Artigo 8 Revista Geografia Jan2014

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    ANLISE DOS HOMICDIOS OCORRIDOS EM JUIZ DE FORAENTRE OS ANOS DE 2010 A 2012 E SUA RELAO COM AS

    VARIVEIS SOCIOAMBIENTAIS

    Monique Cristine de BrittoMestranda em Geograa Universidade Federal de Juiz de Fora Rua Jos Loureno Kelmer, s/n-Campus

    Universitrio Bairro So Pedro. Cep.: 36036-900. Juiz de Fora/MG.E-mail: [email protected]

    Cssia de Castro Martins FerreiraProfessora do Programa de Ps-Graduao em Geograa Universidade Federal de Juiz de Fora Rua

    Jos Loureno Kelmer, s/n-Campus Universitrio Bairro So Pedro. Cep.: 36036-900. Juiz de Fora/MG.E-mail: [email protected]

    Resumo

    No exerccio de descrever e analisar a dinmica da violncia criminalizada em Juiz de Fora-MG, neste artigo se-lecionamos como variveis investigativas os registros de homicdios provenientes da Polcia Civil, no perodo de2010 a 2012. Analisados segundo a distribuio diria, mensal, sazonal, anual e espacial, os registros criminaisforam relacionados s possveis variveis investigativas que permitiram conjecturar e responder as questesidenticadas na perspectiva das inuncias ambientais. Dentre as variveis mais frequentemente associadas s

    dinmicas scio-ambientais, foram selecionadas s climatolgicas, em especial, s variveis trmicas, analisadaspor meio dos registros de temperatura instantnea, temperatura mxima e temperatura mnima, disponibilizadospelo Laboratrio de Climatologia e Anlise Ambiental da Universidade Federal de Juiz de Fora. As abordagensintegradas s dinmicas scio-espaciais contemplaram variveis censitrias vinculadas renda, educao, infra-estrutura e demograa (IBGE, Censo 2010). Os resultados apontaram distintos comportamentos, sinalizando para

    um aumento dos registros nos ltimos anos, para as estaes mais quentes e os perodos noturnos, marcada-mente com menores temperaturas. A espacializao dos dados apontou 62 regies urbanas (76,5%) no trinio, edentre estas, 20 regies (35,8% das regies urbanas) com totais anuais superiores a mdia anual e, 19 como asmais paccas (23,5%), sinalizando para as reas como os maiores totais populacionais e propores de jovens,

    negros e com rendimentos inferiores ao salrio mnimo.

    Palavras-chave: Homicdios; dinmica; Juiz de Fora.

    Abstract

    In the year to describe and analyze the dynamics of violence criminalized in Juiz de Fora, MG, this article selectedas variables investigative records of homicides from the civil police in the period 2010-2012. Analyzed accordingto daily, monthly, seasonal, annual and spatial , criminal records were related to other variables that allowed in-vestigative conjecture and answer the questions identied in the perspective of environmental inuences. Among

    the variables most often associated with socio- environmental dynamics, were selected to climatological , inparticular the thermal variables , as shown by the records of instantaneous temperature , maximum temperatureand minimum temperature , provided by the Laboratory of Climatology and Environmental Analysis , Federal Uni-versity Juiz de Fora . Integrated approaches to socio-spatial dynamics contemplated census variables related to

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    income, education, infrastructure and demographics (IBGE, 2010 Census ). The results showed distinct behaviors,signaling an increase records in recent years, to the warmer seasons and nocturnal periods, with markedly lowertemperatures. The spatial distribution of the data revealed 62 urban areas (76.5%) in three years , and amongthese, 20 regions ( 35.8 % in urban areas ) with annual totals exceeding annual mean and 19 as the most peace-ful ( 23.5% ), pointing to areas like the larger population totals and proportions of young , black, and with incomesbelow the minimum wage.

    Keywords: Homicide; dynamics, Juiz de Fora.

