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7/13/2019 Arlindo Silva - A Fantástica História de Silvio Santos http://slidepdf.com/reader/full/arlindo-silva-a-fantastica-historia-de-silvio-santos 1/99 ile:///C|/Documents and Settings/Administrador/Meus documentos/livros/Arlindo Silva - A Fantástica História de Silvio Santos.TXT fantástica história de SILVIO SANTOS rlindo Silva a edição ados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil) Silva, Arlindo Fantástica História de Silvio Santos / Arlindo Silva; - São Paulo : Editora do Brasil, 2002. BN 85-10-03063-4 Santos, Silvio 2. Televisão - Brasil - História I. Título 02-0462 CDD-927.9145 dices para catálogo sistemático: 1. Apresentadores de programa : Televisão : Bibliografias 927.9145 a edição / 1a impressão OPYRIGHT 2002 rlindo Silva ) Editora do Brasil iretora Executiva aria Lúcia Kerr Cavalcante Queiroz erente Editorial ro Takahashi Coordenação Editorial Wladyr Nader Iconografia Monica de Souza (coordenação), Ana Claudia Fernandes e Rosa André Coordenação de Artes e Editoração Raphael Barichello e Ricardo Borges Preparação de Textos Elis Abreu e Felipe Ramos Poletti Revisão de Textos Maria Alexandra O. Cardoso de Almeida e Vera Lúcia Pereira de Castro Projeto Gráfico e Capa Joca Reiners Terron e Ricardo Borges Foto de Capa João B. da Silva Editoração Eletrônica Departamento de Artes e Editoração Scanner e Tratamento de Imagens Alexandre Marcos Pereira mpresso na Unidade Gráfica da Editora do Brasil ua Conselheiro Nébias, 887 - São Paulo/SP - CEP: 01203-001 ile:///C|/Documents and Settings/Administrador/Meus docume.../Arlindo Silva - A Fantástica História de Silvio Santos.TXT (1 of 99)15/6/2006 08:35:06

Arlindo Silva - A Fantástica História de Silvio Santos

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    A fantstica histria de SILVIO SANTOSArlindo Silva1a edio

    Dados Internacionais de Catalogao na Publicao (CIP)(Cmara Brasileira do Livro, SP, Brasil) Silva, Arlindo A Fantstica Histria de Silvio Santos / Arlindo Silva; - So Paulo : Editora do Brasil, 2002.ISBN 85-10-03063-4 1. Santos, Silvio 2. Televiso - Brasil - Histria I. Ttulo 02-0462 CDD-927.9145ndices para catlogo sistemtico: 1. Apresentadores de programa : Televiso : Bibliografias 927.9145

    1a edio / 1a impressoCOPYRIGHT 2002Arlindo Silva(c) Editora do Brasil

    Diretora ExecutivaMaria Lcia Kerr Cavalcante QueirozGerente EditorialJiro Takahashi

    Coordenao Editorial Wladyr Nader Iconografia Monica de Souza (coordenao), Ana Claudia Fernandes e Rosa Andr Coordenao de Artes e Editorao Raphael Barichello e Ricardo Borges Preparao de Textos Elis Abreu e Felipe Ramos Poletti Reviso de Textos Maria Alexandra O. Cardoso de Almeida e Vera Lcia Pereira de Castro Projeto Grfico e Capa Joca Reiners Terron e Ricardo Borges Foto de Capa Joo B. da Silva Editorao Eletrnica Departamento de Artes e Editorao Scanner e Tratamento de Imagens Alexandre Marcos PereiraImpresso na Unidade Grfica da Editora do Brasil

    Rua Conselheiro Nbias, 887 - So Paulo/SP - CEP: 01203-001

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    Tel.: (11) 222-0211 - Fax: (11) 222-5583

    Como conheci Silvio Santos 5A histria de Silvio Santos contada por ele mesmo 11A histria do Programa Silvio Santos 55A longa batalha pela conquista do primeiro canal de TV 65O dia em que Silvio Santos chorou 79O fim da Rede Tupi 93O sbt no ar 103O programa que abalou o Brasil 121Uma aventura no mundo poltico 127Grupo Silvio Santos: presente e futuro 139Dramas e Glrias em 2001 147Captulo Especial:A famlia Abravanel: uma histria que vem da Bblia 183

    Como conheciSilvio SantosComo conheci Silvio SantosA primeira reportagem com o doloNo palco e nos negciosDe camel a empresrioSolteiro ou casado?Um homem de sorte

    Conheci Silvio Santos em princpios de 1970, quando a diretoria de O Cruzeiro decidiu mandar-me de volta a So Paulo, aps 21 anos trabalhando no Rio de Janeiro, para dirigir a sucursal da revista. Em So Paulo, deparei-me com um fenmeno na televiso: era Silvio Santos, com um programa que fascinava o pblico nas tardes de domingo, e que, por incrvel que parea, era pouco conhecido no Rio. Explica-se: as redes de TV mal haviam comeado a operar. A Globo iniciara com o Jornal Nacional em 1o de setembro de 1969. Assim, os artistas do Rio eram pouco conhecidos em So Paulo e vice-versa. De modo que, chegando a So Paulo, vi-me diante de um dolo que empolgava os telespectadores. Parecia um Deus. Logo procurei entrar em contato com ele, imaginando fazer uma grande reportagem. Mesmo se tratando de O Cruzeiro, na poca a mais importante revista da Amrica Latina, que circulava em todos os pases de lngua espanhola e nos de lngua portuguesa, notei que Silvio desconfiou de minhas intenes.A verdade que ele tinha certa averso a jornalistas. Depois entendi o porqu. Era um crculo vicioso. Os jornalistas no gostavam dele, no o tratavam bem e muitos o consideravam cafona. Ele, por sua vez, no se abria com os jornalistas. Entrevistar Silvio era uma faanha. E ainda hoje o . Essa averso ao pessoal da imprensa era uma espcie de estado de esprito, que, depois, vim a constatar em quase todos os diretores do Grupo

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    Silvio Santos. Era uma guerra surda: quando um vendedor do carn do Ba batia porta de uma dona de casa e a enganava, empurrando um carn "premiado", os jornais abriam manchetes, porque o caso ia parar obrigatoriamente na polcia. A os jornalistas iam forra.Na verdade, passaram-se vrios meses at que eu conseguisse convencer o "patro" a fazer a reportagem. No dia em que fui ao auditrio da Rede Globo, na praa Marechal Deodoro, Silvio me entrevistou no ar, pedindo-me para explicar por que eu estava l. A explicao era bvia. Ele era um grande assunto e eu passei toda a minha vida profissional atrs de grandes assuntos.O Programa Silvio Santos era transmitido pela Rede Globo do meio-dia s 8 da noite, com uma srie de quadros musicais e concursos. O programa ia ao ar ao vivo. A correria nos bastidores era uma coisa maluca. A troca de cenrios era feita em trs ou quatro minutos. A equipe de produo era comandada por Luciano Callegari, e, caso ocorresse alguma falha no andamento do programa, Silvio no titubeava, chamando a ateno de Luciano no ar. Enquanto se dava a troca de cenrios, Silvio tomava caf com leite e torradas em um quartinho no fundo do palco. Era basicamente sua alimentao durante todo o decorrer do programa.Tambm fiquei conhecendo ali duas figuras, pode-se dizer, antolgicas do Programa Silvio Santos: Roque e Lombardi. O primeiro, Gonalo Roque, seu nome completo, uma espcie de curinga no programa: coordena as caravanas, comanda as palmas no auditrio e secretrio de palco do animador. Roque est com Silvio h 35 anos, desde os tempos da Rdio Nacional, na qual era porteiro. Luiz Lombardi marcou "presena" no programa pela sua voz. Nunca apareceu no vdeo e sua foto jamais foi vista em jornais ou revistas. A ordem do patro: no mostrar o rosto para conservar o mito. Lombardi est com Silvio desde 1966, quando o programa ainda passava na TV Paulista, depois Globo. A chamada de Silvio para o intervalo comercial (" com voc, Lombardi") faz parte da histria do programa. Alm da televiso, Lombardi tem um programa na Rdio ABC, de Santo Andr, onde reside.Fiz uma ampla reportagem em O Cruzeiro, de seis pginas, com o ttulo "O Fenmeno Silvio Santos". Ele ficou encantado e, acredito, surpreso, porque me mandou um carto, agradecido, dizendo que nunca nenhum jornalista lhe dera tal tratamento. At hoje guardo, em meus arquivos, esse carto, que dizia o seguinte: "Amigo Arlindo. Em nenhum momento um jornalista foi to amvel comigo. No esperava receber de voc tratamento to nobre. Mesmo de um profissional como voc, foi surpreendente a reportagem, to gentil. Muito obrigado. Silvio Santos. 27/4/71".Note-se: no fiz nada a mais do que contar, fielmente, o que vi e o que era o Programa Silvio Santos para o pblico de So Paulo. Sem falsear nada e sem nenhum exagero. A revista O Cruzeiro vendeu muitssimo em So Paulo. Vi que o homem era um filo de ouro como assunto. Fiz outras reportagens sobre ele e o programa, e a revista passou a vender mais em So Paulo do que no Rio de Janeiro, o que nunca ocorrera antes. Silvio estava contente, a direo de O Cruzeiro estava contente e eu, claro, estava contente tambm. A partir da propus fazer uma srie de reportagens contando a vida dele. Ele topou e, durante cerca de trs meses, dependendo do tempo de

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    que dispunha, gravamos a vida dele em um gravador enorme, do tamanho de uma mquina de escrever, se no me engano da marca Grundig. Essa histria rendeu dez captulos, um por semana. Depois disso nunca mais So Paulo deixou de superar o Rio de Janeiro na vendagem da revista.Abri a srie de reportagens com uma introduo intitulada "As Duas Vidas de Silvio Santos: no Palco e nos Negcios". Pela sua leitura, pode-se constatar que o principal escritrio de Silvio era sua prpria casa. Que os computadores estavam comeando a ser utilizados nas empresas do Grupo Silvio Santos, um pioneirismo para a poca. Que a secretria eletrnica, at ento privilgio de poucos, j estava a servio de Silvio Santos, que a transformara em uma importante colega de trabalho. Vale lembrar: isso acontecia h quase 30 anos. Silvio ainda no era dono de nenhum canal de televiso.

    Na poca em que fiz as gravaes para as reportagens de O Cruzeiro, Silvio Santos morava no bairro do Ibirapuera, regio de ricas residncias, tranqila e muito arborizada. O fundo da casa de Silvio dava para o Parque Ibirapuera, a mais bela rea verde da capital. A vida particular de Silvio era cercada de mistrio. Ele quase nunca era visto em locais pblicos. Fazia poucas viagens para o exterior. E havia a dvida sobre o fato de ele ser casado ou no. Na verdade era casado com Aparecida Honoria Vieira, a Cidinha, irm do empresrio Mario Albino Vieira, na poca presidente do Grupo Silvio Santos. Tinha duas filhas: Cntia e Silvia, de 6 e 2 anos respectivamente.Conhecer Cidinha, a esposa de Silvio, era de fato um privilgio dado a poucas pessoas. Um dia perguntei a ele por que escondia o fato de ser casado. Ele explicou: "Todo dolo tem de ter uma mstica em volta dele. Tem de dar margem a comentrios, dvidas, discusses. Veja o caso de Fidel Castro. Ningum sabe como a vida particular dele, se solteiro, casado, desquitado, ou se vive com alguma mulher. Tem de haver algum mistrio para manter a curiosidade popular".

