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Ano VI – N.º 25 Janeiro /Fevereiro / Março 2005 – Publicação trimestral – Preço 4,48 (IVAincluído) Revista da Conservação do Património Arquitectónico e da Reabilitação do Edificado Arquitectura Vernácula Duas regiões em análise: Alvão e Algarve Avaliação da segurança das construções face à acção sísmica Arquitectura Vernácula Duas regiões em análise: Alvão e Algarve Arqueologia da Arquitectura Os casos da Igreja de São Gião da Nazaré e do Mosteiro de Santo André de Rendufe Arqueologia da Arquitectura Os casos da Igreja de São Gião da Nazaré e do Mosteiro de Santo André de Rendufe

Arqueologia da Arquitectura - GECoRPA - Grémio do Património · cance dos prémios destinados a incentivar o uso do betão (com se já não o houvesse em ... construções rurais

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Revista da Conservação do Património Arquitectónico e da Reabilitação do Edificado

Arquitectura VernáculaDuas regiões em análise: Alvão e Algarve

Avaliação da segurança das construções face à acção sísmica

Arquitectura VernáculaDuas regiões em análise: Alvão e Algarve

Arqueologia daArquitectura

Os casos da Igreja de São Gião da Nazaré

e do Mosteiro de Santo André de Rendufe

Arqueologia daArquitectura

Os casos da Igreja de São Gião da Nazaré

e do Mosteiro de Santo André de Rendufe

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Pedra & Cal n.º 25 Janeiro . Fevereiro . Março 2005

Tema de Capa:

Reconhecida pelo Ministério da Cultura como “publicação de manifesto interesse cultural”,ao abrigo da Lei do Mecenato.

N.º 25 - Janeiro/Fevereiro/Março 2005Propriedade e edição: GECoRPA – Grémio das Empresas deConservação e Restauro do PatrimónioArquitectónicoRua Pedro Nunes, n.º 27, 1.º Esq.1050 - 170 LisboaTel.: 213 542 336, Fax: 213 157 996http://www.gecorpa.ptE-mail: [email protected]: 503 980 820Director: Vítor Cóias e SilvaCoordenação: Cátia MarquesConselho redactorial: João Appleton, João Mascarenhas Mateus, José Aguiar,Miguel Brito Correia, Teresa de Campos Coelho Secretariado: Elsa FonsecaColaboram neste número:Ana Cravinho, A. Jaime Martins, AndréManuel Paes Machado, Carlos Ferreira, Carlos Mesquita, Carlos Sá Nogueira, Eunice Salavessa, Jacinto Rodrigues, João Varandas,José Maria Lobo de Carvalho, J. P. CastroGomes, Luís Fontes, Luís Ramos, MariaAlexandra Canaveira de Campos, Maria Magalhães de Barros, Miguel Brito Correia,Miguel Silva, Nuno Teotónio Pereira, SofiaBarroso CatalãoDesign gráfico e produção:Loja da ImagemRua Poeta Bocage, n.º 13 – B 1600-581 LisboaTel.: 210 109 100, Fax: 210 109 199E-mail: [email protected]:Loja da ImagemRua Poeta Bocage, n.º 13 – B 1600-581 LisboaTel.: 210 109 100, Fax: 210 109 199E-mail: [email protected] Impressão: Onda Grafe – Artes Gráficas, Ld.ªRua da Serra, n.º 1 – A-das-Lebres 2670-791 S.to Antão do TojalDistribuição: Distribuidora Bertrand

Depósito legal: 128444/98Registo na DGCS: 122548ISSN: 1645-4863Tiragem: 2000 exemplaresPeriodicidade: Trimestral

Os textos assinados são da exclusiva responsabili-dade dos seus autores, pelo que as opiniões expres-sas podem não coincidir com as do GECoRPA.

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Ficha Técnica 2EDITORIAL

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46LIVRARIA

48CONSULTÓRIO GECoRPA

49ASSOCIADOS GECoRPA

4REFLEXÕES

Capa

Telmo Miller

Arqueologia da Arquitectura Arquitectura Vernácula

Ecologia e construção(Jacinto Rodrigues)

33DIVULGAÇÃO

Arquitectura Popular em PortugalContinental, Açores e Madeira

(Miguel Brito Correia)

34Carta sobre o Património

Construído Vernáculo

32MATERIAIS & SERVIÇOS

Igreja de São Francisco Conservação e beneficiação

das coberturas(Carlos Ferreira, Miguel Silva)

38VIDA ASSOCIATIVA

Arquitectura Vernácula no Algarve(Ana Cravinho)

Arquitectura Vernácula e Arqueologiada Arquitectura

(José Maria Lobo de Carvalho)

45e-pedra e cal

6ARQUEOLOGIA DAARQUITECTURA

Arqueologia da Arquitectura ePatrimónio Arquitectónico

(Luís Fontes)

10A experiência do IPPAR

(Maria M. B. Magalhães de Barros)

12CASO DE ESTUDO

Igreja de São Gião da NazaréUm estudo completo de Arqueologia da

Arquitectura(André Manuel Paes Machado)

52PERSPECTIVAS

Penalização fiscal dos fogos devolutosA queda de um tabu?

(Nuno Teotónio Pereira)

14Mosteiro de Santo André de RendufeUma análise histórica e arqueológica

(Sofia Barroso Catalão)

16Arquitectura Vernácula do Alvão

(Eunice Salavessa)

22A revitalização das aldeias tradicionais

Novas propostas, velhas soluções(Luís Ramos)

24A importância da reabilitação de

habitações do tipo rural(J. P. Castro Gomes)

Avaliação da segurança das construçõesface à acção dos sismos

(Carlos Mesquita)

30Capela do Espírito Santo dos Mareantes

Novos revestimentos(Carlos Sá Nogueira)

31Igreja N.ª Sr.ª das Salas

Preparada para expor tesouro(João Varandas)

40NOTÍCIAS

41NOTÍCIAS / AGENDA

44PERFIL DE EMPRESA

26PROJECTOS & ESTALEIROS

36AS LEIS DO PATRIMÓNIO

A garantia nas empreitadas de obrasparticulares

(A. Jaime Martins)

42ISTO TAMBÉM É PATRIMÓNIO

A dança barrocaTratados e representações

(Maria Alexandra Canaveira de Campos)

01-01 Ficha+Sum.qxp 12/04/03 17:16 Page 1

Pedra & Cal n.º 25 Janeiro . Fevereiro . Março 20052

EDITORIAL

Longe da ribalta onde as estrelas da arquitectura citadina produzem e exibem as suas obras, fora do al-cance dos prémios destinados a incentivar o uso do betão (com se já não o houvesse em quantidade su-ficiente, por esse país fora), as populações, sobretudo as rurais, têm construído discretamente, ao longodos séculos, obras de uma arquitectura simples e modesta mas portadora de uma fortíssima mensagemde integração e sustentabilidade. Proporcionando excelentes exemplos de respeito pela Natureza e pela paisagem, a chamada Arquitec-tura Vernácula desdobra-se, ao mesmo tempo, numa multiplicidade de exercícios, frequentemente no-táveis, de adaptabilidade e economia de recursos.Monumentos de corpo inteiro, essas construções rurais merecem ser cuidadosamente salvaguardadase transmitidas aos vindouros, pois constituem, por excelência, traços de união entre o património na-tural e o cultural, no sentido da Convenção do Património Mundial (UNESCO, Paris, 23 de Novembrode 1972).Na interpretação dessas construções e, sobretudo, daquelas que, pelo seu maior peso na vida comuni-tária, foram mais vezes alteradas, em resultado de vicissitudes que as atingiram ou da simples adap-tação a novos usos, desempenha papel de grande relevo uma nova disciplina, a Arqueologia da Arqui-tectura. De facto, o edifício ou o conjunto histórico podem e devem ser olhados como documentos,transmitindo, muitas vezes, diferentes mensagens sobrepostas, neles registadas ao longo do tempo, dasquais nem sempre a mais recente é a mais importante.Arquitectura Vernácula e a Arqueologia da Arquitectura, eis, portanto, dois temas que faz todo o senti-do estudar e divulgar conjuntamente, e que pretendemos articular neste número da Pedra &Cal.Cumpre à direcção da revista agradecer à Sr.ª Arq.ª Eunice Salavessa, professora na Universidade deTrás-os-Montes e Alto Douro e ao Sr. Dr. Luís Fontes, arqueólogo e professor na Universidade do Mi-nho, a disponibilidade e o empenho postos na preparação dos conteúdos para este número, agradeci-mento que é extensivo a todos quantos nele colaboraram.

V. Cóias e Silva

Palimpsestos1 de pedra

1Palimpsesto – Manuscrito em pergaminho que os copistas medievais rasparam para sobre ele escreveremde novo, mas do qual se tem conseguido, em parte, fazer reaparecer os primeiros caracteres. (Dicionário daLíngua Portuguesa – Porto Editora).

02-02 Editorial 12/04/03 17:17 Page 2

Pedra & Cal n.º 25 Janeiro . Fevereiro . Março 2005

GECoRPA

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Quadro de Honra

Do número apreciável de empresas que têm manifestado interesse na conservação do patrimónioarquitectónico português e nas actividades do GECoRPA, foi seleccionado um grupo restrito depatrocinadores da revista Pedra & Cal.Para distinguir essas empresas, particularmente empenhadas no sucesso da revista, foi criado opresente Quadro de Honra.

A Direcção do GECoRPA

Gabinete Técnico de Engenharia, Ld.a

Conservação e Restauro doPatrimónio Arquitectónico, Ld.a

Diagnóstico, Levantamento e Controlo deQualidade de Estruturas e Fundações, Ld.a

ONDUPORTUGAL - Materiais deConstrução, S.A.

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Pedra & Cal n.º 25 Janeiro . Fevereiro . Março 2005

CONSTRUÇÃO versus POLUIÇÃOO esgotamento e a poluição resultantesdo uso da água, a poluição resultantedo uso do petróleo, a poluição de todosos resíduos resultantes da construçãosão responsáveis por muitas das po-luições globais (efeito de estufa, mu-dança climática, chuvas ácidas, etc.).O relatório Handbook of SustainableBuilding, 1996, Ed. James & James, Lon-don, refere que 40 por cento dos gastosde energia são utilizados na construçãoe 40 por cento da poluição resulta da in-dústria de construção. O consumo mun-dial da energia aparece assim distribuí-do: metade da energia é gasta na cons-trução, nos transportes e na indústria.Aconsciência ecológica parece ter acor-dado mais depressa no que diz respei-to ao esgotamento e poluição resultan-tes da opção feita pelos transportes epela indústria. Só raramente se colo-cam problemas ecológicos sobre a op-ção adoptada no tipo de construção.Assim, só muito recentemente surgi-ram programas europeus que apelampara uma mudança nos materiais, nosprocessos construtivos e no método defuncionamento (bioclima, gestão con-trolada e uso de energias renováveis).O programa francês HQE (Haute Qua-lité Ambientale – Alta Qualidade Am-biental) está essencialmente a ser usa-do nas construções públicas especial-mente ligadas ao sector educacional.Na Europa, é na Holanda que se verifi-

ca uma maior aplicação dum “métodode preferência ambiental” e somenteagora se avança com o projecto delançar o programa Thermic, a desen-volver por toda a comunidade euro-peia, no que diz respeito aos métodosde construção, aos materiais utilizadose às opções energéticas na manutençãoclimática dos edifícios.

O CASO DE PORTUGALAs opções construtivas em Portugal e,sobretudo a política energética defen-dida, colocam o nosso país numa si-tuação calamitosa. Em muitos aspec-tos, Portugal tem as melhores con-dições para uma outra política energé-tica, baseada em energias renováveis(vento, sol, hídrica, biomassa, etc.).Seria de todo o interesse o uso de ma-teriais naturais e saudáveis, biodegra-dáveis, através de novas tecnologiasde construção e processos ecológicosde funcionamento energético e degestão bioclimática.Começa agora a falar-se na necessida-de de se empreenderem grandes mu-danças na produção energética. O Mi-nistério do Ambiente refere uma meta:40 por cento de produção de energiasrenováveis no consumo para 2010.Contudo, há ainda que analisar aquestão do esbanjamento energético ea problemática da utilização de mate-riais poluentes nas construções emPortugal.

É assim urgente uma mudança no ensi-no da arquitectura e na formação pro-fissional dos quadros ligados à cons-trução civil e às indústrias dos mate-riais de construção, assim como umarenovação das estruturas empresariais.Aqui ficam as grandes linhas de inter-venção de um programa estratégico es-sencial: • As faculdades de arquitectura terãode iniciar um debate estratégico de de-senvolvimento, elegendo outros “mo-delos” de arquitectura que não serãonecessariamente os modelos hegemó-nicos. Acrítica da crítica da arquitectu-ra não se pode desenvolver a partir deaspectos formais. Interessam conceitosque permitam mostrar outras arquitec-turas e outras cidades centradas numaperspectiva de desenvolvimento eco-logicamente sustentado. Em vez do de-bate ficar centrado nos gestos estéticosformais, é preciso articular estética e éti-ca e revelar uma forma de habitar dife-rente, ou seja, mais integrada na reno-vabilidade energética e na biodegrada-bilidade.No fundo, a questão central do ensinoda arquitectura e do urbanismo é subs-tituir o modelo-máquina pelo modelo--ecossistema.• Pontos de urbanização assentes nu-ma malha policêntrica de pólos urba-nos e de sistemas de produção energé-tica descentralizados e renováveis: bio-depuradoras; minicentrais multiener-

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REFLEXÕES

Ecologia e construçãoUma questão urgente

No actual modelo civilizacional, que tem o petróleo como principal fonte de energia, a construção deedifícios é a maior indústria responsável pelo esgotamento dos recursos naturais e é também a queprovoca uma maior contaminação do Planeta.

géticas (aplicação simultânea de eólicas, colectoressolares, biogás, etc.).• Renaturalização da actual paisagem urbana para quea bioclimatização seja realizável. Através de jardins bio-depuradores, corredores verdes, bosques, hortas e agri-cultura biológica urbana articulados com a biocons-trução, desenvolver-se-ão os traços fundamentais doecourbanismo. Aescolha dos materiais de construção éimportante. Em vez de betão ou cimento, em exclusivi-dade, pode apostar-se na construção em madeira,cânhamo, aglomerados de bambu, etc.• É também necessário complementar esta ecopóliscom ecotransportes.• Estas inovações na arquitectura têm que se inserirnuma óptica geral de paisagem como bem público. Daíque os planos para um território devam ser pensadosem termos de ecossistemas, para uma melhor distri-buição e utilização das águas e das fontes de energiasrenováveis. O policentrismo urbano impõe-se aodesenvolvimento.Através de um religar de conhecimentos, as universi-dades deveriam trabalhar no sentido de explicitar umarealidade ecoterritorial articulada com os conteúdossociais e políticos do ecodesenvolvimento que impõeuma nova forma de pensar. Essa forma de pensar e aecofilosofia, ou ecossofia, exigem novos comporta-mentos.

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JACINTO RODRIGUES, Professor Catedrático da Faculdade deArquitectura da Universidade do Porto

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ARQUEOLOGIA DA ARQUITECTURATema de Capa

6 Pedra & Cal n.º 25 Janeiro . Fevereiro . Março 2005

Embora a Arqueologia da Arqui-tectura esteja a dar os primeiros pas-sos em Portugal, o seu contributo temvindo a ser progressivamente re-conhecido. Especialmente por via dosprojectos integrados de intervençãoem monumentos classificados, pro-movidos pelas entidades da tutela –Instituto Português do PatrimónioArquitectónico e Direcção-Geral dosEdifícios e Monumentos Nacionais. Com base na experiência da Unidadede Arqueologia da Universidade doMinho, pretende-se aqui apresentaresta especialidade ao universo de lei-tores da Pedra & Cal, para quem a sal-vaguarda do património arquitectó-nico não pode deixar de constituirmotivo de particular interesse. In-teresse interpretado pela direcção da

revista na formulação do convite quenos fizeram e que aceitámos commuita satisfação.

ARQUEOLOGIADAARQUITECTU-RA: O QUE É E PARA QUE SERVE?Um monumento arquitectónico foisempre objecto de construção, de res-tauro, de reconstrução, de acrescento,de modificação, de adaptação, deusos diferenciados, guardando nassuas diversas partes constituintes umpouco da sua história e da história dosseus diferentes tempos.Na forma como hoje se apresenta, opatrimónio edificado corresponde aoproduto final de uma acumulaçãoestratigráfica de elementos construti-vos e de relações estabelecidas com omeio – é um verdadeiro palimpsesto

histórico. Porque se configura comocontexto arqueológico de longa du-ração, o património edificado sujeita--se aos princípios e métodos de análi-se arqueológica, especialmente oscorrelacionados com a sequenciaçãoestratigráfica.Assim, entende-se a Arqueologia daArquitectura como a disciplina atra-vés da qual se elabora a história dosedifícios e dos espaços conexos, consi-derados na sua individualidade cons-trutiva e nos seus contextos sociais,económicos, artísticos e tecnológicosparticulares. Nesta perspectiva, é uminstrumento de análise imprescindí-vel a qualquer intervenção informa-da sobre o património edificado.A Arqueologia da Arquitectura deveproporcionar conhecimento sobre as

AArqueologia da Arquitectura deve proporcionar conhecimento sobre as formas e funcionalidades dasedificações, sobre as técnicas e os materiais com que foram construídas e sobre os usos a que foram sujei-tas na sua duração mais ou menos longa. A Unidade de Arqueologia da Universidade do Minho temparticipado activamente na afirmação desta nova área de saber, apostando na formação de uma equipaespecializada para dar resposta às solicitações de intervenção em monumentos arquitectónicos.

Arqueologia da Arquitectura e Património Arquitectónico

Restituição fotogramétrica e leitura estratigráfica dos alçados interiores da nave da Igreja de São Mamede-o-Velho, Vila Verde, Felgueiras

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ARQUEOLOGIA DA ARQUITECTURATema de Capa

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formas e funcionalidades das edifica-ções, sobre as técnicas e materiais comque foram construídas e sobre os usosa que foram sujeitas na sua duraçãomais ou menos longa.A prática da Arqueologia da Arqui-tectura determina, necessariamente,a aceitação das obrigações decorren-tes do comprometimento social dadisciplina com as necessidades deprotecção, estudo e gestão do patri-mónio arquitectónico, como consa-gram, aliás, as Cartas e ConvençõesInternacionais.A este propósito, nunca será de maisrelembrar alguns conceitos veicula-dos pela Carta de Cracóvia 2000, comosejam os de: “Autenticidade” (signifi-ca a soma de características substan-ciais, historicamente determinadas:do original até ao estado actual, comoresultado das várias transformaçõesocorridas); “Conservação” (conjuntode acções de uma comunidade desti-nadas a fazer com que o seu patrimó-nio e os seus monumentos perdurem,respeitando o significado da identida-de do monumento e dos seus valores);e “Restauro” (intervenção sobre umbem patrimonial, com o objectivo deconservar a sua autenticidade e decriar condições à sua fruição pelacomunidade).

A EXPERIÊNCIA DA UNIDADEDE ARQUEOLOGIA DA UNIVER-SIDADE DO MINHONa Unidade de Arqueologia da Uni-versidade do Minho (UAUM) desen-volvem-se projectos de prestação deserviços especializados e/ou de estu-do em Arqueologia da Arquitectura,no quadro de protocolos e/ou contra-tos celebrados com entidades que tute-lam património arquitectónico, desi-gnadamente o Instituto Português doPatrimónio Arquitectónico (IPPAR), aDirecção-Geral dos Edifícios e Monu-mentos Nacionais (DGEMN) e câma-ras municipais.A esmagadora maioria dos trabalhosrealizados e em curso respeitam aarquitectura religiosa e decorreramda implementação de projectos inte-grados de valorização dos monumen-

tos. Os primeiros trabalhos iniciaram--se em 1987 na Igreja Velha de SãoTorcato (Guimarães), prosseguindodepois no Mosteiro de São Martinhode Tibães (Braga), Sé Catedral deBraga, Mosteiro de Santo André deRendufe (Amares), Igreja de São Giãoda Nazaré, Torre de Santiago (Braga)e, actualmente, decorrem na igrejaVelha de São Mamede de Vila Verde(Felgueiras).As sucessivas e diversificadas expe-riências permitiram aperfeiçoar meto-dologias, refinar conceitos e adquirircapacidades tecnológicas avançadas,especialmente ao nível da restituiçãofotogramétrica e modelação 3D, de-senvolvendo-se sistemas de registospadronizados e fixando-se rotinas deprocedimentos adaptáveis às diferen-tes exigências que cada intervençãocoloca.

