46
Área de Competências-Chave Cultura, Língua e Comunicação RECURSOS DE APOIO À EVIDENCIAÇÃO DE COMPETÊNCIAS Recursos de apoio ao desenvolvimento do processo de RVCC, nível secundário Núcleo Gerador 1 – EQUIPAMENTOS E SISTEMAS TÉCNICOS DR4 – Tema: Transformações e evoluções técnicas

Área de Competências-Chavecqepdesantotirsodoaetp.yolasite.com/resources/NG1 EST - DR4... · a mecanização geral da indústria, os caminhos de ferro e a indústria naval movida

  • Upload
    ngoque

  • View
    239

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: Área de Competências-Chavecqepdesantotirsodoaetp.yolasite.com/resources/NG1 EST - DR4... · a mecanização geral da indústria, os caminhos de ferro e a indústria naval movida

Área de Competências-Chave

Cultura, Língua e Comunicação

RECURSOS DE APOIO À EVIDENCIAÇÃO DE COMPETÊNCIAS

Recursos de apoio ao desenvolvimento do processo de RVCC, nível secundário

Núcleo Gerador 1 – EQUIPAMENTOS E SISTEMAS TÉCNICOS

DR4 – Tema: Transformações e evoluções

técnicas

Page 2: Área de Competências-Chavecqepdesantotirsodoaetp.yolasite.com/resources/NG1 EST - DR4... · a mecanização geral da indústria, os caminhos de ferro e a indústria naval movida

Página 2 de 46

Tema 4: Transformações e evoluções técnicas

COMPETÊNCIA: Relacionar transformações e evoluções técnicas com novas formas de acesso à

informação, à cultura e ao conhecimento proporcionado também pelos novos suportes

tecnológicos de comunicação.

Revolução Industrial e inovações tecnológicas na 2.ª metade do século XVIII e primeira metade do século XIX

O arranque industrial O processo de industrialização iniciou-se em Inglaterra, na segunda metade do século XVIII, sob o

impulso de um conjunto vasto de fatores: os avanços agrícolas, a dinâmica demográfica, o alargamento

dos mercados, a capacidade empreendedora dos britânicos e, é c/aro, o avanço tecnológico.

Page 3: Área de Competências-Chavecqepdesantotirsodoaetp.yolasite.com/resources/NG1 EST - DR4... · a mecanização geral da indústria, os caminhos de ferro e a indústria naval movida

Página 3 de 46

Nesta época, uma cadeia de inovações revolucionou a indústria. A aplicação de um melhoramento

técnico numa das fases de fabrico gerava quase de imediato desequilíbrios na produção, que só podiam

ser corrigidos através de novos inventos e adaptações. O

mundo em que hoje vivemos mostra-nos bem que, uma

vez desencadeada, "a inovação tecnológica é um processo

que tende a acelerar-se"'.

Um exemplo claro desta espiral tecnológica é-nos

fornecido pela indústria têxtil que liderou o arranque

industrial inglês. Alguns inventos técnicos

desempenharam um papel importante na revolução

ocorrida no setor têxtil. Antes de mais a lançadeira volante

inventada por John Kay. Seguiu-se a invenção da máquina

de fiar, a jenny, de J. Hargreaves. Se consideramos a

existência de um arranque industrial nos finais do século XVIII, indubitavelmente ele ocorreu no setor

têxtil.

O desenvolvimento do setor têxtil foi acompanhado,

de perto, pelo da metalurgia que, fornecedora de

máquinas e outros equipamentos, se tornava

indispensável aos progressos da industrialização.

No início do século XVIII, Abraham Darby, ferreiro de

Birmingham, deu o primeiro passo para resolver o

problema do combustível necessário a este setor,

utilizando, na fusão do ferro, o coque em vez

de carvão vegetal. Obtido a partir da hulha,

muito abundante no subsolo inglês, o uso do

coque não exigia, como o carvão de madeira,

o abate maciço de árvores, que colocava

grandes entraves à expansão da indústria.

A maior capacidade calorífica do coque, a

aplicação de foles para ventilação dos altos-

fornos e outros melhoramentos introduzidos nas fundições permitiram melhorar a qualidade e aumentar

a produção.

Em breve, o ferro, agora mais barato e mais

resistente, começou a substituir, com vantagem,

outros materiais.

No século XIX, o crescimento deste setor

intensificou-se. A partir da década de 1830, a

metalurgia, ultrapassando o têxtil, tornou-se no

principal setor industrial.

Em todo este processo de modernização, coube ao

engenheiro escocês James Watt um papel central. Havia

muito tempo que se procurava aproveitar a força

Máquina de fiar de J. Hargreaves

Lançadeira volante de Jonh Kay:

Crianças a operar com teares mecânicos ao tempo da

Revolução Industrial

Metalurgia ao tempo da Revolução Industrial

Page 4: Área de Competências-Chavecqepdesantotirsodoaetp.yolasite.com/resources/NG1 EST - DR4... · a mecanização geral da indústria, os caminhos de ferro e a indústria naval movida

Página 4 de 46

expansiva do vapor como força motriz. No entanto,

permaneciam por resolver diversos problemas técnicos,

pelo que as poucas máquinas existentes pouca aplicação

tinham.

Dono de uma oficina de instrumentos matemáticos,

Watt foi, certa vez, chamado a reparar uma bomba de

Newcomen. A partir de então, impôs a si próprio o desafio

de conceber uma "bomba de fogo" eficiente e versátil.

A máquina a vapor de James Watt

constituiu o primeiro motor artificial da

História. Com ela foi possível mover teares,

martelos, locomotivas, enfim, todo o tipo de

maquinismos que, anteriormente, dependiam

do trabalho humano ou das forças da

Natureza.

Um século depois da invenção de Watt, as

máquinas a vapor efetuavam, na Grã-

Bretanha, um volume de trabalho que teria exigido, anteriormente, cerca de 40 milhões de homens! A

manufatura cedera lugar à maquinofatura, cerne da Revolução Industrial.

A importância das máquinas no desenvolvimento económico em

contexto de Revolução Industrial

A industrialização constituiu, historicamente, o fator mais poderoso no processo de aceleração do

crescimento económico. O setor industrial exerceu impacto dinâmico sobre os outros setores da

economia e sobre todo o ambiente social e institucional.

Estudos recentes têm sustentado que a grande conquista da Revolução Industrial em Inglaterra foi a

criação da primeira indústria mecânica de grande porte que poderia produzir máquinas em massa,

aumentando a produtividade. A produção de

máquinas, alegam alguns, terá sido a base de três

desenvolvimentos que explicam o contínuo

crescimento económico mundial até a Primeira

Guerra Mundial. Os três desenvolvimentos foram:

a mecanização geral da indústria, os caminhos de

ferro e a indústria naval movida pela energia a

vapor.

A mecanização da indústria aumentou a

produtividade da Grã-Bretanha, e os caminhos de

ferro, os navios e a energia a vapor criaram uma

economia global, que, com o aumento da divisão

Máquina a vapor de James Watt

Teares na 1.ª fase da Revolução Industrial. Imagem disponível

em: https://www.emaze.com/@AIZLCFWQ/Revolu%C3%A7%C3%A3o-

Industrial

Os caminhos de ferro impulsionaram a Revolução Industrial. Imagem disponível em: http://ftc.com.br/a-

empresa/historia/as-locomotivas-e-as-ferrovias

Page 5: Área de Competências-Chavecqepdesantotirsodoaetp.yolasite.com/resources/NG1 EST - DR4... · a mecanização geral da indústria, os caminhos de ferro e a indústria naval movida

Página 5 de 46

do trabalho, foi responsável pela elevação do padrão de vida em toda a Europa. Até meados do século

XIX, a Grã-Bretanha teve uma estrutura industrial desequilibrada, em que o algodão era produzido em

fábricas altamente mecanizadas, enquanto a

restante indústria manufaturada produzia de forma

tradicional. A partir de meados do século XIX, as

máquinas propagaram-se para outras partes da

indústria britânica e essa foi uma das causas do

contínuo crescimento da produção. Até esse

período, a indústria do algodão havia sido o

mercado mais importante do setor de máquinas na

Inglaterra.

Alguns autores têm sustentado que a passagem

das ferramentas rudimentares para as máquinas

durante a Revolução Industrial foi muito mais lenta

do que se costuma descrever. Os principais

utilizadores iniciais de ferramentas (geralmente talhadeiras e limas) foram carpinteiros e construtores de

moinhos, que utilizavam práticas rudimentares. Com a passagem para a utilização das máquinas, os

maquinistas e os engenheiros tornaram-se os principais utilizadores de instrumentos mecanizados de

precisão. A mudança não foi rápida porque, apesar de os artesãos do século XVIII estarem familiarizados

com grande variedade de máquinas (tornos, máquinas de furar, brocas e máquinas de cortar), essas eram

pouco precisas e muito lentas, porém adequadas à indústria da época. O progresso técnico na indústria

de máquinas inicialmente foi implementado por artesãos criativos, que modificaram instrumentos antigos

e projetaram novos, ou seja, a mudança foi gradual e cumulativa.(…)

Na segunda metade do século XIX, alguns fabricantes e construtores de máquinas operavam com

modelos padronizados, sendo possível a venda a partir de descrições em catálogos. Esse progresso

aconteceu graças, em grande parte, a muitas pessoas talentosas que aprendiam umas com as outras e

que formaram uma espécie de família de fabricantes de instrumentos.

Não obstante o progressivo aperfeiçoamento das máquinas, no período inicial da Revolução Industrial,

elas não possuíam grande precisão e não revolucionaram

o modo de produção e o ritmo do trabalho. O artesão

trabalhava ainda com padrões tradicionais, com

especificações pouco uniformes e controlando o próprio

desempenho. No entanto, já se havia iniciado a transição

para um novo tipo de construção mecânica que iria

possibilitar a produção em massa a preços acessíveis de

bens de consumo modernos no século XX, tais como a

bicicleta, o automóvel, o frigorífico e o televisor. As peças

intercambiáveis, ou seja, partes muito precisas que se

encaixam e se integram noutras e estas num equipamento

maior, foram essenciais para essa revolução. (…)

Entre meados do século XIX e a Primeira Guerra

Mundial, assistiu-se a uma expansão da indústria

mecânica britânica. O aumento da especialização e a

diferenciação na indústria mecânica britânica foram uma

resposta do setor ao desenvolvimento de novos produtos e novas técnicas na segunda metade do século

XIX. Como a indústria de máquinas-ferramentas foi fornecedora primária de máquinas para a produção de

Máquina a vapor da 1.ª fase da Revolução Industrial. Imagem disponível em: http://fazdesign.com.br/a-

revolucao-industrial-nao-acabou/

Ferramentas da 1.ª fase da Revolução Industrial. Imagem disponível em:

https://pt.wikipedia.org/wiki/Revolu%C3%A7%C3%A3o_Industrial

Page 6: Área de Competências-Chavecqepdesantotirsodoaetp.yolasite.com/resources/NG1 EST - DR4... · a mecanização geral da indústria, os caminhos de ferro e a indústria naval movida

Página 6 de 46

novos produtos, houve a necessidade de mudança técnica constante. O desenvolvimento tecnológico na

indústria de máquinas-ferramentas entre 1850 e

1914 foi um processo constante de acumulação

de conhecimento, e não uma série de invenções

isoladas, como no período anterior. A maioria

das ferramentas foi inventada antes de 1850.

A indústria de máquinas do continente

europeu teve sua origem na década de 1820,

sendo os franceses e os belgas os pioneiros na

conceção das próprias máquinas. Em meados do

século XIX a Alemanha desenvolveu uma

produção independente de máquinas, mas os

seus produtores tinham dificuldade em

encontrar materiais locais adequados, e muitas

firmas compravam máquinas-ferramentas

mecânicas auxiliares no exterior. O desenvolvimento de uma indústria mecânica no continente foi

possível devido a um conjunto de fatores como a importação de mão-de-obra inglesa, empenho dos

governos, altas barreiras tarifárias e outros tipos de restrições à concorrência externa. A expansão da

indústria continental iniciou-se com a imitação e a reprodução dos modelos ingleses, com algumas poucas

alterações para atender a necessidades específicas locais. (…)

As características da indústria de máquinas no continente faziam com que algumas indústrias de bens

de consumo, como a indústria têxtil, produzissem as próprias máquinas em oficinas especializadas. As

empresas de bens de consumo menores dependiam de técnicos e mecânicos locais, já que esses

ofereciam assistência técnica imediata, facilitando a manutenção do equipamento. As oficinas de

reparação foram fábricas embrionárias onde o progresso empresarial foi rápido para muitos mecânicos

de poucos recursos, com autofinanciamento pelos seus próprios lucros e alguns empréstimos. Entretanto,

a especialização da indústria de máquinas no continente aconteceria apenas na segunda metade do

século XIX, com o aumento da procura da

indústria de mineração, metalurgia e

principalmente pela construção de caminhos de

ferro.

O desenvolvimento da indústria mecânica nos

Estados Unidos foi possível com a "revolução nos

transportes". Os produtores de máquinas

especializadas surgiram no mercado americano

após 1840, coincidindo com a expansão da rede

nacional de caminhos de ferro. (…)

Após 1900, o setor de máquinas-ferramentas

manteve o papel central na invenção e na difusão

tecnológica das indústrias estabelecidas, da

indústria automobilística e noutras novas

indústrias. Entretanto, surgiram inovações nas indústrias do aço e da eletricidade, como novos recursos

para as máquinas-ferramenta, sendo que as ciências dos materiais e a eletrificação influenciaram as

indústrias metalúrgicas.

Marson, Deliberali Michel. (2014) A evolução da indústria de máquinas e equipamentos no Brasil: Dedini e Romi, entre 1920 e 1960In. Disponível na Internet em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-63512014000300685

Metalurgia 1.ª fase da Revolução Industrial. Imagem disponível em: http://fazdesign.com.br/a-revolucao-industrial-

nao-acabou/

Teares à época da Revolução Industrial. Imagem disponível em:

http://educacaoalemdasparedes.blogspot.pt/2010/09/revolucao-industrial.html

Page 7: Área de Competências-Chavecqepdesantotirsodoaetp.yolasite.com/resources/NG1 EST - DR4... · a mecanização geral da indústria, os caminhos de ferro e a indústria naval movida

Página 7 de 46

2.ª Revolução Industrial: Iigação ciência-técnica, novos inventos e

novas formas de energia na 2.ª metade do século XIX

Os primeiros avanços da indústria ao tempo da 1.ª Revolução Industrial (finais do século XVIII e 1.ª

metade do séc. XIX), fizeram-se com maquinismos simples, concebidos por artesãos ou pequenos

empresários que se aplicaram no melhoramento dos seus instrumentos e técnicas de trabalho.

Em meados do século XIX, esta situação alterou-se profundamente. Por um lado, o progresso técnico

transformou os maquinismos industriais em estruturas complexas, que exigiam sólidos conhecimentos

teóricos. Por outro lado, a concorrência cada vez maior entre as várias empresas do mesmo ramo

obrigava a uma atualização permanente das tecnologias de fabrico.

Neste contexto, os institutos e as universidades assumem um papel fundamental, formando técnicos

especializados com a necessária preparação científica. Inaugura-se, assim, a época dos engenheiros e da

estreita ligação entre a ciência e a técnica. Na mira de

um produto revolucionário ou de aperfeiçoamentos

que lhes permitissem vencer a concorrência e

conquistar o mercado, as grandes empresas

começam a investir somas enormes na investigação,

equipando modernos laboratórios, onde trabalhava

uma equipa de "sábios" credenciados. Doravante, a

invenção raramente será produto de, um génio

solitário, mas resultará, quase sempre, de um

trabalho coletivo e cientificamente conduzido.

À descoberta do laboratório segue-se a conceção

do novo produto ou da nova máquina, que a

indústria se apressa a produzir. Cada avanço dá ori-

gem a novos desafios, aos quais a ciência, mais uma vez, se esforçará por dar resposta. Gera-se, desta

forma, um novelo de progressos cumulativos que resultam num progresso tecnológico sem paralelo:

novas formas de energia, novos setores produtivos, novos meios de transporte e uma multiplicidade de

objetos novos transformam o mundo industrializado. Pela sua amplitude, este conjunto de inovações

transporta-nos para um novo período, muitas vezes designado por Segunda Revolução Industrial.

Inovações na indústria química e na siderurgia

Um dos exemplos mais claros desta ligação entre a investigação científica e a fábrica é-nos dado pela

indústria química. O arranque da indústria química ficou a dever-se à procura de corantes artificiais

suscetíveis de serem produzidos em larga escala, de modo a satisfazer as necessidades do setor têxtil. Foi

a pesquisa e a produção destes corantes - as anilinas e as alizarinas - que fizeram nascer os primeiros

gigantes da indústria química, como a Badische Anilin und Soda Fabrik (BASF) e a Farbenfabriken Vorn,

Friedr. Bayer & Co., que investem fortunas no equipamento de grandes laboratórios de investigação.

Estreitamente ligada à pesquisa e à inovação, a indústria química foi um dos setores mais

característicos da Segunda Revolução Industrial. Verdadeira indústria de base, ela forneceu um sem-

número de componentes essenciais aos mais variados setores, tendo, além disso, desenvolvido um m

conjunto de produtos próprios, como os inseticidas, os fertilizantes ou os medicamentos.

Laboratório de Química da segunda metade do séc. XIX

Page 8: Área de Competências-Chavecqepdesantotirsodoaetp.yolasite.com/resources/NG1 EST - DR4... · a mecanização geral da indústria, os caminhos de ferro e a indústria naval movida

Página 8 de 46

Fornecedora de máquinas, carris, locomotivas e outros equipamentos, a siderurgia transformou-se na

indústria de ponta da Segunda Revolução

Industrial. O progresso mais significativo deste

setor ocorre em meados do século XIX,

quando H. Bessemer inventa um conversor

capaz de transformar, de forma rápida e

barata, o ferro em aço. As potencialidades do

aço, material que alia às vantagens do ferro

uma maior plasticidade e dureza, alargam o

mercado siderúrgico, tanto na área da

indústria pesada (bens de equipamento,

cascos de navios, pontes, construções, peças

de artiIharia, etc.), como na produção de bens

de consumo. Entre 1870 e 1914, a produção mundial de minério de ferro mais do que quintuplicou.

