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91 o&s - v.15 - n.45 - Abril/Junho - 2008 I W DESENVOLVIMENTO E ORGANIZAÇÕES: AS UNIVERSIDADES COMO EIXO DE ARTICULAÇÃO ENTRE O LOCAL E O GLOBAL Sueli Goulart* Marcelo Milano Falcão Vieira** R ESUMO nvestigamos o papel das universidades na articulação entre o contexto local e o contexto global e os possíveis reflexos dessa articulação sobre o desenvolvimento local. O desenvolvimento foi abordado à luz da estrutura centro-periferia do sistema mundial e das peculiaridades do subdesenvolvimento, o que nos permitiu perceber que, à mobilização de forças endógenas, havia também que agregar a contextualização ao cená- rio global. A produção científica e tecnológica das universidades foi representada pela atuação de uma área específica do conhecimento – a Ciência da Computação - estruturada em programas de pós-graduação da Região Nordeste do Brasil. Mediante a análise das categorias internacionalização e inserção local, diferentes articulações foram caracteriza- das, revelando precedência da internacionalização como categoria de maior intensidade. Programas em que ambas as categorias apresentaram forte intensidade, criaram novas possibilidades de ação e interferência no desenvolvimento local. Nos Estados em que es- tão situados, o setor de tecnologia da informação tornou-se segmento produtivo importan- te, a partir de iniciativas de pesquisadores no campo de poder local ABSTRACT e have investigated the role of universities in the articulation between the local and the global context and the consequences that this articulation may cause on local development. The development was approached from the perspective of the center-periphery structure of the world economic system and from the peculiarities of underdevelopment process, which allowed us to perceive that, in addition to the mobilization of endogenous forces, the global scenario contextualization must also be considered. The scientific and technological production of the universities was represented by a specific field of knowledge – Computer Science – organized in Graduate Programs in Computer Science in the Northeast of Brazil. Through the analysis of internationalization and local insertion categories, different articulations have been found, and internationalization has pointed out as the most intense of the categories. Programs in which both categories were very intense have allowed new possibilities for action and interference in local development. In the states where they are present, the information technology sector has become an important productive segment, starting from researchers’ initiatives in the field of local power. * Profª EA/UFRGS ** Prof. EBAPE/FGV

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Desenvolvimento E Organizações as Universidades Como Eixo de Articulação Entre O Local E O Global

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    Desenvolvimento e Organizaes: as universidades como eixo de articulao entre o local e o global

    I

    W

    DESENVOLVIMENTO E ORGANIZAES: ASUNIVERSIDADES COMO EIXO DE

    ARTICULAO ENTRE O LOCAL E O GLOBALSueli Goulart*

    Marcelo Milano Falco Vieira**

    RESUMO

    nvestigamos o papel das universidades na articulao entre o contexto local e o contextoglobal e os possveis reflexos dessa articulao sobre o desenvolvimento local.O desenvolvimento foi abordado luz da estrutura centro-periferia do sistema mundiale das peculiaridades do subdesenvolvimento, o que nos permitiu perceber que,

    mobilizao de foras endgenas, havia tambm que agregar a contextualizao ao cen-rio global. A produo cientfica e tecnolgica das universidades foi representada pelaatuao de uma rea especfica do conhecimento a Cincia da Computao - estruturadaem programas de ps-graduao da Regio Nordeste do Brasil. Mediante a anlise dascategorias internacionalizao e insero local, diferentes articulaes foram caracteriza-das, revelando precedncia da internacionalizao como categoria de maior intensidade.Programas em que ambas as categorias apresentaram forte intensidade, criaram novaspossibilidades de ao e interferncia no desenvolvimento local. Nos Estados em que es-to situados, o setor de tecnologia da informao tornou-se segmento produtivo importan-te, a partir de iniciativas de pesquisadores no campo de poder local

    ABSTRACT

    e have investigated the role of universities in the articulation between the localand the global context and the consequences that this articulation may cause onlocal development. The development was approached from the perspective ofthe center-periphery structure of the world economic system and from thepeculiarities of underdevelopment process, which allowed us to perceive that, in

    addition to the mobilization of endogenous forces, the global scenario contextualizationmust also be considered. The scientific and technological production of the universities wasrepresented by a specific field of knowledge Computer Science organized in GraduatePrograms in Computer Science in the Northeast of Brazil. Through the analysis ofinternationalization and local insertion categories, different articulations have been found,and internationalization has pointed out as the most intense of the categories. Programs inwhich both categories were very intense have allowed new possibilities for action andinterference in local development. In the states where they are present, the informationtechnology sector has become an important productive segment, starting from researchersinitiatives in the field of local power.

    * Prof EA/UFRGS** Prof. EBAPE/FGV

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    Sueli Goulart & Marcelo Milano Falco Vieira

    Introduo

    interesse em estudar a questo do desenvolvimento decorre de nossasanlises anteriores sobre as relaes entre organizao e ambiente, denossa vivncia profissional e dos lugares que percorremos. Somos pesqui-sadores e professores daquilo que, contemporaneamente, se convencionou

    chamar de Estudos Organizacionais. Nesse contexto, percebemos que as anlisessobre as organizaes, apesar de importantes, em sua grande maioria, parecemter estacionado num estgio que valoriza as estruturas, funes e estratgias doponto de vista das relaes entre variveis internas e desempenho, luz dosimportantes trabalhos do Grupo de Aston, na dcada de sessenta. Nossa questocentral, ento, voltou-se para a necessidade de se investigar o quanto as organi-zaes podem contribuir para a melhoria do mundo a nossa volta, do qual soparte constituinte. Essas preocupaes iniciais rapidamente conduziram nossasconversas para uma temtica que julgamos relevante e insuficientemente explo-rada nos Estudos Organizacionais: o desenvolvimento local problematizado nocontexto da globalizao.

    certo que diversos formatos interorganizacionais vm sendo formulados,estudados e avaliados como configuraes capazes de promover o desenvolvi-mento de localidades, em diferentes escalas: comunidades, cidades, regies, es-tados, pases. Entre as razes para tal interesse esto a mudana no papel doEstado, direcionada pela ideologia neoliberal; o aumento da competitividade nomercado globalizado; a crise estrutural no mercado de trabalho; a busca de ampli-ao do espao de participao da sociedade civil, entre tantos outros.

    No obstante, consideramos que um volume significativo de trabalhos ex-ploram as formas, os arranjos, o impacto econmico de atividades especficas, osfatores de sucesso e fracasso na formatao de arranjos e redes, mas pouco sediz sobre a ocorrncia de transformaes sociais no espao territorial em que sedesenrolam tais fenmenos organizacionais. Esse silncio parece estar vincula-do concepo de desenvolvimento adotada que, em raras ocasies, explicitadaem trabalhos daquela natureza. Ou seja, o desenvolvimento parece ser resultadonatural e automtico de iniciativas articuladas ou dos novos arranjos institucionaismovidos por elas, simplesmente porque permitem uma nova dinmica econmicanum espao geograficamente delimitado. Os elementos estruturantes das organi-zaes e/ou de redes so teleologicamente analisados e avaliados, ento, porcritrios de eficincia.

