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Ano 13 Nº 3 Jornal-laboratório do Curso de Comunicação Social da Universidade Católica de Brasília Distribuição gratuita Brasília, maio de 2012 Copa do Mundo “Seu Valentim” Págs. 12 e 13 Págs. 06 e 07 Págs. 16 e 17 PLANO PILOTO É BENEFICIADO COM VARIEDADE DE BANCAS DE JORNAL, CINEMAS E TEATROs, enquanto POPULAÇÃO DAS RA’s sofre com a falta de opções A carência cultural do DF Brasília vai receber sete jogos do Mundial, mas será que os moradores do DF vão ganhar com os investimentos? Por mês, cerca de 5 mil pessoas vão ao recinto de caridade Adolfo Bezerra de Menezes em busca de curas espirituais. Foto: Luciana Saade e María Ramasco artefato Foto: Mariana Lima

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Jornal laboratório da Universidade Católica de Brasília

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Ano 13 Nº 3 Jornal-laboratório do Curso de Comunicação Social da Universidade Católica de Brasília Distribuição gratuita Brasília, maio de 2012

Copa do Mundo “Seu Valentim”

Págs. 12 e 13

Págs. 06 e 07Págs. 16 e 17

PLANO PILOTO É BENEFICIADO COM VARIEDADE DE BANCAS DE JORNAL, CINEMAS E TEATROs, enquanto POPULAÇÃO DAS RA’s sofre com a falta de opções

A carência cultural do DF

Brasília vai receber sete jogos do Mundial, mas será que os moradores do DF vão ganhar com

os investimentos?

Por mês, cerca de 5 mil pessoas vão ao recinto de caridade Adolfo Bezerra de Menezes em busca de

curas espirituais.

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expedienteJornal-Laboratório do Curso de Comunicação Social daUniversidade Católica de BrasíliaAno 13 nº 3, maio de 2012

Reitor: Dr. Cicero Ivan Ferreira GontijoDiretora do curso de Comunicação Social: Prof.ª Angélica Córdova Machado MilettoEditores-chefe: Aline Sales e Augusto SoaresEditores de arte: Flávia Fonseca e Luma SoaresEditores web: Allan Virissimo e Mariana de Deus AlvarengaEditores de fotografia: Dimitri Alexandre e Tuane DiasSubeditores de fotografia: Altieres Losan, Jéssica Antunes e Samita BarbosaEditores de Texto: Alessandra Santos, Eric Zambon, Jônathas Oliveira, Jussara Meireles, Nilson Carvalho e Rodrigo GantoisDiagramadores: Gabriela Almeida, Mariana de Ávila, Natália Oliveira e Rick Astley

Checadores: Mariana de Ávila e Maycon FidalgoRepórteres: Ana Paula Freire, Augusto Dauster, Carina Lasneaux, Estela Monteiro, Iasmin Costa, Kleyton Almeida, Lane Barreto, Letícia Pires, Monalisa Santos, Paula Carvalho, Vinicius Rocha e Yale DuarteFotógrafos: Ana Carolina Alves, Anna Cléa Maduro, Alana Letícia, Christian Kelly, Janine Martins, Joe Fonseca, Júnior Assis, Jussara Rodrigues, Luciana Saade, María Ramasco, Maria Rita Almeida, Mariana Lima, Michelle Brito, Nayara de Andrade e Percy SouzaProfessoras Resposáveis: Karina Gomes Barbosa e Sofia ZanforlinOrientação Gráfica: Prof. Dilson Honório Oliveira - DiOliveiraOrientação de Fotografia: Profs. Thiago Sabino e Bernadete Brasiliense

Tiragem: 2 mil exemplares Impressão: Gráfica Athalaia

UNIVERSIDADE CATÓLICA DE BRASÍLIA EPCT QS 07 LOTE 1 Águas Claras - DF

CEP: 71966-700 Tel: 3356-9237 - [email protected]

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ombudsKVINNA carta dos editoreso

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A FORÇA DE ACREDITARAline Sales e Augusto Soares

A cidade que aparece nas estatísticas do IBGE com um dos melhores índices de desenvolvimento humano do país não é mesma conhecida dos moradores. Os dados do papel não são os mesmos da prática. Basta isolar o Plano Piloto para perceber que o contraste da qualidade de vida entre as cidades do DF é maior do que parece.

A matéria de capa mostra que o acesso à cultura e ao lazer para quem mora nas regiões administrativas é difícil. Aliás, para essa população, transporte público também não é fácil... Saúde? Nem se fala. Mas será que reclamar funciona? Em busca dessa respos-ta colocamos os serviços de ouvidoria do GDF à prova. No geral, o retorno não foi satisfatório. A conclusão é: entra governo, sai go-verno e a situação permanece a mesma.

Não é só o famoso João de Deus da cidade de Abadiânia (GO) que pratica a medicina espiritual. Nesta edição também trazemos uma matéria sobre o doutor espiritual “seu Valetim”, que se dedica a curar pessoas que sofrem por causa de alguma doença. Inde-pendente de espiritualismo ou não, até essa medicina pode ter seu papel na recuperação dos pacientes do ponto de vista científico.

Comida demais não é a maneira dos pais lidarem com a ansie-dade dos filhos, principalmente diante do aumento da obesida-de entre as crianças. E para quem quer encarar concurso público não precisa encarar estimulantes pra melhorar os estudos, boa alimentação é uma opção melhor. Aquele selo que sempre apa-rece antes dos seus programas favoritos começarem já gera polê-mica há anos, e em 2012 o Supremo pode decidir se o Estado tem o direito de dizer o horário de exibição dos programas de televi-são, e nossa matéria te leva a conhecer os dois lados do debate. A nossa terceira edição tem ainda mais, então boa leitura!

ERRAMOS: na edição passada, as duas fotos da página 9 são de autoria de Felipe Vieira, e não de Mariana Lima.

E o Artefato chega a sua terceira edição. A capa chama a atenção para um assunto importante e polêmico. Será que a cultura e lazer se concentram no Plano Piloto? Refe-rindo-se a lugares físicos como museus, teatros e salas de cinema, a resposta é sim. Em Brasília, há uma cena rap con-sistente nas regiões administrativas. Os saraus são assuntos recorrentes nas redes sociais e aproximam o brasiliense do mundo das palavras. E o teatro de rua pode e é feito em qual-quer lugar. Claro que não é a situação ideal, muitas coisas precisam melhorar, inclusive a questão do investimento. E é importante a população saber o que é gasto e em que é gas-to, mas não se pode continuar com essa “cegueira cultural”. É fundamental lembrar que o que é noticiado na mídia não reflete a realidade completa. “Meu pé de serra” mostra que há vida cultural fora do Plano Piloto.

Agrada a abordagem leve e informativa, além dos persona-gens fantásticos, de “Família formada pela doença”. O repór-ter soube tratar o assunto com delicadeza singular. E mostrou que o HIV continua sendo um “bicho-papão” para alguns. A matéria transcorre pela vida dos personagens. Ainda assim, sente-se falta de dados sobre o HIV e a opinião de um médi-co sobre alguns casos. Há também a repetição de informação entre legenda e título, mas isso não anula o mérito do texto, pois o repórter fez o que todo jornalista deve fazer: colocar o pé na lama, observar, ouvir e contar uma história.

“Um evento cheio de incertezas” traz bela foto e texto que faz o leitor refletir sobre o real ganho que a Copa irá trazer para os brasileiros. Agrada em todo o jornal o serviço disponibilizado, o que não acontecia na edição anterior, confirmando a ideia de que o Artefato é um grande e constante aprendizado. Len-do o jornal sente-se falta da gastronomia, a parte mais gostosa do jornal. É inevitável criar expectativa e a espera é frustrada. “Hora de criança ir pra cama” trata da classificação indicativa e opta por um jornalismo interpretativo, o que é bem interessan-te para um jornal como o Artefato. O leitor só fica sem saber que é o integrante do Intervozes. Não quis se identificar?

* Carolina Alves é estudante do 7o semestre de Jornalismo.

Carolina Alves*

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Cidades

Em fevereiro do ano passado, o garoto Ítalo Matheus da Silva, 12 anos, foi assassinado durante uma briga de trânsito em San-ta Maria. A confusão começou quando três homens – dois me-nores de idade – em um carro tentavam passar pela rua em frente à casa da família de Ítalo. O movimento na rua era atípico devido a uma festa. O carro de Anderson Santana, padrinho do menino, bloqueava a pista. En-quanto um veículo tentava pas-sar, o outro impedia o caminho. Assim começou a discussão.

Um adolescente de 17 anos, ocupante do carro que tentava passar pela rua, disparou contra Anderson. Ítalo entrou na fren-te do padrinho para protegê-lo e foi atingido pelo disparo. Ele não resistiu e morreu. Ao relem-brar o dia da morte do filho, Hu-dson do Nascimento, 34 anos, e Walberliz Lima, 29 anos, deixa-vam transparecer a tristeza.

Após a tragédia a família pas-sou a contar com assistência do Pró-vítima, um programa da Secretaria de Justiça, Direitos Humanos e Cidadania do Dis-trito Federal criado em abril de 2009 que assegura os direitos das vítimas e das famílias que sofreram violência, por meio de atendimentos multidisciplina-res e gratuitos, que envolvem assistência jurídica, psicológica e social.

Graças ao Pró-vítima, os pais da vítima sabem que os crimi-

Pró-vítima ajuda famíliasassistência

A diferença que a ajuda pode fazer na vida de quem enfrentou traumas

nosos foram presos e libera-dos uma semana após o crime. Eles aguardam o andamento do processo em liberdade. “Se não tivéssemos o auxílio do progra-ma, não teríamos nenhum re-torno ou conhecimento sobre o processo”, diz Hudson. O acom-panhamento do advogado do programa facilita o acesso aos autos e ao caminho que o pro-cesso está tomando. “Quando íamos ao fórum ficávamos per-didos, agora o advogado explica tudo direitinho”, acrescenta. Ele também aceitou a ajuda psico-lógica oferecida pelo programa e frequenta as sessões todas as quartas-feiras. Para Hudson, as reuniões ajudaram a controlar a revolta que ele tem por ver os assassinos do filho impunes.

AtendimentoDados fornecidos por Valéria

Velasco, Subsecretária de Pro-teção às Vítimas de Violência, indicam que desde a criação o Pró-vítima realizou cerca de 5 mil procedimentos, entre aten-dimentos psicológicos, jurídi-cos e sociais. Os casos atendidos são os de homicídio, tentativas de homicídio, latrocínio (roubo seguido de morte), sequestro (roubo com restrição de liber-dade), violências no trânsito, sexual, doméstica e desapareci-mento.

O atendimento do Pró-vítima é realizado em três núcleos. Os casos que chegam são dividi-dos em três tipos: o espontâneo, quando a pessoa vai ao Pró-

-vítima em busca de ajuda; os encaminhados pelas escolas e pelo Ministério Público; ou os chamados de resgate, que são ocorrências enviadas pela polí-cia para que os profissionais do programa entrem em contato com os familiares.

Não chega a todosEm setembro de 2009, o res-

taurante Papa tudo, localizado na Praça do D.I., em Taguatinga Norte, foi palco de um homicí-dio. O jovem Rafael de Oliveira Santos foi vítima de bala perdida.

Após a fatalidade, a família não recebeu nenhuma assis-tência do governo. A avó do jo-vem entrou em depressão pro-funda. Parou de comer, beber e ficou debilitada. Em quatro meses, morreu.