    Introduo

    A violncia e a criminalidade fazem parte docotidiano urbano, passando como banais aos olhosdesatentos, assim como os sentimentos de medo einsegurana nas grandes cidades. Nos jornais, naconversa de nibus, nas ruas, no trabalho, nas nove-

    las, msicas, lmes e desenhos animados, o duetoalimenta crticas, polmicas e complexidades, tornandoos citadinos, atores coadjuvantes de um espetculode agresses crescentes, dirias, que divide os seresentre o bem e o mal, certo e errado, que nas sociedadesurbanas contemporneas, so capazes de agir comoelementos estimuladores de mudanas, nos hbitos dascomunidades e nas dinmicas das paisagens. Comouma doena tratada com remdios paliativos, a violn-cia e o sentimento de medo se reproduzem e terminamcontribuindo para o desenvolvimento de sistemas deautoproteo, gerando espaos defensivos, tornando

    raros e arriscados passeios em determinadas ruas epraas de uma cidade, modicando seus usos, afetando

    a sua valorizao social e nanceira.

    No Brasil, as prticas violentas tiveram no passadocolonial e agrrio, sua banalizao, em especial nosistema escravocrata. Esse perodo foi capaz de geraruma cultura fundadora que contribuiu para caracterizara sociedade brasileira como violenta, transformando-senuma linguagem organizadora, fortemente inuenciada

    pela mdia. Na atualidade, o crime, especialmente a vio-lncia criminalizada, passou a ser utilizada como umaforma de medir a violncia, constituindo uma interseoentre a concepo de violao grave a lei moral, civilou religiosa e o sentimento de medo e insegurana, aateno miditica e as aes governamentais. Dessamaneira, o medo e a sensao de insegurana sonutridos pelo crime e pela violncia, que tem nos as-sassinatos uma de suas manifestaes.

    A violncia homicida ganhou destaque no pano-rama nacional e na mdia, sendo uma realidade difusae nebulosa. Como a violncia apresenta um aspectoamplo, no tendo registros de todos os atos, esbarrandoem uma grande falta de dados precisos, as mortes so

    as formas mais frequentes de medir sua intensidade.Trata-se de um critrio, de um ponto de vista, que visacontemplar o maior nmero de registros, os locais,dados das vtimas, os instrumentos utilizados e asmotivaes, onde os homicdios recebem especialateno.

    As estatsticas internacionais e nacionais sobre aviolncia frequentemente utilizam dos totais de regis-tros de homicdios. No caso dos mtodos aplicadospela polcia mineira, especicamente, o referente ao

    ndice de Criminalidade Violenta (ICV), so analisadosos registros de homicdios tentados e consumadosjuntamente com crimes de outras naturezas, como oroubo a mo armada, sequestro e estupro, entre outros.Diferentemente, as informaes do Ministrio da Sa-de utilizam da declarao de bito, sendo base dasinformaes do Mapa da Violncia 2012, desenvolvidopor Jlio Jacobo Waiselsz (2011).

    Para Cerqueira (2010, p.11) o pas perde, porano, 47 mil vidas por causas violentas, sendo umfenmeno de distribuio bastante heterognea portodo territrio brasileiro. Em Minas Gerais, somenteno ano de 2010, foram registrados 3.538 homicdios(WAISELFISZ, 2011, p.23), valor superior aos totaisdemogrcos de 16 municpios da microrregio de

    Juiz de Fora, dentre eles Aracitaba (2.057), Chcara(2.792), Chiador (2.785), Coronel Pacheco (2.983),Belmiro Braga (3.404), etc. A segurana virou produto,sendo comercializada e anunciada. Ao se acessar ahome page Portal do Turismo da Prefeitura de Juiz de

    Fora se encontrar, dentre as caractersticas munici-pais identicadas como atrativas para as atividades

    empreendedoras, a qualidade da segurana pblica,divulgada como a terceira cidade mais segura da regiosudeste brasileira e a primeira de Minas Gerais.

