela diminuição da influência inglesa.b) Pelo recuo do capitalismo liberal e início do intervencionismo estatal.c) Pela industrialização do Japão.d) Pela hegemonia norte-americana.e) Pela crise da economia alemã.

3) A adoção do New Deal nos Estados Unidos, após a crise de 1929,permite-nos afirmar que:

I. O sistema capitalista enfraqueceu-se pela impossibilidade de convivercom o planejamento e o dirigismo estatal.

II. O intervencionismo do Estado na economia não se confunde com osocialismo, nem conduz, necessariamente, ao autoritarismo.

III. Alterou-se a relação entre a produção agrária e a fabril, pela impor-tância maior concedida à primeira.

IV. A distribuição de seguros aos desempregados contribuiu para adiminuição da tensão social.Estão corretas somente as afirmações:

a) 1 e 2b) 3 e 4c) 2 e 4d) 1, 2 e 3

4) A grande crise mundial do período de 1929-1932, sobretudo nosEstados Unidos e na Europa, teve como uma de suas conseqüências:

a) O fortalecimento da crença nos valores da democracia liberal, geradospelo capitalismo.

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b) O aumento considerável do desemprego em virtude da recessãoeconômica.

c) A maior participação da iniciativa privada na produção de bens deconsumo.

d) O abrandamento da intervenção estatal no domínio monetário.e) A substituição do protecionismo por uma política de Liberalismo

Econômico.

Questões de vestibular

1) (PUC-SP) A crise econômica e financeira de 1929, que afetou todosos países do sistema capitalista, teve para os Estados Unidos oefeito imediato de:

a) Propiciar as condições de recuperação dos empréstimos feitos aoseuropeus durante a guerra.

b) Aumentar o fluxo migratório da cidade para o campo, possibilitando arecuperação da economia.

c) Baixar violentamente o volume da produção industrial, elevando osíndices de desemprego.

d) Reorganizar as operações da Bolsa de Nova York pela confiançaestabelecida nos lucros das ações a longo prazo.

e) Permitir o desenvolvimento dos transportes ferroviários como resultadoda falência da indústria automobilística.

2) (CESGRANRIO) Ao longo do período situado entre as duas grandesguerras mundiais (1918-1939), a crise das sociedades liberais ociden-tais assumiu as formas mais diversas, como diversos ao extremo eramos seus fatores determinantes. De um modo geral, porém, assistiu-se a uma contestação sistemática aos princípios básicos da ordemliberal, em especial pelos fascistas, para os quais o Estado liberal era:

a) Demasiadamente manipulado pelos partidos políticos tradicionais edeveria ampliar a participação popular em seus processos eleitorais.

b) Inimigo do capital monopolista e um agente contrário ao desen-volvimento econômico moderno.

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c) Baseado em princípios democráticos ultrapassados, demasiadamentefraco e impotente para enfrentar seus inimigos e empreender as trans-formações sociais exigidas pelas massas.

d) Tímido diante das pressões nacionalistas, praticando um cor-porativismo medieval em suas relações com a sociedade civil, que atendiaapenas aos interesses rurais.

e) Fiel ainda a uma concepção obsoleta do poder, sendo incapaz deatender às novas demandas representadas pelo socialismo,constituindo uma estrutura subordinada aos interesses militaristase imperialistas.

Capítulo 32 – A ascensão do totalitarismoe direita: fascismo e nazismo

As cláusulas do Tratado de Versalhes fizeram surgir as cha-madas “nações injustiçadas”. Entre elas destacavam-se a Ale-manha e a Itália. A primeira, derrotada e condenada pelo grandeconflito, sofreu humilhações, perdas territoriais, econômicas epopulacionais. Inglaterra e França pretendiam torná-la um paísimpotente e insignificante. A Itália, embora vencedora, não parti-cipou da distribuição da herança dos derrotados. Não recebeuáreas-colônias da Alemanha, nem territórios do antigo ImpérioÁustro-Húngaro onde a população italiana era majoritária. A re-gião da Dalmácia, ambicionada pela Itália, foi incorporada à re-cém-criada Iugoslávia.

Nessa conjuntura, grupos políticos de direita tiveram amplo cam-po para explorar as grandes frustrações nacionais. O nacionalis-mo e o militarismo eram as armas a ser utilizadas na solução dosproblemas dos “países injustiçados”. A Alemanha e a Itália tenta-vam se recuperar e se consolidar como nações industrializadas,mas para tanto necessitavam de mercados mundiais. Só que es-tes já estavam divididos entre os países imperialistas.

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O fascismo italiano

A situação econômica da Itália se agravou com a guerra mun-dial. Para sua reconstrução, o governo praticou uma política deemissão da moeda, desvalorizando a lira. Os objetivos eram es-timular os empresários a contrair empréstimos, investir e expan-dir a produção. Haveria assim a redução do desemprego, numpaís notoriamente às voltas com uma alta densidade demográfica.Mas os resultados foram decepcionantes. Carente de matéria-prima e fontes energéticas, com poucas colônias, a Itália nãoconseguiu ampliar sua participação no comércio mundial.

Desemprego, baixos salários e greves eram elementos quecompunham o quadro social italiano no pós-guerra. Os anos crí-ticos de 1919 e 1920 viram se alastrar a fome, um enorme núme-ro de greves, revoltas e pilhagens de lojas. Nas áreas industriaisdo Piemonte (Turim) e Lombardia (Milão), mais de 600 mil me-talúrgicos se apossaram de fábricas. No campo, a revolta cam-ponesa eclodia, forçando uma reforma agrária. A ameaça socia-lista assustava os empresários urbanos, a Igreja, as Forças Ar-madas, os latifundiários e a classe média. A salvação foi aderirao movimento fascista, fundado por Benito Mussolini, em 1919.Contrários à democracia parlamentar, que consideravam um re-gime fraco, incapaz de manter a ordem, lutavam por um Estadoforte. Anticomunista, o fascismo assumia a forma de uma açãocontra-revolucionária, restauradora do orgulho nacional.

Como combater a ameaça bolchevique e alcançar o poder?

Por meio de grupos paramilitares, chamados “esquadristas”,membros do movimento fascista, os “camisas negras”. Arma-dos e disciplinados, obedeciam fanaticamente seu líder, o Duce.Grande orador, agradava o povo italiano com frases sonoras,retumbantes, mas carentes de profundidade e lógica. O fascis-mo fazia largo uso de slogans como “Itália para sempre” ou“Itália, ame-a ou deixe-a”. Pura exploração emocional, mas deenorme efeito popular.

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O movimento fascista foi engrossado com a adesão dos mi-lhares de desempregados. Em 1921, já eram 300 mil filiados. Noano seguinte, no mês de outubro, Mussolini comandou a “Mar-cha sobre Roma”. Tomou o poder, contando com a simpatia dorei Vítor Emanuel III e das Forças Armadas, que nada fizerampara detê-lo. Um verdadeiro golpe branco.

Tornado primeiro-ministro, Mussolini impôs a “nova ordem fas-cista”. Controle da massa trabalhadora e dos sindicatos, censuraaos meios de comunicação, a educação usada para exaltar o Es-tado, o regime e seu chefe. No setor econômico, o “corporativismo”:um Estado “imparcial harmonizando os interesses dos patrões eempregados, eliminando a luta de classes”, explorada pelos co-munistas. As greves operárias, proibidas. Suas reivindicações,arbitradas pelo governo. As eleições, quando ainda havia, contro-

A Itália fascista de Mussolini.

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ladas pelo governo, que coagia e limitava a ação da oposição. Avitória fascista era sempre inevitável. Enfim, um Estado totalitário:“Nada fora do Estado, nada contra o Estado, tudo pelo Estado”.Mas o Estado era Mussolini, ditador supremo da Itália.

Para ganhar apoio dos católicos e da Igreja, Mussolini assinouo Tratado de Latrão, com o papado. Pela concordata, a Igrejarecebia indenização pelas propriedades perdidas e o Vaticanoera reconhecido como Estado independente. O ensino da reli-gião católica tornou-se obrigatório em todas as escolas italianas.

O desemprego foi enfrentado por meio de grandes obras públi-cas (rodovias, barragens, usinas hidrelétricas, canais de irrigação).A indústria se expandiu, especialmente a construção naval e aautomobilística. A produção agrícola foi bastante incentivada, tor-nando a Itália auto-suficiente na produção de trigo. Os trens pas-saram a “cumprir corretamente os horários”. Quebrava-se umatradição e a propaganda fascista explorava essas mudanças posi-tivas. Mas os resultados foram inferiores ao esperado.

Em 1935, tropas italianas invadiram e ocuparam a Etiópia. Es-tava vingada a humilhação do século anterior, quando os italianoshaviam vergonhosamente fracassado. Renascia o sonho do an-tigo Império Romano, tão acalentado por Mussolini. A Itália eraum Império.

O nazismo alemão

No fim da Primeira Grande Guerra, a Alemanha era um caos.O kaiser havia abdicado e fugido e a República Parlamentar foraimplantada. Grupos de esquerda tentaram tomar o poder, demaneira semelhante ao que ocorrera na Rússia. Em dezembrode 1918, um mês após o pedido de armistício, os “espartaquistas”,liderados pelos marxistas Rosa Luxemburgo e Karl Liebknecht,tomaram Berlim. O levante foi esmagado pelo novo governo, uti-lizando tropas oriundas das antigas frentes de batalha. Os líde-

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309História Geral

res revolucionários foram assassinados e a repressão aosbolcheviques foi violenta em toda a Alemanha.

A insegurança em Berlim fez com a que a Assembléia Consti-tuinte, eleita em janeiro de 1919, se reunisse em Weimar. Apro-vada e promulgada a “Constituição de Weimar”, a Alemanha setransformava em um Estado federativo, parlamentar, democráti-co e liberal, governada por um parlamento bicameral, um presi-dente (chefe de Estado) eleito por sete anos e por um chanceler(chefe de governo), responsável pelo gabinete ministerial. Haviaa pluralidade partidária, com uma multiplicidade de partidos decentro, de direita e de esquerda.

A instabilidade política era um reflexo do crítico quadro econô-mico-social, como conseqüência da derrota militar e das imposi-ções do Tratado de Versalhes. Um dos mais graves problemasera a inflação. O marco alemão, cotado em 1914 em 4,2 pordólar, valia 186 no início de 1922. A ocupação francesa do valedo Ruhr, para forçar o pagamento das reparações de guerra e a

Hitler com alguns oficiais nazistas .

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greve decretada pelos trabalhadores alemães das minas, comoforma de protesto, forçaram o governo à emissão de papel-moe-da, para pagar os salários dos grevistas. O resultado foi umahiperinflação. Em janeiro de 1923, o marco estava cotado em 7mil por dólar; em julho, 260 mil; em novembro, 4,2 bilhões. Ospreços e os salários variavam entre a manhã e a tarde do mes-mo dia. Chegou-se a uma situação em que o papel usado paraimprimir o dinheiro tinha valor maior.

Aproveitando-se dessa situação, o prestigioso general Luden-dorff e o político Adolfo Hitler, chefe de um pequeno partido, oPartido Nacional-Socialista dos Trabalhadores Alemães (sim-plificadamente, Partido Nazista), tentaram um golpe de Estado,a partir de uma cervejaria em Munique, em novembro de 1923,mas fracassaram. Não houve adesão de tropas.

Preso, condenado, na prisão Hitler escreveu a obra “Minha luta”(Mein kampf), em que expunha suas idéias. Sua ideologia era umamistura de princípios nacionalistas, pan-germanistas, militaristas,antipacifistas, totalitárias, racistas, anti-semitas, anticomunistas.

A partir de 1924, a situação na Alemanha se estabilizou. A infla-ção havia favorecido as exportações, o desemprego diminuíra, ogoverno parlamentar conseguiu amenizar o pagamento das inde-nizações, com o apoio dos Estados Unidos. Uma nova moeda(rentenmark) foi criada, sustentada com recursos americanos (Pla-no Dawes) e pela capacidade industrial alemã. A estabilidade fezcom que os partidos radicais (de esquerda e de direita) perdes-sem votos nas eleições parlamentares. A grande maioria dos de-putados era constituída de políticos conservadores e liberais.

