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APRESENTAÇÃO O livro A Riqueza das Nações de Adam Smith é tradicionalmente considerado o livro pioneiro na análise da economia como uma ciência moderna. Para muitos, desde o lançamento dessa obra pouco, ou muito pouco, foi descoberto no estudo da economia. Por mais que seja recente o assunto, alguma página ou linha do livro de Smith tem algum comentário ou indicação para a análise desse “novo” assunto. Além de ser considerado o livro seminal da ciência econômica, A Riqueza das Nações também é tido como referência básica para o pensamento econômico liberal. A mão invisível de Adam Smith representaria o funcionamento ideal de um sistema de produção e distribuição voltado ao mercado. Consumidores e produtores agindo em função dos seus próprios interesses fariam com que a satisfação de seus desejos levasse a economia para o ponto de maior bem-estar coletivo. Esse ponto de bem-estar social ótimo ficou conhecido como uma alocação de Pareto-Ótima, ou alocação eficiente de Pareto. A definição de uma alocação eficiente de Pareto nos diz que um determinado equilíbrio de mercado será eficiente se não for possível melhorar a situação de um agente sem piorar a de outro. Como você sabe, dentro de uma caixa de Edgeworth existem infinitos pontos eficientes, inclusive um no qual eu possuo toda a renda e vocês possuem nada. Afinal de contas, não existirá nenhuma outra alocação, diferente desta, na qual eu esteja melhor e vocês piores. Walras contribuiu para a análise de distribuição eficiente em sistema de mercado com os dois teoremas de bem-estar. O primeiro teorema mostra que toda economia competitiva é uma economia eficiente. Dito de outra forma, qualquer sistema competitivo no qual os indivíduos, tomando decisões de forma descentralizada e buscando a satisfazer os seus interesses, garante a existência de eficiência na economia. A partir desse primeiro teorema de bem estar podemos começar a falar do Estado. Se tivermos como guia o livro do Adam Smith, então, podemos dizer que realmente não existe um papel produtivo para o Estado na teoria econômica. No entanto, a partir de Walras fica mais explícito que o Estado Liberal possui sim objetivos, como o de garantir o cumprimento dos contratos e o de não permitir que o direito a propriedade particular seja colocado em cheque. O segundo teorema de bem-estar garante que qualquer alocação eficiente pode ser alcançada por uma economia competitiva, dadas condições iniciais apropriadas.

APRESENTAÇÃO A Riqueza das Nações · ... O quê produzir? Como produzir? E, ... agora estamos falando em justiça e esquecendo da eficiência. ... Tido como o grande maestro de

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APRESENTAÇÃO

O livro A Riqueza das Nações de Adam Smith é tradicionalmente considerado

o livro pioneiro na análise da economia como uma ciência moderna. Para muitos, desde

o lançamento dessa obra pouco, ou muito pouco, foi descoberto no estudo da economia.

Por mais que seja recente o assunto, alguma página ou linha do livro de Smith tem

algum comentário ou indicação para a análise desse “novo” assunto.

Além de ser considerado o livro seminal da ciência econômica, A Riqueza das

Nações também é tido como referência básica para o pensamento econômico liberal. A

mão invisível de Adam Smith representaria o funcionamento ideal de um sistema de

produção e distribuição voltado ao mercado. Consumidores e produtores agindo em

função dos seus próprios interesses fariam com que a satisfação de seus desejos levasse

a economia para o ponto de maior bem-estar coletivo. Esse ponto de bem-estar social

ótimo ficou conhecido como uma alocação de Pareto-Ótima, ou alocação eficiente de

Pareto.

A definição de uma alocação eficiente de Pareto nos diz que um determinado

equilíbrio de mercado será eficiente se não for possível melhorar a situação de um

agente sem piorar a de outro. Como você sabe, dentro de uma caixa de Edgeworth

existem infinitos pontos eficientes, inclusive um no qual eu possuo toda a renda e vocês

possuem nada. Afinal de contas, não existirá nenhuma outra alocação, diferente desta,

na qual eu esteja melhor e vocês piores.

Walras contribuiu para a análise de distribuição eficiente em sistema de mercado

com os dois teoremas de bem-estar. O primeiro teorema mostra que toda economia

competitiva é uma economia eficiente. Dito de outra forma, qualquer sistema

competitivo no qual os indivíduos, tomando decisões de forma descentralizada e

buscando a satisfazer os seus interesses, garante a existência de eficiência na economia.

A partir desse primeiro teorema de bem –estar podemos começar a falar do Estado. Se

tivermos como guia o livro do Adam Smith, então, podemos dizer que realmente não

existe um papel produtivo para o Estado na teoria econômica. No entanto, a partir de

Walras fica mais explícito que o Estado Liberal possui sim objetivos, como o de

garantir o cumprimento dos contratos e o de não permitir que o direito a propriedade

particular seja colocado em cheque.

O segundo teorema de bem-estar garante que qualquer alocação eficiente pode

ser alcançada por uma economia competitiva, dadas condições iniciais apropriadas.

Dotações iniciais referem-se não apenas à renda ou ao capital físico, mas também ao

capital humano que cada indivíduo possui ao entrar em um sistema econômico. Note

que alcançado uma alocação eficiente e, sendo ela um ponto de equilíbrio, não haverá

força alguma de mercado que a transfira desse ponto. Isso quer dizer que, na busca de

eficiência, uma economia de mercado perde a capacidade de transferência ou

redistribuição de renda ou riqueza.

Essa conclusão abre as portas desejadas para a intervenção estatal, sela ela em

bases de uma social-democracia (com mudanças nas condições iniciais), seja ela em

bases de uma ditadura do proletário (com a ação de um ditador benevolente). Paralelo a

tudo isso, Keynes no início do século XX propõe que o governo poderia ter a missão de

suavizar os ciclos econômicos, atuando principalmente na recessão. A idéia básica do

pensamento Keynesiano é que se a economia começar a se retrair os empresários

vislumbram menores lucros no futuro e retardam novos investimentos, reforçando a

crise. O governo, por não objetivar o benefício individual mas o bem estar coletivo,

seria capaz de reverter o ciclo de recessão investindo diretamente na atividade

produtiva.

Mas perceba que para que esse argumento seja válido é preciso que alguma coisa

aconteça de forma errada na tomada de decisão dos agentes econômicos racionais. Sim,

porque se todos os empresários soubessem que o seu investimento poderia reverter o

ciclo de crise, todos investiriam e o governo não precisaria agir. Para que o pensamento

Keynesiano funcione é preciso considerar a existência de falhas de mercado, originadas,

talvez, pela falta de informação.

Na presença de falhas de mercado temos a justificativa necessária para a atuação

e expansão dos tentáculos do governo. Sendo o mercado falho na busca de melhores

condições de vida, sendo o mercado falho na decisão de investimento, então, apenas

uma organização maior, mais eficiente, mais coordenada e mais centralizada poderia

responder melhor as três questões fundamentais da economia: O quê produzir? Como

produzir? E, para quem produzir? Enfim, o mundo descobriu e festejou a existência de

uma entidade mais forte, mais organizada e com melhores intenções que o mercado.

Viva a criação do governo.

Criou-se o governo, logo se criaram os impostos. Sim, tanta felicidade teria o

seu preço. Afinal de contas, se todo católico precisaria pagar o dízimo para alcançar a

graça do Céu, porque todo cidadão não deveria pagar um imposto para ter a graça do

serviço público? Era, no mínimo uma questão de justiça.

Opa, agora estamos falando em justiça e esquecendo da eficiência. Com a

cobrança de impostos e a criação de novos impostos a sociedade percebeu que todo e

qualquer imposto gera distorções. O imposto de renda reduz a oferta de trabalho; o

imposto de consumo reduz o próprio consumo; o imposto sobre o patrimônio reduz a

poupança. Descobrimos que assim como a sociedade poderia ganhar bem-estar, ela

poderia perder bem estar. Para evitar esse dano social resolveu-se aplicar aos tributos o

conceito de Pareto: uma estrutura tributária Pareto eficiente seria aquela estrutura de

impostos que não permite melhorar alguém sem piorar outro.

Ao longo das primeiras décadas do século XX os estudos em economia do setor

público se caracterizavam pela forte confiança que o governo poderia atuar de forma tão

ou mais eficiente que o próprio mercado, com a vantagem de somente ele poder corrigir

as falhas de mercado e as suas próprias falhas. Na América latina esse pensamento

ganhou hospedagem na CEPAL com a atuação de economistas como Prebish e Celso

Furtado que desenvolveram uma Teoria de Desenvolvimento baseada na forte atuação

do governo como fonte da industrialização e do desenvolvimento econômico e social

dos países latinos.

O primeiro grande livro de referência no estudo da economia do setor público foi

o livro de Musgrave que no final dos anos 50 inovou a análise da atuação do governo

inserindo ferramentas analíticas da microeconomia na análise das políticas públicas. Já

em Musgrave estava claro que a estrutura de governo moderna deveria ter três funções:

i) a função alocativa; ii) a função distributiva e, iii) a função estabilizadora. Esse

trabalho de Musgrave incentivou novos esforços como os trabalhos sobre a taxação

ótima, sobre o tamanho ótimo do governo e sobre a avaliação da atuação do governo.

