7
o arco ultrapassado Da arquitectura visigótica Como professor de tecnologias da constrw;ao, tem os meus trabalhos de investiga~ao sido orientados para a evolu~ao destas formas de edificar e por esse facto, para a história da tecnologia da constru~ao. Para além dos estudos sobre a evolu~ao do habitat dos POyOSque foram sempre, ao longo dos milénios, influenciados pela constante cultural vinculada pelo Mediterraneo, elaborei um estudo profundo sobre o arco ultrapassado também conhecido por arco de fe- rradura. Sao várias as hipóteses que se p6em quanto a sua génese. Curiosamente, na reimpressao de 1995 da História de la Arquitectura Occidental-de Grecia al Islam, de Fernando Chueca Goitia, leio na pag.292 »...queda como un incognita la aparición del arco de herradura en estelas romanas, y en algunos mosaicos, como el de Arnal, cerca de Leiria, que hoy se encuentra en el «Victoria and Albert Museumy de Londres. Apare- cen numerosas estelas deste tipo en la Península desde el siglo n...» Ao verificar que Frank Lloyd Wright usa este arco ultrapassado, como elemento decorativo, nalguns ti- pos da sua arquitectura, concluo que este mestre, pio- neiro do racionalismo na arquitectura moderna da qual é um dos grandes responsáveis, faz reflectir a sua grande liga~ao com o sentir oriental, com o de- sejo ,segundo a minha leitura, de frisar o intimismo que este elemento construtivo sugere. Anteriormente, este arco de ferradura, fora usado em arquitecturas revivalistas até ao Séc. XIX em consequencia da sis- tematiza<;:aoda sua utiliza<;:aono período gótico ma- Nuno Santos Pinheiro nuelino e no anterior. Na realidade como aparece este arco? Já em 2000AC, no velho Egipto que partilha com a Caldeia a honra de ter dado nascimento a arquitec- tura, segundo Auguste Choisy, encontramos na pira- mide de Abydos o arco de volta perfeita como pro- cesso construtivo que permite fazer com que as cargas provenientes da abertura de um vao, se enca- minhem para as paredes e se degradem, ao longo de- las, até chegarem ao chao, onde sao absorvidas. Curiosamente em 500AC quer os Etruscos quer os Incas, do outro lado do Atlantico, no templo do Sol, na ilha Titicaca, ensaiam as suas tentativas no sen- tido de superar a verga recta. Os Maias, em 300DC, acabam mesmo por conseguir executar o arco polilo- bado (figura 1). Estes sao alguns exemplos flagrantes da capaci- dade enovadora do Homem que, com diferen~as tem- porais, conseguiu descobrir, em vários pontos da te- rra, um elemento formal de grande importancia e significado que, ora se desenvolve na singeleza poé- tica dos seus múltiplos tra~ados, ora se transforma na geratriz da abóbada acménida. A este elemento cons- trutivo cabe o significado arquitectónico do orna- mental mas, ele encerra em si mesmo, urna for~a ca- rregada de símbolismo e de misticismo. Recordemos que o «triunfo» romano se materia- liza num arco de volta perfeita até ao séc.I AC pas- sando depois a um conjunto de tres, sendo o do meio, o maior. Ele simboliza a forma viva do triunfo de Roma e dos seus cidadaos mas este facto leva-me a Actas del Primer Congreso Nacional de Historia de la Construcción, Madrid, 19-21 septiembre 1996, eds. A. de las Casas, S. Huerta, E. Rabasa, Madrid: I. Juan de Herrera, CEHOPU, 1996.

arco ultrapassado Da arquitectura visigótica - sedhc.es · sua grande liga~ao com o sentir oriental, com o de-sejo ,segundo a minha leitura, de frisar o intimismo ... marcado por

  • Upload
    ngonhi

  • View
    216

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

o arco ultrapassado Da arquitectura visigótica

Como professor de tecnologias da constrw;ao, tem osmeus trabalhos de investiga~ao sido orientados paraa evolu~ao destas formas de edificar e por esse facto,para a história da tecnologia da constru~ao.

Para além dos estudos sobre a evolu~ao do habitatdos POyOSque foram sempre, ao longo dos milénios,influenciados pela constante cultural vinculada peloMediterraneo, elaborei um estudo profundo sobre oarco ultrapassado também conhecido por arco de fe-rradura. Sao várias as hipóteses que se p6em quantoa sua génese.

