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ESCOLA POLITCNICA DA UNIVERSIDADE DE SO PAULO
VALDIR PINTO DE SOUZA
Gesto de Projetos de Desenvolvimento de Autopeas
So Paulo 2006
VALDIR PINTO DE SOUZA
Gesto de Projetos de
Desenvolvimento de Autopeas
Trabalho de Concluso de Curso apresentado Escola Politcnica da Universidade de So Paulo para obteno do Ttulo de Mestre em Engenharia Automotiva Mestrado Profissionalizante. rea de Concentrao: Engenharia Automotiva Orientador: Prof. Dr. Marcelo Massarani
So Paulo 2006
DEDICATRIA A minha famlia: Jos, Maria, Cludio, Sandro,
Valria, Vincius e Gabriel, motivo constante das
minhas inspiraes e razo maior do meu
orgulho...
RESUMO
As indstrias de autopeas desenvolvem produtos atravs de metodologias provenientes das montadoras ou criadas para a adequao ao prprio negcio. medida que estas indstrias diversificam a carteira de clientes, criam a necessidade de utilizar diversas metodologias para alcanar os diversos requisitos. Nos dois casos, metodologia prpria ou das montadoras, o objetivo o mesmo: desenvolver produtos que garantam a satisfao do cliente e, ao mesmo tempo, que realizem os objetivos estratgicos da empresa fornecedora, entrando no mercado no tempo determinado, com a qualidade definida e com custo de produto e investimento adequados ao projeto. Duas metodologias so reconhecidas para a gesto e desenvolvimento de produtos e processos: o Planejamento Avanado da Qualidade do Produto (APQP) e o mtodo de gesto de projetos do Project Management Institute (PMI). Estes mtodos, apesar de conhecidos e utilizados separadamente, o ltimo em diversas aplicaes alm da indstria automotiva e de autopeas, no esto integrados para que o resultado do desenvolvimento de autopeas seja maximizado. Este trabalho rene e analisa os tpicos relevantes dos dois mtodos atravs da reviso da bibliografia sobre o tema: as fases do desenvolvimento do produto definidas pelo APQP e as reas de conhecimento da gesto de projetos do PMI. Em seguida, prope um modelo de integrao das duas metodologias para a indstria de autopeas e estabelece, atravs de uma empresa atuante no segmento, qual o nvel de aderncia ao modelo proposto que ento aplicado em um estudo de caso na empresa-alvo. Ao final, as concluses e resultados da aplicao do modelo so descritos e comparados aos resultados anteriores e os temas relevantes de pesquisas adicionais, listados.
Palavras-chave: Gesto de Projetos; Desenvolvimento de Produtos; Planejamento da Qualidade do Produto.
ABSTRACT
Autoparts manufacturers develop products by means of methodologies originated by automakers or using other methods created to suit their businesses` requirements. The wider the customers portfolio is more important is the use of methodologies to fulfil customers requirements. For both cases, customized or automakers methods the aim remains the same: develop products in such a way to guarantee customers satisfaction while achieving strategic companys goals, launching products on time, with the determined quality, suitable product cost and investment amounts. Two methodologies are recognized to manage and develop products and processes: Advanced Product Quality Planning (APQP) and the Project Management Institute (PMI) project management model. Although they both are known and used separately, while PMI is used for a wide variety of projects beyond automotive scope, these methods are not integrated to maximize autoparts development results. This research analyses and merges relevant issues of both methods by means of literature revision: product development phases defined by APQP and PMI knowledge areas. Furthermore, an integration model is presented focused on autoparts segment and the proposed model is applied to the chosen company in one case study. At last, results and conclusions are described and compared to previous results and relevant additional research themes are listed.
Key words: Program Management, Product Development; Product Quality Planning.
LISTA DE FIGURAS
Figura 1. Ciclo PDSA. (IQA - Manual do APQP, 1995)...................................... 18
Figura 2. Cronograma do APQP. (IQA Manual do APQP, 1995)..................... 25
Figura 3. Condies para o processo de desenvolvimento de novos produtos e
processos na indstria de autopeas...................................................................... 33
Figura 4. Interao dos Grupos de Processo em um projeto. ( PMBOK Guide,
2004). .................................................................................................................... 40
Figura 5. Tringulo dos Grupos de Processo do Gerenciamento de Projetos.
(PMBOK Guide, 2004). ...................................................................................... 41
Figura 6. Modelo de restrio tripla no gerenciamento de projetos do PMI. (ESI,
2005). .................................................................................................................... 42
Figura 7. Modelo de restrio qudrupla no gerenciamento de projetos de Norrie e
Walker. (Fonte: Project Management Journal Dezembro 2004). ......................... 43
Figura 8. Adaptao do modelo de restrio qudrupla no gerenciamento de
projetos de Atkinson. (International Journal of Project Management, 2004). ...... 44
Figura 9. Ciclo financeiro de vida de um projeto. (Vargas, 2002)........................ 50
Figura 10. Fase 1 do APQP e seu relacionamento com os grupos de processo da
gesto de projetos.................................................................................................. 60
Figura 11. Fase 2 do APQP e seu relacionamento com os grupos de processo da
gesto de projetos.................................................................................................. 72
Figura 12. Fase 3 do APQP e seu relacionamento com os grupos de processo da
gesto de projetos.................................................................................................. 81
Figura 13.Fase 4 do APQP e seu relacionamento com os grupos de processo da
gesto de projetos.................................................................................................. 84
Figura 14. Fase 5 do APQP e seu relacionamento com os grupos de processo da
gesto de projetos.................................................................................................. 94
Figura 15. Exemplo de alavancas e pedais de freio de estacionamento disponveis
no mercado. ........................................................................................................... 95
Figura 16.Cronograma inicial para desenvolvimento do sistema de freio de
estacionamento...................................................................................................... 98
Figura 17. Formulrio de requisitos do projeto do produto/processo do sistema de
freio de estacionamento....................................................................................... 104
Figura 18. Formulrio do plano de verificao do projeto e relatrio. Adaptado do
AIAG e Manual do APQP (1995)....................................................................... 105
Figura 19. Representao esquemtica da curva de aprendizagem dos operadores
da linha de montagem do novo produto.............................................................. 118
Figura 20. Formulrio para registro e acompanhamento das aes necessrias ao
projeto. ................................................................................................................ 119
Figura 21. Interao entre APQP e Gesto de Projetos. ..................................... 128
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
AIAG Automotive Industry Action Group
ANPQP Alliance New Product Quality Procedure
APQP Advanced Product Quality Planning
APQP/CP Advanced Product Quality Planning and Control Plan
BSC Balance Scorecard
CONTRAN Conselho Nacional de Trnsito
CPk ndice estatstico de capacidade do processo
DFA Design for Assembling
DFM Design for Manufacturing
DFMEA Design Failure Mode and Effect Analysis
DVP&R Design Verification Plan and Report
EBIAT Earnings before interests, amortization and taxes
ECE Economic Comission for Europe of the United Nations
ES Engenharia Simultnea
FEA Finite Element Analysis
FMEA Failure Mode and Effect Analysis
FMVSS Federal Motor Vehicle Safety Standards and Regulation
GVW Gross Vehicle Weight
IAOB International Automotive Oversight Bureau
IMDS International Material Data System
IN Instrues Normativas
ISO International Standardization Organization
NR 10 Norma Regulamentadora 10
OHSAS Occupational Health and Safety Standard
PDCA Ciclo Plan-Do-Check-Act
PDSA Ciclo Plan-Do-Study-Act
PFMEA Process Failure Mode and Effect Analysis
PM Program Manager
PMBOK Program Management Body of Knowledge
PMI Project Management Institute
POC Processo Orientado ao Cliente
PPAP Production Part Approval Process
PPRPS Programa de Preveno de Riscos de Prensas e Similar
SOX Lei Sarbanes-Oxley
TGR Things Gone Right
TGW Things Gone Wrong
VDA Verband der Automobilindustrie
SUMRIO
1. INTRODUO ....................................................................................... 13
1.1 Justificativa ............................................................................................... 14
1.2 Objetivos do estudo................................................................................... 15
2. OS PRINCIPAIS ELEMENTOS DO APQP........................................ 17
2.1 O conceito de APQP na indstria de autopeas ........................................ 17
2.2 Metas do projeto do produto ..................................................................... 27
2.3 Metas do projeto do processo.................................................................... 27
2.4 Requisitos especficos do cliente .............................................................. 28
2.5 Metas de custo do produto e investimentos .............................................. 28
2.6 Metas organizacionais............................................................................... 29
2.7 Metas dos Sistemas de gesto ................................................................... 31
2.8 Legislao ................................................................................................. 32
2.9 A engenharia simultnea no APQP e gesto de projetos .......................... 33
3. A METODOLOGIA DO PMI PARA GESTO DE PROJETOS ..... 36
3.1 Definies ................................................................................................. 37
3.1.1 Grupos de processos no gerenciamento de projetos. ............................. 38
3.2 As restries dos projetos ......................................................................... 42
3.3 reas de conhecimento da gesto de projetos.......................................... 44
3.3.1 Gerenciamento da integrao do projeto.......................................... 44
3.3.2 Gerenciamento do escopo do projeto............................................... 45
3.3.3 Gerenciamento do tempo do projeto ................................................ 45
3.3.3.1 A importncia do cronograma................................................. 45
3.3.4 Gerenciamento do custo do projeto ................................................. 48
3.3.5 Gerenciamento da qualidade do projeto........................................... 50
3.3.6 Gerenciamento dos recursos humanos do projeto............................ 50
3.3.7 Gerenciamento da comunicao do projeto ..................................... 51
