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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE BIOCIÊNCIAS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS BIOLÓGICAS ÁREA DE CONCENTRAÇÃO: BIODIVERSIDADE VIRGÍNIA FARIAS PEREIRA DE ARAÚJO ARTHROPODA DE SOLO EM UM ECOSSISTEMA SEMI- ÁRIDO DA REGIÃO NEOTROPICAL: COMPOSIÇÃO, VARIABILIDADE TEMPORAL E ESTRATIFICAÇÃO Natal 2009

ARTHROPODA DE SOLO EM UM ECOSSISTEMA SEMI … · arthropoda de solo em um ecossistema semi-Árido da regiÃo neotropical: composiÇÃo, variabilidade temporal e estratificaÇÃo

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Page 1: ARTHROPODA DE SOLO EM UM ECOSSISTEMA SEMI … · arthropoda de solo em um ecossistema semi-Árido da regiÃo neotropical: composiÇÃo, variabilidade temporal e estratificaÇÃo

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE

CENTRO DE BIOCIÊNCIAS

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS BIOLÓGICAS

ÁREA DE CONCENTRAÇÃO: BIODIVERSIDADE

VIRGÍNIA FARIAS PEREIRA DE ARAÚJO

ARTHROPODA DE SOLO EM UM ECOSSISTEMA SEMI-

ÁRIDO DA REGIÃO NEOTROPICAL: COMPOSIÇÃO,

VARIABILIDADE TEMPORAL E ESTRATIFICAÇÃO

Natal 2009

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VIRGÍNIA FARIAS PEREIRA DE ARAÚJO

ARTHROPODA DE SOLO EM UM ECOSSISTEMA SEMI-ÁRIDO

DA REGIÃO NEOTROPICAL: COMPOSIÇÃO, VARIABILIDADE

TEMPORAL E ESTRATIFICAÇÃO

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Ciências Biológicas/ Biodiversidade, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, em cumprimento às exigências para obtenção do título de Mestre em Ciências Biológicas.

Orientador: Prof. Dr. Alexandre Vasconcellos

Natal 2009

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VIRGÍNIA FARIAS PEREIRA DE ARAÚJO

ARTHROPODA DE SOLO EM UM ECOSSISTEMA SEMI-ÁRIDO

DA REGIÃO NEOTROPICAL: COMPOSIÇÃO, VARIABILIDADE

TEMPORAL E ESTRATIFICAÇÃO

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Ciências Biológicas/ Biodiversidade, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, em cumprimento às exigências para obtenção do título de Mestre em Ciências Biológicas.

.

Banca Examinadora:

_________________________________________________ Prof. Dr. Alexandre Vasconcellos (UFRN)

(Orientador)

_________________________________________________ Prof. Dr. Adelmar Gomes Bandeira (UFPB)

_________________________________________________ Prof. Dr. Ricardo Andreazze (UFRN)

_________________________________________________ Profa. Dra. Adriana Monteiro de Almeida (UFRN)

(Suplente)

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Dedico este trabalho a meus pais, Francisco P. de Araújo e Maria de Lourdes F. de Araújo.

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AGRADECIMENTOS

Aos meus pais Francisco P. de Araújo e Maria de Lourdes F. de Araújo, que tanto contribuíram para meu crescimento pessoal e profissional.

A MSc Helder F.P. Araújo, meu irmão, pelo apoio profissional, assim como, pela paciência, sugestões e indispensável colaboração nas coletas.

Ao Prof. Dr Alexandre Vasconcellos, na qualidade de amigo e orientador, pelo apoio logístico, importantes críticas e sugestões e por sua valiosa contribuição para meu crescimento científico.

Ao Prof. Dr Adelmar Gomes Bandeira, pelo incentivo e apoio, sua colaboração foi, nos âmbitos pessoal, logístico e científico, fundamental para o sucesso deste trabalho.

Ao Sr. Eliezer Braz por permitir o desenvolvimento de nossas pesquisas e por nos acolher na Fazenda Almas.

Ao CNPq que, através do Projeto PELD – caatinga, financia e contribui grandemente para o desenvolvimento de nossas pesquisas.

A Capes, pela bolsa de Pós-Graduação, e a UFRN pela contribuição acadêmica e pelo auxílio financeiro.

A Flávia Moura, grande amiga, pela ajuda prof issional e pessoal, pela compreensão, auxíl io em campo e em laboratório, pela cumplicidade e pelos incentivos.

Aline Lopes pelo seu coleguismo, que tão logo se tornou amizade e cumplicidade (pessoal e prof issional).

Alexandre, Aline, Arnaldo, Cláudio, Eduardo, Flávia, José Alves (Sr.Dedé), Nicholas, Roberto, Tarsila, Uirandé (Dedé) e Washington, pela indispensável ajuda e companhia no campo.

A família Palmeira, “Seu Chico”, “Seu Elias” e “Cidinha” e seus f i lhos, não apenas pela ajuda no campo, mas principalmente pela amizade.

A Cláudio da Silva pelas ajudas computacionais e, principalmente, pela paciência, compreensão, companheirismo e amizade.

A André Queiroga Reis pelas análises em laboratório.

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A UFPB e aos professores do Departamento de Sistemática e Ecologia – Adelmar Gomes, Antonio Creão-Duarte, Celso Mart ins, Maria Crist ina Crispim, Maria Regina Barbosa, Mart in Christoffersen, Rafael Guerra e Ricardo Rosa, que me acolheram e contribuíram direta ou indiretamente para o desenvolvimento desse trabalho.

A professora Kryst ina Lira e as funcionárias Tereza Crist ina e Gláucia Faheina do Departamento de Biologia Molecular (UFPB), pelo empréstimo de material e auxílio nas análise de laboratório.

Aos professores Dr. Ricardo Andreazze (UFRN) e Dr. José Well ington de Morais (INPA), que mesmo no período de férias, aceitaram participar da qualif icação deste trabalho, no qual contribuíram com valiosas crít icas e sugestões.

À Emmanuelle, Fátima, Magali e Marcolina pelo acolhimento em Natal e amizade.

A Kleber Vieira pelas construt ivas discussões e conselhos estatíst icos.

A Gindomar, Joafrâncio, Ludmil la, e Washington obrigada, pela amizade, emprést imos de material e troca de idéias.

A Helder Araújo, Gentil Fi lho e Nino Amazonas pela ajuda na produção dos abstracts.

A Nino Amazonas pelo material enviado e, principalmente, por ser um grande companheiro, mesmo distante.

À Pamella Brennand pela amizade incontestável em todos os momentos.

A Bruno Campos, grande amigo, pelas suas discussões, opiniões e nossas reclamações.

Aos colegas dos Laboratórios de Entomologia da UFPB e da UFRN, obrigada pela companhia e bons momentos.

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Só se pode conservar o que se conhece e, por isso, o primeiro estágio para

conservar a biodiversidade é descrevê-la, mapeá-la e medi-la. (Margules & Pressey)

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SUMÁRIO LISTA DE FIGURAS -------------------------------------------------------------------------------------- viii

LISTA DE TABELAS -------------------------------------------------------------------------------------- ix

CAPÍTULO I - ARTHROPODA DE SOLO EM UM ECOSSISTEMA SEMI-ÁRIDO DA REGIÃO

NEOTROPICAL: COMPOSIÇÃO E VARIABILIDADE TEMPORAL

1. INTRODUÇÃO ------------------------------------------------------------------------------------------- 3

2. MATERIAL E MÉTODOS ------------------------------------------------------------------------------- 5

2.1 ÁREA DE ESTUDO ----------------------------------------------------------------------------------------------- 5

2.1.1 FATORES AMBIENTAIS------------------------------------------------------------------ 8

2.2 AMOSTRAGEM DE ARTHROPODA ----------------------------------------------------------------------------- 11

2.3 FATORES AMBIENTAIS EDÁFICOS ---------------------------------------------------------------------------- 15

2.4 ANÁLISES ESTATÍSTICAS -------------------------------------------------------------------------------------- 16

3. RESULTADOS ------------------------------------------------------------------------------------------ 17

4. DISCUSSÃO -------------------------------------------------------------------------------------------- 23

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS ---------------------------------------------------------------------------- 26

