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1 Governo do Distrito Federal Secretaria de Estado de Educação do Distrito Federal Diretoria Regional de Ensino de Ceilândia Centro de Ensino Fundamental 17 Professor: Raul Pietricovsky Cardoso Disciplina:Sociologia Aluno: _______________________________ Nº ________ Data: __/__/____ Observação: Essa é a apostila do 1˚ para a disciplina de Sociologia. Aqui vocês encontrarão todos os temas debatidos em sala de aula. Caso apareçam dúvidas, procure o professor! Durante a semana na escola, ou pela internet: Blog: www.cef17sociais.wordpress.com Facebook: www.facebook.com/raulzitico Twitter: www.twitter.com/raulcardoso E-mail: [email protected] Apostila de Sociologia – 1º Ano 1° Bimestre Qual é a diferença entre mito e ciência? No esforço de cumprir a sua missão e encontrar uma ordem no caos do mundo, mitos e teorias científicas operam segundo o mesmo princípio. Trata-se sempre de explicar o mundo visível por forças invisíveis, de articular o que se observa com o que se imagina. Pode considerar-se o relâmpago como a cólera de Zeus ou como um fenômeno electrostático. Pode ver-se numa doença o efeito da má sorte ou duma infecção microbiana. Mas, de qualquer modo, explicar o fenômeno é sempre considerá-lo o efeito visível duma causa escondida, ligada ao conjunto de forças invisíveis que se julga regerem o mundo. Um conceito básico da sociologia: cultura O ser humano, para se manter vivo, independente de seu contexto cultural, precisa satisfazer uma série de determinadas funções vitais. Estas funções são comuns a todos os indivíduos da sociedade, pois fazem parte de uma necessidade biológica do organismo, mas a maneira de satisfazê-las varia de uma cultura para outra. Não precisamos pensar para realizá-las, elas se sobrepõem à nossa vontade. Estas funções vitais são chamadas de instinto. Os animais são formadas apenas por traços instintivos. Independente do local onde eles forem criados, eles agirão do mesmo jeito. Não importa se um cachorro for criado entre gatos, ele continuará a agir como um cachorro. Instinto Cultura - Nascemos aptos a realizar esta característica, por vezes é uma necessidade biológica. - Aprendemos com as Instituições Sociais. - Seres Humanos e animais possuem. - Apenas os seres humanos possuem. - É igual em todas as sociedades. - Varia conforme a sociedade. - O indivíduo não tem como escolher ou optar. - O indivíduo tem escolha, cabe exceção. - É igual em qualquer período histórico. - Varia conforme o tempo histórico. No entanto, os comportamentos humanos não são biologicamente determinados. A sua herança genética nada tem a ver com suas ações e pensamentos, pois todos os seus atos dependem inteiramente de um processo de aprendizado. O ser humano, e consequentemente a forma

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Governo do Distrito Federal Secretaria de Estado de Educação do Distrito

Federal Diretoria Regional de Ensino de Ceilândia

Centro de Ensino Fundamental 17 ! !

Professor: Raul Pietricovsky Cardoso Disciplina:Sociologia Aluno: _______________________________ Nº ________ Data: __/__/____

Observação:

Essa é a apostila do 1˚ para a disciplina de Sociologia. Aqui vocês encontrarão

todos os temas debatidos em sala de aula. Caso apareçam dúvidas, procure o

professor! Durante a semana na escola, ou pela internet:

Blog: www.cef17sociais.wordpress.com

Facebook: www.facebook.com/raulzitico

Twitter: www.twitter.com/raulcardoso

E-mail: [email protected]

Apostila de Sociologia – 1º Ano 1° Bimestre Qual é a diferença entre mito e ciência?

No esforço de cumprir a sua missão e encontrar uma ordem no caos do mundo, mitos e teorias científicas operam segundo o mesmo princípio. Trata-se sempre de explicar o mundo visível por forças invisíveis, de articular o que se observa com o que se imagina. Pode considerar-se o relâmpago como a cólera de Zeus ou como um fenômeno electrostático. Pode ver-se numa doença o

efeito da má sorte ou duma infecção microbiana. Mas, de qualquer modo, explicar o fenômeno é sempre considerá-lo o efeito visível duma causa escondida, ligada ao conjunto de forças invisíveis que se julga regerem o mundo. Um conceito básico da sociologia: cultura O ser humano, para se manter vivo, independente de seu contexto cultural, precisa satisfazer uma série de determinadas funções vitais. Estas funções são comuns a todos os indivíduos da sociedade, pois fazem parte de uma necessidade biológica do organismo, mas a maneira de satisfazê-las varia de uma cultura para outra. Não precisamos pensar para realizá-las, elas se sobrepõem à nossa vontade. Estas funções vitais são chamadas de instinto. Os animais são formadas apenas por traços instintivos. Independente do local onde eles forem criados, eles agirão do mesmo jeito. Não importa se um cachorro for criado entre gatos, ele continuará a agir como um cachorro.

