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Ano VI – N.º 26 Abril /Maio / Junho 2005 – Publicação trimestral – Preço 4,48 (IVAincluído) Revista da Conservação do Património Arquitectónico e da Reabilitação do Edificado Igreja dos Paulistas Resgatar o esplendor do Barroco Recuperação dos Paços do Concelho A integração dos saberes O núcleo de escultura do Mosteiro de Alcobaça Igreja dos Paulistas Resgatar o esplendor do Barroco Recuperação dos Paços do Concelho A integração dos saberes O núcleo de escultura do Mosteiro de Alcobaça Avaliação da segurança das construções face à acção sísmica (2.ª parte) Património Móvel e Integrado Património Móvel e Integrado

Património Móvel e Integrado - GECoRPA - Grémio …§ão: Cátia Marques Conselho redactorial: João Appleton, João Mascarenhas Mateus, José Aguiar, Miguel Brito Correia, Teresa

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Revista da Conservação do Património Arquitectónico e da Reabilitação do Edificado

Igreja dos PaulistasResgatar

o esplendordo Barroco

Recuperação dos Paços do Concelho

A integração dos saberes

O núcleo de escultura do Mosteiro de Alcobaça

Igreja dos PaulistasResgatar

o esplendordo Barroco

Recuperação dos Paços do Concelho

A integração dos saberes

O núcleo de escultura do Mosteiro de Alcobaça

Avaliação da segurança das construções face à acção sísmica (2.ª parte)

Património Móvel e IntegradoPatrimónio Móvel e Integrado

Capa n.º 26.qxp 5/24/05 2:27 PM Page 1

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Pedra & Cal n.º 26 Abril . Maio . Junho 2005

Tema de Capa:

Reconhecida pelo Ministério da Cultura como “publicação de manifesto interesse cultural”,ao abrigo da Lei do Mecenato.

N.º 26 - Abril/Maio/ Junho 2005Propriedade e edição:GECoRPA – Grémio das Empresas de Conservação e Restauro do PatrimónioArquitectónicoRua Pedro Nunes, n.º 27, 1.º Esq.1050 - 170 LisboaTel.: 213 542 336, Fax: 213 157 996http://www.gecorpa.ptE-mail: [email protected]: 503 980 820Director: Vítor Cóias e SilvaCoordenação: Cátia MarquesConselho redactorial: João Appleton, João Mascarenhas Mateus, José Aguiar,Miguel Brito Correia, Teresa de Campos Coelho Secretariado: Elsa FonsecaColaboram neste número:Alexandra Curvelo, Alexandra SobreiraAntónio Craveiro, António RessureiçãoCarlos Beloto, Carlos Ferreira, Carlos MouraFernando Duarte, Francisco da Silva DiasFrederico Henriques, Isabel Costeira, João Varandas, Jorge Rodrigues, José AlbertoRibeiro, José Maria Lobo de Carvalho, Luís Seixas, Mariana Basto, Mário Gouveia, MárioNascimento, Miguel Brito Correia, Miguel GarciaMiguel Resende, Miguel Silva, Nuno TeotónioPereira, Ricardo Lucas Branco, Solange AlmeidaDesign gráfico e produção:Loja da ImagemRua Poeta Bocage, n.º 13 – B 1600-581 LisboaTel.: 210 109 100, Fax: 210 109 199E-mail: [email protected]:Loja da ImagemRua Poeta Bocage, n.º 13 – B 1600-581 LisboaTel.: 210 109 100, Fax: 210 109 199E-mail: [email protected] Impressão: Onda Grafe – Artes Gráficas, Ld.ªRua da Serra, n.º 1 – A-das-Lebres 2670-791 S.to Antão do TojalDistribuição: VASP S.A.

Depósito legal: 128444/98Registo na DGCS: 122548ISSN: 1645-4863Tiragem: 3000 exemplaresPeriodicidade: Trimestral

Os textos assinados são da exclusiva responsabili-dade dos seus autores, pelo que as opiniões expres-sas podem não coincidir com as do GECoRPA.

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Ficha Técnica 2EDITORIAL

46LIVRARIA

48CONSULTÓRIO GECoRPA

49ASSOCIADOS GECoRPA

4REPORTAGEM

Capa

Salão Nobredos Paços do Concelho, em LisboaFoto: Francisco da Silva Dias

Património Móvel e Integrado

FRESSA mestria de saber perpetuar a História

(Alexandra Sobreira)

26DECLARAÇÃO DO CONSELHODA EUROPA NOSTRA

O impacte da energia eólica nas zonas rurais

24UMA FIGURA DO PASSADO

Casa Veva de LimaUm Património doado à cidade

(Mário Gouveia e Mário Nascimento)

Conservação: vítima do seu próprio sucesso

(José Maria Lobo de Carvalho)

45e-pedra e cal

8CASO DE ESTUDO

Igreja dos PaulistasResgatar o esplendor do Barroco

(Ricardo Lucas Branco e José Alberto Ribeiro)

17REFLEXÕES

As Esculturas de barro do Mosteiro de Alcobaça:

Um olhar crítico(Carlos Moura)

52PERSPECTIVAS

Construir, em vez de reabilitar Os custos escondidos de políticas erradas

(Nuno Teotónio Pereira)

11Restauro do mosaico romano

Painéis já intervencionados(Carlos Beloto)

32Reabilitar o Património

(João Varandas)

12Recuperação do Edifício dos Paços do

Concelho de LisboaA integração dos Saberes

(Francisco da Silva Dias)

14Fundação Calouste Gulbenkian

O apoio ao Património(Jorge Rodrigues)

37Fixações com “Bucha Química”

Certificação obrigatória ETA/CE alargada à resina para fixação

16Mosteiro de Santa Maria de Alcobaça

Conservação e Restauro de figuras com História

(Isabel Costeira, Fernando Duarte, Luís Seixas)

18A madeira como suporte na pintura:

Um olhar pelo versu(Frederico Henriques e Miguel Garcia)

20Património Integrado

e Arte Colonial PortuguesaBreve Apontamento

(Alexandra Curvelo)

22Arte Contemporânea:

quais os critérios de conservação e restauro?

(Mariana Basto)

41AGENDA

42NOTÍCIAS

44VIDA ASSOCIATIVA

33PERFIL DE EMPRESA

40DIVULGAÇÃO

Museu do CanteiroPercursos da tecnologia da pedra

(Solange Almeida)

38AS LEIS DO PATRIMÓNIO

O acto público: modo de usar(Miguel Resende)

30PROJECTOS & ESTALEIROS

Avaliação da segurança dos construçõesface à acção dos sismos (segunda parte)

(António Ressureição, António Craveiro)

36MATERIAIS & SERVIÇOS

Preservar o Sabor(Carlos Ferreira e Miguel Silva)

ERRATANa passada edição da Pedra & Cal, n.º 25, no artigo “Aexperiência do Instituto Português do Património Arquitectónico”(p. 10 e 11), foi referida a autoria do texto como sendo de Maria M. B. Magalhães de Barros. Na verdade, este texto foiescrito por Maria M. B. Magalhães Ramalho. No mesmo artigo, a fotografia com a legenda Claustro do Mosteirode Santa Clara-a-Velha, ilustra, na realidade, o Convento de São Francisco de Santarém, interior da capela das Almas.Por estes factos, apresentamos o nosso sincero pedido de desculpas à autora visada, bem como aos nossos leitores.

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EDITORIAL

É típico das sociedades menos desenvolvidas terem dificuldade em aproveitar bem todos os recursos de quedispõem. Ao contrário, assiste-se, nos países mais “ricos”, a um desperdício menor, tirando-se partido dos recursos de uma forma mais rigorosa e eficaz. Por isso, os países pobres e atrasados são-no, em grande parte,mais por culpa própria do que alheia.

Portugal dispõe de valiosíssimo e variadíssimo património, seja na esfera cultural – de que o património arquitectónico é apenas uma parte – seja na esfera natural, com as suas serras e planícies, os seus estuários e oseu extenso litoral.

O património móvel e, também, o património dito integrado, isto é, aqueles bens culturais que fazem parte ouestão fisicamente adstritos aos imóveis, são exemplos de recursos que poderiam ser melhor explorados, se postosao serviço de um turismo de qualidade. É essa a ideia que ressalta do conteúdo deste número da Pedra & Cal.

Sofremos, no entanto, o estigma dos pobres: em lugar de procurar atrair visitantes cultos e selectivos, que nosescolham como destino turístico para connosco usufruirem a nossa herança histórica e a nossa riqueza natu-ral, parecemos apostados em maximizar o turismo de sol e lua – praia durante o dia e copos durante a noite –fórmula enganosa de que outros, mais avisados, se estão a livrar . De facto, os nossos governantes arranjamtodos os meios – legais ou ínvios – para “agilizar” o licenciamento de mais urbanizações, mais hotés, mais resorts, aparentemente esquecidos de que somos um país pequeno, de que a nossa infraestrutura de abasteci-mento de água e saneamento não pode suportar tanta gente, de que importamos quase tudo o que esse turis-mo massificado exige: desde a comida com que se alimenta até à energia e aos combustíveis que gasta.

Isto no curto e médio prazo: porque a longo prazo os danos de uma tal política – que se fazem sobre os nossosfilhos e netos – são incalculáveis: uma orla costeira betonizada, o melhor das nossas áreas protegidas resorti-zadas e os nossos centros históricos embalsamados no meio de um urbanismo caótico.

Estarei a ser catastrofista? Receio bem que não, se não mudar a visão de quem nos governa e, sobretudo, se não contribuirmos para que surja rapidamente uma massa crítica de cidadãos responsáveis e exigentes, queestimulem e promovam essa mudança.

V. Cóias e Silva

Pobres e esbanjadores

Notas:(1) Manuel Castells, em recente entrevista ao “Público”: “...esse modelo é insustentável porque é mais fácil fazê-lo noutros países do TerceiroMundo, mais baratos e menos deteriorados ambientalmente.”

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GECoRPA

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Quadro de Honra

Do número apreciável de empresas que têm manifestado interesse na conservação do patrimónioarquitectónico português e nas actividades do GECoRPA, foi seleccionado um grupo restrito depatrocinadores da revista Pedra & Cal.Para distinguir essas empresas, particularmente empenhadas no sucesso da revista, foi criado opresente Quadro de Honra.

A Direcção do GECoRPA

Conservação e Restauro doPatrimónio Arquitectónico, Ld.a

Diagnóstico, Levantamento e Controlo deQualidade de Estruturas e Fundações, Ld.a

ONDUPORTUGAL - Materiais deConstrução, S.A.

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REPORTAGEM

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Criada em 1953, a Fundação Ricardo Es-pírito Santo Silva assume-se como umMuseu-Escola para a preservação das Ar-tes Decorativas Portuguesas e dos Ofí-cios a estas afectos. O banqueiro que,além do Palácio Azurara e da sua ímparColecção de Arte, deu o nome à Fun-dação é, merecidamente, encarado comoPai desta casa. Aadmiração por este ho-mem que tanto contribuiu para a preser-vação do nosso património está bem pa-tente, não só na forma como é referidopor todos com quem conversámos, co-mo na imagem exposta em muitas dassalas. O seu exemplo e dedicação às artesé, aliás, bem definido por aqueles que o

comparam a um “Príncipe da Renas-cença”. Pensar na preservação do patri-mónio desta forma foi, sem dúvida, ino-vador para a sua época, como nos reforçaa assessora da direcção, Inês Holtreman.Perante esta doação, o Estado portuguêsconcedeu à Fundação contrapartidas, es-tando, neste momento, sob a tutela dosMinistérios da Educação, da Cultura edas Finanças. Os Estatutos originais, quese mantêm até aos dias de hoje, irão serrevistos, tendo sido já criada uma co-missão para este fim.Num momento em que “tudo tem queser feito para ontem”, onde se privile-giam as peças massificadas e os preços

mais reduzidos, muitos há que não sa-bem dar valor ao trabalho, dedicação esingularidade de cada peça. Contudo,é importante lembrar que vivemosigualmente tempos marcados pela di-versidade e diferença, existindo, feliz-mente, um determinado nicho de mer-cado que valoriza e reconhece o signi-ficado destas peças criadas ou preser-vadas por quem defende a excelência.Não podemos nunca esquecer que setratam de verdadeiros clássicos quenunca passam de moda. São peças úni-cas, com uma história própria. Como ésublinhado por quem aqui colabora,mesmo que existam duas peças se-

AConservação e Restauro do Património Integrado em Portugal tem, na Fundação Ricardo EspíritoSanto Silva, um dos seus importantes pilares. É da nossa História que nos fala o património e, nesteantigo palácio, essa realidade assume uma dimensão diferente. O tempo ganha um ritmo próprio,até porque, neste campo, falamos de Arte, para a qual a pressa é inimiga da perfeição.

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FRESS

A mestria de saber perpetuar a História

Modelos de trabalho de talha na FRESS

Tema de Capa

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melhantes, a atenção dedicada e o por-menor de cada uma tornam-nas únicas!A formação de jovens é, certamente,uma das importantes vertentes desteprojecto, que procura, assim, preser-var o know-how, herança de diferentesgerações. Não descurando uma perfei-ta harmonia entre passado e presente,aposta-se numa contínua pesquisa pornovos materiais, novas técnicas – colo-cados ao serviço da preservação do sa-ber fazer. Aquilo que se pretende écompreender como as coisas foram fei-tas, a sua própria História, entendê-lae recontá-la, para que a intervenção se-ja levada a cabo de uma forma efectivae harmoniosa. O trabalho desenvolvido por esta insti-tuição pode ser, segundo a responsávelda oficina de restauro, Alda Abreu, co-mo o de uma bitola, de orientação e deensino, sobre o que se faz nesta área ecomo deve ser feito. Também por isso a formação contínua é indispensável.O querer fazer e o perseguir a excelên-cia é um compromisso assumido aber-tamente. Aliás, como nos explica a nossa interlocutora enquanto nos vaiguiando por este espaço, trabalhar aquié muito mais do que simplesmente teruma profissão, é uma forma de estar navida. Só com paixão se concretizam es-tes objectivos, tanto mais quando emcausa está um trabalho extremamenteminucioso. Deve ser por isso que, nestaFundação, é evidente o orgulho co-mum nas obras, resultado final de tan-ta dedicação.

O TRABALHO DE PRESERVAR A HISTÓRIAO trabalho de Conservação e Restaurosegue sempre um percurso próprio e de-finido. Começa-se por elaborar um diag-nóstico do estado de conservação daspeças. Depois, a proposta de intervençãoe o respectivo orçamento, tendo em con-ta o rigor indispensável no tratamento dequalquer restauro. Finda esta fase, decor-rem os estudos prévios. Após a apro-vação da proposta, inicia-se a inter-venção. Ao longo das várias fases, proce-de-se a registos fotográficos de acompa-nhamento, úteis para os relatórios de in-tervenção, que, no final, sempre docu-mentam tudo o que foi empreendido. To-davia, o património é parte integrante deuma cultura nacional, pelo que cada casovaria de país para país, de cultura paracultura. Se os objectivos são claros, exis-tem abordagens diferentes para umamesma questão, dependendo das equi-pas e situações. Por vezes, metodologiase critérios de abordagem díspares tradu-zem-se em intervenções distintas. Atítu-lo exemplificativo, Alda Abreu relembraarecuperação do Convento de Santo An-tónio, em Iguarassu, no Brasil. Com a du-ração de 27 meses, foi um autêntico desa-fio, quer pela diversidade, quer pelo con-tacto humano – neste projecto estavamenvolvidas equipas do Brasil, de Portu-gal e Espanha. Por outro lado, o facto de estar longe do país de origem e da ca-sa-mãe, implicou, necessariamente, so-luções diferentes para as questões com asquais se deparou. Neste, como em mui-

tos outros projectos, sobressaiu o traba-lho em equipas pluridisciplinares, de dis-ciplinas como a História e a Arquitectura.Um testemunho da importância da trocade conhecimentos.

CINQUENTA ANOS DE OBRA FEITAAo longo dos cerca de 50 anos de existên-cia, a Fundação tem uma história plenade riqueza que passa, obrigatoriamente,pelas obras realizadas. Para nos falar dasmesmas, ninguém melhor do que o Mes-tre de Marcenaria José Pereira, colabora-dor da Fundação há mais de 40 anos – umpercurso profissional que se confundecom a própria História da casa. A maio-ria das oficinas caracteriza-se pela inte-gração, especialmente nas áreas de mar-cenaria, embutidos, talha, serralharia,cinzelagem e polimento – cuja colabo-ração é fundamental para a construçãode qualquer peça de mobiliário. Na ver-dade, aqui são desenvolvidas réplicas,com a preocupação contínua de jamais seconfundirem com as originais. Todas asréplicas criadas recebem uma marca aferro com a indicação do ano em que fo-ram feitas, assim como o número de sé-rie. Algumas das peças criadas nos pri-meiros anos da Fundação conquistaramjá uma longevidade que lhes atribui umgrande valor monetário. Os trabalhos fei-tos por encomenda do Governo francêspara os Palácios de Versailles e de Fontai-nebleau e para a Biblioteca Nacional deParis marcaram, sem dúvida, o trabalhodesta casa e contribuíram para o seu pres-tígio internacional. De salientar,ainda, os

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REPORTAGEM

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Responsável da Oficina de Restauro, Alda Abreu Mestre de Marcenaria, José Pereira Trabalhos de restauro na FRESS

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REPORTAGEM

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trabalhos decorrentes do sismo de 1980nos Açores, que implicaram tarefas de re-cuperação em várias igrejas do arquipé-lago, tendo a duração de seis anos. Tam-bém a intervenção na Procuradoria-Ge-ral da República, onde, após o restauroestar concluído, um incêndio destruiumuito do que tinha sido realizado. Só osregistos da Fundação permitiram que serecuperasse um património tão valioso.Outros exemplos, passam pela a inter-venção feita no mobiliário do Mosteirode Alcobaça, os trabalhos desenvolvidos,por encomenda do Governo portuguêspara as embaixadas de Portugal em Washington, Rio de Janeiro, Pequim, Roma e Bruxelas, assim como a deco-ração de interiores e de peças de mobi-liário para, entre outros, o Hotel Ritz e oPalácio de Seteais.AFundação Ricardo Espírito Santo Silvaé singular em algumas áreas. Exemplodesta singularidade é a preservação deum tipo de ofício único em Portugal: o ba-ter do ouro à mão. Curiosamente, é umtrabalho que, apesar de elevada exigên-cia física, é aqui desempenhado no femi-nino. Célia Madeira e Fernanda Maurí-cio apresentaram-nos a sua arte. O ouro,

de 23 quilates, chega aqui em forma debarra e é fundido a 1000 graus centígra-dos. Posteriormente, laminado em fitacom cerca de seis a sete metros, é cortadoem pequenos quadrados, colocados en-trefolhas de tripa de boi e envolto em per-gaminho. Este pequeno volume é batidocom um martelo de cinco quilos. Na fasefinal do processo, as folhas de ourosão re-cortadas em pedaços menores, intercala-dos entre folhas de poliéster e envoltosem pergaminho são batidos com ummartelo de três quilos. Finaliza com a separação e colocação em livros de 25 folhas de oito por oito centímetros, para,assim, seguir para outras oficinas da Fun-dação. Por exemplo, uma barra inicial de100 gramas transforma-se em aproxima-damente 2500 folhas de ouro.Apreservação de ofícios únicos é somen-te uma das vertentes do papel da Fun-dação na sociedade. O Mestre José Perei-ra faz questão de frisar esta missão, sa-lientando que a preservação e a conser-vação do nosso património requeremum acompanhamento das obras realiza-das, quando não seja possível a inter-venção directa da Fundação.O apoio da Fundação poderá basear-se

no aconselhamento técnico, na opiniãosobre quais as melhores técnicas parauma determinada situação ou quais osmelhores materiais. Um contributo ma-terializado na análise concreta das espe-cificidades de determinadas situações.Caso exemplar desta função é o estudotécnico e histórico dos interiores do Palá-cio Sotto Mayor, com a elaboração do ca-derno de encargos da obra de reabili-tação. O trabalho desenvolvido entreestas diferentes entidades deverá, à se-melhança de tudo o que é feito em Res-tauro, ser realizado em equipa. Pensando no futuro desta casa de defesadas artes, todos esperamos que tenha pe-la frente, pelo menos, mais 50 anos. Paraisso, é necessário que a sociedade em quevivemos incentive este tipo de activida-de, que se aposte numa educação em quese fomente o gosto e a capacidade deapreciar o Património, especialmentejunto dos mais jovens, dando, assim, con-tinuidade ao trabalho de preservação eensino iniciado pelo mentor Ricardo Es-pírito Santo Silva.

