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Oficina de Multiplicadores de Interpretação da LIBRAS CAPACITAÇÃO DE MULTIPLICADORES DE INTERPRETAÇÃO DE LIBRAS Tiago M. Saretto 1

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    CAPACITAO DE MULTIPLICADORES DE

    INTERPRETAO DE LIBRAS

    Tiago M. Saretto 1

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    NDICE:

    ITEM ASSUNTO PGINA

    01)

    APRESENTAO

    3

    02)

    CRITRIOS DO CURSO

    4

    03)

    A LNGUA DE SINAIS

    5

    04)

    ALGUNS DADOS SOBRE OS SURDOS NO MUNDO

    6

    05)

    LEGALIZAO DA LIBRAS

    7

    06)

    O QUE LIBRAS?

    8

    07)

    COMUNIDADE SURDA E CULTURA

    10

    08)

    BILINGISMO

    13

    09)

    CARACTERIZANDO A SURDEZ

    14

    10)

    RELAO ENTRE O GRAU DA SURDEZ E O DESEN. INFANTIL

    15

    11)

    DIREITOS LINGSTICOS DOS SURDOS

    16

    12)

    OITOS MITOS SOBRE DEFICIENTES FSICOS

    18

    13)

    IDENTIDADES SURDAS

    19

    14)

    INTRPRETE E SUA IMPORTNCIA

    20

    15)

    ALGUNS MITOS SOBRE O PROFISSIONAL INTRPRETE

    22

    16)

    EXISTEM DOIS EXTREMOS PERIGOSOS NA EDUC. DOS SURDOS

    23

    17)

    ALGUMAS VARIAES DA LIBRAS

    24

    18)

    DIFERENAS BSICAS EM LIBRAS

    25

    19)

    INTRODUO BSICA A GRAMTICA DA LIBRAS

    27

    20)

    COMO TORNA-SE UM ILS?

    31

    21)

    BIBLIOGRAFIA

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    01. APRESENTAO: A Oficina Interpretao LIBRAS foi elaborado com a finalidade de apresentar ao aluno iniciante a modalidade de Interpretao da Lngua Brasileira de Sinais. Capacitar profissionais afins educao de surdos no Estado de Mato Grosso, de modo a facilitar o ensino-aprendizagem dentro de um processo contnuo numa perspectiva da escola inclusiva. Sendo que a capacitao dever ser realizada em etapas; sendo esta a primeira. Antigamente as Lnguas de Sinais eram usadas apenas pelas Comunidades Surdas, restrita, mas hoje tm sido de interesse de Familiares, Educadores, Lingistas, Profissionais Liberais, e Entidades Religiosas, Estudantes, e, enfim, podemos concluir que a demanda de estudiosos humanitrios sobre o assunto LIBRAS o indicador de um universo mais crescente. partir das explanaes iniciais do curso os alunos estaro estabelecendo relaes com um mundo novo: O Mundo dos Surdos, mundo este, profundo e rico de simplicidade e graciosidade.

    Sejam bem vindos!

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    02. CRITRIOS DO CURSO: 02.1. FREQNCIA: O Curso 100% presencial. primordial a presena de todos durante o curso. O excesso de faltas no d direito ao aluno de receber o certificado. 02.2. AVALIAO:

    Atravs de observao permanente dos alunos sobre o desempenho em sala;

    Participao constante e interesse dos alunos;

    Atividades individuais e ou em grupo;

    Assiduidade;

    02.3. PRINCPIOS GERAIS PARA O ALUNO:

    1. Evite falar durante as aulas, tente utilizar mais o canal visual; 2. Use a expresso corporal e facial para se expressar sem se envergonhar.

    Lembrem-se os surdos usam esses dois recursos naturalmente;

    3. No tenha medo de errar - pense na mensagem que quer transmitir e no nas palavras.

    4. Sempre fixe o olhar na face do emissor da mensagem.

    5. Atente-se para tudo que est acontecendo durante a aula. Tudo aprendizagem.

    6. Comunique-se com seus colegas, troque opinies, formem grupo de estudos.

    7. Envolva-se com as comunidades surdas.

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    03. A LNGUA DE SINAIS: Na dcada de 60 comearam estudos profundos sobre a Lngua de Sinais (Stokoe, 1960), tanto a nvel de sua estruturao interna como de sua gramtica, provando que ela tinha valor lingstico semelhante s lnguas orais e que cumpria as mesmas funes, com possibilidades de expresso em qualquer nvel de abstrao. Realizaram estudos comparados entre filhos Surdos de pais Surdos (FSPS) e filhos Surdos de pais ouvintes (FSPO), concluindo. FSPS: tinham desenvolvimento escolar melhor que seus colegas FSPO, sem detrimento do desenvolvimento da fala e da leitura oro-facial. Stevenson (1964) e Meadow (1966) concluram que os FSPS eram superiores aos FSPO em realizao acadmica, matemtica, leitura e escrita, vocabulrio, sem diferenas na fala e na leitura oro-facial. Como resultado destas pesquisas concluiu-se que os Sinais no prejudicavam o desenvolvimento das crianas Surdas, mas, ao contrrio, ajudava-as no seu desenvolvimento escolar sem prejuzo para as habilidades orais. Na Comunicao Total normalmente os sinais so usados na ordem da lngua oral sem respeitar as caractersticas prprias da Lngua de Sinais S.V.O./S.O.V. praticamente uma Comunicao Bimodal. Quando pedido criana Surda que se comporte lingisticamente de forma semelhante ao outro, sem considerar a sua forma particular de comunicao, dominada pelo outro, ela no supostamente distinta do outro, mas deve se comportar e construir a sua identidade pelo modelo do outro que no a aceita na sua forma particular de comunicao, e ela no tm como formar uma auto-identificao positiva, intersubjetivamente reconhecida. Durante quase 100 anos existiu o ento chamado imprio oralista, e di em 1971, no Congresso Mundial de Surdos em Paris, que a Lngua de Sinais passou a ser novamente valorizada. Nesse congresso foram tambm discutidos resultados de pesquisas realizadas nos EUA sobre comunicao total. No ano de 1975, por ocasio do Congresso seguinte, realizado em Washington, j era evidente a conscientizao de que um sculo de oralismo dominante no serviu como soluo para a educao de Surdos. A constatao de que os Surdos eram sub-educados com o enfoque oralista puro e de que a aquisio da lngua oral deixava muito a desejar, alm da realidade inquestionvel de que a comunicao gestual nunca deixou de existir entre os Surdos, fez com que uma nova poca se iniciasse dentro do processo educativo dos Surdos. Os trabalhos de Danielle Bouvet, em Paris, publicados em 1981, e as pesquisas realizadas na Sucia e Dinamarca, na mesma poca, introduzem o enfoque bilnge na educao do indivduo Surdo.