Instinto Cultura - Nascemos aptos a realizar esta característica, por vezes é uma necessidade biológica.

- Aprendemos com as Instituições Sociais.

- Seres Humanos e animais possuem.

- Apenas os seres humanos possuem.

- É igual em todas as sociedades. - Varia conforme a sociedade. - O indivíduo não tem como escolher ou optar.

- O indivíduo tem escolha, cabe exceção.

- É igual em qualquer período histórico.

- Varia conforme o tempo histórico.

No entanto, os comportamentos humanos não são biologicamente

determinados. A sua herança genética nada tem a ver com suas ações e pensamentos, pois todos os seus atos dependem inteiramente de um processo de aprendizado. O ser humano, e consequentemente a forma

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como ele age, é resultado do meio cultural em que foi socializado (ensinado). Todos nós somos herdeir@s de um longo processo acumulativo, que reflete o conhecimento e a experiência adquiridos pelas numerosas gerações que nos antecederam.

Todo este complexo que inclui conhecimentos, crenças, arte, moral, leis, costumes ou qualquer outra capacidade ou hábitos adquiridos pelos seres humanos como membro de uma sociedade é chamado de cultura. Todas as possibilidades de realização humanas, sendo todas aprendidas pelo ser humano independe de uma transmissão genética. O ser humano é o único ser capaz de produzir cultura.

A cultura é sempre dinâmica, ou seja, vai se transformando

ao longo do tempo, assim como nós vamos mudando nossa forma de pensar conforme a cultura de nossa sociedade vai mudando

Sugestão: Poema “O único animal”. De Luis Fernando Veríssimo. O homem é o único animal... ...que ri ...que chora ...que chora de rir ...que passa por outro e finge que não vê ...que fala mais do que papagaio ...que está sempre no cio ...que passa trote

...que passa calote

...que mata a distância

...que manda matar

...que esfola os outros e vende o pêlo

...que alimenta as crias, mas depois cobra com chantagem sentimental

...que faz o que gosta escondido e o que não gosta em público

...que leva meses aprendendo a andar

...que toma aula de canto

...que desafina

...que paga pra voar

...que pensa que é anfíbio e morre afogado

...que pensa que é bípede e tem problema de coluna

...que não tem rabo colorido, mas manda fazer

...que só muda de cor com produtos químicos ou de vergonha

...que tem que comprar antenas

...que bebe, fuma, usa óculos, fica careca, põe o dedo no nariz e gosta de ópera ...que faz boneco inflável de fêmea ...que não suporta o próprio cheiro ...que se veste ...que veste os outros ...que despe os outros ...que só lambe os outros ...que tem cotas de emigração ...que não tem uma linguagem comum a toda a espécie ...que se tosa porque quer ...que joga no bicho ...que aposta em galo e cavalo ...que tem gato e cachorro ...que tem lucro com os ovos dos outros ...que caça borboleta ...que usa gravata e pensa que Deus é parecido com ele ...que planta e colhe ...que planta e colhe e mesmo assim morre de fome ...que foi à Lua

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...que apara os bigodes

...que só come carne crua em restaurante alemão

...que gosta de escargot (fora o escargot)

...que faz dieta

...que usa o dedão

...que faz gargarejo

...que escraviza

...que tem horas

...que imita passarinho

...que poderia ter construído Veneza e destruído Hiroshima

...que faz fogo

...que se analisa

...que faz ginástica rítmica

...que sabe que vai morrer

...que sabe que vai morrer e mesmo assim vai atrás do motorista que cortou sua frente só para xingar a mãe dele e se desagravar porque não leva desaforo pra casa de vagabundo nenhum ...que sabe que vai morrer e mesmo assim, ou por causa disto, fica fazendo caretas na frente do espelho ...que se compara com os outros animais ...que se mata ... que se pinta ...que tem uma cosmogonia ...que senta e cruza as pernas ...que chupa os dentes ...que pensa que é eterno. O homem não é o único animal... ...que constrói casa, mas é o único que precisa de fechadura ...que foge dos outros, mas é o único que chama de retirada estratégica ...que se ajoelha, mas é o único que faz isto voluntariamente ...que trai, polui e aterroriza, mas é o único que se justifica depois ...que engole sapo, mas é o único que não faz isso pelo valor

nutricional ...que faz sexo, mas é o único que precisa de manual de instruções

O Ritual do Corpo Entre os Sonacirema. De Horace Minner.

