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Artigo Original ARTERIOGRAFIA NOS FERIMENTOS DOS MEMBROS MANIFESTAÇOES CLfNI- CAS DE LESA0 VASCULAR* RicardoAun' FabioTozzi" NelsonWolosker" Milton J. Bechara'" , Maximiano T. V. Alber···· O reconhecimento precoce do trauma vas- cular permite o melhor resultado no seu trata- mento. No entanto, nem todos os ferimentos vasculares são prontamente reconhecidos e as complicações tardias como trombose, fístula ar- teriovenosa e falso aneurisma podem ocorrer. Em 29 pacientes com ferimentos dos mem- bros e pescoço, sem manifestações clínicas da lesão vascular foram realizadas arteriografias que foram: arteriografia por punção femoral em 23, Seldinger em 4, Sones em um e angiografia digital por subtração em um. Estas angiografias revelaram trauma arterial em 10 pacientes; lesão de coxa com ferimento da artéria femoral superfial em quatro; lesão de artéria femoral profunda em dois; trombose de artéria radial em um e da peroneira em outro. Lesão de artéria subclávia em um e finalmente lesão de artéria femoral profunda em um. Ocorreram sete procedimentos cirúrgicos, sendo cinco para restauraçi!o e dois para liga- dura. Unitermos: Trauma arterial; Arteriografia. Trabalho realizado nas disciplinas de Cirurgia Vascular (Prof. Dr. Erasmo M.C. Tolosa) e de Cirurgia do Trauma (Prof. Dr. Dario Birolini) do Departamento de Cirurgia da Facul- dade de Medicina da Universidade de São Paulo. • Mestre em Cirurgia. Médico Assistente - Disciplina de Cirurgia Vascular do Hospital das Clínicas da F.M.U.S.P . •• Residentes - Disciplina de Cirurgia Vascular do Hospital das Clínicas da F.M.U.S.P. ••• &-Preceptor de Clínica - Disciplina de Cirurgia Vascular do Hospital das Clínicas da F.M.U.S.P. •••• Professor Livre-Docente - Disciplina de Cirurgia Vascular do Hospital das Clínicas da F.M.U.S.P. CIR. VASCo ANG. 4(3); 19, 24, 1988 INTRODUÇÃO o reconhecimento precoce do ferimento vas- cular permite o tratamento seguro e precoce, com a menor incidência de seqüelas. Todavia, nem sempre o ferimento arterial é acompanhado das manifestações clínicas que lhe são habituais, a isquemia, o hematoma e a hemor- ragia. Freqüentemente estes ferimentos evoluem para a formação de aneurismas traumáticos e fístulas arteriovenosas 1 . O aparecimento tardio destas seqüelas se deve ao fato de não reco- nhecer a lesão vascular em sua fase aguda. Grande número de ferimentos penetrantes de extremidades, são em alguns serviços, submetidos à exploração cirúrgica imediata 1 , 2, 3, ao passo que em outros a indicação do estudo angiográfico ou cirúrgico é baseada apenas nos sinais clínicos. As arteriografias de emergência são, via de regra, aceitas como método diagnóstico adequado no tratamento de pacientes com traumatismos das extremidades, das fossas supra-claviculares e do pescoço, porém sua indicação varia de serviço parr. serviço e não padrões para definir sua reali- zação 2,3,4. A dificuldade em se reconhecer a lesão vas- cular é maior nos pacientes traumatizados que não apresentam sinais clínicos de ferimento arterial como hematoma, isquemia ou hemorragia. Com o objetivo de se reconhecer a lesão vas- cular precocemente para se evitar seqüelas tardias estabelecemos o presente protocolo em pacientes portadores de ferimentos de extremidades por fratura de ossos longos ou nos ferimentos penetran- tes nos quais não havia sinais clínicos. CASUÍSTICA E RESULTADOS Durante o período de janeiro a outubro de 1987 foram atendidos no Pronto Socorro do Hospi- tal das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, 29 pacientes por- tadores de traumatismos diversos envolvendo as extremidades e o pescoço. Em todos foram pesquisados sinais clínicos de Íesão arterial através da palpação dos pulsos periféricos, da presença de hematomas, de sangramento atual ou referido e da pesquisa de sopros ou frêmitos. Estes sinais estavam ausentes em todos os pacientes . Quanto à natureza do trauma, predominaram os ferimentos penetrantes por projétil de arma de fogo em 25 destes (86,2%) e nos outros quatro pacierttes a causa estava relacionada à fratura dos ossos longos. · 19