3.3.8 Gerenciamento dos riscos do projeto ............................................... 52
3.3.9 Gerenciamento das aquisies do projeto ........................................ 52
4. INTEGRAO ENTRE O APQP E O MTODO DE GESTO DE
PROJETOS DO PMI .......................................................................................... 54
4.1 Integrao das reas de conhecimento do PMI e ferramentas do APQP .. 56
4.1.1 APQP Fase 1, os grupos de processo e as reas de conhecimento da
gesto de projeto. ...................................................................................... 56
4.1.2 APQP Fase 2, os grupos de processo e as reas de conhecimento da
gesto de projeto. ...................................................................................... 61
4.1.2.1 Escopo do projeto.................................................................... 63
4.1.2.2 Tempo do projeto .................................................................... 64
4.1.2.3 Custo do projeto ...................................................................... 65
4.1.2.4 Qualidade do projeto............................................................... 66
4.1.2.5 Recursos Humanos do projeto ................................................ 67
4.1.2.6 Aquisies do projeto.............................................................. 67
4.1.2.7 Comunicao do projeto ......................................................... 67
4.1.2.8 Riscos do projeto..................................................................... 68
4.1.2.9 Integrao do projeto............................................................... 69
4.1.3 APQP Fase 3, os grupos de processo e as reas de conhecimento da
gesto de projeto. ...................................................................................... 69
4.1.3.1 Escopo do projeto.................................................................... 71
4.1.3.2 Tempo do projeto .................................................................... 73
4.1.3.3 Custo do projeto ...................................................................... 73
4.1.3.4 Qualidade do projeto............................................................... 74
4.1.3.5 Recursos humanos do projeto ................................................. 76
4.1.3.6 Aquisies do projeto.............................................................. 77
4.1.3.7 Comunicao do projeto ......................................................... 77
4.1.3.8 Riscos do projeto..................................................................... 78
4.1.3.9 Integrao do projeto............................................................... 79
4.1.4 APQP Fase 4, os grupos de processo e as reas de conhecimento da
gesto de projeto. ...................................................................................... 79
4.1.4.1 Escopo do projeto.................................................................... 83
4.1.4.2 Tempo do projeto .................................................................... 83
4.1.4.3 Custo do projeto ...................................................................... 85
4.1.4.4 Qualidade do projeto............................................................... 85
4.1.4.5 Recursos humanos do projeto ................................................. 87
4.1.4.6 Aquisies do projeto.............................................................. 87
4.1.4.7 Comunicao do projeto ......................................................... 88
4.1.4.8 Riscos do projeto..................................................................... 88
4.1.4.9 Integrao do projeto............................................................... 89
4.1.5 APQP Fase 5, os grupos de processo e as reas de conhecimento da
gesto de projeto. ...................................................................................... 90
5. IMPLANTAO DO MTODO INTEGRADO DO APQP E
GESTO DO PMI NA EMPRESA ALVO ...................................................... 95
5.1 Estudo de caso: o sistema de freio de estacionamento.............................. 95
5.1.1 Estudo de caso: Fase 1 Planejar e Definir Programa .................... 99
5.1.2 Estudo de caso: Fase 2 Verificao do Projeto e Desenvolvimento
do Produto ............................................................................................... 103
5.1.3 Estudo de caso: Fase 3 Verificao do Projeto e Desenvolvimento
do Processo ............................................................................................. 110
5.1.4 Estudo de caso: Fase 4 Validao do Produto e do Processo ..... 116
5.1.5 Estudo de caso: Fase 5 Anlise da Retroalimentao e Ao
Corretiva.................................................................................................. 122
5.2 Discusses do estudo de caso: utilizao do mtodo de gesto. ............. 123
6. CONCLUSES ..................................................................................... 127
6.1 Vantagens do mtodo.............................................................................. 127
6.2 Desvantagens ou barreiras do mtodo..................................................... 129
6.3 Consideraes finais e sugestes de continuidade.................................. 130
7. ANEXOS ................................................................................................ 134
REFERNCIAS.................................................................................................167
13
1. INTRODUO
O setor de autopeas aplica com certa frequncia o processo de Planejamento
Avanado da Qualidade do Produto, Advanced Product Quality Planning (APQP),
para desenvolvimento de produtos e processos, durante sua operao. Segundo as
empresas, Chrysler, Ford e General Motors, atravs do manual Advanced Product
Quality Planning and Control Plan (1995), o APQP um mtodo estruturado de
definir e estabelecer os passos necessrios para assegurar que um produto satisfaa o
cliente. Este processo orienta a empresa a seguir passos em busca da excelncia do
desenvolvimento baseados em diversas ferramentas e pontos de verificao. Cada
empresa procura entender quais as entradas e sadas de cada sub-processo e lig-las a
uma cadeia lgica cuja sada final o lanamento do produto validado e a liberao
de seu respectivo processo produtivo para a fabricao em massa.
Os desafios enfrentados pelos projetos consistem em obedecer ao escopo,
custo e prazo determinados para que o produto possa ser lanado no mercado, com a
competitividade esperada e para que isto ocorra o modelo de gesto de projetos
exerce forte influncia no processo, de forma a garantir que as sadas do processo de
desenvolvimento sejam compatveis com os resultados planejados. Segundo o Project
Management Body of Knowlegde (PMBOK , 2004), o projeto definido como um
empreendimento temporrio com o objetivo de criar um produto ou servio nico.
Atravs dos dois conceitos descritos acima, no se evidencia a uma ligao
sistmica entre o APQP e a metodologia de gesto de projetos do Project
Management Institute (PMI), para empresas de autopeas, especificamente. Alguns
pontos importantes no so claramente definidos como pode-se exemplificar: os
critrios de satisfao do cliente podem no considerar o custo do desenvolvimento
do produto - desvios dos valores planejados devem ser absorvidos pelo fornecedor
responsvel; custos-prmio para manuteno dos prazos, da mesma maneira, no so
absorvidos pelo cliente; mudanas do escopo do projeto, sem a documentao mnima
comprobatria da cincia ou do desejo do cliente pela mudana, podem acarretar
alteraes significativas de custo do produto com a possvel inviabilidade do projeto.
As montadoras de veculos possuem processos prprios de gesto de projetos.
Cada uma delas cria a prpria linguagem para comunicao durante os projetos, seus
14
marcos, fases de transio e aprovao. A indstria de autopeas, porm, quando no
dedicada a um pequeno grupo de montadoras, precisa desenvolver mtodos
consistentes para cumprir os marcos dos projetos de todos os clientes. A misso de
assegurar que o produto ou servio satisfaa o cliente, portanto, multiplicada por
tantos quantos forem os diversos sistemas entendidos e utilizados pelos diversos
clientes.
1.1. Justificativa
A justificativa para realizao desta pesquisa a falta de estudos e literatura
especficos que comparem e integrem a anlise da forma de gesto do processo de
desenvolvimento de produtos e processos de autopeas, disseminada pelo APQP, e a
possibilidade de integrao com as tcnicas do PMI, visando a obteno dos melhores
resultados no lanamento de produtos e processos deste segmento. A anlise
realizada para a determinao da relao entre os passos prescritos no APQP, sua
forma de gesto, ferramentas e a contribuio que o modelo do PMI pode dar para
garantir que, no s o escopo tcnico seja atingido, mas tambm o custo e o prazo
determinados. O ambiente escolhido foi uma empresa de autopeas onde o processo
de APQP utilizado, porm, a gesto de projetos no ocorre de forma estruturada,
mas intuitiva e depende do conhecimento dos colaboradores e integrantes da equipe.
Esta pesquisa de interesse das empresas fabricantes de autopeas e,
particularmente, interessa aos profissionais que gerenciam, desenvolvem e utilizam
metodologias para garantir a obteno dos resultados de projetos de desenvolvimento
de autopeas. Atravs dela, sistematicamente, se avana pelas barreiras e desafios
impostos rea de desenvolvimento de produtos e processos: gerir prazos, custos e o
escopo de projetos de autopeas em busca dos resultados estratgicos e da satisfao
dos clientes.
Clark e Fujimoto (1991) declararam que o desenvolvimento de novos produtos
tornou-se o ponto focal da competio industrial. Desenvolver melhores produtos,
mais rpido, de forma mais eficiente e eficaz esto no topo da agenda competitiva.
Em complemento, os mesmos autores ainda afirmaram que a vantagem competitiva
adquirida por empresas que podem trazer uma tecnologia para o mercado em um
15
produto que contempla as necessidades do cliente de maneira eficiente e em tempo
controlado.
No mercado de autopeas, os produtos podem ser projetados pelas empresas
fornecedoras, pelos clientes ou por ambos. A tecnologia pode e deve ser incorporada
como vantagem competitiva. Porm, o escopo definido para os projetos, assim como
o prazo e o custo devem ser, obrigatoriamente, atingidos, sob pena de anular a
vantagem oferecida pela nova tecnologia pelo no cumprimento dos prazos, pelo
custo final proibitivo ou mesmo pela falta de adequao do escopo atingido em
comparao com o requerido.
1.2.Objetivos do estudo
Esta pesquisa avalia como os modelos do APQP e do PMI podem ser
integrados de forma a maximizar os resultados do processo de desenvolvimento de
produtos e processos, dentro de uma empresa de autopeas de pequeno e mdio porte,
aumentando a probabilidade de sucesso do empreendimento atravs de listas de
verificao das fases do projeto. O desdobramento desta premissa gerou a
necessidade de investigao complementar para definir um modelo para utilizao
neste setor fabril. Inicialmente, descreve-se as ferramentas do APQP direcionadas
para obteno do escopo do projeto e sua relevncia para atingir-se o custo
determinado e, finalmente, o prazo definido, avaliando a forma que o APQP
determina o caminho crtico e como o mtodo do PMI o gerencia. A pesquisa tambm
estabelece a correlao entre o processo do APQP e cada uma das reas de
conhecimento da gerncia de projetos, descritas pelo PMI, com o objetivo de
identificar quais elementos podem ser integrados de forma a obter o resultado descrito
acima.