    Estudos como o de Beato Filho et al. (1998) de-monstram que os dados sobre violncia devem ser re-lativizados e cuidadosamente estudados. Ao analisar astendncias de criminalidade violenta em Minas Gerais,entre os anos de 1986 a 1997, o autor relativiza a ima-gem de cidade segura para Juiz de Fora, demonstrando

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    Anlise dos Homicdios Ocorridos em Juiz de Fora entre os anos de 2010 a 2012 e sua Relao com as Variveis Socioambientais

    que apesar de apresentar taxas inferiores s cidadescomo Bogot, So Paulo e Rio de Janeiro, as cidadesmineiras de Belo Horizonte, Uberlndia e Juiz de Fora,apresentam taxas maiores que Roma, Santiago, Cairo,Bombaim e Istambul.

    De acordo com o jornal Tribuna de Minas (2012),

    de janeiro a abril, na quarta cidade mais populosa deMinas Gerais, em Juiz de Fora, 19 homicdios tinhamsido registrados, representando pouco mais de umamorte por semana, reetindo as fragilidades sociais,

    uma vez que a cidade no possui programa de enfren-tamento s mortes violentas, sendo alvo de medidasimprovisadas, seja por parte dos governantes ou dasociedade civil, voltados aos pers mais miditicos,

    o que segundo a mesma reportagem, so homens ejovens, entre 18 e 25 anos, e moradores da regioLeste. Ao logo de 2012, vrias capas do jornal Tribu-na de Minas abordaram registros de homicdios nacidade e em 06/01/2013, as ocorrncias registradassomaram 100 vtimas em aproximadamente um ano,representando o maior saldo registrado e um perodode grande crescimento da violncia criminalizada nacidade, marcadamente mais frequente nas regiesLeste e Norte, entre jovens motivados por conitos

    envolvendo drogas.

    Ao tentarem compreender e denir as variveis

    explicativas mais signicativas violncia homicida,

    pesquisadores se usam, frequentemente, de dadossocioeconmicos e culturais, criando algumas teses

    equivocadas que excluem as inuncias ambientais.Para Mendona (2001, p. 24), se at meados desdesculo o determinismo natural elevou a dependnciahumana da natureza a extremos, o determinismoeconmico no o foi menos expressivo num perodosequencial, colocando a natureza como secundrianas relaes estabelecidas entre a sociedade e ela, umfator que prejudicou o desenvolvimento de pesquisasque abordam a temtica no Brasil e em muitos pasesperifricos, como destacado na Glob Health Action(CLIMO, 2012).

    Influenciado pelos trabalhos de E. Durkheim

    (2001), E. Huntington (apud Sorre, 1984), M. Sorre(1984), A. Serra (1954), S. Felix (1989), G. Moser (1992)e M.Z. Rouquayrol (1993), Francisco Mendona (2001)enfatiza que a inuncia do clima, particularmente

    a temperatura, sobre a incidncia da criminalidadee de homicdios na cidade, se apresenta como umavarivel possvel a ser considerada e que demandauma investigao mais detalhada, seja pelo aspectode novidade que a reveste, seja pela contribuioque pode dar sociedade. Por ser uma temtica nocomum aos trabalhos meteorolgicos e climatolgicos

    brasileiros, o tema suscitar questionamentos variados,sobretudo ao se correlacionar a sazonalidade e a cri-minalidade. Para Mendona (2001, p. 28) a Geograa,

    no seu particular, tem a um vasto campo a explorar,especialmente porque, como o comprovou Felix (1989),sua contribuio no desenvolvimento da temtica ainda

    muito tmida.Ao destacarmos as complexidades no trato da

    questo, retrataremos as heterogeneidades da din-mica espacial e temporal dos registros de homicdiosem Juiz de Fora, buscando responder os seguintesquestionamentos: Juiz de Fora apresentaria correla-es signicativas entre os totais de homicdios e as

    variaes trmicas? A associao com os dados cen-sitrios apontaria quais variveis como as mais vincu-ladas? neste contexto que estruturamos o presenteartigo, contendo contribuies inter e transdisciplinares,incitando Geograa e a Climatologia, assim como, a

    Sociologia, a Estatstica e a Psicologia.