ARTERIOGRAFIA NOS FERIMENTOS DOS ~EM …jvascbras.com.br/pdf/revistas-antigas/1988/3/03-ARTERIOGRAFIA-NOS... · os ferimentos penetrantes por projétil de arma de fogo em 25 destes

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Artigo Original

ARTERIOGRAFIA NOS FERIMENTOS DOS MEMBROS ~EM MANIFESTAÇOES CLfNI­CAS DE LESA0 VASCULAR*

RicardoAun' FabioTozzi" NelsonWolosker" Milton J. Bechara'" , Maximiano T. V. Alber····

O reconhecimento precoce do trauma vas­cular permite o melhor resultado no seu trata­mento. No entanto, nem todos os ferimentos vasculares são prontamente reconhecidos e as complicações tardias como trombose, fístula ar­teriovenosa e falso aneurisma podem ocorrer.

Em 29 pacientes com ferimentos dos mem­bros e pescoço, sem manifestações clínicas da lesão vascular foram realizadas arteriografias que foram: arteriografia por punção femoral em 23, Seldinger em 4, Sones em um e angiografia digital por subtração em um.

Estas angiografias revelaram trauma arterial em 10 pacientes; lesão de coxa com ferimento da artéria femoral superfial em quatro; lesão de artéria femoral profunda em dois; trombose de artéria radial em um e da peroneira em outro. Lesão de artéria subclávia em um e finalmente lesão de artéria femoral profunda em um.

Ocorreram sete procedimentos cirúrgicos, sendo cinco para restauraçi!o e dois para liga­dura.

Unitermos: Trauma arterial; Arteriografia.

Trabalho realizado nas disciplinas de Cirurgia Vascular (Prof. Dr. Erasmo M.C. Tolosa) e de Cirurgia do Trauma (Prof. Dr. Dario Birolini) do Departamento de Cirurgia da Facul­dade de Medicina da Universidade de São Paulo.

• Mestre em Cirurgia. Médico Assistente - Disciplina de Cirurgia Vascular do Hospital das Clínicas da F.M.U.S.P .

•• Residentes - Disciplina de Cirurgia Vascular do Hospital das Clínicas da F.M.U.S.P.

••• &-Preceptor de Clínica - Disciplina de Cirurgia Vascular do Hospital das Clínicas da F.M.U.S.P .

•••• Professor Livre-Docente - Disciplina de Cirurgia Vascular do Hospital das Clínicas da F.M.U.S.P.

CIR. VASCo ANG. 4(3); 19, 24, 1988

INTRODUÇÃO

o reconhecimento precoce do ferimento vas­cular permite o tratamento seguro e precoce, com a menor incidência de seqüelas.

Todavia, nem sempre o ferimento arterial é acompanhado das manifestações clínicas que lhe são habituais, a isquemia, o hematoma e a hemor­ragia. Freqüentemente estes ferimentos evoluem para a formação de aneurismas traumáticos e fístulas arteriovenosas1. O aparecimento tardio destas seqüelas se deve ao fato de não reco­nhecer a lesão vascular em sua fase aguda.

Grande número de ferimentos penetrantes de extremidades, são em alguns serviços, submetidos à exploração cirúrgica imediata1, 2, 3, ao passo que em outros a indicação do estudo angiográfico ou cirúrgico é baseada apenas nos sinais clínicos.

As arteriografias de emergência são, via de regra, aceitas como método diagnóstico adequado no tratamento de pacientes com traumatismos das extremidades, das fossas supra-claviculares e do pescoço, porém sua indicação varia de serviço parr. serviço e não há padrões para definir sua reali­zação 2,3,4.

A dificuldade em se reconhecer a lesão vas­cular é maior nos pacientes traumatizados que não apresentam sinais clínicos de ferimento arterial como hematoma, isquemia ou hemorragia.

Com o objetivo de se reconhecer a lesão vas­cular precocemente para se evitar seqüelas tardias estabelecemos o presente protocolo em pacientes portadores de ferimentos de extremidades por fratura de ossos longos ou nos ferimentos penetran­tes nos quais não havia sinais clínicos.

CASUÍSTICA E RESULTADOS

Durante o período de janeiro a outubro de 1987 foram atendidos no Pronto Socorro do Hospi­tal das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, 29 pacientes por­tadores de traumatismos diversos envolvendo as extremidades e o pescoço. Em todos foram pesquisados sinais clínicos de Íesão arterial através da palpação dos pulsos periféricos, da presença de hematomas, de sangramento atual ou referido e da pesquisa de sopros ou frêmitos. Estes sinais estavam ausentes em todos os pacientes .

