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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE CAMPINAS DISCIPLINA: BIOQUÍMICA CLÍNICA PROFESSOR: DR. LÁZARO ALESSANDRO SOARES NUNES APOSTILA URINÁLISE Rotina do Exame de Urina Coleta Transporte Preservação da Amostra Controle da Qualidade 2011

Apostila de Urinalise

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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE CAMPINAS

DISCIPLINA: BIOQUÍMICA CLÍNICA

PROFESSOR: DR. LÁZARO ALESSANDRO SOARES NUNES

APOSTILA URINÁLISE

Rotina do Exame de Urina

Coleta

Transporte

Preservação da Amostra

Controle da Qualidade

2011

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Material elaborado pelo Professor Dr. Lázaro Alessandro Soares Nunes

URINÁLISE

1.0 INTRODUÇÃO À URINÁLISE

Foi com a análise da urina que começou a medicina laboratorial. Podem ser encontradas referências ao estudo da

urina nos desenhos dos homens das cavernas e egípcios. Duas características únicas das amostras de urina podem

explicar a persistência do exame de urina: 1) A amostra de urina é de obtenção rápida e coleta fácil; 2) A urina

fornece informações sobre muitas das principais funções metabólicas do organismo, por meio de exames

laboratoriais simples. Por ser um meio barato de examinar grande número de pessoas, não só para a detecção de

doenças renais, mas também do início assintomático de doenças como o diabetes melito e as hepatopatias.

1.1. O RIM

Os rins são estruturas bilaterais que se situam um a cada lado da coluna vertebral, no espaço retroperitonial. No adulto, cada rim pesa aproximadamente 150 g e mede aproximadamente 12 cm de comprimento. As faces mediais dos rins são chanfradas, formando os hilos, por onde penetram a veia renal, a artéria renal e os ureteres que transportam a urina, de cada rim para a bexiga. O parênquima renal é formado por duas zonas distintas sendo uma exterior, o córtex, e outra interior, a medula. A medula é representada pelas pirâmides, que são estruturas cônicas, cujos vértices estão nos cálices renais que drenam nas papilas. O córtex contorna quase totalmente as pirâmides e compreende a região entre as pirâmides, denominada de colunas renais. A unidade funcional microscópica, ou microunidade funcional dos rins, é o néfron e cada rim contém aproximadamente 1 a 1,5 milhão de néfrons. A primeira porção do néfron é o glomérulo, constituído por um plexo de capilares, que são mantidos coesos por células mesenquimais de sustentação e conectados por células pediculadas, os podócitos. A estrutura do glomérulo está contida por uma evaginação do túbulo contornado proximal, a cápsula de Bowman, onde ocorre o processo de filtração glomerular. Em continuidade à cápsula de Bowman, encontra-se a primeira porção do túbulo contornado proximal. Segue-se a este os ramos descendente e ascendente da alça de Henle, em formato de "U". O néfron distal é composto pelo túbulo contornado distal e túbulo coletor, que terminam no ápice das pirâmides renais. Os glomérulos e os túbulos proximais e distais estão situados no córtex renal e as alças de Henle e os túbulos coletores estão localizados na medula renal. As unidades funcionais do rim trabalham em paralelo e o trabalho final é a somatória do que realiza cada unidade. A circulação sangüínea dos rins está intimamente relacionada com a sua função. Cada rim é irrigado pela artéria renal que atinge o hilo e se ramifica para irrigar os segmentos renais individualizados. Esta se subdivide em ramos interlobares, interlobulares e arciformes. Ao longo das artérias interlobulares saem pequenas artérias, de curto trajeto, as arteríolas aferentes que, penetrando no glomérulo se dividem nos capilares intraglomerulares, os quais se unem para formar as arteríolas eferentes, que saem do glomérulo. As arteríolas eferentes dividem-se em capilares, formando uma extensa rede que está em íntimo contato com os túbulos renais, chamados capilares peritubulares. Estes penetram na medula renal, com trajeto semelhante ao das alças de Henle e são denominados "vasa reta". Aos capilares seguem-se as veias dos rins com trajeto semelhante ao das artérias, e a reunião final destas veias forma a veia renal, que deixa o rim e termina na veia cava.

RIM

CALICES

PELVE

RENAL

MEDULA

CÓRTEX

URÉTER

VEIA RENAL

ARTERIA RENAL

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Os rins desempenham importantes funções reguladoras e excretoras, tais como a manutenção da pressão osmótica e do volume adequado dos líquidos corporais, o equilíbrio eletrolítico e o equilíbrio ácido-base, bem como a excreção de metabólitos e substâncias tóxicas. Além disso, exerce importante função endócrina, sintetizando renina, eritropoietina, prostaglandinas e calicreína. As funções dos rins são reguladas por hormônios de síntese local, como renina e prostaglandinas e por vários

hormônios extra-renais, como aldosterona, hormônio antidiurético, catecolaminas e paratohormônio. Na formação

da urina podem-se destacar quatro etapas principais que ocorrem por processos de filtração, reabsorção e

secreção, que são realizados pelos néfrons. Em condições fisiológicas, ao final destes 4 processos renais, a partir

de 1.200 mL/min de sangue são formados de 1 a 2 mL/min de urina que drenam para a bexiga através dos ureteres. Em um adulto normal o volume médio diário de urina excretada varia de 1.200 a 1.500 mL, sendo a produção diurna

maior que a noturna. Segundo alguns autores, este volume pode variar de 600 a 2.000 mL /24h. A poliúria é o

volume aumentado de urina (>2500 mL/24h), detectado no diabetes insipidus e no diabetes mellitus. A oligúria é

uma diminuição do volume urinário (<500 mL/24h), como ocorre nos estados de choque e na nefrite aguda. O termo

anúria significa a supressão completa da urina, ainda que no termo mais amplo, corresponda a uma excreção

menor que 100 mL/24h.

O volume urinário excretado pelo organismo depende de vários fatores: ingestão de líquidos, perda de líquidos por

fontes não renais, variações na excreção do hormônio antidiurético e necessidade orgânica de excretar grandes

quantidades de solutos, tais como glicose ou sais, especialmente o sódio.

As alterações do volume urinário podem ser decorrentes de causas transitórias (volume de líquido ingerido, edemas,

diarréia e vômitos, etc); causas permanentes (orgânica, metabólica e hormonal) e de patologias renais e outras

situações.