Depois de perder mãe e filho, Marlene Oliveira Santos chegou a tomar remédios controlados e está depressiva. Ela conta que desconhecia o programa e apesar dos cinco mil atendimentos que

Sede Secretaria de Segurança PúblicaAntiga RodoferroviáriaTelefone: (61) 2104-1934

Núcleo 114 SulEstação 114 Sul do Metrô, Subsolo Telefone: (61) 3905-1777; 3905-1434

Núcleo ParanoáQuadra 5, Conjunto 3, Área Especial D (atrás do Fórum) Fones (61) 3905-4720; 3905-1481

SERVIÇO

* no dia da entrevista ao Artefato, Mar-lene Oliveira Santos se interessou pelo programa, ligou no núcleo da 114 Sul e foi atendida em menos de uma semana. Ela disse que já está sendo ajudada pelo advogado e que tem consulta marcada com a psicóloga

Hudson do Nascimento, pai do garoto Ítalo, assassinado após uma briga de trânsito em Santa Maria

o Pró-vítima fez, nenhuma assis-tência chegou a ela. “Ninguém me procurou pra oferecer ajuda. Paguei R$ 1.000 para o advogado para me ajudar na Justiça.”

Foto: Joe Fonseca

Natália Oliveira e Rick Astley

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Cidadesgoverno

Reclamar Funciona?

No papel e na teoria, o Governo do Distrito Federal oferece aos cidadãos mecanismos legais para os brasilienses se pronunciarem. A central 156 é o serviço de ouvidoria oficial do Governo do Distrito Federal (GDF) que atende basicamente todos os órgãos locais. Por meio dele, é possível obter diversas informações sobre o governo ou ainda registrar reclamações, sugestões e denúncias.

Na ouvidoria, qualquer cidadão tem o direito de reclamar, solicitar, elogiar e denunciar. Há sempre o prazo de 15 dias para que o órgão se pronuncie. Caso esses 15 dias passem, o contribuinte deve retornar a ligação para realizar a reiteração.

Em tese, esse deveria ser o procedimento, e no mundo ideal o problema seria solucionado. Tentando ver se a teoria funciona na prática, o Artefato se propôs a colocar os serviços à prova, e realizou sete reclamações sobre diversos problemas reais encontrados pela cidade. Os instrumentos usados nessa matéria foram a ouvidoria do GDF (156) e a ouvidoria da Secretaria de Saúde (160). Confira o resultado, nada alentador para o brasiliense que quer usar os mecanismos de cidadania disponíveis no GDF para fazer valer os seus direitos.

Alvará para invasãoHá mais de quatro anos a

empresa ACNT Construções deu início a uma obra na Quadra CSA 02 em Taguatinga Sul, que impactou a rotina dos moradores

da quadra: um enorme buraco foi cavado e o muro da obra invadiu grande parte da calçada.

A equipe do Artefato usou dois canais oferecidos pelo governo para reclamar. Em 27 de fevereiro, procuramos a Administração Regional de Taguatinga e protocolamos a reclamação junto à Ouvidoria Geral. No mesmo dia, a equipe fez queixa similar no GDF Direto, serviço acessado pela internet. Fomos informados que nos encaminhariam um e-mail posteriormente com o número do protocolo. O e-mail nunca chegou.

Em 14 de março, a ouvidoria

do GDF nos aconselhou a entrar em contato com a Agefis. Ao telefonarmos para a Agência de Fiscalização, a resposta foi que ligássemos a partir de 22 de março, quando já haveria solução.

Ligamos no dia marcado. A obra foi autuada e havia prazo de 30 dias para a regularização. Não tivemos acesso a detalhes sobre o número da notificação ou dados similares, em respeito ao sigilo fiscal.

Ao fim do prazo imposto pela Agefis, fomos informados que a empresa possuía autorização para invadir a calçada. A permissão estava vencida e em fase de

renovação até o fechamento desta edição. Resultado: invasão de área pública chancelada pelo governo.

Dois problemas, uma respostaO ônibus da linha 369 faz o

trajeto P Sul -Taguatinga Sul, mas muitas vezes atrasa e enfrenta problemas de lotação. Em 27 de fevereiro, reclamamos no 156 sobre a demora do ônibus. Também indignados com o atraso e falta de horários da linha 092, que faz o trajeto Taguatinga Norte - Lúcio Costa, efetuamos em 5 de março uma outra reclamação no serviço.

Após praticamente 30 dias,

Colocamos à prova os serviços de ouvidoria do GDF

Gabriela Almeida

Pedestre tem que se aventurar na pista, pois a obra invadiu parte da calçada

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Cidades

contando com a renovação das reclamações, o DFTRANS informou que já tinha iniciado as licitações para novos veículos que facilitarão o rastreamento dos veículos pela população e que, a partir de 2013, os veículos estarão circulando cumprindo os horários. Resultado: ficamos na promessa, mas sem solução.

Boa notíciaAo tomar conhecimento do

caso de Geraldo Magela Alves, contador 52 anos que já estava há mais de quatro meses na espera por uma consulta no oftalmologista, o Artefato entrou em contato com o Disque Saúde em 5 de março. Houve demora na resposta e tivemos que refazer o pedido. No dia 2 de abril, Geraldo finalmente recebeu uma ligação da Secretaria de Saúde, marcando a data e o local da consulta.

Operação tapa-buracoPara saber se as crateras das

vias da cidade estavam fazendo aniversário ou são cobertos pela Novacap, nossa equipe fez queixas sobre três buracos nas ruas de Taguatinga. O primeiro local foi na QNC 07/08 e a reclamação foi feita no dia 27 de fevereiro. Passados 15 dias da solicitação, obtivemos a resposta de que o órgão responsável tomaria as providências o mais rápido o possível. No dia 21 de março a obra foi feita no local.

A segunda solicitação foi para um buraco localizado na QSA 15, feita no dia 5 de março. Após 15 dias do contato com a ouvidoria, fizemos a primeira reiteração, já que o pedido não havia sido atendido. No dia 12 de abril fizemos a segunda reiteração. Finalmente, em 16 de abril a Administração de Taguatinga respondeu que repassou o pedido para a Novacap fazer o trabalho o mais rápido o possível. Até o fechamento, o buraco

ainda atrapalhava os motoristas. A terceira queixa, feita junto com a anterior, foi sobre uma série de buracos na CSA 02. No no dia 28 de abril, mais um mês depois, um único buraco foi tampado.

E então, reclamar funciona?Após todo o caminho

percorrido pela equipe do Artefato por mais de três meses nos locais indicados pelo governo do DF para queixas, a resposta é: mais ou menos. As sete reclamações foram feitas e todas tiveram respostas, mas a maioria das repostas não foi satisfatória.

Em uma das poucas solicitações atendidas, o buraco na QNC 07-08 só foi tampado após quase 30 dias

PONTO DE VISTAPONTO DE VISTA

A equipe do Artefato levanta uma questão que a população do DF quer saber: afinal, recla-mar funciona? Após a prova dos nove, chegamos à conclusão que parecia óbvia, caso contrário a capital não estaria o caos, no que podemos considerar uma das piores gestões do DF nos últimos anos. Reclamar para as ouvido-rias do GDF não funciona.

O que recebemos em resposta às queixas, na verdade, é uma enxurrada de medidas paliati-vas, informações incompletas, empurra-empurra de um órgão para outro. A sensação que fica é a de que somos verdadeiros palhaços, vivendo da boa von-tade e dependendo dos “favo-res” que os órgãos do governo nos prestam.

Quem já passou pela via Es-trutural, sentido Plano Piloto - Taguatinga, viu uma parada de ônibus improvisada com pe-daços de tábua e papelão. En-quanto funcionários públicos matam o tempo jogando Paci-ência atrás do balcão, a popu-lação é assaltada à luz do dia, na capital e nas RA’s, constru-ções invadem calçadas, bura-cos engolem os carros dos tra-balhadores e pessoas morrem nas filas dos hospitais. Parece que a ordem geral das coisas está invertida. Quem precisa de Paciêcia, mesmo, é a população esquecida pelos políticos do DF.

* Repórter do Artefato

Estela Monteiro*

Outra conclusão é que o cidadão que deseja ser ouvido pelo governo e exercer seu direito, por intermédio de uma ouvidoria, deve ser dotado de algumas virtudes. Paciência, insistência e tempo são algumas delas.

O Cientista Político e professor de Comunicação Social na Universidade Católica de Brasília, Aylê Salassie Quintão, explica que os órgãos públicos tratam as ouvidorias como um canal de relações públicas. Então ao invés da reclamação do cidadão virar uma denúncia ou até mesmo um processo, a assessoria de

imprensa do órgão publica apenas um parecer ao cidadão, muitas vezes justificando a ausência ou prometendo providências.

Fotos: Ana Cléa Maduro

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Cidadesmedicina

A força da cura pela féSeu Valentim, doutor de corpos e almas aflitas, trabalha em conjunto com

quase 60 médicos espirituais para tratar enfermos

Há 47 anos, Brasília recebia Valentin Ribeiro de Souza. Ele veio trabalhar como funcionário de uma revenda de gás, mas tinha outro caminho a seguir: Seu Valentim, como é conhecido, atua como médico espiritual e, com o tempo, tornou-se popular pelos casos de cura relatados por pacientes. Hoje, seu instrumento de trabalho são as tesourinhas, com as quais ele faz cirurgias, bênçãos e tratamentos.

Leonice Silva Rocha, 69 anos, é uma das pacientes que foi curada por Seu Valentim. Em 2008, exames comprovaram que o rim dela não estava funcionando. Teria de fazer hemodiálise, processo de filtragem que retira todas as substâncias indesejáveis acumuladas no corpo. Antes de começar a terapia, foi liberada pelo médico para passar quatro dias fora do hospital. Por medo, Leonice não apareceu no dia combinado e passou seis meses sem visitar os médicos. Nesse

período, a aposentada foi em busca de tratamento com Seu Valentim.

A equipe que atendeu a paciente é composta por mais 60 médicos espirituais de diversas especialidades, como o dr. Adolfo Bezerra de Menezes, mentor do recinto de caridade, que leva seu nome, ginecologista, obstetra e homeopata; o dr. Aguiar Freitas, oncologista; e o dr. Capilé Siqueira Campos, oftalmologista e dentista. Os atendimentos são feitos gratuitamente e a casa se mantém

com doações dos pacientes.A mulher que buscava o

tratamento no rim chegou ao Bezerra de Menezes com 30% do órgão funcionando. Seis meses depois de tratamentos com os médicos espirituais, voltou a fazer exames, dessa vez no Hospital Regional da Asa Norte (HRAN), e descobriu que 50% do rim voltara a funcionar. Hoje, ele funciona completamente. “O doutor Aguiar me mandou visitar os médicos físicos. O médico do HRAN ficou admirado com os

Iasmin Costa

Pacientes vão atrás de cura para câncer, aids, diabetes, esclerose múltipla e outras doenças sem solução na medicina comum

Fotos: Mariana Lima

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Cidades

resultados”, conta a aposentada. Agora, ela frequenta o recinto de caridade todas as semanas por gratidão à cura. “Minha filha pergunta por que continuo vindo todos os dias ao Seu Valentim, já que estou curada. Digo a ela que, enquanto eu puder andar e ele viver, eu estarei aqui. Depois de Deus, foram ele e os médicos que me curaram.”