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Pormenores do trabalho na Fundação Ricardo Espírito Santo Silva

Reportagem por ALEXANDRA SOBREIRA, Loja da Imagem

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CASO DE ESTUDO

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INTERVIR NO PATRIMÓNIOINTEGRADO MONUMENTALACâmara Municipal de Lisboa (CML),através da Direcção Municipal de Con-servação e Reabilitação Urbana (DM-CRU), tem vindo a apoiar a reabilitaçãode uma série de igrejas e monumentosdo centro histórico da cidade.Os monumentos reabilitados são, na sua maior parte, imóveis classificados,alguns mesmo monumentos nacionais,pelo que seria lógico admitir que a suapreservação e manutenção deveria ca-ber às entidades competentes, como aDirecção-Geral dos Edifícios e Monu-mentos Nacionais (DGEMN), ou o Ins-tituto Português do Património Arqui-tectónico (IPPAR). Todavia, é hoje evi-dente a dificuldade destas instituiçõesem acudirem a um tão grande númerode edifícios, sobretudo de forma ade-quada às suas permanentes necessida-des de conservação. Amaioria das paró-

quias que os utilizam, por sua vez, de-bate-se também com inúmeros proble-mas, sendo os seus limitados recursosquase totalmente absorvidos por obrassociais de apoio às comunidades locais.Daí que a CML, através desta Direcção,tenha tomado a iniciativa de apoiar areabilitação destes monumentos, tendoa prioridade sido dada ao patrimóniointegrado dos interiores, invertendoprocessos de degradação que em mui-tos deles se tinham já tornado preocu-pantes. Um dos casos que tipificava estasituação era a Igreja de Sta. Catarina, naCalçada do Combro, também conheci-da por Igreja dos Paulistas. No seu tem-po, cabeça de uma ordem religiosa importante (dos Paulistas da Serra deOssa), é hoje sede de uma paróquia pequena e empobrecida, embora para-doxalmente, em termos patrimoniais,permaneça como uma das maiores emais ricas igrejas de Lisboa.

Exemplar notável da arquitectura reli-giosa seiscentista, possui um excepcio-nal programa decorativo no interior,onde sobressaem, além dos altares late-rais em talha dourada de “estilo na-cional”, a pintura e a talha joanina doórgão, transepto e capela-mor (esta úl-tima da autoria do entalhador-arqui-tecto Santos Pacheco) – consideradosexpoentes máximos do período barro-co. A celeridade da intervenção, nestecaso, beneficiou do facto de a igreja tersido anteriormente alvo de obras ao ní-vel das fachadas e coberturas pelaDGEMN. Estas intervenções revestem--se de particular importância, na medi-da em que visam resolver problemasque afectam as estruturas e coberturasdos edifícios, quase sempre de conse-quências danosas para as espécies ar-tísticas que estes albergam. Por conse-guinte, a correcção de eventuais ano-malias na própria construção constitui

Igreja dos PaulistasResgatar o esplendor do Barroco

Órgão da igreja com a maquinaria e parte dos tubos já retiradospara restauro

Pinturas e talha joanina da capela-mor após os restauros

Tema de Capa

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condic;ao previa indispensavel para ac-tuar no interior, de modo a nao colocarern causa a eficacia das operac;oes deconservac;ao e restauro a realizar.Verificados os requisitos essenciais naIgreja dos Paulistas, 0 primeiro passoconsistiu numa observac;ao atenta dascondic;oes ern que se encontravarnas es-pecies do interior, tendo sido elaboradoo respectivo diagn6stico prelirninar. Es-te tern por finalidade informar as em-pres as e os tecnicos de restauro a con-sultar (aconselhados pelo Instituto Por-tugues de Conservac;ao e Restauro), so-bre quais os problemas e orientac;oesmetodo16gicas principais que devemter ern conta nas suas propostas. Deacordo corn os criterios preestabeleci-dos pelo prograrna, estas devem con-templar a verificac;ao de prindpios ge-raiscomo:- Abordagem dos tratamentos, prefe-rencialrnente na perspectiva da conser-vac;ao, partindo do respeito pela obra dearte, pela sua integridade, autenticida-de e historicidade sem, no entanto, des-curar as intervenc;oes de restauro sem-pre que estas se justifiquem;- Respeito pelos materiais de origem,privilegiando, nas diferentes operac;oes,a utilizac;ao de rnateriais identicos e evi-tando, tanto quanta possivel, a intro-duc;ao de elementos estranhos aos quecompoem as especies;- Sempre que os materiais tradicionaisnao forem os mais eficientes ou indica-dos para deterrninada operac;ao, procu-rar a sua substituic;ao por produtos reco-mendados para a conservac;ao e restau-ro, compativeis corn os originais, dequalidade comprovada, estaveis e tantoquanta possivel reversiveis;- Por fim, 0 curnprimento de todos osprocedirnentos gerais que, norrnalrnen-te, qualquer intervenc;ao de conservac;aoe restauro exige, ou seja, olevantarnentografico e fotografico das especies erncausa e 0 correcto diagn6stico das res-pectivas patologias; estabilizac;ao fisico--quirnica e neutralizac;ao dos factores dedegradac;ao, lirnpeza e consolidac;ao dosdiferentes materiais que compoem aobra; reintegrac;ao estetica/restauro eprotecc;ao final.

Cape/a-mar da igreja ap6s as trabalhasde conservafiia e restaura

Depois de conduido 0 processo de con-sulta e escolhida a empresa e/ou os tec-nicos responsaveis, deu-se entao inicioaos trabalhos na igreja que, como ja foidito, apesar de ter sido objecto de inter-venc;oes pontuais porparte da DGEMN,tinha ja atingido urn estado de lenta masindisfarc;avel decadencia, que s6 atravesdeste prograrna se tern vindo a inverter.Na capela-mor Garestaurada), 0 retabu-10principal, antes do tratarnento, apre-sentava urna das suas colunas solta, semqualquer func;ao estrutural e ern risco decolapso. 0 interior da tribuna encontra-va-se totalmente escurecido por inter-venc;oes anteriores deficientes e pela su-jidade, 0 mesmo acontecendo corn a ta-lha e as grandes pinturas das paredes la-terais, entao de impossivelleitura, bemcomo 0 fresco da ab6bada, cuja compo-sic;ao e colorido s6 agora sao possiveisapreciar. No transepto (ern fase de con-dusao), infiltrac;oes sucessivas de aguaspluviais provocararn 0 apodrecimentoda estrutura intema de urn dos retabu-los, 0 que implicou a sua desmontageme posterior intervenc;ao de drenagempor parte da DGEMN. A hurnidade ex-cessiva nas paredes propiciou tarnbemo aparecimento de fungos e terrnitas nasmadeiras onde se encontrarn colocadasas telas, cujos danos se estenderam aspr6prias pinturas.

CASO DE ESTUDO

Perante a complexidade que qualquerintervenc;ao neste tipo de especies acar-reta (e que aqui apenas se aflora), e na-tural que, no contexto do prograrna daDMCRU, ern que a sua reabilitac;ao seenquadra, tivessem que serencontradassoluc;oes adequadas para a sua correctaexecuc;ao e acompanharnento, comple-tarnente diferentes das adoptadas paraoutro genero de obras, como sejarn as dearquitectura, construc;ao civil ou sirnila-res. Por isso, procurou-se adaptar os pro-cess os de consulta, lanc;amento e ava-liac;ao das propostas dessas areas, a rea-lidade especilica da conservac;ao e res-tauro de especies artisticas, sejarn elaspatrirn6nio integrado ou m6ve!.Como se podera depreender, pelo queficou dito, este tipo de trabalhos nao po-de, pelas suas caracteristicas intrinsecas,ser avaliado numa perspectiva mera-mente econornicista - sobrevalorizandoern demasia a importancia dos custosern detrimento da analise tecnica. Issosignificaria desqualificar todo 0 proces-so decis6rio, retirando-lhe os criterioscientifico-metodo16gicos que devemnortear a escolha das propostas paraurna deterrninada acc;ao de conservac;aoe restauro. S6 desta forma se poderaoevitar erros provocados por inter-venc;oes arbitranas, frequentemente deconsequencias irreparaveis para 0 patri-m6nio ern causa. Patrim6nio esse queherdamos de gerac;oes anteriores e te-mos 0 dever de transrnitir as pr6xirnas.

INVENTARIARUMACOLECc:Ao~ICAA Igreja de Santa Catarina ou dos Pau-listas, na Calc;ada do Combro, refu1e urnacervo artistico praticarnente desconhe-cido mas de grande interesse cultural,pela sua diversidade e valor hist6rico.Alem do patrirn6nio m6vel presente nocorpo da igreja, existem nas dependen-cias do antigo convento pec;as queabrangem urn periodo crono16gico defins do seculo XVI ate ao XIX, designa-darnente cerca de 70 esculturas de vulto,inumeros paramentos, alguns arcazesdo seculo XVIII, urn ntirnero significati-vo de livros impressos da antiga Irrnan-dade dos Livreiros, manuscritos da refe-

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CASO DE ESTUDO

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rida irmandade, da Irmandade do Se-nhor dos Passos, de Nossa Senhora daNazaré, entre outras. De entre este con-junto de obras, destaque para a colecçãode ourivesaria, que reúne obras da pri-mitiva Igreja de Santa Catarina (desa-parecida em 1755) e do Convento de S. Paulo da Serra de Ossa. Pouco atingida pelo terramoto de 1755e consequentemente fora da dinâmicade reconstrução que as igrejas limí-trofes da Baixa e Chiado sofreram, esteimóvel permaneceu mais ou menos esquecido da expansão urbanística dosséculos XIX e XX, numa rua que foi

perdendo movimento e dinâmica paraos eixos viários da malha pombalina.Restou ao monumento uma colecçãode objectos ligados ao culto quase inal-terada. Ao longo dos séculos, a comu-nidade de fiéis da zona zelou pela se-gurança das peças aí existentes econservou como podia.OPrograma de Valorização de Patrimó-nio Monumental e Artístico, iniciado pela DMCRU, estabeleceu como objec-tivo para este monumento o resgate dassuas colecções da degradação e do es-quecimento. Neste sentido, em colabo-ração com o pároco local e a ComissãoParoquial de Santa Catarina, foi esta-belecida a cooperação da DMCRU na elaboração do inventário das obras de arte da Igreja de Santa Catarina/Paulistas.O referido inventário teve início em Ju-lho de 2004 e incidiu, numa primeira fa-se, sobreaescultura de vulto, ao mesmotempo que parte do conjunto recebiaobras de conservação e restauro. Numasegunda fase, procedeu-se à inventa-riação dos espécimes de ourivesaria, nasua maioria guardados, quer pela suararidade – enquanto documentos artís-ticos únicos – quer pelo valor das peças,certamente utilizadas só por ocasião dascelebrações religiosas mais importantesdo calendário litúrgico.O início deste inventário obrigou à

criação de uma ficha normalizada deacordo os critérios geralmente seguidospelos museus nacionais. O processo deinventariação iniciado encontra-se ain-da longe de estar concluído, mas terá deser encarado como um dos projectos demaior relevo na salvaguarda das co-lecções da igreja. Além da “obra” quedecorre com o restauro de retábulos,pinturas, estuques e órgão, torna-se ur-gente saber ao certo quais os objectos ar-tísticos existentes para melhor os estu-dar e conservar.Agrande quantidade de peças e a diver-sidade das mesmas colocam questõesque se prendem com a sua conservação,mas também com a possibilidade demostrar ao público obras do acervo daIgreja de Santa Catarina/Paulistas. Acriação futura de uma pequena estrutu-ra com exigências museológicas – Te-souroda Igreja de Santa Catarina – apre-senta-se como um desejo partilhado portodos aqueles que têm estado ligados aeste projecto e anseiam partilhar afruição cultural destes objectos comuma comunidade mais alargada.

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RICARDO LUCAS BRANCO, Historiador da Arte e Técnico de Conservação e RestauroJOSÉ ALBERTO RIBEIRO, Historiador da Arte – Direcção Municipalde Conservação e Reabilitação Urbana – CML

Atril do coro-alto (séc. XVIII)

Pormenor de um Cristo de marfim (séc. XVIII) Pormenor do brocado de uma dalmática (séc. XVIII)

Tema de Capa

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CASO DE ESTUDO

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Nem sempre as intervenções em pai-néis musivos foram efectuadas segun-do critérios científicos. Em boa verda-de, nessa época, estes ainda nem se-quer estavam definidos. A segunda metade do séc. XIX foi ricaem achados e intervenções em painéismusivos, descobertos um pouco por to-do o País, em especial no Algarve. Al-guns destes mosaicos foram levantadosna totalidade, enquanto de outros ape-nas foram retiradas amostras, normal-mente com as figuras ou os motivos geo-métricos mais apelativos. Após o levan-tamento, foram encaixilhados e envia-dos para o Museu Nacional de Arqueo-logia (MNA), em Lisboa, onde estão de-positados. Neste período, a técnica apli-cada baseava-se nos seguintes procedi-mentos: os mosaicos levantados, na to-talidade, eram cortados de forma regu-lar em placas de cerca de um metro qua-drado, sendo depois depositados noMNA. O novo suporte consistia em re-forçar pelo tardoz com cimento arma-do, mantendo totalmente o suporte. Porfim, refaziam-se os cortes e, por vezes,algumas lacunas. As placas do mosaicoficavam com cerca de 15 centímetros deespessura.Em 1947, foi descoberta a estação ar-queológica de Torrede Palma, em Mon-forte, Alentejo. O magnífico conjunto demosaicos descobertos levou a que os res-ponsáveis da época chamassem a Por-tugal uma equipa de especialistas italia-nos. Estes dominavam uma técnica re-volucionária para a época, que consistiano levantamento do mosaico em placasuniformes de dimensões ajustadas aosseus desenhos. Estas placas eram levan-tadas com a ajuda de uma tela de panocru colada sobre a superfície do mosai-co. Em seguida, eram limpas de todo o

suporte original e uma placa de cimentoarmado, com espessura variável entrecinco e sete centímetros, era fundida pe-lo tardoz. Esta técnica foi utilizada até1970. Aconservação dos painéis de mosaicoslevantados nessa fase coloca hoje algu-mas questões relativas à sua preser-vação. Quanto aos mosaicos levantadosnatotalidade no período anterior a 1947,os danos causados pelo seu armazena-mento não foram significativos. Para is-so, contribuiu o facto do cimento ter si-do aplicado sobre o suporte original, oque criou um isolamento à penetraçãodo cimento até ao tesselato. Neste mo-mento, está em fase de restauro, no Ate-lier de Restauro de Mosaico Romano doMuseu Arqueológico de S. Miguel deOdrinhas (MASMO), o mosaico dito deApolo de Póvoa de Cós, Alcobaça, des-coberto em 1905.Situação muito diferente se verifica nosmosaicos totalmente fundidos em ci-mento. Aquilo que, na época, pareciauma técnica revolucionária revelou-seum enorme quebra-cabeças, em espe-cial para os mosaicos repostos in situ.

Os grandes problemas com estes mosai-cos prendem-se com o aparecimento demicrorganismos vegetais que enegreceme, por vezes, destroem as tesselas, assimcomo com a incompatibilidade entre asargamassas originais e o cimento. Nestescasos, a opção no Atelier do MASMOpassa pela remoção total do cimento e pe-la construção de um novo suporte sinté-tico, tendo sempre em conta as suas ca-racterísticas de reversibilidade.A existência de grande quantidade depainéis de mosaicos nas condições des-critas leva-nos a equacionar a capacida-de actual de intervenção nestes casos.Para isso, é preciso formar mais técnicosmosaicistas, a fim de que seja possívelintervir mais e melhor no patrimóniomusivo em Portugal.Esta é uma tarefa que o Atelier do MAS-MO está em condições de executar.

Restauro do mosaico romano Painéis já intervencionados

CARLOS BELOTO, Técnico de Conservação e Restauro,Responsável Técnico pelo Atelier de Restauro de Mosaico Romano do Museu Arqueológico de S. Miguel de Odrinhas (MASMO)

Há muito que se sabe da existência de painéis musivos em Portugal. No entanto, apenas são conhe-cidas intervenções em mosaicos romanos, a partir do séc. XVIII (1758).

Mosaico do Oceano (descoberto em 1976), Museu de Faro

Tema de Capa

11 Caso estudo.qxp 5/24/05 3:02 PM Page 11

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CASO DE ESTUDO

“As feridas nos paços do concelhoeram profundas. Mas a verdade é quecomeçámos a trabalhar na recons-trução e no restauro nessa mesma tarde” – disse o então presidente dacâmara, Dr. João Soares, em Janeirode 2000, no seu livro Notas Convenien-tes e Inconvenientes.