(...) as crenças e práticas mágicas dos Sonacirema apresentam aspectos tão inusitados que parece apropriado descrevê-los como exemplo dos extremos a que pode chegar o comportamento humano. Foi o Professor Linton, em 1936, o primeiro a chamar a atenção dos antropólogos para os rituais dos Sonacirema, mas a cultura desse povo permanece insuficientemente compreendida ainda hoje.

(...) Apesar do povo dedicar muito do seu tempo às atividades econômicas, uma grande parte dos frutos deste trabalho e uma considerável porção do dia são dispensados em atividades rituais. O foco destas atividades é o corpo humano, cuja aparência e saúde surgem como o interesse dominante no ethos deste povo. Embora tal tipo de interesse não seja, por certo, raro, seus aspectos cerimoniais e a filosofia a eles associadas são singulares.

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A crença fundamental subjacente a todo o sistema parece ser a de que o corpo humano é repugnante e que sua tendência natural é para a debilidade e a doença. Encarcerado em tal corpo, a única esperança do homem é desviar estas características através do uso das poderosas influências do ritual e do cerimonial. Cada moradia tem um ou mais santuários devotados a este propósito. Os indivíduos mais poderosos desta sociedade têm muitos santuários em suas casas e, de fato, a alusão à opulência de uma casa, muito freqüentemente, é feita em termos do número de tais centros rituais que possua. Muitas casas são construções de madeira, toscamente pintadas, mas as câmeras de culto das mais ricas têm paredes de pedra. As famílias mais pobres imitam as ricas, aplicando placas de cerâmica às paredes de seu santuário. Embora cada família tenha pelo menos um de tais santuários, os rituais a eles associados não são cerimônias familiares, mas sim cerimônias privadas e secretas. Os ritos, normalmente, são discutidos apenas com as crianças e,

neste caso, somente durante o período em que estão sendo iniciadas em seus mistérios. Eu pude, contudo, estabelecer contato suficiente com os nativos para examinar estes santuários e obter descrições dos rituais.

O ponto focal do santuário é uma caixa ou cofre embutido na

parede. Neste cofre são guardados os inúmeros encantamentos e poções mágicas sem os quais nenhum nativo acredita que poderia viver. Tais preparados são conseguidos através de uma série de profissionais especializados, os mais poderosos dos quais são os médicos-feiticeiros, cujo auxilio deve ser recompensado com dádivas substanciais. Contudo, os médicos-feiticeiros não fornecem a seus clientes as poções de cura; somente decidem quais devem ser seus ingredientes e então os escrevem em sua linguagem antiga e secreta. Esta escrita é entendida apenas pelos ervatários, os quais, em troca de outra dadiva, providenciam o encantamento necessário. Os Sonacirema não se desfazem do encantamento após seu uso, mas os colocam na caixa-de-encantamento do santuário doméstico. Como tais substâncias mágicas são específicas para certas doenças e as doenças do povo, reais ou imaginárias, são muitas, a caixa-de-encantamentos está geralmente a ponto de transbordar. Os pacotes mágicos são tão numerosos que as pessoas esquecem quais são suas finalidades e temem usá-los de novo. Embora os nativos sejam muito vagos quanto a este aspecto, só podemos concluir que aquilo que os leva a

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conservar todas as velhas substâncias é a idéia de que sua presença na caixa-de-encantamentos, em frente à qual são efetuados os ritos corporais, irá, de alguma forma, proteger o adorador.

Abaixo da caixa-de-encantamentos existe uma pequena pia batismal. Todos os dias cada membro da família, um após o outro, entra no santuário, inclina sua fronte ante a caixa-de-encantamentos, mistura diferentes tipos de águas sagradas na pia batismal e procede a um breve rito de ablução. As águas sagradas vêm do Templo da Água da comunidade, onde os sacerdotes executam elaboradas cerimônias para tornar o líquido ritualmente puro. Na hierarquia dos mágicos profissionais, logo abaixo dos médicos-feiticeiros no que diz respeito ao prestígio, estão os especialistas cuja designação pode ser traduzida por “sagrados-homens-da-boca”. Os Sonacirema têm um horror quase que patológico, e ao mesmo tempo fascinação, pela cavidade bucal, cujo estado acreditam ter uma influência sobre todas as relações sociais. Acreditam que, se não fosse pelos rituais bucais seus dentes cairiam, seus amigos os abandonariam e seus namorados os rejeitariam. Acreditam também na existência de uma forte relação entre as características orais e as morais: Existe, por exemplo, uma ablução ritual da boca para as crianças que se supõe aprimorar sua fibra moral.