Curiosamente, na reimpressao de 1995 da Históriade la Arquitectura Occidental-de Grecia al Islam, deFernando Chueca Goitia, leio na pag.292 »...quedacomo un incognita la aparición del arco de herraduraen estelas romanas, y en algunos mosaicos, como elde Arnal, cerca de Leiria, que hoy se encuentra en el«Victoria and Albert Museumy de Londres. Apare-cen numerosas estelas deste tipo en la Penínsuladesde el siglo n...»

Ao verificar que Frank Lloyd Wright usa este arcoultrapassado, como elemento decorativo, nalguns ti-pos da sua arquitectura, concluo que este mestre, pio-neiro do racionalismo na arquitectura moderna daqual é um dos grandes responsáveis, faz reflectir asua grande liga~ao com o sentir oriental, com o de-sejo ,segundo a minha leitura, de frisar o intimismoque este elemento construtivo sugere. Anteriormente,este arco de ferradura, fora usado em arquitecturasrevivalistas até ao Séc. XIX em consequencia da sis-tematiza<;:aoda sua utiliza<;:aono período gótico ma-

Nuno Santos Pinheiro

nuelino e no anterior. Na realidade como apareceeste arco?

Já em 2000AC, no velho Egipto que partilha coma Caldeia a honra de ter dado nascimento a arquitec-tura, segundo Auguste Choisy, encontramos na pira-mide de Abydos o arco de volta perfeita como pro-cesso construtivo que permite fazer com que ascargas provenientes da abertura de um vao, se enca-minhem para as paredes e se degradem, ao longo de-las, até chegarem ao chao, onde sao absorvidas.

Curiosamente em 500AC quer os Etruscos quer osIncas, do outro lado do Atlantico, no templo do Sol,na ilha Titicaca, ensaiam as suas tentativas no sen-tido de superar a verga recta. Os Maias, em 300DC,acabam mesmo por conseguir executar o arco polilo-bado (figura 1).

Estes sao alguns exemplos flagrantes da capaci-dade enovadora do Homem que, com diferen~as tem-porais, conseguiu descobrir, em vários pontos da te-rra, um elemento formal de grande importancia esignificado que, ora se desenvolve na singeleza poé-tica dos seus múltiplos tra~ados, ora se transforma nageratriz da abóbada acménida. A este elemento cons-trutivo cabe o significado arquitectónico do orna-mental mas, ele encerra em si mesmo, urna for~a ca-rregada de símbolismo e de misticismo.

Recordemos que o «triunfo» romano se materia-liza num arco de volta perfeita até ao séc.I AC pas-sando depois a um conjunto de tres, sendo o do meio,o maior. Ele simboliza a forma viva do triunfo deRoma e dos seus cidadaos mas este facto leva-me a

Actas del Primer Congreso Nacional de Historia de la Construcción, Madrid, 19-21 septiembre 1996, eds. A. de las Casas, S. Huerta, E. Rabasa, Madrid: I. Juan de Herrera, CEHOPU, 1996.

478

figura 1Arcos Maias 320D.C.

admitir que séculos depois, os cristaos quiserammostrar o triunfo clo seu Dcus, quando usam csteconjunto de arcos como geratriz do temp10 que o glo-

rifica.O arco de ferradura é urna das Iliuitas formas que

este elemento construtivo pode apresentar. Eje temurna característica cspecífica: o arco continua depois

das suas nascen<;as, descansando nas irnpostas, paraalém da 1inha que contem o centro da circunferencia(figura 2).

Muitos historiadores, já anteriormente se debru<;a-

ram sobre a génese deste tipo de arco:-Gomez-Moreno, considera o arco de ferradura de

origem peninsular e anterior a invasao árabe.-Auguste Choisy considera que C\C aparece pela

necessidade construtiva de se fazer um recuo nasnaseen<;as, para coloca<;ao da cofragem.

-Henry Martin conc\ui que a arte árabe importou

da Pérsia as cúpu1as, os arcos de ferradura e os arcospolilobados.