Assim como Dona Leonice, milhares de pessoas vão ao Recinto de Caridade Adolfo Bezerra de Menezes, no Setor Sul do Gama, às segundas, quartas e aos sábados. Todos os meses passam por lá cerca de 5 mil pessoas com o objetivo de serem curadas e receber bênçãos. Quem fica grato com o feito se torna voluntário do recinto, passando a ajudar na organização dos atendimentos.

Seu Valentim, homem de poucas palavras, esclarece que, para conseguir a cura, também é preciso seguir algumas restrições

alimentares. Não comer pimentão, carne de porco, abacaxi ou ingerir leite e bebidas alcoólicas estão na lista de recomendações. Além disso, o acompanhamento da medicina física é indispensável. “O tratamento terrestre e espiritual caminham juntos”, afirma o pernambucano de Custódia.

TratamentosNa casa são oferecidos diversos

tratamentos divididos por horário de atendimento e gravidade. Os primeiros a serem atendidos são as pessoas com doenças como câncer, fibromialgia, esclerose múltipla e doenças degenerativas, seguidos dos acompanhantes da radioterapia, das pessoas que vão pela primeira vez e da retirada de pontos da cirurgia espiritual.

Às 7h, começa a palestra para as pessoas da radioterapia. Ali elas passam por preparação psicológica antes de receber a cura. “Para conseguir você também precisa estar com

o pensamento positivo. Pensamentos negativos atraem coisas ruins”, afirma Cherifa Mohamed, durante a palestra. A cirurgiã plástica também foi curada pela medicina espiritual. Hoje, é “braço direito” de seu Valentim e o auxilia diretamente em todas as tarefas.

Após a palestra é o momento de iniciar as cirurgias. As pessoas depositam as esperanças no dr. Aguiar Freitas, o médico espiritual que incorpora em Seu Valentim. O médico italiano, que morreu na 2a Guerra Mundial, é responsável pelo tratamento portadores de câncer. Com uma pinça, mais parecida com uma tesourinha, o oncologista começa as cirurgias. Não há cortes, somente iodo e algodão são utilizados para o tratamento.

Medicina espiritual x ciênciaUm grande número de pessoas

procura Seu Valentim em busca de tratamento para o câncer.

Segundo o médico espiritual, todas as doenças podem ser tratadas, inclusive o câncer. “Tudo na vida tem cura, só não tem cura pra morte”, afirma.

De acordo com pesquisa do Instituto Nacional de Câncer (Inca) e do Ministério da Saúde, estima-se que em 2012, serão 520 mil novos casos do câncer no Brasil – muitos dos quais já têm cura. Segundo o oncologista chefe do serviço de oncologia do Hospital Universitário de Brasília, dr. Murilo Buso, existem relatos na literatura de regressão espontânea da doença. Ainda assim, é um percentual pequeno, menos de 2% dos casos. A possibilidade de cura espontânea não é algo em que a medicina aposta, por isso o tratamento é fundamental. Hoje, a quimioterapia, radioterapia e a cirurgia são os tratamentos oferecidos para o câncer, e para prescrever esses tratamentos é necessária uma avaliação rigorosa do tipo de tumor e estágio em que ele se encontra.

O oncologista afirma que a medicina não tem condições de confirmar se o tratamento espiritual pode ser bom ou ruim para o paciente, pois ainda não existem estudos com fundamentação teórica sobre o assunto. “Não tenho como criticar e nem dizer que é eficiente, pois não existem estudos sobre isso. Mas talvez os tratamentos não convencionais, como o espiritual, tenham um papel de suporte ao doente.” O médico explica que pacientes com o emocional mais equilibrado têm mais chances de serem curados. “Existem estudos que corroboram que o pensamento positivo ajuda a pessoa a conseguir a cura de doenças. Se a abordagem espiritual ajuda a melhorar a situação psico-comportamental do paciente, é possível que ela traga benefícios”, finaliza.Pessoas aguardam atendimento no centro de caridade Adolfo Bezerra de Menezes

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As obras da rodovia DF 459, pista de ligação de Ceilân-dia à Samambaia, devem ser concluídas em breve. Em vi-sita à obra no mês passado, o governador Agnelo Queiroz, juntamente com o vice, Tadeu Filippelli e o diretor-geral do Departamento de Estradas e Rodagens (DER), Fauzi Nacfur Junior previram o prazo final para o fim de maio.

A construção, iniciada em 2007, foi paralisada em 2009 por suspeita de superfatura-mento, segundo o DER. Em setembro do ano passado, o Tribunal de Contas do Distri-to Federal (TCDF) constatou, após dois anos de investigação, a ausência de irregularidades e autorizou a continuidade da obra. “Estimamos que cerca de 40 mil usuários deverão ser beneficiados com essa pista”, disse a assessoria do DER.

Mariana de Deus AlvarengaFoto: Júnior Assis e Percy Souza

Cidadestrânsito

Estrada sem fimConstrução da pista que liga Ceilândia a Samambaia começou em 2007

e até hoje não foi concluída

O órgão disse ainda que a ponte já havia sido con-cluída na primeira etapa da obra. Nesta segunda etapa, os guard-rails (muretas de prote-ção) foram instalados, os dois lados da ponte foram asfal-tados e colocado meio-fio. A Companhia Energética de Bra-sília (CEB) irá providenciar a instalação de postes.

EngarrafamentoA estudante Viviane Fernan-

des, moradora do Setor P Sul, gasta meia hora no frequente

engarrafamento na via Estádio – pista entre Ceilândia e Tagua-tinga. Ela diz que a DF459 se-ria uma ótima saída para que o tráfego melhorasse. “Acho que facilitaria bastante, por-que teríamos mais uma op-ção para chegar à Taguatinga”, disse. Ela ressalta que com menos fluxo de carros por ali, economizaria tempo para chegar ao seu destino. Porém, Viviane já perdeu a esperan-ça de que a pista fique pronta logo. “Essa obra parece não terminar nunca”, comentou.

A rodovia tem 2,6 quilôme-tros e começa próximo ao Setor P Sul, em Ceilândia e segue até Samambaia, entre as regiões sul e norte. Segundo o especialis-ta em trânsito Arthur Moraes, a pista pode ser considerada posi-tiva porque é uma opção para os motoristas que seguem para Ta-guatinga. No entanto, ele acredi-ta que, assim como outras pistas do DF, faltou implantar ciclovi-as. “Uma falha é a ausência de ciclovias. Isso desafogaria ainda mais o trânsito e é uma medida para a sustentabilidade”, opina.

A construção da pista que liga Ceilândia a Samambaia, paralisada por suspeita de superfaturamento, deve ser concluida esse ano

Uma falha é a ausência de ciclovias. Isso

desafogaria ainda mais o

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Desigualdade medida em números

O Distrito Federal é uma uni-dade atípica da federação. Se-gundo dados do Instituto Brasi-leiro de Geografia e Estatística (IBGE), Brasília possui o maior Produto Interno Bruto (PIB) per capita do país (R$ 50.438) e a maior renda salarial média de R$ 2.245, contra R$ 1.116 do Brasil. Também é a primeira em qualidade de vida, conforme le-vantamento do Programa das Nações Unidas para o Desen-volvimento (PNUD), que usa o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) e aponta o DF como o líder do ranking no país, com 0,874, igual ao da Hungria e superior ao de países como Rús-sia (0,817) e Uruguai (0,865).

Os indicadores, porém, não são motivo de comemoração para todos os brasilienses. Com 93% do PIB vindo do setor de serviços, pagos basicamente por servidores públicos bem re-munerados, o DF depende do governo para sobreviver. Ape-nas 16,8% da força de trabalho local são de servidores, que devido aos altos salários detêm 40,8% da renda.

Segundo o Instituto de Pes-quisa Econômica Aplicada (Ipea), entre 1995 e 2008, o co-eficiente de Gini do DF, medi-da utilizada para calcular a de-sigualdade, aumentou de 0,58 para 0,62. Estes números indi-cam que, além de não melhorar, a situação pode ter se agravado com o passar dos anos na uni-

Mesmo com indicadores socioeconômicos de primeiro mundo, Brasília não consegue distribuir os bons resultados de modo

igualitário entre a população

Allan Virissímo e Letícia Pires

Mesmo com média de IDH alta no DF, qualidade de vida no Plano Piloto é muito diferente das outras cidades

Foto: Ana Carolina Alves

cidadesqualidade de vida

dade da federação mais desi-gual do país.

O contraste entre o centro da capital e a periferia é resultado da diferença em como o Distrito Federal é representado nas esta-tísticas. Pelo IBGE, “Brasília” é o conjunto das cidades do DF. Do ponto de vista administrativo, entretanto, Brasília corresponde somente aos 450 km2 do Plano Piloto e sua área rural, o que im-pacta nos indicadores do IDH.

Maria do Socorro Almeida é empregada domestica e vive em Ceilândia. Com uma renda men-sal de dois salários mínimos, ela depende de hospitais e escolas do estado. “Os serviços públicos são muito ruins. Até tem pos-to de saúde, mas ficamos horas

esperando atendimento. Nos hospitais, o que mais a gente vê é um bando de pessoas na fila de espera.” Sobre a segurança, a moradora conta que a situação também é complicada. “Quase não vejo policiais nas ruas”, disse.

Raízes históricasEm entrevista ao UOL, o pre-

sidente do Ipea, Marcio Poch-mann, explicou que quando Brasília foi projetada, Juscelino Kubitschek planejava atrair a indústria para o Centro-Oeste. “A partir do governo militar en-tenderam que essa região seria assentada na agricultura, que não gera empregos e renda su-ficientes”, explica. Como resulta-do, criou-se um cenário no qual

o DF se tornou dependente do Fundo Constitucional da União.

Para o pesquisador do Núcleo de Estudos Urbanos e Regionais (NEUR) da Universidade de Bra-sília (UnB) Sérgio Jatobá, as desi-gualdades socioeconômicas no interior do DF se traduzem na forte segregação socioespacial que o caracteriza desde a sua origem. “Além das diferenças de renda per capita, há diferenças na quantidade e qualidade de equipamentos de educação e de saúde que afetam os indicadores de escolaridade e expectativa de vida”, afirma. Isso também acon-tece do DF em relação à sua peri-feria metropolitana e desta com as cidades pobres da sua região de influência, como o Entorno.

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cidadania

Família formada pela doençasolidariedade

A Fraternidade Assistencial Lucas Evangelista acolhe aproximadamente 180 pessoas que compartilham uma vida com HIV

O terreno é pouco ilumina-do. Dificilmente consegue-se distinguir um amontoado de terra de uma casa. É noite e não há luz na entrada. Há apenas vultos das 28 famílias que têm algo em comum: pelo menos um dos integrantes é soropo-sitivo. Chegando mais perto, percebe-se dois meninos, três meninas e meia dúzia de adul-tos sentados em uma espécie de meio-fio, perto das casas. Os pequenos correm descalços no imenso terreno vermelho e jogam amarelinha, desenhada por meio de curvas tortuosas com giz branco, quase invisível. Mas as crianças parecem não se importar com alguns riscos falhos. Elas pulam as casas da brincadeira em direção ao céu, sob olhos atentos dos pais.