Novas formas de energia

Os progressos da industrialização fizeram-se à custa do carvão como força motriz. Durante todo o

século XIX, foi a hulha que alimentou as caldeiras das fábricas e dos meios de transporte. Em 1913, cerca

de 90% da energia produzida na Europa dependia

ainda deste combustível. No entanto, nas últimas

décadas do século XIX, desenvolveram-se as duas

fontes de energia que marcariam o nosso tempo:

o petróleo e a eletricidade.

Foi a descoberta das técnicas de refinação que

veio abrir novas perspetivas de aproveitamento do

petróleo. Em 1859, perfura-se na Pensilvânia o pri-

meiro poço e em breve os derivados de petróleo

se tornam correntes como lubrificantes (fueloil) e

como combustíveis para a iluminação. Porém, a real valia do "ouro

negro" só se revela depois de 1886, ano em que Gottlieb Daimler

inventa o motor de explosão, movido a gasolina. Poucos anos

depois (1897), Rudolf Diesel concebe um motor semelhante que

utiliza o óleo pesado (gasoil) e que, tal como o de gasolina, é

aplicável às mais variadas máquinas. Os derivados do petróleo

tornam-se, assim, os combustíveis do futuro, assumindo no

século XX um declarado protagonismo.

Coincidindo com o petróleo, iniciou-se o aproveitamento

industrial da eletricidade, graças a uma série de invenções que

permitiram a sua produção e transporte a grandes distâncias. Em

pouco tempo, a eletricidade substituiu o gás na iluminação, privada

e pública, e os carros elétricos, bem como o metropolitano fizeram

a sua aparição, marcando o fim dos transportes urbanos de tração

animal. Embora só muito lentamente tenha substituído o carvão

como força motriz, a eletricidade foi uma das conquistas mais

Conversor de Bessemer

Poço de petróleo no final do séc. XIX

Casa da Luz, Museu da Electricidade, Lisboa

Page 9: Área de Competências-Chavecqepdesantotirsodoaetp.yolasite.com/resources/NG1 EST - DR4... · a mecanização geral da indústria, os caminhos de ferro e a indústria naval movida

Página 9 de 46

marcantes da era industrial. Sem ela não teria sido possível a invenção do telégrafo, do telefone, do

gravador de som, da rádio e do cinema, que rapidamente se tornaram "imprescindíveis" à vida agitada

e "moderna" do início do século XX.

A confiança no progresso científico

No século XIX, tornou-se evidente que os progressos da Química, da Física, da Biologia e de tantos

outros ramos do saber se refletiam beneficamente na vida do cidadão comum. Foi neste contexto que

Augusto Comte criou o Positivismo, teoria filosófica que muito contribuiu para reforçar o valor atribuído

à ciência.

O Positivismo teve um grande impacto no pensamento da segunda metade do século XIX. A fé nas

potencialidades da ciência e nos benefícios que ela traria à Humanidade acentuou-se ainda mais.

Acreditava-se que o Universo obedecia a uma ordem lógica e funcionava segundo regras determinadas e

fixas, que à ciência competia conhecer. Neste pressuposto, considerava-se o inexplicável como fruto da

ignorância, não deixando margem à existência divina e a todo o sobrenatural.

Esta corrente de pensamento, designada por cientismo, dominou a vida intelectual da época. A ela

se deve, em grande parte, o interesse com que os Estados começaram a olhar a investigação científica,

que passou a desenvolver-se sobretudo em instituições financiadas com fundos públicos, como as

universidades, institutos, academias e outras associações.

O avanço das ciências exatas

Palco de extraordinárias descobertas, o século XIX não se limitou a acrescentar o volume dos

conhecimentos, mas revolucionou também as suas bases.

Na Química, considerada a "ciência do século”,

procedeu-se à sistematização dos elementos, tendo

Mendeleïev elaborado a primeira tabela periódica,

divulgada em 1869.

No campo da Física, abandonaram-se os velhos

conceitos da dinâmica

que, de Aristóteles a

Newton, atribuíam o

movimento dos corpos

"inertes" à ação

exclusiva de forças

exteriores. Logo no início do século, o estudo do comportamento dos

gases levou à conclusão que estes possuíam uma "força autónoma" que

os fazia variar de volume. Coube aos britânicos Joule e Maxwell formular

com precisão a teoria cinético-molecular: todos os corpos são formados

por partículas dotadas de movimento, cuja intensidade varia pela ação

de fatores externos, como, por exemplo, a temperatura.

Esta perceção, de que o mundo a que chamamos "inanimado" não

era inerte nem passivo, foi o ponto de partida para o estudo de átomos

e eletrões, da eletricidade e do eletromagnetismo. Simultaneamente, as descobertas do casal Curie e

Johan Mendel, realizando experiências com ervilhas

Page 10: Área de Competências-Chavecqepdesantotirsodoaetp.yolasite.com/resources/NG1 EST - DR4... · a mecanização geral da indústria, os caminhos de ferro e a indústria naval movida

Página 10 de 46

Henri Becquerel sobre a radioatividade, demonstraram que, para além de se moverem, os elementos

podiam transformar-se uns aos outros.

A ideia de que na Natureza imperam o movimento e a mudança propagou-se também às ciências da

vida, tendo zoólogos e botânicos começado a colocar a hipótese da evolução das espécies animais e

vegetais. Neste campo, os trabalhos de maior impacto foram os de Charles Darwin (1809-1882) e Johan

Mendel (1822-1884).

A obra de Darwin, A Origem das Espécies (1889), defendia que os seres vivos têm a faculdade de se

adaptarem ao ambiente e que essa adaptação acarreta modificações morfológicas que se transmitem à

descendência. Pouco depois, Mendel desvendaria o complexo mecanismo que preside à transmissão dos

caracteres hereditários e explicaria como a sua combinação pode facilitar ou dificultar a "Iuta pela vida”,

que aniquila umas espécies enquanto outras conseguem sobreviver.

Ainda no campo das ciências da vida, registaram-se importantes avanços na microbiologia e na

medicina, que se influenciaram mutuamente. Os estudos de Louis Pasteur e de Robert Koch, por exemplo,

deram à medicina conhecimentos fundamentais sobre as causas da propagação das doenças.

A descrença no pensamento positivista, as novas conceções científicas na 1.ª metade do século XX

Por meados do século XIX, o positivismo estabelecera uma confiança absoluta no poder do

raciocínio e da ciência, que considerava capazes de desvendar todos os mistérios do Universo.

Acreditava-se então num mundo perfeitamente ordenado, regido por leis claras e objetivas.

No início do século XX, o pensamento ocidental rebela-se contra este quadro de estreita

racionalidade, valorizando outras dimensões do conhecimento. Foi a própria ciência, com as suas

desconcertantes descobertas, que mais contribuiu para a

ruína do pensamento positivista.

O conhecimento de que o átomo não era a unidade mais

pequena da Natureza abriu à Física um campo de estudos até

então desconhecido, o da microfísica, área em que o alemão

Max Planck (1848-1957) desempenhou um papel pioneiro.

Max Planck demonstrou que, ao contrário do que era tido

como certo, as trocas de energia não se fazem num fluxo

suave e uniforme mas em pequeníssimas unidades separadas

(a que chamou quantum - porção) que se movimentam a

velocidades inimagináveis, em saltos bruscos e descontínuos.

A teoria quântica veio a ter profundas repercussões no avanço da microfísica pois permitiu explicar

o comportamento dos átomos e das suas partes constituintes. Revelou-se assim um mundo onde, como

mais tarde ficou demonstrado por cientistas como Niels Bohr (1885-1962) e Werner Heisemberg, (1901-

1972) não existem regras fixas, sendo impossível determinar, com rigor, o que está a acontecer e prever o

que acontecerá.

Foi, no entanto, Albert Einstein (1879-1955) e a sua Teoria da Relatividade quem protagonizou a

revolução científica do início do século. Einstein destruiu as mais sólidas bases da Física ao negar o

caráter absoluto do espaço e do tempo. Ninguém poderia imaginar que o tempo fosse uma variável e

decorresse mais depressa ou mais devagar consoante a velocidade dos corpos!

Page 11: Área de Competências-Chavecqepdesantotirsodoaetp.yolasite.com/resources/NG1 EST - DR4... · a mecanização geral da indústria, os caminhos de ferro e a indústria naval movida

Página 11 de 46

As teorias de Max Plancke Albert Einstein provocaram um profundo choque na comunidade científica

que se viu obrigada a reconhecer que o Universo era mais instável do que até aí se pensava e a verdade

científica menos universal do que se tinha acreditado.

Abriu-se assim uma nova conceção filosófica – o relativismo – que aceita a subjetividade do

conhecimento, o mistério e a desordem, como partes integrantes do Universo, rejeitando o

pensamento positivista fundado na clareza, na ordem, na explicabilidade de todos os fenómenos. Em-

bora tal mudança tenha representado, de facto, um avanço, o certo é que contribuiu para abalar a fé na

ciência e na sua capacidade para compreender e controlar a Natureza.

O progresso científico e a inovação tecnológica a partir da 2.ª metade do séc. XX

Após 1945, o progresso científico e a inovação tecnológica continuam a interagir, prosseguindo o

caminho iniciado em finais do século XIX. Estimulados pela concorrência económica entre as empresas e

pela competição política entre os Estados (veja-se o caso da corrida espacial incentivada pela Guerra Fria),

produzem-se admiráveis avanços científicos e tecnológicos.

A Física, a Química e a Biologia foram as ciências em que se processaram as maiores investigações

teóricas. Os seus efeitos tecnológicos mais marcantes fizeram-se sentir na produção da energia nuclear,

na eletrónica, na informática e na cibernética e, finalmente, nos progressos médicos e alimentares que

prolongaram a vida.

A produção de energia nuclear remonta às investigações de grandes nomes da Física, como Max

Planck (1858-1947), Albert Einstein (1879-1955), Niels

Bohr (1885-1962), Enrico Fermi (1901-1954). Sabemos

como foi trágica a sua primeira aplicação, com as

bombas atómicas lançadas sobre o Japão, em agosto de

1945.

Na década de 50, a energia nuclear conheceu fins

pacíficos, permitindo produzir eletricidade, acionar

submarinos e navios, revolucionar os sistemas de

diagnóstico na

Medicina sem o

perigo de absorção

de raios X no corpo humano, como é o caso da tomografia axial

computadorizada (TAC).

Notáveis progressos ocorreram nos domínios da eletrónica, após a

Segunda Guerra Mundial. A invenção do transístor, que substituiu as

válvulas eletrónicas, e do chip ou circuito integrado, possibilitaram a

miniaturização e aperfeiçoamento de equipamentos que se tornaram

imprescindíveis no quotidiano de grande parte da Humanidade - a

rádio, a televisão, os computadores, os telefones, os

eletrodomésticos e os automóveis. O laser, feixe de ondas luminosas

de intensidade mil vezes superior à da luz, veio a ser outra das

Circuito integrado

Esquema de funcionamento do laser

Page 12: Área de Competências-Chavecqepdesantotirsodoaetp.yolasite.com/resources/NG1 EST - DR4... · a mecanização geral da indústria, os caminhos de ferro e a indústria naval movida

Página 12 de 46

maravilhas eletrónicas, com aplicações na medicina, no lar e na guerra, nos suportes de imagem e de

som.

De entre a tecnologia eletrónica, o computador merece uma referência especial. Registou notáveis

avanços, no período de que nos ocupamos, permitindo acelerar os cálculos, o armazenamento, a

recuperação e a distribuição de informação. Na

origem da revolução da informática, que mais não é

do que o tratamento científico da informação, os

computadores tornaram-se indispensáveis na

administração estatal, na gestão contabilística, no

controlo de processos industriais, na triagem de

correspondência, na vida académica, na pesquisa

científica.

Os progressos da eletrónica e da informática

interligaram-se com a criação da inteligência artificial

e a expansão da

cibernética.

Foram produzi-

dos os robôs, máquinas inteligentes que tomam decisões e se

deslocam. Contribuíram para a automatização da indústria e para a

exploração do espaço extraterrestre.

Às pesquisas bioquímicas do século XX se devem grandes

progressos na medicina e na alimentação, que preservaram a vida

e a prolongaram.

Descoberta em 1928 por Alexander Fleming (1881-1955) a

penicilina foi produzida industrialmente na década de 40,

permitindo salvar imensas vidas das infeções bacterianas. Efeito

análogo tiveram as vacinas, tratamentos profiláticos para as

doenças transmitidas pelos microrganismos (vírus e bactérias).

As décadas de 50 a 70 revelaram-se particularmente férteis na

obtenção de vacinas responsáveis

pela regressão da poliomielite, do

sarampo e da própria pneumonia.

Os transplantes cardíacos, iniciados em 1967, registaram uma taxa ra-

zoável de sucessos suscitando, pela complexidade

envolvida, a confiança progressiva na medicina

cirúrgica.

Cobertura mediática semelhante à dos

transplantes cardíacos teve o nascimento, em

1978, da primeira criança cuja conceção ocorreu

fora do corpo humano, aquilo a que chamamos

"fertilização in vitro". Estava dado um gigantesco

passo nas técnicas de reprodução assistida, que conheceram um grande

progresso nas décadas que se seguiram.

Unimates, 1.º robot industrial, 1960

Alexander Fleming, inventor da penicilina

Jonas Salk, inventor da e um

tipo de vacina contra a

poliomielite, 1952

ENIAC, 1.º computador do mundo, 1946

Christiaan Barnard, foi capa

da revista TIME, em 1967ao

ter realizado o 1.º

transplante do coração

Page 13: Área de Competências-Chavecqepdesantotirsodoaetp.yolasite.com/resources/NG1 EST - DR4... · a mecanização geral da indústria, os caminhos de ferro e a indústria naval movida

Página 13 de 46

Pelas suas repercussões no ramo da

biotecnologia', pode dizer-se que a descoberta,

em 1953, da estrutura do ADN e do código

genético foi das mais atraentes e controversas do

século XX. As informações genéticas contidas nos

filamentos de ADN auxiliaram nas pesquisas

patológicas (de doenças hereditárias e de outras,

como o cancro, consideradas alterações genéticas)

e imunitárias.

Para além da medicina, a ciência salvou muitas

vidas pelas investigações que estimulou no campo

alimentar. Ainda na primeira metade do século XX,

os cientistas tinham promovido a criação de famílias

de plantas mais fortes e mais produtivas. Resultado

de avanços na agronomia, nas técnicas reprodutivas

e na genética viria a iniciar-se, em 1962, a chamada

"Revolução Verde" no México, posteriormente

alargada à índia e ao Paquistão. O cultivo de

variedades de trigo, milho e arroz, de grande

rendimento e resistência às pragas, converteu-se

num auxiliar precioso para os agricultores

empobrecidos, solucionando muitas das carências

alimentares.

De facto, se alguns malefícios têm sido

associados ao progresso científico (caso da ameaça

nuclear, da poluição, do esgotamento dos recursos

naturais, da manipulação genética), o balanço final

da evolução científico-tecnológica é

acentuadamente positivo. Mais bens de consumo

foram prodigalizados, a esperança de vida

aumentou e a humanidade ficou, como nunca,

interligada por uma rede de comunicações que fez

da Terra uma aldeia global.

Foguetão Saturno V: lançamento da Apollo 11 em 1969

Watson e Francis H. Crick olham para o seu modelo de ADN,

dupla hélice, 1953

Os OGM têm desempenhado um papel importante no combate à fome no mundo. Serão eles perigosos? Disponível na Internet:

http://rpcf-projet.fr/les-ogms-danger/

Page 14: Área de Competências-Chavecqepdesantotirsodoaetp.yolasite.com/resources/NG1 EST - DR4... · a mecanização geral da indústria, os caminhos de ferro e a indústria naval movida

Página 14 de 46

Dimensões da ciência e da cultura no contexto da globalização

Primado da ciência e da inovação tecnológica

A economia globalizada, que se constrói a partir dos anos 80, estimula a investigação científica e a

inovação tecnológica que dela resulta. Rentabilizar

recursos humanos e materiais, gerir empresas,

dominar mercados, controlar a informação, melhorar a

qualidade de vida das populações, sem a qual o

consumo declinaria, tornam-se objetivos que o

capitalismo neoliberal persegue.

Govern

os e

entidades

privadas investem significativamente na ciência e na

tecnologia, tendo em conta a obtenção de melhores

desempenhos na educação, no exercício profissional e na

produção de bens e serviços. Assim incentivados, os

progressos, tão

férteis já no 3.º

quartel do século

XX aceleram-se nas últimas décadas. E todos parecem

interessar-se por eles. O mundo dos computadores, da

Internet, da realidade virtual e dos telemóveis, as questões

relativas ao ADN, ao genoma e à clonagem, à biodiversidade e

ao aquecimento global enchem as páginas dos jornais e das

revistas e abrem noticiários televisivos. Os livros de vulgarização científica, antes em número pouco

significativo, tornam-se comuns nas livrarias. Tratando-se de assuntos que afetam a vida à escala

planetária, dificilmente lhes ficamos indiferentes.

Nos domínios da eletrónica, da informática, da comunicação e das biotecnologias produziram-se as

mais marcantes conquistas técnico-científicas. De tal forma a vida da Humanidade se viu

irreversivelmente alterada que os especialistas não hesitam em afirmar que entramos na era da 3.ª re-

volução industrial.

Eletrónica, informática, revolução da comunicação

Aos progressos da eletrónica se deve uma autêntica revolução nas

indústrias da eletrónica, de automóveis e aeroespacial. A eletrónica,

não esqueçamos, constitui o suporte físico da informática que, desde os

anos 80, com a introdução do computador pessoal nas empresas e nos

lares, altera todos os domínios da vida humana: da robotização da

produção às transações comerciais, bancárias e financeiras; da gestão

económica aos serviços administrativos; da regulação dos transportes e

do trânsito aos meios de diagnóstico médico e aos lazeres.