O ritual do corpo executado diariamente por cada um dos Sonacirema inclui um rito bucal. Apesar de serem tão escrupulosos no cuidado bucal, este rito envolve uma prática que choca o estrangeiro não iniciado, que só pode considerá-lo revoltante. Foi-me relatado que o ritual consiste na inserção de um pequeno feixe de cerdas de porco na boca juntamente com certos pós mágicos, e em movimentá-lo então numa série de gestos altamente formalizados. Além do ritual bucal privado, as pessoas procuram o mencionado sacerdote-da-boca uma ou duas vezes ao ano. Estes profissionais têm uma impressionante coleção de instrumentos, consistindo de brocas, furadores, sondas e aguilhões. O uso destes objetos no exorcismo dos demônios bucais envolve, para o cliente, uma tortura ritual quase inacreditável. O

sacerdote-da-boca abre a boca do cliente e, usando os instrumentos acima citados, alarga todas as cavidades que a degeneração possa ter produzido nos dentes. Nestas cavidades são colocadas substâncias mágicas. Caso não existam cavidades naturais nos dentes, grandes seções de um ou mais dentes são extirpadas para que a substância natural possa ser aplicada. Do ponto de vista do cliente, o propósito destas aplicações é tolher a degeneração e atrair amigos. O caráter extremamente sagrado e tradicional do rito evidencia-se pelo fato de os nativos voltarem ao sacerdote-da-boca ano após ano, não obstante o fato de seus dentes continuarem a degenerar.

Esperemos que quando for realizado um estudo completo dos Sonacirema haja um inquérito cuidadoso sobre a estrutura da personalidade destas pessoas. Basta observar o fulgor nos olhos de um sacerdote-da-boca, quando ele enfia um furador num nervo exposto, para se suspeitar que este rito envolve certa dose de sadismo. Se isto puder ser provado, teremos um modelo muito interessante, pois a maioria da população demonstra tendências masoquistas bem definidas.

Foi a estas tendências que o Prof. Linton (1936) se referiu na discussão de uma parte específica dos ritos corporal que é desempenhada apenas por homens. Esta parte do rito envolve raspar e lacerar a superfície da face com um instrumento afiado. Ritos especificamente femininos têm lugar apenas quatro vezes durante cada mês lunar, mas o que lhes falta em freqüência é compensado em barbaridade. Como parte desta cerimônia, as mulheres usam colocar suas cabeças em pequenos fornos por cerca de uma hora. O aspecto teoricamente interessante é que um povo que parece ser preponderantemente masoquista tenha desenvolvido especialistas sádicos.

Os médicos-feiticeiros têm um templo imponente, ou latipsoh, em cada comunidade de certo porte. As cerimônias mais elaboradas, necessárias para tratar de pacientes muito doentes, só podem ser executadas neste templo. Estas cerimônias envolvem não apenas o taumaturgo, mas um grupo permanente de vestais que, com roupas e toucados específicos, movimentam-se serenamente pelas câmaras do templo.

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As cerimonias latipsoh são tão cruéis que é de surpreender que uma boa proporção de nativos realmente doentes que entram no templo se recuperem. Sabe-se que as crianças pequenas, cuja doutrinação ainda é incompleta, resistem às tentativas de levá-las ao templo, porque “é lá que se vai para morrer“. Apesar disto, adultos doentes não apenas querem, mas anseiam por sofrer os prolongados rituais de purificação, quando possuem recursos para tanto. Não importa quão doente esteja o suplicante ou quão grave seja a emergência, os guardiões de muitos templos não admitirão um cliente se ele não puder dar uma dádiva valiosa para a administração. Mesmo depois de ter-se conseguido a admissão, e sobrevivido às cerimônias, os guardiães não permitirão ao neófito abandonar o local se ele não fizer outra doação.