    Voltamo-nos, ento, para a busca de maior entendimento acerca do construtodesenvolvimento e observamos que, aproximadamente, desde os anos 80, aosubstantivo tem sido frequentemente adicionado qualificativos como local, inte-grado, sustentvel, ou assumido o sinnimo de crescimento econmico. Com efei-to, trata-se da retomada de um tema que, durante a dcada de 70, havia submer-gido numa agenda pblica dominada por situaes crticas (SUNKEL, 2001). Reto-mada em meados da dcada de 80, a discusso assumia um outro enfoque que, adespeito da incluso de novos e abrangentes temas, se retraiu para abordagenstendencialmente micro-analticas, de orientao neoliberal.

    Para caracterizar uma nova abordagem ao desenvolvimento, Ignacy Sachs,um dos principais tericos contemporneos da sustentabilidade, assegura que ascaractersticas desse outro desenvolvimento so: a endogenia, a auto-suficin-cia, a orientao para as necessidades e no para o incentivo ao consumo, aharmonia com os recursos naturais e a implementao de mudanas institucionais(SACHS, 2000, p. 52).

    Goulart, Vieira e Carvalho (2005) lembram, entretanto, que a endogenia e aauto-suficincia no podem mascarar a natureza macro-estrutural do desenvolvi-mento, particularmente em face da permeabilidade do processo de globalizaovigente no mundo contemporneo. Na localidade, definem-se espaos de articula-o e implementao das aes voltadas para o desenvolvimento, mas os lugarestornaram-se alvo de competio e recursos disputados por agentes externos, cujo

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    poder de presso tanto maior quanto forem o domnio tecnolgico e a capacida-de de articulao poltico-econmica que detm.

    Tomemos, para uma rpida ilustrao, o Relatrio Brundtland, referncia paraa maioria dos estudos sobre desenvolvimento sustentvel e para o direcionamentode aes alternativas no contexto das polticas pblicas. Alm da nfase na pre-servao do meio-ambiente e na endogenia do processo de desenvolvimento, odocumento props diferentes papis aos pases: queles em desenvolvimentocaberia a preservao do ambiente ecolgico, deteriorado em funo de seus pro-blemas sociais e de sua incapacidade administrativa e financeira; aos desenvolvi-dos, a oferta de alternativas tecnolgicas e financeiras para viabilizar novos pa-dres de desenvolvimento (OLIVO; MISOZKY, 2003).

    , tambm, a partir da dcada de 90, que o processo de globalizao, forta-lecido pelas novas tecnologias de informao e comunicao, adquiriu carterdeterminante nas relaes entre pases, instituies, mercados e indivduos. Em-bora compreendida como um fenmeno poltico, econmico e cultural, a globalizao,impulsionada pela ideologia neoliberal, orientou a proeminncia do espao econ-mico e financeiro sobre os demais espaos - social, cultural e poltico (VIEIRA;VIEIRA, 2003).

    Assim, a noo e as estratgias de desenvolvimento se assentam em dife-rentes lgicas e interesses que propiciam uma rede de relaes determinantes naconformao dos lugares, de orientao global ou local. Santos (2002, p. 96) falaem lgicas exgena e endgena: a primeira situada no mbito dos interessescorporativos globais, transnacionais e; a ltima, no mbito da identidade, do fatoe do sentimento de pertencer quilo que nos pertence.

    Sob a primeira, definem-se estratgias funcionais ao capitalismo global (FUR-TADO, 2000a), transformando economias nacionais, especialmente a dos pasesem desenvolvimento, em provncias da economia global (IANNI, 2002), numa claraexacerbao da dimenso econmica e instrumental da noo de desenvolvimen-to. Sob a ltima, constroem-se polticas que resgatam especificidades e expan-dem a noo de desenvolvimento para a dimenso cultural, isto , para os valo-res das coletividades, os sistemas simblicos que constituem a cultura (FURTADO,2000a, p. 70).

    A categorizao dos lugares em lugares-locais e lugares-globais1, no poracaso, corresponde estrutura centro-periferia, j discutida desde os anos 60.Consideramos, ento, a necessidade de recuperar as categorias centrais do pen-samento dos intelectuais da CEPAL e, particularmente, de Celso Furtado. Issoporque, apesar de todo o discurso favorvel ou contrrio ao processo deglobalizao, subsiste a estrutura centro-periferia do sistema mundial e a condi-o de subdesenvolvimento de vastas partes do mundo.

    Relacionado estrutura centro-periferia apresentada por Ral Prebisch, nofinal da dcada de 40, e teoria da dependncia elaborada por Fernando HenriqueCardoso e Enzo Falleto, o processo desenvolvimento-subdesenvolvimento pdeser caracterizado como expresses de estruturas sociais. Ao desenvolvimentocorresponde uma efetiva transformao das estruturas sociais; o subdesenvolvi-mento se restringe modernizao do estilo de vida. A modernizao contempla oconsumo, no a necessidade; o efmero, no o duradouro; a adaptao e no atransformao. Dessa forma, no quadro de subdesenvolvimento pode haver, efrequentemente h, dinmica econmica; mas uma dinmica econmica singular,que contraria at os princpios mais elementares do capitalismo. A forma de pro-pagao da riqueza, nesse quadro, no contempla a liberdade e a igualdade en-tre os indivduos, fundamento do liberalismo democrtico sobre o qual se assen-

    1 Os lugares-locais delimitam o espao da herana histrica que, mesmo reestruturado em funo deestratgias globais, mantm uma identidade. So, ainda, a base da organizao territorial. Oslugares-globais so espaos definidos por conseqncia da globalizao, fundamentalmente sepa-rando o centro da ao da sede da ao. So o espao para as estratgias mundiais das grandescorporaes multinacionais, estabelecendo redefinies territoriais e mudanas nos procedimentosde gesto (VIEIRA; VIEIRA, 2003, p. 20).

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    Sueli Goulart & Marcelo Milano Falco Vieira

    tou o desenvolvimento do sistema capitalista. Ao contrrio, induz concentraode um volume significativo da riqueza e conformam sociedades em que relaesexternas assimtricas, que geram dependncia, articulam-se internamente com osistema de dominao social (FURTADO, 2000a, p. 39).

    Ao recuperar essas categorias, vimos que mobilizao de foras endgenashavia, tambm, que agregar a contextualizao ao cenrio global, pois o parmetrosob o qual se orienta o sistema mundial a globalizao, do qual parece no maishaver afastamento possvel. Essa impossibilidade decorre do fato dapenetrabilidade do processo de globalizao invadir dimenses territoriais deestruturas scio-econmicas, culturais e polticas dspares. Assim, a articulaoentre localismo e cosmopolitismo, preocupao tambm j presente nos estudosde Celso Furtado desde a dcada de 50, indicava ser segmento importante parainvestigao.