Page 15: Área de Competências-Chavecqepdesantotirsodoaetp.yolasite.com/resources/NG1 EST - DR4... · a mecanização geral da indústria, os caminhos de ferro e a indústria naval movida

Página 15 de 46

Da eletrónica e da informática deriva a revolução da informação e da comunicação que é uma das

marcas do nosso tempo. Através das chamadas autoestradas da comunicação (retransmissores de

televisão, satélites civis, rede Internet, sistemas de orientação geográfica como o GPS, cabos de fibra

ótica) chega-nos uma profusão de informações sob a

forma de palavras, imagens e sons, que podemos ler,

ver e ouvir nos mais variados suportes: aparelhos de

rádio e televisão, vulgares telemóveis, smartphones,

computadores, tablets.

Em 2010, cerca de 2 mil milhões de pessoas, isto é,

quase 30% da população mundial, estavam ligadas à

Internet, na qual, desde 2004, florescem as redes

sociais. Nos mais diversos cantos da terra, circulam

em simultâneo as mesmas informações e saberes,

sejam os eventos políticos, as cotações bolsistas, as novidades culturais e do mundo artístico ou as facetas

da vida pessoal. O mundo em que vivemos é, com efeito, o da sociedade da informação e comunicação,

também conhecido por "aldeia global". Um mundo cada vez mais uniformizado nos gostos e padrões

culturais, com as Tecnologias da Informação e da Comunicação (TIC) a converterem-se em instrumento

privilegiado da globalização.

Adaptado de: Couto, Célia Pinto de; Antónia, Maria; Rosas, Monterroso. Um Novo tempo da História. 11.º e 12.º

anos. Porto Editora, Porto, sd.

A terceira revolução industrial

Quando falamos das revoluções industriais que marcaram o período de formação e consolidação do

capitalismo mundial, não podemos interpretar o conceito de revolução no sentido de “rutura imediata”

conforme o termo parece sugerir. Trata-se, na verdade, de processos relativamente longos e gradativos,

ou seja, que vão ocorrendo aos poucos, com o passar dos anos.

Assim, considerando que a 3.ª Revolução Industrial é a mais recente dinâmica de transformação dos

sistemas produtivos, podemos dizer que ainda a

estamos a viver atualmente. Cada nova tecnologia

descoberta e lançada no mercado é, dessa forma,

um novo capítulo dentro desse episódio histórico.

A 3.ª Revolução Industrial – também chamada

de Revolução Técnico-Científica-Informacional –

iniciou-se em meados do século XX e

correspondeu ao processo de inovações no campo

da informática e suas aplicações nas áreas da

produção e do consumo. As grandes realizações

desse período, entre outros importantes avanços,

foram até agora o desenvolvimento da

chamada química fina, a biotecnologia, a

conquista espacial, a robótica, a genética.

As atividades que mais impacto tiveram no mercado estão ligadas à produção de computadores,

softwares, microeletrónica, chips, transístores, circuitos eletrónicos, e, mais recentemente à robótica com

grande aceitação pelas diversas indústrias, telecomunicações e informática em geral. A destacar ainda a

Imagem disponível na Internet em: http://www.visaolaser.com.br/blog/cuidados_e_prevencao/

trabalha-o-dia-inteiro-no-computador-veja-4-dicas-para-proteger-os-olhos/

Page 16: Área de Competências-Chavecqepdesantotirsodoaetp.yolasite.com/resources/NG1 EST - DR4... · a mecanização geral da indústria, os caminhos de ferro e a indústria naval movida

Página 16 de 46

expansão de transmissores de rádio e televisão, telefones fixo e móvel, internet, indústria aeroespacial,

biotecnologia, etc..

A Revolução Técnico-Científica também foi responsável pela total integração da ciência, coma

tecnologia e a produção. Hoje, as descobertas científicas encontram-se, em grande parte, voltadas para o

mercado. Quando uma inovação é realizada, especula-se como aquilo poderá transformar o quotidiano

das pessoas. Quando um novo

aparelho ou tecnologia são inventados,

rapidamente passa para as prateleiras

dos locais de consumo.

Esse processo também foi

responsável pela instrumentalização

da economia financeira, mais

conhecida por Economia de Mercado,

e sua integração mundial, ligada ao

que chamamos de Globalização. Isso

aconteceu porque ela levou ao grande

desenvolvimento dos meios de

comunicação e transporte, que

alcançaram proporções jamais vistas anteriormente. As grandes distâncias e obstáculos, que antes

separavam países e regiões, não apresentam hoje os desafios de outrora.

Um exemplo disso é o que se passa na aviação em que os voos cuja trajetória ultrapassam as 12 horas

de duração (sem levar em linha de conta as escalas) são considerados de “longa duração”. Antigamente,

levavam-se dias para que uma pessoa se deslocasse de uma cidade para outra, e meses, ou até anos,

quando a distância envolvia países distantes. Atualmente, um dos voos comerciais mais longos do mundo,

que ligam a cidade de Newark (EUA) a Singapura, possuem a “longa” duração de 18 horas e meia.

Desta forma, de entres as principais consequências da III Revolução Industrial, podemos destacar:

a) os rápidos avanços e desenvolvimento nos setores de Ciência e Tecnologia;

b) a consolidação do sistema capitalista financeiro;

c) a formação e expansão das multinacionais ou empresas globais;

d) a relativa descentralização industrial (não há mais a necessidade de as indústrias estarem juntas,

apesar de isso ainda ser ainda comum);

e) a flexibilização do trabalho ou Toyotismo, com o modelo de produção just in time;

f) a terciarização da economia.

Sobre esse último ponto, é importante destacar que ele decorre do processo de substituição do

homem pela máquina. Tal ocorre, principalmente, nos setores primário e secundário da economia, isto é,

na exploração dos recursos naturais e na agropecuária, para além da produção nas fábricas e indústrias.

Dessa forma, o setor terciário (que envolve o comércio, os serviços, as administrações públicas, a

educação, a saúde, entre outros) oferece a maior parte dos empregos, que, em geral, disponibilizam

benefícios salariais menores e dificultam a capacidade de organização dos trabalhadores. Nos Estados

Unidos, por exemplo, cerca de 70% da massa de assalariados encontra-se no setor terciário.

O que se pode notar, então, é que as transformações tecnológicas não transformam somente as

indústrias e os meios de produção, mas também o próprio espaço geográfico e as relações humanas,

sejam em âmbito estrutural, sejam em âmbito cultural. Além do mais, podemos dizer que a Revolução

Técnico-Científica Informacional é, sem dúvida, o grande motor da globalização na atualidade.

In Geografia Humana. Pena, Rodolfo Alves. Terceira Revolução Industrial. Disponível na internet em: http://brasilescola.uol.com.br/geografia/terceira-revolucao-industrial.htm. (Adaptado)

Imagem disponível na Internet em: http://www.aerialphotography.co.in/industrial-robots

Page 17: Área de Competências-Chavecqepdesantotirsodoaetp.yolasite.com/resources/NG1 EST - DR4... · a mecanização geral da indústria, os caminhos de ferro e a indústria naval movida

Página 17 de 46

No limiar da 4.ª Revolução Industrial O mundo encontra-se no limiar de uma nova revolução industrial, ou melhor, ele já está, de facto,

mergulhado nela: trata-se, obviamente, da transformação radical dos processos e produtos de nossa atual

civilização industrial por meio da aplicação do infinitamente pequeno aos mais diferentes equipamentos e

processos que usamos no quotidiano. Esta revolução é bem mais importante, e mais desafiadora, do que

aquelas que presidiram ao domínio do homem sobre as forças da natureza nas três revoluções anteriores

ou etapas precedentes de progressos materiais e tecnológicos da nossa civilização industrial.

Com efeito, a primeira revolução industrial, iniciada na Grã-Bretanha há pouco mais de dois séculos,

assistiu à transformação da energia em força mecânica, sob a forma de caldeiras e máquinas a vapor, o

que se traduziu, entre outros avanços materiais, num grande desenvolvimento das indústrias

manufatureiras (com destaque para o setor têxtil) e dos transportes aquáticos e ferroviários. Ao mesmo

tempo, começou a funcionar o primeiro instrumento verdadeiramente universal de comunicação quase

instantânea, o telégrafo (ainda funcionando à base de fios e de cabos submarinos), que representou uma

espécie de internet da era vitoriana.

Já na segunda revolução industrial, um século depois, o destaque passou para a eletricidade e a

química, resultando em novos tipos de motores (elétricos e de explosão), em novos materiais e processos

inéditos de fabricação, paralelamente ao aparecimento das grandes empresas (algumas vezes organizadas

em cartéis), do telégrafo sem fio e, um pouco mais tarde, do rádio, que permitiu a difusão instantânea da

informação.

A terceira revolução industrial, nossa contemporânea por sua vez, mobilizou circuitos eletrónicos e, de

imediato, os circuitos integrados, os famosos microchips, que transformaram irremediavelmente as

formas de comunicação e de informação, com a explosão da internet e do comércio eletrónico e voltada

crescentemente para a área do lazer.

A quarta revolução industrial, na qual estamos a entrar, mobiliza, fundamentalmente, as ciências da

vida, sob a forma da biotecnologia, bem como uma gama multidisciplinar de ciências exatas e cognitivas

que respondem pelo nome de nanociência. Esta, por sua vez, confunde-se praticamente com as suas

materializações práticas, sob a forma da nanotecnologia. Desde há várias décadas, senão há mais de um

século, os cientistas tentam domar o infinitamente pequeno, plenamente conscientes de que é ao nível

das moléculas, das partículas e dos átomos que se joga parte importante do jogo da vida e da própria

composição e funcionamento do infinitamente grande, isto é, do universo. Esta busca resultou em

enormes avanços científicos e materiais para a humanidade, assim como no desencadear de forças que

chegaram a ameaçar a própria

sobrevivência da civilização

sobre o planeta, tanto sob a

forma do holocausto nuclear

como na perspetiva de uma

guerra biológica ou química.

Agora, quando os novos

equilíbrios estratégicos e a

diminuição das tensões

permitidas pela relativa

convergência de valores e de

sistemas económico-sociais

atribuem um sentido positivo

às pesquisas científicas nas áreas da energia atómica, dos novos materiais, dos elementos químicos e da

Imagem disponível na Internet em: http://tek.sapo.pt/expert/artigo/cientistas_reunem_se_no_porto_para_falar_de_nan

otecnologia-43484cce.html

Page 18: Área de Competências-Chavecqepdesantotirsodoaetp.yolasite.com/resources/NG1 EST - DR4... · a mecanização geral da indústria, os caminhos de ferro e a indústria naval movida

Página 18 de 46

biologia, as possibilidades abertas pela inovação tecnológica e pela cooperação internacional nessas áreas

de fronteira do conhecimento humano abrem um potencial imenso de realizações, para a humanidade

em geral, e para alguns países em particular. (...)

A gama de atividades classificadas como nanotecnologia cobrem áreas de pesquisa tradicionais como a

química e a física, chegando às atividades que envolvem ciências dos materiais, biotecnologia, etc., o que

demonstra o caráter altamente abrangente da nanociência e da nanotecnologia (N&N). De fato, uma das

particularidades da N&N é que ela requer competências científicas com os mais variados horizontes. A

N&N sendo uma área altamente interdisciplinar não permite que se tenha uma ideia exata dos aspetos

relacionados de cada uma das disciplinas implicadas. Como todas as áreas, ela está baseada em noções

fundamentais conhecidas dos cientistas e engenheiros. Aliás, a separação entre nanociência e

nanotecnologia não tem nenhum significado na prática: é exatamente por esta razão que geralmente o

termo nanotecnologia acaba por substituir o de nanociência.

O crescimento previsto pelos especialistas para os mercados de produtos nanotecnológicos é muito

superior ao crescimento de outros mercados dinâmicos, como os de computadores e telemóveis. Estima-

se que as aplicações de nanotecnologia que estarão a chegar aos mercados nos próximos anos são

evolucionárias, mais do que revolucionárias, centradas em áreas como a determinação de propriedades

de materiais, produção química, manufatura de precisão e computação. Não existe, no momento,

nenhuma possibilidade razoavelmente definida para o uso de nanomáquinas capazes de fabricar

materiais montando-os átomo por átomo. Apesar delas ocuparem espaço na imaginação de escritores,

elas não estão nos pensamentos dos estrategas das empresas inovadoras a não ser nas formas de síntese

química/bioquímica e auto-organização. No entanto, é muito provável o aparecimento – praticamente

inevitável - de aplicações revolucionárias da nanotecnologia, a médio e longo prazo.

In Revista Académica. Roberto de Almeida, Paulo. (2005). O Brasil e a nanotecnologia: rumo à quarta revolução industrial.

Disponível na Internet em: ttp://www.espacoacademico.com.br/052/52almeida.htm (Adaptado)

A Quarta Revolução Industrial chegou, e nós não passaremos imunes

Em janeiro de 2016, durante o Fórum Mundial de Davos, o chairman Klaus Schwab disse que uma

mudança estrutural está em desenvolvimento na economia mundial, no que seria o início da Quarta

Revolução Industrial. Segundo ele, esta revolução aprofundaria

elementos da Terceira Revolução, a da computação e faria uma

“fusão de tecnologias, fazendo separar as linhas divisórias entre os

campos das físicas, do digital e das biológicas”.

Na opinião de Schwab, esta nova revolução, unindo mudanças

socioeconómicas e demográficas, terá impactos nos modelos e nas

formas de fazer negócios e no mercado de trabalho. Afetará

exponencialmente todos os setores da economia e todas as regiões

do mundo. Mas não do mesmo modo. Haverá ganhadores e

perdedores. “As mudanças são tão profundas que, da perspetiva da

história humana, nunca houve um tempo de tamanhas promessas e

de tão grandes perigos”. O mercado de trabalho será afetado

dramaticamente, inclusive os trabalhos intelectuais mais repetitivos

que serão substituídos pela robotização. As mudanças são reais. Já Imagem disponível na Internet em:

http://computerworld.com.br/quarta-revolucao-industrial-chegou-e-voce-nao-

passara-imune-ela

Page 19: Área de Competências-Chavecqepdesantotirsodoaetp.yolasite.com/resources/NG1 EST - DR4... · a mecanização geral da indústria, os caminhos de ferro e a indústria naval movida

Página 19 de 46

estão aí.

Os impactos no mercado de trabalho já têm sido debatidos, com algumas previsões apocalípticas

estimando-se que em 10 a 15 anos cerca de metade das vagas de funções como operadores de

telemarketing, corretores, carteiros, jornalistas, desenvolvedores de software e outras terão

desaparecido, pelo uso de softwares e de robótica prenhes de algoritmos inteligentes. As vendas de

robôs, segundo a International Federation of Robotics têm crescido continuamente. Em 2015 foram

vendidos, no mundo todo, 255 mil, e estima-se que em 2018 serão 400 mil.

Mas a grande ameaça aos empregos não

está mais na indústria. Os software

inteligentes estão a chegar ao setor de

serviços. Hoje são capazes de conduzir

veículos, atender clientes em serviços de

telemarketing, preencher formulários de

Imposto, etc. Por exemplo, alguns bancos

como o DBS, de Singapura, o Royal Bank of

Canada e, o Bradesco no Brasil começam a

experimentar o Watson da IBM na função de

atendimento aos clientes. Nos EUA, os gastos

com call center somam 112 bilhões de

dólares e estima-se que cerca de 270 bilhões

de chamadas de clientes não sejam atendidas

adequadamente. Uma das causas principais são os problemas de acesso às informações e o cruzamento

de inúmeros dados em tempo real, tarefa impossível para um ser humano apoiado por sistemas

tradicionais, que disponibilizam scripts pré-programados. A ideia é colocar sistemas como o Watson,

capazes de cruzar milhões de informações diferentes, como catálogos de produtos, manuais de utilização,

termos e condições contratuais, emails e chamadas anteriores dos clientes com problema similares,

fóruns de debate sobe o tema, histórico de atendimento do call center, etc., para eliminar ou diminuir

sensivelmente a taxa de solicitações não atendidas.

Ainda são os primeiros passos, mas com a evolução exponencial da tecnologia, estes passos acelerarão

muito rapidamente. Embora o discurso dos fornecedores de tecnologia e das empresas envolvidas seja

sempre o de que o produto vai melhorar o trabalho das pessoas e não substituí-las, é inevitável que por

cada habilidade aprendida pelos computadores, milhões de empregos tenderão a desaparecer. A

tecnologia, ao longo do tempo, vai reduzir a procura de postos de trabalho que exigem menos

habilidades, como acontece como os operadores de telemarketing. Foi assim nas linhas de produção

robotizadas, nas funções de datilografia, nos controladores de ascensores e hoje, na redução significativa

das vagas de secretariado.

Mas não é só. Na Suíça, drones estão a ser testados para entregar documentos em lugarejos distantes,

substituindo os carteiros humanos nestas atividades. A Amazon também está experimentar drones para

entregas rápidas nos EUA. Um artigo na Fortune “5 white-collar jobs robots already have taken” aponta

algumas outras experiências. O editor da Robot Report diz que empresas como FedEx estudam a

possibilidade de, no futuro, dispor de um centro de pilotagem com poucos pilotos voando a sua imensa

frota de aviões cargueiros. Estes aviões operarão como drones, uma vez que não deverão levar

passageiros. Cita também o CEO da empresa de tecnologia russa Mail.Ru explicando que está a investir

numa startup que usará robôs para ensino de matemática nas escolas. O risco potencial é bem real.

Imagem disponível na Internet em: http://tatamarquesnews.com.br/noticias/bem-vindos-a-quarta-

revolucao-industrial/

Page 20: Área de Competências-Chavecqepdesantotirsodoaetp.yolasite.com/resources/NG1 EST - DR4... · a mecanização geral da indústria, os caminhos de ferro e a indústria naval movida

Página 20 de 46

À medida que os avanços nas tecnologias de Machine Learning e robótica avançarem, será inevitável a

substituição de funções ocupadas hoje por humanos. Ocupações que envolvam tarefas e procedimento

bem definidos poderão ser substituídas por algoritmos sofisticados. Como o custo da computação a cair

consistentemente ano após ano, torna-se atrativo economicamente a substituição de pessoas por

máquinas. O processo é acelerado pela

reindustrialização nos países ricos, como os EUA,

que após perderem as suas fábricas para países de

mão de obra barata como a China, começam a

trazê-las de volta, mas de forma totalmente

automatizadas. Os empregos da indústria

americana, perdidos pela saída das fábricas, não

estão a voltar com elas. Quem está a ocupar as

funções são os robôs. Este processo também está a

ocorrer na China e já existem diversas fábricas

totalmente automatizadas e cada uma delas

emprega pelo menos dez vezes menos pessoas

que as fábricas tradicionais.