Quanto à natureza do trauma, predominaram os ferimentos penetrantes por projétil de arma de fogo em 25 destes (86,2%) e nos outros quatro pacierttes a causa estava relacionada à fratura dos ossos longos. ·

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Ricardo Aun e cals.

TodQs foram submetidos à radiografia simples da região acometida, encontrando-se fraturas em 6 pacientes (20,6%), hemotórax em um e 20 radiografias de membros normais, uma cervical normal e outra cervical mostrando projétil ao lado de C-6.

Todos os pacientes foram submetidos então ao estudo angiográfico da região acometida, levando-se em consideração a possibilidade de lesão vascular pelo trajeto do projétil ou pela localização da fratura, apesar de o quadro clínico ser normal em todos.

A técnica angiográfica utilizada (Tabela I) foi a punção femoral em 23 pacientes. O cateterismo per cutâneo pela técnica de Seldinger foi utilizado em 5, o cateterismo por via umeral em um e a angiografia digital por subtração foi realizada uma vez.

Tabela 1- Técnica angiográfica empregada nos 28 pacientes

Técnica N. Pacientes

Punção Pemoral 23

Seldinger 04

Cal. Umeral 01

Ang. Digital 01

Total 29

Tabela 11 - Quantidade de contraste utilizado em cada paciente

Volume N. Pacientes

10 mI. 2

20 mI. 8

30 mI. 5

40 ml. 5

50 ml. 2

60 mI. 3

70 ml. 1

80 mI. 2

Média = 34,0 ml/exame

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Arteriografia em trauma

A quantidade de contraste utilizada em cada caso está representada na Tabela 11. A quantidade variou de 20 ml de Hexabrix a 80 ml, situando­se a média em 34.0 ml por exame. Os efeitos colaterais foram de pouca monta, vômitos em dois pacientes (7,0%), tremores em um paciente e hematoma local em outro. Todos os pacientes foram vigiados em regime de internação hospitalar por pelo menos 24 horas e os que apresentaram o es­tudo angiográfico normal receberam alta, porém seguem em regime ambulatorial.

Os casos com manifestações angiográficas são apresentados na Tabela III.

Tabela 111 . Achado cirúrgico em função do achado radiológico nos pacientes com arteriografia revelando lesão

CASO SEXO IDADE CAUSA LOCAL ART. ACH. CIR.

1 M 37 FPAF Coxa O Irreg. Falso Aneurisma

11 M 23 FPAF Coxa E [rreg. Cont. Parietal

12 M 60 FPAF Peina D Tr.Peron.

13 M 24 FPAF Anteb D Tr.Radial

15 M 27 FPAF Ombro D Irreg. Um. Prof.

18 M 33 FRAT Coxa E Extr .Pero. Prof. Laceração

24 M 24 FRAT . Coxa E Extr. Fero. Prol'. Laceração

27 M 19 FRAT Coxa D Extr. Fem. Sup. Laceração

28 M 28 FPAF Coxa E Irfeg. Par Tromb. Parietal

29 F 19 FPAF Ombro D Extr. Subclavia Laceração

Fig. l.A - Arteriografia por punção femoral mostrando ir· regularidade no terço distaI da artéria femoral superficial (seta).

'\;lG. 4(3); 19, 24, 1988

Ricardo Aun e co/s.

Fig. l.B - Arteriografia por punção femoral feita sete dias depois do ferimento, no mesmo caso. Evidencia-se falso aneurisma traumático ao nível do ferimento (seta).

Dentre as 29 arteriografias realizadas dez delas apresentaram sinais de lesão vascular (34,4%).

No primeiro caso havia irregularidade parietal ao nível do 1/3 distaI da artéria femoral, porém sem extravasamento de contràste. O paciente foi internado e um novo estudo angiográfico cerca de dez dias depois evidenciou a formação de um falso aneurisma (Fig. IA e lB). O achado cirúrgico, realizado no 60 dia de trauma confirmou o achado.

Achado semelhante foi observado em outro caso, que operado imediatamente revelou perda de' · substância parcial da parede do 1/3 médio da artéria femoral superficial (Fig. 2A e 2B).

Ambos pacientes foram submetidos a ressecção do segmento lesado e a substituição com veia safena autógena obtida do outro membro. A evolução foi boa com reaparecimento dos batimentos arteriais distais.

Nestes dois pacientes a causa do ferimento foi lesão da extremidade por projétil de arma de fogo.

