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1 CORREÇÃO MONETÁRIA DESCOMPLICADA DOS DÉBITOS DA FAZENDA PÚBLICA UNCOMPLICATED MONETARY CORRECTION OF PUBLIC TREASURY DEBITS Cassiandro Rodrigues Ronzani Aluno do Curso de Direito, graduado em Estudos Sociais, pós-graduado em Direitos Indisponíveis e em Licitações e Contratos. Orientadora: Professora Keila de Lima dos Santos, Especialista em Direito Público. Resumo: o artigo a seguir tem o objetivo de tentar descomplicar o estudo sobre a correção monetária no âmbito dos débitos da Fazenda Pública. Para tanto, foi necessário passar pela definição do instituto correção monetária, bem como traçar sua evolução, até chegar à correção monetária no que concerne aos débitos fazendários. Como se deu originalmente e as mudanças de sistemática de atualização são o pano de fundo do trabalho. O papel do Judiciário foi preponderante para o atual entendimento e sistematização da correção monetária dos débitos fazendários, por isso, também essa faceta configurou o escopo do estudo. Tudo isso para proporcionar ao advogado, operador do Direito por excelência, a escorreita tomada de decisão e, sem se distanciar do viés pretendido desde o início, qual seja, descomplicar o entendimento da correção monetária dos débitos da Fazenda Pública. Palavras-chave: correção monetária, índices, débitos, atualização, Fazenda Pública. Abstract: the following article aims to try to untangle the study on the restatement under the Public Treasury debts. Therefore, it was necessary to pass the definition of indexation Institute and trace their evolution, until the inflation adjustment in respect of Public Treasury. How did originally and systematic changes update are the backdrop of labor. The role of the judiciary was leading to the current understanding and systematization of the restatement of Public Treasury debts, so also this facet set the scope of the study. All this to provide the lawyer, law operator par excellence, the slimmer decision making and without bias to distance the intended from the beginning, namely, untangle the understanding of the inflation adjustment on loans of Public Treasury. Keywords: indexation, indexes, debts, update, Public Treasury. Sumário: Introdução. 1. Definição de correção monetária e de inflação. 2. Evolução do instituto correção monetária. 2.1. A correção monetária dos débitos da Fazenda Pública 2.2. Conseqüências da modificação do índice de correção monetária nos débitos fazendários. 3. O Judiciário é chamado para solucionar a questão. 3.1. O precedente da Justiça do Trabalho. 4. Descomplicando o papel do advogado na prestação da tutela jurisdicional. Considerações finais. Referencial bibliográfico. Introdução O trabalho a seguir foi elaborado com o intuito de demonstrar as influências da mudança de índices na atualização monetária nas condenações contra a Fazenda Pública, havidas por conta da alteração da Lei nº 9.494/97 pela Lei nº 11.960/09, bem como pelas decisões do

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CORREÇÃO MONETÁRIA DESCOMPLICADA DOS DÉBITOS DA FAZ ENDA PÚBLICA UNCOMPLICATED MONETARY CORRECTION OF PUBLIC TREASURY DEBITS Cassiandro Rodrigues Ronzani Aluno do Curso de Direito, graduado em Estudos Sociais, pós-graduado em Direitos Indisponíveis e em Licitações e Contratos. Orientadora: Professora Keila de Lima dos Santos, Especialista em Direito Público.

Resumo: o artigo a seguir tem o objetivo de tentar descomplicar o estudo sobre a correção monetária no âmbito dos débitos da Fazenda Pública. Para tanto, foi necessário passar pela definição do instituto correção monetária, bem como traçar sua evolução, até chegar à correção monetária no que concerne aos débitos fazendários. Como se deu originalmente e as mudanças de sistemática de atualização são o pano de fundo do trabalho. O papel do Judiciário foi preponderante para o atual entendimento e sistematização da correção monetária dos débitos fazendários, por isso, também essa faceta configurou o escopo do estudo. Tudo isso para proporcionar ao advogado, operador do Direito por excelência, a escorreita tomada de decisão e, sem se distanciar do viés pretendido desde o início, qual seja, descomplicar o entendimento da correção monetária dos débitos da Fazenda Pública.

Palavras-chave: correção monetária, índices, débitos, atualização, Fazenda Pública.

Abstract: the following article aims to try to untangle the study on the restatement under the Public Treasury debts. Therefore, it was necessary to pass the definition of indexation Institute and trace their evolution, until the inflation adjustment in respect of Public Treasury. How did originally and systematic changes update are the backdrop of labor. The role of the judiciary was leading to the current understanding and systematization of the restatement of Public Treasury debts, so also this facet set the scope of the study. All this to provide the lawyer, law operator par excellence, the slimmer decision making and without bias to distance the intended from the beginning, namely, untangle the understanding of the inflation adjustment on loans of Public Treasury.

Keywords: indexation, indexes, debts, update, Public Treasury.

Sumário: Introdução. 1. Definição de correção monetária e de inflação. 2. Evolução do instituto correção monetária. 2.1. A correção monetária dos débitos da Fazenda Pública 2.2. Conseqüências da modificação do índice de correção monetária nos débitos fazendários. 3. O Judiciário é chamado para solucionar a questão. 3.1. O precedente da Justiça do Trabalho. 4. Descomplicando o papel do advogado na prestação da tutela jurisdicional. Considerações finais. Referencial bibliográfico.

Introdução

O trabalho a seguir foi elaborado com o intuito de demonstrar as influências da mudança

de índices na atualização monetária nas condenações contra a Fazenda Pública, havidas por

conta da alteração da Lei nº 9.494/97 pela Lei nº 11.960/09, bem como pelas decisões do

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Supremo Tribunal Federal, sobretudo nas ADI’s 4357 e 4425.

A importância de tal análise se dá no que tange às possibilidades de atuação do

profissional da advocacia no interesse de seus representados.

A definição de atualização monetária, sua evolução e particularidades inerentes às

condenações impostas à Fazenda Pública, bem como a atual sistemática adotada, por conta da

supracitada Lei nº 11.960/09 e decisão que determina a eficácia prospectiva da declaração de

inconstitucionalidade nas ADI’s 4357 e 4425 representaram o ponto de partida para a

problemática do presente estudo. Buscou-se, de uma forma descomplicada e objetiva,

demonstrar como a sucessão de índices pode influenciar o quanto devido ao credor da

Fazenda Pública.

Para tanto, foi utilizado o método de abordagem dedutivo, que deu uma formatação geral

para o presente trabalho. Não obstante isso, no que tange às etapas do trabalho, foi utilizado o

método de procedimento histórico.

Diante disso, espera-se que o estudo que se inicia sirva de supedâneo para a compreensão

do instituto correção monetária, bem como para a tomada de decisão do advogado que atue

em ações contra a Fazenda Pública.

1. Definição de correção monetária e de inflação

A correção monetária é instituto que está presente no campo de estudo de diversas áreas

do conhecimento, tais como: Economia, Contabilidade, Administração, Direito, dentre outras.

Todas as listadas de formas e abordagens diferenciadas se utilizam dos consectários atrelados

à correção monetária.