-Manuel Monteiro, quando fala da cape1a deS.Frutuoso de Montélios perto de Braga, diz que es-

N. Santos

Figura 2Porta de Scvilhu, Córdova

tcs arcos já eram conhecidos da península antes dainvasao bárbara como atestam as estelas romanas dosse. II e 111dos museus de Leon e Madrid (figura 3).

-Creswell considera que este arco [oi ditado porprimitivas cstruturas de madeira em que uma cober-

tura de bambú [oi eurvada. Esta estrutura terá sidocopiada nos templos cortados nas roehas, da Índia.

Figura 3-aS.Fruoso de Montélios

o arco ullrapassado na arquitectura visigótica 479

Figura 3-bS.Fruoso de Montélios

Numa estela votiva a mulher de Flávio (figura 4),podemos encontrar elementos de caracteriza<;ao ro-

mana na composi<;ao dos tres arcos de ferradura massobretudo de simboJogia oriental(Mesopotamica),nos círculos divididos por tres diámetros, como sinalde infinito e eterno, assim como nos conjuntos detriangulos invertidos como símbolo de fertilidade.

Lembro aqui as palavras de Torres Balbás que fa-

lando deste tipo de arco nos diz»...indica una posibledifusion en el Occidente romano en compania dc lasdivindades orientales...»

Noutra estela votiva de 525DC (figura 5), encon-trada em Mértola também com o arco de fcrradura,referente a um «princeps cantorum sacrosancte ae-clesiae mertilliane», a sua caracteriza<;ao é cxclusiva-mente crista.

Nao sao estes os únicos indicadores da cxistenciadeste arco antes da reorganiza<;ao da arquitcctura pc-ninsular feita no domínio visigótico.

Gomez-Moreno indica-nos a sua existencia nasmural has de Autun, Verona, Saintes, Córdova e Mé-rida.

Entendemos no entanto que a sua utiJiza<;ao sistc-mática aparece no séc.VI, em 661, na igreja de S.Juan de Banos, na igreja de Trampa] em Alcucscar,segundo Helmut Schlunk em S. Pedro de Balsemao eno séc. VII em S.Frutuoso de Montélios perlO deBraga, em S.Giao da Nazaré, S. Pedro de la Nave, S.

Comba de Bande em Orense e Quintanilla de las Vi-nas em Burgos.

Neste período confuso, difícil por vezes dc enten-der, a península albergo u os visigodos, admitiu o seu

domínio mas sujeitou-os a sua cultura, porquanto a

Figura 4Estela votifva a ll1uIhcr de Flávio

estrutura nómada deste pavo, nao permitia que a ti-vessem. POyO quc se arrasta ao longo da Europadcsde a Groenlándia, cm convuls6es sucessivas deguerras sangrentas, traz consigo a tenda que o tapa

da chuva e elemcntos de virilidade guerreira nos al-forges do seu cavalo, feitos de meta], de pedras pre-ciosas, de cauro. com lima mistura de simbologiasque traduzem o scu contacto com outros pOYOS,com

outras religi6es. no longo caminho de gera<;6es, atéchegar a península.

No entanto, na segunda metade do séc.VI as tropas

de lustiniano trouxeram a península o prestígio da

480

Figura 5Estela encontrada em Mértola

grandiosa arte bizantina e fizeram com que a pode-

rosa civiliza<;ao dos visigodos convertidos, atingisse

o seu apogeu, na segunda metade do séc.VII. Defacto com a conversao de Recaredo em finais doséc.VI, termina um período em que, como afirma o

Professor Theodor Hauschild «...sao de notar va-

ria<;:6es nas técnicas e no menor cuidado da execu<;:aoda obra...». Este período visigótico na península, é

N. Santos

marcado por urna arquitectura com elementos carac-terísticos da península, das artes bizantina, Síria e doNorte de África. Os visigodos contribuem com a suaarte decorativa, fruto do seu nomadismo. O arco deferradura torna-se portanto constante desta arquitec-tura, como elemento construtivo já existente na pe-

nínsula.Fernando de Almeida refere»...que o arco de ferra-

dura, característico da arte visigótica, já se via nas

constru<;:oes sírias. Encontra-se na basílica e mosteirode S.simero e na de Binbirkalésia...»

Conforme W. Neuss, as colunatas usadas nos tem-plos sírios eram formadas por arcos de ferradura...».