Novos trabalhos consolidaram uma área de estudo chamada de Economia do Setor

Público (como principal referência internacional temos o Journal of Public Economics)

baseada em três princípios básicos. Primeiro, o estudo do setor público deve ser feito

em consonância com os princípios da análise teórica da ciência econômica, isto quer

dizer, os estudos devem estar baseados em fundamentos teóricos e na modelagem

formal. Segundo, os estudos devem analisar como as decisões e escolhas do governo

podem alterar os incentivos econômicos e os seus efeitos distributivos. E, terceiro, a

análise parte do princípio que as decisões tomadas pelo governo possuem motivações

pessoais, políticas e não o romântico objetivo de atender as necessidades da sociedade.

Com bases teóricas e analíticas mais rigorosas e, tendo como fonte de inspiração

o Teorema de Impossibilidade de Arrow, os estudos dos últimos 20 anos acrescentaram

um novo tempero no estudo da Economia do Setor Público: a existência de falhas de

governo. Esse foi um dos maiores avanços teóricos e empíricos dos últimos anos, não

somente nessa área de estudo, mas em toda ciência econômica. Tido como o grande

maestro de uma orquestra, os novos trabalhos mostraram que governos poderiam cortar

investimentos e, como conseqüência, cortar o crescimento econômico de um país.

Governos estão sujeitos à interferência de grupos de interesse e à ação de grupos

especializados em caçar renda. Além do mais, problemas com corrupção e com a

ineficiência institucional levaram a um controle maior, por parte da sociedade, das ações

do governo. Como conseqüência, a ação do governo ficou mais lenta, morosa, e

desfocada do seu objetivo central. De protetor do bem-estar social, o seu principal

objetivo passou a ser a perpetuação no poder.

Da mesma forma que o estudo das falhas de mercado levou a busca do governo

como mecanismo alocador eficiente de recursos, a sociedade busca outras formas de

atuação e controle do governo como forma de sair de suas armadilhas. Privatizações,

regulação, corrupção, descentralização, reforma tributária, reforma fiscal,

desburocratização, eficiência, reforma da previdência, sustentabilidade fiscal, entre

tantos outros temas, passaram a fazer parte dos novos temas referentes ao estudo da

Economia do Setor Público.

Séculos se passaram, mas o sentimento misto sobre governo permanece.

Sabemos que governo é uma necessidade, afinal todos as nações possuem governo, mas

ao mesmo tempo, governo possui aspectos indesejáveis. De um lado o governo atende

as necessidades da sociedade realizando políticas públicas. O risco aqui ocorrido é que o

governo trate todas as políticas públicas como necessárias. Afinal, quem pode acusar

uma política pública de ser supérflua? O governo pode oferecer políticas que a

sociedade deseja, mas isso terá custos. Um é o custo de oportunidade, afinal o recurso

alocado para uma finalidade não está atendendo outras (também necessárias). O

segundo custo é o financeiro. Governos não geram renda, logo os recursos para

financiar as despesas devem vir do setor privado. E, os tributos podem ser onerosos.

Sempre é melhor e mais fácil gastar o dinheiro dos outros!

O desafio do nosso curso é conseguir avançar por esses temas, sem negar a

existência de mercado e, sem negar a existência de governo, analisando ambos com a

bagagem teórica e o rigor analítico que o curso de economia possui como diferencial.

Espero que tenhamos sucesso.

2. PORQUE EXISTE GOVERNO? PORQUE NÃO EXISTE MERCADO, ORA

BOLAS!

Nos cursos de economia é visto que o equilíbrio de mercado leva a quantidades

produzidas que são eficientes, no sentido que o ganho marginal da sociedade será igual

a perda marginal da sociedade. Se isto for verdade não existe razão para a

implementação de políticas públicas1. Agora vamos lembrar os principais argumentos

que nos levaram a concluir que a alocação do mercado é eficiente. Uma vez descritos os

argumentos que garantem a eficiência do mercado iremos procurar saber se existem

situações onde o mercado pode não ser eficiente. Estas situações, caso existam, irão

justificar a implementação de políticas públicas.

2.1 O Excedente do Consumidor

O primeiroconceitoquevamosutilizarnoestudodeeconomiadobem-estar2 é o de

excedente dos consumidores, este é o principal conceito a ser observado quando da

determinação de qualquer política pública. Para entender este conceito devemos

considerar que o preço que um consumidor paga por um produto, chamaremos de p, é,

em geral, diferente do valor que o consumidor estaria disposto a pagar, que será

chamado de r. Podemos dizer que se o preço for menor do que a quantia que o

consumidor está disposto a pagar p<r, correrá a compra. Por outro lado, se p>r o

consumidor não vai realizar a compra. Caso p = r o consumidor fica indiferente entre

comprar e não comprar o produto. Desta forma é de se esperar que quando um produto é

vendido no mercado algumas das pessoas que compram tal produto estariam a dispostas

a pagar mais por ele. Este fato é que da origem ao excedente dos consumidores.

Definição 1 O excedente dos consumidores é a quantia que os compradores

estariam dispostos a pagar por um bem menos a quantia que eles, de fato, pagam.

A Figura 1 apresenta uma representação gráfica do excedente dos

consumidores, que passaremos a chamar de EC. O excedente dos consumidores é

representado pelo triangulo ABC, a quantidade está no eixo horizontal representada pela

letra Q, e o preço é representado por p.

FIGURA 1 AQUI

A medida que o preço cai é de se esperar que o excedente do consumidor

aumente. Dois fatores explicam este efeito, o primeiro é que, com preços menores,

aumenta o excedente dos consumidores que já estavam comprando ao preço anterior. O

segundo é que a redução do preço faz com que entre novos consumidores no mercado.

A Figura 2 ilustra estes dois efeitos.

FIGURA 2 AQUI

Na Figura 2 o triangulo ABC representa o excedente dos consumidores quando

o preço é¯ p0. O triangulo a ADF representa o excedente dos consumidores quando o

preço é ¯ p1. O aumento no excedente dos consumidores é representado pela área

BCDF, sendo que esta área pode ser decomposta no retângulo BCED e no triangulo

CEF. O retângulo representa o aumento no excedente dos consumidores que já estavam

no mercado, o triangulo representa o excedente dos novos consumidores.

2.2 Excedente dos Produtores

De maneira semelhante a que definimos o excedente dos consumidores

podemos tentar definir um excedente para os produtores. Suponha que a firma i tenha

um custo ci para produzir determinado produto, desta forma a firma vai querer vender o

produto se o preço for maior que o seu custo, ou seja, p>ci, não vai vender o produto se

o preço for menor que o custo, ou seja, p<ci, e ficará indiferente entre vender e não

vender se o preço for igual ao custo. Como sabemos, o preço de mercado deve ser igual

ao custo da firma menos eficiente que opere no mercado, do contrário a firma não

produz e fica fora do mercado. Desta forma as firmas mais eficientes operam com o

custo menor que o preço de mercado. Este fato origina o conceito de excedente dos

produtores.

Definição 2 O excedente dos produtores é a quantia recebida pelos

produtores menos a quantia gasta na produção.

A Figura 3 representa graficamente o excedente dos produtores, que

passaremos a chamar de EP. O valor deste excedente é dado pela área do triangulo

ABC.

FIGURA 3 AQUI

Quando o preço aumenta, ao contrário do que acontece com o excedente dos

consumidores, o excedente dos produtores tende a aumentar. Isto porque aumenta o

excedente das firmas que já estavam produzindo e novas firmas entram no mercado e

passam a receber seus excedentes. A Figura 4 ilustra estes efeitos.

FIGURA 4 AQUI

Na Figura 4 o triangulo ABC representa o excedente dos produtores quando o

preço é¯ p0. O triangulo a ADF representa o excedente dos produtores quando o preço é

¯ p1. O aumento no excedente dos produtores é representado pela área BCFD, sendo

que esta área pode ser decomposta no retângulo BDEC e no triangulo CEF. O retângulo

representa o aumento no excedente dos produTores que já estavam no mercado, o

triangulo representa o excedente dos novos produtores.

Exemplo:

Suponha que a demanda inversa seja dada por p = 100− q e que a oferta inversa

seja dada por p = 10 + 2 q. Encontre o excedente dos consumidores e o excedente dos

produtores. Para responder esta pergunta temos que antes determinar o preço e

quantidade que equilibram o mercado, para isto devemos igualar a oferta inversa à

demanda inversa, ou seja, devemos procurar ¯ q tal que: 100− ¯ q = 10 + 2¯ q ⇒3¯ q =

90⇒ ¯ q = 30 logo, o preço de equilíbrio será ¯ p = 70 .

Para calcularmos o excedente dos consumidores devemos diminuir a área

abaixo da demanda inversa no intervalo entre zero e trinta de ¯ p¯ q. No caso do

excedente do consumidor devemos diminuir ¯ p¯ q da área abaixo da curva de oferta

inversa no intervalo entre zero e trinta. Como a demanda e a oferta são lineares

podemos resolver o problema sem o uso de integrais, de fato basta calcularmos as áreas

dos triângulos descritos nas figuras um e três.