Estima-se que cerca de 47% dos empregos

atuais, nos EUA, estão em risco. Entre outras,

estarão ameaçadas as funções de motoristas de veículos como camioes e táxis, estagiários de advocacia,

jornalistas, desenvolvedores de software, administradores de sistemas de computação, etc. Esta é uma

diferença significativa que a chamada Quarta Revolução Industrial está a provocar. Os “colarinhos azuis”

ou operários já estão diminuindo sensivelmente, mas os “colarinhos brancos”, empregos nas tarefas

administrativas, também estão a correr riscos de desparecimento. Alguns artigos mostram que os

sistemas cognitivos baseados em algoritmos inteligentes podem atuar em conjunto (às vezes

substituindo) em várias ocupações antes exclusivas das pessoas. Na medicina, por exemplo, vale a pena

ler o artigo “The Robot Will See You Now, que embora de 2013, discute ao assunto com clareza.

Os advogados não ficarão de fora. O artigo publicado no New York Times, “Armies of Expensive

Lawyers, Replaced by Cheaper Software" estima que serão necessários bem menos advogados, pois

muitas de suas funções, que são fazer buscas em documentos ou analisar casos similares poderão ser

feitas por algoritmos. No jornalismo temos alguns exemplos de reportagens financeiras feitas

automaticamente por robôs, como as descritas

no artigo “AP´s “robot journalists” are writing

their own stories now".

E em Tecnologias de Informação? Muitas das

funções desempenhadas por desenvolvedores de

código poderão ser automatizadas. Algumas

experiências já têm sido feitas, como o conceito

de Programming by Optimisation e de depuração

automática de código.

A Quarta Revolução Industrial afetará de

forma dramática o mercado de trabalho. Os

primeiros estudos de seu impacto mostram que

a classe média será a principal prejudicada, pois

ocupam trabalhos em escritórios e são autores

de trabalhos intelectuais, como advogados e desenvolvedores de software, que tenderão a desaparecer

Imagem disponível na Internet em: http://computerworld.com.br/quarta-revolucao-industrial-

chegou-e-voce-nao-passara-imune-ela

Drone transportando encomendas para a HDL, Alemanha. Imagem disponível na Internet em:

http://www.wired.co.uk/news/archive/2014-09/24/german-dhl-drone-pharmacy

Page 21: Área de Competências-Chavecqepdesantotirsodoaetp.yolasite.com/resources/NG1 EST - DR4... · a mecanização geral da indústria, os caminhos de ferro e a indústria naval movida

Página 21 de 46

ou a ver o número de vagas diminuir drasticamente. Claro, novos empregos serão criados, mas exigirão

conhecimentos muito especializados e altos níveis de educação. Novas carreiras e funções, que ainda não

conhecemos, serão criadas, mas a dúvida é se serão em número suficiente para recompor as vagas que

desaparecerão.

Mas é inevitável que a Quarta Revolução Industrial chegue aqui também. Vai exigir um novo currículo

educacional, que abandone a memorização de factos e fórmulas para dar mais atenção à criatividade e à

comunicação, coisas que as universidades, na sua grande maioria, não estimulam. (...)

Enfim, é uma discussão que está apenas a começar. Mas a realidade virá rapidamente e ignorar a

transformação que está ocorrendo no mundo não vai impedi-la de acontecer e chegar aqui. As máquinas

são nossas ferramentas, mas pode chegar o momento em que não seremos mais capazes de controlá-las.

Portanto, precisamos decidir como queremos viver com elas. Uma discussão que não pode ser adiada.

In ComputerWorld. Taurion, Cezar. A Quarta Revolução Industrial chegou, e você não passará imune a ela (2016). Disponível na Internet em: http://computerworld.com.br/quarta-revolucao-industrial-chegou-e-voce-nao-passara-

imune-ela (Adaptado)

A nova revolução gerou mais perguntas do que respostas em Davos

É certo que os avanços na robótica, inteligência artificial e tecnologias como a impressão 3D vão

mudar o mundo do trabalho. Mas há muitas incertezas sobre a quarta revolução industrial.

A Uber – a aplicação que permite chamar um carro com motorista através de um telemóvel – é um

exemplo conhecido de um novo paradigma da economia. Pessoas com tempo e recursos livres (neste

caso, um carro que cumpra determinados critérios) podem ganhar dinheiro através de um sistema que

faz a conjugação de procura e oferta. Para algumas tarefas, o funcionamento da Uber também substitui

humanos por sistemas informáticos. Chamar um táxi de forma convencional implica fazer um telefonema

e falar com uma pessoa, que depois faz a ligação entre o cliente e o taxista (muito embora este sector

também tenha começado a disponibilizar

aplicações para telemóveis que cortam

este intermediário humano).

A startup americana foi uma empresa

que veio mais do que uma vez à conversa

no Fórum Económico Mundial de Davos,

um evento que reúne anualmente na Suíça

pensadores, empresários, gestores e

políticos de topo. O grande tema da edição

deste ano, que terminou no sábado, foi a

quarta revolução industrial, que chega

depois da máquina a vapor, da

electricidade e da produção em massa, e

do advento da electrónica e dos

computadores.

Desta nova revolução fazem parte os avanços na inteligência artificial, a criação de robôs capazes de

executar cada vez mais tarefas e ainda tecnologias como a impressão 3D, que está a mudar o

funcionamento de muitas fábricas e a facilitar a produção de objectos à medida (apesar de longe da

promessa de ser uma revolução também em ambiente doméstico). Para além disto, há também o cenário

de um mundo inteiramente conectado – Internet das Coisas tem sido o jargão usado –, onde

electrodomésticos, carros, portas e telemóveis comunicam entre si e geram quantidades avassaladoras de

Líderes mundiais no Forum de Davos. 2016. Imagem disponível na Internet em: http://www.publico.pt/tecnologia/noticia/a-nova-revolucao-gerou-mais-perguntas-do-que-respostas-em-davos-

1721206

Page 22: Área de Competências-Chavecqepdesantotirsodoaetp.yolasite.com/resources/NG1 EST - DR4... · a mecanização geral da indústria, os caminhos de ferro e a indústria naval movida

Página 22 de 46

dados, que podem ser analisados para incentivar o consumo ou para melhorar os cuidados de saúde. É

uma revolução que veio colocar várias perguntas (mais do que as respostas) aos participantes do fórum. A

questão do trabalho foi muito frequente: o

que vai acontecer à medida que mais robôs e

algoritmos substituírem mais humanos?

A Uber tem causado a ira de empresas de

táxis em vários países, Portugal incluído. Mas,

por ora, os motoristas da Uber ainda são

pessoas e a empresa argumenta que até cria

empregos (mas sem o vínculo de um

funcionário). Num futuro não muito distante,

os motoristas da Uber podem bem vir a ser

computadores. A empresa tem estado a

trabalhar em parcerias para explorar a

tecnologia de carros capazes de andarem

sozinhos. Também o Google e muitos outros

fabricantes de telemóveis têm em curso esforços para colocar na estrada (e dentro de poucos anos)

automóveis autónomos. Já existem, são capazes de circular, mas ainda não são bons o suficiente para

serem comercializados em massa e andarem sem uma pessoa pronta a intervir - será uma questão de

tempo até a tecnologia amadurecer. E, quando esse tempo chegar, os motoristas de táxi e os da Uber,

hoje rivais, estarão no mesmo barco: obsoletos e sem trabalho.

“Com o advento das novas tecnologias, criámos sempre novos trabalhos”, comentou o cientista Illah

Nourbakhsh, especialista em interacção entre humanos e robôs na Universidade de Carnegie Mellon, que

tem uma parceria com a Uber para desenvolver carros autónomos. Este argumento tecno-optimista foi

usado por outros oradores. “Uma coisa normalmente subvalorizada é que a tecnologia não cria apenas

trabalhos na tecnologia, mas trabalhos no sector não tecnológico”, disse a directora de operações do

Facebook, Sheryl Sandberg (que falava num outro debate). O que Nourbakhsh disse a seguir também é

um exemplo dos desafios de que muitos participantes falaram, das incertezas associadas às previsões e

de um sentimento de esperança presente em várias das intervenções: “Não sei quais serão esses

empregos, mas estou confiante em que os vamos encontrar”.

A substituição de trabalho humano acontece há muito e vai desde os casos das linhas de montagem

progressivamente robotizadas até às caixas registadoras

no supermercado onde são os clientes a passar os

produtos. A tecnologia trouxe mais eficiência e uma

maior produção de riqueza. Mas também,

argumentaram vários oradores, desigualdades, tanto no

que diz respeito ao fosso digital que separa o mundo

informatizado daquele onde o uso da Internet e de

dispositivos informáticos é escasso, como à distribuição

de riqueza.

“É verdade que a tecnologia está a tornar o bolo

maior e que a criação de riqueza é maior, mas não há

nenhuma lei económica que diga que todos vão

beneficiar proporcionalmente”, observou Erik

Brynjolfsson, especialista em economia digital do MIT. O académico afirmou que as revoluções anteriores,

embora tenham obrigado a adaptações que deixaram pessoas para trás, foram “uma maré que levantou a

maioria dos barcos”. Na revolução industrial anterior, “as máquinas ultrapassaram o trabalho braçal, mas

o resto da sociedade adaptou-se: inventámos educação pública para as massas, mudámos o sistema de

Imagem disponível na Internet em: http://www.publico.pt/tecnologia/noticia/a-nova-revolucao-gerou-

mais-perguntas-do-que-respostas-em-davos-1721206

Imagem disponível na Internet em: http://belettimodelismo.com.br/category/aeromode

lismo/drones/

Page 23: Área de Competências-Chavecqepdesantotirsodoaetp.yolasite.com/resources/NG1 EST - DR4... · a mecanização geral da indústria, os caminhos de ferro e a indústria naval movida

Página 23 de 46

segurança social”, lembrou, antes de reconhecer que “foi duro para muitas pessoas, nem todas se

adaptaram imediatamente”.

Porém, a realidade é hoje diferente.

Brynjolfsson referiu que, nas últimas duas

décadas, se estão a gerar grandes assimetrias

com a quantidade de riqueza produzida: “Há

um crescimento contínuo de produtividade, o

Produto Interno Bruto está em níveis recorde

na maioria dos países, há mais milionários e

multimilionários do que alguma vez vimos.

Mas o rendimento mediano (nos EUA) é

agora mais baixo do que no final da década

de 1990”.

Uma possível estratégia para lidar com as

pessoas cujos trabalhos sejam substituídos por máquinas veio da boca do presidente executivo da

Microsoft, Satya Nadella. “O desafio de substituição é real. A natureza do trabalho vai mudar

fundamentalmente”, previu o executivo, que gere uma empresa com 119 mil funcionários e cujos

produtos são responsáveis por uma incontável miríade de postos de trabalho indirectos. “Sinto que o

enfâse devem ser as competências, em vez de nos preocuparmos demasiado com os trabalhos que se vão

perder. Vamos ter de, como sociedade, gastar o dinheiro para educar as pessoas. Não apenas crianças,

mas também as pessoas substituídas a meio da carreira.”

Nadella defendeu que a explosão das tecnologias de informação e da inteligência artificial está a gerar

riqueza sem paralelo. Mas alinhou com outros oradores ao mostrar-se preocupado com o problema da

distribuição. “Todos precisamos de nos esforçar para criar um dividendo digital. Vai haver excedente

económico criado por causa desta quarta revolução industrial. A questão é saber o quão bem distribuído

vai ser.”

Os países emergentes, cuja economia depende sobretudo de mão-de-obra fabril e barata, estão entre

os que mais sentirão o abalo da automação nas linhas de montagem e noutros trabalhos que não exigem

qualificações elevadas. No fórum, houve quem lembrasse que a Foxconn (uma fabricante taiwanesa que

trabalha para a Apple e tem fábricas na China e outros países do sudeste asiático) tem actualmente dez

mil robôs a fazerem trabalho que antes era desempenhado por pessoas e que já anunciou planos para um

milhão de máquinas dentro de três anos (a empresa, no entanto, tem estado descontente com o

desempenho dos robôs e tem contratado mais para fazer a produção acompanhar as vendas de iPhones).

O milionário empresário indiano Anand

Mahindra, que fabrica tractores e falou no

mesmo painel que os executivos da Microsoft e

do Facebook, afirmou que a robotização acabará

por impedir a Índia de replicar o modelo chinês.

Mas disse ver oportunidades nas tecnologias da

quarta revolução. “Na Índia, 65% da população

ainda está em aldeias. De repente, é possível pôr

lá impressoras 3D. É possível fazer com que

sejam todos mecânicos independentes. É

possível ligá-los a clientes, cortar

intermediários e ter aldeias auto-suficientes.

Vai haver uma explosão de produtividade”.

Pereira João, Pedro. In Jornal PÚBLICO. Publicado em 24/01/2016

Carro sem condutor da Google 2016. Imagem disponível na Internet em:

https://www.google.pt/search?q=carro+google+sem+condutor&rlz=1C1AVNA_enPT609PT609&espv=2&biw=1309&bih=705&tbm=is

ch&imgil=WXyRAV-GI1-1pM%253A%253BTMmt0oY0j-_pwM%253Bhttp%25253A%25252F%25252Fhypescience.com%25

252Fcarro-google%25252F&source=iu&pf=m&fir=WXyRAV-GI1-1pM%253A%252CTMmt0oY0j-

_pwM%252C_&usg=__mAxlX7txppTd-4dlDhVv8ErVAVg%3D&ved=0ahUKEwjtxYSJkI_LAhVDNxQKHVp6D

4MQyjcIJg&ei=0fbMVq2ZCsPuUNr0vZgI#imgrc=WXyRAV-GI1-1pM%3A

Carro sem condutor da Google 2016. Imagem disponível na Internet em:

https://www.google.pt/url?sa=i&rct=j&q=&esrc=s&source=images&cd=&ved=0ahUKEwjZ0YW6lJDLAhUHPxoKHQa3BvcQjRwIBw&url=http%3A%2F%2Fabcnews.go.com%2FTechnology%2Fm

obile-world-congress-phones-virtual-reality-mark-zuckerbergs%2Fstory%3Fid%3D37110943&bvm=bv.115277099,d.d2s&psig=AFQjCNHyqYHnDBh_2wV107omL4lFUnvnmA&ust=

1456395039016462

Page 24: Área de Competências-Chavecqepdesantotirsodoaetp.yolasite.com/resources/NG1 EST - DR4... · a mecanização geral da indústria, os caminhos de ferro e a indústria naval movida

Página 24 de 46

As linguagens da hipermedia

Propiciada, entre outros fatores, pelos media digitais, a revolução tecnológica que estamos a

atravessar é psíquica, cultural e socialmente muito mais profunda do que a invenção do alfabeto, do

que foi também a revolução provocada pela invenção de Gutenberg e também do que foi a revolução

da cultura de massas, com os seus meios técnicos, mecânicos e eletrónicos de produção e transmissão

de mensagens. Muitos especialistas da cibercultura não têm deixado de alertar para o facto de que a

revolução teleinformática, também

chamada de revolução digital, está

a atingir proporções antropológicas

importantes, chegando a compará-

la à Revolução Neolítica.

Para se ter a ideia das

consequências trazidas por esta

revolução, basta dizer que a nova

ordem económica, social e cultural

mundializada não seria possível sem

ela. Na base desta revolução está o

processo digital. Via digitalização,

quaisquer fontes de informação

podem ser homogeneizadas em

cadeias de 0 e 1. Essas cadeias são

chamadas bits. Um bit não tem cor, tamanho ou peso e é capaz de viajar à velocidade da luz. É o menor

elemento atómico do DNA da informação. É um estado: ligado ou desligado. Os bits sempre foram a

partícula subjacente à computação digital, mas, ao longo das últimas décadas, o vocabulário binário

expandiu-se imenso, para incluir bem mais do que números ou mesmo letras. Diferentes tipos de

informação, como áudio e vídeo, passaram a ser digitalizados, reduzindo-se também a uns e zeros.

Além da universalização da linguagem, a digitalização possuí pelo menos dois outros méritos: por

um lado, a compressão dos dados, fenómeno suplementar que permite, de maneira cada vez menos

onerosa, armazenar e fazer circular grandes quantidades de informação; por outro lado, a

independência da informação digital em relação ao meio de transporte. A qualidade permanece

perfeita, seja ela transmitida via fio de telefone, onda de rádio, satélite de televisão, cabo, etc. Tendo a

sua base na digitalização, os fatores de aceleração da co-evolução entre homem e as máquinas usadas no

tratamento da informação têm sido a hibridização das tecnologias e a convergência dos media. Vários

setores tecnológicos e vários media, anteriormente separados, convergem para um único aparelho.

Com a digitalização da informação, um fax, uma impressora a laser, uma fotocopiadora, uma

secretária eletrónica, um scaner, um computado podem convergir para uma única máquina. O sistema de

leitura do scaner é utilizado pelo fax; o sistema de impressão a laser pela impressora ou fotocopiadora; o

modem pelo telefone. Os prognósticos da convergência não param aí. Através do acasalamento da

informática com a televisão e as telecomunicações, deverão aparecer sistemas híbridos em co-evolução

acelerada: microcomputador portátil do tipo note-pades integrando fax, televisão, telemóvel, videofonia,

telefoneinteligente com écran, ou aquilo a que alguém chamou “compuvisor”: computador televisor

ligado a telefone, a estação de viagem do futuro nas superautoestradas eletrónicas do ciberespaço.