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    04. ALGUNS DADOS SOBRE OS SURDOS NO MUNDO

    1. Estima-se em torno de 250 milhes de Surdos no mundo (Coria/1999).

    2. Estima-se em torno de 3 milhes de Surdos no Brasil (Viena/1995).

    3. Mais ou menos 80% dos Surdos do mundo no desenvolvem escolaridade

    completa (Viena/1995).

    4. Muitos pases no tm sua prpria Lngua de Sinais sistematizada importam a

    Lngua de Sinais e no tem a sua prpria cultura desenvolvida.

    5. A Sucia foi o primeiro pas do mundo a reconhecer a Lngua de Sinais

    oficialmente em 1981. Tem mais de 400 intrpretes oficiais do governo. Depois

    do domnio dos sinais os intrpretes precisam ter mais 2 anos de treinamento.

    6. Diversos pases j aceitaram legalmente a Lngua de Sinais.

    7. A ONU e UNESCO j redigiram um documento reconhecendo a Lngua de

    Sinais para os Surdos.

    8. Na Sucia:

    a) 80% dos Surdos no falam bem.

    b) obrigatrio aos professores para Surdos o domnio da Lngua de

    Sinais.

    9. Nos Estados Unidos 86% dos Surdos no falam bem.

    10. A ndia possui 4 milhes de Surdos e 50 escolas.

    11. Populao residente no Brasil segundo sexo e grupos de idade:

    SEXO E GRUPOS DE IDADE Incapaz, com alguma ou grande dificuldade permanente de ouvir. TOTAL 0 a 14 anos 15 a 64 anos 65 anos ou mais

    5.735.099 406.588

    3.240.263 2.088.247

    HOMENS 0 a 14 anos 15 a 64 anos 65 anos ou mais

    3.018.218 221.818

    1.757.474 1.038.926

    MULHERES 0 a 14 anos 15 a 64 anos 65 anos ou mais

    2.716.881 184.770

    1.482.789 1.049.321

    Fonte: IBGE, Censo Demogrfico 2000

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    05. LEGALIZAO DA LIBRAS:

    LEI N. 10.436, DE 24 DE ABRIL DE 2002. Dispe sobre a Lngua Brasileira de Sinais - Libras e d outras providncias. O PRESIDENTE DA REPBLICA: Fao saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei: Art. 1 reconhecida como meio legal de comunicao e expresso a Lngua Brasileira de Sinais - Libras e outros recursos de expresso a ela associados. Pargrafo nico. Entende-se como Lngua Brasileira de Sinais - Libras a forma de comunicao e expresso, em que o sistema lingstico de natureza visual-motora, com estrutura gramatical prpria, constitui um sistema lingstico de transmisso de idias e fatos, oriundos de comunidades de pessoas surdas do Brasil. Art. 2 Deve ser garantido, por parte do poder pblico em geral e empresas concessionrias de servios pblicos, formas institucionalizadas de apoiar o uso e difuso da Lngua Brasileira de Sinais - Libras como meio de comunicao objetiva e de utilizao corrente das comunidades surdas do Brasil. Art. 3 As instituies pblicas e empresas concessionrias de servios pblicos de assistncia sade devem garantir atendimento e tratamento adequado aos portadores de deficincia auditiva, de acordo com as normas legais em vigor. Art. 4 O sistema educacional federal e os sistemas educacionais estaduais, municipais e do Distrito Federal devem garantir a incluso nos cursos de formao de Educao Especial, de Fonoaudiologia e de Magistrio, em seus nveis mdio e superior, do ensino da Lngua Brasileira de Sinais - Libras, como parte integrante dos Parmetros Curriculares Nacionais PCNs, conforme legislao vigente. Pargrafo nico. A Lngua Brasileira de Sinais - LIBRAS no poder substituir a modalidade escrita da lngua portuguesa. Art. 5 Esta Lei entra em vigor na data de sua publicao. Braslia, 24 de abril de 2002; 181 da Independncia e 114 da Repblica. FERNANDO HENRIQUE CARDOSO Paulo Renato Souza

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    06. O QUE LIBRAS? LIBRAS ou Lngua Brasileira de Sinais a Lngua Natural e usada pela maioria dos Surdos do Brasil, cujo aprendizado requer estudo dirio, tempo e contato constante com os seus usurios. Esse idioma uma Lngua visual-gestual, diferente de todos os idiomas que temos conhecimento at agora e que so auditivos e orais, como: o portugus, ingls, francs, japons, etc. Esta peculiaridade tem suas implicaes: - a ateno auditiva que se presta habitualmente para captar a pronuncia ser agora substituda pela ateno visual; - a memria auditiva ser substituda pela memria visual; - todos os problemas de pronncia, entonao e acentuao sero aspectos de expresso facial, corporal e agilidade manual; 06.1. FATORES VISUAIS: 06.1.1. Ateno Visual: Este um fator fundamental na Lngua de Sinais: Enfoque: mos, braos, expresso facial, olhos, cabea. 06.1.2. Discriminao Visual: - Discriminao auditiva; - Sinais aparentemente idnticos diferenciando apenas em dois aspectos. Exemplo: modificao facial e modificao no movimento. 06.1.3. Memria Visual: - Fundamental para a recordao de sries de vocabulrios e as oraes em Lngua Brasileira de Sinais. 06.2. FATORES GESTUAIS: 06.2.1. Expresso Corporal: - Desinibio, descobrimento do corpo, conscincia do espao e segurana no processo de aprendizagem.