A definição desse instituto, então, reputa-se de boa índole. Nesse sentido, inicialmente,

utilizando-se da Contabilidade, é possível sistematizar o instituto correção monetária da

seguinte forma:

A CORREÇÃO MONETÁRIA foi instituída por legislação federal na década de 1960 e vigorou até o final de 1995. Era de contabilização obrigatória para atualização dos valores constantes dos Balanços Patrimoniais das entidades de modo geral com ou sem fins lucrativos e também dos créditos e débitos governamentais mediante a aplicação de índices oficiais (baixados pelo governo federal). Ainda servia para atualização de operações financeiras e dos contratos de longo prazo, além de servir como forma de atualizar a remuneração de títulos e valores

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mobiliários negociados no mercado de capitais (títulos públicos [emitidos pelo governo] e privados [emitidos pelas instituições financeiras e empresas autorizadas]).(g.n.)1

Arnold Wald, ao tratar de escala móvel, ainda nos idos de 1959, apontava para a

desvalorização da dívida, para a oscilação de moedas, para a necessidade de índices que

mensurassem tais variações, bem como para a segurança e estabilidade, como assuntos que

deveriam estar na pauta de observações acerca da correção monetária, in verbis:

Na realidade, nenhuma dessas cláusulas garante, de modo absoluto, o credor contra a desvalorização da dívida. Não é só a moeda nacional que oscila, também pode oscilar o valor do ouro e das moedas estrangeiras. A cláusula de escala móvel, que fixa o quantum da dívida, em relação ao índice de variação do custo de vida ou dos salários ou de algumas mercadorias, atenderia melhor ao anseio de dar certa estabilidade à dívida monetária, de manter o seu poder aquisitivo, ou seja, o seu valor. Como o valor da moeda varia em proporção inversa aos preços, a cláusula de escala móvel, que fizesse variar certa obrigação de acordo com o índice de custo de vida, alcançaria o seu objetivo, que é a estabilidade e a segurança.2

Otto Gil, por sua vez, em estudo sobre correção monetária, publicado na Revista de

Informação Legislativa, do Senado Federal, datada de julho/setembro de 1979, utilizando as

palavras de Amilcar Falcão, discorre sobre o instituto em tela, da seguinte forma:

A correção monetária, na lição autorizada de AMILCAR FALCÃO, é “a técnica pelo direito consagrada de se traduzirem, em termos de idêntico poder aquisitivo, quantias ou valores que, fixados pro tempore, se apresentam em moeda sujeita a desvalorização” (Rev. Dir. Pub., S.P. vol. I, págs. 54-63). A inflação, perturbando, às vezes violentamente, o equilíbrio das prestações assumidas pelas partes no ato negocial (criando instabilidade e inseguridade nos contratos), é responsável pelas diversas “defesas” com que se tem procurado minorar os efeitos dessa “agressão” causada pelo fenômeno inflacionário.3

Já Eduardo Sabbag, mais atual e de modo mais assertivo, sem refutar as ideias acima

expostas, mas complementando-as, define correção monetária da seguinte forma:

1 NBC-T-5 – ATUALIZAÇÃO MONETÁRIA . Disponível em: <http://cosif.com.br/mostra.asp?arquivo=nbct05ind>. Acesso em> 25/08/2015. 2 WALD, Arnold. A cláusula de escala móvel. Rio de Janeiro: Editora Nacional de Direito, 2ª edição, 1959, p. 81 3 GIL, Otto. Correção monetária. Revista de Informação Legislativa. Ano 16 n. 63 – julho/setembro 1979. ISSN 0034-835X. Disponível em: <http://www2.senado.leg.br/bdsf/bitstream/handle/id/181143/000366083.pdf?sequence=3>. Acesso em: 10/04/2015.

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Correção monetária: é atualização de valor, como mecanismo de proteção a processo inflacionário. Não significa acréscimo. Vale dizer que a aplicação de um índice de correção monetária, baseado na inflação média, é um elemento neutro sobre o valor de uma dívida, não lhe proporcionando aumento real nem lhe diminuindo o valor.4

O Manual de Procedimentos das Contadorias-Partidorias, do Tribunal de Justiça do

Distrito Federal e dos Territórios (TJDFT), citando precedente do Superior Tribunal de Justiça

(STJ), assim define correção monetária:

A correção monetária representa apenas a recomposição do poder aquisitivo original do débito. É mero fator de atualização da moeda aviltada pela inflação e, por isso, constitui justa solução para todas as relações jurídicas, como forma de evitar o enriquecimento ilícito do devedor. Também “a correção monetária não pode ser considerada acréscimo, por representar apenas simples atualização do valor da dívida, em decorrência da desvalorização da moeda” (STJ – Resp. 9.359/SP).5

A inflação, por sua vez, é instituto que foi sistematizado primeiramente pelos ingleses,

com o intuito de descrever o aumento exagerado dos preços em um determinado período.

Nesse sentido, na Economia a inflação pode ser definida como “sendo um movimento

contínuo e ascendente do nível de preços que se associa imediatamente a um processo

dinâmico ao longo do tempo”6.

Nas palavras de Pedro Jorge Vianna, citado por Anderson Nunes de Carvalho Vieira, a

inflação pode ser originada de duas formas, ou seja:

[...] Inflação de demanda: é um aumento generalizado de preços motivado pela procura de bens e serviços não encontrando uma oferta que satisfaça o consumo, fazendo com que os empresários aumentem os preços para reequilibrar a economia; inflação de custos ou de oferta: é um aumento generalizado de preços motivado pelo aumento da quantidade ou dos preços de um determinado insumo utilizado na produção de um determinado bem, fazendo com que os empresários repassem os preços para as mercadorias.7

4 SABBAG, Eduardo. Manual de direito tributário . 5 ed. São Paulo: Saraiva, 2013, p. 639. 5 BRASIL. TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO DISTRITO FEDERAL E DOS TERRITÓRIOS. Manual de procedimentos das contadorias-partidorias. 4 ed. 2010. p. 34.

6 VIANNA, Pedro Jorge Ramos. Inflação. Barueri: Manole, 2003, p. 15.

7 VIEIRA, Anderson Nunes de Carvalho. Breve estudo da inflação no Brasil: uma crítica à atual política monetária do Brasil. Revista de Estudos Sociais – Ano 2013 N. 30, V. 15, pág. 139.

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Diante disso, é possível verificar que a correção monetária é um instituto que tem como

objetivo a recomposição de um dado valor, em face dos efeitos corrosivos da desvalorização

provocada pela inflação, utilizando para tal uma referência ou índice oficial estabelecido.

2. Evolução do instituto correção monetária

A visualização de como se deu a estipulação dos índices e metodologias para aplicar a

correção monetária, doravante, faz-se necessária.

No que tange à evolução da correção monetária, novamente o estudo de Otto Gil será

profícuo. Nesse estudo, o autor discorre sobre o que define como antecedente remoto da

correção monetária, ou seja, o “Act for maintenance of the Coleges in the Universities, and of

Winchester and Eaton”, elaborado na Inglaterra, em 15758. O dispositivo citado previa que o

pagamento do arrendamento das terras destinadas às instituições de ensino a que se refere

devia ser feito numa quantidade de dinheiro que correspondesse à cotação do melhor trigo e

malte no mercado de Cambridge. Isso configurou um primeiro esforço em se utilizar de uma

referência para a correção monetária alheia a própria moeda.