De imediato, foram traçados os prin-cípios programáticos de carácter polí-tico e cultural – as bases da recupe-ração do edifício:• Deveria ser representativo do po-

der municipal e nele teriam as--sento especialmente a Presidência,a Vereação e os serviços de apoio;

• Era fundamental a recuperação doseu caracter simbólico;

• Abrir-se-ia à população e seria su-porte de Arte Pública;

• Toda a acção de restauro seria fiel àcontemporaneidade da obra a res-taurar;

• Toda a “obra nova” seria feita comrecurso a desenho de carácter con-temporâneo e tecnologias actuais,compatíveis com as especificaçõesda construção existente.

Os primeiros elementos de projectodatam de 11 de Novembro de 1996, nasequência do programa anteriormen-te elaborado, sendo neles definidosos critérios gerais de composição – abase de intervenções parcelares:• Realce do valor icónico do edifício

numa tripla vertente – reequilíbrioda sua delicada composição neo-

Na manhã de 7 de Novembro de 1996, um incêndio destruiu a cobertura e os dois pisos superiores dosPaços do Concelho de Lisboa. Como se a acção nociva do fogo não bastasse, a água lançada sobre aschamas e a chuva que nos dias seguintes caiu sobre as ruínas desprotegidas impuseram uma inter-venção em todo o edifício, a qual se traduziu num encontro de especialistas do passado e do presente.

Recuperação do Edifício dos Paços do Concelho de Lisboa

A integração dos Saberes

Salão Nobre: de assinalar a integração discreta das grelhas de ar condicionado e do sistema de detecção de incêndios

Tema de Capa

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CASO DE ESTUDO

clássica, despojando-o de todas asampliações espúrias; valorizaçãoda cobertura (a quinta fachada) edo zimbório (como símbolo domunicípio e elemento memorizá-vel da paisagem urbana da zona);tratamento do espaço fronteiro,reduzindo ao mínimo a presençade viaturas e dotando-o de elemen-tos ricos de evocações (como opelourinho recolocado, e o emble-mático pavimento de vidraço pretoe branco, aos quais se juntaramexemplos da moderna esculturaportuguesa);

• Enriquecimento do espaço interno– desmultiplicação de perspectivasdo edifício sobre si próprio, nome-adamente as “perspectivas ao jeitode Piranesi”, que das galerias doátrio central mergulham sobre aescadaria principal;

• Realce do papel da luz zenital naleitura do espaço interno – recupe-ração dos lanternins do zimbório ecriação de “canhões de luz” nagaleria do último piso;

• Selecção de materiais, cores e por-menores – proporcionar ambientessensorialmente agradáveis e com-patíveis com as preexistências, semrecurso ao pastiche;

• Instalações de electricidade, clima-tização, telecomunicações, segu-rança, águas e esgotos, assim comoprotecção contra descargas atmos-féricas, compatíveis com os ambi-entes a recuperar/criar, em confor-midade com normas e legislaçãoem vigor;

• Adopção de processos construtivos– aspectos estruturais, ditados pelagarantia de coexistência entre o edi-ficado existente, que não sofreualterações, e o edificado adicionadoou transformado; aqui, inclui-se arecuperação dos princípios básicosda construção de alvenaria, do usoda madeira e do ferro em pavimen-tos, como elementos residentes, ouda chapa metálica (cobre) comomaterial de cobertura.

O valor simbólico do edifício, emrelação à História de Lisboa, comoloca l onde fora proc lamada aRepública, impôs a decisão políticade concluir a sua recuperação antesdo dia 5 de Outubro de 1997. Semafectar a qualidade da obra, estadecisão veio a revelar-se eficaz na res-ponsabilização das intervenções e naeliminação de pontos mortos ou inú-teis na cadeia de decisões, tendoinclusivamente influenciado a meto-dologia adoptada para as tarefas deprojecto e obra.Foi utilizado aquilo que se poderáapelidar de uma atitude renascentis-ta: sob uma ideia global expressa numprojecto referente a todo o edifício eao arranjo da praça fronteira, integra-ram-se intervenções confiadas adiversos arquitectos e artistas plásti-cos, seguindo métodos e tendênciaspróprias. Num processo de recuperação de edi-ficado, além da intervenção no exis-tente – com alterações ou simples con-

servação –, há a adição de novos ele-mentos de construção. A reabilitaçãodo edifício dos Paços do Concelho deLisboa poderá ser considerada umcase study. A cada momento surgeminterrogações cuja resposta assume,por vezes, um carácter dramático quesó um diálogo permanente entretodos os intervenientes, desde os pro-gramadores aos executores, pode ate-nuar. Neste sentido, interrogou-se oseguinte:Deve a pedra, no interior e no exteriorser limpa ou, através da patine queganhou, contar a história do edifício?No caso de se optar pela limpeza, quemétodos usar?O ar condicionado no salão nobredeve assumir-se como uma peça evi-dente ou mimetizar-se em relação aodesenho clássico do existente? O cri-tério adoptado deve ser generica-mente seguido?Tudo o que é novo desenho deveigualar a riqueza formal do existenteou assumir discretas atitudes?Uma nota final: de uma forma quasemedieval, a conciliação dos interve-nientes, dos que se ocuparam do res-tauro, do traçado das condutas de arcondicionado e dos aspectos estrutu-rais, teve lugar no quotidiano da obra,revelando-se, assim, um assinalável“saber fazer” do nosso operariado.

Zimbório: reconstrução em chapa de cobre

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Galeria do andar nobre e escada sul Perspectiva sobre o átrio principal

FRANCISCO DA SILVA DIAS, Arquitecto

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CASO DE ESTUDO

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Os critérios mínimos exigíveis paraaceitação de um projecto como candi-dato a este apoio determinam que sereporte a um imóvel classificado, como projecto de intervenção aprovadopor entidade explicitamente creden-ciada, devendo ser acompanhado deuma proposta de inserção e reutili-zação (paisagística, museológica ououtra), quando houver alteração defunção. Sendo, ainda, executado porequipa legalmente reconhecida paratal, chefiada por um Arquitecto no ca-so da arquitectura/urbanismo, e porum Técnico de Restauro no caso dopatrimónio móvel.São condições de preferência, comple-mentares das anteriores, a existênciade outros financiamentos já garanti-dos e a constituição interdisciplinarda equipa de projecto, com Arqueólo-gos, Historiadores da Arte, Arquitec-

tos Paisagistas e outros quando tal sejulgue necessário. Ficam excluídos doconcurso os monumentos ou acervosdo Estado ou por ele tutelados.Este programa pretende contribuirpara a efectiva concretização dos projectos e trabalhos de restauro dos objectos artísticos a concurso, não se tratando de um prémio. Poderãoconcorrer os promotores das inter-venções de recuperação e valorizaçãodos objectos patrimoniais, bem comoas equipas técnicas responsáveis pelasua concretização.A concessão deste apoio para a recu-peração e valorização do patrimónioartístico pretende constituir uma con-tribuição desta Fundação para a me-lhoria qualitativa dos projectos nestaárea, com candidaturas aceites até 30de Setembro de cada ano.No ano de 2004 foram contempladas

três candidaturas, a da Igreja Matrizde S. Mateus da Graciosa, Açores, pa-ra o restauro de um conjunto de seisimagens do Séc. XVII; a da Irmandadedo Santíssimo Sacramento da Paró-quia de Nossa Senhora da Encarnaçãode Lisboa, para o exaustivo restaurodo templo e a da Santa Casa da Mise-ricórdia de Caminha.Esta pequena igreja da bela vila mi-nhota, situada na foz do rio Minho,apresenta uma interessante fachadaclássica, datável do início da segundametade do século XVI, com um bemproporcionado portal renascença, de-corado com dois bustos em relevo re-presentando São Cosme e São Da-mião, dentro de medalhões circulares.O interior é mais tardio, com altaresem talha e um conjunto de ex-votospintados, destacando-se ainda uma tela do Século XVIII – citada por Robert Smith no seu estudo sobre a Talha em Portugal – cujo restauro foi ob-jecto de apoio por parte desta Fun-dação.

Fundação Calouste Gulbenkian

O apoio ao Património

Tratamento de restauro de uma tela da Igreja daSanta Casa da Misericórdia de Caminha

Pormenor da tela em restauro

JORGE RODRIGUES,Fundação Calouste Gulbenkian

O Serviço de Belas-Artes daFundação Calouste Gulben-kian instituiu um programade apoio para a recuperação evalorização do patrimónioartístico, num montante anu-al de € 50 000 a conceder ao(s)projecto(s) que se julgue(m)de maior interesse e relevân-cia para a recuperação, res-tauro e valorização do acervopatrimonial português, cons-truído ou móvel. C

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14 Caso Estudo - Caminha.qxp 5/20/05 11:54 AM Page 14

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CASO DE ESTUDO

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De um valioso espólio, chegaram aténós, in situ, o conjunto da Capela Relicá-rio e o Altar da Morte de S. Bernardo.Descontextualizados, subsistem o con-junto da Capela-Mor – num total de 18esculturas de grandes dimensões (cercade 230 centímetros de altura) – e o deno-minado Altar da Sagração de S. Pedroou do Cristo Redentor –, provavelmen-te o último grande conjunto escultóricoa ser realizado no mosteiro, um total de14 esculturas em tamanho natural.Por último, o conjunto Reis de Portugal,transferido nas obras de reconstruçãopós-terramoto de 1755 para a agora de-nominada Sala dos Reis. Oprograma de Conservação e Restauroda escultura em terracota do Mosteirode Alcobaça iniciou-se em 2001, estandoainda a decorrer.O diagnóstico levou à identificação e re-gisto das várias patologias. Nesse senti-do, procedeu-se à monitorização dascondições ambientais e recolheram-seamostras de material cerâmico, para de-terminar a composição mineralógica daargila e compreender, por consequên-cia, a natureza e a durabilidade do mate-rial e identificar, por cruzamento de in-formação, as causas da sua degradação. O estado de conservação destas escul-turas decorre da conjugação de váriosfactores. O primeiro, de natureza inter-na ou intrínseca, resulta da falta de coe-são do barro, uma consequência da máqualidade da matéria-prima combina-da com a deficiente cozedura. O segun-do decorre da deslocação das peças dosseus contextos originais nas décadas de30 e 40 do séc. XX para locais caracteri-

zados por elevadíssimos teores de hu-midade, amplitudes térmicas e grau deexposição solar.Alimpeza por via mecânica, a fixação depolicromia, a consolidação do materialcerâmico em fase de desagregação, opreenchimento de lacunas e de faltas dematerial de pequenas dimensões, a in-tegração cromática e a aplicação de ca-mada protectora constituíram a gene-ralidade das intervenções de Conser-vação e Restauro até agora realizadas.As esculturas Virgem com o Menino eCristo foram objecto de uma inter-venção mais complexa, com manufac-tura de elementos em falta ou seriamen-te danificados, tendo em vista a resti-tuição volumétrica das peças. O conjun-to Reis de Portugal foi, de todas as escul-turas já intervencionadas, aquele emque o levantamento de repintes, decor-

rente da simples operação de limpeza,causou maior impacte, pondo a desco-berto um elaborado e notável trabalhode estofado, aplicações a pastiglia efolhas metálicas. Concluídas as peças, procedeu-se à suaremontagem em várias dependênciasdo Mosteiro de Alcobaça, permitindoque fossem devolvidas à fruição públi-ca. Aescolha dos locais, alguns prepara-dos para o efeito, teve como preocu-pação fundamental o equilíbrio das con-dições ambientais.

A escultura em terracota policromada do Mosteiro de Alcobaça ocupa um lugar de excepção no con-junto da escultura barroca em Portugal. A sua conservação é, por isso, imperativa para a protecção donosso património.

Mosteiro de Santa Maria de AlcobaçaConservação e Restauro

de figuras com História

ISABEL COSTEIRA, Directora do Mosteiro de Alcobaça FERNANDO DUARTE, Bacharel em Conservação e Restauro pela ESCR-Lisboa, em Azulejaria/Materiais CerâmicosLUÍS SEIXAS, Bacharel em Conservação e Restauro pela ESCR-Lisboa, em Escultura

Área superior da Virgem com o Menino, antes e após a intervenção

Tema de Capa

16-17 Caso de Estudo.qxp 5/20/05 12:06 PM Page 16

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REFLEXÕES

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Tendo sido a arte monástica um dossectores privilegiados do Barroco nonosso país, coube à produção de ima-gens de barro policromado um lugarassinalável nesse contexto, em com-plementaridade com a produção demadeira. Num intervalo de tempo re-lativamente curto, correspondentesobretudo ao último terço da épocaseiscentista, a encomenda alcobacen-se chamou a si a liderança deste sec-tor de actividade artística, brilhante-mente concentrada no espaço de umageração. Esculturas devocionais emlouvor da Virgem e dos Santos, umsurpreendente Relicário compostopor dezenas de bustos, a represen-tação do Apostolado e uma cenográ-fica Morte de S. Bernardo compu-nham a adequada figuração de temá-tica religiosa. A isto acrescentava-seum discurso de teor historicista plas-mado na Série dos Reis e no grupo daCoroação de D. Afonso Henriques.Integradas numa globalidade barro-ca constituída pelos envolvimentosda talha dourada, dos estuques, dapintura e do sumptuoso acervo de ou-rivesaria e prataria, estas esculturastransitam para o século XVIII, aindaque sem o fulgor do impulso inicial,criando um sinal de inquestionável

identidade estética. Dotadas de in-tencionalidade programática, icono-logicamente demonstrável, estasimagens assumiram uma importân-cia não apenas nacional, como ainda,em certo sentido, também no âmbitodo Barroco monástico europeu. (1)

Daí a relevância histórica do seu pro-cesso de degradação, após a extinçãodas Ordens religiosas em 1834. Longede se tratar de um episódio isolado, onúcleo de Alcobaça foi inexoravel-mente sujeito à incúria e ao abandonode décadas, agentes acidentais dumaestética da ruína, que a sensibilidaderomântica incorporava nas suasvivências, tanto quanto na reiteraçãodas suas denúncias.Anos antes de M. Vieira Natividade,A. Haupt e Ramalho Ortigão, umanónimo amador portuense descre-via assim as condições em que se en-contrava o Mosteiro por ele visitadoem 1876: “e lá dentro, na igreja, cobreas paredes o musgo; e a hera atrevida pe-netra atravez dos fundos das janellas,manchando a magestade do lugar com a sua apparência deleteria (...). E o ar,esse agente terrível, saturado de humi-dade, invade os dourados dos seus alta-res, fazendo-os cahir bocado a bocado. E as imagens beijadas pelo anjo das ruí-

nas têm a triste apparência da decom-posição”. (2)

Repassadas de melancolia, tais consi-derações surgem como o diagnósticopoético de uma situação apenas inter-vencionada em 1930, com base no cri-tério da recuperação, depurada, deuma Idade Média idealizada pela ar-queologia. Desse critério resultaria,por exemplo, o sacrifício do retábulo--more do enquadramento para onde assuas esculturas tinham sido pensadas.São, por conseguinte, os restos dos restos, aquilo que, quanto a esta ma-téria, em Alcobaça se nos depara, pá-lido reflexo do muito outrora existen-te. Mas, é isso que nos cumpre estu-dar, preservar e divulgar, num traba-lho de necessária convergência inter-disciplinar entre historiadores, técni-cos de Conservação e Restauro e osresponsáveis pelo Monumento.

NOTAS:(1) Tencionamos na nossa dissertação de doutoramen-to sobre a escultura alcobacense do século XVII, aapresentar em breve, poder mostrar o alcance do sig-nificado histórico, estético e cultural de toda esta pro-dução nos seus diferentes planos.(2) A., Uma digressão a Alcobaça em Março de 1876. Porto,Imprensa Comercial, 1876, p. 52.

Há duas perspectivas possíveis de abordar o ciclo da escultura de barro do Mosteiro cisterciense deAlcobaça, cabeça da respectiva congregação em Portugal: a que incide no período da sua criação, envol-vendo os séculos XVII e XVIII; e a que se reporta à sua lenta deterioração e parcial amputação nos séculosXIX e XX. Ambas se revestem de importante significado histórico, interpelando-nos directamente em ter-mos de responsabilidade cívica e patrimonial.

As Esculturas de barro do Mosteiro de Alcobaça:

Um olhar crítico

CARLOS MOURA, Historiador da Arte, Docente na FCSH-UNL

Tema de Capa

16-17 Caso de Estudo.qxp 5/24/05 3:09 PM Page 17

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REFLEXÕES

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Muitas vezes negligencia-se o valorintrínseco de um suporte de madeira,direccionando-o, quando está emcausa a sua conservação, para so-luções traçadas segundo directrizesprovenientes das “práticas de marce-naria”. Ainda que tais práticas sejam,indiscutivelmente, úteis e transmi-tam muitas e valiosas técnicas preser-vadas por séculos de História, de-vem, contudo, ser ponderadas e flexí-veis quando se cruzam com a especi-ficidade da conservação de suportesde pintura em madeira.É importante que exista, tanto quantopossível, a consciência da preser-vação material do suporte, pois omesmo transmite, por um lado, inu-meráveis informações sobre o percur-so da vida da peça e, por outro, umprognóstico quanto ao futuro do seuestado de conservação.Ainterpretação de técnicas utilizadaspara a execução das obras, quer porensambladores quer por panel-ma-kers, permite compreender momen-tos históricos, de acordo com as ca-racterísticas evidentes de determina-das oficinas. A identificação precisada madeira presente numa obra, atra-vés de métodos de exame e análise, éum dos pontos fundamentais para adeterminação das suas alterações. Adendrocronologia tem mostrado serum método de datação bastante váli-do, no alcançar de conclusões mais

Por tradição, entende-se a pintura sobre madeira como uma obra de arte, partindo do princípio quea imagem representada é a totalidade do todo artístico. No caso específico da pintura correntemen-te denominada por “pintura sobre tábua”, a madeira encerra em si diversas particularidades asso-ciadas à sua materialidade.