A Figura 5 ilustra o procedimento. Na Figura 5 o excedente dos produtores é

representado pela área do triangulo ABE enquanto o excedente dos consumidores é

representado pela área do triangulo BCE. Para calcularmos estas áreas basta lembrarmos

que a área de um triangulo é igual a base multiplicada pela metade da altura. Aplicando

esta fórmula podemos calcular o excedente dos produtores como:

EP =

30×(70−10) /2 = 900

enquanto o excedente dos consumidores será dado por:

EC = 30×(100−70)/ 2 = 450

FIGURA 5

2.3 EQUILÍBRIO DE MERCADO

Os principais instrumentos que os economistas usam para avaliar o bem estar

da sociedade são os excedentes dos consumidores e dos produtores.

A partir destes conceitos podemos avaliar os impactos de uma determinada

política pública sobre os indivíduos e as firmas. Porém, antes de avaliarmos os impactos

das políticas pública, seria conveniente saber quais as consequencias do livre mercado

sobre o bem-estar.

Para analisar as propriedades do livre mercado vamos precisar de uma figura

imaginária que chamaremos de planejador central. O planejador central é um ditador

que conhece tudo, pode tudo e deseja o melhor para a sociedade. O que ele deveria fazer

para garantir o máximo de bem-estar para a sociedade? Será melhor deixar os

indivíduos agir livremente de acordo com as forças de mercado, ou será melhor usar

seus poderes para garantir um maior nível de bem-estar?

Para responder esta pergunta o planejador precisa, antes, definir como medir o

bem-estar da sociedade. Um possível critério seria considerar a soma dos excedentes

dos produtores e dos consumidores, chamado excedente total. Como o excedente dos

consumidores mede o bem-estar dos indivíduos e o excedente dos produtores mede o

ganho das firmas em participar do mercado, o excedente total parece ser uma medida

justa de bem-estar da sociedade.

Definição 3 O excedente total é igual ao excedente dos consumidores mais

o excedente dos produtores, iremos denotar o excedente total como ET.

A aplicabilidade do conceito total para medir o bem-estar da sociedade fica

mais clara se lembrarmos do significado de cada um dos seus componentes. O

excedente dos consumidores corresponde a quantidade que os consumidores estariam

dispostos a pagar menos o que, de fato, eles pagam. O excedente dos produtores é igual

a quantia que os produtores recebem menos o custo incorrido para a produção. Se

considerarmos que o valor pago pelos consumidores é igual ao recebido pelos

produtores temos que o excedente total pode ser visto como o valor para os

consumidores menos o custo para os produtores.

Definição 4: Dizemos que uma determinada alocação é uma alocação

eficiente quando ela maximiza o excedente total.

Suponha agora que o planejador central deseja buscar uma alocação eficiente.

Se chamarmos de U(q) a satisfação dos consumidores em consumir q unidades do bem

e C(q) o custo para os produtores produzirem q unidades do bem, o excedente total será

dado por: ET = U(q)−C(q).

Esta expressão é justificada pelo fato que os consumidores estariam dispostos a

pagar o exato montante da satisfação que o consumo de q unidades os proporciona.

Desta forma podemos descrever o problema do planejador central como:

max U(q)−C(q)

a condição de primeira ordem (C.P.O.) para este problema tem a forma:

U’(q)=C’(q)

esta condição implica que uma cesta é eficiente quando a utilidade marginal

dos consumidores é igual ao custo marginal dos produtores.

Desta forma, se o planejador social intervir na economia ele escolherá uma

quantidade tal que U’(q)=C’(q). O que acontecerá se o planejador central não intervir na

economia?

Para responder esta pergunta devemos considerar o comportamento dos

consumidores e dos produtores separadamente. Inicialmente assuma que os

consumidores desejam maximizar seu excedente, ou seja, os consumidores vão escolher

uma quantidade q que maxize o valor de EC = U(q)−pq. Este problema pode ser escrito

da forma:

max U(q)−pq

a condição de primeira ordem implica que U’(q)=p.

Agora suponha que os produtores se comportam de forma a maximizar o

excedente deles. Isto implica que eles escolheram a quantidade que resolve o seguinte

problema: max q pq−C(q) ou seja, os produtores vão escolher q de tal forma que

C’(q)=p. Juntado as decisões dos consumidores e dos produtores temos que U’(q)= p =

C’(q), que pode ser escrita como U’(q)=C’(q). A conclusão é que se os consumidores e

os produtores agirem de forma a maximizar seus excedentes eles vão produzir a

quantidade que maximiza o excedente total.

A maior consequência da conclusão acima é que, se o planejador central

resolver intervir na economia, ele vai escolher exatamente a mesma quantidade que os

agentes escolheriam livremente por meio das forças de mercado. Dito de outra forma, a

melhor coisa que o planejador central pode fazer é deixar o mercado agir livremente. A

proposição abaixo resume esta discussão.

Proposição 1 Se os agentes da economia agirem livremente de acordo com

as forças do mercado a quantidade que eles escolherão produzir e consumir será

eficiente, ou seja, o planejador central não pode escolher uma quantidade melhor

que a de mercado.

Se considerarmos a proposição acima teremos problemas em justificar qualquer

tipo de política pública. Uma vez que o mercado garante a alocação eficiente não existe

razão para que o setor público atue no sentido de alterar o que o mercado decidiu,

qualquer tentativa neste sentido seria ineficiente.

Logo iremos estudar casos onde as políticas públicas podem ser implementadas

para melhorar as decisões do mercado, ou seja, vamos estudar os casos onde a

proposição acima não pode ser utilizada. Além dos casos onde a proposição não pode

ser implicada iremos estudar problemas que não foram abordados até aqui, em

particular questões que envolvem a distribuição da renda entre os agentes de uma

economia.

Note que mostramos apenas que a escolha de mercado é eficiente, não

discutimos nada sobre se a decisão do mercado gera equidade. Muitas vezes uma

política pública pode ser justificada pelos seus impactos distributivos, um exemplo é a

implementação de impostos progressivos sobre a renda.

3. INEFICIÊNCIA DO MERCADO

Nesta unidade serão estudadas as situações que fazem com que o equilíbrio de

mercado não seja eficiente, ou seja, serão estudadas situações onde os resultados da

unidade anterior não podem ser aplicados. Quando o mercado falha em garantir uma

alocação eficiente abre-se espaço para a elaboração de políticas públicas que beneficiem

toda a sociedade, em geral estas situações decorrem da existência de externalidades,

bens públicos ou recursos comuns, poder de mercado e informação incompleta.

3.1 EXTERNALIDADES

Na unidade anterior consideramos que as ações de uma firma ou de um

indivíduo não afetavam o bem-estar de ninguém que não estivesse envolvido na

atividade específica que estava sendo estudada. Tudo ocorria como se as ações de uma

determinada firma só afetasse seus consumidores e as outras firmas por meio dos

preços.

Na maioria dos casos esta é uma hipótese raozável, as decisões do padeiro da

minha vizinhança só me atingem a medida que afetam o preço do pão. Da mesma forma

as atividades do padeiro não afetam o comportamento do veterinário da outra esquina, e

só afeta o lucro de outro padeiro devido a concorrência dos dois. Porém existem alguns

casos onde esta hipótese não é razoável, são casos onde as atividades de uma firma, ou

pessoa, atingem outros agentes da economia sem ser por mecanismos de mercado.

Isto acontece quando uma firma ao produzir determinado produto lança detritos

tóxicos em um rio da cidade. Muitas pessoas que serão afetadas por esta firma podem

não ser consumidoras da firma, ou mesmo nem saber o que a firma produz. Da mesma

maneira o lago poluido pode prejudicar uma firma especializada em pesca mesmo que

afirma poluidora não tenha nada a ver com o ramo de pesca. Quando este tipo efeito

ocorre dizemos que existe uma externalidade.

Definição 5 Uma externalidade ocorre quando as ações de um agente

atingem o bem-estar de outros agentes que não participam da ação.

No exemplo que apresentamos a ação da firma poluidora causa um impacto

negativo nos outros agentes da economia, quando isto ocorre a externalidade é chamada

de negativa. Algumas vezes as ações de um agente podem trazer impactos positivos

sobre o bem-estar dos outros, é o caso de um indivíduo que mantém um belo jardim em

sua casa ou de uma firma que atrai clientes para as firmas vizinhas. Estas externalidades

são chamadas de externalidades positivas.

3.1 EXTERNALIDADES E EFICIÊNCIA DE MERCADO

No caso onde não existem externalidades vimos que o equilíbrio de mercado é

eficiente, no sentido que maximiza o excedente total da economia. Nesta unidade vamos

avaliar se podemos, ou não, chegar a mesma conclusão quando existem externalidades.

Para isto vamos considerar externalidades positivas e negativas na produção e no

consumo.

Vamos começar estudando o que ocorre quando existem externalidades

negativas na produção. Considere o exemplo da firma que polui um rio enquanto realiza

sua produção. Seja pela redução na produção de outras firmas, seja pela destruição de

espaços destinados a diversão dos indivíduos, os custos da poluição são percebidos pela

sociedade.

Porém a firma não paga nada por poluir e, portanto, estes custos não aparecem

na estrutura de custos da firma, de forma que o custo para sociedade é maior que o custo

para a firma6.

Definição 6 O custo social de uma determinada atividade é igual a soma

dos custo que a atividade impõe a todos os membros da sociedade.

Sabemos que a quantidade que as firmas decidem ofertar é aquela que iguala o

custo marginal ao preço, porém o custo marginal que a firma considera é relativo ao seu

custo privado e não ao custo social. Desta forma o mercado se equilibra com uma oferta

que não considera os custos sociais, tentaremos determinar como isto afeta a

propriedade de eficiência do equilíbrio de mercado.