A extensa área tem casas que acolhem de 10 a 12 pessoas. No total, são 180 moradores da Fraternidade Assistencial Lucas Evangelista (Fale). Um deles, a coordenadora Cilma Araújo, 38 anos, vive no terreno há 20: “Não sei como seria minha vida sem a Fale. Na verdade, nem sei se eu estaria viva, moço”.

Aos 16, Cilma procurava uma associação para ajudar o mari-

do, que era portador de HIV. No entanto, aos 18, descobriu que a ajuda seria para ela: “Ele me passou o vírus. Hoje, sei que há escolhas que nos prejudicam”, resume. “Já estive em quatro fases terminais. Por isso, gosto de ter criado meus filhos aqui. Se acontecer alguma coisa, eles terão ajuda”, conta.

A filha mais nova de Cilma tem apenas 15 anos. Adolescente, se rebela com o que está vivendo. A menina é soropositiva e, hoje, não consegue andar e falar, devido a complicações do HIV no cérebro: “Ela está vivendo uma fase revoltada, perdendo aos poucos o movimento. Não consigo tratamento adequado para ela. Sofro pelo estado da minha filha”, lamenta. “Se alguém me falasse que poderia

Maycon Fidalgo

me dar felicidade, falaria para fazê-la feliz em vez de mim”, revela.

FamíliaToca a sirene da refeição. As

famílias se aglomeram na en-trada do refeitório segurando pratos. A palavra é do Pastor, que faz uma breve oração. De-pois, ele caminha pesadamen-te, mancando em direção ao escritório da Fale. Logo ele de-clara: “Tudo começou com um problema de tosse”. De espírito aventureiro, pretendia desbra-var o Brasil e perambulou pelo país, buscando experiências e anseios de um jovem de 22 anos. Em Anápolis, porém, notou que não estava bem. Mesmo sendo usuário de drogas, nunca teve dores no peito. Porém, em 1990, não aguentava de dor: “Pensei

que fosse pneumonia. Mas, sa-bia que era mais que isso”, conta Carlos Augusto, 55 anos, mais conhecido como Pastor. Voltou para a cidade natal.

No morro da Gávea, no Rio de Janeiro, onde morava, pas-tores presbiterianos o aborda-ram: “Já não tinha mais nada e tinha alguma coisa errada. Resolvi ouvi-los”. Com ajuda da igreja, foi encaminhado para uma casa de reabilitação, onde descobriu, depois de um tempo fazendo atividades religiosas,

A Fraternidade Assistencial Lucas Evangelista (Fale) acolhe mais de 180 pessoas portadoras do vírus HIV.

Quando você olha a expressão do médico falando: ‘deu positivo’,

você fica sem chão.Carlos Augusto

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Foto: Jussara Rodrigues

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cidadania

que era soropositivo. “Quando você olha a expressão do médi-co falando: ‘deu positivo’, você fica sem chão.” A resposta foi imediata: saiu, “que nem um louco”, pelas ruas, procurando uma forma de aliviar a dor. Na-quele momento tinha certeza da morte. Sem dúvidas do fim que o esperava, Pastor pensou: “Se morrer é certo, vou me dro-gar mais”.

Mas ao sair do convívio reli-gioso e encontrar a Fale, o Pas-tor refletiu: “Percebi que minha atitude só piorava a situação”. Hoje, criou vínculos difíceis de quebrar: “Sei que tenho uma família e nunca a abandonarei”.

BençãoAos 42 anos, Paula dos San-

tos sempre tem um sorriso no rosto. Descobriu que é soro-positiva há 10 anos e, para ela, coisa melhor não poderia ter

Para colaborar com a Fale, ligue no 3331-3556 ou 3273-6249. A fraternidade fica no Recanto das Emas.Endereço: Núcleo Rural Vargem da Benção, Quadra 108, Chácara nº 11.

SERVIÇO

acontecido na vida: “Foi uma benção”, enfatiza. Mas como uma doença que tem 608.230 casos registra-dos no Brasil e impede o corpo de se proteger pode fazer alguém feliz? “Você aprende a se valorizar mais e amar quem está do seu lado”, responde prontamente.

Paula vem de família circen-se: trabalhou como assistente de mágico por quase 27 anos. A saída aconteceu por um im-previsto: o marido, palhaço do circo, morreu de complica-ções derivadas da aids e, antes do acontecimento, transmitiu o vírus a ela. Ao contrário dos amigos, Paula nunca precisou tomar remédios e não tem ne-nhum problema. “Apesar de ter

o vírus há quase uma década nunca senti nada, nem tomei nenhum coquetel”, garante.

Viciada em acade-mia, ela malha das 18 às 21h, de segunda à sexta. Não deixa de lado o cuidado com o cabelo. Mantém sem-pre as madeixas loiras, sem deixar que a raiz

apareça. “Aprendi a me amar.” O namorado de Paula não é so-ropositivo, mas isso não os im-pediu de ter relação sexual: “É simples. Só temos que ter cui-dado com os preservativos”.

SurgimentoA tia Jussara, fundadora da

Fale, é uma mãe. Pelo menos de acordo com Cilma: “Ao mes-mo tempo em que ela acolhe e conversa, estabelece limites e regras. Ninguém se atreve a desrespeitar a tia”.

Logo no início, a fraternida-de era a casa de Jussara. “Sem-pre ajudava uma jovem que foi abandonada pela família e pre-cisava de tudo: roupas, abrigo e comida. Porém, isso se expan-diu e muitas pessoas começa-ram a me procurar. Eu oferecia a minha casa como lar”.

Ela viu que eles precisariam de um novo local para abrigar os soropositivos. Em Goiânia, a Fale foi criada em 1991 e hoje acolhe cerca de 300 pessoas. “Lá, tudo funciona como em Brasília. Há regras e as pessoas respeitam. Ai delas se isso não acontecer”, brinca.

ComplicaçõesCilma lembra que, apesar de

Jussara ter ganhado o terreno do Governo do Distrito Federal (GDF), em 1995, quando a Fale foi fundada em Brasília, eles não têm auxílio governamen-tal e carecem de doações. “Na época das eleições, muitos po-líticos nos visitam para trazer alimentos e brinquedos para as crianças. Mas ficamos um bom tempo sem contribuições e aju-da financeira.”

Jussara lembra que há mui-ta burocracia para eles con-seguirem fazer mudanças na estrutura do lugar: “Não temos vínculos com o governo, mas isso não quer dizer que não queremos ajuda. Precisamos de dinheiro para pintar e re-formar as casas. O problema é que esse dinheiro só vem em época de eleições”.

Carlos Augusto, conhecido como Pastor, recebeu ajuda da igreja e foi encaminhado para uma casa de reabilitação onde descobriu que era soropositivo

Você aprende a se va-lorizar mais e amar quem

está do seu lado.Paula dos Santos

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cultura

À beira do abismocarência

Investimento na cultura e lazer do Plano Piloto é maior do que as demais

regiões administrativas do DF

Luma Soares

Depois de 52 anos da inau-guração de um dos principais pontos culturais, o Cine Bra-sília finalmente terá a primei-ra grande reforma este ano. O impacto será sentido em outro grande símbolo cultural do DF. O Festival de Brasília do Cine-ma Brasileiro, que sempre foi realizado na maior sala de ci-nema da capital, terá novo des-tino enquanto as obras não ter-minam: o Teatro Nacional.

Serão investidos mais de R$ 3 milhões na reforma, que ainda não darão conta de demandas antigas como praça de alimen-tação e salas para aulas e cine-clubes. Enquanto o Cine Brasí-lia ganha cara nova, o resto do DF sofre com a falta de inves-timento e com poucos espa-ços de cultura e lazer. Pesqui-sa feita pelo Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) aponta que 53% das pessoas que cos-tumam frequentar atividades culturais moram no Plano Pilo-to. O investimento do Fundo de Apoio à Cultura (FAC) foi, em 2011, de R$ 35 milhões. No Pla-no Piloto, o valor superou mais

de R$ 5 milhões, enquanto em Vicente Pires foram investidos apenas R$ 5 mil.

Filmes e peçasCom uma população de mais

de dois milhões de habitantes, o DF tem atualmente 77 salas de cinema e 15.175 lugares, contabilizando 33.285 habitan-tes por sala de cinema. Só que dos 14 complexos de salas dis-poníveis para a população, sete estão localizados no Plano. Em Taguatinga, apenas dois shop-pings disponibilizam 11 salas com 2.039 lugares, para uma população com mais de um milhão habitantes, contando com os moradores de Ceilân-dia, Águas Claras e Samam-baia, que se deslocam para Ta-guatinga em busca dos filmes exibidos nas telonas.

Cidades como Recanto das Emas, Riacho Fundo, Santa Maria e Gama também não possuem cinema. As quatro regiões somam juntas mais de 500 mil habitantes, que, para poder assistir aos filmes, preci-sam ir para regiões mais próxi-mas ou para o Plano.

Nos últimos seis anos, 37 sa-las de cinemas foram fechadas no DF, entre elas algumas que diminuíam esse abismo, como as do Gama Shopping e do Jar-dim Botânico Shopping, resul-tando em uma perda de apro-ximadamente seis mil lugares. Apenas 17 novas salas e 3.154 lugares foram inaugurados na cidade de 2008 a 2010 – e ne-

nhuma das salas mais novas é fora do Plano.

Dados do portal Filme B apontam que em 2011 o públi-co total de espectadores do DF superou a marca de 5 milhões e atingiu bilheteria de mais de R$ 58 milhões. Brasília ficou em terceiro lugar em bilhete-rias, perdendo apenas para São Paulo e Rio de Janeiro. O Plano Piloto liderou o ranking local, seguido por Taguatinga.

“Já parou para pensar quan-tas cidades satélites têm sala de cinema? Mas se pensarmos em termos de DF é ainda mais crítico. Estamos vendo que a cada dia a manutenção de sa-las vem sofrendo um processo de declive acentuado. Inves-tir na educação visual desde nossos primeiros anos é um excelente começo para criar a relação entre público e cine-ma. Quando tivermos espec-

tadores com tal estreitamento dentro desse campo, veremos pessoas que lutarão e pressio-narão o governo para que haja fomento nessa área”, revela a cineasta Bruna Carolli, que há quatro anos trabalha na área de audiovisual em Brasília.

Se a quantidade de salas de cinema é insuficiente para o número de habitantes do DF, a situação das videolocadoras é ainda mais crítica. Para Ale-xandre Costa, dono de quatro videolocadoras no Plano Piloto e vice-presidente do Sindicato das Empresas Videolocadoras do Distrito Federal (Sindivideo) nos últimos três anos, 80% delas fecharam as portas. Estima-se que em 2012, existam apenas 60 lojas abertas em todo o DF.

Alexandre destaca que um dos fatores que vem influen-ciando o fechamento das vide-olocadoras é o avanço da inter-

Enquanto o cinema do Shopping Iguatemi disponibiliza 1.157 lugares, Shopping Top Mall, em Taguatinga Norte (foto), tem apenas 250

Nos últimos seis anos, 37 salas de cinema

foram fechadas no DF, e apenas 17 novas salas

foram inauguradas na cidade.

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Cultura

tros lugares. Mas o que recebe atenção da mídia é o teatro que circula no mercado comercial, e o público é a classe média-al-ta do Plano Piloto”, declara Lu-ana Proença, professora e atriz de teatro. Ela é otimista quanto à amplitude das artes cênicas na capital e defende que “o que está na mídia não é reflexo” do verdadeiro alcance do teatro.