REFERÊNCIAS -------------------------------------------------------------------------------------------- 27

CAPÍTULO II - ESTRATIFICAÇÃO DA MACROFAUNA EDÁFICA EM UM ECOSSISTEMA DE SAVANA

SEMI-ÁRIDA

1. INTRODUÇÃO ------------------------------------------------------------------------------------------- 32

2. MATERIAL E MÉTODOS ------------------------------------------------------------------------------- 34

2.1 AMOSTRAGEM DE ARTHROPODA ----------------------------------------------------------------------------- 34

2.2 ANÁLISES ESTATÍSTICAS -------------------------------------------------------------------------------------- 36

3. RESULTADOS ------------------------------------------------------------------------------------------ 37

4. DISCUSSÃO -------------------------------------------------------------------------------------------- 42

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS ---------------------------------------------------------------------------- 45

REFERÊNCIAS -------------------------------------------------------------------------------------------- 46

APÊNDICE ------------------------------------------------------------------------------------------------- 49

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LISTA DE FIGURAS

CAPÍTULO I: ARTHROPODA DE SOLO EM UM ECOSSISTEMA SEMI-ÁRIDO DA REGIÃO NEOTROPICAL:COMPOSIÇÃO E VARIABILIDADE TEMPORAL

Figura 1: Localização dos municípios de São José dos Cordeiros e Sumé, onde se encontra inserida a RPPN Fazenda Almas, Paraíba.

5

Figura 2: Localização da RPPN Fazenda Almas na caatinga. Contorno amarelo: perímetro da Fazenda Almas; contorno vermelho: perímetro dos fragmentos que compõem a RPPN. Observação: Os limites desenhados nas fotos são meramente ilustrativos, visto que foi baseado em um único mapa (não georeferenciado) existente no IBAMA-PB e na posse da proprietária da fazenda, que mostra delimitação da reserva (ARAÚJO, H.F.P., dados não publicados).

6

Figura 3: Vista da RPPN Fazenda Almas, nas estações seca (a) e chuvosa (b), respectivamente, em São José dos Cordeiros, Paraíba. (Fotos: ARAÚJO, V.F.P.).

7

Figura 4: : Precipitação, balanço hídrico, evapotranspiração e cobertura vegetal da RPPN Fazenda Almas, Paraíba, entre agosto de 2007 e julho 2009. (Dados hídricos fornecidos pelo PROCLIMA 2008)

9

Figura 5: Escala da vegetação (10 a 100%) de acordo com a quantidade de folhas e galhos (Fotos: Araújo, V.F.P.).

10

Figura 6: Representação (a) dos transectos paralelos de 100 m, com 10 pontos de coleta distanciados entre si por 10 m; e (b) dos pontos de coleta com amostragem mensal (Esquema: Araújo, V.F.P.).

11

Figura 7: Sonda metálica utilizada nas coletas: (a) medidas e partes componentes (x = 13 cm; y = 7 cm; z = 5cm); (b) em posição de uso no campo (Esquema: SILVA, C.; Foto: MOURA, F.M.S.).

12

Figura 8: Processos para coleta das amostras de solo: (a) inserção da sonda no solo; (b) extração do solo adjacente à sonda; (c) retirada da sonda do solo; (d) acondicionamento das amostras em sacos plásticos. (Fotos: MOURA, F.M.S.)

13

Figura 9: Aparelho de Berlese utilizado para extração dos organismos do solo (Fotos: VASCONCELLOS, A.).

14

Figura 10: Abundância de Arthropoda de solo, indicando média e intervalo de confiança de 95%, de 0 a 10 cm de profundidade do solo, entre os meses de agosto de 2007 e julho 2008, na RPPN Fazenda Almas, Paraíba. As letras diferentes indicam diferença estatística ao nível de 5% - Arthropoda Total: H=140,66; p<0,001; g.l.=11; n=240; Arthropoda excetuando Acari: H=165,38; p<0,001; g.l.=11; n=240.

20

Figura 11: Riqueza de Arthropoda de solo, indicando média e intervalo de confiança de 95%, de 0 a 10 cm de profundidade do solo, entre os meses de agosto de 2007 e julho 2008, na RPPN Fazenda Almas, Paraíba. As letras diferentes indicam diferença estatística ao nível de 5% - H=166,64; p=0,0000; gl=11; n=240.

20

Figura 12: Variação da riqueza de Arthropoda de solo das camadas A (0 a 5 cm) e B (5 a 10 cm), indicando a média de táxons por mês e a variação da precipitação nos meses de agosto de 2007 e julho 2008, na RPPN Fazenda Almas, Paraíba.

21

Figura 13: Variação da abundância de Arthropoda de solo total (a) e excetuando Acari (b) nas camadas A (0 a 5 cm) e B (5 a 10 cm), indicando a média de indivíduos.m-2 por mês e a variação da precipitação nos meses de agosto de 2007 e julho 2008, na RPPN Fazenda Almas, Paraíba.

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CAPÍTULO II: ESTRATIFICAÇÃO DA COMUNIDADE EDÁFICA EM UM ECOSSISTEMA DE SAVANA SEMI-ÁRIDA

Figura 1: Esquema das etapas da coleta e triagem da fauna de solo, pelo método TSBF modificado (Ilustrado por Silva, M. P.).

35

Figura 2: Etapas da coleta e triagem da fauna de solo: metodologia no campo, pelo método do TSBF (Fotos: Araújo,V.F.P.).

36

Figura 3: Densidade estimada de Arthropoda do solo por camada nas estações seca e chuvosa, na RPPN Fazenda Almas, São José dos Cordeiros, Paraíba. *Formicidae e Isoptera

38

LISTA DE TABELAS

CAPÍTULO I: ARTHROPODA DE SOLO DE UM ECOSSISTEMA SEMI-ÁRIDO DA REGIÃO NEOTROPICAL:COMPOSIÇÃO E VARIABILIDADE TEMPORAL

Tabela 1: Densidade (indivíduos. m-2) e percentual (%) dos diferentes grupos de Arthropoda do solo em caatinga, na RPPN Fazenda Almas, São José dos Cordeiros, Paraíba.

18

Tabela 2: Correlação da fauna de Arthropoda do solo com os fatores ambientais da RPPN Fazenda Almas, São José dos Cordeiros, Paraíba.

19

CAPÍTULO II: ESTRATIFICAÇÃO DA COMUNIDADE EDÁFICA DE UM ECOSSISTEMA DE SAVANA SEMI-ÁRIDA

Tabela 1: Densidade estimada (ind.m-2) e percentual (%) dos diferentes grupos de Arthropoda do solo em caatinga, na RPPN Fazenda Almas, São José dos Cordeiros, Paraíba.

38

Tabela 2: Diferenças entre as camadas do solo (Mann-Whitney, n=15), quanto à abundância e a riqueza de Arthropoda do solo, na estação chuvosa e seca, na RPPN Fazenda Almas, Paraíba.

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CAPÍTULO I ARTHROPODA DE SOLO EM UM ECOSSISTEMA SEMI-ÁRIDO

DA REGIÃO NEOTROPICAL: COMPOSIÇÃO E VARIABILIDADE TEMPORAL

Resumo

A Caatinga é um importante laboratório para estudos sobre as adaptações e

aclimatações de Arthropoda, devido a uma alta variação temporal da

precipitação. Foram verificados os efeitos da variabilidade temporal sobre a

composição de Arthropoda em uma área de caatinga. O estudo foi realizado na

Reserva Particular do Patrimônio Nacional (RPPN) Fazenda Almas, São José

dos Cordeiros, Paraíba. A coleta foi realizada em dois transectos paralelos de

100 m, distantes 30 m entre si, em área de caatinga arbórea densa, durante o

período entre agosto de 2007 e julho de 2008. Em cada transecto, foram

determinados 10 pontos de coleta, distanciados 10 m entre si, onde se

retiraram 10 amostras do solo entre 0 e 5 cm (A) e 5 e 10 cm (B) de

profundidade, totalizando 40 amostras mensais. O método do funil de Berlese

foi utilizado na extração da fauna. Foram registradas 26 ordens e a densidade

de Arthropoda do solo variou de 3237 a 22774 indivíduos.m-2 em janeiro de

2007 e março de 2008, respectivamente. Não houve diferença significativa

entre as camadas A e B com relação a abundância e riqueza de ordens.

