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Aprender a ensinar: A correção de textos por professores em formação. - Juliana Alves Assis

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Autora: Juliana Alves Assis (Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais)Fonte: ABRAHÃO, Maria Helena Vieira; GIL, Gloria; RAUBER, Andréia Schurt (Orgs.). Anais do I Congresso Latino-Americano sobre Formação de Professores de Línguas. Florianópolis, UFSC, 2007.http://www.cce.ufsc.br/~clafpl/11_Juliana_Alves_Assis.pdf(Acesso em 16/12/2010)

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APRENDER A ENSINAR: A CORREÇÃO DE TEXTOS POR PROFESSORES EM FORMAÇÃO∗∗∗∗

Juliana Alves ASSIS Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais Resumo: Neste trabalho, examina-se como professores em formação, na ação de correção de textos em situações de estágio curricular, considerando-se os recursos e critérios de que lançam mão nesse tipo de expediente, manifestam suas representações acerca da produção textual, do processo de ensino/aprendizagem em curso e da própria natureza dessa tarefa. Os dados analisados fornecem importantes pistas sobre um curso de licenciatura em Letras que visa à formação de profissionais que sejam capazes de operar com as diferentes dimensões do texto e do discurso, dominando um conjunto de métodos e técnicas pedagógicas que permitam a transposição de conhecimento sobre a língua(gem) para os diferentes níveis de ensino e os mais diversos contextos de aprendizagem. Palavras-chave: Formação do professor; Letramento; Correção de textos.

Introdução Em rodas de conversa entre professores, sobretudo em época de encerramento de

ano/semestre/etapa, é comum se ouvirem dizeres que tematizam, de modo bastante recorrente, a tarefa de correção, como os que se seguem: “De dar aulas eu gosto, e muito, mas corrigir...”; “Hoje fiquei trancada em casa corrigindo três pacotes de prova. Prova discursiva. Imagine as bobagens! Se ainda estivesse lendo um bom livro!”; “O professor de português deveria receber mais do que qualquer outro; afinal de contas, é obrigado a ler e corrigir tudo o que os alunos escrevem.”; “Gasto pelo menos oito horas por semana corrigindo as redações dos alunos; pura perda de tempo. Eles não fazem nada com isso.”

Esses dizeres – aproximações, paráfrases de uma idéia sobre a correção que ainda circula nos espaços de conversa entre docentes – põem à mostra uma representação da tarefa de correção infelizmente ainda forte entre os professores: algo sem valor, sem função, tarefa menor, pequena.

Neste trabalho, ao contrário, parte-se do princípio de que a correção de textos pelo professor é atividade não só valiosa como imprescindível ao processo de apropriação da escrita, independentemente do nível de ensino em que este atue. Desse ∗ Trabalho apresentado no I Congresso Latino-Americano de Formação de Professores de Línguas, de 9 a 11 de novembro de 2006, em Florianópolis/SC, no âmbito do Simpósio “Práticas de letramento e formação docente: a leitura e a produção escrita de professores”, coordenado pela autora e pela Profª. Simone Bueno Borges da Silva, tendo com debatedora a Profª. Angela Kleiman. O trabalho encontra-se vinculado aos seguintes projetos de pesquisa: Construção e circulação de saberes: práticas orais e escritas na formação do professor de Português (FIP PUC Minas; 2006/1376-S2); Formação do Professor: processos de retextualização e práticas de letramento (FAPESP, 02/09775-0); Os gêneros acadêmicos na formação inicial de professores: dos movimentos de apropriação dos

conhecimentos sobre a configuração e funcionamento dos textos aos movimentos de construção de identidade

profissional e de autor (FAPEMIG, 198/04).

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ponto de vista, propõe-se examinar como professores de Língua Portuguesa em formação, em situações de estágio curricular, concebem e realizam a ação de correção de textos e como isso pode oferecer pistas sobre o processo de formação em curso. Noutros termos, busca-se investigar os recursos e os critérios aos quais os professores em formação acompanhados recorrem nas atividades de correção de textos desenvolvidas no âmbito das atividades de estágio, oficinas e monitorias, no pressuposto de que esses elementos revelam representações dos sujeitos sobre a prática de escrita, o processo de ensino/aprendizagem em foco e a própria natureza da tarefa de correção.

