Arte Percepção e Conhecimento - o Ver o Ouvir e o Complexo Das Flautas

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    Arte, Percepo e Conhecimento -O Ver, o Ouvir e o Complexodas Flautas Sagradas nas Terras

    Baixas da Amrica do Sul

    Rafael Jos de Menezes Bastos

    2006

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    UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA

    Reitor Lcio Jos BotelhoVice-Reitor Ariovaldo Bolzan

    CENTRO DE FILOSOFIA E CINCIAS HUMANAS

    Diretor Maria Juracy Filgueiras Toneli

    Vice-Diretor Roselane Neckel

    ANTROPOLOGIA EM PRIMEIRA MO

    Editor Rafael Jos de Menezes Bastos

    Comisso Editorialdo PPGAS Carmen Slvia Moraes Rial

    Maria Amlia Schmidt Dickie Oscar Calvia Sez Rafael Jos de Menezes Bastos

    Conselho Editorial Aldo Litaiff Alicia Castells

    Chefe do Departamentode Antropologia

    Antonella M. Imperatriz Tassinari

    Coordenador do Programa

    de Ps-Graduao em

    Antropologia Social. Oscar Calvia Sez

    Sub-Coordenador Snia W. Maluf.

    Solicita-se permuta/Exchange DesiredAs posies expressas nos textos assinados so de responsabilidade exclusiva de seus autores.

    Antonella M. Imperatriz Tassinari Dennis Wayne Werner Deise Lucy O. Montardo Esther Jean Langdon Ilka Boaventura Leite Maria Jos Reis Mrnio Teixeira Pinto Miriam Hartung

    Miriam Pillar Grossi Neusa Bloemer Silvio Coelho dos Santos Snia Weidner Maluf

    Theophilos Rifiotis

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    UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA

    Antropologia em Primeira Mo

    2006

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    Antropologia em Primeira Mo uma revista seriada editada pelo Programa dePs-Graduao em Antropologia Social (PPGAS) da Universidade Federal de SantaCatarina (UFSC). Visa publicao de artigos, ensaios, notas de pesquisa e resenhas,inditos ou no, de autoria preferencialmente dos professores e estudantes de ps-graduao do PPGAS.

    Toda correspondncia deve ser dirigida Comisso Editorial do PPGASDepartamento de Antropologia,

    Centro de Filosofia e Humanas CFH,Universidade Federal de Santa Catarina,

    88040-970, Florianpolis, SC, Brasilfone: (0.XX.48) 3331. 93.64 ou fone/fax (0.XX.48) 3721.9714

    e-mail: [email protected] www.antropologia.ufsc.br

    Univerisdade Federal de Santa CatarinaCentro de Cincias Humanas

    Ncleo de Publicaes de Peridicosdo CFH - Campus Universitrio - Trindade

    88040970 Florianpolis SC, Brasil

    Fone: 37219457Editorao eletrnicaJane Mary Carpes Gonzaga

    Coordenadora do NUPPeCarmen Rial

    Secretaria do NUPPeLuiz Carlos Cardoso eJane Mary Carpes Gonzaga

    Catalogao na Publicao Daurecy Camilo CRB-14/416

    Antropologia em primeira mo / Programa de Ps Graduao em

    Antropologia Social, Universidade Federal de Santa Catarina. ,n.1 (1995)- . Florianpolis : UFSC / Programa de Ps

    Graduao em Antropologia Social, 1995 -

    v. ; 22cm

    Irregular

    ISSN 1677-7174

    1. Antropologia Peridicos. I. Universidade Federal de Santa

    Catarina. Programa de Ps Graduao em Antropologia Social.

    Copyright

    Todos os direitos reservados. Nenhum extrato desta revista poder ser reproduzido, armazenadoou transmitido sob qualquer forma ou meio, eletrnico, mecnico, por fotocpia, por gravaoou outro, sem a autorizao por escrito da comisso editorial.

    No part of this publication may be reproduced, stored in a retrieval system or transmitted inany form or by any means, electronic, mechanical, photocopying, recording or otherwise

    without the writ ten permission of the publ isher.

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    Arte, Percepo e Conhecimento - O Ver, oOuvir e o Complexo das Flautas Sagradasnas Terras Baixas da Amrica do Sul1 .

    Rafael Jos de Menezes Bastos2 .Resumo

    Em algumas sociedades das terras baixas da Amrica do sula performance das flautas sagradas proibida de viso smulheres, sua audio por elas, porm, sendo esperada ou mesmoobrigatria. Isto est relacionado com as modalidades ali vigentesde construo scio-cultural da percepo e do conhecimento,especialmente com suas concepes sobre o ver e o ouvir.Ver geralmente ali aponta para uma forma analtica de percepoe conhecimento, do campo da inteleco e explicao, ouvirindicando a percepo e conhecimento sintticos, do domnio dasensibilidade e da compreenso. Na regio, a exacerbao dacapacidade de ver usualmente tida como sinal de associalidaderadical caso dos feiticeiros - e de suprema socialidade, dos pajs.Por outro lado, a habilidade exagerada da de ouvir considerada

    ndice de virtuosidade - na msica, narrativa mtica, retrica. Essesjogos entre a viso e a audio, explicar e compreender, masculinoe feminino, poderosos e comuns manifestam-se tambm noxamanismo, onde o uso da fumaa do tabaco se estabelece comouma forma de tornar o som visvel. O texto pretende contribuirpara a etnologia da regio no captulo das relaes entre osuniversos da arte, da filosofia, das relaes de poder e de gnero eda construo scio-cultural da percepo e do conhecimento.

    1 Uma verso anterior deste texto foi apresentada na mesa redonda, Antropologia &

    Esttica - A Arte como Gnsis e Viso do Mundo (MR-02), durante a 25. ReunioBrasileira de Antropologia, promovida pela ABA em Goinia em 11-14/06/2006 (veja ovolume 2 do respectivo CD-ROM). Obrigado a Eduardo Diatahy B. de Menezes, organi-zador da mesa, Ordep Serra e Idilva Germano, seus demais integrantes, e aos participantesda audincia, pelos comentrios. Sou, entretanto, o nico responsvel pelo texto.

