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1 ARBORIZAÇAO URBANA: ESTUDO DE CASO NA AVENIDA PARNAÍBA EM GOVERNADOR VALADARES MG Thiago de Paula Queiroz - Aluno do 5º período do Curso de Tecnologia em Gestão Ambiental do IFMG, campus Governador Valadares. [email protected] MSc. Luiz Fernando Penna - Professor do Curso de Tecnologia em Gestão Ambiental do IFMG, campus Governador Valadares. RESUMO O conflito da rede elétrica com a arborização urbana vem trazendo a tona um problema já exposto a muitos anos que nunca foi tratado com a devida importância. Na cidade de Governador Valadares onde a predominância de àrvores da espécie Oiti é muito alta, este problema vem causando cada vez mais consequências tanto a população quanto para os vegetais. Objetivando apontar as falhas que estão ocorrendo desde o plantio até as podas pela cidade, é proposto a troca da rede elétrica aérea convencional que existe atualmente por sistemas compactos protegidos (blindados) e um procedimento mais adequado de poda das árvores que não cause grande agressão à estrutura do vegetal. PALAVRAS-CHAVE: arborização urbana; conflito; redes elétricas; substituição. ABSTRACT The clash of the power grid with urban forestry has brought to light a problem will have exposed many years, which has never been treated with due importance. In the city of Governador Valadares where the predominance of green areas in Oiti species is very high, this problem is causing increasingly consequences to both populations and vegetables. Aiming to identify the failures that are occurring from planting to pruning the city, proposed replacing the conventional air power grid that currently exists to protected compact systems (armored) or a more appropriate procedure for pruning trees that will not cause major aggression on plant structure. KEYWORDS: urban forestry; conflict; power grids; replacement. 1 INTRODUÇÃO A árvore é o elemento que melhora significativamente o ambiente urbano e seu conjunto. Nas cidades, exerce funções fundamentais para o equilíbrio do ambiente e para a manutenção da qualidade de vida, como por exemplo, reduzindo a amplitude térmica e amenizando o clima, diminuindo os ruídos, filtrando os poluentes, arborização também atua no sistema hidrológico com a melhoria da infiltração da água

ARBORIZAÇAO URBANA: ESTUDO DE CASO NA AVENIDA … · e telecomunicação, entupimento de ... dos sistemas elétricos de distribuição ... à arborização urbana, a Lei de Crimes

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ARBORIZAÇAO URBANA: ESTUDO DE CASO NA AVENIDA PARNAÍBA EM

GOVERNADOR VALADARES – MG

Thiago de Paula Queiroz - Aluno do 5º período do Curso de Tecnologia em Gestão Ambiental

do IFMG, campus Governador Valadares. [email protected]

MSc. Luiz Fernando Penna - Professor do Curso de Tecnologia em Gestão Ambiental do IFMG,

campus Governador Valadares.

RESUMO

O conflito da rede elétrica com a arborização urbana vem trazendo a tona um

problema já exposto a muitos anos que nunca foi tratado com a devida

importância. Na cidade de Governador Valadares onde a predominância de

àrvores da espécie Oiti é muito alta, este problema vem causando cada vez

mais consequências tanto a população quanto para os vegetais. Objetivando

apontar as falhas que estão ocorrendo desde o plantio até as podas pela

cidade, é proposto a troca da rede elétrica aérea convencional que existe

atualmente por sistemas compactos protegidos (blindados) e um

procedimento mais adequado de poda das árvores que não cause grande

agressão à estrutura do vegetal.

PALAVRAS-CHAVE: arborização urbana; conflito; redes elétricas;

substituição.

ABSTRACT

The clash of the power grid with urban forestry has brought to light a problem

will have exposed many years, which has never been treated with due

importance. In the city of Governador Valadares where the predominance of

green areas in Oiti species is very high, this problem is causing increasingly

consequences to both populations and vegetables. Aiming to identify the

failures that are occurring from planting to pruning the city, proposed replacing

the conventional air power grid that currently exists to protected compact

systems (armored) or a more appropriate procedure for pruning trees that will

not cause major aggression on plant structure.

KEYWORDS: urban forestry; conflict; power grids; replacement.