O DESENVOLVIMENTO DA AR-QUEOLOGIA DA ARQUITECTU-RA EM PORTUGALA Arqueologia da Arquitectura exigerecursos e meios que devem ser con-templados no quadro das políticas deinvestigação e de valorização patrimo-nial desenvolvidas pelas entidades datutela, seja através dos programas deapoio à investigação desenvolvidos

pelo Instituto Português de Arqueo-logia (IPA) e pela Fundação para aCiência e Tecnologia (FCT), seja por viados grandes programas de inter-venção em monumentos implementa-dos pelo IPPAR ou os mais modestosprogramas de conservação e valori-zação desenvolvidos pela DGEMN.Estas duas últimas entidades, espe-cialmente o IPPAR, são as responsá-veis pela promoção dos primeirostrabalhos de Arqueologia da Arqui-tectura feitos em Portugal, seja direc-tamente através dos seus técnicos,seja adjudicando os estudos a entida-des exteriores.Do ponto de vista da organizaçãoadministrativa da Arqueologia, umacompetência que em Portugal é dasestruturas do Estado, consideramosque não se justifica qualquer auto-nomização da Arqueologia de Arqui-tectura. Mas os técnicos das entidadesda tutela devem receber formaçãocomplementar para poderem apreciare pronunciar-se sobre projectos de in-tervenção em monumentos edificadosou em zonas de especial sensibilidadeàs questões de arquitectura histórica,como são os centros históricos urba-nos, no sentido de assegurarem a reali-zação de estudos de Arqueologia deArquitectura e/ou a elaboração de

Leitura estratigráfica de alçado no mosteiro de São Martinho de Tibães, Braga

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ARQUEOLOGIA DA ARQUITECTURA

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Tema de Capa

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pareceres por arqueólogos com com-petências nesta especialidade.Esta questão é tanto mais importantequanto se assiste, actualmente, auma nova orientação da actividadede construção para a recuperação deedifícios antigos, sendo que é nestaactividade de “restauro” de prédiosque mais se faz sentir a necessidadede conhecimento, para informar ade-quadamente os projectos de “recu-peração”.Contudo, não existem ainda con-dições legislativas e de reconhecimen-to da disciplina, a par da ausência deequipas capazes de dar resposta emtempo útil, que permitam avançarpara a realização de trabalhos sobreedifícios não classificados, errada-mente considerados como “arquitec-tura menor”, o que se traduz em gra-ves perdas para o conhecimento daarquitectura antiga e para o estudo

das expressõesarquitectónicas dourbanismo.Considerando que oconhecimento cons-titui, seguramente,o mais precioso “ca-pital” de qualquersociedade, agora eno futuro, caberáespecialmente aoEstado, em repre-sentação dos cida-dãos, assegurar asua produção e di-vulgação tambémnesta área da Ar-queologia da Arqui-tectura.Mas não se podeesperar que o Estadoresolva tudo, repe-tindo vícios velhosde dependência depolíticas casuísticas,que vão e vêm deacordo com a maiorou menor sensibili-dade dos responsá-veis políticos.Cabe também às câ-maras municipais

fomentar esses estudos, tanto pelamais lenta e “alérgica” via adminis-trativa, através de regulamentoscondicionantes das intervenções emáreas urbanas com interesse arquitec-tónico, quer pela mais atractiva e efi-caz modalidade de isenção de taxas eapoio técnico aos projectos.Cabe igualmente aos promotoresimobiliários aceitar os custos dos tra-balhos de Arqueologia de Arquitec-tura como custos base do empreendi-mento, tal como fazem com os custosdo projecto de arquitectura, de en-genharia, de materiais e mão-de--obra, etc.Cabe ainda às universidades concre-tizar a tão desejada interligação coma sociedade, protocolando com asassociações empresariais, com asentidades governamentais e com asautarquias, o desenvolvimento deprojectos científicos e técnicos, não só

na área da Arqueologia da Arquitec-tura mas na área mais global daConservação do Património. Nada disto será possível, naturalmen-te, se não houver formação específicaem Arqueologia da Arquitectura, aqual, em nossa opinião, se deve con-cretizar ao nível das pós-graduações,especializações, mestrados e doutora-mentos – o que significa um grandedesafio para as universidades, não sópara aquelas que possuem licenciatu-ras em Arqueologia, que terão umaresponsabilidade acrescida, mas tam-bém para as que proporcionam licen-ciaturas em Arquitectura e na área daConservação e Gestão do Património.Situamos ainda neste âmbito da for-mação a questão, que nos parece cru-cial, do fomento do diálogo inter-disciplinar – porque a prática daArqueologia da Arquitectura, salvoraras excepções, estará sempre asso-ciada a intervenção arquitectónicaactual sobre o edificado, os arqueólo-gos têm que saber dialogar com osoutros intervenientes no processo,desde arquitectos e engenheiros atéaos proprietários e gestores diversos.Os próximos anos serão fundamen-tais para a afirmação da Arqueologiada Arquitectura em Portugal, sejapelo aparecimento de equipas de pro-fissionais que reivindiquem o desen-volvimento desta área de actividade,seja pelo seu fomento por iniciativadas entidades governamentais datutela e das autarquias, seja aindapela exigência de qualidade por par-te dos consumidores.Por todas estas razões, acreditamosque a Arqueologia da Arquitecturanão deixará de dar um contributo sig-nificativo para a delicada questão dagarantia de qualidade nas interven-ções em património.

LUÍS FONTES, Arqueólogo, Unidade de Arqueologia da Universidade do Minho

Diagrama das relações estratigráficas das fases construtivas do piso 0 do Mosteiro de Santo André de Rendufe, Amares

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ARQUEOLOGIA DAARQUITECTURA

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Tema de Capa

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A Arqueologia da Arquitectura pro-põe a abordagem do edifício em todaa sua complexidade, de modo a com-preender a sua história pessoal únicae irrepetível de uma forma integrada,conjugando os dados históricos, estu-dos de patologias, comportamentosestruturais, caracterização de materi-ais construtivos, etc., com os dadosarqueológicos, possibilitando, destaforma, o conhecimento do seu passa-do através de um método coerente,objectivo e sistemático.Podemos referir que, em termos insti-tucionais, tem sido no seio do IPPARque a Arqueologia da Arquitecturatem dado os seus primeiros passos emPortugal. Apesar de tudo, é possívelconstatar que o conhecimento e a apli-cação desta disciplina, não só no IPPARcomo em Portugal, não teve a implan-tação necessária, verificando-se queainda não estão criadas as condiçõespara a assimilação de rotinas tão ne-cessárias em trabalhos desta natureza.Assim, apesar do IPPAR reflectir asdificuldades sentidas em termos na-cionais, não podemos esquecer algu-mas iniciativas já realizadas, nem o fac-to de ter sido graças à diligência dassuas Direcções Regionais que se con-cretizaram os trabalhos mais desen-volvidos de Arqueologia da Arqui-tectura, nomeadamente no âmbito devastos projectos de intervenção emimóveis afectos.Neste contexto, é de referir o trabalhopioneiro realizado na Igreja de SãoGião da Nazaré, onde se efectuou umestudo exaustivo do monumento1,

que servirá de base ao projecto deintervenção arquitectónica que sepretende implementar.Igualmente no âmbito de um projectodo IPPAR relativo à reabilitação e va-lorização do Mosteiro de Rendufe,realizaram-se estudos de Arqueolo-gia da Arquitectura da responsabili-dade da Universidade do Minho.Conduzidos pelo arqueólogo LuísFontes, estes estudos representamum marco importante no desenvolvi-

mento desta disciplina em Portugal. No âmbito do programa de Inves-tigação Científica, Desenvolvimentoe Inovação Tecnológica de Espanha aque o IPPAR se associou, encontra-seem fase de elaboração um projectointitulado “Arqueologia da Arqui-tectura Altomedieval nas Astúrias,Extremadura e Portugal”2. A Sé Cate-dral de Idanha-a-Velha foi incluídaneste projecto, esperando-se parabreve o primeiro estudo verdadeira-

Para compreender a complexidade do problema da intervenção em edifícios antigos é necessário,primeiro que tudo, entender que se tratam de estruturas sedimentadas ao longo de séculos e que, porisso, necessitam de um conjunto de técnicos devidamente qualificados para as descodificar. É aqui quea Arqueologia da Arquitectura surge como um desafio inovador.

Potencialidades da Arqueologia da Arquitectura

A experiência do Instituto Portuguêsdo Património Arquitectónico

Claustro do Mosteiro de Santa Clara-a-Velha

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Pedra & Cal n.º 25 Janeiro . Fevereiro . Março 2005

aARQUEOLOGIA DAARQUITECTURA

Tema de Capa

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mente aprofundado deste edifícioque tantas dúvidas coloca em termoscronológicos e tipológicos.Também no Convento de São Fran-cisco de Santarém, na Casa Rural deMilreu (Estoi)3, e, recentemente, noCastelo de Castelo de Vide4, a sig-natária, com um conjunto de outrostécnicos do IPPAR, tem vindo a testare a aplicar esta metodologia, apesardas dificuldades sentidas ao nível dosfinanciamentos, prazos, colabora-dores e levantamentos gráficos defi-citários. Refira-se, por último, o projecto emcurso de recuperação da denominadaTorre da Pela, situada no Largo Mar-tim Moniz, da iniciativa da CâmaraMunicipal de Lisboa, em que o IPPARfoi chamado a colaborar. Espera-seque esta iniciativa represente um mar-co importante no avanço desta novametodologia e um exemplo de comose podem conseguir excelentes resul-tados conjugando esforços de diferen-tes entidades.A realização de um conjunto de con-ferências promovidas pelo IPPAR em 1999, onde estiveram presentes alguns dos principais investigadores

espanhóis de Arqueologia da Arqui-tectura, representou a primeira apre-sentação pública em Portugal, daspossibilidades oferecidas por estemétodo5. Aaposta na divulgação des-ta temática surge também associada àpublicação de artigos na Revista Es-tudos/Património, da responsabilida-de do IPPAR6, bem como à inclusãode seminários relacionados com estaproblemática no Curso de História deArte da Universidade Nova, no mó-dulo Património que tem sido con-duzido pelo IPPAR7 .Apesar das dificuldades enunciadas,podemos afirmar que estão criadasalgumas das condições que julgamosfundamentais para que a afirmaçãoda Arqueologia da Arquitectura tenhaalguma expressão entre nós. Assim,começa a existir um conhecimento,entre os mais diversos técnicos quehabitualmente intervêm em patrimó-nio arquitectónico, da importânciados registos prévios e da sua poste-rior análise. Ao mesmo tempo, nota--se, por parte dos arquitectos por-tugueses, um pouco mais de atençãopara os problemas específicos dorestauro, das técnicas tradicionais de

construção e dos registos exaustivos.Por último, não podemos deixar dereferir a importância de que se revesteo lançamento deste número temáticoda Pedra & Cal, vindo reforçar a ideiade que estamos no bom caminho,apesar de conscientes do muito queainda há a percorrer.

Notas:1 Equipa onde participaram Dr. Luís Caballero Zore-da, investigador do Consejo Superior de Investiga-ciones Científicas de Madrid, Dr. Luís Fontes, da Uni-versidade do Minho, e Dr. Pedro Penteado.2 Equipa coordenada pelo Dr. Luís Caballero Zoreda.3 Estas intervenções foram coordenadas pela signa-tária deste artigo em 1996 e 2001-2002, respectivamente.4 Projecto de recuperação da autoria do Arq.to NunoTeotónio Pereira, coordenado pela Direcção Regionalde Évora do IPPAR (Arq.to João Pires).5 Conferências “Património arquitectónico - análisearqueológica da arquitectura e métodos de registo”.Palácio Nacional da Ajuda, 27 de Abril de 1999. Esti-veram presentes os arqueólogos Luís Caballero Zore-da e Agustin Azkarate e os arquitectos Leandro Cá-mara e Pablo Latorre. 6 Revista Estudos/Património, Edição Departamentode Estudos, Lisboa: IPPAR, n.º 3, 2002.7 Seminários conduzidos pela signatária e pela ar-quitecta Ana Luísa Quinta, do Departamento de Es-tudos do IPPAR.

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Pormenor do levantamento interpretado da ábside da Igreja de São Giãoda Nazaré

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Claustro do Mosteiro de Santa Clara-a-Velha

MARIA M. B. MAGALHÃES DE BARROS, Departamento de Estudos do IPPAR

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Tema de Capa

Além dos estudos das especialidadesde engenharia, arquitectura e paisa-gismo, e em estreita articulação comestes, implementou-se, pela primeiravez em Portugal, um completo estu-do de Arqueologia da Arquitectura.Este contemplou a elaboração de umamemória histórica com base numarecolha documental inédita, a cargode Pedro Penteado, a análise estrati-gráfica de alçados, a cargo de umaequipa do CSIC-Madrid, sob coorde-nação de Luís Caballero Zoreda, e aescavação arqueológica (do solo e deparedes), entregue a uma equipa daUAUM-Braga, sob coordenação deLuís Fontes.Apresenta-se de seguida uma sínteseda sequência de trabalhos já executa-dos no quadro da intervenção em cur-so na Igreja de São Gião da Nazaré,relevando especialmente os aspectosde articulação com as restantes valên-cias intervenientes e o facto, inédito, dese ter procedido à escavação arqueo-lógica de paredes, aplicando exacta-mente a mesma metodologia de esca-vação do subsolo.Os trabalhos arqueológicos inicia-ram-se com a limpeza do monumen-to e a elaboração de um detalhadolevantamento topográfico do existen-te, o qual, por si só, proporcionou no-vos dados de natureza científica e oestabelecimento das condicionantes

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A Igreja de São Gião da Nazaré é um monumento notável, exemplar único no actual território portu-guês, sendo amplamente referenciado na bibliografia internacional como um importante testemunhoda arquitectura cristã antiga da Europa Ocidental. Após décadas de abandono nas mãos de particu-lares, o Estado conseguiu adquirir o monumento e desencadear, através do Instituto Português doPatrimónio Arquitectónico, um programa integrado de conservação, estudo e valorização, que estáem curso.

Igreja de São Gião da Nazaré

Um estudo completo de Arqueologia da Arquitectura

Leitura estratigráfica do alçado correspondente ao corte longitudinal CC´

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Planta do edifício e ruínas de São Gião da Nazaré, com identificação das principais fases construtivas

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CASO DE ESTUDOTema de Capa

de desenvolvimento dos projectos deconservação.Em seguida, efectuou-se a leituraestratigráfica pormenorizada dos al-çados (sobre levantamentos realiza-dos pela empresa OZ). Esta, cruzadacom os dados proporcionados pelaanálise histórica de base documental,permitiu elaborar uma primeira in-terpretação da evolução arquitectó-nica do monumento e estabelecer umprograma específico de sondagensarqueológicas, para esclarecer dúvi-das e colmatar ausências de infor-mação.Prosseguiu-se com o acompanhamen-to arqueológico da colocação da cober-tura de protecção (a cargo da empresaSTAP), eliminando-se quaisquer im-pactes negativos sobre o monumento econseguindo-se, em simultâneo, atra-vés da observação e registo das amos-tras sedimentares recolhidas nos furospara as estacas de amarração, confir-

mar a elevada potencialidade arqueo-lógica do subsolo de São Gião.Por outro lado, o registo das acções ea obtenção de dados proporcionadospelo acompanhamento arqueológicoconstituem informação fundamentalpara a elaboração da história do mo-numento, confirmando-se como umaprática imprescindível em qualquerintervenção em património. Destemodo, será possível, no futuro, não sófazer a história da conservação domonumento como avaliar as conse-quências e assegurar uma monitori-zação informada.Iniciou-se depois a fase de escavaçãoarqueológica, com marcação de son-dagens no solo e nas paredes, emzonas seleccionadas com base nas aná-lises prévias da estratigrafia dos alça-dos e da planimetria do edifício e dasruínas. A decisão de escavar arqueo-logicamente as paredes teve por basea verificação do grande potencial de

informação que estas encerravam emtermos de rebocos, argamassas e tiposde aparelho construtivo, a par dasevidências de alterações construtivas,manifestas em vãos encerrados e/ourasgados e paredes adossadas.O conjunto dos dados proporcionadopelos trabalhos arqueológicos relan-ça, com novas bases, não apenas aproblemática da tipologia arquitectó-nica e cronologia do monumento deSão Gião, mas também a do povoa-mento e da estrutura territorial anti-gas da orla costeira, questão de pri-mordial importância tanto para acontextualização de São Gião comopara a compreensão dos processos deocupação humana que o actual terri-tório da Nazaré conheceu desde aAntiguidade.Assim, pode concluir-se que os tra-balhos já realizados confirmaram oelevado potencial científico de SãoGião, acrescentado agora com a iden-tificação de uma longa sequência deocupação do local e com a obtençãode novos dados que possibilitamavançar na interpretação das caracte-rísticas arquitectónicas do edificado,constituindo por essa via um impor-tante factor de valorização do monu-mento, que dentro de poucos anospoderá ser fruído em pleno pelos visi-tantes que aí se desloquem.Isso mesmo consta dos relatórios opor-tunamente apresentados ao IPPAR eque deverão servir para informar asvalências de engenharia e de arqui-tectura, agora habilitadas a desenvol-ver os projectos finais de conservaçãoe valorização do monumento.

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ANDRÉ MANUEL PAES MACHADO, Arqueólogo, Colaborador da Unidade deArqueologia da Universidade do Minho

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Perspectiva do plano final, respectiva leitura estratigráfica e diagrama da sequência, na sondagem 1 do corte transversal JJ´

Restituição esquemática em modelo 3D de proposta de interpretação das principais fases construti-vas do monumento de São Gião da Nazaré

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CASO DE ESTUDO

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Tema de Capa

Fundado no último quartel do séculoXI, o mosteiro beneditino de SantoAndré de Rendufe, Amares, sobrevi-veu aos períodos de crise que elimi-naram parte significativa das casasmonásticas do Minho no decurso dosséculos XIV e XV. Veio a afirmar-secomo uma das mais importantes aba-dias da reformada Congregação Be-neditina do Reino de Portugal, ini-ciando nos finais do século XVI umpercurso de crescimento que culmi-nou, no século XVIII, na reconstruçãoquase total do edificado. Extinto em1833-1834, ficou com a igreja e partedo claustro afecto à paróquia, sendo orestante vendido a particulares, pas-sando a exploração agrícola.Porque se trata de um imóvel comgrande interesse patrimonial, classi-ficado como de Interesse Público, oMosteiro de Santo André de Rendufeintegrou o programa de recuperaçãodos conjuntos monásticos implemen-tado pelo Instituto Português doPatrimónio Arquitectónico. Tambémaqui, se seguiu a metodologia de

intervenção integrada, solicitando-seo desenvolvimento preliminar deestudos de diversas especialidades,cujos resultados se incorporarão noprojecto final.O estudo histórico e arqueológico foientregue a uma equipa da Unidadede Arqueologia da Universidade doMinho, coordenada por Luís Fontes,fixando-se três objectivos principais:um de natureza científica (aumentar

o conhecimento sobre o mosteiro);outro de carácter informativo (pro-porcionar dados às diversas artesenvolvidas, em especial à arquitectu-ra e à engenharia); e um terceiro denatureza preventiva (minimizar osimpactes das obras no subsolo).Beneficiando já das experiências obti-das noutras intervenções, designada-mente no Mosteiro de São Martinhode Tibães e na Igreja de São Gião daNazaré, definiu-se um plano de tra-balhos que contemplou, numa pri-meira fase, a recolha de documen-tação de arquivo relativa a obras, olevantamento fotográfico do existen-te, uma primeira análise da evoluçãodo edificado, com base numa espéciede “estudo prévio de alçados”, e aidentificação das condicionantesarqueológicas.Foi nesta fase que se procedeu à reco-

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Classificado como Imóvel de Interesse Público, o Mosteiro de Santo André de Rendufe, Amares, inte-grou o programa de recuperação dos conjuntos monásticos implementado pelo Instituto Portuguêsdo Património Arquitectónico. De entre os vários estudos realizados, coube a uma equipa da Unidadede Arqueologia da Universidade do Minho a realização do estudo histórico e arqueológico.