Para avaliar a eficcia do modelo, o trabalho inclui uma lista de situaes de
sucessos e insucessos no lanamento de produtos e processos em uma indstria de
autopeas, cujos motivos podem ser relacionados integrao dos dois modelos,
APQP e PMI, ou mesmo falta desta integrao, para explicar os resultados. A
gesto de projetos proposta pelo PMI pode aumentar a eficincia e a eficcia do
processo de desenvolvimento de produtos e processos, na indstria de autopeas,
atravs da integrao das reas de conhecimento da gerncia de projetos com as
16
ferramentas do APQP, ao mesmo tempo em que o desenvolvimento de produtos e
processos pela metodologia do APQP garante a estruturao necessria, atravs de
suas ferramentas, para um processo de desenvolvimento direcionado satisfao do
cliente. O produto em desenvolvimento deve trazer satisfao tanto para o cliente
como para o fornecedor, atravs dos resultados e suas conseqncias no negcio. Ao
lado da satisfao do cliente deve-se ter como objetivo tambm a satisfao dos
acionistas, dos funcionrios, dos sub-fornecedores e da comunidade.
17
2. OS PRINCIPAIS ELEMENTOS DO APQP
2.1. O conceito de APQP na indstria de autopeas
O setor de autopeas utiliza, em grande parte de suas indstrias, o
Planejamento Avanado da Qualidade do Produto (APQP) como diretriz para
desenvolver o plano da qualidade do produto que tem, como objetivo atingir a
satisfao do cliente. A comunicao torna-se mais direta em funo das definies,
conceitos e requisitos desenvolvidos e declarados no manual de mesmo ttulo e que
podem ser compartilhados, discutidos e entendidos por toda a rede de fornecedores. O
APQP suportado por alguns pilares sem os quais no h sentido utiliz-lo:
1) O APQP utiliza uma equipe multifuncional: todas as reas e processos da
organizao devem estar presentes, simultaneamente ou no, s definies traadas
pela equipe de APQP para que se obtenha mximo ganho com relao s
experincias, conhecimentos, lies aprendidas, restries e polticas a serem
utilizadas no desenvolvimento de um novo produto ou processo para a organizao;
2) O APQP precisa de um mtodo estruturado de anlise, resoluo de
problemas e retroalimentao das informaes. Planejar, Realizar, Estudar e Agir so
as quatro fases recomendadas pelo manual do APQP. O conceito pode ser
enriquecido atravs da espiral de projeto. Conforme Kaminski (2000), os projetos no
se desenvolvem de forma linear, com cada etapa sendo detalhada completamente
antes de se passar para a seguinte. O desenvolvimento de um projeto interativo, pois
cada item depende de outros para que o sistema como um todo funcione
harmonicamente. O projeto mais bem definido atravs da espiral de projeto na qual
cada volta representa um maior refinamento das definies e conceitos at convergir
para a configurao final do sistema.
3) O APQP baseado na Engenharia Simultnea (ES): as presses do mercado
por desenvolvimentos mais rpidos, de menor custo, com maior qualidade e
flexibilidade e que promovam a satisfao do cliente exigem que a ES seja utilizada
no processo de APQP de forma a integrar todas as capacidades tcnicas e
administrativas da organizao e da prpria cadeia de fornecimento, incluindo
fornecedores e clientes, para obteno das metas do projeto.
18
O processo dividido em fases que se relacionam e se sobrepem. Conforme
Clark e Fujimoto (1991), a taxa de simultaneidade entre estas fases depender da
proporo em que elas possam se sobrepor, mantendo foco sobre o custo do projeto,
seus recursos, prazo e requisitos dos clientes.
O processo de APQP tambm possui a caracterstica de continuidade. Atravs
do ciclo Planejar-Realizar-Estudar-Agir, reconhecido pela sigla PDSA, Plan-Do-
Study-Act, busca-se contnua melhoria no processo de desenvolvimento at que as
expectativas do cliente sejam atingidas. Sucessivas passagens pelo ciclo refinam as
solues e seus resultados. O ciclo ilustrado, abaixo.
Figura 1. Ciclo PDSA. (IQA - Manual do APQP, 1995).
As fases do processo de APQP so definidas da seguinte forma:
1) Planejar e definir programa: assegura que as necessidades e expectativas do
cliente sejam claramente compreendidas. O cliente parte integrante da equipe e
desenvolve a ES a partir do incio do projeto. Grande parte dos problemas enfrentados
pela indstria de autopeas reside no fato do cliente estar afastado do
desenvolvimento do produto ou processo e, sem essa constante interao, no h
como controlar e garantir que as necessidades sempre mutantes do cliente sejam
plenamente identificadas e atingidas. Torna-se importante, a participao ativa do
cliente para que as interfaces entre o componente em desenvolvimento e os demais
sistemas e componentes do veculo sejam constantemente analisadas criticamente e
19
seus requisitos prontamente atualizados principalmente em projetos em que o
fornecedor possui capacidade tecnolgica para desenvolver e testar todo o sistema. As
presses por resultados imediatos, a rotatividade dos engenheiros pelas diversas reas
da empresa, a falta de especializao dos engenheiros dos clientes nos sistemas que
esto desenvolvendo dificultam o levantamento das reais necessidades do projeto.
Parte desta falta pode ser minimizada pela interao provocada pela engenharia
simultnea. Rara no a falta de definio do projeto em seu escopo comercial o que
implica em restries adicionais ao desenvolvimento do projeto no que se refere ao
cumprimento de prazos. Neste ponto, a interao provocada pela engenharia
simultnea fundamental para se recuperar o tempo precioso perdido por falta da
definio do pedido. Eliminada esta restrio, a engenharia simultnea poderia atuar
na otimizao do prazo do projeto.
2) Verificao do projeto e desenvolvimento de produto: nesta fase, assegura-
se que os requisitos de engenharia e as demais informaes tcnicas sejam revisados e
amplamente criticados, gerando uma anlise de viabilidade do produto e seu processo
de manufatura. As ferramentas preventivas como o DFMEA (Design Failure Mode
and Effect Analysis), DFA (Design for Assembly), DFM (Design for Manufacturing),
FEA (Finite Element Analysis) e outras de verificao como o DVP&R (Design
Verification Program & Report) e definio das caractersticas especiais do produto e
do processo so utilizadas para assegurar que o projeto do produto possui grande
probabilidade de atingir todas as especificaes e requisitos levantados atravs da
captao da voz do cliente e da definio de escopo do projeto. As sadas esperadas
desta fase envolvem os desenhos, modelos 3D, as especificaes de engenharia e a
verificao do projeto do produto atravs de um plano de testes realizados e
respectivos relatrios. Ao final da fase, esperado que a equipe responda a anlise de
viabilidade onde se garante que o produto projetado pode ser manufaturado,
montado, testado, embalado e entregue em quantidade suficiente, a um custo aceitvel
pelo cliente e dentro do prazo , conforme cita o manual do APQP (1995). A
realidade comea a distinguir-se da prescrio a partir deste ponto. Avaliando a
afirmao do final da frase, em trs fases distintas, pode-se ressaltar:
2.1) Para garantir que o produto possa ser manufaturado, montado, testado,
embalado e entregue em quantidade suficiente, o projeto do produto precisa ser
20
avaliado pela equipe de engenharia simultnea, onde especialistas de todas as reas
envolvidas, incluindo as reas do cliente, possam criticar, questionar e obter este
consenso. O projeto pode ser adequado aplicao do cliente, mas impossvel de ser
manufaturado, com os nveis de qualidade requeridos, com os equipamentos
disponveis. Mesmo os equipamentos no adequados podem estar indisponveis. O
fato que, diferentemente do que muitas empresas hoje praticam no mercado, as
perguntas da anlise de viabilidade precisam ser profundamente verificadas e dados e
fatos devem nortear as respostas inseridas na anlise. As lies aprendidas devem
integrar as futuras anlises de viabilidade: exemplo pode ser dado com relao s
exportaes de produtos brasileiros. A anlise de viabilidade de tais produtos precisa
ser estendida para o campo logstico, onde a rede de distribuio, a armazenagem ou
embalagem deve ser considerada como fator crtico; as substncias restritas e as
legislaes locais devem ser includas na anlise inicial, pois, com o advento da ISO
14000 e da crescente preocupao ambiental nos pases desenvolvidos e at naqueles
em desenvolvimento, certas substncias no devem ser integradas ao produto ou
podem ser desde que em quantidades extremamente restritas ou controladas. Estas
preocupaes exemplificam a necessidade de tornar a anlise de viabilidade algo
dinmico, que tenha como razo principal, determinar o nvel de risco que a
organizao corre ao projetar e manufaturar um produto. A avaliao do nvel de
risco tem sido colocada como adendo aos comentrios recentes de auditores do
sistema de garantia da qualidade. A anlise de viabilidade deve ser utilizada como
mtodo de avaliao de risco e um laudo claro precisa ser fornecido quanto
continuidade do projeto.
Desta discusso ainda h um ponto importante a destacar: sendo a anlise de
viabilidade um item to importante para o desenvolvimento do produto e para a
organizao, ela deveria ser realizada antes de qualquer cotao oficial ao cliente. As
especificaes, restries, consideraes sobre o produto, processos, investimentos,
prazos, riscos associados, nvel de qualidade, logstica, mercados, volumes deveriam
ser detalhadamente desdobrados por um processo formal de maneira a reduzir o nvel
de riscos da organizao. A realidade que grande parte das indstrias no realiza
esta etapa em funo dos mais diversos fatores: falta de pessoal, falta de formao,
falta de experincia, falta de tempo, etc. A ES, neste ponto, pode ser representada
21
pela equipe multifuncional que possui experincia, conhecimento e vivncia
suficiente sobre o ambiente fabril para, intuitivamente, responder a anlise de
viabilidade que precede a oferta comercial inicial ao cliente, de forma a reduzir os
riscos associados ao desenvolvimento e manufatura do produto.
