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isboa pós::terramoto. Resumo A propósito de 10 contratos de empreitada da altura da reconstruçãode Lisboana esteira do terramoto de 1755, fazem- se algumas observações e reflexões sobre o acto de construir nessaaltura: quais os agentes,qual a sua formação, como se organizavam, quais os materiais e processos, quer na construção nova, quer na reabilitação de construções existentes. Referem-se as inovações introduzidas na concepção dos novos edifícios posteriores ao terramoto, no sentido de os tornar resistentes aos abalos sísmicos. Põe-se em evidência a grande revolução introduzida pelo aparecimento de novos materiais, sobretudo o betão armado, e o seu impacto, frequentemente negativo, sobre a conservaçãoe restauro do património arquitectónico. 1. Introdução acto de construir em Portugal, ao longo do milénio que agora termina. Reconstituir essa evolução tem para os construtores de hoje um valor que ultrapassa a simples satisfação da curiosidade: conhecer as construções antigas possibilita aos actuais construtores, nados e criados sob a ditadura do betão, fazer um melhor trabalho quando são chamados a intervir nesse vetusto edificado. É que o betão armado, cuja patente foi registada em Portugal apenas em 1896e não ganhou foros senãonos anostrinta, pouco ou nada tem a ver com as construções antigas. A sua utilização As investigações da Arq~. Teresa Campos Coelho sobrea construção pombalina, trouxeram à luz do dia alguns contratos notariais de empreitadas realizadas pouco depois do terramoto de 1755. A análise desses contratos, do ponto de vista do engenheiro civil, permite, entre outras coisas, reconstituir diversos aspectos do acto de construir e presta-se a algumas breves observações e reflexões. Se se retroceder no tempo ainda mais que os quase duzentos e cinquenta anos que entretanto passaram, essescontratos ajudam a fixar um instante da evolução do 1 Texto da comunicação apresentada no colóquio temático "Estudos de Lisboa Séculos XV a XIX", Associação dos Arqueólogos Portugueses, Lisboa, 6 e 7 de Novembro de 1998.

isboa pós::terramoto. - GECoRPA - Grémio do Património · B) o peso específico do betão chega a ser três vezes o da madeira. Dado que, para os mesmos vãos, as secções de

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isboa pós::terramoto.

ResumoA propósito de 10 contratos de empreitada da altura dareconstrução de Lisboa na esteira do terramoto de 1755, fazem-se algumas observações e reflexões sobre o acto de construirnessa altura: quais os agentes, qual a sua formação, como seorganizavam, quais os materiais e processos, quer naconstrução nova, quer na reabilitação de construçõesexistentes. Referem-se as inovações introduzidas naconcepção dos novos edifícios posteriores ao terramoto, nosentido de os tornar resistentes aos abalos sísmicos. Põe-seem evidência a grande revolução introduzida peloaparecimento de novos materiais, sobretudo o betão armado,e o seu impacto, frequentemente negativo, sobre aconservação e restauro do património arquitectónico.

1. Introdução

acto de construir em Portugal, aolongo do milénio que agoratermina.Reconstituir essa evolução tempara os construtores de hoje umvalor que ultrapassa a simplessatisfação da curiosidade: conheceras construções antigas possibilitaaos actuais construtores, nados ecriados sob a ditadura do betão,fazer um melhor trabalho quandosão chamados a intervir nessevetusto edificado. É que o betãoarmado, cuja patente foi registadaem Portugal apenas em 1896 e nãoganhou foros senão nos anos trinta,pouco ou nada tem a ver com asconstruções antigas. A sua utilização

As investigações da Arq~. TeresaCampos Coelho sobre a construçãopombalina, trouxeram à luz do diaalguns contratos notariais deempreitadas realizadas poucodepois do terramoto de 1755.A análise desses contratos, doponto de vista do engenheiro civil,permite, entre outras coisas,reconstituir diversos aspectos doacto de construir e presta-se aalgumas breves observações ereflexões.Se se retroceder no tempo aindamais que os quase duzentos ecinquenta anos que entretantopassaram, esses contratos ajudama fixar um instante da evolução do

1 Texto da comunicação apresentada no colóquio temático "Estudos de Lisboa Séculos XV a

XIX", Associação dos Arqueólogos Portugueses, Lisboa, 6 e 7 de Novembro de 1998.