Grupos com poucos registros ou que não haviam sido inventariados na região

da caatinga foram registrados, como Pauropoda, Psocoptera, Thysanoptera,

Protura e Araneae. Acari foi o grupo mais abundante com 66,7% do total de

indivíduos. Os Arthropoda de solo apresentaram correlação positiva com a

umidade do solo, cobertura vegetal, precipitação e evapotranspiração real.

Foram registrados aumento na riqueza e na abundância da fauna em fevereiro,

um mês após o início das chuvas. A ocorrência de chuvas periódicas em

ecossistemas áridos ou semi-áridos aciona respostas fisiológicas em

organismos edáficos, como os Arthropoda. Portanto, os Arthropoda edáficos

respondem a variabilidade temporal em área de caatinga. Esta variação da

fauna tem implicações potencialmente importantes no estudo do ecossistema,

pois as mudanças na composição de Arthropoda do solo podem afetar a

dinâmica da rede alimentar ao longo do tempo.

Palavras-chave: caatinga; fauna de solo; abundância; variáveis ambientais;

insetos.

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ARTHROPODA OF SOIL IN A SEMI-ARID ECOSYSTEM

OF THE NEOTROPICAL REGION:COMPOSITION AND TEMPORAL VARIABILITY

Abstract

Caatinga is an important laboratory for studies about arthropods adaptations

and aclimatations because its precipitation is highly variable in time. We studied

the effects of time variability over the composition of Arthropods in a caatinga

area. The study was carried out at a preservation area on Almas Farm, São

José dos Cordeiros, Paraíba. Samples were collected in two 100 m long parallel

transects, separated for a 30 m distance, in a dense tree dominated caatinga

area, between August 2007 and July 2008. Samples were collected in each

transect every 10 m. Ten soil samples were taken from each transect, both at 0-

5 cm (A) and 5-10 cm (B) depth, resulting in 40 samples each month. The

Berlese funnel method was used for fauna extraction. We registered 26 orders

and the arthropods density in the soil ranged from 3237 to 22774 individuals.m-

2 from January 2007 to March 2008, respectively. There was no difference

between layers A and B regarding orders abundance and richness. The groups

recorded include groups with few records or that had no records in the Caatinga

region yet as Pauropoda, Psocoptera, Thysanoptera, Protura and Araneae.

Acari was the most abundant group, with 66,7% of the total number of

individuals. Soil Arthropods presented a positive correlation with soil moisture,

vegetal cover, precipitation and real evapotranspiration. Increases in fauna

richness and abundance were registered in February, a month after the

beginning of the rainy season. A periodic rain events in arid and semiarid

ecosystems triggers physiological responses in edafic organisms, like

arthropods. Edafic arthropods respond to time variability in the Caatinga biome.

This fauna variation has to be considered in studies of this ecosystem, because

the variation of Arthropods composition in soil can affect the dynamics of the

food web through time.

Keywords: Caatinga; soil fauna; abundance; environment variables; insects.

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1. INTRODUÇÃO

Os artrópodes do solo constituem uma elevada proporção da

diversidade na maioria dos ecossistemas (ANDERSON 1975; LAVELLLE et al.

2006). Estes organismos são de grande importância para os processos de

decomposição da matéria orgânica, formação os solos e fluxos de energia e

nutrientes (BEARE et al. 1995).

O conhecimento da estrutura da comunidade edáfica permite inferir

sobre o papel destes organismos e pode ser utilizado como um indicador do

funcionamento do subsistema do solo (STORK & EGGLETON 1992). Analisar a

relação entre a fauna e as variações temporais é de grande relevância para

compreender a estrutura e a dinâmica da comunidade do solo, especialmente

em sistemas altamente variáveis (BENGTSSON & BERG 2005; DOBLAS-MIRANDA et

al. 2007).

Ecossistemas semi-áridos se caracterizam pela alta variabilidade

temporal (SCHWINNING & SALA 2004). Nestes ambientes, o efeito da precipitação

sobre o solo pode desencadear desde a rápida liberação de nitrogênio por

microorganismos residentes no solo (CUI & CALDWELL 1997) a respostas

demográficas dos principais produtores e consumidores ao longo do ano

(OSTFELD & KEESING 2000).

A caatinga é uma região de savana semi-árida que se caracteriza por

temperaturas e déficits hídricos elevados, o que agrava ainda mais os efeitos

da irregularidade e da baixa pluviosidade (ANDRADE- LIMA 1981; COUTINHO

2006). A paisagem da região é dominada por formas fisionômicas distribuídas

em mosaico, como caatinga arbórea, arbustiva e espinhosa, adaptada a

condição de aridez (COIMBRA-FILHO & CÂMARA 1996). A caatinga tem sido

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4

severamente alterada por corte de lenha, agricultura, queimadas, caça e ação

contínua de rebanhos bovinos e caprinos, resultando apenas uma pequena

parcela preservada e protegida (LEAL et al. 2005 ).

Esta região semi-árida funciona como um importante laboratório para

estudos sobre adaptação de invertebrados a um regime de chuvas com grande

variação temporal. Comparada a outros ecossistemas brasileiros, a caatinga

apresenta a fauna de solo menos conhecida (LEWINSOHN & PRADO 2002;

BRANDÃO & YAMAMOTO 2004; MARQUES & LAMAS 2006).

Neste capítulo foram analisadas a composição, a estratificação e a

resposta da comunidade de Arthropoda do solo à variabilidade temporal em

uma área de caatinga localizada no nordeste brasileiro.

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2. MATERIAL E MÉTODOS

2.1 ÁREA DE ESTUDO

Este trabalho foi desenvolvido na Reserva Particular do Patrimônio

Nacional (RPPN) Fazenda Almas (07o 28’ 15’’S; 36o 52’ 51’’W), que se localiza

entre o município de São José dos Cordeiros e o município de Sumé (LIMA

2004) (Figura 1). Com 3505 hectares, a RPPN encontra-se inserida na

microrregião do Cariri paraibano, na porção limite entre as Ecorregiões Planalto

da Borborema e Depressão Sertaneja Setentrional (VELOSO et al. 2002) (Figura

2).

Figura 1: Localização dos municípios de São José dos Cordeiros e Sumé, onde se encontra inserida a RPPN Fazenda Almas, Paraíba.

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O solo predominante na região é do tipo bruno não cálcico (VELOSO et

al. 2002). A vegetação da RPPN Fazenda Almas varia de uma vegetação

arbórea aberta a uma mais densa, localizada entre afloramentos rochosos com

flora própria (Figura 3) (BARBOSA et al. 2003). A Reserva está representada

esquematicamente por cinco fragmentos inseridos na área da fazenda (Figura

2). As áreas vizinhas aos fragmentos da RPPN, no interior da fazenda, são

utilizadas para o pastoreio de bovinos e caprinos (LIMA 2004).

a

b

Figura 3: Vista da RPPN Fazenda Almas, nas estações seca (a) e chuvosa (b), respectivamente, em São José dos Cordeiros, Paraíba. (Fotos: ARAÚJO, V.F.P.).

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8

A região possui uma altitude que varia de 600 a 720 m, com temperatura

e umidade média anual de 25°C e 65%, respectivamente (GOVERNO DO ESTADO

DA PARAÍBA 1985). De acordo com a classificação de Köeppen, o clima da

região é do tipo BSh, ou seja, seco, caracterizado por insuficiência e

irregularidade das precipitações e ocorrência de temperaturas elevadas

(CADIER et al. 1983 apud ALBUQUERQUE et al. 2005).

2.1.1 FATORES AMBIENTAIS

A partir dos dados de precipitação, balanço hídrico e evapotranspiração

real diários dos municípios de Sumé e São José dos Cordeiros, fornecidos pelo

PROCLIMA (2008), foi estimada a média para a região da RPPN. A

evapotranspiração real é considerada como a perda total de água por

evaporação do solo e transpiração das plantas. Apesar dos período chuvoso

ter iniciado em janeiro de 2008, o excesso hídrico ocorre entre março e julho de

2008 (Figura 4).