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A madeira como suporte na pintura: Um olhar pelo versu

Pintura sobre madeira atribuída a António Vaz, século XVI

Vista geral do verso Radiografia de um pormenor numa pinturamaneirista

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definidas sobre a questão das atri-buições aos pintores. Aliás, este mé-todo e a radiografia da peça são, semdúvida, documentos imprescindí-veis para o cruzamento de infor-mação inicialmente sugerido pelasconclusões do historiador de arte.Desta forma, a radiografia é um exa-me bastante completo, pela riqueza

de informação que nos evidencia, as-sociada tanto aos processos degrada-tivos biológicos e a factores de inte-racções mecânicas como à racionali-zação da técnica construtiva do pai-nel. Sem este cruzamento informati-vo e sem um diálogo triangular entrehistoriadores, conservadores-restau-radores e cientistas, a pintura sobretábua continuará a ser meramenteavaliada e apreciada pelo lado mais“colorido” da obra.Múltiplas ilações podem ser extraí-das da imagem principal de uma pin-tura, como é o caso, entre muitos ou-tros exemplos, do desenho subjacen-te obtido mediante fotografia e reflec-tografia de infravermelho. Não obstante, aquilo que frequente-mente se omite é a importância técni-ca e estrutural de um suporte lenho-so. A madeira numa obra de arte, porexemplo quinhentista, representa,sensivelmente, 99 por cento da mate-rialidade desse objecto. Então, no en-tendimento do estado de conser-

vação desse objecto, são estes 99 porcento que vão, de facto, contar-nos ocomportamento da peça nos próxi-mos tempos. Por esta razão, é um errocrasso definir os problemas de umaobra e delinear uma intervenção sema prévia consulta de todos os aspec-tos que influenciam directa ou indi-rectamente o suporte. Tais aspectos

são provenientes de fontes externas(temperatura, humidade, poluição,luz), ou de fontes internas, intrínse-cas ao objecto (agentes biológicos, fí-sicos, químicos e mecânicos), ou, ain-da, de questões humanas associadasà manipulação e transporte. Sendoassim, ao proprietário de uma obra de arte, importa salientar que, para apreservação desta, é fundamentaluma gestão integrada dos diversosriscos. O risco mais destrutivo eirreversível é o fogo, mas especialatenção deverá também ser dada à es-tabilização da humidade relativa am-biente, tendo em conta que é extre-mamente nefasta qualquer variaçãobrusca destes valores. Numa intervenção de Conservação eRestauro existe sempre a execução deum diagnóstico preciso, onde se iden-tificam patologias e se definem estra-tégias de tratamento. Estas últimaspoderão ser de imunização biológicapreventiva, desinfestações por gasesinertes, da selecção adequada de ade-

sivos a usar, consolidantes orgânicose inorgânicos, reintegrações volumé-tricas, estruturas mecânicas de tra-vessas (parquetages), de partições oufragmentos, entre outras. O verso de uma pintura pode permi-tir várias deduções. A “frente cromá-tica” é, correntemente, sujeita a inter-venções de “cosmética”, o que difi-

culta a sua interpretação no domínioda História de Arte. O verso das pin-turas, usualmente menos interven-cionado e menos acessível, conservasempre mais evidências históricasoriginais. Deste modo, conforme estepreceito, uma alteração negligente doverso é claramente um “apagar” daHistória. Actualmente, estudos técnicos têm si-do feitos, pensando em equipas detrabalho multidisciplinares entre his-toriadores, laboratórios e conserva-dores-restauradores, tornando-se emConservação e Restauro a questãodas estruturas e dos suportes de ma-deira em pintura, uma área de quali-ficação e especialização que vai alémde procedimentos de marcenaria e dosensu commune.

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Início do desenvolvimento de podridão cúbica, ocasionada por fungo xilófago(Pintura sobre carvalho do séc. XVI)

Marca personalizada do panel-maker MichielVrient´s no verso de uma tábua setecentista flamenga

Registo do desenho subjacente realizado com foto-grafia digital no infravermelho (António Vaz)

FREDERICO HENRIQUES, Painting ConservatorMIGUEL GARCIA, Panel Painting Conservator

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Apreocupação para com a arte colonialtem-se traduzido num reunir de co-nhecimentos e despertar de sensibili-dades, alcançados graças ao trabalhoacumulado de uma geração anterior dehistoriadores de arte e conservadoresde museus, assim como de investiga-dores estrangeiros, que agiram, por ve-zes, como verdadeiros desbravadoresde um campo de estudo praticamentedesconhecido na Europa do princípiodo século XX. Assumindo-se no pano-rama académico cada vez mais comouma riquíssima área de estudo – obri-gando a olhares transversais, inter emultidisciplinares –, são inúmeros osespecialistas de diferentes ramos do sa-ber, tanto da área das designadas ciên-cias “exactas”, como do domínio dasciências sociais e humanas, que são cha-mados a colaborar na identificação,análise e estudo do património móvel eimóvel da arte colonial portuguesa. Im-portante é também não esquecer o pa-pel desempenhado por coleccionado-res e antiquários, observadores privi-legiados e atentos dos objectos que, ontem como hoje, continuam a circularde mão em mão, testemunhando o ca-rácter móvel que os caracteriza. À apre-

ciação estética e formal destas obras,originadas em contextos geográficos,políticos, sociais e artísticos com inú-meras especificidades, alia-se a tentati-va de entendimento do contexto histó-rico que as originou. Não se trata ape-nas de identificar, categorizar e catalo-gar – passos fundamentais que nãoconstituem em si mesmos um fim – mastambém de ler os vestígios artísticosmateriais como parte integrante de um

encadeamento de acontecimentos, cor-respondendo a gostos e objectivos de-terminados e denunciando a interacçãoentre os interlocutores de uma Europacristã com povos de outras culturas.Igualmente por esta razão, os núcleosde documentação coeva manuscritae/ou impressa têm merecido particu-lar cuidado.A preservação destas memórias atra-vés da conservação e do restauro de

Parte integrante de um uni-verso cronologicamente vas-to e geograficamente amplo,o fenómeno da arte colonialportuguesa tem sido alvo deum olhar que se pretendecada vez mais crítico e pers-crutador por parte de entida-des individuais e colectivas,públicas e privadas, nacionaise estrangeiras.

Património Integrado e Arte Colonial Portuguesa

Breve apontamento

Macau – Museu de Macau: vestígios de porcelana azul e branca de encomenda portuguesa

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edifícios religiosos, militares e civis e deum património de objectos variados,tem-se imposto paulatinamente comouma componente importante da políti-ca cultural de alguns países. Contribuipara isso o apoio de organismos gover-namentais e não-governamentais que,apostando numa vertente de índolecultural, desenvolvem acções de pre-servação e integração do patrimóniotangível. Trata-se, em alguns casos, delevar a cabo a consolidação, reabili-tação e/ou conservação de estruturasarquitectónicas existentes, e de, em al-gumas situações, associar a este génerode intervenção a criação de núcleosmuseológicos relacionados. No caso dopatrimónio móvel, criam-se locais pró-prios para o exibir, tomando em linhade conta um fio condutor que os una.No âmbito do mundo português ultra-marino, merecem particular destaqueas acções desenvolvidas nas últimasdécadas por instituições como a Fun-dação Oriente, a Fundação CalousteGulbenkian e o IPPAR, sobretudo nocontinente asiático. No entanto, nãopodem ser esquecidas as reabilitaçõeslevadas a cabo em território brasileiro,sendo exemplar o caso da cidade deSãoLuís do Maranhão (actualmente classi-ficada como património mundial pelaUNESCO), assim como em África, no-meadamente em Marrocos, no Benin eno Quénia. No entanto, é sobretudo no

Índico e na respectiva fronteira com oMar da China que se têm concentradomais esforços – começando pela Índia,passando pela Malásia e Tailândia e es-tendendo-se até Macau, por venturaum dos casos mais interessantes e fe-cundos de todos quantos se possam ci-tar, pela proficuidade de exemplos, dosquais o mais conhecido são as ruínas daIgreja de São Paulo e o Museu de ArteSacra associado. Além destes, deve ain-da referir-se o Museu de Macau, locali-zado no Monte do Forte, as igrejas e osnúcleos museológicos de São Domin-gos e do Seminário de São José, a Cape-la da Guia e as respectivas pinturas mu-rais e a Santa Casa da Misericórdia, ape-nas alguns exemplos de um extensoconjunto que não se confina às áreasimediatamente adjacentes à Praça doLeal Senado, mas que nela têm o núcleocentrífugo por excelência. Goa, a capital do estado da Índia, ver-dadeira placa giratória de pessoas,ideias e artefactos dos séculos XVI eXVII, surge no mapa do Oriente da pre-sença portuguesa como contrapontode Macau. Aqui, encontra-se hoje o es-pólio do Museu de Arte-Sacra Indo--Portuguesa de Rachol, iniciativa apoia-da pela Fundação Calouste Gulben-kian, localizado nesta localidade pertode Margão. Após um trabalho levado acabo por Maria Helena Mendes Pinto,ex-conservadora do Museu Nacional

de Arte Antiga – que consistiu na in-ventariação de um património de maisde uma centena de peças disperso porinúmeras igrejas e colecções particula-res de Velha Goa –, o Museu de Racholfoi inaugurado em 1994, no espaço doantigo colégio quinhentista dos Jesuí-tas, tendo-se procedido à sua trans-ferência para outro edifício em 2001. Mais recentemente, e porque perma-nece um caso menos conhecido maspleno de significado na associaçãocom a figura de Afonso de Albuquer-que, refiram-se as obras realizadasatravés da Fundação Oriente na Ca-pela de Nossa Senhora do Monte (1),em Velha Goa. Localizada num localestratégico, de onde se podia contro-lar militarmente o território, era umespaço onde originalmente se locali-zava um santuário hindu e que se tor-nou num sítio de devoção cristã.

NOTAS:(1)Agradeço a informação que me foi facultada peloProfessor Rafael Moreira, incluindo o texto da autoriade Percival de Noronha distribuído quando da inau-guração em 29 de Abril de 2001.

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Goa – Fachada da Capela de Nossa Senhora do Monte

ALEXANDRA CURVELO, Historiadora de Arte do InstitutoPortuguês de Conservação e Restauro, presentemente com Bolsa de Doutoramento da Fundação para a Ciência e Tecnologia

Macau – Fachada da Igreja de São Domingos Porcelana azul e branca de encomenda portuguesa

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Presentemente, há como que umparadigma entre a tradição e os artis-tas contemporâneos. Na verdade,estão em aberto várias questões. Porum lado, as questões que se prendemcom o carácter técnico e material decada obra, onde a fragilidade ou mis-tura de materiais resulta, muitasvezes, numa degradação precoce eirreversível. Por outro, a intenção dopróprio artista, que confere ao objec-to uma carga semântica muito sub-jectiva e que nem sempre é beminterpretada. Finalmente, as temáti-cas relacionadas com a Arte, da qual,sendo considerada efémera peloartista – pela sua intencional curtadurabilidade –, poderá ficar apenasum registo documental. Até que pon-to é legítimo intervir sobre uma obra,cuja degradação é parte integrantedo seu sentido? Será possível estabe-lecer critérios e criar métodos deConservação e Restauro adaptados anecessidades actuais tão imediatas,vastas e até mesmo desconhecidas? Mais do que materialidade, uma obraé um conceito, onde o artista preten-de, através da matéria, enunciar algointangível. Assim, o significado decada obra está intimamente ligado aoartista e, sobretudo, ao objecto, ondeos materiais e as técnicas aplicadas,

carregam o seu próprio significado.Por sua vez, a panóplia de materi-ais e técnicas utilizadas na ArteContemporânea é tão vasta que, emprincípio, poder-se-á encontrar detudo um pouco. Uma alteração dascaracterísticas do material, resulta,na maioria das vezes, numa modifi-cação do seu significado. Desta for-ma, os próprios procedimentos deConservação, que intervêm directa-mente na identidade material daobra, poderão ter repercussões noseu significado. A primeira questãoque se deverá colocar antes de umaintervenção, directa ou indirecta,

sobre uma obra é: existe discrepânciaentre a condição física e o significadoda obra? Se a alteração do objecto forproduzida conscientemente, então osignificado demonstra degradação.Neste caso, a Conservação implicauma intervenção que afecta o signifi-cado pretendido. Quando, por outrolado, a degradação interferir directa-mente com o significado, a questão acolocar será: que aspectos funda-mentais deverão entrar em linha deconta nas decisões de Conservaçãode uma obra? Se o artista for vivo, asua participação e opinião são im-prescindíveis. Considerações estéti-

O romper com a tradição por parte dos artistas contemporâneos implica, actualmente, um grandedesafio, no que respeita à Conservação e Restauro de obras de Arte.

Pormenor de fissuração de uma camada pictórica

Arte Contemporânea: quais os critérios

de conservação e restauro?

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cas, de autenticidade e históricas,entre outras, poderão, dependendoda pessoa em questão, ser respondi-das de perspectivas muito variadas:sejam familiares, um crítico de Arte,um conservador, um historiador,entre outras. As respostas serão cer-tamente díspares e, a priori, não sepoderá afirmar que uma prevaleceem relação a outra. Existem aindavalores e conceitos bem mais influ-entes na tomada de decisão paraintervir sobre uma dada obra,nomeadamente, questões políticas eeconómicas. A sustentabilidade eco-nómica da Conservação é um concei-to interessante e, diria mesmo, essen-cial. Trata-se da capacidade de fazer“render benefícios culturais” duran-te um extenso tempo de vida. Devem, por isso, ser tidas em contaalgumas noções e critérios, de formaa criar um fio condutor na busca desoluções por parte do conservador-- restaurador:- desconhecendo-se a intenção do

artista quanto à durabilidade da obrae face a uma alteração na sua aparên-cia, surge, naturalmente, a questãosobre se a mesma deve ou não sofrerintervenções de Conservação; - a materialidade da obra, que, alémde estar carregada de subjectividadedo artista, apresenta fragilidade,complexidade, ou incompatibilida-de mediante os materiais e a formacomo são utilizados;- o diálogo pluridisciplinar com oartista e com familiares, cientistas,historiadores de arte e entidade pro-prietária, visando reunir o máximode informação para permitir tomardecisões devidamente justificadas;- inovar na formulação de hipóteses ede procedimentos de acordo com afunção do objecto, o conservador-res-taurador não tem respostas, nem,muitas vezes, os seus conceitos sãoválidos para os problemas que sur-gem na Arte Contemporânea;- a ideia de que a reversibilidade deum tratamento é, muitas vezes, uma

ilusão, podendo dar azo a faltas deresponsabilidade, a qual não podeser avaliada isoladamente de outroscritérios de intervenção;- a Ciência na Conservação é impres-cindível, sobretudo na descoberta denovas técnicas de Conservação e demateriais mais eficientes e adequa-dos às necessidades actuais, assimcomo na tentativa de antecipar futu-ras problemáticas. Importa, assim, salientar que a alte-ração do carácter conceptual deuma obra só será perceptível atra-vés do profundo conhecimento daintenção do artista. Este conheci-mento só pode ser absorvido atra-vés de entrevistas ao próprio ou deum testemunho escrito pelo mesmo.Isto torna todo o processo muitomoroso ou, até mesmo, impossívelde solucionar.

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Ataque fúngico sobre a camada pictórica Grande rasgão provocado por um acidente

MARIANA BASTO,Conservadora-restauradora

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UMA FIGURA DO PASSADO

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É assim que, em 1921, o jornalista JoãoAmeal descreve a Casa de Veva de Li-ma. Hoje, ao passarmos os “reposteirosmisteriosos”, ainda entramos no seuuniverso. Um espaço que nos conduzpor um percurso só compreensível nocontexto da obra e da figura da escritora.Genoveva de Lima Mayer Ulrich – deseu nome literário Veva de Lima –nasceu em 1886, filha de Carlos Ma-yer. Foi poetisa, conferencista, nove-lista e dramaturga, celebrizando-setambém pela colaboração na impren-sa. Famosa pelo brilhantismo do seudiscurso e pela sua forte intervençãosocial, manteve entre os anos 20 e 40um salão literário, no qual reuniu no-

mes destacados da intelectualidadelisboeta. Veva de Lima faleceu em 1963 e, nos anos 80, por iniciativa de sua filha Maria Ulrich, foi doado parte do espólio da ca-sa à Câmara de Lisboa. O Município ad-quiriu o edifício e participou na criaçãode uma associação que perpetuasse amemória da escritora, através da reali-zação de debates e saraus culturais, con-trariando, desta forma, uma mera musea-lização do espólio como Casa-Museu.O espaço evoca a sua vida na vertenteartística, familiar e social, transforman-do-se numa daquelas casas que, segun-do Bachelard, “mais que a paisagem,reflectem a alma” de quem lá viveu.

O primeiro contacto com o interior doedifício ocorre no vestíbulo e na escada-ria. Estes assumem a importância de“coração da casa”, iniciando o visitanteno carácter cenográfico recorrente na de-coração. As paredes sugerem escaiolasde gosto pompeiano e a espacialidaderevela-se numa teatralidade implícitanas cortinas de veludo vermelho, na ilu-minação direccionada e na utilização demateriais efémeros e cénicos, materiali-zando um locus trágico, que surge des-crito em vários textos da escritora(1). Éem torno deste espaço central que se de-senvolve o piso nobre, numa sucessãode salas temáticas: a Sala de Jantar neo-clássica, a Sala Amarela, dominada ori-

“Abre-se o pano... o creado negro de Veva de Lima corre os reposteiros misteriosos, atráz dos quaesvou encontrar a Artista(...). Agora é a escadaria (...) toda cheia de peles de tigres, listradas, estiradas,como se a alma das feras estivesse ali(...). E ao cimo começam os salões – uns salões diluídos empenumbras como certos feerias de Rafaelli, uns salões que são florestas d’Arte, arquipélagos dedivans e de bibelots.” João Ameal in Ilustração Portuguesa, 1921

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Casa Veva de Lima

Um Património doado à cidade

O Salão Império com os papéis Cupidon et PsychéVeva de Lima fotografada em sua casa por CecilBeaton, em 1942

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ginalmente por uma grande fonte degesso – funcionava como sala de distri-buição – e a Sala Vermelha em estilofrancês. O Salão Império é o maior des-tes espaços e o mais importante ao nívelda interacção entre as escolhas decorati-vas e a personalidade de Veva de Lima.ASala Verde é rasgada por uma larga ja-nela de onde a escritora via o Tejo, tendosido transformada, em 1946, numa salade estilo flamengo, decorada com ta-peçarias e pinturas da escola holandesa.Finalmente, a Sala Chinesa, a partir daqual acedemos à zona dos quartos, dotoucador e da casa de banho, compostaem torno de uma banheira em forma deconcha, numa original sugestão do Nas-cimento de Vénus, de Botticelli.Acasa guarda também um conjunto de

peças composto maioritariamente porpintura clássica europeia, mobiliário devárias épocas, têxteis e uma colecção dearte oriental. Complementa este espó-lio um vasto acervo documental, actualmente na posse da Fundação Maria Ulrich, cujo valor é indiscutívelpara a contextualização do conjunto. Uma das peças de maior importância nocontexto das artes decorativas, pela suarelação com o tratamento espacial e nar-rativo da casa, é o papel de parede doSalão, intitulado Cupidon et Psyché ouL’histoire de Psyché – criado em 1816 pe-la manufactura Dufour e inspirado no romance de La Fontaine. As 12 cenasdesta obra foram desenhadas por

Merry-Joseph Blondel e Louis Laffite.Adaptando esquemas compositivos depinturas de Gérard e de Prud’hon, colo-caram nas suas composições objectosclássicos e do estilo Império então em voga, sintonizando as suas imagens com a época. Por serem de fácil dete-rioração, foram sucessivamente reedi-tados até 1923. Cada cena está enquadrada com colu-nas escaioladas, em sintonia com os in-teriores representados. Acolocação dospapéis não se orientou pela sequêncianarrativa das cenas, mas sim pelacriação de uma simetria espacial, dis-pondo cada episódio aleatoriamente,sacrificando-se a narração pelo espaço.No entanto, tanto nos anos 20, como naredecoração de 1946, os painéis rege-

ram sempre o tratamento do salão, tor-nando, hoje, este conjunto uma referên-cia a nível internacional.De notar a repetição de elementos dospapéis na composição geral do espaço:a braseira, o lectus, o mobiliário de esti-lo Império, os cisnes, as borboletas, ma-terializando uma relação com os sím-bolos pessoais da escritora (o cisne e aborboleta) e com a sua personalidade.Após a doação, a Câmara procedeu aobras de conservação do edifício. Po-rém, as intervenções realizadas nemsempre respeitaram a unidade do con-junto, resultando daí uma intervençãocasuística e não uma acção de restauro.As modificações não foram acompa-

nhadas de um registo fotográfico e alte-raram o programa decorativo existente– com a introdução de novos esquemasde iluminação, a desactivação das fon-tes do vestíbulo, a eliminação de algu-mas escaiolas, a substituição de revesti-mentos têxteis ou a intervenção na casade banho de Veva de Lima, na qual fo-ram ocultadas as pinturas originais.Hoje urge pensar a Casa Veva de Lima.Éimperiosa uma acção de restauro ante-cedida de uma intervenção que consigatravar os graves problemas estruturaisdo edifício. Caso contrário, comprome-ter-se-á a conservação do espólio, prin-cipalmente dos revestimentos parietais:escaiolas, tapeçarias e papéis de parede.Do conjunto de papéis, o caso mais pre-ocupante é a conservação de Cupidon etPsyché, por ser raro e pela importânciade que se reveste, contextualizado noespaço. Por isso, uma intervenção espe-cializada e a substituição dos originaispor réplicas até à conclusão das obraspreveniriam a perda irrecuperável deste património único em Portugal.Toda esta acção integrada está final-mente a ser encarada pelo Departa-mento de Património Cultural da Câ-mara de Lisboa, de quem a casa depen-de, estando em preparação um cader-no de encargos que permita, a curtoprazo, viabilizar a realização das obras.Uma intervenção que, no entanto, nãopode esquecer a unidade que existe en-tre a casa e a figura que a idealizou e ha-bitou, tornando-a não apenas numa ca-sa de artista, mas na obra dessa artista;uma cenografia habitável, na qual JoãoAmeal reconhece “(...) uma afinidade intima entre esse scenário e a sua obra. O seu scenário é mesmo uma grande obrade Veva de Lima (...)”.