    2 Professor do Departamento de Antropologia da Universidade Federal de Santa Catarina, ondecoordena o Ncleo de Estudos Arte, Cultura e Sociedade na Amrica Latina e Caribe, oMUSA (http://www.musa.ufsc.br/), e Pesquisador do CNPq (1B). E-mail: [email protected].

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    Thus far we have been considering chiefly that branch ofsympathetic magic which may be called homoeopathic or imitative.Its leading principle, as we have seen, is that like produces like, or,in other words, that an effect resembles its cause. The other greatbranch of sympathetic magic, which I have called Contagious Magic,proceeds upon the notion that things which have once beenconjoined must remain ever afterwards, even when quite disseveredfrom each other, in such a sympathetic relation that whatever isdone to the one must similarly affect the other. Thus the logicalbasis of Contagious Magic, like that of Homoeopathic Magic, is amistaken association of ideas; its physical basis, if we may speakof such a thing, like the physical basis of Homoeopathic Magic, isa material medium of some sort which, like the ether of modernphysics, is assumed to unite distant objects and to convey impressionsfrom one to the other. The most familiar example of ContagiousMagic is the magical sympathy which is supposed to exist betweena man and any severed portion of his person, as his hair or nails; sothat whoever gets possession of human hair or nails may work his

    will, at any distance, upon the person from whom they were cut.This superstition is world-wide; instances of it in regard to hair and

    nails will be noticed later on in this work.Sir James George Frazer (18541941). The GoldenBough (1922)3 .

    Traduo minha da parte sublinhada:O outro grande tipo de magia por simpatia, que eu chamo de

    Magia por Contgio, procede com base na noo de que as coisasque uma vez estiveram juntas devem assim permanecer para sempre,mesmo quando bem separadas umas das outras, numa relao desimpatia tal que aquilo que ocorra com umas deve tambm acontecercom as outras. Ento, a base lgica da Magia por Contgio, comoaquela da Magia Homeoptica, uma associao errada de idias;

    sua base fsica, se que podemos falar disto aqui, como a basefsica da Magia Homeoptica, um meio material tal que, como oter da fsica moderna, supe-se que conecte os objetos distantes epossa transmitir as caractersticas de uns para os outros.

    3 Conforme http://www.bartleby.com/196/, acessado em 06/06/2006.

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    Leonardo Villas Boas, a Flauta: Uns Sentimentos Selvagens.

    Num texto j antigo, onde estudei as exegeses kamayur(xinguanos tupi-guarani) e yawalapit (idem, aruaque) sobre o ParqueIndgena do Xingu e os Irmos Villas Boas (Menezes Bastos 1989),recolhi uma narrativa que contem um episdio que cada vez maisdescubro ter um grande interesse para a compreenso da visokamayur sobre as flautas sagradas e do ser amerndio em geral.

    A narrativa, feita em 1981 por Takum, ento chefe dos

    kamayur, reporta-se poca da chegada dos Irmos Villas Boas regio dos formadores do Rio Xingu. Isto coloca seu presentehistrico mais ou menos entre os dois ou trs ltimos anos dadcada de 1940 e os mesmos primeiros anos da de 1950 - algocomo 1947-1953. Takum ento era adolescente (hoje estar pertodos oitenta). Transcrevo abaixo a narrativa em comentrio, quedividi em cinco partes, numeradas de 1 a 54 :

    1. ... A eu fiquei no Xingu5 , com Leonardo6 . Fiquei. Fiqueipor muito tempo (dez anos). Ento meu pai me chamou de volta aldeia7 . L, fui preso (recluso pubertria). Fiquei preso por muitopouco tempo (dois meses) e ento fui embora de novo para o Xingu8 .

    Leonardo havia me chamado. Fiquei l... A meu pai me chamou denovo. Em seguida, Leonardo foi buscar-me uma vez mais. A, eu

    4 A presente transcrio resumida e aprimora a traduo de 1989, feita por informantesbilnges, incluindo o prprio Takum.

    5 Xingu, no portugus dos kamayur, a regio chamada por eles, em kamayur, deYakarep (Jacar), cerca do hoje Posto Indgena Diauarum.

    6 Leonardo era o mais moo dos Irmos Villas Boas (Orlando, o mais velho). Leonardofaleceu em 1961 de problemas cardacos, seu nome tendo sido dado ao antigo PostoIndgena Capito Vasconcelos como reconhecimento da importncia de sua contribui-o para a criao do Parque.

    7 O pai de Takum era o ento chefe e paj Kutamap. Nesta poca, a aldeia kamayurlocalizava-se na boca do Ribeiro Tuatuari.

    8 A nota 72 do original de 1989 considera que Takum aqui se queixa dos transtornos ocasio-nados ao perfeito cumprimento de seu perodo de recluso pubertria pela sua convivnciacom os Villas Boas. Explicitamente, ele expe o choque entre os pontos de vista de seu pai ede Leonardo quanto durao do mesmo, o primeiro querendo-o longo, o segundo condici-onando-o a ser curto. Se, no portugus kamayur de contato no contexto da presente narra-tiva, dez anos aponta para uma durao longa, dois meses o faz para uma muito breve.

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    fiquei, fiquei... Com Leonardo. Nesta poca, Leonardo meemprestou carabina. Depois, ele deu-me outra pra mim, uma 44.

    A, eu fiquei com ele, fiquei, fiquei.2. Foi ento, depois, que Leonardo errou o caminho. Ele

    namorou (algumas) ndias. Ele tinha cime do pessoal (dos outroscarabas9): pessoal no pode namorar ndias. Eles passam doenaspara elas. Leonardo falava assim. Orlando tambm. Leonardo ficavabrabo com o pessoal caraba. Ele queria mandar todos os carabas

    embora. Mas, ento, os Villas Boas ficariam sozinhos. A, Leonardome chamou: Takum, voc tem que dizer para as mulheres noentrarem nas casas dos trabalhadores. Assim, eles vo passar doenaspra elas. A, eu fui falar com as mulheres. Elas me disseram: no,ns no temos ido s casas dos carabas, no. A, eu fiqueiconversando (com as mulheres kamayur), conversando,conversando. Foi a que Leonardo errou o caminho10 . Eu vi Leonardoerrar o caminho. Outros viram. Todo mundo viu...