    Para empreend-la, no campo dos estudos organizacionais, problematizamoso papel das organizaes na articulao entre o contexto local e o contexto globale os possveis reflexos dessa articulao sobre o desenvolvimento local. Acompletude do construto desenvolvimento, que compreende dimenses econmi-cas, sociais, polticas, culturais e ambientais, e a complexidade de seu processo,particularmente visto sob o ngulo da estrutura centro-periferia, fizeram com quebuscssemos, no plano emprico, um objeto organizacional que agregasse, porsuas caractersticas intrnsecas, transversalidade dimensional e localizaoterritorial.

    Assim, o objeto emprico foi a Universidade, cujo carter institucional sugerecapacidade de acesso e ao em todos os nveis contextuais, e qual sempre foiatribudo papel central no desenvolvimento dos pases por sua capacidade de pro-duo e transmisso de conhecimentos e de formao e qualificao da fora detrabalho. A generalizao desse discurso tem suporte na carga simblica dessaorganizao, sugerindo que a legitimidade de seus objetivos formais o ensino, apesquisa e extenso confiram-lhes, automaticamente, capacidade de intervenosobre o processo de desenvolvimento. Ao mesmo tempo, uma instituio,freqentemente, referida como torre de marfim pela percepo generalizada deseu afastamento das demandas da sociedade em que se encontra inserida.

    Porque acreditamos que as universidades tm enorme potencial de contri-buir para a realizao de transformaes sociais e que havia lacunas a colmatarno plano terico-emprico, decidimos por investigar o modo pelo qual a articulaoentre o contexto institucional da produo cientfica e tecnolgica e as formas deinsero das universidades na localidade interfere no desenvolvimento local.

    Nesse objetivo est implcito o questionamento generalizao de discur-sos e percepes que ora estabelecem uma relao direta e inevitvel entre aproduo cientfica e tecnolgica das universidades e o desenvolvimento local, orasugerem uma realidade totalmente contrria. Tendo-se em conta que as organi-zaes, ainda que pertencentes a um mesmo campo, podem referenciar-se a dife-rentes nveis do contexto institucional2 e definir diferentes formas de insero nalocalidade, a investigao contribuiria para compreender as circunstncias queorientam discursos e percepes to paradoxais.

    Para fins de operacionalizao da pesquisa, a produo cientfica e tecnolgicadas universidades foi representada pela atuao de uma rea especfica do co-nhecimento a Cincia da Computao - estruturada em programas de ps-gra-duao, reconhecidos pela Coordenao de Aperfeioamento de Pessoal de NvelSuperior (CAPES), situados na regio Nordeste do Brasil.

    Os dados que apresentamos foram obtidos em trabalho investigativo queincluiu cinco estados da Regio Nordeste do Brasil, onde esto localizados seisprogramas de ps-graduao em Cincia da Computao, recomendados pelaCoordenao de Aperfeioamento de Pessoal de Nvel Superior (CAPES).

    2 Sobre os nveis do contexto de referncia, ver Richard Scott Institutions and Organizations,Londres: Sage, 1995.

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    Desenvolvimento e Organizaes: as universidades como eixo de articulao entre o local e o global

    Universidade, Conhecimento Cientficoe Tecnolgico e Desenvolvimento Scio-Territorial

    O conhecimento - objeto e produto da Universidade - tem, como uma desuas caractersticas bsicas, a pretenso de universalidade. As organizaes egrupos que o produzem compartilham valores prprios a suas respectivas reas ese legitimam mediante a conformao aos padres de excelncia vigentes no cam-po. Portanto, em tese, referenciam-se a um contexto internacional, uma vez que ocampo cientfico e tecnolgico constitudo por atores sociais e elementos simb-licos que transcendem limites espaciais ou organizacionais.

    Entretanto, essa referncia macro-contextual no isenta as universidadesde seu papel social mais estrito, qual seja, o de responder e refletir as demandasde indivduos, grupos e organizaes de seu entorno imediato, em funo de seucarter scio-institucional. Num sentido antittico, suas referncias so locais eelas esto impregnadas das condies social, poltica, econmica e cultural dolugar. E esse o espao possvel de ao transformadora.

    Ilha de excelncia o designativo mais comum para as instituies que tran-sitam no circuito internacional da produo do conhecimento. O isolamento simbo-lizado na expresso no apenas refora a percepo de afastamento das deman-das da sociedade, como atribui distino entre organizaes pertencentes a ummesmo campo, indicando que diferentes universidades e, mesmo dentro delas,diferentes reas ou grupos podem estar diferentemente contextualizadas e/ou,diferentemente posicionadas.

    Uma concisa reviso histrica, acrescida de dados indicativos, permitiu situ-ar a institucionalizao da Universidade como lcus da produo do conhecimentocientfico e tecnolgico, particularmente no Brasil, onde cerca de 90% das pesqui-sas cientficas e tecnolgicas so realizadas nas universidades pblicas. Tal situa-o se estabeleceu somente na segunda metade da dcada de 60, quando sedefine com maior nitidez a identidade formal da universidade brasileira, primeira-mente nas universidades federais e nas estaduais paulistas, estendendo-se, porfora de lei, s demais instituies independentemente de sua natureza jurdicaou dependncia administrativa. O conjunto de leis que compuseram a ReformaUniversitria de 1968 definiu os princpios bsicos sob os quais deveriam funcio-nar as instituies universitrias. Entre eles, o estabelecimento do regime de tem-po integral e dedicao exclusiva, a progresso na carreira vinculada titulao ea exigncia da atividade de pesquisa, no associada ao ensino (CUNHA, 2001). Aestrutura departamental , tambm, dessa poca.

    A partir da dcada de 60, h grande expanso do ensino superior, sob influ-ncia da teoria do capital humano, segundo a qual a educao representa uminvestimento racional e produtivo no apenas para o indivduo, mas para toda asociedade. Justificavam-se, assim, as polticas governamentais para o setor, tantono que se referia aos investimentos na expanso do ensino pblico, como naliberalizao para criao de cursos superiores em instituies privadas.

    A grande maioria das universidades criadas desde ento resultou da junode diversos cursos que funcionavam autonomamente e que, assim, tentaram semanter, criando um sistema de estruturas autnomas, isoladas uma das outras,comunicando-se apenas atravs de um nico rgo superior, o Conselho Universi-trio, dentro do qual cada um procura defender sua autonomia e seus interessesparticulares [...] (ALENCAR, 1969, p. 214).