Mosteiro de Santo André de Rendufe

Uma análise histórica e arqueológica

Vista panorâmica do Mosteiro de Santo André de Rendufe

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Leitura estratigráfica preliminar do alçado sul da igreja

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CASO DE ESTUDOTema de Capa

lha exaustiva das fontes documentais,reunindo informações sobre obrasexecutadas desde o século XVI, combase nas quais se elaborou uma pri-meira sinopse construtiva. Em segui-da, sobre os levantamentos do edifica-do (produzidos para o IPPAR pelaempresa daESCALA), procedeu-se auma primeira leitura estratigráficados alçados, com base numa obser-vação macroscópica das paredes esubsequente distinção das diferentes

unidades construtivas. Para cada alça-do, elaborou-se o respectivo diagramadas relações estratigráficas, expres-sando-se o conjunto das leituras numaplanta e num diagrama-síntese.Numa segunda fase, e tendo pororientação o estudo prévio, estabele-ceram-se as acções arqueológicas es-pecíficas a realizar, que contempla-ram o levantamento detalhado dealçados e sua leitura estratigráficapormenorizada, sondagens e esca-

vações em zonas seleccionadas paraesclarecer dúvidas de interpretação,para caracterizar as soluções técnico--construtivas do edificado, para in-formar os projectos de engenharia ede arquitectura e acompanhamentoda execução das obras.Refira-se que os levantamentos topo-gráficos “de arquitectura” serviramapenas para o estudo prévio de leitu-ra estratigráfica de alçados. Para umaleitura mais detalhada, foi necessárioelaborar levantamentos pormenori-zados, parte dos quais encomendadaa uma empresa de topografia (nocaso, a INFOTOP), especificando onível de detalhe, enquanto outrosforam executados pela equipa dearqueologia.O estudo prévio dos alçados revelou--se igualmente importante para adefinição das zonas onde se deveriamefectuar as sondagens arqueológicas.Das escavações resultou a descobertade estruturas (canalizações, alicerces,pavimentos) e de espólio relaciona-dos com as diversas fases medievais emodernas de ocupação do mosteiro.Os interessantes dados já obtidos per-mitiram consolidar a ideia-base doprojecto de intervenção, isto é, é valo-rizar o mosteiro de Rendufe comomonumento interpretado, para o quecontribuiu, decisivamente, a identifi-cação de paredes que são verdadeirospalimpsestos da história do mosteiro,o que só foi possível com a leituraestratigráfica de alçados.Do ponto de vista do exercício daArqueologia da Arquitectura, a inter-venção em curso no Mosteiro deSanto André de Rendufe revelou-sede grande importância, já que alémde permitir estabelecer procedimen-tos padronizados de recolha de da-dos, permitiu fixar a metodologia dedesenvolvimento de uma actuaçãoem Arqueologia da Arquitectura, sus-ceptível de ser aplicada a outras edifi-cações.

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SOFIA BARROSO CATALÃO, Arqueóloga, Colaboradora da Unidade de Arqueologia da Universidade do Minho

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Levantamento do alçado exterior do topo sul da ala do refeitório

Vista parcial do alçado sul da igreja

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CASO DE ESTUDO

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Tema de Capa

INFLUÊNCIAS DIVERSASA Arquitectura Vernácula do Alvãoidentifica-se com os significados figura-dos – "indígena", "genuíno", ou "puro" –do termo latino vernaculus e com as defi-nições de Brunskill (1985: 21 a 25), Ra-mos e Cossío (1997: 37) e Cuisenier(1991: 13), e testemunha a história dassuas comunidades, conforme o espíritodo "Documento de Nara sobre Autentici-dade" (Japão, 1994), através da Forma/Projecto, Materiais/Substância, Uso/Função e Tradições/Técnicas.

No Alvão encontramos construçõesde feição castreja com paredes circu-lares, de granito ou xisto, e coberturacónica piramidal, em colmo, ardósia,ou telha. Nas aldeias de Ermelo,Fervença, Varzigueto, Barreiro, Dor-nelas, Lamas de Olo, Assureira, Antae Arnal, existem cerca de 75 cons-truções deste tipo, 35 habitadas e asrestantes utilizadas como cortes, pa-lheiros ou armazéns. As paredes cur-vas podem estar unidas por paredesrectas ou apresentar empenas trian-

gulares para apoio de coberturas deduas águas. Incluem-se nesta tipolo-gia formal as edificações de plantarectangular com os cantos redondos,isto é, sem esquinas. O legado romano foi assimilado, noAlvão, pelas técnicas construtivaslocais: nas paredes de cantaria oualvenaria de pedra; na argamassa deassentamento dos blocos; no trava-mento de paramentos e paredes, atra-vés de juntoiros e alhetas nos cunhais;nos elementos de guarnição dos vãos;na armação das coberturas apoiadaem asnas triangulares; na utilizaçãoda telha cerâmica; nos sobrados; e nacompartimentação por tabiques.A casa-bloco do Alvão é similar à"casa latina" identificada em França(Oliveira e Galhano, 1994: 22). Possuium piso térreo, destinado ao gadobovino e suíno, adega e arrumações;por cima, o andar de habitação temum espaço que serve de sala, cozinhae quarto. Outras dependências ane-xas, como lagares, currais, estábulos,palheiros, espigueiros e eiras, agru-pam-se em torno de pátios. Do legado medieval, registe-se quecasas mais antigas, de rés-do-chão eprimeiro andar, construídas em xisto,podem ter o andar superior com fron-tais; estão alinhadas ao longo da rua;as paredes laterais das casas, perpen-diculares à rua, podem encostar, dei-xando espaço de alguns centímetros,ou afastar-se, formando estreitas rue-las, por onde correm as águas pluviaisdas coberturas em ardósia (Viollet-le-

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Indígena, genuíno, ou puro. Estas são “qualidades” que podemos atribuir à Arquitectura Vernáculado Alvão. Um precioso legado, consubstanciado nas habitações das comunidades que por alipassaram, que urge reabilitar e restaurar.

Arquitectura Vernácula do AlvãoUma caracterização

Casa de feição romana, em Vila Chã

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Duc, 1864-1868: 227); e, por vezes,apresentam passadiços de ligação.A zona nordeste do Alvão é a maistípica da serra, quer pelo clima, querpela paisagem, quer pela forma deviver das populações e núcleos depovoamento concentrado. As povoa-ções (Samardã e Vilarinho da Sa-mardã; Anta e Assureira; Lamas deOlo, Dornelas e Barreiro) assentamentre as cotas 650 m a 1030 m.

A CONSTRUÇÃO NA ZONANORDESTEAcasa de habitação desta zona caracte-riza-se por uma arquitectura elemen-tar e arcaica e integra-se em bandasirregulares, com edifícios encostadoslateralmente à beira de um caminho ealgumas casas isoladas.A sua construção inclui paredes degranito e cobertura em telha, colmo ouardósia; constitui uma casa-bloco dedois andares, de planta rectangular(média 15 m x 6,5 m), acesso exteriorpor escada de granito que desembocanum patamar, por vezes alpendrado,patim/sequeiro e cobertura de duas aquatro águas; e implanta-se em terre-nos graníticos, muitas vezes aprovei-tando os afloramentos como paredes.No rés-do-chão ficam as cortes e arreca-dações e no primeiro andar a cozinha/sala ou cozinha e sala/quarto e quar-tos, ou cozinha, sala e quartos dife-renciados. As fundações são directas, em terrenode afloramento granítico superficialque é talhado e alisado, para receber afundação ou directamente a parede deelevação. Verificam-se também pare-des inseridas em valas abertas no aflo-ramento rochoso e, quando a rochaapresenta declives, é talhada de modoa encostar e apoiar a fundação. Asparedes chegam aos seis metros de al-tura e têm espessura de 0,60 m a 0,80 m,são constituídas por dois panos degranito, têm silhares mais ou menostrabalhados, com as faces aparentesdesempenadas; cada fiada é compos-ta por "corredoiras" ou pedras coloca-das a par, com a "cauda" segundo oeixo longitudinal da parede e "juntoi-ros" com a "cauda" no sentido inverso

atravessando a espessura da parede.Em casas mais antigas, os blocos depedra são assentes a seco e algunsreflectem trabalho de cantaria; algu-mas têm paramentos com as juntas"tomadas" com argamassa hidráuli-ca, por vezes salientes, sublinhando ocontorno dos blocos e produzindobelo efeito ornamental. Os vãos das portas e janelas são depequenas dimensões (o vão da corte éde maior largura) e delimitados fre-quentemente por peças de cantariasem ornamentação; são cerrados porporta de duas folhas, de travessas

pregadas, em madeira de carvalho,frequentemente chapeadas a zinco,onde se destaca o fecho de madeira; ealgumas frestas abrem em bisel parao interior. Muitas casas têm sistemas de pro-tecção solar, pluvial e contra o vento,lajes graníticas de pouca espessura,colocadas a cutelo, junto às ombrei-ras ou encastradas nas paredes, sobrea padieira dos vãos. As coberturas são de duas águas oumais, em função das dimensões,configuração da planta e topografiaenvolvente, e o declive é de cerca de30º. A cobertura de colmo assenta sobre uma estrutura de castanho e

carvalho, composta por pau de filei-ra apoiado nas empenas, frechais,asnas e caibros, onde assenta o forroque recebe o colmo; é protegida, nasempenas, por guarda-ventos, àsquais encosta, por pedras, na cume-eira e beiral, e por varas ao longo daságuas; o colmaço cobre parte dascápeas (que rematam as paredes,formando o beirado) nas paredeslineares; têm uma "manada" de col-mo alçada, para saída do fumo. Acobertura de telha tem um madeira-mento estrutural elementar, de as-nas, barrotes, frechais, pau de fileira

e ripado, sobre o qual assenta a telhade canudo ou marselhesa, permitin-do que o conjunto disponha de ven-tilação natural; o fumo sai pelosinterstícios das telhas, por frestas oujanelas nas paredes ou, ainda, poruma chaminé recentemente intro-duzida. Os sobrados são de vigas de castanhoou carvalho, toros pouco desbasta-dos, assentes em cachorros ou embu-tidos nas paredes, sobre as quais sãopregadas, directamente, as tábuas dosoalho; mais raramente, estas tam-bém podem ser fixas a barrotes assen-tes sobre as vigas. As paredes interio-res são de granito ou tabiques de

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Casa Vernácula em Ermelo

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CASO DE ESTUDO

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Tema de Capa

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Casa em Ermelo, com sector quinhentista Casa vernácula, Varzigueto

Alvenarias do Alvão Sobrados de Madeira tradicionais do Alvão

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madeira, com tábuas verticais depinho ou carvalho.

ORGANIZAÇÃO INTERIOR DACASA DE HABITAÇÃOA organização interior da casa dehabitação, regra geral uma casa dedois andares, apresenta as seguintescaracterísticas: no piso térreo, situa--se a corte ou as cortes e, ainda, algu-ma arrecadação de alfaias agrícolas eou armazenagem de batata; o acessoao sobrado, quando a topografia doterreno o permite, faz-se directamen-te da rua com cota semelhante; decontrário, a comunicação ao primeiroandar é feita por uma escada cingidaà parede, por onde se realiza o acessoou, perpendicular a esta, sendo, nosdois casos, rematada por compridopatim ou simples patamar, geralmen-te sem alpendre, com guarda de gra-nito ou prumos de ferro forjado oumadeira. No andar superior encon-tra-se a cozinha com forno, uma salacom uma cama encostada a uma pare-de e dois ou três quartos, abertos paraa sala. O paramento interior das pare-des é rebocado ou revestido apenascom cal apagada e o espaço interior épreenchido com mobiliário rústico. A corte ocupa, praticamente, toda aárea térrea, e tem acesso indepen-dente da habitação; o pavimento éem terra batida ou pode ser consti-tuído pelo próprio afloramentorochoso, rebaixado relativamente àsoleira da porta de granito ou de

madeira, para comportar o mato queservirá de leito aos animais. Porvezes, na corte, encontra-se umrecinto para os vitelos ou para o por-co, separado por divisórias de tabua-do de madeira, mas, vulgarmente, acorte está separada da "maternida-de" (para os vitelos) e do cortelho,por paredes de granito, com acessosindependentes.Acozinha situa-se no primeiro andar,muitas vezes em compartimento deacesso independente, com lareiracentral, num ângulo da casa, ou en-costada a uma parede. Actualmente,esta é dotada de "chupão" e chaminé,constituída por uma laje de granito,um pouco mais alta que o sobrado, ouentão toda a cozinha assenta sobreum afloramento rochoso, talhado,afeiçoado e nivelado, ou é revestidacom lajes de granito, todas à mesmacota, sendo uma utilizada como "lar".O forno de cozer o pão fica a um can-to da cozinha, de um modo geralincorporado na casa, perto da lareira;sobre esta pende o caniço, caldeirasuspensa por cremalheira, e enchi-dos. À volta da lareira está um escano,um banco comprido e uma mesa arti-culada e nas paredes os louceiros,embutidos em nichos. Os quartos são separados por tabi-ques de tábuas verticais e mobiladoscom cama, arca para a roupa, porvezes guarda-fatos, lavatório de ferroou bacia de água e mesa-de-cabeceirae são vulgares quartos interiores sem

janela. Na sala, geralmente grande,há uma mesa, cadeiras, arcas e, porvezes, uma cama.A autenticidade e o valor cultural daArquitectura Vernácula do Alvãotornam imperativos a sua reabili-tação e restauro, de forma a mantê-lacomo precioso legado para geraçõesfuturas.

Bibliografia:BRUNSKILL, R. W., Traditional Buildings of Britain –An Introduction to Vernacular Architecture, London,Gollansks Paperbacks, 1985.CUISENIER, Jean, La Maison Rustique: Logique Socialet Composition Architecturale, Col. “Ethnologies”,Paris, Presses Universitaires de France, 1991.DUC, Violet-le-, Dictionnaire Raisonné de l’ArchitectureFrançaise, du XIe au XVIe Siècle, 10 tomes (Maison,tome 6), Paris, A. Morel Editeur, Rue Bonaparte, 13,1854-1868.OLIVEIRA, Ernesto Veiga de; GALHANO, Fernando,Arquitectura Tradicional Portuguesa, 2.ª ed., Lisboa,Publicações Dom Quixote, 1994.RAMOS, Luís Maldonado; COSSIO, Fernando Vela,De Arquitectura y Arqueologia, Madrid, EdicionesMunilla-Leria, 1997.SUAREZ, Manuel Caamaño, A Casa Popular, Santiagode Compostela, Museu Pobo Galego, FundaciónCaixa Galicia.

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EUNICE SALAVESSA, Arquitecta, Professora auxiliar na UTAD

Moinho da Ponte, Amal Lagar, Ermelo

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CASO DE ESTUDO

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Tema de Capa

No Algarve, constatamos que osvários tipos de habitação se relacio-nam com as diversas sub-regiões exis-tentes, criadas pelas condicionantesgeográficas que podemos encontrarneste vasto território. Assim, o edifi-cado difere em função do clima, solo,cultura agrícola e arvense e activida-de piscatória – factores que o defineme condicionam.

Existem, no entanto, traços comunsque tornam possível estabelecer umatipologia mais abrangente: a habi-tação algarvia desenvolve-se hori-zontalmente sendo composta porapenas um piso; possui uma grandesimplicidade de formas e superfícies,optando quase sempre pela caiaçãocomo acabamento interior e exterior;os vãos correspondem ao número dedivisões interiores, podendo porvezes encontrar-se habitações comapenas um vão de acesso; finalmente,como pavimento utiliza-se o ladrilho,o sobrado, ou o próprio terreno.Além do abrigo, a habitação é tambémo reflexo da actividade de que a famíliase ocupa. O Baixo Algarve é caracteri-zado por um povoamento disperso,em que as habitações são influenciadaspela importância e número atribuído

aos seus prolongamentos (estábulos,galinheiros, pocilgas, forno). Ou seja,os anexos existentes dependem do tipode propriedade (quinta, monte, horta)e das condições por esta fornecidas,reflectindo o nível económico dos seusproprietários.Podemos definir, na zona do BaixoAlgarve, três tipos de tipologias domi-nantes:• Acomposta por uma ou duas águas,com ou sem chaminé; com alvenariade pedra, tijolo ou taipa, como siste-mas de construção mais utilizados;pavimentos em terra batida ou emtijoleira e composta por vários anexos;• As habitações em fila e em profun-didade na zona de Olhão e Fuzeta,possuindo açoteias utilizáveis cons-truídas sobre abóbadas de tijoleiraque cobrem o piso térreo e sobre dor-

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Sendo a construção e respectivos sistemas construtivos “influenciados” pelo meio envolvente1,também a Arquitectura surge como o resultado da interacção do Homem com a Naturezaanunciando-se como imagem cultural de um povo.

Arquitectura Vernácula no AlgarveDiferentes sub-regiões, diferentes tipos de edificados

É visível o contraste do edificado entre duas paisagens tão distintas, como Burgau (zona piscatória) e Morgado de Arge

“Poema de Geometria

e de silêncio, ângulos

agudos e lisos entre duas

linhas vive o branco”

Sophia de Mello Breyner Andresen

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CASO DE ESTUDOTema de Capa

mentes no piso 1; os pavimentos sãoem tijoleira e o acesso à açoteia faz-sepelo pátio posterior;• Os designados “montes alenteja-nos”, constituídos por dois ou maiscorpos de edifício englobando a habi-tação, estábulos cobertos e forno; aconstrução é maioritariamente emtaipa e o pavimento em tijoleira esobrado.No centro do Algarve predomina ahabitação de cobertura mista, quepossui açoteia utilizável e telhado,alvenaria de calcário, tijolo ou taipa,pavimento em tijoleira e os vãos guar-necidos com cantaria. Junto ao valedo Guadiana e na serra do Caldeirãoconstata-se a existência de habitaçõesem alvenaria de xisto, cobertura deuma só água orientada no sentido dosventos e chuvas, sem chaminé, sendoa exaustão de fumos feita através dastelhas no Inverno e utilizando umafornalha exterior no Verão, adossadaà fachada ou desligada da habitaçãocomo os fornos e pavimentos em terrabatida. Nas encostas da serra doCaldeirão é frequente o registo devárias construções localizadas a dife-rentes níveis, que pertencem à mes-ma habitação, cuidadosa e engenho-samente dispostas, criando espaçosmágicos e surpreendentes.O Alto Algarve é composto pelas habi-tações que se agrupam com irregulari-dade, consoante os declives do terre-no, e possuem uma única divisão,chaminé destacada, alvenaria de taipa

e pavimentos em terra batida, sendoconsolidadas exteriormente por pos-santes contrafortes. Esta sub-região é

ainda marcada pelas habitações dasencostas da serra de Grândola, ondeexiste fraca densidade populacional e,ao contrário da tipologia anterior, osespaços são mais amplos desfrutandode uma cozinha tipicamente algarviade grande chaminé com forno adossa-

do e eira, telhado de duas águas e pavi-mento em tijoleira.Por último, o Algarve Litoral arenosoonde ainda hoje se podem avistaralgumas habitações de pescadores,com estrutura em madeira coberta decolmo, de uma ou duas divisões epavimentos em terra, sobretudo emzonas como as praias de Faro e MonteGordo.Este artigo não pretende englobar – eem tão poucas palavras – todos osaspectos, características e ensina-mentos que a arquitectura desta re-gião nos pode oferecer, até porque olimite entre cada sub-região e o seuedificado nem sempre é, nem deveráser, tão objectivamente separado. Eleencontra-se em muitos dos casosdiluído, oferecendo momentos úni-cos de reflexão entre várias tipologiase o entrecruzar de influências, vive-res e saberes. Pretendeu-se apenasdespertar e convidar o leitor para vere sentir toda esta variedade arquitec-tónica e construtiva que nos reporta aespaços que julgamos existirem ape-nas no nosso imaginário.Notas:1 Cravinho, Ana – “Construção tradicional algarvia”,Revista “Pedra & Cal”, n.º 24, Out. – Dez. 2004, p. 12,Lisboa, GECoRPA; Bibliografia:2 AA.VV., “Arquitectura Popular em Portugal”, Vol.III – zona 6 (Algarve), Associação dos Arquitectos Por-tugueses, 3ª edição, Lisboa, 1988

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ANA CRAVINHO, Arquitecta, STAP, S. A.