    3. Ele namorou Pele de Reclusa. Mulher de meu pai. Meu paiera casado com Pele de Reclusa. Ela era mangauhet11 .

    4. Ento, Pele de Reclusa viu yumiamae (as flautas

    sagradas)12

    . L na casa de Leonardo ns havamos deixado um triode yumiamae. Pele de Reclusa, quando foi namorar com Leonardo,entrou l, ento viu as flautas. Ento, pessoal (os kamayur): Vamosestuprar Pele de Reclusa. Meu pai estava muito brabo. Meu paisabia que Leonardo estava namorando Pele de Reclusa.

    5. A, outro dia, ns tocamos as flautas. Pele de Reclusa estavana casa de Leonardo. Os dois estavam dentro de um mosquiteiro.

    9 Esses outros carabas eram os demais funcionrios da Expedio Roncador-Xingu queacompanhavam os Villas Boas regio dos formadores do Xingu.

    10 Transcrevo a nota 73 do original de 1989: A expresso errar caminho, com toda apiedade que a caracteriza, usada pelo narrador de maneira altamente sutil e eficaz nosentido da condenao moral de Leonardo do ponto de vista do prprio quadro devalores retricos administrado por este heri na sua pedagogia de contato intertnico. Nosentido da condenao e, caritativamente, do perdo!

    11 Mangauhet: imediatamente ex-reclusa pubertria. Kutamap, pai de Takum, tinhatrs esposas ento, Pele de Reclusa sendo a mais jovem.

    12 Yumiamae (ou yakui) so as flautas sagradas kamayur (veja adiante).

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    Pele de Reclusa estava no mosquiteiro. Ningum sabia disso. Ento,pessoal tocou as flautas yumiamae. A, Leonardo achou ruim: porque vocs tocaram isso? Ele brigou com os kamayur. Falou mal,falou, falou... 13 ... Ento Leonardo pegou um revlver e disse: eu

    vou matar voc, Takum. Eu disse pra ele: pode matar. Eleapontou revlver para minha cara. Meu pai disse: pode matar...Quem mata meu filho, pode me matar tambm... Por que voc temcime de seu pessoal?... Voc est errado, Leonardo... Eu no queromais Pele de Reclusa... Pode casar com ela... .

    O que eu gostaria de reter desta narrativa impressionante ,de comeo, a dupla identificao melhor dizendo, contaminao -produzida no evento:

    1. entre a casa das flautas (tapy em kamayur) e a casa deLeonardo; e2. entre as flautas e o prprio heri.

    Note-se que esta identificao e por isso a estou chamandode contaminao, num movimento que procura recordar O RamoDourado (a estando, portanto, o nexo da epgrafe ao presente texto)- no se congela na pura equao mental, metonmica no caso, jque foi feita um fato do mundo emprico: a colocao das flautasno interior da casa de Leonardo transformou esta ltima na casadas flautas, a partir de ento tudo vindo a se passar para Pele deReclusa, ao arrepio de sua inteno (dir-se-ia, perspectiva) - comose Leonardo, ele mesmo, fosse as flautas yakui.

    Observe-se que essa colocao foi feita intencionalmente, tudoindica que pelo chefe Kutamap, que, sabedor do affair entreLeonardo e Pele de Reclusa, com ele ficou irado. Recordo queKutamap era, alm de um grande chefe, um grande paye, xam.

    Produzida a identificao a contaminao, insisto -, avingana feroz, o estupro de Pele de Reclusa, pde colocar-se nohorizonte: Pele de Reclusa, ao entrar na casa de Leonardo, sem

    saber estava a entrar no tapy (casa das flautas), espaoabsolutamente interdito s mulheres entre os kamayur e xinguanosem geral, exatamente por ser a casa das yakui. Pior que isto, aoentrar ali, Pele de Reclusa viu, elas mesmas, as flautas sagradas.

    13 Falar mal (yeeng nikatuite), algo como xingar, comportamento verbal associal,caracterstico do feiticeiro e contrrio por excelncia etiqueta xinguana.

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    O segundo ponto que apreciaria reter do episdio formidando cumulativo em relao ao primeiro: trata-se da colagem tambmrealizada para alm de uma pura operao intelectual - que eleproduz entre Leonardo e

    1. o cime (comportamento acumulador, no caso de mulheres),2. a falta de discrio (ao manter relaes sexuais bandeirosas

    com uma mulher casada, e - pior ainda! - com uma dasmulheres do chefe), e a

    3. violncia - verbal (falar mal, xingar) e fsica (ameaa demorte com revlver) -, dirigida, centralmente, nada mais nadamenos que a Takum, filho do chefe kamayur e primeiro nalinha de sua sucesso. Essa violncia se evidenciou de maneiraainda mais cabal para os kamayur a partir do fato de Leonardo

    contaminado pelas flautas ter reclamado (na quinta e ltimaparte da narrativa) de maneira raivosa de sua execuo em suacasa (transformada em casa das flautas). Esta reclamao veioa culminar na sua ameaa a Takum, revlver em punho.

    Essa colagem d o arremate final identificao produzidapelos kamayur, de Leonardo Villas Boas: ela se evidencia no

    patamar, no simplesmente de um feiticeiro (moangyat emkamayur), algum que enfim pode ter seu poder controlado pelasociedade, atravs da expulso ou mesmo da execuo. No, opatamar da identificao de Leonardo neste episdio o de umesprito, esprito extremamente poderoso e perigoso pelo poderincontrastvel que detem: Leonardo identificado no episdioem considerao com um mamae - exatamente com o terrvelmamae yakui ou yumiamae, as flautas sagradas. Note-se queos mamae em geral somente so controlveis pela polticaxamnica, monopolizada pelos paye.