Considere novamente o planejador central que busca maximizar o excedente

total, tentaremos determinar qual a quantidade que este planejador escolhe produzir. A

oferta do planejador deve considerar o custo social e não o privado, de forma que a

“oferta do planejador” é determinada de forma a igualar o preço ao custo marginal

social. Como o custo marginal é crescente o planejador deve ofertar uma quantidade

menor que o mercado a cada nível de preços. A Figura 6 ilustra este argumento.

0

1

2

3

4

5

0 10 20 30

P

$

Mercado de Gasolina

Análise Econômica

A curva de demanda

apresenta os valores

privados pelo consume

A curva de oferta apresenta

os custos privados, os

custos diretamente

envolvidos na produção

Em equil. O Mercado

maximiza o

excedente total.

$2.50

25

FIGURA 6 AQUI

Na Figura 6 o preço é igual a p. A firma, considerando apenas seus custos

decide por ofertar qf. O planejador central considera o custo social, como o custo social

é maior que o da firma o planejador decide reduzir a produção de forma a reduzir o

custo. No exemplo da firma poluidora o planejador reduz a produção para que afirma

polua menos. Em termos de equilíbrio o deslocamento para cima da curva de oferta

reduz a quantidade, a Figura 7 ilustra este fato. Esta observação nos permite enunciar a

seguinte proposição.

0

1

2

3

4

5

0 10 20 30

P

$

Mercado de Gasolina

Análise da Externalidade Negativa

D

S

Custosocial

Equil. Mercado

(Q = 25)

É maior que o

ótimo social

(Q = 20).

25

solução:

taxar os

vendedores

$1/litro,

Deslocando a

curva oferta em

$1.

FIGURA 7 AQUI

Proposição 2: Caso existam externalidades negativas sobre a produção a

quantidade de equilíbrio de mercado será maior que a quantidade ótima escolhida

por um planejador central.

Como podemos ver na Figura 7 no equilíbrio de mercado os consumidores, na

margem, estão pagando menos que o custo social. De outra forma podemos dizer que,

no equilíbrio de mercado, o valor que os consumidores dão ao produto é menor do que o

custo de produzi-lo, ou seja, o total produzido pelo mercado é ineficiente.

Vimos que, no caso de externalidades negativas sobre a produção, o planejador

central escolhe uma quantidade menor que o mercado. Em economias verdadeiras não

existe a figura de um planejador central, o que mais se aproxima deste planejador é o

governo, porém o governo não pode forçar as firmas a produzirem uma determinada

quantidade.

O melhor que o governo pode fazer é induzir as firmas a produzirem a

quantidade ótima do ponto de vista social. No caso de externalidades negativas sobre a

produção o governo pode colocar um imposto que faça com que o custo da firma fique

igual ao custo da sociedade. Desta forma o governo força as firmas a considerarem os

efeitos da poluição, de maneira que, com custos mais altos, as firmas decidem reduzir a

quantidade produzida. Se o imposto for bem aplicado isto fará com que as firmas

produzam a quantidade ótima do ponto de vista social. Quando o governo aplica este

tipo de imposto dizemos que ele fez as firmas internalizar em suas externalidades.

Definição 7 Dizemos que ocorre uma internalização de uma externalidade

quando algum incentivo faz com que os agentes considerem as externalidades

causadas por suas ações.

“Internalizando a Externalidade”

Internalizar as externalidades envolve alterar os

incentivos tal que os agentes econômicos

contabilizem os efeitos externos dde suas

escolhas e /ou ações;

No exemplo, a implementação de um imposto de

$1 no litro da gasolina tornaria o custo do

vendedor = custo social.

Agora, o ótimo social = equilíbrio de Mercado.

Da mesma forma que existem externalidades negativas na produção, existem

externalidades positivas. Um exemplo clássico de externalidades positivas é o caso das

abelhas e das flores. Suponha que um apicultor seja vizinho de um floricultor, se o

capilcultor decidir criar mais abelhas ele estará reduzindo os custos do floricultor, uma

vez que as abelhas polinizam as flores. Da mesma forma uma maior produção de flores

permite que as abelhas produzam mais mel, o que reduz o custo do apicultor. Como o

apilcultor não considera o custo do vizinho, ele vai escolher produzir uma quantidade

menor que a socialmente ótima. Isto vai ocorrer pois o custo social é menor que o

privado, Figura 8 ilustra esta situação.

FIGURA 8 AQUI

Externalidades Positivas Na presença de externalidades positivas, o valor

social do bem envolve o valor privado mais um

benefício externo.

A quantidade ótima social Q, maximiza o bem-

estar social:

Para valores menores de Q, o valor social de

uma unidade adicional excede seu custo.

Para valores maiores de Q, o custo da última

unidade excede o seu valor social.

Òtimo Social Q

= 25 vacinas.

Para internalizar o

ganho externo é

necessário um

subsídio =

$10/vacina.

Vacina H1N1

D

S

Valor Social

= valor privado

+ $10 benefício externo

0

10

20

30

40

50

0 10 20 30

P

Q

$

Benefício

externo

25

Externalidade Positiva

O planejador social vai escolher uma quantidade maior que o apilcutor pois ele

considera o fato de que mais abelhas reduzem o custo da produção de flores. O governo

fazer com que o apicultor internalize suas externalidades se conseder um subsidio a

produção de mel, este subsidio reduz o custo do apicultor de forma que ele pode vir a

produzir a quantidade socialmente ótima. Um outro exemplo de externalidade positiva é

o investimento em pesquisa. Ao realizar uma pesquisa uma firma, ou um pesquisador

independente, pode descobrir processos que aumentem a eficiencia de toda a sociedade.

Estes ganhos para a sociedade não são considerados pela firma, de forma que o total de

pesquisa será inferior ao socialmente ótimo. No caso da pesquisa a diferença entre o

ganho social e o ganho da firma é chamada transbordamento tecnológico. Se o governo

desejar subsidiar a pesquisa de modo a induzir uma quantidade eficiente, o subsídio

deve ser do tamanho do transbordamento tecnológico.

Da mesma forma que existem externalidades na produção, existem

externalidades no consumo. Um indivíduo que fuma charutos em lugares públicos causa

uma perda de bem-estar para todos que frequentam o lugar. Por outro lado, um

indivíduo que use um perfume agradável pode causar ganhos de bem-estar para os que

estão a sua volta.

Podemos analisar as externalidades do consumo de forma semelhante a que

analisamos as externalidades sobre a produção. Considere o caso da externalidade

positiva, o indivíduo ao consumir estará considerando apenas sua satisfação, de forma

que ele vai demandar o produto de forma a igualar sua utilidade marginal ao preço.

O planejador central, além de considerar a satisfação do indivíduo vai

considerar a satisfação de todos os que se beneficiam do consumo, ou seja, o valor que

o planejador credita ao bem é maior que o valor que o indivíduo está disposto a pagar.

A Figura 9 descreve os efeitos de externalidades positivas do consumo.

FIGURA 9 AQUI

Na Figura 9 a curva de demanda privada não considera os efeitos das

externalidades, neste caso a quantidade de equilíbrio será dada por qi. Ao considerarmos

os efeitos da externalidade devemos deslocar a curva de demanda para cima, pois ao

mesmo preço a quantidade escolhida é maior, essa nova curva é chamada demando do

planejador. Com a nova demanda a quantidade de equilíbrio passa a ser qp. A conclusão

é que as externalidades positivas do consumo fazem com que a quantidade de mercado

seja inferior a socialmente desejável. Se as externalidades forem negativas ocorre efeito

contrário, ou seja, a quantidade de mercado é maior que a socialmente ótima, a

ilustração gráfica deste caso é deixada como exercício. O governo pode forçar a

quantidade de mercado ser igual a socialmente eficiente por meio de impostos ou

subsídios, estes devem ser determinados de forma a internalizar as externalidades.

Se existe externalidade negativa

Quantidade de Mercado maior que a

quantidade desejada pela sociedade

Se existe externalidade positiva

Quantidade de Mercado menor que a

quantidade desejada pela sociedade

Para corrigir a alocação governo pode agir,

Taxar bens com efeitos negativos

Subsidiar bens com efeitos positivos

Efeitos da Externalidade: Sumário

Políticas Públicas e Externalidades

Duas abordagens:

Política de Fiscalização: regular diretamente o

comportamento. Exemplos:

Limitar a quantidade de poluição emitida;

Exigir o uso de tecnologia limpa

Política orientada para o Mercado: gerar

incentivos e normatização para que o próprio

Mercado escolha a solução do problema.

Exemplos:

Permitir a negociação de direitos de poluição

Agências Privadas

3.2 BENS PÚBLICOS E RECURSOS COMUNS

Na unidade anterior foi visto que a existência de externalidades faz com que a

alocação de mercado deixe de ser eficiente. Uma outra possibilidade em que o

mercado não leva a escolhas eficientes ocorre no caso de bens que não possuem o

preço determinado no mercado. Nesta categoria podemos incluir muitos recursos

naturais como os rios e as praias e alguns serviços oferecidos pelo governo como

praças, defesa e iluminação pública.