A área de amostragem é protegida por mais de 100 anos, nesta não há

sinais de atividade de bovinos ou caprinos e a densidade média das árvores é

46/100 m² (VASCONCELLOS et al. submetido). Para avaliar a cobertura vegetal

ao longo do ano, fotografou-se o dossel sobre cada ponto de coleta (com uma

câmera digital - Sony Cyber-shot DSC-W55, 7.2 Megapixels), a uma distância

de 1 cm do solo. A cobertura vegetal foi categorizada em uma escala entre 0 a

100%, de acordo com a quantidade de folhas e galhos (Figura 5).

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Figura 5: Escala da vegetação (10 a 100%) de acordo com a quantidade de folhas e galhos (Fotos: Araújo, V.F.P.).

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2.2 AMOSTRAGEM DE ARTHROPODA

Durante 12 meses (entre agosto de 2007 e julho de 2008), a fauna de

Arthropoda de solo foi coletada mensalmente em caatinga arbórea densa, no

período entre 6 e 12 horas da manhã, em dois transectos paralelos de 100 m,

com 30 m de distância entre eles (Figura 6a).

Determinaram-se 10 pontos de coleta, com uma distância de 10 m entre

eles ao longo de cada transecto (Figura 6a). Em cada um dos pontos, foi

delimitado um círculo com 2 m de raio, onde se definiram doze pontos de

amostragem, referentes aos meses. (Figura 6b).

a 100 m

30m

b

Figura 6: Representação (a) dos transectos paralelos de 100 m, com 10 pontos de coleta distanciados entre si por 10 m; e (b) dos pontos de coleta com amostragem mensal (Esquema: Araújo, V.F.P.).

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Com auxílio de uma sonda metálica de 13 cm de altura e 7 cm de

diâmetro (Figura 7), retiraram-se 20 amostras do solo entre 0 e 5 cm (A) e 20

amostras entre 5 e 10 cm (B) de profundidade. Devido à fina espessura (ou

ausência) de serrapilheira, esta foi incluída na camada A do solo. Segundo

PETERSON & LUXTON (1982), geralmente, admite-se que a maior parte da biota

edáfica concentra-se entre 0 e 10 cm, sendo a amostragem freqüentemente

limitada pela serrapilheira e camada abaixo. Consideraram-se os meses como

unidade amostral, portanto, foram extraídas 40 amostras por mês. Os

processos para coleta das amostras de solo consistiram em: i. inserção da

sonda no solo, através de batidas com martelo; ii. extração do solo adjacente à

sonda; iii. retirada da sonda do solo; e iv. acondicionamento das amostras em

sacos de plástico (Figura 8).

a b

Figura 7: Sonda metálica utilizada nas coletas: (a) medidas e partes componentes (x = 13 cm; y = 7 cm; z = 5cm); (b) em posição de uso no campo (Esquema: SILVA, C.; Foto: MOURA, F.M.S.).

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a b

c d

Figura 8: Processos para coleta das amostras de solo: (a) inserção da sonda no solo; (b) extração do solo adjacente à sonda; (c) retirada da sonda do solo; (d) acondicionamento das amostras em sacos plásticos. (Fotos: MOURA, F.M.S.)

Em caixas térmicas, as amostras foram transportadas até o laboratório

de Entomologia da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), onde foram

depositadas no extrator de Berlese. Este é um método indireto, dependente da

migração dos organismos, que através de um gradiente físico-químico, são

induzidos a deslocar pelo funil e cair no líquido extrator (ANDRÉ et al. 2002).

Esta técnica consistiu no acondicionamento do material particulado em funis

metálicos de 20 cm de altura, 12 cm de diâmetro na circunferência superior e 3

cm de diâmetro na inferior. A 10 cm da superfície superior posiciona-se uma

tela de polietileno perfurada, para permitir a passagem dos espécimes. Os

furos têm cerca de 5 mm de diâmetro. Cada funil comporta, em média, 300 g

de material particulado. Os funis cheios foram colocados em uma caixa de

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contenção de madeira que acomoda 18 funis. Na parte superior da caixa estão

instaladas quatro lâmpadas de 25 W cada, que proporcionam a iluminação e o

aquecimento da caixa (Figura 9). A porta da caixa possui uma abertura com

tela que permite a ventilação, evitando o superaquecimento interno. Na parte

inferior do funil foi posicionado um pote de plástico contendo um líquido extrator

composto de formalina (1%) em solução aquosa acrescida de detergente

(0,5%), para diminuir a tensão superficial da água, facilitando a imersão dos

animais. Modelos similares a este foram utilizados por BANDEIRA & TORRES

(1985). O material particulado foi mantido no funil de Berlese durante cinco dias

em temperatura gradativamente elevada de 25 a 45°C. Os espécimes

recolhidos foram conservados em álcool 75%, triados e identificados em nível

de ordem. Uma categoria foi formada para os indivíduos que não foram

possíveis identificar, como pequenas larvas e indivíduos deformados. O

material foi depositado no Laboratório de Entomologia da UFPB.

Figura 9: Aparelho de Berlese utilizado para extração dos organismos do solo (Fotos: VASCONCELLOS, A.).

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2.3 FATORES AMBIENTAIS EDÁFICOS

A disponibilidade de matéria orgânica, a umidade e a temperatura do

solo foram mensurados mensalmente. A temperatura foi medida com

termômetro de mercúrio, inserido ao solo. Determinaram-se a umidade e a

matéria orgânica através dos métodos gravimétrico e de perda por combustão,

respectivamente, descritos por ALLEN et al. (1974), modificado (SILVA &

BANDEIRA 1999). De cada amostra pesaram-se aproximadamente dois gramas

de solo, estas foram secas em estufa, à temperatura de 105°C, por

aproximadamente 48h. Posteriormente, as amostras foram levadas à mufla,

onde permaneceram por 4 horas à temperatura de 450°C. A umidade e matéria

orgânica foram determinadas pelas seguintes equações:

US = S/S0 . 100

e

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Onde,

US = umidade do solo;

S = diferença de peso entre as amostras de solo úmido e seco em estufa;

S0 = peso do solo úmido.

M.O.= matéria orgânica;

P = diferença de peso entre as amostras de solo seco em estufa e em mufla;

Pe = peso do solo seco em estufa.

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2.4 ANÁLISES ESTATÍSTICAS

Utilizou-se correlação de Spearman para avaliar as relações entre os

fatores ambientais (precipitação, evapotranspiração, M.O., temperatura e

umidadedo solo), cobertura da vegetação e a fauna (riqueza de ordens e

abundância). Foi empregado o teste de Mann-Whitney U, para comparar a

riqueza e a abundância entre as camadas do solo (A e B). A variabilidade dos

fatores ambientais e da fauna de solo foi testada através da análise de

variância não-paramétrica (Kruskal-Wallis), utilizando a posteriori o teste de

Dunn. Os testes foram feitos com o auxílio do software STATISTIC 5.0

(STATSOFT 1995).

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3. RESULTADOS

Os 11488 indivíduos coletados compreenderam 28 ordens, incluindo

adultos e imaturos (Tabela 1). A densidade de Arthropoda do solo variou de

3267 a 22923 indivíduos.m-2, em janeiro de 2007 e março de 2008,

respectivamente.

Os táxons mais abundantes foram Acari (66,7%), Collembola (16%) e

Formicidae (3,5%). Algumas das categorias zoológicas, como Symphyla,

Pauropoda, Diplura e Diptera imaturo, variaram significativamente entre os

meses (ver Apêndice – Tabela II). Protura, Blattodea, Thysanoptera e

Hemiptera foram registrados apenas entre os meses de março e julho, quando

ocorre maior precipitação, e Thysanura entre agosto e dezembro (Tabela 1).

Coleoptera, Diptera, Hymenoptera (exceto Formicidae) e Hemiptera

estiveram presentes no solo tanto na fase imatura quanto adulta,

diferentemente de Neuroptera, encontrado apenas na fase imatura.

Ao contrário dos Polyxenida, que ocorreram ao longo do ano, os outros

Myriapoda (adulto e imaturo) foram encontrados principalmente no período de

março a julho, assim como Isopoda (Tabela 1).