2.2) A entrega em quantidade suficiente, a um custo aceitvel demanda um
aprofundamento na realidade fabril do fornecedor para entender a disponibilidade dos
ativos, a necessidade de investimentos, o nvel atual e requerido de produtividade, o
detalhamento inicial do fluxograma do processo, a capacidade qualitativa dos
processos atuais e projetados. Sem a profunda avaliao destes fatores pela equipe de
ES no se consegue responder se os meios de produo considerados como
disponveis para a fabricao do produto e seus componentes, atendem as
especificaes dimensionais e suas tolerncias ou se os meios de produo citados
permitem Cpk > 1,33, APQP (1995). O custo aceitvel para o cliente aquele que
foi enviado na cotao ou mais baixo.
2.3) Garantir a entrega dentro do prazo requer que um planejamento amplo
seja realizado e monitorado constantemente e que os riscos sejam controlados e
mitigados ao longo do desenvolvimento do produto e do processo. Some-se a isto, as
dificuldades j citadas em definir as bases comerciais em que o negcio ser
realizado. prtica comum do mercado automotivo, notadamente, nas montadoras de
veculos, os clientes concordarem com um oramento, emitir um pedido envolvendo
produto e ferramental e, na poca do pagamento do ferramental, querer discutir a
veracidade ou no do oramento fornecido e, geralmente, o que ocorre a
desvalorizao do valor do ferramental do fornecedor. No se pretende adentrar em
detalhes comerciais, contudo ressaltar que a prtica mais lgica deveria ser a de se
iniciar o desenvolvimento apenas aps a colocao do pedido. O pedido ou carta de
inteno funciona como instrumento jurdico-legal que estabelece um compromisso
entre o cliente e o fornecedor. Dentro da empresa do fornecedor, este documento
possibilita o empenho de recursos para desenvolvimento do projeto do produto e do
processo. Este fato reduz o nvel de risco associado ao desenvolvimento, por um lado,
para o fornecedor, que conta com um acordo legal que suporta o ressarcimento dos
gastos com recursos empregados ao projeto caso ele seja cancelado e, por outro, para
o cliente que reduz os riscos de no cumprimento das metas de prazo do projeto. Esta
22
lgica no acontece com freqncia e os atrasos gerados pelas incertezas comerciais
resultam em maior necessidade de integrao da equipe de engenharia simultnea
para compensar o tempo gasto com a indefinio j que, em geral, as datas dos
compromissos dos clientes no mudam.
3) Verificao do projeto e desenvolvimento do processo: o sistema de
manufatura deve garantir que os requisitos, necessidades e expectativas dos diversos
clientes sejam atingidos atravs do desenvolvimento completo de um sistema efetivo
de manufatura. A taxa de simultaneidade com que se trabalha nesta fase com relao
ao projeto e desenvolvimento do produto determinada pela interao da equipe. Os
requisitos do produto e do processo e suas interaes devem ser desdobrados em
sadas tangveis, claramente controladas pelo custo, prazo e adequao ao escopo do
projeto de forma a gerar o fluxograma definitivo do processo, o layout das
instalaes, a anlise dos modos de falha do processo e seus efeitos ou Process
Failure Mode and Effect Analysis (PFMEA), os planos de controle, as embalagens
padronizadas, a matriz de caractersticas e os estudos preliminares da capabilidade do
processo. Esta fase exige o cumprimento de todo o planejamento feito pela equipe de
projeto e a equipe de ES fundamental para atuar na reduo de custos, prazos e na
adequao ao escopo do projeto que preenche os requisitos do cliente.
Atividades multidisciplinares, como o FMEA, tendem a ser realizadas por
uma nica pessoa, principalmente, em organizaes menores e com recursos mais
escassos. O contrrio deveria ocorrer: as organizaes menores tm menor
capacidade financeira para corrigir erros cometidos na fase de desenvolvimento ao
mesmo tempo em que resiste menos falta de faturamento causada por atrasos no
lanamento de novos produtos. Desta forma, fazer certo da primeira vez, mitigar
riscos, planejar muito e implantar corretamente da primeira vez deveria ser o foco de
operao destas empresas. Na ES, no o tamanho da equipe que determina o
sucesso ou no do projeto, mas a representatividade de conhecimentos e experincias
agregadas ao desenvolvimento na fase de desenvolvimento do produto e do processo.
4) Validao do Produto e do Processo: nesta fase, valida-se todo o
planejamento e implantao do projeto do produto e do processo atravs da realizao
de uma corrida piloto monitorada pela equipe e que deve certificar que o fluxograma
23
do processo produtivo, incluindo todas as suas instrues, e o plano de controle do
produto e processo, com todos os seus elementos, so suficientes para garantir que
todos os requisitos dos clientes so atendidos. O termo clientes deve ser entendido em
um sentido amplo, incluindo os clientes internos e externos, os acionistas, a sociedade
de maneira geral e, portanto, custo, qualidade, prazo e escopo em mbito tcnico,
comercial, de responsabilidade social devem ser satisfeitos pelas sadas do projeto.
Para exemplificar: implantar um produto a qualquer custo, na data correta e com o
escopo correto certamente satisfar ao cliente externo. Ele, o cliente externo, na
maioria dos casos, tem um acordo contratual declarando o preo de aquisio deste
produto. O cliente interno, o acionista, contudo, pode no estar satisfeito. O termo ou
diretriz a qualquer custo coloca a organizao em situao de risco quanto
continuidade de suas operaes. Para que ocorra a satisfao de todos aqueles
influenciados pelo projeto, a implantao deve acontecer com o atingimento de todos
os objetivos do projeto, inclusive o custo. Outros exemplos envolvem a emisso de
rudos que um determinado produto realiza. Ela precisa estar dentro dos limites
permitidos por lei: seu uso no pode agredir a sociedade e suas regras. O mesmo
exemplo pode ser dado sobre a presena de materiais reciclveis, restritos ou
proibidos na composio do produto.
Os eventuais desvios devem ser registrados e includos na lista de prioridades
da equipe. Mesmo neste estgio, a ES deve ser utilizada e sua sinergia centrada em
um mtodo estruturado de resoluo de problemas e monitorados por um ciclo
contnuo de melhorias como o planejar, realizar, verificar, agir ou Plan-Do-Check-Act
(PDCA) para prover solues aos desvios encontrados na srie piloto quando
comparada ao planejamento do produto e do processo. Torna-se importante ressaltar
que a corrida piloto de um novo produto ou processo precisa ser realizada com todos
os meios definitivos de produo e controle, com os recursos materiais e humanos
alocados aos postos finais, com treinamento e conhecimento sobre o produto e
processo. No raro, a corrida piloto representa um mero teste de ferramental, da linha
de montagem, dos dispositivos de controle, onde os defeitos ou oportunidades de
melhoria apresentam-se com freqncia e interrompem a atividade que deve mais ser
de avaliao do que de atuao da equipe de implantao. A produo pode necessitar
de um tempo maior para adquirir conhecimento e habilidades de operao sobre a
24
linha, processo normalmente descrito como curva de aprendizado do produto e do
processo, porm, a linha trabalha em um ritmo lento, mas contnuo, sem sobressaltos
ou surpresas, com pessoal treinado, com capacidade de inspeo determinada e
planos de reao claros. At mesmo a documentao de processo deve ser a final,
restando apenas atualizao com as melhorias descobertas e implantadas durante a
realizao da corrida piloto.
Neste estgio, em parte das empresas do mercado, ocorre um fenmeno que
prejudica a organizao como um todo: diante das presses do mercado e da prpria
organizao em obter resultados, novos negcios e continuidade das operaes, o
projeto torna-se rfo dentro da organizao. A engenharia j desenvolveu, testou e
entregou produo. O caso contrrio tambm ocorre: a produo no aceita o que
foi entregue. O resultado desta zona cinzenta do desenvolvimento e implantao de
novos produtos e processos a convivncia com problemas no corretamente
resolvidos na produo e a conseqente reduo das margens de contribuio do
produto ao longo do ciclo de vida. Esta fase precisa ser documentada e a equipe no
deve ser dissolvida antes que a prxima fase do projeto seja concluda. Os esforos de
resoluo de problemas devem continuar at que se tenha um consenso de que todas
as aes necessrias foram implementadas e so eficazes.
5) Anlise da retroalimentao, avaliao e ao corretiva: planos de controle
so confirmados eficazes ou corrigidos, as causas especiais e comuns se apresentam,
a equipe verifica a eficcia e a eficincia do APQP. O ciclo de desenvolvimento se
encerra com a avaliao das possibilidades de reduo de variao, com a
confirmao ou medio dos nveis de satisfao do cliente e das ocorrncias
registradas em entregas e na assistncia tcnica. A ES ainda pode ser utilizada dentro
do escopo de desenvolvimento de produtos e processos, contudo, recomendvel que
haja migrao do conhecimento e das lies aprendidas para as equipes que
trabalharo diariamente com a nova linha de produtos.
25
N
Figura 2. Cronograma do APQP. (IQA Manual do APQP, 1995).
O processo de APQP dividido em cinco fases e baseado na Engenharia
Simultnea. McGrath (1992) define Engenharia Simultnea como o desenvolvimento
do produto e todos os seus processos associados como manufatura, assistncia e
distribuio, ao mesmo tempo. O manual do APQP (1995) declara que a Engenharia
Simultnea um processo onde equipes multidisciplinares perseguem uma meta
comum. Nas duas definies a essncia o abandono de uma abordagem seqencial
para a realizao de atividades, de modo concomitante, com o objetivo de acelerar o
lanamento de produtos de qualidade.