C/R. VASCo ANG. 4(3); 19, 24, 1988

Arteríografia em trauma

Fig. 2.A - Arteriografia por punção femoral em paciente portador de ferimento de coxa por projétil. Nota-se ir­regularidade na transição do terço médio para proximal da artéria femoral superficial (seta).

Três dos oito pacientes com alterações arte­riográficas não foram submetidos à intervenção cirúrgica e permaneceram internados por poucos dias e posteriormente em controle ambulatorial. Nes­tes foram observados trombose da artéria peroneira por lesão por projétil no 1/3 médio da perna. Esta trombose estendia-se desde a porção inicial da artéria até a porção distaI. Não havia manifestações clínicas. Em outro houve trombose da artéria radial no seu terço médio por lesão também por projétil. A arteriografia mostrou reenchimento do segmento dis­taI da artéria pelos arcos palmares superficial e profundo, e o pulso radial estava presente, por circulação colateral. (Fig.3)

Em dois pacientes com fraturas de têrço proximal e médio do fêmur, evidenciou-se extravasamento de contrasté da artéria femara! profunda e seus ramos. No primeiro paciente havia hipotensão de origem inexplicada. No outro não havia sinais clínicos. Ambos foram submetidos à intervenção cirúrgica e ligadura do vaso lesado~

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Ricardo Aun e cals.

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Fig. 2.B - Especimen cirúrgico obtido por ressecção do seg­mento lesado da artéria femoral superficial, evidenciando-se lesão nas três camadas da parede arterial.

Fig. 3 - Arteriografia de membro superior em paciente por­tador de ferimento penetrante de antebraço; nota-se trombose segmentar da artéria radial.

Laceração de artéria femoral superficial por fratura de fêmur foi encontrada em um paciente, com extravasamento de contraste e permeabilidade distal. Este paciente também foi submetido a tratamento cirúrgico, com fIXação da fratura e restauração arterial com veia safena autógena con­tralateral, que evoluiu com bom resultado.

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Arteriografia em trauma

Fig. 4 - Ferimento de coxa por .projétil de arma de fogo. Evidencia-se irregularidade parietal ao nível do terço distaI da artéria femoral superficial (seta).

Em outro paciente a arteriografia mostrava ir­regularidade da parede da artéria femoral super­ficial (Fig.4), causada por ferimento por projétil. A exploração cirúrgica revelou hematoma subin­timal ao nível da lesão. A restauração empregada foi derivação fêmoro-femoral com veia safena autóloga que evoluiu com bom resultado. Final­mente, em uma paciente, vítima de ferimento cervical, por projétil, a arteriografia demonstrou imagem de dilatação da artéria vertebral, na sua origem, junto à subclávia. A exploração cirúrgica revelou lesão térmica da artéria vertebral, junto sua origem sendo então submetida à ligadura do coto distaI e rafia da origem da subclávia.

Nos 29 pacientes com ausência de manifestações clínicas de lesão arterial, o emprego do estudo angiográfico evidenciou lesão arterial em 10 pa­cientes (34,4%), sendo que 7 destes necessitaram cdrreção cirúrgica (24,13%), ligaduras arteriais em dois e restauração em cinco.

DISCUSSÃO

A dificuldade em se reconhecer ferimentos arteriais associados a fraturas ou por ferimentos penetrantes de extremidade que não apresentem

C/R. VASCo Af'lG. 4(3); 19, 24, 1988

Ricardo Aun e cals.

manifestações clínicas traz evidentes preJUlzos à evolução tardia destas lesões com formação de pseudo-aneurismas e fístulas arteriovenosas trau­máticaJ.

As lesões arteriais cujas manifestações clínicas são mínimas ou ausentes na fase aguda são pe­quenos hematomas parietais, solução de con­tinuidade com pouco extravasamento e necrose térmica ou por contato de parede. A maior parte destas lesões apresenta manifestações angiográ­ficas características, conforme foi observado por diversos autores2,3,4, geralmente através de pe­quenas falhas de enchimento intraluminar, elevação da íntima e extravasamento de contra,ste através da parede do tronco principal ou de ramo.

A indicação do estudo angiográfico tem se ex­pandido progressivamente através de métodos mais acurados, eficazes, simples e menos agressivos. Há facilidade de execução em qualquer serviço de emergência 2.

Os critérios de indicação angiográfica variam conforme os diversos autores.