    Por fim, o terceiro aspecto que gostaria de realar no

    episdio: a vingana dos kamayur foi violenta e inexorvel,abatendo-se tanto sobre Leonardo quanto sobre Pele deReclusa. Leonardo, devido ao cime, indiscrio e violncia,teve que sair da aldeia kamayur e perdeu a amante que, roubadado chefe, queria somente para si. Perdeu-a violentada por todos

    do excesso por extrema restrio, representado pelo egosmoou avareza amorosa, ao excesso por absoluta falta de limite,

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    figurado pelo amor forado de todos. Pele de Reclusa, estuprada,foi tambm expulsa da aldeia14 .

    bom deixar claro que a vingana em tela, segundo to bemexplicita a narrativa em anlise, no foi impulsionada por cime deKutamap, ou seja, ela no foi ocasionada por um desejo acumuladordo chefe kamayur, ele mesmo, em relao a Pele de Reclusa. No, a

    vingana foi impulsionada pela rejeio radical dos kamayur em relaoao cime, indiscrio, violncia e traio, enfim em relao extremaassocialidade de todo o affair envolvendo Leonardo e Pele de Reclusa.

    Quanto a este terceiro ponto, vale observar que as punies aostraidores e traidoras conjugais no mundo kamayur no parecem alcanardimenses maiores que as da simples rusga. Na grande maioria das vezes,elas se reduzem a pequenas surras do (a) trado (a) no (a) traidor (a).

    Na mitologia, porm, essas punies costumam ter intensidadeabsolutamente dramtica, quase sempre provocando catstrofes erupturas (origens)15 - tudo se passa, ento, no episdio aquinarrado, como se ele tivesse pertinncia mtica, ocasionando, comoocasionou, pelo menos duas importantes rupturas: o divrcio foradode Kutamap com o estupro e o ostracismo de Pele de Reclusa; e oafastamento de Leonardo em relao aos kamayur, com sua

    progressiva generalizao no relativo aos Villas Boas como um todo.O que este episdio ter a ver com meu objeto de atenoaqui: atravs do estudo das flautas sagradas nas terras baixas da

    Amrica do Sul, contribuir para a compreenso das relaes ali entrea arte, a filosofia, as relaes de poder e de gnero e a construoscio-cultural da percepo e do conhecimento?

    As Flautas Sagradas Kamayur

    As flautas sagradas ou rituais kamayur em kamayur, yakuiou yumiamae - so aerofones do tipo flauta com conduto e defletor16 .

    14 Ela mudou-se desde ento para a Ilha do Bananal, onde se casou com um eminente chefekaraj. Segundo adiante se pode ler na narrativa da qual extra o episdio agora reportado,Leonardo e Pele de Reclusa tiveram uma filha.

    15 Recordo-me aqui imediatamente dos mitos de origem do ritual do Yawari (MenezesBastos 2002: 140) e do pequi (Agostinho 1974a: 109-112), entre tantos outros.

    16 Conforme meu texto de 1978 (1999). Ver Piedade (2004) para um estudo paradigm-tico das flautas em tela entre os tambm xinguanos, mas aruaque, waur (ou wauja).

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    Medem em torno de um metro e tm quatro orifcios digitais (no asdevo mostrar em foto). Quase sempre essas flautas so tocadas emtrio por um mestre e dois aprendizes. Quando executadas em solo,o so sempre por um mestre, especialmente virtuoso.

    As yakui constituem o ego de um grupo de parentesco dotipo kindred (e, pois, orientado em ego), chamado em kamayuryakuiarey ou yumiamaearey (ao p da letra, algo comosemelhantes a yakui, pessoal de yakui). Trata-se de um gruporelativamente grande, envolvendo outros onze instrumentosmusicais, a saber17 (conforme Menezes Bastos 1978 [1999: 228]):

    17 Reproduzo a seguir a figura que est em meu texto de 1978 (1999: 228).

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    - na gerao +2, os aerofones do tipo trompete kuyahapi,arikamo e kuyaham (cujo meio a gua, sendo similares apeixes); as flautas kuruta (similarmente s yakui, tambm comconduto e defletor; seu meio a floresta e elas so semelhantes aanimais de pelo); os chocalhos globulares yakokoakamit; osaerofones tipo clarinete tarawi; o trocano warayumia; e oszunidores uriwuri e parapara (os cinco ltimos tambm so seresaquticos, identificados com peixes).

    - na gerao 0, a das prprias yakui, os chocalhosyakuiakamit, do tipo em fileira e usados amarrados perna direitados danarinos. O meio original desses dois instrumentos comotambm das flautas yakui - tambm a gua, sendo todos peixes.

    - na gerao -1, as flautas kurutai, como as yakui e kuruta,tambm com conduto e defletor. Seu meio a floresta e suaidentificao como animal de pelo. Note-se que a este kindred falta a gerao +1.

    As flautas yaku i encontram no tapy seu espao preferencial mas no exclusivo - de guarda. Esta casa ocupa uma importanteposio na cosmologia kamayur: situada no centro da aldeia, ela

    um dos lugares originais (isto , ligados s origens) por excelncia deseu cosmo, nela se concentrando sua prpria criao. Consistentementecom isto, ela tambm chamada de hoka, literalmente, casa dagua, e de hotatap, ao p da letra, casa do fogo.

    Simultaneamente, ela o espao por excelncia damasculinidade entre os kamayur e xinguanos em geral, da a suaoutra traduo de casa dos homens. Ali, as mulheres no podementrar, sob pena de estupro coletivo.

    Ela tem, na face que d para oeste, duas portas (chamadas deapy, narinas). Na oposta, somente uma. Lembro que entre oskamayur, as relaes sexuais so monitoradas pelo cheiro que

    emitem. Ora, sendo o tapy o espao nevrlgico da masculinidadeentre esses ndios, masculinidade esta politicamente manifestadapela capacidade de controle da sexualidade atravs tipicamentede seus olores -, nada de estupendo que esta casa seja, ela mesma,cosmograficamente, uma grande narina a tudo sensoriar.

    Nos depoimentos nativos, a casa das flautas aparece comouma das distines bsicas dos apap, os kamayur de verdade,

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    chamados, exatamente, de tapyatapi (os da aldeia que temtapy). Aqui, o tapy uma grande construo onde se passam osritos secretos da comunidade masculina, ligados s flautas sagradase aos outros instrumentos musicais que fazem parte de seu kindred.

    Aqui tambm onde se fazia antigamente a recluso pubertria,ento sempre coletiva.