A figura 2 mostra a sobreposio, no tempo, entre as principais fases do
APQP. Deste ponto em diante, o processo subdivido em processos e atividades
menores, cada um com suas entradas e sadas.
O cumprimento das fases do APQP importante, pois as interfaces entre as
fases tambm possuem a interdependncia das sadas e entradas para alimentao da
prxima fase. O fato de alguma atividade da fase no ser realizada ou apresentar
atraso deve ser avaliado pelo gerente do programa e pela equipe multidisciplinar. A
cada atividade planejada no realizada associa-se o risco de insucesso e o custo que
aumenta medida que o desenvolvimento vai evoluindo. Promover alteraes na fase
inicial ou de formao do conceito do projeto do produto pode significar a perda de
26
horas ou at alguns dias de trabalho, porm, o custo, nesta fase, muito menor do que
aquele inerente alterao realizada em um meio produtivo ou de controle j em
fases avanadas do processo de planejamento da qualidade do produto.
Os benefcios gerados pela utilizao do APQP so listados abaixo, segundo o
manual Advanced Product Quality Planning and Control Plan (1995):
Direcionar recursos para satisfazer o cliente; Promover a identificao prematura das necessidades de mudanas; Evitar mudanas tardias; Prover um produto de qualidade ao menor custo. (SETEC et al, 1996 apud ABRAHAM, 1998) declara que o APQP
[...] um mtodo estruturado em equipe para definir e estabelecer os
procedimentos necessrios para assegurar que o produto satisfaa o cliente,
facilitar a comunicao entre os envolvidos e assegurar o cumprimento dos
procedimentos e das atividades nos prazos estabelecidos, minimizando os
custos associados e os riscos de qualidade no lanamento do produto.
Os projetos das indstrias de autopeas so realizados em uma zona de
interseco de restries que limitam e oneram o custo do produto tornando a
empresa menos competitiva. No se pretende discutir a validade ou no destas
restries j que, em muitas oportunidades, seu atendimento coloca a empresa apenas
em patamares de qualificao para recebimento de novos pedidos, contudo, no se
pode negar a existncia delas na obteno dos objetivos do projetos e os custos
gerados que tm impacto direto na competitividade. Torna-se importante, neste
ponto, entender o escopo do processo de desenvolvimento de produtos e processos na
indstria de autopeas: este processo tem como misso prover e implantar solues
tcnicas para as necessidades latentes ou solicitadas pelos clientes internos e externos
da organizao, de forma alinhada com as suas estratgias, indicadores e metas. O
processo de desenvolvimento formado por trs grandes grupos de atividades:
Desenvolvimento e lanamento de produtos; Desenvolvimento e implantao de Processos;
27
Alteraes de engenharia; Dentro da empresa alvo, uma companhia multinacional de faturamento
prximo a R$ 200 milhes por ano no Brasil, estas restries foram estudadas e
estruturadas da forma que segue.
2.2.Metas do projeto do produto
Metas do projeto do produto so restries ao desenvolvimento formadas
pelos objetivos do novo produto ou alteraes nos produtos existentes. Estes objetivos
devem ser amplos, inicialmente, e desdobrados medida que o projeto evolui. As
metas do projeto do produto so compostas por caractersticas:
Tcnicas: desempenho, confiabilidade, reciclabilidade, segurana, custo, entre outras;
Funcionais: ergonmicas, durabilidade, manutenibilidade do produto, montagem e interface, entre outras.
2.3.Metas do projeto do processo
Metas do projeto do processo so restries ao desenvolvimento formadas
pelos objetivos do novo processo ou alteraes nos processos existentes. Estes
objetivos devem ser amplos, inicialmente, e desdobrados medida que o projeto
evolui. As metas do projeto do processo so compostas por caractersticas de:
eficincia eficcia capacidade instalada nvel de automao segurana operacional capabilidade ndices de rejeio e sucata ndices de qualidade disponibilidade
28
confiabilidade manutenibilidade do processo mensurabilidade 2.4.Requisitos especficos do cliente
So requsitos permanentes publicados pelos clientes e que integram quaisquer
relaes entre cliente e fornecedor, mesmo antes de ocorrer uma relao contratual
para desenvolvimento ou fornecimento de um produto ou servio, complementares
aos requisitos normativos para os sistemas de gesto da qualidade. Estes requisitos
devem ser pesquisados e atualizados pelos fornecedores periodicamente. Uma boa
fonte de consulta o site www.iaob.org , do International Automotive Oversight
Bureau. So exemplos de requisitos especficos:
Sistemtica de cotao de produtos, documentos e procedimentos relacionados;
Especificaes de engenharia para tratamentos trmicos (Ford); Regras especficas para formao da anlise dos modos de falha e seus
efeitos Failure Mode and Effect Analysis (FMEA);
Manuais de referncia para processos de desenvolvimento e submisso de amostras para aprovao tais como: Processo de Aprovao de Pea para a Produo
Production Part Approval Process (PPAP) e Planos de Controle ou o Alliance New
Product Quality Procedure (ANPQP), da Renault-Nissan;
Sistemas logsticos envolvendo nmero mnimo de estoque entre o fornecedor e o cliente final, forma de coleta, estoques de segurana e mtodo de
acionamento do fornecedor para incio da produo e suprimento.
2.5.Metas de custo do produto e investimentos
Estas metas dizem respeito ao custo do produto ou servio para a fabricao e
fornecimento no estgio de produo em massa, em comparao com as estimativas
iniciais de custo, principalmente quelas definidas nos termos da cotao oficial para
o cliente. Os investimentos seguem a mesma linha de definio: so relacionados,
entretanto com o aporte financeiro dado ao projeto para aquisio de ativos,
29
realizao de projetos de produtos, prottipos, meios de produo, controle e teste,
pesquisas, simulaes, validaes, gesto do programa, transferncia de tecnologia,
troca de dados, entre outros fatores, quando comparados aos investimentos previstos
nas estimativas iniciais de custo e cotao oficial para o cliente.
2.6.Metas organizacionais
As organizaes planejam e estabelecem estratgias que so desdobradas
pelos diversos processos da empresa e que se traduzem em aes ou pacotes de
trabalho, representados por indicadores desempenho. A amplitude do processo de
desenvolvimento exige que novos produtos ou processos estejam alinhados com as
necessidades organizacionais. Portanto, mandatrio que um grupo de restries ou
condies relativo s metas da organizao seja considerado na implantao de um
novo produto ou processo. Algumas destas metas so diretas e transmitem ao grupo
de desenvolvimento a necessidade clara da organizao. Outras metas so indiretas e
algumas anlises devem ser realizadas antes de se concluir o que realmente
necessrio para a implantao do novo produto ou processo. Algumas destas
restries para os novos produtos e processos podem ser listadas como segue:
Lucro antes da amortizao, juros e impostos ou Earnings before, interests, amortization and taxes (EBIAT);
Custo do material; Custo da mo-de-obra ou labor; Depreciao de ativos; Despesas e investimentos; Valor de vendas per capita ou vendas por funcionrio no perodo; Custos da qualidade; Nvel de qualidade aceitvel em garantia no campo em peas por milho
(ppm);
Nvel de qualidade aceitvel na montagem do cliente em peas por milho (ppm);
Nmero de reclamaes de qualidade de clientes;
30
Valor de vendas mensais; Margem de contribuio; Nvel mnimo de atendimento aos pedidos do cliente, incluindo
reprogramaes;
Desempenho de fornecedores; Nmero de giros do estoque; Fretes extras; Nmero de funcionrios ou headcount; Nvel de qualidade aceitvel dentro da organizao em ppm interno; Nvel de refugo, retrabalho e sucata em valor ou percentual do
faturamento do perodo;
Eficincia do sistema produtivo; Atendimento ao sistema internacional de materiais ou International
Material Data System (IMDS);
Reduo do nmero de fornecedores; Reduo dos custos de material; Manuteno de empresas certificadas pelo ISO 9000 ou ISO TS 16949 na
base de fornecedores;
Disponibilidade de meios produtivos; Custos de manuteno no perodo; Eficincia global de equipamentos crticos ou Overall Equipment
Efficiency (OEE);
ndice de melhoria da capabilidade do processo produtivo para caractersticas especiais do produto e processo;
Esta lista no pretende ser conclusiva, entretanto importante entender que a
introduo de um novo produto ou processo na empresa influencia todos estes
indicadores com maior ou menor intensidade. Evidencia-se aqui que a equipe de
31
desenvolvimento do produto e de gerenciamento do projeto deve conter
representantes com conhecimento e poder de deciso para influenciar o
desenvolvimento na medida exata da necessidade de cada um dos processos
organizacionais, aqui representados pelos indicadores descritos. Torna-se mandatrio
que os representantes dos processos que formam esta equipe tenham senso de
propriedade sobre o novo projeto e direcionem a prioridade e esforos na medida
necessria para evitar o lanamento de novos produtos e processos aqum dos
padres organizacionais e competitivos estabelecidos pela organizao.
2.7. Metas dos Sistemas de gesto
Entende-se por sistemas de gesto um conjunto de regras estabelecidas pela
organizao em seu nvel corporativo ou alta administrao para o qual existem
procedimentos a serem observados e seguidos por todos os processos e indivduos da
organizao. Estes sistemas atuam como um ambiente pelo qual transitam todos os
processos organizacionais delimitando reas de atuao e regras claras entre o
permitido e o no permitido pela empresa. Incluem-se tambm, neste grupo, normas
internas da empresa para determinao das estratgias e modelos de manufatura
adotados pela companhia. Exemplos destes sistemas de gesto so:
A especificao tcnica ISO/TS 16949; A especificao tcnica ISO 14001; O Sistema de Qualidade VDA 6.3; A norma de segurana Occupational and Health Safety Standard
(OHSAS) 18001;
Norma regulamentadora Nmero 10 (NR10) que trata de instalaes e servios em eletricidade;
Normas internas de segurana; Lei Sarbanes-Oxley; Legislao trabalhista, fiscal e de segurana; Sistemas de manufatura enxuta.