    Materiais e mtodos

    Os dados de homicdios congregam os registrosde homicdios tentados e consumados disponibilizadospela 1 Delegacia Regional da Polcia Civil/4 Depar-tamento da Polcia Civil de Juiz de Fora e os dadosclimatolgicos foram obtidos junto ao Laboratrio deClimatologia e Anlise Ambiental, sendo referentes Estao Automtica da UFJF/A518. Dentre as variveis

    climatolgicas, selecionamos os seguintes elementos:temperatura instantnea, temperatura mxima e tem-peratura mnima. Os valores mdios das temperaturas,por ms, foram calculados seguindo a mdia aritmticados horrios registrados e dos perodos mensais. Taletapa permitiu descrever o ritmo climatolgico do mu-nicpio por ms, estao e ano, destacando suas varia-es e amplitudes. Estas informaes foram tabuladase representadas gracamente, no aplicando nenhum

    ajuste estatstico para corrigir a variao de dias entreos meses. Os dados de homicdios e os censitriosforam organizados por regies urbanas, sendo estas

    concebidas como agregados de bairros e loteamentos,cujos limites foram corrigidos para atender os setorescensitrios. Para uso operacional foram adotados 293bairros e loteamentos que corresponderam s 81 re-gies urbanas.

    Tendo como referncia as anlises desenvolvidaspor Batella e Diniz (2010) e Lucas (2010), optamos pordesenvolver associaes com variveis demogrcas,

    de educao, infraestrutura e renda. Assim foram sele-cionados os temas e variveis descritos na tabela 1.

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    Tabela 1 Temas e variveis censitrias associados sinformaes de criminalidade violenta e homicdios,

    por regies urbanas de Juiz de Fora. Fonte: Batellae Diniz (2010), Lucas (2010) e IBGE (2010).

    TEMA VARIVEIS CENSITRIAS

    Renda

    Proporo da populao com rendimentos at um salrio

    mnimo (%)Proporo da populao com rendimentos superior a 20salrios mnimos (%)

    Proporo da populao sem rendimentos (%)

    Educao Proporo de analfabetos (%)

    Infraestrutura Proporo de domiclios no ocupados (%)

    Estruturapopulacional

    Populao total 2010

    Proporo de jovens (populao de 15 a 24 anos de ida-de)

    Proporo de adultos (populao entre 25 a 34 anos deidade)

    Proporo de idosos (populao acima de 60 anos)

    Proporo de negros

    Como suporte anlise, foi aplicado o tratamentoestatstico de correlao linear de Karl Pearson, utilizan-do o programa Excel 2010. Assim, foram estipulados oscoecientes de correlao r, denido como um parmetro

    de relao entre as variveis envolvidas, tendo comobase as classes estipuladas por Anderson (1984 apudZANOTELLI et al., p. 32-33). Dessa maneira, o coe-ciente de correlao poderia variar de -1 a +1, denindo

    uma correlao positiva (+), negativa (-), perfeita (r= +1ou -1), muito forte (r= 0,81 a 0,99), forte (r= 0,51 a 0,8),moderada (r= 0,31 a 0,5), fraca (r= 0,01 a 0,3) ou inexis-

    tente (r= 0), como representado na gura 1.

    Figura 1 Escala de correlao. Adaptado de Zanotelli et al.(2011)

    Resultados e discusso

    Homicdios na rea urbana de Juiz de Fora e suarelao com as variveis trmicas: anlise trienal

    Entre os anos de 2010 a 2012, as temperaturasinstantneas variaram entre 24,2C (outubro de 2012)a 15,2C (junho de 2011), apresentando mdia trmicano trinio de 19,2C, fator que classica o ano de 2012

    como o mais quente no trinio, apresentando mdiaanual de 19,6C. A mdia das temperaturas mximasfoi de 22,7C, o que comparativamente s mdiasanuais (19,7C/2010, 19,9C/2011 e 28,4C/2012),refora a observao anterior, classicando o ano de

    2012 tambm como os de maiores mdias extremas.Segundo a mdia das temperaturas mnimas (16,7C),

    o ano de 2012 tambm foi o mais frio, apresentandomdia de 13,2C, inferior s mdias de 2010 (18,7C)e 2011 (18,2C).

