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Dentro do âmbito da Arqueologia de Ambientes Aquáticos, o referente artigo vem a tratar da temática cultura faroleira, presente no território aracajuano. Utilizando-se das evidências materiais fornecidas pelos faróis aqui estudados, da documentação escrita sobre os mesmos e a experiência das pessoas, a eles relacionados. Buscamos entender as transformações e permanências desses marcos estruturais, e o que estas representaram na realidade social de suas épocas, seja no âmbito de Sergipe, Brasil e porque não no mundo. Essa pesquisa foi pensada como parte do trabalhados desenvolvidos na disciplina arqueologia de ambientes aquáticos II, sob a orientação do professor Dr. Leandro Domingues Duran.
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À BEIRA DAS ATALAIAS:
Faróis de Aracaju e sua diversidade contextual.
INTRODUÇÃO
Davisson S. Oliveira | Eric Marcel S. Lima | Felipe do N. Rodrigues | Marcel Raely F. G.
Nascimento | Roberta da S. Rosa | Thaysa Mirths A. dos Santos | Vinicius Pedra |
Wendson N. Barbosa*
“O Homem do mar é quem mais sabe sobre a felicidade de
avistar um farol. É como rever um amigo. Na costa deste
nosso Brasil Continental existem centenas desses amigos
feitos de luz, aço, concreto e madeira, guiando aqueles que
vivem no mar” Ney Dantas.
Dentro do âmbito da Arqueologia de Ambientes Aquáticos, o referente artigo vem a tratar
da temática cultura faroleira, presente no território aracajuano (ver Apêndice). Utilizando-se
das evidências materiais fornecidas pelos faróis aqui estudados, da documentação escrita
sobre os mesmos e a experiência das pessoas, a eles relacionados. Buscamos entender as
transformações e permanências desses marcos estruturais, e o que estas representaram na
realidade social de suas épocas, seja no âmbito de Sergipe, Brasil e porque não no mundo.
Essa pesquisa foi pensada como parte do trabalhados desenvolvidos na disciplina arqueologia
de ambientes aquáticos II, sob a orientação do professor Dr. Leandro Domingues Duran.
Partindo de uma perspectiva mundial, os primeiros faróis teriam surgido na antiguidade,
elaborados em formato de grandes fogueiras acesas no alto de montanhas, com intuito de
sinalizar para os navegadores a presença de terra e também sobre os perigos constantemente
presentes na região que eles estivessem adentrando.
Com o passar do tempo e com o avanço tecnológico, os faróis como conhecemos hoje
sofreram mudanças tanto na estrutura quanto na forma de iluminação. A exemplo disso
temos: o uso e transformação das lentes convergentes; o combustível para se gerar luz desde a
simples queima da madeira, passando óleos animas e minerais, até o gás acetileno e enfim a
* Graduandos do Curso de Arqueologia Bacharelado – Universidade Federal de Sergipe.
eletricidade; e a própria armação do corpo do farol, confeccionado a partir de rochas, madeira,
alvenaria e metálica (LIGHTING, 2013).
Para se notar a importância que os faróis têm no decorrer da história da humanidade,
temos o farol de Alexandria, como uma das sete maravilhas do mundo Antigo; construída no
ano de 280 A.C com a finalidade de sinalizar o porto de Alexandria e facilitar a navegação da
costa norte do Egito, além de servir até hoje como modelo construtivo de faróis.
Outro local que merece destaque é a torre de Hércules, este ainda preservado, com seus
atuais 57 metros de altura, existente desde o século II D.C. é um dos faróis mais antigos do
mundo em uso constante. Devido a sua importância histórico-cultural foi declarado
patrimônio mundial da UNESCO em 2009.
