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TEORIAS SOBRE A ORIGEM DA MAONARIA

TEORIAS SOBRE A ORIGEM DA MAONARIA

John Hamill

Bibliotecrio e Curador da Grande Loja Unida da Inglaterra

Past Master da Loja Quatuor Coronati No. 2.076

Publicado nos n.s 9 e 10 (Nov. e Dez./2000)

da Revista Internacional Hiram Abif

Mar del Plata - Argentina

Traduo: J.C.Mir - M(M(Quando, por qu e onde se originou a Maonaria?

Somente existe uma resposta a essas trs perguntas: no sabemos. Isso, apesar de todo o papel e tinta que foram usados no seu estudo. De fato, estas questes fundamentais foram bastante obscurecidas por vrios historiadores manicos muito bem intencionados, mas mal informados. Faz pouco mais de um sculo que os historiadores manicos britnicos comearam a examinar com viso crtica a histria tradicional do Ofcio (1), que havia sido escrita por seus predecessores durante os 150 anos anteriores.

Ao considerar dita histria pouco satisfatria, comearam a buscar provas documentais diretas da Maonaria Especulativa anterior formao da primeira Grande Loja da Inglaterra em 1717. Suas investigaes e seus escritos no detiveram, entretanto, a permanente apario de obras pertencentes ao que se podia denominar de escola de historiadores manicos mstica ou romntica (no sentido autntico da palavra), o que gerou ainda maior confuso.

Existem, portanto, dois enfoques principais da histria da Maonaria: o autntico ou cientfico, que constri e desenvolve sua teoria a partir fatos verificveis e de documentao de origem comprovada e o enfoque no-autntico no qual se busca colocar a Maonaria dentro do contexto da tradio dos Mistrios, correlacionando os ensinamentos, a alegoria e o simbolismo da Ordem com seus homlogos pertencentes s diferentes tradies esotricas. Para complicar ainda mais as coisas, existem opinies divididas dentro das duas escolas principais que acabamos de citar.

O Maom comum tira do prprio ritual suas primeiras noes da histria do Ofcio. medida que vai progredindo em seu conhecimento das cerimnias, aprende que durante a construo do Templo do Rei Salomo em Jerusalm, os construtores qualificados (pedreiros ou Maons), se dividiam em duas classes: Aprendizes e Companheiros. Todos trabalhavam sob as ordens de trs Gro-Mestres (o Rei Salomo, Hiram, Rei de Tiro e Hiram Abiff), os quais compartilhavam certos segredos apenas por eles conhecidos. Aprende tambm que esses segredos foram perdidos com o assassinato de Hiram Abiff assassinato que ocorreu devido sua negativa de revelar tais segredos e que se adotaram certos segredos em substituio dos primeiros, at que o tempo ou as circunstncias restaurem os segredos originais.Do ritual se deduz imediatamente que a Maonaria j existia e estava estabelecida poca do Rei Salomo e que permaneceu desde ento como uma sistema intacto. O candidato compreende logo que o ritual no contm uma verdade histrica ou literal, seno uma alegoria dramtica mediante a qual se transmitem os princpios e axiomas fundamentais do Ofcio. A primeira histria do ofcio apareceu, com sano oficial, como parte das primeiras Constituies (2), compiladas e publicadas em nome da primeira Grande Loja pelo Reverendo Doutor James Anderson, em 1723. A obra de Anderson consiste principalmente na histria legendria do Ofcio dos Construtores, desde Ado, no Jardim do den, at a formao da primeira Grande Loja em 1717.

Anderson no faz distino alguma entre Maonaria Operativa e Maonaria Especulativa, com o que ficou implcito que uma era continuao da outra. Anderson foi criticado com freqncia por sua histria, mas essas crticas no so justas com ele. Ele no pretendia escrever uma histria no sentido em que a entendemos atualmente, mas se propunha produzir uma apologia que estabelecesse uma filiao honrada para uma instituio relativamente nova.