Exemplo das habitações em fila na Fuzeta – Olhão e das suas açoteias utilizáveis. Este tipo peculiar de edificado tem a sua origem nas relações mantidaspelos habitantes desta zona com o Norte de África

Duas habitações situadas em Alcoutim, serra do Caldeirão, onde podemos observar a ocupação de diferentes níveis do solo e a existência de for-nalha exterior adossada à fachada

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CASO DE ESTUDO

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Tema de Capa

Nos últimos anos, tem-se assistidoem Portugal a uma crescente concen-tração das atenções e esforços, porparte dos diferentes organismos res-ponsáveis pela concepção e imple-mentação das políticas de desenvol-vimento rural, na recuperação patri-monial e na revitalização económicadas aldeias. Não há programa nacio-nal ou regional que não contempleuma medida ou acção destinada afinanciar acções de requalificaçãoarquitectónica e urbanística e devalorização do potencial turísticodos aglomerados rurais com o objec-tivo, mais ou menos explícito, deminimizar as ameaças de esvazia-mento demográfico e de declínio eco-nómico e social com que se debate omundo rural, sobretudo das regiõesdo interior. Os dois exemplos maisconhecidos são o Programa dasAldeias Históricas e o dos CentrosRurais.

DIVERSOS PROGRAMASO Programa das Aldeias Históricas,lançado em meados dos anos 90, noâmbito do Programa de Promoção do

Potencial de Desenvolvimento Regio-nal (PPDR), abrangeu dez “aldeias”da região Centro, todas elas possui-doras de um património histórico earquitectónico relevante e/ou valio-so. Teve como objectivo principalestancar o processo de degradaçãopatrimonial e económico, e contem-plou, numa primeira fase, um con-junto de acções de natureza infra--estrutural: recuperação dos monu-mentos e das fachadas das casas,enterramento de cabos eléctricos e decomunicações, criação de novos alo-jamentos turísticos, qualificação dosespaços públicos e melhoramentodos acessos. Só a partir de 1998 se sen-tiu a necessidade de passar à fase dadinamização socioeconómica, de for-ma a «tornar as aldeias não apenasvisitáveis, mas também habitáveis». Quanto aos Centros Rurais, a inicia-tiva partiu do Ministério da Agri-cultura e do Desenvolvimento Rural,do Ministério do Planeamento e doMinistério do Emprego e da Segu-rança Social, e teve por objectivosmelhorar a qualidade de vida daspopulações e valorizar os recursos

locais, nomeadamente patrimoniais,turísticos e agrícolas. Com o arranque do III QCA, multi-plicaram-se as intenções governa-mentais de alargar estas experiênciasa outras regiões do País, em áreas debaixa densidade populacional e comproblemas de desenvolvimento: AltoMinho, Côa, interior do Algarve,Alentejo – onde se prevê criar umarede de “Aldeias da Água", em tornoda barragem do Alqueva – e no Valedo Douro, onde surgiu o Programadas “Aldeias Vinhateiras”. Além des-tas iniciativas, têm surgido outraspropostas de âmbito local ou regio-nal, nomeadamente no Interior Nor-te onde foram elaborados os Pro-gramas das Aldeias de Quarta Ge-ração, das Aldeias Fronteiriças e dasAldeias da Terra Quente, por iniciati-va da Federação dos Agricultores deTrás-os-Montes e Alto Douro (no pri-meiro) e da Associação de Muni-cípios da Terra Fria e da FundaçãoRei Afonso Henriques (no segundo). Note-se, antes de mais, que estas in-tervenções não são nem novas, neminovadoras. No final dos anos 30,

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A revitalização das aldeias tradicionais

Novas propostas,velhas soluções

Ao longo dos anos, diversas regiões de Portugal têm sido palco de inúmeros programas de revitali-zação económica, desenvolvimento rural e recuperação do património arquitectónico. No entanto,olhando para os resultados alcançados, o balanço não é muito positivo, sendo importante rever anatureza e a lógica destas intervenções.

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CASO DE ESTUDOTema de Capa

António Ferro concebeu e organizouo Concurso da “Aldeia mais Por-tuguesa de Portugal” procurandoassim incitar as elites rurais e o povoa “alindarem” as suas aldeias, comocomplemento à política salazaristados melhoramentos rurais e comoforma de propagar os valores e osideais do conservadorismo naciona-lista do regime. Nos anos 60 foi lança-do, em Trás-os-Montes, o Programadas Aldeias Melhoradas com objecti-vos muito similares. Ainda nestaregião, no início dos anos 80, foilançado um programa de desenvol-vimento rural (o PDRITM), queapontava para a criação de Centrosde Apoio Rural (pólos de desenvol-vimento), onde deveriam ser concen-trados investimentos de melhoria daqualidade de vida das populações(acessibilidades, saneamento básico,equipamentos escolares e de saúde),criando assim condições para a fi-xação da população. Esta beneficia-ria ainda das intervenções em favorde um desenvolvimento agrícolamarcado pela modernização dasestruturas de produção e pelo incre-mento da produção agrícola.

BALANÇO POUCO POSITIVOOra o balanço destas intervençõesnão é, de forma alguma, muito posi-tivo, uma vez que os objectivos ini-ciais não foram alcançados, nomea-

damente no que diz respeito ao com-bate ao processo de esvaziamentodemográfico e de declínio económi-co e social da maioria das aldeiasintervencionadas. Por isso mesmo,pensamos ser oportuno questionar aforma e o modo como estes progra-mas têm vindo a ser concebidos eimplementados e, sobretudo, o seureal impacto em termos de desenvol-vimento rural. Em primeiro lugar, tratam-se, regrageral, de projectos impostos de cimapara baixo, que não favorecem umaverdadeira participação das entida-des locais e das populações desde afase inicial do processo, estando porisso condenados a ser mais uma dasmúltiplas medidas das políticas ter-ritoriais sem enraizamento social einstitucional local.Em segundo lugar, tratam-se de pro-gramas excessivamente orientadospara as actividades turísticas, margi-nalizando ou desprezando a realida-de social e a base produtiva agrícoladestes aglomerados. Ora, como pa-rece estar plenamente demonstrado,nenhum processo de desenvolvimen-to rural poderá assentar exclusiva-mente na vertente turística, nem asactividades relacionadas com turis-mo rural poderão sobreviver sem amanutenção das actividades agríco-las.Finalmente, em terceiro lugar, a apos-

ta excessiva nas acções infra-estrutu-rais em detrimento das acções imate-riais, mais difíceis de implementarporque faltam as dinâmicas locais,ancoradas em bases económicas esociais sólidas, capazes de fixarempopulações e de sustentarem, a lon-go prazo, os processos de desenvol-vimento rural.Face aos insucessos das intervençõesanteriores, importa pois rever a natu-reza e a lógica destes programas, pro-curando reforçar a participação daspopulações e dos agentes locais emtodas as fases do processo, assegu-rando uma maior articulação entre asdiferentes componentes infra-estru-turais, sociais e económicas e evitan-do a tentação de transformar estasaldeias numa espécie de “reservasetnográficas” que mais não servemque alimentar um neo-ruralismo decariz folclórico incapaz de resolveros principais problemas com que sedebatem os territórios rurais.

LUÍS RAMOS, Engenheiro, Professor Associado da UTAD

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CASO DE ESTUDO

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Tema de Capa

O PARQUE HABITACIONAL NAREGIÃO CENTRODe acordo com os censos 2001, a per-centagem de edifícios em Portugalcom apenas um alojamento é de cercade 87 por cento. No interior centro dePortugal esta percentagem chega aatingir 94 por cento e, há mesmo algu-mas zonas de tratamento estatístico,desta região, onde esta percentagematinge os 97,1 por cento. Estes valo-res, idênticos em outras regiões doPaís, revelam bem a importância eco-nómica, social, patrimonial e culturaldas habitações unifamiliares emPortugal. Por outro lado, a percentagem de edi-fícios em Portugal com mais de 30anos é de cerca de 45 por cento, sendo

quase 20 por cento a percentagem deedifícios com mais de 60 anos. ARegião Centro possui um parquehabitacional um pouco mais envelhe-cido do que a média nacional. O índi-ce de envelhecimento da RegiãoCentro é de 104,3 edifícios construí-dos antes de 1945 por cada 100 cons-truídos após 1991. Este índice, a nívelnacional, é de 104. Nas regiões da Beira Interior Norte,Sul e Cova da Beira, o panorama habi-tacional é de igual modo preocupan-te no que diz respeito à sua degrada-ção. O índice médio de envelhecimentodos edifícios nestas três regiões é de152, sendo 92,5 por cento dos edifí-cios constituídos apenas por um úni-co alojamento. Ora, considerando que

estas três regiões são marcadamenterurais e atendendo também ao índicede envelhecimento das habitação,estima-se que a grande maioria dehabitações unifamiliares aí existentesseja habitações do tipo rural.

ESTADO DAS HABITAÇÕES DOTIPO RURALNABEIRAINTERIORExistem já vários locais e aldeias his-tóricas identificadas na Beira Interior,cujas habitações rurais foram caracte-rizadas e algumas delas recuperadasde forma integrada, dado o seu valorcultural, histórico, arquitectónico econstrutivo, como é o caso, por exem-plo, das aldeias de Sortelha, Almeida,Castelo Novo, Idanha-a-Velha, Mon-santo, Piódão, entre outras.

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O panorama habitacional da região centro de Portugal, dominado em grande parte por habitaçõesdo tipo rural, apresenta-se bastante degradado. A reabilitação deste tipo de habitações, especial-mente na Beira Interior, é de vital importância para a melhoria de qualidade de vida dessas popu-lações e para o desenvolvimento económico no interior do País.

A importância da reabilitação de habitações do tipo rural

Antes e depois

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CASO DE ESTUDOTema de Capa

No entanto, estas aldeias históricasrepresentam um número muito redu-zido deste tipo de habitações compa-rativamente ao número total que seestima existirem na Beira Interior, asquais, na realidade não reúnem ascondições exigidas para se poderviver com o mínimo de conforto hi-grotérmico. As habitações do tipo ru-ral, pelas suas características constru-tivas, são em geral muito frias edifíceis de aquecer, uma vez que a suaenvolvente exterior tem uma resis-tência térmica baixa. Sabe-se tambémque grande parte destas habitações seencontra degradada, de acordo comresultados de estudos de inspecçãorealizados. De cerca de 125 habitaçõesinspeccionadas, localizadas em setefreguesias do Fundão e três da Co-vilhã, mais de 70 por cento destas temnecessidades de intervenção imedia-ta, devido a graves problemas desegurança de utilização, nomeada-mente inexistência de extracção degases e fumos e deficiente instalaçãoeléctrica, bem como problemas deinfiltração de água pela cobertura.Detectou-se ainda, em muita delas, apresença de humidade ascensionalnas paredes dado que as suas fun-dações são de pedra, em geral muitosuperficiais.Em geral, nestas habitações do tiporural, as condições de habitabilidadesão deficientes ou mesmo inexisten-

tes. A cozinha é geralmente escuraporque foi “invadida” pelo fumo dalareira, cujo efeito de chaminé é defi-ciente. Alguns quartos são interiores epor isso sem janelas para a sua neces-sária ventilação natural. Os com-partimentos são de reduzidas dimen-sões, muitas vezes com um número demobílias em excesso e inadequadas aoreduzido espaço interior. Em algumasdestas habitações, não há privacidadedo agregado familiar, dado que osseus ocupantes de diferente grau deparentesco têm de compartilhar omesmo quarto ou até a mesma cama.Muitas destas habitações não têmsequer casa de banho, nem muitomenos água quente. Muitas outrasnão dispõem de abastecimento deenergia eléctrica ou infra-estruturasde saneamento básico. Já para nãoreferir que algumas destas não ofere-cem condições de segurança estrutu-ral e têm elementos estruturais emrisco de colapso, nomeadamente es-truturas de madeira de coberturas e devarandas exteriores, ou de pavimen-tos de madeira que se apresentam bas-tante deformados em muitos casos.A degradação destas habitaçõesdeve-se à falta de obras adequadas demanutenção, ao longo dos anos, quenão foram realizadas porventura porfalta de condições económicas dasfamílias residentes. Alguma parte dasua degradação também se deve à má

utilização da habitação por falta deconhecimento e formação dos seusresidentes.

REABILITAÇÃO DA HABITAÇÃODO TIPO RURALPelo panorama descrito, em particu-lar na Beira Interior, é óbvio concluir--se que a reabilitação de habitaçõesdo tipo rural, além de ser um tema demuito interesse pelos desafios técni-cos que coloca, é de vital importânciapara o desenvolvimento económicodo interior do País. Por outro lado, atendendo que é nes-te tipo de habitações, nos meios ruraise na periferia das grandes cidades,que vivem as populações mais desfa-vorecidas economicamente, a suareabilitação é fundamental para amelhoria da qualidade de vida destaspopulações. É necessário por issoadoptar como estratégia para melhorintervenção social a reabilitação des-te tipo de habitações, sem recorrer aorealojamento, desenraizando os seusresidentes, em bairros sociais que sãoquase sempre garantia de insucessonos processos de inserção social.A reabilitação de cerca de 40 habi-tações do tipo rural, pertencentes aum bairro situado na periferia daCovilhã, é um exemplo pioneiro emPortugal de reabilitação habitacionalpara a inserção social. Esta inter-venção resultou de uma parceriaentre a Beira Serra – Associação deDesenvolvimento Local, a CâmaraMunicipal da Covilhã e a Universi-dade da Beira Interior. As soluçõesconstrutivas adoptadas neste caso,além de serem de baixo custo, resul-taram em melhorias significativaspara a renovação deste tipo de habi-tações, melhorando muito o seu com-portamento térmico e durabilidade.

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J. P. CASTRO GOMES, Prof. Associado, Grupo de Construção,Departamento de Engenharia Civil daUniversidade da Beira Interior

Antes e depois

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Pedra & Cal n.º 25 Janeiro . Fevereiro . Março 200526

PROJECTOS & ESTALEIROS

Avaliação da segurança das construções face à acção dos sismos Apresenta-se um caso de estudo sobre a avaliação da segurança estrutural face à acção sísmica, cometido recentemente à Oz, Ld.ª.

No decurso do processo de requalifi-cação dos edifícios da Escola Básica 2, 3Roberto Ivens, em Ponta Delgada, Aço-res, de acordo com o projecto de arqui-tectura, elaborado pelo gabinete pro-jectista, Entreplanos, decidiu-se avaliara segurança estrutural dos edifícios AeB, em particular, à acção sísmica, dadaa antiguidade das construções e a sualocalização numa região de elevado ris-co sísmico.

De acordo com a metodologia preconi-zada, em conjunto com o gabinete pro-jectista, o trabalho foi iniciado com umestudo preliminar, baseado na ins-

pecção sumária dos edifícios. Numasegunda fase, a que reporta o presenteartigo, visou-se o aprofundamento doestudo através de uma inspecção deta-lhada, com ensaios não destrutivos oupouco intrusivos. A informação reco-lhida servirá de suporte à avaliação es-trutural dos edifícios utilizando umprograma de análise estrutural, de ele-mentos finitos, a cargo do gabineteprojectista.

METODOLOGIA UTILIZADALevantamento estrutural e constru-tivo detalhado dos edifíciosFoi levada a cabo a caracterização doselementos estruturais e, por conse-quência, não estruturais, em termos dasua disposição nos edifícios, da suageometria (obtida em parte do levanta-mento arquitectónico) e das proprieda-des mecânicas dos materiais consti-tuintes das paredes resistentes.Foram executados, por amostragem,ensaios não destrutivos ou pouco in-trusivos, nomeadamente, a utilizaçãodo pacómetro para detecção de ele-mentos estruturais ocultos nas paredesou pavimentos, ensaios de percussão,observações boroscópicas do interiordos pavimentos, ensaios ultra-sónicospara a medição indirecta da espessurade perfis metálicos e a execução, poramostragem, de pequenas sondagensem paredes e tectos ou pavimentos, cri-teriosamente localizadas.O levantamento estrutural ou constru-tivo dos edifícios foi representado so-bre os desenhos de arquitectura exis-tentes, em suporte CAD, tendo sidoidentificados os elementos estruturais

e as suas características físicas e geomé-tricas (Fig.s 1 e 2).Levantamento das anomaliasFoi feita a identificação das anomaliasvisíveis, em particular, as de índole es-trutural e o levantamento da sua dispo-sição e extensão nos elementos da cons-trução, através de referenciação sobredesenhos de arquitectura existentes,em suporte CAD.Foram executadas, também, por amos-tragem, sondagens pontuais para seaveriguar, por exemplo, se as fissuras(Fig. 3) atingem a alvenaria resistente,observações boroscópicas para de-tecção das partes afectadas dos ele-mentos estruturais de madeira ocultos

1 - Planta parcial do 1.º andar, com represen-tação do levantamento estrutural

2 - Alterações estruturais, com elementos debetão armado

4 - Cobertura - ataque pontual e superficial detérmitas num barrote horizontal

3 - Medição da abertura de uma fissura comum simples comparador de espessuras

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PROJECTOS & ESTALEIROS

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sob os pavimentos e, consequentemen-te, a avaliação da importância da infes-tação por insectos xilófagos e da sua ac-tividade (Fig. 4).Ensaios não destrutivos ou pouco intrusivosA caracterização mecânica dos mate-riais estruturais, nomeadamente, a ava-liação do módulo de deformabilidadee da resistência de paredes resistentesde alvenaria, foi obtida in-situ, atravésda realização de ensaios com macacosplanos de pequena área de formato se-mi-oval, que permitiram ainda a ava-liação do estado de tensão (Fig. 5).Foram realizados ensaios de resistogra-fia in situ nos elementos estruturais demadeira para detecção de zonas dasecção das peças com variações anor-mais de densidade, como por exemplo,perdas de secção, sem alteração do seuaspecto exterior, que passam muitasvezes despercebidas (Fig. 6).Foram executados, por amostragem,ensaios de arrancamento de uma hélicecom o objectivo de avaliar da resistên-cia dos materiais de assentamento dosblocos de pedra das paredes resistentesde alvenaria (Fig. 7).