A urina é uma mistura complexa constituída por, aproximadamente, 96% de água e 4% de substâncias diversas

(compostos inorgânicos e orgânicos) provenientes da alimentação e do metabolismo normal.

A composição da urina varia de acordo com a dieta, o estado nutricional, a atividade física, o metabolismo orgânico,

a função endócrina, o estado geral do organismo e da função renal.

Os principais constituintes da urina são: água, uréia, ácido úrico, creatinina, sódio, potássio, cálcio, magnésio,

fosfatos, sulfatos e amoníaco. Em 24 horas, o organismo excreta cerca de 60 g de material dissolvido, sendo a

metade constituída de uréia, nas seguintes proporções:

Tabela 1. Constituintes orgânicos e inorgânicos da Urina

Constituintes inorgânicos: Constituintes orgânicos:

Cloretos: 9 a 16 g Nitrogênio total: 25 a 35 g Coproporfirinas: 60 a 280 μg

Sódio: 4 g Uréia: 25 a 30 g Corpos cetônicos: 3 a 15 mg

Potássio: 2 g Creatinina: 1,4 g Bases purínicas: 10 mg

Fósforo: 2 a 2,5 g Amônia: 0,7 g Ácido ascórbico: 15 a 50 mg

Enxofre: 0,7 a 3,5 g Ácido úrico: 0,7 g Açúcares : 2 a 3 mg/100 mL de urina

Cálcio: 0,1 a 0,2 g Aminoácidos: 0,5 g

Magnésio: 0,05 a 0,2 g Proteínas : 0,0 a 0,15 g

Creatina: 0,06 a 0,15 g

Ácido hipúrico: 0,1 a 1 g

Ácido oxálico: 15 a 20 mg

1.2. URINÁLISE DE ROTINA

O exame de urina pode ser definido como o exame realizado numa amostra de urina humana para determinar os

caracteres físicos e químicos e para verificar a presença de elementos figurados ou de outra origem.

O exame de urina é conhecido por outras denominações, tais como: urina de rotina, sumário de urina, urina do tipo

1, EAS (Elementos Anormais e Sedimento), EQU (Exame Químico de Urina), ECU (Exame Comum de Urina), urina

parcial e PEAS (Pesquisa dos Elementos Anormais e Sedimento).

Sedimento: Elementos figurados da urina que são concentrados por centrifugação ou detectáveis por

citômetros de fluxo em amostra de urina integral (incluem células epiteliais, leucócitos, hemácias, cilindros,

cristais uratos, fosfato triplo, cistina, microorganismos e outros).

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O termo “rotina” não implica na requisição indiscriminada da urinálise; esta prática deve ser desencorajada. Apesar

da “rotina” não ser definida sempre da mesma maneira em cada laboratório, o termo “Urinálise de Rotina” inclui

alguns ou todos os seguintes:

(1) Avaliação macroscópica (ex. cor, aspecto e limpidez); (2) Medidas físicas (ex.: volume e refratometria); (3) Análise química por tira reagente ou testes em tabletes; (4) Exame microscópico.

A urinálise é indicada para: (1) Auxiliar o diagnóstico de doença, (2) Triagem de uma população quanto a doenças assintomáticas, congênitas, ou hereditárias, (3) Monitorizar a evolução de doença, (4) Monitorizar a efetividade ou as complicações de terapias, (5) Monitoramento à exposição ocupacional; (6) Pesquisa de substâncias ilícitas (ex., doping, uso de drogas de abuso).

1.3. TIPOS DE AMOSTRAS DE URINA

O laboratório clínico pode receber diferentes tipos de amostras de urina dependendo da forma e horário de coleta,

tendo cada tipo de amostra uma aplicação específica nos procedimentos laboratoriais.

Assim, podemos citar: amostra aleatória (rotina e glicosúria), amostra de paciente em jejum e amostra pós prandial

(diabetes mellitus), primeiro jato da primeira urina da manhã (urologia), segundo jato da primeira urina da manhã

(rotina), urina coletada após 4 horas de retenção (rotina), segunda urina da manhã (dismorfismo eritrocitário),

espécime com período determinado (urina de 12 ou 24 h para dosagens urinárias), amostra para cultura

microbiológica (jato médio ou por cateterização), amostra suprapúbica, dentre outras.

Amostra aleatória

A amostra aleatória pode ser coletada a qualquer hora, dependendo da necessidade do exame e de decisão

médica. Também por decisão médica, pode ser solicitada a retenção urinária antes da coleta (ABNT NBR

15628:2005). A utilização da amostra aleatória é inevitável em situação de emergência e urgência, frequentes em

ambiente hospitalar. Entretanto, a utilização da amostra aleatória para realização do exame de urina deve

considerar a elevada possibilidade de resultados falsos negativos assim como resultados falsos positivos dentre os

constituintes avaliados na realização do exame.

Amostra primeira urina da manhã

Amostra coletada pelo paciente após levantar do leito, desde que respeitado um prazo mínimo de retenção urinária

de 2 horas (ABNT NBR 15628:2005). A primeira amostra da manhã é considerada como amostra padrão para a

realização do exame de urina porque ela é mais concentrada que as outras amostras e porque nesta amostra se

verifica maior crescimento das bactérias eventualmente presentes na bexiga, assim o resultado da analise realizada

reflete melhor as condições do paciente.

Amostra segunda urina da manhã

Esta amostra pode ser obtida com mais facilidade no laboratório que a primeira amostra da manhã. Esta amostra

deve ser colhida de duas a quatro horas após a primeira micção do dia. É importante lembrar que sua composição

pode ser influenciada pela ingestão de alimentos e líquidos no desjejum. Com o objetivo de aumentar a

concentração de eventuais bactérias presentes na bexiga pode-se recomendar a restrição de ingestão de líquido

após as 22:0 horas. A segunda amostra da manhã é uma das mais utilizadas pelos laboratórios.

Amostra com hora marcada

Amostra colhida num horário especificado, conforme solicitação médica (ABNT NBR 15628:2005).

Amostra de cateter

Amostra colhida através de sonda vesical (ABNT NBR 15628:2005).

Amostra suprapúbica

Amostra coletada mediante aspiração da bexiga distendida, através da parede abdominal (ABNT NBR 15628:2005).