O suplicante que entra no templo é primeiramente despido de todas as suas roupas. Na vida cotidiana os Sonacirema evita a exposição de seu corpo e de suas funções naturais. As atividades excretoras e o banho, enquanto parte dos ritos corporais, são realizados apenas no segredo do santuário doméstico. Da perda súbita do segredo do corpo quando da entrada no latipsoh, podem resultar traumas psicológicos. Um homem, cuja própria esposa nunca o viu em um ato excretor, acha-se subitamente nu e auxiliado por uma vestal, enquanto executa suas funções naturais num recipiente sagrado. Este tipo de tratamento cerimonial é necessário porque os excretas são usados por um adivinho para averiguar o curso e a natureza da enfermidade do cliente. Clientes do sexo feminino, por sua vez, têm seus corpos nus submetidos ao escrutínio, manipulação e aguilhadas dos médicos-feiticeiros.

Poucos suplicantes no templo estão suficientemente bons para fazer qualquer coisa além de jazer em duros leitos. As cerimônias diárias, como os ritos do sacerdote-da-boca, envolvem desconforto e tortura. Com precisão ritual as vestais despertam seus miseráveis fardos a cada madrugada e os rolam em seus leitos de dor enquanto executam abluções, com os movimentos formais nos quais estas virgens são altamente treinadas. Em outras horas, elas inserem bastões mágicos na boca do suplicante ou o forçam a

engolir substâncias que se supõe serem curativas. De tempos em tempos o médico-feiticeiro vem ver seus clientes e espeta agulhas magicamente tratadas em sua carne. O fato de que estas cerimônias do templo possam não curar, e possam mesmo matar o neófito, não diminui de modo algum a fé das pessoas no médico feiticeiro.

Resta ainda um outro tipo de profissional, conhecido como um “ouvinte”. Este “doutor-bruxo” tem o poder de exorcizar os demônios que se alojam nas cabeças das pessoas enfeitiçadas. Os Sonacirema acreditam que os pais enfeitiçam seus próprios filhos; particularmente, teme-se que as mães lancem uma maldição sobre as crianças enquanto lhes ensinam os ritos corporais secretos. A contra-magia do doutor bruxo é inusitada por sua carência de ritual. O paciente simplesmente conta ao “ouvinte” todos os seus problemas e temores, principalmente pelas dificuldades iniciais que consegue rememorar. A memória demonstrada pelos Sonacirema nestas sessões de exorcismo é verdadeiramente notável. Não é incomum um paciente deplorar a rejeição que sentiu, quando bebê, ao ser desmamado, e uns poucos indivíduos reportam a origem de seus problemas aos feitos traumáticos de seu próprio nascimento.

Como conclusão, deve-se fazer referência a certas práticas que têm suas bases na estética nativa, mas que decorrem da aversão profunda ao corpo natural e suas funções. Existem jejuns rituais para tornar magras pessoas gordas, e banquetes cerimoniais para tornar gordas pessoas magras. Outros ritos são usados para tornar maiores os seios das mulheres que os têm pequenos e torná-los menores quando são grandes. A insatisfação geral com o tamanho do seio é simbolizada no fato de a forma ideal estar virtualmente além da escala de variação humana. Umas poucas mulheres, dotadas de um desenvolvimento hipermamário quase inumano, são tão idolatradas que podem levar uma boa vida simplesmente indo de cidade em cidade e permitindo aos embasbacados nativos, em troca de uma taxa, contemplarem-nos. Já fizemos referência ao fato de que as funções excretoras são ritualizadas, rotinizadas e relegadas ao segredo. As funções naturais de reprodução são, da mesma forma, distorcidas. O intercurso sexual é tabu enquanto assunto, e é programado enquanto ato. São feitos esforços para evitar a

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gravidez, pelo uso de substâncias mágicas ou pela limitação do intercurso sexual a certas fases da lua. A concepção é na realidade, pouco freqüente. Quando grávidas as mulheres vestem-se de modo a esconder o estado. O parto tem lugar em segredo, sem amigos ou parentes para ajudar, e a maioria das mulheres não amamenta seus rebentos. (..)

O que são as Ciências Sociais?

Denominamos Ciências Sociais o conjunto de conhecimentos que nos permite pesquisar e estudar os comportamentos sociais, ou seja, o objeto de estudo das Ciências Sociais é o comportamento social humano. Assim, podemos dizer que trata-se do estudo sistemático do comportamento social do ser humano.

De que se ocupam as Ciências Sociais

As Ciências Sociais foram as últimas a se constituírem. São, portanto, as mais jovens. Enquanto a Biologia, a Química e a Física existiam já no século XVII, ou mesmo um pouco antes, as Ciências Sociais só vieram se estabelecer como ciência, com um objeto de estudo definido e com um método próprio, na virada do século XIX para o século XX.