Utilizando-se da torre de Hércules, partimos para outra categoria aos quais os faróis
podem ser colocados, o de Monumento. Segundo Choay (apud Reis, p. 91, 2008) monumento
é o que traz à memória, o que faz lembrar algo ou alguém. Nesse caso, estaria lembrando a
importância dos faróis desde a antiguidade até os dias de hoje. Sinalizando a terra durante
intempéries e mostrando o caminho seguro a seguir, protegendo assim as vidas dos
marinheiros que se arriscam em alto mar. E relembrando as pessoas por trás de toda essa
estrutura monumental que é o farol.
Atualmente, alguns faróis são consagrados como título de patrimônio mundial pelo seu
caráter arquitetônico, sua relevância cultural para a humanidade, importância para o comércio
mundial e acima de tudo para as vidas de quem vive do ambiente marítimo, exemplo disso: o
farol da Guia que está localizado na península de Macau, na costa do mar do sul da China.
No Brasil, alguns exemplos de faróis declarados como patrimônio são: o Farol da Barra
em Salvador - BA e o Farol da Farolândia em Aracaju - SE. O Farol da Barra, construído
dentro do forte de Santo Antônio da Barra, na Bahia de todos os santos no século XVIII, após
o naufrágio do Galeão Sacramento em 1668, para auxiliar a navegação dos navios que vinham
em busca de matéria prima para a metrópole. É considerado o farol mais antigo do continente
(BAEZ, 2010, p. 6; 63-64).
No campo da arqueologia brasileira são poucos os trabalhos relacionados ao tema. Dois
exemplos que podemos citar, são: o farol do Bom Abrigo de 1886, localizado na baía de
Trapandé, no litoral sul de São Paulo e que foi alvo de pesquisa arqueológica realizada sob a
forma de uma tese de doutoramento pelo pesquisador Dr. Leandro Domingues Duran em
2008 (DURAN, 2008). E mais recentemente em 2011, através de um vistoria técnica o Farol
São Francisco do Norte da segunda metade o século XVIII, localizado no antigo povoado
Cabeço, Ilha de Arampibe, município de Brejo Grande, na região do Baixo São Francisco, se
tornou o primeiro sítio arqueológico submerso do estado de Sergipe a ser tombado, devido
aos seus diversos valores socioculturais. O mesmo desde 1998 se encontra semi-submerso e
sem condições de funcionamento (RIBEIRO, RAMBELLI; SANTOS, 2012).
FARÓIS DE ARACAJU
Para tratarmos da cultura faroleira em Aracaju, decidimos trabalhar com as três diferentes
estruturas de faróis da região. Na arqueologia elas podem ser consideradas como mega-
artefatos e entendidas como parte integrante da interpretação de uma cultura de ambientes
aquáticos. No caso do objeto de nossa pesquisa, especificamente fazem parte da cultua
marítima (DURAN, 2008, p. 94).
Se observarmos a cultura faroleira no âmbito geral, vamos nos deparar com uma grande
variedade de estilos arquitetônicos, matérias primas, graus de tecnologia utilizadas, assim
como na importância histórica que cada estilo arquitetônico agrega a seu contexto.
Dessa forma, como ponto de partida de nossas reflexões, utilizaremos de uma
metodologia comparativa, para análise desses mega-artefatos, afim de entender as diferentes
realidades as quais os faróis de Aracaju estiveram sujeitos, destacando seu nível de
importância regional, em suas diferentes épocas.
A análise comparativa vai nos permitir estudar esses baluartes da cultura faroleira,
correlacionando suas singularidades e diferenças através do contexto espacial e temporal,
visto que se tratam de um tipo especifico de cultura, e assim compartilham elementos
característicos dela. Mas ao mesmo tempo, cada qual tem seus atributos próprios, assim é
desse conjunto de informações, que retiramos nossas reflexões.
Como meio para desenvolver essa comparação, usamos os dados provenientes da
pesquisa de campo, a exemplo: fontes orais, os registros iconográficos, registros das
estruturas arquitetônicas e como estavam dispostos na paisagens, tal como das fontes
bibliográficas.