1 INTRODUÇÃO

A árvore é o elemento que melhora significativamente o ambiente urbano e seu

conjunto. Nas cidades, exerce funções fundamentais para o equilíbrio do ambiente e

para a manutenção da qualidade de vida, como por exemplo, reduzindo a amplitude

térmica e amenizando o clima, diminuindo os ruídos, filtrando os poluentes,

arborização também atua no sistema hidrológico com a melhoria da infiltração da água

2

no solo e o escoamento superficial, além da sua função paisagística, contribuindo para

estética da cidade. Outro papel significativo desempenhado pelas árvores é quanto à

redução do nível de gás carbônico atmosférico, uma vez que elas fixam o carbono

durante a fotossíntese (MCHALE; MCPHERSON; BURKE, 2007). Ou seja, é um

componente fundamental nos projetos urbanos.

Mas na maioria dos casos, as prefeituras deixam de integrar a arborização no

planejamento urbano, permitindo que empresas particulares sem nenhum

conhecimento técnico executem o plantio de espécies que não possuem

compatibilidade com o local e realizem as podas. Milano (1987) define arborização

urbana como o conjunto de terras públicas e privadas, com vegetação

predominantemente arbórea ou em estado natural, que uma cidade apresenta,

incluindo as árvores de ruas e avenidas, parques públicos e demais áreas verdes.

Lima (1994) defende que a arborização urbana compreende espécies arbóreas e

outros vegetais, plantados na cidade, inclusive nas calçadas. Já segundo PEDROSA

(1983) a arborização de vias públicas consiste em trazer para as cidades – pelo

menos simbolicamente – um pouco do ambiente natural e do verde das matas, para

satisfazer às necessidades mínimas do ser humano.

Além das funções que afetam diretamente a vida do homem, a arborização do

ponto de vista ecológico é de suma importância. Através dela, pode-se salvar e

guardar a identidade biológica da região, preservando ou cultivando as espécies

nativas. São elas também que oferecem abrigo e alimentação à fauna local e desta

forma protegem o ecossistema como um todo.

Contudo, arborizar uma cidade sem critérios traz prejuízos para população e as

autoridades (POSSEBON; DIAS e FLORES, 1999).

Segundo Oliveira (2012), as árvores plantadas nas cidades necessitam ter o

entorno permeável, seja na forma de canteiro, faixa ou piso drenante, permitindo a

infiltração de água e aeração do solo. As dimensões desta área permeável, quando a

largura do calçamento permitir, deverão ser no mínimo 2,0 m² para árvores de copa

com diâmetro médio de 4,0m e de 3,0 m² para árvores de copa com diâmetro em torno

de 8,0m. Ainda de acordo com Oliveira (2012) as árvores deverão ser plantadas de

forma que suas copas não venham a interferir na iluminação pública. O

posicionamento das árvores nos calçamentos é fundamental para evitar transtornos

aos moradores e aos vegetais. Desta forma, deve-se obedecer aos seguintes critérios:

As calçadas com largura igual ou superior a 1,50m e inferior 2,40m, as

árvores deverão estar a uma distância mínima de 0,30cm, sendo esta

medida entre o eixo central do tronco e o meio fio (guia do calçamento);

3

O posicionamento da árvore em calçamentos com largura igual ou superior

a 2,40m deverão estar a uma distância de 0,60cm, sendo esta medida

entre o eixo central do tronco e o meio fio (guia do calçamento);

Nos locais arborizados, o projeto lumino-técnico deve respeitar as

árvores, adequando postes e luminárias às condições locais. Nos

locais não arborizados e sem iluminação, deverá ser elaborado o projeto

lumino-técnico pelos órgãos envolvidos, juntamente com os projetos

integrados.

Oliveira (2012) ainda diz que o não seguimento de normas como estas citadas

anteriormente e o mau planejamento deste tipo de situação causa futuros transtornos

à população local, causando prejuízos como rompimento de fiação de energia elétrica

e telecomunicação, entupimento de calhas, danos às redes subterrâneas de água e de

esgoto, obstáculos para circulação e acidentes envolvendo pedestres, veículos ou

edificações.

As cidades foram crescendo, na maioria das vezes de forma muito rápida e

desordenada, sem um planejamento adequado de ocupação, provocando vários

problemas que interferem sobremaneira na qualidade de vida do homem (PIVETTA;

SILVA FILHO, 2002).