Procedimentos de assepsia são indispensáveis para a obtenção da amostra deste modo. Para a obtenção da

amostra de urina por punção suprapúbica a bexiga deve estar cheia e a punção ser realizada 1 centímetro acima do

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osso pubiano. Como em condições normais esta amostra é estéril, esta forma de coleta apresenta como grande

vantagem a confiabilidade do resultado que indique a presença infecções do trato urinário ou de outros distúrbios do

trato urinário.

Coleta de amostra de urina em pediatria

Em vista desta dificuldade, geralmente, a coleta de amostra de urina de crianças que ainda não apresentam controle

urinário se dá através da utilização de sacos coletores específicos disponíveis no mercado. Para obtenção da

amostra através de sacos coletores, é necessária a higiene prévia dos órgãos genitais para posterior aplicação do

saco coletor específico. Após aplicar o saco coletor se deve frequentemente, verificar se a criança urinou. Contudo,

apesar de todo cuidado o saco coletor deve ser trocado se após uma hora a criança não urinou. Esta amostra obtida

conforme recomendado, frequentemente, apresenta elevada contaminação com células epiteliais. No caso de o

saco coletor permanecer por mais de uma hora e a amostra for colhida depois deste tempo a possibilidade de

contaminação maior da amostra é elevada, a ponto de comprometer a confiabilidade do resultado do exame de

urina.

2.0 MATERIAIS E EQUIPAMENTOS

2.1 Materiais

2.1.1 Dispositivos de coleta

O recipiente adequado à coleta e transporte de urina deve ter as seguintes características:

(1) Possuir um rótulo no corpo do recipiente (e nunca na tampa) para registrar a identificação do paciente: Nome, registro, procedência, data e hora da coleta. O rótulo deve aderir ao recipiente mesmo em face de refrigeração. (2) Ser livre de interferentes químicos (ex.: detergentes). (3) Ter condições estéreis (caso seja necessário cultura). (4) Conter volume suficiente para análise (aproximadamente 50 mL são preferíveis). (5) Possuir boca ampla (pelo menos 4 cm) para facilitar a coleta e evitar contaminação. (6) Possuir fechamento à prova de vazamento que possa ser facilmente aberto e fechado. (7) Ter base larga para evitar derramamento acidental. Obs.: Tamanhos menores e específicos para amostras pediátricas podem ser necessários. Nota: A reutilização de recipientes de coleta não é recomendada. Atualmente existem sistemas de coleta de urina a vácuo que permitem que a coleta de urina seja realizada de forma

asséptica evitando contaminação da amostra e do profissional.

FRASCO PLÁSTICO PARA COLETA DE URINA DE 24 HORAS*

FRASCO PARA COLETA DE URINA (SISTEMA À VÁCUO)*

DISPOSITIVO DE TRANSFERÊNCIA*

TUBOS PARA URINA*

* Imagens representam dispositivos de coleta de urina à vácuo da Vacuette comercializados pela Greiner Bio-One do Brasil.

Kit para coleta de urina (Desckarplás), estéril, composto por um copo e um tubo cônico de 12 mL, com tampa vermelha. Neste sistema o próprio paciente transfere a urina coletada para o tubo cônico (neste o caso o volume total da urina não é considerado).

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2.1.2 Instruções de coleta

As amostras de urina podem ser coletadas pelo próprio paciente, após receber as instruções. As instruções podem

ser dadas verbalmente e/ou podem constar em uma folha impressa, com ilustrações e informações adicionais, ou

exibida na área de coleta de urina, em linguagem simples, para serem entendidas pelo paciente. O quadro abaixo

ilustra os procedimentos de coleta de urina tipo I (jato médio) para pacientes do sexo feminino e masculino.

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Notas:

Não utilizar anti-séptico em substituição ao sabão.

Usar o sabão habitualmente empregado para o banho.

Exceto os casos de urgência ou a critério médico, a urina deve ser coletada após cinco dias do término do

sangramento menstrual.

2.1.3 Tubos de Centrífuga

Um tubo de centrífuga adequado deve ter as seguintes características:

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(1) Plástico de textura transparente para permitir a avaliação macroscópica da urina e resistente o suficiente para evitar a quebra durante a centrifugação. (2) Graduações de volume para assegurar a padronização do volume da urina. (3) Tampas de plástico para reduzir a ocorrência de aerossóis e respingos. (4) Capacidade para no mínimo 12 mL, com fundo cônico para a concentração do sedimento. (5) Rótulo para assegurar a identificação correta.

2.1.4 Pipetas de transferência

As pipetas descartáveis de transferência são recomendadas para reduzir o risco biológico associado à coleta do

sedimento (sua reutilização não é recomendada). Micropipetas podem ser utilizadas sem a perda da eficácia.

2.1.5 Lâminas microscópicas

O uso de lâminas de vidro com lamínulas é permitido, porém a preferência deve ser para lâminas plásticas

descartáveis. As lamínulas devem possuir o diâmetro de 22 x 22 mm. A norma ABNT NBR 15268:2005 recomenda

a utilização de lamínula padrão (22x22 mm).

Alternativamente alguns laboratórios utilizam uma lâmina conhecida como “KCELL”, que possui 10 retículos separados, que permitem a contagem de 10 diferentes pacientes ao mesmo tempo. A Norma ABNT NBR 15268:2005, não menciona este tipo de lâmina para contagem do sedimento.

2.1.6 Tiras reagentes

As tiras reagentes consistem em um suporte plástico que tem um ou mais sítios de teste químico disponíveis em

várias configurações. A despeito da ausência de deterioração evidente do reagente ou da tira, os reagentes não

devem ser usados além da sua validade. Certas precauções de armazenamento são necessárias para manter a

reatividade dos agentes.

Para obter bons resultados de teste, é necessário o seguinte:

(1) Armazenar as tiras reagentes no recipiente original de acordo com as recomendações do fabricante. Exposição, mesmo curta, à luz direta e à umidade ambiente pode afetar as tiras e produzir resultados errôneos. (2) Manter os recipientes bem fechados e armazenados de acordo com as temperaturas recomendadas pelo fabricante. (3) Remover apenas umas poucas tiras de cada vez, e imediatamente fechar o recipiente de forma hermética; tiras não usadas não devem retornar ao recipiente. (4) Evitar misturar tiras provenientes de recipientes distintos. (5) Evitar tocar as almofadas (sítios de reação) das tiras reagentes. Nota: Tabletes reagentes estão disponíveis para a pesquisa de substâncias redutoras, bilirrubina e corpos cetônicos (acetona e ácido acetoacético).