A funcionalidade dos faróis está relacionada a orientação das embarcações no ambiente
aquático, para que trafeguem de forma segura, deslocando cargas e pessoas de um ponto a
outro. Na capital sergipana, a primeira construção desse tipo, oficialmente só ocorreu a partir
de 1861, com a criação do Farol de Aracaju.
Conforme a descrição de Ney Dantas (1999, p. 39), o presidente da Província de Sergipe,
em 1854, teria remetido ao Governo uma planta com orçamento para a criação do farol na foz
e na margem direito do então chamado rio Cotinguiba ou Aracaju, localidade onde se
encontrava o território aracajuano. Em decorrência da aceitação do pedido, em 1860, foram
encomendados da Inglaterra uma lanterna (possuiu três faces, luz fixa com três tipos de cores
verde, branca e encarnada) e acessórios, que um ano depois foram acoplados a uma armação
de madeira, que passou a servir de Atalaia, tendo um alcance de visibilidade entre seis e nove
milhas náuticas (11-16 km).
Um acontecimento de âmbito nacional que precedeu a criação do Farol de Aracaju, e
esteve diretamente ligado ao processo para a criação do mesmo no litoral sergipano, foi
surgimento da Junta de Navegação. Segundo Baez (2010, p. 59), essa ação governamental
iniciou-se ainda na primeira metade do século XIX, visando um controle maior da atividade
mercante e com a segurança da navegação na costa do Brasil. O que repercutiu na
organização das Capitanias dos Portos do Brasil em 14 de agosto de 1845, instituições quem
passaram ser responsáveis pela organização e sinalização marítimas nas províncias (ver,
Decreto nº 358 de 14 de agosto de 1845).
O interesse que o Governo passou a tomar perante as questões de navegação marítima, é
justificado, a partir do momento que relembramos que o principal meio de circulação e
comercio entre o Brasil e a Europa, se dava pelo mar. E que também devido as precárias
condições da maioria das estradas, o deslocamento via costa era mais ágil. Logo, a construção
de faróis, neste período, teve um peso relevante para a organização e modernização do
transito naval, como na atividade comercial. (BAEZ, 2010, p. 60)
Para situarmos o que estava ocorrendo no século XIX, Sergipe estava em pleno
desenvolvimento urbano, comercial entre outros, sendo que 1855 já havia ocorrido a mudança
da capital de São Cristóvão para Aracaju, devido a motivos político-econômicos, o principal
deles referente ao porto de São Cristóvão que não conseguia suprir o aumento da demanda de
açúcar para o mercado exterior.
Duas décadas após sua inauguração, o primeiro farol de Aracaju em madeira ameaçava
ruir, o que sem a devida manutenção acabou por, na noite de 27 de março de 1884, ser
consumido por um incêndio (DANTAS, 1999, p.48). Vale ressaltar, que não há mais vestígios
dessa primeira edificação, visto que em decorrência dos acontecimentos relacionados a
mesma não se preservou. Como medida provisória, foi instalada uma torre temporária que
durou até 1886, quando se deu o começo do levantamento da novo farol que deveria receber o
aparelho luminoso de 3ª ordem, grande modelo (0,50 m de distância focal), encomendado em
1885, à casa de Barbier, Benard & Turenne (Paris), (DANTAS, 2002 no livro de Siqueira).
A nova torre construída, leva por características o sistema
Mitchell de construção, nome em homenagem ao seu criador
Alexander Mitchell, em 1828. O esquema consistiria numa torre esqueleto ou sobre esteio de
roscas composta por ferro fundido, um tubulão central que serve como residência (ver figura
2), apresentando estacas com parafusos (ver figura1) de 1,2m de
diâmetro com profundidade de cinco e dez metros que podia ser
parafusadas no chão, mas cujos números de bases de sustentação não
podiam ser menores que quatro, no Brasil o número de bases de
sustentação não passou de oito (DANTAS, 2000, p. 27).