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Apresentam-se, no Quadro I, alguns dados que ajudam a situar os dezcontratos em apreço. Trata-se de três contratos de reconstrução de edifíciosexistentes e de outros sete de construção nova, entre os quais avulta ocontrato da construção da Praça do Comércio.

em reforços e alterações tem de sercuidadosamente ponderada, mesmoque seja tolerável a agressão àautenticidade que, inevitavelmente,ela representa. Três razões principaisconcorrem para que assim deva ser:

A) O módulo de elasticidade dobetão é cerca de trinta vezessuperior ao das alvenariascorrentes em Portugal [Silva eSoares, 1997]. A grande rigidez doselementos construídos com o novomaterial, enxertados no antigo tecidoconstrutivo, pode trazer gravesdistorções ao comportamentoestrutural (Fig. 1);

Obras de -Ireparação ereconstruçãono Mosteirode Chellas

II JozéAntunes, 1 16000 mestre do Ofício cruzados

de Pedreiro

1756.08.21 I Mosteiro deChellas

Foramintroduzidas"Linhas deferro"

Obras dereparação ereconstruçãonuma casa àsOlarias

1756.08.28 Francisco deNovaisQuezadoPimentel deFaria eCerveira

José Gonçalves,mestre~edreiro

Foramintroduzidas"Linhas deferro"

Edificação decasas na R.NoS. dosRemédios,com 30 paI.De frente e109 de fundo

João daCunha Soares,calafate

I Eusébio Gomesda Cruz,mestre

carpinteiro

260000 réis Mcercesjá~bertos '1758.08.27

1759.04.24 Real Fábrica daSeda

900000 réisi cada uma

---Construçãode 40moradas decasas noBairro daFábrica da,Seda

José Rodrigues Ide Carvalho,mestre doobras de ofíciode Pedreiro eAntónioRodrigues Gil,mestre deobras de ofíciode carointeiro

900000 réiscada uma

1759.04.25c~ãõ"de 20moradas decasas noBairro daFábrica daSeda

I a o.a. põeI os materiais

1759.05.10-João Lopes da '-Francisco daSilveira Silva e Manuel

Rapozo, ambosmestresDedeiros

260 000 réisi cada uma

Construçãode 7 moradasde casas

B) o peso específico do betão chegaa ser três vezes o da madeira. Dadoque, para os mesmos vãos, assecções de betão armado têm de sermaiores que as de madeira, oacréscimo de massa quando sesubstitui por betão armado umacobertura ou um piso de madeira,pode facilmente atingir quatro oucinco vezes o valor original. Esteacréscimo de massa origina umaumento proporcional das forçassísmicas;

ManuelFrancisco deSousa, mestrede obras depedreiro eCaetanoJerónimo,mestre deobras decarointeiro

I Obra daI Pr~ç~ d~Comércio

1759.06.26 I Junta do- -- IComérdo I À medição A junta põeos materiais

I Mà.té à.a ':3i\vaSão PiJyo

~ \)~é \'eteua,mestreoedreiro

l.evan\ar à.enovo e pôr ascasas comoestavam"ntp"

~ 500 000 réis

oão XavierTeles

João daMata, comoutra frenteIpara a Ro NoSaos

I R"mpn;o"

r ~ IzidOIc:

mestrecarpinteiro eMateus SoaresAlva, mercadorde madeiras

19000I ~r~;adosC) Finalmente, os cortes e

demolições que é preciso fazer noantigo tecido murário para neleintroduzir os elementos queconstituem a prótese cimentícia,tornam a intervenção em obrademasiado traumática, acabando,muitas vezes, por enfraquecer aconstrução em vez de a reforçar.

ri~~I ~éi; -- a D.a. pÕttodos osmateriais

1769.m.17 João LopesBotelho,mestrecarpinteiro

Construçãonova à R.Augusta, con44 paI. (9,7m) de frente

" } --- António

Ribeiro daSilva

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Os contratos, redigidos com grandeminúcia, são celebrados perante otabelião, "em nome de Deus,amen", ao uso da época. Assinam-nos, da parte do Dono-da-Obra:fidalgos, mercadores, procuradoresde instituições religiosas, osdirectores da Fábrica da Seda, ou aomnipresente Junta do Comércio e,da parte do empreiteiro, mestrespedreiros e mestres carpinteiros,solidariamente responsáveis.