2.1.7 Conservantes e Armazenamento da amostra

O uso de conservantes químicos não é recomendado para a urinálise de rotina. Recomenda-se que o exame seja

realizado em no máximo quatro horas após a coleta. Caso não seja possível realizar o teste dentro deste prazo, a

refrigeração de 2ºC a 8ºC é adequada para alguns componentes químicos (exceções: urobilinogênio e bilirrubina),

mas pode precipitar uratos e fosfatos amorfos, que obscurecem o campo microscópico. Caso a urina também deva

ser cultivada, ela deve ser refrigerada durante o transporte e deve permanecer refrigerada até a semeadura. Para

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múltiplas análises, as alíquotas de urina bem homogeneizadas devem ser tratadas distintamente, dependendo do

uso.

2.2 Equipamentos

2.2.1 Microscópios

Um microscópio moderno, de alta qualidade e com as seguintes características deve ser utilizado no laboratório de

urinálise:

(1) Cabeça binocular para permitir o uso de ambos os olhos para a análise da lâmina. (2) Fonte de luz embutida. (3) Plataforma mecânica que permita fácil e suave posicionamento da lâmina. (4) Conjunto básico de objetivas (ex.: 10x, 40x e 100x) e uma ocular de 10x.

2.2.2 Leitores de tiras reagentes

Os resultados das tiras reagentes podem ser determinados visualmente pela comparação das reações obtidas a um

gabarito presente na embalagem das tiras, através de um esquema de intensidades das cores. Contudo, há

equipamentos desenvolvidos para medir a intensidade das reações e eliminar as variações dos tempos de reação e

das interpretações de cores. Estes equipamentos são fotômetros de reflectância e medem a luz refletida a partir da

superfície de reação.

Ao se utilizar estes equipamentos é importante fazer o seguinte:

(1) Ler e seguir as instruções do manual de operações; (2) Estabelecer e seguir o programa de manutenção; (3) Manter o equipamento limpo e assegurar a limpeza imediata de todos os respingos e derramamentos, seguindo as precauções universais; IMPORTANTE: Ao se utilizar os leitores automáticos de urina não se deve cortar as tiras reativas ao meio.

2.2.2.1 Calibração dos leitores

Os protocolos recomendados pelo manual do fabricante do equipamento devem ser seguidos.

2.2.2.2. Manutenção dos leitores

A limpeza de rotina das partes ópticas e mecânicas assegura o ótimo desempenho. O manual de instruções do

fabricante e os procedimentos de manutenção recomendados devem ser seguidos.

Urisys 1100 Roche ® aparelho portátil utilizado para leitura individual das tiras de urina

UriQuest 500 analisador semi-automático utilizado para medir fotometricamente a tira de urina

2.2.3 Refratômetros

Os refratômetros avaliam a gravidade específica (densidade) de uma solução pela medida dos sólidos totais dissolvidos em um líquido, como indicada pelo índice refrativo da solução.

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2.2.4 Centrífugas

2.2.4.1 Características

Uma centrífuga para a sedimentação da urina deve possuir as seguintes características: (1) Tampa com travamento automático quando o rotor está girando; (2) Temperatura ambiente (15 a 25 C). 2.2.4.2 Calibração e Manutenção A centrífuga deve ser calibrada para fornecer uma Força Centrífuga Relativa de 400 g (RFC) ou 1500 a 2000 RPM.

As instruções do manual do equipamento devem ser consultadas quanto ao protocolo recomendado. A calibração

deve ser realizada em intervalos periódicos determinados pelo laboratório, dependendo da sua utilização.

A centrífuga deve ser limpa com álcool a 70ºGL ao final da rotina ou sempre que houver derramamento de líquido.

2.3. Controle da Qualidade

2.3.1 Urinálise química

Controles multiconstituintes para validar o desempenho de cada teste químico em dois níveis distintos são

recomendados. Os controles devem ser testados pelo menos a cada dia em que se realiza um teste e à abertura de

cada novo recipiente de tiras. O exame em paralelo de lotes novos e antigos utilizando controles e pacientes é

recomendado. Controles comerciais são habitualmente empregados para esta aplicação. Urina obtida da batelada

do dia pode ser dividida em duas alíquotas e analisada em cada turno de trabalho como verificação de precisão.

Quando aplicável, o desempenho aceitável para controles positivos seria de um bloco de cor do alvo definido

(obviamente, um resultado negativo não é aceitável como controle positivo). Uma reação negativa é o único

resultado aceitável para um controle negativo. A participação em um Programa de Proficiência (Programa de

Controle Externo da Qualidade) é recomendada para avaliar o desempenho da urinálise química. No Brasil os dois

principais programas que avaliam a qualidade dos laboratórios são o PELM da Sociedade Brasileira de Patologia

Clínica/ML e o PNCQ da Sociedade Brasileira de Análises Clínicas.

2.3.2 Urinálise microscópica

Produtos de controle comerciais não estão disponíveis para todos os elementos do sedimento. Testes em replicata

de amostras frescas devem ser utilizados para que se possa estabelecer a reprodutibilidade da análise

microscópica, tanto dentro do laboratório como entre vários laboratórios. Para qualquer elemento detectado, o

resultado deve concordar em uma gradação de resultado (da forma relatável). Caso haja uma discordância a cerca

da presença ou quantidade de um elemento microscópico, a análise deve ser repetida. Se necessário, um

supervisor ou diretor do laboratório deve resolver a discrepância. Cada laboratório deve estabelecer critérios para a

revisão de resultados anormais de sedimentoscopia. É também recomendada a disponibilidade de textos de

referência, atlas e posters.

3.0 URINÁLISE FÍSICA/MACROSCÓPICA

3.1. Identificação das amostras

A informação a ser fornecida para a urinálise nas requisições/mapas de trabalho inclui os seguintes dados:

Nome do paciente, idade ou data de nascimento, sexo, origem (ambulatorial ou hospitalar); número de identificação;

tipo de amostra (ex.: cateterismo, jato médio ou outra); médico solicitante; identificação do cadastrador (ou de quem

preencheu a requisição); diagnóstico ou sintomas principais; medicações relevantes (ex.: Vitamina C); data e horário

da coleta; horário de recebimento no laboratório.