Um dos aspetos evolutivos mais significativos dessa conjuntura revolucionária está no aparecimento

e rápido desenvolvimento de uma nova linguagem: a hipermedia. Antes da era digital, os suportes

estavam separados por serem incompatíveis: o desenho, a pintura e a gravura nos ecrãs, o texto e as

Imagem disponível na Internet em: http://jornalggn.com.br/fora-pauta/o-codigo-binario-do-jornalismo-ordinario-de-marcos-carvalho

Page 25: Área de Competências-Chavecqepdesantotirsodoaetp.yolasite.com/resources/NG1 EST - DR4... · a mecanização geral da indústria, os caminhos de ferro e a indústria naval movida

Página 25 de 46

imagens gráficas no papel, a fotografia e o filme na película química, o som e o vídeo na fita magnética.

Depois de passar pela digitalização, todos esses campos tradicionais de produção de linguagem e

processos de comunicação humanos juntaram-se na constituição da hipermedia. Para ela convergem

texto escrito (livros, periódicos científicos, jornais, revistas), o audiovisual (televisão, vídeo, cinema) e a

informática (computadores e programas informáticos). Aliada às telecomunicações (telefone, satélites,

cabo) das redes eletrónicas, a tecnologia da

informação digital conduziu à disseminação

da internet que resultou da associação de

dois conceitos, o dos servidores de

informação com o de hipertexto. O utilizador

pode navegar de um texto do servidor para

qualquer outro, bastando para isso seguir

alguns protocolos muito simples. O universo

virtual das redes alastrou tão

exponencialmente por todo o planeta que

fez emergir uma nova forma de cultura, a

cultura do ciberespaço ou cibercultura. Ora,

uma das mais importantes facetas da

cibercultura é a linguagem hipermedia. (...)

Podemos então definir hipermedia com “a

integração, sem rutura, de dados, textos, imagens, de todas as espécies e sons dentro de ambiente

digital”.

A primeira linguagem a entrar triunfalmente neste novo cenário, foi a verbal, a escrita. Na verdade, no

século XX, tido como o século da proliferação das imagens, século da película foto-fílmica e dos ecrãs

eletrónicos, a linguagem verbal escrita estava relegada para segundo plano, por ser o menos espetacular

dos meios de impressão. A sua importância, que teve durante alguns séculos, parecia para sempre

perdida. O hipertexto digital trouxe-a de volta sob a forma inédita de veículos não lineares entre

fragmentos textuais associados, interligados por conexões conceituais (campos), indicativos (chaves) ou

por metáforas visuais (ícones) que remetem, ao clicar no botão, de um percurso de leitura para outro, em

qualquer ponto de informação ou para diversas mensagens, em cascatas simultâneas e interconectadas.

Essa forma que estava apenas a ser ensaiada de modo tímido e rudimentar nas grandes enciclopédias

ainda presas à pesada materialidade dos austeros volumes em papel, transmuta-se hoje em hipermedia,

na qual a lógica do hipertexto se amplia à dimensão visual e coreográfica da linguagem.

Se nas enciclopédias e mesmo nos livros impressos, só com muito esforço a imagem se podia

desprender da função subsidiária e ilustradora das ideias, na hipermedia, ela pode estar presente

plenamente, agora ainda mais poderosamente devido às possibilidades de pela animação: movimento

resultante da computação na morfogénese das imagens que gesticulam. Na hipermedia, fotos, desenhos,

gráficos, sinais de trânsito interno, formas em multi-luz-cor, texturas, sonoras e luzes estão lá para

orquestrar os sentidos. Palavra, texto, imagens fixas e animadas podem completar-se e intercambiar

funções na trama de um tecido comum. Como isso não bastasse, a hipermedia pode incorporar sons,

vozes, música, ruídos e vídeos. Longe de ser apenas uma nova técnica, um novo meio para transmissão

de conteúdos preexistentes, a hipermedia é, na realidade, uma nova linguagem cada vez mais presente

no quotidiano dos indivíduos da sociedade e das suas organizações.

In Santaella, Lúcia. Matrizes da Linguagem e Pensamento: Sonora, Visual, Verbal. S. Paulo,2005. Editora Iluminura, Lda. [consultado 2015-04-19 22:35:39]. Disponível na Internet:https://books.google.pt/books?id=f-

Imagem disponível na Internet em: https://hilocultura.wordpress.com/2013/04/11/de-la-multimedia-a-

la-hipermedia-paloma-diaz/

Page 26: Área de Competências-Chavecqepdesantotirsodoaetp.yolasite.com/resources/NG1 EST - DR4... · a mecanização geral da indústria, os caminhos de ferro e a indústria naval movida

Página 26 de 46

A evolução tecnológica da escrita

A escrita surge com o registo da imagem evoluindo para os símbolos. A palavra escrita não é a coisa;

ela apresenta à memória o objeto ausente.

A escrita evoluiu em diversos suportes, foi esculpida em argila, desenhada no papiro e no pergaminho,

inscrita no papel, digitalizada no

mundo virtual. Em cada suporte

foi objeto de tecnologias

diferentes.

A escrita cuneiforme dos

sumérios consistia em figuras

gravadas com estiletes sobre

tábuas. Os hieróglifos no Egito,

com mais de 6.900 sinais, eram

usados nos monumentos, nas

paredes de templos e túmulos.

No Egito usava-se o papiro,

planta com talos processados,

transformados em ‘folhas’ para o

registo de textos e contas do

império numa escrita hieroglífica

simplificada, a hierática. O papiro era exportado, e a preparação, segredo de estado. O papiro preso em

tubos de madeira formava pesados rolos e era preciso mais de uma pessoa para manipulá-los.

A escrita alfabética, nos últimos séculos do segundo milénio a.C., era composta de símbolos escritos da

direita para a esquerda. O alfabeto fenício, usado até hoje, adotado pelos gregos, era composto por 24

letras. Os alfabetos europeus tiveram origem no alfabeto fenício, e o alfabeto latino foi derivado do

grego.

O pergaminho, pele de animal preparada para a escrita, também foi muito usado na Idade Média. Os

códices ou codex, precursores do livro, eram feitos pela junção de vários pergaminhos onde os monges

escreviam. O papel, como usamos hoje, foi o sucessor do pergaminho.

Ossos molhados, pena de aves, em geral de ganso, foram usados para escrever nos papiros e

pergaminhos. A pena animal foi substituída pela de metal, e somente em 1884 foi inventada a caneta-

tinteiro e, em 1937, a caneta esferográfica.

Segundo o historiador Michael Adler, a primeira máquina de escrever documentada foi fabricada por

Pellegrino Turri por volta de 1808, para que o inventor pudesse comunicar com uma amiga cega. Mas,

muitos países reivindicam este invento.

A imprensa, técnica baseada nos tipos móveis e na prensa, com tinta à base de óleo, tornou possível a

multiplicação da escrita com Gutenberg. É uma invenção revolucionária, talvez a mais importante da era

moderna, reproduzindo mecanicamente os textos. A socialização da escrita permitiu o acesso à

informação por livros, jornais e revistas.

Depois da imprensa, a nova revolução para a escrita e a informação foi o computador. O texto sai da

página para a tela, do material para o virtual. Com o computador prevê-se a morte do livro, dos jornais,

das revistas. O códice, o livro, o texto virtual são suportes para a comunicação e o armazenamento de

informações que acompanham o desenvolvimento do ser humano.

Imagem disponível na Internet em: http://aevolucaodaescrita.blogspot.pt/2013/02/avanco-da-escrita.html

Page 27: Área de Competências-Chavecqepdesantotirsodoaetp.yolasite.com/resources/NG1 EST - DR4... · a mecanização geral da indústria, os caminhos de ferro e a indústria naval movida

Página 27 de 46

Novas tecnologias prometem revolucionar ainda mais a escrita. O teclado da máquina de escrever,

incorporado no computador, possivelmente

será alterado. Os equipamentos digitais

cada vez menores, como telemóveis e

iphones, permitem o envio de mensagens

escritas, e estão em curso estudos para

alterar o teclado, tornando-o mais

ergonómico, permitindo movimentos

rápidos dos dedos para a composição das

palavras com as letras dispostas na diagonal

em uma “touch screen”. Já se fala, ainda, em

substituir os teclados por comandos de voz.

Em relação à impressão, houve uma

revolução para grandes tiragens

substituindo a prensa de Gutemberg, e a

impressora doméstica substituiu a gráfica na

reprodução dos textos. Já é possível reproduzir objetos em três dimensões em impressoras domésticas.

As informações escritas acessíveis a algumas classes sociais, aos escribas no mundo antigo, aos

monges copistas na Idade Média, foram democratizadas com a imprensa e a rede de computadores, o

que possibilitou a intervenção dos cidadãos, transformando-os de consumidores em produtores de

informações. O homem cria a técnica, e a técnica faz o homem reinventar-se.

As imagens também se transformaram através dos tempos. Dos desenhos inscritos em rochas

passaram aos papiros, pergaminhos e papéis e evoluíram com registo pela luz na fotografia,

transformando-se em movimento no cinema, e chegaram em pixels no ecrã da televisão e na forma digital

no computador.

Palange, Ivete. Texto, hipertexto, hipermídia: uma metamorfose ambulante. Disponível ma Internet em

https://resumosinmetro.wordpress.com/2012/04/23/di-4563-texto-hipertexto-hipermidia-uma-metamorfose-ambulante/

A evolução histórica do hipertexto

No início dos tempos da comunicação, havia uma pluralidade de sociedades, de cultura oral, vivendo

fechadas em si. Cada tribo tinha sua própria linguagem e partilhava um contexto único. O conhecimento,

limitado às lembranças dos mais velhos, era repassado, de geração a geração, apenas aos membros

daquela comunidade.

Com a escrita e mais tarde com a imprensa, abriu-se uma nova perspetiva universal de comunicação e

difusão de conhecimentos. Os “mais instruídos”, autores dos livros, repassavam s sua visão particular do

mundo, influenciando a todos e difundindo as suas ideias a quem tivesse a oportunidade de ler as suas

obras.

Na fase atual de evolução da comunicação, com a cibercultura conseguimos atingir a universalidade e

a diversidade de comunidades, com pontos de vista por vezes desiguais e conflitantes. Com a

virtualização e a globalização da sociedade, o processo de produção da informação e do conhecimento

deixou de ser hierárquico para se tornar horizontal, descentralizado e interativo. Neste período pós-

gutenberguiano, será possível imaginar buscas eletrónicas em imensos e variados acerbos textuais, à

Imagem disponível na Internet em: http://www.howtogeek.com/218266/do-you-really-need-a-

touchscreen-on-your-windows-pc/

Page 28: Área de Competências-Chavecqepdesantotirsodoaetp.yolasite.com/resources/NG1 EST - DR4... · a mecanização geral da indústria, os caminhos de ferro e a indústria naval movida

Página 28 de 46

escala planetária com as facilidades do hipertexto para passar de uma fonte a outra no aprofundamento

do conhecimento.

O hipertexto insere-se nesse contexto da cibercultura, como uma de suas novas interfaces de

comunicação. Na verdade, o hipertexto resgata e modifica antigas interfaces da escrita, como a

segmentação em módulos (capítulos e

secções), o acesso seletivo e não linear

ao texto (índices e sumários), as

conexões a outros documentos (notas

de rodapé e referências bibliográficas),

implementadas pelas novas tecnologias.

Essa nova maneira de escrever pode

ser usada para organizar e divulgar os

conhecimentos sobre uma determinada

área do saber, sendo especialmente útil

nas áreas de gestão de informações,

comunicação e educação. A sociedade,

ao aprender a lidar com os hipertextos,

pode aproveitar todo o seu potencial

cognitivo, interativo e multimodal, como

recurso pedagógico, meio de comunicação e de divulgação de conhecimento na era da informática.

Vale a pena lembrar que toda inovação tecnológica gera fenómenos educacionais, culturais e sociais.

Entretanto, ela, por si só, não é capaz de resolver, de uma hora para outra, os problemas económicos e

sociais da era em que foi idealizada. Ela apenas contribui para o despertar de uma nova conceção, um

novo saber, transformando a capacidade de entendimento das gerações que a vivenciam. Devem surgir

iniciativas, essencialmente governamentais, para reduzir o desequilíbrio cultural e social, com intuito de

proporcionar, a uma parcela cada vez maior da população, acesso às novas tecnologias, à informação e ao

conhecimento. Cabe à sociedade examinar as potencialidades da nova tecnologia, acompanhar a sua

trajetória e identificar o seu nicho, tendo em vistas a aprendizagem, o crescimento e o desenvolvimento

humano em sociedade.

Dias, Cláudia Augusto. Hipertexto: evolução histórica e efeitos sociais. Disponível na Internet em

http://www.scielo.br/pdf/ci/v28n3/v28n3a4.pdf

A música, o digital e a internet

Hoje em dia, a música chega-nos tão facilmente aos ouvidos, que se torna quase impossível imaginar

as dificuldades em meados do século XIX para usufruir do mesmo privilégio. Um dos únicos meios era, por

exemplo, assistir às orquestras que se deslocavam às cidades de forma limitada. Esta limitação despertava

alguns fatores relevantes como o silêncio, a atenção, a memória e outros sentidos, fatores esses, que não

estarão tão presentes nos dias de hoje.

Só em 1877, com a invenção do primeiro aparelho capaz de gravar e reproduzir som, foi possibilitada a

audição doméstica de música. Nascia o phonograph, ou fonógrafo, que consistia num cone em cujo

vértice era colocada uma membrana ou diafragma com uma agulha no centro e um cilindro metálico

ligado a uma manivela que, acionada manualmente, fazia o cilindro girar com o propósito de gravar ou

Page 29: Área de Competências-Chavecqepdesantotirsodoaetp.yolasite.com/resources/NG1 EST - DR4... · a mecanização geral da indústria, os caminhos de ferro e a indústria naval movida

Página 29 de 46

reproduzir um som. Esta tecnologia marcava o início de uma nova capacidade. Passava a ser possível ouvir

música segundo o nosso próprio critério.

Uma década após o aparecimento do

primeiro meio de captação e reprodução de

música, surgiram os primeiros discos. Alguns

dos primeiros discos funcionavam em média a

78 rpm (rotações por minuto) e permitiam

armazenar uma música de cada lado. Esta

tecnologia foi, porém, sendo desenvolvida e

melhorada ao longo dos anos, e chegou-se a

um novo resultado que viria a revolucionar

novamente o consumo de música em

ambiente doméstico. Foi descoberto um novo

tipo de material propício à transmissão de som, o vinil, que também ficou conhecido como LP (long play).

Os discos LP eram, por esses tempos, um fator de convívio social, onde familiares, amigos e por vezes

desconhecidos, se juntavam na casa de um proprietário do gira-discos e usufruíam da música que

transmitia. A denominação long play deixava de ser uma referência a termos técnicos como as rotações

por minuto e passava a ser sinónimo de longas horas de consumo sonoro. Os discos tinham, então, uma

maior capacidade de armazenamento de informação de cada lado e tornaram-se os preferidos pelo

público e pela indústria fonográfica.

Entre os anos 1960 e 1970 a venda de discos disparou devido ao surgimento de um novo conceito, a

capa. Com um conjunto extenso de informação relativa ao disco e com um requinte gráfico cada vez

maior, a capa colocou o conceito de disco na mesma categoria de valores do livro. Surgiram os álbuns,

que passaram as ser vistos como arte e a discoteca pessoal de cada indivíduo caracterizava a sua cultura

musical.

“Com o surgimento da estética do álbum, os discos passam a ser vistos como obras de arte em si. O LP

passa a ser consumido como livros, ou seja, um suporte fechado, passível de coleção em discotecas

privadas – com status de objeto cultural, afinal julga-se a cultura musical de uma pessoa pela discoteca

que possui” – De Marchi.

Apesar do longo reinado dos discos LP, estes foram destronados com o aparecimento de uma nova

tecnologia, o compact disc (CD). Feitos de alumínio, menores, mais leves e com capacidades de

armazenamento de aproximadamente 70 minutos, inauguravam, assim, a era digital, caracterizada pela

sua portabilidade e facilidade de gravação, reprodução e transporte.

Existia uma alternativa ao CD que também revolucionou os métodos de gravação em estúdio. A fita

magnética não só era adequada às inovações tecnológicas como também era maleável. Caracterizada

pela sua portabilidade, trouxe uma grande inovação ao consumo de música, possibilitando a audição em

qualquer local, com o aparecimento da fita cassete e do walkman.

O CD distinguiu-se da fita magnética, apesar de possuir o mesmo princípio de portabilidade, devido à

sua maior qualidade sonora, e surgiu, então, o discman. Houve também uma adaptação no ambiente

Page 30: Área de Competências-Chavecqepdesantotirsodoaetp.yolasite.com/resources/NG1 EST - DR4... · a mecanização geral da indústria, os caminhos de ferro e a indústria naval movida

Página 30 de 46

caseiro em relação à nova tecnologia. Os gira-discos de madeira e aço foram substituídos por aparelhos

modernos, feitos de plástico, com CD player. Os discos LP entraram em desuso e as fábricas de vinil foram

encerrando, tudo, devido à soberania do CD.

O domínio do CD terminou de um modo semelhante ao seu começo. Com o aparecimento do motion

picture expert group layer 3 (MP3) iniciou-se uma nova era de mobilidade de informação que não está

mais limitada a um suporte material. O padrão de consumo alterou-se e a gravação sonora tornou-se

numa informação transferível entre suportes. Com a convergência tecnológica, o consumo sonoro

expandiu-se para outros meios de comunicação e setores industriais.

Com esta tecnologia, revelou-se também um problema que, apesar de já existente na época das fitas

magnéticas, atingia agora um

grau de relevância

significativamente maior. A

pirataria tomou proporções

exorbitantes com a

digitalização do processo de

gravação e reprodução. O

aparecimento do computador

no começo dos anos 1990, e

posteriormente da internet,

possibilitou o acesso direto, sem mediações nem custo, a ficheiros digitais. Uma das primeiras tentativas

de resolução deste problema foi a venda de música online, ideia levada a cabo pela empresa Apple, que

criou uma loja online, iTunes Store.