    Mesmo naquelas onde se procurou manter uma integrao a partir das Fa-culdades de Cincias e Letras, verificou-se fragmentao, resultado do crescimen-to, diferenciao e autonomizao de suas diferentes sees, diferentes lgicase, tambm, por razes propriamente cientficas de cada uma delas. Assim, cadarea buscou ter sua prpria representao no Conselho Universitrio correspon-dente ao destaque que obtinham no cenrio cientfico e acadmico (CUNHA, 2001).

    Se, de um lado, esse quadro favoreceu a expanso do nmero de vagasnos cursos de graduao, de outro, criou condies de diversidade entre as insti-

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    Sueli Goulart & Marcelo Milano Falco Vieira

    tuies, especialmente no tocante concentrao da pesquisa nas universidadespblicas e mesmo entre estas.

    De todo modo, estavam formalizadas as condies institucionais para con-solidao das universidades como espao privilegiado da produo cientfica etecnolgica brasileira, ainda que cercadas de todas as restries econmicas epolticas da poca. As universidades tornaram-se, ento, alvos diretos de polticasgovernamentais explicitamente voltadas para o desenvolvimento cientfico etecnolgico e ncleo de sustentao desse sistema.

    Outras agncias ou programas criados entre as dcadas de 60 e 70, como aFINEP e o Fundo Nacional de Desenvolvimento Cientfico e Tecnolgico (FNDCT),atuaram no fortalecimento da ps-graduao como estratgia de consolidao dosistema cientfico e tecnolgico brasileiro. Somadas ao CNPq, estas agncias soatualmente vinculadas ao Ministrio de Cincia e Tecnologia (MCT), criado em 1985.

    O capitulo IV da Constituio brasileira de 1988 definiu o marco legal dasfunes do Estado relativas produo cientfica e tecnolgica estabelecendo-ocomo promotor e incentivador do desenvolvimento cientfico, da pesquisa e dacapacitao tecnolgica, garantindo tratamento prioritrio pesquisa bsica; vin-culando a pesquisa tecnolgica, preponderantemente, soluo de problemasbrasileiros e ao desenvolvimento do sistema produtivo nacional e regional; almde outras diretrizes que enunciam a integrao das empresas e das demais uni-dades da Federao ao sistema cientfico e tecnolgico do Pas (BRASIL, 1994).

    A atuao conjunta das diversas agncias vinculadas ao Ministrio da Educa-o (MEC), como a CAPES, e ao MCT, como o CNPq, demonstram a estreita cone-xo entre cincia, tecnologia e universidades, no apenas no plano formal, mastambm no plano prtico. Informaes recolhidas por Carneiro Jr. e Loureno (2003)mostram a evoluo na concesso de bolsas de estudo no Pas e no exterior, porambas as agncias, no perodo de 1991 a 2001.

    Na CAPES, a concesso de bolsas para mestrado e doutorado no Pas pas-sou de 13.791 em 1991 para 20.915. No exterior, o nmero de bolsas concedidassofreu decrscimo, passando de 380, em 1991, para 221, em 2001. Por outrolado, o nmero de bolsas concedidas para doutorado-sanduche e ps-doutoradopassou de 28 e 41, em 1991, para 427 e 277, em 2001, respectivamente.

    No CNPq, as bolsas no Pas passaram de 11.271, em 1991, para 11.640, em2001. Nessa baixa variao, est embutida a queda significativa nas bolsas demestrado que, em 1995, atingiram a quantia de 10.960 e, em 2001, foram reduzi-das a 5.798. No mesmo perodo, houve crescimento no nmero de bolsas paradoutorado que, em 1991, era de 2.674 e, em 2001, chegou a 5.842. J a conces-so de bolsas no exterior sofreu queda em todas as modalidades, passando de2.013 para mestrado e doutorado, em 1991, para 439, em 2001, no tendo sidoconcedida nenhuma bolsa para mestrado no exterior desde 1999.

    A constituio da base institucional de suporte produo cientfica etecnolgica brasileiras pode ser vista no processo de consolidao da ps-gradu-ao brasileira e no reconhecimento do papel estratgico que o sistema nacionalde cincia e tecnologia passou a ter, desde os Planos Nacionais de Desenvolvi-mento dos governos militares at as proposies do Governo Lula, como o Progra-ma de Cincia e Tecnologia para o Desenvolvimento Social e a ampliao dosFundos Setoriais.

    Para operar esses e os demais programas e projetos, o Brasil conta com umquadro ainda reduzido de pesquisadores, em que pese o crescimento observado.Carneiro Jr. e Loureno (2003) mostram que, no perodo de 1990 a 2001, o nme-ro de doutores titulados anualmente no Brasil cresceu a uma taxa anual de 16,1%e que, em nmeros absolutos, houve um crescimento de 212% de alunos emdoutoramento, entre 1991 e 2001. Embora significativos frente ao tempo de ins-talao da ps-graduao no Brasil, verifica-se que a relao doutores titulados/habitantes est muito distante de pases como a Alemanha ou a Coria do Sul. Em2001, o Brasil atingiu a taxa de 3,5 doutores titulados por 100 mil habitantes, 10%

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    da taxa atingida pela Alemanha e quatro vezes menos a taxa da Coria do Sul.H, portanto, um longo caminho a percorrer no sentido da insero real do

    Pas no mundo globalizado. A referncia ao contexto internacional no se justificapor mecanismos de submisso a padres estabelecidos, mas por constituir o cam-po no qual tais padres so construdos, como agentes num jogo que define inclu-sive o qu est em jogo. A contextualizao submissa da academia resultaria noque Darcy Ribeiro chamou de modernizao reflexa, caracterizada pela suposi-o de que, acrescentando certos aperfeioamentos ou inovaes a nossas uni-versidades, v-las-emos aproximar-se cada vez mais de suas congneres maisadiantadas at se tornarem to eficazes quanto aquelas. A contextualizao ati-va, constituinte, corresponderia ao crescimento autnomo, supondo que

    a universidade, como uma subestrutura inserida numa estrutura social global,tende a operar como rgo de perpetuao das instituies sociais, enquantoatua espontaneamente; e que s pode representar um papel ativo no esforo desuperao do atraso nacional, se intencionaliza suas formas de existncia e deao com este objetivo (RIBEIRO, 1969, p.9).

    primeira forma corresponderia uma atualizao histrica [...] condio dereas de explorao neocolonial [...]. segunda, uma acelerao evolutiva [...]pela integrao na civilizao industrial [informacional] como economias indepen-dentes e como culturas autnticas (ibid, p. 10-11); no por acaso, anlogas aoantagonismo entre modernizaes de estilos de vida e transformaes sociais,revelados na teoria do subdesenvolvimento formulada por Furtado (2000b).

    A possibilidade de conexo entre contexto institucional e insero local podeser observada colocando-se a produo cientfica e tecnolgica das universidadescomo foco de anlise, pois esta potencialmente articuladora dessas categorias.Porque gera conhecimento, em tese, contextualiza-se ao campo acadmico cient-fico. Porque se situa num espao territorial que lhe atribui identidade, contextualiza-se localmente, pois no territrio que realiza a pertinncia scio-cultural de suaao. Esses elementos de contextualizao so imperativos para a legitimao deinstituies sociais, como as universidades.