Otto Gil, no entanto, quando discorre acerca de controvérsias jurídicas modernas em

matéria monetária, traz à lume a emblemática inflação alemã de 1918/1922. Na indigitada

situação germânica, emergiram as primeiras cláusulas valor-mercadoria, que se

caracterizaram pela grande desvalorização ocorrida, acarretando uma legislação na qual foi

estatuído “que os preços de centeio, de trigo e do carvão servissem de medida de valor nos

créditos hipotecários”9.

Os incidentes podem ser tidos como embriões do que Alfred Marshall, citado por Maria de

Lourdes Rollemberg Mollo, propõe em sua obra Remédios para Flutuações Gerais dos Preços.

Maria de Lourdes Rollemberg Mollo, ao utilizar as idéias de Marshall, preleciona que as

funções de meio de circulação e de padrão de valor sejam cumpridas por instrumentos

diferentes. Para acabar com as flutuações dos preços em geral, “o único remédio efetivo

consiste em retirar da moeda a obrigação, que ela não está apta a cumprir, de atuar como

8 GIL, Otto. Correção monetária. Revista de Informação Legislativa. Ano 16 n. 63 – julho/setembro 1979. ISSN 0034-835X. Disponível em: <http://www2.senado.leg.br/bdsf/bitstream/handle/id/181143/000366083.pdf?sequence=3>. Acesso em: 10/04/2015. 9 Ibdem.

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padrão de valor; e em estabelecer, de acordo com um plano familiar aos economistas há muito

tempo, um padrão reconhecido de poder aquisitivo independente de moeda"10.

No Brasil, foi na década de sessenta que se perceberam as primeiras sistematizações

jurídicas em relação à correção monetária. Por intermédio da reforma econômica intitulada

cirurgia econômica sem anestesia, promovida pelo então Ministro Roberto Campos, a

correção monetária foi implantada no modelo econômico pátrio.

Em 1964, a Lei nº 4.35711 criou as obrigações do Tesouro Nacional de valor nominal

reajustável, periodicamente, e inseriu definitivamente o instituto correção monetária no

ordenamento jurídico de forma expressa, tanto é que o verbete aparece vinte e duas vezes na

referida lei, regulando diversos assuntos relacionados à reavaliação da moeda no tempo.

A Lei nº 4.414/1964, por sua vez, complementando a idéia de recomposição advinda de

atualização monetária, estatuiu que “A União, os Estados, o Distrito Federal, os Municípios e

as autarquias, quando condenados a pagar juros de mora, por êste responderão na forma do

direito civil”12. Embora os juros de mora não se prestem a apenas recompor um valor

arbitrado, estão intrínseca e inarredavelmente lidados à atualização monetária.

A partir da década de 1980, uma nova onda de diplomas legais acerca da correção

monetária foi implementada. Isso se deu, sobremaneira, devido ao período de instabilidade

econômica por que vinha passando o País, que acarretou, inclusive, sucessivos planos

econômicos, tais como: Plano Cruzado I e Plano Cruzado II (1986), Plano Bresser (1987),

Plano Verão (1989), Plano Collor I e Plano Collor II (1990) e Plano Real (1993).

Muitas foram as legislações que tratavam direta ou indiretamente da atualização monetária

desde 1980, todas atreladas ao modelo econômico vivenciado à época. Mas foi a Lei nº 6.899,

de 8 de abril de 1981, que introduziu definitivamente a necessidade de atualização monetária

dos valores oriundos das condenações judiciais. Já o art. 1º dessa lei, estabeleceu que “A

correção monetária incide sobre qualquer débito resultante de decisão judicial, inclusive sobre

10 MOLLO, Maria de Lourdes Rollemberg. A questão da complementaridade das funções da moeda: aspectos teóricos e a realidade das hiperinflações. In Ensarios FEE, Porto Alegre (14) 1: 117-143, 1993, p. 126. 11 BRASIL. Lei nº 4.357 (1964). Lei nº 4.357, de 16 de julho de 1964. Autoriza a emissão de Obrigações do Tesouro Nacional, altera a legislação do impôsto sôbre a renda, e dá outras providências. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L4357.htm>. Acesso em: 05/05/2015. 12 ______. Lei nº 4.414 (1964). Lei nº 4.414, de 24 de setembro de 1964. Regula o pagamento de juros moratórios pela União, pelos Estados, Distrito Federal, Municípios e autarquias. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/1950-1969/L4414htm.htm>. Acesso em: 10/06/2015.

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custas e honorários advocatícios”13.

A correção monetária passou, desde então, a ser devida em todos os débitos oriundos de

decisões judiciais. O próximo passo seria saber qual índice a ser utilizado. Nesse contexto,

serão os débitos da Fazenda Pública usados como paradigma.

2.1. A correção monetária dos débitos da Fazenda Pública

O ponto crucial na compreensão da correção monetária dos débitos oriundos de

condenações contra a Fazenda Pública foi a entrada em vigor da Lei nº 11.960, em 29 de

junho de 2009.

Até a entrada em vigor da Lei nº 11.960/09, a correção monetária dos débitos da Fazenda

Pública vinha sendo regulada pelo art. 1º-F da Lei nº 9.494/199714, com redação dada pela

Medida Provisória nº 2.180-35/0115, ou seja: “Os juros de mora, nas condenações impostas à

Fazenda Pública para pagamento de verbas remuneratórias devidas a servidores e empregados

públicos, não poderão ultrapassar o percentual de seis por cento ao ano”.

Nas palavras de Breno Cardoso Milagres Silva, em recente estudo sobre similar

problemática, assim sistematiza a correção monetária, quando da redação trazida pela MP nº

2.180-35/01, a saber:

a) a atualização monetária seria calculada com base na Tabela de Atualização Monetária elaborada pelos Tribunais de Justiça, que deveriam definir os índices de atualização com base nos índices oficiais de inflação apurados no período;

b) os juros moratórios dos débitos contraídos até 10/01/2003, término da vigência do Código Civil de 1916, incidiriam à taxa de 0,5% ao mês, nos termos do art. 1.062 do CC/1916;

c) a partir de 11/01/2003, os juros moratórios incidiriam à taxa de 1% ao mês, nos termos do art. 406 do CC/20022 combinado com o art. 161, §1º do Código Tributário Nacional.16

13 BRASIL. Lei nº 6.899 (1981). Lei nº 6.899, de 8 de abril de 1981. Determina a aplicação da correção monetária nos débitos oriundos de decisão judicial e dá outras providências. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L6899.htm>. Acesso em: 10/06/2015. 14 ______. Lei nº 9.494 (1997). Lei nº 9.494, de 10 de setembro de 1997. Disciplina a aplicação da tutela antecipada contra a Fazenda Pública, altera a Lei nº 7.347, de 24 de julho de 1985, e dá outras providências, e dá outras providências. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L9494.htm>. Acesso em: 10/06/2015. 15 ______. Medida Provisória nº 2.180-35 (2001). Medida Provisória nº 2.180-35, de 24 de agosto de 2001. Acresce e altera dispositivos das Leis nos 8.437, de 30 de junho de 1992, 9.028, de 12 de abril de 1995, 9.494, de 10 de setembro de 1997, 7.347, de 24 de julho de 1985, 8.429, de 2 de junho de 1992, 9.704, de 17 de novembro de 1998, do Decreto-Lei no 5.452, de 1o de maio de 1943, das Leis nos 5.869, de 11 de janeiro de 1973, e 4.348, de 26 de junho de 1964, e dá outras providências. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/MPV/2180-35.htm#art4>. Acesso em: 10/06/2015.