Ele nem sequer afirmou ter escrito uma obra original, seno, como explicou na segunda edio das Constituies (1738), simplesmente resumiu as antigas Constituies gticas (3) Foi delas que ele retomou as tradies segundo as quais as Lojas de Maons existiram desde os tempos antigos. Igualmente retomou dali a idia de que vrias personalidades bblicas histricas e outras puramente legendrias haviam sido patronos, promotores ou Gro-Mestres do Ofcio, como um certo Prncipe Edwin, que havia convocado uma grande assemblia de Maons no ano de 926 da era crist (4).

Durante dita assemblia teria lhes outorgado uma Constituio e lhes teria ordenado que se reunissem trimestralmente para governar suas Lojas. dada a impresso de que a Grande Loja ou Assemblia seguiu existindo de forma ininterrupta desde essa data at 1717. Por no haver Anderson produzido uma verso revisada e consideravelmente aumentada de sua histria para a segunda edio das Constituies, a verso de 1723 foi aceita pelo que na realidade era: uma apologia construda a partir da lenda, do folclore, da tradio.

Na edio de 1738, Anderson parece haver dado, desafortunadamente, rdeas soltas sua imaginao, pois construiu uma histria detalhada da Maonaria inglesa desde a suposta Assemblia de York at ressurreio da Grande Loja em 1717 e a continuou inclusive at 1738. Para Anderson, os termos Geometria, Arquitetura e Maonaria eram sinnimos. Todo monarca ingls ou personalidade histrica que, de qualquer maneira, tivesse patrocinado arquitetos ou Maons, foi colocado em sua lista, seja como Gro-Mestre, ou, pelo menos, como Grande Vigilante da Maonaria.

Com o fito de comprovar a antiga e ininterrupta linhagem da Instituio, Anderson assegurou que a unio das quatro Lojas de Londres para formar uma Grande Loja em 1717 no havia representado a criao de uma nova organizao, mas sim que tinha havido a restaurao (5) de uma antiga organizao que havia cado em decomposio devido negligncia de seu Gro-Mestre Christopher Wren.

Trata-se de uma assertiva surpreendente, a favor da qual no existe prova, especialmente porque na verso de 1723 no se menciona nenhuma restaurao e o nome de Wren apenas figura em nota de p de pgina como arquiteto do Teatro Sheldoniano de Oxford. Curiosamente, Wren ainda vivia quando apareceu a verso de 1723, mas j tinha falecido quando Anderson empreendeu suas revises, de modo que o interessado no teve oportunidade de objetar.

Tendo em vista que a histria escrita por Anderson foi publicada com a sano da Grande Loja, atribuiu-se a ela o carter de histria sagrada, tanto mais por que seu contedo no foi impugnado pelos que tomaram parte nos eventos de 1717. Seu trabalho resultou de to grande aceitao que continuou sendo publicado repetidamente, sem alteraes, simplesmente com atualizaes em todas as edies subseqentes, at ltima edio, em 1784. Foi inclusive plagiado pelos diversos editores de manuaizinhos publicados no sculo XVIII, os Companheiros de Bolso dos Franco-Maons (Freemasons Pocket Companions) (6) e constituiu a base das Ilustraes da Maonaria (Illustrations of Freemasonry), de William Preston, at na dcima stima edio (pstuma), em 1861, editada pelo Reverendo George Oliver.

Houve planos para incorpor-lo nas edies das Constituies da Grande Loja Unida da Inglaterra, datadas de 1825, 1827 e 1827. Foi ento anunciado que as partes do livro publicadas constituam uma segunda parte e que se publicaria em uma primeira parte da histria da Maonaria. Felizmente, a primeira parte em questo jamais foi publicada.

Com a exportao para a Amrica do Norte das Constituies da primeira Grande Loja e as Ilustraes de Preston, bem como suas tradues para o francs e o alemo, a m informao de Anderson recebeu ampla divulgao. Exerceu assim profundo efeito sobre a concepo que se teve sobre a histria do Ofcio, bem como sobre a atitude diante do tema, atitude que subsistiu at bem entrado o sculo XIX.