João Soares, 58 anos, morador de Ceilândia, sustenta a família com pouco mais de um salário mínimo e nunca teve condições de levar os filhos para passear fora da região. “Gostaria muito que meus filhos conhecessem os espaços culturais de Brasília, mas nas condições em que vivo, é muito difícil. As coisas cus-tam muito caro.” Ele conta que, quando a família quer diversão, fica por ali mesmo. E o problema é justamente esse: “Seria muito bom se aqui tivesse mais opções de cultura e lazer com a mesma qualidade que tem no Plano”.

Livros, revistas e jornaisMesmo com um diversifica-

do número de bibliotecas no DF, o número dos acervos ainda preocupa. Enquanto a Bibliote-ca de Ceilândia possui 78 mil exemplares, a de Águas Claras tem apenas três mil, para aten-der uma região que abriga mais de 100 mil moradores. Segun-do estatísticas das bibliotecas públicas do DF, das 31 regiões administrativas de Brasília, 26 possuem bibliotecas. Em 2010 foram somados uma média de 520 mil exemplares e 320 mil usuários. Mas, ainda assim, Brazlândia, Santa Maria Sul e Sobradinho II são as regiões que possuem os menores nú-meros de acervos em relação às outras cidades.

As únicas regiões que ain-da não possuem bibliote-cas públicas no DF são: Lago Sul, Lago Norte, Sudoeste/

net e o aumento da pirataria de rua e digital. “Todos os dias uma loja é fechada em Brasília. Muitos cansaram de ficar bri-gando com a pirataria e fecha-ram as portas. Acredito que as videolocadoras ainda têm mais algum tempo pela frente, prin-cipalmente com o surgimento de novas tecnologias como o Blu-Ray e o 3D, que estão sen-do muito procuradas”, afirma.

Apesar de o encolhido mer-cado das videolocadoras ter se tornado restrito às RAs do DF, os teatros, em sua maioria, se acumulam no Plano Piloto, onde 24 deles estão localizados, com 17.879 lugares. Do total de 19.827 lugares oferecidos para a população de Brasília, apenas 1.948 estão distribuídos fora do Plano: em Taguatinga,Ceilândia, Gama, Sobradinho e Cruzeiro.

“A gente tem teatro que vai às escolas, nas ruas e em vários ou-

Octogonal,Varjão, Park Way, SCIA, Jardim Botânico, SIA e Vi-cente Pires. A biblioteca Braille “Dorina Nowill” em Taguatinga, é a única projetada para defi-cientes visuais em todo DF.

Além de o Plano Piloto ter o maior número de salas de cine-ma e teatros, 50% das livrarias também estão concentradas na região, revela o Sindicato do Comércio Varejista de Material de escritório, Papelaria e Livra-ria do Distrito Federal (Sindi-pel). Atualmente 190 livrarias estão distribuídas em Brasília. Planaltina é a única região que possui apenas uma livraria. De acordo com o Sindipel, em Bra-sília encontram-se 472 papela-rias (que também disponibili-zam livros didáticos) e 17 lojas do comércio varejista.

O costume de comprar livros ainda não foi abandonado pe-los brasilienses, mas sair cedo de casa para comprar jornal em uma banca mais próxima tem se tornado algo raro nos últimos anos. As vendas caíram mais de 60% em todo DF, e es-tão perdendo seu espaço para as novas mídias, principalmen-te para as assinaturas de jor-

nais pela internet. Segundo o Sindicato do Jornaleiro do Dis-trito Federal (Sindijor) ainda existem em Brasília aproxima-damente 700 bancas de jornais, sendo que 150 estão no Plano. Ceilândia ainda possui 80 ban-cas, diferente de Santa Maria, que tem apenas três.

“As bancas ainda tentam permanecer no mercado in-centivando as pessoas a não abandonarem os conteúdos impressos”, afirma Adeigi Aba-dio Pereira, 50 anos, dono de uma das 15 bancas de jornal da Comercial Norte, em Ta-guatinga. Adeigi herdou a ban-ca do pai e há 28 anos trabalha como jornaleiro. “As vendas caíram muito, tudo por conta da internet. Minha renda men-sal diminuiu 40% nos últimos anos. O que ganho aqui é pou-co, mas a necessidade da lei-tura é muito grande. Acredito que a presença viva das ban-cas de jornal continua sendo importante para a cultura das pessoas”, declara.

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Adeigi trabalha como jornaleiro há 28 anos e acredita que mesmo com o avanço da internet as bancas de jornal continuam sendo importantes para as pessoas

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No dia 25 de março os visitan-tes da Praça Central da Ceilândia puderam assistir a uma série de apresentações de forró feitas em um palco montado em cima de um caminhão. As bandas, for-madas por grupos de três ou cin-co integrantes, tocavam estilos como o baião, xaxado e xote.

O evento foi a primeira edi-ção do projeto “Itinerância Forrozeira”, coordenado pela Associação dos Forrozeiros do Distrito Federal (ASFOR-RÓ), e realiza, ao longo do ano, apresentações de bandas de forró Pé de Serra do D. O projeto comemorao centená-rio de nascimento do músico Luiz Gonzaga, que conso-lidou o baião como um dos principais gêneros da música popular brasileira.

O Pé de Serra é um gênero tra-dicional e reúne bandas de três ou mais integrantes que tocam os ritmos nordestinos com ins-trumentos como o triângulo, a sanfona e o pandeiro. Segundo o presidente da ASFORRÓ, Mar-ques Célio, o projeto visa não apenas homenagear o legado de Gonzagão, mas apresentar aos jovens a cultura nordestina e dar espaço às novas bandas junto aos grandes nomes do Forró do Distrito Federal. “Que-remos mostrar para os jovens e a sociedade, como o Pé de Ser-ra circulava pelo Brasil afora de forma simples.”

A estrutura do projeto conta com um palco montado em cima

no meu pé de serracentenário

Para comemorar o centenário de nascimento de Luiz Gonzaga, artistas e representantes do forró promovem apresentações ao longo do ano

Augusto Soares e Ana Paula Freire

cultura

do chamado “pau de arara”, ca-minhão adaptado para transpor-tar pessoas, bastante utilizado no nordeste. O formato dos shows lembra as antigas apresentações de forró na década de 40. Pistas de dança, praça de alimentação com comidas típicas, lojas de artesanatos e um centro de in-

formações sobre Luiz Gonzaga completam o espaço itinerante.

Em defesa do Pé de SerráA ASFORRÓ foi formada em

2006 diante da queda da popu-laridade do estilo musical e da criação de outros gêneros mais novos, como o Forró eletrônico. Luiz Gonzaga Rocha, conhecido como Luizão do Forró, é instru-mentalista filiado e explica que a missão da entidade não é se opor às mudanças. “Minha for-mação é Pé de Serra, não tenho nada contra os outros, mas não tenho pretensão de trocar. Não queremos voltar ao passado, só queremos que o Pé de Serra seja

Ilustração: Hugo Araújo e Jéssica Paulino

A próxima edição do Itinerância Forrozeira está prevista para o mês de junho na cidade de Samambaia. Para mais informações acessem:http://www.asforrodf.com.br

SERVIÇOQueremos mostrar para os jovens e a sociedade, como o Pé de Serra circulava pelo Brasil afora de forma simples.

Marques Célio

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tocado com sua formação origi-nal e mantido vivo” explicou.

Com apresentações previstas para todo o ano, a última edição do “Itinerância Forrozeira” será no dia 13 de dezembro, data de aniversário de Luiz Gonzaga, e dia nacional do forró.

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Troca de papéisTodo esse envolvimento entre

empregada e família tem uma explicação. A psicóloga Rosarita Medeiros esclarece que a vida moderna faz com que as mu-lheres assumam mais tarefas. “A mulher, hoje em dia, desempe-nha uma gama de ocupações e às vezes não sobra tempo para exercer papéis típicos da família, como levar o filho à escola ou à natação. Essas responsabilida-des são transferidas para as se-cretárias do lar.”

Esse fator era visível no rela-cionamento entre Fátima e os filhos da patroa. Paula Andra-de, que é produtora, conta que ficava tranquila quando deixa-va os filhos em casa com a em-pregada. Para a patroa, cuidar das crianças era o que ela fazia de melhor no serviço. “Sempre confiei em deixar a Fafá com os meus filhos. Ela sempre os tra-tou com muito bem.”

serviçoFoto: Alana Leticia

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comportamento

Em 27 de abril, as “empregue-tes” mais famosas do Brasil, Cida, Penha e Rosário, comemoraram com as empregadas domésticas de todo o país o Dia Nacional do Trabalhador Doméstico, voltado para trabalhadores que prestam serviços contínuos sem gerar lucro ao empregador. Dados do Instituto Brasileiro de Geogra-fia e Estatística (IBGE) de 2009 mostram que, no Brasil, uma em cada cinco mulheres da popula-ção economicamente ativa é tra-balhadora doméstica. De acordo com o sindicato da categoria, no Distrito Federal existem 110 mil empregadas domésticas.

Maria de Fátima de Souza, 29 anos, trabalhou 11 anos na casa de Maria Paula Andrade. Após um ano de serviço, Fátima foi morar durante dois anos no Rio de Janeiro. Quando retornou a Brasília com o intuito de voltar para o Maranhão, sua terra natal, recebeu da ex-patroa a proposta para voltar a trabalhar na casa dela. Fátima não hesitou. “Não era tratada como uma emprega-da, eles falavam que eu era da fa-

mília. Sempre recebia muitos presentes, in-clusive no dia do meu ani-versário”, explicou.Fafá, como Fátima é conheci-da, está grávida de nove meses e decidiu se desligar do empre-go para acompanhar o primeiro ano de vida do bebê. Ela espe-ra que essa saída para ganhar o bebê seja temporária, e que logo volte a trabalhar com a fa-mília. “Estou pensando em ficar um ano em casa cuidando do bebê. Mas volto a trabalhar com ela, se ela não tiver arrumado outra”, brinca.

A amizade que surge no

trabalhoUma relação de

confiança, respeito e tempo são o segredo

para secretárias do lar e patroas terem bom

relacionamento

Eu não era tratada como uma empregada, eles falavam que eu era da família. Sempre recebia muitos presentes, inclusive no dia do meu aniversário.

Fátima Souza

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““No nono mês de gestação, Fátima agora cuida da própria casa

O tempo é fundamen-tal para desenvolver um vínculo de confiança e amizade entre patrões e empregadas. A relação é parecida com a amizade, apenas com o tempo sa-bemos se ela é verdadeira.

Rosarita Medeiros

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Rosarita diz que para um bom relacionamento entre se-cretárias e patroas, o tempo é fator determinante.

“O tempo é fundamental para desenvolver um vínculo de con-fiança e amizade entre patrões e empregadas. A relação é pareci-da com a amizade, apenas com o tempo sabemos se ela é verda-deira.” Para Fafá, uma das razões para a relação com a família ter sido tão duradoura, com certe-za, foi a existência de um diálogo aberto entre todos. “Eu e a Paula nunca brigamos. Se existia algum mal entendido, nós sentávamos e conversávamos.”