Mas a crise de 1929, golpeou duramente a Alemanha. O resul-tado mais dramático era o desemprego: de 1 milhão de desem-pregados em 1929, para 6 milhões em 1931. Como conseqüên-cia, nas eleições de 1932, houve importante avanço dos partidoscomunista e nazista. O Nacional-Socialismo elegeu, nesse ano,270 deputados.

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Em janeiro de 1933, Hitler foi nomeado chanceler pelo presi-dente Hindenburg, velho comandante na Grande Guerra. Assu-miu o poder, prometendo um “3º- Reich” para durar mil anos. Empouco tempo a ditadura nazista se apoderou da Alemanha.

Em fevereiro de 1934, os nazistas incendiaram o Parlamentoe culparam os comunistas. Iniciavam-se as perseguições e o ter-ror antibolchevique. Prisões de esquerdistas e liberais se torna-ram rotina. Eram criados os primeiros campos de concentração.

Em seguida, todos os partidos foram proibidos, exceto o Nazis-ta. Assim, o parlamento passou a ser integralmente formado pornazistas. A suástica foi adotada como símbolo nacional (bandei-ra). Tropas da SA (Seções de Assalto) e SS (Brigadas de Segu-rança) amedrontavam os adversários. Os sindicatos, proibidos.Desaparecia o Estado federativo, com a centralização do poder.

Em 30 de junho de 1934, ocorreu a “Noite dos Longos Pu-nhais”. As SS liquidaram a chefia das AS, que era a “ala esquer-da” do movimento nazista. Houve mais de 3 mil mortes.

O totalitarismo nazista era sintetizado no slogan: “Um povo(ein Volks), um império (ein Reich), um chefe (ein Führer)”. Coma morte de Hindenburg, Hitler assumiu também o posto de presi-dente, tornando-se o “Führer” (chefe).

Com a imprensa censurada pelo Ministério da Propaganda, aeducação controlada, instituída a Gestapo (Polícia do Estado),consolidava-se a ditadura. Em 1935, foram decretadas as “leisde Nuremberg”. Os judeus eram excluídos da administração, doensino, das atividades artísticas e literárias, perdiam seus direi-tos civis. Os casamentos e as relações sexuais “mistos” (entre“arianos” e semitas) eram proibidos. A seguir vieram a destrui-ção de sinagogas, a violação de cemitérios judaicos, a queimade livros de autores judeus, a depredação de suas lojas. Inicia-va-se o envio sistemático de judeus para os campos de concen-tração, a “solução final”, que levaria à eliminação de mais de seismilhões de vítimas da intolerância nazista.

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Hitler, no governo, desenvolveu uma poderosa força militar, inti-midando os países vizinhos. Os nazistas sustentavam a tese do“espaço vital”, isto é, que o Reich tinha direito de anexar regiõesonde a população germânica estivesse presente. O rearmamentofoi autorizado. O poderio alemão se assentava no exército e naforça aérea. As novas táticas de destruição em massa foram tes-tadas na guerra civil espanhola, como o uso combinado de aviõese carros de assalto (blitzkrieg).

Mapa das anexações alemãs: Renânia, Áustria, Sudetos.

Hitler rasgou o Tratado de Versalhes quando o exército alemãoocupou a região renana, que havia sido desmilitarizada. Os ale-mães invadiram a Áustria, em 1938, anexando-a ao Reich, epi-sódio conhecido como Anschluss.

As potências ocidentais, buscando o “apaziguamento”, tudoaceitavam. Acreditavam que o avanço da Alemanha para o leste,isto é, em direção à URSS, levaria a uma guerra entre essesdois países.

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313História Geral

O militarismo japonês

O Japão visava expandir pelos oceanos Pacífico e Índico, trans-formando a área em seu domínio. Necessitava de matérias-pri-mas, mercados consumidores, fontes energéticas para ampliarsua produção industrial e espaço para a colocação do exceden-te populacional. Sua estratégia foi desenvolver uma poderosamarinha militar, uma eficiente força aérea e um numeroso exér-cito. Os japoneses já haviam se apossado de Formosa (Taiwan)e Coréia. A última grande conquista fora a Manchúria, rica regiãochinesa produtora de matérias-primas (minérios). A guerra civilchinesa entre os nacionalistas de Chiang-Kai-Shek e os comu-nistas de Mao Tse e Tung facilitou a conquista japonesa.

O Japão, uma monarquia governada por partidos conservado-res e de direita, cada vez mais se submetia à influência dos mili-tares. O orçamento público destinava cada vez mais verbas paraa produção de armamentos e expansão das forças armadas. Eraa corrida armamentista.

Japão na II Guerra.

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Exercícios propostos

1) Quais dos fatores a seguir contribuíram para a ascensão do fascismona Itália, durante a década de 1920?

a) Antinacionalismo e ascensão do proletariado.b) Crescimento econômico e fortalecimento do poder real.c) Ascensão do campesinato e expansão colonial.d) Nacionalismo e crise econômica.e) Fortalecimento do liberalismo e aliança ítalo-russa.

2) Assinale a correta:São características do fascismo:

a) Internacionalismo, liberalismo político, materialismo histórico.b) Internacionalismo, liberalismo político, liberdade total do capital e do

trabalho.c) Totalitarismo, nacionalismo, militarismo.d) Nacionalismo, materialismo histórico, totalitarismo.e) Luta de classes e ditadura do proletariado.

3) A ascensão de Hitler ao governo alemão foi marcada por uma im-placável perseguição a socialistas e judeus; tal fato era justificadopela ideologia nazista porque:

a) Para os nazistas judaísmo e marxismo se identificavam e haviamcolaborado para o declínio da Alemanha desde a Primeira Guerra.

b) Hitler não era apoiado em suas pretensões expansionistas pelossocialistas e judeus.

c) Os nazistas temiam a influência política dos judeus na Alemanha.d) Os socialistas e judeus, com auxílio da alta burguesia alemã, ameaçavam

tomar o poder.e) Tanto os judeus quanto os socialistas eram a favor de um governo

totalitário, contrário à formação liberal dos nazistas alemães.

4) Assinale a incorreta:a) A situação da Alemanha, no pós-guerra, era mais difícil que a da Itália.

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b) O Partido Nacional Socialista dos Trabalhadores Alemães foi dominadopor Hitler, autor do livro “Minha Luta”.

c) Com a crise de 1929, a Alemanha sofreu muito e o número de adeptosem torno de Hitler cresceu.

d) Em 1932, Hitler concorreu às eleições presidenciais e perdeu.e) Hitler foi acusado de haver mandado incendiar o Reichstag, mas o

verdadeiro culpado foi o Partido Comunista.

5) “Guernica”, a obra-prima de Pablo Picasso, é uma representação dasatrocidades fascistas cometidas na:

a) Primeira Grande Guerra.b) Guerra Civil Espanhola.c) Revolta dos Boxers.d) Guerra Franco-Prussiana.e) Batalha de Stalingrado.

Questões de vestibular

1) (CESCEA) Na ascensão do Nazismo na Alemanha vários elementossão considerados como fatores causais. Dentre estes são freqüen-temente apontados:

a) A instabilidade institucional da República de Weimar e a depressãoprolongada entre 1925 e 1929.

b) A ação dos grandes conglomerados financeiros controlados, em suamaioria, por judeus e as perdas territoriais subseqüentes ao Tratadode Brest-Litovsk.

c) O militarismo prussiano, a crescente ameaça comunista, especialmentedepois da queda do governo de Béla Kin, e a invasão belga de Renânia;

d) O Tratado de Versalhes, a inflação de 1921-1924 e a Depressão dosanos 30.

e) O descontentamento maciço com o tratamento dado pelas novasNações às minorias alemãs, evidenciado pelos conflitos teuto-polonês(acerca do estatuto de Memel) e teuto-húngaro (acerca dos Sudetos).

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2) (FEI-SP) Fascismo e nazismo têm em sua origem algumas causascomuns. Entre essas causas pode-se apontar:

a) O ideário da “raça pura”.b) Conflitos entre burguesia e nobreza.c) Crises econômico-sociais com as conseqüentes greves, tumultos e

agitações que favoreceriam a tomada do poder pelas esquerdas.d) As conseqüências do fracasso das ofensivas dos dois países contra a

Tríplice Aliança, durante a Primeira Guerra Mundial.e) A luta pelo poder entre partidos fortes da direita.

Capítulo 33 – A Segunda Guerra Mundial(1939-1945)

Antecedentes imediatos

A Segunda Guerra Mundial foi um conflito entre o liberalismodemocrático e o totalitarismo de direita e uma luta pela hegemonia.Na Europa, entre a Alemanha Nazista e a URSS, e na região dooceano Pacífico, entre o Japão e os Estados Unidos.

Após o Anschluss, Hitler sentiu-se encorajado a reivindicar osSudetos, região habitada pelos alemães, pertencente àTchecoslováquia. O Führer ameaçava os tchecos com uma inva-são militar, não acreditando na reação franco-inglesa. Mas haviauma séria ameaça de uma guerra generalizada. Mussolini temiaque ela acontecesse em breve período e a Itália fosse obrigadaa honrar, mesmo sem condições militares, o Eixo Roma-Berlim,uma aliança à qual aderiu o Japão. Era o “Pacto Anti-Comintern”,contra a URSS. Por isso, articulou a Conferência de Munique,realizada em setembro de 1938, para resolver o problema dosSudetos. Objetivava afastar o perigo da guerra que rondava aEuropa, em face da intransigência de Hitler. Na verdade, a Confe-

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rência terminou com um recuo das democracias ocidentais fren-te ao nazi-fascismo. A Conferência reuniu Hitler, Mussolini, De-ladier, primeiro-ministro francês e Chamberlain, primeiro-minis-tro britânico. Os representantes tchecos foram humilhados, poissequer foram admitidos na sala de conferência.

Pelo Acordo de Munique, a Alemanha obteve os Sudetos, coma concordância anglo-francesa. Não satisfeita, a Alemanha na-zista rompeu o Acordo de Munique no ano seguinte e ocupoutoda a região ocidental da Tchecoslováquia. A Eslováquia foi trans-formada em um Estado sob protetorado alemão. A fronteira ale-mã se aproximava da URSS.

Diante da ausência de qualquer reação, o Führer começou apressionar a Polônia.

A ameaça nazista sobre a Polônia aumentou com a exigênciada entrega da cidade de Dantzig e do Corredor Polonês, perdi-dos após a Primeira Grande Guerra. Os poloneses se recusa-ram, acreditando que, caso a Alemanha iniciasse a invasão mili-tar, poderiam contar com o apoio da Inglaterra e da França.

Mapa desmembramento da Tchecoslováquia.

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Hitler não acreditava nas potências ocidentais. Todavia, um ata-que contra a Polônia (país eslavo) seria o mesmo que uma de-claração de guerra contra a URSS ( a “pátria mãe de todos oseslavos”). Stalin e Hitler eram grandes inimigos políticos. Masrepentinamente as relações entre a Alemanha e a URSS melho-raram. Para surpresa geral, em agosto de 1939, em Moscou seencontraram Ribbentrop e Molotov, respectivamente ministros dasRelações Exteriores da Alemanha e União Soviética. Assinaramum Pacto de Não-Agressão, cujas cláusulas mais importantespermaneceram secretas.

Os russos conseguiram adiar um conflito direto, ganhando tempopara transferir suas indústrias para além dos Montes Urais, prote-gendo-as. Pelo acordo, os alemães ficaram com as mãos livrespara atacar a Polônia, enquanto a URSS incorporaria os EstadosBálticos. A Europa Oriental era dividida entre as duas potências.

O desencadeamento do conflito

Diante da negativa polonesa, tropas nazistas se concentraramna fronteira e iniciaram a invasão em setembro de 1939. Françae Inglaterra declararam guerra ao Reich. O ataque nazista seconcentrou em direção a Varsóvia, com forças conjugadas deterra e ar. Inicia-se a blitzkrieg (“guerra relâmpago”).