Um dos argumentos para a eficiência de mercado é que os indivíduos só consomem se

o valor que eles dão a um bem ou serviço for maior do que o preço do serviço, que no

equilíbrio competitivo representa o custo. Quando o indivíduo não tem de pagar para

usar um bem ou serviço não podemos garantir que ele só vá consumir se o valor que

atribui ao produto, ou serviço, seja maior que o custo de produzi-lo. Desta forma não

podemos garantir a eficiência das escolhas individuais. Nesta unidade vamos estudar

quais os efeitos da presença destes bens na economia.

Antes de iniciar a análise será conveniente definir alguns conceitos que irão nos

permitir determinar que tipo de bem está sujeito ao problema de não ter preço. O

primeiro conceito relaciona-se ao fato de podermos, ou não, impedir que um

indivíduo, ou um grupo de indivíduos, possa consumir um determinado bem ou

serviço. Quando é possível impedir falamos que o bem ou serviço é excluível, é o caso

de camisas, comida e a maioria dos bens e serviços que conhecemos. Quando não

podemos impedir que um indivíduo, ou um grupo de indivíduos, consuma um bem ou

serviço dizemos que o bem ou serviço é não excluível, neste caso temos o ar, a

iluminação pública ou a paisagem de uma serra.

Definição 8 A exclusibilidade é a propriedade de um bem ou serviço pela qual

podemos impedir uma pessoa de usá-lo.

Um outro atributo importante na caracterização de um determinado bem ou serviço

relaciona-se ao fato de se o consumo por um indivíduo atrapalha o consumo do

mesmo bem ou serviço por outros indivíduos. Quando resolvo consumir uma camisa

não é possível que outro consumidor use a mesma camisa junto comigo, este é o caso

da maioria dos bens, que, por isso, são chamados de rivais. Considere agora a

iluminação do sol, é possível que vários consumidores consumam este serviço

simultaneamente sem que o consumo de um afete o do outro, o mesmo é verdade para

para a iluminação pública, para o sinal de TV aberta, para o sinal de TV a cabo e

vários outros bens ou serviços que, neste caso, são chamados não rivais.

Definição 9 A rivalidade é a propriedade de um bem ou serviço pela qual sua

utilização por uma pessoa impede outras de usá-lo.

A partir dos conceitos de rivalidade e exclusividade podemos classificar os bens de

acordo com as seguintes categorias:

Bens Privados: Um bem privado é um bem exlcuível e rival, esta categoria engloba a

maior parte dos bens que conhecemos. Quando um bem é privado podemos impedir

que qualquer pessoa o consuma, bem como o consumo por parte de uma pessoa não

permite o consumo simultâneo de outra. Exemplos de bens privados são as roupas, as

comidas, maioria dos móveis e cadeira em que você está sentado agora.

Bens Públicos: Um bem é público quando ele não é nem rival nem excluível, ou seja,

é o contrário do bem privado. Quando um bem é público não podemos impedir que

alguém ou consuma e o consumo por parte de um indivíduo não afeta o consumo dos

outros. Como exemplos de bens públicos podemos citra a iluminação das ruas e a

defesa nacional.

Recursos Comuns: São bens rivais mas não excluíveis. Não podemos impedir que

alguém use um recurso comum, mas quando alguém usa impede outros de usarem. Os

peixes do mar são um exemplo de recurso comum, é impossível impedir que alguém

pesque no mar, mas quando alguém pesca um peixe impede outros de fazer o mesmo,

outro exemplo de recursos comuns são os parques públicos e as aguas dos rios.

Bens Sujeitos a Monopólio Natural: Os bens sujeitos a monopólio natural são bens

excluíveis mas não rivais, ou seja, podemos impedir alguém de usá-lo, mas seu uso

por parte de um indivíduo não impede o uso de outros. Um exemplo é o sinal da TV a

cabo.

A classificação acima nos permite definir bens públicos e recursos comuns,

entretanto deve ficar claro que nem sempre é fácil determinar a categoria de um dado

bem. Considere o serviço de proteção ao fogo, em grandes metrópoles como o Rio de

Janeiro e São Paulo seria muito difícil excluir alguém deste serviço, se os bombeiros

deixarem uma casa pegar fogo existe uma grande probabilidade que o fogo se espalhe

e queime as casas das pessoas que pagam o corpo de bombeiros, no caso de

apartamentos a exclusão fica ainda mais dificil. Em pequenas cidades com baixa

densidade demográfica pode ser possível excluir o uso do combate ao fogo, caso um

morador não pague pelo corpo de bombeiros é possível deixar sua casa queimar sem

prejuízo para os que pagam o corpo de bombeiros. Desta forma o corpo de bombeiros

será excluível em uma pequena cidade, porém não excluível em uma grande cidade.

Da mesma forma podemos pensar que em uma pequena cidade os bombeiros

nunca estão muito atarefados, de forma que, quando uma pessoa chama os bombeiros,

não afeta a capacidade dos bombeiros atender outros pedidos, ou seja, o combate ao

fogo é um bem não rival. Em uma grande cidade pode ser que, ao chamar os

bombeiros, o consumidor impeça os bombeiros de atender outros pedidos, de forma

que o combate ao fogo seja um bem rival. Usando as categorias acima diríamos que o

combate ao fogo é um monopólio natural em uma pequena cidade e um recurso

comum em grandes cidades. Se a metrópole tiver um número de bombeiros muito

acima de suas necessidades, de forma que o combate ao fogo seja não rival, então

podemos dizer que o combate ao fogo será um bem público. Este exemplo mostra

como, dependendo de certas condições, um mesmo bem pode ser classificado de

formas diferentes.

Um outro ponto que o exemplo acima ajuda a ilustrar é que a propriedade de

rivalidade pode depender do quanto o bem está sendo usado. Desta forma, uma estrada

pouco movimentada pode ser não rival, enquanto que uma estrada muito usada pode

ser vista como um bem rival, ou seja, a congestão pode tornar rival um bem que, em

outras circunstâncias, seria não rival. No restante desta unidade vamos estudar como

bens que não são excluiveis afetam as propriedades de bem-estar do equilíbrio de

mercado, ou seja, vamos estudar os bens públicos e os recursos comuns. Os bens

privados costumam ser providos pelos mercados de forma eficiente, enquanto os

monopólios naturais serão estudados mais adiante quando da análise dos efeitos da

existência de poder de mercado por parte de uma firma.

3.3 BENS PÚBLICOS

Bens públicos são caracterizados pela propriedade de não rivalidade e não

exclusividade. Podemos considerar os efeitos sobre o bem-estar de cada uma destas

propriedades separadamente. Quando um bem é não rival significa que o custo

marginal de ofertar uma unidade a mais de um bem é igual a zero, desta forma o ótimo

social seria permitir que todos consumissem o quanto desejassem o bem, ocorre que

este não é um resultado provável.

Considere que o bem em questão seja excluível, ou seja permite um monopólio

natural, é de se esperar que o produtor do bem cobre um preço para permitir seu

consumo, isto fará com que algumas pessoas deixem de consumir o bem, estas pessoas

estariam dispostas a pagar mais que o custo marginal do bem, que é zero, porém não

vão consumir pois não estão dispostas a pagar o preço.

O resultado é que o consumo do bem acaba sendo inferior ao socialmente ótimo. Caso

o bem não rival também não seja excluível, o que quer dizer que é um bem público,

não ocorre o problema relacionado ao consumo, visto que a não exclusibilidade

permite que todos consumam o bem. Entretanto, ninguém vai querer produzir um bem

que não possa ser cobrado, como consequência ocorrerá uma oferta inadequada do

bem. Em resumo podemos dizer que bens não rivais ou são consumidos de menos,

caso do monopólio natural, ou são pouco produzidos, caso de bens públicos.

Proposição 3 Para o caso de bens não rivais, ou o consumo do bem é inferior ao

socialmente ótimo monopólios naturais, ou a oferta é inferior à socialmente

ótima, bens públicos.

A proposição acima expõe uma das razões de porque a existência de bens públicos

gera ineficiência na alocação de mercado. Uma maneira de resolver este problema é o

governo tomar para si a produção destes bens. No caso da falta de oferta está é a

solução natural, no caso de baixo consumo o mais apropriado pode ser regular a

provisão privada do bem.

Além de não rivais os bens públicos são não excluives, esta segunda propriedade gera

um problema conhecido como problema do carona. Este problema ocorre quando uma

pessoa que usa um bem se recusa a pagar por ele.

Suponha que seu prédio resolve comprar um novo sistema de segurança para ser usado

na garagem, e que este sistema custe dez mil reais. Assuma também que no seu prédio

moram cinquenta familias e que cada uma delas estaria disposta a pagar trezentos reais

pelo novo sistema, de forma que os moradores do prédio estivessem disposto a pagar

um total de quinze mil reais para melhorar a segurança da garagem. Como o sistema

custa dez mil reais seria socialmente eficiente fazer a instalação.

Embora socialmente eficiente este sistema de segurança dificilmente poderia ser

provido pelo mercado. Suponha que um morador compre o sistema e cobre duzentos

reais de cada vizinho que queira o sistema, sabemos que o vizinho estaria disposto a

pagar trezentos reais mas, mesmo assim, o negócio não se realiza. Na hora de pagar o

vizinho pensa: não existe uma maneira de me excluir da segurança fornecida pelo

novo sistema, logo se eu não pagar nada vou receber o mesmo que se pagar os

duzentos reais, portanto, vou dizer que não desejo pagar nada pelo sistema. Neste caso

o vizinho se comportou como o carona.