    Durante o perodo, foram registrados pela Pol-cia Civil de Juiz de Fora, 411 ocorrncias envolvendohomicdios na zona urbana, cuja distribuio total

    por ms variou entre 1 (maro/2010) a 28 registros(novembro/2012), apontando o ms de maro comoo de menor total no trinio (15 registros) e setembro(54 registros) e dezembro (52 registros) como os maisviolentos, representando uma variao de 260%. Ostrs primeiros meses do ano conguraram um compor-tamento decrescente dos registros, enquanto que demaio a setembro, os valores elevaram. Neste mesmointervalo, abril e setembro exibiram as maiores varia-es, 186,6% e 63,6%, respectivamente, congurando

    as cristas mais signicativas. A mdia para o trinio foi

    de 11,4 registros/ms, permitindo classicar 20 meses

    como os mais violentos, dentre eles, quase todos osmeses de 2012, exceto janeiro e maro. Vale enfatizarque maro, ao longo do perodo, foi o nico ms queno apresentou valores acima da mdia; em contra-partida, setembro, outubro e dezembro acumularamtotais superiores mdia em todos os anos, comodemonstrado na tabela 2.

    TABELA 2 Total de registros de homicdiosem Juiz de Fora no trinio (2010/2012). Fonte:1DRPC/4DPC/JF. Elaborao: BRITTO, M.C., 2013.

    * Totais acima da mdia para o perodo (mdio de11,4 registros/ms).

    MSANO

    SOMA MDIA2010 2011 2012

    Janeiro 7 12* 10 29 9,7

    Fevereiro 5 5 12* 22 7,3

    Maro 1 4 10 15 5,0

    Abril 2 18* 23* 43 14,3*

    Maio 2 6 13* 21 7,0

    Junho 6 4 14* 24 8,0Julho 8 2 13* 23 7,7

    Agosto 12* 5 16* 33 11,0

    Setembro 15* 16* 23* 54 18,0*

    Outubro 16* 17* 14* 47 15,7*

    Novembro 6 14* 28* 48 16,0*

    Dezembro 11* 17* 24* 52 17,3*

    SOMA 91 120 200 411 -

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    Anlise dos Homicdios Ocorridos em Juiz de Fora entre os anos de 2010 a 2012 e sua Relao com as Variveis Socioambientais

    Ao compararmos os totais de homicdios e asmdias trmicas, destacamos que o ano de 2012elevou expressivamente os valores das variveisanalisadas. Ao atermos aos totais de homicdios, porms, superiores mdia do trinio, destacamos que ocomportamento apresentado em setembro, outubro e

    dezembro no foi acompanhado por mdias trmicassuperiores s mdias do trinio (tabela 3). Contudo, osmeses de setembro (18 registros) e dezembro (17,3registros) foram os que apresentaram as mdias maisexpressivas, sinalizando para um crescimento acima damdia que se estende de setembro a dezembro (grco

    1). Apesar de no contemplar o detalhamento anterior,a anlise de correlao mensal apresentou coeciente

    de correlao baixo, sendo de r= 0,15 para tempera-tura instantnea, r= 0,23 para temperatura mxima er= -0,05 para temperatura mnima, contribuindo parareforar que a irregularidade dos registros de homic-

    dios no acompanhou a irregularidade das variveistrmicas mensais no trinio.

    Tabela 3 Mdia de registros de temperaturas ehomicdios em Juiz de Fora no trinio (2010/2012)por ms. Fonte: Laboratrio de Climatologia e

    Anlise Ambiental/UFJF e 1DRPC/4DPC/JF.Elaborao: BRITTO, M.C., 2013.