Na verdade, a ausncia de uma diferenciao, por parte de Anderson, entre Maonaria Operativa e Maonaria Especulativa iria marcar os enfoques da histria do Ofcio por espao de muitas geraes e pode-se dizer que deu lugar ao desejo de estabelecer vnculo direto entre ambas to logo a escola autntica iniciou sua aproximao crtica histria aceita da Ordem. Ainda que a aproximao dos escritores da escola autntica aparea como uma investigao cientfica, os mtodos empregados por eles no seriam aceitos atualmente como cientficos. Apesar de que eles examinaram cuidadosamente e comprovaram origem de cada fragmento de evidncia que apareceu e que suas reas de investigao se limitaram aos registros e documentos arquitetnicos, de construo e corporativos. De fato, seu trabalho ostenta a aparncia de busca de evidncias suscetvel de encaixar dentro de uma teoria preconcebida.

Dispostos a provar a filiao direta entre a Maonaria Operativa e a Maonaria Especulativa atravs de uma fase de transio, ajuntaram fragmentos de informaes procedentes de vrias partes das Ilhas Britnicas, fragmentos que pareciam formar escales em sua cadeia de descendncia. Ao proceder desta maneira, com freqncia tiraram a evidncia de seu contexto e efetuaram suposies para as quais existia apenas uma tnue possibilidade de confirmao.

Em particular, assumiram a existncia de uma uniformidade de condies e de atividades na Inglaterra, Irlanda e Esccia e ignoraram assim as circunstncias particulares sociais, culturais, polticas, legais e religiosas que marcam diferenas cruciais entre esses pases. No levaram em conta, por exemplo, que at Lei de Unio de 1707, Inglaterra e Esccia, ainda que unidas atravs da Coroa desde 1603, eram pases separados que somente compartilhavam fronteira comum e que os eventos ocorridos em um pas no tinham necessariamente paralelismo nos pases vizinhos.

Entretanto, sua teoria era to persuasiva, to bem escrita e foi to divulgada, que sua interpretao acerca da transio da Maonaria Operativa para a Maonaria Especulativa esteve perigosamente prxima de ser aceita como fato inquestionvel. Necessrio enfatizar novamente que se trata apenas de uma teoria. Na Esccia, encontraram evidncia inegvel da existncia de Lojas Operativas der talhadores de pedra. Tais Lojas se definiam segundo o ponto de vista geogrfico (territorial) e constituam unidades de controle da atividade Operativa com respaldo em leis estatutrias. Tambm obtiveram evidncia indiscutvel que as Lojas Operativas escocesas comearam a admitir durante o sculo XVII membros no-Operativos na qualidade de Maons Aceitos ou Gentis-homens Maons (Accepted or Gentlemen Masons) e que a princpios do sculo XVIII em algumas Lojas, os Maons Aceitos haviam passado a predominar.

Estas Lojas, por sua vez, se converteram em Lojas Especulativas, enquanto as outras mantiveram seu carter puramente Operativo. As Lojas Especulativas eventualmente se uniram para formas a Grande Loja da Esccia em 1736. Investigadores da escola autntica tambm descobriram referncias claras sobre o uso nessas Lojas, de uma Palavra manica (7) e de modos secretos de reconhecimento que permitiam aos Maons Operativos de boa f obter trabalho ou sustento quando viajavam ao territrio de outra Loja. ao unir esses fastos, os historiadores romnticos pareciam contar com provas de uma transio gradual da Maonaria Operativa para a Maonaria Especulativa.

A falha de seu raciocnio consistia em supor que por no serem Operativos, os Maons Aceitos nas Lojas Operativas escocesas tinham de ser necessariamente Especulativos, ou que, pelo menos deveria existir uma implicao sobre a atividade Especulativa da loja, derivada do prprio fato da aceitao. At hoje, no apareceu prova alguma que apie tais suposies. De fato, a evidncia encontrada pareceria assinalar os no Operativos como sendo membros honorrios das Lojas, adotados do mesmo modo que hoje se adotam eminentes personalidades como membros honorrios de clubes, sociedades e instituies com as quais no tm vnculos profissionais ou vocacionais.