    As yakui no podem ser vistas pelas mulheres, sua msica,porm, sendo ouvida por elas de maneira extremamente atenciosa18 .

    Note-se que entre os kamayur esta no a nica proibio visual mas no auditiva - s mulheres: o Payemeramaraka, ritual dacomunidade dos pajs, tambm no deve ser visto por elas (vejaMenezes Bastos 1984-1985). Adicionalmente a isto, vale recordarque presenciei um episdio na aldeia kamayur em 1981 ligado auma caada de porcos, depositados no ptio da aldeia , do qualelas tambm se isolaram visualmente, trancando-se em suas casas efechando as portas, temerosas de que os homens se transformassemem mamae. Enquanto isso, os homens discutiam dramaticamenteno ptio da aldeia seu processo de xinguanizao (veja Menezes

    Bastos 1995). Tudo faz parecer, ento, que as proibies visuais smulheres entre os kamayur apontam para o universo dos mamae,cujo controle humano somente vivel atravs do xamanismo,monoplio masculino.

    Quanto s flautas sagradas, porm, as mulheres no somenteno devem v-las: elas tambm no devem saber quem as toca. Note-se que os homens, quando as esto executando, encerram-se no tapy- quando eles as tocam no ptio da aldeia, as portas das casasresidenciais so fechadas, ali devendo ficar reclusas as mulheres ecrianas. Observe-se por fim que, quando executando as yakui, os

    homens no devem tomar banho de imerso, mas de coit, nem manterrelaes sexuais, sujeitando-se a mais uma srie de outros interditos,tudo evocando o comportamento das mulheres quando menstruadas.

    18 Conforme Mello (2005) para um estudo aprofundado, entre os wauja, sobre esta tem-tica, que envolve, de um lado, a msica das flautas sagradas masculinas e, de outro, parterelevante do repertrio vocal feminino.

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    Esta evocao me inspirou a uma comparao das yakui com osinstrumentos musicais similares do Alto Rio Negro (ver Hugh-Jones[1979], Hill [1993] e Piedade [1997]), os dois universos musicaisapontando para uma menstruao simblica dos homens sinal deseu poder no plano, no, biolgico mas poltico -, o que recorda fatosem tudo por tudo semelhantes da Nova Guin19 .

    As flautas rituais - e sua respectiva parentela - so temas muitopresentes na mitologia kamayur e xinguana em geral. Aponto

    abaixo, de maneira extremamente resumida, alguns de seus nexosmais importantes nessa mitologia20 :

    1. as flautas em comentrio so taangap, cpias, feitas com amadeira de determinadas rvores, de mamae subaquticos. Estascpias foram produzidas por Ayanama, um dos demiurgos kamayur21 .

    2. era uma vez, essas flautas constituam domnio exclusivo dasmulheres. Ento, havia uma completa inverso daquilo que hojeacontece: as mulheres pescavam, os homens trabalhavam a mandiocae cuidavam das crianas; s mulheres cabia com exclusividade a casadas flautas, os homens sendo proibidos de ali entrarem.

    3. insatisfeitos com esta situao, os homens fizeram umarevoluo, tomando as flautas das mulheres e constituindo omundo como hoje ele . Para que esta revoluo pudesse serfeita, Morenayat, o dono do Morena, outro demiurgokamayur, ameaou as mulheres, executando os horrendoszunidores uriwuri e parapara22 . A partir de ento a constituiopresente do mundo foi feita, sua manuteno estando assentada

    19. Conforme Hogbin (1970) entre tantos outros autores. A comparao referida est emMenezes Bastos (1978 [1999: 223-232]). Veja Piedade (2004) e Gregor e Tuzin, eds.(2001) para retomadas recentes da questo.

    20 Para coletneas da mitologia em tela, conforme o j referido Agostinho (1974a), eAgostinho (1974b: 159-201) e Villas Boas (1975). Agostinho (1974a: 113-127) recolhealgumas narrativas especificamente sobre as ditas flautas e sua parentela.

    214 A noo de taangap extremamente rica e complexa, tanto quanto a de mimese, quelhe aparentada. Tratei dela em vrios textos, entre os quais os de 1984-1985 e 2001.

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    no medo, pavor, verdadeiro horror terror - que as mulheressentem do universo das flautas rituais e dos mamae em geral.Repito que somente os homens, entre os kamayur e xinguanosem geral, podem ser xams.

    Desde que iniciei meus estudos no Alto Xingu, tenho partidoda idia de que os sentidos, para longe de constiturem aparelhosbio-psicolgicos invariveis, so como o corpo para Marcel Mauss

    os primeirssimos objetos de construo cultural. Partindo desse

    princpio, elaborei a noo de audio do mundo (em ingls nooriginal, world hearing [Menezes Bastos 1999]) para dar conta decosmologias amerndias com um ntido primado no mundo daaudio, diferentemente do que acontece no ocidente, onde a viso o sentido primordial.

    Os kamayur so um povo para o qual a noo de audio domundo muito mais que a de viso do mundo cabe como umaluva na mo: para eles, o verbo anup, cujo significado original ouvir, indica tambm o sentido de compreender, tendo umaposio hierrquica nitidamente superior quela ocupada pelo verbo

    tsak, originalmente ver mas que tambm aponta para o nexo deentender. Pode-se dizer que entre os kamayur ver supe umaforma analtica de percepo e conhecimento, do campo dainteleco e explicao. Note-se que a exacerbao da capacidadede ver, entre eles, tida como sinal de extrema associalidade,caso dos feiticeiros e, pior ainda, de uma imensa legio de mamae,entre os quais as flautas yakui e muitos dos componentes de suaparentela, especialmente as buzinas kuyahapi, arikamo e kuyaham,que somente tm olhos e bocas que devoram - no propriamentecomem -, ferozes, conforme a foto a seguir, da buzina kuyahapi,

    to bem mostra23

    :

    22 Morena a regio onde o mundo se originou segundo os kamayur. Ela se encontracerca do Yakarep.

    23 Esta foto, feita por mim, em Braslia, consta em meu texto de 1978 (1999).

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    Em contraponto com isso, a noo de ouvir indica para osndios em considerao a percepo e o conhecimento sintticos,do domnio da sensibilidade e da compreenso, a capacidadeexagerada de ouvir sendo considerada pelos kamayur como ndicede virtuosidade, nas artes da msica, narrao mtica e retrica.