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19

Os Arthropoda de solo apresentaram correlação negativa com a

temperatura e positiva com a umidade do solo, cobertura vegetal, precipitação

e evapotranspiração. No entanto, não houve correlação entre a fauna e a M.O.

(Tabela 2).

Tabela 2: Correlação da fauna de Arthropoda do solo com os fatores ambientais da RPPN Fazenda Almas, Paraíba.

Fatores Ambientais Abundância Total (rs) Abundância, exceto Acari (rs) Riqueza (rs)

Cobertura Vegetal 0,78* 0,76* 0,75*

Precipitação 0,83* 0,86* 0,62*

Evapotranspiração 0,85* 0,86* 0,70*

Umidade do Solo 0,85* 0,88* 0,69*

Temperatura do Solo -0,49 -0,59* -0,62*

M.O. do Solo 0,07 0,24 0,12

*Correlação significativa (p<0,05).

Os meses entre fevereiro e julho de 2008, com média pluviométrica de

158 mm por mês e uma média de 18479 indivíduos.m-2, foram mais abundantes

e ricos que os meses entre agosto de 2007 e janeiro de 2008, com média de 19

mm por mês e 6598 indivíduos.m-2 (Figuras 10 e 11). A comunidade de

Arthropoda diferiu significativamente entre os meses, tanto em relação à

abundância (Arthropoda Total: H=140,66; p<0,001; g.l.=11; n=240) quanto em

relação a riqueza de táxons (H= 166,64; p<0,001; g.l.=11; n=240). No mês de

setembro, 620 ácaros foram registrados em uma amostra, ocasionando um

intervalo de confiança amplo para este mês.

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Figura 10: Abundância de Arthropoda de solo, indicando média e intervalo de confiança de 95%, de 0 a 10 cm de profundidade do solo, entre os meses de agosto de 2007 e julho 2008, na RPPN Fazenda Almas, Paraíba. As letras diferentes indicam diferença estatística ao nível de 5% - Arthropoda Total: H=140,66; p<0,001; g.l.=11; n=240; Arthropoda excetuando Acari: H=165,38; p<0,001; g.l.=11; n=240.

Figura 11: Riqueza de Arthropoda de solo, indicando média e intervalo de confiança de 95%, de 0 a 10 cm de profundidade do solo, entre os meses de agosto de 2007 e julho 2008, na RPPN Fazenda Almas, Paraíba. As letras diferentes indicam diferença estatística ao nível de 5% - H=166,64; p=0,0000; gl=11; n=240.

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Registrou-se uma média de 7347 e 5098 indivíduos.m-2 nas camadas A

(0 a 5 cm) e B (5 a 10cm), respectivamente. De modo geral, as camadas A e B

não diferiram significativamente, tanto em relação à riqueza de táxons (Mann-

Whitney U = 65,5; Z = 1,0; n = 12; P = 0,31) quanto à abundância (Mann-

Whitney U = 53,0; Z= 1,1; n = 12; P = 0,27) (Figuras 12 e 13, respectivamente).

Porém, nos meses de dezembro, junho e julho, tanto a riqueza e quanto a

densidade da camada A diferiram da camada B (Apêndice – Tabela I).

Figura 12: Variação da riqueza de Arthropoda de solo das camadas A (0 a 5 cm) e B (5 a 10 cm), indicando a média de táxons por mês e a variação da precipitação nos meses de agosto de 2007 e julho 2008, na RPPN Fazenda Almas, Paraíba.

.

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22

a

b

Figura 13: Variação da abundância de Arthropoda de solo total (a) e excetuando Acari (b) nas camadas A (0 a 5 cm) e B (5 a 10 cm), na RPPN Fazenda Almas, São José dos Cordeiros, Paraíba.

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4. DISCUSSÃO

A densidade de Arthropoda de solo relatada neste estudo foi muito

inferior aos publicados para ecossistemas de florestas (ADIS et al. 1989; HÖFER

et al. 2001; FRANKLIN et al. 2005), mas está dentro da amplitude de densidade

publicada para ecossistemas áridos ou semi-áridos (ELKINS & WHITFORD 1982;

DECAËNS et al. 1994; SILVA et al. 2006). Acari e Collembola foram os grupos

mais abundantes, representando mais de 50% da fauna de Arthropoda edáfico.

Este padrão de dominância é relatado para muitos ecossistemas tropicais e

temperados, sejam eles florestas ou savanas (ELKINS & WHITFORD 1982; ADIS

1988; HENEGHAN et al. 1998; HENEGHAN et al. 1999; DUARTE 2004; KUMSSA et al.

2004).

Houve uma clara variação temporal para a comunidade de Arthropoda

estudada. Em ambientes áridos, mudanças na temperatura e precipitação

normalmente têm fortes efeitos sobre a disponibilidade dos recursos,

composição e dinâmica da comunidade (MOONEY 1981; DOBLAS-MIRANDA et al.

2007). No entanto, a resposta dos Arthropoda de solo aos “pulsos ambientais”

não foi imediata. Observou-se um aumento na riqueza e na abundância da

fauna a partir de fevereiro, mês seguinte ao início das chuvas, e permanecem

por seis meses. Segundo SCHWINNING & SALA (2004), em ecossistemas áridos e

semi-áridos, pequenos pulsos ativam fisiologicamente apenas os micróbios que

vivem na superfície do solo. A ocorrência de chuvas periódicas em

ecossistemas áridos ou semi-áridos aciona respostas fisiológicas em

organismos edáficos, como os Arthropoda.

Os organismos apresentaram uma correlação positiva e significativa

com a umidade e negativa com temperatura do solo. A temperatura afeta

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muitos aspectos da vida da fauna do solo. A taxa de desenvolvimento de

alguns Arthropoda, como Collembola e Acari, muitas vezes são dependentes

da temperatura (HOPKIN 1997). Este fator é fundamental para ativação,

desenvolvimento e reprodução de muitos insetos. A umidade e a precipitação

parecem influenciar ainda mais a fauna (DENLINGER 1986; WOLDA 1988; HARADA

& BANDEIRA 1994; PINHEIRO et. al 2002). Para evitar a dessecação, os animais

do solo podem redistribuir-se verticalmente para regiões mais úmidas (VERHOEF

& VAN SELM 1983; DIDDEN 1993) e/ou entrar em fases inativas, como ovos

dormentes, que são reativadas pela umidade (DENLINGER 1986; HOPKIN 1997).

Em relação à abundância e a riqueza, a comunidade edáfica não se

diferenciou significativamente de março a julho de 2008, apesar da menor

precipitação em junho e julho, provavelmente em resposta ao microclima

proporcionado pela vegetação, umidade e temperatura do solo. Embora a

intensidade do impulso seja controlada pela interação entre quantidade de

precipitação e característica do solo, a duração do impulso depende também

das características do clima e da vegetação (SCHWINNING et al. 2003;

SCHWINNING & SALA 2004). A diversidade vegetal oferece diferentes recursos

alimentares, o que influencia na quantidade e qualidade de serrapilheira

ingerida pela fauna do solo controlando, ao menos em parte, a abundância dos

organismos (WARREN & ZOU 2002). Os arbustos na savana fornecem uma

camada de serrapilheira mais profunda, que aumenta a retenção de água no

solo, bem como modera a temperatura. Estes fatores podem favorecer o

crescimento de populações da mesofauna (FRANKLIN et al. 2005).

Comparada a camada mais superficial, de 0 a 5 cm de profundidade, a

riqueza da camada mais profunda, entre 5 e 10 cm, é maior ou igual no período

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seco e menor no período chuvoso. A movimentação vertical de alguns

Arthropoda da serrapilheira está associada às mudanças de temperaturas do

solo e a presença de diferentes tipos de vegetais (VILLANI & WRIGHT 1990).

Clima, condições do solo, vegetação e intervenção humana determinam a

composição da comunidade do solo desde a escala local à global (LADD et al.

1996). Dentro dos limites impostos por estas variáveis, os organismos do solo

distribuem-se espacialmente de acordo com disponibilidade de água, pH e

outros atributos físico-químicas do solo. Isto leva a íngremes gradientes na

distribuição vertical e horizontal da comunidade do solo (WOLTERS 2000).