Era um sistema simples e eficaz de construção de faróis duráveis em águas profundas,
bancos de lama e areia com fixação de balizas de navios de amarração. Este método foi
testado pela primeira vez em 1838, sobre o estuário do rio Tâmisa (ALEXANDER
MITCHELL, 2013).
Figura 1 – Esteio de
Roscas
Fonte: http://irishscientists.tripod.com/scientists/ALEXANDE.HTM
Fonte: http://www.leuchtturm-
welt.net/HTML/SAPK/ORIGINAL/AR
ACAJU.JPG
Dentro do território aracajuano, esse estilo de
farol adaptado a localidades instáveis, acabou por
funcionar perfeitamente aos interesses de seus
implementadores. Já que na época de sua criação, o
local ainda era repleta de dunas, um ambiente lacustre
de adversidades, que requereria muito mais
investimento e tempo, caso se quisesse um torre de
alvenaria (ver figura 2). Todavia, o transporte do
equipamento do Farol de Aracaju até o localidade de
construção não foi simples. De acordo com Ney
Dantas, no livro de Siqueira (2002), o equipamento da
torre, não foi entregue na cidade de Aracaju por
motivos de difícil acesso de embarcações de maior
calado ao porto da cidade. Assim coube a cidade de
Salvador, local de sede do Arsenal da Marinha, receber
a carga e ajudar no transporte até Aracaju, o que
exigiu muito trabalho, devido ao grande peso da
estrutura e a delicadeza dos prismas de cristal da
lanterna.
No que se refere esses prismas de cristal, outro
componente do Farol de Aracaju que se destava na época, e
ainda considerado de otima qualidade é a lente tipo Fresnel
(ver figura 3, esquema 1). Sendo um dispositivo que possui
propriedades refratoras que permitem seu uso para coletar
raios paralelos de radiação (visível ou infravermelha),
concentrando-os num único ponto denominado foco.
Esse tipo de lente se sobressaia em comparação as
demais convencionais (ver figura 3, esquema 2), devido a sua
configuração de anéis circulares concêntricos sucessivos
numa sua superfície, que proporcionam um aumento na
distância da luz emitida pela lanterna, sendo também uma
lente de espessura e volume menores.
Figura 3 - Farol de Aracaju, Século XX.
Fonte:
http://modulatedlight.org/optical_c
omms/401px-Fresnel_lens.png
Figura 2 - Exemplo Lente Fresnel (1)
e Lente Convencional (2).
Com esses aspectos apresentados, podemos aferir que a instalação de uma torre de
avançada tecnologia, que é o caso da torre de Mitchell acoplada de uma lente Fresnel,
semelhante em nível de potencial tecnológico, foi de suma importância para o
desenvolvimento do comercio marítimo sergipano com o exterior, no final do século XIX.
Já na segunda metade do século XX, o farol estava interferindo de forma direta na
dinâmica do crescimento vertical da região em expansão, uma vez que foi englobado pela
malha urbana, sendo alvo de críticas da especulação imobiliária que almejava poder construir
livremente na localidade. (DANTAS, no Livro de SIQUEIRA, 2002). Na década de 1990
devido a essas pressões, transferiram o equipamento luminoso e a responsabilidade do Farol
de Aracaju para o substituto, o Rádio Farol de Sergipe, inaugurado em 12 julho de 1991,
localizado no Bairro Coroa do Meio, na época com cerca de uma década de criação (anos de
1980), após passar pelo aterro de regiões alagadas, consequências da dinâmica da foz do rio
Sergipe (CINFORME, 2014).
Segundo Andréa Filgueiras et al (2011), no ano de 1995, o monumento foi tombado
pelo patrimônio histórico e artístico de Sergipe, numa esfera estadual através do decreto
15.242 de 21 de abril. Em 1999 a antiga torre foi incendiada criminalmente e várias
manifestações foram realizadas a favor de sua revitalização.