A arborização e a implantação dos sistemas elétricos de distribuição são

elaborados e realizados de forma independente, o que acaba gerando um grande

problema para as prefeituras e concessionárias de energia. A grande parte das

publicações que abordam o tema recomenda que sob redes elétricas, devem ser

plantados árvores e arbustos de pequeno porte como forma de prevenir ou eliminar a

interferência nas redes. Segundo BIONDI (1996), a indicação de espécies para a

arborização urbana ainda é feita de maneira muito empírica, utilizando-se apenas de

informações estéticas e desprezando todas as condições desfavoráveis que o meio

urbano oferece às árvores.

Os sistemas de distribuição de energia podem ser de diversos tipos, sendo que

muitas vezes estão em circuitos mistos, acarretando diversas combinações entre redes

de baixa e média tensão, variando principalmente de acordo com as necessidades e

condições locais e, com as concessionárias de energia elétricas. Os tipos mais comuns

de redes aéreas de distribuição de energia utilizados em Governador Valadares são as

redes de distribuição aérea convencional (RDC), que segundo SARDETO (1999) é

caracterizada por condutores nus. Essa rede fica totalmente desprotegida contra as

influências do meio ambiente, apresenta alta taxa de falhas e exige que sejam feitas

podas drásticas nas árvores, visto que o simples contato do condutor nu com um galho

4

de árvore pode provocar o desligamento de parte da rede, tendo um baixo nível de

confiabilidade quando utilizada em áreas com maior densidade populacional. Também

existe a rede de distribuição aérea protegida ou compacta (RDP), que ainda segundo

SARDETO (1999) a rede secundária é toda isolada, e a rede primária é constituída de

três condutores cobertos por uma camada, sustentados por um cabo mensageiro de

aço, que sustenta espaçadores plásticos. Cabe lembrar que os cabos protegidos são

apenas “encapados”, não podendo ser considerados como “isolados eletricamente”

por não terem seu campo elétrico confinado. Essas redes oferecem maior

confiabilidade e qualidade no fornecimento de energia, pois reduzem, em até três

vezes, a duração das interrupções. São mais seguras para o público e convivem de

forma mais harmônica com as árvores quando comparadas às redes convencionais

nuas (CEMIG, 2001). E por fim, um tipo de rede que normalmente é implantada em

grandes metrópoles e cidades históricas, a rede de distribuição subterrânea (RDS),

que sem dúvida, é o mais complexo sistema de distribuição e sua utilização varia de

região para região.

Segundo VELASCO (2003), as redes elétricas subterrâneas apresentam uma

série de benefícios, tais como:

Redução significativa das interrupções pela diminuição da

exposição dos circuitos aos agentes externos,

incrementando, assim, a confiabilidade do serviço.

Eliminação dos circuitos aéreos, o que melhora bastante a

aparência do sistema e, principalmente, ajuda a preservar

as árvores, contribuindo, consequentemente, para o

embelezamento das cidades e conservação do meio

ambiente, permitindo a presença de árvores de grande

porte nos dois lados da rua.

Porem o alto custo de implantação das RDS inviabiliza a popularização da

implantação deste sistema pelas cidades brasileiras.

Relacionado a podas, o Manual de Treinamento: Poda de Árvore, Limpeza de

Faixa e Aceiro elaborado em 2013 pela Companhia Energética de Minas Gerais, a

CEMIG, entre outras coisas estipula que:

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A poda deve se restringir apenas à eliminação do conflito

e/ou à prevenção de futura interferência de galhos na rede

elétrica;

Executar a poda programada somente com Autorização

emitida por órgão ambiental competente;

Sinalizar e isolar a área de trabalho (cones, cordas, etc)

proporcionando segurança aos executantes, transeuntes e

veículos;

Galho com diâmetro superior a oito centímetros deve ser

podado em pedaços. Com menor diâmetro pode ser

podado com apenas um corte, sem, contudo causar o

“lascamento” da árvore;

Para árvore que apresentar risco iminente para a rede e

precisar ser suprimida, solicitar supressão imediata ao

departamento da Prefeitura;

Evitar cortar ou balançar galho que tenha ninho de pássaro;

É proibido o uso de ferramentas de impacto, tais como

facão, machado, machadinha e foice, para corte de galhos

em cima da árvore;

Encerrada a poda e recolhido todo o material cortado, o

chão deve ser varrido e as folhas e gravetos recolhidos.