Alguns dos grupos da fauna edáfica identificados neste trabalho - Acari,

Araneae, Isoptera, Diptera e Hymenoptera – apresentam poucos registros para

caatinga (BRANDÃO & YAMAMOTO 2004). Outros, como Pauropoda, Symphyla,

Psocoptera, Tysanoptera e Protura nunca haviam sido inventariados ou

estudos não haviam sido publicados envolvendo estes táxons para esta região.

A dificuldade em traçar paralelos entre comunidades edáficas de diferentes

áreas da caatinga resulta da escassez deste tipo de pesquisa na região

(MARQUES & LAMAS 2006).

A variação anual da comunidade edáfica tem implicações

potencialmente importantes no estudo do ecossistema, uma vez que as

mudanças na composição de Arthropoda do solo podem afetar as interações

entre as espécies e, portanto, a dinâmica da rede alimentar ao longo do tempo.

Logo, o conhecimento da variabilidade temporal é crucial para compreender a

dinâmica da comunidade do solo, especialmente em sistemas heterogêneos e

variáveis como a caatinga.

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26

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

� Existe variação temporal na comunidade de Arthropoda de solo da caatinga,

em resposta a variabilidade climática.

� A precipitação é o “pulso climático” que desencadeia o aumento na riqueza e

abundância de Arthropoda edáficos ao longo do ano.

� Umidade, principalmente, e temperatura são fatores edáficos que

influenciam a riqueza e a abundância dos microartrópodes ao longo do ano.

� Entre os microartrópodes, Acari e Collembola são os grupos mais

abundantes, independentemente da época do ano.

� Estudos em níveis taxonômicos inferiores a ordem são indispensáveis para

análise da fauna de solo na caatinga.

� Em nível de ordem, não se pode inferir sobre a migração vertical de

Arthropoda de solo ao longo do ano.

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30

CAPÍTULO II ESTRATIFICAÇÃO DA MACROFAUNA EDÁFICA EM UM ECOSSISTEMA DE

SAVANA SEMI-ÁRIDA

Resumo

A biota do solo desempenha um papel importante no funcionamento do

ecossistema, pois ocupa diversos níveis tróficos e afeta a produção primária

direta e indiretamente. Avaliou-se a estratificação da comunidade de

Arthropoda edáfico em uma área de caatinga. O estudo foi realizado em área

de caatinga arbórea densa, na Reserva Particular Patrimônio Nacional (RPPN)

Fazenda Almas, São José dos Cordeiros, Paraíba. Para extração do material,

15 pontos de coleta, distanciados 10 m entre si, foram estabelecidos em dois

transectos paralelos de 100 m, distantes 30 m entre si. Os Arthropoda edáficos

foram coletados através do método proposto pelo Tropical Soil Biology and

Fertility Program (TSBF) modificado. Blocos de solo foram divididos em três

amostras de 20 cm x 20 cm x 30 cm de dimensão (12 litros), em cada ponto de

coleta. Quarenta e cinco amostras foram retiradas por estação climática nas

três camadas do solo: A (0-10 cm), B (10-20 cm) e C (20-30 cm). Registraram-

se 22 ordens e 1072 indivíduos nos 30 cm de profundidade do solo. A fauna foi

dominada pelos insetos sociais, Isoptera representou 57% da abundância total

e Formicidae 17%. No período chuvoso, as três camadas diferiram

significativamente entre si, quanto à abundância e a riqueza de táxons (A: 580

indivíduos.m-2 e 37 táxons; B: 625 indivíduos.m-2 e 22 táxons; C: 127

indivíduos.m-2 e 14 táxons), contudo no período seco, as camadas A e B não

apresentam diferença significativa (A: 182 indivíduos.m-2 e 13 táxons; B: 230

indivíduos.m-2 e 12 táxons). Cerca de 75%, dos 1787 indivíduos.m-2 ,foram

encontrados na estação chuvosa. Houve diferença significativa na riqueza e na

abundância da fauna entre as estações chuvosa e seca. A correlação entre os

descritores da fauna (riqueza e abundância) e os fatores ambientais (matéria

orgânica, temperatura e umidade do solo) foi baixa. A distribuição espacial da

fauna edáfica é influenciada por fatores abióticos, como umidade e temperatura

do solo. O método de TSBF mostrou eficiência para estudos sobre

macroartrópodes edáficos na caatinga, visto que os valores de densidade e

riqueza encontraram-se dentro do intervalo registrado para áreas de savana e

o método é muito utilizado para estudo da macrofauna.

Palavras-chave: Caatinga, fauna de solo; monolitos; distribuição vertical.

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31

STRATIFICATION OF SOIL MACROFAUNA IN A SAVANNA

ECOSYSTEM OF SEMI-ARID

Abstract

Soil biota plays a major role in ecosystem functioning, because it occupies

several trophic levels and affects directly and indirectly the primary production.

We evaluated the soil arthropods community stratification in a caatinga area.

The study was carried out at a preservation area on Almas Farm, São José dos

Cordeiros, Paraíba. Samples were collected in 15 points along two 100 m long

parallel transects, separated for a 30 m distance, in a dense tree dominated

caatinga area. Soil Arthropods were collected using an adaptation of the

method proposed by the Tropical Soil Biology and Fertility Program (TSBF). Soil

blocks from each collection point were split into three samples of 20 cm x 20 cm

x 30 cm (12 liters). Each season, a total of 45 soil samples were collected

separating the material from each layer: A (0-10 cm), B (10-20 cm) and C (20-

30 cm). We recorded a total of 22 orders and 1072 individuals. We found soil

fauna is dominated by social insects. Isoptera represented 57% and Formicidae

17% in abundance. In the rainy season, the three layers were found to be

different regarding abundance and richness of taxa (A: 580 individuals.m-2 and

37 taxa; B: 625 individuals.m-2 and 22 taxa; C: 127 individuals.m-2 and 14

taxa). In the dry season, layers A and B were not significantly different (A: 182

individuals.m-2 and 13 taxa; B: 230 individuals.m-2 and 12 taxa). About 75% of

the 1787 individuals.m-2 were captured in the rainy season. Fauna richness and

abundance was significantly different between rainy season and dry season.

The correlation between fauna richness and abundance and the environment

(organic material content, temperature and soil moisture) was low. The

distribution of soil fauna is influenced by abiotic factors such as soil moisture

and temperature. The TSBF method showed to be efficient for studies about

edafic macroarthropods in the Caatinga biome, once richness and abundance

values found in this study are in the same range of values recorded in studies

about soil macro fauna in other savanna areas.

Keywords: Caatinga, soil fauna; monolith; vertical distribution.

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32

1. INTRODUÇÃO

A macrofauna edáfica desempenha um papel chave na formação e

estabilização da estrutura do solo, pois atua na decomposição, ciclagem de

nutrientes e manutenção das suas propriedades físico-químicas (LAVELLE et al.

1994; DECAËNS et al. 2003). Alguns grupos, como térmites, minhocas e

formigas, têm sido chamados de “engenheiros de ecossistemas” pela sua

capacidade de modificar profundamente a estrutura do solo e influenciar a

disponibilidade de recursos para organismos de outras categorias funcionais

(STORK & EGGLETON 1992; LAVELLE 1997; JOUQUET et al. 2006).

Segundo LAVELLE (1983), os padrões de distribuição dos organismos

estão relacionados aos gradientes de temperatura e umidade, principalmente

em ecossistemas de savana, que apresentam sazonalidade marcante. No

entanto, diversos estudos mostraram uma ausência de correlação entre fatores

abióticos do solo e a distribuição espacial de vários táxons de invertebrados

(ROSSI et al.1997; ETTEMA et al. 1998).

Apesar de seu papel crucial no funcionamento dos ecossistemas, as

comunidades do solo ainda são pouco estudadas (HUNTER 2001; DOBLAS-

MIRANDA et al. 2007). Nas regiões tropicais, de modo geral, há uma grande

biodiversidade e uma escassez de informações sobre a fauna de solo. No

Brasil, se considerarmos a área e a diversidade de ecossistemas, o número de

trabalhos sobre invertebrados edáficos é pequeno (SILVA & BANDEIRA 1999). A

fauna edáfica da caatinga, ecossistema exclusivamente brasileiro, é a menos

conhecida do país.