    Da poca em que publiquei a histria de Silvio Santos em O Cruzeiro (1972) at hoje, passou-se uma gerao inteira. Na poca ele era "apenas" um grande animador de auditrio, que empolgava o pblico nas tardes de domingo. O primeiro canal de televiso s foi conquistado em 1975: a TVS, canal 11 do Rio de Janeiro. Por isso, no prximo captulo, vamos republicar toda a histria de Silvio Santos, contada por ele prprio revista O Cruzeiro, conservando nomes, fatos, datas e circunstncias da narrativa original. Desde o tempo em que ele brincava com carrinhos de rolem, nas ruas da Lapa. Por essa narrativa pode-se verificar que, em primeiro lugar, desde menino Silvio tinha um faro muito especial para ganhar dinheiro; em segundo lugar, que a sorte sempre andava ao lado dele. Sorte que esteve presente no dia em que ficou gripado e deixou de ir matin no cine OK, que se incendiou; assim como no dia em que o chefe do "rapa" o prendeu, por estar vendendo bugigangas na avenida Rio Branco, e o enviou para a Rdio Guanabara, porque achou que o garoto tinha boa voz e poderia ser locutor. A sorte tambm estava presente quando, de frias em So Paulo, ele estava parado na esquina da avenida So Joo com a Ipiranga, quando passou um

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    amigo, dos tempos da Rdio Tupi do Rio, e disse: "Silvio, na Rdio Nacional esto precisando de locutor. Por que voc no vai at l e faz um teste? Voc bom locutor". Silvio foi, fez o teste, passou, tornou-se locutor comercial da Rdio Nacional. E l conheceu Manoel de Nbrega.

    A HISTRIA DE SILVIO SANTOS CONTADA POR ELE MESMOO Menino Que Nasceu na Lapa

    A Lapa, decantada em prosa e verso por poetas, escritores e compositores, o corao sentimental do Rio de Janeiro. Ponto de encontro da bomia, recanto dos cabars e bares da madrugada, a Lapa est imortalizada em sambas e canes, como aquela de Benedito Lacerda e Herivelto Martins, que tanto sucesso fez no Carnaval de 50, quando o Rio ainda era a capital federal:"A LapaEst voltando a ser a LapaA LapaConfirmando a tradioA Lapa o ponto maior do mapaDo Distrito FederalSalve a Lapa"Naquelas ruas antigas, de casas centenrias com fachadas revestidas de azulejos, vive uma gente humilde, porque a Lapa, o que tem de bonita e tradicional, tem de pobre e, pela sua fama, no atrai gente de posses. Foi na velha Lapa, o "bairro das quatro letras, que at um rei conheceu", que nasceu Silvio Santos. Ali existe uma ruela chamada Travessa Bentevi. Se o reprter fosse fatalista diria que o nome da pequena rua era proftico e que o menino que ali nasceu tinha de ser, forosamente, inquieto e falante como o bem-te-vi. Essa ruela fica entre a avenida Henrique Valadares e a rua do

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    Senado, na Vila Rui Barbosa, mas a casa onde Silvio Santos nasceu no existe mais.O pai de Silvio chamava-se Alberto Abravanel. A me tinha o nome bblico de Rebeca, sobrenome Caro. Ele era grego, natural de Salnica. Ela, turca, de Esmirna. Conheceram-se no Rio de Janeiro. O verdadeiro nome de Silvio Santos, aquele que consta do seu registro de nascimento, Senor Abravanel. A data de nascimento 12 de dezembro de 1930. Na famlia, ao todo so seis irmos, trs homens e trs mulheres. Os homens so: Henrique, o mais novo; Lo (Leon) e o Silvio, o famoso Silvio Santos, dolo do pblico e um dos mais ativos empresrios deste pas. As mulheres so: Beatriz, a mais velha, Perla e Sara (Sarita). O Lo foi sempre o mais chegado a Silvio, na infncia e na juventude. Henrique, o irmo mais novo, nasceu quando Silvio Santos j era menino. Assim, as peraltices, os jogos e os brinquedos de Silvio sempre tiveram a participao de Lo."Lembro-me de que, no tempo de menino, com 11 ou 12 anos, nosso divertimento preferido, porque era emocionante, consistia em entrar nos cinemas de graa, usando de todos os artifcios possveis", conta Silvio. "Os cinemas preferidos eram o Capitlio, o Rex, o Odeon, o Vitria, todos na Cinelndia, onde outrora palpitava a vida noturna do Rio de Janeiro. No cine Vitria entrvamos normalmente sem pagar, porque conhecamos o porteiro, o bom Vieira. No Rex, passvamos por baixo da roleta, na rua lvaro Alvim. No Capitlio, ns nos escondamos atrs das poltronas situadas junto s sadas laterais, aproveitando o instante em que o pessoal deixava as sesses. No Odeon, infiltrvamo-nos entre o pblico que saa e caminhvamos em sentido contrrio, andando para dentro do cinema... Isso aconteceu h muitos anos e so essas coisas que nos fazem sentir uma saudade imensa da infncia.""O dinheiro que economizvamos com o cinema era gasto com balas de figurinhas para colecionar. Naquele tempo havia as balas Fruna, famosas na poca porque davam prmios aos garotos colecionadores. Era uma verdadeira mania colecionar e trocar figurinhas. Lembro-me, tambm, como se fosse hoje, que eu e o Lo ramos alucinados por uma fita em srie que estavam passando no cine OK, cujo ttulo era O Vale dos Desaparecidos. Todas as quintas-feiras eram ansiosamente esperadas por causa da sesso da tarde, quando passavam os captulos do seriado. Para esse dia eu e Lo economizvamos dinheiro, porque no podamos correr o risco de no poder entrar de carona, e era preciso chegar bem cedo para pegar lugar no cinema, que sempre ficava repleto de garotos. Alm disso, no cine OK nossa pilantragem no dava certo, porque o porteiro e o guarda de servio j nos conheciam de outras paragens... Mas foi em relao ao cine OK que aconteceu um fato que me impressionou muito, e que talvez tenha sido a primeira manifestao da sorte, que, graas a Deus, sempre tive. O fato foi o seguinte: em uma daquelas quintas-feiras do seriado eu fiquei resfriado, febril, e minha me no nos deixou ir ao cinema. Fiquei arrasado, chorei, pedi, supliquei, mas minha me foi intransigente. Com febre no me deixaria sair de maneira alguma. Pois naquele dia o cine OK pegou fogo. No chegou a ser uma catstrofe, mas muitas crianas e jovens ficaram feridos com a correria que se estabeleceu. Quando eu soube que havia escapado - quem sabe? - de morrer ou de ficar ferido, corri para os braos de minha

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    me e cobri-a de beijos. A ela, talvez, eu deva o fato de ainda estar vivo, porque ningum poder dizer que eu ou meu irmo no teramos morrido na matin daquela tarde."

    Quando o pai de Silvio, Alberto Abravanel, ficou moo, fugiu de Salnica, na Grcia, para no servir no Exrcito turco. Partiu para Atenas, onde foi jornaleiro. Sem perspectivas de futuro, pegou um navio e desembarcou em Marselha para tentar a vida. Era uma espcie de camel. Vendia pistaches e amendoim em locais pblicos, o que era proibido. Acabou preso e expulso da Frana. Ento pegou um navio e desembarcou no Rio de Janeiro. Como falava vrios idiomas, foi trabalhar no porto como intrprete e at como guia de turistas. Com o dinheiro economizado abriu uma lojinha na praa Mau, de frente para o cais. Era uma lojinha de artigos para turistas, que vendia bandejas com borboletas incrustadas, peas de artesanato em madeira, colares de pedras coloridas, entre outras coisas. Negociava muito com os tripulantes dos navios, que compravam aqueles artigos para revend-los em outros pases, tal como faziam quando aportavam no Rio de Janeiro.Mas o infortnio bateu porta da famlia Abravanel. "Seu" Alberto tinha se viciado no jogo. Silvio conta: "Era um drama porque o que ele ganhava na loja de dia, gastava de noite no cassino. Acabou perdendo a lojinha da praa Mau. Eu tinha 14 anos naquela poca e estava cursando o 2o ano de Contabilidade na Escola Amaro Cavalcanti. Aborrecido com a situao, sa da escola e comecei a me virar. Depois de dois meses, voltei s aulas. J ganhava algum dinheiro apostando nos caras que jogavam sinuca nos bares da Lapa. Eu conhecia o taco de cada um e quase sempre ganhava dos apostadores estranhos. Era proibida a presena de menores nos sales de sinuca, mas eu ficava escondido atrs de uma geladeira grande, que separava o salo de jogo do bar, e, assim, ningum me via fazendo apostas. Meu pai sabia disso, mas fazia de conta que no sabia de nada. Ele era muito camarada, gostava dele. Minha me, sim, era brava. Eu apanhava dela. Ela dizia: 'Vai ter de trabalhar, seno no vai ter o qu comer, e ainda vai apanhar mais'. Foi ento que resolvi ser camel. J havia dado umas olhadas nos camels da avenida Rio Branco e da rua Uruguaiana, e cheguei concluso de que no seria difcil vender aquelas bugigangas"."Como me Tornei Camel"No s nas brincadeiras e nas travessuras Silvio e Lo eram companheiros inseparveis. Tambm nos estudos. Freqentavam, juntos, a Escola Primria Celestino da Silva, na rua do Lavradio, perto de onde moravam. (Nessa poca haviam mudado para a rua Gomes Freire.) A primeira professora dos dois chamava-se Alda Pssego. A segunda, Ruth. Terminado o primrio, estudaram na Escola Tcnica de Comrcio Amaro Cavalcanti, no largo do Machado, onde Silvio Santos se formou em Contabilidade. J nessa poca, Silvio exercia a atividade de camel na avenida Rio Branco. Mesmo sendo um estudante, ele achava que deveria ter um emprego e no podia viver custa dos "velhos". E, aps verificar que nas casas comerciais e nas reparties pblicas os salrios eram muito baixos, ps-se a imaginar uma infinidade de maneiras de ganhar dinheiro sem muito trabalho e em grande quantidade. E foi andando pela avenida Rio Branco que,