Relativamente aos dias em que a

música era expressamente

transmitida através de suportes

físicos, existiu uma tremenda

evolução que alterou o modo como

esta chega a nós nos dias de hoje.

Atualmente existem vários modos de

ouvirmos a música que pretendemos

e nem todas são moralmente

corretas. A indústria evoluiu e

continua a evoluir, sendo que

continuamente vão surgindo novos

meios de transmissão. Deixou de ser necessário o suporte físico, quer por necessidade ou por opção e

cada vez menos pessoas recorrem a este meio para adquirir a música pretendida.

A música, o digital e a internet. In Música 2. Disponível na Intternet em http://blogs.ua.pt/novosmedia/musica2/sobre-nos/.

Adaptado

Page 31: Área de Competências-Chavecqepdesantotirsodoaetp.yolasite.com/resources/NG1 EST - DR4... · a mecanização geral da indústria, os caminhos de ferro e a indústria naval movida

Página 31 de 46

Os novos media e a música

Hoje em dia é quase impossível falarmos de música sem colocarmos de parte a sua componente digital

e a estreita ligação às novas tecnologias. É neste sentido que se torna igualmente importante

percebermos o que são afinal os novos media e qual o seu contributo para a indústria musical.

Os novos media referidos por McLuhan na sua obra Understanding Media “The Extensions of Man” em

1964, (radio, televisão) dão hoje lugar aos novos media que marcam o ritmo de uma geração voltada para

o digital e a interação. Referimo-nos a medias assentes em tecnologias cada vez mais evoluídas, que

permitiram não só a convergência entre os antigos e novos media, como a possibilidade de gerar lucro

através do desenvolvimento de novas tecnologias e a da revenda de conteúdos já existentes noutros

novos formatos.

Durante os últimos 20 anos, os media sofreram alterações consideráveis que se traduziram,

sobretudo, na estreita interligação entre a técnica e a sociedade. Os novos medias são, sobretudo, digitais

e online, daí que a internet não possa ser colocada de parte quando falamos da relação entre a música e

os novos media, porque é nela que se encontra concentrado, na grande maioria, as possibilidades de

conectividade.

Com a ascensão dos novos media, a evolução tecnológica e a intensificação do mundo web, a

capacidade de criar conteúdos, de os divulgar e de os promover transformou-se e liberalizou-se,

estendendo-se a um público cada vez mais abrangente, com pessoas capazes de conquistar e trilhar o seu

próprio caminho, enquanto artistas, até ao topo.

Claro está que essa liberalização tem os seus pontos fracos, discutidos um pouco por todo mundo,

assentes na livre partilha e divulgação de conteúdos que facilitam a pirataria, a violação dos direitos de

autor e a proliferação de conteúdos sem qualidade.

A revolução digital alterou, inquestionavelmente, a noção coletiva de “artista”. Não obstante as

dificuldades impostas pelos novos media e as suas tecnologias, artistas por todo mundo perceberam

desde cedo o impacto e a influência da sua utilização cuidada e pensada, não só na criação de novos

conteúdos mas também na sua própria autopromoção, ligação e interação com os fãs. Já em outubro de

2003, a plataforma MySpace tornou-se a rede social online mais popular do mundo na partilha de música

online. A digitalização dos conteúdos, a articulação tecnológica e a interconetividade em rede foram as

dinâmicas-chave que mais contribuíram para a transformação das indústrias de entretenimento,

nomeadamente no setor da música.

Não é a primeira vez que a indústria musical enfrenta mudanças significativas devido à introdução de

inovações tecnológicas ao nível do formato de distribuição dos conteúdos musicais Assim aconteceu com

o vinil, as cassetes (MC), o compact disc (CD) e o digital video disc (DVD), até chagamos atualmente ao

Page 32: Área de Competências-Chavecqepdesantotirsodoaetp.yolasite.com/resources/NG1 EST - DR4... · a mecanização geral da indústria, os caminhos de ferro e a indústria naval movida

Página 32 de 46

popular ficheiro MP3, formato que impulsionou a comercialização e uso de novos equipamentos

tecnológicos que se vão tornando progressivamente mais pequenos, portáteis, pessoais, personalizáveis,

interconectáveis e articuláveis em rede.

As transformações globais na indústria da música e as formas contemporâneas de consumo musical,

decorrentes do advento da era da música digital e em rede, caracterizam o momento atual de transição

para a nova ordem musical 2.0, que se define através dos conceitos de ubiquidade, interconectividade,

interatividade, mobilidade, online, digitalização, cultura em rede, consumos crossmedia. O

conceito provém do inglês e significa “cruzar” – ou “atravessar” – os média, ou seja, disponibilizar

o conteúdo em diferentes meios.

Entre 2003 e 2007, assistiu-se a uma

quebra na hegemonia do CD a par da

afirmação do digital. Após a emergência do

mercado legal dos downloads, a indústria

musical começou a provar a sua capacidade

de criar novas áreas de negócio,

nomeadamente na Internet e no mobile. Em

2003, através destes serviços, o consumidor

tinha disponível para download apenas 1

milhão de faixas musicais enquanto que em

2007 já dispunha de mais de 6 milhões.

Hoje, o crescimento de múltiplas

plataformas e programas online garantem acesso a todo o tipo de conteúdos que um artista queira

promover. Redes sociais como o Facebook, o Twitter e o Youtube transformam o contacto artista-público

muito mais pessoal, contribuindo para uma partilha que vai para além da música.

As novas tecnologias e os novos modelos de negócio na Internet, auxiliam o desenvolvimento de

conteúdos interativos e apelativos, levando a bandas e cantores a conseguirem envolver os seus fãs em

experiências coletivas, fortalecendo essa relação.

Nunca foi tão forte a tensão entre produtores e consumidores de conteúdos como agora, pois nunca

havia sido possível atingir um tão grande equilíbrio entre eles no controlo das mensagens.

Com isto, e com a crescente quantidade de informação gerada diariamente, a necessidade dos indivíduos

passarem por diferentes experiências obriga instituições e marcas a encontrarem argumentos mais

persuasivos para se ligarem com o público. No caso da música, as narrativas transmedia (o conceito

provém do inglês, significa “além do” média. Na prática, significa que os diferentes meios irão transmitir

diferentes conteúdos para o público, mas de

forma complementar) e a distribuição de

conteúdo em crossemedia, têm envolvido cada vez

mais os fãs de artistas musicais que acompanham

a evolução a evolução dos seus trabalhos

recorrendo aos novos meios.

Os novos media não só têm ajudado os artistas

a chegar mais perto dos seus públicos, como tem

contribuído para que os próprios públicos façam

parte do seu universo. Isto é, com as plataformas

de partilha e redes sociais, qualquer pessoa pode

vir a tornar-se um artista popular ao produzir e gerir os seus próprios conteúdos, sendo que a maior parte

Disponível na Internet em: https://support.apple.com/pt-br/HT204930

Disponível na Internet em: http://somosmusica.com.br/como-ganhar-dinheiro-atraves-do-youtube/

Page 33: Área de Competências-Chavecqepdesantotirsodoaetp.yolasite.com/resources/NG1 EST - DR4... · a mecanização geral da indústria, os caminhos de ferro e a indústria naval movida

Página 33 de 46

dos cantores e bandas de renome, apelam à criatividade dos seus fãs, muitas vezes premiando-os e

incentivando-os.

Existe uma relação mútua que era dificilmente

alcançada antigamente, sem a ajuda da web. O artista

comunica com o fã e o fã comunica com o artista. Este

aspeto é muito comum hoje em dia, com os conteúdos

interativos que se tornam cada vez mais populares e

cada vez mais desenvolvidos pela indústria musical,

assim como a adesão às redes sociais, com o intuito de

quebrar a barreira entre público e artista.

Os novos media contribuíram para uma nova era

onde cada um de nós tem o poder de criar o seu

conteúdo dentro da indústria da música. Imensos

nomes conhecidos mundialmente começaram

precisamente da mesma forma. Partilhas no

Youtube, promoções através do Facebook, publicações em plataformas de música, tudo isto pode ser

feito por qualquer pessoa, como aconteceu com os Pentatonix, Boyce Avenue ou Justin Bieber, entre

outros guindando-os ao reconhecimento mundial.

In Música 2. Os Novos Media E A Música. 2015. Disponível na Internet em

http://blogs.ua.pt/novosmedia/musica2/2015/12/06/os-novos-media-e-a-musica/ (adaptado)

O digital e a democratização da fotografia

Quando foi criada, a fotografia passou praticamente despercebida aos olhos da sociedade da época.

Para alguns cientistas e inventores representou um novo ramo de estudo, trabalho e aperfeiçoamento.

Para os pintores significou uma ameaça, fazendo com que estes fossem confrontados com a uma decisão

difícil: unirem-se à nova atividade ou criarem um novo

estilo de pintura. Para a população em geral representou

a possibilidade de ser retratada, com fidedignidade e

certa acessibilidade, privilégio que antes, com a pintura,

estava restringido apenas aos ricos e importantes. Para a

imprensa (o jornalismo), a fotografia significou a

possibilidade de mostrar, e mais do que isso, possibilitou

comprovar as notícias por ela transmitidas.

Após passar por diferentes estágios, a fotografia

tornou-se digital, deixando de ser gravada num suporte

sensibilizado por sais de prata, e de obrigar à revelação para que pudesse ser vista. Sem revelação,

consequentemente, com menores custos de produção, a tecnologia digital difundiu-se, popularizou-se.

Esta popularização foi positiva. O fácil acesso a equipamentos fotográficos, mesmo que de baixa

qualidade, proporcionou a um número maior de pessoas o registo de momentos importantes, bem como

o contacto com uma atividade artística. Isto contribui para a democratização da fotografia, ou seja,

permitiu tornar a atividade acessível à população em geral.

Um assunto que causa divergência no mundo da fotografia é a manipulação de imagens. Barthes

afirma que a fotografia é a prova concreta de que algo aconteceu, que determinada cena de facto se

Disponível na Internet em: http://www.dualshockers.com/2014/02/21/looking-at-the-pros-

and-cons-of-an-all-digital-future/

Disponível na Internet em: http://shifter.pt/2015/11/ouvir-musica-no-facebook-vai-ser-bem-mais-facil/

Page 34: Área de Competências-Chavecqepdesantotirsodoaetp.yolasite.com/resources/NG1 EST - DR4... · a mecanização geral da indústria, os caminhos de ferro e a indústria naval movida

Página 34 de 46

passou diante da lente de uma câmara. “Até este dia, nenhuma representação podia garantir-me o

passado da coisa, a não ser através de

circuitos. Mas, com a fotografia, a

minha certeza é imediata: ninguém no

mundo me pode desmentir”. Mas as

fotografias, por mais simples e sem

intenções que possam ser, já são uma

interpretação subjetiva da realidade.

Não se pode afirmar que as

manipulações fotográficas ou os

retoques no negativo ou por

programas de computador sejam boas

ou más. No mundo da publicidade e

até mesmo das artes a manipulação é

altamente explorada, com resultados

extremamente positivos. Entre

fotógrafos amadores estas práticas podem melhorar uma fotografia esteticamente ou estragá-la, quando

se exagera nos efeitos ou se não tem o domínio sobre as ferramentas disponíveis. Mas em muitos casos, a

manipulação fere princípios éticos, principalmente dentro do jornalismo, quando distorce a realidade que

a fotografia tem obrigação mostrar.

Inicialmente, a fotografia não foi posicionada dentro daquilo a que se chamamos artes. Ainda hoje

pode haver algumas divergências sobre quando uma fotografia deixa de ser o mero registo da realidade e

passa a ser considerada uma obra de arte.

Afinal, a fotografia é produzida a partir de

uma tecnologia e permite a reprodução, o

que pode afetar a aura e a autenticidade da

obra de arte. Parece consensual considerar

que uma fotografia é considerada uma obra

de arte a partir do momento que é feita

com a intenção e a técnica para tal

necessárias, transmitindo ao público as

mesmas sensações que as obras de arte

tradicionais costumam transmitir, como

admiração, reflexão, estranheza, choque.

A tecnologia digital acabou por banalizar

o exercício da fotografia? Novamente, não se pode dar uma resposta generalizada à pergunta, visto que

ela envolve outros pontos, muitos dos quais subjetivos. A fotografia digital, por ter sido bastante

difundida e ser uma atividade barata, permite às pessoas produzirem uma quantidade colossal de

imagens, dos mais diferentes temas, muitas das quais não são pensadas e inúmeras são excluídas pouco

depois de tiradas. Ainda hoje, muita gente aproxima- se da fotografia por motivos comuns, sem outra

intenção que não seja a de registar momentos e pessoas. Embora a produção em grande quantidade de

fotografias possa indicar banalização, os temas nelas retratados não o fazem, pois decidir o que fotografar

é algo pessoal e está totalmente ligado à democratização da fotografia.

Outro tema ligado à banalização da tecnologia digital que suscita atenção tem a ver com o facto de a

maior parte dos equipamentos serem automáticos. Como as câmaras não exigem dos fotógrafos

amadores conhecimentos técnicos, estes, embora possivelmente consigam imagens com boa iluminação

Disponível na Internet em: http://www.imagenswiki.com/imagens/foto-artistica-bosques-1-jpg

Disponível na Internet em: http://www.ipcdigital.com/turismo/dicas-de-passeio-ipc-digital-kawachi-fuji-garden-em-fukuoka/

Page 35: Área de Competências-Chavecqepdesantotirsodoaetp.yolasite.com/resources/NG1 EST - DR4... · a mecanização geral da indústria, os caminhos de ferro e a indústria naval movida

Página 35 de 46

e focagem, dificilmente vão obter uma fotografia surpreendente. Este é o objetivo de muitos, apenas

registar o momento sem nenhuma preocupação técnica. Estamos, mas mais uma vez perante um indício

da banalização da fotografia. Mas apesar de nem sempre gerar imagens com uma técnica admirável, este

tipo de câmara expande as possibilidades de escolha do fotógrafo, contribuindo também para a

democratização da fotografia.

Apesar de eventualmente se estar perante uma forma de banalização da fotografia, a tecnologia

digital aumentou as possibilidades dentro do mundo da fotografia, com diferentes formatos de

equipamentos e permitiu a grande parte da população praticar esta atividade.

Correia, Juliana Rosa. (2009) “A evolução da fotografia e uma análise da tecnologia digital”. Disponível em:

http://www.com.ufv.br/pdfs/tccs/2012/JulianaCorr%C3%AAa.pdf (adaptado)

Convergência entre o cinema e as novas tecnologias

As primeiras perceções acerca da convergência entre produção audiovisual e a internet, partiram da

formulação das seguintes questões iniciais. Estão as novas tecnologias a provocar uma mudança efetiva

nos moldes da produção cinematográfica? Quais

as diferenças percebidas entre o cinema

convencional e o cinema digital? A nova realidade

tecnológica permite uma interação mútua, no

sentido de possibilitar a relação entre as pessoas,

usando as máquinas virtuais como meio e, dessa

forma, possibilitando a troca de mensagens e a

produção coletiva que fujam aos padrões da

comunicação de massa? O desenvolvimento dos

meios técnicos que permitem movimentos espaço-

temporais (até há pouco desconhecidos) levam os

interagentes a construir novas relações? Esse novo

processo irá intensificar o isolamento do sujeito ou

proporcionar maiores possibilidades de interação?

Como se configuram as relações e interconexões no processo de construção de uma produção

audiovisual via internet, em que todos têm a possibilidade de agir como emissores/recetores,

produtores/espetadores? Que alterações se

produzem no papel do espetador nesse tipo de

produção interativa? É possível penar o

espetador como coautor na produção

audiovisual?

Cabe referir, primeiramente, que as

tecnologias digitais foram usadas no cinema na

criação de efeitos especiais. A evolução de

hardwares e softwares (equipamentos e

programas de computação) modificou e

ampliou as possibilidades dos processos de

edição. Com o aperfeiçoamento da tecnologia Cena do filme “Avatar” realizada por James Cameron, 2009.

A internet e o digital vieram permitir novas formas de produzir, difundir e visualizar cinema.

Imagem disponível em: http://puc-riodigital.com.puc-

rio.br/Texto/Economia/Janelas-digitais-ampliam-o-

horizonte-do-audiovisual-25087.html#.Vr4hTvmLQdU

Page 36: Área de Competências-Chavecqepdesantotirsodoaetp.yolasite.com/resources/NG1 EST - DR4... · a mecanização geral da indústria, os caminhos de ferro e a indústria naval movida

Página 36 de 46

digital, essa operação estendeu-se, também, à captação/criação de imagens com qualidade semelhante à

da película cinematográfica, deixando de ser

necessários filmes e processos de impressão química

para registar imagens, facto que deu origem ao

chamado cinema digital (e que aproxima cinema e

vídeo). No momento atual, as modificações advindas

da mistura entre cinema, telecomunicações,

informática e respetivas ferramentas, estão a levar a

produção audiovisual a um novo estádio em que se

ampliam as possibilidades de interação, formando

um híbrido que, embora não deixe de ser uma

experiência audiovisual, até então era impossível de

ser realizado.

Nesse novo estágio da produção audiovisual, o

pape l do espetador pode romper com as

características permitidas pelo cinema convencional.

Assim, tem-se como hipótese que a

utilização/incorporação da internet na produção

audiovisual estabelece uma nova forma de

expressão que permite a participação ativa/criativa

do espetador no processo de construção de uma

produção audiovisual. Conjetura-se, também, que

ao abrir as possibilidades de participação em todos

os âmbitos e fases da realização audiovisual, pode

haver uma tendência para a anarquia audiovisual, por vezes ininteligível, bem aos moldes pós-modernos

e, também, levar ao descontrolo dos resultados, o que não nega sua validade.

É provável que, assim como ocorreu com o cinema dos primeiros tempos, a uma fase de expansão e

utilização descontrolada, oriunda do entusiasmo pelas possibilidades permitidas pela tecnologia - de

participação ativa, de manipulação de imagens e do hibridismo de alternativas -, advenha uma era de

estruturação de uma nova linguagem, em contínua mutação, reflexo da nova organização espácio-

temporal da sociedade pós-moderna.