Quando a escola autntica examinou os registros ingleses, seus investigadores no puderam encontrar evidncia alguma da existncia de Lojas Operativas. Em tempos medievais, a Loja dos Operativos consistia simplesmente de uma choa ou depsito anexo ao lugar de trabalho, no qual guardavam as ferramentas e descansavam. Em torno do ano de 1600, o sistema de guildas se encontrava praticamente moribundo, com a exceo das Companhias de Carroceiros e Transportadores de Londres (London Livery Companies).Tampouco existia evidncia de uma palavra manica inglesa ou de meios secretos de reconhecimento entre os Operativos ingleses. Qualquer evidncia encontrada acerca da Maonaria no Operativa ou de aceitao tinha um contexto no Operativo e entre os nomes encontrados e que podiam ser verificados e cruzados com outras evidncias, muito poucos tinham sequer a mais tnue relao com a construo ou a arquitetura.

A Maonaria de aceitao (existem ainda dvidas se a Maonaria do sculo XVII pode ser denominada de Especulativa) simplesmente parece ter surgido na Inglaterra como uma organizao nova, sem nenhuma conexo anterior com o ofcio Operativo. Apesar desta carncia de provas, a escola autntica misturou conjuntamente os eventos ocorridos na Esccia e Inglaterra e construiu a teoria da transio Operativa - Especulativa sobre as origens da Maonaria (8), sem ter em conta as diferenas e discrepncias entre os dois conjuntos de evidncias. Antes de tudo, passaram por alto ou ignoraram o fato de que a Maonaria no Operativa se estava desenvolvendo na Inglaterra quando as Lojas escocesas comearam a aceitar membros no Operativos. Se as Lojas Operativas escocesas constituram um meio de transio, como poderia existir na Inglaterra a Maonaria puramente no Operativa?

A busca de um vnculo direto no se confinou s Ilhas Britnicas, nem ao perodo da denominada Assemblia de York Foram feitas tentativas de encontrar para ela um parentesco clssico como descendente dos Collegia Fabrorum romanos (as escolas de construtores da poca), pois, alm disso, a palavra escola parecia levar implcita a existncia de um culto filosfico ou misterioso ligado aos construtores romanos. A lenda dos Magistri Comacini (Mestres Comacinos) parecia oferecer fundamento religioso ao Ofcio.

Afirmou-se que os hbeis e renomados Maons da regio do lago de Como no norte da Itlia, possuam segredos to recnditos suscetveis de serem comunicados a outros Operativos, que foram constitudos mediante uma bula papal (bula inexistente, na realidade). Dizia-se que haviam recebido instrues de viajar pela Europa para partilhar suas habilidades e mistrios. notria a ausncia de provas sobre sua existncia real.

Foram revisadas diligentemente as tradies e os registros dos Steinmetzen alemes e da Compagnonnage francesa em busca de rastros de algum elemento Especulativo, mas nada foi encontrado. A evidncia nos remete sempre e novamente apario da Maonaria no Operativa na Inglaterra, durante o sculo XVII. A teoria de uma filiao direta da Maonaria Operativa segue tendo seus partidrios, especialmente o falecido e muito reverenciado Harry Carr, mas alguns investigadores atuais que trabalham na tradio da escola autntica esto se inclinando a considerar um vnculo direto com os Operativos. (9)

Em vez de buscar as provas de filiao direta, esto explorando a possibilidade de que os fundadores da Maonaria Especulativa tenham se ocultado sob a aparncia de uma organizao ou guilda para desenvolver atividades e idias que eram impossvel de praticar ou professar na poca. O perodo no qual se cr tenha evoludo a Maonaria entre fins do sculo XVI e durante todo o sculo XVII se caracterizou pela estreita relao entre a poltica e a religio. Durante esses anos, as diferenas de opinio nessas matrias podiam dividir as famlias e eventualmente conduzir a guerras civis.

Particularmente no que concerne religio, existiam sanes legais contra aqueles que decidiam no seguir os ditames do Estado. Surgem por si mesmas, em conseqncia, duas idias possveis relacionadas com a origem da Maonaria durante esse perodo. Primeiro, que os fundadores eram um grupo oposto intolerncia poltica e religiosa do Estado, que desejavam reunir homens de diferentes concepes polticas e religiosas, que compartilhassem objetivo comum de melhoria social. Como se encontravam em situao em que ditas concepes eram consideradas subversivas, restringiam-se apenas discusso desses assuntos com os que no eram membros. Estes parecem ter existido desde que se originou a Maonaria.