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    inesperadamente, surgiu a soluo para esse grave problema: o do emprego bem-remunerado. Estvamos, ento, no Brasil, na poca das primeiras eleies aps a queda de Getlio Vargas. Ele foi deposto, como todos se recordam, em 1945, e as eleies para presidente da Repblica, buscando o sucessor de Getlio, foram marcadas para 1946. Fazia 15 anos que no se votava no Brasil, desde que Getlio subira ao poder, em 1930. Havia, por isso, entre a populao, aquela euforia pela primeira eleio aps o Estado Novo. Os candidatos eram o marechal Eurico Gaspar Dutra e o brigadeiro Eduardo Gomes, o primeiro lanado pelo PSD com apoio do prprio Getlio, e o segundo pela UDN e pelas foras antigetulistas. Em torno desses dois nomes a opinio pblica estava galvanizada. Vieram as eleies. Ganhou o marechal Dutra, como se sabe, quando milhares de pessoas apostavam tudo no brigadeiro. Foi uma eleio empolgante. E foi por causa dela que Silvio Santos se tornou camel. Como? "Eu ia passando pela avenida Rio Branco quando vi um homem gritando, vendendo capinhas de plstico para colocar os ttulos de eleitor. Ele vendia aquilo com enorme facilidade. Todo mundo comprava aqueles porta-ttulos por 5 cruzeiros. Quando o camel acabou de vender uma remessa de carteirinhas, sa atrs dele, de mansinho, para ver onde ele ia buscar mais. Ele comprava as carteiras no atacado, em uma loja da rua Buenos Aires. E ganhava mais de 50% com a venda aos transeuntes, na avenida. Assim que ele se afastou da loja, entrei e comprei uma carteirinha por 2 cruzeiros. Vendi-a na avenida dizendo que era a ltima. Fui buscar mais duas. Coloquei uma no bolso e sacudi a outra no ar dizendo que era a ltima. Vendi-a rapidamente. Em seguida, dei alguns passos, disfarcei, demorei alguns instantes e tirei outra do bolso: ergui-a e disse que era a ltima. Vendia sem demora. Ento fui at a loja fornecedora e comprei outras. Vendi todas. Depois, mais e mais. E foi assim que me tornei camel. Dizem at que aquela moeda de 2 cruzeiros com a qual comprei a primeira carteirinha foi a moeda do Tio Patinhas. Meu ponto preferido, como camel, era a avenida Rio Branco, esquina da Sete de Setembro ou Ouvidor.""Naquela poca fiquei sabendo que havia apenas 12 ou 13 pessoas vendendo na rua. Mas vendiam mercadorias de m qualidade: 'Olha a bola de gude, olha o tecido, olha o anel'. Achei que, sendo um estudante, no ficava bem vender usando aquele mtodo to primitivo, to sem classe. Foi quando descobri 'seu' Augusto, o alemo das canetas. 'Seu' Augusto ficava parado l na avenida Rio Branco, perto da Getlio Vargas, vendendo canetas. Mas s trabalhava uma hora por dia. Chegava, armava sua banquinha, dessas de abrir e fechar, e comeava a falar com o pblico. De repente havia aglomerao em sua volta, e ele falava das canetas, explicava como funcionavam, falava, falava, dava o preo... Em um instante esgotava o estoque. Se outro camel pegava as mesmas canetas, no conseguia vender nada, no tinha aquela facilidade de conversar que o 'seu' Augusto tinha. Foi quando eu pensei: a tem coisa. E fui espionar o trabalho do alemo das canetas. Ele vendia 100, 200 canetas em uma hora. Os outros camels, em sete ou oito horas, s conseguiam vender meia-dzia. 'Seu' Augusto era considerado o melhor camel do Rio de Janeiro. Ento, tomei aquilo como um desafio. Todo dia ia ver o 'bicho-de-sete-cabeas' trabalhando. Ele me via, sabia que eu estava ali aprendendo com ele, mas no se incomodava, porque muitos j

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    haviam feito a mesma coisa e ningum conseguia vender como ele. Depois de uns dias vendo 'seu' Augusto trabalhar, fui a um atacadista, comprei as canetas, mandei fazer uma banqueta igual do alemo e me postei na esquina da avenida Rio Branco com a Sete de Setembro. Como eu achava que conquistar o pblico s na fala seria um pouco difcil, aprendi algumas manipulaes de moedas e de baralhos. Quando eu comeava com aquelas manipulaes, com aquelas mgicas, primeiro paravam umas crianas e ficavam olhando. Depois vinham os desocupados. Por fim, toda gente. E eu l, garoto bem falante, comeava a apregoar as qualidades das canetas, a explicar o seu funcionamento, como se montava ou desmontava, como se substitua a bombinha de borracha ou a pena. E dava o preo. Nos primeiros dias eu vendia de 50 a 60 canetas, mas em pouco tempo passei a vender mais que o 'seu' Augusto. Por diversas vezes os jornais publicaram reportagens sobre o garoto que conseguia prender diante de si um pblico enorme. Em minhas mgicas eu fazia moedas sumirem entre meus dedos, tirava dedal da orelha, tirava botes do nariz das pessoas. Trabalhava das onze ao meio-dia, horrio em que o guarda ia almoar. Eu tinha realmente poder de comunicao. E com esse poder de comunicao ganhava por dia o equivalente a quase cinco salrios mnimos, que naquele tempo era de 200 cruzeiros antigos. Da em diante nunca mais me faltou dinheiro. Ganhava at mais do que precisava. At para minha me 'emprestei' dinheiro quando ela precisava. Claro que eu nunca cobrava dela.""Eu tinha um 'farol', meu companheiro de trabalho. Era o Pedro Borboleta, sobrinho do Adolpho Bloch, o dono da Manchete. O 'farol' era a pessoa que ficava ao meu lado, fingindo que comprava as bugigangas, para animar o pblico. Vrias vezes o 'rapa' me pegou. A, eu perdia tudo, mas depois comeava tudo de novo..."O "Rapa" Chegou e Silvio No Fugiu a TempoAlm do "farol" Pedro Borboleta, Lo, irmo de Silvio, passou a ajud-lo na difcil (e arriscada) atividade de camel. Enquanto Silvio ficava gritando e vendendo suas bugigangas, Lo ficava alerta, de olho vivo, para avisar da chegada do "rapa"."Quando os guardas davam muito em cima do nosso ponto preferido, mudvamos por alguns dias. Deixvamos a 'sopa' que era a Rio Branco, esquina com a Ouvidor, e amos vender nossas mercadorias nas ruas Uruguaiana ou Gonalves Dias, s vezes na Cinelndia, outras vezes no largo So Francisco. Uma vez, tentando alertar-me pela aproximao do 'rapa', o Lo foi agarrado por um guarda, mas logo solto porque mostrou que no tinha bugiganga nenhuma em seu poder."Mas se eram bons amigos e companheiros, tanto nos divertimentos como na camelotagem, Silvio e Lo tinham, tambm, suas brigas. E, s vezes, dessas brigas saam at ferimentos de ambos os lados. Certo dia, por exemplo, os pais tinham sado. Silvio e o irmo inventaram de brincar de bandido e mocinho. Lo subiu em uma cadeira para apanhar o revlver de plstico, que estava em cima do guarda-roupa, presente que recebera de sua madrinha. Silvio subiu em outra cadeira e, na disputa para ver quem apanhava o revlver, empurrou Lo, que caiu e quebrou um brao. Tanto Silvio quanto Lo jogavam botes e participavam de peladas com outros garotos das vizinhanas. Um detalhe: Silvio no gostava que Lo fumasse. Certa vez Lo estava no cine Colonial, na Lapa, fumando, quando Silvio apareceu e deu-lhe um cascudo

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    to forte que o machucou. Mas entre os dois sempre houve diferena de comportamento. Lo sonhava ser piloto. Tinha loucura por avies e vivia torcendo para que estourasse uma nova guerra, porque achava que, assim, teria chance de se tornar aviador. Silvio sempre teve o dom de falar. Sua carreira de animador, pode-se dizer, teve como ponto de partida sua atividade de camel na avenida Rio Branco. Foi dali, de seu ponto de camelotagem, que ele partiu para a sua primeira experincia no mundo artstico, como locutor de rdio. Tudo porque um belo dia apareceu o 'rapa' e Silvio Santos no conseguiu fugir a tempo.Silvio Entra no Rdio, Deixa o Rdio e Volta a Ser CamelCerta vez Silvio e Lo fizeram um patinete de sociedade. Lo arranjou as tbuas, os pregos e os eixos e Silvio as quatro rolems, algo difcil naquele tempo. Em uma ladeira perto da rua Gomes Freire, onde moravam, uma ambulncia que passava a toda quase atropelou os dois meninos. "Seu" Alberto apareceu na hora H, a ponto de "ver" os filhos atropelados. Deu um grito, que foi ouvido em toda a vizinhana, e fechou os olhos. Quando olhou novamente viu os dois garotos de olhos arregalados, assustados, com o patinete nas mos, brancos como papel, como se tivessem visto a morte em pessoa. Por sorte, o motorista da ambulncia dera uma guinada violenta, livrando os meninos do atropelamento certo. Para pagar o enorme susto pregado em "seu" Alberto, Silvio e Lo foram levados de volta para casa, debaixo de chineladas, percorrendo uma distncia de cerca de duzentos metros. Nunca mais ningum andou de patinete naquela casa, pois "seu" Alberto destruiu o brinquedo. No queria que seus filhos viessem a correr outros riscos, como aquele, acabando debaixo de um automvel ou de um caminho, ao p da ladeira.Silvio, na opinio de Lo, "foi o melhor camel que o Rio conheceu naqueles tempos". Muito vivo, muito comunicativo, simptico, bom garoto, e com uma vantagem: era estudante e fazia daquilo um meio de sustento, porque, muito orgulhoso, no queria viver s custa dos pais. Quando os guardas carregavam suas traquitandas, ele fazia um verdadeiro comcio, jogando o povo contra os guardas, usando sempre a mesma frase: "Eu sou menor de idade, vocs no podem me prender. Vocs deviam prender os marginais, os ladres, que esto soltos por a, e no eu, que estou trabalhando. Sou estudante e fao isso para comprar livros e pagar a escola".Muitas vezes os populares se sensibilizavam com o discurso de Silvio e iam falar com os guardas, para que liberassem as mercadorias do rapaz, que no era um malandro, mas um jovem estudante. Silvio conta: "At que um dia o diretor da fiscalizao da prefeitura, Renato Meira Lima, quis me levar para o Distrito, a fim de que eu no exercesse minha profisso de camel. Ele estava prendendo por vadiagem os camels do Rio de Janeiro. Mas quando ele me viu trabalhando, viu que eu tinha muito pouca idade, viu que eu falava regularmente, viu que eu era estudante, modificou seu pensamento a meu respeito. Em vez de me levar para o Juizado de Menores, deu-me um carto para que eu fosse procurar um amigo dele na Rdio Guanabara, Jorge de Matos, dono do Caf Globo. Eu fui at a Rdio Guanabara e, por coincidncia, l estava se realizando um concurso de locutores, do qual participavam, naquele tempo, cerca de 300 candidatos. Nesse concurso estavam inscritos rapazes que depois se tornaram