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    06.2.2. Expresso Facial: - Elemento fundamental na estrutura da Lngua Brasileira de Sinais. 06.2.3. Motricidade Digital e Manual: - Habilidade que precisa de muita dedicao. Os gestos e o alfabeto precisam ser praticados constantemente. 06.2.4. Percepo e Uso do Espao: O aluno precisa ter uma grande percepo para que faa o sinal no espao correto. Exemplo: CU, SOL, TRABALHAR, LARANJA, etc.

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    07. COMUNIDADE SURDA E CULTURA: - Desde a Idade Antiga j existem surdos. No entanto no eram tratados como Tal. - Em Esparta os surdos eram jogados do alto dos rochedos e, em Atenas eram rejeitados e abandonados nas praas pblicas ou nos campos. - Os romanos, como tambm os gregos, consideravam os surdos privados de toda possibilidade de desenvolvimento intelectual e moral. - Essa situao s iria se modificar com o cdigo Justiniano (483-482 a.C.), quando comearam a distinguir os graus de deficincia auditiva, mas os que nasciam surdos no poderia ser Educado, sendo comparado aos idiotas, absolutamente incapaz para a prtica de toa da vida jurdica. - Verifica-se que esse grupo existia desde o incio da Histria da humanidade. Provavelmente, j existia uma Lngua de Sinais entre Eles, uma vez que essa a sua lngua materna, que nasceu da necessidade de se comunicar. - Durante a idade mdia (feudalismo) os monges se interessavam pela Lngua de Sinais, pois com seus votos de silncio precisavam de outra forma para se comunicar. - A partir da idade moderna que teremos os primeiros relatos Histricos sobre a Educao dos Surdos, at ento nada se tinha sobre o assunto. - 1520 a 1584 Espanha Pablo Ponce de Leon inicia a educao de surdos atravs do uso da Lngua de Sinais e do Alfabeto Manual este se baseava na aprendizagem da palavra comeando pela Leitura e Escrita. - 1712 a 1789 Frana Abb de Lepe defende que a mmica constitui a Linguagem natural ou materna dos surdos, conclui que a Linguagem dos Gestos um verdadeiro meio de comunicao e de estruturamento do pensamento. - Estados Unidos T. H. Gallaudet e Laurent Clerc fundam a primeira Escola de Surdos em Washington, o Americam Asylum for the Education. - 1880 Itlia Em Milo, no Congresso Mundial de Surdos consideram que o uso simultneo da fala e dos gestos mmicos tem a desvantagem de impedir o Desenvolvimento da Fala, da Leitura Labial e da preciso das idias e declara que o mtodo oral puro deve ser preferido de forma definitiva e oficial. Das 164 representantes presentes apenas os 5 dos EUA, no votam em favor do Oralismo. - 1851 a 1992 GALLAUDET UNIVERSITY EUA.

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    Gallaudet tem uma histria de luta, fora em prol da Defesa dos Direitos dos Surdos e da Lngua de Sinais. Na educao utiliza de forma radical a lngua de sinais, seu progresso e desenvolvimento resultam na Universidade com conhecimento mundial, num trabalho que comea com a estimulao precoce e vai at cursos de PHD e academia superior de surdos, preconiza que no necessrio a Educao Especial para Surdos, bastando apenas que na comunicao o Direito Lngua de Sinais seja respeitado; juntamente com Laurent Clerc e sob influncia do Abb de Lepe, Gallaudet nunca aceitou a imposio do congresso de Milo e no concordou com a mudana para uma metodologia oral. - Em 1960 implantando a Filosofia da Comunicao Total, William Stockoe prova que a linguagem gestual da natureza visual-manual tem estrutura e aspectos prprios como qualquer outra Lngua. - BRASIL: 1500 o ndio surdo no era aceito em suas tribos e a maioria era morta. - 1500 a 1855 Durante esse perodo j existiam muitos surdos no pas, a Educao era precria. - 1855 um professor francs, surdo chamado Hurt chega ao Brasil. - 1887 Funda-se o primeiro Instituto Nacional de Surdos Mudos (INSM). Na cidade do RJ, com a autorizao do Imperador Pedro II. - SURDO de todo pas foi encaminhado para l, em busca de Estudo da mmica (lngua de sinais) e do alfabeto manual, que se tornaram conhecidos, e usados em todos o territrio nacional. - 1930 atravs de mtodos de ensino que objetivavam a oralizao pura, acabou sufocando o incio de uma expanso da LIBRAS, essas imposies se tornou um entrave expanso de uma Linguagem muito nova ainda em fase de estruturamento. - 1970 Esse movimento cresceu ainda mais nessa dcada pela implantao por parte do Centro Nacional de Educao Especial (CENESP), provocando maiores prejuzos na cultura da comunidade surda e no empobrecimento da Lngua de Sinais. - 1970 a 1992 os surdos se fortaleceram e reivindicam os seus direitos, at ento feito pelos ouvintes. - At em certa poca as escolas tradicionais no mtodo oral mudaram de filosofia boa parte delas adotaram a Comunicao Total. - Aps estudos sobre a Lngua de Sinais, realizados principalmente a partir da dcada de 70 e que foram acompanhadas de estudos em diversas outras reas como neurologia, sociologia, psicologia e educao, mostrando a importncia da Lngua de Sinais para o desenvolvimento da criana Surda, implantado o sistema de educao que considerava que a primeira lngua a ser adquirida pela criana Surda deveria ser a Lngua de Sinais.

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    - A Sucia foi o primeiro pas a iniciar o caminho para a implantao do Bilingismo. A Lngua de Sinais Sueca foi reconhecida oficialmente em 1981. A declarao do Parlamento Sueco sobre esta deciso foi a seguinte:

    Esta comisso determina que o Surdo profundo para funcionar, tanto entre eles mesmos. Como em sociedade deve ser bilnge. Este bilingismo de acordo com a Comisso significa tambm que os Surdos devem ser fluentes em sua Lngua de Sinais visual e gestual e tambm na lngua da sociedade a que pertence o sueco (Wallin, 1992, p.24).