A Polônia não resistiu muito tempo, mesmo porque os soviéti-cos atacaram sua região oriental. A seguir, Hitler se voltou contraa Europa Ocidental, invadindo a Noruega e a Dinamarca. Naseqüência, os alemães invadiram a Holanda e a Bélgica; em se-guida, a França, tomando Paris em algumas semanas. O gene-ral francês Pétain assinou um armistício, concordando em mu-dar a capital para Vichy, no sul, desarmar o exército e entregar amarinha para os alemães. Metade da França ficava sob ocupa-ção militar alemã; a outra metade, sob uma administração títerepró-Alemanha. Na Inglaterra foi organizado um “governo francêsno exílio”, chefiado pelo general De Gaulle.

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A Itália entrou no conflito em 1940, atacando a França medi-terrânea e a Grécia. Mas as sucessivas derrotas italianas napenínsula Balcânica obrigaram Hitler a enviar tropas em socor-ro. Elas tiveram que atravessar a Iugoslávia, abrindo assim umanova frente de guerra. Enquanto isso, o general alemão Rommeliniciava a campanha no norte da África para a conquista doestratégico canal de Suez, ameaçando o domínio britânico noOriente Médio. Em pouco tempo as áreas petrolíferas poderiamestar em mãos do Eixo.

Para derrotar a Inglaterra, o Führer determinou seu bombar-deio, mas enfrentou forte resistência da RAF (Força Aérea Britâ-nica). Fracassada a “Batalha da Inglaterra”, veio o bloqueio na-val alemão, por meio de submarinos.

Enquanto os alemães conquistavam a Europa Ocidental, osrussos punham em prática seus planos imperialistas, atacando aFinlândia e os Estados Bálticos.

A Alemanha necessitava das matérias-primas, trigo, petróleo,que a URSS tinha em abundância. Ademais, a URSS era um

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imenso território pouco populoso, o que se encaixava à idéia do“espaço vital” (lebensraum). Ademais, a população soviética po-deria ser utilizada nas fábricas alemãs.

Tendo conquistado boa parte da Europa ocidental e central, aAlemanha se voltou contra a URSS. O ataque inesperado acon-teceu em 22 de junho de 1941, uma tremenda ofensiva que al-cançou em pouco tempo os subúrbios de Moscou e Stalingrado.Leningrado resistiu a um longo cerco, com aproximadamente ummilhão de pessoas mortas. Mas a abertura de duas frentes deguerra arruinaria os planos militares alemães.

Os Estados Unidos na guerra

Em agosto de 1941, o primeiro-ministro Churchill e o presidenteamericano Roosevelt assinaram a Carta do Atlântico, pela qual osEstados Unidos se solidarizavam com os britânicos e iniciavam umenorme fornecimento de armamentos, alimentos e ajuda médica.

No primeiro semestre de 1940, Roosevelt começou a cortargradualmente o envio de ferro, aço, petróleo e borracha para oJapão. Capitais japoneses aplicados em bancos americanos tor-

Ataque alemão à URSS.

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navam-se indisponíveis. Os japoneses reagiram ampliando emobilizando sua frota de guerra no Pacífico. A guerra entre asduas potências era uma questão de tempo.

Para os estrategistas japoneses, a única possibilidade de umavitória sobre os americanos era um ataque de surpresa. E eleveio contra a base naval americana de Pearl Harbour, no Havaí.No dia 7 de dezembro de 1941, domingo, a base foi duramentebombardeada, sem qualquer declaração formal de guerra. Ale-manha e Itália, membros do Eixo, declaravam guerra aos Esta-dos Unidos.

O primeiro semestre de 1942 marcou o apogeu da capacidademilitar do Eixo. A violência, rapidez e poderio das suas forçasmilitares surpreendiam a todos. O sucesso da blitzkrieg prog-nosticava a vitória da Alemanha em toda a Europa, inclusive so-bre a URSS. Os ataques japoneses causavam efeitos devasta-dores sobre as bases e navios americanos no Pacífico. O Japãose esforçava na montagem de uma “Ásia Japonesa”, um imensoimpério que deveria se estender desde a Índia até o Pacífico Sul.

Ataque japonês a Pearl Harbour.

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A Inglaterra, bombardeada pela Luftwaffe alemã e perseguidanos mares pelos japoneses, agonizava. Apenas a Itália não con-seguia se impor no Mediterrâneo e no norte da África, pois seupotencial industrial e bélico era muito limitado. Era o elementofraco dos países que formavam o Eixo.

Paralelamente, os Estados Unidos reorganizaram sua indús-tria, produzindo maciçamente armas, munições, tanques, cami-nhões, aviões, navios, material hospitalar etc. O esforço para avitória em uma guerra total unia o país.

O início do fim

A ofensiva alemã na URSS, aos poucos, perdeu seu ímpeto.As longas distâncias dificultavam o abastecimento e as comuni-cações. Os russos repetiam seu próprio comportamento duranteo ataque napoleônico e aplicavam a tática de “terra arrasada”,

Campo de batalha.

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enquanto guerrilheiros atacavam a retaguarda alemã. Para osrussos, a guerra era patriótica. Leningrado, Moscou e Stalingradoresistiam heroicamente, enquanto o exército vermelho golpeavaduramente os nazistas. Em meio a um rigoroso inverno, a ofen-siva alemã foi contida e boa parte das tropas alemãs cercadaspelos russos. Iniciava-se a contra-ofensiva soviética. O longocerco alemão a Leningrado foi rompido, Stalingrado foi recon-quistada com a rendição de todo um exército alemão; e a pres-são sobre Moscou, aliviada. O mito da invencibilidade alemã sedesfazia. Iniciava-se a retirada alemã. A ajuda norte-americanaà URSS contribuiu decisivamente, a partir de 1942, para a suareação militar.

Os aliados desembarcaram no norte da África e iniciaram aofensiva que levou à derrota as forças do Eixo.

Aos poucos o Japão sucumbia frente à notável capacidadeindustrial-militar americana. Por dia, os americanos produziam480 tanques de guerra, cerca de 300 aviões e uma belonave.Seu complexo industrial militar abastecia todas as frentes, ante-cipando a derrota do Eixo.

Em 1943, Roosevelt, Churchill e Stalin se reuniram na Confe-rência de Teerã, na Pérsia (hoje, Irã). O líder soviético solicitouentão a abertura de uma frente na Europa ocidental para aliviar apressão militar alemã sobre a União Soviética.

A derrota do Eixo

As forças do Eixo estavam em retirada. Com o sul da Itáliatotalmente conquistado pelos anglo-americanos, Mussolini serefugiou no norte, sob a proteção dos alemães. O general Badoglioassumiu o poder e assinou a paz incondicional. Em 6 de junhode 1944, o “Dia D”, os aliados desembarcavam na Normandia,abriram a frente ocidental e iniciaram a libertação da França. AFinlândia rompia com a Alemanha, enquanto Romênia, Bulgária

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e Hungria eram ocupadas pelos soviéticos. Tito, chefe dos guer-rilheiros comunistas, assumiu o poder na Iugoslávia.

Na Conferência de Yalta, em fevereiro de 1945, os “3 Gran-des” discutiram o futuro dos países derrotados e a fixação dasfronteiras no pós-guerra. Era a nova divisão do mundo, a seraplicada após a derrota das forças nazi-fascistas.

E o fim do Eixo chegou, com encontro das tropas americanase russas, cortando a Alemanha em duas partes. Mussolini, cap-turado por guerrilheiros comunistas italianos, foi fuzilado e mas-sacrado. Com as tropas russas cercando e bombardeando Berlim,a derrota da Alemanha era iminente. Hitler e sua amante, EvaBraun, optaram pelo suicídio, em 30 de abril. No dia 8 de maioocorria a capitulação total das tropas alemãs.

Restava o Japão. Enquanto os bombardeios americanos arra-savam o país, os pilotos camicazes atiravam seus aviões contraos navios americanos. Um ato tão heróico quanto inútil.

Stalin, Rosevelt eChurchil.

Hiroxima depois da bomba atômica.

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A bomba atômica americana estava pronta. Truman, que subs-tituiu Roosevelt, falecido em 12 de abril, decidiu pelo seu uso. Nodia 6 de agosto de 1945, uma bomba foi lançada sobre Hiroxima.Três dias depois, sobre Nagazáqui. Em seguida, a URSS decla-rou guerra ao Japão. A assinatura da rendição incondicional ocor-reu em 2 de setembro de 1945. A guerra terminava e, com ela,começa uma nova era na história da humanidade.

O balanço da guerra

A Segunda Guerra Mundial causou mortes e destruições inima-gináveis e incomparáveis. Milhões de pessoas morreram em com-bates e nos bombardeios sobre as cidades, realizados por todasos países em conflito. O número mínimo de mortes é estimadoem cerca de 38 milhões. Só a URSS perdeu 20 milhões. Pelaprimeira vez na história, o número de vítimas civis superava o demilitares. Mas nada foi tão bárbaro como a perseguição dos na-zistas contra os judeus, minorias étnicas e opositores do Reich.Seis milhões de judeus foram exterminados pela barbárie nazis-ta nos campos de concentração.

Fronteiras foram redesenhadas, imensas populações deslo-cadas. Na Europa, a grande beneficiada foi a URSS. A Alema-nha foi ocupada e dividida, assim como Berlim.

Os Estados Unidos se consolidaram como a grande potência mun-dial, embora enfrentasse a concorrência político-militar soviética.Os americanos concentravam 80% das reservas mundiais de ouro,sua produção industrial crescera 75%, e a agrícola, cerca de 25%.O superávit na balança comercial atingia 11 bilhões de dólares.

Outra herança foram as vítimas do lançamento das duas bom-bas atômicas. Elas mataram instantaneamente 150 mil pessoas,e continuaram matando nos anos seguintes. Eram as vítimas daradiação. As bombas abriram para a humanidade a ameaça desua própria extinção.

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A guerra provocou profundas transformações políticas, econô-micas e sociais. Praticamente tudo seria reestruturado no perío-do pós-guerra.

Exercícios propostos

1) A Segunda Guerra Mundial foi precedida na década de 1930 por umasérie de violentos conflitos ao redor do mundo. Podemos citar entreestes:

a) A Guerra civil espanhola, a invasão da Etiópia pela Itália e a invasão daManchúria pelo Japão.

b) A invasão da Coréia pelo Japão, a invasão da Líbia e da Eritréia pelaItália.

c) A invasão da Indochina pelo Japão, a invasão da Albânia pela Itália e aGuerra Civil espanhola.

d) O conflito sino-japonês, a guerra Civil espanhola e a anexação da Líbiapela Itália.

e) O conflito sino-japonês, a anexação da Coréia pelo Japão e a anexaçãoda Áustria pela Alemanha.

2) A 6 de dezembro de 1941, a Segunda Guerra Mundial toma nova feição,quando:

a) Os russos, após longa resistência, vencem o cerco de Stalingrado.b) Os Estados Unidos abandonam a neutralidade e passam a combater a

Alemanha.c) Os japoneses atacam a base americana de Pearl Harbour.d) Os alemães atravessam a Linha Maginot e conquistam a França.e) Os norte-americanos invadem o Sul da Itália, na Sicília.

3) A decisão de dividir a Alemanha em quatro zonas de ocupação, queseriam governadas pela Rússia, Inglaterra, Estados Unidos e França,foi adotada em 1945, durante a Conferência de:

a) Potsdam.b) Yalta.

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c) Teerã.d) Casablanca.e) São Francisco.

4) A Segunda Guerra Mundial (1939-1945) terminou efetivamente com:a) A rendição do Japão, depois da explosão de bombas atômicas em

Hiroxima e Nagazáqui.b) A rendição incondicional e conjunta da Alemanha, da Itália e do Japão.c) A reunião de São Francisco, onde se estabeleceram as bases para a

ONU.d) O acordo com a Itália e o Japão e a rendição incondicional da Alemanha.e) O acordo com a Itália e a tomada de Berlim pelas tropas soviéticas.