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    figuras famosas do mundo artstico, no rdio ou na televiso, como Chico Anysio, Jos Vasconcellos e Celso Teixeira. Fui o primeiro colocado nesse concurso e assim fui admitido como locutor. Era a primeira atividade artstica que eu exercia. Um mundo novo, diferente de tudo o que eu havia imaginado, me cercava. Mas o salrio que eles me pagavam era de apenas 1300 cruzeiros (um conto e trezentos) por ms. Como camel, eu ganhava, por dia, 960 cruzeiros. Eu tinha, evidentemente, que escolher: ou iniciava a linda profisso de locutor da Rdio Guanabara, ganhando um conto e trezentos por ms, ou continuava como camel, ganhando muito mais! Outro detalhe: na rdio eu era obrigado a trabalhar de quatro a cinco horas por dia. Como camel na avenida eu trabalhava apenas 45 minutos por dia, isto , o tempo exato que o guarda demorava para almoar. Eu sabia tudo a respeito do guarda. Seu horrio de almoo era das 11 s 11h45. Ele almoava em um bar na rua 7 de Setembro. O Lo ficava de olho no bar em que ele comia e, quando ele terminava, vinha correndo me avisar. Assim o servio rendia, era tranqilo e no oferecia riscos. Pensando em tudo isso, tomei minha deciso: fiquei na Rdio Guanabara apenas um ms. E voltei a ser camel".Colega de Trabalho e Macaco de Auditrio"Isso tudo aconteceu quando eu tinha 14 anos. Nessa poca havia dois grandes dolos no rdio: Csar de Alencar e Heber de Boscoli, marido da estrela Yara Salles. Eu gostava muito do Csar de Alencar. Ele sempre foi um homem que eu admirava, porque quando eu chegava escola - eu estava no ginsio naquele tempo -, as moas, na segunda-feira, s falavam nele. Eu tinha, assim, um pouco de cime do Csar, porque as meninas falavam muito nele e at pareciam apaixonadas por ele. Eu, ento, comecei a ouvir o Csar de Alencar na Rdio Nacional e realmente gostava do programa dele. Havia sbados em que eu ouvia o programa do comeo ao fim. Nessa poca eu tinha uma namorada na Guanabara, que chegou a ser minha noiva, e na casa dela s se ouvia o Csar de Alencar. Como eu ia para l aos sbados, ficava ouvindo tambm. Era, realmente, um animador do qual eu gostava. Havia outros animadores famosos na Guanabara, como o Aerton Perlingeiro, o Chacrinha, o Joo de Freitas, o Jorge Cury, o Carlos Frias, o Manoel Barcelos. Eu, como locutor, imitava o Osvaldo Luiz, que tinha a voz muito parecida com a do Carlos Frias. Eu gostava do Manoel Barcelos e fui ao seu programa vrias vezes. Tinha tempo para ir aos programas porque, como j disse, trabalhava como camel apenas 45 minutos por dia, no horrio de almoo do guarda. Depois, ficava com tempo livre e ia aos auditrios de rdio, principalmente os do Heber de Boscoli, que ficava perto do quartel-general dos camels. Os camels freqentavam um bar na praa Tiradentes, encostado ao Cine So Jos, e o programa de Heber de Boscoli com Yara Salles e Lamartine Babo era feito no Teatro Carlos Gomes, ali perto. Ento, como depois do almoo eu no tinha nada para fazer, ia ver as brincadeiras do Trem da Alegria, o programa de Heber, Yara e Lamartine, que marcou poca no rdio carioca como 'O Trio de Osso', porque os trs eram magricelas. Por essas razes consegui assimilar os estilos do Csar de Alencar e do Heber de Boscoli, apesar de serem dois estilos diferentes, no imitando um ou outro, mas observando como eles se comunicavam com o pblico. O Heber dizia: 'Quem que est com um sapato da Cedofeita no p?'. A todo mundo respondia: 'Eu, eu, eu!'. 'Quem que

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    trouxe talozinho?'. 'Eu, eu, eu!'. Ento, aquele bate-papo que o Heber de Boscoli tinha com o auditrio praticamente o bate-papo que hoje eu tenho com o auditrio e aquela maneira como o Csar de Alencar falava praticamente a maneira como eu falo hoje. Assim, o Heber de Boscoli e o Csar de Alencar tiveram muita influncia na minha vida profissional, na minha vida de animador de programas. Como se v, eu tambm freqentava os auditrios para aplaudir os dolos de ento, talvez mais interessado em fazer observaes de natureza profissional. Isso no quer dizer que eu no tenha sido, tambm, 'colega de trabalho', 'macaco de auditrio'.""s vezes me perguntam: e qual a origem do nome Silvio Santos? A coisa foi assim: minha me costumava chamar-me de Silvio, em vez de Senor. Um dia, quando fui entrar no programa de calouros do Jorge Cury, o Mario Ramos, produtor, perguntou o meu nome. 'Silvio', respondi. 'Silvio de qu?'. Eu disse: 'Silvio Santos - porque os santos ajudam'. Foi um estalo que me deu, uma coisa do momento, que pegou. Tambm foi uma maneira de disfarar, porque meu nome, Senor Abravanel, j estava muito 'manjado' nos programas de calouros, pois eu sempre ganhava alguma coisa. E ficou Silvio Santos at hoje, tanto que nas minhas malas de viagem eu coloco a etiqueta 'Silvio Santos Senor Abravanel'."Pra-quedista do Exrcito"Aos 18 anos chegou o momento de servir no Exrcito. Calculem onde fui servir? Em Deodoro, na Escola de Pra-quedistas, porque confesso que sempre fui amante de emoes fortes. Nesse perodo, de cabea raspada e aluno da Escola de Pra-quedistas, tive de 'maneirar' durante uns tempos nas minhas atividades de camel. Imaginem a 'cana' dura que seria se eu fosse pego vendendo bugigangas. No seria mais o guarda, at certo ponto camarada, o 'rapa', mas a Polcia Militar quem iria me prender. E da? Era preciso tomar cuidado, para no ir para o xadrez da Polcia Militar. Era preciso honrar a farda de soldado que eu estava vestindo, e digo isso sem demagogia porque, podem ver minha ficha na Escola de Par-quedistas, sempre fui um bom soldado. Tanto que durante o perodo em que l estive dei cinco saltos considerados bons, porque no me machuquei, no rasguei o pra-quedas, no torci o p nem tive medo de saltar. E, como nesse perodo eu no poderia ser camel na rua, devido minha 'posio social' de soldado pra-quedista, voltei para o rdio. Havia, naquele tempo, um programa de muita audincia, na Rdio Mau, comandado por Silveira Lima, um locutor dinmico, que mais parecia um cigano: nunca parava nos lugares em que trabalhava e estava sempre mudando de estao. No programa do Silveira Lima, o locutor principal era o Celso Teixeira, que o pblico tambm conhece bastante porque trabalhou em vrios programas de televiso em So Paulo, inclusive em programas meus. Pedi ao Celso Teixeira, que arrumasse algo para eu fazer ali. Confesso que estava meio saudoso do rdio, depois de uma ausncia prolongada. Na Escola de Pra-quedistas do Exrcito eu podia sair aos domingos. Ento comecei a trabalhar no programa do Silveira Lima, aos domingos, e de graa. No ganhava nada, mas fazia uma coisa que me agradava e que, em ltima instncia, me realizava. Era uma atividade condigna com a minha condio de pra-quedista do Exrcito. Com a vivncia que mantive, ento, com locutores, artistas, animadores, diretores da Rdio Mau, passei a encarar a profisso de radialista

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    sob outro aspecto, o da seriedade e o da nobreza. Assim, quando sa do Exrcito, j no podia mais voltar para a avenida Rio Branco para vender quinquilharias. J estava bem encaminhado dentro do rdio. Fora estimulado por vrios colegas e senti que tinha jeito para isso. Passei para a Rdio Tupi, acompanhando o Silveira Lima, que se transferira para aquela emissora."Em seu novo emprego Silvio Santos ganhava 2 contos por ms, mas no estava satisfeito, pois achava pouco para seus gastos, e "se virava" com cachs extras. Fazia figuraes na TV Tupi, mas continuava insatisfeito com o que ganhava e, de novo, sentiu vontade de camelotar. Mas, em vez de ir gritar na avenida, vendendo perfumes, cintos, canetas e bonecas de corda, Silvio encontrou outra soluo, pela qual ganharia mais dinheiro, com mais dignidade: passou a vender cortes de fazenda, relgios, jias, colares e sapatos sob medida, nas reparties pblicas, escritrios e obras. S ento passou a ganhar bem novamente. Trabalhava na rdio e se dedicava aos outros negcios nas horas vagas. At que deixou a Rdio Tupi e passou a ganhar bem novamente. Comeou a trabalhar na Rdio Continental, que possua estdios em Niteri.O Alto-falante na Barca de Niteri"Eu trabalhava na Continental das 22 horas at a meia-noite. Saa s pressas e tomava a ltima barca que deixava Niteri com destino ao Rio, mais ou menos meia-noite e quinze. Era uma tranqilidade aquele mar calmo e aquele luar refletindo na gua. Tambm havia muita mulher bonita nessa viagem da meia-noite. Eram bailarinas, que moravam no Rio e trabalhavam em Niteri. Como a ltima barca saa quela hora, elas deixavam os seus dancings e cabars e voltavam para casa, no Rio. Muitas se tornaram minhas amigas e batamos longos papos, durante os quais elas contavam seus dramas e se abriam contando problemas e anseios. Muitas eram empregadas no comrcio ou em bancos, e at mesmo em reparties, e para reforar seus salrios iam danar em Niteri ou fazer companhia aos fregueses que chegavam aos inferninhos para beber. Preferiam os bares e dancings de Niteri porque eles eram menos exigentes do que os do Rio e elas podiam ir dormir mais cedo devido ao trabalho no dia seguinte. Nessas viagens de Niteri para o Rio durante a noite, surgiu a idia de colocar msica na barca para animar um pouco as viagens. Pensei comigo: para colocar um servio de alto-falante na barca, precisava de dinheiro, e eu no tinha dinheiro, nem para comprar os amplificadores, nem os alto-falantes. Mas eu tinha de arrumar uma sada. Pedi demisso da Continental, onde tinha um ano e pouco de casa. Eles me pagaram as frias, me pagaram o ms de aviso prvio, o ano de indenizao e, com esse dinheiro no bolso, fui at uma casa que vendia eletrodomsticos, a J. Isnard, na esquina das ruas Buenos Aires com Andradas. Fiz um acordo com eles. Eles me ofereciam o alto-falante e eu, durante um ano, trabalharia para eles, fazendo anncios grtis do refrigerador Clmax, do qual eles eram revendedores exclusivos. Eles toparam. Ofereceram-me a aparelhagem, montei-a na barca e passei a ter quatro locutores, um dos quais era o Celso Teixeira, que trabalhava ao meu lado, em um perodo; o Lo, meu irmo, trabalhava em outro perodo. Eles ficavam nas barcas, dia e noite, trabalhando 18 horas, e eu parti para outra atividade: tornei-me corretor de anncios para esse servio de alto-falante. Como corretor de anncios de um servio de alto-falante

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    nas barcas da Cantareira, passei a ganhar mais do que como camel. Foi nesse momento que o esprito de camel morreu definitivamente dentro de mim. Nasceu, em seu lugar, um esprito muito mais forte: o de homem de negcios e dono de um empreendimento prprio."Bingo, Dana e Cerveja"Ao instalar o servio de alto-falante na barca, deixei de ser, portanto, locutor de rdio. E confesso que j no gostava de ser locutor, nem mesmo na barca, mesmo sabendo que estava trabalhando em um negcio meu. J estava, de fato, empolgado com a profisso de corretor de anncios e homem de negcios. Gostava de visitar clientes, conversar com eles para fazer transaes, oferecer meus servios, firmar contratos de publicidade. Nas horas do rush - de manh, ao meio-dia e tarde -, cada barca carregava cerca de duas mil pessoas, de modo que meus anncios tinham grande efeito, porque era a nica coisa que se podia ouvir durante o tempo de percurso, com intervalos de msicas. Nos sbados tarde, o servio de alto-falante no funcionava porque o movimento nesse dia, depois do almoo, era muito fraco, depois que fechava o comrcio no Rio de Janeiro e em Niteri. Ento, ns folgvamos aos sbados tarde. E folgvamos tambm aos domingos, porque nesse dia a barca ia para Paquet levar turistas. Naquele tempo, a viagem do cais do Rio at Paquet durava duas horas. Era uma daquelas velhas barcas, que nem sei se ainda funcionam. Hoje acredito que as barcas faam o mesmo percurso em uns 50 minutos. Naquele tempo elas saam do Rio s 7 horas da manh e retornavam s 7 horas da noite. Na barca iam grupos de pessoas, que se reuniam para fazer piqueniques em Paquet - um lugar realmente maravilhoso. Ento tive uma idia: como eu gostava muito de praia, passei a ir com a barca para Paquet. Passava l o dia, ia praia, andava de charrete e bicicleta, paquerava bea e, noite, voltava. Mas isso foi bom uma, duas, trs vezes. Depois o passeio tornou-se montono. Todo mundo ficava meio impaciente com a demora da viagem. Ento eu ligava o meu servio de alto-falantes, executando msicas para a viagem se tornar menos cansativa. Os passageiros gostavam muito. Verifiquei que enquanto a msica tocava, muita gente danava. Todo mundo se cansava e ficava com sede. Formava-se uma fila enorme para tomar gua no bebedouro da barca. O problema era que s vezes a gua acabava. Pensei muito naquilo e cheguei concluso de que dali poderia surgir um bom negcio. Achei que precisvamos colocar, alm da msica, um bar para vender refrigerantes e cerveja, para as pessoas tomarem quando a gua acabasse. E pus mos obra. Fui at a Companhia Antarctica e pedi que eles me emprestassem um balco de madeira, algumas tinas daquelas grandes de gelo, que ainda so usadas at hoje, e comecei a vender cerveja e guaran na barca. A venda ia bem, mas como eu j estava com vontade de ser animador, resolvi colocar um bingo dentro da barca. Cada pessoa que comprasse um guaran ou uma cerveja recebia uma cartela e um lpis para a marcao do bingo. No meio da viagem (para Paquet), eu parava a msica, parava o baile, o pessoal sentava nos bancos e comeava o bingo. E eu dava prmios. Quem fizesse a linha de cima ganhava uma bolsa de plstico. Quem fizesse a de baixo ganhava um quadro da ltima Ceia e quem fizesse a cartela inteira ganhava uma jarra que custava, naquele tempo, cerca