CONCLUSÕESListam-se, a seguir, as principais con-clusões do estudo:• Os elementos estruturais principaisdos edifícios (paredes, pilares, arcos eabóbadas) são constituídos por alvena-ria de pedra irregular da região (basal-

to), argamassada com ligante de terra,de desagregação manual muito fácil.• As estruturas principais dos pavi-mentos e das coberturas são constituí-das por elementos de madeira (cas-quinha, acácia e criptoméria), detectan-do-se, pontualmente, outras soluçõesestruturais como lintéis de basalto eabóbadas e arcos em alvenaria de pe-dra (basalto) e outras resultantes de al-terações, nomeadamente, perfis metá-licos e lajes pré-fabricadas de vigotasde betão pré-esforçadas.• Não foram detectados quaisquer ti-pos de ligações nas entregas dos ele-

mentos estruturais de madeira das co-berturas/pavimentos às paredes resis-tentes dos edifícios. • Nas paredes resistentes dos edifíciosdetectam-se, com frequência, fissurasde índole estrutural com orientação

bem definida (predominantementevertical ou ligeiramente inclinada). De-tectam-se outras anomalias de índoleestrutural, nomeadamente, deforma-ções excessivas do pavimento, aparen-temente, relacionadas com cargas mui-to pesadas de longa duração.• Na generalidade, os elementos demadeiras aparentam bom estado deconservação, verificando-se indíciospontuais de ataques de insectos xilófa-gos (aparentemente inactivos) e de po-dridão. Os resultados dos ensaios de re-sistografia obtidos nos elementos da es-trutura de madeira, confirmam a exis-tência pontual de variações importan-tes de densidade de algumas das sec-ções resistentes, coincidentes com ano-malias importantes, constatando-se, nageneralidade, resistência à penetraçãoda broca.• Aalvenaria das paredes nas zonas en-saiadas, com macacos planos, revelou--se muito deformável para patamaresde carga relativamente baixos, tradu-zindo a fraca resistência do material depreenchimento das juntas.• Os resultados obtidos na avaliação daresistência das argamassas de assenta-mento realizados confirmam a fraca,nalguns casos ausente, coesão do mate-rial de assentamento da alvenaria.• Ambos os edifícios apresentam algu-mas singularidades estruturais em re-lação ao sismo, que deverão ser tidasem conta aquando da verificação estru-tural.• Revela-se necessário proceder ao tra-tamento preventivo das madeiras, à re-paração das anomalias existentes e,previsivelmente, ao reforço estruturaldos edifícios com o objectivo de melho-rar o comportamento às solicitaçõesverticais e horizontais.

Nota:Prevê-se a continuação da publicação de mais artigosdeste caso de estudo, nomeadamente, sobre a ava-liação da segurança estrutural propriamente dita, so-bre as medidas correctivas e, eventualmente, sobre asua execução.

CARLOS MESQUITA, Eng.º Civil, OZ, Ld.ª

5 - Zona de ensaio de macacos planos da pare-de resistente de alvenaria

6 - Ensaio de resistografia em freixal

7 - Ensaio de arrancamento de uma hélice naalvenaria

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A. Ludgero CastroConservação e Restauro de Edifícios e Monumentos

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CONSERVAÇÃO E RESTAURO DA BERLINDA DO SOLAR DE S. SEBASTIÃO EM VILA DO CONDE

A. Ludgero CastroGrupo de Gestão de Conservação e Restauro

Portugal merece um lugar de destaque pela quantidade e qualidade dos exemplares de carruagens que possui. Facto que se reflecte na existência de um museu destinado exclusi-vamente a este tipo de bens artísticos.Com o objectivo de salvaguardar a Berlinda do Solar de S. Sebastião, o município de Vila do Conde solicitou ao Grupo de Gestão de Conservação e Restauro da A. Ludgero Castro o tratamento da mesma. Durante o ano de 2004, procedeu-se à sua conservação e restauro, assegurando-se assim a manutenção deste património artístico, parte integrante do espólio expositivo do futuro Museu da Memória de Vila do Conde.

Data de início do tratamento: Junho de 2004Data de conclusão do tratamento: Dezembro de 2004

HistorialA designação de “coche” foi atribuída em meados do século XV a um novo tipo de carro de caixa suspensa fixa, através de correntes ou correia, a uma estrutura de montantes fixos aos eixos rodados. Em Portugal, o uso do coche como viatura de aparato é uma manifestação inerente à vida de corte e intensifica-se com a Restauração, e a consequente necessidade de afirmação e repre-sentação do poder real e da nobreza.O desejo e a necessidade de viagens mais rápidas e funcionais promovem a alteração do gosto nas cortes europeias, inclusive em Portu-gal, motivando o aparecimento, na segunda metade do século XVII, da carrosse moderne (Jean Le Pautre, 1618-1682) – coches de caixa fechada – e da “berlinda”, ou “berlina” (arqui-tecto Filipe di Chiesa). Com a Revolução Industrial, as viaturas torna-ram-se mais leves, flexíveis e resistentes. Viatu-ras mais ligeiras e de menor sobrecarga decora-tiva eram produzidas pelos fabricantes londri-nos, cujos modelos conheceram larga expan-são potenciada pelas condicionantes que ritmaram a história e economia da França, no final do século XVIII.

História técnicaA berlinda do Solar de S. Sebastião faz parte do espólio integrante do mesmo. É caracterizada por uma estrutura móvel de madeira – rodados, eixos e varais – sobre a qual se fixa a caixa fechada com recurso a cintas de couro. A caixa apresenta-se executada em chapa metálica com um esqueleto interno de madeira. Todo o

seu interior é forrado com um estofado executado com material têxtil e couro, guarne-cido e rematado com passamanarias. A caixa é sustentada pelos correões, mantidos em tensão com recurso às cremalheiras.O programa decorativo e ornamental neoclás-sico conjuga gregas, canelados e frisos com a linearidade e sobriedade do conjunto estru-tural, resultando num objecto de elevado equi-líbrio formal. Nas portas estão as pedras de armas da família.No eixo do rodado traseiro foi detectada uma peça estranha à carruagem, o que constitui um facto singular. Trata-se de um eixo com decora-ção anterior (barroco/rocaille), o que leva a pensar ser um aproveitamento de material proveniente de um outro carro, eventualmente da mesma casa/família. Pelo tipo de acaba-mento subjacente à actual policromia e detec-tado em sondagens e o revestimento a folha de ouro de lei, tratar-se-ia, certamente, de uma carruagem de aparato.Dada a semelhança com tantos outros elemen-tos, esta berlinda tanto pode ser de fabrico inglês como português, já que os modelos franceses continuavam a ser mais elaborados. O programa cromático da estrutura e da caixa em tom muito escuro (verde) e os seus revesti-mentos mistos de couro e tecido acolchoado, denotando a qualidade dos materiais e acaba-mentos, são características dos carros de oito-centos. Podemos, eventualmente, situá-lo entre 1780 e 1830/50.

A gestão do trabalhoO património construído e artístico assenta no respeito pela integridade e autenticidade das obras, seja qual for o julgamento que se faça de seu valor. Neste projecto, o Grupo de Gestão de Conser-vação e Restauro da A. Ludgero Castro foi res-ponsável pela organização do trabalho de ges-tão de património e pela definição do tipo de intervenção. O trabalho desenvolvido iniciou-se com uma detecção de patologias (contami-nação por xilófagos, desconsolidação estrutural, lacunas, oxidação activa de elementos metálico funcionais, ruptura da matriz têxtil e desidrata-ção dos couros), para posterior análise e de-finição de intervenção com vista à eliminação e controlo das causas.Nos trabalhos de conservação e restauro, princi-palmente direccionados para os bens artísticos, aplicaram-se métodos, técnicas e produtos compatíveis, de carácter reversível e de enve-lhecimento devidamente estudado para este fim. O trabalho desenvolveu-se em: desmonte, ex-purgo, tratamento de elementos metálicos, da estrutura de madeira, de monocromias e douramento; do material têxtil e couros. A inter-venção foi finalizada com a montagem e entrega do objecto ao dono de obra.

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CONSERVAÇÃO E RESTAURO DA BERLINDA DO SOLAR DE S. SEBASTIÃO EM VILA DO CONDE

A. Ludgero CastroGrupo de Gestão de Conservação e Restauro

Portugal merece um lugar de destaque pela quantidade e qualidade dos exemplares de carruagens que possui. Facto que se reflecte na existência de um museu destinado exclusi-vamente a este tipo de bens artísticos.Com o objectivo de salvaguardar a Berlinda do Solar de S. Sebastião, o município de Vila do Conde solicitou ao Grupo de Gestão de Conservação e Restauro da A. Ludgero Castro o tratamento da mesma. Durante o ano de 2004, procedeu-se à sua conservação e restauro, assegurando-se assim a manutenção deste património artístico, parte integrante do espólio expositivo do futuro Museu da Memória de Vila do Conde.

Data de início do tratamento: Junho de 2004Data de conclusão do tratamento: Dezembro de 2004

HistorialA designação de “coche” foi atribuída em meados do século XV a um novo tipo de carro de caixa suspensa fixa, através de correntes ou correia, a uma estrutura de montantes fixos aos eixos rodados. Em Portugal, o uso do coche como viatura de aparato é uma manifestação inerente à vida de corte e intensifica-se com a Restauração, e a consequente necessidade de afirmação e repre-sentação do poder real e da nobreza.O desejo e a necessidade de viagens mais rápidas e funcionais promovem a alteração do gosto nas cortes europeias, inclusive em Portu-gal, motivando o aparecimento, na segunda metade do século XVII, da carrosse moderne (Jean Le Pautre, 1618-1682) – coches de caixa fechada – e da “berlinda”, ou “berlina” (arqui-tecto Filipe di Chiesa). Com a Revolução Industrial, as viaturas torna-ram-se mais leves, flexíveis e resistentes. Viatu-ras mais ligeiras e de menor sobrecarga decora-tiva eram produzidas pelos fabricantes londri-nos, cujos modelos conheceram larga expan-são potenciada pelas condicionantes que ritmaram a história e economia da França, no final do século XVIII.

História técnicaA berlinda do Solar de S. Sebastião faz parte do espólio integrante do mesmo. É caracterizada por uma estrutura móvel de madeira – rodados, eixos e varais – sobre a qual se fixa a caixa fechada com recurso a cintas de couro. A caixa apresenta-se executada em chapa metálica com um esqueleto interno de madeira. Todo o

seu interior é forrado com um estofado executado com material têxtil e couro, guarne-cido e rematado com passamanarias. A caixa é sustentada pelos correões, mantidos em tensão com recurso às cremalheiras.O programa decorativo e ornamental neoclás-sico conjuga gregas, canelados e frisos com a linearidade e sobriedade do conjunto estru-tural, resultando num objecto de elevado equi-líbrio formal. Nas portas estão as pedras de armas da família.No eixo do rodado traseiro foi detectada uma peça estranha à carruagem, o que constitui um facto singular. Trata-se de um eixo com decora-ção anterior (barroco/rocaille), o que leva a pensar ser um aproveitamento de material proveniente de um outro carro, eventualmente da mesma casa/família. Pelo tipo de acaba-mento subjacente à actual policromia e detec-tado em sondagens e o revestimento a folha de ouro de lei, tratar-se-ia, certamente, de uma carruagem de aparato.Dada a semelhança com tantos outros elemen-tos, esta berlinda tanto pode ser de fabrico inglês como português, já que os modelos franceses continuavam a ser mais elaborados. O programa cromático da estrutura e da caixa em tom muito escuro (verde) e os seus revesti-mentos mistos de couro e tecido acolchoado, denotando a qualidade dos materiais e acaba-mentos, são características dos carros de oito-centos. Podemos, eventualmente, situá-lo entre 1780 e 1830/50.

A gestão do trabalhoO património construído e artístico assenta no respeito pela integridade e autenticidade das obras, seja qual for o julgamento que se faça de seu valor. Neste projecto, o Grupo de Gestão de Conser-vação e Restauro da A. Ludgero Castro foi res-ponsável pela organização do trabalho de ges-tão de património e pela definição do tipo de intervenção. O trabalho desenvolvido iniciou-se com uma detecção de patologias (contami-nação por xilófagos, desconsolidação estrutural, lacunas, oxidação activa de elementos metálico funcionais, ruptura da matriz têxtil e desidrata-ção dos couros), para posterior análise e de-finição de intervenção com vista à eliminação e controlo das causas.Nos trabalhos de conservação e restauro, princi-palmente direccionados para os bens artísticos, aplicaram-se métodos, técnicas e produtos compatíveis, de carácter reversível e de enve-lhecimento devidamente estudado para este fim. O trabalho desenvolveu-se em: desmonte, ex-purgo, tratamento de elementos metálicos, da estrutura de madeira, de monocromias e douramento; do material têxtil e couros. A inter-venção foi finalizada com a montagem e entrega do objecto ao dono de obra.

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Relativamente aos tectos, na nave cen-tral da antiga Capela criou-se uma es-trutura metálica, apoiada nas paredesexteriores, a fim de suportar um tectoem chapas de aço “Cor-ten” perfiladasem forma de U e encaixadas alternada-mente, sendo as invertidas perfuradascom características insonorizantes; nasoutras zonas deste piso foram aplica-dos tectos em placas de gesso cartona-do pintado. Ao nível do antigo “espri-tal” (hospital), também foram coloca-das chapas de aço “Cor-ten” amovíveisem forma de U entre o vigamento demadeira; sendo nas restantes zonas co-locados tectos falsos em gesso cartona-do pintado.

As paredes da antiga Capela foramcaiadas sobre o reboco com argamassasà base de cal aditivadas com gorduras.As paredes da escada de acesso ao pisoinferior foram forradas com painéis“Prodema” colados a uma estruturametálica oculta. As paredes do antigo“esprital” foram objecto de uma limpe-za cuidada de modo a preservar os es-tuques antigos e os grafitos existentes,após a sua consolidação através de in-jecções de cal e pozolanas.A nível de pavimentos, foram aplica-das pranchas de madeira de afzélia nopiso da Capela, salas dos hospitaleirose sala da lareira, tendo como acaba-mento o respectivo afagamento e ence-ramento. Na zona do hospital foi cria-da uma rampa metálica revestida comuma betonilha de cimento branco pa-ra circulação dos visitantes, sendo asáreas adjacentes revestidas com gra-vilha de basalto. Toda a escada foi re-vestida com painéis “Prodema”.A fim de se poder visualizar zonas deinteresse arqueológico, nomeadamen-te a antiga latrina, soleira de entradacom gonzos, restos de pavimento anti-go e estratificação do subsolo, foramcriadas estruturas metálicas para su-porte de vidros laminados, levando naparte superior destes um vidro tempe-rado para servir de camada de desgas-te e possível substituição posterior semdanificar o vidro resistente (laminado).Para os vãos interiores junto à escada,foram criados painéis de correr em es-trutura metálica forrados com “Prode-ma”. As restantes portas foram execu-tadas em madeira e pintadas com asmesmas características das antigas.Relativamente ao mobiliário, foramexecutados diversos bancos em madei-

ra de afzélia, sendo um deles dotado deadaptação para funcionar como mesa.Para exposição de quadros executa-ram-se painéis com cerca de 2,40 x 3,30 mem estrutura metálica e revestidos aMDF lacado e dotado com sistemaamovível. Também foram feitas pea-nhas metálicas para exposição de obrasde arte.A Capela do Espírito Santo dos Mare-antes, em Sesimbra, já se encontra aber-ta ao público com o espaço da antiga ca-pela destinado a exposição de Arte Sa-cra e o antigo “esprital” destinado amusealização.

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PROJECTOS & ESTALEIROS

Capela do Espírito Santo dos Mareantes

Novos revestimentos

CARLOS SÁ NOGUEIRA, Engenheiro, Director de Obra da MIU, Ld.ª

Na continuação da intervenção de Obras Gerais de Beneficiação – 2.ª fase, na Capela do Espírito Santodos Mareantes, em Sesimbra, a MIU, Ld.ª procedeu aos revestimentos de tectos, paredes e pavimentos.

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PROJECTOS & ESTALEIROS

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A história de N.ª Sr.ª das Salas (ouSalvas) remonta ao início do séculoXIV, quando, segundo a tradição, foimandada erguer uma ermida por D.ªVetaça, dama da corte da rainha Santa Isabel, por ali ter desembar-cado durante um forte temporal.Posteriormente, no século XVI, Vascoda Gama ordena a ampliação do edifí-cio criando a igreja hoje existente.

CARACTERIZAÇÃOO imóvel apresenta uma tipologia denave única com capela-mor de abó-badas estreladas, assentes em mísu-las e com elementos decorativosmanuelinos nos fechos das abóbadas.A norte e a sul da nave existem duaspequenas capelas rectangulares, cor-respondendo o lado sul à Capela deS.ta Luzia. O recorte da empena da fachada princi-pal apresenta uma dinâmica barroca,contracurvada, rematada por umacruz. Ao centro, o portal de entradamanuelino de verga em carena éenquadrado por colunelos torsos demármore da Arrábida.Adossada à capela-mor encontra-se apequena sacristia de planta quadra-da na qual irá ser instalada a expo-sição do Tesouro (as peças de joalha-ria oferecidas à santa ao longo dostempos).

INTERVENÇÃOA natureza da intervenção organi-zou-se em dois grupos distintos: ostrabalhos de conservação no interiore exterior da igreja e os trabalhos deadaptação da sacristia para instalaçãoda exposição permanente.A intervenção de recuperação e con-

servação consistiu na renovação dosrebocos exteriores com recurso aargamassas de cal, na caiação dosparamentos e tectos, reparação e pin-tura da porta principal e revisão dosistema de fecho, pintura de caixi-lharias e gradeamentos, revisão dacobertura, e tratamento dos pavi-mentos em tijoleira de toda a igreja.Os trabalhos desenvolvidos na sa-cristia corresponderam à execução devitrinas em chapa de aço pintada evidro para exposição das diversaspeças do tesouro, assim como a insta-lação de rede de iluminação em fibraóptica, para a correcta iluminação emanutenção do espólio. As portas de madeira existentes fo-ram recuperadas e reforçadas poraplicação de chapas de aço embebi-das e complementadas com grades desegurança. Para acréscimo da segu-rança, foi implementado um sistemade detecção de incêndios, de intrusãoe um circuito interno de televisão.Para organização do espaço da sacris-tia e em complemento das vitrinasexpositoras, foram construídos pai-néis de madeira suspensos em calhasrolantes, que flexibilizam o conjuntoe criam acessibilidade aos elementos

previamente existentes na sacristia.O conjunto foi complementado porum móvel expositor em madeira, pin-tado de forma similar aos painéis,com tinta de óleo pigmentada porprodutos naturais (terra).Na entrada principal, para protecçãoe recepção dos visitantes, foi construi-do um guarda-vento em madeira decâmbala com portas de folhas envi-draçadas. Foi também instalado umnovo balcão de atendimento, umavez que o futuro acesso ao espaçomuseológico será efectuado por estaentrada principal.Valorizada pela intervenção de reabi-litação de que foi alvo, a Igreja de N.ªSr.ª das Salas estará brevemente aber-ta aos visitantes. Acolhendo a expo-sição de uma das mais importantescolecções de joalharia da região doAlentejo, este espaço convida agora opúblico a descobrir, pela primeiravez, o conjunto de peças oferecidas àsanta no decorrer dos tempos.

Por promoção da delegação de Évora do Instituto Português do Património Arquitectónico (IPPAR), em cooperação com a Diocese de Beja, a Monumenta, Ld.ª, procedeu a um conjunto de obras deconservação e adaptação da igreja N.ª Sr.ª das Salas, em Sines, com vista à futura instalação de umaexposição permanente.

Igreja N.ª Sr.ª das Salas

Preparada para expor tesouro

JOÃO VARANDAS, Eng.º Técnico Civil, Director daMonumenta, Ld.a

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CARACTERIZAÇÃO DO IMÓVELSituada no centro histórico da cidadede Guimarães, perto dos limites dazona classificada como PatrimónioMundial, esta igreja, classificada comoImóvel de Interesse Público, remonta asua origem a 1290. O século XVIII con-feriu-lhe a marca barroca que ostenta,tendo-lhe então sido suprimidos os ar-cos que separavam as naves, trans-formando-a em “igreja-salão”, ondemagnificamente se conjuga o brilhodourado do belíssimo revestimento detalha, com o azul e branco dos seus pai-néis de azulejos historiados, e com asremanescentes pinturas murais. O re-tábulo-mor é uma obra-prima da talhaportuguesa, executado em 1743 porManuel da Costa Andrade, sob o riscode Miguel Francisco da Silva. Os alta-res colaterais, os púlpitos e o guarda--vento foram concebidos, em 1781, pe-lo arquitecto Carlos Amarante.

ESTADO DE CONSERVAÇÃOEm 2000, aquando da elaboração desteprojecto, a Igreja apresentava algumas

patologias, sen-do de destacar omau estado deconservação dassuas coberturas,que denotavamassentamentos edeficiências aonível do sistemade drenagem daságuas pluviais.Em consequên-cia do mau esta-do das cobertu-ras, verificavam--se sinais de infil-trações no inte-

rior do imóvel, nomeadamente na abó-bada em pedra trabalhada do absidíolonorte, na parede Norte do transepto(que levaram à degradação dos “fingi-dos”, assim como do altar que se en-contra encastrado nesta parede), nosmadeiramentos interiores dos tectos dotransepto e nave.