    As Revelaes dos Dados Empricos

    Sob abordagem qualitativa, escolhemos, intencionalmente, estudar o cam-po da Cincia da Computao. Primeiramente, porque as pesquisas realizadasnessa rea caracterizam-se por forte contedo cientfico e tecnolgico, sendo quaseimpossvel delimitar onde termina a preocupao em fazer cincia, no sentido depesquisa de natureza terica, que busca as explicaes mais gerais dos fenme-nos; ou bsica, que estuda as caractersticas, componentes ou distribuio dedeterminados fenmenos; ou ainda aplicada, voltada para solues de proble-mas, gerao de inovaes, processos e produtos.

    Evidentemente, a Cincia da Computao no a nica rea assim caracte-rizada. Em tese, diversas outras reas poderiam constituir o caso. Mas, houveoutro determinante nessa escolha, qual seja, a centralidade da tecnologia da in-formao como motor da dinmica scio-econmica no contexto da globalizao esua transversalidade, devido ao encadeamento de seus efeitos para todos ossetores do universo social. Nesse sentido, a rea potencialmente fomentadorado que Hirschman (1977 apud EVANS, 2004, p. 32) chamou de conspiraomultidimensional a favor do desenvolvimento.

    Peter Evans, um dos grandes estudiosos do setor de tecnologia da informa-o, inclusive da indstria de computadores no Brasil, afirma que esse o setorcom mais probabilidade de catalisar uma conspirao a favor do desenvolvimentono sculo XXI (EVANS, 2004, p. 36).

    A Cincia da Computao um dos eixos centrais desse setor que , a cadadia mais, encarado como uma janela de oportunidade para uma grande variedadede agentes, desmistificando o imperativo estrutural da diviso internacional do

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    Sueli Goulart & Marcelo Milano Falco Vieira

    trabalho e sua teoria de vantagens comparativas. Furtado (1978, p.103) j adian-tava: a luta contra a dependncia passa [...] por um esforo para modificar aconformao global do sistema.

    Porque intensivamente baseado em conhecimento e criatividade pode pro-porcionar, aos pases perifricos, a insero em setores mais dinmicos do comr-cio internacional, alm de transformaes significativas em seu entorno. Para isso,requer uma base consistente de produo cientfica e tecnolgica, com vistas aalcanar autonomia e competitividade.

    Entre os pases em desenvolvimento, a ndia e a China vm ocupando espa-o na produo cientfica em Cincia da Computao, conforme indica o estudo deGuan e Ma (2004). Para eles, os pases em desenvolvimento podem ganhar van-tagens competitivas em alguns novos campos emergentes ou novas disciplinascomo a Cincia da Computao ao adotarem estratgias adequadas que lhespossibilitem acompanhamento e atualizao na produo de conhecimentos.

    O sucesso da indstria de software da ndia sobejamente reconhecido. Empalestra proferida em um evento cientfico, o professor N. S. Siddahartan apresen-tou dados, mostrando que essa indstria vem crescendo a uma mdia de 40% aoano desde a dcada de 90; que 90% da produo exportada e; que, das 20maiores empresas, apenas uma multinacional (SIDDHARTAN, 2005).

    No Brasil e, particularmente na regio Nordeste, tanto os trabalhos do Gru-po de Trabalho Interministerial para a Recriao da SUDENE, como outros impor-tantes documentos acerca da questo regional tm colocado a criao e/ou forta-lecimento de sistemas locais de inovao ou ambientes de inovao como propul-sores de transformaes sociais. Referidos articulao de agentes e instituiescapazes de mobilizar projetos coletivos de incluso social, cultural, poltica e eco-nmica da populao, tais documentos, invariavelmente, incluem a incorporaodo conhecimento cientfico e tecnolgico ao processo produtivo, como se pode verem Coutinho (2004), Marinho (2000) e Melo (2003), por exemplo.

    Nos trabalhos de Coutinho (2004) e Melo (2003) o setor de tecnologia dainformao foi elencado entre as alternativas mais promissoras da Regio Nordes-te, tendo em vista a existncia de recursos humanos qualificados e unidades depesquisas nas Universidades. J Marinho (2000) explorou, particularmente, o se-tor de software, concentrando-se na caracterizao das empresas nordestinas darea, em sua articulao com os sistemas locais de inovao e na proposio depolticas para a formao de redes de empresas.

    De fato, o setor de software desempenha papel central no novo paradigmatecno-econmico, dotado de forte potencial inovador, particularmente no cenrio deconvergncia das tecnologias de informao (BRASIL, 2005, 2005a; VASCONCELOS,2005). Indo mais alm, Arajo e Meira (2005, p. 1) consideram que a indstria desoftware protagonista de um conjunto de mudanas tecnolgicas [...] e impor-tante elemento propulsor de desenvolvimento econmico e social. Em geral, essaindstria se caracteriza pela predominncia de pequenas empresas e pode ser de-senvolvida em qualquer regio que possua os pr-requisitos bsicos de um siste-ma de inovao e uma grande geradora de empregos qualificados.

    Com dados coletados em fontes primrias e secundrias, a anlise histri-co-interpretativa deste estudo teve incio com a caracterizao do campo da Cin-cia da Computao como rea especfica de conhecimento, seguida da situaobrasileira, em suas origens. Seguiu com uma discusso sobre as referncias aca-dmico-cientficas no campo e os indicadores da ps-graduao no Brasil. Cadaum dos Programas foi descrito individualmente, para subsidiar o estudo compara-tivo realizado, o que permitiu discutir os elementos identificados no que diz res-peito possvel interferncia da produo cientfica e tecnolgica em Cincia daComputao, e de seus agentes, no desenvolvimento das localidades onde sesituam as unidades de estudo.

    O contexto institucional que constitui a referncia da Cincia da Computa-o foi identificado mediante uma anlise histrico-interpretativa da origem e dascaractersticas desse campo de conhecimento, particularizando a situao no Bra-

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    sil, e da identificao dos requisitos acadmico-cientficos considerados nos pro-cessos de avaliao dos Programas de Ps-Graduao brasileiros.

    Razes militares e econmicas estiveram na base de emergncia do campo,inclusive no Brasil. Pde-se perceber a heteronomia do campo nascente, haja vis-ta a relao de dependncia com outros campos de conhecimento, nomeadamen-te a Engenharia e a Matemtica, e do Estado, particularmente no caso brasileiro,na formulao e implementao de polticas, poca, voltadas para a industriali-zao do computador.

    A afirmao da Cincia da Computao como campo especfico de conheci-mento sobreveio com a crescente evoluo da indstria microeletrnica e de teleco-municaes, ampliando os limites de aplicao da computao e, ao mesmo tempo,abrindo espao para a especializao do conhecimento e do aprofundamento daspesquisas na manipulao de smbolos e abstraes, algoritmos, na potencialidadeda computao, nas simulaes da inteligncia humana, entre outros.