Construções contra os Sismos, de1958, por exemplo, começa comuma curiosa referência aoregulamento publicado a seguir aoterramoto de 1755... No entanto,nenhum documento da época foi,até hoje, encontrado. Infelizmente,tudo leva a crer que esseregulamento nunca e~istiu sob aforma escrita.Cabe, assim, ao sismo de 1783, naCalábria, Itália, aparecer referido,na literatura especializada, comoorigem das primeiras regrastécnicas para a construção anti-sísmica, com a adopção de paredescom estrutura de madeira eenchimento de pedra argamassadaem vez de alvenaria terrosa. Estesistema inspira-se, no entanto, nosistema construtivo pombalino, jáentão muito divulgado (veja-se otexto de Carriere, referido maisadiante). Tal é de resto, reconhecido,por exemplo, por Barucci [Barucci,19931.

3. O actode consh"uir e osseus agentes

3.1AntecedentesNos séculos XV e XVI, [Viterbo,1902], mestres de obras actuandopor si ou sociedades de mestrespedreiros e carpinteiros, arrematavamas empreitadas postas em pregão,arregimentavam, a seguir, oficiais,aprendizes e escravos, muniam-se dasnecessárias achegas (materiais) eexecutavam, depois, as obras, segundoa traça, o debuxo e os apontamentossaídos das mãos do arquitecto ouque eles próprios elaboravam.Do lado do Dono-da-Obra,aparecem referências aos cargos deAlmoxarife, Escrivão e Homem dasobras, sob a supervisão, sobretudoem obras importantes (por exemplo,todos os trabalhos nos paços reais),de um Provedor de Obras. Ospalácios e outras construçõesimportantes tinham, em permanência,mestres encarregados da suamanutenção (caseiros ou paceiros):Por~exemplo, o adiante mencionadoPero Fernandez de Torres eranomeado, em 1597, mestre de obrasdo convento de Cristo de Tomar,com a incumbência de nele residir

A Fig. 3 mostra o aspecto queas Casas da Fábrica da Sedaapresentavam já neste século, e aFig. 4 mostra uma planta delocalização da zona da RealFábrica da Seda [Rossa, 1998].

2. RegulamentaçãoA regulamentação geral seguida naconstrução é, ainda nos anos queprecederam o terramoto, acorrespondente às ordenaçõesmanuelinas [Oliveira, V:M.,1748].Quanto à chamada "gaiolapombalina", admite-se que a maiorparte dos detalhes construtivosforam produzidos, depois do sismo,pelos mestres da Casa do Risco,habituados ao desenho dasestruturas de madeira dos navios.Estes detalhes foram sendocomunicados aos construtores,provavelmente através de esquiçosque se perderam rapidamente nasobras [França, 1987]. Deram,entretanto, origem a um saber fazerque perdurou, embora sofrendopronunciada degradação, até aosanos trinta deste século. Nas"avenidas novas" predominam,ainda hoje, edifícios de uma tipologiaconstrutiva baseada no conceitopombalino, mas já muito aligeirado eadulterado, os "gaioleiros", em que, emnome da pressa e da economia demateriais, o frontal tecido pombalino

desapareceu.Existem muitas referências a umpossível texto regulamentar, daépoca, especificando a construçãoda gaiola, o seu dimensionamentoe os processos construtivos autiliZar. A memória justificativa doRegulamento de Segurança das

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surgida de forma empírica, quandose decidiu que os prédios teriamquatro andares e não os doisandares pretendidos inicialmentepor Manuel da Maia (concepçãoque prevaleceu em Vila Real deSanto António). A autoria éatribuída, pela tradição oral, aCarlos Mardel, que teria realizado,no Terreiro do Paço, um ensaiosísmico da estrutura.A tipologia estrutural pombalinatem inúmeros antecedentes emvários locais do mundo, embora asaplicações que chegam até nóspossam ser ou não determinadaspela preocupação de resistir à acçãodos sismos.Os exemplos mais antigosencontram-se, sobretudo, emregiões de reduzida sismicidade:assim, nas regiões do norte daEuropa de influência germânica,surge a pitoresca construção"fachwerk" (fig. 5), no norte daFrança as "colombages", nas ilhasbritânicas a construção "bricknogged". As construções alemãsdeste tipo, existentes, por exemplo,no Hesse e Baixa Saxónia,remontam ao séc. XIII, mas osistema era tão eficiente queperdurou até meados do séculoXIX, ou seja, até ao advento docimento e do betão.