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    de 80 ou 100 cruzeiros. Todo mundo comeava a jogar. E, quanto mais jogava, mais comprava fichas de guaran e cerveja, para receber mais cartelas de bingo. O negcio cresceu tanto que eu me transformei no primeiro fregus da Antarctica no Rio de Janeiro, isto , o cliente que mais vendia refrigerantes e cerveja. Foi a que fiz amizade com o diretor da Antarctica, um paulista. Sendo amigo dele, quando a barca sofreu um acidente, teve o eixo quebrado e foi para o estaleiro, fiquei com meu negcio tambm parado. A barca devia ficar em reparos cerca de trs meses. Ento eu fui at a Antarctica avisar que, durante trs meses, no poderia fazer propaganda da companhia, porque meu bingo estava no estaleiro."O Primeiro Emprego em So Paulo"O diretor da Antarctica me convidou para ir a So Paulo fazer um passeio. Disse-me ele: 'Vamos a So Paulo, vou lhe mostrar a minha terra. Voc vai ver como a locomotiva que puxa todos esses vages'. Ele era um paulista bem bairrista. Eu, para no ser antiptico, j que ele fizera o convite com tanta gentileza e estava com muito boa vontade comigo, aceitei. Peguei um terno escuro que eu tinha e vim de automvel com o diretor da Antarctica. Fiquei hospedado em um hotel da rua Aurora, que fica no centro da cidade, em uma parte que hoje chamam de Boca do Lixo. Como o destino tem estranhos caminhos, certa noite eu estava na avenida Ipiranga, esquina da So Joo, no famoso Bar do Jeca, vendo aquele movimento de gente, quando encontrei um locutor paulista que havia trabalhado comigo na Rdio Tupi do Rio de Janeiro, ao qual eu tinha ajudado certa ocasio. Ele era muito tmido. Fazia o radiojornal comigo, de manh, e eu o ajudei no que pude. Ento, ali na esquina da Ipiranga com a So Joo, encontramo-nos, abraamo-nos, porque fazia tempo que no nos vamos, e ele perguntou se eu no era mais locutor. Contei que agora possua um servio de alto-falantes na barca de Niteri. Ele comentou que a Rdio Nacional estava precisando de locutores. Disse que o irmo do Jorge Cury ia se casar e sair. 'Voc pode ir at l fazer um teste. Eles esto procurando locutor h mais de 20 dias. J fizeram testes com uma poro de gente. Quem sabe voc faz o teste - voc bom locutor - e passa.' Eu disse que no ia fazer o teste, no, e perguntei se havia programas de calouros aqui. Ele disse: 'Tem o do Jayme Moreira Filho'. Perguntei se ele sabia qual era o prmio que eles davam. 'O principal de 200 cruzeiros', ele respondeu. Eu disse: 'Ah, ento eu vou ao programa de calouros e ganho os 200 cruzeiros, porque vou ter de ir embora daqui a uns poucos dias'.""Eu estava apenas esperando que o diretor da Antarctica regressasse ao Rio, para ir embora com ele. Quando fui me inscrever no programa do Jayme Moreira Filho, ele olhou para mim e disse: 'Voc j foi profissional no Rio de Janeiro. No pode se inscrever, no! Se quiser, fale com o Costa Lima, pois ele est precisando de locutor'.""Ento eu falei com o Costa Lima, mais de gozao, porque queria ver se ainda estava em forma. Topei fazer um teste para ver no que dava. Fiz o teste, passei e o Costa Lima falou: 'Voc fica trs meses de experincia, eu pago 5 mil cruzeiros por ms'.""Topei a parada. Em seguida, conversando com o irmo do Jorge Cury, que ia se casar e morava em uma penso, ele disse: 'Olha, voc faz uma coisa: fica os trs meses de experincia, eu vou sair da penso onde moro e voc pega o meu quarto. na Penso Maria Tereza,

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    na avenida Duque de Caxias. Eu pago 1.750 cruzeiros por ms, voc pagar isso tambm, e ainda fica com 3.300 cruzeiros para gastar aqui em So Paulo. Pode estar certo de que vai levar um vido'.""A eu achei a idia muito boa. Pensei: 'Fico aqui em So Paulo, conheo So Paulo por conta dos paulistas e ainda ganho 3.300 cruzeiros lquidos por ms'. Telefonei para minha me e disse: 'Olha, eu vou ficar aqui em So Paulo uns trs meses, porque arranjei um emprego para ficar s esse tempo'.""Mas como eu tinha montado um bar na barca de Niteri e j no era mais um simples bar de madeira, mas um bar de frmica, com ao inoxidvel, com motor, eu estava devendo. Naquele tempo aquele bar me custara 150 mil cruzeiros e o salrio que eu ganhava aqui em So Paulo era de 5 mil cruzeiros. O bar estava enferrujando, porque a maresia come at ao inoxidvel. Fiquei preocupado, porque o bar estava se perdendo no estaleiro, onde a barca estava em reparos. Fiquei pensando o que fazer com aquele bar e um dia, passando perto da Rdio Nacional, aqui em So Paulo, vi uma portinha, um salozinho e pensei: 'J que eu vou ter de ficar trs meses aqui em So Paulo, vou tirar o bar da barca, coloco-o aqui, arranjo um scio, ou ento vendo. Com isso pago tudo e fico sem dvidas. E, depois, se eu voltar para a Guanabara, monto um bar novo'. Assim pensando, arranjei um scio, trouxe o bar da barca para So Paulo e instalei-o na esquina da rua Ana Cintra com a Palmeiras, em frente igreja de Santa Ceclia."Quem trabalhava com Silvio no bar era ngelo Pessutti, cunhado de Hebe Camargo, casado com a irm dela, Maria de Lourdes. Mas Silvio no ficou com o bar por muito tempo. Resolveu desfazer-se dele para dedicar-se corretagem de anncios para a revistinha Brincadeiras para Voc, que ele acabara de lanar, alm de organizar shows em circos e continuar com seu trabalho na Rdio Nacional. Ento, vendeu o bar - que se chamava Nosso Cantinho - para ngelo Pessutti, que ficou com ele por cerca de dez anos.Silvio Santos assinou seu primeiro contrato com a Rdio Nacional em 1954, exercendo a funo de locutor, com salrio de CR$ 5.000,00 (cinco mil cruzeiros). Silvio Santos, Artista de Circo"Comecei a trabalhar como locutor na Rdio Nacional e, ao mesmo tempo, no bar, servindo cafezinho, refrigerantes, cachacinha, sanduches. O bar funcionou bem durante certo tempo. Mas fui verificando que, com o que ganhava no bar e mais o salrio da Rdio Nacional, eu no poderia pagar a dvida na Guanabara. Ento tive a idia de criar uma revista chamada Brincadeiras para Voc, com palavras cruzadas, charadas, anedotas, etc. Comecei a vender essa revistinha em casas comerciais, que as distribuam gratuitamente aos fregueses. Ento voltei minha antiga profisso de corretor de anncios, da qual eu gostava muito. Eu realmente adorava vender anncios. Ao mesmo tempo, comecei a fazer shows em circos. Com todas essas atividades, j naquele tempo eu ganhava, aqui em So Paulo, de 30 a 40 mil cruzeiros por ms. Com esse dinheiro fui liquidando rapidamente a dvida do bar que tanto me preocupava. Quando comecei a fazer shows em circos, era obrigado a fazer animao porque era eu quem apresentava os artistas. Ento comecei a contar piadas, a cantar, a entrar em contato com o

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    pblico. Em geral, quando eu chegava ao circo, o pblico estava impaciente e aborrecido porque estvamos sempre atrasados. Fazamos dois ou trs shows diferentes por noite. Ento, como chegvamos atrasados, eu tinha de conversar com o pblico, dizer para os espectadores que no ficassem aborrecidos conosco porque tnhamos feito outro show antes, para ganhar um pouco mais, e dali iramos para outro show, porque aquela era a nossa vida. Conseguia sensibilizar o pblico e, muitas vezes, as pessoas acabavam batendo palmas para o nosso herosmo. O pblico me ouvia com toda ateno e eu percebi que tinha muita facilidade para me comunicar com ele. Da surgiu o animador, que o Manoel de Nbrega aproveitou em seu programa na Rdio Nacional, do qual fazia parte o famoso quadro Cadeira de Barbeiro, um programa de grande audincia, ao meio-dia, no qual se faziam crticas ferinas e divertidas aos costumes polticos daquela poca. Comecei a trabalhar no programa quando o Hlcio de Souza deixou a Nacional e ento o Manoel de Nbrega fez questo que eu fosse o novo animador do programa."As Aventuras do "Peru que Fala""Eu j havia adquirido alguma prtica nos shows de circo. Mesmo assim, com toda essa prtica, eu ficava muito envergonhado, muito vermelho, e por isso ganhei o apelido de 'Peru que Fala'. Passei a ser dali em diante o 'Peru que Fala', at mesmo nos shows pela periferia e pelos municpios prximos a So Paulo. Eu tinha uma grande caravana de artistas e essas viagens passaram a se chamar 'Caravanas do Peru que Fala'. O que acontecia com essas caravanas era muito engraado e ao mesmo tempo dramtico. Quase todo o dinheiro que eu ganhava era gasto no aluguel de dois ou trs carros de praa, que ficavam minha disposio para a realizao dos trs shows, das 6 da tarde, quando saamos da rua das Palmeiras (Rdio Nacional), at s 3 da madrugada, quando retornvamos. Vendo que meu trabalho era muito rduo e o lucro, muito pequeno, na poca das eleies procurei o candidato a deputado Cunha Bueno, que tambm trabalhava na Willys. Propus fazer 40 shows em praas pblicas, em troca de um jipe, que naquele tempo custava 200 mil cruzeiros. O candidato achou muito caro e se props a me dar metade do jipe, sugerindo que eu arranjasse um candidato a deputado estadual para pagar a outra metade. Arranjei o deputado Carlos Kherlakian, que s pagaria 50 mil cruzeiros, e eu topei, assinando promissrias dos 50 mil cruzeiros restantes. O jipe, que depois vendi ao Ronald Golias, ficaria sob reserva de domnio at que fosse totalmente liquidado. Nessa poca, pela primeira vez na vida, tive vontade de desistir, pois, para poder pagar os artistas - que tambm participavam dos comcios -, eu era obrigado a fazer, no mesmo dia, mais trs shows em circos. Eu fazia tudo sozinho: a propaganda durante o dia com alto-falantes em cima do jipe, anunciando os comcios e os shows; armava e desarmava o palanque, animava e discursava nos comcios, e ainda fazia shows circenses. Se no fizesse isso, no conseguiria pagar os artistas e ganhar mais uma parcela para pagar o jipe. Saa de casa - a essa altura um quarto alugado na Bela Vista - pela manh e s voltava de madrugada. Fazia esse trabalho s quintas, s sextas, aos sbados e aos domingos. Parava nas farmcias, tomava injees de clcio Cetiva na veia, para no ficar rouco e para agentar o trabalho na Rdio Nacional e nos shows. Quis entregar