16 SILVA, Breno Cardoso Milagres. Atualização monetária e incidência de juros moratórios nos fébitos da fazenda

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Com a entrada em vigor da Lei nº 11.960/09, a sistemática de atualização foi modificada.

O art. 5º dessa Lei dá nova redação ao art. 1º-F, da Lei nº 9.494/97, in verbis:

Art. 5o O art. 1o-F da Lei no 9.494, de 10 de setembro de 1997, introduzido pelo art. 4o da Medida Provisória no 2.180-35, de 24 de agosto de 2001, passa a vigorar com a seguinte redação: “Art. 1o-F. Nas condenações impostas à Fazenda Pública, independentemente de sua natureza e para fins de atualização monetária, remuneração do capital e compensação da mora, haverá a incidência uma única vez, até o efetivo pagamento, dos índices oficiais de remuneração básica e juros aplicados à caderneta de poupança.” (NR)17

Até 29 de junho de 2009, os índices utilizados para a correção monetária eram INPC –

Índice Nacional de Preços ao Consumidor ou IPCA-E – Índice Nacional de Preços ao

Consumidor Amplo Especial, este na Justiça Federal, aquele no âmbito do Tribunal de Justiça

do Distrito Federal e dos Territórios. Ambos são medidos pelo IBGE – Instituto Brasileiro de

Geografia e Estatística e, embora tenham aferições um pouco diferentes, possuem o mesmo

objetivo de mensurar a variação da inflação, como se pode depreender do texto explicativo a

seguir reproduzido:

O Sistema Nacional de Índices de Preços ao Consumidor - SNIPC efetua a produção contínua e sistemática de índices de preços ao consumidor, tendo como unidade de coleta estabelecimentos comerciais e de prestação de serviços, concessionária de serviços públicos e domicílios (para levantamento de aluguel e condomínio). O período de coleta do INPC e do IPCA estende-se, em geral, do dia 01 a 30 do mês de referência. A população-objetivo do INPC abrange as famílias com rendimentos mensais compreendidos entre 1 (hum) e 5 (cinco) salários-mínimos, cuja pessoa de

pública. Migalhas. [online]. 2015. ISSN 1983 - 392X. http://www.migalhas.com.br/dePeso/16,MI203409,41046-Atualizacao+Monetaria+e+Incidencia+de+Juros+Moratorios+nos+Debitos+da. Acesso em: 25/02/2015

17 BRASIL. Lei nº 11.960 (2009). Lei nº 11.960/09, de 29 de junho de 2009. Altera e acresce dispositivos às Leis nos 9.639, de 25 de maio de 1998, e 11.196, de 21 de novembro de 2005, para dispor sobre parcelamento de débitos de responsabilidade dos Municípios, decorrentes de contribuições sociais de que tratam as alíneas a e c do parágrafo único do art. 11 da Lei no 8.212, de 24 de julho de 1991; bem como acresce dispositivo à Lei no 6.830, de 22 de setembro de 1980, para simplificar o tratamento dado às cobranças judiciais da dívida ativa quando, da decisão que ordene o seu arquivamento, tiver decorrido o prazo prescricional; dá nova redação ao art. 47 da Lei no 8.212, de 24 de julho de 1991, para dispensar a apresentação da Certidão Negativa de Débito em caso de calamidade pública ou para recebimento de recursos para projetos sociais, ao art. 1o-F da Lei no 9.494, de 10 de setembro de 1997, para uniformizar a atualização monetária e dos juros incidentes sobre todas as condenações judiciais impostas à Fazenda Pública, ao art. 19 da Lei no 11.314, de 3 de julho de 2006, para estender o prazo durante o qual o Departamento Nacional de Infra-Estrutura de Transportes poderá utilizar recursos federais para executar obras de conservação, recuperação, restauração, construção e sinalização de rodovias transferidas para outros membros da Federação, e ao inciso II do art. 8o da Lei no 11.775, de 17 de setembro de 2008, para prorrogar a data-limite para adesão pelos mutuários de créditos rurais inscritos em Dívida Ativa da União ao parcelamento dos seus débitos; e dá outras providências. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2009/lei/l11960.htm>. Acesso em: 15/06/2015.

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referência é assalariado em sua ocupação principal e residente nas áreas urbanas das regiões;18

O período de coleta do IPCA-E estende-se, em geral, do dia 16 do mês

anterior ao dia 15 do mês de referência. A população-objetivo do IPCA-E abrange as famílias com rendimentos

mensais compreendidos entre 1 (hum) e 40 (quarenta) salários-mínimos, qualquer que seja a fonte de rendimentos, e residentes nas áreas urbanas das regiões.19

2.2. A consequência da modificação dos índices de correção monetária nos

débitos fazendários

A partir de 29 de junho de 2009, foram substituídos o INPC ou IPCA-E, índices

comumente utilizados pelos Tribunais para o cálculo de atualização monetária dos débitos

contra a Fazenda Pública, e passaram a ser utilizados para tal desiderato os índices oficiais de

remuneração básica e juros aplicados à poupança.

A definição do que seriam os índices oficiais de remuneração básica e juros aplicados à

poupança veio por outra lei. A Lei nº 8.177/91, em seu art. 12, define que a remuneração

básica da poupança se dará pela “taxa correspondente à acumulação das TRD, no período

transcorrido entre o dia do último crédito de rendimento, inclusive, e o dia do crédito de

rendimento, exclusive”20.

De acordo com os arts. 1º e 2º, da Lei nº 8.177/91 a TRD corresponde ao “valor diário à

distribuição pro rata da TR fixada para o mês corrente”21, sendo que a TR seria calculada a

partir da remuneração mensal média líquida de impostos, dos depósitos a prazo fixo captados

nos bancos comerciais, bancos de investimentos, bancos múltiplos com carteira comercial ou

de investimentos, caixas econômicas, ou dos títulos públicos federais, estaduais e municipais,

de acordo com metodologia elaborada pelo Conselho Monetário Nacional.

A Resolução nº 2437/97, alterada pela Resolução nº 2758-00, atualmente é o normativo

18 Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo - IPCA e Índice Nacional de Preços ao Consumidor – INPC. Disponível em: <http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/indicadores/precos/inpc_ipca/defaultinpc.shtm>. Acesso em: 25/08/2015. 19 Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo Especial - IPCA-E. Disponível em: <http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/indicadores/precos/ipcae/default.shtm>. Acesso em: 25/08/2015. 20 BRASIL. Lei nº 8.177 (1991). Lei nº 8.177, de 1º de março de 1991. Estabelece regras para a desindexação da economia e dá outras providências. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L8177.htm>. Acesso em: 15/06/2015. 21 ______. Lei nº 8.177 (1991). Lei nº 8.177, de 1º de março de 1991. Estabelece regras para a desindexação da economia e dá outras providências. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L8177.htm>. Acesso em: 15/06/2015.