32
2.8.Legislao
As restries de legislao aqui citadas referem-se quelas especficas para os
produtos desenvolvidos pela empresa e os requisitos legais definidos por rgos
reconhecidos no meio automotivo, social e jurdico, tais como o Conselho Nacional
de Trnsito (CONTRAN), o Federal Motor Vehicle Safety Standards and Regulations
(FMVSS) e Economic Commission for Europe of the United Nations (ECE), entre
outros. O desenvolvimento deve considerar as regulamentaes definidas para os
grupos de produtos relativos s normas legislativas mesmo que no estejam expressas
nos requisitos dos clientes. Desta forma, torna-se necessrio um determinado grau de
especializao dos componentes da equipe de desenvolvimento, disponibilidade de
acesso s normas atualizadas ou auxlio de especialistas externos para listar,
interpretar e assegurar que todos os requisitos legislativos fazem parte do projeto do
produto.
O mercado final de utilizao dos produtos deve tambm ser conhecido.
Requisitos especficos de determinadas regies podem alterar completamente ou
significativamente o escopo do projeto em desenvolvimento, determinando, desta
forma, alteraes tambm no custo e prazo de implantao. As restries de
legislao fora deste escopo devem ser tratadas pelos sistemas de gesto.
A figura 3 mostra, graficamente, como as interseces ocorrem entre as
diversas restries ao processo de desenvolvimento de novos produtos e processos.
33
METAS DO PROJETO DO PROCESSO
METAS DE CUSTO E INVESTIMENTOS
METAS ORGANIZACIONAIS
REQUISITOS ESPECFICOS
SISTEMAS DE GESTO DA EMPRESA
JANELA DE DESENVOLVIMENTO DEFINIDA PELAS RESTRIES
DO NEGCIO
METAS DO PROJETO DO PRODUTO
LEGISLAO
Figura 3. Condies para o processo de desenvolvimento de novos produtos e processos na
indstria de autopeas.
2.9.A engenharia simultnea no APQP e gesto de projetos
A Engenharia simultnea fator fundamental para o sucesso do processo de
APQP e da gesto de projetos. Com o alto grau de complexidade dos projetos atuais
aliado necessidade de utilizao de diversas disciplinas em um mesmo projeto,
torna-se, praticamente impossvel, obter o melhor resultado de um projeto com uma
abordagem seqencial e isolada do restante da organizao, do cliente e de
especialistas internos e externos. A engenharia simultnea enfrenta, entretanto, fortes
barreiras contra sua implantao em empresas de autopeas. Pode-se considerar
tambm que estes motivos formam os pilares para a implantao bem sucedida de um
processo de engenharia simultnea. Estes pilares so descritos a seguir:
Objetivos: devem ser claros, inequvocos, entendidos e compartilhados com todas as funes do projeto. Todos devem entender os objetivos e seus
respectivos papis nestes objetivos. Objetivos primrios podem ser desdobrados em
objetivos secundrios e at alm, desde que se tornem claros, agreguem valor e sejam
controlveis pela equipe de gesto;
Comunicao: no se pode utilizar o conceito de engenharia simultnea se a organizao no possui um mtodo claro de divulgar as informaes importantes
sobre os projetos e garantir que a mensagem compreendida em todos os nveis da
34
organizao, dentro de padres mnimos de aceitao. No somente as barreiras de
comunicao esto presentes como tambm a qualidade das informaes mostra-se
insuficiente em grande parte das organizaes;
Comprometimento da organizao: os membros participantes de qualquer atividade de ES devem entender e receber suporte para que as atividades sejam
realizadas no prazo e com a qualidade exigida sob o risco de prejudicar o andamento
de todo o projeto se assim no o fizer. Estes participantes podem ser lembrados de
suas atividades, mas a necessidade de cobrana excessiva para que as tarefas sejam
realizadas pode sinalizar que a ES no ocorre como deveria. Isto exige que os lderes
da organizao entendam o papel e a importncia de cada um dos colaboradores de
suas equipes e suas funes. Exige tambm que estes lderes direcionem a quantidade
certa de recursos humanos e materiais para suprir as demandas dos projetos e das
rotinas das diversas funes da empresa;
Competncia: as habilidades devem ser disponveis entre as diversas equipes de projeto com pessoal da organizao ou mesmo com recursos externos. De
uma forma ou de outra, o mercado exige velocidade e assertividade nas definies
tcnicas e administrativas do projeto. As competncias devem estar presentes para
que os melhores resultados possam ser colhidos dos projetos realizados em ES. De
outra forma, a ES transforma-se em um caos em funo da velocidade com que as
atividades se realizam. Por exemplo, se durante o projeto de um componente
estampado as caractersticas especiais no forem identificadas em tempo, corre-se o
risco que a ferramenta destinada produo deste tem no contenha mecanismos de
reduo de variao justamente para estas caractersticas. Retrabalhos em um
ferramental deste tipo, quase sempre, demandam custos e prazos no previstos nas
metas do projeto;
Planejamento conjunto: as equipes de ES devem priorizar o estudo das atividades necessrias para a implantao de um determinado projeto e obter, atravs
do consenso, a concordncia que as metas so atingveis, especficas, mensurveis,
realistas, definidas no tempo e restritas ao custo planejado. O planejamento deve
deixar explcito quem faz o que e quando com que recursos. Esta matriz de
responsabilidades do projeto, oriunda do planejamento vital para que o projeto
35
tenha xito. As presses existentes no projeto, principalmente, com as demandas
concorrentes da organizao ou causadas por indefnies, atrasos, retrabalhos e
outros eventos culminam, com frequncia, na necessidade de se entender o que
deixou de ser feito por quem para se decidir o que se deve fazer para se colocar o
projeto nos trilhos novamente. Este desgaste pessoal e, obviamente, indesejvel e
fonte presses contnuas qualidade do projeto.
36
3. A METODOLOGIA DO PMI PARA GESTO DE PROJETOS
O APQP uma metodologia que define uma srie de fases para o processo de
desenvolvimento do produto e do processo. No h, de forma explcita, a
recomendao de uma abordagem de gesto destas fases e dos sub-processos para
que todas as metas globais do projeto sejam alcanadas. Grande parte das
organizaes fabricantes de autopeas nomeia o engenheiro de produto ou engenheiro
lder como gerente do programa - Program Manager (PM)- porm, esta uma
escolha que no est associada formao, experincia ou facilidade de tratar as
questes tcnicas. Sob o ponto de vista do processo de desenvolvimento,
perfeitamente possvel que o representante da Logstica, Produo ou Vendas tenha a
responsabilidade de lder do projeto.
As sadas de todo projeto de autopeas, seus meios de produo, controle,
validaes, distribuio, entre outras, tm apenas um objetivo que o abastecimento
dos clientes com custo, prazo, qualidade e quantidade, por eles requeridos. Este
tambm o objetivo do Processo Orientado ao Cliente (POC) de vendas, atravs do
faturamento adicional do novo produto. Tambm o objetivo do POC-Materiais, que
inclui a distribuio logstica na quantidade certa e em tempo assim como a gesto
dos estoques. A produo, obviamente, a principal entidade interessada em receber
produtos e processos consistentemente desenvolvidos.
Sob a tica da abordagem por processos, no obrigatrio que o coordenador
do programa pertena Engenharia de Desenvolvimento de Produtos ou de
Manufatura, apesar deste fato ser comum em organizaes deste ramo. Sob a tica do
comprometimento, fundamento do trabalho multidisciplinar, a descentralizao ou
desvinculao desta funo da Engenharia poderia trazer mais benefcios do que
riscos. Existe, dentro das organizaes, a tendncia de atribuir Engenharia de
Desenvolvimento, Produtos ou Manufatura a responsabilidade pelo resultado do
desenvolvimento. As responsabilidades pelos resultados do desenvolvimento de um
novo produto ou processo devem ser atribudas organizao e, mais
particularmente, equipe multifuncional.
37
Diante do acima exposto, h a necessidade de uma metodologia de gesto que
possa tratar o projeto de forma holstica ao mesmo tempo em que controla atividades
menores sem desviar-se dos principais objetivos do projeto. Esta metodologia, aliada
aos requisitos propostos pelo APQP, forma uma base slida para aumentar a
probabilidade de sucesso no lanamento de produtos. A metodologia escolhida para
este trabalho o gerenciamento de projetos conforme o Program Management
Institute (PMI), de Newtown Square, Pennsylvania, nos Estados Unidos.
3.1. Definies
O PMI atua na rea de gesto de projetos desde 1969 com a premissa de que
existem muitas prticas de gerenciamento comuns a muitos projetos de sucesso em
diversas reas de tecnologia. O PMI, desta forma, evoluiu para a terceira edio do
PMBOK Guide A Guide to Project Management Body of Knowledge, em 2004,
onde est descrita a soma do conhecimento da profisso de gerenciamento de
projetos. Segundo o PMI (2004), os procedimentos descritos so reconhecidos como
boas prticas aplicveis para a maioria dos projetos e h consenso quanto ao seu uso e
valor.
A definio dada pelo PMI (2004) para o gerenciamento de projetos :
gerenciamento de projetos a aplicao de conhecimento, habilidades, ferramentas e
tcnicas s atividades do projeto, para satisfazer seus requisitos. Em comparao
com a definio de APQP, entende-se, que este ltimo define o que fazer e a gesto
de projetos o como fazer, quando fazer , quem deve fazer e com que recursos
fazer.