Questões de vestibular

1) (FGV) A participação norte-americana na Segunda Guerra Mundialdeu-se por estágios. Inicialmente declarou-se neutra, mas com opassar do tempo uma série de eventos ocorreram culminando nadeclaração de guerra ao Eixo. Entre esses eventos destacamos:

a) A batalha da Inglaterra, a carta do Atlântico Norte e a Conferência deYalta.

b) A batalha da Inglaterra, o ataque japonês a Pearl Harbour e os acordosde Potsdam.

c) Os ataques japoneses à Singapura e às Filipinas, bem como asconferências de Casablanca e de Teerã.

d) Os ataques japoneses à Pearl Harbour e às Filipinas, bem como a cartadas Nações Unidas.

e) Os acordos de empréstimo e arrendamento feitos com a Grã-Bretanha,a Carta do Atlântico Norte e o ataque japonês a Pearl Harbour.

2) (UFRGS-RS) A expansão totalitária do nazismo, na primeira fase daSegunda Guerra Mundial, teve início em 1o de setembro de 1939 coma invasão da:

a) Polônia.

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b) Dinamarca.c) Holanda.d) Françae) Tchecoslováquia.

3) (CESCEM-SP) Franklin Delano Roosevelt, na Conferência de Yalta(1945), como presidente dos Estados Unidos, foi criticado por algunssetores, porque, entre outros aspectos:

a) Permitiu que o Japão conservasse territórios ocupados na China.b) Defendeu a não-divisão do território da Alemanha em zonas de

ocupação.c) Negou a validade de um tribunal internacional para julgar os crimes de

genocídio.d) Propôs a realização de um referendum para decidir o destino político

da Itália.e) Concordou em deixar a Europa oriental sob influência soviética.

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Capítulo 34 – O Mundo Pós II Guerra Mundial

A fundação da Organização dasNações Unidas (ONU)

A Organização das Nações Unidas é a sucessora da Liga ouSociedade das Nações, que foi criada após a Primeira GuerraMundial. As esperanças mundiais de uma paz duradoura esta-vam depositadas nessa nova organização. A expressão “NaçõesUnidas” foi utilizada, pela primeira vez, durante uma reunião emWashington, em 1942, abrangendo 26 países.

A ONU surgiu na Conferência de São Francisco, em junho de1945, com a presença de delegados de 50 nações. Sua sedefica na cidade de Nova York. Ela é constituída de uma Assem-bléia Geral que coordena os trabalhos da entidade. É dirigidapor um presidente, eleito na sessão inicial que se realiza em se-tembro de cada ano. É o principal órgão deliberativo, formadopelos representantes de todos os países-membros. Cada naçãotem direito a um voto nas resoluções.

O Conselho de Segurança é formado de 15 membros, dosquais 5 são permanentes (EUA, URSS, França, Inglaterra e Chi-na). Os demais são eleitos por2 anos. Os membros permanen-tes têm direito a veto das deci-sões. A função do Conselho é apreservação da paz e da segu-rança das nações.

Quando uma decisão da As-sembléia contraria o interessede um dos países permanentesno Conselho de Segurança, elepode vetar sua aplicação. Símbolo da ONU.

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A Secretaria Geral é o poder executivo da ONU. O Secretá-rio Geral, indicado pelo Conselho de Segurança, é eleito pelaAssembléia Geral, para um mandato de 5 anos, podendo serreeleito.

A ONU possui várias agências especializadas:

a) Corte Internacional da Justiça, em Haia (Países Baixos)

b) BIRD: Banco Internacional para Reconstrução e Desenvol-vimento, também chamado Banco Mundial (Washington, EUA)

c) FAO: Organização para a Alimentação e Agricultura (Roma,Itália)

d) FMI: Fundo Monetário Internacional (Washington)

e) OMS: Organização Mundial de Saúde (Genebra, Suíça)

f) UNESCO: Organização para a Educação, Ciências e Cultura(Paris, França)

g) AIEA: Agência Internacional de Energia Atômica (Bruxelas,Bélgica)

h) OMC: Organização Mundial do Comércio (ex-GATT) (Gene-bra, Suíça)

i) OIT: Organização Internacional do Trabalho (Genebra, Suíça)

A Guerra Fria

Estados Unidos e União Soviética, finda a Segunda GrandeGuerra, tinham uma meta: impor seus modelos políticos e econô-micos ao mundo. O antagonismo entre as duas superpotênciasoriginou a Guerra Fria, uma nova corrida armamentista e a pro-dução de armas, sem precedentes, de destruição do mundo: abomba atômica.

Guerra Fria: foi o prolongado período de tensão internacional,decorrente do antagonismo entre as duas superpotências, URSS(comunista) e EUA (capitalista). A hostilidade provocava crises e

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conflitos localizados, mas nun-ca o confronto direto. Certa-mente porque cada superpo-tência tinha capacidade de re-taliar a rival com suas bombasatômicas, mesmo se fosseatacada. A expressão passoua ser utilizada após a tomadado poder pelos comunistas naTchecoslováquia, em 1948.

O poder da economia de mercado (capitalismo) se concentra-va nos Estados Unidos. Expandiu-se notavelmente sua socieda-de de consumo, motor do desenvolvimento interno. A Europa,em boa parte destruída, não tinha capacidade de suportar a con-corrência americana nos mercados internacionais. Nem mesmoa rival União Soviética podia competir, seja pela natureza de suaeconomia (comunismo), seja pela necessidade de se reconstruir,pois fora brutalmente devastada pela invasão alemã. Seu objeti-vo era recuperar e ampliar as suas indústrias bélica, siderúrgicae química, em detrimento dos bens de consumo duráveis e não-duráveis, mantendo, portanto, os princípios dos seus planos eco-nômicos stalinistas.

Países circunstancialmente foram aliados na guerra contra oinimigo comum, a Alemanha Nazista. Findo o conflito, o antago-nismo voltou a se manifestar, de ma-neira muito mais aguda. A mídia ameri-cana, sempre à procura de um inimigo,demonizou o comunismo, caracterizan-do-o como antiamericano, anticristão eantiliberal. Por seu lado, o mídia esta-tal soviética caracterizava o capitalis-mo americano como imperialista, explo-rador dos trabalhadores americanos edos países subdesenvolvidos.

Símbolo do capitalismo, liderado pelos EUA.

Símbolo do socialismo,liderado pela antiga URSS.

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Nos primeiros anos do pós-guerra, o monopólio da tecnologiada bomba atômica dava aos EUA um enorme poder militar, utili-zado inclusive diplomaticamente. O primeiro-ministro inglês,Winston Churchil, autor da expressão “Cortina de Ferro”, em re-lação à URSS, apoiou o presidente Truman na defesa do siste-ma capitalista. O orçamento americano ampliava, crescentemen-te, seus investimentos no setor de armamentos.

A reconstrução da Europa Ocidental

A Europa Oriental estava submetida ao domínio da URSS. Osda Europa Ocidente, aos EUA. Temendo o crescimento dos par-tidos de esquerda, sobretudo na França e Itália, e a progressãodo socialismo na Europa Ocidental, os EUA elaboraram umaestratégia de recuperação econômica dessa região, denomina-da Plano Marshall (nome do secretário de Estado), com gigan-tescos investimentos.

Repartição dos créditos do Plano Marshall (1948-1952)

País %

Inglaterra 24,4

França 20,2

Itália 11,0

Alemanha Ocidental 10,1

Países Baixos 8,3

Áustria 5,0

Grécia 4,8

Entre 1948 e 1952, foram aplicados cerca de 17 bilhões de dóla-res, principalmente na Grã-Bretanha, França, Itália e AlemanhaOcidental. A infra-estrutura foi recuperada e as nações européias

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333História Geral

ocidentais rapidamente recuperaram sua tradicional capacidade eimportância econômicas. Mas, os EUA também se beneficiaram,pois boa parte dos empréstimos eram condicionados à compra dealimentos, máquinas, matéria-prima e produtos semi-industrializa-dos americanos. Dessa maneira, as economias americana e euro-péia ocidental se tornaram ainda mais interdependentes.

A socialização do Leste europeu

O Exército Vermelho, que ocupara a Europa Central no finaldo conflito mundial, impôs à força o modelo soviético. Os paísesdo Leste europeu passaram a ser governados pelos partidoscomunistas locais, mas sob a direção do Partido Comunista daURSS. Polônia, Alemanha Oriental, Tchecoslováquia, Romênia,Bulgária e Albânia tornaram-se verdadeiros satélites soviéticos,seguindo o modelo estalinista de economia estatizada, partido

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único, sem liberdade política, religiosa e de pensamento, e comuma rígida censura aos meios de comunicação. A oposição foisilenciada e a burocracia soviética, sob a liderança de Stalin,controlava totalmente o Leste europeu, impondo o totalitarismode Estado, também chamado de socialismo real.

Somente a Iugoslávia construiu o seu socialismo independen-te de Moscou. Seu líder, Tito, foi hábil em manter seu país forada órbita soviética, causando a primeira grande ruptura do co-munismo, após a Segunda Guerra Mundial. Por isso mesmo, aIugoslávia foi isolada e execrada pelos demais Partidos Comu-nistas, todos submetidos ao domínio soviético.

De acordo com os vários tratados assinados pelos vencedo-res da guerra, a Alemanha foi dividida em quatro zonas de ocu-pação (americana, inglesa, francesa e russa). A antiga capital,Berlim, inteiramente encravada na zona de ocupação russa, foitambém dividida em quatro partes: a parte ocidental sob admi-nistração anglo-franco-americana, e a oriental, russa. Acordospermitiam aos aliados ocidentais ter acesso a Berlim Ocidental,por meio de corredores ferroviários, rodoviários e aéreos

Em 1949 foi criado o Conselho de Assistência Econômica Mútua(COMECON), para promover a integração e desenvolvimento dospaíses socialistas do Leste europeu.

COMECON – Comércio exterior (em %)

URSS 37,5

Alemanha Oriental 16,8

Tchecoslováquia 13,1

Polônia 11,5

Bulgária 8,3

Hungria 7,9

Romênia 4,9

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335História Geral

A corrida armamentista

Fazendo pesados investimentos em pesquisas e tecnologia,além de contar com uma ampla rede de espionagem, em 1949 osrussos explodiram sua primeira bomba atômica. Começava a cor-rida nuclear. Em seguida, os americanos testaram a bomba dehidrogênio, mil vezes mais poderosa que a bomba atômica. Pou-co depois, a URSS comunicava também possuir sua bomba H.

Guerras localizadas ocorriam na Ásia, na África e até mesmona Europa, onde, na Grécia, os comunistas tentaram tomar opoder. Truman criou a sua doutrina, segundo a qual a tomada deum país pelos comunistas levaria seus vizinhos a conhecer omesmo destino. O choque do imperialismo capitalista americanoe do imperialismo socialista soviético criava a sensação de umapróxima guerra atômica, com efeitos inimagináveis.

Em 1949, os Estados Unidos criaram a Organização do Tratadodo Atlântico Norte (OTAN), uma aliança militar reunindo o Canadáe vários países da Europa Ocidental, temerosos de uma invasãosoviética. Em 1949, aconteceu a reação soviética, com a criaçãodo Pacto de Varsóvia, reunindo os países comunistas do Lesteeuropeu. Mesmo a morte de Stalin, em 1953, não foi suficientepara diminuir a rivalidade e a tensão entre as grandes potências.

Na década de 1960, as su-perpotências rivais lança-ram-se à construção de mís-seis intercontinentais, sub-marinos nucleares, lança-mento de satélites militaresespiões etc. O desenvol-vimento tecnológico no setorde foguetes permitia colocarem órbita terrestre equipa-mentos e homens. A GuerraFria chegava ao espaço. Primeiro astronauta à chegar na Lua.

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336 História Geral

Os soviéticos tomaram a dianteira, ao lançar o Sputnik, o pri-meiro satélite artificial, em 4 de outubro de 1957. Poucos anosdepois, o russo Iuri Gagárin se tornava o primeiro ser humano air ao espaço. Os americanos, chocados pelos feitos dos soviéti-cos, criaram a Administração Nacional de Aeronáutica e Espaço(NASA) para coordenar e executar todo o seu programa espaci-al. Bilhões de dólares foram investidos pelos EUA para alcançara liderança das explorações espaciais. Em 20 de julho de 1969,os americanos concretizavam o mais notável êxito: Neil Armstrongse tornava o primeiro ser humano a pisar na Lua.