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que define a metodologia de cálculo da TRD, in verbis:

Art. 1º Para fins de cálculo da Taxa Básica Financeira - TBF e da Taxa Referencial - TR, será constituída amostra das trinta maiores instituições financeiras do País, assim consideradas em função do volume de captação efetuado por meio de certificados e recibos de depósito bancário (CDB e RDB), com prazo de trinta a trinta e cinco dias, inclusive, e remunerados a taxas prefixadas, dentre bancos múltiplos com carteira comercial ou de investimento, bancos comerciais, bancos de investimento e caixas econômicas. (Redação dada ao “caput” do Art. 1º pela Resolução 2758, de 13/07/2000).(g. n.)22

O questionamento que a comunidade jurídica começou a fazer era se a TRD – Taxa

Referencial de Juros Diária – teria o condão de se portar como um índice escorreito para

expressar a inflação do período, e suprir o débito com a correção monetária devida, dada sua

natureza pré-fixada.

3. O Judiciário é chamado para solucionar a questão

Levada ao Judiciário a questão, de início oscilaram os entendimentos do Supremo

Tribunal Federal (STF) e do Superior Tribunal de Justiça (STJ). As divergências havidas

começaram a ser dirimidas, quando submetidas ao STF as ADI’s 4357 e 4425.

A Suprema Corte, ao julgar em conjunto ambos os feitos, declarou inconstitucional o § 12,

do art. 100, da CRFB/198823, com redação dada pela EC nº 62/09 e, como a

inconstitucionalidade “se estende aos dispositivos normativos que apresentam com ela uma

relação de conexão ou de interdependência24”, por arrastamento, o art. 5º, da Lei nº 11.960/09,

também foi declarado inconstitucional.

22 BRASIL. Resolução - CMN nº 2437 (1997). Resolução nº 2437, de 30 de outubro de 1997. Altera a metodologia de cálculo da Taxa Referencial - TR de dias não-úteis e consolida as normas relativas à TR e à Taxa Básica Financeira - TBF. Disponível em: <http://www.bcb.gov.br/pre/normativos/res/1997/pdf/res_2437_v5_P.pdf>. Acesso em: 25/08/2015. 23 ______. Constituição da República Federativa do Brasil (1988). Promulgada em 5 de outubro de 1988. Art. 100, § 12: § 12. A partir da promulgação desta Emenda Constitucional, a atualização de valores de requisitórios, após sua expedição, até o efetivo pagamento, independentemente de sua natureza, será feita pelo índice oficial de remuneração básica da caderneta de poupança, e, para fins de compensação da mora, incidirão juros simples no mesmo percentual de juros incidentes sobre a caderneta de poupança, ficando excluída a incidência de juros compensatórios. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicaocompilado.htm>. Acesso em: 15/06/2015. 24 Glossário Jurídico. Inconstitucionalidade por arrastamento. Disponível em: <http://www.stf.jus.br/portal/glossario/verVerbete.asp?letra=I&id=541>. Acesso em: 16/05/2015.

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O que se seguiu ao julgamento das ADI’s supracitadas foi a continuação de idas ao

Judiciário. Isso ocorreu devido à pendência da modulação de efeitos da decisão do STF, que

deixou de definir a partir de quando não mais valeria a TRD como índice de correção

monetária, bem como qual índice ficaria no lugar da TRD e ainda, para qual natureza de

crédito valeria a decisão. A decisão trouxe a definição do marco da inconstitucionalidade, o

novo índice e para quais débitos valia a declaração de inconstitucionalidade, a saber:

Decisão: Concluindo o julgamento, o Tribunal, por maioria e nos termos do voto, ora reajustado, do Ministro Luiz Fux (Relator), resolveu a questão de ordem nos seguintes termos: 1) - modular os efeitos para que se dê sobrevida ao regime especial de pagamento de precatórios, instituído pela Emenda Constitucional nº 62/2009, por 5 (cinco) exercícios financeiros a contar de primeiro de janeiro de 2016; 2) - conferir eficácia prospectiva à declaração de inconstitucionalidade dos seguintes aspectos da ADI, fixando como marco inicial a data de conclusão do julgamento da presente questão de ordem (25.03.2015) e mantendo-se válidos os precatórios expedidos ou pagos até esta data, a saber: 2.1.) fica mantida a aplicação do índice oficial de remuneração básica da caderneta de poupança (TR), nos termos da Emenda Constitucional nº 62/2009, até 25.03.2015, data após a qual (i) os créditos em precatórios deverão ser corrigidos pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo Especial (IPCA-E) e (ii ) os precatórios tributários deverão observar os mesmos critérios pelos quais a Fazenda Pública corrige seus créditos tributários; e 2.2.) ficam resguardados os precatórios expedidos, no âmbito da administração pública federal, com base nos arts. 27 das Leis nº 12.919/13 e Lei nº 13.080/15, que fixam o IPCA-E como índice de correção monetária; 3) - quanto às formas alternativas de pagamento previstas no regime especial: 3.1) consideram-se válidas as compensações, os leilões e os pagamentos à vista por ordem crescente de crédito previstos na Emenda Constitucional nº 62/2009, desde que realizados até 25.03.2015, data a partir da qual não será possível a quitação de precatórios por tais modalidades; 3.2) fica mantida a possibilidade de realização de acordos diretos, observada a ordem de preferência dos credores e de acordo com lei própria da entidade devedora, com redução máxima de 40% do valor do crédito atualizado; 4) – durante o período fixado no item 1 acima, ficam mantidas a vinculação de percentuais mínimos da receita corrente líquida ao pagamento dos precatórios (art. 97, § 10, do ADCT), bem como as sanções para o caso de não liberação tempestiva dos recursos destinados ao pagamento de precatórios (art. 97, § 10, do ADCT); 5) – delegação de competência ao Conselho Nacional de Justiça para que considere a apresentação de proposta normativa que discipline (i) a utilização compulsória de 50% dos recursos da conta de depósitos judiciais tributários para o pagamento de precatórios e (ii) a possibilidade de compensação de precatórios vencidos, próprios ou de terceiros, com o estoque de créditos inscritos em dívida ativa até 25.03.2015, por opção do credor do precatório, e 6) – atribuição de competência ao Conselho Nacional de Justiça para que monitore e supervisione o pagamento dos precatórios pelos entes públicos na forma da presente decisão, vencido o Ministro Marco Aurélio, que não modulava os efeitos da decisão, e, em menor extensão, a Ministra Rosa Weber, que fixava como marco inicial a data do julgamento da ação direta de inconstitucionalidade. Reajustaram seus votos os Ministros

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Roberto Barroso, Dias Toffoli e Gilmar Mendes. Presidência do Ministro Ricardo Lewandowski. Plenário, 25.03.2015.25 (g.n.)