O projeto pode ser definido como um empreendimento temporrio constitudo
para criar um produto ou servio nico; mesmo quando se tem um projeto para
desenvolvimento de um produto e instalao de uma fbrica de produo em massa, o
desenvolvimento e implantao so processos nicos, com durao finita e incio e
fim demarcados, que tm como objetivo o incio de fornecimento. Caso tenhamos a
abertura de uma outra fbrica, ainda que para este mesmo produto, em outra
localidade, esta atividade ainda se constitui um projeto, pois suas necessidades de
recursos, tempo e gerenciamento so nicas, alm dos objetivos.
38
De acordo com o PMI (2004), um processo um conjunto de aes
interelacionadas que so executadas para se obter um conjunto de produtos,
resultados ou servios. A ISO/TS 16949:2002 define um processo como a execuo
de uma atividade que transforma entradas em sadas atravs de recursos.
Lycett et al (2004) definem gerenciamento de programas como a integrao e
o gerenciamento de um grupo de projetos relacionados com o objetivo de atingir
objetivos que no seriam atingveis se estes projetos fossem gerenciados de maneira
isolada. No contexto da indstria de autopeas, estas definies no esto
formalmente estabelecidas. Considera-se projeto um esforo temporrio que visa
gerar um produto ou servio nico e que ter integrao em um programa de um
cliente final para gerar um novo veculo ou alterao. Outras empresas do setor
consideram programas a existncia de vrios itens ou servios associados a um
mesmo veculo, porm, de natureza, tipo, tecnologia ou simplesmente cdigos
diferentes. Faz-se exemplo atravs de um veculo qualquer onde o mesmo fornecedor
seja responsvel por desenvolver os projetos para o sistema de acionamento de freios,
a alavanca de troca de marchas, os vidros e os cabos de comando de embreagem e
porta. Cada um destes grupos de produto considerado projeto isolado e devendo ser
gerenciados atravs de um mesmo programa, com objetivo de atender o lanamento
do veculo e seus objetivos.
Neste trabalho, o termo gerenciamento de projetos utilizado com a definio
restrita a um produto ou servio especfico. A reunio de vrios projetos
correlacionados forma um programa.
3.1.1. Grupos de processos no gerenciamento de projetos.
Todo projeto pode ser dividido em uma estrutura analtica. Segundo o PMI
(2004) a estrutura analtica do projeto decomposio hierrquica do trabalho a ser
executado pela equipe de projeto, orientado pelos objetivos do projeto, para alcanar
estes objetivos e criar os resultados necessrios. Ela organiza e define o escopo total
do projeto. Esta estrutura decomposta em pacotes de trabalho.
Conforme ESI (2005), pacote de trabalho o nvel mais baixo da estrutura
analtica do projeto. Este o nvel onde o trabalho designado e monitorado e o
nvel primrio para contemplar as exigncias do cronograma, de custos e recursos.
39
Um conjunto de atividades e recursos gerenciveis e que pode ser controlado em seu
escopo, prazo e custo.
Os projetos seguem, usualmente, um ciclo de vida de projeto definido,
genericamente como:
Iniciao: conforme o PMI (2004), este processo define e autoriza a realizao de um projeto ou de uma fase do projeto;
Planejamento: segundo Vargas (2003), o processo de planejamento responsvel por detalhar tudo aquilo que ser realizado no projeto, incluindo
cronogramas, interdependncias entre atividades, alocao de recursos envolvidos,
anlise de custo, etc.... O objetivo possibilitar a execuo de todas as necessidades
do projeto conforme planejado e garantir o sucesso do empreendimento seja o projeto
todo seja um pacote de trabalho;
Execuo: os objetivos deste processo so a coordenao e integrao de recursos humanos, materiais e financeiros de tal forma a executar o que foi planejado
para o projeto buscando, consequentemente, o cumprimento das suas metas e
objetivos, da fase, do pacote de trabalho ou atividade;
Monitorao e controle: conforme ESI (2005), o controle assegura que as metas dos projetos sejam atingidas atravs da monitorao e medio das varincias
do planejado contra o realizado de tal forma a permitir implementar aes corretivas
que eliminem ou minimizem os efeitos prejudiciais destas varincias aos objetivos do
projeto;
Finalizao: este processo formaliza a aceitao das realizaes do projeto, produto ou servio, fase ou atividade e estabelece um final ordenado para o
projeto, fase, pacote de trabalho ou atividade do projeto.
A figura 4 mostra o nvel de atuao ou esforo exigido em cada um dos
grupos de processo ao longo do tempo.
40
NVEL DE ATIVIDADE
TEMPO
Figura 4. Interao dos Grupos de Processo em um projeto. ( PMBOK Guide, 2004).
Estes processos ocorrem no projeto como um todo, dentro das fases, assim
como nos pacotes de trabalho e at nas atividades. Isto significa que cada uma destas
unidades menores do projeto necessita de um ciclo de atuao similar ao PDCA ou
PDSA, conforme citado no APQP, para que haja um incio formal desta parte do
projeto, seguido por um processo de planejamento que gera a execuo ou
implantao das atividades planejadas que precede um novo ciclo de medio onde as
varincias so detectadas e um plano especfico de aes executado para trazer o
projeto de volta ao planejamento. Cada uma destas unidades possui um fechamento
formal. Com o desdobramento deste processo a partir dos objetivos e escopo iniciais
do projeto, pode-se chegar at os pacotes de trabalho atravs destes ciclos sucessivos
e retornar com os resultados para os nveis mais altos da estrutura analtica do projeto.
A figura 5 mostra as diversas interaes e nveis de esforos entre os grupos
de processo durante todo o ciclo de vida do projeto, de uma fase ou atividade.
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Figura 5. Tringulo dos Grupos de Processo do Gerenciamento de Projetos. (PMBOK Guide, 2004).
Em diversas organizaes do setor de autopeas, h uma dificuldade em
dissociar a entrada de um novo produto e processo em produo da rea de
engenharia de desenvolvimento, dificultando o fechamento do projeto. necessrio
entender que o projeto deve ser fechado em duas condies:
Quando os objetivos do projeto forem alcanados; Quando se torna claro que os objetivos do projeto no sero atendidos e
h a necessidade de trabalhos corretivos e de melhoria, porm, em carter contnuo.
A insistncia em manter o projeto aberto em meio atividade produtiva
utilizando recursos de desenvolvimento compromete a capacidade de
desenvolvimento da organizao e os futuros projetos. Projetos sem fim satisfatrio
tambm devem ser formalmente encerrados e a responsabilidade pela implantao das
aes de melhoria, deve ser claramente definida. Todos os pontos relevantes que
levaram ao sucesso ou insucesso dos projetos devem ser registrados como lio
aprendida e incorporados aos procedimentos ou novos projetos da empresa, de forma
a evitar a reincidncia de atividades ou decises errneas e, sabidamente, prejudiciais.
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3.2. As restries dos projetos
Todo projeto deve possuir um escopo bem definido a ser implantado em um
tempo bem definido e com um custo bem definido. Segundo a ESI (2005), estas
condies formam a tripla restrio de projetos, representada graficamente por um
tringulo. A analogia est no comprimento dos lados: uma vez necessria uma
mudana em um dos lados, inevitavelmente, ocorrer a alterao dos outros dois para
que o tringulo, neste caso o projeto como um todo, continue a existir.
Tem-se, segundo o PMI (2004), a definio de:
Escopo do projeto: define o trabalho que deve ser executado para entregar um produto, servio ou resultado com as caractersticas e funes especificadas;
Tempo do projeto: define o perodo dentro do qual o projeto deve ser implantado e gerar os resultados esperados;
Custo do projeto: determina o custo dentro do qual o projeto deve ser implantado e gerar os resultados esperados.
Quaisquer atividades desenvolvidas durante o projeto influenciaro ou sero
influenciadas, direta ou indiretamente, pela restrio tripla de projetos. A figura 6
ilustra a tripla restrio do gerenciamento de projetos.
PRAZO
ESCOPO CUSTO
Figura 6. Modelo de restrio tripla no gerenciamento de projetos do PMI. (ESI, 2005).
Pode-se questionar onde o fator qualidade do projeto se enquadra dentro desta
anlise. Autores como Vargas (2003), classificam as restries de projetos com o
termo desempenho que substitui o escopo pela unio de qualidade e escopo. Outros
autores, porm, tm opinies diferentes sobre a restrio tripla. Norrie e Walker
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(2004) argumentam que h uma quarta restrio relacionada com a estratgia do
negcio e que deve ser medida para que o ritmo de evoluo do projeto e da estratgia
possam ser comparados e continuamente validados. Estes autores citam que certos
projetos podem levar anos para serem completados. Durante este tempo, a
organizao pode ter modificado seu foco estratgico tornando as sadas destes
determinados projetos no alinhadas com os novos objetivos definidos. Recomendam
ainda a utilizao do Balance Scorecard como ferramenta para medio da evoluo
da estratgia. PRAZO
ESTRATGIA
CUSTO ESCOPO
Figura 7. Modelo de restrio qudrupla no gerenciamento de projetos de Norrie e Walker. (Fonte: Project Management Journal Dezembro 2004).
Segundo Atkinson et al, 1999 apud BARBER, 2004 a utilizao de uma
restrio qudrupla envolvendo a restrio tripla em um s item e adicionando trs
outros critrios a saber, sistemas de informao, benefcios para a organizao e
benefcios para os stakeholders, cria uma viso mais realista sobre o gerenciamento
de projetos. Dentro destes critrios existem itens de avaliao, tais como:
Sistemas de informao: mantenabilidade, confiabilidade, validade e qualidade das informaes utilizadas;
Benefcios para a organizao: eficincia, eficcia, lucros, metas estratgicas, reduo de desperdcios e aprendizado organizacional;
Benefcios para os stakeholders: clientes e usurios satisfeitos, impactos sociais e ambientais, desenvolvimento pessoal, aprendizado profissional, lucros da
cadeia de fornecimento e impactos econmicos para a comunidade afetada.