    Quando antes aqui falei que o episdio cuja narrativa deucomeo a este texto tinha pertinncia mtica desejava apontar parao fato de que ele, para os kamayur e para quem os procura

    compreender -, tinha natureza originante e modelar, encerrandocatstrofes e rupturas prototpicas (tal, alis, a compreenso queentendo ser til do mito entre esses ndios, para quem a natureza dahistria, em contraposio, seria a da continuidade).

    Efetivamente, como disse, o episdio em tela ocasionou pelomenos duas grandes rupturas: o divrcio de Kutamap com oostracismo de Pele de Reclusa, dramaticamente intermediados peloestupro coletivo desta; e o afastamento de Leonardo em relaoaos kamayur, germe do afastamento cada vez mais definitivo dosIrmos Villas Boas como um todo em relao a esses ndios. Note-

    se que a partir da os kamayur diferentemente dos yawalapit passaram a orientar seu contato com o mundo dos brancos para oDestacamento Xingu, estabelecimento ento mantido pela Fora

    Area Brasileira perto do Jacar (veja Menezes Bastos 2004).

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    Referncias Bibliogrficas

    AGOSTINHO, Pedro. 1974a. Mitos e Outras NarrativasKamayur. Bahia: Universidade Federal da Bahia.

    ______. 1974b. Kwarp: Mito e Ritual no Alto Xingu. So Paulo:E.P.U./Editora da Universidade de So Paulo.

    GREGOR, Thomas A. e Donald Tuzin, eds. 2001. Gender in Amazonia

    and Melanesia: An Exploration of the Comparative Method. Berkeley/Los Angeles/London: University of California Press.

    HILL, Jonathan. 1993. Keepers of the Sacred Chants: ThePoetics of Ritual Power in an Amazonian Society. Tucson:University of Arizona Press.

    HOGBIN, H. Ian. 1970. The Island of Menstruating Men:Religion in Wogeo, New Guinea. Scranton: Chandler PublishingCompany.

    HUGH-JONES, Stephen. 1979. The Palm and the Pleiades:Initiation and Cosmology in Northwest Amazonia. Cambridge/

    New York: Cambridge University Press.MELLO, Maria Ignez Cruz. 2005. Iamurikuma: Msica, Mito eRitual entre os Wauja do Alto Xingu. Florianpolis:Universidade Federal de Santa Catarina. Tese de doutorado em

    Antropologia Social24 .

    MENEZES BASTOS, Rafael Jos de. 1978 (1999). AMusicolgica Kamayur: Para uma Antropologia da Comunicaono Alto Xingu. Braslia: Funai25 .

    ______. 1984-1985. O Payemeramaraka Kamayur Uma

    Contribuio Etnografia do Xamanismo no Alto Xingu,Revista de Antropologia, volumes 27/28, pp. 139-177.

    24 Acessvel tambm on-line, em www.musa.ufsc.br.25 Este livro tem uma segunda edio, de 1999, feita em Florianpolis pela Editora da

    Universidade Federal de Santa Catarina.

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    20 Antrpologia em Primeira Mo

    MENEZES BASTOS, Rafael Jos de. 1989. ExegesesYawalapit e Kamayur da Criao do Parque Indgena do Xingue a Inveno da Saga dos Irmos Villas Boas, Revista de

    Antropologia, volumes 30/31/32, pp. 391-426 (1987/88/89).______. 1995. Indagao Sobre os Kamayur, o Alto - Xingu eOutros Nomes e Coisas: Uma Etnologia da Sociedade Xinguara,

    Anurio Antropolgico/1994: 227-269 (1995).______. 1999. Apap World Hearing: On the Kamayur Phono-

    Auditory System and the Anthropological Concept of Culture,The World of Music 41 (1): 85-96.______. 2001. Ritual, Histria e Poltica no Alto Xingu:Observaes a Partir dos Kamayur e do Estudo da Festa da

    Jaguatirica (Jawari), Os Povos do Alto Xingu: Histria e Cultura,B. Franchetto e M. Heckenberger, orgs., Rio de Janeiro: Editorada UFRJ, pp. 335-357.

    ______. 2004. Cargo Anti-Cult no Alto Xingu: Conscincia Polticae Legtima Defesa tnica, Antropologia em Primeira Mo 7126 .MENEZES BASTOS, Rafael Jos de e Hermenegildo Jos de.2002. A Festa da Jaguatirica: Primeiro e Stimo Cantos.

    Introduo, Transcrio e Comentrios, Ilha: Revista deAntropologia 4(2): 133-17427 .PIEDADE, Accio Tadeu de Camargo Piedade. 1997. Msica

    Yepamasa: Por uma Antropologia da Msica no Alto Rio Negro.Florianpolis: Universidade Federal de Santa Catarina.Dissertao de mestrado em Antropologia Social28 .

    ______. 2004. O Canto do Kawok: Msica, Cosmologia eFilosofia entre os Wauja do Alto Xingu. Florianpolis:Universidade Federal de Santa Catarina. Tese de doutorado em

    Antropologia Social29 .VILLAS BOAS, Orlando e Cludio. 1975. Xingu: Os ndios, seusMitos, 2. edio. So Paulo: Edibolso.

    26 Disponvel tambm on-line, em www.antropologia.ufsc.br.27 Idem.28 Disponvel tambm em www.musa.ufsc.br.29 Idem.

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    ANTROPOLOGIA EM PRIMEIRA MOTtulos publicados

    1. MENEZES BASTOS, Rafael Jos de. A Origem do Sambacomo Inveno do Brasil: Sobre o Feitio de Oraco de Vadicoe Noel Rosa (Por que as Canes Tm Musica?), 1995.

    2. MENEZES BASTOS, Rafael Jos de e Hermenegildo Josde Menezes Bastos. A Festa da Jaguatirica: Primeiro e

    Stimo Cantos - Introduo, Transcries, Tradues eComentrios, 1995.