    TEMP. INSTANTNEA(C)

    TEMP. MXIMA(C)

    TEM. MNIMA(C)

    TOTAL DEHOMICDIOS

    MS 2010 2011 2012 2010 2011 2012 2010 2011 2012 2010 2011 2012

    JAN 22,8 22,0* 20,1* 23,5 22,5 28,2 22,2* 21,5* 15,1 7 12* 10

    FEV 22,9 23,0* 21,8* 23,5 23,7* 31,0* 22,4* 22,4* 16,7 5 5 12*

    MAR 21,6 20,3* 20,9* 22,2 20,7 30,7* 21,1* 19,8* 15,3 1 4 10

    ABR 19,2* 19,8* 20,0* 19,7 20,3 28,8* 18,7* 19,3* 14,9 2 18* 23*

    MAI 17,4 16,4 16,6 17,9 16,9 26,4* 17,0* 16,0* 10,5 2 6 13*

    JUN 15,4 15,2 17,4 15,9 15,7* 25,1* 15,0 14,8 12,6 6 4 14*

    JUL 16,9 16,2 17,0 17,3 16,7 25,7* 16,4 15,7 9,3 8 2 13*

    AGO 16,7 18,8 16,2 17,3 19,5 24,4* 16,2 18,2* 10,6 12 5 16*

    SET 18,3 18,4 18,6 18,8 19,1 32,4* 17,8* 17,5* 7,2 15 16* 23*

    OUT 18,0 19,0 24,2* 18,6 19,5 27,9* 17,5* 18,5* 16,2 16 17* 14*NOV 19,1 19,4* 19,0 19,6 24,0* 29,5* 18,7* 15,1 13,3 6 14* 28*

    DEZ 21,5* 19,7* 22,9* 22,1 20,2 31,3* 21,0* 19,3* 16,4 11 17* 24*

    M-dia

    19,2 19,0 19,6 19,7 19,9 28,4 18,7 18,2 13,2 7,6 10,0 16,7

    * Totais acima da mdia para o perodo.

    As anlises sazonais apontaram como estaesmais violentas, a primavera (149 registros) e o vero(103 registros), sinalizando para as estaes com tem-peraturas mais elevadas e para as festividades nacio-

    nais de nal de ano, sendo que o outono (79 registros) e

    o inverno (80 registros) apresentaram valores prximos(tabela 4 e grco 2), representando uma queda de 69

    casos, ou seja, uma variao de -46,3%.

    Grco 1 Total de registros de homicdios, por ms, em

    Juiz de Fora. Perodo: 2010-2012. Fonte: 1DRPC/4DPC/JF.Elaborao: BRITTO, M.C., 2013.

    Tabela 4 Total de homicdios e temperatura mdia,por estaes, em Juiz de Fora. Perodo: 2010-

    2012. Fonte: 1DRPC/4DPC/JF e Laboratrio de

    Climatologia e Anlise Ambiental/UFJF. Elaborao:BRITTO, M.C., 2013.

    ESTAOTOTAL DE

    HOMICDIOS

    TEMPERATURA (C)

    INSTANTNEA MXIMA MNIMA

    VERO 103 21,9 25,1 19,7

    OUTONO 79 19,1 22,6 17,0

    INVERNO 80 16,6 19,7 14,3

    PRIMAVERA 149 19,3 23,3 15,8

    SOMA 411 - - -

    MDIA 102,8 19,2 22,7 16,7

    Grco 2 Total de registros de homicdios, por ms, em

    Juiz de Fora. Perodo: 2010-2012. Fonte: 1DRPC/4DPC/JF.Elaborao: BRITTO, M.C., 2013.

    Mediante a irregularidade diria e por ms, t-picas dos dados trmicos, as anlises nestes temasforam mais sintticas, mas nem por isso, menosimportantes. Inicialmente, ao atermos a distribuiopor variao horria e dias do ms, referentes aosregistros de homicdios, no observamos tendncias

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    frente ao seu comportamento varivel. Contudo, oshorrios que acumularam os maiores totais foram20:00 (34 registros), 22:00 (33 registros) e 21:00(31 registros) e, conforme a variao por turnoshorrios (grco 3), concentraram os maiores totais

    os perodos de 21:00 s 02:59 (36,7%) e 15:00 s

    20:59 (30,4%).

    Grco 3 Porcentagem de registros de homicdios em Juiz

    de Fora, por variao horria. Perodo: 2010-2012. Fonte:1DRPC/4DPC/JF. Elaborao: BRITTO, M.C., 2013.