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    o jipe e desistir, mas meus colegas Humberto Simes (o ventrloquo), o Chico (da macaca Chita), os cantores Slon Salles, Jos Lopes, Gessy Soares de Lima, o falecido Barnab, Joana Gonalves, Izilda de Castro e outros que iam com menos regularidade, diziam: 'Silvio, aguarde, faltam apenas 37, 36, 35... 26... 15... 12... shows'.""Agentei, perdi cinco quilos, fiquei branco, diziam que eu ia estourar, mas... ganhei o jipe. Foi nessas 'Caravanas do Peru que Fala', na capital e na Grande So Paulo, que eu adquiri a facilidade que hoje tenho para animar meus programas.""Confesso que aprendi essa tcnica no contato direto com o pblico dos circos e dos comcios polticos. por isso que eu acho muito difcil a profisso de animador de programas no rdio ou na televiso. Eu fiz minha carreira, desde menino, gritando, falando em pblico como camel, convencendo o povo a comprar minhas bugigangas. Depois como animador do bingo na barca da Cantareira. A seguir, como orador dos comcios e animador dos shows circenses, animador do programa Manoel de Nbrega, para depois passar a animador de auditrio da televiso."Como Nasceu o Ba da Felicidade"Lembro-me do dia em que o Manoel de Nbrega foi procurado na Rdio Nacional por um cidado de origem alem que lhe ofereceu o Ba da Felicidade. O Ba seria uma cpia das famosas Cestas de Natal. Naquele tempo havia as Cestas de Natal Amaral, as Cestas de Natal Columbus e uma outra que no lembro mais o nome. Sei que eram trs. Esse alemo surgiu com a idia, dizendo que poderia se lanar uma Cesta de Brinquedos, igual s cestas, exatamente como eram vendidas: a pessoa pagava primeiro e, no fim do ano, em vez de receber castanhas, nozes, avels, bebidas, recebia um Ba de Brinquedos. O Nbrega se empolgou com a idia e fez um trato com o alemo. Ele falou: 'Eu no tenho condies de empatar dinheiro nisso. A idia sua'. Ento o alemo replicou: 'Mas eu no quero que voc empate dinheiro. Eu quero apenas que voc entre com os anncios na Rdio Nacional, pague esses anncios e eu tomo conta da empresa. Ficamos scios. Eu uso seu nome, porque uma vez que o pblico ter que pagar alguma coisa por antecipao, o pblico ter que entregar o dinheiro confiando em algum. Eu sou uma pessoa que ningum conhece, ao passo que voc, Nbrega, uma pessoa muito conhecida e o pblico vai pagar confiando em voc'.""Ento o Nbrega topou o negcio, meio a meio, com o alemo. Ele pagava os anncios na Rdio Nacional e o alemo fazia os negcios do Ba da Felicidade. O Nbrega nunca foi ao Ba, o Ba de Brinquedos. Nunca foi! No fim do ano, o alemo tinha conseguido vender cerca de 1000 bas. Mas, antes de entreg-los aos compradores, ele disse que havia perdido todo o dinheiro, que no fora bem-sucedido no negcio. E o Nbrega ficou em uma situao muito difcil. Muito difcil mesmo porque, alm de ter de pagar todos os anncios que havia feito na Rdio Nacional, ele comeou a ser procurado por pessoas que haviam pago o Ba e no haviam recebido os brinquedos. E naquele ano cada ba custava aproximadamente 1,20 cruzeiro. Eles haviam vendido 1.200 e, como se v, o Nbrega perdeu, naquele ano, 1957, mais de 2.000 cruzeiros, porque ele pagou os anncios e teve que devolver o dinheiro a cada um dos que haviam comprado o Ba de Brinquedos. E o pior: os vendedores j haviam comeado a vender para o novo ano, 1958, e a situao do Nbrega iria tornar-se muito mais grave. Ento ele telefonou para

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    a penso onde eu morava, naquela ocasio, na rua 13 de Maio, na Bela Vista, e me disse: 'Olha, Silvio, voc vai me fazer um grande favor. Peo que fique l no Ba e a todo mundo que vier reclamar diga que no v aos jornais, que no v s revistas e que eu estou pronto para repor a quantia que cada um teve de prejuzo. E s pessoas que j compraram para o ano de 1958, que j deram entrada, devolva tambm a entrada. Diga a todos que a firma vai acabar, que ns no temos mais condies de continuar com ela'.""Quero deixar bem claro que o Nbrega havia sido trado, havia sido roubado pelo alemo, que sumiu com o dinheiro, sumiu com tudo! O Nbrega me pediu aquilo e eu respondi: 'No, Nbrega, eu no vou, porque estou trabalhando com a revista, vou lanar uma folhinha tambm, um calendrio que est indo muito bem e ainda tenho a Rdio Nacional. No d para eu ficar l recebendo os clientes enganados. Me desculpe, irmo, mas eu no vou, no'.""Mas o Nbrega insistia, desesperado, e eu comecei, tambm, a sofrer com ele. Ele chegou a ligar para a minha penso trs, quatro, cinco vezes por dia, at que resolvi falar com ele. E o Nbrega pediu que eu ficasse l na loja do Ba uns quinze dias, para que no houvesse escndalo nos jornais e para que eu devolvesse as importncias pagas."O Ba Ficava em um Poro"Ento eu fui l. Eu pensava que o Ba da Felicidade fosse uma firma organizada, um negcio espetacular, mas fiquei surpreso porque ficava encostado ao Othon Palace Hotel, na rua Lbero Badar, num 'buraco'. Quando cheguei l, encontrei uma poro de camels vendendo gravatas, camisas, em uma loja semidestruda, uma loja toda arrebentada. Eu perguntei: 'Escuta, onde o Ba da Felicidade?' Ento me responderam: 'Ah, o Ba l no fundo. L no fundo, mas l embaixo, no poro'.""Eu fui l ver e encontrei uma mocinha trabalhando. Encontrei o tal alemo sentado, algumas mesas feitas de caixotes de madeira, que serviam para embalar as bonecas que um fabricante mineiro havia mandado. Havia uma mquina de escrever e, no cho, duas gavetas com fichas de alguns dos fregueses dentro. A primeira coisa que fiz foi dizer ao alemo que fosse embora, porque, a partir daquele momento, eu tinha ordens para atender a todas as reclamaes e fechar o Ba da Felicidade. O alemo pegou a mquina de escrever e foi saindo. Eu perguntei: 'Mas essa mquina de escrever tambm sua?'. Ele falou: 'Esta mquina tambm minha'. E saiu.""Fiquei reduzido, ali, a uma mesa de caixotes e duas gavetas, duas mquinas de autenticar cheques... e mais uma funcionria que ajudava o alemo. A cada pessoa que chegava eu falava aquilo que o Nbrega me havia recomendado. Eu dizia que o Nbrega estava pronto para devolver o dinheiro, inclusive s pessoas que haviam dado a entrada para o ano novo que se iniciava, as quais estavam comparecendo quele poro imundo, para pagar as mensalidades subseqentes. Eu dizia a todas as pessoas que no poderia receber essas mensalidades e que iria devolver o dinheiro dado como entrada, porque o Ba ia acabar.""Mas a tive uma idia, no quarto ou quinto dia em que eu estava l atendendo. Vi que aquilo, bem administrado, bem trabalhado, poderia tornar-se uma boa firma.

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    Procurei o Nbrega e falei com ele: 'Nbrega, eu acho que se voc continuar pagando os anncios na Rdio Nacional - eu no tenho capital, mas recebo do circo, da Rdio, das revistinhas, ganhando em mdia de 40 a 45 mil cruzeiros mensais -, eu posso investir nesse negcio e voc investe na publicidade. Ns continuamos scios e eu tenho certeza de que o negcio pode dar certo'. O Nbrega topou e ns dois ficamos scios.""Nbrega me deu o Ba""A primeira coisa que fiz foi acabar com o Ba da Felicidade. No a firma, claro, mas a caixa em que os presentes eram embalados. Esse tal ba parecia um caixo de defunto, porque era de veludo. Um ba de veludo bord, que dava uma pssima impresso, porque parecia, de fato, um caixo morturio. Outra coisa: os vendedores tapeavam muito, diziam que o cliente ia receber uma boneca do seu prprio tamanho, um caminho de corda, uma bola no 5. Achei que o Ba, daquela forma, no funcionaria. Foi a que passei a vender brinquedos em catlogo. A pessoa escolhia o brinquedo que queria, pagava mensalmente, e no fim do ano recebia o brinquedo que escolhera. Passei, tambm, a exercer uma vigilncia maior sobre os vendedores. Cada vendedor que fazia uma falcatrua, que fazia coisa errada, eu mandava embora e, se ele insistisse, eu mandava prend-lo. E, a partir da, fiz uma programao: no 1o ano, foi brinquedos; no 2o ano, louas; no 3o ano, utilidades domsticas. Ento sa daquele poro ao lado do Othon Palace Hotel, peguei uma salinha pequenininha, com dois metros de largura por trs de comprimento, na rua Xavier de Toledo, e a coisa foi crescendo. At que eu idealizei, e eu mesmo desenhei, uma boneca e pedi Estrela que a fabricasse. Queria que a Estrela fabricasse 40 mil bonecas daquelas, assumindo, ento, um grande compromisso com aquela indstria de brinquedos. Quero deixar bem claro, tambm, que o Nbrega nunca foi ao Ba, nesses trs ou quatro anos em que l estive. Nunca foi. Ele deixou o negcio em minhas mos e foi vendo, de longe, que a coisa estava progredindo. Mas, quando eu fechei esse negcio de 40 mil bonecas e, ao mesmo tempo, fiz um contrato com a firma Nadir Figueiredo para fornecer cerca de 20 mil jogos de jantar, o Nbrega se apavorou. Eu havia feito esses pedidos de bonecas e de louas e me comprometido a pagar uma parcela mensal. Quando contei ao Nbrega minhas intenes, ele, que j no estava em uma situao muito boa devido ao bolo que levara do alemo, disse-me: 'Olha, Silvio, eu nunca fui ao Ba, nem com o alemo e nem com voc. Acho que qualquer dinheiro que o Ba possa me dar desonesto, porque eu nunca fiz nada pela firma, a no ser os anncios. Como voc um rapaz corajoso demais, eu tenho medo que voc possa, um dia, fazer um negcio muito grande - como esse que est fazendo com a Estrela e com a Nadir Figueiredo - e, com seu entusiasmo, d uma cabeada. Se eu pude pagar os 1.200 bas que o alemo vendeu, no vou poder pagar as dvidas que voc est assumindo. Ento, j que eu no tenho nenhuma inteno de ser o dono do Ba, melhor que voc fique com ele. Eu no quero nada. Fica pra voc, voc faa a sua vida, mas no use mais o meu nome, porque eu sou um homem muito conceituado em So Paulo, sempre fui uma pessoa honesta, fui o deputado mais votado, tenho um bom conceito. Voc, por favor, agora que est se envolvendo em negcios grandes, fique com o Ba e no precisa me dar nada. Eu tenho um pouco de medo, no sou comerciante por natureza'."