Durante o período compreendido entre a desativação e o início da revitalização, esse
farol se encontrava totalmente deteriorado (ver figura 4), e a área onde se implantou a atual
praça Tem. Domingues Fontes (ver figura 5) era tomada por vegetações mal cuidadas,
resultando em um ambiente impróprio para circulação da população.
A obra de restauração começou a ser executada em 2008. Antes disso, em 2006 teria
recebido uma intervenção, pelo artista plástico Fábio Sampaio, a fim de estabilizar algumas
estruturas em risco de desabar. A restauração foi custeada pelo Governo do Estado, por meio
do Banese, consistindo na revitalização da armação metálica do farol. (FILGUEIRAS ET AL,
2011, p. 16). Para isso, foi contratada a empresa especializada Jedida Projetos e Manutenções
Industriais Ltda, sediada em Salvador.
O Rádio Farol de Sergipe diferente do seu antecessor, apresenta um outro modelo
arquitetônico ligado a construção de alvenaria. Onde seu formato de torre é quadrangular com
40 metros de altura, com um aparelho luminoso com alcance de 38 milhas náuticas (70,376
km). Leva um estilo arquitetônico inspirado em construções coloniais dos séculos XVII e
XVIII, e uma pintura intermitente preto e branco (ver figura 6). Sendo que a sua estetica é
fruto de um concurso de desenho que foi realzado pelo
poder publico na rede de ensino, mostrando uma integração
da sociedade na concepção desse espaço.
Mesmo sua aparência remetendo a séculos
anteriores, esse farol moderno, vai agrupar em seu
conjunto de equipamentos, a lente de modelo Fresnel do
Farol de Sergipe que fora transferido pra ele, atuais
mecanismos de geo-referenciamento do século XXI a
partir da instalação da torre de rádio junto ao farol (ver
figura 7), que contribui especificamente no envio e
recebimento de dados, entre o farol e as embarcações,
como exemplos: GPS (Sistema de Posicionamento Global
e o GMDSS (Sistema Global de socorro e segurança
Figura 6 - Rádio Farol de Sergipe
Fonte: Davisson S. Oliveira, 2013.
Figura 5 - Farol de Aracaju após revitalização de 2009. Figura 4 - Farol de Aracaju antes da revitalização.
Fonte:
http://i222.photobucket.com/albums/dd59/titogarcez/unti
tled-11.jpg
Autor: Felipe do N. Rodrigues, 2014.
maritima, tradução do Inglês), que é um sistema
internacional que utiliza tecnologia de sistemas
terrestre e de satélite, bem como os sistemas de
radiocomunicação a bordo do navio, de forma a
assegurar alerta rápido e automático nos casos de
socorro marítimo, e de melhoria nas telecomunicações
para a comunidade marítima.
Importante notar que com o advento de
equipamentos GPS e GMDSS, orientação atráves da
luz dos farois passa a ficar em segundo plano. Prova
disso é a diminuição de investimento para desenvolver
novos tipos de lentes, no caso do Rádio Farol de
Sergipe, que o levou a permanencer com a lente do
século XIX, nos dias atuais.
No caso do Farol de São Cristóvão (ver figura 8), o terceiro dos faróis de Aracaju, a
ser estudado foi construído em 1995, na foz do rio Vaza-Barris, numa região estratégica para
evitar pontos escuros na costa, entre o Rádio Farol de Aracaju e o Farol de Mangue Seco,
informação nos passada pelo Sargento Lima,
faroleiro de Aracaju, da Marinha do Brasil,
Capitania dos Portos Sergipe.
O farol possui 40 metros de altura com
alcance de 23 milhas náuticas (42,596 km), tem sua
armação montada em pré-moldado, com sua forma
quadrangular, base branca com duas listras
encarnadas. Tanto o formato quanto as cores
identificam e distinguem os faróis entre si, assim,
como o tipo de sinal luminoso emitido que no caso
do Farol de São Cristóvão são dois lampejos
simultâneos mais um intermitente. Diferentemente
dos outros faróis citados acima este encontra-se
Figura 8 - Farol de São Cristóvão
Fonte: Davisson Oliveira, 2013.