INTERVENÇÃO REALIZADAAempreitada, assumindo-se como pri-meira fase da intervenção efectuada noimóvel, teve por fim conservar e bene-ficiar as coberturas da igreja, primeiropasso para a reposição da sua qualida-de e dignidade.

OPÇÕES CONSTRUTIVASAlém da revisão geral da estrutura demadeira das coberturas, que incluírama substituição pontual de madeiramen-tos deteriorados, a sua limpeza e apli-cação de insecticida, substituiu-se o for-ro de madeira e aplicou-se mais pro-tecção – Subtelha fibrobetuminosa on-dulada da Onduline.Seguidamente aplicou-se telha nacio-nal antiga, que foi aparafusada indivi-dualmente a perfis da mesma marca as-sentes sob a subtelha.Como o telhado apresentava uma fortependente e uma extensão considerável,utilizou-se uma argamassa pobre de calgorda de três em três fiadas.Foram aplicados caleiros, em zinco eplacas de chumbo, no coroamento dasempenas.

Bibliografia:Excertos do folheto publicado pela DGEMN e distri-buído no decorrer do Seminário: “A Intervenção noPatrimónio: Práticas de Conservação e Reabilitação”.Organização: DGEMN/FEUP, 2-3-4 de Outubro 2002,FEUP-Porto.

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MATERIAIS & SERVIÇOS

Igreja de S. FranciscoConservação e beneficiação das coberturas

CARLOS FERREIRA, Engenheiro, Resp. Qualidade e Comunicação MIGUEL SILVA, Engenheiro, Director Técnico - comercialOnduPortugal, S. A.

Na 1.ª fase das obras de conservação e valorização geral da Igreja de São Francisco, em Guimarães,decorridas entre 2000 e 2002, procedeu-se à conservação e beneficiação das coberturas com materialOnduline.

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DIVULGAÇÃO

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Tema de Capa

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Carta sobre o Património Construído Vernáculo

O património construído vernáculoou tradicional suscita a afeição e oorgulho de todos os povos. Reconhe-cido como uma criação característicae genuína da sociedade, manifesta-sede forma aparentemente irregular,embora possua uma lógica própria. Éutilitário e, ao mesmo tempo, interes-sante e belo. Reflecte a vida contem-porânea e é, simultaneamente, umtestemunho da História da socieda-de. Apesar de ser obra do Homem, étambém uma criação do tempo.Conservar e promover estas harmo-nias tradicionais que constituemuma referência da existência hu-mana é dignificar a memória daHumanidade.O património construído vernáculo éa expressão fundamental da identi-dade de uma comunidade, das suasrelações com o território e, ao mesmotempo, a expressão da diversidadecultural do mundo.O património vernáculo é o meiotradicional e natural pelo qual ascomunidades criam o seu habitat.Resulta de um processo evolutivoque inclui, necessariamente, alte-rações e uma adaptação constante emresposta aos constrangimentos sociaise ambientais. A sobrevivência destatradição está ameaçada, em todo omundo, pela uniformização econó-mica, cultural e arquitectónica. Saberresistir a esta uniformização é funda-mental e é uma tarefa que envolve

não só as diferentes comunidades,mas também os governos, os urba-nistas, os arquitectos, os conserva-dores e vários especialistas noutrasáreas disciplinares.Devido à uniformização da cultura eaos fenómenos da globalização socio-económica, as estruturas vernáculassão, em todo mundo, bastante vul-neráveis, porque se confrontam comgraves problemas de obsolescência,de equilíbrio interno e de integração.Torna-se necessário, por isso, esta-belecer os princípios de conservaçãoe protecção do nosso patrimónioconstruído vernáculo, em comple-mento à Carta de Veneza (1964).

PRINCÍPIOS GERAIS1. As construções vernáculas apre-sentam as seguintes características:a) Um modo de construir emanado

da própria comunidade;b) Um carácter marcadamente local

ou regional em resposta ao meioambiente;

c) Uma coerência de estilo, de forma ede aspecto, bem como o uso detipos arquitectónicos tradicional-mente estabelecidos;

d) Um conhecimento tradicional dacomposição e da construção, que étransmitido de modo informal;

e) Uma resposta eficaz às necessida-des funcionais, sociais e ambientais;

f) Uma aplicação eficaz das técnicastradicionais da construção.

2.Aavaliação e a eficácia da protecçãodo património vernáculo dependem,quer do envolvimento e do apoio dascomunidades locais, quer da sua uti-lização e manutenção contínuas.3. Os governos e as autoridades com-petentes devem reconhecer o direitoque todas as comunidades têm depreservar os seus modos de vidatradicionais, de os proteger por todosos meios legais, administrativos efinanceiros à sua disposição e de ostransmitir às gerações futuras.

PRINCÍPIOS DE CONSERVAÇÃO1. Aconservação do património cons-truído vernáculo ou tradicional deveser realizada por especialistas dediversas disciplinas, que reconheçamo carácter inevitável da mudança e dodesenvolvimento, bem como a neces-sidade de respeitar a identidade cul-tural das comunidades.2. As intervenções contemporâneasnas construções, nos conjuntos e nospovoados de expressão vernáculadevem respeitar os seus valores cul-turais e o seu carácter tradicional.3. O património vernáculo raramentese exprime através de edificações iso-ladas. Será, pois, melhor conservadose forem mantidos e preservados osconjuntos e os povoados representa-tivos de cada região.4. O património construído vernácu-lo é parte integrante da paisagem cul-tural e essa relação deve ser tomada

Ratificada na XII Assembleia Geral do ICOMOS, realizada de 17 a 23 Outubro 1999, no México, estacarta descreve não só o que é o património construído vernáculo, mas também estabelece princípiospara a sua conservação e define orientações práticas relativas a esta temática. Trata-se de um valio-so contributo para proteger um legado extremamente vulnerável e ameaçado pela uniformizaçãoeconómica, cultural e arquitectónica a nível mundial.

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DIVULGAÇÃOTema de Capa

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em consideração na preparação deprogramas de conservação.5. O património vernáculo abrangenão apenas as formas e os materiais dosedifícios, estruturas e espaços, mastambém o modo como estes elementossão usados e interpretados pelas co-munidades e ainda as tradições eexpressões intangíveis que lhes estãoassociadas.

ORIENTAÇÕES PRÁTICAS1. Investigação e documentaçãoQualquer intervenção física em pa-trimónio vernáculo deve ser caute-losa e precedida de uma análise com-pleta da sua forma e organização. Adocumentação recolhida deve serconservada em arquivos acessíveis aopúblico.2. Relação com a paisagemAs intervenções em património cons-truído vernáculo devem respeitar emanter a integridade dos sítios ondeeste património se implanta, bem co-mo a relação com a paisagem física ecultural e ainda garantir as relaçõesde harmonia entre as construções.3. Métodos tradicionais de constru-çãoA continuidade dos métodos tradi-cionais de construção e das técnicas eofícios associados ao património ver-náculo são fundamentais para o res-

tauro e reconstrução destas estrutu-ras. É através da educação e da for-mação que estes métodos e estedomínio das técnicas e ofícios devemser conservados, registados e trans-mitidos a novas gerações de artíficese de construtores.4. Substituição de materiais e de ele-mentos arquitectónicosAs transformações que satisfaçamlegitimamente as necessidades con-temporâneas devem ser realizadascom materiais que assegurem umacoerência de expressão, de aspecto,de textura e de forma com a edificaçãooriginal.5. Adaptação e reutilizaçãoA adaptação e a reutilização de cons-truções vernáculas devem ser efectu-adas respeitando a integridade, ocarácter e a forma destas estruturas ecompatibilizando a intervenção comos padrões de habitabilidade deseja-dos. Aperenidade dos métodos tradi-cionais de construção pode ser asse-gurada através da elaboração, pelacomunidade, de um código éticoajustável às intervenções.6. Critérios relativos a alteraçõesAs alterações feitas ao longo do tem-po nos edifícios devem ser consi-deradas como parte integrante daArquitectura Vernácula. Por isso, asujeição de todos os elementos de

uma edificação a um período histó-rico único não deve constituir, nor-malmente, o objectivo das interven-ções no património vernáculo.7. FormaçãoPara conservar os valores culturais daArquitectura Vernácula ou tradicio-nal, os governos e as autoridadescompetentes, as associações e as orga-nizações ligadas a estes objectivosdevem dar prioridade:a) Aprogramas educativos que trans-

mitam os fundamentos do patri-mónio vernáculo aos técnicos liga-dos à sua salvaguarda;

b) A programas de formação paraapoiar as comunidades a preservaros métodos e os materiais tradicio-nais de construção, bem como asrespectivas técnicas e ofícios;

c) A programas de informação quesensibilizem o público, nomeada-mente os jovens, para o valor da ar-quitectura vernácula;

d) Às redes inter-regionais de arqui-tectura vernácula para intercâmbiode conhecimentos e experiências.

Reproduzido do livro:LOPES, Flávio; CORREIA, Miguel Brito, PatrimónioArquitectónico e Arqueológico, Cartas, Recomendações eConvenções Internacionais, Lisboa: Livros Horizonte,2004 (ISBN 972-24-1307-4), pp. 285-288.

Comissão Científica Internacional sobre a Arquitectura Vernácula (CIAV)

Criada em 1976, no seio do Conselho Internacional dos Monumentos e Sítios (ICOMOS), esta comissão procuraaprofundar o estudo e os meios para a preservação da arquitectura dita “popular” em todo o mundo. Composta porperitos de vários países, a CIAV promove um congresso científico anual, colabora na apreciação de candidaturas apatrimónio mundial na área da arquitectura popular e elaborou a Carta sobre o Património Construído Vernáculo.

M.B.C.

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AS LEIS DO PATRIMÓNIO

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A denúncia dos defeitos pelo dono da obra (d.o.) nas empreitadas que tiverem “por objecto a cons-trução, modificação ou reparação de edifícios ou outros imóveis destinados, por sua natureza, a lon-ga duração” deve ser feita “dentro do prazo de um ano” a contar do conhecimento do defeito (art.º 1225, n.os 1 e 2 do Código Civil, de agora em diante CC), sob pena de caducidade do direito (art.º 342, n.º 1 do CC).

A garantia nas empreitadas de obras particulares

Uma vez denunciados atempada-mente os defeitos, o d.o. tem o prazode um ano a contar da comunicaçãode recusa da obra ou da aceitação comreserva, relativamente aos defeitosaparentes ou conhecidos (art.os 1224,n.º 1, e 1225, n.º 1 e 2 do CC), e um anoa contar da comunicação da denúnciado defeito desconhecido aquando doexame da obra (art.os 1224, n.º 2, e 1225,n.º 1 e 2 do CC) para fazer valer judi-cialmente os seus direitos.Poderá o d.o., em alternativa: a) pedira reparação ou eliminação dos defei-tos; b) pedir nova construção; c) pedira redução do preço; d) resolver o con-trato; e) pedir uma indemnização.Não o fazendo dentro do prazo men-cionado, caduca o seu direito deaccionar judicialmente o empreiteiro,cabendo a este último o ónus de pro-var que tal prazo foi ultrapassado.Pode ler-se no citado n.º 1 do art.º 1225do CC que se “no decurso de cincoanos a contar da entrega, ou no decur-so do prazo de garantia convenciona-do, a obra, por vício do solo ou daconstrução, modificação ou repa-ração, ou por erros na execução dostrabalhos, ruir total ou parcialmente,ou apresentar defeitos, o empreiteiro

é responsável pelo prejuízo causadoao dono da obra ou a terceiro adqui-rente”.Deste modo, o prazo legalmente pre-visto para a garantia dos trabalhos éde cinco anos a contar da entrega daobra, mas o legislador permite clara-mente que as partes convencionemno contrato de empreitada um prazodiferente. Permanece, por isso, questão contro-vertida o saber se a lei permite afixação contratual de um prazo infe-rior a cinco anos, caso em que este setrataria de um prazo supletivo, apli-cável na ausência de estipulação con-tratual diversa; ou se apenas permitea fixação dum prazo superior e, nessecaso, os cinco anos seriam um míni-mo legal obrigatório.Certo é que, independentemente dadata do conhecimento dos defeitos eda sua denúncia, quaisquer um dosdireitos do d.o. caduca se não for exer-cido no prazo de cinco anos, ou emprazo diferente se convencionadoentre as partes, contado após a entre-ga da obra para exame. Note-se que olegislador não menciona a contagemdo prazo de garantia a partir darecepção da obra, mas, sim, a partir

da data em que o empreiteiro, concluí-dos os trabalhos, entrega ao d.o. a obrapara exame, no que diverge quanto aoregime das empreitadas de obras pú-blicas.Já é pacífico que o número de trans-missões do imóvel defeituoso nãoreleva, continuando o empreiteiro aresponder sempre perante o últimoadquirente, dentro do prazo de garan-tia legal ou convencionado após aentrega da obra ao primitivo dono. O prazo, contudo, não se renova apóscada transmissão de propriedade. Para a contagem dos prazos de cadu-cidade para denúncia dos defeitos epara intentar a acção judicial, o queimporta é o primeiro conhecimento ea primeira denúncia, não se renovan-do esses prazos com as transmissõesposteriores.

A. JAIME MARTINS, Docente Universitário, Advogado de ATMJSociedade de Advogados

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VIDAASSOCIATIVA

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VII Jantar GECoRPA

O VII Jantar GECoRPA, que se reali-zou no passado dia 12 de Janeiro, eque contou com a participação de cer-ca de 50 pessoas (entre representan-tes da Ordem dos Engenheiros e doIPPAR, das empresas e da comu-nicação social especializada), foipalco para uma interessante inter-venção do Bastonário da Ordem dosEngenheiros, Eng.º Fernando Santo.No seu discurso, dedicado ao tema“Engenharia civil: qualificação para areabilitação e a conservação”, o oradorconvidado começou por salientar quea regulação da qualificação profissio-nal dos engenheiros era, precisamen-te, um dos grandes objectivos doactual mandato da Ordem.Entendendo que o sector da cons-trução está associado a uma imagempouco favorável junto da opiniãopública e sublinhando o seu totalempenho em dignificar esta área, obastonário considerou que muitosdos problemas da construção estãorelacionados com a questão da quali-ficação – das empresas e dos profis-sionais intervenientes.O problema da ausência de legislaçãoque traduza a realidade actual do sec-tor da construção ou da sua adequa-bilidade é ainda mais acentuadoquando se fala da qualificação profis-sional dos técnicos. Por esse motivo,a Ordem dos Engenheiros estabele-

ceu a revisão do Decreto 73/73 comouma das suas prioridades, tendo jáapresentado ao Governo uma pro-posta que não se limita à questão dosprojectos. Segundo Fernando Santo,“a construção é algo bastante complexo,pelo que qualificar os projectistas, os res-ponsáveis pelo licenciamento urbano, peladirecção técnica das obras, pela fiscalizaçãoe pela coordenação da segurança é indis-pensável para a garantia da qualidade”.Afirmando que os actos técnicosdevem ser qualificados pelas Ordense não pela Administração Pública,Fernando Santo abordou a questão daproliferação de cursos de engenhariano nosso país, explicando que apenas97, dos 310 cursos existentes, se en-contram acreditados pela Ordem dosEngenheiros. As escolas de engenha-ria devem procurar a acreditação decursos como um reconhecimento daformação dos seus alunos, estimulan-do, assim, a qualidade do ensino.Relativamente à questão da qualifi-cação profissional, o bastonário afir-mou ainda que “era desejável que osalvarás viessem a considerar, a médio pra-zo, a vertente diferenciadora das empre-sas que têm competência técnica para oefeito, e que a definição da qualificaçãoprofissional passasse a estar presente emtodos os diplomas que são produzidossobre regulamentação técnica. Caso con-trário, não tenho grandes perspectivasrelativamente a um futuro muito diferentedo passado”.O modelo implementado nos últimos50 anos foi no sentido de privilegiar aconstrução nova face à recuperaçãourbana. Segundo Fernando Santo, nabase dessa linha estiveram sobretudorazões de ordem económica e umavisão meramente economicista, quetêm que ser alteradas.O licenciamento das operações foioutra das questões abordadas pelobastonário, para quem o licenciamen-to de edifícios ou fogos sujeitos a rea-bilitação está envolto em inúmeras

dificuldades e incertezas, ao contrá-rio do que acontece na construção deum edifício novo onde existe uma tra-dição mais agilizada. “Estamos a darpassos positivos (…) agora, parece-meóbvio que, ou as entidades que estão inte-ressadas neste processo se unem, vertica-lizam a decisão, agilizam as decisões econcorrem com a construção nova paragarantir mais facilidades no licenciamen-to (…), ou continuaremos a fazer depen-der a reabilitação das iniciativas das enti-dades públicas, o que é manifestamenteinsuficiente”. Na sua opinião, há um longo trabalhoa desenvolver, até porque a reabili-tação se encontra com um problemaagravado: se a procura for muito ele-vada, hão-de existir certamente pro-blemas do lado da oferta porque nãoexistem empresas – com experiênciae com técnicos qualificados – emnúmero satisfatório, uma vez quetoda a formação tem sido direcciona-da para a construção nova. “Se quere-mos fazer boa reabilitação, é necessárioque as universidades comecem a introdu-zir nos seus programas curricularescadeiras que venham ensinar as particu-laridades desta área, cursos de pós-gra-duação, e outros tipos de cursos. Há mui-

Eng.º Fernando Santo, Bastonário da Ordemdos Engenheiros, fala sobre o tema propostopelo GECoRPA, “Engenharia Civil:Qualificação para Reabilitação”

Eng.º Fernando Santo e Eng.º V. Cóias e Silva,no animado período de debate

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VIDAASSOCIATIVA

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to trabalho por fazer mas creio que oGECoRPA está empenhado na prepa-ração das empresas e dos seus quadros, edesejoso de conciliar vários interesses eproduzir informação e divulgá-la o maispossível”. No final do seu discurso, deixou oalerta: “É urgente uma visão integradade todos os intervenientes, desde os pro-prietários, projectistas, entidades licen-ciadoras, todos aqueles que têm responsa-bilidade neste processo. Têm que se sentarà mesa e pensar que, se se pretende umcrescimento significativo da percentagemde seis por cento de investimento em rea-bilitação, para valores semelhantes aos deEspanha – 22 por cento de investimentoanual nesta área face à construção nova –,então há que mudar completamente o nosso processo de desenvolvimento. Caso

contrário, mediante o atraso que Portugalregista em relação à UE, não será espera-da uma rápida inversão face à construçãonova.”Concluída a exposição de Fernando

Ferreira Santo, seguiu-se um inte-ressante diálogo entre os partici-pantes e o orador, cumprindo-seassim os objectivos do VII JantarGECoRPA.

Durante uma reunião tida, no pas-sado mês de Novembro, com aequipa do Prof. António Lamas, noâmbito de um estudo sobre a requa-lificação e revitalização dos centroshistóricos, foram equacionadas asprincipais dificuldades levantadaspelas obras de reabilitação.Questões relacionadas com osutentes:• Problemas levantados pelos uten-tes do edifício a intervencionar e dosedifícios vizinhos;• Queixas e limitações quanto aoruído produzido pelos trabalhos;• Presença, durante os trabalhos, demoradores não realojados;• Falta de informação aos utentes,preparando-os para os incómodosda intervenção.Questões relacionadas com osagentes e representantes do Donoda Obra:• Adequação dos projectos, face àsdiferenças entre construção nova ereabilitação;

• Trabalhos insuficientemente por-menorizados; • Imposição de prazos e horáriosem detrimento da qualidade dostrabalhos;• Insuficiente qualificação e sensi-bilidade dos agentes e decisorespertencentes ou representando oDono da Obra;• Insuficiente qualificação dos pro-jectistas;• Planeamento insuficientes: desar-ticulação entre intervenções avul-sas; ausência de uma abordagemglobal.Condicionantes do próprio objec-to da intervenção:• Intervenções em edifícios muitodebilitados;• Dificuldades de acessos.Condicionantes dos própriosempreiteiros:•Qualificação dos empreiteiros –falta de “cultura da reabilitação” ede conhecimento da metodologiade intervenção.