Enquanto a Biologia, por exemplo, se preocupa em compreender o fenômeno da vida e em catalogar suas diversas formas, a preocupação das Ciências Sociais (Antropologia, Ciência Política e Sociologia) é identificar e compreender as relações que se tecem entre os seres humanos na sua existência concreta, isto é, as relações sociais - relações políticas, culturais, econômicas, religiosas, de transmissão de conhecimentos, etc. Desse modo, ao se perguntar o que estuda as Ciências Sociais, podemos responder: elas estudam as relações sociais. Para o ser humano do nosso tempo, a formação científica é fundamental para compreender e para poder intervir em seu meio. Ou seja, é fundamental conhecer a Biologia, a Física, a Química, a Matemática, mas o conhecimento das relações sociais, construído pelas Ciências Sociais, não é menos fundamental. Isto porque a

sociedade está em permanente construção, precisando constantemente de nossa intervenção. E a gente só pode intervir naquilo que conhece. Caso contrário, é intervenção cega e esta pode nos levar aonde não queremos ir.

As Ciências Sociais se interessam por explicar como as sociedades funcionam, como está distribuído o poder, qual o papel das várias instituições, como os grupos se formam e para quê, o que a sociedade produz para a sobrevivência dos homens e como produz, o que faz uma sociedade diferente de outra, quais as idéias que cimentam essa sociedade, que transformações sociais as transformações técnicas engendram, etc., etc. Tudo isso são assuntos que dizem respeito às Ciências Sociais. O trabalho do sociólogo, do antropólogo e do cientista político ajuda a tornar mais racional a ação humana e mais equilibrado o convívio entre os seres humanos.

Áreas de concentração

Devido a complexidade inerente ao estudo do comportamento social humano em suas várias dimensões, as Ciências Sociais apresentam-se agrupadas em áreas de concentração ou disciplinas. A saber: Antropologia – Ocupa-se do estudo e pesquisa das semelhanças e diferenças culturais entre os agrupamentos humanos, preocupa-se também com a origem e evolução das culturas. Atualmente, a maioria dos trabalhos nesta área, aponta para a necessidade de compreensão da diversidade cultural existente nas sociedades industriais. São ainda objetos de estudos da Antropologia, os tipos de organização familiar, as religiões, a magia, as gangues de rua, etc. Ciência Política – Compreender como se distribui o poder na sociedade, assim como, entender a formação e o desenvolvimento das diversas formas de governo, além dos mecanismos eleitorais e partidos políticos são algumas das preocupações de que se ocupa a Ciência Política. Sociologia – Como já dissemos anteriormente, trata-se da ciência que estuda as relações sociais e as formas de associação, considerando as interações que ocorrem na vida cotidiana; abrange, portanto, estudos

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relativos aos grupos e camadas sociais, aos processos de cooperação, competição e conflitos na sociedade. O Surgimento da Sociologia Através dos tempos o ser humano pensou sobre si mesmo e sobre a sociedade. Contudo, foi apenas no século XVIII que uma confluência de eventos na Europa levou à emergência da sociologia.

Primeiramente houve a influência do que chamamos de Renascimento. O termo Renascimento é comumente aplicado à civilização européia que se desenvolveu entre 1300 e 1650. Ocorreram nesse período muitos progressos e incontáveis realizações no campo das artes, da literatura e das ciências que superaram a herança clássica. Tudo isso de deveu, principalmente, a uma revalorização dos estudos. O ideal do humanismo foi sem duvida o móvel desse progresso e tornou-se o próprio espírito do Renascimento. Trata-se de uma volta deliberada, que propunha a ressurreição consciente (o re-nascimento) do passado Grego e Romano, considerado agora como fonte de inspiração e modelo de civilização. Em um sentido amplo, esse ideal pode ser entendido como a valorização do ser humano e da natureza, em oposição ao divino e ao sobrenatural, conceitos que haviam impregnado a cultura da Idade Média.