Charles Diehl afirma»...foi mérito do visigótico ter-se servido deste arco para o converter em elementoarquitectónico...» .

Na realidade este arco é constante nos poucos tem-plos, da península, que restam deste período, Foi o

historiador Quadrado que chamou a aten<;:ao para asua existencia em S.Juan de Banos, templo cons-truído por Recesvindo e que atrás referimos, como

sendo o primeiro, conhecido daquela época. Des-trui<;:6es quando da invasao mu<;:ulmana, ausencia demanuten<;:ao, reutiliza<;:ao de materiais para outrasconstru<;:6es, fizeram diminuir, em muito, o valor pa-trimonial daquele período da história.

O que se passa fora da Península?Na realidade nao existe em toda a Europa o uso

deste arco. O que acontece em Constantinopla,grande centro cultural da bacia mediterránica?

Quer Constantino, no séc.IV quer Justiniano no

séc. VI, ambos intimamente ligados a S. Sofia, naoutiJizaram este arco. O segundo, ao reedificá-Ja, de-poi s do último incendio, usou a arte dos arquitectosgregos Anthemios e Isidoros. Este arco nao foi usado

tendo mesmo em aten<;:ao que,desde o tempo deConstantino, havia Jiga<;:6es periódicas entre Cons-tantinopla e a PenínsuJa.

A arquitectura bizantina recorre 11decora<;:ao paracobrir urna anatomia estruturalmente pobre, eJa perdeo culto da forma humana harmoniosa e flexível, es-quece a estatuária. É o triunfo do génio decorativo

sobre o espírito plástico da arte grega.Emilc Brehier escreve a este propósito»...a nova

capital do Império era pouco favorável aos estudosfilosóficos: o neopJatonismo morre com toda a fiJo-sofia e toda a cultura grega: os séc.VI e VII sao osmomentos de grande silencio...». Lembremo-nos que

a religiao crista nao pode ser motivo para que se ex-

....

o arco ultrapassado na arquitectura visigótica 481

clua este elemento construtivo, de linhagcm paga, daarquitectura, porque ela foi impregnada por esta sim-bologia. segundo Alfred Foucher, se bem que as fon-

tes de inspirac;ao da arte grega-budista (figura 6) se-jam controversas, parece ser de atender que a

solidariedade estabelecida entre a escola de Gand-hara (berc;o desta arte) e as escolas contemporaneas

de Antióquia, Palmira e Susa, é notória. Houve certa-mente urna interligac;ao entre a Índia e a artc helenís-tica do Oriente através, pensamos, da Estrada daSeda e da Estrada Real que, como sabemos, vem atéao Cresccnte FértiL Petra e Palmira sao grandes cen-tros, charneiras entre o Oriente e o Ocidcnte e natu-

ralmente responsáveis pelo intercambio de culturas.A Índia estava portanto ligada, através das carava-

nas, a estes centros pelo camelo, meio de transporteimportante que aparece no séc.I AC, no Sul da Babi-

lónia.

Figura 6Decora<;aodo manuscrito da Escala de Bengala

Com a seda eram transportados conhecimentos enaturalmente processos e formas de construir sobre-tudo porque a Índia comec;ava a ter urna vida moralsuperior, na altura em que os POYOSdo Mcditerraneo

ocidental abriam a porta a História.De facto, os textos técnicos, comec;ando pelo mais

completo, o Manazara, enumeram com precisao os

diversos aspectos da preparac;ao do arquitecto o qual,para além dos conhecimentos técnicos, artísticos e

até psicológicos, tem de possuir conhecimentos reli-giosos e mágicos (figura 7).

Daí, a permanente ligac;ao com Ahouramazda, re-

velado como o círculo inteiro do céu, sendo o seucorpo, um corpo de luz, o seu olho, o disco solar.

A mágica e a religiao entram na arquitectura inducomo elementos de concepc;ao. Daí a constante utili-zac;ao do círculo, do disco solar e o desenvolvimento

da técnica da cúpula pelos Medas que, sete séculos

Flgura7Nasik - Santuário - séc.II

A.C., se acolhiam nos planaltos do Irao e recebiam

as int1uéncias do culto indu. O círculo é o sinal daunidade principal, indicando a actividade e os movi-mento s cíclicos (figura 8).