    No Brasil, a contextualizao internacional decorria do destino dos pesqui-sadores brasileiros para qualificao no exterior e da implantao de Programasde Ps-Graduao com reas de concentrao e linhas de pesquisas compatveiscom o que se produzia no campo. No foi possvel identificar posicionamento nocampo cientfico quela altura, mas, tendo analisado a implementao da primeiraPoltica Nacional de Informtica (PNI), pudemos observar o crescente afastamentoentre a comunidade cientfica da Cincia da Computao e os formuladores dapoltica industrial e mesmo de cincia e tecnologia, que privilegiaram, at a exausto,a fabricao de equipamentos.

    Inspirado no modelo de substituio de importaes, os tcnicos e os buro-cratas do Estado, aliados comunidade cientfica nascente, num primeiro momen-to, forjaram um modelo de reserva de mercado para equipamentos, e uma tenta-tiva frustrada no setor de software. A indstria, principalmente amparada pelacrescente disseminao do uso do computador na esfera pblica e no setor ban-crio, atingiu ndices significativos de crescimento. Protegida da concorrncia ex-terna, conseguiu atrair grandes grupos econmicos nacionais, mas no sobrevi-veu aos avanos tecnolgicos dos anos 90. As disputas e os embates travados nocampo da diplomacia e do comrcio internacional foram altamente ilustrativos dosinteresses que permeiam a busca de domnio cientfico e tecnolgico em rea toestratgica.

    Os pesquisadores locais, contextualizados internacionalmente, no logra-ram interferir na implementao da PNI que, pelo decurso de tempo entre a formu-lao e a implementao, j se encontrava defasada frente aos avanos do cam-po, particularmente na rea de software. Pode-se inferir que, nos anos iniciais, acontextualizao internacional no campo cientfico no se articulava com uma in-sero local no campo da formulao de polticas pblicas. Mas, esse afastamentopode ter contribudo para alcanar uma relativa autonomia do campo cientfico,exatamente por no ter se enredado nas disputas polticas e nos interesses co-merciais que dominaram no perodo.

    No decorrer da anlise de dados, ficou claro que o contexto de referncia darea em estudo internacional, por princpio, e que, portanto, seria redundanteanalis-lo em Programas recomendados pela CAPES, cuja avaliao j demarcaparmetros mnimos a atingir. Amparados no referencial terico que antecipava anecessidade de uma ao objetiva e nos dados que confirmaram o padro inter-nacional como referncia principal, introduzimos a internacionalizao como cate-goria de anlise a ser articulada insero local. A diferenciao entre os modosde articulao passou a ser, ento, a intensidade de ambas no campo cientfico eno espao local de insero. Assim, as articulaes de forte intensidade em ambasas categorias aumentariam a possibilidade de interferncia no desenvolvimento;articulaes que apresentassem fragilidade em uma das categorias teriam menorcapacidade de interferncia no desenvolvimento local.

    Se para construir indicadores para a categoria internacionalizao, os crit-rios de avaliao da CAPES ofereceram subsdios importantes, o mesmo no ocor-

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    reu com a categoria insero local. Esse fato indica a prevalncia da contextualizaointernacional, o que por si s, no problemtica. A questo a subvalorizaodas aes de interao com a sociedade, que somente aparecem compondo 20%do peso do quesito Atividades de Pesquisa, que responde por 10 pontos, na ava-liao dos Programas. J a Produo Intelectual tem peso 30 e, dentro desta, oitem Qualidade dos Veculos ou meios de divulgao corresponde por 35% dototal. Alm disso, h grande precedncia de veculos j consolidados e monitoradospor servios de indexao, em sua totalidade estrangeiros.

    Por outro lado, as demais agncias que compem o campo, como o CNPq ea FINEP, estimulam a realizao de convnios, consrcios e parcerias com agentesdo setor produtivo e da sociedade civil, mediante programas especficos, forte-mente amparados em recursos pblicos, como a Lei de Informtica ou os FundosSetoriais.

    Essas disjunes, alm de revelarem incoerncia na orientao da polticacientfica e tecnolgica, prejudicam o planejamento e a gesto dos Programas e,dado o poder de presso da CAPES, terminam desestimulando iniciativas de inser-o local. Na explicitao do quesito Pesquisa, o Comit anunciava que relatriosfuturos devero ressaltar as iniciativas bem sucedidas de transferncia de conhe-cimento gerado nos Programas para a sociedade, o que indica a possibilidade demaior considerao insero local (COORDENAO..., 2004). Esse anncio suge-re que a ao dos pesquisadores e de sua articulao com agentes do poder local,bem como os resultados que vm obtendo podem modificar, em alguma medida, opadro de legitimidade.

    A existncia de espaos/estruturas organizacionais para articulao com asociedade fez diferena naqueles Programas cuja articulao das categorias foicaracterizada como de forte intensidade, como no da Universidade Federal deCampina Grande (UFCG) e no da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE).Naqueles outros em que a articulao foi marcada pela fragilidade, esse elementono surtiu efeito, quando da anlise da interferncia no desenvolvimento local,como nos casos do Programa da Universidade de Fortaleza (UNIFOR) e no daUniversidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN).

    Uma vez que a categoria internacionalizao foi eleita para indicar movimentoem direo ao e trnsito no campo, observou-se que o Programa da UFPE e o daUniversidade Federal do Cear (UFC) esto melhor posicionados que todos os de-mais. A UFCG apresenta internacionalizao razoavelmente forte. Todavia, diferente-mente do Programa da UFC, o programa da UFCG apresentou maior posicionamentono local. Os demais apresentaram fragilidade em ambas as categorias.

    A caracterizao das articulaes revelou precedncia da internacionalizaocomo categoria de maior intensidade. Nenhum dos casos se caracterizou pelaarticulao inversa, isto , frgil internacionalizao e forte insero local, reafir-mando a preponderncia do ambiente internacional sobre o local. Quatro, dosseis Programas analisados, apresentaram fragilidade na insero local, incluindoo da UFC, que apresentou forte internacionalizao. Em apenas dois Programas ainternacionalizao esteve em patamar inferior ao de insero local: no Programada UFCG e no da Universidade Salvador (UNIFACS). Ainda assim, no primeiro, ainternacionalizao apresentou-se tendencialmente forte.