Autor: Roberta da Silva Rosa, 2013.
Figura 7 - Vista da torre de rádio -
Rádio Farol de Sergipe.
inserido em uma região isolada do meio urbano e de difícil acesso, fator que pode justificar
sua automação e quase independência da presença do faroleiro, exceto para manutenções
esporádicas. Com isso é justificada a ausência da casa do faroleiro.
Segundo Ney Dantas (2000) antes do advento
tecnológico de automação dessas estruturas no séc. XX
era necessária a presença humana de forma constante
para que seu desempenho fosse executado
assiduamente. Em relação aos representantes da cultura
material estudada na pesquisa, notamos diferenças
pontuais a serem destacadas, como por exemplo: a casa
do faroleiro no Farol de Aracaju que foi projetada na
Europa, como uma caixa metálica integrada a torre
Mitchell (ver figura 9). Todavia, devido a estrutura ser
toda composta de ferro, poderia não existir o minimo de
conforto térmico para ser habitada em clima tropical
brasileiro, visto as altas temperaturas que talvez
ocorreriam no interior da mesma.
Ao analisar fontes iconográficas do Farol de Aracaju (ver figuras 9 e 10 mais adiante)
notamos especificidades arquitetônicas, a exemplo, a tonalidade branca caracterizada na face
externa da armação, que provavelmente serviu para diminuir o impacto das altas
temperaturas, a que estava exposto o volume metálico.
Ainda se utilizando da
ilustração (figura 10), podemos
analisar uma segunda hipótese, ao
observar o ambiente de maré no entorno
do farol, atentamos que provavelmente
seria inviável a construção de outra
residência próxima que servisse de
abrigo.
Figura 9 - Farol de Aracaju
Fonte: SILVA, 1920, p. 283.
Figura 10 – Antiga paisagem do Farol de Aracaju, antes de ser
englobado pela malha urbana.
Fonte: http://antiguidadecolecoeseartes.blogspot.com.br/search?q=Farol+de+Aracaju
O que nos leva a pensar, na possibilidade da casa do faroleiro, se não no próprio corpo
do farol, ter sido mais distante numa zona onde não fosse afetada com movimento das águas
do mar.
Em relação ao Rádio
Farol de Sergipe de 1991, o
ambiente de maré não será mais
um empecilho para a construção
de residências faroleiras ou do
próprio, pois se estabelece numa
zona urbanizada, uma vez que o
bairo Coroa do Meio, onde o
farol encontra-se localizado
passou por processos de
aterramento. Assim, o parque
arquitetônico atual deste farol é
composto pela torre de
iluminação (ver figura 6), a torre de rádio (ver figura 7) e duas casas (ver figura 11), cercados
por muros que restringem o acesso de pessoas não autorizadas pela Marinha.
No que diz respeito aos entornos dessas estruturas, podemos dizer que apresentam
semelhanças e disparidades. O antigo Farol de Aracaju e o Farol de São Cristóvão estão
localizados, cada um ao seu tempo, afastados do centro urbano e em locais de díficil acesso,
às vezes hostis à habitação contínua do homem. Enquanto que o Rádio Farol de Sergipe foi
construído em plena região urbana e um dos centros turísticos importantes da cidade.
A partir do que foi visto no decorrer desse trabalho, podemos levantar alguns
questionamentos: O porque do não aproveitamento desses momumentos para fins turisticos e
culturais? Uma vez que essa pratica já é utilizada com sucesso em outros locais do mesmo
tipo, a exemplo, como é o caso do Farol do Cabo Branco, em João Pessoa, Paraíba e o Farol
da Barra em Salvador – BA. Outro fator limitador foi a falta de referencias para o
desenvolvimento de trabalhos arqueologicos com relação ao tema pesquisado, onde esse se
configura junto com o de DURAN (2008), RIBEIRO, RAMBELLI; SANTOS (2012) como
um entre os pioneiros.