As atividades em que se geraram os dados analisados foram desenvolvidas por alunos de um Curso de Letras ofertado por universidade mineira, orientadas por professores. São, portanto, atividades supervisionadas, com caráter de estágio curricular não obrigatório. Tais atividades – denominadas “Oficinas de leitura e produção de textos” – realizam um trabalho sistemático com textos acadêmicos – a exemplo de resumos, resenhas e ensaios – de divulgação e de atualização do conhecimento científico produzido no domínio dos estudos sobre a linguagem. São ofertadas a alunos dos primeiros períodos do Curso de Letras e de outros cursos da mesma universidade.

A organização das oficinas considera as dificuldades básicas apresentadas pelos alunos nos primeiros períodos de ingresso na universidade, as quais se traduzem, principalmente, pelo desconhecimento das normas sociocomunicativas envolvidas na produção dos gêneros discursivos em questão e das suas respectivas estratégias lingüístico-enunciativas de textualização. Por meio desse projeto, tem-se possibilitado tanto o desenvolvimento de conhecimentos teóricos e metodológicos requeridos para a ação docente dos sujeitos em formação – responsáveis pelo planejamento e execução das oficinas – quanto a aplicação do conhecimento científico-acadêmico produzido sobre os processos de letramento e de retextualização, vistos como alicerce do processo formativo em que o aluno se engaja na universidade (Matencio, 2002).

Considerada a natureza da formação aqui focalizada – a de professores de Português –, cabe reiterar a crença de que os conhecimentos de natureza didática e pedagógica não se constroem apartados dos demais conhecimentos teórico-conceituais relativos ao objeto de estudo/trabalho do professor, o que empresta caráter de extrema relevância às atividades de prática, em seus mais variados formatos (estágio, oficinas, monitoria), no percurso dessa formação. Desse ponto de vista, espera-se que, na vivência de tais práticas, o futuro professor tenha oportunidade de sistematizar os saberes até então construídos e ser capaz de refletir sobre as situações de aprendizagem experienciadas nos espaços das práticas. Isso concorre fortemente para levar a efeito a construção de sua identidade profissional (Kleiman, 2002). Essa etapa, portanto, de igual modo, pode revelar um importante conjunto de dados sobre o curso de formação inicial, em termos tanto de seus avanços quanto de suas possíveis fragilidades. Nessa medida, constitui um fecundo terreno para a avaliação do próprio processo de formação.

1. A correção de textos no processo de apropriação da escrita Parte-se da compreensão de que se aprende a escrever em situações de uso da língua contextualmente situadas, precisamente significadas. Em outras palavras, para aprender, o aprendiz deve ter conhecimento da atividade em que se envolve e dos procedimentos que lhe cabem. Somente assim poderá compreender em que medida

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determinadas estratégias textual-discursivas e recursos lingüísticos são ou não adequados a um projeto de dizer, aí implicados os diferentes fatores que compõem e determinam as atividades discursivas em que se engaja. Sob esse ponto de vista, considera-se que, nas práticas de ensino e de aprendizagem que visam ao processo de inserção do sujeito nas práticas discursivas acadêmico-científicas – campo de interesse deste trabalho – o texto deve ser abordado em termos de sua emergência e funcionamento na prática discursiva à qual se prende, o que implica promover situações em que os textos sejam estudados não somente do ponto de vista da configuração formal dos gêneros textuais que atualizam, mas também em função de suas condições de produção, recepção e circulação.