    Os Programas de mais forte internacionalizao, tambm, se mostraram maisfortes em aes de insero local, destacando-se os Programas mais antigos,quais sejam o da UFCG e o da UFPE. Sob esse aspecto, o tempo e a histria semostraram fatores significativos e foras importantes para a consolidaoinstitucional. Reforando a idia do enraizamento social das instituies, essasvariveis tempo e histria sinalizam maior fora sobre a insero local dosProgramas, haja vista que o Programa da UFC, criado h cerca de 10 anos, jalcana internacionalizao semelhante aos dois citados anteriormente, mas noapresenta evidncias de forte insero local.

    verdade, tambm, que as condies do local, produtiva, poltica ou infra-

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    estrutural, podem fazer diferena na interao entre a academia e a localidade.Contudo, o que se pde observar que, nos Programas de forte articulao UFCG e UFPE -, houve, antes de atendimento demanda local, a criao de novasdemandas sobre a base produtiva, poltica e infra-estrutural existentes. Nos res-pectivos Estados, o setor de tecnologia da informao ganhou ares de vocaolocal, mas, diferentemente do setor de turismo, por exemplo, que se assenta naexplorao de recursos pr-existentes, esta foi deliberadamente construda a partirda liderana dos pesquisadores em aes de interveno no campo de poderlocal.

    O que se depreende da que a autoridade cientfica, resultante da acumu-lao de capital puro e capital temporal ou institucional (BOURDIEU, 2004, p.36), motor de transformao dos espaos sociais. nesse sentido que se podeentender a internacionalizao no campo da Cincia da Computao como movi-mento dialeticamente propulsor de insero na localidade; e a sntese ou a articu-lao das categorias analisadas como elemento decisivo de interferncia no de-senvolvimento local.

    na capacidade de criao de novas demandas que se revela a razo daimportncia da internacionalizao forte, articulada insero local tambm forte,para produzir interferncia no desenvolvimento da localidade, pois ainternacionalizao no campo de conhecimento favorece uma viso cosmopolita dosproblemas e das possibilidades da rea; porque, ainda, a insero local extrapolaos muros da Universidade e do campo cientfico. Assim, no necessariamente emfuno de uma demanda existente no local, mas, sim, de uma nova possibilidadepara o local, percebida a partir de uma concepo global da produo e da aplicaodo conhecimento e de suas implicaes na transformao social.

    Na UFCG e, mais intensamente, na UFPE, foi a liderana na mobilizao deaes interorganizacionais que deu partida construo de uma nova possibilida-de para as respectivas localidades. J se observa, por exemplo, que o modelo dearticulao existente em Pernambuco vem se constituindo em referncia para ou-tros Estados brasileiros, como demonstra reportagem publicada no jornal O Esta-do de So Paulo (LACERDA, 2005). Estados, como Bahia, Cear e Paran, tminvestido na criao de espaos organizacionais inspirados no Porto Digital ou noCentro de Estudos e Sistemas Avanados do Recife (C.E.S.A.R), duas organiza-es centrais no plo de tecnologia de informao do Estado.

    certo, tambm, que a maioria das aes empreendidas tem despertadointeresses econmicos significativos, incluindo corporaes transnacionais, o quepode oferecer riscos autonomia do campo cientfico, instrumentalizando a orien-tao das pesquisas e dos projetos a serem desenvolvidos. Mas, em pases comoo Brasil, em que o Estado o principal agente financiador, esse um risco passvelde controle.

    Bourdieu (2004, p. 55) fala do paradoxo dos campos cientficos que, em gran-de parte, devem sua autonomia ao fato de serem financiados pelo Estado, deno-tando um tipo particular de dependncia, pois o Estado uma instncia capaz desustentar e de tornar possvel uma produo que no est submetida sanoimediata do mercado [...]. Essa relao constitui o que o autor chama de depen-dncia na independncia, ou vice-versa, que contm ambigidades, uma vez que oEstado que assegura condies de autonomia pode tambm ser transmissor depresses de foras econmicas [...] das quais supostamente ele libera. Mas, con-tinua o autor, essa uma falsa antinomia, pois pode-se tirar partido das garanti-as de autonomia que o Estado d [...] para afirmar sua independncia com relaoao Estado (BOURDIEU, 2004, p. 55, grifos do autor). Em tese, os Comits ou Co-misses de rea tm essa prerrogativa; e se so compostos por representantesescolhidos por pares, a prerrogativa , em ltima anlise, de quem os escolhe.

    Paradoxo semelhante ocorre em relao instituio universitria, especi-almente as pblicas, reconhecidamente dominadas por um aparato burocrticoparalisante e organizada segundo um modelo estranho [...] realidade regional

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    ou s suas dimenses [...], tendo como conseqncia a inibio do desenvolvi-mento institucional (MATTOS, 1980, p. 55 e 71). No sentido que Selznick (1972)atribui a esse processo, implica em dizer inibio do imbricamento no ambientelocal. Por isso, esse modelo estrutural engendrou um ethos universitriodescontextualizado da localidade.

    Ao mesmo tempo, por terem se constitudo no loci privilegiado da atividadede pesquisa, sustentada pelo Estado, as universidades tm, dentro de si, o ger-me da mudana, da dinmica, do risco inerente atividade cientfica. Esse conflitopermanente, no seio de uma instituio to perene, indica mais uma de suas sin-gularidades, qual seja, a de se constituir como o espao dialtico da estabilidadee da mudana, da reproduo e da transformao. Em analogia ao paradoxo pos-to por Bourdieu (2004), pode-se, tambm, tirar partido da estabilidade e do car-ter reprodutivo da universidade para produzir mudana e transformao, inclusivedela prpria. Mais uma vez, os pesquisadores tm essa prerrogativa.

    Concluso

    A complexidade do universo social moldada pelo imbricamento de variveisdiversas no permite tratar temas cruciais, como desenvolvimento, buscando oisolamento de categorias, a fixao de fatores causais ou processos evolutivoslineares.

    Assim, o discurso contemporneo sobre desenvolvimento tem, como ele-mento central, a articulao. Entende-se, aqui, o discurso como uma srie deenunciados significativos que expressam formalmente a maneira de pensar e deagir e/ou as circunstncias identificadas com um certo assunto [...] (HOUAISS;VILLAR; FRANCO, 2001, p. 1054, grifo nosso).

    No Brasil, os enunciados que marcaram a retomada do tema tiveram forteassento nas questes ambientais s quais se agregaram dimenses sociais eculturais. O aspecto econmico assumiu o carter neoliberal, retirando o Estadocomo motor central do desenvolvimento dos pases. A poltica, tambm de orienta-o neoliberal, voltou-se especialmente para as relaes internacionais, particu-larmente para a abertura de mercado, como estratgia para insero do Pas nomundo globalizado.

    A localidade passou a constar da agenda de pesquisadores, de formuladoresde polticas e dos governantes brasileiros, tambm, a partir do incio dos anos 90,em decorrncia do novo desenho institucional proposto pela Constituio brasilei-ra de 1988 e do processo de descentralizao das polticas pblicas. Nesse cen-rio, o discurso do desenvolvimento, como processo de transformao social, assu-miu carter marginal, pontuado pela busca de solues endgenas, no sentidomais restrito do termo, gerando ora a guerra fiscal entre estados e municpios, oraaes voluntaristas de carter quase messinico.