Definição 10 Chama-se de carona uma pessoa que se beneficia de um bem mas se

recusa a pagar por ele.

No exemplo do prédio uma solução é o sindico comprar o sistema e dividir as cotas

entre os moradores. Em casos mais complexos o governo faz o papel de sindico, ou

seja, o governo providencia o bem público e cobra por ele por meio de impostos.

Proposição 4 A existência de caronas faz com que o mercado não produza bens

que sã socialmente desejáveis.

Vimos que tanto a não rivalidade quanto a não exclusibilidade fazem com que o

mercado não produza os bens públicos de forma adequada. Desta forma, a existência

de bens públicos faz com que o uso de políticas públicas possa melhorar o bem-estar

de toda a sociedade.

3.4 RECURSOS COMUNS

Chamamos de recursos comuns os bens que são rivais, porém não excluiveis. A

rivalidade implica que a sociedade paga um custo marginal positivo para produzir este

bem, de forma que, em um equilíbrio socialmente eficiente, apenas as pessoas que dão

um valor igual ou superior a este custo deveriam consumir o bem. Entretanto, como

não é possível impedir que alguém use o bem, todos vão utiliza-lo, mesmos aqueles

que dão um baixo valor para o bem, ou seja, ocorre uma super utilização do bem. Este

problema é conhecido como tragédia dos comuns.

Definição 11 A tragédia dos comuns está associada ao fato de que os recursos

comuns são mais utilizados que o socialmente desejável.

Para entender a tragédia dos comuns podemos imaginar uma aldeia de pescadores na

beira de um lago. O lago não pertence a ninguém e, portanto, não se pode impedir de

qualquer pessoa de pescar no lago, porém a média que a pesca aumenta o número de

peixes diminui, desta forma os peixes são um recurso comum. Cada pescador da aldeia

sabe que se pescar demais pode destruir os peixes, porém ele sabe que, sozinho, não

pode fazer nada para evitar o desaparecimento dos peixes. Tal situação faz com que o

pescador se comporte como se não existisse o perigo de desaparecimento dos peixes.

Com o passar do tempo, o excesso de pesca, acaba com os peixes e faz com que todos

os moradores da aldeia fiquem pior do que se tivessem pescado menos. Neste caso o

governo poderia fixar um limite de pesca, uma outra saída seria dar o lago a alguns

pescadores.

3.5 PODER DE MERCADO

Um outro efeito que pode fazer com que a alocação de mercado não seja

socialmente eficiente é a existência de poder de mercado por parte de alguma firma.

Visando aumentar seus lucros a firma tende a reduzir o total produzido de modo que o

preço que a mercadoria é vendida torna-se maior que o custo marginal de produzi-la,

esta redução do total produzido tende a reduzir o excedente total.

Para bordar o mercado monopolista precisamos ter em mente as suas seguintes

questões:

a) O que gera monopólios?

b) Como monopólios definem preço?

c) Como o monopólio afeta o bem-estar social?

d) O que o governo pode fazer para combater monopólios?

O QUE GERA MONOPÓLIO?

A fonte principal para geração de monopólio é a existência de barreira à

entrada de novos concorrentes. Essas barreiras existem basicamente pelos seguintes

motivos:

1) A empresa monopolista é a única proprietária de um insumo fundamental

para a produção;

2) O governo fornece direito de uso exclusivo para produzir o bem ou atender

um serviço;

3) Monopólio Natural

Q

Custo

Cme

1000

$50

Exemplo: Ampliar a energia elétrica para

1000 casas

Energia Elétrica

Custo Total

Médio

O menor custo

médio é obtido

quando existe o

monopólio.

500

$80

Curva de Demanda do Monopolista

O monopolista é o único

ofertador, logo a curva de

demanda do Mercado é a

sua própria curva de

demanda.

Porém o monopolista não

pode tudo. Para vender

mais ele precisa reduzir o

preço.

Assim, para o

monopolista Receita

Marginal (RMg) ≠ Preço

(P).

D

P

Q

A Receita do Monopolista

5

Aqui, RMg < P. Para

um Mercado

competitive RMg = P

1.506

2.005

2.504

3.003

3.502

1.50

2.00

2.50

3.00

3.50

$4.004.001

n.a.

9

10

10

9

7

4

$ 0$4.500

RMgRMeRTPQ

–1

0

1

2

3

$4

As curvas do Monopolista

-3

-2

-1

0

1

2

3

4

5

0 1 2 3 4 5 6 7 Q

P, RMg

RMg

$

Curva de Demanda (P)

1.506

2.005

2.504

3.003

3.502

4.001

$4.500

RMgPQ

–1

0

1

2

3

$4

O Lucro do Monopolista

O lucro do

monopolista será:

(P – ATC) x Q

Assim o

monopolista faz o

preço e não toma

o preço do

Mercado.

Quantidade

Receita e

Custo

CMe

D

RMg

CMg

Q

P

CMe

P = CMg

Peso Morto

P

O Custo do Monopólio

Equilíbrio Competi.:

Quantidade = QC

Preço= CMg

Equilíbrio do

Monopólio:

Quantidade = QM

P > CMg

Quantidade

Preço

D

RMg

CMg

QM QC

Discriminação de Preço

Monopólios enfrentam um dilema: trabalham em

uma situação de preço alto, possuem altos

lucros e o incentive para aumentar a produção.

Mas para venderem mais devem baixar o preço.

No entanto, se diminuirem o preço o lucro cai.

Como resolver?

Exemplos de Discriminação de Preços

Cinema

Descontos para estudantes, idosos, enfim,

pessoas que possuem a liberdade de poder

assistir filmes durante as tardes da semana.

Ex. Farmácias, clubes de consumo

Reprodução

Desconto para reprodução de grande quantidade

de material.

Política Pública para Monopólios

Aumento de legislação que reduza barreiras

Exemplo: Medicamentos Genéricos

Regulação

Agências Reguladoras que monitorem o preço

do monopolista.

For natural monopolies, MC < ATC at all Q,

so marginal cost pricing would result in losses.

If so, regulators might subsidize the monopolist

or set P = ATC for zero economic profit.

3.6 PARA QUE SERVE O GOVERNO?

É possível não ter governo?

Como tentamos demonstrar a existência de governo é necessária para guiar, corrigir e

complementar o sistema de mercado.

Parábola do acidente

Imagine o que aconteceria se um navio naufragasse com 2.000 passageiros. Todos

conseguiram se salvar indo parar em uma ilha deserta. Com o passar do tempo

algumas perguntas começariam a surgir:

Como faremos para nos proteger dos animais?

Se houver discordância entre as pessoas quem irá decidir quem está com a razão?

Quem cuidará dos doentes?

E se tivermos crimes?

O governo surge como um fato natural da evolução da sociedade humana como forma

de organizar, disciplinar melhor as relações entre as pessoas.

Precisamos de governo para garantir o comprimento dos contratos.

Para a oferta dos bens públicos.

Estabilizar o nível de emprego, preços, crescimento e distribuição da riqueza.

FUNÇÕES DO GOVERNO

Função Alocativa

Função Estabilizadora

Função Distributiva

Função Alocativa

A função alocativa diz respeito ao fornecimento de bens públicos.

Governo precisa estabelecer a quantidade a ser produzida e o nível de contribuição de

cada consumidor.

Mas como?

Impostos

Mercado político

FUNÇÃO DISTRIBUTIVA

A distribuição de renda resultante do sistema de mercado pode não ser a desejada pela

sociedade.

O mercado tende a encontrar alocações eficientes, mas talvez elas não sejam alocações

que a sociedade considere justas.

Transferência de Renda, Subsídios e Benefícios Sociais

FUNÇÃO ESTABILIZADORA

Em um sistema de mercado livre com flexibilidade de preços e salários a estabilidade

deve ser garantida. Por exemplo, se existe desemprego uma redução no salário real

estimula novas contratações e o mercado se regula automaticamente.

Keynes em meados da década de 30 propor que o desempenho do emprego não estava

associado ao mercado livre mas ao nível de demanda.

As empresas somente estariam dispostas a contratar novos funcionários e tivessem a

expectativa de vender seus produtos.

Assim, Keynes dá ênfase ao gasto. Em especial ao gasto do governo como sendo

instrumento de proteger a economia das instabilidades.

Hipóteses teóricas sobre o crescimento das despesas publicas

4. Hipóteses teóricas sobre o crescimento das despesas publicas

Algumas generalizações sobre o comportamento dinâmico das despesas públicas

têm sido formuladas. Entre essas, destacam-se as contribuições de Wagner,

Peacock/Wiseman e Musgrave/Rostow/Weber.

Contribuição de Wagner

A lei de Wagner diz que com o crescimento da renda de um país, o setor

público ganha maior participação na economia, ou seja, o setor público cresce a taxas

maiores do que a economia como um todo. As explicações para esse fenômeno são: i)

crescimento traz maiores demandas por bens públicos e semi-públicos, tais como, ruas,

hospitais, etc; ii) aumento das necessidades relacionadas ao bem-estar (educação, saúde,

previdência); iii) surgimento de estruturas de competição imperfeita, com necessidade

de maior intervenção governamental

Contribuição de Peacock e Wiseman

O crescimento dos gastos do governo deriva das possibilidades de obtenção de

recursos. Em períodos “normais”, haveria resistências à elevação da carga tributária,

entretanto, em períodos de distúrbios sociais, haveria um grande crescimento dos gastos

públicos. Como, por exemplo, nos períodos de guerras. Neste caso, o gasto se elevaria

até o nível permitido pelo incremento de disponibilidade de recursos.