Nota: Os autores agradecem à Directora do Departa-mento de Património Cultural da CML, Dr.ª AnabelaCarvalho, e à Dr.ª Salete Salvado, do Grupo Perma-nente de Trabalho daquele Departamento, bem comoà Fundação Maria Ulrich a disponibilização das fotosincluídas.

Notas:(1) LIMA, Veva de – O Ultimo Lampadário, Lisboa: [ed. do A.], 1917

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MÁRIO GOUVEIA, MÁRIO NASCIMENTO, Técnicos da Câmara Municipal de Lisboa

Vista da escada principal

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DECLARAÇÃO DO CONSELHO DA EUROPA NOSTRA

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1. O Conselho da Europa Nostra,Federação Pan-Europeia do Patri-mónio, debateu, no encontro em Haia a30 de Setembro de 2004, as implicaçõesda crescente utilização de estruturas deenergia eólica para produção de electri-cidade no ambiente e património, echegou às seguintes conclusões:

CONSIDERAÇÕES GERAIS2. O Conselho evocou o compromissoestatutário da Europa Nostra para aprotecção e valorização do patrimónioem todos os seus aspectos (imóvel emóvel, construído e natural) no contex-to alargado da paisagem cultural.3. O Conselho reconheceu e partilhou,cabalmente, a séria preocupação inter-nacional no que respeita às alteraçõesclimáticas, particularmente reflectidasno Protocolo de Quioto, bem como anecessidade de todos os países estabe-

lecerem políticas de energia que as te-nham em conta, considerando progres-sivamente o impacte na paisagem detodas as formas de energia renovável.4. O Conselho defendeu que as políti-cas energéticas têm de ser detalhadas,abrangendo ambos os problemas tantoda procura como do fornecimento, con-siderando neste último todas as formasde fornecimento de energia e, em parti-cular, uma redução da emissão de GEE(gases de efeito de estufa), especial-mente o CO2 (dióxido de carbono). 5. O Conselho considerou que muitaspolíticas energéticas nacionais nãoabrangem de forma suficiente o lado daprocura, não economizam energia,nem promovem a eficiência energética.6. O Conselho foi de opinião que maio-res esforços deverão ser feitos para pro-mover todas as formas de energia reno-vável.

CONSIDERAÇÕES ESPECÍFICASSOBRE A ENERGIA EÓLICA7. Embora o Conselho tenha apoiadointeiramente a via das energias renová-veis, incluindo a energia eólica, consi-derou que as turbinas de vento sedevem situar em locais apropriados. 8. O Conselho considerou, igualmente,que muitos países têm revelado até aopresente uma propensão excessivapara a exploração da energia eólica,quer em terra quer não. Providen-ciaram largos incentivos para o seudesenvolvimento, descuraram a legis-lação de planeamento, e negligencia-ram uma avaliação contrabalançadados seus méritos e fragilidades; conse-quentemente, vastas áreas de belíssi-mas paisagens por toda a Europa sãoagora dominadas por grupos de turbi-nas eólicas cada vez maiores – cada umconstituindo uma pequena central

Declaração do Conselho da Europa Nostra sobre o impacte da energia

eólica nas zonas rurais

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eléctrica – tornando-se progressiva e efectivamente paisa-gens industrializadas, com sérios e nefastos resultados parao património natural.9. OConselho considerou que, em muitos países europeus,está a ser criada uma situação em que o impacte social, eco-nómico, turístico, histórico, cultural, e sobre a vida selva-gem e a paisagem estão a ser descurados no processo detomadas de decisão relativas à energia eólica.10. Considerando esta situação, o Conselho assumiu aposição de que, no que diz respeito às turbinas de vento emterra ou grupos de turbinas, o processo de tomada dedecisão por parte das autoridades públicas deve incluirconsultoria alargada, basear-se na compreensão do signifi-cado do carácter e valor da paisagem local; e, para qualquerprojecto, ter em conta as seguintes considerações:a) O impacte na Comunidade local.b) Os resultados de uma análise cuidada e objectiva dasexigências feitas pelo promotor, em relação à preservaçãode GEE.c) O grau de intrusão visual, relacionado com o carácter equalidade das imediações, tendo em conta que as turbinasmodernas, normalmente instaladas em locais dominantes,chamam a atenção pelo seu tamanho (mais de 100 metrosde altura e crescente).d) O prejuízo suplementar para a paisagem, habitats frágeis,cursos de água, e outros aspectos do ambiente, causadospelo processo construtivo, incluindo a provisão de estradasde acesso, adições a redes de electricidade, torres de altatensão, e edifícios necessários para a geração e transmissãode energia.e) O grau com que possa ser garantida a restituição do localà sua condição original no final da duração funcional dasturbinas.f) A proximidade e impacte nos locais designados comoáreas protegidas aos níveis internacional, nacional, regio-nal ou local.g) O impacte do ruído e do infra-som, da intercepção da luze/ou desvalorização das propriedades nas comunidadesvizinhas das turbinas.h) Uma avaliação da necessidade de reserva de energia deapoio para quando as turbinas estão inactivas (ou seja, pormuito tempo), que será usualmente gás, afectando assimos pretensos benefícios do projecto em termos da produçãode GEE, e dos custos reais de produção: a necessidade decustear o reforço de energia (isto é, substituir as turbinas devento existentes por maiores) na mesma base do projectoinicial.i) Anecessidade de considerar o reforço de energia (ou seja,substituir as turbinas de vento existentes por maiores) namesma base do projecto inicial.11. No que diz respeito às turbinas, ou grupos de turbinas,ao largo da costa, algumas mas não todas das consideraçõesacima são aplicáveis. Para além do mais, regra geral, quan-to mais longe da costa uma turbina puder ser implantada,menor será a possibilidade de objecções.

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PROJECTOS & ESTALEIROS

Pedra & Cal n.º 26 Abril . Maio . Junho 200530

ANÁLISE ESTRUTURALO comportamento estrutural dos edi-fícios foi analisado com base em in-formação actualizada, obtida a partirdo levantamento efectuado, que vi-sou a geometria dos edifícios, a cons-tituição e as características mecânicasdos diferentes elementos resistentes,o levantamento de anomalias visíveisde índole estrutural, a introdução desoluções de reforço anteriores à ac-tual intervenção, entre outros.Para cada um dos edifícios, A e B, fo-ram elaborados dois modelos de cálcu-lo (Fig. 2). Com isto pretendeu-se ava-liar o comportamento estrutural doedifício tal como se encontra actual-mente – modelo 1 –, e o comportamen-to da estrutura após a aplicação das di-ferentes medidas de reforço e consoli-dação estrutural – modelo 2. Dos resul-tados do modelo 1 (Fig. 3), obteve-se ainformação necessária sobre os ele-mentos estruturais que careciam de re-forço ou de medidas correctivas, e decomo, globalmente, dotar o edifício demelhores características para resistir àacção sísmica. Com o modelo 2 (Fig. 4),que inclui grande parte dessas medi-das de reforço, confirmou-se a per-tinência das soluções e os dados para oseu dimensionamento.Da avaliação da resistência sísmicado edifício concluiu-se a necessidadede introdução de diferentes medidasde reforço e consolidação estrutural,tendo sido projectadas diversas solu-ções que conferem ao edifício melho-res características de resistência sís-mica. Teve-se, ainda, como objectivoa não descaracterização dos edifícios,

procurando-se preservar os materiaise as soluções técnicas originais e con-ceber reforços compatíveis com assoluções existentes.

SOLUÇÕES DE REFORÇOAs soluções de reforço apresentadasprendem-se com diferentes objecti-vos estruturais (Fig. 1). Tendo-se ve-rificado nos ensaios in situ a fracaqualidade das paredes de alvenaria,em termos de resistência, optou-se

pela adopção, generalizada, da so-lução de reboco armado, procurando--se dotar as paredes de uma maior ca-pacidade de resistência à tracção econferir-lhes, ainda, um funciona-mento de conjunto dos dois panosconstituintes (as paredes resistentesprincipais são, normalmente, consti-tuídas por dois panos exteriores dealvenaria de pedra irregular e pormaterial de pior qualidade entre ospanos).

Aqui se apresenta a continuação da análise sobre a segurança estrutural dos edifícios A e B da EscolaBásica 2, 3 Roberto Ivens, em Ponta Delgada.

Avaliação da segurança das construções face

à acção dos sismos (segunda parte)

Fig. 1. Pormenor do Reboco Armado

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Para a reparação das fis-suras de índole estrutural,detectadas, previamente, nolevantamento das anomaliasvisíveis, optou-se pela so-lução de injecção de caldas de selagem, com característicascompatíveis com os materiais existen-tes (Fig. 5). Preconizou-se, também, asolução de pregagens metálicas noscunhais e na ligação entre paredes defachada e as que lhes são ortogonais.Com este tipo de reforço, pretende-se evi-

tar a separação entre as paredes resisten-tes, perpendiculares entre si, dado que oselementos de alvenaria, apesar da suamelhor qualidade nos cunhais, não ga-rantem que a separação não ocorra.Para conferir um funcionamento pró-ximo de um diafragma ao nível dospavimentos, adoptaram-se algumassoluções de reforço, nomeadamentea colocação de tirantes metálicos aonível dos pisos, permitindo que as pa-redes dispostas paralelamente entre si

não se afastem.Com o objecti-vo de dotar osp a v i m e n t o s

de maior capaci-dade de resistência à

compressão, definiram-se,também, ligações das vigas prin-

cipais dos pavimentos às paredes re-sistentes através de cantoneiras metá-licas periféricas.Ainda em relação aos elementos das es-truturas, recomendou-se a solução de

um lintel de betão armado, ao nível dacobertura do edifício B, para o confina-mento de todas as paredes de alvenariano seu topo e permitindo, simultanea-mente, o assentamento da nova estru-tura metálica da cobertura.Tendo-se verificado que a estrutura demadeira da cobertura do edifício B se encontrava em mau estado de conser-vação, optou-se pela sua substituiçãopor uma estrutura metálica, com geo-metria semelhante à existente. Previu-

-se, também, a inclusão de vigas metáli-cas em substituição de vigas de madeira,que se encontram em mau estado, comindícios de infestação de insectos xilófa-gos ou com zonas apodrecidas. Foi, ainda, especificado o tratamentopreventivo/curativo das madeirasque constituem os pavimentos e ascoberturas a manter. O tratamentodeverá ser realizado através de apli-cação de produto insecticida/fungi-cida, homologado, adequado ao tipode madeira existente no edifício e,

também, às novas madeiras a aplicar.Nas fundações não se prevê ser necessá-ria qualquer intervenção, dado que asparedes estruturais do edifício assentamsobre estratos de rocha pouco alterada,conforme se pode observar no decorrerdas obras dos edifícios anexos.

Pedra & Cal n.º 26 Abril . Maio . Junho 2005

PROJECTOS & ESTALEIROS

31

ANTÓNIO RESSURREIÇÃO, ANTÓNIO CRAVEIRO, Eng.os Civis - Entrecálculos, Ld.ª

Fig. 5. Pregagens, pormenores das amarrações

Fig. 3. Tensões máximas na alvenaria numa fachada do edifício na situação actual

Fig. 4. Tensões máximas na alvenaria na mesma fachada do edifício, após a introdução das medidas correctivas de reforço global da estrutura

Fig. 2. Edifício A – Modelo de cálculo

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PROJECTOS & ESTALEIROS

Pedra & Cal n.º 26 Abril . Maio . Junho 200532

CARACTERIZAÇÃOA Câmara Municipal de Tavira decidiuproceder a obras de Conservação da Er-mida, nas quais se incluíam a reparaçãopontual da cobertura e de revestimentosdos paramentos verticais (através da exe-cução de rebocos com argamassas de calaérea e posterior caiação), intervençõesde restauro em painéis de azulejos, recu-peração de elementos em madeira, lim-peza e reparação de cantarias constituin-tes do arco triunfal e a total revisão do sis-tema eléctrico do imóvel.Da intervenção efectuada, destaca-se aConservação e o Restauro do revesti-mento azulejar da capela-mor, da nave edo painel exterior. Para garantir a conti-nuidade da obra de arte, a salvaguardado original e a sua integridade, estiveramsempre presentes os princípios básicosde Conservação e Restauro, procurandoreduzir a intervenção ao mínimo neces-sário e apostando na compatibilidadedos materiais e na sua reversibilidade.O tratamento foi definido tendo em con-ta os resultados obtidos na pesquisa his-tórica, na observação do estado de con-servação, assim como em exames de áreae pontuais. Desta forma, efectuou-se umtratamento de fortes bases conservativas,sendo que as etapas de restaurose identi-ficaram com a devolução de equilíbrioestético ao conjunto azulejar,conseguido

através do reassentamento, em posiçãocorrecta, dos azulejos trocados, na apli-cação de azulejos novos, com manchasde cor e no preenchimento de lacunas efissuras-fracturas, integradas pictorica-mente por processo cromático-tonal.

INTERVENÇÃOOs procedimentos adoptados para a rea-lização dos trabalhos de Conservação ca-racterizam-se resumidamente por:–Remoção de alguns azulejos, que se en-

contravam em risco de queda ou desa-gregados do suporte, procedendo aoperações de etiquetagem, facings e de-posição em caixas próprias, para poste-rior tratamento;

–Remoção das argamassas dos azulejosretirados;

–Apainelamento dos azulejos removi-dos, segundo a ordem correcta;

–Remoção de preenchimentos antigos,inadequados e concreções;

–Dessalinização pelo processo de pachosin situ e por imersão em tinas de águadesionizada;

–Consolidação em seringa de zonas querevelavam fragilidade de aderência, enfraquecimento de argamassas, assimcomo em outros casos específicos;

–Isolamento de lacunas com consolidan-teeprotecção das chacotas fragilizadas;

–Aplicação de pesticida;

–Limpeza de matéria orgânica;–Preenchimento de lacunas e fissuras

com pasta cerâmica própria para o efei-to – absolutamente compatível – e res-pectivo nivelamento. Realização de colagens e consolidações;

–Remoção das argamassas fendilhadas;–Limpeza das argamassas a manter;–Colocação dos azulejos com argamassas

de cal e areia, pelo processo tradicional;–Reintegração cromática a frio e intro-

dução de película de protecção;–Execução de acabamentos finais e de

pormenor, retoques pontuais;–Elaboração de um relatório final com

documentação gráfica e fotográfica.Salienta-se que este artigo é apenas umpequeno resumo de um extenso e por-menorizado relatório entregue à CâmaraMunicipal de Tavira documentando in-tegralmente a intervenção efectuada.Esta intervenção foi feita em colaboraçãocom a Dr.ª Beatriz Albuquerque, da Con-servar & Inovar, e com a ConservadoraMagda Martins. Pretendeu-se, assim,contribuir para a preservação de um imó-vel detentor de uma forte herança histó-rica e elevada componente cultural.

A Ermida de Nossa Senhora da Saúde em Tavira foi recentemente alvo de uma intervenção deReabilitação, tendo sido atribuída à Monumenta, Ld.ª a responsabilidade de execução dos trabalhos.

Reabilitar o Património

JOÃO VARANDAS, Engenheiro, Monumenta, Ld.ª

Antes da intervenção de reabilitação Durante a intervenção de reabilitação Depois da intervenção de reabilitação

Tema de Capa

32_Monumenta.qxp 5/20/05 12:22 PM Page 32

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Pedra & Cal n.º 26 Abril . Maio . Junho 2005

PERFIL DE EMPRESA

33

Com 15 anos de presença no Mercado da Construção Civil e Obras Públicas, a Listorres, S. A.

é hoje uma empresa experiente e afirmadaA sua actividade desenvolve-se em diversas áreas da Construção Civil,

nomeadamente a Conservação e Restauro do Património Arquitectónico. Nos últimos anos, devido à exigência do mercado e à experiência adquirida, a Listorres, S. A. direccionou a sua actividade também para a Concepção /

Construção, sendo o melhor exemplo a obra de Concepção Construção das Novas Instalações da Polícia Judiciária na Guarda no valor de 2.716.530,56 €,

consignada em 19/01/2004 e inaugurada pelo Sr. Ministro da Justiça em 20/10/2004.