Quando os antigos sistemas feudais começaram a abrir caminho ao trabalho autônomo que promovia a indústria nas áreas urbanas (Revolução Industrial) e quando novas formas de governo começaram a desafiar o poder das monarquias absolutistas, as instituições da sociedade foram alteradas para sempre. Como era de se esperar, as pessoas ficaram inquietas com a nova ordem que surgia, e começaram a pensar mais sistematicamente sobre o que as mudanças significavam para o futuro. Sugestão: Poema “Prometheus”. De Goethe. "Encobre o teu Céu ò Zeus com nebuloso véu e, semelhante ao jovem que gosta

de recolher cardos retira-te para os altos do carvalho ereto Mas deixa que eu desfrute a Terra, que é minha, tanto quanto esta cabana que habito e que não é obra tua e também minha lareira que, quando arde, sua labareda me doura. Tu me invejas! (...) Eu honrar a ti? Por quê? Livras-te a carga do abatido? Enxugaste por acaso a lágrima do triste? (...) Por acaso imaginaste, num delírio, que eu iria odiar a vida e retirar-me para o ermo por alguns dos meus sonhos se haverem frustrado? Pois não: aqui me tens e homens farei segundo minha própria imagem: homens que logo serão meus iguais que irão padecer e chorar, gozar e sofrer e, mesmo que forem parias, não se renderão a ti como eu fiz.”

O movimento intelectual resultante é denominado Iluminismo, pois a influência da religião, da tradição e do dogma no pensamento intelectual foi finalmente diminuída. A ciência agora poderia surgir plenamente como uma maneira de pensar o mundo. A física e mais tarde a biologia foram capazes de superar a perseguição realizada pelas elites religiosas e estabeleceram-se como um caminho para o conhecimento. Junto com o crescimento da influência da ciência veio uma avalanche de conceitos sobre o universo social. Muitos desses conceitos, de caráter especulativo, avaliavam a natureza dos indivíduos e as primeiras sociedades infiltradas pela complexidade do mundo moderno. Com eles, o tipo adequado de sociedade e de relações entre os indivíduos foi reavaliado com base nas

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mudanças econômicas e políticas ocorridas com o comércio e, em seguida, com a industrialização.

Outra influência por trás do surgimento da sociologia é a Revolução Francesa de 1789, que acelerou o pensamento sistemático sobre o mundo social. É nesse ponto, nas décadas finais do século XVIII e início do XIX, que a sociologia como uma disciplina autoconsciente foi planejada. Portanto, é uma ciência muito recente. E talvez por tratar de um objeto muito familiar a todos, as relações sociais, elas são alvo de todo tipo de incompreensões. Na história recente do nosso país, durante o período da última ditadura (e esperamos que não haja mais outras), a Sociologia foi proibida. Foi retirada dos currículos escolares e muitos sociólogos foram perseguidos, tendo alguns que se exilarem em outros países, como foi o caso do ex-presidente da república Fernando Henrique Cardoso. Existe uma Sociologia da Família, uma Sociologia do Trabalho, uma Sociologia da Educação, uma Sociologia da Religião, uma Sociologia dos Riscos Tecnológicos, uma Sociologia das Mentalidades, uma Sociologia do Desenvolvimento, etc. A Importância da Sociologia

Sociologia é o estudo do comportamento social das interações e organizações humanas. Cabe à sociologia estudar as relações sociais que se dão entre seres humanos em determinada sociedade; as relações sociais entre sociedades distintas e as relações socais entre os indivíduos de uma determinada sociedade e as Instituições Sociais por eles próprios criadas.

Instituições Sociais são todas as organizações que existem em dada comunidade e que são responsáveis pela transmissão da cultura.

Na realidade, tod@s nós somos sociólog@s porque você e eu estamos sempre analisando nossos comportamentos e nossas experiências interpessoais em situações organizadas. O objetivo da sociologia é tornar essas compreensões cotidianas da sociedade mais

sistemáticas e precisas, à medida que suas percepções vão além de nossas experiências pessoais. Pois nós somos simplesmente pequenos jogadores num mundo imenso e complexo, com pessoas, símbolos e estruturas sociais, e somente ampliando nossa perspectiva além do “aqui e agora” é que podemos perceber as causas que moldam e limitam nossas vidas. Agimos em um meio social que influencia profundamente nossa maneira de sentir e ser em relação a nós mesmos e ao mundo que nos cerca, como nos vemos e percebemos os acontecimentos, como agimos e pensamos, e onde e a que distância podemos ir na vida. Às vezes a limitação é óbvia, até mesmo opressiva e enfraquecedora, em outras tantas é sutil e até mesmo despercebida. Mas sempre ela está moldando nossos pensamentos, sentimentos e ações. Examine a situação de um/uma alun@. Há grandes valores culturais e crenças que enfatizam a importância da educação e, desse modo, forçam @s alun@s a acreditar que el@s devem ir à escola e, em seguida, à universidade. Para alguns, há pressões e expectativas da família. Há também as limitações das próprias escolas de Ensinos Fundamental e Médio, definindo o que se pode ou não fazer na universidade. Há ainda questões de classe social que determinam se @ alun@ deve também trabalhar enquanto vai à escola. Existem as restrições de economia e mercado de trabalho que afetam as decisões d@s alun@s sobre seus principais objetivos de carreira acadêmica e de vida. Há também as políticas governamentais que afetam os fundos públicos para @s alun@s e para a escola e universidade como um todo. Essas restrições governamentais e econômicas são, por sua vez, amarradas à política econômica mundial. Percebe como muita coisa influencia no seu dever de ir à escola e no que você pensa que é o objetivo da escola?