Assim, a arquitectura e a urbanística indu nao po-

dem esquecer esta temática vinda da religiao e da

Figura 8

Siva danc;ando

482

mística e, por isso, desde muito antes de Cristo, aforma circular foi usada nas construí;oes elementaresa custa do bambú dobrado, em arcarias de madeira,esculpida na pedra, nas cavernas dos santuários(Chaitya) ou nos mosteiros(Vihara) e finalmente a

partir da dinastia Maurya, em 250 AC, no reinado do

rei Aí;oka, este arco de ferradura denominado Kudu,faz parte do seu paláeio em Pataliputa e das stupas,monumentos votivos.

De regresso a península, podemos verificar que obaptistério de «Mar Ya Qub», na Mesopotámia, tal-vez seja o templo onde se eneontra o primeiro exem-plo deste areo,f ora da Índia. Encontramos outros

exemplos em Ruwayka que Butler diz ser do séc. VI

e outro na Síria, na igreja de Dana. Este arco é aindaencontrado na Ásia Menor, nas ruinas da igreja deKhoja-Kalesi, na antiga província da Isauria, na qual

a ábside tem este arco com 4,0 metros de vao. En-contramo-Io também na Capadócia, na Arménia e naSicília. Ele aparece como elemento pontual em todo

este percurso o que tal vez leve Fernando Saldanha aafirmar que foi pela Síria que chegou ao Ocidente oenorme reflexo das artes do Irao e da Índia, intluen-

ciadas por urna religiao sem imagem onde os símbo-los tém de exprimir a divindade. Admito desta formaque este elemento construtivo tivesse entrado na Pe-

nínsula por via marítima e pelas nÚos dos sírios queaproveitando conhecer o mediterrfmeo e até a penín-sula, emigra va m das suas montanhas e se estabele-

ciam neste canto ocidental da Europa. Para Haus-child existem na península abóbadas de tradií;aooriental, cronologicamente mais antigas que as en-

contradas em Itália, o que bem prova que os camin-hos para a península foram vários tendo sido o marí-timo, muito importante.

Um outro POyO nómada, constiwÍdo por castas di-versas, de etnias diferentes, de cultos múltip]os que

as guerras e as lutas pela sobrevivéncia nao permi-tiam que tivessem uma unidade para além do desertoque partilhavam, soube Maomé aglutinar com a sua

doutrina e com ele criou um império. Estes homensque possuÍam urna civilizaí;ao rudimentar, urna reli-giao primitiva, uma sociedade tribal, que viviam o

deserto e que sofriam nele a nostalgia do imenso infi-

nito da areia, trazem consigo a poesia, a música, a es-tética da arte que se traduz no geol1letrisl1lo da formaque nao tem princípio e que nunca acaba, como o

mundo onde vivia e que se mistura nUI1l envolvi-mento infinito com a caligrafia. É a sensibilidade

N. Santos

deste mu~ulmano que, a partir de 711 e durante sécu-los transforma este arco de ferradura (figura 9), que ovisigodo soube sistematizar na península, num im-portante elemento da arquitectura que criou, no

mundo que governou (figura 1O).

BIBLIOGRAFÍA

Torres Balbás, L. Ciudades Hispano-Musulmanas, Instituto

Luso-Árabe de Cultura. 1985, voL l.Choisy. A. Histoire de I'Architecture. Editions Vincent.

Freal CIE, 1964, voL l.

Monteiro, M. S. Frutuoso. Urna Igreja Mo¡:arahe. Arquivo

DistritaL Braga, 1939.

Figura 9Porta da :vJcsquitade Mértola

o arco ultrapassado na arquitecturd vi sigótica 483

Figura 10

Constru"ao na actual Libid

Creswell, K.kC. Cnmpí'ndio de Arquitectum Palco Isla-

mica. Public. Univcrsilad de Sevilla, vol. l.

Gomes-Moreno. M. Retazos. Ideas sn[¡re Histnria, Cultum

\' Arte. Cons.Sup. Invest.Cicntíficas .1970.

Saldhana, F.; A. ,\. Silvd. Arte VisigÓtica em Portugal.

Tcse Doutorallícnto. Faculdade de Letras de Lisboa,

1962.

Hauschild. T. 11 N,'IfIIÚm d'Arqu('olngia Palcn-Cristiana.

Universidad Barcelona. 1982.