Segundo, que os fundadores eram um grupo de religio crist no conformista, que se opunha ao domnio da religio por parte do Estado. Tal grupo no se propunha depor a religio predominante, mas desejava promover a tolerncia e a criao de uma sociedade na qual os homens fossem livres para seguir os ditames de sua conscincia em matria religiosa.

Assim, as reunies se converteram em Lojas, os oficiais principais passaram a se denominar de Mestre e Vigilantes e as ferramentas de trabalho do talhador de pedras foram utilizadas, tanto por suas funes materiais prticas, como por seu valor simblico. Recentemente, foi apresentada uma teoria de filiao indireta. Ela associa as origens com os aspectos caritativos, mais do que com as discusses filosficas. (10) Considera a Maonaria como produto do crescente movimento de auto-ajuda surgido no sculo XVII. Por no existir um sistema estatal de proteo e seguridade social, aqueles que ficavam doentes ou que passavam por dificuldades econmicas dependiam da caridade local e das rgidas estipulaes da Lei dos Pobres.

Diversos agrupamentos gremiais comearam a organizar seus prprios sistemas. Quando se reuniam a debater amistosamente em tabernas e pousadas, mantinham uma caixa qual os membros aportavam cotas durante cada reunio e da qual os mesmos membros podiam tomar dinheiro em tempos de necessidade. Em virtude dessa prtica, tais agrupamentos receberam o nome de Clubes de Caixa (Box clubs). A participao nestes clubes estava reservada em princpio aos membros de um grmio em particular. Existe evidncia que nos clubes foram utilizados ritos rudimentares de iniciao.

Parece tambm que, como as Lojas Operativas escocesas, os Clubes de Caixa comearam a admitir membros que no estavam vinculados diretamente com seu grmio particular. Evocou-se a possibilidade de que a Maonaria tenha surgido originalmente to somente como um Clube de Caixa para Maons Operativos, os quais posteriormente comearam a admitir membros de outros grmios.

A possibilidade de que a Maonaria tivesse sido basicamente uma sociedade de orientao gremial na poca da criao da primeira Grande Loja em 1717 foi levantada por Henry Sadler. (11) Sugeriu ele que uma luta pelo controle das Lojas teve lugar em princpios da dcada de 1720, entre os membros originais de orientao gremial e os que foram levados s Lojas por influncia do Dr. John Teophilus Desaguliers e outros e que a Maonaria autenticamente Especulativa no surgiu seno quando este ltimo grupo ganhou o controle e comeou a transformar a Maonaria de sociedade de benefcios, para um sistema de moral, velado por alegorias e ilustrado por smbolos.Tambm se buscou em outras organizaes a origem da Maonaria. Uma teoria agora descartada, mas que conservou credibilidade por longo tempo, via na Maonaria a descendente direta dos Cavaleiros Templrios medievais. Afirmou-se que depois da eliminao de Jacques De Molay seu ltimo Gro-Mestre, em 1314 um grupo de cavaleiros escapou para a Esccia Uma vez ali, se reuniram no misterioso monte Heredom, perto de Kilwinning e, temerosos de ulteriores perseguies, se transformaram em Maons convertendo os supostos segredos dos Templrios nos segredos da Maonaria.

Infelizmente para os partidrios desta teoria, o misterioso monte de Heredom no existe (ainda que viesse a se constituir em elemento central de numerosos graus adicionais inventados na Frana do sculo XVIII). Tampouco verdico que os Templrios tivessem sido perseguidos na Esccia. Formaram, pelo contrrio, parte da vida poltica e religiosa da Esccia at Reforma, sendo que o Prior de Torpichen (principal Priorado Templrio da Esccia), por direito prprio, um dos Lores espirituais do governo escocs. Mesmo assim, a lenda escocesa segue exercendo sua atrao romntica.