Lane Barreto

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economiacopa 2014

Jônathas Oliveira

Um evento cheio de incertezasMercado de trabalho e projetos do Mundial no país geram controvérsias

entre população, especialistas e governo

Passados 64 anos, a popu-lação brasileira receberá no-vamente o maior evento de futebol do mundo. O fato para muitos é motivo de orgulho, enquanto para outros a preo-cupação freia a euforia. De um lado do campo estão as pro-

postas de melhorias na infraes-trutura, mobilidade urbana, se-gurança, educação e saúde. O adversário é a insegurança da utilização do dinheiro públi-co, aliada à preocupação de as mudanças não serem mantidas a longo prazo. Soma-se a isso o receio de o país abrigar está-dios paralisados ou com pouca

utilização depois da Copa*.As duas visões sobre o im-

pacto do Mundial de futebol no Brasil ganharam força em 2010, com o fim da Copa na África do Sul. A empresa Ernst & Young Terco, em parceria com a Fun-dação Getúlio Vargas (FGV), realizou estudo* no primeiro semestre do Mundial anterior,

O técnico em segurança do trabalho, Silas Alves, não receberá benefícios para os jogos da Copa mesmo trabalhando na obra do Estádio Nacional de Brasília

indicando que a Copa de 2014 irá multiplicar os investimen-tos diretos realizados no país da seleção canarinha, injetando R$142,39 bilhões na economia.

Apesar dos números positi-vos, o economista e secretário--geral da organização não-go-vernamental Contas Abertas, Gil Castello Branco, acredita que o

Fotos: Christian Kelly

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economia

legado positivo deveria ser efe-tivado sem depender do evento. “Os investimentos que ocorrem nas capitais do país já deveriam ter sido feitos há muito tempo. O fato de acontecerem somente às vésperas da Copa do Mundo gera sensação de incerteza so-bre como será tudo depois que os turistas partirem. A Copa tem chances de dar certo, mas acre-dito que o governo pensou mais com o coração do que com a ra-zão para trazê-la até aqui”, afir-ma Castello Branco.

E na capital? O Distrito Federal está nes-

se jogo de incertezas sobre os efeitos positivos e negativos que a Copa oferece. Silas de Araú-jo Alves, 24 anos, é técnico em segurança do trabalho na cons-trução do Estádio Nacional de Brasília. Apesar de trabalhar diretamente na obra de maior impacto do Governo do Distrito Federal (GDF), Silas conta que até o momento os operários não receberam benefícios para os jogos do Mundial, “Não exis-te promoção de ingressos dos jogos para a gente. É legal saber que estamos levantando o está-

dio, mas não sei se vou ter condições financeiras para as-sistir às partidas. É uma situação com-plicada”, relata.

Em contrapar-tida às críticas de Silas, o número de empregos na área industrial e de construção civil deve aumentar. A equipe do Artefato entrou em conta-to, por telefone e e-mail, com a as-sessoria de comu-nicação do Sistema de Federação das Indústrias do DF (Fibra). A entidade

Saiba mAIS

* O valor das ações previstas para a Copa está em: R$1.857.700.000,00. Para mais informações, confira o site de transparência da Controladoria Geral da União (CGU) www.portaltransparencia.gov.br/copa2014/brasilia/

* O estudo “Brasil Sustentável – Impactos socioeconômicos da Copa do Mundo 2014” está disponível no Blog do Artefato. Acesse: www.artefatoucb.blogspot.com

O sub-secretário da Subinter, Apolinário Rabelo, está otimista com a realização da Copa do Mundo em Brasília

aposta as fichas do crescimento econômico nas novas propostas de trabalho que a Copa oferece-rá. Com isso, a participação da indústria no Produto Interno Bruto (PIB) do DF, que atual-mente é de 10,2%, tem proje-ção de ser elevada para 15% até 2015. O programa Qualifi-copa, implementado pelo GDF para capacitar o mercado de trabalho com sete cursos di-ferentes, é um dos fatores que animam as estimativas do se-tor industrial.

O pensamento positivo também é seguido pelo sub-secretário de Investimentos

Estratégicos e Negócios In-ternacionais da Secretaria de Desenvolvimento Econômico do DF (Subinter/SDE), Apo-linário Rebelo. “Esperamos receber aproximadamente 60 mil turistas, o que mobiliza o governo a buscar qualificação profissional para setores de atendimento médico, hote-laria e gastronomia.” A espe-rança é fornecer de 7 a 10 mil vagas para novos serviços. O valor máximo de lotações é o mesmo que o GDF espera de pessoas a aderir o Qualificopa. Até agora, o programa conta com a conclusão de 2 mil cur-sos profissionalizantes.

Regiões AdministrativasApolinário Rebelo acredita

que ainda é cedo para avaliar os impactos da Copa nas Re-giões Administrativas (RAs) do DF. “Precisamos saber onde as seleções dos países serão insta-ladas, além de fornecer a elas áreas de treinamento. Esse fa-tor irá mobilizar a economia e o turismo, portanto, cada local precisa estar preparado para ser bom anfitrião. A ideia do Qualificopa é auxiliar a prepa-ração dessas RAs”, explica o ir-mão do ministro dos Esportes.

Se a intenção de capaci-tar profissionais do DF para a Copa é boa, o mesmo não pode ser dito das aulas minis-

tradas no curso de Auxiliar Ad-ministrativo do Qualificopa. A crítica é da supervisora da escola de idiomas Wizard de Taguatinga Norte, Ranyele Lí-lian Lima, 24 anos. Ela tomou conhecimento do curso por meio de jornais e se inscre-veu. A profissionalização du-rou um mês, com quatro ho-ras diárias de segunda à sexta, e decepcionou. “Considerei o curso fraco e acho que perdi tempo. As aulas, a passagem, lanches e seguro de vida no período de capacitação eram gratuitos, mas os professores não eram qualificados”, recla-ma. Além disso, a estudante de Recursos Humanos alega: “Com certeza, as pessoas que eram da minha sala não gos-taram do que fizeram. Termi-nei o curso no fim de outubro, mas recebi certificado apenas em fevereiro”, desabafa.

Em entrevista ao Artefato, o administrador de Taguatinga, uma das maiores e mais anti-gas RAs do DF, Carlos Alberto Jales, explica que, com a vinda da Copa do Mundo, “não há como observar apenas o cres-cimento econômico de Tagua-tinga. O evento impacta todo o país por meio das capitais, se alastrando para as cidades ao redor”. O administrador cita a mobilidade urbana como maior benefício para a região, a exemplo da polêmica Faixa Exclusiva na via Estrada Par-que Taguatinga (EPTG), que liga a RA III até Brasília. “Os efeitos serão observados a lon-go prazo, de modo que a cons-cientização das pessoas será a maior engrenagem do proces-so. Existem negociações com as empresas de ônibus para fornecer transporte de qua-lidade. O objetivo é reduzir o número de carros, amenizan-do o trânsito caótico para an-tes, durante e depois da Copa de 2014”, complementa Jales.

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O selo colorido que apare-ce no início de programas te-levisivos há tempos alimenta debates públicos. Trata-se da classificação indicativa. De um lado, existem os grupos que defendem a iniciativa; de outro, aqueles que chegam a dizer até mesmo que é um ato de censura. A polêmica vol-tou para as rodas de discus-são no ano passado, quando o Supremo Tribunal Federal (STF) retomou o julgamento de uma ação do Partido Tra-balhista Brasileiro (PTB). O processo ganhou força, gra-ças, em parte, ao pedido de amicus curiae da Associação Brasileira de Emissoras de

Rádio e Televisão (Abert). O STF deve bater o martelo ain-da em 2012.

O termo em latim significa “amigo da corte” e indica que pessoas, entidades e órgãos podem atuar como interessa-dos no debate e servir como fontes. A ação do PTB, de 2001, não critica diretamen-te a classificação indicativa, mas sim o artigo 254 do Esta-tuto da Criança e do Adoles-cente (ECA), que considera

Mariana de Ávila

L

18

16

14

12

10

Símbolo Classifi cação Indicativa Características Horário de exibição Exemplo

Livre

Não recomendado para menores de 10 anos

Não recomendado para menores de 12 anos

Não recomendado para menores de 14 anos

Não recomendado para menores de 16 anos

Não recomendado para menores de 18 anos

Já pode aparecer um pouco de violência e linguagem pesada,

mas a intensidade ainda é pouca

Já podem aparecer agressão física, consumo de drogas e

insinuação sexual

O conteúdo violento e a linguagem sexual são acentuados

Conteúdos sexuais e violentos mais intensos

Conteúdos violentos e sexuais extremos, que se repetem

durante a obra

Crianças e adolescentes não são expostos a conteúdos

muito prejudiciaisExibição em qualquer horário

Exibição em qualquer horário

Exibição a partir das 20h

Exibição a partir das 21h

Exibição a partir das 22h

Exibição a partir das 23h

Provão MTVEmissora: MTV

Maria do BairroEmissora: SBT

Avenida BrasilEmissora: Rede Globo

Pânico na BandEmissora: Band

Reality - UFC em busca de campeões

Emissora: Rede Globo

Do outro lado da questão*Emissora: Band

*O fi lme foi exibido no Cine Privê

comunicação

Hora de criança ir pra camaA classificação indicativa é censura?

Essa é apenas uma das polêmicas do tema

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infração transmitir uma obra fora do horário autorizado ou sem o aviso da classifica-ção – daí a polêmica com os selinhos coloridos.

A pena prevista no ECA para quem infringir esse artigo é multa de cem salários mínimo. Em caso de reincidência, a pro-gramação da emissora pode ser suspensa por até dois dias. “O PTB não é contra a classificação indicativa, mas, sim, contra a punibilidade que o não cumpri-mento dessa classificação pode acarretar”, explica o advogado do partido Luiz Gustavo Pereira.

Outra polêmica que rodeia o debate envolve o papel do Es-tado na educação de crianças e adolescentes. “O PTB enten-de que não cabe ao Estado essa

função, e sim aos pais, à família tutelar isso”, explica Luiz Gusta-vo. No Supremo, a ação foi pa-rar nas mãos do ministro José Antônio Dias Toffoli. Ao decla-rar o voto, o ministro relator defendeu a posição do partido: argumentou que o Estado não deve atuar como protagonista na escolha do que deve ou não ser veiculado em determinado horário da televisão.

O placar do julgamento já estava em 4 a 0 a favor da ação do PTB. No entanto, a decisão precisou ser adiada porque o ministro Joaquim Barbosa pe-diu vista, ou seja: um tempo maior pra analisar a papelada do processo. De acordo com a assessoria do ministro, a ação ainda está sendo analisada. O prazo regulamentar para pedi-dos de vista no STF é de 20 dias, e o ministro tem de pedir à Cor-te permissão para analisar por mais tempo.

Discussão históricaO debate é antigo. A classifi-

cação indicativa foi estabeleci-da em 1988, com a Constituição Federal. No entanto, só foi co-locada em prática em 2000, por meio de uma portaria assinada pelo então ministro da Justiça José Gregori. Pouco tempo de-pois, foi suspensa por uma li-minar do Superior Tribunal de Justiça (STJ).

Atualmente, existem duas formas para se fazer a classifica-ção indicativa: a autoclassifica-ção e a análise prévia. O primei-ro caso é destinado à TV aberta e à TV por assinatura. A emis-Ilustração:Flávia Fonseca

política

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às 14h, deve fazer adequação da obra, editar e enviar para o Ministério da Justiça analisar se o conteúdo está dentro dos cri-térios de 10 anos, por exemplo. “A gente não tem poder de cor-tar absolutamente nada”, afirma Alessandra. Sobre o cinema, ela garante: “Nenhuma criança ou adolescente é proibido de entrar no cinema para ver um filme de faixa etária superior à dele, desde que esteja acom-panhado dos pais”. Para Ales-sandra, caso a ação do PTB em julgamento no STF saia vitorio-sa, a política de classificação vai perder a eficácia.