    3. WERNER, Dennis. Policiais Militares Frente aos Meninos deRua, 1995.

    4. WERNER, Dennis. A Ecologia Cultural de Julian Steward eseus desdobramentos, 1995.

    5. GROSSI, Miriam Pillar. Mapeamento de Grupos e Instituiesde Mulheres/de Gnero/Feministas no Brasil, 1995.

    6. GROSSI, Mirian Pillar. Gnero, Violncia e Sofrimento -Coletnea, Segunda Edio 1995.

    7. RIAL, Carmen Silvia. Os Charmes dos Fast-Foods e aGlobalizao Cultural, 1995.

    8. RIAL, Carmen Slvia. Japons Est para TV Assim como Mulatopara Cerveja: lmagens da Publicidade no Brasil, 1995.

    9. LAGROU, Elsje Maria. Compulso Visual: Desenhos e Imagensnas Culturas da Amaznia Ocidental, 1995.

    10. SANTOS, Slvio Coelho dos. Lideranas Indgenas e IndigenismoOf icial no Sul do Brasil, 1996.

    11. LANGDON, E Jean. Performance e Preocupaes Ps-

    Modernas em Antropologia 1996.12. LANGDON, E. Jean. A Doena como Experincia: A Construo

    da Doena e seu Desafio para a Prtica Mdica, 1996.

    13. MENEZES BASTOS, Rafael Jos de. Antropologia como CrticaCultural e como Crtica a Esta: Dois Momentos Extremos deExerccio da tica Antropolgica (Entre ndios e Ilhus), 1996.

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    22 Antrpologia em Primeira Mo

    14. MENEZES BASTOS, Rafael Jos de. Musicalidade eAmbientalismo: Ensaio sobre o Encontro Raoni-Sting, 1996.

    15. WERNER, Dennis. Laos Sociais e Bem Estar entre ProstitutasFemininas e Travestis em Florianpolis, 1996.

    16. WERNER, Dennis. Ausncia de Figuras Paternas eDelinqncia, 1996.

    17. RIAL, Carmen Silvia. Rumores sobre Alimentos: O Caso dos

    Fast-Foods,1996.18. SEZ, Oscar Calavia. Historiadores Selvagens: Algumas

    Reflexes sobre Histria e Etnologia, 1996.

    19. RIFIOTIS, Theophilos. Nos campos da Violncia: Diferena ePositividade, 1997.

    20. HAVERROTH, Moacir. Etnobotnica : Uma RevisoTerica. 1997.

    21. PIEDADE, Accio Tadeu de C. Msica Instrumental Brasileirae Frico de Musicalidades, 1997

    22. BARCELOS NETO, Aristteles. De Etnografias e ColeesMuseolgicas. Hipteses sobre o Grafismo Xinguano, 1997

    23. DICKIE, Maria Amlia Schmidt. O Milenarismo MuckerRevisitado, 1998

    24. GROSSI, Mrian Pillar. Identidade de Gnero e Sexualidade, 1998

    25. CALAVIA SEZ, Oscar. Campo Religioso e Grupos Indgenasno Brasil, 1998

    26. GROSSI, Miriam Pillar. Direitos Humanos, Feminismo e Lutascontra a Impunidade. 1998

    27. MENEZES BASTOS, Rafael Jos de. Ritual, Histria e Poltica

    no Alto-Xingu: Observao a partir dos Kamayur e da Festada Jaguatirica (Yawari), 1998

    28. GROSSI, Miriam Pillar. Feministas Histricas e NovasFeministas no Brasil, 1998.

    29. MENEZES BASTOS, Rafael Jos de. Msicas Latino-Americanas, Hoje: Musicalidade e Novas Fronteiras, 1998.

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    30. RIFIOTIS, Theophilos. Violncia e Cultura no Projeto de RenGirard, 1998.

    31. HELM, Ceclia Maria Vieira. Os Indgenas da Bacia do RioTibagi e os Projetos Hidreltricos, 1998.

    32. MENEZES BASTOS, Rafael Jos de. Apap World Hearing:A Note on the Kamayur Phono-Auditory System and on theAnthropological Concept of Culture, 1998.

    33. SAZ, Oscar Calavia. procura do Ritual. As FestasYaminawa no Alto Rio Acre, 1998.

    34. MENEZES BASTOS, Rafael Jos de & PIEDADE, AccioTadeu de Camargo: Sopros da Amaznia: Ensaio-Resenhasobre as Msicas das Sociedades Tupi-Guarani, 1999.

    35. DICKIE, Maria Amlia Schmidt. Milenarismo em ContextoSignificativo: os Mucker como Sujeitos, 1999.

    36. PIEDADE, Accio Tadeu de Camargo. Flautas e Trompetes Sagradosdo Noroeste Amaznico: Sobre a Msica do Jurupari, 1999.

    37. LANGDON, Esther Jean. Sade, Saberes e tica TrsConferncias sobre Antropologia da Sade, 1999.

    38. CASTELLS, Alicia Norma Gonzles de. Vida Cotidiana sob aLente do Pesquisador: O valor Heurstico da Imagem, 1999.

    39. TASSINARI, Antonella Maria Imperatriz. Os povos Indgenasdo Oiapoque: Produo de Diferenas em Contexto Intertnicoe de Polticas Pblicas, 1999.

    40. MENEZES BASTOS, Rafael Jos de. Brazilian Popular Music:An Anthropological Introduction (Part I), 2000.

    41. LANGDON, Esther Jean. Sade e Povos Indgenas: Os Desafiosna Virada do Sculo, 2000.

    42. RIAL, Carmen Silvia Moraes e GROSSI, Miriam Pillar. Vivendoem Paris: Velhos e Pequenos Espaos numa Metrpole, 2000.

    43. TASSINARI, Antonella M. I. Misses Jesuticas na Regio doRio Oiapoque, 2000.

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    24 Antrpologia em Primeira Mo

    44. MENEZES BASTOS, Rafael Jos de. Authenticity andDivertissement: Phonography, American Ethnomusicology andthe Market of Ethnic Music in the United States of America,2001.

    45. RIFIOTIS, Theophilos. Les Mdias et les Violences: Points deRepres sur la Rception, 2001.

    46. GROSSI, Miriam Pillar e RIAL, Carmen Silvia de Moraes. UrbanFear in Brazil: From the Favelas to the Truman Show, 2001.