Rosa, Wagner Iván da (2005) O espectador criativo: a evolução técnica e a nova produção audiovisual. Disponível na Internet em http://tede.pucrs.br/tde_busca/arquivo.php?codArquivo=686, adapatdo

Cinema e tecnologia: do espetador passivo ao espetador criativo

O espetador é visto como o indivíduo que assiste aos filmes, ou seja, o espetador é sempre passivo.

Que relação se estabelece entre o espetador e o espetáculo com o qual ele é confrontado. Estudos

comparam a posição do espetador à do sonho, considerando que o filme suscita uma adesão empática,

bem longe da simples passividade, próxima de um certo estado de comunhão relaxada, que lembra o

devaneio, o sonho acordado. Ao assistir um filme, a atenção volta-se intensamente para a ação no ecrã,

diminuindo e desviando a atenção para outro tipo de estímulo, percebidos por outros sentidos, inclusive

o orgânico.

O digital ao serviço da produção de filmes: o exemplo do filme Avatar

O filme Avatar tornou-se um marco do cinema de

animação 3D misturando personagens 3D e representação de atores reais. As belíssimas cenas e construções virtuais revolucionaram o género tanto esteticamente como tecnicamente, abrindo novos caminhos e representando uma grande evolução no uso da computação gráfica, dos efeitos especiais e na direção de personagens.

A computação gráfica 3D com tecnologia avançada e de ponta ao tempo de sua produção permitiu revolucionar o género de produção de filmes de ficção científica.

Para a produção do filme foram usados os seguintes programas informáticos: Autodesk Digital Entertainment Creation (DEC), Autodesk® MotionBuilder® (Ferramentas para Criação de Entretenimento Digital da Autodesk), e Maya, também chamado Autodesk Maya software.

Na produção do filme combinou-se aa ação real 3D com os efeitos visuais foto-realísticos gerados em computador, criando personagens e paisagens de um mundo noutro planeta.

Texto disponível em: http://www.jrrio.com.br/software/filme-avatar-e-

software-maya.html. (adaptado)

Page 37: Área de Competências-Chavecqepdesantotirsodoaetp.yolasite.com/resources/NG1 EST - DR4... · a mecanização geral da indústria, os caminhos de ferro e a indústria naval movida

Página 37 de 46

Ao projetar-se no mundo proposto pelo filme, o espetador imagina-se na sociedade dentro do ecrã,

encarna os papéis representados pelos atores, tem a sensação de estar vivendo as situações engendradas

para o personagem, chegando a sentir e a

vivenciar as emoções como se fizesse parte

daquela história. No âmbito psicológico, o

mecanismo da identificação projetiva permite-

lhe imaginar que entra no outro e sentir o

mesmo que ele, ao mesmo tempo induze-o a

crer que é esse outro que está no ecrã. O

conjunto de sensações originadas em tais

circunstâncias pela identificação projetiva

culmina com o fenómeno da catarse, palavra

grega que designa o processo de dar vazão às

emoções contidas, isto é, reprimidas.

Visando descrever as possibilidades de

elevar o espetador à condição de autor ou coautor, cogita-se a viabilidade do público sair da condição de

espetador reativo ou pró-ativo e passar à condição de espetador criativo, realizador, que age

efetivamente sobre a produção audiovisual. Por espetador reativo quer-se apresentar a figura de quem

assiste ao filme e responde às mensagens que lhe são propostas pelo autor, num processo que se resume

ao estímulo-resposta, de uma forma linear, privilegiando o ponto de vista do emissor, numa operação de

ação-reação em que o espetador é considerado um recetor passivo, sem possibilidade de intervir no

processo. Nas tecnologias reativas, a participação do espetador restringe-se a poder escolher entre um

conjunto de alternativas preestabelecidas pelo produtor da mensagem.

As novas tecnologias, além de todos os avanços já citados anteriormente, podem ainda contribuir de

uma forma mais inusitada e revolucionária para a interação do espetador no processo de construção de

um filme.

Pensar o espetador criativo significa aceitar sua

participação ativa, isto é, os rumos do filme

deixam de ser decididos “apenas” pelo produtor,

roteirista e diretor (e suas equipes técnicas), em

que o público é convidado a assumir a condição de

agente no processo de construção do filme. Se até

então o cinema tem sido visto como arte coletiva,

esse coletivo restringia-se a uma equipe formal,

contratada para desempenhar as diversas

atividades do fazer cinematográfico. Conjugados,

internet e produção audiovisual são elementos

que representam novas possibilidades de reunião,

de fusão grupal, de retorno à participação, à

diversidade, aspetos que permitem a modificação drástica do papel do espetador, que passa a ser agente

criativo da obra audiovisual.

Mediante as tecnologias do imaginário e, neste caso, as tecnologias do imaginário pós-industriais, os

indivíduos dão forma ao que existe no imaginário, passando a criadores, produzindo mitologias para

novamente alimentar imaginários. Em todos esses casos, o computador reacende à mesma discussão que

já foi travada quando do surgimento da TV, do videocassete (e seus sucedâneos, o Laserdisc e o DVD).

Câmara profissional de gravação digital Imagem disponível em:

hhttp://urbanfoxtv.blogspot.pt/2011/11/red-turns-scarlet-

into-low-cost-epic.html

Projeção de filme 3D http://www.cineorlandia.com.br/curiosidades.html

Page 38: Área de Competências-Chavecqepdesantotirsodoaetp.yolasite.com/resources/NG1 EST - DR4... · a mecanização geral da indústria, os caminhos de ferro e a indústria naval movida

Página 38 de 46

Ao misturar cinema, processos digitais, internet, respetivas ferramentas e as possibilidades oferecidas

pelo ciberespaço, já não se está a falar de cinema no

sentido restrito ou, ao menos, não no sentido que se

conhecia até então. Tal possibilidade rompe com as

características do cinema convencional, formando um

híbrido que, embora não deixe de ser uma experiência

audiovisual, até então impossível de ser realizada. Às

críticas que surgirão a esse novo híbrido, cumpre

relembrar o pensamento de Walter Benjamin (1986): “A

história de toda forma de arte conhece épocas críticas

em que essa forma aspira a efeitos que só podem

concretizar-se em esforço num novo estádio técnico,

isto é, numa nova forma de arte.”

Rosa, Wagner Iván da (2005) O espectador criativo: a evolução

técnica e a nova produção audiovisual. Disponível na Internet em http://tede.pucrs.br/tde_busca/arquivo.php?codArquivo=686, adapatado

Deuses e demónios

Homenageei Paul Newman, um dos meus mitos, com a única maneira que para mim fez sentido: fui ao

cinema e ao teatro no fim-de-semana em que soube da sua morte. Newman sempre foi um dos meus

atores de culto.

Num país ainda hoje cheio de homofobia, nunca tive pudor em dizer que o achava lindo, nem dúvidas

em afirmar como sempre admirei a sua arte de representar: vi dezenas de vezes Gata em Telhado de

Zinco Quente, Corações na Penumbra ou

O Mais Selvagem entre Mil, para só citar

os meus favoritos. E anseio por rever

Caminho para Perdição, um filme

incompreendido mas que achei fabuloso,

porque nos fala dos papéis na família e

das lealdades invisíveis através das

gerações. Quando vi este filme e soube

que Paul Newman tinha anunciado o fim

da carreira, fui a correr arranjar cópias de

outras interpretações, antes que fosse

tarde: agora é fácil, a morte prolongará a

sua glória por algum tempo.

No sábado fui ao cinema, para ver o

novo filme de Sydney Lumet, Antes Que o

Diabo Saiba Que Morreste. Tinha

curiosidade em confirmar a minha ideia de que há cineastas com mais de 80 anos a fazer grandes obras

(Resnais, Rivette, Rhomer), embora a produção desigual daquele americano não fosse garantia à partida.

Mas havia de novo uma relação com o meu ator preferido: nunca poderei esquecer aquele advogado

decadente e alcoólico do filme de Lumet O Veredicto, em que Paul Newman, vestido de negro, oferece os

seus préstimos de jurista a viúvas inconsoláveis, em velórios soturnos exemplarmente retratados.

Monitor com software digital de edição de filmes Imagem disponível em: http://gadgetynews.com/lg-4k-digital-cinema-monitor-uk-price-a-first-for-visual-

content-creators/

Imagem disponível em: https://www.google.pt/url?sa=i&rct=j&q=&esrc=s&source=images&cd=&cad=rja&uact=8&ved=&url=http%3A%2F%2Fwww.tecmundo.com.b

r%2Fcinema%2F65006-cinema-futuro-tera-3-telas-proporcionar-maior-imersao-

espectador.htm&psig=AFQjCNHu35todIegzRSKE_Zuo6vvIMERcg&ust=1456400945278813

Page 39: Área de Competências-Chavecqepdesantotirsodoaetp.yolasite.com/resources/NG1 EST - DR4... · a mecanização geral da indústria, os caminhos de ferro e a indústria naval movida

Página 39 de 46

Agora vi os demónios, Philip Seymour Hoffmann e Ethan Hawke, dois irmãos e um só destino e a

anomia em forma de estilo de vida, numa saga familiar onde nem o angustiado pai (Albert Finney)

encontra um caminho que não seja a destruição e a morte. Através de uma sucessão de flash backs,

Lumet conduz-nos às cegas por uma sucessão de acontecimentos a princípio sem sentido: é a

justaposição de planos, sempre antes e depois do assalto, que confere uma linha de compreensão do

drama e que permite depois uma leitura mais ou menos sequencial do que se passou.

O que mais me impressionou neste filme foi a ausência de justificação dos protagonistas para os seus

atos, como se os acontecimentos se precipitassem sem que alguém se detivesse para os interrogar e

como se os padrões morais, outrora importantes naquela família, tivessem deixado de ter razão para

existir: é a própria sequência de atos

cada vez mais graves que determina o

que vai acontecer, porque ninguém é

capaz de projetar um devir. Lembrei-me

de Paul Newman, claro: como seria ele

no papel do irmão mais novo? O certo é

que o sorriso triste de Ethan Hawke não

deve autorizar comparações, porque a

sua interpretação não o merece...

Encontrei-me depois com os deuses do

teatro, aqueles que devem guiar os

grandes atores. Na peça De Homem para

Homem, de Manfred Karge, em cena no

Teatro da Cornucópia (atenção, acaba

hoje: leia a crónica e vá ao espetáculo!), Beatriz Batarda é sublime. Trata-se de uma peça que atravessa as

convulsões políticas e sociais da Alemanha ao longo de cinco décadas, no percurso singular de Ella, a

única personagem, que para sobreviver assume a vida do falecido marido. Beatriz mostra o seu talento,

mas também a sua formação da boa escola do teatro inglês: poucas atrizes seriam capazes de, durante

hora e meia, nos mostrar por dentro este percurso em busca de uma identidade, quer pessoal quer social:

a certa altura Ella não sabe se é homem ou mulher, fascista ou comunista, triste ou alegre e nós,

inebriados, tomamos as suas dores e não podemos ficar indiferentes.

A possibilidade de aceder a um filme ou a uma representação teatral através de um DVD alugado ou pela

Internet não nos pode afastar das salas de cinema ou teatro: por melhores condições de receção que

possamos ter em nossas casas, a magia da sala de espetáculo só se consegue mesmo lá dentro...

Sampaio, Daniel. Deuses e Demónios. In crónica Porque sim. Publicado na Revista Pública, Jornal Público de 5 de outubro de 1908

Numa década, cinco milhões de espetadores desapareceram dos cinemas portugueses

2014 foi, tal como o previsto, o pior dos últimos 11 anos em receitas e afluência de espetadores.

Venderam-se 12 milhões de bilhetes. E os portugueses viram sobretudo The Hunger Games e Os Maias.

O fosso entre os portugueses e as salas de cinema é cada vez maior – se 2013 já fora o pior da década

em termos de idas ao cinema, os dados relativos a 2014 mostram que num ano se perderam mais 400 mil

espetadores. E recuando até 2004, quando os cinemas venderam 17,1 milhões de entradas nas salas,

Imagem disponível em: http://www.teatroleonfelipe.com/2013/12/un-sabado-muy-especial-gracias-al.html

Page 40: Área de Competências-Chavecqepdesantotirsodoaetp.yolasite.com/resources/NG1 EST - DR4... · a mecanização geral da indústria, os caminhos de ferro e a indústria naval movida

Página 40 de 46

constata-se que desapareceram cinco milhões desses espetadores. No ano passado venderam-se apenas

12,1 milhões de bilhetes.

O ano passado tornou-se assim no pior dos últimos 11 anos com receitas de 62,7 milhões de euros –

mais uma quebra, desta feita no valor de 2,8 milhões de euros que já não entraram nas bilheteiras em

comparação com 2013. A alteração dos hábitos de consumo audiovisual, as novas tecnologias, a pirataria,

os preços dos bilhetes e a distribuição geográfica das salas têm sido fatores apontados para explicar este

declínio.

O Instituto do Cinema e do Audiovisual (ICA) revelou esta sexta-feira os dados provisórios da

distribuição e exibição cinematográfica em Portugal sobre o ano em que o filme mais visto foi The Hunger

Games: A Revolta – Parte 1 (mais de 344 mil espetadores, 1,8 milhões de euros de receitas brutas de

bilheteira), com Lucy em segundo lugar e a quebrar o domínio juvenil ou de sequelas do top 5, seguido

de Os Pinguins de Madagáscar, O Hobbit: A Batalha dos Cinco Exércitos e Rio 2.

Com Os Maias – Cenas da Vida Romântica a confirmar-se como o filme português mais visto (114.817

espetadores e cerca de 568 mil euros de receita de bilheteira), seguido por Virados do Avesso e Os Gatos

não Têm Vertigens, em 2014 produziram-

se 27 filmes (13 longas e 14 curtas) com

o apoio do ICA, informa o organismo, que

assinala “um ligeiro aumento em relação

às obras produzidas face ao ano

anterior”. Mas que é parco em

comparação com números que ao longo

dos últimos dez anos nunca desceram de

uma média de 49 produções e que já em

2013 resvalaram para as 23, na esteira

do chamado ano zero do cinema

português, assim apelidado por não

terem sido abertos concursos de apoio à

produção.

2014 foi também o ano em que a NOS (antiga ZON) continuou intocável na sua liderança no mercado –

embora tenha também perdido receitas (menos 7% para os 7,2 milhões de euros), é o maior exibidor

português com uma quota de mercado de 61,6% contra os 63,2% de 2013. A britânica UCI é o segundo

maior exibidor, reforçando a sua posição com 12,3% do mercado contra 12,9% em 2014. A brasileira

Cineplace, que entrou no mercado português depois da insolvência da Socorama ocupando muitos dos

espaços explorados pela empresa portuguesa (como as salas em muitos shoppings da Sonae), tem agora o

terceiro lugar em Portugal com 8,7% de quota.

Cardoso, Joana Amaral . In jornal Público, publicado em 16 de janeiro de 2015

Teatro digital: será ainda teatro?

Costuma dizer-se que a matéria-prima do teatro é a presença, o encontro físico entre um grupo de

pessoas (atores e espetadores) num determinado lugar (palco) num espaço de tempo. Da junção destes

elementos “instaura-se” o teatro: representação de mundos, personagens, hábitos, costumes e narrativas

que pode ser diferente da realidade quotidiana dos espetadores .

Imagem disponível em: http://www.batanga.com.br/878/os-15-espectadores-mais-odiados-do-cinema

Page 41: Área de Competências-Chavecqepdesantotirsodoaetp.yolasite.com/resources/NG1 EST - DR4... · a mecanização geral da indústria, os caminhos de ferro e a indústria naval movida

Página 41 de 46

A necessidade da presença ao vivo, olho no olho, calor compartilhado entre os corpos, essência do

teatro, tida como impossível de reproduzir, era o que ainda poupava as artes cénicas de serem tocadas

pelos ventos da cultura digital que começou a varrer

discos, fotografias, filmes, disponíveis ao clique do

computador. Mas de alguns bons anos para cá, os

ventos tornaram-se furacão e atingiram o teatro; as

possibilidades da internet, reforçadas pela cada vez

mais desenvolvida nanotecnologia digital, estão a

conseguir relativizar até a presença, a experiência física

do olho no olho e do calor dos corpos presentes no

palco. Com a rede mundial de computadores, estar

num lugar deixou de ser apenas uma condição real,

física, para ser também uma condição virtual, digital.

Os corpos passaram a ter a possibilidade de se

digitalizarem, de serem transformados numa série de

números binários que podem ser transportados via cabos de fibra ótica para diversos cantos do planeta,

não como um teletransporte, mas como cópias potencialmente infinitas; um corpo transforma-se em

número, que viaja, viaja, e se transforma num novo corpo, noutro lugar, via computador. Se aos corpos é

permitida a possibilidade de digitalização, ao teatro também? Poderá o olho no olho e o calor do tête à

tête ser transformado em número e ser reproduzido em diversos lugares ao mesmo tempo e ainda

continuar a ser teatro? Pode haver, assim, um teatro digital?

Como já foi dito aqui, o teatro soube aproveitar as novas tecnologias de seu tempo quase de imediato,

da luz elétrica à fotografia e ao gravador de som. A partir da segunda metade do século XX, assiste-se á

expansão dos meios de reprodução técnico industriais (jornal, fotografia, cinema, rádio, televisão e meios

eletrónicos de difusão), que, sendo cada vez mais baratos e mais pequenos, viram o seu uso alargado para

além das grandes empresas com muito dinheiro para investir. Na década de 1960, por exemplo, surgem

as primeiras câmaras de vídeo com bateria acoplada, que permitiam um ganho de mobilidade até então

inexistente nas caras e pesadas câmaras utilizadas nos estúdios de televisão.