Com o objectivo de contribuir também de forma cada vez mais qualificante para o mercado da Construção Civil e Obras Públicas, quer pela dignificação e consciencialização de uma “cultura da classe”, quer pelo nível de qualidade

e segurança das obras que executa, esta empresa tem em curso o processo em ordem à Certificação da Qualidade pela NP EN ISO 9001:2000, através

do Instituto Técnico para a Indústria da Construção.

33 Perfil de Empresa.qxp 5/19/05 5:53 PM Page 33

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QUINTA DA AGUIEIRAHistorialO nome Aguieira provém de “àquila”– lugar das águias –, sede de concelhoem 1514 (por foral concedido por D.Manuel I), que passou, em 1834, a inte-grar o concelho de Águeda. Sabe-se que, em 1724, existia já uma ca-sa fidalga, hoje denominada Quinta daAguieira, pertencente a João GomesMartins. Integrada na quinta, a capelade devoção a Nossa Senhora do BomDespacho foi mandada erguer, peloproprietário, em 1735, tendo, a partirde 1758, servido de sepulcro para a suaesposa, D. Maria Eufrásia Pacheco.

Merece particular relevo a obra de ta-lha renascentista que a decora interior-mente, tanto no altar-mor como no tec-to. A actual casa de habitação, ligada àinicial através de um arco, data do sé-culo XIX. Uma casa de grandes di-mensões que acolhe, na parte mais an-tiga, as várias salas, e, na parte maismoderna, as dependências de habi-tação divididas em dois pisos.Junto à casa, encontra-se, de um lado,oantigo celeiro e as dependências agrí-colas, e, do outro, a adega, recente-mente remodelada e modernizada, afim de produzir vinho de acordo comas mais inovadoras técnicas. As caves

da antiga residência guardam aindagarrafas de décadas passadas, real tes-temunho de que certos sabores melho-ram com o passar do tempo. As colheitas vinícolas desta quinta ad-quiriram um reconhecimento interna-cional, comprovado pelas duas me-dalhas de ouro já conquistadas. Assuas características ímpares levaram aAveleda a adquirir a propriedade em1998, assumindo a reconversão dasvinhas, a reconstrução da Adega e de-mais edifícios, incluindo a casa resi-dencial. Uma decisão tomada no sen-tido de desenvolver a produção agrí-cola, dignificando, assim, a Quinta daAguieira e a região onde está inserida.

IntervençãoA decisão de reabilitação das cober-turas revelou algumas da suas pato-logias – nomeadamente o mau esta-do de conservação das telhas cerâmi-cas (tipo lusa) e dos respectivos beira-dos, assim como o facto de a transiçãoentre as telhas e os beirados não faci-litar a drenagem das águas.Aempreitada, realizada pela EmpresaIncase-Projectos e Construção Ld.ª, te-ve por objectivo proceder à revisão ge-ral da estrutura de madeira das cober-turas, a qual incluía a substituição pon-tual de madeiramentos deteriorados ea sua limpeza. Por esta razão, optou-sepela aplicação do Sistema de SubTelhafibro-betuminosa ondulada da Ondu-line, resolvendo, deste modo, proble-mas de humidade e infiltrações. Foramrealizados todos os trabalhos necessá-rios ao correcto funcionamento do Sis-tema Onduline, por exemplo, a níveldos beirados, introduzindo uma telametálica (Metalfilm) para assegurar atransição entre as Placas de SubTelha eos beirados. Por fim, aplicou-se telhalusa idêntica à existente.

MATERIAIS & SERVIÇOS

Pedra & Cal n.º 26 Abril . Maio . Junho 200536

A produção de vinho é uma parte integrante da nossa vivência,elemento constante no nosso passado e presente. Aqui tratou-sede garantir o seu futuro.

Preservar o Sabor

ENG.º CARLOS FERREIRA,Resp. Qualidade e ComunicaçãoENG.º MIGUEL SILVA,Director Técnico-ComercialOnduPortugal, S. A.

36-37 Materiais.qxp 5/27/05 12:41 PM Page 36

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As fixações químicas têm registadoum grande crescimento nos últimosanos, sobretudo a variante de injecção(cartuchos). Este êxito justifica-se porvários motivos, entre os quais se des-taca a versatilidade dos produtos e asimplicidade de aplicação. Depois doaparecimento das primeiras resinasde poliéster, houve um esforço de in-vestigação que, em pouco tempo, setraduziu no desenvolvimento demuitos novos produtos – uns de ca-rácter geral e outros que apostammais na especificidade e inovação.Com a aplicação efectiva da directiva

comunitária, as escolhas ficam maisclaras, em nome da segurança de pes-soas e bens.

TIPOS DE RESINAVinil Éster (Epoxy-Acrilato) – tipo depolímero que constitui a base das resi-nas de última geração. Não tem re-acções desfavoráveis em contactocom o betão e a grande resistência ini-cial mantém-se ao longo dos anos.Híbrida – variante do vinil éster comaglomerante mineral. Desta união re-sulta uma maior resistência ao fogo.Poliéster – polímero que constitui a

base das resinas baratas disponíveisno mercado. Asua aplicação está con-dicionada ao betão.Epoxy – resina com grande aderência esem retracção. Tem limitações que con-dicionam a sua utilização em fixações,nomeadamente a sua reduzida to-lerância ao fogo e a lentidão de cura.

ANTES DE ESCOLHERSão vários os factores que condicio-nam a escolha:– O tempo – muito curto na aplicaçãodeampolas e mais alargado na injecçãocom cartuchos. O tempo de cura é devital importância para determinar omomento de aplicação das cargas;– A temperatura – as fixações de viniléster suportam temperaturas cons-tantes de 72ºC e pontualmente até aos120ºC. As efectuadas com epoxy de al-ta qualidade suportam temperaturasconstantes de 40ºC e pontualmenteaté aos 50ºC;– A humidade – a sua importância va-ria conforme o produto. Altamente con-dicionante no poliéster, pouco relevan-te no vinil éster e inexistente no epoxy;–Asaúde pública – a presença de esti-reno, reconhecidamente cancerígeno,constitui um risco, principalmente emaplicações em ambientes fechados. A Fischer, uma empresa alemã pre-sente há 50 anos no mercado mun-dial, escolheu a Blau, Ld.ª como par-ceiro, para o aconselhamento e a ven-da técnica dos seus produtos em Por-tugal.

Fixações com “Bucha Química”

Certificação obrigatória ETA/CE alargada à resina para fixação

www.fischerwerke.de

Desde 1 de Março de 2005, é obrigatória a certificação ETA/CE para fixações estruturais com resina,situação que vem aumentar as exigências no fornecimento e aplicação desta gama de produtos.

sem estirenosem estirenosem estirenosem estirenoPresença de estireno

F 120Certificação anti fogo

Furo submerso

Furo humido

Fixação em materiais ocos

Fixação em rocha

Fixação em betão

AmpolaCartuchoCartuchoCartuchoApresentação

Vinil esterEpoxyPoliesterVinil ester hibridoTipo Resina

Marca CE - Certificação ETA

FIS VFIS V FIS PFIS P FIS EMFIS EM FEB-RFEB-R

!

!

!

!- adequado - adequado em condições especificas- inadequado

Designação do produto Fischer

Pedra & Cal n.º 26 Abril . Maio . Junho 2005

MATERIAIS & SERVIÇOS

37

36-37 Materiais.qxp 5/19/05 6:04 PM Page 11

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AS LEIS DO PATRIMÓNIO

Pedra & Cal n.º 26 Abril . Maio . Junho 200538

Como se sabe, o poder da Comissãode Abertura do Concurso em admitirou excluir concorrentes ou propostasé vinculado, isto é, a comissão não po-de escolher, pode apenas verificar seestão reunidos e, do modo adequado,todos os documentos exigidos peloprograma do concurso. Nada mais!Por isso, caso falte algum documentono envelope respectivo, o concorren-te ou proposta têm de ser excluídos. Claro que nos referimos somente aosdocumentos que sejam exigidos noprograma do concurso, assim, quemconcorre sozinho não juntará docu-mentos relativos a futuros consorcia-dos, ainda que o programa do con-curso os refira. Os documentos terão que correspon-der na exactidão àquilo que é exigido.Deste modo, se o programa exigir có-pia do alvará do IMOPPI contendocertas autorizações, a cópia de um al-vará que as não contenha não satisfazessa exigência, devendo o concorren-te ser excluído. Posto isto, se o documento existir masfor apresentado no envelope errado,

entendemos que terá, igualmente, dehaver exclusão.Em todos os outros casos, o concor-rente deve ser habilitado ou a sua pro-posta admitida.Assim, não pode ser excluído quemapresente documentos em que faltemreconhecimentos de assinatura, certi-ficações ou outras menções supríveis.Nesse caso, o concorrente ou propos-ta são admitidos condicionalmente,interrompendo-se, de imediato, o ac-to público para que, em dois diasúteis, o concorrente sane o vício, apre-sentando, eventualmente, nova viadaquele documento. Embora a lei nãoo esclareça, esta regra tanto vale na fa-se de habilitação, como na fase deabertura das propostas.Também não pode ser excluída nestafase uma proposta que contenha alte-rações de cláusulas do caderno de en-cargos não admitidas no programa deconcurso, pois, como se disse, nestemomento, a comissão apenas verificaquestões de ordem formal. Os concorrentes podem consultar adocumentação de todas as propostas,

se o requererem, dizendo que o fazempara instruir uma reclamação (depoissão livres de, ponderando melhor, de-sistirem de a apresentar). Na verdade,no seu interesse e no interesse da co-lectividade, devem fazê-lo para queseja colocado fora do concurso quemlá não deve estar. Seja porque, não obs-tante o excelente preço e prazo ofereci-do, não está habilitado pelo IMOPPI arealizar aqueles trabalhos, ou porquenão instruiu a sua proposta com aspeças desenhadas que lhe eram exigi-das. Isto é, casos em que o concorrentenão faz grande ideia do que pretenderealizar.Depois o verá, quando ganharo concurso, como espera, já que ofere-ce um preço “fora de série”.O concorrente deverá também re-clamar se, ilegalmente, a comissão o excluir.Há que ter atenção ao formalismodestas reclamações que, idealmente,deverão ser sempre escritas e apre-sentadas no momento próprio (umareclamação sobre a habilitação de umconcorrente, quando se abriram já osenvelopes das propostas, é tardia).

Tendo o empreiteiro entregue a sua proposta, a necessidade desaber contra quem concorre e quais as condições oferecidas poressa mesma concorrência irão conduzi-lo ao acto público em queobterá essa informação e estimará, assim, as suas possibilidades desucesso. Isto, claro, se não for antes excluído pela Comissão deAbertura do Concurso no próprio acto público. É de exclusões quetrata este artigo.

O acto público:modo de usar

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AS LEIS DO PATRIMÓNIO

A reclamação é sempre apresentada,no acto público – como se observa nográfico que acompanha este artigo –,sendo dirigida à própria comissãoque, depois, reúne reservadamentepara a apreciar e comunicar a sua de-

liberação. É dessa deliberação que oconcorrente pode recorrer hierarqui-camente (isto é, se não reclamou an-tes, já não pode recorrer).O recurso tem, identicamente, de serapresentado no próprio acto públi-

co. Para tal, o concorrente, logo quelhe seja comunicada a resposta da co-missão à reclamação que apresen-tou, pedirá a palavra para dizer querecorre hierarquicamente ou mani-festará essa intenção em documentoescrito. Não é necessário fundamen-tar logo as razões do recurso, tão-sómanifestar com clareza a sua in-tenção de recorrer. Esses fundamen-tos serão apresentados à entidadeque preside ao concurso no prazo decinco dias úteis, contados a partir doacto público, ou, se igualmente tiverrequerido certidão da acta, no prazode cinco dias úteis contados desde omomento em que essa certidão lhe éentregue.O não cumprimento estrito deste for-malismo acarreta a inutilização dodireito do concorrente a recorrer.Desta forma, não havendo prévia re-clamação, não poderá haver recursohierárquico e, não tendo no acto pú-blico sido manifestada essa intençãode recorrer, também já não será pos-sível apresentar tal recurso directa-mente à entidade que preside ao con-curso, mesmo que seja nos cinco diasúteis posteriores ao acto público.

MIGUEL RESENDE,Advogado – Sócio da ATJM – Sociedade de Advogados

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Pedra & Cal Pedra & Cal n.º 26 Abril . Maio . Junho 200540

O museu, instalado num edifício oito-centista, o Solar dos Goulões, de ine-quívoco valor histórico e artístico –classificado como Imóvel de InteressePúblico em 2002 –, apresenta a expo-sição de longa duração O Labor do Can-teiro, desenvolvida ao longo de umpercurso que acompanha as fases deintervenção sobre a pedra com vista àprodução de cantarias. Mostram-se osutensílios mais antigos e tradicionaisusados pelos canteiros no decurso dassucessivas operações e também as ino-vações de que foram objecto, condu-zindo ao seu abandono e substituiçãopor maquinarias.As imagens apresentadas ao longo dopercurso documentam práticas e téc-nicas que conduzem à produção deformas ou à elaboração estética da pe-dra, dando conta dos traços funda-mentais da evolução da actividade pé-trea em Portugal.Integram ainda o circuito do Museu

do Canteiro, a cozinha, cuja lareira earmários de parede, construídos empedra aparelhada de grandes dimen-sões, são de destacar, assim como o va-randim da capela que faz a ligação doSolar à capela anexa, actualmente de-nominada de São Brás, onde os habi-tantes da casa assistiam às cerimóniasreligiosas. Outras divisões do edifício exprimema forte relação dos seus donos com agrande propriedade de tendência lati-fundiária, assente numa economia deprodução de cereais, de pragana eazeite. Atítulo de exemplo, as tulhas ea sala de armazenamento de azeite,que impressionam pela aplicação decantarias realizada nestes espaços me-ramente funcionais, também podemser visitadas. A escolha do Solar dos Goulões parareceber este museu não foi, aliás, feitaao acaso. A elaboração do trabalho dapedra que se verifica neste edifício, in-

vulgar na sua composição interior eexterior, tornam-no um belo exemplarda aplicação do trabalho de cantaria.Oespaço destinado às exposições tem-porárias constitui o campo dinâmicodo Museu do Canteiro, aberto a gran-de diversidade de propostas, mas cujatemática a abordar será invariavel-mente a do canteiro. Diversos ateliês, promovidos peloserviço educativo desta instituiçãomuseológica, ocupam o segundo pi-so deste magnífico solar.

DIVULGAÇÃO

Museu do Canteiro Percursos

da tecnologia da pedra

SOLANGE ALMEIDA, MUSEU DO CANTEIROIdentificação: Solar dos GoulõesLocalização: Alcains, Castelo BrancoProtecção: IIP, Dec. N.º 5/2002, DR 42 de 19 de Fevereiro 2002Museu do CanteiroCentro Cultural de AlcainsSolar dos Goulões, Rua das Fontainhas, n.º16005 Alcains, Tel.: 272 900 [email protected]

No passado dia 22 de Janeiro,foi inaugurado, em Alcains, oMuseu do Canteiro. Tendo asua génese correspondido auma iniciativa espontânea dacomunidade alcainense, for-mula-se agora como uma insti-tuição autárquica, vocaciona-da para estudar, preservar edivulgar as práticas e as vivên-cias do trabalho do canteiro.

Exposição O Labor do Canteiro

40 Divulgação.qxp 5/19/05 6:07 PM Page 40

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AGENDA

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6.ª Bienal Europeia de Cidades e Planeadores de CidadesData e local: 9, 10 e 11 de Junho, Copenhaga Temas: “Cidades Europeias – Desafios num mundo Global”

“Vida e habitação nas cidades europeias” “Planear a Cidade Europeia Futura”

A região de Øresund foi escolhida para anfitriã de um exemplo único da novadefinição de fronteiras das redes de trabalho de colaboração urbana e regional.A Bienal será composta por uma conferência, acompanhada, durante asmanhãs, por exposições, leituras, apresentações multimédia, assim como ou-tros eventos. As tardes serão ocupadas pela apresentação de planeamento con-temporâneo de cidades. Workshops e visitas no terreno terão lugar em locali-zações urbanas de interesse, nomeadamente em cidades como Copenhaga,Frederiksberg, Malmö e Lund.Informações: [email protected] • http://www.cityliving-livingcity.org http://www.planum.net/showspace/6thbiennial.htm

A Intervenção no Património: Práticas de Conservação e ReabilitaçãoData: 12, 13 e 14 de Outubro

Na sequência do sucesso alcançado no primeiro seminário pro-movido pela Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto(FEUP) em parceria com a Direcção-Geral dos Edifícios e Monu-mentos Nacionais (DGEMN), as duas entidades estão a organizaro segundo seminário sobre “A Intervenção no Património; Práti-cas de Conservação e Reabilitação”. É intenção dos organizadoresque este evento seja potenciador de um debate alargado sobre opatrimónio construído, de reflexão sobre o seu estado actual e decomo intervir de forma sustentada numa perspectiva de futuro.As áreas em debate repartem-se por cinco sessões dedicadas a te-mas de grande actualidade no domínio do património edificado.

Informações: Clotilde Bento, FEUP, DECivilTel.: + 351 225 081 944 • Fax: +351 225 081 446 • E-mail: [email protected]://ncrep.fe.up.pt/seminario.htm

RIPAM2005 Encontro Internacional sobre o Património Arquitectó-

nico Mediterrânico Data e local: 26 a 28 Setembro em Meknes, MarrocosOrganização: Faculdade de Ciências, Universidade Mou-

lay Ismail, de Marrocos, em colaboração com Le Centre Interregional de Conser-vation et de Restauration du Patrimonie (CICRP), de Marselha e Le Reseau Eu-ropeen Pact.Uma conferência científica que reúne especialistas que trabalham sobre o patri-mónio cultural arquitectónico, a sua História, materiais de construção técnica,degradação e conservação. Com esta conferência pretende-se fortalecer a coope-ração entre investigadores de instituições nacionais e internacionais, no sentidode trocar ideias e experiências que melhorem o conhecimento e as técnicas deconservação do património cultural arquitectónico. Informações: www.fsmek.ac.ma/ripam2005Tel.: + 212 61 38 66 93; + 212 66 51 61 70 • Fax: + 212 55 53 68 08E-mail: [email protected]; [email protected]

Visita Estaleiro-Aberto GECoRPA ao Palacete dos Maristas, PortoTrabalhos de conservação de interiores– A. Ludgero Castro, Ld.ª1 de Junho, 15hÀ semelhança das anteriores, esta vi-sita aposta numa forte componentetécnica, que estará a cargo dos res-ponsáveis pelas intervenções de con-servação e restauro visitadas. Há pos-sibilidade de observar in loco asdiferentes características da obra. Será distribuída aos participantes do-cumentação apropriada.Informações: GECoRPATel.: 213 542 336 – Fax: 213 157 996 Site: www.gecorpa.ptInscrições: € 25; € 15 estudantes

Ciclo de Conferências “Metodologias de Intervençãoem Monumentos”15.º Aniversário do Mestrado “Recuperação do Património Arquitectónico e Paisagístico” da Universidade de ÉvoraColégio Verney, Sala 138 - 11hEntrada Livre27 de Maio: “Intervenções não intrusivas em Edifícios Históricos”,V. Cóias e Silva3 de Junho: “Intervenção na Igrejade N. S. da Conceição (Vila Viçosa)”,José Filipe Ramalho17 de Junho: “Segurança contraincêndios em edifícios”, AntónioLeça Coelho24 de Junho: “A importância da ar-quitectura paisagista na valorizaçãodo lugar”, Gonçallo Ribeiro TellesInformações: Colégio Verney da Universida-de de Évora, Rua Romão Ramalho, 59Tel.: 266 745 333/34E-mail: [email protected]

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IX Encontro Nacional de Municípios com Centro Histórico

Almoço Comemorativo25 anos e 1300 obras depois...