    - Aqui no foi o mero reconhecimento de uma entidade abstrata como uma lngua, mas: o reconhecimento desta lngua como pertencente a uma comunidade que deveria ter direito a ter acesso a mesma. - O reconhecimento dos Surdos como representantes de um grupo minoritrio com direitos educativos na sua prpria lngua.

    Diferenas entre Bilingismo e Comunicao Total:

    BILINGISMO COMUNICAO TOTAL

    Uso Diglssico de duas lnguas (dois ambientes lingsticos). Uso concomitante da lngua.

    Culturas Surdas No existe enfoque de dar a identidade Surda para o indivduo.

    Participao obrigatria de Surdos adultos na educao da criana Surda.

    No obrigatoriedade de participao de adultos Surdos na educao da criana Surda.

    Objetivo final: duas lnguas ou mais. Objetivo final: Comunicao. - As Lnguas de Sinais, que eram conhecidas apenas pelas comunidades surdas, atualmente so alvos de considervel interesse por parte de educadores e lingistas de todo mundo. Dentro do histrico notamos o questionamento do uso ou no da Lngua de Sinais, no entanto onde houver dois ou mais surdos ela estar sem dvida, presente entre eles.

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    08. BILINGISMO:

    1) No um mtodo, enfoque educacional;

    2) Posso usar qualquer mtodo dentro da educao do Surdo, desde que respeite o

    enfoque do Bilingismo;

    3) multicultural;

    4) No fala de reabilitao (como um deficiente), mas em educao (como um

    diferente);

    5) Procura trabalhar os sinais, a leitura, a escrita, (tambm pode utilizar o Sign

    Writing) e a fala (opcional).

    08.1. GRANDES OBJETIVOS DO BILINGISMO:

    1. Facilitar a aquisio de conceitos pelo aluno Surdo;

    2. Facilitar a assimilao de contedo do currculo bsico;

    3. Proporcionar um real e efetivo meio de informaes a estes indivduos;

    4. Aproveitar a respeitar a lngua natural dos Surdos;

    5. Garantir aos Surdos o desenvolvimento normal da linguagem e da inteligncia.

    Primeiro garantir linguagem, conhecimento e desenvolvimento;

    6. Formar uma personalidade saudvel, com desenvolvimento emocional-social

    normal; desenvolver a personalidade sadia de crianas Surdas. Normalmente as

    crianas ouvintes vem para escolas com linguagem interior e as Surdas no;

    7. Construo de uma teoria sobre o mundo um mundo apropriado, com

    aceitao. As crianas ouvintes fazem algumas perguntas e isso constri o seu

    mundo, e isso deve ser permitido as crianas Surdas;

    8. Permitir que o Surdo soubesse que faz parte de um grupo humano com cultura

    prpria e que solidrio com eles; pois eles no podem ser como os ouvintes

    (ainda que tentem) por que so Surdos. No podem projetar-se nos pais

    (modelos) ouvintes porque so Surdos e lhes faltar modelo para o futuro.

    9. A formao de um entorna lingstico de sinais L.S. (Lngua de Sinais)

    elemento de poder e os Surdos podem comear a sair da situao de

    SUBALTERNOS dos ouvintes;

    10. Busca de uma educao que se preocupe com indivduos e no somente com

    sistemas que precisam ser aprovados.

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    09. CARACTERIZANDO A SURDEZ: O audimetro um instrumento utilizado para medir a sensibilidade auditiva de um

    indivduo. O nvel de intensidade sonora medido em decibel (dB).

    Por meio desse instrumento faz-se possvel a realizao de alguns testes, obtendo-se

    uma classificao da surdez quanto ao grau de comprometimento (grau e/ou intensidade

    da perda auditiva), a qual est classificada em nveis, de acordo com a sensibilidade

    auditiva do indivduo:

    Audio normal de 0 a 15 dB;

    Surdez leve de 16 a 40 dB. Nesse caso a pessoa pode apresentar dificuldade

    para ouvir o som do tic-tac do relgio, ou mesmo uma conversao silenciosa

    (cochicho);

    Surdez moderada de 41 a 55 dB. Com esse grau de perda auditiva a pessoa

    pode apresentar alguma dificuldade para ouvir uma voz fraca ou canto de um

    pssaro;

    Surdez acentuada de 56 a 70 dB. Com esse grau de perda auditiva a pessoa

    poder ter alguma dificuldade para ouvir uma conversao normal;

    Surdez severa de 71 a 90 dB. Nesse caso a pessoa poder ter dificuldades

    para ouvir o telefone tocando ou rudos das mquinas de escrever num

    escritrio;

    Surdez profunda acima de 91 dB. Nesse caso a pessoa poder ter dificuldade

    para ouvir o rudo de caminho, de discoteca, de uma mquina de serrar madeira

    ou, ainda, o rudo de um avio decolando.

    A surdez pode ser ainda, classificada como unilateral, quando se apresenta em apenas

    um ouvido e bilateral, quando acomete ambos ouvidos.

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    10. RELAO ENTRE O GRAU DA SURDEZ E O DESENVOLVIMENTO INFANTIL: Sendo a surdez uma privao sensorial que interfere diretamente na comunicao,

    alterando a qualidade da relao que o indivduo estabelece com o meio, ela pode ter

    srias implicaes para o desenvolvimento de uma criana, conforme o grau da perda

    auditiva que as mesmas apresentem:

    Surdez leve: a criana capaz de perceber os sons da fala; adquire e desenvolve

    a linguagem oral espontaneamente; o problema geralmente tardiamente

    descoberto; dificilmente se coloca o aparelho de amplificao porque a audio

    muito prxima do normal;

    Surdez moderada: a criana pode demorar um pouco para desenvolver a fala e

    linguagem; apresenta alteraes articulatrias (trocas na fala) por no perceber

    todos os sons com clareza; tem dificuldade em perceber a fala em ambientes

    ruidosos, so crianas desatentas e com dificuldade no aprendizado da leitura e

    escrita;

    Surdez severa: a criana ter dificuldades em adquirir a fala e linguagem

    espontaneamente; poder adquirir vocabulrio do contexto familiar; existe a

    necessidade do uso de aparelho de amplificao e acompanhamento

    especializado;

    Surdez profunda: a criana dificilmente desenvolver a linguagem oral

    espontaneamente; s responde auditivamente a sons muito intensos como:

    bombas, trovo, motor de carro e avio; freqentemente utiliza a leitura

    orofacial; necessita fazer uso de aparelho de amplificao e/ou implante coclear,

    bem como de acompanhamento especializado.