3.2. Aceitabilidade das amostras

A exatidão da urinálise depende da qualidade da amostra recebida, deve haver grandes cuidados quanto à sua

coleta e transporte. Em geral, a amostra de urina deve chegar prontamente ao laboratório e deve ser analisada o

mais rápido possível. É geralmente aceito que após até duas horas à temperatura ambiente, a composição química

se altera e os elementos formados começam a se deteriorar. Caso seja inevitável um atraso de mais de duas horas

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(2 h após a coleta) a amostra deve ser refrigerada. O espécime deve ser equilibrado para a temperatura ambiente

antes de ser analisado.

Amostras não identificadas ou mal identificadas não são aceitáveis e devem ser desprezadas (após a notificação ao

médico). A quantidade mínima de urina que permite tanto a análise macroscópica quanto a microscópica é de 12 mL

(50 mL é o volume ideal). Amostras provenientes de bebês podem necessitar a aceitação de volumes menores. A

amostra de urina deve ser coletada em um recipiente descartável, limpo e à prova de vazamentos. A amostra deve

estar livre de contaminação fecal ou de outro tipo (papel higiênico, por exemplo). Caso estes critérios não sejam

cumpridos, o médico solicitante deve ser notificado da recusa da amostra e deve ser solicitada nova amostra.

3.3. Cor

A amostra deve ser analisada sob uma boa iluminação através do recipiente e contra um fundo branco. A cor da

urina normal varia desde amarelo pálido até âmbar escuro; a variação de cor depende da dieta e concentração da

amostra. O laboratório deve padronizar a terminologia para reduzir a ambiguidade e a subjetividade do relato.

Exemplos de terminologia descritiva pertinente à cor incluem vermelho, amarelo, verde e marrom. Variações da

coloração usual podem se dever a distúrbios metabólicos, atividade física excessiva, substâncias ingeridas

(vitaminas do complexo B), ou condições patológicas. A coloração anormal ou muito escura pode interferir com ou

obscurecer os resultados das tiras reagentes. Caso seja recebida uma amostra nestas condições, seus resultados

não devem ser relatados e uma justificativa deve ser incluída no laudo.

Tabela 1. Correlação Laboratorial da Coloração da Urina

Cor Causa Correlação Laboratorial

Incolor Comumente observada em

amostras ao acaso

Recente ingestão de líquido

Amarelo pálido Poliúria

Diabetes melito

Grande volume de urina de 24 horas e

densidade elevada.

Amarelo Escuro Amostra concentrada Pode ser normal depois de exercício

vigoroso ou na primeira micção do dia;

Desidratação por febre ou

queimaduras.

Âmbar (marrom) Bilirrubina

Espuma amarela quando agitada e

teste positivo nas análises de detecção

de bilirrubina.

Laranja Derivados da piridina (Pyridium)

Nitrofurantoína

Outras (Cenoura ou vitamina A)

Droga comumente administrada nas

infecções do trato urinário.

Antibiótico administrado para as ITUs.

Verde Infecção por Pseudomonas Cultura de urina positiva

Vermelha Presença de hemácias Teste de sangue positivo na tira

reagente

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3.4. Aspecto

A amostra deve ser homogeneizada e examinada em um recipiente transparente contra uma fonte de luz. A urina

recém-emitida é geralmente límpida. Os laboratórios devem padronizar a sua terminologia para reduzir a

ambigüidade e a subjetividade do relato. A terminologia descritiva inclui límpida, ligeiramente turva, moderadamente

turva e acentuadamente turva, por exemplo.

ASPECTO CARACTERÍSTICAS DA AMOSTRA DE URINA

Límpido Macroscopicamente a amostra de urina não apresenta ou apresenta raras estruturas em suspensão após homogeneização. No exame microscópico do sedimento urinário não se verificam alterações quantitativas nos elementos normais e geralmente não se observam estruturas anormais

Ligeiramente turvo Macroscopicamente a amostra apresenta pequena quantidade de estruturas em suspensão após homogeneização. No exame microscópico do sedimento urinário se verificam pequenas alterações quantitativas nas estruturas normais, podendo ser observados estruturas anormais.

Turvo Macroscopicamente a amostra apresenta moderada quantidade de elementos em suspensão após homogeneização. Microscopicamente se verificam grandes alterações quantitativas nas estruturas normais e, geralmente, se observam estruturas anormais de valor diagnóstico.

3.5. Odor

Há muito poucas ocasiões em que o odor da urina tem significado clínico. Qualquer odor pouco usual deve ser

assinalado no laudo. Odores amoniacais são mais comumente devidos a degradação bacteriana da uréia e podem

indicar uma amostra envelhecida ou uma infecção do trato urinário.

3.6. Gravidade Específica (Densidade)

A Gravidade Específica (“Densidade”) da urina é definida como o seu peso quando comparado ao peso de um

volume igual de água destilada à mesma temperatura. Refratômetros são frequentemente os instrumentos de

escolha para a determinação da Gravidade Específica porque podem ser corrigidos quanto à temperatura,

necessitam de apenas um pequeno volume de urina e são de fácil operação. Refratômetros medem os sólidos totais

em um líquido pela determinação do Índice de Refração da solução. Há dois tipos básicos de refratômetros

disponíveis comercialmente: o modelo portátil, que usa uma gota de urina, e o modelo tipo “pour-through”. A

Gravidade Específica pode ser determinada pelas tiras reagentes com base na força iônica da urina. Urinômetros

(Hidrômetros ou “Densímetros”) não são considerados um método exato para a determinação da Gravidade

Específica e não devem ser utilizados. A densidade ajuda a avaliar a função de filtração e concentração renais, bem

como o estado de hidratação do corpo. Depende diretamente da proporção de solutos urinários presentes (cloreto,

creatinina, glicose, fosfatos, proteínas, sódio, sulfatos, uréia, ácido úrico) e o volume de água. Normalmente varia

entre 1.015 a 1.030. Densidades diminuídas podem ser encontradas na administração excessiva de líquidos por via

intravenosa, reabsorção de edemas e transudatos, insuficiência renal crônica, uso de drogas, quadros de

hipotermia, aumento da pressão intracraniana, diabetes insipidus e hipertensão maligna. Densidades elevadas

podem ser encontradas na desidratação, diarréia, vômitos, febre, diabetes mellitus, glomerulonefrite, insuficiência

cardíaca congestiva, insuficiência supra-renal, proteinúria, síndrome de secreção inapropriada de hormônio

antidiurético (SIHAD), toxemia gravídica, uropatias obstrutivas e no uso de algumas substâncias, como contrastes

radiológicos e sacarose.