A caatinga representa um dos maiores exemplos de savana semi-árida

da região Neotropical, abrangendo uma área de cerca de 735000 km2

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33

(ANDRADE-LIMA 1981; PRADO 2003). É constituída por uma vegetação arbustiva,

ramificada e espinhosa, adaptada a baixa precipitação. Esta região está sujeita

a recorrentes secas e a precipitações médias anuais que variam de 240 a 1500

mm (SAMPAIO 1995). Atualmente, a caatinga está sobre elevada pressão

antrópica com poucas áreas ainda com vegetação primária (LEAL et al. 2005 ).

Há uma enorme carência de estudos sobre a biodiversidade da

caatinga, principalmente com relação à fauna edáfica (LEWINSOHN & PRADO

2002; BRANDÃO & YAMAMOTO 2004). Um dos motivos para essa lacuna é o

pequeno número de pesquisadores e taxonomistas. Os grupos melhor

estudados de insetos são formigas (LEAL 2003) e térmites (BANDEIRA &

VASCONCELLOS 1999; MÉLO & BANDEIRA 2004), que apontam para o

reconhecimento de endemismo e espécies raras neste ecossistema semi-árido.

A proposta deste trabalho foi determinar a estratificação da

comunidade de Arthropoda edáfico, apontando diferenças na distribuição da

fauna entre camadas e estações.

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34

2. MATERIAL E MÉTODOS

Este trabalho foi desenvolvido na RPPN Fazenda Almas, esta área de estudo

foi descrita no Capítulo I.

2.1 AMOSTRAGEM DE ARTHROPODA

Em caatinga arbórea densa, a fauna de Arthropoda de solo foi coletada

em maio de 2007 e novembro de 2008, nas estações chuvosa e seca,

respectivamente. Estabeleceram-se dois transectos paralelos de 100 m, com

30 m de distância entre eles, onde foram distribuídos 15 pontos de coleta,

distantes entre si por 10 m.

Para obtenção de Arthropoda, utilizou-se o método proposto pelo

Tropical Soil Biology and Fertility Program (TSBF) (ANDERSON & INGRAM 1987)

modificado (SILVA & BANDEIRA 1999). Em cada ponto de coleta, com auxílio de

uma placa metálica (20 cm x 30 cm), inseridas através de batidas com martelo,

formaram-se blocos de solo com dimensão de 20 cm x 20 cm x 30 cm (12

litros). Em cada bloco, foram extraídos três camadas: A (0-10 cm), B (10-20

cm) e C (20-30 cm), totalizando 45 amostras por estação (Figura 1). Devido à

serrapilheira ser muita fina, esta foi incluída na camada A.

Dissociou-se o solo de cada amostra em bandejas plásticas (Figura 2).

Os animais foram manualmente coletados em campo, com auxílio de pinças e

pincéis, foram colocados em frascos, devidamente etiquetados, contendo

álcool 75% e levados ao laboratório, onde foram triados e identificaram os

indivíduos em nível de ordem, família e/ou subfamília. Para identificados foram

consultadas bibliografias especializadas (COYNEAU 1974; BORROR & DELONG

1988; DINDAL, 1990).

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35

Em cada camada de solo (A, B e C), foi inserido um termômetro de

mercúrio (ou digital, ambos foram testados), para mensurar a temperatura do

solo, e extraíram-se amostras do solo para mensuração da disponibilidade de

matéria orgânica (M.O.) e a umidade do solo em laboratório (Figura 2).

Determinaram-se a umidade e a matéria orgânica através dos métodos

gravimétrico e de perda por combustão, respectivamente, descritos por ALLEN

et al. (1974), modificado por SILVA & BANDEIRA (1999).

Figura 1: Esquema das etapas da coleta e triagem da fauna de solo, pelo método TSBF modificado (Ilustrado por Silva, M. P.).

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36

Figura 2: Etapas da coleta e triagem da fauna de solo: metodologia no campo, pelo método do TSBF (Fotos: Araújo,V.F.P.).

2.2 ANÁLISES ESTATÍSTICAS

Utilizou-se correlação de Spearman para avaliar as relações entre os fatores

ambientais (temperatura, M.O. e umidade do solo) e a fauna (riqueza de táxons

e abundância). Foi empregado o teste de Mann-Whitney U, para comparar a

riqueza e a abundância entre as camadas das estações seca e chuvosa. Estes

testes foram feitos com o auxílio do software STATISTIC 5.0 (STATSOFT1995).

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3. RESULTADOS

Os Arthropoda encontrados, incluindo adultos e imaturos, pertencem a

22 ordens, que se distribuem entre Arachnida, Insecta, Myriapoda e Crustacea.

Dos 1787 indivíduos.m-2, cerca de 75% foram encontrados na estação chuvosa

e 25% na seca (Tabela 1). Na estação chuvosa, foram registrados na camada

A (0-10 cm) cerca de 44% do total de indivíduos (580 ind.m-2), na camada B

(10-20 cm) 47% (625 ind. m-2) e na C (20-30 cm) 9% (127 ind. m-2). Enquanto,

na estação seca, 40% do total de indivíduos (182 ind.m-2) foram registrados na

camada A (0-10 cm), na camada B (10-20 cm) 51% (230 ind. m-2) e na C (20-

30 cm) 9% (43 ind. m-2) (Tabela 1).

A fauna de solo foi amplamente dominada por Insecta, que

compreendeu 90% do total de indivíduos. Verificou-se a presença de táxons

pouco abundantes. Isoptera foi o grupo mais abundante, independentemente

da camada ou estação, representando 57% da abundância total de animais,

seguido de Hymenoptera (Formicidae) com 17%, larva de Coleoptera (7%) e

Araneae (3%). A dominância dos grupos variou de acordo com a camada do

solo (Tabela 1). Ao excluir os insetos sociais (Isoptera e Formicidae) das

análises, verificou-se que a camada A na estação chuvosa teve mais indivíduos

que a camada B, e na estação seca as camadas A e B apresentaram a mesma

densidade (Figura 3).

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38

Figura 3: Densidade estimada de Arthropoda do solo por camada nas estações seca e chuvosa, na RPPN Fazenda Almas, São José dos Cordeiros, Paraíba. *Formicidae e Isoptera

A riqueza e a densidade correlacionaram negativamente com a

temperatura (rs riqueza= -0,46; rs densidade= -0,39; p ≤ 0,05, respectivamente) e

positivamente com a M.O (rs riqueza= 0,43; rs densidade= 0,34; p< 0,05,

respectivamente) e umidade (rs = 0,31; rs = 0,23, p < 0,05, respectivamente).

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41

A densidade e a riqueza da estação chuvosa foram de 1332

indivíduos.m-2 e 36 táxons, respectivamente, enquanto a estação seca

apresentou 455 indivíduos.m-2 e 18 táxons. Houve diferença significativa na

riqueza (Mann-Whitney U = 434,0; Z = 4,67; n = 45; p < 0,001) e na densidade

da fauna (Mann-Whitney U = 514,5; Z= 4,02; n = 45; p < 0,001) entre as

estações chuvosa e seca. Entre as camadas, verificou-se diferença significativa

na densidade e na riqueza, tanto no período de chuva quanto de seca.

Contudo na seca, as camadas A e B não diferiram significativamente (Tabela

2).

Tabela 2: Diferenças entre as camadas do solo (Mann-Whitney, n=15), quanto à densidade e a riqueza de Arthropoda do solo, na estação chuvosa e seca, na RPPN Fazenda Almas, Paraíba.

�������Camadas do solo Abundância � Riqueza

(densidade; número de táxons) U U

A (580; 35) ≠ B (625;21) 29 p<0,01 31,5 p<0,01

Chuvosa A (580; 35) ≠ C (127;13) 24,5 p<0,01 1,5 p<0,0001

B (625;21) ≠ C (127;13) 47 p<0,01 55,5 p≤0,01

A (182;12) = B (230;12) 108,5 p=0,86 99 p=0,58

Seca A (182;12) ≠ C (43;6) 35,5 p<0,01 42 p<0,01

B (230;12) ≠ C (43;6) � 39 p<0,01 � 39 p<0,01

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42

4. DISCUSSÃO

Neste estudo, a riqueza e a densidade da comunidade de Arthropoda

de solo apresentam-se dentro do intervalo registrado para outros ambientes de

savana Neotropical, como cerrado brasileiro e llanos colombianos. A riqueza da

macrofauna do cerrado, entendida como o número de unidades taxonômicas

(Classe, Ordem ou Família), varia de 15 a 21 (AQUINO et al. 2008). SILVA et al.