    Tiago M. Saretto 15

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    11. DIREITOS LINGUISTICOS DOS SURDOS: (Por Gomes de Matos Revista Vozes, 1984, n2).

    1. Direito a Igualdade Lingstica O Surdo tem de ser tratado lingisticamente com respeito e em condies de igualdade.

    2. Direito de Aprendizagem da Lngua Materna O Surdo tem direito a ser

    alfabetizado em tempo hbil e se envolver linguisticamente, segundo preconizado pela permanente.

    3. Direito a Aquisio de Linguagem O Surdo tem o direito de adquirir sua

    linguagem materna, a lngua de sinais, mesmo que no seja a lngua de seu pas.

    4. Direito ao uso da Lngua Materna O surdo tem direito de usar a lngua materna em carter permanente.

    5. Direito a Fazer Aes Lingsticas O Surdo tem direito de optar por uma

    lngua oral ou dos sinais segundo necessidades comunicativas.

    6. Direito a Preservao e a Defesa da Lngua Materna como minoria lingstica, os surdos tm de preservar e defender o uso da lngua materna.

    7. Direito ao enriquecimento e a Valorizao da Lngua Materna Todo surdo tem

    direito de contribuir ao acervo lexical da lngua materna e de valoriz-la como instrumento de comunicao local ( municipal,estadual,regional e nacional) e internacional.

    8. Direito a Aquisio-Aprendizagem de uma Segunda Lngua Todo surdo, aps

    sua escolarizao inicial em lngua de sinais, tem o direito de aprender uma ou mais lnguas (alm da materna).

    9. Direito compreenso e Produo Plenas O Surdo tem direito de usar de

    usar a lngua que mais lhe convier, oral ou de sinais, no intuito de compreender seu interlocutor e de se fazer entender por ele. No caso do uso da lngua oral, o Surdo tem o direito de cometer lapsos, de se autocorrigir e de empenhar-se a fim de ser claro, preciso e relevante. O mesmo deve valer para a lngua de sinais.

    10. Direito de Receber Tratamento Especializado para Distrbio da Comunicao -

    Todo surdo tem direito de reivindicar e de receber tratamento especializado para a aquisio se uma lngua oral.

    11. Direito Lingstico da Criana Surda Direito de ser compreendida pelos

    pais, direito de receber dos pais dados lingsticos necessrios para seu desenvolvimento lingstico inicial (no perodo de aquisio da lngua materna). No caso de os pais serem ouvintes, estes devem dar aos filhos Surdos a

    Tiago M. Saretto 16

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    possibilidade de mtua compreenso, aprendendo, to logo descubram a surdez dos filhos, a lngua de sinais.

    12. Direito Lingstico dos Pais de Crianas Surdas Direito de aprender a usar e

    sem opresso a lngua de sinais, natural de comunicao para o filho Surdo, para que possa se comunicar com ele na vida diria e no perodo em que a interao pais-filhos se faz necessria criana.

    13. Direito Lingstico do Surdo Aprendiz da Lngua Oral Direito de errar

    oralmente ou por escrito sem ser punido, humilhado, por apes lingsticas inadequadas: direito de ser sensibilizado contra os preconceitos e discriminaes de natureza lingstica (ou sociolgicas).

    14. Direito Lingstico do Professor e de Surdos Direito de receber formao

    sobre a natureza da lngua de sinais, sua estrutura e seus usos e da necessidade de ensinar nesta lngua, meio natural de comunicao com e /ou entre os Surdos.

    15. Direito Lingstico do Surdo Enquanto Individuo Bilnge - Direito de mudar

    uma lngua para outra de acordo com a situao que se apresente, desde assegura a compreenso da mensagem pelo ouvinte.

    16. Direito Lingstico do Surdo Enquanto Conferencista Direito de proferir

    palestras na lngua de sinais, fazendo se compreender e contando-se para isso, com intrpretes ouvintes que dominem a lngua de sinais e a lngua oral oficial da situao de congresso.

    17. Direito Lingstico do Surdo de se Comunicar Com os Outros Direito de usar

    a lngua de sinais para se integrar com os outros Surdos, primeiro passo para uma integrao na sociedade como um todo.

    Tiago M. Saretto 17

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    12. OITOS MITOS SOBRE DEFICIENTES FSICOS:

    Suzana Baker 1. Necessitam ser dependentes dos outros;

    2. So mal ajustados, zangados e infelizes;

    3. So marcados e menos inteligentes (Surdo estudando grego e hebraico);

    4. Drenam a economia e so improdutivos;

    5. No tem os mesmos relacionamentos das pessoas ditas normais.

    6. Merecem compaixo e piedade;

    7. Seu lugar em instituies especializadas;

    8. Esto sendo punidos por algum pecado.

    Tiago M. Saretto 18

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    13. IDENTIDADES SURDAS:

    Gldis Perlin

    1. Identidade Surda Poltica: so as pessoas que tm identidade surda plena,

    geralmente so filhos de pais surdos, tm conscincia surda, so politizados, tm

    conscincia da diferena, e tm a lngua de sinais como a lngua nativa. Usam

    recursos e comunicaes visuais.

    2. Identidade Surda Hbrida: so surdos que nasceram ouvintes e posteriormente

    se tornam surdos, conhecem a estrutura do portugus falado. Gldis narra a

    experincia prpria: Isso no to fcil de ser entendido, surge a implicao

    entre ser surdo, depender de sinais, e o pensar em portugus, coisas bem

    diferentes que sempre estaro em choque. Assim, voc sente que perdeu aquela

    parte de todos os ouvintes e voc tem pelo meio a parte surda. Voc no um,

    voc duas metades.