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    "Eu respondi: 'Nbrega, tudo bem, eu aceito. Fico com o negcio, mas pelo menos quero lhe dar o dinheiro que voc perdeu'.""Ento combinei com o Nbrega e dei a ele 5 mil cruzeiros, que ele permitiu que eu pagasse como pudesse. E foi assim que o Nbrega me deu o Ba da Felicidade."O nome da firma fundada por Nbrega, em sociedade com o alemo, era meio estranho: Distribuidora Ali Ltda. Ningum gostava dele, porque dava margem a piadas maldosas, lembrava Ali Bab. Silvio ento fundou outra empresa, que levava seu prprio nome: Senor Abravanel. De acordo com o registro do Tabelionato do Ibirapuera, ela comeou a funcionar em 16 de fevereiro de 1959, na rua 13 de maio, 714, sala 2, no bairro da Bela Vista, o mesmo endereo em que Silvio morava na ocasio. O registro da firma no cartrio data do dia 13 de maro de 1959. Gnero de negcio: comrcio de brinquedos. Capital da firma: CR$ 50.000,00 (cinqenta mil cruzeiros). Depois a empresa mudou para o centro da cidade - ruas Xavier de Toledo e Quirino de Andrade. Neste ltimo endereo permaneceu vrios anos, em uma fase de grande desenvolvimento. At mudar de nome, passando a chamar-se BF Utilidades Domsticas e Brinquedos, fundada em 28 de junho de 1963 e que se tornou popular com o nome de "Ba da Felicidade".Silvio se Lana na Televiso"Fechei os contratos com a Estrela e com a Nadir Figueiredo e, por causa deles, realmente me vi mal! No meio do ano, no ms de junho, eu estava atrapalhadssimo, quase s portas da falncia. Pedi um acordo com a Estrela, pedi um acordo com a Nadir Figueiredo, pedi acordo com outros credores para os quais eu devia (fornecedores de panelas de presso) e cheguei concluso de que a soluo era vender as 40 mil bonecas de qualquer maneira. Ento reuni novamente aquela minha turma, a que fazia shows em circos, e comeamos a fazer shows em praa pblica, na capital, sorteando prmios. A pessoa que comprava um carn do Ba recebia uma talozinho numerado e concorria, no mesmo local, a prmios. Naquele ano consegui, fazendo quase um show dirio, um dia em cada praa, promover o Ba, vender os carns. No final do ano, havia vendido as 40 mil bonecas da Estrela e sara da lama. Paguei todo mundo. O Ba j havia ficado conhecido em todos os bairros, porque era um show por dia. Passei a fazer mais propaganda em rdio e comecei a me organizar.""O Ba, daquela salinha na rua Xavier de Toledo, passou a ter uma loja na rua Quirino de Andrade. Lancei ento o Plano para a Casa Prpria e mudei inteiramente o esquema de vendas por carn. As pessoas compravam e depois escolhiam as mercadorias. J no eram mais mercadorias de catlogo. Exemplificando: as prestaes eram de 500 cruzeiros por ms. No fim do ano, com 12 prestaes pagas, a pessoa ia ao Ba, na rua Quirino de Andrade, e escolhia mercadorias diversas no valor de 6 mil cruzeiros, podendo ser geladeiras, bonecas, televisores, jogos de jantar, baterias de alumnio, etc. O Ba foi crescendo, a ponto de tornar-se a verdadeira potncia que hoje.""Estvamos, ento, no ano de 1961. Com a evoluo do Ba, comecei a montar um esquema administrativo para atender a expanso do negcio. Paralelamente, iniciei um programa na TV Paulista. Era um programa noturno chamado Vamos Brincar de Forca, patrocinado pelo deputado Carlos Kherlakian, que tinha as Casas Econmicas de Calados,

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    e pelas camisas Lauton. Esse programa marcou poca. Animado pelo sucesso, decidi lanar-me na televiso aos domingos.""Ento estreei um programa de shows, brincadeiras e prmios, com base no Ba da Felicidade, que comeava ao meio-dia e ia at as duas da tarde. Chamava-se Programa Silvio Santos. Em pouco tempo tomou conta das tardes de domingo."Faro para Escolher os Auxiliares"Muitos me perguntam como escolho meus auxiliares. Digo que sempre tive uma sensibilidade muito grande para lidar com pessoas. Escolho meus auxiliares em diversas reas. A princpio, escolhia pelos jornais. Quando comecei a escolher vendedores para o Ba, eu colocava, s vezes, 50, 100 vendedores em uma sala e escolhia sempre os melhores. Conversando com eles, batendo papo, eu, de modo geral, acertava com os melhores. Lembro-me de que um dia apareceu uma pessoa l no Ba, para me vender livros. A, conversando com essa pessoa, percebi que era um vendedor de livros, mas ganhava muito pouco por ms. Eu lhe dei o lugar de chefe dos vendedores do Ba. Essa pessoa, chamada Norberto, ganhou muito dinheiro no Ba e tornou-se empresrio do setor metalrgico. Conheci-o assim, vendendo livros. Os diretores do Ba da Felicidade so pessoas que trabalharam antes em reparties pblicas. Eu ia s reparties tratar de algum assunto e quando conversava com o funcionrio percebia se ele era bom e ativo, se gostava de trabalhar e se era honesto. Ento eu dizia: 'Olhe, se por acaso um dia sair da, pode me procurar, porque eu estou bajulando voc, no estou querendo ser agradvel, mas eu posso lhe dar um emprego'. E por diversas vezes isso aconteceu. A pessoa terminava um contrato, se aposentava ou pedia licena e ia me procurar, pensando que eu queria apenas ser agradvel. E no era. Era para valer. Dei emprego a muitas pessoas que, hoje, dirigem as minhas organizaes. So pessoas honestas, competentes, dedicadas, que se destacavam na administrao pblica. claro que deveriam destacar-se ainda mais na empresa privada.""Hoje meus auxiliares so espetaculares. Para se ter uma idia, meu primeiro diretor tinha um escritrio de contabilidade. Prestava servios ao ento deputado Carlos Kherlakian, das Casas Econmicas de Calados, com vrias lojas na cidade. Como eu ia muito s Casas Econmicas - porque elas patrocinavam meu programa na Nacional -, eu encontrava sempre esse rapaz e via que ele era muito trabalhador, estava sempre no seu posto, via a maneira como ele falava, como ele se comportava. Fiz uma oferta e ele tornou-se diretor da minha financeira e foi, durante 13 anos, o diretor do Ba da Felicidade. Seu nome: dr. Asceno Serapio." "H um outro caso: conheci o dr. Eleazar Patrcio da Silva, um homem espetacular, no Ministrio da Fazenda da Guanabara. Achei que ele tinha magnficas qualidades e, quando soube que ia se aposentar, fiz-lhe um convite e ele se tornou presidente do Conselho Administrativo do Grupo Silvio Santos.""Conheci o Dermeval Gonalves na Superintendncia da Receita Federal. Achei que era um funcionrio extraordinrio e ele se tornou diretor do Grupo Silvio Santos.""Conheci um rapaz chamado Mario Albino Vieira, um garoto de cerca de 14 anos de idade. Vi que ele era muito esperto, muito bom aluno. Comeou a trabalhar no Ba como auxiliar de escritrio, tornou-se diretor do Conselho do Ba e depois presidente do Grupo Silvio

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    Santos.""Conheci outro garoto na Rdio Nacional, que marcava textos. Quando eu era locutor, lia os textos e ele ficava marcando os que eram lidos por mim e pelos outros locutores. Chamava-se Joo Pedro Fassina. Em 1959, convidei-o para que fosse trabalhar no Ba, e ele se tornou diretor.""No setor de televiso, por exemplo, conheci o Luciano Callegari. O Luciano era um garoto que, quando eu lancei o programa Vamos Brincar de Forca na TV Paulista, trabalhava no protocolo, na recepo de correspondncia. Ele ajudava a contar as cartas que a empresa recebia. O Luciano era o chefe dos garotos que separavam as cartas. Contava os envelopes e, como o Vamos Brincar de Forca era o programa que mais cartas recebia, ele era muito ativo. Pedi depois que ele me ajudasse no programa e ele foi se desenvolvendo. Ele se tornou o diretor artstico dos meus programas de televiso, o homem que chefiava os meus produtores, o homem que fazia tudo no meu setor artstico.""Conheci tambm um rapaz chamado Leonardo, que na poca trabalhava na censura. Ele trabalhava l quando comeou a fazer um trabalho com o objetivo de moralizar os programas de televiso. Eu soube que ele ganhava pouco e convidei-o para trabalhar comigo. Ele se tornou um dos bons produtores da minha equipe." "Outro caso: na TV Globo conheci um moo que exercia a funo de 'contato' com as agncias de publicidade, muito ativo, chamado Moacir Pacheco Torres. Meu programa na TV Globo, nos primeiros tempos, no estava sendo bem programado pelas agncias de propaganda, embora eu tivesse um volume considervel de publicidade direta, isto , sem agncia. L, na TV Globo, em bate-papos informais, trocvamos idias sobre propaganda, programao, etc. No dia em que o Moacir deixou a TV Globo, chamei-o para trabalhar comigo. Ele aceitou e assumiu comigo um compromisso, que na poca achei temerrio. Prometeu que faturaria, por meio de agncias, mais do que eu faturava com anunciantes diretos. Isso no prazo de trs meses. Duvidei, mas ele ultrapassou o que havia prometido. Ele tornou-se o diretor comercial da Publicidade Silvio Santos Ltda., que cuidava de toda a promoo publicitria das minhas organizaes, em todo o pas, chefiando uma equipe dinmica e homognea." "Posso citar outro exemplo: conheci um professor chamado Helnio, exercendo as funes de assessor do general Denisard, chefe da Polcia Federal em So Paulo. Tive vrios contatos com o professor Helnio, que tambm era funcionrio do Banco do Brasil. Vi que era muito capaz e, sabendo que ia deixar a assessoria do general, convidei-o para trabalhar comigo. Ele, de fato, deixou a Polcia Federal e passou a dirigir uma companhia de seguros, que o meu Grupo comprou no Rio de Janeiro.""Outro caso: uma noite fui ao Beco, vi os shows daquela conhecida casa noturna de So Paulo. Quis saber quem os montava. O homem era o Paulo Roberto, que dirigiu o meu departamento de shows.""Nunca Tirei um Tosto de Minhas Empresas""No sei se muita sorte ou se mesmo muito faro, mas eu sinto quando a pessoa boa ou no, honesta ou no, dedicada ou no, capaz ou no. Quando sinto que a pessoa tem as qualidades que exijo para trabalhar comigo, convido-a, pagando salrios muito acima do