Contribuição de Musgrave, Rostow e Herber

Relacionam o crescimento dos gastos públicos com os estágios de crescimento

do país.

Nos estágios iniciais do desenvolvimento haveria maior demanda por gastos do

governo (estradas, educação, saúde, etc.). Nos estágios intermediários de

desenvolvimento haveria uma demanda para que o setor público desempenhasse um

papel de complementação dos investimentos privados. Por fim, em estágios de maior

desenvolvimento, os gastos públicos voltam a crescer novamente (em relação aos

investimentos privados) devido a fatores similares aos contido na lei de Wagner.

Curva de Laffer

A curva de Laffer foi desenvolvida pelo economista norte americano Arthur

Laffer e diz que à medida que a alíquota de um imposto aumenta a arrecadação

aumenta, porém a partir de determinado nível a arrecadação começa a diminuir devido

ao seu esgotamento em relação à contribuição, isto significa que os agentes econômicos

começam a sonegar.

Portanto a partir de um dado valor da carga tributaria aumentos de tributos

levaria a redução na arrecadação de tributos.

A representação gráfica da curva de Lafer tem a forma de uma meia-lua voltada

para baixo.

O eixo horizontal “x” representa a carga de tributos e o eixo vertical “y”

representa a arrecadação do governo. Observe que com a alíquota zero, a arrecadação,

naturalmente, é nula. À medida que a alíquota aumenta a arrecadação também aumenta

até uma alíquota de 20% (esse valor corresponde a um exemplo hipotético). A partir de

uma alíquota de 20%, aumento da alíquota leva a redução da arrecadação do governo.

Com alíquota de 100% a arrecadação torna zero.

Formas de Financiamento dos Encargos do Governo

Princípios teóricos de tributação

A teoria da tributação baseia em dois princípios fundamentais: Equidade e

Neutralidade.

Além desses dois princípios, existem outros princípios desejáveis, tais como:

simplicidade e neutralidade.

O conceito da equidade

Pelo princípio da equidade a preocupação, no caso consiste, em dar um

tratamento, em termos de contribuição, aos indivíduos considerados iguais – um critério

de equidade

horizontal – assegurando, ao mesmo tempo, que os desiguais serão diferenciados

segundo algum critério a ser estabelecido, uma preocupação com a “equidade vertical”.

Uma primeira questão na análise da equidade é, portanto, qual o critério a ser

utilizado para a classificação dos que são considerados iguais e para o estabelecimento

de normas adequadas de diferenciação. Dois critérios têm sido propostos para essa

finalidade: a do“princípio do beneficio” e da “capacidade de pagamento”.

a) O princípio do beneficio

Segundo o princípio do beneficio, cada individuo deveria contribuir com uma

quantia proporcional aos benefícios gerados pelo consumo do bem público. Esse

método não é de fácil aplicação, pois a avaliação dos indivíduos sobre os benefícios

gerados não e conhecida pelo governo. Uma forma de aplicação parcial do princípio

do beneficio é possível em situações onde o financiamento do serviço público ocorre

diretamente através do pagamento de entradas, tarifas ou taxas de utilização, como no

caso dos trensurbanos.

b) O Princípio da Capacidade de pagamento

De acordo com esse princípio, os indivíduos deveriam, na medida de suas

capacidades, colaborarem para o financiamento dos gastos governamentais.

Princípio da Neutralidade

Conforme dispõe o princípio da Neutralidade, todo sistema tributário deve

interferir o mínimo possível na alocação dos recursos disponíveis na economia, por

parte do setor privado. O objetivo deste princípio é garantir que o sistema tributário não

provoque distorções na alocação de recursos, prejudicando, em conseqüência, a

eficiência da economia.

A alocação de recursos da economia é efetuada através do sistema de preços. O

princípio da neutralidade parte do pressuposto lógico de que o mercado é um excelente

alocador de recursos. As decisões dos agentes econômicos – empresas, consumidores,

investidores, poupadores etc. – são geralmente tomadas, no dia-a-dia da economia,

tendo como referência o sistema de preços vigente no mercado. Se o sistema tributário

altera substancialmente os preços vigentes, vai alterar também as decisões de consumo,

investimento e poupança dos agentes econômicos.

O conceito de simplicidade

O conceito de simplicidade relaciona-se com a facilidade da operacionalização

da cobrança do tributo. Por um lado, é importante que o imposto seja de fácil

entendimento para quem tiver que pagá-lo. Por outro, a cobrança e arrecadação do

imposto, bem como o processo de fiscalização, não devem representar custos

administrativos elevados para o governo.

Princípio da Rentabilidade

A arrecadação não deve ser nem menor e nem muito maior do que os gastos do

governo.

Princípio da Elasticidade

Os incrementos (aumentos) na arrecadação devem ser ligeiramente maiores do

que o crescimento nos gastos públicos, ou seja, a elasticidade da arrecadação tributária

deve ser um pouco maior que a unidade.

Princípio da Economicidade

Por esse princípio o volume arrecadado não pode ser comprometido pelo custo

da arrecadação.

Princípio da Simplicidade

Esse princípio diz que a legislação tributária deveria ser a mais simples possível.

7. Classificação dos tributos

Do ponto de vista da distribuição da carga tributaria os tributos podem ser:

a) progressivo: à medida que a renda aumenta a relação entre imposto a pagar e a

renda cresce.

b) neutro: à medida que a renda aumenta a relação entre imposto a pagar e a

renda mantêm-se constante.

c) regressivo: à medida que a renda aumenta a relação entre imposto a pagar e a

renda decresce.

Do ponto de vista da incidência:

a) direto: o tributo incide sobre o individuo;

b) indireto: incide sobre a atividade ou objetos, aqui estão os tributos específicos

e os ad-valorem.

Do ponto de vista da base de incidência:

a) renda: imposto que incide sobre a renda gerada na economia;

b) patrimônio: imposto que incide pela simples posse do imóvel, por exemplo.

c) vendas: imposto que incide sobre vendas de mercadorias e serviços.

8. Necessidade de Financiamento do Setor Público, Déficits e Dívida Pública

Conceitos de déficits e dívida pública: principais conceitos

O objetivo inicial é fazer uma rápida apresentação para depois se discutir mais

detalhadamente os vários conceitos. Existem dois critérios de cálculos. O primeiro é o

chamado “acima da linha”, no qual são explicitados os principais fluxos de receita e

despesas (esse resultado é calculado pelo Tesouro Nacional). O segundo é o “abaixo da

linha” que observa o déficit com base na variação da dívida pública, pela ótica do seu

financiamento (esse resultado é calculado pelo Banco Central).

Pelo critério “acima da linha” pode-se calcular:

a) Déficit Nominal = Gastos totais – Receitas totais

b) Déficit Primário = Gastos não financeiros – Receitas não financeiras. Exclui

do déficit nominal o pagamento dos juros e das amortizações da divida publica, entre

outras despesas e receitas financeiras.

c) Déficit Operacional = Déficit Primário + Pagamento de juros reais. Esta

medida exclui do calculo do pagamento dos juros nominais da dívida pública os efeitos

da correção monetária. Foi utilizado no Brasil no período de inflação elevada para ter

uma medida real do déficit público.

Pela ótica “abaixo da linha”, os principais conceitos apurados pelo BACEN

são:

a) Dívida Líquida do Setor Público (DLSP): É dada pela soma das dívidas

internas e externa do setor público (governo central, estados, municípios e empresas

estatais) junto ao setor privado, incluindo a base monetária e excluindo-se ativos do

setor publico, tais como reservas internacionais, créditos com o setor privado e os

valores das privatizações.

b) Ajuste Patrimonial: Item da DLSP que contabiliza a diferença entre os

passivos do governo, contraídos no passado e posteriormente reconhecidos (esqueletos),

e os resultados das privatizações.

c) Dívida Fiscal Líquida (DFL): É dada pela diferença entre DLSP e o ajuste

patrimonial.

d) Necessidade de Financiamento do Setor Público: Corresponde ao conceito

de déficit nominal apurado pelo critério “acima da linha”. Refere-se à variação da DFL

entre dois períodos de tempo.

e) Necessidade de Financiamento do Setor Público no conceito operacional:

Exclui das necessidades de financiamento nominais a correção monetária (efeito

inflacionário) que incide sobre a DFL. Seu correspondente pelo critério “acima da

linha” é o déficit operacional.

f) Necessidade de Financiamento do Setor Publico no conceito primário:

Exclui das necessidades de financiamento nominais, o pagamento de juros nominais que

incide sobre a DFL. Equivale ao déficit primário apurado pelo critério “acima da linha”.

Conceitos de déficits e dívida pública: principais conceitos detalhados

Setor público e governo geral

Em função das peculiaridades histórico-institucionais do Brasil, o conceito de

setor público utilizado para mensuração da dívida líquida e do déficit público é o de

setor público não-financeiro mais Banco Central. Consideram-se setor público não-

financeiro as administrações diretas federal, estaduais e municipais, as administrações

indiretas, o sistema público de previdência social e as empresas estatais não-financeiras

federais, estaduais e municipais, além da Itaipu Binacional.