    As circunstncias que cercam o tema so marcadas, de um lado, pelaheterogeneidade social no mbito de espaos geogrficos especficos, com oaprofundamento dos nveis de concentrao de renda e, conseqentemente, au-mento da excluso social. Por outro, pelo processo de globalizao que, em tese,tenderia a maior homogeneizao entre os pases, por meio do intercmbio deconhecimentos, idias e bens, mas que, na prtica, homogeneza essencialmentepadres de consumo capazes de sustentar o modelo produtivo global determina-do pelos pases centrais, detentores de capital e tecnologia.

    V-se, portanto, que no discurso do desenvolvimento local, como estratgiapara superao de limitaes e diferenas seculares, esto entrelaadas circuns-tncias locais e circunstncias globais. Articul-las buscar pontos de conexoque viabilizem modos de pensar e agir capazes de produzir efetivas transforma-es das estruturas sociais, em todas as escalas.

    Dessa forma, o local pode se constituir como espao vivel de elaborao deprojetos polticos nacionais, regionais e locais, mas no se pode ignorar que aterritorialidade da ao e das relaes pode ser, e freqentemente , antecedida

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    Desenvolvimento e Organizaes: as universidades como eixo de articulao entre o local e o global

    de direcionamentos originados muito alm do local, em escala global, seja pororganismos multilaterais, como a Organizao Mundial do Comrcio, agentes fi-nanceiros, como o Banco Mundial e o Fundo Monetrio Internacional, ou, ainda,pelas grandes corporaes transnacionais.

    Buscar aporte terico que permita melhor compreenso dos determinantesdo desenvolvimento, sob o ponto de vista dos estudos organizacionais, requerum olhar multidisciplinar, ainda que centrado nas Cincias Sociais e, mais especifi-camente, na anlise das organizaes. o que vimos procurando fazer e aquiilustramos.

    Movidos pelo interesse em compreender a forma pela qual as organizaesinterferem no desenvolvimento local, comeamos este trabalho posicionando esseconstruto no contexto do mundo globalizado. O posicionamento revelou a neces-sidade de se resgatar categorias centrais do pensamento dos intelectuais da CEPALe, particularmente, de Celso Furtado.

    O caminho para a compreenso foi traado mediante a problematizao daarticulao entre dimenses globais e locais do contexto das organizaes. Emtorno dessa noo, construiu-se o raciocnio da articulao entre diferentes di-menses do contexto institucional e a insero local das organizaes como fatorcapaz de habilit-las a uma efetiva interferncia no desenvolvimento local. A orga-nizao universitria foi tomada, exemplarmente adequada, como objeto emprico,uma vez que tem funes e realiza atividades que, em tese, transcendem frontei-ras, ao mesmo tempo em que est situada em um espao territorial com o qualinterage social, cultural, poltica e economicamente. Universidades so, por issomesmo, instituies sociais.

    Entretanto, apesar da larga homogeneidade estrutural das universidadesbrasileiras e dos discursos relativos sua pertinncia scio-cultural, percebem-sediferenas significativas entre elas, ou entre diferentes reas de conhecimento ougrupos de pesquisadores, no que respeita a uma efetiva interferncia no desen-volvimento local.

    O compartilhamento de normas, mitos, smbolos do contexto institucional ea efetiva internacionalizao na produo do conhecimento, inclui lutas e concor-rncias num espao social especfico, que Bourdieu (1983) caracterizou como cam-po cientfico. Assim, o contexto institucional de referncia sinaliza os elementosimportantes e significativos do ambiente, mas no suficiente para posicionar osagentes no campo cientfico.

    Ao mesmo tempo, instituies sociais so, inerentemente, enraizadas noentorno constitutivo de seu espao de ao; entretanto, no se bastam simples-mente pela existncia ou pelo cumprimento de suas funes bsicas. A inserolocal ganha, ento, o sentido da interao com demais agentes de poder numadeterminada localidade.

    Na investigao realizada, exceo do Estado do Rio Grande do Norte,onde no se observaram aes mais incisivas na constituio de organismosarticuladores, todas as demais iniciativas foram ou esto sendo constitudas me-diante modelos organizacionais hbridos, que compreendem agentes pblicos eprivados, em diferentes escalas de poder. Ou seja, as interorganizaes (FISCHER,1996) parecem constituir os modelos organizacionais dominantes de ao nessecampo. Investig-las em profundidade uma das sugestes para futuras pesqui-sas, pois renem atores com interesses dspares, mas que compartilham, eventu-almente, alguns objetivos comuns. Compreender os conflitos, as formas de ges-to e os jogos de poder, no mbito das interorganizaes, traz contribuies im-portantes para os estudos organizacionais, bem como as possveis alteraesnas agendas de pesquisas de indivduos ou grupos envolvidos nessas articula-es ou em parcerias e convnios realizados diretamente.

    Ainda, compreender intensivamente os mecanismos e as estratgias dosagentes na construo das redes de relacionamento que lhes possibilitam institu-rem novas e dinmicas formas de interao outra investigao relevante paraampliar o entendimento acerca da relao entre produo de conhecimento cien-

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    tfico e tecnolgico e desenvolvimento local. As prprias organizaes criadas paraintermediar as relaes universidade-sociedade constituem objeto importante deanlise. Em geral, apresentam modelos flexveis ou formas organizacionais inova-doras, e exercem importante papel de articulao entre o campo cientfico e ocampo econmico.

    Certamente, a complexidade da instituio universitria oferece vasto hori-zonte de pesquisas. Sua centralidade no universo social, concomitantemente aoquestionamento de sua eficcia e pertinncia scio-cultural, seu modus operandi,sua perenidade, e seu permanente estado de crise so desafios instigantes paraos estudos organizacionais.

    Tambm a questo do (sub)desenvolvimento estar sempre a desafiar pes-quisadores de vrios campos porque

    O subdesenvolvimento, como o deus Janus, tanto olha para a frente como paratrs, no tem orientao definida. um impasse histrico que espontaneamenteno pode levar seno a alguma forma de catstrofe social. Somente um projetopoltico apoiado em conhecimento consistente da realidade social poder rom-per a sua lgica perversa. Elaborar esse conhecimento tarefa que s a Univer-sidade pode cumprir (FURTADO, 1992, p.19).

    A investigao que realizamos e a pauta de pesquisa que vimos construindoso tentativas de contribuir com parte dessa tarefa. A aproximao obra deCelso Furtado , sem sombra de dvida, de enorme importncia para a articulaoterica entre organizaes e desenvolvimento. No demais lembrar que CelsoFurtado foi um dos pensadores mais originais do desenvolvimento em suas vriasdimenses. E, certamente, o economista brasileiro de maior reputao interna-cional, exatamente porque dedicou sua vida intelectual a compreender, com pro-funda sensibilidade, o Brasil e, em particular, a Regio Nordeste.

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