    47. CASTELS, Alicia Norma Gonzles de. O Estudo do Espao naPerspectiva Interdisciplinar, 2001.

    48. RIAL, Carmen Silvia de Moraes. 1. Contatos Fotogrficos. 2.Manezinho, de ofensa a trofu, 2001.

    49. RIAL, Carmen Silvia de Moraes. Racial and Ethnic Stereotypesin Brazilian Advertising. 2001

    50. MENEZES BASTOS, Rafael Jos de. Brazilian Popular Music:An Anthropological Introduction (Part II), 2002.

    51. RIFIOTIS, Theophilos. Antropologia do Ciberespao. Questes

    Terico-Metodolgicas sobre Pesquisa de Campo e Modelos deSociabilidade, 2002.

    52. MENEZES BASTOS, Rafael Jos de. O ndio na MsicaBrasileira: Recordando Quinhentos anos de esquecimento, 2002

    53. GROISMAN, Alberto. O Ldico e o Csmico: Rito e Pensamentoentre Daimistas Holandeses, 2002

    54. MELLO, Maria Ignez Cruz. Arte e Encontros Intertnicos: AAldeia Wauja e o Planeta, 2003.

    55. SEZ Oscar Calavia. Religio e Restos Humanos. Cristianismo,

    Corporalidade e Violncia, 2003.56. SEZ, Oscar Calavia. Un Balance Provisional delMulticulturalismo Brasileo. Los Indios de las Tierras Bajas enel Siglo XXI, 2003.

    57. RIAL, Carmen. Brasil: Primeiros Escritos sobre Comida eIdentidade, 2003.

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    58. RIFIOTIS, Theophilos. As Delegacias Especiais de Proteo Mulher no Brasil e a Judiciarizao dos Conflitos Conjugais, 2003.

    59. MENEZES BASTOS, Rafael Jos. Brazilian Popular Music:An Anthropological Introduction (Part III), 2003.

    60. REIS, Maria Jos, Mara Rosa Catullo e Alicia N. Gonzlez deCastells. Ruptura e Continuidade com o Passado: BensPatrimoniais e Turismo em duas Cidades Relocalizadas, 2003.

    61. MXIMO, Maria Elisa. Sociabilidade no Ciberespao: UmaAnlise da Dinmica de Interao na Lista Eletrnica deDiscusso Cibercultura, 2003.

    62. PINTO, Mrnio Teixeira. Artes de Ver, Modos de Ser, Formas deDar: Xamanismo e Moralidade entre os Arara (Caribe, Brasil), 2003.

    63. DICKIE, Maria Amlia S., org. Etnografando Pentecostalismos:Trs Casos para Reflexo, 2003.

    64. RIAL, Carmen. Guerra de Imagens: o 11 de Setembro na Mdia, 2003.

    65. COELHO, Lus Fernando Hering. Por uma Antropologia daMsica Arara (Caribe): Aspectos Estruturais das Melodias

    Vocais, 2004.66. MENEZES BASTOS, Rafael Jos de. Les Batutas in Paris,

    1922: An Anthropology of (In) discreet Brightness, 2004.

    67. MENEZES BASTOS, Rafael Jos de. Etnomusicologia noBrasil: Algumas Tendncias Hoje, 2004.

    68. SEZ, Oscar Calavia. Mapas Carnales: El Territorio y laSociedad Yaminawa, 2004.

    69. APGAUA, Renata. Rastros do outro: notas sobre um mal-entendido, 2004.

    70. GONALVES, Cludia Pereira. Poltica, Cultura e Etnicidade:Indagaes sobre Encontros Intersocietrios, 2004.

    71. MENEZES BASTOS, Rafael Jos de. Cargo anti-cult no AltoXingu: Conscincia Poltica e Legtima Defesa tnica, 2004.

    72. SEZ, Oscar Calavia. Indios, territorio y nacin en Brasil. 2004.

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    73. GROISMAN, Alberto. Trajetos, Fronteiras e Reparaes. 2004.

    74. RIAL, Carmen. Estudos de Mdia: Breve Panorama das Teoriasde Comunicao. 2004.

    75. GROSSI, Miriam Pillar. Masculinidades: Uma RevisoTerica. 2004.

    76. MENEZES BASTOS, Rafael Jos de. O Pensamento Musicalde Claude Lvi-Strauss: Notas de Aula. 2005.

    77. OLIVEIRA, Allan de Paula. Se Tonico e Tinoco fossem Bororo:Da Natureza da Dupla Caipira. 2005.

    78. SILVA, Rita de Ccia Oenning. A Performance da Cultura:Identidade, Cultura e Poltica num Tempo de Globalizao. 2005.

    79. RIAL, Carmen. De Acarajs e Hamburgers e AlgunsComentrios ao Texto Por uma Antropologia da

    Alimentao de Vivaldo da Costa Lima. 2005.

    80. SEZ, Oscar Calavia. La barca que Sube y la Barca que Baja.Sobre el Encuentro de Tradiciones Mdicas. 2005.

    81. MALUF, Snia Weidner. Criao de Si e Reinveno do Mundo:Pessoa e Cosmologia nas Novas Culturas Espirituais no Suldo Brasil. 2005.

    82. MENEZES BASTOS, Rafael Jos de. Uma Antropologia emPerspectiva: 20 Anos do Programa de Ps-Graduao em

    Antropologia Social da Universidade Federal de Santa Catarina.2005.

    83. GODIO, Matias. As Conseqncias da Viso: Notas para umaScio-Montagem Etnogrfica. 2006.

    84. COELHO, Luis Fernando Hering. Sobre as Duplas Sujeito/Objeto e Sincronia/Diacronia na Antropologia: Esboo paraum Percurso Subterrneo. 2006.

    85. MENEZES BASTOS, Rafael Jos de. Arte, Percepo eConhecimento - O Ver, o Ouvir e o Complexo das FlautasSagradas nas Terras Baixas da Amrica do Sul. 2006.

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    ANTROPOLOGIA EM PRIMEIRA MO uma publicao do Programa de Ps-graduao em Antropologia Social da

    UFSC

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