(2006) encontraram, em 30 cm de profundidade diferentes sistemas de

produção do cerrado, valores de densidade que variaram de 484 a 3106

indivíduos.m-2. DECAËNS et al. (1994) registraram 2830 a 4293 indivíduos. m-2

para os llanos na Colômbia.

A densidade da fauna na estação chuvosa foi três vezes maior que na

seca. A riqueza também foi maior no período de chuva. O desenvolvimento de

uma diversificada cobertura vegetal, a formação de uma camada de

serrapilheira, a maior disponibilidade de nutrientes e uma subseqüente

modificação no microclima do solo na estação chuvosa influenciam a

distribuição espacial, o aumento da biomassa, a densidade e a diversidade dos

organismos (LAVELLE 1983; SCHEU 1992).

Com relação à riqueza e abundância, as três camadas diferiram

estatisticamente entre si no período chuvoso, enquanto no período seco as

camadas entre 0 e 20, não apresentaram diferença significativa. A maior

abundância na camada entre 10 e 20 cm deve-se à alta densidade dos insetos

sociais, Isoptera ou Formicidae. Ao excluir estes táxons das análises, verifica-

se que a maioria dos Arthropoda prevaleceu na camada A do solo. Segundo

PETERSON & LUXTON (1982), geralmente, admite-se que a maior parte da biota

edáfica concentra-se entre 0 e 10 cm. Segundo BENITO et al. (2004) no cerrado,

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aproximadamente 80% dos macroinvertebrados concentram-se na

profundidade de até 10 cm. Esta tendência varia consideravelmente entre os

diferentes locais (WALWORK 1970, ADIS et al. 1989, DINDAL 1990, HARADA &

BANDEIRA 1994).

A menor densidade de macroartrópodes na camada entre 20 e 30 cm

está relacionada provavelmente ao tamanho dos organismos e a estrutura do

solo. Segundo POESEN & LAVELLE (1994), fragmentos de rocha podem modificar

o microclima do solo da floresta, interceptando água e alterando a taxa de

infiltração. Assim, alterações nas condições microclimáticas podem afetar a

distribuição e atividade de organismos do solo. Além disso, fragmentos de

rocha podem afetar a atividade da fauna do solo, alterando as características

do habitat e do solo, limitando a circulação da fauna através dos perfis do solo,

principalmente dos organismos maiores. Esta camada de cascalho pode atingir

até 30 cm de profundidade em solos calcários (ROMANYÀ et al. 2000).

A correlação entre os descritores da fauna (riqueza e abundância) e os

fatores ambientais (temperatura, umidade e M.O.) foi baixa. A distribuição

espacial da fauna edáfica é influenciada, ao menos em parte, pelos fatores

abióticos (JIMÉNEZ et al. 2001). A matéria orgânica do solo desempenha um

papel vital na manutenção da qualidade do solo (PICCOLO 1996). No cerrado, foi

detectada uma correlação positiva e significativa entre a matéria orgânica e a

densidade total (SILVA et al. 2006).

O método utilizado neste estudo é indicado para extração de

macroartrópodes edáficos, o que explica a baixa densidade de microartrópodes

e a alta densidade de cupins e formigas se comparadas ao método de Berlese-

Tüllgren. Assim, o método se mostrou ineficiente para captura de táxons de

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tamanho reduzido, como Acari e Collembola. Segundo ANDRÉ et al. (2002) a

extração de grupos menores de Arthropoda torna-se mais eficiente com

métodos que independam de técnicas visuais, como Berlese-Tullgren e

flotação.

Isoptera, a ordem mais abundante, representou mais de 50% da fauna e

predominou na camada mais superficial nas duas estações. O segundo grupo

mais abundante foi Formicidae, seguido de larva de Coleoptera, ambos

prevaleceram na camada entre 0 e 10 cm na estação chuvosa e entre 10 e 20

cm na seca. Estes grupos também dominaram a macrofauna edáfica em área

de savana Neotropical, como nos llanos colombianos (DECAËNS et al. 1994) e

vegetação nativa de cerrado (AQUINO et al. 2008). Araneae, quarto grupo mais

abundante, foi encontrado principalmente na camada superficial. DOBLAS-

MIRANDA et al. (2007) verificaram, em um sistema árido no Mediterrâneo , que

os macroinvertebrados do solo foram amplamente dominados por Arthropoda

(99,9%), dos quais os mais abundantes foram Hymenoptera (50,3%,

principalmente Formicidae), Embioptera (13,2%) e Araneae (12,7%).

Polydesmida e Microcoryphia nunca haviam sido registrados para esta

região de savana semi-árida. Em levantamento sobre o conhecimento da fauna

de invertebrados, MARQUES & LAMAS (2006) relataram que o Nordeste

apresenta-se em terceiro colocado quanto aos estudos sobre invertebrados

não-hexapoda e hexapoda, representando 4,11% e 8,57% dos trabalhos

publicados no Brasil, respectivamente. A área brasileira considerada mais

crítica com relação ao seu conhecimento é a caatinga (BRANDÃO et al. 2000;

MARQUES & LAMAS 2006). Só se pode conservar o que se conhece e, por isso, o

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primeiro estágio para conservar a biodiversidade é descrevê-la, mapeá-la e

medi-Ia (MARGULES & PRESSEY 2000).

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

� Na estação chuvosa, a comunidade de Arthropoda de solo é mais rica e

abundante que na seca.

� Na estação chuvosa, há uma variação maior na distribuição vertical de

Arthropoda de solo que na seca.

� Matéria orgânica, umidade e temperatura do solo são fatores edáficos que

apresentam baixa relação com a distribuição vertical de Arthropoda do solo.

� Entre os macroartrópodes, os insetos sociais (Formicidae e Isoptera) são os

grupos mais abundantes, independentemente da estação.

� Em nível de ordem, não se pode inferir sobre a flutuação vertical de

Arthropoda de solo ao longo do ano.

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Apêndice

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Tabela I: Comparação mensal entre as camadas entre 0 a 5 cm e 5 e 10 cm do solo, quanto a abundância e riqueza da fauna, na RPPN Fazenda Almas, Paraíba.

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*Há diferença significativa

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Tabela II: Comparação da densidade das categorias zoológicas entre os meses de agosto de 2007 e julho de 2008.

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Arachnida Acari H(11;240) = 99,8306; p = 0,0000

Araneae ����� �������� �������������

Pseudoscorpionida ����� ������ ������������ ��

Myriapoda Symphyla ����� ���������� �������������

Pauropoda ����� �������������������������

Chilopoda Geophilomorpha ����� ��������������������������

Scolopendromorpha ����� ������������������ ���

Diplopoda Spirobolida ����� �����������������������

Polyxenida ����� ������ ����������������

Crustacea Isopoda ����� �������������������������

Hexapoda Collembola ����� �������� ����������������

Diplura ����� ��������� �������������

Protura ����� ���������� ��������������

Insecta Thysanoptera ����� ���������� �������������

Psocoptera ����� ����� ���������������

Tysanura ����� ����� � �������������� �

Blattodea ����� ��������� ��������� ���

Orthoptera ����� ��������������������� �

Isoptera ����� ������������������������

Coleoptera ����� ����� ���������������

Diptera ����� �����������������������

Hymenoptera ����� ������ ����������������

Formicidae ����� �������������������������

Hemiptera ����� ����������������������

Embioptera ����� ����������������

Hemiptera (imaturo) ����� ������������������

Coleoptera (imaturo) ����� ������� ����������������

Lepidoptera (imaturo) ����� ������������������

Diptera (imaturo) ����� ������������������������

Hymenoptera (imaturo) ����� ��������� ��������� ����� �� Neuroptera (imaturo) � ����� ������������������