Com o início da comercialização dos aparelhos de vídeo – tanto de reprodução, como a videocassete e

de aparelhos sonoros portáteis como o

walkman, criado pela Sony japonesa em

1979, o uso de medias passou a fazer parte

do quotidiano social planetário. (...) Se

parece difícil entender, no contexto atual,

as mudanças ocorridas nas rotinas das

pessoas com o advento desses

equipamentos na rotina das pessoas,

lembremo-nos então das escassas

possibilidades de escolha do que ver e ouvir

antes do aparecimento da videocassete, da

televisão por cabo, do walkman e dos

gravadores de fita. Até então, tínhamos que esperar pela boa vontade das redes de televisão, das

emissoras de rádio, das gravadoras, dos estúdios de cinema, das lojas de discos, da programação dos

cinemas para podermos escolher aquilo que nos poderia agradar. A simples invenção da videocassete, por

exemplo, já provou uma pequena mudança na passividade reinante; ali estava um instrumento que

Disponível na Internet em: http://www.reporterosasociados.com.co/2015/04/teatro-

digital-una-entrada-para-todos-a-babasonicos/

Disponível na Internet em: http://www.funnyordie.com/videos/3e22d25f24/what-

the-red-dot-on-the-forehead-really-meansand-more-indian-stand-up-comedy-from-

indianinvasioncomedy?_cc=__d___&_ccid=sv9m9o.ny8r2e

Page 42: Área de Competências-Chavecqepdesantotirsodoaetp.yolasite.com/resources/NG1 EST - DR4... · a mecanização geral da indústria, os caminhos de ferro e a indústria naval movida

Página 42 de 46

permitia mexer na programação que nos era imposta, gravando um programa que nos agradasse para

ver, rever e passar noutro momento. Ainda continuava a depender da boa vontade das redes de televisão

em exibir uma produção audiovisual de

qualidade, mas já havia uma pequena

possibilidade de ação e de partilha, ao invés

da mera inércia da receção. Diante desse

contexto de transformações é que surgiu o

conceito de teatro pós-dramático.

O teatro, até então essencialmente

“dramático”, baseado no texto, cede terreno à

imagem, ao uso de tecnologias mediáticas e

digitais e à incorporação de referências

explícitas de áreas como a dança, as artes

visuais, o cinema e a performance. É como se fosse uma resposta do teatro à cultura mediática.

Numa sociedade a abarrotar de medias, o uso da linguagem destas (televisão, cinema, videoclipe,

rádio) também serviu de inspiração para o teatro. São inúmeros os exemplos de teatro inspirados na

linguagem das medias desde as peças inspiradas nas linguagens das novelas aos espetáculos pop,

recheados de citações de cultura musical e cinematográfica.

Originária do teatro dos Estados Unidos, o fenómeno da Standup Comedy (“comédia em pé”), na qual

o comediante se encontra normalmente sozinho em palco sem nada mais que um microfone, é um raro

exemplo do efeito inverso, ou seja, do teatro inspirando a linguagem mediática. De natureza simples, o

stand-up aproveitou as possibilidades da internet - especialmente em sites como o YouTube – para

ampliar a fama de diversos atores e

comediantes que fizeram o seu nome na

rede e partiram à procura do sucesso nos

medias “tradicionais”, rádio, cinema,

televisão. Alguns conseguiram arrebanhar

ainda mais seguidores, outros não; o

certo é que eles passaram a ocupar

espaços praticamente em todos os canais

de TV.

Não se sabe ao certo quem, onde e

quando se ouviu pela primeira vez falar

em “teatro digital”. Mas uma das

primeiras menções a um “teatro digital”

como uma nova linguagem, enquanto

elemento fundamental na conceção da

estética da cena, surgiu com o “Manifesto Binário”, escrito em 2008 pela companhia catalã La Fura Dels

Baus, caracterizada pela mistura de elementos e linguagens nos seus espetáculos.

“Manifesto Binário

Teatro digital é a soma de atores e bits 0 e 1, movendo-se na rede. Atores no teatro digital podem

interagir a partir de tempos e lugares diversos… As ações de dois atores em dois tempos e lugares diversos

correspondem na rede a infinitos tempos e espaços virtuais.

Representação dos La Fura dels Baus , em Barcelona - Disponível na Internet em: http://www.shbarcelona.com/blog/en/la-fura-del-baus-an-

institution-in-spain/

Disponível na Internet em: http://www.brasildefato.com.br/node/6339

Page 43: Área de Competências-Chavecqepdesantotirsodoaetp.yolasite.com/resources/NG1 EST - DR4... · a mecanização geral da indústria, os caminhos de ferro e a indústria naval movida

Página 43 de 46

No século 21, a conceção genética do teatro (da geração ao nascimento da cena) será substituída por

uma organização de atividades interativas e interculturais. Teatro digital refere-se a uma linguagem

binária ligando o orgânico com o inorgânico, o material com o virtual, o ator de carne e osso com o

avatar, a audiência presente com os utilizadores

da internet, o palco físico com o ciberespaço.

O teatro digital da La Fura dels Baus permite

interações em palcos dentro e fora da rede,

inventando novas interfaces hipermediáticas. O

hipertexto e seus protocolos criam um novo tipo

de narrativa, mais próxima dos pensamentos ou

dos sonhos, gerando um teatro interior em que

sonhos se tornam realidade (virtual).

A internet é a realização de um pensamento

coletivo, orgânico e caótico, que foi desenvolvido

sem hierarquia definida. O teatro digital

multiplica-se em milhares de representações, em

que os espetadores podem colocar imagens das suas próprias subjetividades, por meio de mundos virtuais

compartilhados.

Será que o teatro digital vai perpetuar a Pintocracia? Será que a Vaginocracia eventualmente vencerá?

Ou será que ambas se juntarão em perfeita harmonia 0-1?

No teatro digital, a abstração absoluta coexiste com o retorno ao corpo, que pode ter uma dimensão

sadomasoquista – tanto quanto uma dimensão sensual, angelical ou orgástica; ou talvez uma mistura de

todas elas. Por definição, o ato teatral envolve um excesso, um excedente de performance. É o prazer de

mostrar e ser mostrado. Uma sensação de identificação é estabelecida entre o ator e a plateia. Como

funciona essa identificação no teatro digital? Como uma mão se encaixa numa luva? Como uma extensão

de um ser? Pela integração na rede?

A tecnologia digital torna possível o antigo sonho de transcender o corpo humano. Assim, o

ciberespaço pode ser habitado por corpos com um novo invólucro de representação, entre a subjetividade

e a materialidade. Temos que deixar a nossa própria pele para chegar a uma referência comum de

perceção. Os papéis do ator, do autor e da plateia tendem a misturar-se. A cultura digital não significa

mais uma tecnologia de reprodução, mas a produção imediata. Enquanto no passado a fotografia dizia

“era assim”, congelando um instante, a imagem digital diz no presente “é assim”, unindo o ato real, o

teatro, o aqui e agora. O teatro digital permite que a imagem se altere de uma configuração para outra,

atual e virtual, deixando-a em diversos planos: um ícone da síntese que sempre será Humano.”

Mas o conceito de teatro digital não se esgotou

na ideia presente no manifesto dos Fura Del Baus.

Assistimos, a partir de então, a uma profusão de

definições sobre o que é o teatro digital. Parte das

conceções sobre o que é o teatro digital remete para

a ideia de conciliação entre o teatro tradicional e as

possibilidades abertas pelo digital, mas implicando

sempre a presença em simultânea de atores e

espetadores, pese embora o recurso a processos de

realidade virtual e de computação.

Mas na linha do manifesto dos Furos DEl Buas, há Teatro digital - Disponível na Internet em:

http://operaaragon.blogspot.pt/2012_07_01_archive.html

Disponível na Internet em: http://www.brasildefato.com.br/node/6339

Page 44: Área de Competências-Chavecqepdesantotirsodoaetp.yolasite.com/resources/NG1 EST - DR4... · a mecanização geral da indústria, os caminhos de ferro e a indústria naval movida

Página 44 de 46

quem pense que ainda podemos falar de teatro mesmo se e quando os espetadores e atores deixam de

estar presencialmente em contacto, com acontece quando falamos de “virtual theatre” (teatro virtual),

“desktop theatre”, “telematic art” (arte telemática), “Telematic Performance Work” (trabalho de

performance telemática) e “Live Art” (arte ao vivo) - os dois primeiros relacionados com o que

conhecemos como jogos eletrónicos, os três últimos ligadas ao uso da internet e ligados à vasta área da

performance.

O que foi dito remete-nos para duas posições antagónica. Uns, os grandes adoradores das tecnologias,

defendem que o teatro tradicional acabou. Outros, mais conservadores afirmam que aquilo a que alguns

chamam de teatro digital, na verdade deixou de poder ser chamar de teatro. A primeira é escutada

normalmente da boca dos amantes da tecnologia, impressionados com as possibilidades que o elemento

digital abre hoje às nossas vidas, especialmente no campo das artes e comunicações; a segunda vem do

extremo oposto, dos puristas que se negam ao uso das novas tecnologias oriundas da digitalização por

elas supostamente “mancharem” aquilo que é tradição de séculos. Quem estará correto?

In Foletto, Leonardo. (2011) Efêmero Revisitado Conversas sobre teatro e cultura digital.ehttp://www.articaonline.com/wp-

content/uploads/2013/06/Efemero-Revisitado-Conversas-sobre-teatro-e-cultura-digital.pdf

Teatro digital

O teatro foi a última das artes a perceber que somos todos(@s) feitos de 0 e 1. A música já era mp3, o

cinema avi, os livros pdf e as fotos e quadros jpg quando,

enfim, os atores sobre um palco diante de um público se

viram representados por avatares feitos de dígitos. Estão

ali atores, palco e público, cada um num espaço e num

tempo, na mais complexa das manifestações artísticas já

produzidas por humanos. As 11 artes misturadas.

O espetador normalmente não pensa nesses termos

quando repete o gesto já habitual de apertar play num

vídeo transmitido ao vivo na internet. Para ele são

apenas indivíduos algures com uma câmara em punho a

disponibilizar na rede, em tempo real, o que as

câmaras vão gravando. Digitalizar a presença – e

portanto questioná-la, relativizá-la, expandi-la – foi o

que emancipou a cena dos seus limites físicos.

Limites. Amarras. Finitude. Controle. Até ao século vinte o teatro era (só) assim. Na segunda metade

da primeira década deste nosso novo milénio, começou, então, a falar-se em teatro digital. Será este o

termo mais adequado para nos referirmos a esta novidade? Porque não Teatralidade? Ou Audiovisual?

Nem sempre é possível estabelecer definidamente categorizações e neste tempo de incertezas tão

interessante quanto desesperante, a única certeza e a de que estamos perante uma situação

manifestamente nova.

Pretti, Lucas. (2011) in Foletto, Leonardo. (2011) Efêmero Revisitado Conversas sobre teatro e cultura

digital.ehttp://www.articaonline.com/wp-content/uploads/2013/06/Efemero-Revisitado-Conversas-sobre-teatro-e-cultura-digital.pdf

Teatro digital - Disponível na Internet em: http://www.elhype.com/es/hacia-una-escena-global-y-digital

Teatro digital - Disponível na Internet em: http://www.elhype.com/es/hacia-una-escena-global-y-

digital

Page 45: Área de Competências-Chavecqepdesantotirsodoaetp.yolasite.com/resources/NG1 EST - DR4... · a mecanização geral da indústria, os caminhos de ferro e a indústria naval movida

Página 45 de 46

Civilização

(…)

Era ele, de todos os homens que conheci, o mais

complexamente civilizado — ou, antes, aquele que se

munira da mais vasta soma de civilização material,

ornamental e intelectual. Nesse palácio (floridamente

chamado o Jasmineiro) que o seu pai, também Jacinto,

construíra sobre uma honesta casa do século XVII,

assoalhada a pinho e branqueada a cal — existia, creio

eu, tudo quanto para bem do espírito ou da matéria os

homens têm criado, através da incerteza e dor, desde que

abandonaram o vale feliz de Septa-Sindu, a Terra das

Águas Fáceis, o doce país ariano. A biblioteca — que em

duas salas, amplas e claras como praças, forrava as

paredes, inteiramente, desde os tapetes de Carmânia até

ao teto, donde, alternadamente, através de cristais, o sol e

a eletricidade vertiam uma luz estudiosa e calma —

continha vinte e cinco mil volumes, instalados em ébano,

magnificamente revestidos de marroquim escarlate. Só sistemas filosóficos (e com justa prudência, para

poupar espaço, o bibliotecário apenas colecionara os que irreconciliavelmente se contradizem) havia mil e

oitocentos e dezassete!

Uma tarde que eu desejava copiar um ditame de Adam Smith, percorri, buscando este economista ao

longo das estantes, oito metros de economia política! Assim se achava formidavelmente abastecido o meu

amigo Jacinto de todas as obras essenciais da inteligência — e mesmo da estupidez. E o único

inconveniente deste monumental armazém do saber era que todo aquele que lá penetrava, inevitavelmente

lá adormecia, por causa das poltronas, que, providas de finas pranchas móveis para sustentar o livro, o

charuto, o lápis das notas, a taça de café, ofereciam ainda uma combinação oscilante e flácida de

almofadas, onde o corpo encontrava logo, para mal do espírito, a doçura, a profundidade e a paz estirada de

um leito.

Ao fundo, e como um altar-mor, era o gabinete de trabalho de Jacinto. A sua cadeira, grave e abacial, de

couro, com brasões, datava do século XIV, e em torno dela pendiam numerosos tubos acústicos, que, sobre

os panejamentos de seda cor de musgo e cor de hera, pareciam serpentes adormecidas e suspensas num

velho muro de quinta. Nunca recordo sem assombro a sua mesa, recoberta toda de sagazes e subtis

instrumentos para cortar papel, numerar páginas, colar estampilhas, aguçar lápis, raspar emendas, imprimir

datas, derreter lacre, cintar documentos, carimbar contas! Uns de níquel, outros de aço, rebrilhantes e frios,

todos eram de um manejo laborioso e lento: alguns, com as molas rígidas, as pontas vivas, brilhavam e

feriam: e nas largas folhas de papel Whatman em que ele escrevia, e que custavam quinhentos réis, eu por

vezes surpreendi gotas de sangue do meu amigo. Mas a todos ele considerava indispensáveis para compor

as suas cartas (Jacinto não compunha obras), assim como os trinta e cinco dicionários, e os manuais, e as

enciclopédias, e os guias, e os diretórios, atulhando uma estante isolada, esguia, em forma de torre, que

silenciosamente girava sobre o seu pedestal, e que eu denominara o Farol. O que, porém, mais

completamente imprimia àquele gabinete um portentoso carácter de civilização eram, sobre as suas peanhas

de carvalho, os grandes aparelhos, facilitadores do pensamento — a máquina de escrever, os autocopistas,

o telégrafo Morse, o fonógrafo, o telefone, o teatrofone, outros ainda, todos com metais luzidios, todos com

longos fios. Constantemente sons curtos e secos retiniam no ar morno daquele santuário. Tique, tique,

tique! Dlim, dlim, dlim! Craque, craque, craque! Trrre, Trrre, Trrre!... Era o meu amigo comunicando.

Todos esses fios mergulhados em forças universais transmitiam forças universais. E elas nem sempre,

desgraçadamente, se conservavam domadas e disciplinadas! Jacinto recolhera no fonógrafo a voz do

Retrato de Eça de Queirós, autor do conto “Civilizaão”. Imagem disponível na Internet em:

http://www.estudopratico.com.br/biografia-e-obras-de-eca-de-queiros/

Page 46: Área de Competências-Chavecqepdesantotirsodoaetp.yolasite.com/resources/NG1 EST - DR4... · a mecanização geral da indústria, os caminhos de ferro e a indústria naval movida

Página 46 de 46

conselheiro Pinto Porto, uma voz oracular e rotunda, no momento de exclamar com respeito, com

autoridade:

— Maravilhosa invenção! Quem não admirará os progressos deste século? Pois, numa doce noite de S.

João, o meu supercivilizado amigo, desejando que umas senhoras parentas de Pinto Porto (as amáveis

Gouveias) admirassem o fonógrafo, fez romper do bocarrão do aparelho, que parece uma trompa, a

conhecida voz rotunda e oracular:

— Quem não admirará os progressos deste século? Mas, inábil ou brusco, certamente desconcertou

alguma mola vital — porque de repente o fonógrafo começa a redizer, sem descontinuação,

interminavelmente, com uma sonoridade cada vez mais rotunda, a sentença do conselheiro:

— Quem não admirará os progressos deste século? Debalde Jacinto, pálido, com os dedos trémulos,

torturava o aparelho. A exclamação recomeçava, rolava, oracular e majestosa:

— Quem não admirará os progressos deste século? Enervados, retirámos para uma sala distante,

pesadamente revestida de panos de Arrás. Em vão! A voz de Pinto Porto lá estava, entre os panos de Arrás,

implacável e rotunda:

— Quem não admirará os progressos deste século? Furiosos, enterrámos uma almofada na boca do

fonógrafo, atirámos por cima mantas, cobertores espessos, para sufocar a voz abominável. Em vão! Sob a

mordaça, sob as grossas lãs, a voz rouquejava, surda mas oracular. — Quem não admirará os progressos

deste século? As amáveis Gouveias tinham abalado, apertando desesperadamente os xales sobre a cabeça.

Mesmo à cozinha, onde nos refugiámos, a voz descia, engasgada e gosmosa:

— Quem não admirará os progressos deste século? Fugimos espavoridos para a rua. Era de madrugada.

Um fresco bando de raparigas, de volta das fontes, passava cantando com braçados de flores: Todas as

ervas são bentas. Em manhã de S. João... Jacinto, respirando o ar matinal, limpava as bagas lentas do suor.

Recolhemos ao Jasmineiro, com o sol já alto, já quente. Muito de manso abrimos as portas, como no receio

de despertar alguém. Horror! Logo da antecâmara percebemos sons estrangulados, roufenhos: «admirará...

progressos... século!... » Só de tarde um eletricista pôde emudecer aquele fonógrafo horrendo.

(…)

EÇA DE QUEIRÓS, Civilização (Excerto)

Poderá aceder à versão integral do conto Civilização de Eça de Queirós em: http://cdn.luso-

livros.net/wp-content/uploads/2013/06/Contos.pdf, onde estão disponíveis outros contos do mesmo

autor. Estes contos ao abrigo do Código do Direito de Autor e dos Direitos Conexos, artigo 31.º), já se

encontram sob domínio público (70 anos após a morte do autor).