Porém, no auge da rivalidade, abriu-se a possibilidade de umacooperação entre as duas superpotências. Enquanto os russospossuíam foguetes mais potentes, os americanos dominavam atecnologia da computação, responsável por importantes avan-ços em todas as áreas.

Em 1990, início da distensão, as duas potências possuíam umestoque de bombas atômicas superior a 23 mil unidades, suficien-tes para destruir o mundo várias vezes.

O triunfo do comunismo na China Continental

As conseqüências da Segunda Guerra Mundial foram vitaispara a República Chinesa, monopolizada pelos empresários ur-banos e grandes proprietários rurais. Durante o conflito mundial,a longa guerra civil entre nacionalistas e comunistas, que se ar-rastava desde o começo da década de 1930, cedeu lugar a umarmistício. Era preciso unir esforços contra a agressão japone-sa. Desde 1931 o Japão ocupava a Manchúria, em busca dematérias-primas, para transformá-las e conquistar mercados paraos seus manufaturados. Os nacionalistas (ou Kuomintang, Parti-do Nacional Popular), comandados por Chang Kai-chek, e oscomunistas de Mao Tse-tung esqueceram suas disputas até 1945,para lutar contra o inimigo comum, os japoneses.

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337História Geral

Nesse período, os comunistasaumentaram os seus quadros, do-minaram militarmente boa parte doterritório chinês, onde impuseramprofundas reformas sociais e eco-nômicas (como a agrária) e conquis-taram o apoio de boa parte da po-pulação. Criaram comunas agríco-las e fizeram divisões de terras. Com a derrota do Japão, a lutaentre nacionalistas e comunistas recomeçou. Embora o exércitonacionalista fosse quatro vezes mais numeroso, contasse comamplo apoio material americano, ele era mal-preparado, indiscipli-nado e não tinha apoio popular. Os comunistas expandiram o seudomínio territorial e expulsaram as tropas nacionalistas, que serefugiaram na ilha de Taiwan (ou Formosa). Em 1949 Mao Tse-tung proclamou a República Popular da China na parte continen-tal, enquanto China Nacionalista se limitava à ilha de Taiwan.

A (re)construção da China Comunista teve inicialmente o apoioda União Soviética. Os empresários urbanos e os latifundiáriostiveram os seus bens confiscados. Ampliou-se consideravelmenteo acesso de jovens às escolas, as mulheres foram igualadas aoshomens, a indústria pesada se desenvolve rapidamente e o nu-meroso exército fez da China a maior potência bélica da Ásia.Porém, o custo dessas mudanças foram enormes. Milhões demortos, perseguições políticas, campos de prisioneiros e o fimda liberdade política, religiosa e de expressão dominavam o país.Prevalecia a vontade do Partido Comunista Chinês (PCC) e deseu líder, Mao Tse-tung.

A China deu um salto de alguns séculos em algumas décadas,derrubando costumes e tradições milenares. A China era uma novapotência mundial, respeitada e difundindo as idéias marxistas deMao. Afrontando os países capitalistas, sobretudo os Estados Uni-dos, apelidados de Tigre de Papel, rompeu com a URSS. O movi-mento comunista internacional passou a ser bipolarizado. Para es-panto da velha guarda comunista, Moscou e Pequim eram rivais.

Produtos chineses.

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As teses da revolução permanente, expostas no célebre LivroVermelho de Mao Tse-tung foram a base ideológica da grandeRevolução Cultural da década de 1960, que pretendia combateros remanescentes do individualismo, reciclar os quadros do PCChinês, facilitar a ascensão de jovens, ampliar o espírito revolucio-nário. Os Guardas Vermelhos impunham humilhações, prisões etorturas. A morte de Mao (1976), a preocupação do exército emrepor a ordem e a luta pelo poder, com o triunfo de Deng Xiao-ping(vítima da Revolução Cultural) esvaziaram a grande RevoluçãoCultural. Ela foi abandonada e os radicais afastados do poder.

Em 1984, o PC Chinês iniciou a implantação de um programareformista, em direção à economia de mercado. Permitiu a criaçãode pequenas empresas, adotou medidas para atrair investimentosestrangeiros, estimulou o lucro e a produtividade, criou Zona Espe-ciais para a instalação de indústrias transnacionais. A economia setronou um misto de empresas estatais e particulares.

As grandes crises durante a Guerra Fria

O bloqueio de BerlimEm junho de 1948, França, Grã-Bretanha e EUA decidiram

reunir suas zonas de ocupação na Alemanha, criar uma Assem-bléia Constituinte, para organizar um futuro Estado independen-te, contrariando os acordos anteriores. Com a rivalidade a plenovapor, os soviéticos decidiram bloquear os acessos a Berlim

Imagens de Hong Kong, China.

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339História Geral

Ocidental, que ficavadentro do territóriosob seu controle (Ale-manha Oriental), oca-sionando a primeiragrande crise pós-guerra. Os ameri-canos responderamcom uma grandeponte aérea, paramanter o abasteci-mento da cidade. Atémaio de 1949, quase200 mil vôos garanti-ram alimentos ecombustível para osberlinenses do Oes-te. Na iminência deuma nova guerra, osrussos acabaram ce-dendo.

Ainda em maio de1949 foi criado o Es-tado independente da República Federal da Alemanha, comcapital em Bonn. Em outubro, como represália, era fundada aRepública Democrática Alemã, com capital em Berlim Orien-tal, na área de ocupação soviética.

A Guerra da CoréiaO complexo industrial-militar americano se expandiu enorme-

mente após 1946, com a Guerra Fria e a nova corrida armamen-tista. Paralelamente, a população americana, influenciada pelosmeios de comunicação, era tomada por um pânico anticomunista.

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340 História Geral

A Comissão sobre Atividades Antiamericanas do Congresso de-sencadeou uma verdadeira “caça às bruxas”, investigando ossuspeitos de simpatia pelo comunismo, liderada pelo senadorMcCarthy. Era a época do macartismo. Os políticos eram eleitossob o dever de impedir o avanço comunista nos EUA. Oconservadorismo se manifestou na volta do republicanos à pre-sidência, com a eleição do general Eisenhower, comandante dosAliados na Segunda Guerra Mundial. O Partido Comunista ame-ricano foi declarado ilegal; artistas, escritores, cientistas foramafastados de suas atividades, sob a acusação de serem simpáti-cos ao comunismo. Era uma nova forma de “Inquisição”. Houve

Mapa de Berlim dividida.

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341História Geral

drásticas diminuições nas liberdades e direitos civis, antes que aSuprema Corte se manifestasse contra as arbitrariedades daComissão. Foi o fim da carreira política de McCarthy.

Com a comunização da China, a península da Coréia passoua ser uma importante peça na estratégia da Guerra Fria. A penín-sula pertencera ao Japão, até 1945. Derrotado o império nipônico,a região foi ocupada: ao norte, pela URSS; e o sul, pelos EUA.Em 1948 se formaram a Coréia do Norte e a Coréia do Sul. Onorte tentou unificar a península, invadindo o sul o que provocoua condenação pela ONU, que, pressionada pelos EUA e apro-

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342 História Geral

veitando um cochilo diplomático soviético, autorizou o envio detropas. Os americanos se envolveram na guerra em 1950, de-sencadeando uma ofensiva que chegou até a fronteira chinesa.

Ante essa ameaça, a China interveio militarmente, apoiando onorte com tropas, que avançaram até Seul, capital da Coréia doSul. Mais tropas americanas foram enviadas à região e elasempurraram o inimigo até o paralelo 38, onde ficava a antigafronteira entre as duas Coréias. A indefinição e o perigo de aguerra se alastrar, levaram a ONU a obter uma trégua, em 1953.Os envolvidos assinaram um armistício reconhecendo a existên-

W E

N

S

0 66km 132km

ESCALA

Mar Amarelo

Estreito da Coréia

Mar do LesteCORÉIA DO NORTE

Taljon

Seul

Inch'on

Kunsan Taegu

Yosu

Kwangju

Ilha Cheju

IlhaUllung

KYONGJU

KumKo

ya

ngHan

Nakto

ng

Somjim

Mte. Hailasan1.950m

Portos principais

Patrimônio natural

Pusan

Po'hang

Kangnung

Ch'unchon

F Al Ab il S P l Ab il 1998

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343História Geral

Fidel Castro

cia dos dois países. Os EUA e o Japão investiram maciçamentena Coréia do Sul, que sofreu a partir da década de 1960 umprocesso acelerado de desenvolvimento, tornando-a um dos Ti-gres Asiáticos. Sua condição geopolítica de Estado tampão im-pediu o avanço do comunismo. Enquanto isso, a Coréia do Nor-te, aliado à China e à URSS, continuou na formação de umasociedade comunista própria. Sob um governo ditatorial, suaeconomia, na década de 1990, se mostrava incapaz de satisfa-zer as necessidades básicas de sua população.

A crise cubanaEm 1o de janeiro de 1959, os guerri-

lheiros cubanos, liderados por Fidel Cas-tro e Che Guevara, entraram em Hava-na, derrubando uma típica ditadura lati-no-americana sustentada pelos EstadosUnidos. Enquanto isso, o ditador Fulgên-cio Batista se exilava na República Do-minicana. Os americanos procuraramenvolver e ganhar a simpatia dos novosgovernantes, mas o auxílio financeiro foi

recusado. A seguir, Castro nacionalizou muitas empresas ameri-canas, especialmente as que controlavam o setor açucareiro, omais importante da economia cubana. Não houve pagamento deindenização, pois o governo revolucionário alegava que essasempresas já haviam explorado demais o povo cubano.

Em 1961, Castro proclamava Cuba uma república socialista,iniciando a construção de uma economia estatal e dirigida. Pelaprimeira vez, os EUA tinham em sua proximidade um país socia-lista. O presidente americano, John Kennedy, foi acusado de sermuito tolerante com o avanço do comunismo. Pressionado pelosconservadores e mal-informado pela Central de Inteligência Ame-ricana (CIA), se envolveu numa desastrada aventura, ao apoiar

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344 História Geral

uma invasão de Cuba por exilados e mercenários, que tentavamdestruir a revolução. A invasão da baía dos Porcos foi um com-pleto desastre, o que aumentou ainda mais a popularidade deCastro e a simpatia que muitos latino-americanos tinham por ele.

Para sobreviver economicamente ao bloqueio americano, Cas-tro aproximou Cuba, ainda mais, da URSS. Trocava açúcar cu-bano por petróleo russo.

Os russos se aproveitam da situação para instalar foguetescom ogivas atômicas em Cuba, capazes de atingir rapidamentecidades americanas, entre elas Washington. Começava a “crisedos mísseis” em cuba. O presidente Kennedy decidiu jogar pe-sado. Determinou o bloqueio naval da ilha, impedindo a chegadade navios soviéticos que transportavam mais mísseis. A tensãoentre americanos e soviéticos chegava ao auge com uma amea-ça concreta de guerra nuclear. Prudentemente, após vária nego-ciações, a União Soviética começou a desmantelar a bases e aretirar os foguetes. Obteve, como compensação, a garantia deque os americanos impediriam qualquer invasão de Cuba porgrupos contra-revolucionários. Curiosamente, os americanos setornavam fiadores da soberania cubana.

A Guerra do VietnãO Vietnã, localizado na península da Indochina, era uma ex-

colônia francesa, Durante a Segunda Guerra Mundial foi ocupa-do pelos japoneses. Os vietnamitas conseguiram expulsá-los,mas foram surpreendidos com a volta dos franceses. Reiniciou-se a guerra pela independência, que culminou com a derrota doseuropeus, em 1954. Neste ano, os franceses se retiraram detoda a Indochina, que foi dividida em Laos, Camboja e doisVietnãs, o do Norte, com capital em Hanói, de economia socialis-ta, apoiado pelos soviéticos, e o do Sul, com capital em Saigon,de economia capitalista, apoiado pelos EUA. Haveria uma elei-ção para a unificação, em 1956, mas o Vietnã do Sul, com apoio

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345História Geral

americano, se ne-gou a convocá-la.Um grupo de guer-rilheiros, os viet-congs, membrosda Frente Nacio-nal de Libertação,iniciam um fortemovimento comu-nista pró-unifica-ção.