O Reverendo Dr. George Oliver declarou que possua um manuscrito do sculo XVIII que se referia ao que ele denominou Rito de Bouillon, um ritual dos trs graus azuis no qual informava aos recipiendrios que eles eram descendentes dos Templrios. O manuscrito de Oliver se conhece apenas em cpias que datam do sculo XIX e um exame de seu contedo mostra um ritual altamente desenvolvido para os trs graus azuis que incorpora muitas das modificaes e adies ritualsticas realizadas depois da unio das Grandes Lojas inglesas em 1813.

Alguns buscaram as origens da Maonaria no Rosacrucianismo, seja como uma manifestao britnica da fraternidade Rosa-cruz, seja como um desvio da corrente principal do Rosacrucianismo. (12) No este o lugar para discutir a existncia ou no de uma Fraternidade Rosa-cruz. Qualquer que seja a verdade a esse respeito, o certo que a idia Rosa-cruz se manteve entretecendo-se no pensamento europeu, desde sua apario no incio do sculo XVII. Os nicos fatores comuns Maonaria e ao Rosacrucianismo so a idia central de criao de uma sociedade ideal e o simbolismo, para distribuir esse ideal aos seus iniciados.

At a chega a similitude. No existe um acervo comum de simbolismo e ambas se desenvolveram ao longo de caminhos diferentes. No h evidncia que demonstre uma origem comum ou o desenvolvimento de uma a partir da outra. Muito se tratou de utilizar para esses fins o fato de que Elias Ashmole, o primeiro iniciado no Operativo de que se tem notcia certa, tambm se interessava no Rosacrucianismo. Mas nada se diz dos demais Maons Aceitos conhecidos, que no tinham relao com a Rosa-Cruz (real ou imaginria), nem sobre os Rosa-Cruzes declarados que no tiveram vnculos com a Maonaria de Aceitao.

A escola no autntica possui quatro enfoques principais, os quais poderiam ser classificados como o esotrico, o mstico, o simbolista e o romntico. As quatro abordagens tm dois fatores em comum: a crena de que a Maonaria existe desde tempo imemorial e uma aparente incapacidade de distinguir entre fato histrico e lenda. As escolas esotricas e msticas esto de fato interessadas na transmisso das idias e tradies esotricas, o que constitui em si uma linha de investigao vlida.

Ocorre que, ao se aproximarem de seu objetivo, convertem similitudes entre grupos muito separados no tempo, como prova de uma tradio contnua transmitida de um grupo a outro, em uma espcie de sucesso apostlica esotrica. Os seguidores destas escolas tendem tambm a professar idias heterodoxas acerca da natureza e propsito da Maonaria, atribuindo-lhe implicaes msticas, religiosas e inclusive ocultas, que nunca teve.

Os partidrios da abordagem esotrica tomam os princpios, os rituais, as formas, os smbolos e a linguagem da Maonaria e buscam similitudes com outros grupos (ignorando o fato de que os princpios e muitos dos smbolos so universais e no particulares da Maonaria). Supem que essas similitudes no so fortuitas mas deliberadas e constituem, portanto, prova de uma tradio contnua. Colocam, tambm, grande nfase nos graus adicionais, revestindo-os de uma antiguidade espria e vendo neles contedo esotrico e simbolismo muito maiores do que jamais se tentou lhes imprimir.

Ao ver o conjunto das diversas ramificaes da Maonaria um rito inicitico coerente, coisa que no , a escola esotrica a compara com outros ritos iniciticos, encontra semelhanas - reais ou impostas e supe um parentesco. John Yarker , provavelmente, o maior expoente dessa escola. Seu opus magnum, As Escolas Arcanas (Belfast, 1909) um monumento erudio mal aplicada. No apenas revela a amplitude de suas leituras, mas tambm sua dificuldade para digerir ou, em alguns casos entender, aquilo que havia lido.

primeira vista pareceria que operava na escola autntica, j que faz constante uso da evidncia documentria. Um exame mais atento mostra que ele no efetuava anlise crtica de suas fontes, com o que aceitava como fatos as lendas, a tradio e o folclore e chegava a negar fatos reais adequadamente documentados. Yarker estava firmemente convencido que a Maonaria existiu entre os talhadores de pedra Operativos da Idade Mdia e que eles j trabalhavam com uma complexa srie de graus que abarcava os trs graus azuis (o Ofcio) e muitos dos graus adicionais. Acreditava tambm que tal sistema havia declinado e que seu ressurgimento no sculo XVIII constitua um renascimento, mas de forma distorcida.