Um ponto final poderia ter sido dado ao tema se o STF não tivesse se referido tão somente

aos créditos tributários e aos créditos inscritos em precatórios26 ou requisições de pequeno

valor (RPV)27. Inevitavelmente, novas “consultas” ao Judiciário foram feitas.

A questão que pairava no ideário jurídico repousava nos créditos contra a Fazenda

Pública, quando não fossem de natureza tributária, ou não inscritos em precatórios ou

requisições de pequeno valor. Especulou-se duas distintas posturas, a saber: correção

monetária pelo índice que antecedeu à TRD (INPC ou IPCA-E), em consequência do

chamado efeito repristinatório, ou seja, “fenômeno da reentrada em vigor da norma

aparentemente revogada”28 pela decisão das ADIs; ou correção monetária pela sistemática da

decisão de prospecção de efeitos ora definida (INPC ou IPCA-E, depois TRD, e por fim

IPCA-E).

Tais anseios foram suficientes para que o STF reconhecesse a repercussão geral (RG) do

Recurso Extraordinário (RE) 870.947 – RG/SE. Nesse julgado, o relator, Ministro Celso de

Mello, esclareceu que as ADI’s 4.357 e 4.425 não trataram da atualização das condenações

impostas à Fazenda Pública ainda não inscritas em precatórios ou requisição de pequeno valor

(RPV), nos seguintes termos:

(...) a atualização monetária da condenação imposta à Fazenda Pública ocorre em dois momentos distintos.

O primeiro se dá ao final da fase de conhecimento com o trânsito em julgado da decisão condenatória. Esta correção inicial compreende o período de tempo entre o dano efetivo (ou o ajuizamento da demanda) e a imputação de responsabilidade à Administração Pública. A atualização é

25 BRASIL. SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL . ADI 4357, Relator(a): Min. AYRES BRITTO, Relator(a) p/ Acórdão: Min. LUIZ FUX, Tribunal Pleno, julgado em 14/03/2013, ACÓRDÃO ELETRÔNICO DJe-188 DIVULG 25-09-2014 PUBLIC 26-09-2014.

26 Glossário Jurídico. Precatório: Determinação da Justiça para que um órgão público (governo estadual, fundação, etc.) pague uma indenização devida. Os precatórios devem ser pagos em ordem cronológica, quer dizer, primeiro os mais antigos, independente o valor. Disponível em: <http://www.stf.jus.br/portal/glossario/verVerbete.asp?letra=P&id=196>. Acesso em: 29/09/2015.

27 Perguntas Mais Frequentes. 10. O que é REQUISIÇÃO DE PEQUENO VALOR e como ocorre o pagamento?: A REQUISIÇÃO DE PEQUENO VALOR (RPV) é a espécie de requisição de pagamento de quantia a que a Fazenda Pública foi condenada em processo judicial, para valores totais de até 60 salários mínimos por beneficiário, sendo encaminhada ao Tribunal, quando a entidade devedora for sujeita ao Orçamento Geral da União. Disponível em: < http://www2.trf4.jus.br/trf4/controlador.php?acao=ajuda_faq#>. Acesso em: 29/09/2015.

28 CLÈVE, Clèmerson Merlin A fiscalização abstrata da constitucionalidade no direito brasileiro . 2ª ed., São Paulo: Revista dos Tribunais, 2000, p. 250.

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estabelecida pelo próprio juízo prolator da decisão condenatória no exercício de atividade jurisdicional.

O segundo momento ocorre já na fase executiva, quando o valor devido é efetivamente entregue ao credor. Esta última correção monetária cobre o lapso temporal entre a inscrição do crédito em precatório e o efetivo pagamento. Seu cálculo é realizado no exercício de função administrativa pela Presidência do Tribunal a que vinculado o juízo prolator da decisão condenatória.

Pois bem. O Supremo Tribunal Federal, ao julgar as ADIs nº 4.357 e 4.425, declarou a inconstitucionalidade da correção monetária pela TR apenas quanto ao segundo período, isto é, quanto ao intervalo de tempo compreendido entre a inscrição do crédito em precatório e o efetivo pagamento. Isso porque a norma constitucional impugnada nas ADIs (art. 100, §12, da CRFB, incluído pela EC nº 62/09) referia-se apenas à atualização do precatório e não à atualização da condenação ao concluir-se a fase de conhecimento.29(g.n.)

A correção monetária, então, após o pronunciamento acima, pode ser sistematizada

separando-se o que é débito tributário do que é débito não tributário. Por sua vez, os débitos

não tributários podem ser classificados como os requisitados (precatório ou RPV) e os não

requisitados.

Os débitos tributários , inscritos ou não em precatórios, seguem o seguinte esquema de

atualização:

Os débitos não tributários e requisitados, ou seja, aqueles que foram inscritos como

precatórios ou como RPV, seguem o seguinte esquema de atualização:

Por sua vez, os débitos não tributários não requisitados, que ainda não foram inscritos

29 BRASIL. SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL . RE 870947 RG, Relator(a): Min. CESLO DE MELLO, julgado em 16/04/2015, ACÓRDÃO ELETRÔNICO DJe-077 DIVULG 24-04-2015 PUBLIC 27-04-2015.

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em precatório nem foram alvos de RPV, seguem o seguinte esquema de atualização:

3.1. O precedente da Justiça do Trabalho

O Tribunal Superior do Trabalho (TST), em recente decisão de arguição de

inconstitucionalidade (ArgInc-479-60.2011.5.04.0231), suscitada pelo Ministro Cláudio

Brandão em relação a dispositivo da Lei da Desindexação da Economia (Lei 8.177/9130), que

determinava a atualização dos valores devidos na Justiça do Trabalho pela Taxa Referencial

Diária (TRD), por unanimidade, declarou a inconstitucionalidade da expressão "equivalentes

à TRD", contida no caput do artigo 39 da lei, e deu interpretação conforme a Constituição

Federal para o restante do dispositivo, a fim de preservar o direito à atualização monetária dos

créditos trabalhistas, in verbis:

Processo: ArgInc - 479-60.2011.5.04.0231 Decisão: I) por unanimidade: a) acolher o incidente de inconstitucionalidade suscitado pela eg. 7ª Turma e, em consequência, declarar a inconstitucionalidade por arrastamento da expressão "equivalentes à TRD", contida no "caput" do artigo 39 da Lei n° 8.177/91; b) adotar a técnica de interpretação conforme a Constituição para o texto remanescente do dispositivo impugnado, a preservar o direito à atualização monetária dos créditos trabalhistas; c) definir a variação do Índice de Preços ao Consumidor Amplo Especial (IPCA-E) como fator de atualização a ser utilizado na tabela de atualização monetária dos débitos trabalhistas na Justiça do Trabalho; II) por maioria, atribuir efeitos modulatórios à decisão, que deverão prevalecer a partir de 30 de junho de 2009, observada, porém, a preservação das situações jurídicas consolidadas resultantes dos pagamentos efetuados nos processos judiciais, em andamento ou extintos, em virtude dos quais foi adimplida e extinta a obrigação, ainda que parcialmente, sobretudo em decorrência da proteção ao ato jurídico perfeito (artigos 5º, XXXVI, da Constituição e 6º da Lei de Introdução ao Direito Brasileiro - LIDB), vencida a Exma. Ministra Dora Maria da Costa, que aplicava a modulação dos efeitos da decisão a contar de 26 de março de 2015; III) por unanimidade, determinar: a) o retorno dos autos à 7ª Turma

30 BRASIL. Lei nº 8.177 (1991). Lei nº 8.177, de 1º de março de 1991. Estabelece regras para a desindexação da economia e dá outras providências. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L8177.htm>. Acesso em: 28/09/2015.