À luz de Bakhtin (2003) e Schneuwly (2004 e 1988), que retoma Vygotsky (1991), faz-se a defesa de que é pela prática, ou seja, no interior da atividade social, que se torna próprio o que antes era alheio, estranho. Nessa medida, a aprendizagem supõe ações de elaboração próprias, estímulo à autonomia, reflexão sobre a atividade em que o sujeito se engaja, o que também implica a adoção de princípios e procedimentos de correção de textos orientados por uma concepção de avaliação mediadora (cf. Hoffman, 1994 e 2003), educadora, comprometida com o aprender. É nesse quadro, portanto, que se articulam escrita, correção e reescrita, uma vez que a correção se destina fundamentalmente a permitir que o aluno possa refletir sobre sua produção de conhecimento, recebendo estímulo e orientação para reorganizar seus saberes.

No contexto da avaliação mediadora, as práticas de correção de textos (turno do professor) e de escrita/reescrita (turno do aluno) podem ser tomadas como turnos de uma interação construída no solo dialógico das ações de ensino e de aprendizagem. Recorrendo-se à imagem de Bakhtin (2003), a correção é a manifestação da compreensão responsiva ativa do professor ao projeto de dizer do aluno, consideradas as estratégias por ele escolhidas, assim como o texto que o aluno escreve/reescreve responde a uma proposta pedagógica em curso. Tanto a atividade de escrita do aluno quanto a atividade de correção do professor são sempre, nessa ordem, um exercício de leitura e de produção de texto (Geraldi, 1996), num diálogo que pressupõe ações cooperativas desses dois sujeitos. Esse mesmo ponto de vista orienta as reflexões de Tomazoni (2005; p. 41), às quais aqui se alinha:

se a concepção de avaliação mediadora pressupõe professor e aluno como co-participantes de um processo epistemológico, então a responsabilidade pela correção e reflexão passa a ser não apenas do aluno, mas também do professor. Sendo assim, a reescrita passa a ser o momento ideal para a co-participação em busca da correção e da reflexão sobre essa correção. A ação de reescrever, banhada por essa óptica, passa a ser revista como uma garantia a ser dada ao conhecimento compartilhado, numa atitude de parceria em torno do saber.

Se a avaliação do texto instaura um diálogo com o texto e com o autor, não se

pode perder de vista os jogos de imagem que orientam essa atividade: o que o autor projeta, o que o autor efetivamente realiza aos olhos do professor e o que o professor espera que o texto cumpra. Com relação a esse último aspecto, deve-se considerar que a ação do professor depende da escolha de um ponto de vista para a avaliação (o que inclui o seu objetivo). Assim, o que e como marcar é algo que se define à luz de por que e para que avaliar.

Cabe considerar, ainda, que, nas atividades de ensino e de aprendizagem, a forma como avaliamos revela nossas convicções epistemológicas sobre a ação docente

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em curso bem como nossa compreensão sobre a relação entre sujeito e objeto de conhecimento (cf. Arnold et alii, 2005). Mais especificamente, a forma como o professor corrige os textos produzidos por seus alunos informa sobre o modo como ele entende seu papel no processo de letramento do aluno e, ainda, sobre como concebe a constituição desse próprio processo. Assim, ao professor cabe pensar nos efeitos das marcas de sua leitura no processo de ensino e aprendizagem em curso.

Para encerrar esta seção, resta assinalar que o processo de apropriação da escrita acadêmica (e de qualquer outra escrita) pressupõe o desenvolvimento da capacidade do sujeito de avaliar, ao longo do processo de produção do texto e ao cabo dele, em que medida a ações de textualização empreendidas levam a que se concretize o seu projeto de dizer. Nesse caso, parece importante considerar como positivas as ações do professor, na atividade de avaliação, que promovem condições para essa postura de auto-avaliação. Afinal, o texto é do aluno.

2. A correção de textos pelo professor em formação A pesquisa cujos resultados se apresentam neste trabalho envolveu cinco alunos

do Curso de Letras investigado, atuando como professores em “Oficinas de Leitura e Produção de Textos” nos cursos de Letras, Ciência da Informação e Serviço Social, todos da mesma universidade, como já se assinalou. Ao todo, trinta estudantes dos primeiros períodos dos mesmos cursos indicados eram os alunos dessas oficinas. Foram analisados sessenta e sete textos corrigidos pelos professores em formação: três artigos de opinião para publicação em jornal; sete verbetes de dicionário; oito resumos de artigo de opinião destinados à consulta de um colega de sala, que não foi à aula (oficina) e não conhece o artigo; doze resumos de artigo de opinião para consulta do próprio aluno em situação de prova; sete resenhas para publicação em jornal; vinte resumos de artigo a ser publicado em site de revista em que se publicou o artigo resumido.