Pedra & Cal n.º 26 Abril . Maio . Junho 2005

NOTÍCIAS

A Associação Portuguesa de Mu-nicípios com Centro Histórico e aCâmara Municipal de Mértola orga-nizaram o nono encontro subordina-do ao tema “Tradição e Inovação”,que decorreu de 21 a 23 de Outubrode 2004, nesta vila alentejana. Dasconclusões do encontro, publicadasna revista Centros Históricos (n.º 17,

Abril 2005), salienta-se o “reconheci-mento da importância da reabilitaçãodos centros históricos de forma arti-culada e enquadrada no âmbito deuma estratégia global que combine asraízes da memória com as exigênciasdo presente e do futuro”, a “elabo-ração de planos de gestão dos centroshistóricos”, a “ valorização das políti-

cas (…) de recuperação do edificadocomo contraponto à construçãonova” e a “necessidade de fixação da população” como forma de evitar“o aumento de fogos devolutos”,entre outros propósitos. O próximoencontro está marcado para Maio naNazaré.

M.B.C.

No passado dia 9 de Abril, a Stap celebrou o seu 25.º aniver-sário com um almoço que reuniu todos os colaboradores dogrupo, bem como os respectivos cônjuges e filhos.O evento, que decorreu em Azeitão, teve início com arecepção dos convidados e a realização de uma “fotogra-fia de família”. Após o almoço, e enquanto decorriam iniciativas de animação para crianças, o Presidente doConselho de Administração endereçou algumas palavrasaos presentes.O Eng.º Cóias e Silva começou por agradecer às famílias doscolaboradores o frequente sacrifício do convívio familiar,resultante do facto de as obras serem, muitas vezes, emlugares distantes do lar. De seguida, recapitulou o projectoempresarial do grupo a que a Stap pertence, destacandocinco aspectos essenciais e orientadores do seu percurso:– Valorização da ética e da responsabilidade social dasempresas do grupo;–Aimportância dada às pessoas, salientando os bons resul-

tados do continuado esforço de valorização dos recursoshumanos;– A importância do trabalho em equipa;– As vantagens da cooperação com as outras empresas dogrupo: Gestip, Mestres Carpinteiros, Monumenta, Oz eTecnocrete.Depois de traçado um panorama optimista do futuro daempresa, foi altura de cantar os parabéns. A consideráveltarefa de apagar as velas do bolo de aniversário esteve a car-go da colaboradora mais jovem do grupo, Patrícia Amorim.Em seguida, o animador Bruno “Marx” assumiu o controloe, após uma actuação recreativa, procedeu ao sorteio de umabicicleta para cidade e de uma viagem para duas pessoas,com destino à escolha, no valor de € 2500. Os vencedoresforam, respectivamente, José Lourenço e Ana Cravinho.Antes de a comemoração chegar ao fim, procedeu-se à dis-tribuição de lembranças a todos os participantes, com par-ticular atenção aos mais jovens.

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OCDE promove o Uso Sustentáveldo Stock Construído

NOTÍCIAS

As políticas governamentais podem desempenhar umpapel importante na redução dos impactes ambientais dosector da construção. Uma vez que os principais desafiosdo desenvolvimento sustentável residem na criação desinergias e na gestão de intercâmbios entre a dimensãosocial, económica e ambiental, estas políticas devem, ain-da, contribuir para reduzir os fossos entre estas áreas.Foi neste contexto que a Organização para a Cooperação eDesenvolvimento Económico (OCDE) lançou, em 1998, aprimeira fase do seu projecto para a construção sustentá-vel. Focaram-se as questões ambientais intimamente rela-cionadas com o projecto de novos edifícios: redução dasemissões de CO2, minimização dos resíduos e prevenção

da poluição do ar interior. A segunda fase do programa,que começou em 2002, desdobra-se em dois subprogramascomplementares. O primeiro foca a construção socialmen-te sustentável. O seu objectivo é promover políticas quelevem ao melhor funcionamento do mercado da habitação,como forma de disponibilizar habitações condignas paratodos os grupos da sociedade. O segundo subprogramaincide sobre o uso sustentável do stock construído. Tem porobjectivo promover políticas que contribuam para aumen-tar a vida útil efectiva dos edifícios, permitindo-lhes, deuma forma mais flexível, cumprir requisitos económicos,sociais e ambientais.

Fonte: Sustainable Building 1-2005

Apesar da grande retracção que temafectado o sector da construção, a OzLd.ª, alcançou em 2004 um volume de negócios de 675 mil euros – umcrescimento de quase oito por centoface a 2003 – tendo apresentado resul-tados positivos. No mercado desde1988, a Oz dedica-se à realização deestudos de diagnóstico de anomaliasem construções, incluindo todos ostrabalhos preliminares de inspecção,levantamento e ensaio, necessários àadequada definição da estratégiapara a reabilitação das construçõesexistentes, de um modo geral e dopatrimónio arquitectónico em parti-cular. Acumulando uma experiênciade mais de 600 trabalhos realizados,maximizando a qualidade dos seusserviços e a satisfação dos seus clien-tes, a Oz é detentora de certificaçãosegundo as normas ISO 9000 desde1999, e goza do estatuto de “gestorgeral da qualidade” da marca deQualidade LNEC desde 2000.Esta tendência de crescimento, pode-rá ser fruto de uma maior preocu-

pação dos donos de obra pela manu-tenção dos seus imóveis, procurandosustentar, por meio de estudos elabo-rados pela Oz, as intervenções demanutenção e reabilitação. A Oz lançou, entretanto, um serviçode elaboração de planos de manu-tenção de edifícios, estando, nestemomento, a implementar dois novosserviços: um de verificação da resis-tência sísmica de edifícios existentese outro de formação em inspecção ereabilitação de estruturas, com recur-so ao e-learning.

A Comissão Na-cional da UNES-CO e o Grupo deTrabalho Inter-ministerial paraa Coordenação e

Acompanhamento das Candidaturasde Bens Portugueses à Lista do Patri-mónio Mundial, Cultural e Naturalaprovaram a seguinte lista indicativado Património Mundial (condiçãoindispensável para apresentação decandidatura junto da UNESCO):• Buçaco• Costa Oeste• Fortificações de Elvas• Palácio, Convento e Tapada de Mafra• Universidade de CoimbraA Comissão Nacional da UNESCOmudou as suas instalações para a RuaLatino Coelho, n.º 1 – 10.º andar; 1050 - -132 Lisboa. Alterou também o endereçoelectrónico para [email protected]ém o site – www.unesco.web.pt –agora com imagem renovada.

Bens portugueses propostos a Património Mundial

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Oz com resultados positivos

Detecção de alterações no interior de elementosestruturais de madeira por meio de resistografia

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VIDAASSOCIATIVA

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Reunião do GECoRPAcom técnicosda Câmara Municipal de LisboaA Direcção do GECoRPA reuniu-se, nopassado dia 6 de Abril, com os respon-sáveis da Divisão de Planeamento eProjectos da Direcção Municipal de Ha-bitação da Câmara de Lisboa a fim detrocar impressões e experiências nosdomínios da reabilitação do edificado.Foram apresentados os princípios que

o Grémio defende, nomeadamente osrelacionados com a metodologia da in-tervenção e a qualificação dos interve-nientes. A indagação junto do GECoRPA pelasentidades decisoras do Património,quer públicas quer privadas, tem vindoa ser uma constante, indiciando a visi-

bilidade do Grémio em questões dequalidade e excelência na Conservaçãoe Restauro do edificado. Este crescenteinteresse é, igualmente, um sintomaclaro e desejável do incremento da res-ponsabilização dos municípios pelosseus centros históricos e áreas urbanasprotegidas.

Selecção e disponibilização de novos produtos de merchandisingO GECoRPA tem vindo a seleccionar alguns produtos demerchandising para disponibilizar aos seus sócios. Destesprodutos destacam-se os Placards de Obra, ideados para dis-tinguir a qualidade das intervenções, no património arqui-tectónico e construções antigas. Estes placards, disponíveisem suporte rígido ou em lona e em várias dimensões, desti-nam-se à divulgação da empresa como associada do Gré-mio, integrando os logotipos e contactos de ambos, assim como uma frase à escolha do associado.Para saber mais sobre os nossos produtos de merchandising,contacte-nos.

A BEL – Engenharia e Reabilitaçãode Estruturas, S. A., foi fundada em1958 e dedicou-se inicialmente à reali-zação de trabalhos de consolidação defundações de barragens e pontes.Daqui foi estendendo a sua actuação atodos os trabalhos de geotecnia e fun-dações, e mais tarde a trabalhos deInspecção, Diagnóstico, Reabilitaçãoe Reforço de Estruturas e Conser-vação de Monumentos.

De entre as intervenções mais recen-tes da empresa, no Património Histó-rico Arquitectónico, realizadas para oIPPAR, destacam-se: Reabilitação daSé Nova de Coimbra; Conservação eRestauro da Capela de S. Jorge deAljubarrota; Reabilitação da Torre deMenagem do Castelo de Mértola e aConsolidação das Ruínas da Sé daCidade Velha em Cabo Verde.

A BLAU, Ld.ª é uma empresa decomércio e serviços de equipamentospara corte, furação e fixações em betão

e alvenarias. Importador das marcasTyrolit, Hydrostress e Fischer temassistência técnica própria e cober-tura comercial de todo o territórionacional.Enquanto interlocutor privilegiadocom os fabricantes, a Blau, Ld.ª faci-lita e garante a transferência do sabere competências acumuladas pelasmarcas líderes no mercado global.

GECoRPA integra dois novos sóciosNo passado mês de Abril, candidataram-se a associadas do GECoRPA as empresas BEL, S. A. e BLAU, Ld.ª,tendo sido integradas nos grupos III – Execução dos trabalhos/Empreiteiros e Subempreiteiros e IV - Fabricoe/ou distribuição de produtos e materiais, respectivamente.

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e-pedra e cal

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Um dos problemas do patrimóniomóvel e integrado está na sua mobi-lidade. Esta verdade La Palissiana es-conde um problema cada vez maispreocupante na defesa do patrimó-nio cultural, o roubo de elementosarquitectónicos. Numa ocasião, du-rante o diagnóstico de uma quintanos arredores de Lisboa, inquiri osresponsáveis sobre a azulejaria exte-rior, visivelmente em falta, e disse-ram-me que a tinham retirado elespróprios, depois de verificarem oroubo discreto e contínuo de azule-jos, na sequência da sua publicaçãonum livro. Mais caricato ainda é ocaso de uma amiga que se queixavade lhe terem roubado a varanda dacasa em pleno Alentejo! Estes sãoapenas alguns exemplos de um pro-blema que começa a atingir pro-porções epidémicas e serve de temapara este artigo. A imobilidade de um elemento ar-quitectónico, enquanto parte inte-grante de um todo, está descrita noartigo 8.º da Carta de Veneza (www.icomos-international.org): “Itemsof sculpture, painting or decorationwhich form an integral part of a mo-nument may only be removed fromit if this is the sole means of ensuringtheir preservation.” No entanto, silhares de azulejos, pedras de larei-ra, vitrais ou gradeamento de ferroencontram-se muitas vezes à venda,por comerciantes pouco escrupulo-sos, constituindo a sua reutilização

em operações de restauro um peri-goso ciclo vicioso. O site www.sal-voweb.com (architectural salvage)apresenta uma lista de sítios de ven-da legítima destes objectos, caso daLassco (www.lassco.co.uk). No en-tanto, a venda deste património estámuitas vezes rodeada de incertezasquanto à sua origem, levando àcriação do “The Arts and AntiquesSquad”, na New Scotland Yard (verContext 24 e 43, www.ihbc.org.uk).Em Portugal, é de louvar o “ProjectoIgreja Segura” (www.igrejasegura.com.pt) concebido pelo Instituto Su-perior de Polícia Judiciária e Ciên-cias Criminais em parceria com di-versas Entidades Públicas e Priva-das. O site www.thefts-alert.compretende precisamente fazer ecodesta preocupação, através da pu-blicação on-line de objectos rouba-dos, com detalhes da data do roubo,localização, descrição e fotografias.A lista é imensa e inclui várias cate-gorias (gradeamento, lareiras, por-tas, pavimentos, estatuária, entreoutras). Disponibiliza, ainda, umalinha telefónica de apoio e denúnciapara a zona de Londres (a taxa de re-cuperação situou-se em 14 por centoentre 1995 e 2001) e permite a procu-ra por país. Procurei por Portugal ediz que não há registos – era bom –,vou falar com a minha amiga.Por fim, uma nota sobre a PotássioQuatro (www.potassioquatro.com),empresa que comercializa produtos

e equipamentos para conservaçãodo património, que abriu recente-mente uma loja no Centro Culturalde Belém – interessante aproxima-ção ao público não especializado.Oferece um amplo conjunto de so-luções “para apoiar todos aquelesque se dedicam à preservação e va-lorização da memória”, segundotrês vectores: Collect (antiguidades eleilões), Conservation Solutions (ma-teriais, equipamentos e literaturapara colecções) e Learning (formaçãoe visitas de estudo). No campo dopatrimónio móvel, a oferta não se re-sume aos produtos, apresentandoAntiguidades e Coleccionismo (se-los, cromos, postais, discos vinílicos,brinquedos), Arqueologia (equipa-mento e produtos), Bibliotecas e Ar-quivos (filmes, jornais, fotografias,partituras, desenhos e aguarelas),Conservação e Restauro (cerâmica,vidro, têxteis, estuques, gessos), Fo-tografia e Audiovisuais (cassetes,CDs, microfilmes, negativos, pelícu-las), Museologia e Espaços Históri-cos (equipamento de conservaçãopreventiva e controlo ambiental) eProdução Artística (escultura, de-senho, gravura, artes decorativas).

JOSÉ MARIA LOBO DE CARVALHO,Arquitecto, Mestre em Conservação do Património (York). Actualmente, desenvolve o Doutoramento no IST,enquanto bolseiro da FCT

Conservação:vítima do seu próprio sucesso

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LIVRARIA

NOVIDADES Outros títulos à venda na Livraria GECoRPA

Estuques Decorativos do Norte de Portugal

Autor: Florido de VasconcelosEdição: CRATPreço: €6,48 Código: CRAT.E.2

A Intervenção no Património. Práticas de Conservação e Reabilitação

Autor: AA.VV.Edição: DGEMN / FEUPPreço: €50,00Código: DG.A.2

A Real Abadia de Alcobaça. Estudo histórico-arqueológico

Autor: Artur Nobre de GusmãoEdição: Livros HorizontePreço: €12,67 Código: HT.E.10

O Vitral: História, Conservação e Restauro

Organização: Mário Abreu, Pedro Redol, Júlio ÓrfãoEdição: IPPARPreço: € 19,95 Código: IP.A.2

História e restauro da pintura do retábulo-mordo Mosteiro dos Jerónimos

Autor: Carmen O. de Almada, LuísT. Figueira, Vítor SerrãoEdição: IPPARPreço: € 27,43 Código: IP.E.4

Teatro Nacional de S. João

Coordenação: Mafalda Magalhãesde BarrosEdição: IPPARPreço: €14,96 Código: IP.E.5

O Palácio da Pena

Autor: Paulo Pereira, José Martins CarneiroEdição: IPPAR / ScalaPreço: € 19,95 Código: IP.E.2

O Palácio e os Jardins de Queluz

Autor: Maria Inês FerroEdição: IPPARPreço: €19,95 Código: IP.E.7

Restauro de Mosaico

Autor: Adília Alarcão, Carlos BelotoEdição: IPPARPreço: € 4,99 Código: IP.M.2

O Palácio Nacional de Sintra

Autor: José Custódio Vieira da SilvaEdição: IPPARPreço: € 13,97 Código: IP.E.9

Abóbada da Charola do Convento de Cristo.Restauro

Autor: AA.VV.Edição: IPPARPreço: € 2,29 Código: IP.R.2

Arquitectura e Poder: o Real Edifício de Mafra

Autor: António Filipe PimentelEdição: Livros HorizontePreço: € 23,57Código: HT.E.9

Para saber mais sobre estes e outros livros, consulte a Livraria Virtual em www.gecorpa.pt

1755 O Terramoto de LisboaAutor: João Duarte FonsecaTrata-se de um livro dedicado auma das maiores referênciashistóricas da cidade de Lisboa – oTerramoto de 1755. É uma obra indispensável para conhecer e entender dados sismológicos, o impacte cultural, e o contextohistórico dos acontecimentos que

mudaram o curso da História da cidade.Obra evocadora dessa calamidade, está amplamentedocumentada com transcrições de textos da época e des-tina-se a divulgar, a um público alargado e mediante linguagem acessível, as diversas facetas do impacte doterramoto de Lisboa na Península Ibérica e no resto daEuropa.Além do seu carácter de divulgação, este livro assume--se como um álbum/roteiro da iconografia oitocentistadedicada ao tema, reunindo, pela primeira vez, 85 ima-gens da época. Sem dúvida, uma edição com assinalávelinteresse documental, cultural e pedagógico, e degrande valor para professores, estudantes, técnicos,agentes e interventores na cidade.Edição: ArgumentumPreço: € 35,00 Código: AR.E.3

Património da Humanidadeem Portugal Volume I: Monu-mentos; Volume II: SítiosAutor: João Paulo Sacadura, Rui CunhaDesde 1983 até aos nossos dias, 11monumentos e sítios em Portugal –abrangendo mais de 200 séculos deHistória da Humanidade – foramconsiderados de excepcional valoruniversal, e, por isso, dignos de figu-

rar neste restrito catálogo. João Paulo Sacadura, autor de umtexto bem fundamentado, elegante e claro, convida o leitor aconhecer melhor algumas das obras que nos honram aos olhos do Mundo – sempre ilustradas por magníficas fo-tografias de Rui Cunha, que quase fixam o espírito do lugar.Com prefácio de Diogo Pires de Aurélio, Comissário Geralda UNESCO em Portugal, o primeiro volume percorre, iso-ladamente, os seguintes monumentos: Mosteiro de Al-cobaça, Mosteiro da Batalha, Mosteiro dos Jerónimos, Torrede Belém, Convento de Cristo, Arte Rupestre do Vale doCôa. O segundo volume visita os sítios de Angra do Heroís-mo, Évora, Sintra, Porto e Madeira.Edição: Editorial VerboPreço: €54,99 cadaCódigos: VRB.E.1; VRB.E.2