Nas localidades onde existe convênio com a Prefeitura para

recolhimento do material podado, a programação de poda

será repassada para a área comercial que entrará em

contato com a mesma informando-a os locais de poda para

que o material seja recolhido posteriormente (a equipe,

após efetuar a poda, deverá acondicionar o material

que posteriormente será recolhido pela equipe da

Prefeitura).

Galhos que devem ser podados em Rede Convencional:

aqueles que venham a tocar os cabos acidentalmente, e os

que estiverem crescendo em sua direção a uma distância

mínima de segurança de 1m.

Galhos que devem ser podados em Rede Protegida:

aqueles que estejam tocando e os que estiverem crescendo

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em direção à rede a uma distância mínima de segurança de

0,50 m.

Galhos que devem ser podados em Rede Isolada: aqueles

que estejam forçando fisicamente os condutores e os

componentes da rede, conforme Tabela 1:

Tabela 1 – Critérios para poda de acordo com o tipo de rede.

TIPOS DE REDES CRITÉRIO PARA A PODA

Primária Distância mínima de segurança dos

galhos/folhas à rede

Convencional 2,00 metros

Protegida 1,50 metros

Isolada Toque e/ou com risco de esforço mecânico à rede

Secundária Distância mínima de segurança dos

galhos/folhas à rede

Convencional 1,50 metros

Isolada Toque e/ou com risco de esforço mecânico à rede

Fonte: Companhia Energética de Minas Gerais, CEMIG.

As ruas são bens públicos, e consequentemente a arborização urbana ali

presente, e devem ser cuidados tanto pelos cidadãos quanto pelos órgãos

responsáveis. Percebe-se que há uma legislação pronta para combater e punir os

maus tratos com as árvores presentes no perímetro urbano, mas o que falta é uma

fiscalização programada e responsável, ditadas por autoridades governamentais, para

que haja o cumprimento dessas leis. A poda irregular é considerada crime ambiental

de acordo com legislação federal. Sobre legislação aplicada à arborização urbana, a

Lei de Crimes Ambientais, Lei n° 9.605, de 12 de fevereiro de 1998 (BRASIL, 1998),

enquadra como crime ambiental em sua segunda seção, artigo 49, a destruição, dano,

lesão ou maltratos, por qualquer modo ou meio, de plantas de ornamentação de

logradouros públicos ou em propriedade privada alheia, o que pode ter uma pena que

é a detenção, de três meses a um ano, ou multa, ou ambas as penas

cumulativamente.

Dando continuidade sobre os bens públicos, e as leis que protegem as ruas e a

arborização presente nelas, a Câmara Municipal de Governador Valadares juntamente

com o ex-prefeito João Domingos Fassarella, na data ainda em posse do cargo,

sancionaram a seguinte lei sobre o Departamento de Obras e Serviços, da gerência de

parques e jardins, presente na Lei nº 4940/ 2001:

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Art. 130 - À Gerência de Parques e Jardins compete:

I - zelar pela arborização e conservação de vias, praças,

parques e jardins do Mu nicípio;

II - planejar e promover a execução de serviços de jardinagem

nos logradouros públicos;

III - coibir o uso inadequado ou predatório das áreas verdes e

da arborização no Município;

IV - promover a poda de árvores, fiscalizar o serviço das

empreiteiras e conferir as respectivas faturas;

V - combater os insetos e pragas nocivas à vegetação em

praças, jardins e logradouros públicos.

De acordo com a Política do Meio Ambiente da cidade, através da Lei

Complementar nº 55/ 2004 de Governador Valadares, a preservação, melhoria e

recuperação da qualidade ambiental são fundamentais para o equilíbrio ecológico e a

qualidade de vida da população.

CAPÍTULO II

DOS OBJEIVOS

Art. 4º-A política do meio ambiente visa à preservação, a

melhoria e a recuperação da qualidade ambiental, objetivando

assegurar a compatibilização do desenvolvimento sócio-

econômico com a preservação do meio ambiente e do

equilíbrio ecológico, melhorando a qualidade de vida da

população.

Ainda, segundo a lei supracitada, fica proibida qualquer atitude irregular ou

inadequada que possa prejudicar a arborização urbana.

Art.140 - É proibido eliminar, lesar, maltratar por qualquer modo

ou meio as plantas de ornamentação de logradouros públicos

ou de propriedades privadas ou, ainda, árvores, declaradas ou

não imunes de corte, e as gramíneas. [...]