Amostras que apresentam densidade menor que 1.010 indicam relativa hidratação enquanto valores de densidade

maiores que 1.020 indicam relativa desidratação.

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4.0. URINÁLISE QUÍMICA

A análise química da urina é realizada com o emprego de tiras reagentes de vários tipos, disponíveis de uma

variedade de fabricantes. Estas tiras reagentes ou “dipsticks” consistem de uma tira plástica que contém uma ou

mais almofadas de reação quimicamente impregnadas. Uma reação de cor se desenvolve após o contato da urina

com as almofadas reagentes. Testes com reagentes secos são uma forma simples e rápida de testar a urina. Os

seguintes tipos de testes com reagentes secos são disponíveis:

Proteínas

Em indivíduos normais, uma pequena quantidade de proteína é filtrada pelo glomérulo (albumina, alfa-1 e alfa-2-

globulinas), sendo sua maior parte reabsorvida por via tubular e eliminada em pequenas quantidades pela urina.

São considerados normais valores de até 150 mg/ 24 h. O aumento da quantidade de proteínas na urina é indicador

inicial de patologia renal. Entretanto, não são todas as patologias renais que causam proteinúria, a qual não é uma

condição exclusiva de doença renal, podendo aparecer em patologias não-renais e em algumas condições

fisiológicas. As proteínas são excretadas em velocidades diferentes e em momentos variáveis durante o período de

24 horas, sendo maior durante o dia e menores durante a noite. As proteinúrias podem ser classificadas, quanto à

sua origem, como pré-renal, renal e pós- renal.

Pré-renal

Algumas patologias não-renais, como hemorragia, estados febris, algumas endocrinopatias, distúrbios convulsivos,

neoplasias, queimaduras extensas, mioglobinúria, hemoglobinúria, mielomas, superexposição a certas substâncias

(ácido sulfossalicílico, arsênico, chumbo, éter, fenol, mercúrio, opiáceos), lesão do sistema nervoso central,

leucemia (mielocítica crônica), obstrução intestinal, reação de hipersensibilidade, toxemia, toxinas bacterianas

(difteria, escarlatina, estreptocócica aguda, febre tifóide e pneumonia) podem levar a proteinúrias ditas pré-renais. A

proteinúria transitória pode surgir em conseqüência de estados não-patológicos, como estresse físico (exercícios

intensos) ou emocional, desidratação, dieta (proteínas em excesso), exposição ao frio e posição do corpo

(proteinúria ortostática).

Renal

Pode ocorrer em decorrência de comprometimento glomerular, tubular ou intersticial, glomerulonefrites, síndrome

nefrótica, nefropatia diabética, hipertensão (maligna, renovascular), amiloidose, doença policística, lúpus

eritematoso sistêmico, nefropatia membranosa, pielonefrite (crônica), tumores, malformações congênitas, trombose

da veia renal, acidose tubular renal, necrose tubular aguda, intoxicação por metais pesados e algumas drogas.

Pós-renal

Contaminação por material de área genital (uretral e genital), infecções do trato urinário superior e inferior (uretrites

e cistites) e prostatites.

Glicose

A glicose presente na urina reflete os níveis séricos da glicose associados à capacidade de filtração glomerular e de

reabsorção tubular. Normalmente, a glicosúria (glicose na urina) só se manifesta quando os níveis séricos se

encontram acima de 160/180 mg/dL. A glicosúria pode ser causada tanto pelo diabetes mellitus como por outras

patologias, como doenças renais que afetem a reabsorção tubular e nos quadros de hiperglicemia de outras origens

que não a diabética.

Corpos cetônicos

Os corpos cetônicos são formados por três produtos intermediários do metabolismo dos ácidos graxos (acetona,

acetoacetato e beta-hidroxibutirato). A acetona que passa para a corrente sanguínea é quase totalmente

metabolizada no fígado. Quando é formada em velocidade maior do que o normal, é excretada na urina. O jejum ou

a dieta podem determinar o aparecimento de acetona na urina. O uso de algumas drogas pode levar a falso-

negativos, entre elas o captopril, a levodopa e o paraldeído.

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Bilirrubina

As bilirrubinas estão aumentadas nas situações em que ocorre o aumento da bilirrubina sérica conjugada e sua

conseqüente presença na urina. Portanto, valores elevados podem ser encontrados em doenças hepáticas e

biliares, lesões parenquimatosas, obstruções intra- e extra- hepáticas, neoplasias hepáticas ou do trato biliar. Ao

contrário, estará sempre ausente nas ictéricias por hemólise. Alguns casos de doença biliar obstrutiva crônica

podem cursar com níveis alterados de bilirrubina sérica e ausência de bilirrubina na urina. Falso-negativos podem

ser induzidos pelo uso de ácido ascórbico e exposição da urina à luz intensa por longo tempo.

Leucócitos

Os leucócitos podem estar presentes em pequena quantidade na urina normal (5 a 10 por campo). Normalmente

neutrófilos. Quantidades aumentadas indicam a presença de lesões inflamatórias, infecciosas ou traumáticas em

qualquer nível do trato urinário. Deve-se sempre excluir contaminação por via genital. As tiras reativas de urina

geralmente detectam a presença de esterase leucocitária, classe de enzimas presentes nos leucócitos,

principalmente nos granulócitos.

Existem duas formas de expressar o resultado para leucócitos segundo a Norma ABNT NBR 15268:2005:

a) Resultado por campo microscópico: observar no mínimo 10 campos, calcular a média e expressar o

número de elementos por campo.

b) Resultado por mililitro (mL): observar no mínimo 10 campos, calcular a média e multiplicar o resultado por

5040.

pH

Avalia a capacidade de manutenção renal da concentração de íons hidrogênio no plasma e líquidos extracelulares.

Participando do equilíbrio ácidobase, os rins, quando em funcionamento normal, excretam o excesso de íons

hidrogênio na urina. Portanto, o pH da urina reflete o pH plasmático e é um indicador da função tubular renal.