    3. Identidade Surda de Transio: eu especificaria nesta categoria os surdos que

    so oralizados, foram mantidos numa comunicao auditiva, so filhos de pais

    ouvintes, e tardiamente descobrem a comunidade surda, e nessa transio, os

    surdos passam pela desouvintizao, isto , passam do mundo auditivo para o

    mundo visual.

    4. Identidade Surda Incompleta: so surdos que so dominados pela ideologia

    ouvintista, ele no consegue quebrar o poder dos ouvintes que fazem de tudo

    para medicalizar o surdo, negam a identidade surda como uma diferena, so

    surdos estereotipados, acham os ouvintes como superiores a eles.

    5. Identidade Surda Flutuante: os surdos tm conscincia ou no da prpria

    surdez, vtima da ideologia ouvintista. So surdos conformados e acomodados a

    situaes impostas pelo ouvintismo, no tem militncia pela causa surda, so

    surdos que oscilam de uma comunidade a outra, no conseguem viver em

    harmonia, em nenhuma comunidade, por falta de comunicao com ouvintes e

    pela falta de Lngua de Sinais com surdos.

    Tiago M. Saretto 19

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    14. INTRPRETE E SUA IMPORTNCIA: Intrprete Pessoa que interpreta de uma lngua (lngua fonte) para outra (lngua alvo) o que foi dito. Lngua fonte a lngua que o intrprete ouve ou v para, a partir dela, fazer a traduo e interpretao para a outra lngua (a lngua alvo). Lngua alvo a lngua na qual ser feita a traduo ou interpretao. Intrprete de lngua de sinais Pessoa que interpreta de uma dada lngua de sinais para outro idioma, ou deste outro idioma para uma determina lngua de sinais. O que envolve o ato de interpretar? Envolve um ato COGNITIVO-LINGSTICO, ou seja, um processo em que o intrprete estar diante de pessoas que apresentam intenes comunicativas especficas e que utilizam lnguas diferentes. O intrprete est completamente envolvido na interao comunicativa (social e cultural) com poder completo para influenciar o objeto e o produto da interpretao. Ele processa a informao dada na lngua fonte e faz escolhas lexicais, estruturais, semnticas e pragmticas na lngua alvo que devem se aproximar o mais apropriadamente possvel da informao dada na lngua fonte. Assim sendo, o intrprete tambm precisa ter conhecimento tcnico para que suas escolhas sejam apropriadas tecnicamente. Portanto, o ato de interpretar envolve processos altamente complexos. O intrprete de libras o profissional que domina a lngua de sinais e a lngua falada do pas e que qualificado para desempenhar a funo de intrprete. No Brasil, o intrprete deve dominar a lngua brasileira de sinais e lngua portuguesa. Ele tambm pode dominar outras lnguas, como o ingls, o espanhol, a lngua de sinais americana e fazer a interpretao para a lngua brasileira de sinais ou vice-versa (por exemplo, conferncias internacionais). Alm do domnio das lnguas envolvidas no processo de traduo e interpretao, o profissional precisa ter qualificao para atuar como tal. Isso significa ter domnio dos processos, dos modelos, das estratgias e tcnicas de traduo e interpretao. O profissional intrprete tambm deve ter formao especfica na rea de sua atuao (por exemplo, a rea da educao). Realizar a interpretao da lngua falada para a lngua sinalizada e vice-versa observando os seguintes preceitos ticos:

    a) Confiabilidade (sigilo profissional);

    b) Imparcialidade (o intrprete deve ser neutro e no interferir com opinies prprias);

    Tiago M. Saretto 20

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    c) Discrio (o intrprete deve estabelecer limites no seu envolvimento durante a

    atuao);

    d) Distncia profissional (o profissional intrprete e sua vida pessoal so separados);

    e) Fidelidade (a interpretao deve ser fiel, o intrprete no pode alterar a

    informao por querer ajudar ou ter opinies a respeito de algum assunto, o objetivo da interpretao passar o que realmente foi dito).

    Tiago M. Saretto 21

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    15. ALGUNS MITOS SOBRE O PROFISSIONAL INTRPRETE DE LIBRAS:

    1. Professores de surdos so intrpretes de lngua de sinais?

    No verdade que professores de surdos sejam necessariamente intrpretes de lngua de sinais. Na verdade, os professores so professores e os intrpretes so intrpretes. Cada profissional desempenha sua funo e papel que se diferenciam imensamente. O professor de surdos deve saber e utilizar muito bem a lngua de sinais, mas isso no implica ser intrprete de lngua de sinais. O professor tem o papel fundamental associado ao ensino e, portanto, completamente inserido no processo interativo social, cultural e lingstico. O intrprete, por outro lado, o mediador entre pessoas que no dominam a mesma lngua abstendo-se, na medida do possvel, de interferir no processo comunicativo.

    2. As pessoas ouvintes que dominam a lngua de sinais so intrpretes? No verdade que dominar a lngua de sinais seja suficiente para a pessoa exercer a profisso de intrprete de lngua de sinais. O intrprete de lngua de sinais um profissional que deve ter qualificao especfica para atuar como intrprete. Muitas pessoas que dominam a lngua de sinais no querem e nem almejam atuar como intrpretes de lngua de sinais. Tambm, h muitas pessoas que so fluentes na lngua de sinais, mas no tm habilidade para serem intrpretes.

    3. Os filhos de pais surdos so intrpretes de lngua de sinais? No verdade que o fato de ser filho de pais surdos seja suficiente para garantir que o mesmo seja considerado intrprete de lngua de sinais. Normalmente os filhos de pais surdos intermedeiam as relaes entre os seus pais e as outras pessoas, mas desconhecem tcnicas, estratgias e processos de traduo e interpretao, pois no possuem qualificao especfica para isso. Os filhos fazem isso por serem filhos e no por serem intrpretes de lngua de sinais. Alguns filhos de pais surdos se dedicam a profisso de intrprete e possuem a vantagem de ser nativos em ambas as lnguas. Isso, no entanto, no garante que sejam bons profissionais intrpretes. O que garante a algum ser um bom profissional intrprete , alm do domnio das duas lnguas envolvidas nas interaes, o profissionalismo, ou seja, busca de qualificao permanente e observncia do cdigo de tica. Os filhos de pais surdos que atuam como intrprete tem a possibilidade de discutir sobre a sua atuao enquanto profissional intrprete na associao internacional de filhos de pais surdos (www.coda-international.org).