Para poder aceitar as teses de Yarker, teramos que aceitar que ao talhadores de pedra medievais eram homens intelectualmente preclaros, hbeis com o trato de idias que no ingressaram no acervo da filosofia ocidental seno depois do Renascimento. Yarker viu a Maonaria como a culminao ou o summum bonum de todos os sistemas esotricos. Ao fracassar na depurao do sistema existente, Yarker introduziu, dos Estados Unidos da Amrica, o Rito Antigo e Primitivo da Maonaria. Este Rito combinava e reduzia os noventa e sete graus do Rito de Misraim e os noventa e cinco graus do Rito de Mnfis, convertendo-os em um pout porri de egiptologia, gnosticismo, rosacrucianismo, cabala, alquimia, misticismo oriental e cristianismo.

Resume perfeitamente a mente ecltica e acrtica de seu principal promotor na Inglaterra. Este Rito a duras penas sobreviveu morte de Yarker. Talvez os representantes mais caractersticos da escola mstica sejam o Rev. George Oliver e A.E. Waite. Oliver foi um fervoroso fundamentalista pr-darwiniano que acreditava firmemente que a Maonaria era essencialmente crist e havia existido, sob uma forma ou outra, desde o comeo dos tempos. Em vrios sentidos pode ter sido o pai da escola autntica. Lia com avidez qualquer livro manico ao seu alcance e colecionava at as fraes de provas mais nfimas que pudesse encontrar, mas, como Yarker, sua forma de leitura era acrtica e se inclinava para a inveno quando escasseavam as provas.

Waite, como Oliver, acreditava que a Maonaria era essencialmente crist, tanto em sua origem, como no seu carter. Cria que a Maonaria tinha suas razes no sistema das guildas, mas que havia sido transformada em sistema mstico. Seus rituais, em particular os dos graus adicionais, conteriam o conhecimento secreto dentro da tradio dos Mistrios. Sua desorganizada Nova Enciclopdia da Maonaria, na qual ps pesada nfase sobre os graus adicionais, tanto existentes como extintos, foi demolida pela crtica da escola autntica no momento de sua publicao em 1921.

A escola simbolista busca as origens da Maonaria mediante a comparao e a correlao do simbolismo e da linguagem ritual e trata de encontrar a filiao direta entre a Maonaria e vrias religies, cultos, mistrios e sociedades. Da mesma maneira que a escola esotrica, esta linha de investigao tem certa validade, mas como antropologia do simbolismo e no como investigao das origens da Maonaria. A incidncia de certos smbolos, gestos e terminologia conduziram esta escola a comparar a Maonaria com religies dos amerndios, cerimnias maias, rituais mitraicos e aborgines, pinturas de templos egpcios, marcas de castas hindus, etc.

O problema que os smbolos manicos no so exclusivos da Maonaria, pois so universais. Dentro da escola simbolista se encontra quem foi buscar a origem do ritual manico mediante a exegese de obras de escritores bem conhecidos, com o fito de encontrar exemplos de linguagem manica. O mais excntrico deles foi provavelmente Alfred Dodd, que se convenceu a si mesmo que Shakespeare (chame-se Shakespeare, Bacom ou Marlowe) comps o Ritual do Ofcio. (13)

De uma maneira, os seguidores da escola romntica se aproximam da tradio de Anderson, j que implicitamente acreditam na conexo direta entre a Maonaria Operativa e a Maonaria Especulativa, mesmo que tal vnculo se remonte a Ado, Salomo ou aos construtores medievais. Diferem da escola autntica por rechaarem, ou desconhecerem, as numerosas formas pelas quais a Maonaria mudou e se desenvolveu durante o perodo do qual existem registros histricos. Esto dispostos a crer que o ritual tem sido praticado desde tempo imemorial , seja em suas formas fundamentais, seja conservando integralmente seus detalhes.