Eng.º Fernando Santo, Arq.º João Belo Rodeia(Presidente do IPPAR) e Eng.º Jorge Peloiro

Participantes

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A Câmara Municipal de Montemor-o-Ve-lho aprovou recentemente o regulamentodo Prémio Municipal de Recuperação doPatrimónio de Montemor-o-Velho, no sen-tido de incentivar a reabilitação do patri-mónio construído, com especial ênfase noscentros históricos municipais. O objectivoé dar visibilidade e reconhecimento públi-co a esse esforço, procurando vulgarizaressa postura e divulgar as boas práticas,envolver os principais agentes interve-nientes no processo e incentivar a reviven-ciação dos espaços históricos.Destinado a distinguir obras de conser-vação do património edificado do Muni-cípio, o prémio será anual e terá o valorpecuniário de 8.000€, a dividir em partesiguais pelo promotor da obra, pelo autorou autores do projecto de arquitectura,pelo empreiteiro que a executou e pelodirector técnico da obra. De acordo com o regulamento instituído,um representante do GECoRPA integraráo júri de selecção do prémio, constituídopor nove membros.

Empresários do GECoRPA equacionam dificuldades levantadas pelas obras de reabilitação

Prémio Municipal de Recuperação do Património

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NOTÍCIAS

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Colóquio “O novo regime jurídico da reabilitação urbana – As Sociedades

de Reabilitação Urbana”

Decorreu no passado dia 16 de Dezembro, no LNEC, umcolóquio promovido pela Ad-Urbem sobre “O novo regi-me jurídico da reabilitação urbana”, com enfoque nasSociedades de Reabilitação Urbana, recentemente criadaspelo Decreto-Lei n.º 104/2004, de 7 de Maio. Esta legis-lação veio estabelecer um novo quadro jurídico da reabili-tação urbana em Portugal. Novo não apenas do ponto devista material, mas também do ponto de vista orgânico.As denominadas Sociedades de Reabilitação Urbana(SRU) pretendem constituir uma nova forma de abordar egerir a intervenção sobre a cidade consolidada, com refle-xos vastos, tanto na esfera da Administração e das suaspráticas, como na esfera dos particulares, sejam eles pro-prietários urbanos, promotores, construtores, investido-res, financiadores, ou simplesmente moradores. Surgemquestões novas que importa identificar, compreender eresolver adequadamente, para que os objectivos da me-lhoria da qualidade de vida e da competitividade das nos-sas cidades possam ser atingidos da forma social e econo-micamente mais eficaz.Foi com o objectivo de repensar a intervenção na cidadeque se promoveu este colóquio, que teve como moderador

o Arq.to Fernando Gonçalves (Ad Urbem) e como orado-res: Eng. João Pedro Matos Fernandes (Quaternaire); Dr.João Pessoa e Cota (Ambelis); Eng. Vítor Cóias e Silva(GECoRPA); Dr. João Miranda (Faculdade de Direito daUniversidade de Lisboa); Prof. Arquitecto Manuel CorreiaFernandes (Faculdade de Arquitectura da Universidadedo Porto). Nos Destaques do sítio de Internet do GECoRPA(www.gecorpa.pt), encontra-se a documentação relativa àapresentação do Eng. V. Cóias e Silva, subordinada ao tema“Reabilitação do edificado e conservação do patrimónioarquitectónico: exigências de qualificação e certificaçãodos profissionais e das empresas”.

O restauro da Catedral de Santa Maria, em Vitória-Gasteiz(Espanha)A obra de consolidação estrutural desta igreja gótica do século XIII é um dos projectos de restauro mais interessantesactualmente a decorrer na Europa. Praticamente desde a sua construção que se observam fissuras no edifício, acentua-das com a passagem dos séculos, ao ponto da catedral ser encerrada ao culto em 1994 por ameaça de ruína eminente. Foientão elaborado um Plano Director de Restauro Integral e decidida uma medida muito curiosa: abrir a catedral aos visi-tantes enquanto decorrem as obras. Programadas para durar dez anos, as obras de restauro são um estaleiro vivo ondeo visitante caminha por andaimes colocados no interior da catedral a 16 metros de altura, observa os trabalhos de pertoe desfruta de uma perspectiva visual única. Esta iniciativa tem tido grande adesão e é hoje um pólo de atracção turísti-co-cultural numa zona histórica anteriormente desertificada.www.catedralvitoria.com

M. B. C.

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NOTÍCIAS / AGENDA

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Visita temática especial: “O Convento deCristo visto por Umberto Eco”Data e local: 20 de Março, 24 de Abril, 29 de Maio e 26 deJunho, às 10h00; Convento de Cristo, Tomar. Necessáriamarcação prévia.

Esta visita tem por base a obra O Pêndulo de Foucault, deUmberto Eco, e pretende percorrer três percursos parale-los e complementares: o do autor aquando da sua visita ao

Convento de Cristo em 1984; o de Causabon, personagem literária da obra; eo do esoterismo no Monumento. Não se trata de fazer apologia de uma ouqualquer investigação esotérica, mas sim apresentar as principais linhas dealguns investigadores nesta área.Preço: € 6, com cedência do guião de apoioInformações: Tel.: 249 313 481 Fax: 249 322 730E-mail: [email protected]

2.º Seminário “A intervenção no Património:práticas de conservação e reabilitação”Organização: Promovido pela FEUP em parceria com aDGEMN.Data e local: 12 a 14 de Outubro; auditório da Faculdadede Engenharia da Universidade do Porto.

Este seminário pretende potenciar o debate alargado sobrepatrimónio construído, de reflexão sobre o seu estadoactual e de como intervir de forma sustentada numa pers-pectiva de futuro.Temas: Perspectivas para a conservação e reabilitação do

património e sua inventariação: Casos práticos de intervenção em patrimó-nio edificado; Técnicas de diagnóstico e inspecção; Reforço estrutural: dastécnicas tradicionais às novas tecnologias.Preço: € 500 Informações: Clotilde Bento, FEUP – DECivilRua Dr. Roberto Frias, s/n, 4200-465 PortoTel.: 225 081 944 Fax: 225 081 446E-mail: [email protected]: http://ncrep.fe.up.pt/seminario.htm

III Ciclo de Conferências do Núcleo de Conservação e Restauro Local: Auditório O 106 da Escola Superior de Tecnologia do Instituto Politécnico de Tomar

15 de Março, 18h00“Bens Etnográficos” – Dr.ª Joana Amaral4 de Abril, 18h00“Erasmus, educação sem fronteiras” – Dr.ª Elsa Ribeiro

Informações:NCR – AE-EST – IPT Estrada da Serra, Quinta do Contador, 2300 TomarTel. / Fax: 249 328 129 E-mail: [email protected]

O excesso de construção é a terceira causade preocupaçãodos portuguesescom o ambiente

Uma recente sondagem feita peloCentro de Estudos e Sondagens daUniversidade Católica, para o JornalPúblico e para a RTP, procurou inqui-rir os portugueses sobre as suas pre-ocupações ambientais. Amaioria dosinquiridos mostrou alguma tranqui-lidade quanto aos problemas ambi-entais das zonas em que habitam. Noentanto, o lixo e a qualidade do arconstituem as primeiras preocu-pações dos inquiridos. De notar que,logo a seguir a estes factores dedegradação ambiental, foi apontadoo excesso de construção. De facto,segundo este inquérito, os portugue-ses estão mais preocupados com oexcesso de construção do que com aqualidade da água canalizada oucom o excesso de ruído. Oitenta e umpor cento do universo dos inquiridosconsiderou que “a qualidade doambiente deve ser uma prioridadenacional, tal como o crescimento eco-nómico e a criação de emprego”, emais de dois terços manifestaram-sedisponíveis para pagar mais pelosprodutos e serviços, se isso for neces-sário para melhorar a qualidade doambiente. Este inquérito traduz uma notávelreceptividade dos cidadãos aos prin-cípios do desenvolvimento sustentá-vel que, entre outras coisas, passapela reabilitação do edificado comoalternativa à construção de mais edi-fícios, pelo planeamento das cidadese pela melhoria do ambiente urbano.

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Apesar da dança ser uma prática socialefémera, circunscrita a um certo limitede espaço e de tempo, ela cria aparên-cias e transmite sensações cada vezmais integradas num ideal de cortesia.O gosto contínuo pelo minuete e pelascontradanças, na segunda metade doséculo XVIII, é bem visível nos três tra-tados de dança conhecidos em Portu-gal para este período1. Ao tornaremcompreensível o denso protocolo dasdanças de corte, estes textos transmi-tem regras de comportamento que vi-sam moldar o corpo às diferentes cir-cunstâncias sociais. O ensino da dança assenta, por um la-do, nas aulas privadas ou públicas dosmestres de dança e, por outro, na apren-dizagem isolada de leitores incultos naarte de bailar. É sobretudo este últimocaso que a tratadística da dança vemapoiar. Ao criar “a fala em que sedança”2, os gestos naturais transfor-mam-se em gestos sistematizados, ouseja, em técnica. A leitura e a prática,por sua vez, transformam a técnica emmovimento, isto é, em dança. Para tal, ocorpo é apresentado em partes distin-tas, num estilo e a linguagem claros eacessíveis, e as posições e os movimen-tos-base são descritos telegraficamen-te, com o recurso constante a gravuras.No entanto, ao ensinar os passos e as fi-

guras das danças modernas, os trata-dos apresentam um corpo ideal que en-contra o seu modelo no cortesão. Osprincípios de cortesia baseiam-se emregras de etiqueta e de reverência quese prolongam, sobretudo, para umcerto ideal de civilidade: saber estar,andar e gesticular, saber cumprimen-tar, agradecer, convidar e escusar-se, e saber reconhecer e respeitar os dife-rentes estatutos sociais. Assim, a história da dança confunde--se, claramente, com o espaço onde épraticada. No caso destas danças de so-ciedade, encontramos os salões de festa

de academias, as-sembleias, casasparticulares, ouda própria corte.Tal como estes es-paços se asseme-lhavam a um pal-co espelhado, as-sim o corpo dobailarino entravano jogo, preocu-pando-se em re-flectir uma ima-

gem tipificada de harmonia e delicade-za, promovendo a sua dignidade so-cial. O protagonista podia ver-se e re-ver-se nas imagens dos painéis de azu-lejos ou dos quadros, e podia igual-mente recriar, por meio de uma dança,o desenho das formas geométricas per-feitas dos jardins. Assim, a dança com-plementava a ornamentação destes es-paços de sociabilidade barrocos. Aliás,se observarmos a arquitectura e a deco-ração da casa palaciana barroca, é cons-tante a imposição de um certo elemen-to teatral. Sobretudo nos espaços e di-visões públicas – como a fachada, os jar-dins e o salão de festas – está presenteuma exuberância que se deseja à seme-lhança da corte.Pretende-se com este breve texto susci-tar o interesse pelo estudo da históriada dança na época barroca. Partindo danecessidade da aprendizagem em pri-vado para a beleza da sua manifestaçãoem público, nasce a técnica da dançaclássica. Este processo de disciplina domovimento acabou por contribuir, porsua vez, para a fixação de comporta-mentos e de convivências da alta socie-dade da Época Moderna.

Notas:1 Arte de dançar à francesa, trad. Joseph ThomasCabreira, Lisboa: Officina Patriarcal de Francisco LuizAmeno, 1760; Julio Severin Pantezze, Methodo, ouexplicaçam para aprender com perfeiçaõ a dançar as con-tradanças, Lisboa: Officina Patriarcal de FranciscoLuiz Ameno, 1761, e Natal Jacome Bonem, Tratado dosprincipaes fundamentos da dança, Coimbra: Officina dosIrmãos Ginhoens, 1767.2 Julio Severin Pantezze, Methodo, ou explicaçam paraaprender com perfeiçaõ a dançar as contradanças, p. 12.

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ISTO TAMBÉM É PATRIMÓNIO

A dança barroca

Tratados e representações

MARIA ALEXANDRA CANAVEIRADE CAMPOS, Historiadora, Mestranda em História Moderna pela FCSHCenas galantes. Palácio Ceia (Lisboa). Painéis de revestimento interior,

do 3.º quartel do séc. XVIII

Julio Severin Pantezze, Methodo ou expli-caçam para aprender com perfeição adançar as contradanças, Lisboa: OfficinaPatr. de Francisco Luiz Ameno, 1761, p. 54

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PERFIL DE EMPRESA

Ao completarmos dez anos de existência no mercado, manifestamos o nosso agradecimento a todos os nossosclientes. Realçamos o empenho de todos os trabalhadores da empresa que, com esforço e dedicação, têm con-tribuído para a concretização dos objectivos que nos propusemos atingir.

Ao criar a empresa, os seus corpos gerentes decidiram conduzi-la na área da reabilitação, conservação e remo-delação de edifícios.

BRERA realça com orgulho, entre outras, as seguintes obras:

• Beneficiações diversas na Igreja de Salvas – Sines – IPPAR• Obras de beneficiação no Governo Civil de Santarém – DGEMN – DREL• Construção do Centro Interpretativo das Ruínas Megalíticas de Alcalar e intervenção no monu-

mento n.º 7 – IPPAR• Remodelação do museu (Antiga Vacaria) – Escola Profissional Agrícola da Paiã• Remodelação da camarata B, na BA6 – Montijo – Força Aérea• Obras de remodelação do Centro Infantil da Parede – Edifício Creche – I.S.S.S.• Igreja de Nossa Senhora da Assunção – Antiga Sé de Elvas, obra de recuperação de caixilharias

– IPPAR

Não obstante a vocação principal da empresa, queremos também aqui referir a construção nova, com destaquepara as seguintes obras:

• Concepção/construção do Centro Cultural do Poceirão – C. M. Palmela• Construção das instalações da Fábrica de Farinha de Peixe – Peniche• Centro de recursos da Escola Secundária Vergílio Ferreira – Lisboa – DREL• Empreitada de construção civil da subestação do Casal de S. Brás – EDP

Uma política de rigoroso controlo na execução dos trabalhos é a nossa aposta, e para tal dispomos de uma equipapluridiciplicar de engenharia, sem esquecer a segurança como factor preventivo e a qualidade na boa arte de cons-truir.

Sociedade de Construções e Representações, Lda.Sede: Rua Miguel Torga, n.º 2 - C Escritório 4.6

Alfragide 2610-086 AMADORATel: 214 725 470 – Fax: 214 725 471

Membro das seguintes associações:GECoRPA – Grémio das Empresas de Conservação e Restauro do Património Arquitectónico – n.º 10

AECOPS – Associação de Empresas de Construção e de Obras Públicas – n.º 9451

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No final de 2004, decorreu em Lisboauma conferência sobre a Catedral deSanta Maria, em Vitoria-Gasteiz, noPaís Basco. A conferência Abierto porObras, promovida pelo IPPAR e Insti-tuto Cervantes, destinou-se a apre-sentar um dos mais interessantes pro-jectos internacionais de conservaçãodo património. Vem isto a propósitoda Arqueologia da Arquitectura jáque a catedral constitui um notávelexemplo de estudo, publicado em livro(Plan Director) e disponível on-line nosite da Fundación Catedral Santa Maria,em www.catedralvitoria.com. Estesite possui um grau de profundidadetécnica que agradará a especialistas ealgumas ferramentas (caso do percur-so virtual) que agradarão ao simplesinteressado. Também na Universida-de do País Basco existem duas pági-nas interessantes, a do Grupo de Inves-tigación en Arqueología de la Arquitectu-ra (GIAA), com mais de dez anos deexperiência na documentação e análi-se estratigráfica de construções histó-ricas, em www.ardiluzu.com/arqueo-logia, e a do Departamento de Geografía,Prehistoria y Arqueologia, cujos enlacesde Arqueologia da Arquitectura sãomuito completos, em www.vc.ehu.es/gorfigliano/ ARCHIVOS/Enlaces-AA.htm. Mudando de país, em www.

york.ac.uk/depts/arch/gsp/publi-city/builddet.htm pode consultar oprograma de estudos do reputadoMA in the Archaeology of Buildings,da Universidade de York, com umatradição de vários anos em estreita co-laboração com instituições como o En-glish Heritage ou o National Trust. Pa-ra um conteúdo mais técnico, emwww.ads.tuwien.ac.at/ArchEd, en-contra o Harris-Matrix Program forWindows, sobre a representação in-formática do famoso método de re-presentação estratigráfica – permite acópia gratuita.Sobre Arquitectura Vernacular, reco-mendaria a página do ICOMOS (www.icomos.org/ciav) sobre o Comité Inter-nacional da Arquitectura Vernacular(CIAV) e o texto da convenção interna-cional ratificada na XII AssembleiaGeral do México, em Outubro 1999,conhecida como Charter on the Built Ver-nacular Heritage, disponível em Portu-guês (ver página 34). No campo asso-ciativo, o Vernacular Architecture Group(VAG) promove, desde 1952, o estudode “lesser traditional buildings” emInglaterra. Esta associação promoveencontros anuais para discutir os le-vantamentos realizados por região, ti-pologias, materiais ou técnicas tradi-cionais, publicando o jornal Vernacu-

lar Architecture– alguns dos artigos dis-poníveis em www.worthingtonm.freeserve.co.uk/vag. Atenção especialpara a bibliografia específica e para oÍndex of Three-ring dates, actualizadoanualmente com os imóveis datadossegundo este método.O Vernacular Architecture Fórum (VAF)é uma associação com 25 anos de acti-vidade em defesa das construções tra-dicionais na América do Norte (Esta-dos Unidos, Canadá, México e WestIndies). No âmbito do seu aniversário,promove este ano a conferência LaFrontera: Cross-Cultural Vernacular Lan-dscapes (Tucson, Arizona) sobre o de-serto do Sonoran ao longo de 5000 anose três culturas: nativa americana, es-panhola colonial e mexicana – emwww.vernaculararchitecture-forum.org.