    Tiago M. Saretto 22

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    16. EXISTEM DOIS EXTREMOS PERIGOSOS NA EDUCAO DE SURDOS: REJEIO:

    Declaradamente ou no, recusar o filho como sendo seu;

    Devido ao complexo de culpa que pode existir pelo que aconteceu,

    conseqente divrcio e at mesmo alcoolismo na famlia;

    Estigmatizar o filho, que de esperana passou a ser fardo;

    Responsabilizar os outros pela educao dos filhos.

    SUPERPROTEO:

    O filho frgil e indefeso esse filhinho se tornar num filho que, por

    ter sido mimado poder se tornar o indomvel;

    Por ser frgil h uma tendncia e limitar as atividades, tirando a autonomia e

    iniciativa;

    H tendncia tambm de uma permissividade excessiva, para que no fique

    mais revoltado, utilizando diferentes pesos e medidas.

    Devido a este quadro o filho, quando adulto, ter dificuldades em se relacionar

    com pessoas que no repitam esse comportamento superprotecionistas, ser o

    dono-o-mundo.

    Tiago M. Saretto 23

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    17. ALGUMAS VARIAES DA LIBRAS: 1) MORFOLGICA: S mudam certos traos da lngua, nos itens Movimento,

    Configurao da Mo ou Ponto e Articulao. uma pequena diferena nesses

    parmetros. So dialetos sociais.

    2) MORFOSSINTTICA: So diferenas na estrutura sinttica da frase. Ex.: apagar.

    3) LEXICAL: Diferentes significados para o mesmo sinal. Ex.: no poder.

    Tiago M. Saretto 24

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    18. DIFERENAS BSICAS EM LIBRAS: 1. Palavras: que geralmente usam sinais correspondentes forma de letras ou nmeros

    (oriundos do alfabeto manual).

    Ex: C depressa, quente, cunhado, titio, etc.

    4 acusar, quarta-feira, conhecer, admirar, amigo, etc.

    5 inteligente, gritar, quinta-feira, explorar, etc.

    Y bobo, triste, sofrer, vaca, etc.

    R responsvel, dono, roxo, Rssia, etc.

    V ou 2 vidro, sempre, errado, lembrana, etc.

    2. Palavras simples: de um sinal por mo direita.

    Ex: amigo, caf, avio, sbado, etc.

    3. Palavras compostas: de dois ou mais sinais.

    Ex: aougueiro = homem + vende + carne

    Faqueiro = caixa + guarda + faca + garfo + colher

    Piloto = homem + direo + avio

    Pai = homem + beno

    4. Palavras que pem ter dois ou mais movimentos diferentes: realizados ao mesmo

    tempo, ou movimentos e uma das mos sobre outra parte do corpo parado.

    Ex: cadeira, nervosa, papel, chocolate, etc...

    5. Palavras que podem ter mais dois movimentos iguais: realizados ao mesmo

    tempo.

    Ex: empregada, diferente, namorada, calma, feriado, etc.

    6. Palavras que tm sinal, mas no h movimentos de mos, s da FACE:

    Ex: roubo, ato sexual.

    Tiago M. Saretto 25

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    7. Palavras que tm sinais e sentidos diferentes: mas que mantm a mesma forma em

    portugus.

    Ex: FALTAR: 1. Ele faltou ontem (verbo no comparecimento).

    2. Faltou arroz ontem (verbo insuficincia).

    APAGAR: 1. Apaga a luz;

    2. Apaga o quadro negro;

    3. Apaga o gs;

    MELHOR: 1. Voc melhor atleta;

    2. Voc est melhor? (quando estava doente)

    8. Palavras que tm dois ou mais sentidos diferentes com apenas um sinal:

    Ex: No poder / suspenso / no dar tempo / ocupado

    Doce / acar.

    9. Frases que tm um sinal s:

    Ex: Quantos anos voc tem? = Idade.

    Estou com dor-de-cabea = cabea + dor.

    Estou com fome = fome

    Qual o seu sinal? = sinal.

    10. Palavras que no encontram palavras correspondentes em Lngua Portuguesa:

    Ex: To na minha.

    Constranger.

    Ludibriar que est falando em sinais.

    Tiago M. Saretto 26

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    19. INTRODUO BSICA GRAMTICA DE LIBRAS: 1. NOMES:

    a) Quando ganhamos um sinal como se fizssemos parte da comunidade Surda. o

    batismo dos Surdos. Caso contrrio, a pessoa tem o seu nome somente em

    dactolologia.

    b) O processo de nomear igual aos outros processos. Surge um objeto ou situao

    novas e ele ganha uma nomeao.

    c) Como nas lnguas orais, ns tambm emprestamos sinais de outras lnguas. Hoje ns

    usamos palavras inglesas, francesas, etc., dentro da nossa cultura.

    d) As palavras surgem naturalmente enquanto o mundo dos Surdos vai se ampliando.

    e) Se eu no tenho o sinal, o nome, eu empresto a primeira letra da palavra no alfabeto

    manual.

    f) Morfologicamente em sinais mantm a forma neutra, no h diferena e gnero e

    nmero, como o portugus. Essa diferena acontece sintaticamente em sinais (os

    adjetivos esto na forma neutra).

    Ex: MUITOS/MUITAS > Em sinais no tem essa flexo de nmero.

    2. ARTIGOS:

    No portugus ns temos artigos definidos e indefinidos. Nos sinais isto no existe. Pode

    estar incorporado entro do prprio sinal.

    Ex: sentar.

    a) Uma pessoa sentada.

    b) Vrias pessoas sentadas

    Usamos classificadores.