    Por meio dessas observaes, destacamos queos registros frequentemente ocorreram no perodo demaior temperatura diria e nos momentos mais prop-cios a se formarem a ilha de calor urbana. A queda dasocorrncias, por outro lado, acompanhou os perodosde maior resfriamento noturno e incio do aquecimentomatinal, em parte decorrente da reduo das atividades

    coletivas e econmicas, assim como ao costume daspopulaes que consideram esses perodos como osmais destinados ao descanso humano e menos volta-dos s atividades ao ar livre.

    Homicdios por regies urbanas de Juiz de Forae sua relao com as variveis censitrias:observao trienal

    A distribuio espacial dos registros por regiesurbanas apontou 62 regies, variando de 01 a 29

    ocorrncias totais. Seis regies concentraram 33,6%das ocorrncias: Centro (29 ocorrncias), So Be-nedito (26), Benca (25), Linhares (21), Santa Cruz

    (20) e So Pedro (18) como apresentado no grco

    6 e mapa 1.

    Quando associados s variveis censitrias, oscoecientes de correlao variaram entre -0,25 a 0,67,

    apresentando correlao mais expressiva quandoatrelado ao total populacional e, mais fraco, no que serefere proporo de idosos (tabela 5).

    Tabela 5 Coeficiente de correlao segundoas variveis censitrias analisadas. Elaborao:BRITTO, M.C., 2013.

    VARIVEIS CENSITRIAS COEFICIENTE (r)

    Populao total (2010) 0,67 Forte

    Proporo de jovens (populao de 15 a 24anos de idade)

    0,48 Moderado

    Proporo da populao com rendimentos atum salrio mnimo (%)

    0,40 Moderado

    Proporo de negros (%) 0,39 Moderado

    Proporo de analfabetos (%) 0,34 Moderado

    Proporo da populao sem rendimentos (%) 0,27 Fraco

    Proporo de adultos (populao entre 25 a34 anos de idade)

    0,07 Fraco

    Proporo de domic lios no ocupados (%) -0,14 Fraco

    Proporo da populao com rendimentossuperior a 20 salrios mnimos (%)

    -0,24 Fraco

    Proporo de idosos (populao acima de 60anos)

    -0,25 Fraco

    A distribuio mensal permitiu definir como

    parmetro a mdia de duas ocorrncias, por ms,para o trinio e, desse modo, os totais mais ex-pressivos situaram em janeironas regies Centro,So Benedito, Vitorino Braga; em maro na regioJardim Natal; em abril nas regies Benca, Centro,Linhares, Baro do Retiro, Bonm e Santa Cruz; em

    julhonas regies Muunge da Grama e Centro; emagostonas regies Centro, Jardim Natal e So Be-nedito; em setembro nas regiesVila Olavo Costa,Linhares, Santa Rita de Cssia, So Pedro, Benca,

    Francisco Bernardino, Santo Antnio do Paraibuna eSo Benedito; em outubronas regiesBenca, SoBenedito, Barbosa Lage e Jckey Club; em novem-bronas regies So Benedito, Francisco Bernadinho,Jckey Club, Linhares, Benca, Muunge da Grama

    e Vitorino Braga; e em dezembronas regies SoPedro, Benfica, Francisco Bernardino, Linhares,Ipiranga, Nossa Senhora de Lourdes, Santa Luzia eVitorino Braga. Os meses de fevereiro, maio e junhono apresentaram regies com totais superiores mdia mensal do trinio.