Os americanos,para impedir oavanço do comu-nismo, auxiliam ogoverno corruptoe ditatorial doVietnã do Sul. Empouco tempo che-gam os assesso-res militares ame-ricanos. Poucodepois, milharesde soldados, tudopara tentar conter a guerrilha. No auge da guerra, eram 600 milamericanos em combate no Vietnã. O democrata LyndonJohnson, sucessor do falecido presidente Kennedy, atacoupesadamente com toda força. Alegando que o Norte auxiliavaos vietcongs, determinou os bombardeios a Hanói, Vietnã noNorte, e o uso das armas mais modernas e eficientes, como asbombas de napalm. Eram mais de meio milhão de bem nutridossoldados americanos contra os famintos, mas idealistas,vietnamitas. Massacres, genocídio, atentados, violência e cruel-dades eram praticados pelos dois lados.

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346 História Geral

Pela primeira vez, o público americano acompanhava direta-mente uma guerra pela televisão. A guerra dividiu a América.Jovens se rebelavam, não queriam ser convocados. Fugiam parao Canadá. Neste contexto, desenvolveu-se o movimento hippie,pregando “paz e amor”. No festival de Woodstock, em 1969, ummilhão de jovens, sob o lema “faça amor, não faça a guerra”,exigiram o fim da intervenção americana.

As baixas americanas vitimavam milhares de soldados. Para-doxalmente, um presidente republicano, Richard Nixon, decidiuretirar os Estados Unidos do conflito. Em 1973, assinou um acor-do bilateral (EUA e Vietnã do Norte) de cessar fogo.

Os EUA se retiraram do Vietnã em 1973. Os comunistas toma-ram Saigon em abril de 1975, que passou a se chamar CidadeHo Chi Minh, o grande líder da resistência ao imperialismo. Ter-minava a guerra em 2 de julho de 1976, com a unificação dopaís, sob a liderança do Norte. O regime comunista foi implanta-do em todo o Sul.

As Guerras no Oriente MédioChocados com a revelação das atrocidades cometidas pelos

nazistas, os países membros da ONU, em 1947, decidiram pelacriação de um Estado judeu independente, localizado no OrienteMédio. Assim nasceu o Estado de Israel, com o retorno dos ju-deus da “diáspora” ao território de onde haviam sido expulsospelos romanos há quase 2 mil anos. A região, chamada Palesti-na, era até então um protetorado britânico, obtido após a Primei-ra Guerra Mundial, com a divisão do Império turco otomano. Osbritânicos haviam comunicado a sua decisão de sair da região,devido à oposição de palestinos e dos judeus ali residentes. Adecisão da ONU, tomada sem qualquer consulta prévia à popu-lação local, determinava a criação de dois Estados: um para osjudeus, outro para os árabes. Porém, os árabes rejeitaram o pla-no da ONU.

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347História Geral

Israel e o Estado Palestino naproposta da ONU (1947).

Territórios anexados porIsrael(1948-1949).

Israel em 1967. Israel em século XX.

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348 História Geral

Em 14 de maio de 1948 foi proclamado oficialmente o Estadode Israel, um ato unilateral que provocou a reação militar dospaíses árabes vizinhos (Egito, Líbano, Jordânia, Síria) . Iniciava-se a primeira guerra, que terminou em janeiro de 1949, com avitória de Israel e a não-instalação do Estado árabe-palestino.Os israelenses passaram a controlar 75% do território da Pales-tina. A Faixa de Gaza foi anexada ao Egito, e a Jordânia incorpo-rou a Cisjordânia. Intimidados, cerca de 800 mil árabes fugiramda área controlada por Israel.

Em 1956, O Egito nacionalizou o Canal de Suez, até entãopropriedade britânica, gerando uma grave crise internacional.Israel aliou-se à França e à Inglaterra e, juntos, atacaram o Egi-to. Israel ocupou a península do Sinai e a Faixa de Gaza. Porintervenção da ONU, e sob pressão dos EUA e da URSS, que seopuseram à ação nitidamente colonialista franco-britânica, as tro-pas invasoras retiram-se da região.

Em 1964, uma reunião de chefes de países árabes, no Cairo,capital egípcia, criou a Organização para a Libertação da Pales-tina (OLP), para promover a destruição do Estado judeu e a cria-ção de um Estado palestino.

A tensão permanente entre árabes e israelenses provocou umaterceira guerra. A região então sofria os efeitos da Guerra Fria.Egito, Síria e Jordânia, embora países semifeudais, tinham o apoioda União Soviética, país socialista. Israel, um país internamentebastante socializado, com suas cooperativas comunitárias (oskibutzim), era fortemente apoiado e armado pelos EUA, líder dospaíses capitalistas. Temendo um ataque árabe, Israel decidiuatacar preventivamente, em 5 de junho de 1967. Iniciava-se aGuerra dos Seis Dias, que terminou em 10 de junho com a vitóriaisraelense e a ocupação do Sinai e da Faixa de Gaza (perten-centes ao Egito), da Cisjordânia (pertencente à Jordânia), e dasColinas de Golã, território sírio. A zona oriental de Jerusalém,majoritariamente árabe, foi anexada ao território de Israel, deci-são não reconhecida por muitos países.

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349História Geral

Todas as resoluções da Assembléia Geral da ONU obrigandoIsrael a devolver os territórios ocupados foram rejeitadas peloEstado judeu. Os palestinos, em sua luta contra Israel, optaramentão pelo terrorismo. Em 1969, Yasser Arafat, chefe da organi-zação guerrilheira Al-Fatah, foi eleito presidente da OLP.

Em 6 de outubro de 1973 veio o troco dos árabes. Em plenoferiado judaico do Yom Kippur (Dia do Perdão), tropas egípcias esírias desfecharam um ataque surpresa e avançaram pelo Sinai epelas colinas de Golã, tentando reconquistar os territórios perdi-dos na guerra anterior. Após um breve sucesso inicial, os árabesforam contidos e repelidos, embora causassem duras baixas en-tre os israelenses, pela primeira vez. O conflito durou quase trêssemanas e não provocou nenhuma mudança territorial. Israel con-tinuou ocupando os territórios tomados na Guerra dos Seis Dias.

Porém, durante o conflito, os países árabes, membros da OPEP,transformaram o petróleo numa arma de guerra. Suspenderam oseu fornecimento às nações que apoiavam Israel. O pânico to-mou conta do mercado mundial do petróleo, e os preços chega-ram a quadruplicar em alguns dias.

O governo israelense adotou uma política de incorporação dosterritórios conquistados, estimulando neles a instalação de colô-nias israelenses. Para surpresa geral, em 1977, o presidente egíp-cio, Anuar Sadat, fez uma visita a Jerusalém. O Egito optavapela diplomacia para resolver suas pendências com Israel. Mas,certamente sua atitude foi influenciada pela situação do Canalde Suez. Desde a Guerra dos Seis Dias o canal não era utiliza-do, porque se tornara a linha divisória entre os exércitos egípcioe israelense. Além disso, navios haviam sido nele afundados e aprofundidade do canal estava comprometida pelo assoreamento.A taxa que o Egito antes cobrava pelo uso do canal fazia falta noorçamento do governo.

A iniciativa diplomática egípcia abriu caminho para os acordosde Camp David, nos EUA (1978-1979), assinados por Menachem

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350 História Geral

Begin (primeiro-ministro de Israel) e Anuar Sadat, e com o apoiodo presidente norte-americano Jimmy Carter. Israel concordouem se retirar da península do Sinai, em1982, mas reteve a Faixade Gaza, com o Egito renunciando à sua soberania. Os paísesárabes repudiaram os acordos de Camp David e o Egito foi ex-pulso da Liga Árabe.

Em junho de 1982, o exército israelense atacou o Líbano ecercou Beirute com o objetivo de destruir o quartel-general daOLP, ali instalado. A milícia cristã libanesa provocou um enormeextermínio de palestinos instalados nos acampamentos de refu-giados, sob a complacência dos comandantes militares israelen-ses. Um acordo posterior permitiu que os guerrilheiros palesti-nos deixassem a capital e se transferissem para Túnis, na Tunísia.No ano seguinte, Israel começou a retirada de suas tropas, masmanteve o controle de uma faixa no sul do Líbano, consideradacomo “área de segurança”. Grupos extremistas árabes, apoia-dos pela Síria, são organizados, dentre eles a milícia xiitaHezbollah. O norte de Israel passou a ser sistematicamente ata-cado e bombardeado por foguetes.

Em 1987 estourou uma rebelião palestina nos territórios ocu-pados e no setor árabe de Jerusalém, conhecida como Intifada(“sobressalto”, em árabe). Adolescentes árabes provocavam ossoldados israelenses, atirando pedras. Israel reprimiu com vio-

Acampamento palestino.

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351História Geral

lência a ação dos árabes, sendo condenado pela ONU. Em 1991,durante a Guerra do Golfo, Israel foi bombardeado com mísseislançados pelo Iraque, mas não revidou a pedido do governo nor-te-americano, que não desejava romper a coalizão anti-Iraque.

Após a Guerra do Golfo, os americanos aumentaram sua pres-são para se chegar a um acordo de paz. A vitória dos trabalhis-tas, nas eleições israelenses de 1992, liderados por Itzhak Rabin,abriu o caminho para o acordo. Em 13 de setembro de 1993,Israel e a OLP assinaram um tratado de paz, em Washington (EUA),reconhecendo-se mutuamente. Pelo Acordo de Oslo (Noruega),os israelenses iniciaram a retirada de tropas de territórios ocupa-dos. A Administração Palestina obtinha a autonomia plena namaior parte da Faixa de Gaza e na cidade de Jericó, naCisjordânia e ficava encarregada da segurança interna e da ad-ministração civil. A defesa e as relações externas continuaramcom Israel. Yasser Arafat, chefe da OLP, instalou seu governoem Gaza. Em outubro de 1994, foi assinado um acordo entreIsrael e Jordânia. No ano seguinte, foi ampliada a área daCisjordânia sob administração palestina, porém nessa região vi-vem cerca de 200 mil colonos judeus.

Os acordos de paz provocaram enormes divisões na socieda-de israelense. Para reforçar sua posição política, o governo tra-balhista organizou uma grande manifestação pela paz, em Telaviv,em 4 de novembro de 1995. Na saída do comício, o primeiro-ministro Rabin foi assassinado por um extremista judeu. Ochanceler Shimon Peres assumiu o governo e manteve o pro-cesso de desocupação das regiões da Cisjordânia, excetoHebron. Porém, no início de 1996, novos atentados organizadospelo Hezbollah mataram dezenas de pessoas em Israel, quepassou a praticar uma política de represália.

Em janeiro de 1997, Israel e os palestinos concluíram um novoacordo sobre a retirada das tropas israelenses da maior parte dacidade de Hebron, com exceção das áreas habitadas por colo-nos judeus.

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Os grandes problemas que dificultavam uma paz definitiva naregião são:

a) O status de Jerusalém, cidade considerada sagrada por trêsreligiões: o judaísmo, o cristianismo e o islamismo. Israel aconsidera sua capital histórica e religiosa, portanto indivisível.Os palestinos reivindicam a parte oriental da cidade para suacapital. Habitada por 180 mil judeus e 200 mil palestinos, emJerusalém Oriental se localiza todo o setor murado, chamadoCidade Velha, onde ficam os monumentos das três religiões.O Vaticano apóia a internacionalização de Jerusalém.

b) A construção de centenas de colônias judaicas nos territóriosocupados.

c) A existência de grupos radicais, tanto do lado palestino (Ha-mas, Hezbollah), como do lado israelense (grupos sionistase ultra-religiosos).

d) Os atentados terroristas praticados por fundamentalistasislâmicos. São ativistas que amarram bombas em seu corpoe as fazem explodir em locais freqüentados por cidadãos israe-lenses.

e) As represálias praticadas pelas forças armadas israelenses,causando muitas baixas na população civil palestina.