Sobre esses textos, cabe salientar inicialmente que são respostas a propostas de escrita plenamente sintonizadas com os princípios aqui defendidos, na medida em que a atividade de produção de textos se apresenta situada, contextualizada, por exemplo, em termos de seus propósitos, do gênero a ser materializado, dos interlocutores previstos e suas relações, do suporte, forma de circulação, conforme demonstra a proposta a seguir: Exemplo 1 (proposta de produção de resumo)

O texto "Cópia de livro e pirataria - tudo direito'" (Revista Caros Amigos, ano X, número 109, Abril, 2006), de Marilene Felinto, foi objeto de nossa discussão, na oficina do dia 02/09/2006. Sua tarefa, hoje, será produzir um resumo deste texto, imaginando que ele servirá de consulta para um colega de sala, que não esteve na aula passada e, portanto, não conhece o artigo de Felinto. O outro aspecto a ser observado reporta-se aos expedientes de correção adotados

pelos estagiários. Para essa análise, toma-se como referência a tipologia de Ruiz (2001). A autora, apoiando-se em Serafini (1989) e tomando como objeto de análise a atividade de correção por professores da Educação Básica de textos produzidos por seus alunos em situação escolar, descreve quatro tipos de correção: a correção resolutiva (caracterizada pela apresentação e solução dos problemas detectados nos textos), a correção indicativa (que se marca pela indicação, local, dos problemas encontrados nos

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textos), a correção classificatória (em que a natureza dos problemas detectados é apontada, através de metalinguagem codificada específica) e a correção textual-interativa (na qual, através de recados, o professor estabelece interlocução não codificada com o aluno, discutindo problemas de diferentes níveis do texto e, por vezes, apresentando solução ou sugestão para a tarefa de reescrita do mesmo).

Conforme assinala Ruiz (op. cit.) e confirmam estudos exploratórios desenvolvidos no âmbito do ensino de graduação (Assis, 2004 e 2005; Diniz, 2005), a correção resolutiva parece ser aquela que menos contribui para o amadurecimento das habilidades de escrita do aluno, na medida em que, obtendo soluções prontas para os problemas de seu texto, este deve apenas incorporá-las na forma de cópia. Os demais tipos de correção, ao contrário, demandam ao aluno uma atitude analítica de seu texto, não necessariamente realizando as alterações solicitadas nas correções. Esses resultados autorizam postular que determinados padrões de correção, sobretudo se vinculados à tarefa de reescrita, são extremamente significativos para a reflexão sobre a atividade de produção de textos realizada e, portanto, cumprem relevante papel no curso do processo de inserção do aluno nas práticas discursivas acadêmicas.

No caso das correções dos textos aqui analisados, registre-se que se manifesta expressiva preferência pela intervenção textual-interativa, associada à indicativa. Há raras correções classificatórias e resolutivas. Uma das explicações para esse resultado é a própria forma como se concebe a tarefa de escrita no âmbito das oficinas, isto é, tanto a correção como o seu efeito mais imediato, a reescrita, são naturalmente ações incorporadas à atividade de produção do texto, no pressuposto de que interessa aos sujeitos envolvidos – estagiários-professores e alunos – o processo em curso, e não tão-somente o seu produto.

No que concerne aos objetos das correções, os dados analisados insinuam um grande número de representações conflitantes sobre a aprendizagem em andamento e, conseqüentemente, sobre a própria tarefa de correção.