Normalmente varia entre 5,0 a 7,0. Valores elevados podem ser encontrados na alcalose respiratória, em dietas

com grande ingestão de vegetais e frutas cítricas, uso prolongado de sonda nasogátrica, na presença de cálculos

renais, infecção das vias urinárias, especialmente por microrganismos que utilizam uréia (Proteus e Pseudomonas

sp.), síndrome de Cushing, hiperaldosteronismo, hipocalemia, insuficiência renal, síndrome de Fanconi e

superdosagem de álcalis. As drogas também podem alterar o pH urinário, como os diuréticos e a terapia alcalina

(bicarbonatos). Valores diminuídos podem ser encontrados em acidose metabólica e respiratória, perda de potássio,

dieta rica em proteínas, infecção das vias urinárias por Escherichia coli, diarréias severas, diminuição de cloro,

fenilcetonúria e tuberculose renal. O uso de anestésicos e de ácido ascórbico, assim como de outras drogas, pode

diminuir o pH urinário.

Sangue oculto/hemoglobina

A presença de hemoglobina na urina pode ser proveniente de diferentes estados de hemólise intravascular, em que

uma quantidade excessiva de hemoglobina satura a capacidade de ligação com a haptoglobina. Nessas condições,

fica livre no plasma, sendo filtrada pelo glomérulo e em parte reabsorvida pelo sistema tubular. O restante é

excretado na urina. A outra causa é a presença de hemácias liberadas no trato urinário por pequenos traumas,

exercícios extenuantes ou patologias das vias urinárias, em que as hemácias são lisadas, liberando hemoglobina. A

verdadeira hemoglobinúria é rara, sendo mais freqüente a segunda situação, em que a hemoglobinúria é

acompanhada pela presença de hematúria.

Urobilinogênio

O urobilinogênio é um produto de redução formado pela ação de bactérias sobre a bilirrubina conjugada no trato

gastrintestinal. A maior parte do urobilinogênio é excretada nas fezes. Pequena parte é reabsorvida através da via

êntero-hepática e reexcretrada na bile e na urina. Os níveis urinários de urobilinogênio geralmente são maiores do

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início ao meio da tarde, mantendo-se em níveis inferiores a 1 mg/dL. O aumento do urobilinogênio na urina indica a

presença de processos hemolíticos, disfunção hepática ou porfirinúria.

Nitrito

A prova positiva para nitrito é um método rápido para detectar a presença de infecção do trato urinário. Algumas

bactérias têm a capacidade de reduzir o nitrato presente na urina a nitrito. Resumo do significado clínico da

presença de nitrito na urina:

1. Cistite 2. Pielonefrite 3. Avaliação da terapia com antibióticos 4. Monitoração de pacientes com alto risco de infecção do trato urinário 5. Seleção de amostras para cultura de urina.

4.1 Amostras recomendadas

Apesar de amostras aleatórias poderem ser usadas para a análise química usando tiras reagentes, a amostra

preferida é a primeira da manhã (concentrada 8 h), bem homogeneizada, não centrifugada, à temperatura ambiente,

testada até duas horas após a coleta. Constituintes da urina como a bilirrubina e o urobilinogênio são instáveis. As

bactérias podem destruir a glicose e alterações de pH ocorrem com a demora da análise.

4.3 Uso das tiras reagentes

(1) O pessoal deve ser treinado quanto ao uso de cada tira em particular. (2) As instruções de uso do fabricante devem ser analisadas. Os procedimentos variam entre diferentes produtos. Devem ser procuradas alterações nas instruções a cada novo lote. (3) O tempo necessário para o desenvolvimento da cor na almofada varia para cada teste. As instruções quanto aos intervalos de leitura devem ser seguidas de acordo com o fabricante. Para as leituras visuais pode ser necessário um multitimer. Os leitores automáticos são ajustados para realizarem as leituras de acordo com as instruções do fabricante. (4) É importante conhecer a sensibilidade e a especificidade de cada teste na tira reagente usada. A informação consta das instruções de uso. (5) A leitura visual da tira reagente está sujeita a variações devidas a diferenças pessoais de interpretação de cores. A tira reagente deve ser lida próxima ao gabarito sob iluminação adequada ( tipo “luz do dia”). (6) Substâncias podem estar presentes na urina que podem interferir com a reação química e causar a produção de resultados falso-positivos ou falso negativos. As instruções de uso do fabricante devem ser consultadas quanto a estas interferências e outras limitações. (7) Caso o teste da urina difira dos valores esperados, uma investigação do problema é recomendável (de acordo com as instruções do fabricante ou o manual de procedimentos do laboratório).

5.0. EXAME MICROSCÓPICO DA URINA

5.1 Amostras recomendadas

O tipo e a qualidade da amostra de urina afeta enormemente o resultado do exame microscópico. A amostra de

escolha é a primeira da manhã. Esta é a urina mais concentrada, maximizando a recuperação de elementos do

sedimento. É extremamente importante que as informações relativas ao tipo de amostra, horário da coleta e os

resultados do exame físico-químico acompanhem uma requisição de microscopia de urina. Urinas mantidas não-

refrigeradas por mais de 2 horas não são aceitáveis para exame microscópico. Cilindros, leucócitos e hemácias são

especialmente suscetíveis a lise em urina de baixa gravidade específica (< 1,010) e em urinas alcalinas (pH > 7,0).

5.2 Tipos de exame microscópico

A maior parte dos exames de sedimento urinário é feita com o uso de montagens a fresco e em microscopia de

campo claro. A coloração pode ser extremamente útil para a identificação de células e cilindros. Colorações

supravitais comuns e apropriadas para a montagem a fresco são a de Sternheimer Malbin (cristal violeta e safranina

O) e Azul de toluidina a 0,5% (coloração de núcleo). O uso de microscopia de contraste de fase melhora a

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identificação dos elementos do sedimento. Para sedimentos anormais, a microscopia polarizada é altamente

recomendada para a identificação de lipídios e cristais.

5.3. Exame microscópico

A consistência em todos os aspectos do exame microscópico é essencial para a produção de resultados

significativos. Um manual de procedimentos adequadamente escrito e atualizado ajuda a garantir que todo o

pessoal execute o exame microscópico da mesma maneira. Cada pessoa deve avaliar o sedimento da mesma

maneira, pesquisando quanto à presença das mesmas entidades e usando os mesmos critérios de identificação.

Fatores específicos que devem ser padronizados e os valores associados estão listados abaixo:

5.3.1 Volume de urina examinado

Doze militros de urina é o volume mínimo recomendado para o exame. Se um volume inferior a 12 mL for submetido

e processado, um fator correspondente deve ser aplicado às contagens numéricas do sedimento (ex.: para 6 mL,

multiplicar por 2).