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desta Corte para prosseguir no julgamento do recurso de revista, observado o quanto ora decidido; b) a expedição de ofício ao Exmo. Ministro Presidente do Conselho Superior da Justiça do Trabalho a fim de que determine a retificação da tabela de atualização monetária da Justiça do Trabalho (tabela única); c) o encaminhamento do acórdão à Comissão de Jurisprudência e de Precedentes Normativos para emissão de parecer acerca da Orientação Jurisprudencial nº 300 da SbDI-1. Ressalvaram o entendimento os Exmos. Ministros Guilherme Augusto Caputo Bastos, Alexandre de Souza Agra Belmonte e Maria Helena Mallmann. Juntarão votos os Excelentíssimos Ministros Guilherme Augusto Caputo Bastos e Maria Helena Mallmann. Observação 1: Falou pelo(a) Interessado(a) o Dr. Mauro de Azevedo Menezes. Observação 2: Falou na condição de Amicus Curiae o Dr. Marcus Vinícius Furtado Coelho.31(g.n.)

Nos moldes das decisões supra do STF, quanto aos créditos em regime de precatório, o

TST definiu o IPCA-E como índice a substituir a TRD, no intuito da recomposição de valores

frente à inflação.

Também nos moldes do STF, o TST, empreendeu modulação de efeitos na aplicação do

IPCA-E. Todavia, na Justiça Laboral, os efeitos da decisão deverão incidir desde 30/06/2009,

data imediata à entrada em vigor da Lei nº 11.960/09. Outro limitador é o fato de só serem

aplicados os efeitos da declaração de inconstitucionalidade nos processos em andamento na

Justiça do Trabalho, em que ainda não houve pagamentos, sob pena de se ferir o princípio da

segurança jurídica, pois deve ser resguardado o ato jurídico perfeito.

Apesar dos créditos trabalhistas não serem objeto deste trabalho é importante a análise

feita pela Justiça laboral em relação à atualização monetária. Embora não aderindo à mesma

concepção da Corte Constitucional, é possível perceber no TST o anseio por recomposição e

manutenção de valores, principal desiderato da correção monetária.

Logo, é possível observar que o TST optou por uma postura mais corajosa, se comparado

com o STF, determinando desde a entrada em vigor da Lei nº 11.960/09, a incidência do

IPCA-E, conforme esquema abaixo:

31 BRASIL. TRIBUNAL SUPERIOR DO TRABALHO . ArgInc - 479-60.2011.5.04.0231, Relator(a): Min. Cláudio Mascarenhas Brandão, julgado em 04/08/2015. Disponível em: <http://aplicacao4.tst.jus.br/consultaProcessual/decisaoForm.do?numInt=118578&anoInt=2012&codOrgaoJudic=360&anoPauta=2015&numPauta=10&tipSessao=E.>. Acesso em: 28/09/2015

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4. Descomplicando o papel do advogado na prestação da tutela jurisdicional

O papel do advogado, diante das modificações de sistemática de correção monetária das

condenações contra a Fazenda Pública fica sobrelevado. A depender do estágio em que se

encontre a demanda, diferentes decisões poderá o causídico tomar.

A título de exemplo, ainda em curso a demanda, poderá pleitear reclamação, quando da

necessidade da preservação da competência e garantia das decisões supracitadas do STF32;

recursos variados, quando possíveis, e desde que presentes os requisitos autorizadores; ou

ainda, quando não couberem tais recursos, o competente Mandado de Segurança, para

proteger direito líquido e certo sempre que, ilegalmente ou com abuso de poder, a parte

interessada sofrer violação ou houver justo receio de sofrê-la33 por parte da Fazenda Pública

em não querer obedecer aos comandos judiciais citados.

De outra forma, estando o processo finalizado, desde que no prazo de dois anos do trânsito

em julgado da sentença ou acórdão, conforme art. 48534, do CPC, poderá ainda ser ajuizada a

competente ação rescisória.

32 BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil (1988). Promulgada em 5 de outubro de 1988. Art. 102. Compete ao Supremo Tribunal Federal, precipuamente, a guarda da Constituição, cabendo-lhe:, I - processar e julgar, originariamente: [...] l) a reclamação para a preservação de sua competência e garantia da autoridade de suas decisões; Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicaocompilado.htm>. Acesso em: 21/10/2015. 33 ______. Lei nº 12.016 (2009). Lei nº 12.016, de 7 de agosto de 2009. Disciplina o mandado de segurança individual e coletivo e dá outras providências Art. 1o Conceder-se-á mandado de segurança para proteger direito líquido e certo, não amparado por habeas corpus ou habeas data, sempre que, ilegalmente ou com abuso de poder, qualquer pessoa física ou jurídica sofrer violação ou houver justo receio de sofrê-la por parte de autoridade, seja de que categoria for e sejam quais forem as funções que exerça. Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2009/lei/l12016.htm>. Acesso em: 21/10/2015. 34 ______. Lei nº 5.869 (1973). Lei nº 5.869, de 11 de janeiro de 1973. Art. 485. O direito de propor ação rescisória se extingue em 2 (dois) anos, contados do trânsito em julgado da decisão. Institui o Código de Processo Civil. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l5869compilada.htm>. Acesso em: 15/06/2015.

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A dimensão do prejuízo – ou benefício –, de tempo e dinheiro, para o cliente e, em última

análise, para o advogado, pode ser observada quando se operacionaliza e se demonstra a

necessária sucessão de índices nos autos.

Descomplicando, em um hipotético caso, em curso numa Vara da Fazenda Pública

qualquer, de suposto Tribunal de Justiça, em que se pleiteia um crédito de R$ 1.000,00 (mil

reais), constituído em 01/05/2009, com juros simples de 1% ao mês, contra a Fazenda Pública

Local, e pago em 01/06/2015, a depender da metodologia utilizada – e da possível intenção

protelatória da Fazenda Pública ou do próprio advogado, diferentes valores poderiam ser

apresentados, a saber:

Se nada soubesse sobre a sucessão de índices, o valor encontrado pelo patrono do

exequente seria o de R$ 2.624,20 (dois mil seiscentos e vinte e quatro reais e vinte centavos).

Tal valor seria o resultado da incidência apenas do INPC acumulado de 01/05/2009 a

01/09/2009. Valor muito atraente, mas com um custo alto, pois facilmente seria impugnado

pela parte adversa.