A carncia de conhecimento sobre a origem da Maonaria e a variedade de abordagens que existem para enfocar esta interrogao explicam, talvez, a intensidade com a qual se a investiga e a persistente atrao que exerce. A ausncia de dogmas oficiais implica que qualquer membro da Ordem pode dar ao ritual tanto ou to pouco significado, conforme deseje. Nem sequer na Inglaterra existe um padro, ou se trate de um ritual controlado de maneira centralizada ou de uma interpretao do ritual que deva ser aceita por todas as Lojas. Quando que, alguma vez, cheguemos a estar prestes a descobrir as verdadeiras origens da Maonaria uma pergunta que permanece em aberto.

Os registros e documentos relacionados com a construo medieval foram revisados na sua totalidade, mas os arquivos religiosos, familiares e locais permanecem praticamente inexplorados. Por outro lado, a ser correta a afirmao de Anderson de que numerosos manuscritos foram queimados deliberadamente em 1720, por alguns Irmos preocupados que tais documentos fossem cair em mos estranhas, bem possvel que a prova crucial que procuramos j esteja perdida.

Esclarecimentos:

1.- Seguindo a tradio manica inglesa, o autor denomina O Ofcio (The Craft) ao conjunto dos trs graus fundamentais da Maonaria e de seus membros, Os trs graus fundamentais, Aprendiz, Companheiro e Mestre so conhecidos como Maonaria Azul.

2.- James Anderson, As constituies dos Franco-Maons, Com a Histria, Obrigaes, Regulamentos, Etc. Desta Mui Antiga e Venervel Fraternidade. Londres, 1723.

3.- As Constituies Gticas (Gothic Constitutions) so a recopilao de preceitos corporativos, tambm conhecida como Os Antigos Deveres (Old Charges)

4.- Para uma discusso sobre o tema da lenda de York, ver Begemann AQC 6 (1893); Gould AQC 5 (1892); Oliver AQC 61 (1948); Speth AQC 6 (1893) e Alex Horne A Lenda de York nos Antigos Deveres (The York Legend in the Old Charges) (Shepperton; A. Lewis, 1978). AQC: Anais da Quatuor Coronati, Loja de estudos histricos pertencente Grande Loja Unida de Inglaterra.

5.- Anderson a nica fonte que se pode citar para sustentar a idia de que os eventos de 1717 constituram uma restaurao.

6.- Os Pocket Companions comearam a aparecer em 1735 e eram uma mistura pouco feliz de plgios das regras e do relato histrico de Anderson, junto com vrios deveres e oraes.

7.- Ver Douglas Knoop, A Palavra Manica (The Mason Word), AQC 51 (1938).

. O relato mais recente da teoria da transio Operativa-Especulativa 600 Anos de Ritual do Ofcio, (600 Years of Craft Ritual) de Harry Carr, texto que se encontra no livro O Mundo da Maonaria, de Harry Carr, (Harry Carrs World of Freemasonry) publicado em Londres por A. Lewis, 1984.

9.- Ver C.F.W. Dyer, Algunas Reflexes Sobre a Origem da Maonaria Especulativa (Some Thoughts on the Origin of Speculative Masonry), AQC 95 (1982).

10.- Andrew Durr, A Origem do Ofcio (The Origin of the Craft), AQC 96 (1983).

11.- Henry Sadler, Fatos e Fices Manicos (Masonic Facts and Fictions), Londres 1887; reimpresso por Wellingborough (Aquarian Press, 1984).

12.-Ver J. S. M. Ward, A Maonaria e os Antigos Deuses (Freemasonry and the Ancient Gods) segunda edio (Londres, 1926). A.E. Waite, A Tradio Secretaa na Maonaria (The Secret Tradition in Freemasonry), (Londres, 1911).13 - Alfred Dodd, Shakespeare: Criador da Maonaria (Shakespeare: Creator of Freemasonry) (Londres, circa 1935) e Foi Shakespeare o Criador dos Rituais da Maonaria? (Was Shakespeare the Creator of the Rituals of Freemasonry?), (Liverpool, sem data).