quando decorressem obras e de ovisitar, quando não houvesse obras,três vezes por ano.Os operários eram, normalmente,pagos ao jornal e os trabalhos eram,por seu turno, pagos aos mestresempreiteiros em prestaçõesconsoante o desenvolvimento daobra. Muitas vezes, como no casodas obras da Praça do Comércio, ospagamentos eram feitos com basena intervenção de medidores evedores.Para facilitar a execução das obraspodiam ser passadas aosempreiteiros cartas de privilégioque lhes conferiam direitosexcepcionais, como, por exemplo, oprivilégio de bois e bestas.As obras de repairo (reparação),reformação (recuperação) oufortificação (reforço) ficavam acargo dos mesmos mestres, e astécnicas utilizadas eram as mesmasda construção original.Nas pontes, após grandesenxurradas, eram feitas obras decorregimento e cerramento dos

boqueirões.As intervenções mais importanteseram objecto uma inspecção préviae da elaboração de um projecto dereparação: "Ev EIRey faço saber...que por as invernadas passadasderrubarem parte da ponte da villade Olivença e ser necessarioconcertarse por não vir a ser o danomaior, mandei a Pero Fernandez deTorres, mestre das minhas obras,que fosse ver a dita ponte e fizessetraça do concerto que lhe parecessenecessario para ficar segura, econforme a ella se por em pregão adita obra..." .Ao edifício debilitado por um sismoou por cedência das fundaçõespodiam ser acrescentados botareos(contrafortes) ou arcos, tamponadosalguns dos vãos ou, ainda, instaladaslinhas de ferro (tirantes).

3.2 A construção no pós-

Os exemplos em regiões de maiorsismicidade chegam à actualidadepor um processo de II selecção

empreiteiros, mestres de obras, oua sociedades de um mestrepedreiro e um mestre carpinteiro(de casas).Um mestre empreiteiro podia,sobretudo em obras importantes,contratar os serviços de vários

empreiteiros.Os projectos das construçõescorrentes eram feitos pelospróprios mestres, que tinham oconhecimento do risco, sóintervindo os arquitectos em obrasde maior importância.Por esta altura, os engenheirosmilitares (que não os havia ainda"civis")l, eram frequentementechamados a fazer levantamentos emedições e, mesmo, a desenharplantas de construções religiosas.Carriere, dando conta dasimpressões recolhidas duranteuma viagem a este país [Carriere,1796], demonstra cepticismo emrelação ao sistema construtivoadoptado na sequência do terramoto:"Os Portugueses adoptaram umprocesso de construção queconsideram como o maisconveniente à salvaguarda das suascasas dos abalos de terra. O conceitoem que têm a excelência desteprocesso inspira-lhes uma completasegurança. Começam por construiruma estrutura das casas em madeirae cobrem-na depoisde alvenaria. Julgam ,

eles que, se a :alvenaria derruir, aestrutura de madeiraresistirá aos abalos enão ruirá. Mas aalvenaria ruindo, nãopoderá, ao caír,arrastar com elaqualquer troço daestrutura, ruindo oedifício? E não étambém de temerque uma estruturatão elevada não sejasuficientementeresistente aos abalosviolentos? Os I

entendidos que

respondam."A gaiola é considerada umainovação do urbanismo pombalino,

Civis"

terramotoDuzentos anos volvidos, no séculoXVIII, o acto de construir não tinhasofrido grandes alterações. As obrascorrentes eram entregues a mestres

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Moreira, António José "Regras dedesenho para a delineação dasplantas, perfis e perspectivaspertencentes à Arquitectura militare civil..." Lisboa, Typ. de J. da Silva,1793.

natural". É o caso da construçãotradicional anti-sísmica da Macedóniae da construção "Bondruk" da regiãobalcânica [Sumanov, 1996].O mesmo princípio tem sidoencontrado noutras regiões maislongínquas, como o 1ibete, onde sãodescritas as paredes de frontal "Ohajji-Dw ." ano

4. Formacão

Architecto Militar p. Medina CeliEscuela Milita. de fortificacionFortificação Moderna

Engenheiro PortuguezLes Travaux de MarsIngenieur françois p. DeidierAtaque et Defense des places p.VaubanScience des Ingenieurs par BelidorArchitecture de DavilaArte y Uso de Ia ArchitecturaCompendio de CarpenteriaParfait Ingenieur françoisTeoria y Pratica de Ia fortificacionArchitectura de VitruvioQuatro primi Libri di ArchitecturaEssay sur l' Architecture p. LaugierArchitecture de PalladioArchitecture de Vi~oleArchitectura de Sebastien CerlioArchitectura di MontanoArchitecture de Phi1ibert de LOrmeArchitecture de ScamozziParallele d' architecture Ancienne etModerneArchitecture de Vitruve p. PerauArchitectura e Palaci di Roma le piuCelebreArchitectura di Galli BibianaNota-se, nesta lista, a eventual falta deobras como:Padre Guarino Guarini 'kcrntetturaOvile", 1737Derand, François, "I.:Architecture desvoutes ou l' art des traits et coupes desvoutes", Nouv. Éd. Paris, A Cailleau,1743Diderot, "Encyclopedie", 1751-1780, e,também, do já citado manual deValéria Martins de Oliveira'Advertências aos modernos.. .", de1748.