A justificativa de que o con-trole remoto está a uma esti-cada de braço não é suficiente

Reclassificação

• Novela Corações Feridos. A classificação que tinha o selo de 10 anos passou a ser não recomendada para menores de 12 anos.

• Minissérie Rei Davi. De não recomendada para menores de 14 anos passou a não ser recomendada para menores de 10.

• Em 2011, de 5600 obras, 48 foram reclassificadas pelo Ministério da Justiça.

Em março des-te ano, o Ministério da Justiça lançou a campanha Não se engane. “O objetivo principal é atingir os pais. É alertá-los que os filhos, estando ex-postos à TV e a con-teúdos inapropria-dos, podem copiar ao que assistiu na televisão”, completa.

Adequação na obraA polêmica da clas-

sificação indicativa en-volve, principalmente, a questão da censura. De acordo com Ales-sandra Macedo, o mi-nistério não tem ne-nhuma interferência sobre o conteúdo pro-duzido pela emissora. “O máximo que pode acontecer é uma obra ser classificada como não recomendada para menores de 18 anos”, comenta. Quando uma emissora quiser que uma obra que recebeu classificação indicativa de 16 anos seja exibida

política

Para Daniella Rocha, a classificação indicativa consegue harmonizar liberdade de expressão com proteção da infância

Foto

: Nay

ara

de A

ndra

de

sora inscreve um processo no Ministério da Justiça, envia a sinopse do programa e manda a classificação que acha que a obra deve receber. Depois da estreia do programa, o MJ tem até 60 dias para aceitar ou re-jeitar a classificação. Para jo-gos e filmes no cinema e DVD funciona a análise prévia. Uma equipe multidisciplinar, de 30 pessoas, é responsável por as-sistir à obra, fazer o relatório e decidir o horário.

A classificação é feita com base em três critérios: sexo, drogas e violência. Além disso, dois indicadores são levados em conta: fatores atenuantes e agravantes. Alessandra Mace-do, coordenadora da Clas-

sificação Indicativa do Mi-nistério da Justiça, explica que uma obra é analisada levando em consideração o contexto e não uma cena iso-lada – a não ser que a cena seja extremamente violenta e impactante. “Nesse con-texto, existem atenuantes e agravantes. Aparece droga, mas existe o contraponto de que a droga faz mal, preju-dica a vida, a saúde. Isso é atenuante. Se aparece um assassinato, o assassino se der bem ou se for o mocinho ou o cara com quem o teles-pectador vai se identificar, e não for punido, isso pode ser considerado agravante”, ex-plica Alessandra.

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““

““ Nenhuma criança ou adolescente é proibido

de entrar no cinema para ver um filme de

faixa etária superior à dele, desde que esteja

acompanhado dos pais.

Alessandra Macedo

para convencer os defensores da classificação indicativa de que é possível mudar de canal. “A gente fala que a classifica-ção indicativa é uma das políti-cas públicas mais interessantes que o Brasil tem, porque con-segue harmonizar, de forma muito eficiente, a liberdade de expressão com a proteção da infância”, comenta Daniela Ro-cha, coordenadora de políticas públicas da Agência de Notí-cias dos Direitos da Infância (Andi). O integrante do Coleti-vo Brasil de Comunicação (In-tervozes) compartilha da opi-nião de Daniela, e acrescenta: “Em nenhum momento o con-teúdo está sendo censurado. Só está sendo determinado em qual horário pode ser exibido”.

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esporte

Correr é o melhor remédioIdosos participam de corridas internacionais e se tornam atletas amadores

atletismo

Natália Oliveira e Rick Astley

Atletas do grupo de corrida Seminovos treinam no Parque da Cidade

Severina Lupercino, 62 anos, sempre faz alongamentos antes dos treinos

Fotos: Rick Astley

Eles têm folego de sobra. Há qua-tro anos o grupo de idosos Semino-vos já participou de várias corridas no Brasil e no mundo. Essa união já rendeu até hino. “É bom de praia, é bom de trilha e bom de rua, o Se-minovos pode até chegar à lua”. É com este entusiasmo que 10 idosos se encontram todas as terças, quin-tas e domingos às 7h da manhã no Parque da Cidade. As segundas e quartas seguem para a Universida-de de Brasília (UnB) onde praticam musculação e treinam na pista de corrida do Centro Olímpico. Eles já participaram de provas internacio-nais em Caracas, Santiago, Assun-ção, Punta Del Leste, Paris e Lima.

De acordo com a aposenta-da Severina Lupercinio, 62 anos, cada um arca com os próprios gastos. Ela já participou de mais de 100 corridas e 18 maratonas. “Em abril de 2007 fiz minha pri-meira viagem internacional, fui correr a Maratona Internacional de Paris. A largada foi no Largo do Triunfo e passou pelos pontos mais bonitos da cidade. Foi uma aventura, completei a prova. Foi muito bonito”, conta Severina.

Segundo a Professora Cláudia Beatriz Santos, que faz parte do Grupo de Estudos e Pesquisas so-bre Atividade Física para Idosos (GEPAFI), o treinamento do Semi-novos é baseado em aulas de mus-culação e exercícios específicos. O objetivo é a manutenção e melho-ra das capacidades físicas de cada um. “As atividades ajudam ao ido-so a descobrir formas para se man-ter autônomo e ter autocontrole, mesmo com a presença de alguma limitação física”.

Para professora de Educação Fí-sica da Universidade Católica de Brasília (UCB), Gislane Ferreira

de Melo, a prática de atividade fí-sica traz outras melhorias além do condicionamento físico. O conví-vio social que esse grupo tem no esporte, melhora a autoestima, diminui a ansiedade, o estresse e a chance de algum deles ter de-pressão. Severina concorda com a professora: “o maior ganho não é troféu, nem o peso mais baixo. O ganho é o bem estar emocional, o bom humor, além do grupo social e as amizades que a gente faz”, re-vela a aposentada.

HistóriaO grupo foi formado em 2003 a

partir de uma parceria entre uma empresa de telefonia e a Universi-dade de Brasília (UnB). O objetivo do projeto era melhorar a qualida-de de vida de idosos pela prática de exercícios como Tai-shi-shuan, yoga, caminhada e dança de salão. Todas as atividades eram prati-cadas no Parque da Cidade e fre-

quentadas por mais de 100 alunos acima dos 50 anos.

Em 2006 o projeto foi encerra-do porque a empresa de telefonia decidiu acabar com o patrocínio para cortar gastos e a UnB acabou retirando os professores por falta de recursos. Mas um grupo de 22 alunos decidiu dar continuidade as atividades por conta própria, e assim surgiu o Seminovos.

Eles começaram a intensificar as caminhadas praticadas no parque, avançaram para a modalidade tro-te leve e um ano após o início do projeto eles participaram da pri-meira corrida. A primeira prova com 5 km foi da Ermida Dom Bos-co, no mesmo ano também fize-ram a prova do Pão de Açúcar de 10 km e alguns participaram da São Silvestre.

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Saúde

Brasileirinhos mais gordosO número de crianças acima do peso, no Brasil, está sete vezes maior do

que na década de 70

alimentação

Alessandra Santos e Rodrigo Gantois

Em 39 anos, o índice de jo-vens de 10 a 19 anos com ex-cesso de peso passou de 3,7%, em 1970, para 21,7%, em 2009. Os dados são da Pesquisa de Orçamento Familiar (POF), re-alizada entre 2008 e 2009, pelo Instituto Brasileiro de Geogra-fia e Estatística (IBGE). Os nú-meros apontam ainda que uma em cada três crianças com ida-de entre 5 e 9 anos estão com peso acima do recomendado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e pelo Ministério da Saúde. São, ao todo, 523.929 crianças e 136.631 adolescentes com obesidade grave no país.

Letícia Noemi, de apenas 10 anos, faz parte desse índice. A mãe, Sônia Maria Roma, per-cebeu que a filha ficava can-sada muito rápido, até ao fazer uma simples caminhada. Ao procurar um médico, soube que a situação era bem pior. “Descobri que ela estava com colesterol elevado, era pré--disposta a ter diabetes e esta-va acima do peso.”

De acordo com a nutricio-nista Adriana Freitas, a princi-pal causa da obesidade infantil é a má alimentação aliada ao sedentarismo. Ela ressalta que essa consequência é também culpa dos pais. “Com certeza os pais influenciam, oferecen-do desde cedo refrigerantes, balas e doces.”

Na vida de Letícia, a mudan-ça de rotina foi imediata. Sônia

conta que alterou a alimentação de toda a família. Passaram a comer em menos quantidade e alimentos mais saudáveis. “En-quanto todos os meus colegas da escola comiam doces e sal-gados, eu levava sanduíche na-tural. Achava muito estranho, mas agora já me acostumei e até gosto”, disse.

Além de fazer acompanha-mento nutricional, psicológico e com o endocrinologista, agora Letícia pratica balé para ajudar na perda de peso. A mãe conta que inicialmente houve dificul-dade de adaptação. “No começo ela me enganava. Em vez de co-mer o lanche que eu mandava, comia doces e outras besteiras dos colegas de escola. Mas ela foi percebendo que aquilo só a prejudicava e agora aceita a sua alimentação”. Sônia diz ainda que a ansiedade era um dos fa-tores que influenciavam no au-

mento excessivo de peso. “Ela comia mesmo sem ter fome.”

Letícia agora está com o coles-terol controlado, já emagreceu e saiu da faixa de obesidade. “Co-memos em média duas porções diárias de frutas e verduras. Foi com ela que toda a família mu-dou o hábito alimentar, porque percebemos que não adianta fazer dietas, temos que nos ree-ducar. Letícia foi apenas um in-centivo para começarmos.”

Acompanhamento do começoNa opinião do cardiologista

Ronaldo Benford, uma criança obesa provavelmente será um adulto obeso. Ele explica que, ao contrário do pensamento popular, bebê ou criança mui-to gordinha não é sempre si-nônimo de saúde. “Temos que deixar claro que uma criança bem gorda, na verdade, tem a possibilidade de ter as taxas de

colesterol e glicêmicas muito altas, e isso não é bom. O ideal é que essa criança seja levada desde cedo para fazer exames e ter acompanhamentos médi-cos. Com isso, pode evitar pro-blemas na fase adulta.”

Para o médico, a criança aci-ma do peso precisa de acom-panhamento multidisciplinar, com pediatra, cardiologista, nutricionista, psicólogo e edu-cador físico. Além de reeduca-ção alimentar e prática de ati-vidades físicas. “O obeso tem chance enorme de ter proble-mas como arteriosclerose, mas se a criança praticar atividades físicas desde cedo, essas chan-ces diminuem.”

Combate à obesidadeO Programa Saúde na Esco-

la (PSE), lançado em setem-bro de 2008, é resultado de parceria entre os ministérios da Saúde e da Educação, que visa promover ações de pre-venção. De acordo com o MS, um quinto da população in-fantil do país sofre de obesida-de infantil, por isso, o progra-ma tem como tema deste ano a Prevenção da Obesidade na Infância e Adolescência.