    Tambm s vezes est incorporada a posio de como as

    pessoas esto sentadas, etc.

    3. CLASSIFICADORES:

    a) Podem ser animados ou inanimados;

    Tiago M. Saretto 27

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    b) como se fosse uma espcie de pronome especial que substitui o nome. Elas

    trazem consigo gnero, nmero, etc.

    c) Os classificadores trazem idia de tamanho, volume, quantidade, etc.

    d) prprio dos sinais, no tm em portugus e evita o portugus sinalizado;

    e) Substituem alguns substantivos, adjetivos, locativos. Classificador uma figurao e

    que representa uma classe e objetos, qualidades ou localizaes.

    4. CONJUNES/PREPOSIES:

    Ex: mas, porm, etc. e tem menos que o portugus.

    a) As frases no so soltas, o sentido das palavras vai fazendo o ligamento da idia;

    b) A coeso textual mais uma questo de lgica do que gramtica, no precisa estar

    explcito o conectivo;

    c) Na maioria das vezes vm incorporadas aos verbos, principalmente aos verbos e

    movimentos. Eu no preciso dizer ir para, no preciso fazer para em sinais, ou vir

    de, a idia j est implcita na sinalizao.

    5. ADVRBIOS / SUBSTANTIVOS:

    a) Sinais Especficos EX: beijar (normal).

    b) Expresso Facial ou Corporal Ex: beijar muito

    Mais ou menos cansado

    c) Movimento Ex: beijar caliente

    Muito cansado

    como se o advrbio viesse junto com os adjetivos.

    6. PRONOMES/DITICOS/NDICES:

    a) PRONOMES PESSOAIS: em LS normalmente um ndice (apontar).

    Ex: 1a pessoa singular (EU)

    2a pessoa singular (TU)

    2a pessoa dual (vocs dois)

    2a pessoa trial (vocs trs)

    2a pessoa plural (NS)

    Tiago M. Saretto 28

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    3a pessoa (apontar para outra pessoa)

    3a pessoa dual (apontar para mais duas pessoas)

    b) PRONOMES DEMONSTRATIVOS: So ndices (aponta).

    Em portugus ns temos aqui, ali, l, acol, etc...

    c) PRONOMES POSSESSIVOS: meu, teu, seu, deles, delas.

    7. PROCESSO ANAFRICO:

    Colocar pessoas (o sujeito) imaginrias no ambiente para falar delas. prprio da

    LIBRAS.

    8. VERBOS ALGUNS TIPOS E VERBOS:

    a) VERBOS PLANOS no tem flexo, nem movimento.

    Ex: brincar, trabalhar, estudar, nunca variam, so os mesmos para qualquer pessoa.

    Geralmente so feitos em espao neutro, fora do corpo.

    Eu trabalho.

    Voc trabalha.

    Ele trabalha.

    b) VERBOS E FENMENO A NATUREZA so intransitivos e no tem sujeito, por

    que o prprio verbo ao.

    Ex: chover, relampejar/ trovejar, nevar.

    GERNDIO = movimento constante.

    c) VERBOS COM CONCORDNCIA: tm movimentos com concordncia de pessoas.

    Ex: Perguntar, responder, avisar, dar, telefonar, mostrar.

    d) VERBOS ESPACIAIS so verbos mais complexos, eles no tm s ao, mas

    podem ter direo tambm.

    Verbos e raiz para ou raiz de (ir para ou vir de)

    Tiago M. Saretto 29

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    Os verbos espaciais indicam, com a configurao das mos, os classificadores:

    Ex: verbos classificadores eles incorporam mais idias, o objeto direto, indireto ou

    o instrumento.

    Esses verbos tm uma raiz de representao icnica, eles imitam de alguma forma a

    sua realidade.

    VIR (e avio, carro, carroa, etc). LAVAR (roupa, loua, casa, etc). PEGAR

    (dependendo do objeto)

    e) VERBOS MULTIDIRECIONAIS representam vrios lugares, no esto presos a

    um lugar s. EX: ANDAR (eu posso andar para vrias direes). O VIR e o IR

    normalmente mostram a procedncia.

    Tiago M. Saretto 30

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    20. COMO TORNAR-SE UM TILS (Tradutor e Intrprete de Lngua de Sinais)? 1. Ser fluente em Lngua de Sinais (LS) e Lngua Oral (LO);

    2. Aprender e dominar as tcnicas e interpretao;

    3. Manter uma atitude tica profissional;

    4. Convivncia com a Comunidade Surda a fim de: manter-se atualizado com a

    gria, termos tcnicos e os diversos nveis e sinalizao; cultivar a fluncia e

    entrosar-se culturamente;

    5. Capacitar-se profissionalmente procurando um curso srio e formao e

    atualizar-se atravs de uma formao continuada.

    6. Associar-se e freqentar os rgos congregadores dos profissionais tradutores e

    intrpretes e Lngua de Sinais.

    Tiago M. Saretto 31

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    21. BIBLIOGRAFIA: Capovilla, Fernando Csar & Raphael, Wlkiria Duarte Dicionrio de Libras volumes 1 e 2 FENEIS SP Felipe, Tnia A. 2005 Libras em contexto: curso bsico: Livro do professor. Braslia, Ministrio da Educao, Secretaria de Educao Especial. ______2005. Libras em contexto: curso bsico: Livro do estudante. Braslia, Ministrio da Educao. REVISTA Lngua de Sinais Editora Escala SP e-mail: [email protected] Apostila Associao dos Surdos de Goinia Centro Especial Elysio Campos.

    Tiago M. Saretto 32

    mailto:[email protected]
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    Tiago M. Saretto [email protected]

    (65) 8418-6598 - Intrprete da Lngua Brasileira de Sinais no Centro de Apoio aos Surdos CAS

    (65)3321-4346

    - Intrprete da Lngua Brasileira de Sinais da Secretaria Municipal de Educao de

    Cuiab.

    - PROLIBRAS/MEC 2007 Intrprete e Traduo da LIBRAS.

    Tiago M. Saretto 33

    mailto:[email protected]