Assim, persistem intervenções em que se manifesta o privilegiamento de indicações do corretor guiadas pela convencionalidade mais estável da língua e orientadas pela crença em um ideal de escrita, independentemente da situação interlocutiva em que se constitui o texto corrigido. Nesse caso, os dados revelaram que as intervenções assumem, com freqüência, um tom de advertência, pouco orientador e que, geralmente, supõe uma série de conhecimentos já sabidos pelo produtor do texto, conforme se exemplifica a seguir:

Exemplo 2 (intervenções do estagiário em resenha): Começar frase com o pronome relativo “que” é um recurso arriscado. Atenção para a regência verbal. No próximo exemplo, em que as intervenções do estagiário são destacadas em

colchetes e itálico, a avaliação parece também ser guiada pela valorização da convencionalidade. Nesse caso, não se trata apenas de convenção de natureza formal, mas também relativa aos procedimentos textual-discursivos adotados pelo produtor, em um artigo:

Exemplo 3 (artigo de opinião corrigido):

Outra questão é que no Brasil, [1] como todos nós sabemos, a maioria das pessoas que estão na faculdade são as de origem de classe média, ou seja, a

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classe dominante sempre dominará a classe mais baixa. E o que fazer? Como mudar? Bom, ao passo de tartaruga que o desenvolvimento da educação caminha, daqui [2] há um século ou mais algo terá mudado. É sentar ou esperar ou levantar e agir, só depende do nosso posicionamento. [1. Não faça afirmações genéricas.] [2. Atenção para o emprego de há (passado) e a (futuro).]

Veja-se que, na intervenção [1], o estagiário não percebe a força argumentativa

do recurso empregado pelo produtor do texto no trecho “como todos nós sabemos”, especificamente no que toca ao grau de envolvimento e comprometimento que o recurso instaura em relação ao leitor projetado. Assim, a intervenção adquire um tom de convenção incontestável, algo que serve para todo e qualquer texto, independentemente do gênero materializado e das suas condições de produção, circulação e recepção.

Ao mesmo tempo em que os dados analisados denunciam um padrão de correção, através do qual se apresenta um veredito sobre o texto, indicando sobremaneira suas falhas e lacunas (uma espécie de herança de uma prática comum na tradição escolar, em que avaliar textos é contar erros – quase sempre gramaticais), também revelam a emergência de uma atitude de correção mediadora do processo de construção de saberes em curso, de redimensionamento dos conhecimentos construídos.

Nesse caso, as intervenções são consistentemente guiadas pelos parâmetros que cercam as condições definidas para a produção do texto que se corrige. Tais interferências representam uma normatividade ligada ao gênero e dizem respeito sobretudo ao estilo e à dimensão composicional, aspectos orientados por princípios da ordem discursiva, como se exemplifica a seguir:

Exemplo 4 (correção de resumo de artigo para consulta a colega de sala): “F., seu texto deixa escapar informações relevantes do texto-base. É preciso rever a seleção de informações e depois trazê-las de forma mais articulada para seu resumo. Vale uma reescrita. Abraços. B.” Exemplo 5 (intervenções de estagiários em resumo e resenha): Você se apropriou da voz da autora! Tente diferenciar o seu posicionamento e o da autora. Introduza o assunto para situar o leitor. É preciso deixar claro para o leitor que essa citação encontra-se no texto-base. Não parece ser uma palavra adequada ao gênero.

Esses exemplos são indicativos de uma nova postura de avaliação de textos – certamente efeito do processo de formação de professores em curso – através da qual as ações de correção integram a atividade de produção de textos e pressupõem a participação ativa e colaborativa do professor e do aluno no percurso de produção do texto.

Nesse sentido, é possível defender que, além de se orientar por critérios que emanem de uma visão de gênero discursivo, construída com base nas condições de sua emergência, configuração e funcionamento, a correção de textos deve objetivar o crescimento do aluno no que se refere às suas habilidades de escrita. Partindo desse raciocínio, a correção aqui defendida deve superar a lógica positivista de apenas mostrar o erro, permitindo que aluno e professor possam, juntos, refletir sobre o processo de

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construção de conhecimentos e valores caros à inserção do futuro professor nas práticas discursivas acadêmicas.

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