Art.144 - O corte, poda e/ou derrubada de árvores não

protegidas pela imunidade de corte, situadas em propriedade

pública ou privada, no perímetro urbano, ficam subordinadas à

autorização da SMO – Secretaria Municipal de Obras e

Serviços Urbanos, qualquer que seja a finalidade do

procedimento.

Como se pode perceber há a existência de leis proibindo os maus tratos com a

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arborização urbana, no entanto, existem falhas em seu cumprimento, novamente, por

falta de fiscalização. São atitudes de difícil punição, pois exige flagrante. Entretanto, o

mau trato por vandalismo que ocorre na cidade, acontece em proporções quase que

imperceptíveis se comparado às podas realizadas para não prejudicar a rede elétrica,

que são drasticamente visíveis. Sendo assim, torna-se mais necessário uma constante

fiscalização, para que se cumprem, de fato, as leis que já existem.

Considerando a importância da arborização urbana para a cidade e seus

moradores a pergunta que se faz é: Existe conflito entre a rede elétrica e a arborização

na Avenida Parnaíba? Como são realizadas as podas nessa rua?

O objetivo geral do presente trabalho é descrever a situação da arborização

urbana da Avenida Parnaíba no sentido de observar a existência ou não de conflitos

entre a rede elétrica e as árvores. Também observar se as podas realizadas estão de

acordo às normas técnicas. E como objetivos específicos identificar os métodos que

estão sendo utilizados nas podas, citar maneiras de realizar-se o procedimento sem

que a agressão à planta seja grande, e também apresentar a relação do custo médio

para implantação de novas redes áreas compacta (rede protegida) e/ou subterrâneas.

2 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

2.1 Caracterização da área de estudo

A cidade de Governador Valadares foi fundada em 1938 e se encontra na região

leste do estado de Minas Gerais, na mesorregião do Rio Doce. Conta com uma

população estimada de 275.568 pessoas e possui uma extensão territorial também

aproximada de 2.342 km², segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

(IBGE – 2013).

A via estudada é chamada Avenida Parnaíba e localiza-se no bairro residencial lha

dos Araújos, rodeado pelo Rio Doce e é bem arborizado. (Figura 1).

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Figura 1 – Avenida Parnaíba, Governador Valadares, MG.

Fonte: http://www.maps.google.com

2.2 Tipo de estudo

Para elaboração e fundamentação da caracterização do problema exposto neste

trabalho foi realizada uma pesquisa qualiquantitativa exploratória descritiva. Esse

modelo misto, segundo Sampieri (2006) representa o mais alto grau de integração ou

combinação entre os enfoques qualitativo e quantitativo.

Ainda segundo Sampieri (2006) o enfoque quantitativo utiliza coleta e a análise de

dados para responder às questões de pesquisa e testa as hipóteses estabelecidas

previamente, e confia na medição numérica, na contagem e frequentemente no uso de

estatística para estabelecer com exatidão os padrões de comportamento de uma

população. Já o enfoque qualitativo, em geral é utilizado, sobretudo para descobrir e

refinar as questões de pesquisa. Às vezes, mas não necessariamente, hipóteses são

comprovadas. Com frequência esse enfoque está baseado em métodos de coleta de

dados sem medicação numérica, como as descrições e observações.

Andrade (2002) destaca que a pesquisa descritiva preocupa-se em observar os

fatos, registrá-los, analisá-los, classificá-los e interpretá-los, e o pesquisador não

interfere neles. Assim os fenômenos do mundo físico e humano são estudados, mas

não são manipulados pelo pesquisador.

2.3 Técnicas de Coleta e Análise de Dados

Para atingir os objetivos propostos foram efetuadas visitas in-loco para que

pudesse ser executado o registro fotográfico da arborização da avenida que foi

escolhida, procurando observar a existência ou não de conflitos entre a arborização e

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a rede elétrica, além de observar os tipos de podas realizadas. Também registrado de

modo informal a opinião dos moradores a respeito do tipo de arborização durante o

registro fotográfico das árvores e circuitos elétricos.