A quantidade de crianças de 5 a 9 anos com excesso de peso é de 34,8% de meninos e, de meninas, é de 32%. Já a quan-tidade de adolescentes (de 10 a 19 anos) com excesso de peso é, atualmente, de 21,7% para o público masculino e 19,4% para o público feminino.

Na busca pelo peso ideal, crianças têm que adotar uma alimentação saudável

Foto: Samita Barbosa

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Assim como o assunto da prova, a alimentação também deve estar ligada ao plano de estudos do concurseiro. A an-siedade e preocupação com o dia do “vamos ver” não podem servir de desculpa para o can-didato não se alimentar direito e correr o risco de passar mal na hora da prova. “Não existe nenhum tipo de alimento que possa acelerar o processo de conhecimento ou ajudar na fixação do conteúdo, porém uma boa alimentação pode sim propiciar melhor rendimento”, explica o nutricionista Marcus Cerqueira, diretor do curso de Nutrição da Universidade Ca-tólica de Brasília (UCB).

O professor Ernani Pimentel, especialista em alimentação oriental e presidente da Vest-concursos, aconselha que na hora de estudar, é importante não comer exageradamente. “Mantenha um pouco de fome, ou seja, coma menos. Procure não ingerir carne e comida gor-durosa, principalmente a carne

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Saúde

Alimentação correta pode melhorar o rendimento na hora de

estudar para concursos

nutrição

O importante é comer bem

vermelha, por conter muitas toxinas”, esclarece.

Pimentel diz ainda que não é bom estudar com o estômago cheio, pois o sangue utilizado para fazer a digestão é o mesmo que oxigena o cérebro. Se a cir-culação estiver muito concen-trada na digestão, pode atrapa-lhar e atrasar o processamento das informações. “Antes de fa-zer a prova da Polícia Federal, fui almoçar em uma churrasca-ria e achei melhor não exagerar no tamanho do prato, porque seu eu chegasse com o estô-mago muito cheio para fazer o concurso, não conseguiria me concentrar direito”, diz o con-curseiro Thiago Honório.

Remédios “mágicos”Pensando justamente em

melhorar a fixação do conteú-do, muitos estudantes acabam apelando para o uso de remé-dios capazes de ajudar na me-morização. Para o nutricionista Marcus Cerqueira, os estimu-lantes só fazem com que o cé-rebro fique mais ativado e não favorecem a memória.

Foto: Altieres Losan

Ao contrário do que muitos pensam, o uso de remédios ou energéticos não traz a concentração esperada, diz especialista

E no dia da prova?

• Se você vai fazer a prova de manhã é importante ter um bom café com carboidratos complexos, como pão e bolo.

• Se a prova é à tarde, não pule o almoço e coma também alimentos do mesmo grupo, como macarrão e lasanha, em quantidade que já está acostumado, pois metade do sangue vai para o cérebro e metade, fazer a digestão.

• Enquanto estiver fazendo a prova, opte por alimentos leves como frutas e água para se manter hidratado; o chocolate também é bom, pois faz parte do grupo de carboidratos simples, que servem de estimulantes para o corpo e são rapidamente absorvidos pelo organismo.

• Evite bebidas gaseificadas, pois podem causar desconfortos.

Monalisa Santos

Ernani Pimentel comple-ta. “Conforme a alimentação oriental, remédio já é erro. Se você se alimenta bem, o orga-nismo já está equilibrado e não tem doença. Doença é dese-quilíbrio. Portanto, a alimenta-ção correta suprime qualquer tipo de remédio.” No caso da-queles que gostam de passar a noite estudando, a melhor opção seria o uso de alternati-

vas naturais, como a ingestão, sem exagero, do pó de guaraná. Ainda assim, cuidado: médicos garantem que estudar na ma-drugada não é uma boa opção, porque depois de um longo dia ativado, o cérebro já não con-segue absorver tão bem as in-formações. O melhor é ter uma boa noite de sono e programar-se bem para estudar em horá-rio mais confortável.

Foto: Altieres Losan

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Saúde

Circo como fonte de diversão e saúdeexercícios

De forma lúdica, as atividades contribuem para o desenvolvimento dos músculos e do cérebro

Exercícios em tecidos, ma-labarismo, acrobacias aéreas e de solo. Esta lista de atividades não fazem apenas parte de uma apresentação circense, fazem também parte de uma atividade nova que apareceu no mercado fitness do Distrito Federal e vi-rou alternativa para quem não deseja frequentar as academias de ginástica tradicionais.

As aulas de circo podem pro-porcionar aos alunos maior flexibilidade, concentração e coordenação motora. “Cada aluno é tratado individualmen-te no desenvolvimento das suas habilidades, sempre sendo res-peitados os limites físicos, psi-cológicos e ritmo pessoal. Uma turma pode ter, ao mesmo tem-po, alunos de várias idades”. É o que explica a professora de aula circense da academia Agi-noc, Tallyta Torres. Apaixonada pela prática desde os 13 anos, ela alega que qualquer pessoa a partir dos sete anos pode reali-zar atividades.

As atividades circenses po-dem substituir exercícios can-

Tuane Dias

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No tecido, as alunas usam de flexibilidade e leveza para executar movimentos acrobáticos que exigem prática

Fotos: Janine Martins

Momentos importantes das aulas são destinados ao alongamento. A flexibilidade e a força são essenciais para práticas circenses

Os interessados em praticar atividades

circenses podem entrar em contato com:

Academia Aginoc SHC/AOS 6/8

Conjunto B, Lote 3Octogonal

Informações: 3234-7256

Teatro Mapati SHCGN 707

Bloco K, Casa 5Asa Norte

Informações: 3347-3920

Escola Circo CriativoQnd 38 Lt 38/40

TaguatingaInformações: 3354-5537

SERVIÇO

sativos e rotineiros de uma aca-demia tradicional. “Eu entrei na academia para realizar outros tipos de exercício, e depois da aula experimental me apaixo-nei”. Afirma Leticia Lebedeff Ro-cha, 17 anos.

Luz, cores e muita diversão são elementos que não podem

faltar nas aulas de acrobacia aérea. Para ter uma vida saudá-vel é importante a preocupação com o corpo e com a mente. As aulas de circo duram em média duas horas. Contam com um reforçado alongamento, exercí-cios preparatórios e específicos. A atividade proporciona mo-mentos relaxantes e trabalha o condicionamento da mente.

De acordo com o ortopedista do Hospital Santa Luzia, dr. Ed-gar Alves de Alencar Junior as aulas de circo podem propor-cionar benefícios importantes e que contribuem para melhor qualidade de vida. “As aulas exi-gem treinos e alongamentos in-tensos, o que gera um fortaleci-mento muscular, protegendo as articulações e sustentando me-lhor a coluna”, explica o médico.

Com todo o esforço realizado

no período de aula, os alunos conseguem alcançar objetivos além do esperado, seja ele ema-grecer ou tonificar o corpo. Se-gundo Jade Araújo, 24 anos, os motivos são inúmeros para a re-alização dessa atividade. “Mes-mo com toda a correria do meu dia, eu não deixo de participar. Por um tempo me afastei mais não resisti e voltei. As aulas me proporcionaram um condi-cionamento físico muito bom, além de muita flexibilidade”.

Para realizar qualquer tipo de atividade física é preciso ter atenção e muita responsabili-dade. “Quanto mais movimen-tos, maior será a lubrificação e a nutrição, tanto de cartilagem, quanto de tendões. Qualquer movimento anatomicamente correto traz benefícios”, concluí dr. Edgar.

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saideira

O Artefato entrevistou o autor do livro O bê-á-bá de Brasília: dicionário de coisas e palavras da capital, que reúne 884 verbetes em 91 páginas. Com pitadas de humor, o baiano de leve sotaque relata sob sua ótica peculiaridades da nossa cultura e, como ele mesmo diz: “o que é e o que não é, por B + A, esse tal de bê-á-bá”.

Dicionário irreverente sobre BrasíliaCarina Lasneaux

Em 1991, na Bahia, um amigo fez um dicio-nário de baianês. Como sou curioso, vi que fal-tava um dicionário de brasiliense em Brasília.

Marcelo Torres

““

““

Asanortista – Pessoa que nasceu ou mora na asa norte, a SQN.

Taguá – Apelido carinhoso de Taguatinga

Marcelo Torres é jornalista, cronista, já foi professor, juiz de futebol, e atualmente é funcioná-rio público. Quando perguntado por que escolheu a capital para viver, ele rebate: “Brasília que me escolheu”. Foi *asanortista e já morou em *Taguá, a cidade mais brasileira do DF, segundo ele. Seu

estranhamento com lugares e gí-rias brasilienses o motivou a es-crever o divertido glossário.

Artefato - Qual foi o seu maior estranhamento quando chegou a Brasília?

Marcelo – Localização e ende-reços. Quem é de fora está habi-tuado a ruas com nomes de pes-soas. Passei por uma situação engraçada, visitei uma conter-rânea que mora na 309. Quando fui visitá-la passei pela 209 e caí para a 409. Perdido, liguei e ela me explicou que eu estava no eixinho de baixo, nas quadras pares, e que era para ir para o eixinho de cima para as ímpa-res. Aí eu pensei: mas 209 não é par, é ímpar! Até entender que o primeiro dígito é par foi uma tre-menda confusão.

Artefato – E a cultura brasi-liense?

Marcelo - É a cultura brasileira, não existe uma identidade nasci-da aqui, mas existe uma identi-dade de cada canto do país, cada estado está representado aqui.

Artefato – O que te incentivou a escrever o dicionário?

Marcelo - Pela minha experi-ência pessoal e pelo fato de es-tranhar determinados nomes, palavras e expressões. Se eu mo-rasse no Rio ou em São Paulo, certamente iria juntar termos e palavras de lá.

Artefato – Defina o bê-á-bá de Brasília por A+B.

Marcelo – Se eu puder juntar duas palavras para defini-lo se-ria: divertido e bem humorado. O objetivo foi esse, não tem estudo intelectual e acadêmico, eu ou-via e anotava. Fiz pesquisas em anúncios, classificados de jor-nais, listas telefônicas, cardápios de bares e restaurantes. Manda-va e-mails para várias pessoas, checava comunidades no Orkut.

24Marcelo Torres, autor do glossário O bê-á-bá de Brasília

Foto: Joe Fonseca

Existem coisas que se repetem em vários lugares. Piriguete, por exemplo, é um termo que nasceu provavelmente na Bahia, mas é muito usado aqui. O nome par-dal é falado em pelo menos 10 estados brasileiros, mas nasceu aqui porque os primeiros apare-lhos foram instalados em Brasí-lia. Esse apelido foi colocado pelo motorista do diretor do Detran, genuinamente brasiliense. Quero explicar que essas palavras não são exclusivas de Brasília, mas são típicas daqui. Zebrinha, par-

dal, tesourinha, L2, Asa Sul, eixão e eixinho só existem aqui.

Artefato - Você fez pós-gradu-ação na Universidade Católica de Brasília, e o prefácio do seu livro foi escrito pelo professor da UCB Luiz Carlos Lasbeck. Como foi essa experiência?

Marcelo – O professor foi meu colega no banco, soube por ele do curso de Gestão da Comuni-cação. Quando mandei uma pré-via do livro, ele levou para sala de aula e alunos fizeram sugestões de nomes. Entrei na comunidade dos alunos da Católica no Orkut e li polêmicas e discussões que aju-daram na construção do livro.