Há um ponto que espero que esteja claro: tod@s nós vivemos em uma teia complexa de causas que dita muito do que vemos, sentimos e fazemos. Nenhum de nós é totalmente livre; na verdade, podemos escolher nosso caminho na vida cotidiana, mas nossas opções são sempre limitadas. Isso reforça a idéia sociológica de que o ser humano é produto e produtor de sua cultura. El@ constrói o seu meio e é por el@ construído. A sociologia examina essas limitações e, como tal, é uma área muito ampla, pois estuda todos os símbolos culturais que os seres humanos criam

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e usam para interagir e organizar a sociedade. Ela explora todas as estruturas sociais que ditam a vida social; examina todos os processos sociais, tais como desvio, crime, divergência, conflitos, migrações e movimentos sociais que fluem através da ordem estabelecida socialmente; e busca entender as transformações que esses processos provocam na cultura e estrutura social. Em tempos de mudança, em que a cultura e a estrutura estão atravessando transformações drásticas, a sociologia torna-se particularmente importante. Como a velha maneira de fazer as coisas se transforma, as vidas pessoais são interrompidas e, como conseqüência, as pessoas buscam respostas para o fato de as rotinas e fórmulas do passado não funcionarem mais. O mundo hoje está passando por uma transformação dramática: o aumento de conflitos étnicos, o desvio de empregos para países de mão de obra mais barata, as fortunas instáveis da atividade econômica e do comércio, a mudança no mercado de trabalho, a propagação do HIV/AIDS1, o aumento da fome, a quebra do equilíbrio ecológico, a redefinição dos papéis sociais dos homens e das mulheres e muitas outras mudanças. Enquanto a vida social e as rotinas diárias se tornam mais ativas, a percepção sociológica não é completamente necessária. Mas, quando a estrutura básica da sociedade e da cultura muda, as pessoas buscam o conhecimento sociológico.

Lista de exercícios

1- O que é instinto? Dê dois exemplos. 2- O que é cultura? Dê dois exemplos. 3- Existe uma relação entre instinto e cultura? Explique. 3- Qual é a crítica que podemos perceber no texto “Sonaciremas”? 4- Qual é a diferença entre mito e ciência? 5- O que são as Ciências Sociais? 6- O que as Ciências Sociais estudam?

1 HIV é o vírus. Aids é a síndrome (doença). Há pessoas que vivem com o vírus sem nunca apresentar os sintomas da doença.

7- De que forma o método científico é aplicado nas Ciências Sociais? Será da mesma maneira que a ciência é feita na área das Ciências Naturais e das Ciências Exatas? 8- Quais as áreas de concentração das ciências sociais? Explique cada uma delas. 9- Faça uma recuperação histórica do contexto de surgimento da sociologia. 10- O que é sociologia? O que esta ciência estuda? 12 – O que são Instituições Sociais? Dê três exemplos. 13- Qual é a importância da sociologia? Fontes:

AURÉLIO. Novo dicionário Aurélio da Língua Portuguesa. 3ª edição

atualizada e revisada. São Paulo: Positivo, 2007.

COSTA, Cristina. Introdução à ciência da sociedade. São Paulo: Moderna,

2007.

http://br.answers.yahoo.com/question/index?qid=20080414123314AA7FQ

of

http://www.mp.mt.gov.br/cma/secure/arquivos/arq269.pdf

LARAIA, Roque de Barros. Cultura: um conceito antropológico. São

Paulo: Zahar, 2007.

OLIVEIRA, Pérsio Santos de. Introdução à Sociologia. 24º Edição. São

Paulo: Ática, 2003.

QUEIROZ, Francisco Manuel Ribeiro de e MARCOS, Barbosa

Gonçalvez. Fundamentos de Sociologia. 2º Edição. Brasília: E.V., 2007.