5.3.2 Tempo de centrifugação

Para assegurar uma sedimentação equivalente de todas as amostras, o tempo recomendado de centrifugação é de

5 min.

5.3.3 Velocidade de centrifugação

A Força Centrífuga Relativa recomendada é de 400g (1.500 rpm). Para calcular a FCR a partir das rotações por

minuto (RPM) para uma centrífuga específica, use a seguinte fórmula:

FCR = 1,118 x 10 –5 x r x N2 Onde: FCR = Força Centrífuga Relativa r = raio em cm ( ao fundo do tubo) N = rotações por minuto

5.3.4 Fator de concentração do sedimento

Segundo a norma ABNT nBR 15268:2005, o volume do sedimento urinário, resultante da centrifugação de 10 mL de

urina, deve ser de 0,20 mL.

5.3.5 Volume de sedimento examinado

Para efeito de padronização nacional, a norma citada acima indica a utilização de um volume do sedimento

concentrado e ressuspendido de 0,020mL (20 μL) para o exame microscópico.

5.3.6 Lâminas e lamínulas

Caso se utilize lâminas e lamínulas, os seguintes procedimentos são recomendados para o exame e para o cálculo

do sedimento:

(1) Medir o volume de urina homogeneizada a ser centrifugado; (2) Padronizar a centrifugação (tempo e velocidade); (3) Medir o volume de sedimento deixado no tubo; (4) Medir o volume de sedimento posto na lâmina; (5) Padronizar a lamínula (22x22 mm); (6) Registrar o poder de maior aumento do microscópio; (7) Registrar o diâmetro do campo de maior aumento; (8) Calcular e relatar os elementos/mL de urina.

Exemplo: - Diâmetro do campo de maior aumento = 0,35 mm

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- Área do campo de maior aumento = 0,096 mm2

- Área sob a lamínula padrão = 484 mm2

- 484/0,096 = 5041,66 campos de maior aumento sob a lamínula (fator de multiplicação).

NOTA: Para efeito prático, deve ser considerado o valor do arredondamento para a dezena mais próxima, ou

seja, 5040.

5.3.7 Formato do laudo

Cada pessoa de um determinado laboratório que realiza o exame microscópico deve usar a mesma terminologia,

formato de laudo e valores de referência. Decisões a cerca de quais elementos formados devem ser relatados e

quantificados devem ser tomadas por cada laboratório com base na população de pacientes e na capacitação do

pessoal que executa o exame.

5.4. Identificação dos elementos do sedimento

Uma revisão das informações disponíveis incluindo os resultados físicoquímicos é essencial antes do relato do

exame microscópico. Os dados contidos nestes relatos deve consubstanciar os resultados microscópicos e vice-

versa. Quaisquer discrepâncias devem ser resolvidas antes do envio do laudo ao médico.

5.4.1 Elementos identificáveis

As células epiteliais e cilindros devem ter o tipo identificado (observados com aumento de 100x) e os resultados

devem ser expressos conforme a seguir:

Raras: até 3 por campo

Algumas: de 4 a 10 por campo

Numerosas – Acima de 10 por campo.

Células Epiteliais Transicionais Células Tubulares Renais Células Epitélio Vaginal

Cristais

São um achado frequente na análise do sedimento urinário normal, raramente com significado clínico e com ligação

direta com a dieta. Alguns cristais representam um sinal de distúrbios físico-químicos na urina ou têm significado

clínico específico, como os de cistina, leucina, tirosina e fosfato amoníaco magnesiano. Podem também ser

observados cristais de origem medicamentosa e de componentes de contrastes urológicos. A cistina está ligada ao

defeito metabólico cistinúria, além de responder por cerca de 1% dos cálculos urinários. Como a tirosina e a leucina

são resultado de catabolismo protéico, seu aparecimento na urina sob a forma de cristais pode indicar necrose ou

degeneração tecidual importante. Os cristais de fosfato amoníaco magnesiano estão relacionados a infecções por

bactérias produtoras de urease. Apesar de não existir uma relação direta entre a presença de cristais e o

desenvolvimento de cálculos, alguns autores apontam a existência de diferenças morfológicas entre os cristais dos

pacientes que desenvolvem calculose com uma apresentação de formas maiores, agregadas e bizarras.

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Ácido úrico Ácido úrico Ácido úrico

Urato amorfo (corado) Urato amorfo (urina não - corada) Oxalato de cálcio

Oxalato de cálcio Fosfato triplo (seta azul) e Fosfato amorfo (seta vermelha)

Cistina

Colesterol Ampicilina Sulfadiazina

Cilindros

São elementos exclusivamente renais compostos por proteínas e moldados principalmente na luz dos túbulos

contornados distais e túbulos coletores. Indivíduos normais, principalmente após exercícios extenuantes, febre e uso

de diuréticos, podem apresentar pequena quantidade de cilindros, geralmente hialinos. Sua formação é influenciada

pelos elementos presentes no filtrado e pelo tempo de permanência dentro do túbulo. Nas doenças renais, se

apresentam em grandes quantidades e em diferentes formas, de acordo com o local da sua formação. Os mais

comuns são os cilindros hialinos. São compostos principalmente pelas proteínas de Tamm-Horsfall, considerados

normais em pequenas quantidades (0 a 2) e em maior quantidade em situações como febre, desidratação, estresse

e exercício físico intenso. Os cilíndros podem estar presentes em diferentes patologias como os hemáticos (doença

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renal intrínseca), leucocitários (pielonefrites), de células epiteliais (lesões túbulos renais), granulosos (doença renal

glomerular ou tubular e algumas situações fisiológicas) e céreos (insuficiência renal, rejeição a transplantes e

doenças renais agudas e estase do fluxo urinário).

Cilindro hialino (não corado) Cilindro hialino (corado) Cilindro hemático

Cilindro Leucocitário Cilindros granulosos

REFERÊNCIAS

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8. NCCLS GP16-A – Urinalysis and collection, transportations, and preservation of urine specimens, vol. 15, Nº15 December, 1995.

9. NCCLS GP16-A2 – Urinalysis and collection, transportations, and preservation of urine specimens, vol. 21, Nº19 November, 2001.

10.ABNT NBR 15268:2005 – Laboratório Clínico – Requisitos e recomendações para o exame de urina.

11.Bottini, P.V. & Garlipp, C.R. Urinálise: comparação entre microscopia óptica e citometria de fluxo. J Brás Patol Med Lab. V.42, n3, p.157-162, junho 2006.

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