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    MAPA 1 Total de ocorrncias, mensal e trienal por regies urbanas de Juiz de Fora: Perodo: 2010-2012. Fonte: 1DRPC/4DPC/JF. Elaborao: BRITTO, M.C. 2013

    Consideraes nais

    Ao analisarmos os dados provenientes da Po-lcia Civil, segundo a distribuio temporal, desta-camos o expressivo pico ao longo do ano de 2012,tanto nos totais de homicdios, quanto nos registrostrmicos. No trinio foram analisadas 411 ocorrnciasno urbano, apontando o ms de maro como o demenores totais e setembro e dezembro como os maisviolentos. As anlises de correlao tambm sinali-zaram para baixas correlaes mensais e expressi-vas correlaes sazonais, apontando a primaverae o vero como as estaes mais associadas. Na

    distribuio horria, os intervalos de 20h, 22h e 21hse destacaram, assim como, o intervalo de 21:00 s02:59 e, diferentemente das observaes mensaise sazonais, mostraram relao inversa ao perodosmais quentes, apresentando comportamento opostoaos da insolao, sinalizando para os perodos dequedas nas temperaturas.

    A distribuio por regies urbanas apontou 20regies urbanas com totais, por ano, superiores mdia anual (tabela 6), sendo em sua maioria, reascom os maiores totais demogrcos e com signica-

    tivas propores de jovens e negros. Submetidos sanlises de correlao, as propores de jovens serelacionaram mais signicativamente com as propor-es de regies sem rendimentos (r = 0,55) e commaiores propores de negros (r = 0,45) e, nesteltimo caso, as propores foram signicativamente

    relacionadas s propores de analfabetos (r = 0,73)e com rendimentos inferiores ao salrio mnimo (r =0,88).

    Com totais de registros expressivos nos trsanos analisados, as regies Centro, Linhares e SoBenedito se destacam, ao passo que 19 regies

    (23,5%) no apresentaram registros, sendo denidascomo as regies urbanas da paz: Bairu, Bom Pastor,Botanagua, Carlos Chagas, Cascatinha, Cruzeiro deSanto Antnio, Floresta, Jardim Bonclima, JardimGlria, Jardim Santa Helena, Morro do Imperador,Mundo Novo, Novo Horizonte, Represa, SantaCatarina, So Geraldo, Vale do Ip e Vale dos Ban-deirantes. So, em sua maioria, as regies com asmaiores propores de rendimentos superiores a 10salrios mnimos, com infraestruturas bsicas e compopulaes de nvel socioeconmico mdio a mdioalto, sendo referncias dos padres na cidade.

    www.ufjf.br/revistageograa - v.3, n.1, p.1-9, 2013

    Anlise dos Homicdios Ocorridos em Juiz de Fora entre os anos de 2010 a 2012 e sua Relao com as Variveis Socioambientais

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    Grco 6 Total de registros de homicdios, por regies urbanas Juiz de Fora. Trinio: 2010-2012. Fonte: 1DRPC/4DPC/JF.

    Elaborao: BRITTO, M.C., 2012.

    www.ufjf.br/revistageograa - v.3, n.1, p.1-9, 2013

    Britto, M. C. & Ferreira, C. C. M.

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    Tabela 6 Regies Urbanas com as maioresconcentraes de registros de homicdios, por ano.

    Perodo: 2010-20112.

    REGIO URBANAHOMICDIOS

    2010 2011 2012

    Aeroporto X

    Baro do Retiro X X

    Benca X X

    Centro X X X

    Francisco Bernardino X X

    Ipiranga X X

    Jardim Natal X X

    Jckey Club X

    Linhares X X X

    Meggliolrio X

    Monte Castelo X X

    Muunge da Grama X

    Santa Luzia X

    Santo Antnio do Paraibuna X X

    So Benedito X X X

    Santa Cruz X X

    So Pedro X X

    Vila Ideal X

    Vila Olavo Costa X X

    Vitorino Braga X

    Elaborao: BRITTO, M.C., 2013.

    Assim, em Juiz de Fora, as vtimas de homicdiosapresentam caractersticas que apontam para a neces-sidade de investimentos em educao e gerao derenda, pois a concentrao de riquezas e a fragmen-tao territorial fraturaram o tecido urbano e social,tornando central ao planejamento urbano consideraras instncias de poder, as condies nanceiras e

    de lazer das comunidades envolvidas, os servios desade, a qualidade de vida, a violncia e a criminalida-de violenta urbana, onde certamente a Geograa tem

    muito a contribuir.

    Referncias bibliogrcas

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