Arquitectura Portuguesa:Renascimento,Maneirismo, Estilo ChãoAutor: José Horta CorreiaO Património Arquitectónicoportuguês traçado entre osegundo quartel do século XVIe meados do século XVII é oobjecto deste estudo. Nesteespaço de tempo, sucederam--se diferentes movimentos cul-turais – Renascimento, Manei-

rismo e Estilo Chão –, os quais deixaram a sua marca naestética de construção de edifícios civis e religiosos. Apoiadopor uma análise contextualizada pela realidade política,social e cultural da época, o autor apresenta uma perspecti-va inovadora nos seus conceitos epistemológicos.Arquitectura Portuguesa é, assim, um texto de inegável va-lor didáctico, construído sobre pressupostos de métodosbem definidos.Obra para professores e estudantes de História da Arte,igualmente acessível a todos aqueles a quem este temainteressa. Inclui bibliografia geral e específica, bem comonumerosas fotografias.Edição: Editorial PresençaPreço: € 12,72 Código: PRES.E.19

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LIVRARIA

N.º 3, Julho/Ago./Set. 1999Preço: €3,74

Código: P&C.3

N.º 7, Julho/Ago./Set. 2000Preço: €4,48

Código: P&C.7

N.º 8, Out./Nov./Dez. 2000Preço: €4,48

Código: P&C.8

N.º 9, Jan./Fev./Mar. 2001Preço: €4,48 euros

Código: P&C.9

N.º 10, Abril/Maio/Jun. 2001Preço: €4,48 euros

Código: P&C.10

N.º 11, Julho/Ago./Set. 2001Preço: €4,48 euros

Código: P&C.11

N.º 12, Out./Nov./Dez. 2001Preço:€ 4,48

Código: P&C.12

N.º 13, Jan./Fev./Mar. 2002Preço: €4,48

Código: P&C.13

N.º 14, Abril/Maio/Jun. 2002Preço: €4,48

Código: P&C.14

N.º 18, Abril/Maio/Jun. 2003Preço: €4,48

Código: P&C.18

N.º 15, Julho/Ago./Set. 2002Preço: €4,48

Código: P&C.15

N.º 19, Julho/Ago./Set. 2003Preço: €4,48

Código: P&C.19

N.º 20, Out./Nov./Dez. 2003Preço: €4,48

Código: P&C.20

N.º 21, Jan./Fev./Mar. 2004Preço: €4,48

Código: P&C.21

N.º 22, Abril/Maio/Jun. 2004Preço: €4,48

Código: P&C.22

N.º 16, Out./Nov./Dez. 2002Preço: € 4,48

Código: P&C.16

N.º 17, Jan./Fev./Mar. 2003Preço: €4,48

Código: P&C.17

Nota de Encomenda

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(*) Os descontos não são acumuláveis, nem aplicáveis aos números da Pedra&Cal já publicados.(**) Ao valor de cada livro deverão ser acrescentados € 3,64 para portes de correio. Por cada livro adicional deverá somar-se a quantia de € 0,70.Quanto aos números da Pedra&Cal já publicados, os portes de correio fixam-se em € 1,20. Para mais informações, consulte as Condições de Venda na Livraria Virtual.FORMADE PAGAMENTO: O pagamento deverá ser efectuado através de cheque à ordem de GECoRPA, enviado juntamente com a nota de encomenda para GECoRPA, Rua Pedro Nunes , n.º 27, 1.º Esq.º 1050-170 Lisboa.

Associado do GECoRPA (10% de desconto)Assinante da Pedra&Cal (10% de desconto)

Assinatura anual de 4 números da P&C pelo preço de € 16,13 (beneficiando do desconto de 10% sobre o preço de capa), acrescendo € 4,40 de portes de envio.

Actividade / Profissão

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Total: euros

N.º 23, Julho/Ago./Set. 2004Preço: €4,48

Código: P&C.23

Nota: Os números 0, 1, 2, 4, 5 e 6 da Pedra & Cal encontram-se esgotados, contudo informamos que se encontram reunidos no CD-ROM Pedra & Cal - 5 Anos (1998-2003), à venda na Livraria GECoRPA.

N.º 24, Out./Nov./Dez. 2004Preço: €4,48

Código: P&C.24

N.º 25, Jan./Fev./Mar. 2005Preço: €4,48

Código: P&C.25

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CONSULTÓRIO GECoRPA

1. Em obras de conservação da minha casa,encontrei trabalhos de escaiola por baixo dapintura das paredes. Como deverei proce-der à sua recuperação?Na generalidade dos casos, é sempre possí-vel retirar a tinta, na medida em que a es-

caiola é um acabamento de baixa rugosidade, não permi-tindo que a tinta penetre no seu interior. No entanto, ca-da caso é um caso, e devem-se fazer sempre testes de lim-peza, a fim de se optar pelo procedimento menos danosopara a superfície da escaiola. Os testes podem ser feitospor via química (solventes), via mecânica, ou ambas. Nãoexistem fórmulas ou receitas, terá que ser o bom senso ea prática do Técnico de Conservação e Restauro a super-visionar os testes e a optar pela melhor solução.

2. É possível levantar a tinta plástica superior sem dani-ficar o estuque ou pintura a fresco que se encontra porbaixo?É possível e relativamente fácil, se realmente se tratar detinta plástica. Uma possibilidade passa, por exemplo, pe-las soluções de acetona. No entanto, estas soluções de-vem ser estudadas para ter a certeza que não danificam apintura. Só um técnico com experiência comprovada te-rá conhecimento suficiente para testar as soluções e pro-por o procedimento correcto.

Paulo Ludgero Castro

O GECoRPAconstituiu um grupo técnico de apoio para tentar responder a questões práticas que surjamdurante as diferentes fases do trabalho de conservação do património e da reabilitação do edificado.

Este grupo de apoio é constituído pelos Engenheiros Carlos Mesquita, da OZ, Ld.ª (área de diagnóstico), Vítor Cóias e Silva, doGECoRPA (área estrutural), Paulo Ludgero Castro, da A. Ludgero Castro, Ld.ª (área de gessos e estuques ornamentais) e MariaAmélia Dionísio, do Instituto Superior Técnico (IST), para questões relacionadas com a pedra. Estes especialistas responderão àsquestões que os nossos leitores encontrem nas diversas fases de um trabalho de conservação e reabilitação do património arqui-tectónico e das construções antigas, dando o seu parecer e concorrendo, assim, para a boa prática da actividade. Para outras ques-tões que não estejam directamente relacionadas com estas áreas, o GECoRPA encarregar-se-á, dentro do possível, de procurar oespecialista indicado para responder aos nossos leitores.

Envie as suas questões para: Consultório GECoRPARua Pedro Nunes, n.º 27, 1.º Esq.º • 1050-170 Lisboa • [email protected] • Fax: 213 157 996

NNoottaa:: As respostas devem ser enviadas directamente via e-mail e, posteriormente, serão publicadas na Pedra & Cal e no site.

Pedra & Cal n.º 26 Abril . Maio . Junho 2005

Área de gessos e estuques

ornamentais

Restauro de pintura mural

48 Consultório.qxp 5/19/05 6:35 PM Page 56

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Pedra & Cal n.º 26 Abril . Maio . Junho 2005

ASSOCIADOS GECoRPA

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A. da Costa Lima, Fernando Ho,Francisco Lobo e Pedro Araújo - Arquitectos Associados, Ld.ªProjectos de conservação e restaurodo património arquitectónico.Projectos de reabilitação, recuperação erenovação de construções antigas.Estudos especiais

MC Arquitectos, Ld.ªProjectos de arquitectura.Levantamentos, estudos ediagnóstico.

Consulmar Açores - Projectistas eConsultores, Ld.ªProjecto, consultoria e fiscalização.

LEB – Consultoria em Betões e Estruturas, Ld.ªProjecto, consultoria e fiscalização naárea da reabilitação do patrimónioconstruído.

PENGEST – Planeamento,Engenharia e Gestão, S. A.Projectos de conservação e restaurodo património arquitectónico.Projectos de reabilitação,recuperação e renovação deconstruções antigas. Gestão,Consultadoria e Fiscalização.

OZ - Diagnóstico, Levantamento e Controlo de Qualidade de Estruturas e Fundações, Ld.ªLevantamentos. Inspecções e ensaiosnão destrutivos. Estudo e diagnóstico.

ERA - Arqueologia - Conservação e Gestão do Património, S. A. Conservação e restauro de estruturasarqueológicas e do patrimónioarquitectónico. Inspecções e ensaios.Levantamentos.

A. Ludgero Castro, Ld.ªConsolidação estrutural. Construçãoe reabilitação de edifícios.Conservação e restauro de bensartísticos e artes decorativas:estuques, talha, azulejaria,douramentos e policromias murais.

Alfredo & Carvalhido, Ld.ªConservação e restauro dopatrimónio arquitectónico.Conservação e reabilitação deconstruções antigas.

Alvenobra - Sociedade deConstruções, Ld.ªReabilitação, recuperação erenovação de construções antigas.

AMADOR, Ld.ªConservação , restauro e reabilitaçãodo património construído einstalações especiais.

Antero Santos & Santos, Ld.ªConservação e restauro do PA.Reabilitação, recuperação erenovação de CA. Instalaçõesespeciais em PAe CA.

Augusto de Oliveira Ferreira & Cª., Ld.ªConservação reabilitação deedifícios. Cantarias e alvenarias.Pinturas. Carpintarias.

GRUPO IProjecto,

fiscalização e consultoria

GRUPO IILevantamentos,

inspecções e ensaios

GRUPO IIIExecução

dos trabalhosEmpreiteiros

e Subempreiteiros

BEL – Engenharia e Reabilitação de Estruturas, S. A.Conservação e restauro do PA.Reabilitação, recuperação e renovação de CA. Instalaçõesespeciais em PA e CA.

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ASSOCIADOS GECoRPA

Pedra & Cal n.º 26 Abril . Maio . Junho 200550

Somafre - Construções, Ld.ªConstrução, conservação ereabilitação de edifícios. Serralharias.Carpintarias. Pinturas.

Cruzeta – Escultura e Cantarias,Restauro, Ld.ªConservação e reabilitação deconstruções antigas. Limpeza erestauro de cantarias, alvenarias eestruturas.

COPC - Construção Civil, Ld.ªConstrução de edifícios.Conservação e reabilitação deconstruções antigas. Recuperação econsolidação estrutural.

Sociedade de Construções José Moreira, Ld.ªExecução de trabalhosespecializados na área do patrimónioconstruído e instalações especiais.

MELIOBRA - Construção Civil e Obras Públicas, Ld.ª Construção, conservação ereabilitação de edifícios.

GECOLIX – Gabinete de Estudos e Construções, Ld.ªConservação e restauro dopatrimónio arquitectónico.reabilitação, recuperação erenovação de construções antigas.Instalações especiais em patrimónioarquitectónico e construções antigas.

Construções Borges & Cantante, Ld.ªConstrução de edifícios.Conservação e reabilitação deconstruções antigas.

Tecnasol FGE – Fundações e Geotecnia, S. A.Fundações e Geotecnia. Conservaçãoe restauro do patrimónioarquitectónico. Conservação ereabilitação de construções antigas.

Na Esteira, Sociedade deurbanização e Construções, Ld.ªConservação e restauro do PA.Reabilitação, recuperação erenovação de CA. Instalaçõesespeciais em PAe CA.

Sofranda – Empresa de Construção Civil, S. A.Conservação e restauro do PA.Reabilitação, recuperação erenovação de CA. Instalaçõesespeciais em PAe CA.

CVF - Construtora de Vila Franca, Ld.ªConservação de rebocos e estuques.Consolidação estrutural.Carpintarias. Reparação decoberturas.

Listorres - Sociedade de ConstruçãoCivil e Comércio, Ld.ªConstrução e reabilitação deedifícios.

L.N. Ribeiro Construções, Ld.ªConstrução e reabilitação deedifícios. Consolidação defundações.

MIU - Gabinete Técnico de Engenharia, Ld.ªConstrução, conservação ereabilitação de edifícios.Conservação e reabilitação depatrimónio arquitectónico.Conservação de rebocos e estuques epinturas.

Monumenta - Conservação e Restauro do PatrimónioArquitectónico, Ld.ªConservação e reabilitação deedifícios. Consolidação estrutural.Conservação de cantarias ealvenarias.

Poliobra - Construções Civis, Ldª.Construção e reabilitação deedifícios. Serralharias e pinturas.

Quinagre - Estudos e Construções, S. A.Construção de edifícios.Reabilitação. Consolidaçãoestrutural.

STAP - Reparação, Consolidação e Modificação de Estruturas, S. A.Reabilitação de estruturas de betão.Consolidação de fundações.Consolidação estrutural.

Brera - Sociedade de Construções e Representações, Ld.ªConstrução, conservaçãoreabilitação de edifícios.

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ASSOCIADOS GECoRPA

Tecnocrete – Materiais e Tecnologias de ReabilitaçãoEstrutural, Ld.ªProdução e comercialização de materiais para a reabilitação.

Tintas Robbialac, S. A.Produção e comercialização deprodutos de base inorgânica paraaplicações não estruturais.

BLEU LINE - Conservação eRestauro de Obras de Arte, Ld.ªMateriais para intervenções deconservação e restauro emconstruções antigas. Conservação de cantarias.

GRUPO IVFabrico e/oudistribuição de produtos e materiais

Para mais informações acerca dos associados GECoRPA, das suas actividades e dos seus contactos, visite a rubrica “associados” no nosso site www.gecorpa.pt

ONDUPORTUGAL - Materiais deConstrução, S. A.Produção e comercialização demateriais para construção .

BLAU, Ld.ªDistribuição de produtos e materiaisvocacionados para o PatrimónioArquitectónico e ConstruçõesAntigas.

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Pedra & Cal n.º 26 Abril . Maio . Junho 2005

Ao fim de algumas décadas de políti-cas públicas, que, expressamente oupor omissão, favoreceram o crescimen-to exponencial da construção de novashabitações, é hoje consensual a necessi-dade de dar prioridade à reabilitaçãodo parque edificado. Foi preciso que ofenómeno atingisse proporções dra-máticas para que o Governo de DurãoBarroso encarasse o problema a sério epromulgasse legislação nesse sentido,a qual está, agora, a dar os primeirospassos com a criação das Sociedades deReabilitação Urbana (SRU).À ocupação desordenada de terras fér-teis, aos enormes investimentos em in-fra-estruturas e equipamentos (sempretardios e insuficientes), às perdas dequota sucessivas do transporte públicoface ao individual, ao despovoamentodas cidades com a degradação e esva-ziamento do parque habitacional, entremuitos outros, os poderes públicosmantiveram-se surdos, cegos e mudos,com a desculpa de que se tratava de umprocesso inelutável de urbanização dasociedade e do território.No entanto, se os aspectos referidos sãoconsensualmente tidos como negati-vos, outros há, que no quadro da criseeconómica e financeira que assola o pa-ís, começam a ser sentidos e, ocasional-mente, apontados.Neste caso está incluído, por exemplo,o prejuízo causado pelos engarrafa-mentos rodoviários provocados pelospercursos pendulares, que se estima re-presente nada menos do que dois porcento do Produto Interno Bruto (PIB).Outro exemplo, é a subida da semanade trabalho para as 48 horas reais na

Área Metropolitana de Lisboa (AML).Tudo isto, foi compilado num estudode Eugénio Rosa publicado pelo Gabi-nete de Estudos da Confederação Ge-ral dos Trabalhadores Portugueses(CGTP). Ligado a este fenómeno, está oaumento do endividamento das famí-lias, a que não será alheio o recurso aotransporte automóvel no seu quotidia-no. Finalmente, com certeza, a alegadabaixa produtividade, agora tão eviden-ciada nas comparações com os parcei-ros europeus.Mas, tudo isto está, também, relaciona-do com o aumento do défice externo,que com a já efectiva e crescentementeexpectável subida do preço do petróleopode disparar para níveis incomportá-veis. Igualmente, a ultrapassagem doslimites exigidos pelo Protocolo deQuioto, no que respeita à emissão degases com efeitos de estufa. Em ambosos casos, as perspectivas para a nossaeconomia são aterradoras.No que respeita às finanças públicas, oquadro não podia ser mais negro, co-mo bem o demonstra a polémica emtorno das Sem Custos para o Utilizador(SCUT). Apesar dos grandes investi-mentos efectuados e em execução nosMetropolitanos de Lisboa, Porto e Suldo Tejo e nas ferrovias suburbanas deLisboa e Porto, a perda de quota dostransportes públicos parece irremediá-vel, como o demonstram a moderni-zação da Linha de Sintra e o comboiona Ponte 25 de Abril. Em consequênciade tudo isto, o défice das transportado-ras ferroviárias mantém-se em níveisimpossíveis de suportar no actual qua-dro orçamental.

Por outro lado, o alargamento das au-to-estradas de acesso à capital paraduas por três vias, a que a BRISA estácontratualmente obrigada, tem-se re-velado tão caro que, em alguns troços,custa tanto como construir uma novaauto-estrada. Trata-se de uma aber-ração no actual contexto de limitaçõesdos investimentos em infra-estruturas.Por isso, deveria proceder-se à renego-ciação do contrato com a concessioná-ria, dado que os referidos alargamen-tos não se justificam de imediato, pe-rante as restrições a que o país é obriga-do na actual conjuntura.Mas, existe um outro dado acerca doqual não são conhecidos estudos: o gi-gantesco desperdício em capital fixo re-sultante das centenas de milhar de fo-gos desocupados nos centros urbanose da sub-utilização das infra-estruturase equipamentos aí instalados.Eis, traçados nesta perspectiva bem ne-gativa, alguns tópicos para a acção donovo Governo: aprofundar o processode reabilitação dos centros urbanos,apenas iniciado; refrear a especulaçãoimobiliária e fundiária; articular as po-líticas de transporte com o ordenamen-to do território; rever e tornar eficaz osinstrumentos de planeamento. Alémde, ao mesmo tempo, condicionar no-vas expansões urbanas para “fazer ci-dade” nos dormitórios suburbanos,consolidando as urbanizações frag-mentadas e criando, ou reforçando, no-vas centralidades.

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PERSPECTIVAS

NUNO TEOTÓNIO PEREIRA,Arquitecto

Construir, em vez de reabilitar

Os custos escondidosde políticas erradas

52 Perspectivas.qxp 5/19/05 6:41 PM Page 52

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