Smith3, define os seguintes critérios: 1) proximidade do trauma junto a vaso de grosso calibre, 2) ausência ou diminuição de pulsos dis­tais, 3) hematoma tenso ou expansivo, 4) alterações de sensibilidade ou motricidade, 5) fraturas que por proximidade possam lesar troncos vasculares maiores e 6) hipotensão. Von Risto~, (1985) além dos critérios acima acrescenta a indicação de arteriografia nos ferimentos penetrantes nos quais o agente lesivo acompanha o trajeto vascular por longa extensão e paralelo ao m~smo.

No presente estudo, utilizados estes critérios, separamos 28 pacientes com ferimentos penetran­tes ou por fraturas nos quais não havia sinais clínicos de lesão vascular e constatamos que a arteriografia foi útil em determinar lesões arteriais em oito destes (32,14%), obrigando a intervenção cirúrgica-em seis (21,43%).

Alguns trabalhos apresentam resultados seme­lhantes para ferimentos vasculares sem mani­festações clínicas 6,7.

Goodman 6, verificou 27% de alterações em 44 pacientes assintomáticos, praticamente seme­lhante aos 21% que havia encontrado em estudo anterior 7 através de angiografia convencional. Os achados deste autor foram semelhantes aos en­contrados no presente estudo: extravasamento de pequenos vasos, pseudo-aneurisma e fístula arte­riovenosa; no entanto nesta série não foram en­contradas lesões intimais e trombose parietal.

Das lesões encontradas na presente série, ne­nhuma seria detectada sem a arteriografia, uma vez que o exame clínico foi normal em todos os pacientes.

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Arteriografia em trauma

Dois pacientes apresentaram lesões obstrutivas de ,ramos de menor calibre e importância secundária, em um havia trombose da artéria radial e em outro trombose da artéria peroneira.

Mais freqüentes foram as lesões dos vasos femorais, os quais foram lesados em seis ocasiões. Em dois pacientes houve fratura do terço proximal do fêmur com laceração da artéria femoral profun­da o que obrigou a ligadura deste ramo.

Falso aneurisma traumático da artéria femoral superficial foi encontrado em dois pacientes, que foram submetidos à restauração com veia safena contralateral com anastomoses término-laterais. Os outros dois pacientes apresentavam irregularidade parietal. O primeiro provavelmente por lesão in­timai isolada e o achado cirúrgico foi de coágulos aderidos à parede sem solução de continuidade. No segundo deste caso havia hematoma subin­timal e o corte transversal da peça ressecada mostrava solução de continuidade da parede. Ambos os pacientes foram submetidos à restauração com veia safena contralateral com anastomoses término-laterais.

O fato de que os ferimentos arteriais exten­sos possam ocorrer sem os sinais clínicos clássicos de isquemia distai levou à formulação, por alguns autores da possibilidade de se indicar a exploração cirúrgica nos ferimentos penetrantes de extremidade 10. Alguns critérios adicionais, como a proximidade do ferimento penetrante a um vaso maior, evidência de história de sangramento, mesmo que judiciosamente aplicados, podem resultar um número desnecessário de explorações cirúrgicas com sua própria morbidade e mortalidade 11,12

Tal risco pode ser diminuido com a utilização adequada do estudo arteriográfico que não trouxe nenhum maior problema a qualquer dos pacientes da série. A quantidade de contraste variou de 20 a 80 ml sendo a média de 34 ml por exame.

O uso liberal da arteriografia nos traumas per­mite um reconhecimento precoce do trauma vas­cular, localização precisa e informações a respeito da patologia, resposta terapêutica e prognóstico 12.

Concluindo, podemos ver que a arteriografia em ferimentos em trajetos vasculares sem evidências clínicas mostrou 34,4% de lesões, obrigando a 24,13% de reparação arterial.

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Ricardo Aun e cols.

SUMMARY

ARTERlOGRAPHY IN TRAUMA OF THE EX­

TREMITIES WITHOUT SIGNS OF VASCULAR IN­

VOLVEMENT

The early recognition of vascular injuries al­lows the best result in it's treatment. Although not ali vascular trauma are promply recognited and late complications such thrombosis, arteriove­nous tistula and talse aneurism may occur.

In 29 patients with limb and neck injuries wi­thout clinicai pictures of vascular injuries we per­formed angiograms which are: femoral percu­taneous arteriogram in 23, Seldinger in 4, Sones in 1 and digital subtraction angiogram in 1.

These angiograms revealed arterial injuries in 10 patients: Thigh lesion with superficial femoral artery lesion in four, profunda lesion in two, radial artery thrombosis in one, peroneal artery in one, subclavia artery in one and umerallesion in one.

There were seven surgical procedures in the­se patients, restauration in tive and ligatures in two.

Uniterms: Vascular trauma, arteriography.

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