Arquitectura Vernácula e Arqueologia da Arquitectura

JOSÉ MARIA LOBO DE CARVALHO,Arquitecto, Mestre em Conservação do Património (York), desenvolve o Doutoramento no IST, enquanto bolseiro da FCT

Tema de Capa

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LIVRARIA

Muralhas e Fortificações de ÉvoraEdição: ArgumentumObra rigorosa e bem documentada, incluindo numerosas ilustrações e cartografia antiga e actual, este livroguia o leitor na descoberta de Évora, através do reconhecimento das suas antigas entradas e estruturas defen-sivas. É uma nova leitura da cidade, abraçada pelas suas muralhas e baluartes, onde se evidencia um patrimóniobem preservado que mereceu a sua classificação pela UNESCO.Preço: €20Código: AR.E.4

O Palácio Anjos e a Arquitectura de Veraneio em AlgésAutor: Alexandra Antunes e AdriãoEdição: Câmara Municipal de OeirasEstudo profundo sobre a arquitectura de veraneio de Algés, esta obra inicia-se com a ilustração dos con-textos histórico, cultural e social que definiram Algés como estância balnear, observando os processosconstrutivos empregues, avaliando o estado de conservação em que se encontra o imóvel e definindolinhas orientadoras da intervenção de conservação e reabilitação a implementar. Preço: € 20 Código: CMO.E.7

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Arquitectura Popular da Madeira

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A igreja românica de S. Pedro de Rates. Guia para visitantes

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Memória, Propaganda e Poder. O restauro dos Monumentos Nacionais (1929-1960)Edição: FAUPO presente estudo resulta da dissertação de doutoramento em História da Arte apresentada por Maria JoãoBaptista Neto à Faculdade de Letras de Lisboa. No Estado Novo, o restauro de monumentos, além de seruma actividade visível quase instantaneamente, permitia servir uma nova leitura da História pátria assentenos seus momentos de triunfo, verdadeira lição do valor e da raça lusa. O cuidado com o património monu-mental traduzia, ainda, um equilíbrio salutar entre a tradição secular da Nação e o seu progresso e desen-volvimento, nomeadamente no sector das Obras Públicas. É neste contexto que é criada a Direcção-Geral dosMonumentos Nacionais.Dividido em quatro capítulos que abordam os critérios de intervenção interna-cionais, os antecedentes históricos e a actividade da DGEMN, assim como algumas personalidades dedestaque, este livro encontra-se alicerçado no vasto fundo documental da Direcção-Geral dos Edifícios eMonumentos Nacionais, constituindo por isso uma excelente análise da acção patrimonial do Estado Novo.Preço: €19,90 Código: FAUP.E.4

Sistemas de Construção V – O edifício de rendimento da Baixa Pombalina de Lisboa. MateriaisBásicos (3.ª Parte): o vidroEdição: Livros HorizonteEsta obra integra-se como o quinto de dez volumes, onde se faz uma descrição ilustrada e detalhada de pro-cessos construtivos utilizados correntemente em Portugal. Esta colecção pretende construir um auxiliar deconsulta útil para profissionais e conhecer e classificar os diversos processos de construção existentes, com assuas vantagens e desvantagens. Neste volume continua-se a descrição dos materiais básicos, neste caso o vidro, e aborda-se o processo evolu-tivo dos edifícios de rendimento da Baixa Pombalina, apontando as inovações técnicas e o seu sistema cons-trutivo.Preço: € 27,60 Código:HT.E.22

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Óbidos, José Fernandes Pereira Código: PRES.E.1Portalegre, José Rodrigues e Paulo Pereira Código: PRES.E.2Leiria, Lucília Verdelho da Costa Código: PRES.E.3Angra do Heroísmo, José Manuel Fernandes Código: PRES.E.4Sintra, Vítor Serrão Código: PRES.E.5Barcelos, Carlos Alberto Ferreira de Almeida Código: PRES.E.6Viana do Castelo, João Vieira Caldas e Paulo Varela Gomes Código: PRES.E.7Santarém, Vítor Serrão Código: PRES.E.8Figueira da Foz, José Pedro de Alboim Borges Código: PRES.E.9Castelo Branco, Ana Cristina Leite Código: PRES.E.10Évora, Túlio Espanca Código: PRES.E.11Penafiel, Teresa Soeiro Código: PRES.E.12Tomar, José-Augusto França Código: PRES.E.13Guarda, José Fernandes Pereira Código: PRES.E.14Elvas, Jorge Rodrigues e Mário Pereira Código: PRES.E.15Arganil, Regina Anacleto Código: PRES.E.16Bragança, João Jacob Código: PRES.E.17Vila do Conde, Marta Miranda Código: PRES.E.18

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N.º 7, Julho/Ago./Set. 2000Preço: € 4,48

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N.º 8, Out./Nov./Dez. 2000Preço: € 4,48

Código: P&C.8

N.º 9, Jan./Fev./Mar. 2001Preço: € 4,48 euros

Código: P&C.9

N.º 10, Abril./Maio/Jun. 2001Preço: € 4,48 euros

Código: P&C.10

N.º 11, Julho/Ago./Set. 2001Preço: € 4,48 euros

Código: P&C.11

N.º 12, Out./Nov./Dez. 2001Preço:€ 4,48

Código: P&C.12

N.º 13, Jan./Fev./Mar. 2002Preço: € 4,48

Código: P&C.13

N.º 14, Abril/Maio/Jun. 2002Preço: € 4,48

Código: P&C.14

N.º 18, Abril/Maio/Jun. 2003Preço: € 4,48

Código: P&C.18

N.º 15, Julho/Ago./Set. 2002Preço: € 4,48

Código: P&C.15

N.º 19, Julho/Ago./Set. 2003Preço: € 4,48

Código: P&C.19

N.º 20, Out./Nov./Dez. 2003Preço: € 4,48

Código: P&C.20

N.º 21, Jan./Fev./Mar. 2004Preço: € 4,48

Código: P&C.21

N.º 22, Abril/Maio/Jun. 2004Preço: € 4,48

Código: P&C.22

N.º 16, Out./Nov./Dez. 2002Preço: € 4,48

Código: P&C.16

N.º 17, Jan./Fev./Mar. 2003Preço: € 4,48

Código: P&C.17

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Associado do GECoRPA (10% de desconto)Assinante da Pedra&Cal (10% de desconto)

Assinatura anual de 4 números da P&C pelo preço de € 16,13 (beneficiando do desconto de 10% sobre o preço de capa), acrescendo € 4,40 de portes de envio.

Actividade / Profissão

Con

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livro

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Total: euros

N.º 23, Julho/Ago./Set. 2004Preço: € 4,48

Código: P&C.23

Nota: Os números 0, 1, 2, 4, 5 e 6 daPedra & Cal encontram-se esgo-tados, contudo informamos quese encontram reunidos no CD--ROM Pedra & Cal - 5 Anos (1998--2003), à venda na LivrariaGECoRPA.N.º 24, Out./Nov./Dez. 2004

Preço: € 4,48Código: P&C.24

46-47 Livraria.qxp #56 12/04/03 18:43 Page 47

48

CONSULTÓRIO GECoRPA

A pedra é, no conjunto dos materiaisutilizados em património culturalconstruído, aquele que apresenta aplica-ção mais generalizada ao longo dosvários períodos da História. A pedrainteractua com o ambiente em que seencontra e transforma-se de acordo comas solicitações a que está sujeita, condu-

zindo ao aparecimento de patologias. Patologias ou formas de decaimento, vulgo “doença dapedra”, podem definir-se como sendo as modificaçõesda sua morfologia, decorrentes de processos de alteraçãodesencadeados por factores ambientais, pelo uso demateriais incompatíveis, por acções de manutençãoinadequadas, por medidas de conservação inapropri-adas ou por actos de vandalismo. As patologias podemnão só ser de diferentes tipos como também apresentardiferente extensão e severidade.As rochas na listosfera apresentam grande diversidadede características mineralógicas e petrofísicas, pelo queas patologias a si associadas, quando aplicadas emdeterminado local, podem variar grandemente. Estasituação pode ser facilmente observada, por exemplo,em materiais pétreos que se sabe terem sido aplicados nomesmo período mas em que um deles se apresenta muitomais deteriorado.De entre as patologias mais comuns na pedra, destacam--se a formação de eflorescências salinas, de crostasnegras, os fenómenos de lascagem, esfoliação, fissura-ção, fracturação, alveolização, o desenvolvimento de co-lonização biológica, entre outras. É preciso ter igualmen-te presente que, enquanto algumas patologias se mani-festam essencialmente à superfície, outras desenvolvem--se em profundidade, podendo conduzir à rotura ou mes-

mo à perda do valor artístico do elemento pétreo consi-derado.As fotografias apresentam exemplos de algumas patolo-gias que podem ser observadas em monumentos cons-truídos em pedra.A correcta e precisa identificação das patologias ocor-rentes em determinado monumento ou parte integranteé tarefa muito importante e deve anteceder a planifica-ção e execução de quaisquer medidas de intervenção.Este assunto será abordado nos próximos números daPedra & Cal.

Amélia Dionísio

Pedra & Cal n.º 24 Outubro . Novembro . Dezembro 2004

O que é a “doença da pedra” de que tanto se falae que afecta alguns edifícios e monumentos?

Sé Velha de Coimbra – desenvol-vimento de colonização biológicapor plantas superiores. As raízesdestas plantas podem conduzir àfissuração ou mesmo à fractura-ção dos blocos pétreos

Sé Velha de Coimbra – fenóme-nos de esfoliação e lascagem, ouseja, destacamento de lâminasmúltiplas de rocha, com espessu-ra da ordem de um milímetro ede lascas com alguns centíme-tros de espessura, paralelas àsuperfície da pedra, respectiva-mente

O GECoRPAconstituiu um grupo técnico de apoio para tentar responder a questões práticas que surjamdurante as diferentes fases do trabalho de conservação do património e da reabilitação do edificado.

Este grupo de apoio é constituído pelos Engenheiros Carlos Mesquita, da OZ, Ld.ª (área de diagnóstico), Vítor Cóias e Silva, doGECoRPA (área estrutural), Paulo Ludgero Castro, da A. Ludgero Castro, Ld.ª (área de gessos e estuques ornamentais) e MariaAmélia Dionísio, do Instituto Superior Técnico (IST), para questões relacionadas com a pedra. Estes especialistas responderão àsquestões que os nossos leitores encontrem nas diversas fases de um trabalho de conservação e reabilitação do património arqui-tectónico e das construções antigas, dando o seu parecer e concorrendo, assim, para a boa prática da actividade. Para outras ques-tões que não estejam directamente relacionadas com estas áreas, o GECoRPA encarregar-se-á, dentro do possível, de procurar oespecialista indicado para responder aos nossos leitores.

Envie as suas questões para: Consultório GECoRPARua Pedro Nunes, n.º 27, 1.º Esq. • 1050-170 Lisboa • [email protected] • Fax: 213 157 996

Nota: As respostas devem ser enviadas directamente via e-mail e, posteriormente, serão publicadas na Pedra & Cal e no site.

48 Consultório.qxp 12/04/03 18:45 Page 48

Pedra & Cal n.º 24 Outubro . Novembro . Dezembro 2004

ASSOCIADOS GECoRPA

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A. da Costa Lima, Fernando Ho,Francisco Lobo e Pedro Araújo - Arquitectos Associados, Ld.ªProjectos de conservação e restaurodo património arquitectónico.Projectos de reabilitação, recuperação e renovação de construções antigas.Estudos especiais.

ETECLDA - Escritório Técnico de Engenharia Civil, Ld.ªFiscalização de obras e projectos.Gestão e coordenação deempreendimentos.

MC Arquitectos, Ld.ªProjectos de arquitectura.Levantamentos, estudos e diagnóstico.

Consulmar Açores - Projectistas e Consultores, Ld.ªProjecto, consultoria e fiscalização.

LEB – Consultoria em Betões e Estruturas, Ld.ªProjecto, consultoria e fiscalização na área da reabilitação dopatrimónio construído.

PENGEST – Planeamento,Engenharia e Gestão, S. A.Projectos de conservação e restaurodo património arquitectónico.Projectos de reabilitação,recuperação e renovação de construções antigas. Gestão,Consultadoria e Fiscalização.

OZ - Diagnóstico, Levantamento e Controlo de Qualidade de Estruturas e Fundações, Ld.ªLevantamentos. Inspecções e ensaiosnão destrutivos. Estudo e diagnóstico.

ERA - Arqueologia - Conservação e Gestão do Património, S. A. Conservação e restauro de estruturasarqueológicas e do patrimónioarquitectónico. Inspecções e ensaios.Levantamentos.

Brera - Sociedade de Construções e Representações, Ld.ªConstrução, conservação e reabilitação de edifícios.

A. Ludgero Castro, Ld.ªConsolidação estrutural. Construçãoe reabilitação de edifícios.Conservação e restauro de bensartísticos e artes decorativas:estuques, talha, azulejaria,douramentos e policromias murais.

Alfredo & Carvalhido, Ld.ªConservação e restauro do património arquitectónico.Conservação e reabilitação de construções antigas.

Alvenobra - Sociedade de Construções, Ld.ªReabilitação, recuperação e renovação de construções antigas.

AMADOR, Ld.ªConservação , restauro e reabilitaçãodo património construído e instalações especiais.

Antero Santos & Santos, Ld.ªConservação e restauro do PA.Reabilitação, recuperação erenovação de CA. Instalaçõesespeciais em PAe CA.

Augusto de Oliveira Ferreira & Cª., Ld.ªConservação e reabilitação de edifícios. Cantarias e alvenarias.Pinturas. Carpintarias.

GRUPO IProjecto,

fiscalização e consultoria

GRUPO IILevantamentos,

inspecções e ensaios

GRUPO IIIExecução

dos trabalhosEmpreiteiros

e Subempreiteiros

49-51 Associados.qxp 12/04/03 18:47 Page 49

ASSOCIADOS GECoRPA

Pedra & Cal n.º 24 Outubro . Novembro . Dezembro 200450

Pintanova - Pinturas na Contrução Civil, Ld.ªConservação e restauro de rebocos,estuques e cantarias. Pinturas.

Somafre - Construções, Ld.ªConstrução, conservação e reabilitação de edifícios.Serralharias. Carpintarias. Pinturas.

Cruzeta – Escultura e Cantarias,Restauro, Ld.ªConservação e reabilitação de construções antigas. Limpeza e restauro de cantarias, alvenarias e estruturas.

COPC - Construção Civil, Ld.ªConstrução de edifícios.Conservação e reabilitação de construções antigas. Recuperaçãoe consolidação estrutural.

Sociedade de Construções José Moreira, Ld.ªExecução de trabalhosespecializados na área do patrimónioconstruído e instalações especiais.

GALERIA N.E.T., Ld.ª Conservação e restauro de douradosem obras de arte, mobiliário antigo,molduras, etc.

MELIOBRA - Construção Civil e Obras Públicas, Ld.ª Construção, conservação e reabilitação de edifícios.

GECOLIX – Gabinete de Estudos e Construções, Ld.ªConservação e restauro do património arquitectónico.Reabilitação, recuperação e renovação de construções antigas.Instalações especiais em patrimónioarquitectónico e construções antigas.

Construções Borges & Cantante, Ld.ªConstrução de edifícios.Conservação e reabilitação de construções antigas.

Na Esteira, Sociedade de urbanização e Construções, Ld.ªConservação e restauro do PA.Reabilitação, recuperação e renovação de CA. Instalaçõesespeciais em PAe CA.

Sofranda – Empresa de Construção Civil, S. A.Conservação e restauro do PA.Reabilitação, recuperação e renovação de CA. Instalaçõesespeciais em PAe CA.

CVF - Construtora de Vila Franca, Ld.ªConservação de rebocos e estuques.Consolidação estrutural.Carpintarias. Reparação de coberturas.

Listorres - Sociedade de Construção Civil e Comércio, Ld.ªConstrução e reabilitação de edifícios.

L.N. Ribeiro Construções, Ld.ªConstrução e reabilitação de edifícios. Consolidação de fundações.

Lourenço, Simões & Reis, Ld.ªConsolidação estrutural.

MIU - Gabinete Técnico de Engenharia, Ld.ªConstrução, conservação e reabilitação de edifícios.Conservação e reabilitação de património arquitectónico.Conservação de rebocos e estuques e pinturas.

Monumenta - Conservação e Restauro do PatrimónioArquitectónico, Ld.ªConservação e reabilitação de edifícios. Consolidação estrutural.Conservação de cantarias e alvenarias.

Poliobra - Construções Civis, Ld.ªConstrução e reabilitação de edifícios. Serralharias e pinturas.

Quinagre - Estudos e Construções, S. A.Construção de edifícios.Reabilitação. Consolidaçãoestrutural.

STAP - Reparação, Consolidação e Modificação de Estruturas, S. A.Reabilitação de estruturas de betão.Consolidação de fundações.Consolidação estrutural.

49-51 Associados.qxp 12/04/03 18:48 Page 50

ASSOCIADOS GECoRPA

Tecnocrete – Materiais e Tecnologias de ReabilitaçãoEstrutural, Ld.ªProdução e comercialização demateriais para construção.

Tintas Robbialac, S. A.Produção e comercialização deprodutos de base inorgânica paraaplicações não estruturais.

BLEU LINE - Conservação eRestauro de Obras de Arte, Ld.ªMateriais para intervenções deconservação e restauro emconstruções antigas. Conservação de cantarias.

GRUPO IVFabrico e/oudistribuição de produtos e materiais

Para mais informações acerca dos associados GECoRPA, das suas actividades e dos seus contactos, visite a rubrica “associados” no nosso site www.gecorpa.pt

ONDUPORTUGAL - Materiais deConstrução, S.A.Produção e comercialização demateriais para construção .

49-51 Associados.qxp #22 12/04/03 18:53 Page 51

Pedra & Cal n.º 25 Janeiro . Fevereiro . Março 2005

Há perto de cinco anos que, com fre-quência, se advoga nesta página a pe-nalização fiscal dos fogos devolutos co-mo uma das medidas mais eficazescom vista ao repovoamento e reabili-tação das nossas cidades. Amedida nãoé inovadora, pois existe em vários paí-ses europeus – nomeadamente em Es-panha – onde a situação é, aliás, muitomenos grave do que entre nós.Apesar disso, os últimos Governostêm-se recusado a tomá-la, estandomesmo ausente em várias importantesreformas recentes: a da tributação imo-biliária, a da reabilitação urbana e mes-mo a do arrendamento, esta última sus-pensa com a dissolução do Parlamen-to. No entanto, o orçamento para 2005faculta aos municípios a possibilidadede um agravamento fiscal de 30 porcento para os edifícios com fogos devo-lutos.É verdade que o pacote da reabilitaçãourbana, com a criação das Sociedadesde Reabilitação Urbana (SRU), abrangetambém as habitações devolutas. Estassociedades intervêm em zonas demar-cadas, escapando-lhes por isso a maio-ria dos edifícios naquelas condições. Éigualmente verdade que uma reformado arrendamento tenderá a resolver,mas a prazo, muitas dessas situações.Alguns mitos foram sendo alimenta-dos para justificar toda esta passivida-

de perante um fenómeno de grandevastidão e de consequências altamentegravosas, como o de que atingia apenasos centros das grandes cidades e de queas habitações estavam devolutas por seencontrarem degradadas. Ora bem: umnotável estudo apresentado e publica-do recentemente pela Câmara Munici-pal de Lisboa revela a falsidade destasduas asserções, facilmente constatadapor qualquer observador atento.Trata-se da Colecção de Estudos Urba-nos – Lisboa XXI, resultado do trabalho

de uma vasta equipa pluridisciplinardirigida pelo professor João Seixas eeditada pelo Pelouro de LicenciamentoUrbanístico e Planeamento Urbano.Foram publicados quatro volumes,fazendo-se no último, intitulado Diag-nóstico Sócio-Urbanístico da Cidade de Lis-boa, uma análise muito detalhada dasituação do parque habitacional, basea-da no recenseamento de 2001.Segundo este estudo, encontram-se va-gos na cidade 40 mil fogos, isto é, 14 porcento do total de habitações. Destes,

estão fora do mercado – para venda ouarrendamento – nada menos do que 70por cento. E ainda destes últimos, 40por cento não necessitam de obras dereparação significativas. Encontram-seassim nesta situação nada menos doque 16,299 fogos, os quais poderiamalojar quase 39 mil habitantes!Entretanto, a anunciada medida da pe-nalização fiscal, além de avulsa e aleató-ria, produzirá duvidosos efeitos a curtoprazo, sofrendo assim da mesma insu-ficiência das que foram referidas atrás,respeitantes à reabilitação e ao arrenda-mento. Dada a clamorosa dimensão dofenómeno, era aqui que seria necessárioum verdadeiro “choque fiscal”, fazen-do com que a penalização fosse, alémde generalizada, fortemente progressi-va, obrigando os proprietários a coloca-rem as habitações no mercado.Quebrado assim, ao que parece, o tabu,resta-nos a esperança de que o Gover-no a formar após as eleições encare oproblema com a indispensável fronta-lidade, a bem das cidades e dos ci-dadãos – e também das finanças públi-cas. E já agora – por que não? – aplicaridêntico sistema aos terrenos expectan-tes encravados em tecidos consolida-dos, cujas infra-estruturas e equipa-mentos estão subutilizados (veja-se otriste encerramento de escolas em Lis-boa e Porto), enquanto nas novas “ur-banizações”, além de chegarem tarde,obrigam a gigantescos investimentos,públicos e privados, que bem pode-riam ser aproveitados em prol do de-senvolvimento do País.

52

PERSPECTIVAS

Penalização fiscal dos fogos devolutos

A queda de um tabu?

NUNO TEOTÓNIO PEREIRA,Arquitecto

52 Perspectivas.qxp 12/04/03 18:55 Page 52

V cc SOMAFRE 12/04/03 19:03 Page 1

00 C-Capa Pub GECoRPA 12/04/03 17:15 Page 7