Foi realizado o levantamento das informações técnicas relacionadas à

arborização urbana e poda, e das redes de distribuição de energia elétrica

convencional, isolada e subterrânea, na Companhia de Energia Elétrica de Minas

Gerais – CEMIG. Foram coletados outros dados e relatórios através de conversa

informal com engenheiros e técnicos também da concessionária de energia elétrica

CEMIG, e por fim também houve coleta de informações na Secretaria de Obras e

Sistema Viários - SEMOV - da Prefeitura Municipal de Governador Valadares.

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO

Através de conversa informal com engenheiros atuantes na concessionária de

luz CEMIG, Governador Valadares é um município que possui em média 11.000

árvores em conflito com as redes aéreas de distribuição de energia pela cidade devido

ao precário planejamento na implantação das mesmas pelas ruas. Também devido ao

grande desenvolvimento das plantas, que encontraram por aqui condições climáticas

favoráveis para o crescimento.

A árvore predominante na cidade de Governador Valadares é a espécie

Oiti (Licania tomentosa) (Figura 2), árvore da família Chrysobalanaceae que pode

atingir de 8 a 15 metros de altura.

Figura 2 - Oiti (Licania tomentosa)

Fonte: Autor, 2013.

Os órgãos responsáveis pelo de poda dentro de Governador Valadares é a

concessionária de energia elétrica CEMIG/MG e a Secretaria Municipal de Obras e

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Viação (SEMOV) da Prefeitura, que também é responsável pelo recolhimento dos

resíduos ou materiais resultantes das podas, como galhos e folhas.

A Avenida Parnaíba conta com 80 árvores da espécie Oiti, 4 Ipês Amarelo

(Tabeluia alba) e 4 Flamboyant (Delonix regia). Este ponto do bairro possui vários tipos

de podas, umas que se encontram dentro e outras fora dos padrões estipulados por

artigos relacionados à arborização e poda urbana.

Os moradores do bairro Ilha dos Araújos se queixam do tipo de arborização – oiti

–, e à poda inadequada das árvores. As causas apontadas são falta de planejamento,

de orientação técnica, de ampliação da lei e de priorização de questões relativas ao

meio ambiente.

Segundo Seitz (1990), a poda realizada sem técnica é uma agressão a um

organismo vivo, com estruturas e funções definidas. A prática da poda não deve ser

totalmente abolida, mas sim usada de forma correta nas árvores urbanas, evitando

que grandes erros sejam cometidos na ilusão de estar realizando o melhor para as

plantas.

A poda mais frequente na cidade é a chamada em “V” (Figura 3) também

realizada na avenida estudada. Entretanto também se observa um número

considerado de podas emergenciais, o que gera prejuízos ás árvores.

Figura 3 – Árvore que sofreu o processo de poda conhecida como em “V”.

Fonte: Autor, 2013.

Segundo a CEMIG (2001) a poda que seria considerada adequada para esse

tipo de arborização é a de rebaixamento da copa (Figura 4), que para ser

tecnicamente correta, deve se limitar a um terço do volume da copa da árvore e

manter um tamanho considerável para a planta para que ela não perca suas

12

características arbóreas. A figura 4 mostra maiores detalhes deste tipo de poda que

rebaixa a copa das árvores.

Figura 4 – Observam-se as podas de rebaixamento de copa que é o procedimento

mais recomendado.

Fonte: Autor, 2014.

A substituição da RDC para RDP ou RDS também é recomendada. Os dois

últimos modelos de redes citados oferecem maior confiabilidade e qualidade no

fornecimento de energia, pois reduzem, em até três vezes, a duração das interrupções

de fornecimento de energia elétrica. São mais seguras para o publico e convivem de

forma mais harmônica com as árvores quando comparadas às redes convencionais.

Com a realização de várias visitas in-loco pôde-se observar que a

concessionária de energia elétrica tem aumentado o interesse no uso de redes que

possam conviver harmonicamente com a arborização, pois a empresa vem

substituindo a rede de distribuição elétrica aérea convencional pela rede protegida

(Figura 5).

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Figura 5 - Rede de distribuição aérea protegida existente na Avenida Parnaíba.

Fonte: Autor, 2014.

A substituição da rede elétrica nos postes que ainda possuem sistema primário

convencional para rede primária protegida pode ser uma alternativa interessante para

evitar conflitos entre rede elétrica e arborização. De acordo com a COPEL/PR (2001) o

valor médio da transformação da RDC para RDP pode chegar a R$ 42.951,79/KM. Já

a implantação de RDS, incluindo as obras civis, segundo VELASCO (2003) é de

R$436.585,04/KM.