Fonte: http://antiguidadecolecoeseartes.blogspot.com.br
Figura 11: Vista das casas faroleiras – Rádio Farol de Sergipe.
Relevando o espaço temporal da construção do Farol de Aracaju para a construção de um
conjunto arquitetonico residencial, que ocorreu na decada de 1940, questiona-se onde este
faroleiro teria se abrigado durante este intervalo de tempo?
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Se tratando dos nossos faróis, percebe-se ser atribuídos novos usos sociais, tanto ao
farol como ao seu entorno. Assim, nesse artigo tentamos recuperar não só a importância
destes monumentos enquanto sinalizadores marítimos mas também como delimitadores
paisagísticos, que foram e são essenciais para a orientação do comércio marítimo e dos
pescadores tradicionais, de grande importância no estado de Sergipe. Interpretamos os faróis
como elementos formadores de uma paisagem litorânea brasileira e percebemos que
tornaram-se marcos repensados pela dinâmica social.
Sendo assim, com todas as transformações nos usos sociais verificados em nossa
pesquisa, podemos afirmar que a função antiga de um deles se perdeu em meio aos avanços
dos séculos XX e XXI, o Farol de Aracaju. Pois observamos que o mesmo ganhou novos
símbolos e sentidos, dentro de um novo contexto. Mas de certa forma continua a representar a
cultura faroleira.
O descaso das autoridades responsáveis é um dos motivos pelos quais esses se tornam
“elefantes brancos” na nossa configuração social. Fato comprovado ao tentar ter acesso ao
Farol de Aracaju, tombado como patrimônio histórico e artístico de Sergipe (de
responsabilidade desconhecida, que não da Marinha do Brasil), mas sendo impossibilitado
devido à falta de informação sobre quem detém sua guarda.
A cultura faroleira de Aracaju composta por seus representantes (ver anexo), nos
mostra que a abordagem arqueologica analisando a função, o contexto e a paisagem somados
a tecnologia, vão constituir mega-artefatos pelos quais poderemos ter a interpretação e
construção discursiva das sociedades e seus costumes em torno do mesmo.
AGRADECIMENTOS
Primeiramente, gostaríamos de agradecer ao Prof. Dr. Leandro Domingues Duran, por
ter compartilhado de seus ideais de pesquisa, nos proporcionando adentrar na temática
faroleira sob o ponto de vista da arqueologia de ambientes aquáticos.
Agradecemos ao Sargento Lima e ao Cabo Sousa por ter nos assistido durante às
visitas ao farol de São Cristóvão e no Radio Farol de Sergipe. Auxiliando na chegada e no
acesso ao interior dos mesmos e por nos ter prestado informações de suas experiências como
faroleiros que contribuíram para melhor entendimento dessa temática.
Agradecemos também a Capitania dos Portos de Sergipe por ter nos autorizado
adentrar a área militar onde estão localizados os Faróis.
Ao colega Daniel Martins Gusmão por ter aberto as portas de sua casa de modo a
complementar o registro de campo das estruturas anexas aos faróis e por ter auxiliado durante
as visitas técnicas aos faróis.
E aos demais que auxiliaram nas nesta investigação, direta e indiretamente,
contribuindo para a elaboração do trabalho.
APÊNDICE
Localização dos Farois de Aracaju - SE
Coordenadas Geográficas: Farol de Aracaju (10°58'14.32"S 37° 3'19.26"O), Farol de São Cristóvão (11°
7'48.86"S 37° 8'42.18"O) e Rádio Farol de Sergipe (10°58'10.92"S 37° 2'10.45"O).
Fonte: Google Earth, 2014.
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reimpresso pelo DHN, Rio de Janeiro, 1999.
DANTAS, Ney. A História da Sinalização Náutica Brasileira e Breve Memórias. Editora:
Fundação de Estudos do Mar - FEMAR - Rio de Janeiro 2000. 838 páginas;
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