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    normal, para que ela continue sempre dedicada organizao. Isso faz com que ela contribua para o progresso da empresa em que trabalha e, conseqentemente, contribua para seu prprio progresso, ganhando mais e fazendo carreira com segurana. Hoje sou um homem que tem uma necessidade enorme de gente capaz, uma necessidade enorme de pessoas, de material humano qualificado, que possa trabalhar ou dirigir essas empresas, que, a cada dia que passa, se ampliam. Outra coisa importante: eu nunca tirei um tosto de nenhuma das minhas empresas, porque sempre fui um radialista, sempre ganhei dinheiro na televiso e sempre me sustentei e sempre sustentei a minha casa com o dinheiro ganho na televiso e no rdio. Tudo o que as minhas empresas rendem reinvestido em novos empreendimentos. Quando eu entrei no Ba, em 1958, ganhava dinheiro nos circos, na Rdio Nacional e vendendo anncios para a tal revistinha. Colocava todo o dinheiro que eu ganhava no Ba e nunca mais tirei esse dinheiro de l. Nunca mais tirei dinheiro algum de qualquer uma das empresas, porque, repito, vivo exclusivamente do que recebo como animador da televiso e do rdio. Eu sou o animador da Publicidade Silvio Santos Ltda., que me paga salrio."Hoje Silvio Santos no apenas um campeo de auditrio. um dos mais prsperos empresrios de So Paulo e - por que no diz-lo? - do Brasil. Se algum lhe pergunta como consegue conciliar a televiso com esse verdadeiro imprio empresarial, Silvio Santos responde que, para ele, no so atividades conflitantes. Faz as duas coisas ao mesmo tempo, mas no sozinho. Formou um grupo de assessores competentes, escolhidos graas ao conhecido "faro", e esses assessores garantem para as suas empresas o mesmo Ibope que ele obtm na televiso. Ele procura comunicar-se com a sua equipe da mesma forma que faz com o pblico. E tem audincia total. Se Silvio Santos quisesse, poderia estar vivendo tranqilamente na Cte d'Azur, na Sua, em Paris ou em Nova York. Por que ele continua trabalhando at nove horas seguidas no seu programa dominical, sem falar no outro programa na TV Tupi de So Paulo, com trs horas de durao? Ele responde: "Eu acho que o trabalho uma necessidade. Hoje o meu principal divertimento. Hoje sou um homem preso ao trabalho mais porque gosto, no pelo que o trabalho me d. Pelo contrrio, o trabalho desgasta, mas ele me d grandes emoes e eu sou um homem que gosta de emoes. O pblico tambm gosta de emoes. Por isso consigo comunicar-me com tanta facilidade. como se tivssemos uma alma s".Como Silvio Santos Formou seu ImprioComo se formou o imprio de Silvio Santos? A histria da formao desse imprio uma outra novela. Faz lembrar a bola de neve que vai rolando, crescendo e ningum mais consegue segur-la. No caso de Silvio, suas empresas foram surgindo, porque uma fazia nascer a outra. As empresas cresciam tanto que era preciso criar outras novas para administrar e aplicar o dinheiro que as primeiras rendiam. Aonde esse crescimento vai parar nem o prprio Silvio Santos sabe. Mas deixemos que ele prprio conte como se formou seu imprio empresarial. Ele comea relembrando o dia em que compareceu loja do Ba da Felicidade, a pedido de Manoel de Nbrega, para atender os portadores dos carns que haviam sido ludibriados pelo tal alemo:

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    "Ns comeamos naquele poro, l onde os marreteiros estavam vendendo gravatas, camisas e sapatos, l onde hoje funciona a bombonire da Kopenhagen, na rua Lbero Badar, do lado do Othon Palace. Foi ali que tudo comeou. Depois que reorganizamos o Ba da Felicidade, surgiu a necessidade de anunciar. O Ba j estava sendo muito anunciado na Rdio Nacional. Mas depois eu tive meu primeiro programa na TV Paulista. Aluguei as duas primeiras horas do domingo, do meio-dia at as 2 da tarde, no canal 5, que fechava nesse horrio e s entrava na hora do futebol. Quando comecei a fazer publicidade do Ba na televiso, muita gente dizia: 'Puxa, vida, mas duas horas s de Ba, s de Ba, s de Ba! Cansa o telespectador ouvir falar s de Ba'. Ento eu pensei: 'Vamos arrumar mais alguns clientes, para no ficar s com anncios do Ba'.""Foi assim que surgiu a segunda empresa, a Publicidade Silvio Santos Ltda., que passou a agenciar outros anunciantes e que hoje controla toda a publicidade de todas as empresas do Grupo Silvio Santos em todo o pas.""Ns vendamos carns e oferecamos prmios de pequeno valor. Para poder vender aquelas 40 mil bonecas que havamos encomendado Estrela, fazamos shows em praas pblicas s quintas, aos sbados e aos domingos. Resolvemos, ento, lanar um Plano para a Casa Prpria. De acordo com a lei, precisvamos comprar as casas, antes de sorte-las. E tnhamos dificuldade para comprar casas em nmero suficiente, porque a essa altura j estvamos sorteando, no mnimo, uma casa por ms. E era preciso ter as casas antes - 12 casas por ano. Ento, primeiro samos procura das casas. Encontramos algumas e as compramos, de acordo com a lei. Mas a coisa disparou e comeamos a vender muitos carns e a dar muitas casas de prmios e no havia a possibilidade de se comprar casas em um conjunto s. Ningum tinha venda oito, 10 ou 12 casas em um s grupo. Sabe como resolvemos o problema? Abrimos uma construtora, para fazer as casas que o Ba dava como prmio. Surgiu, assim, a terceira empresa do Grupo. Mas ns fazamos aquelas oito, 10 ou 12 casas e o pessoal da construtora ficava parado, ocioso. Ento a construtora passou a construir casas para vender. Construmos vrios prdios em So Paulo, incluindo um conjunto de 90 casas no Carandiru.""Acontece que o governo comeou a dizer que ia acabar com os carns. Que os carns eram um negcio que no deveria continuar. Nessa poca j tnhamos algumas lojas e muitos funcionrios. No podamos permitir que o carn acabasse e ento comeamos a vender televisores e algumas outras mercadorias, a crdito. Mas como vendamos a crdito, o governo cobrava os impostos vista. Porque quando voc faz uma venda a crdito, mesmo que tenha recebido do cliente apenas 20 cruzeiros, se a venda foi de mil cruzeiros, voc obrigado a pagar todos os impostos sobre os mil cruzeiros antecipadamente. Portanto, tnhamos de descontar todas essas dvidas que os clientes contraam conosco por meio do credirio. Tnhamos que descontar em companhias financeiras. Tnhamos que pegar os mil cruzeiros, ir a uma financeira, vender aqueles mil cruzeiros por 600 ou 700 cruzeiros, conforme a taxa em vigor, para poder lanar aquilo como despesa. Foi a que surgiu a necessidade de se ter uma financeira prpria. Compramos, ento, uma financeira, a Ba Financeira, para poder facilitar ainda mais o nosso credirio. E a quarta empresa estava lanada."

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    "Depois que compramos a financeira, passamos a financiar nosso credirio em melhores condies. Verificamos ento que havia a disponibilidade para financiar outros tipos de negcios. Como achvamos que a maior segurana devia ser dada ao cliente, porque o cliente do carn merecia, de nossa parte, todo o respeito, para evitar qualquer deslize comercial, achamos melhor financiar automveis, porque todo mundo queria comprar automveis. Se algum deixasse de pagar, seria uma porcentagem nfima, um ou dois clientes, e assim no seriam muito grandes as perdas. Nesse nterim j estvamos dando automveis como prmio em nosso programa de televiso, e nossa equipe de vendedores de carns j saa em peruas Kombi, as mais econmicas. Todos os concessionrios Volkswagen que vendem VW so bons, ruins so as oficinas. A oficina no d dinheiro. E de fato ns tnhamos problemas de oficina. Mandvamos nossas Kombis para as oficinas e elas demoravam muito para serem consertadas. Por outro lado, j comprvamos, a essa altura, 30 ou 40 carros por ms para dar como prmio nos sorteios do Ba. Chegamos, ento, concluso de que a soluo mais indicada seria comprar uma concessionria Volkswagen, porque assim as oficinas dessa concessionria fariam a manuteno das nossas peruas, com as quais trabalhavam nossos vendedores. Da mesma forma a concessionria forneceria, em condies vantajosas, os carros que o Ba estava dando como prmio. Foi assim que nasceu uma outra empresa do Grupo Silvio Santos, a Vimave. Chegamos a dar mais de 60 carros por ms em prmios. E a concessionria passou a vender uma mdia de 150 carros por ms, financiados pela nossa financeira. Alm disso, a oficina passou a no ser problema para ns, porque fazia os consertos das nossas prprias Kombis.""Acontece que, ao vendermos o carro pela concessionria, o comprador dava-o, como prpria garantia da alienao fiduciria, conforme o governo exige. Mas ns, que sempre fomos precavidos com o dinheiro que no nos pertence, alm de escolhermos o cliente que comprava o carro, alm de testarmos sua honestidade, alm de termos alienao fiduciria, ns ainda colocvamos o carro no seguro. Porque, se o comprador no pagasse, o seguro pagava. Assim, estvamos cercados de garantias. Pagvamos companhia de seguro 1,4% de prmio e nossos prejuzos no chegavam a 0,2%. Ento sentimos que seria melhor, em vez de darmos lucros para uma companhia estranha, comprarmos ns mesmos uma companhia de seguros. por isso que temos tambm uma companhia de seguros.""Mas, como tnhamos de vender letras de cmbio, ao financiarmos automveis e mercadorias pelo credirio, tnhamos de transformar isso em dinheiro. Assim, compramos uma distribuidora, a Dinmica Distribuidora, outra empresa de nossa organizao.""O problema que comeamos, ento, a pagar muito Imposto de Renda e precisvamos, de acordo com o governo, aplicar esse dinheiro em algum lugar. Compramos um reflorestamento no Paran, com no sei exatamente quantos ps, no municpio de Jaguariaiva. Estava previsto que o reflorestamento terminaria no prazo de quatro anos. Terminamos em dois anos.""Como nossas empresas se ampliavam cada vez mais, estvamos recolhendo muito imposto para o governo. Ento partimos para a agropecuria e compramos uma fazenda de 70 mil hectares em Mato Grosso, municpio de Barra do Garas, onde criamos bois para exportar pelo

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    porto de Santarm e para o mercado interno."O que Acontece na Televiso"Agora vejamos como a coisa se processa no setor de televiso. No incio ns ramos concessionrios de um programa de duas horas aos domingos, na TV Globo. Hoje estamos fazendo nove horas no canal 5, mais trs horas s quintas-feiras no canal 4 (Tupi de So Paulo) e mais duas horas aos sbados, na Rede Tupi de TV, animadas pelo meu irmo Lo. Ento, hoje, j temos, de programao ao vivo, 14 horas, que mais do que a programao ao vivo de qualquer outra emissora brasileira. Ento, o que aconteceu? Comeamos a ter cengrafos, bailarinas, desenhistas, cameramen. Criamos o melhor guarda-roupa do Brasil. Nem a Globo tem um guarda-roupa como o nosso. Precisvamos de carpinteiros, eletricistas, marceneiros e serralheiros para fazer os cenrios de nossos programas. Ento fomos obrigados a alugar os estdios da Vila Guilherme, antigo estdio da TV Excelsior, canal 9, com uma rea de quatro mil metros quadrados. L existe tudo o que uma emissora de televiso tem