Mais tarde, mas ainda a tempo dedar uma ideia de como setrabalhava durante a reconstrução,aparecem obras como:Mathias Ayres Ramos da Silva d'Eça"Problema de architec~ra civil; asaber: Porque os edifícios antigostem mais duração e resistem maisao tremor de terra que osmodernos?", Lisboa 1770Tradução portuguesa de O' Antoni,por Cypriano José da Silva, de 1791.Cointeraux, François, 'Architecturepériodique ou Notice des travauxet approvisionnements quechancun peut faire ...", Paris, Impr.de Vezard & le Normant, 1792Perronet "Construire des Ponts...",séc. XVIII 1782-1789

4.2 OperáriosAo contrário da formação superior,a formação dos mestres pedreirose carpinteiros, que, à altura dareconstrução pombalina, eram osexecutantes da maioria das obras,continuava a ser eminentementeprática, sendo estas profissõesestruturadas (como muitas outras),nos três escalões de aprendizes,oficiais e mestres.Estes profissionais encontravam-se, no entanto, filiados, desde longadata, em "bandeiras", uma espéciede grémios ou confrarias,representadas, por seu turno, nainstituição dos "Vinte e QuatroMesteres". Os pedreiros e carpinteirosestavam organizados na confraria deS. José (a quem Valério Martins deOliveira dedica o seu manual), e asua bandeira ocupava o primeirolugar nas procissões [Oliveira, E.E,1889]. Esta bandeira existe ainda,encontrando-se no Museu daCidade.Os diferentes ofícios, ditos

mecânicos, possuiam regimentospróprios, que fixavam tempos deaprendizagem, o modo como era feitoo exame de passagem a oficial e o perfilque deviam possuir os candidatos.Estas organizações desapareceram naaltura do liberalismo e não tiveramcontinuidade num movimento dogénero do "compagnonnage", quefloresceu em França no século XIX.Este movimento, que promovia aexcelência no exerácio da profissão,integrava uma preocupação deformação dos operários e de socorrosmútuos da classe.Nesta altura, o mestre pedreiro não selimitava a construir, era, muitas vezes,reponsável pela concepção e, demestre de obras, podia-se, nestaaltura, evoluir para arquitecto. Aoinvés, um aprendiz ou pensionistade arquitectura podia ser nomeadomestre de obras. .

4.1 LicenciadosPode dizer-se que, tradicionalmente, asactividades de arquitectura eengenharia em Portugal sãoessencialmente militares, o que éreflectido pelo próprio ensino.A primeira escola no âmbito daarquitectura, em Portugal, surgecerca de 1500, com o início doensino de' fortificação, nasinstalações da casa da Mina e daÍndia, transferido, uns cinquentaanos depois, para o Paço da Ribeira.À data do terramoto, a antiga '~ula"tinha dado lugar, havia já umséculo, à Academia Militar da Corte,onde se formavam os arquitectos eos engenheiros.Com o advento das grandes obraspúblicas do século xvIll, a profissãode arquitecto inicia, em Portugal,uma progressiva transferência parao sector civil, processo que já seencontra avançado à época dareconstrução pombalina. Nessa altura,as profissões de arquitecto eengenheiro encontram-se, no entanto,ainda personificadas nos mesmosagentes. Ao apresentar Eugénio dosSantos e Carlos Mardel, Manuel daMaia refere-se a eles comoengenheiros de profissão (entenda-se, militares), e os primeiros naarquitectura civil (entenda-se, talvez,os mais competentes).Que liam os arquitectos/engenheirospor alturas do terramoto?Uma boa ideia é a que resulta doinventário de livros feito por mortede E ugénio dos Santos e Carvalho, quetinha quarenta e quatro anos à data doterramoto e participou, durante maiscinco, no planeamento e arranque dareconstrução de Lisboa.Da lista de cerca de 150 livros, constamas segumtes obras (mantém-se a grafiaconstante da lista publicada por LeonorFerrão [Ferrão, 1994]: (Continua no vróximo número)