Se, no entanto, o patrono da execução soubesse da existência da Lei nº 11.960/09, e

tivesse um superficial conhecimento da jurisprudência do STF, provavelmente encontraria

o valor de R$ 1.520,52 (mil quinhentos e vinte reais e cinquenta e dois centavos), resultado da

sucessão do INPC, da remuneração da poupança e do IPCA-E. Essa situação é um pouco

menos vantajosa em comparação com a anterior, todavia, também estaria em desacordo com o

que se demonstrou acima, no que tange a créditos não inscritos em precatórios ou RPV.

Mas, se soubesse o causídico da alteração determinada pela Lei nº 11.960/09, bem

como do alcance das decisões das ADI’s 4357 e 1125, da modulação de efeitos das

mesmas, bem como do RE 870947 RG – Repercussão Geral, provavelmente o advogado

chegaria ao patamar de R$ 1.471,83 (mil quatrocentos e setenta e um reais e oitenta e três

centavos). O valor final dos cálculos seria o resultado da sucessão do INPC e da remuneração

da poupança, menor em relação aos demais, mas correto, com exponencial ganho de tempo e

evitando-se retrabalhos estéreis.

As decisões judiciais estudadas no capítulo anterior dão suporte à afirmação de que os

débitos fazendários, não tributários e não inscritos em precatório ou RPV, devem ser

corrigidos monetariamente pelos índices INPC ou IPCA-E, se anteriores à entrada em vigor

da Lei nº 11.960/09, e depois desta pela variação da TRD. Essa operação, como demonstrado

acima, ocasiona um benefício para a Fazenda Pública e, em contrapartida, uma perda para o

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administrado.

A explicação para tal consequência está na própria utilização da TRD como índice de

atualização monetária. A variação da TRD, no período de 10/2009 a 08/2015, por exemplo,

ficou em 0,04%, enquanto que a variação do INPC ficou em 45,7% e a variação do IPCA-E

em 45,4%.

Descomplicando um pouco mais, tem-se que um débito de R$ 1,00 (um real), no período

acima, quando atualizado pelo INPC fica em R$ 1,45 (um real e quarenta e cinco centavos),

que arredondado ficaria em R$ 1,46 (um real e quarenta e seis centavos); pelo IPCA-E, ficaria

em R$ 1,45 (um real e quarenta e cinco centavos); e pela TRD, ficaria em R$ 1,04 (um real e

quatro centavos).

Sabendo disso, o desafio do advogado será o de informar corretamente seu cliente e

também o de instruir sua peça com o valor correto, com o fim de poupar tempo e trabalho, seu

e de seu cliente.

Considerações finais

É possível depreender que a mudança na sistemática de atualização monetária acarreta

efeitos no valor das condenações em geral. Quando se trata de Fazenda Pública, que possui

regramento específico, como no caso da necessidade de inscrição de determinados valores em

precatórios, reputa-se relevante que o advogado consiga visualizar como se sucedem e se

aplicam os consectários da correção monetária, nos créditos de diferentes naturezas, que

importam a seu cliente.

O trabalho que ora se encerra pretendeu possibilitar ao advogado – e operadores jurídicos

em geral –, uma inicial desmistificação de conhecimentos acerca da atualização monetária no

âmbito dos débitos fazendários.

De posse de tais conhecimentos, até o trato do causídico com seu cliente poderá ser mais

eficiente e transparente quando aquele souber como se dá a atualização de verbas, que a

ambos interessam. Possíveis frustrações em relação ao valor final da lide poderão ser

evitadas, seja quanto ao valor da condenação que cabe ao cliente, seja quanto ao valor que

cabe ao advogado, em relação aos honorários que lhe são devidos, ante a sucumbência da

Fazenda Pública. Além disso, também poderão ser construídas estratégias objetivas de

atuação, bem como favorecer o instituto da economia processual e a manutenção da ética no

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ambiente da advocacia.

A modificação na sistemática de atualização é fato consolidado pelo Poder Judiciário, que

por meio de sua Corte Suprema já se pronunciou e estabeleceu as diretrizes no que concerne

aos débitos da Fazenda Pública, como demonstrado nos julgados acima. Em face disso, o

benefício experimentado pela Fazenda Pública e a perda sofrida pelo administrado também

são fatos consolidados pelo posicionamento judicial e que ficam evidentes nesse estudo.

Por outro lado, a postura intimorata do TST é destacável, pois alberga conduta

diametralmente oposta ao STF, quando opta por afastar totalmente a TRD da atualização

monetária dos débitos da Fazenda Pública.

Descomplicar o que por natureza é complicado não é tarefa das mais fáceis, mas foi o

escopo do presente trabalho. No entanto, nada impede que seja feita uma revisitação de

institutos e definições ora tratados, seja para simplificar as argumentações que os envolvem,

seja para retificá-los.

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agosto de 2001. Acresce e altera dispositivos das Leis nos 8.437, de 30 de junho de 1992,

9.028, de 12 de abril de 1995, 9.494, de 10 de setembro de 1997, 7.347, de 24 de julho de

1985, 8.429, de 2 de junho de 1992, 9.704, de 17 de novembro de 1998, do Decreto-Lei

no 5.452, de 1o de maio de 1943, das Leis nos 5.869, de 11 de janeiro de 1973, e 4.348, de 26

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para dispor sobre parcelamento de débitos de responsabilidade dos Municípios, decorrentes de

contribuições sociais de que tratam as alíneas a e c do parágrafo único do art. 11 da Lei

no 8.212, de 24 de julho de 1991; bem como acresce dispositivo à Lei no 6.830, de 22 de

setembro de 1980, para simplificar o tratamento dado às cobranças judiciais da dívida ativa

quando, da decisão que ordene o seu arquivamento, tiver decorrido o prazo prescricional; dá

nova redação ao art. 47 da Lei no 8.212, de 24 de julho de 1991, para dispensar a apresentação

da Certidão Negativa de Débito em caso de calamidade pública ou para recebimento de

recursos para projetos sociais, ao art. 1o-F da Lei no 9.494, de 10 de setembro de 1997, para

uniformizar a atualização monetária e dos juros incidentes sobre todas as condenações

judiciais impostas à Fazenda Pública, ao art. 19 da Lei no 11.314, de 3 de julho de 2006, para

estender o prazo durante o qual o Departamento Nacional de Infra-Estrutura de Transportes

poderá utilizar recursos federais para executar obras de conservação, recuperação,

restauração, construção e sinalização de rodovias transferidas para outros membros da

Federação, e ao inciso II do art. 8o da Lei no 11.775, de 17 de setembro de 2008, para

prorrogar a data-limite para adesão pelos mutuários de créditos rurais inscritos em Dívida

Ativa da União ao parcelamento dos seus débitos; e dá outras providências. Disponível em:

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de segurança individual e coletivo e dá outras providências Art. 1o Conceder-se-á mandado

de segurança para proteger direito líquido e certo, não amparado por habeas

corpus ou habeas data, sempre que, ilegalmente ou com abuso de poder, qualquer pessoa

física ou jurídica sofrer violação ou houver justo receio de sofrê-la por parte de autoridade,

seja de que categoria for e sejam quais forem as funções que exerça. Disponível em: <

http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2009/lei/l12016.htm>. Acesso em:

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