A Guerra do Iraque Teve início no dia 19 de março de 2003 o bombardeio do ter-

ritório iraquiano pelas forças aliadas, formadas por tropas dosEstados Unidos, do Reino Unido e por um pequeno contingenteaustraliano. Após quase dois meses de advertências e intimida-ções ao ditador iraquiano, Sadam Hussein, o presidente ameri-cano George W. Bush, com a adesão irrestrita do primeiro-minis-tro britânico, Tony Blair, determinou o início das operações béli-cas, há muito tempo planejadas pelos estrategistas militares, apartir das informações fornecidas pelos serviços de espionagem

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353História Geral

das forças aliadas. Foi, portanto, uma ação pensada, contandocom forte apoio da mídia e da população americanas, mas compequena adesão popular britânica. Poucos países apoiaram adecisão anglo-americana, entre eles Israel, inimigo tradicionalde Sadam Hussein. A maior surpresa foi a adesão da Espanha edos países do leste europeu, como a Polônia e a Bulgária, estesdois últimos certamente em busca de empréstimos financeirosamericanos.

Na verdade, o ataque ao Iraque foi um desdobramento da po-lítica externa imperialista dos Estados Unidos, agindo contra deci-

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sões da Assembléia Geral da Organização das Nações Unidas(ONU). Os americanos, mais uma vez, impuseram seus interes-ses e objetivos, na medida em que se autodenominaram a na-ção cruzadista da luta do bem contra os países que formam oeixo do mal (Iraque, Irã e Coréia do Norte), no dizer do presiden-te Busch. Consideram-se os policiais da nova ordem mundial,impondo a “pax americana”, papel abertamente assumido apóso colapso do mundo socialista.

Os aliados justificaram suas ações mi-litares como sendo uma necessidade fren-te às ameaças e aos ataques terroristasdos fundamentalistas muçulmanos, espe-cialmente do grupo Al Qaeda, liderado porOsama Bin Laden, responsável pelos ata-ques de “11 de setembro de 2001”, e queteriam um forte apoio financeiro e logísti-co do Iraque, bem como a possibilidadede o Iraque possuir armas de destruiçãoem massa (químicas e biológicas), cujatecnologia havia sido fornecida pelosamericanos durante a guerra do Iraquecontra o Irã, na década de 1980, quandoo grande inimigo, a encarnação do mal,era a República Islâmica do Irã, governa-da pelos xiitas, sob a orientação dos aiatolás.

Mas, para muitos analistas os ataques são uma conseqüênciado enorme interesse de poderosos grupos econômicos, como osda indústria bélica, do setor petrolífero e financeiro dos EstadosUnidos. Lembram esses analistas que o Iraque possui a segun-da maior reserva de petróleo do planeta, superada apenas pelada Arábia Saudita.

Todas as tentativas dos governos americano e britânico de jus-tificar os seus ataques contra o Iraque não tinham nenhum res-

Bin Laden.

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355História Geral

paldo no Direito Internacional, nem o apoio ONU, que optava porampliar os prazos para que os seus inspetores descobrissemnos arsenais iraquianos os armamentos proibidos desde a der-rota militar de Sadam Hussein, na Guerra do Golfo. Assim, aopassar por cima das decisões da ONU, os Estados Unidos e oReino Unido desacreditaram e desmoralizaram a organização in-ternacional, uma das poucas esperanças de um mundo mais justoe pacífico. A ação militar anglo-americana causou uma situaçãodelicada do ponto de vista internacional, pois trazia à tona a pos-sibilidade de retomada de ações típicas do imperialismo colonia-lista, que se pensava tivessem terminado.

Tradicionais aliados dos Estados Unidos, como a França, aAlemanha, e até mesmo o Canadá, país da Commonwealth bri-tânica, todos membros da OTAN (Organização do Tratado doAtlântico Norte) manifestaram sua oposição à ação anglo-ameri-cana. O papa posicionou-se veementemente contra a guerra.Infrutiferamente.

Após intensos bombardeios de todo o Iraque, que atingiramindiscriminadamente alvos militares e a população civil, Bagdáfoi capturada, praticamente sem resistência, em 9 de abril. Omito da capacidade militar da Guarda Republicana do ditadoriraquiano, mais uma vez foi desnudado, como já houvera sidouma década antes.

Iniciada a ocu-pação, o país foi di-vidido pelos alia-dos em áreas deadministração mili-tar. Ao minimizar opapel que a ONUdesempenharia noIraque pós-guerra,na reconstrução ereorganização po- Guerra do Iraque.

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lítica do país, os anglo-americanos praticamente provocaram afalência das Nações Unidas, pois desrespeitaram abertamente amais importante entidade internacional.

Um problema enfrentado pelos administradores aliados foi osurgimento de uma resistência iraquiana clandestina, que pre-parou e desencadeou várias emboscadas, como na cidade deFalluja, onde uma unidade do exército dos Estados Unidos foiatacada por granadas acionadas, por foguetes, e por pequenasarmas. Ações semelhantes ocorreram praticamente em todo opaís, além de grandes manifestações populares de protestoscontra a presença de americanos e britânicos. Os ataques, noseu conjunto, causaram mais mortes entre os soldados america-nos do que a fase da guerra convencional. Um importante cléri-go xiita iraquiano que recebeu ordens para desarmar sua pode-rosa milícia não deixou claro se cumpriria ou não a exigência dosEUA. Dado um ultimato para os iraquianos entregarem suas ar-mas, seu efeito prático foi mínimo.

A crise do comunismo na URSSNo começo da década de 1980, o sistema soviético começou

a mostrar os sinais de incapacidade que o levariam ao desapa-recimento. Ao assumir o cargo de secretário do Partido Comu-nista, posto chave na burocracia soviética, em março de 1985,Mikhail Gorbatchev deu início a um amplo programa de refor-mas, mas que resultariam no fim da URSS. Duas eram as suaspalavras de ordem: glasnost (transparência) e perestroika(reestruturação). A primeira significava um abrandamento da pro-funda censura típica do modelo soviético; a segunda introduziacritérios de eficiência na gestão da economia, seriamente preju-dicada por décadas de excessiva centralização, ineficiência, enor-me burocracia e larga corrupção. O país passava por uma gravecrise econômica e a produção já não mais atendia às necessida-des básicas da população. As filas para a compra de alimentos,

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357História Geral

algo muito comum no sistema comunista, tornaram-se mais lon-gas. E havia uma insatisfação geral devido à falta de liberdadede expressão e participação política.

No plano externo, Gorbatchev se esforçou numa política dedistensão, pondo fim à Guerra Fria. Trabalhou pelo desarmamen-to e pela ampliação do diálogo com os EUA. Em 1986, anunciavauma moratória unilateral dos testes nucleares subterrâneos. E,três anos depois, determinou a retirada das tropas soviéticas doAfeganistão, uma guerra impopular, produto de uma intervençãoque custava vidas e recursos materiais aos russos.

A desejo do povo soviético de ace-lerar as reformas econômicas e políti-cas frustraram as expectativas deGorbatchev de promover um processode abertura gradual. Políticos popu-listas, e até mesmo demagogos e opor-tunistas, aproveitaram o caos e setransformara uma das superpotências,para promover a substituição do regime.O sistema de partido único, instituídopela Revolução Comunista, deu lugarao pluripartidarismo. Deixaram de exis-tir as listas únicas de candidatos e os eleitores, pela primeiravez, após décadas de domínio do PC, podia escolher o seu candi-dato. O prestígio do dirigente populista Boris Iéltsin , chefe do PCde Moscou, se expandiu com tal rapidez que, em março de 1990,ele foi eleito presidente do Soviete Supremo da URSS. Passou acontestar o poder do secretário geral. Fez aprovar pelo Parlamen-to uma Declaração de Soberania, pela qual as instituições daRússia, uma das repúblicas da URSS, se sobrepunha às do Esta-do soviético. A autoridade de Gorbatchev rapidamente diminuía.

Em agosto de 1991, setores ultraconservadores do PartidoComunista e das Forças Armadas, aproveitando a ausência emMoscou do secretário, em férias na região do mar Negro, deram

Bóris Iéltisin.

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358 História Geral

um golpe de Estado, determinaram a prisão de Gorbatchev etentaram restaurar a linha tradicional do sistema soviético. A fir-me oposição de Iéltsin e a mobilização da população de Moscoue Leningrado fizeram o golpe fracassar. Fortalecido politicamen-te, Iéltsin promoveu a liquidação das principais instituições daURSS, esvaziando a autoridade de Gorbatchev, que renunciouem 25 de dezembro de 1991. A URSS simplesmente deixava deexistir. Em seu lugar surgiram várias repúblicas soberanas, dasquais a principal é a Federação Russa, que elegeu Iéltsin parapresidente. Foi criada a Comunidade dos Estados Independen-tes ( CEI ), um fórum de coordenação política e econômica entre12 das 15 ex-repúblicas soviéticas. As repúblicas bálticas (Estônia,Lituânia e Letônia) não aderiram.

Em 1992, Iéltsin iniciava um programa radical de desestatizaçãoe liberalização econômica. A transição para o capitalismo provo-cou inflação, recessão, desemprego e crescimento do crime orga-nizado. As máfias russas ganharam espaço em vários setores daeconomia. O Ocidente, desejo de evitar a volta ao antigo regime,faz grandes empréstimos e investimentos. Tal ação não impediu aRússia de sofrer um grande ataque especulativo, em 1998.

O governo russo enfrenta ainda movimentos nacionalistas naTchechênia e no Daguestão, que ameaçam a unidade do país,composta de pelo menos 80 etnias.

Com o desaparecimento da URSS, os demais países do Lesteeuropeu abandonaram o modelo socialista para ingressar numaeconomia de mercado.

A descolonização da África, Ásia e Caribe

O enfraquecimento das potências colonialistas européias, di-retamente atingidas pela Segunda Guerra Mundial, possibilitouàs regiões colonizadas conhecer um amplo processo de liberta-ção, que resultou na formação de mais de uma centena de paí-ses independentes.

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359História Geral

O processo de independência das colônias européias no conti-nente africano começou após a II Guerra Mundial e terminou nadécada de 1970. Durante a guerra, a pressão das metrópoles pelocrescimento da produção colonial, o avanço dos meios de comu-nicação, a desestruturação das metrópoles (Grã-Bretanha, Fran-ça, Bélgica, Alemanha e Itália) favoreceram o surgimento de mo-vimentos de libertação, geralmente liderados por pessoas perten-centes à elite colonial, muitas das quais haviam estudado em uni-versidades européias. A descolonização deu-se de forma pacíficaou violenta, lenta e desigual nos continentes africano e asiático.

Quando ocorreu a Conferência Afro-Asiática de Bandung, naIndonésia, em 1955, a Ásia estava quase inteiramente descolo-nizada. Acelerava-se, então, a descolonização da África, doCaribe e do Pacífico. Mas, a descolonização conduziu apenas à“independência formal”, e não à “independência real”. Na déca-da de 1960, um amplo movimento dos países não-alinhados seposicionou contra a tutela das grandes potências sobre as jo-vens nações.

Em Bandung, delegados de 24 países asiáticos e africanos sereuniram e proclamaram o princípio do não-alinhamento auto-mático ao lado das novas potências emergentes, EUA e URSS,e defenderam o direito de autodeterminação dos povos. Nos dezanos que se seguiram à conferência, 33 países africanos obtive-ram a emancipação. Diante da pressão dos movimentosautonomistas, diversas potências européias apressaram a con-cessão da independência. Entretanto, procuraram manter laçoseconômicos e políticos e estimulam a instauração de ditadurasfiéis à antiga colônia. Aos EUA e à URSS, nesse contexto daGuerra Fria, não mais interessava a manutenção do mundo co-lonial, mas a disputa por áreas de influência.

O surgimento das nações africanas e asiáticas no século XXfoi marcado por lutas contra os grupos dirigentes colonialistas epor guerras civis, já que muitas das fronteiras estabelecidas pe-los novos países não obedeceram às divisões étnicas, lingüísti-

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cas e culturais dos povos, fenômeno mais evidente na África. Al-guns desses conflitos permanecem até hoje, como ocorre no Congoe na Costa do Marfim. Igualmente persistem e até mesmo se agra-vam os desequilíbrios econômicos e sociais no continente.