Também foi possível observar que na Avenida Parnaíba, uma técnica que

deveria ser usada somente a caráter emergencial é sempre aplicada. A poda drástica

(Figura 6).

Figura 6 – Oiti após ser submetido ao processo de poda drástica.

Fonte: Autor, 2014.

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Segundo SARDETO (1999), a poda drástica que era para ser uma poda

emergencial e não habitual, passou a ser feita sistematicamente pelas

concessionárias, levando ao desequilíbrio e mutilação das árvores de rua. As podas

realizadas de forma mais drástica, acabam por anular os benefícios proporcionados

pelas espécies de grande porte, prejudicando o fornecimento de sombra nas áreas

urbanas.

Este tipo de poda deve ser evitada, sendo utilizadas e permitidas somente em

situações emergenciais devido à remoção total de um ou mais ramos principais da

copa de árvores jovens e adultas, resultando no desequilíbrio irreversível da árvore.

Outro problema da poda drástica é a mutilação da planta e consequentemente a perda

de sua estabilidade, e risco de tombamento sobre casas, carros e rede elétrica, além

do alto número de árvores que morrem após este tipo de poda.

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Considerando a importância da arborização urbana para a melhoria da qualidade

de vida da população, com todos os benefícios que a mesma proporciona à

comunidade, faz-se necessário que os órgãos responsáveis pela poda das árvores

executem esta operação dentro das normas para evitar a mutilação dos vegetais e

consequentemente suas perdas das funções junto aos habitantes da cidade. Assim,

sugere-se que as podas sejam feitas com critérios técnicos observando manuais

relacionados, e que as podas drásticas não sejam executadas de forma alguma na

Avenida Parnaíba, uma vez que, na maioria dos casos, este tipo de poda é realizada

quando existe um conflito entre a árvore e a rede elétrica, o que não é o caso do

logradouro estudado, pois a rede de distribuição de energia é blindada (RDP).

Sugere-se também que sejam oferecidos novos cursos de atualização para os

responsáveis pela execução das podas pela cidade, objetivando sempre uma melhor

coexistência entre árvores, redes elétricas e população utilizando técnicas que estão

dentro dos manuais técnicos.

Assim como foi feita à substituição da rede convencional para a rede protegida na

rua estudada, indica-se ainda que seja feito um planejamento pela prefeitura e pela

concessionária de energia elétrica para que possa ser gradativamente substituídas

nas ruas e avenidas arborizadas a rede convencional pela rede protegida.

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5 REFERÊNCIAS

ANDRADE, M. M. DE. Como preparar trabalhos para curso de pós-graduação; noções práticas. 5. Ed. São Paulo: Atlas, 2002.

BIONDI, D. Critérios para a introdução de espécies na arborização urbana. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE ARBORIZAÇÃO URBANA. Salvador, 1996. BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília: Senado, 1988. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm>. Acesso em: 07 jan. 2014. COMPANHIA ENERGÉTICA DE MINAS GERAIS. Manual de Arborização. Belo

Horizonte: Superintendência de Comunicação Social e Representação, 2001; 40p. COMPANHIA ENERGÉTICA DE MINAS GERAIS. Manual de Treinamento: Poda de Árvore, Limpeza de Faixa e Aceiro, 2013; 6p.

COMPANHIA PARANAENSE DE ENERGIA. Implantação de redes compactas no sistema de distribuição urbana de eletricidade. Paraná, 2001. 6p. (Programa SOS

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Urbana, 2, 1994. São Luís – Ma. Anais... São Luís, Sociedade Brasileira de Arborização Urbana, 1994. MCHALE, M. R.; MCPHERSON, E. G.; BURKE, I. C. The potential of urban tree plantings to be cost effective in carbon credit markets. Urban Forestry and Urban

Greening, Santa Monica, v. 6, n. 1, p. 46-60, Feb. 2007. MILANO, M. S. Planejamento e replanejamento de arborização de ruas. In:

ENCONTRO NACIONAL SOBRE ARBORIZAÇÃO URBANA, 2., 1987, Maringá. Anais. Maringá: PMM, 1987. p. 1-8. MORAES, L. C. S. de. Código florestal comentado: com as alterações da Lei de

Crimes Ambientais – Lei no 9.605/98. 3.ed. São Paulo: Atlas, 2002. 324p.

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