Incluem-se também no conceito de setor público não-financeiro os fundos

públicos que não possuem característica de intermediários financeiros, isto é, aqueles

cuja fonte de recursos é constituída de contribuições fiscais ou parafiscais.

O Banco Central é incluído na apuração da dívida líquida pelo fato de

transferir seu lucro automaticamente para o Tesouro Nacional, além de ser o

agente “arrecadador” do imposto inflacionário.

Para obtenção de indicadores mais próximos dos padrões internacionais, adota-

se o conceito de governo geral, que abrange as administrações diretas federal, estaduais

e municipais, bem como o sistema público de previdência social.

Dívida líquida do setor público

Corresponde ao saldo líquido do endividamento do setor público não-financeiro

e do Banco Central com o sistema financeiro (público e privado), o setor privado

nãofinanceiroe o resto do mundo.

Entende-se por saldo líquido o balanceamento entre as dívidas e os créditos do

setor público não-financeiro e do Banco Central.

É importante ressaltar que os saldos da dívida líquida são apurados pelo

critério de competência, ou seja, a apropriação de encargos é contabilizada na

forma pro rata, independente da ocorrência de liberações ou reembolsos no

período.

Deve-se mencionar ainda que, diferentemente de outros países, o conceito de

dívida líquida utilizado no Brasil considera os ativos e passivos financeiros do

Banco Central, incluindo, dessa forma, a base monetária.

Dívida bruta do governo geral

A dívida bruta do governo geral abrange o total dos débitos de responsabilidade

do Governo Federal, dos governos estaduais e dos governos municipais, junto ao setor

privado, ao setor público financeiro, ao Banco Central e ao resto do mundo. Os

débitos de responsabilidade das empresas estatais das três esferas de governo não são

abrangidos pelo conceito. Os débitos são considerados pelos valores brutos, sendo as

obrigações vinculadas à área externa convertidas para reais pela taxa de câmbio de final

de período (compra).

Os valores da dívida mobiliária do Governo Federal (que abrange dívidas

securitizadas e carteira de títulos públicos federais no Banco Central) são calculados

com base na posição de carteira, que não leva em consideração as operações

compromissadas realizadas pelo Banco Central. São deduzidos da dívida bruta do

Governo Federal os créditos representados por títulos públicos que se encontram em

poder de seus órgãos da administração direta e indireta, de fundos públicos federais, dos

estados e dos municípios, a saber: aplicações da previdência social em títulos públicos,

aplicações do FAT e outros fundos em títulos públicos e aplicações dos estados em

títulos públicos federais.

Analogamente, são deduzidas da dívida dos governos estaduais e dos municipais

as parcelas correspondentes aos títulos em tesouraria.

Necessidades de Financiamento do Setor Público (NFSP)

Resultado nominal sem desvalorização cambial: corresponde à variação

nominal dos saldos da dívida líquida, deduzidos os ajustes patrimoniais efetuados no

período (privatizações e reconhecimento de dívidas). Exclui, ainda, o impacto da

variação cambial sobre a dívida externa e sobre a dívida mobiliária interna indexada a

moeda estrangeira (ajuste metodológico). Abrange o componente de atualização

monetária da dívida, os juros reais e o resultado fiscal primário.

Resultado nominal com desvalorização cambial: corresponde à variação

nominal dos saldos da dívida líquida, deduzidos os ajustes patrimoniais efetuados no

período (privatizações e reconhecimento de dívidas). Exclui, ainda, o impacto da

variação cambial sobre a dívida externa (ajuste metodológico). Abrange o componente

de atualização monetária da dívida, os juros reais, a apropriação da variação cambial

sobre a dívida mobiliária interna e o resultado fiscal primário.

Resultado primário: os juros incidentes sobre a dívida líquida dependem do

nível de taxa de juros nominal e do estoque da dívida, que, por sua vez, é determinado

pelo acúmulo de déficits nominais passados. Assim, a inclusão dos juros no cálculo do

déficit dificulta a mensuração do efeito da política fiscal executada pelo Governo,

motivo pelo qual se calcula o resultado primário do setor público, que corresponde ao

déficit nominal (NFSP) menos os juros nominais apropriados por competência,

incidentes sobre a dívida pública. A parcela dos juros externos e incidentes sobre a

dívida mobiliária vinculada a moeda estrangeira é convertida pela taxa média de câmbio

de compra.

Ajuste patrimonial: Corresponde a variações nos saldos da dívida líquida não

consideradas no cálculo do déficit público. Inclui as receitas de privatização e a

incorporação de passivos contingentes (esqueletos). Passivos contingentes (esqueletos)

correspondem a dívidas juridicamente reconhecidas pelo Governo, de valor certo, e

representativas de déficits passados não contabilizados (o efeito econômico já ocorreu

no passado).

Ajuste metodológico: Ao obter financiamento no exterior, em geral os governos

o fazem em moeda do país em que o empréstimo é efetuado, ou em alguma outra

unidade de conta válida para contratos no exterior (dólar americano, direitos especiais

de saque -DES, euro etc.). Portanto, variações de paridade entre moedas estrangeiras, ou

a variação cambial entre o dólar americano e o real, não aumentam nem diminuem o

déficit público, porque não afetam o saldo da dívida externa medido na moeda em que o

financiamento foi efetuado.

Dessa forma, o componente do setor externo nas NFSP é mensurado a partir dos

fluxos efetivos em dólares americanos, convertidos para a moeda nacional, à taxa média

de câmbio.

A apuração da dívida externa líquida, uma medida de estoque, é feita

convertendo-se os saldos pela taxa de câmbio de final de período.

Na presença de variação cambial da moeda nacional ou de paridade entre as

diferentes moedas e o dólar americano, fica claro que a variação da dívida externa

líquida, expressa em reais, é diferente dos fluxos externos líquidos em moeda

estrangeira, convertidos para reais.

O ajuste metodológico, portanto, é uma medida desse diferencial, pois

corresponde à diferença entre a variação da dívida externa líquida convertida pela

taxa de câmbio de final de período e as necessidades de financiamento externas,

convertidas pela taxa média de câmbio.

Tratamento similar é dispensado à parcela da dívida mobiliária interna indexada

a moeda estrangeira, no cálculo do resultado nominal sem desvalorização cambial.

10. Inflação e déficit público

Uma das principais fontes de financiamento do déficit público é a emissão

monetária.

Um excesso de aumento da oferta de moeda gera aumento de preços e os

detentores de moeda acabam arcando com uma redução em seu poder aquisitivo. Como

o governo e o detentor do monopólio da emissão ele pode apropriar-se dos recursos

reais, por meio do aumento de gastos, em troca da base monetária.

A senhoriagem total é definida como a receita total do governo oriunda do

aumento da base monetária. Parte desse aumento é destinada a satisfazer ao aumento

dos encaixes reais, em razão do crescimento econômico e do aumento das transações

econômicas e a outra parte é utilizada para cobrir necessidades oriundas do aumento de

inflação.

A receita total da senhoriagem pode ser interpretada como imposto, no qual μt é

a alíquota de imposto e mt é a base monetária de incidência da arrecadação. A

senhoriagem ainda pode ser decomposta em crescimento dos saldos monetários reais

mais o imposto inflacionário, que representa a parte dos encaixes que deve ser

demandada para manter os saldos reais constantes, devido à inflação. Portanto, a

senhoriagem deve ser igual ao imposto inflacionário na hipótese que a variação da base

monetária for zero.

Em países com baixa inflação essa fonte de receita é pequena: 0,4% do PIB de

senhoriagem e 0,9% do PIB de imposto inflacionário. Já em países com elevada taxa de

inflação, como era o caso do Brasil na década de 80, a arrecadação da senhoriagem e do

imposto inflacionário alcançavam, respectivamente, 3,8% e 14,2% do PIB.

Surgem, porém, questões importantes quanto ao financiamento inflacionário do

déficit publico. Primeiro, existe um nível ótimo de arrecadação desse imposto? Dito de

outra forma, o imposto inflacionário obedece à curva de Laffer?

Podemos imaginar que a variação da base monetária é zero, a senhoriagem

corresponderia apenas ao imposto inflacionário. Nesse caso pode-se dizer que o imposto

inflacionário atende a curva de Laffer. No eixo “x” temos a taxa de inflação e no eixo

“y” o imposto inflacionário, ou seja, a receita oriunda desse tributo.

10. Efeito Tanzi

Há um intervalo de tempo entre a ocorrência do fato gerador do tributo e o

recolhimento do tributo ao Tesouro Nacional, por exemplo: ajuste anual do imposto de

renda. Caso ocorra a inflação nesse intervalo, entre o fato gerador e o recolhimento, o

governo acaba recebendo o valor dos tributos corroído pela inflação, ou seja, recebe

menos recursos em termos reais. Esse efeito é chamado de Efeito Tanzi em homenagem

ao primeiro economista que estudou essa relação: Oliveira Tanzi.

11. Efeito Patinkin

Por sua vez, se o governo postergar o seu cronograma de gastos, em uma

situação de ambiente inflacionário, o governo acaba gastando menos em termos reais.

Esse é chamado Efeito Patinkin, também chamado de Efeito Tanzi da Despesa ou de

Efeito Bacha.