Assim, o tradicional domínio político colonial foi substituído pornovas formas de dominação. Como os novos países geralmentetêm a sua economia dependente de um ou dois produtos, geral-mente matérias-primas, tiveram que permanecer como exporta-dores de produtos primários e importadores de artigos industria-lizados. Sua industrialização é incipiente.

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361História Geral

As transformações nos Estados Unidos

A sociedade americana se mantém fortemente racista no pós-guerra. As minorias, negros, porto-riquenhos e “chicanos” (mexi-canos) eram discriminadas e não tinham integração social. Asmaiores vítimas eram os negros, vítimas centenas de anos deescravidão no sul. Conscientes de sua importância e direitos,eles se organizaram para pressionar o Congresso e diminuir adiscriminação existente. Marchas, boicotes e protestos pacíficosforam organizados. Eventualmente ocorria uma explosão racialcom levantes, saques e mortes em cidades mais populosas. Istorepercutiu na composição dos partidos. O Partido Republicanoreunia grandes empresários urbanos, fazendeiros e classe alta emédia em todo o país. Minorias étnicas, intelectuais, trabalhado-res agrícolas, e o pequeno e médio empresariado se juntavamno Partido Democrático. Basicamente a ideologia era a mesma,o liberalismo burguês e a democracia representativa. Os republi-canos tradicionalmente são mais conservadores; os democra-tas, mais abertos aos reclamos sociais.

Em 1961, o eleitorado americano escolheu para presidente odemocrata John Kennedy, membro da elite de Boston, compro-metido com as questões sociais e possuidor de um grandecarisma pessoal. Seu programa foidenominado “Nova fronteira”, Critica-do pelos conservadores, que o con-sideravam um perigo para o país porseus aspectos populistas e voltadospara o social. Recebeu o apoio dopastor negro Martin Luther King, ex-cepcional orador e líder do movimen-to pacifista. Kennedy conseguiu queo Congresso aprovasse leis que per-mitiram a ascensão dos pobres dasminorias do país. John Kennedy.

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Martim Luther King.

Em 1963, em Dallas, no Texas, estadoultraconservador, Kennedy morreu assas-sinado num atentado ainda hoje mal ex-plicado. Em 1968, seu irmão RobertKennedy, ex-secretário da Justiça ecandidato favorito à presidência, e opastor Martin Luther King também fo-ram assassinados. Apesar da violên-cia os direitos civis ganharam am-plo espaço e o governo federalampliou os programas sociais paraos pobres, negros e idosos.

Com a volta dos republicanos à presidência (Ronald Reagan,George Bush), houve a retirada de muitos benefícios sociais, maso processo de integração não arrefeceu.

A queda do Muro de Berlim (1989) e o fim da União Soviética(1991) pôs fim à Guerra Fria e à ameaça de um conflito nuclear.Os EUA se tornaram a única potência militar mundial e passa-ram a agir como verdadeiros policiais, inclusive passando porcima das decisões da ONU, como ocorreu recentemente na Guer-ra do Iraque (2003).

O capitalismo é dominante em todo o mundo. A maioria dospaíses que eram socialistas, inclusive a Rússia, aderiu àglobalização e o inglês se transforma, cada vez mais, na línguauniversal.

Na década de 1990, a administração do democrata Bill Clintonproporcionou o maior crescimento contínuo da história dos Esta-dos Unidos.

A União Européia

No continente europeu, a partir da Baixa Idade Média, houve aformação de vários Estados independentes e inúmeras disputase guerras entre suas nações. Alguns países, como França, In-

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glaterra e Alemanha, mantiveram uma rivalidade e um antago-nismo secular entre si. Uma união dos rivais em um só país erauma obra de ficção política no início da década de 1950. No en-tanto, para surpresa geral, inimigos históricos prometeram dei-xar de lado suas rivalidades e procurar uma convivência pacífi-ca, sob a mesma bandeira.

Mas, também é verdade que a união dos países europeus oci-dentais nasceu da necessidade de se impedir a dominação eco-nômica dos Estados Unidos e militar da União Soviética, as duassuperpotências do pós-guerra.

A união da Europa Ocidental começou com uma série de acer-tos econômicos até a assinatura do Tratado de Roma, em 1957,que criou a Comunidade Econômica Européia (CEE), tambémchamada de Mercado Comum Europeu (MCE). Era formada porFrança, Itália, Alemanha Ocidental, Bélgica, Holanda e Luxem-burgo. Em 1991, foi assinado o Tratado de Maastricht (PaísesBaixos), estabelecendo um prazo para a união monetária e eco-nômica e outro para a união política, garantida a cidadania co-mum a todos os habitantes dos países do bloco, além de quatrodireitos básicos: livre circulação, assistência previdenciária, igual-dade entre homens e mulheres e melhores condições de traba-lho. Progressivamente as barreiras alfandegárias foram diminu-indo, até desaparecerem, aumentando assim a circulação demercadorias. Com a estabilidade dos preços, a produção cres-ceu e melhorou a qualidade de vida de todos.

Em Maastricht nasceu a União Européia. O euro foi adotadocomo moeda única. Já aderiram ao bloco a Áustria, Dinamarca,Espanha, Finlândia, Grécia, Irlanda, Portugal, Reino Unido eSuécia. Com o fim do bloco soviético vários países da Europaoriental solicitaram sua participação, como a Polônia, a Repúbli-ca Tcheca, a Hungria etc.

A União Européia é uma nova potência mundial, que tende ase fortalecer no século XXI com a adesão de outros países.

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A união de forças de povos de culturas e costumes diferentes é umexemplo a ser seguido por outros países que perceberam a impor-tância da organização em blocos integrados economicamente.

Questões de vestibular

1) (PUC/CAMP) Considere os excertos a seguir.I. “As crises políticas e sociais nos países liberados (da dominação

nazista), proporcionavam aos russos uma excelente oportunidadepara influir na transformação de seus regimes políticos.”

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II. “Com este Plano, adotado entre 1948 a 1952, e que consistia naaplicação maciça de capitais norte-americanos na reconstruçãoeuropéia, pretendia-se conter a ‘ameaça’ comunista e consolidar ainfluência dos Estados Unidos na Europa Ocidental.”

III. “A Grande Depressão (...) levou a Europa a revisar não apenas seupapel de economia periférica face às nações industriais do Atlânticosul, mas, igualmente, sua crença nos padrões de transformaçãoeconômica sem o recurso à prática revolucionária levada a cabo naUnião Soviética.”Os problemas políticos e estratégicos que resultariam na chamadaGuerra Fria tiveram sua origem ainda nas relações entre os Aliadosdurante a Guerra, mas foi somente no fim dos anos 40 que assumi-ram sua forma mais característica. Estes problemas estão identifi-cados em:

a) apenas IIb) apenas I e IIc) apenas I e IIId) apenas II e IIIe) I, II e III

2) (UFRS) Queridos compatriotas, concidadãos:Tendo em vista a situação criada com a formação da Comunidadede Estados Independentes (CEI), concluo minha atividade comopresidente da União Soviética. Tomo esta decisão por questões deprincípio. (...) Impôs-se a linha de fragmentação do país e desuniãodo Estado, o que não posso aceitar.(...) O destino quis que, ao me encontrar à frente do Estado, jáestivesse claro que nosso país estava doente. (...) Tudo devia mudar.(...) Hoje estou convencido da razão histórica das mudanças iniciadasem 1985. (...) Acabamos com a Guerra Fria, deteve-se a corridaarmamentista e a demente militarização do país que havia deformadonossa economia, nossa consciência social e nossa moral. Acabou-se a ameaça de uma guerra nuclear. (...) Abrimo-nos ao mundo, eresponderam-nos com confiança, solidariedade e respeito. Mas oantigo sistema desmoronou antes que o novo começasse a funcionar.

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(...) Deixo meu cargo com preocupação mas também com esperança,com fé em todos vocês, na sua sabedoria e na sua força de espírito.(...) Meus melhores votos a todos.Mikhail Gorbatchov. Discurso de despedida Moscou, 25 de dezembrode 1991(Fonte: Garcia F., Espinosa, J.M. História del mundo actual 1945-1995. Madrid: Alianza Editorial, 1996.)Dentre as alternativas a seguir, assinale aquela que NÃO está direta-mente vinculada ao teor do documento ou ao seu contexto histórico:

a) Nova Ordem Mundial dos anos 90b) Nova Guerra Friac) Guerra da Chechêniad) Reunificação Alemãe) Descolonização Afro-Asiática

3) (CESGRANRIO) Um dos fatos mais expressivos da década de 60 naChina foi o movimento de dominação política e ideológica dirigidopor Mao-Tse-Tung, que está associado à:

a) Revolução Vermelha.b) Revolução Cultural.c) Revolução Verde.d) Revolução dos Quatro.e) Revolução Intelectual.

4) (CESGRANRIO) Marque a opção que apresenta um acontecimentorelacionado com as origens da Guerra Fria.

a) Construção do Muro de Berlim (1961).b) Intervenção militar norte-americana no Conflito do Vietnã (1962).c) Criação da Organização do Tratado do Atlântico Norte, OTAN (1949).d) Eclosão da crise dos mísseis em Cuba (1962).e) Invasão da Baía dos Porcos (1961).

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367História Geral

Cap. 1QV – 1) C

Cap. 2EP – 1) A 2) C 3) B 4) B

5) B 6) B 7) B 8) E9) E 10) C

QV – 1) E 2) D 3) B4) D 5) C

Cap. 3EP – 1) E 2) D 3) C 4) C

5) B 6) B 7) A 8) C9) D 10) A 11) A 12) B

13) CQV – 1) C 2) E 3) E 4) A

5) B 6) B 7) B 8) C9) B 10) E 11) D 12) A

Cap. 4 e 5EP – 1) CQV – 1) B 2) D 3) A 4) A

5) C 6) A

Cap. 6EP – 1) A 2) E 3) C 4) E

5) C 6) E 7) DQV – 1) B 2) A 3) C 4) B

5) B 6) C 7) D

Cap. 7EP – 1) B 2) D 3) EQV – 1) D

Cap. 8EP – 1) A 2) C 3) BQV – 1) B 2) B 3) A

Cap. 9EP – 1) C 2) CQV – 1) A 2) D 3) B

Cap. 10EP – 1) D 2) E 3) E 4) B

5) EQV – 1) C 2) C 3) E

Cap. 11EP – 1) D 2) EQV – 1) E 2) A

Cap. 12EP – 1) C 2) C 3) AQV – 1) B 2) E

Cap. 13EP – 1) D 2) DQV – 1) C 2) E

Cap. 14EP – 1) D 2) AQV – 1) B

Cap. 15EP – 1) D 2) DQV – 1) D 2) C

Cap. 16EP – 1) B 2) CQV – 1) B 2) B

Cap. 17EP – 1) D 2) CQV – 1) C 2) C 3) E

Respostas

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368 História Geral

Cap. 18EP – 1)BQV – 1) D 2) B

Cap. 19QV – 1) A 2) B 3) C

Cap. 20EP – 1) E 2) E 3) BQV – 1) B

Cap. 21EP – 1) DQV – 1) A 2) C

Cap. 22EP – 1) C 2) DQV – 1) B 2) B 3) C

Cap. 23EP – 1) E 2)DQV – 1) C

Cap. 24EP – 1) A 2) EQV – 1) B 2) E

Cap. 25EP – 1) D 2) EQV – 1) A 2) D

Cap. 26EP – 1) B 2) C 3) AQV – 1) B 2) A

Cap. 27EP – 1) A 2) E 3) B 4) D

5) CQV – 1) A 2) E 3) D

Cap. 28EP – 1) AQV – 1) E

Cap. 29EP – 1) A 2) EQV – 1) A 2) C

Cap. 30EP – 1) C 2) B 3) D 4) BQV – 1) E

Cap. 31EP – 1) B 2) B 3) C 4) BQV – 1) C 2) C

Cap. 32EP – 1) D 2) C 3) A 4) E

5) BQV – 1) D 2) C

Cap. 33EP – 1) A 2) C 3) B 4) AQV – 1) E 2) A 3) E

Cap. 34QV – 1) B 2) E 3) A 4) C