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RESTRIO QUDRUPLA NA GESTO
DE PROJETOS
BENEFCIOS AOS STAKEHOLDERS E
COMUNIDADE
CUSTO / PRAZO /
QUALIDADE
BENEFCIOS ORGANIZAO
SISTEMAS DE INFORMAO
Figura 8. Adaptao do modelo de restrio qudrupla no gerenciamento de projetos de Atkinson. (International Journal of Project Management, 2004).
3.3. reas de conhecimento da gesto de projetos
Segundo o PMI (2004), reas de conhecimento da gesto de projetos so
definidas pelos seus requisitos de conhecimento e descritas atravs de seus processos
de composio, prticas, entradas, sadas, ferramentas e tcnicas. Segundo a ESI
(2005), as reas de conhecimento da gesto de projetos descrevem o conhecimento e
prticas do gerenciamento de projetos atravs de seus processos. Cabe ao gerente do
projeto ou equipe, definir quais reas devero ser utilizadas em um projeto
especfico. Em cada uma das reas de conhecimento, aplicar-se-o os cinco grupos de
processo do projeto de tal forma que cada uma delas contenha a iniciao, o
planejamento, a execuo, a monitorao e controle e o fechamento. O PMI (2004)
define nove diferentes reas de conhecimento que so descritas a seguir.
3.3.1. Gerenciamento da integrao do projeto
Esta rea de conhecimento visa integrar os planos do projeto e os recursos
para realizao das atividades do projeto atravs da tomada de decises de onde os
recursos devero ser concentrados, quais as realizaes prioritrias do projeto, o que
pode tornar-se um ponto fraco no futuro e como antecipar as aes para estes pontos
antes que eles se tornem crticos. Trata-se de tomar decises em prol da realizao
dos objetivos do projeto. Todo projeto possui demandas concorrentes que devem ser
priorizadas tendo em vista o melhor resultado na realizao do projeto. Estas
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demandas obrigam a equipe de projeto a priorizar, escolher, destinar recursos e
mitigar riscos segundo seu entendimento sobre qual o melhor caminho para obter
maximizao no resultado dos projetos. Segundo Vargas (2002), o gerenciamento da
integrao o subconjunto do gerenciamento de projetos que engloba os processos
requeridos para assegurar que todos os elementos do projeto sejam adequadamente
coordenados.
3.3.2. Gerenciamento do escopo do projeto
Conforme o Automotive Industry Action Group (AIAG, 1997), escopo a
soma de produtos e servios a serem fornecidos pelo projeto. Vargas (2002), divide o
escopo do projeto em trs componentes: escopo tcnico, o escopo funcional e o
escopo de atividades. Os dois primeiros componentes referem-se ao produto ou
servio, suas funcionalidades e especificaes, conformidade com regulamentaes e
procedimentos. O terceiro componente refere-se ao trabalho a ser realizado para
obteno dos outros dois componentes. O gerenciamento do escopo do projeto
preocupa-se com a definio e controle do que est e do que no est includo no
projeto. Desta forma, assegura que todo o trabalho necessrio e suficiente para
completar o projeto com sucesso est previsto neste escopo.
3.3.3. Gerenciamento do tempo do projeto
Conforme o PMI (2004), o gerenciamento do tempo inclui todos os processos
necessrios para garantir que o projeto seja concludo dentro do tempo previsto. Os
processos necessrios para a realizao do gerenciamento do tempo so:
Definio das atividades Sequenciamento das atividades Estimativa dos recursos para completar as atividades Desenvolvimento do planejamento do tempo Controle do planejamento do tempo 3.3.3.1. A importncia do cronograma
O cronograma uma ferramenta analtica de auxlio visual e que permite
desdobrar as necessidades do projeto em atividades gerenciveis, representando a
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estrutura analtica do projeto de forma a prover informao necessria e suficiente
realizao do projeto para todos os stakeholders, sobre as metas de prazo e recursos,
atividades e conseqncias do projeto. Segundo o PMI (2004), stakeholders so
pessoas ou organizaes ativamente envolvidas com o projeto cujos interesses podem
ser positiva ou negativamente afetados pela execuo e finalizao do projeto. Os
stakeholders podem tambm exercer influncia sobre o projeto e seus resultados.
Um cronograma de boa qualidade deve ser desdobrado at o nvel julgado
timo para se estabelecer:
Escopo do trabalho a ser realizado no projeto, de uma forma macro, contudo, inteligvel para todos os stakeholders em seus principais pontos;
Desdobramento das fases principais em estgios, pacotes de trabalho ou atividades, conforme necessrio ao projeto;
A atividade ou pacote de trabalho deve ser realizado; O prazo necessrio determinado para a realizao do pacote de trabalho; A durao deste evento e quanto de recurso material, financeiro e humano
esto sendo utilizados para a realizao do pacote;
O responsvel por completar o pacote de trabalho ou, em outras palavras, quem responde pelo sucesso ou insucesso desta parte do projeto;
A interao ou relao de dependncia entre as atividades, pacotes de trabalho entre si e com recursos compartilhados utilizados no projeto.
O cronograma deve ser uma ferramenta de trabalho em constante atualizao.
Os problemas mais freqentes encontrados nos cronogramas de empresas de
autopeas so:
A atividade no est bem definida e, portanto, no se sabe exatamente o que fazer, os objetivos destas atividades e consequentemente os objetivos do projeto;
As atividades no esto bem interligadas em suas relaes de dependncia e, portanto, no se sabe as conseqncias por no atender quele pacote de trabalho
ou atividade especficos;
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Os responsveis no esto definidos ou so colocados departamentos como responsveis pelas atividades e pacotes de trabalho. O comprometimento total
para atendimento das metas do projeto deve ser obtido e uma das formas de viabiliz-
lo nomear responsveis pelo planejamento, execuo, controle e resultados dos
diversos pacotes de trabalho e cobr-los, nominalmente, sobre estas atribuies. Em
organizaes puramente hierrquicas, h maior dificuldade de atingir a realizao das
atividades do projeto. Nestes casos, imprescindvel que as responsabilidades
estejam claramente determinadas no cronograma ou na matriz de responsabilidades
do projeto;
Cronogramas sem atualizao sistemtica demonstram que o documento passa a ser mais uma atividade a ser realizada, consumindo recursos que no agregam
valor ao projeto, do que propriamente uma ferramenta de trabalho de carter
preventivo para o planejamento e controle dos eventos necessrios para atingir as
metas determinadas;
Cronogramas em empresas de autopeas, principalmente nos fornecedores de segundo e terceiros nveis, tendem a ser genricos em funo das fases institudas
pelas organizaes como os passos do APQP. Isto no garante que as particularidades
do projeto sejam atingidas. Apesar do generalismo em certas fases e estgios, h
sempre atividades diferentes para cada projeto. Particularidades so inerentes aos
projetos ou de outra forma no haveria unicidade do projeto. O desdobramento
precisa identificar as atividades realmente importantes ao projeto e inclu-las no
cronograma com prazo, responsvel, recursos e interdependncia especficos.
Os cronogramas no trazem a durao correta das atividades comprometendo, portanto, o prazo, o custo ou o escopo do projeto. Mais do que um
exerccio de adivinhao ou tentativa e erro, o planejamento do projeto necessita de
certa preciso das estimativas de prazo. O nvel de preciso deve ser determinado pela
empresa ou pelo grupo de gesto do projeto considerando a possibilidade assumir os
riscos inerentes ao maior ou menor grau de preciso das estimativas.
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3.3.4. Gerenciamento do custo do projeto
O gerenciamento do custo do projeto inclui os processos necessrios para
planejar, estimar, alocar e controlar os custos do projeto de tal forma que o mesmo
possa ser completado dentro do custo total previsto. Envolve os processos de
estimativa de custos, alocao de recursos e controle de custos.
No desenvolvimento atual de autopeas de vital importncia que tanto os
investimentos estejam abaixo do montante total planejado como o custo industrial do
produto ou servio planejado. Esta meta do projeto diz respeito competitividade da
empresa e pode significar a diferena entre o sucesso e o fracasso do projeto. Um
projeto no pode ser julgado bom se o custo do produto no for alcanado mesmo que
os investimentos situem-se dentro do orado ou mesmo que o prazo e qualidade
desejados tenham sido atingidos. Como em todas as outras reas de conhecimento do
gerenciamento de projetos, h sobreposio de reas e processos, entretanto, uma das
sadas mais importantes do projeto o custo do produto ou servio dentro dos valores
planejados. Desta forma seja no gerenciamento de custos seja no gerenciamento de
riscos deve-se controlar as condies de desenvolvimento e manter aes contnuas
de correo ou preveno para que o produto ou servio seja lanado nas condies
previstas. O custo do produto ou servio pode sofrer influncias do ambiente externo
ao projeto: este fator pode no estar sob o controle da equipe de gerenciamento do
projeto e, portanto, transforma-se em um risco que deve ser aceito, mitigado,
eliminado ou transferido.
Levando-se em conta o tempo de desenvolvimento de autopeas no Brasil e a
instabilidade scio-econmica, alm da vulnerabilidade da economia aos
acontecimentos externos, controlar o custo do produto ou servio final de um projeto
dentro dos valores planejados pode tornar-se um dos maiores desafios do projeto.
Exemplos recentes podem ilustrar tais cenrios: o aumento do preo do ao
provocado pelo consumo excessivo da China em 2004 e 2005 certamente
influenciaram os preos de produtos que tm este material como matria-prima
predominante. No decorrer de vrios projetos, as perguntas mais freqentes foram:
como compensar o aumento excessivo do ao e ainda manter os novos produtos A ou
B lucrativos? H forma de compensar atravs da otimizao de processos, reduo de
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estoques, barateamento das estruturas fabris, importao ou troca de material?