ARTIGO LIVRAMENTO CONDICIONAL

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  • 8/2/2019 ARTIGO LIVRAMENTO CONDICIONAL

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    ANOTAES ACERCA DO LIVRAMENTO CONDICIONAL

    ALICIA PORTO COSTA, advogada

    NOTA INTRODUTRIA

    A melhor doutrina define o instituto do livramento condicional como

    a concesso, pelo poder jurisdicional, da liberdade antecipada ao condenado, condicionada

    a determinadas exigncias durante o restante da pena que deveria cumprir preso1.

    O livramento condicional concede ao sentenciado pena privativa de

    liberdade uma antecipao em seu retorno ao convvio da sociedade.

    Sendo um dos fins da pena a ressocializao do preso, no h argumentos

    contrrios ao livramento condicional que se justifiquem. Ao fim da pena, inevitavelmente,

    o condenado, tenha ou no se arrependido dos delitos cometidos, ser posto em liberdade,

    no seio da sociedade. O livramento condicional permite um gradual regresso do apenado ao

    bojo da sociedade, permitindo que se verifique as suas condies de ressocializao.

    A muito se ultrapassou a discusso acerca de ser o livramento condicional

    um direito do preso ou uma faculdade a ser concedida pelo juiz. Tal confuso justificou-

    se pela redao do art. 83 CP, que utiliza a expresso O juiz poder.... Hoje se tem claro

    para a maior parte da doutrina que o livramento condicional um direito subjetivo do

    condenado, desde que cumpridos os requisitos objetivos e subjetivos que a lei exige (art.

    83, Cdigo Penal).

    Concedido o livramento, o juiz dever especificar as condies a que este

    ficar subordinado, sob pena de revogao do benefcio. Ao fim do prazo designado, que

    na espcie o restante de pena a ser cumprida, se no houve a violao de nenhuma das

    condies impostas, tem-se por extinta a pena.

    REQUISITOS PARA A CONCESSO DO LIVRAMENTO CONDICIONAL

    O art. 83 do Cdigo Penal enumera os requisitos que devero ser satisfeitos

    para a concesso do livramento condicional. Inicialmente, o preso deve ter sido condenado

    1ApudPaulo Queiroz, Direito Penal Parte Geral, citando Magalhes Noronha.

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    a uma pena privativa de liberdade igual ou superior a dois anos. Tal regra justifica-se em

    razo de as condenaes inferiores a dois anos serem beneficiadas por outros institutos, a

    exemplo da suspenso condicional do processo e da substituio por penas restritivas de

    direito.

    Situao a ser estudada ocorre quando as penas, ainda que somadas,

    no alcanam o mnimo de dois anos e no so beneficiadas com os demais institutos.

    Parte da doutrina considera que, neste caso, a pena deveria ser cumprida integralmente.

    Acertadamente, o Mestre Paulo Queiroz pondera: Semelhante excluso , no entanto,

    inteiramente despropositada e ofensiva ao princpio da proporcionalidade, afinal, a vingar

    tal coisa, crimes mais graves (punidos com 20 anos de recluso, p.ex.) tero tratamento

    mais brando do que crimes menos graves (digamos, punidos com 1 ano e 6 meses de pena),

    numa absurda inverso de valores. Tal limite deve ser, portanto, ignorado.2

    O Prof. Rogrio Greco defende, na hiptese do condenado no ser alcanado

    pelos demais benefcios, a possibilidade de a defesa recorrer da sentena que tenha aplicado

    pena inferior a dois anos para aumentar a pena a ser aplicada. Argumenta, exemplificando

    com uma condenao de 01 ano e 11 meses de um reincidente, que o acrscimo de apenas

    um ms na pena faria com que o condenado pudesse voltar ao convvio social aps

    cumpridos 12 meses e um dia.3

    Pois bem. O preso no reincidente em crime doloso e com bons antecedentes

    cuja pena seja igual ou superior a dois anos dever ter cumprido mais de um tero da pena

    para fazer jus ao benefcio. Ainda que reincidente em crime culposo, dever ter cumprido

    to-somente um tero da pena. Caso reincidente em crime doloso, dever ter cumprido mais

    da metade da pena. Por fim, condenado em crime hediondo ou a este assemelhado, dever

    cumprir mais de dois teros da pena.

    Cumpre salientar que o perodo detrao e de remisso computado como

    tempo de pena efetivamente cumprida a fim da concesso do livramento condicional.

    Questo que se apresenta sem resposta legal refere-se ao ru primrio de

    maus antecedentes. A doutrina e a jurisprudncia, majoritariamente, entendem que, neste

    caso, o condenado equipara-se ao reincidente em crime doloso, devendo cumprir mais

    da metade da pena. Tal entendimento, no entanto, no deve prosperar por constituir real

    2 Paulo Queiroz, Direito Penal Parte Geral, cit., p. 382.3 Rogrio Greco, Curso de Direito Penal Parte Geral, p. 710

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    analogia in malam partem, impondo gravame superior ao exigido na lei. Ressalte-se que

    constitui verdadeiro bis in idem, uma vez que aprecia circunstncia j considerada no

    momento da fixao da pena, tornando-a mais gravosa.4

    A lei torna insuscetvel de livramento condicional o apenado reincidente

    especfico em crime hediondo ou a este assemelhado. A reincidncia especfica ocorre

    quando o agente comete novo crime hediondo ou a este assemelhado aps ter sido

    condenado por crime hediondo anterior.

    Para a concesso do livramento condicional exige-se dos condenados por

    crime doloso, cometido com violncia ou grave ameaa pessoa, ainda, constatao

    de condies pessoais que faam presumir que o liberado no voltar a delinqir5.

    Tal exigncia mostra-se despropositada, haja vista ningum poder emitir juzo de valor

    desse alcance. Ainda que vivssemos em uma utopia e os presos fossem avaliados por

    psiclogos, assistentes sociais, socilogos e toda sorte de profissionais qualificados,

    ningum seria capaz de afirmar se aquele condenado voltaria ou no a delinqir. Na prtica,

    essa exigncia serve para o exerccio de arbitrariedades, alm de retardar a concesso do

    benefcio ante a escassez de pessoal para realizar a referida avaliao.

    Por fim, o condenado deve ter reparado o dano, salvo impossibilidade de

    faz-lo, deve apresentar um comportamento satisfatrio, no tendo cometido falta grave

    enquanto preso e apresentar aptido para trabalhar.

    A exigncia do trabalho honesto no poder ser rgida a ponto de demandar

    a carteira registrada. No nosso pas, onde grassa o desemprego e a economia informal,

    a exigncia da atividade laboral deve observar os contornos sociais, admitindo-se que o

    liberado exera atividades informais, como camel e comrcio ambulante.

    REVOGAO DO LIVRAMENTO

    Ocorre a revogao do livramento condicional quando o apenado descumpre

    quaisquer das condies impostas pelo juzo no momento da concesso do livramento,

    ou quando venha a sofrer condenao por novo fato delituoso no curso do livramento. A

    revogao poder se dar automaticamente a revogao obrigatria -, ou a critrio do juiz

    4 Paulo Queiroz, Direito Penal Parte Geral,, p. 383.5 CP, art. 83, pargrafo nico.

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    revogao facultativa.

    A revogao obrigatria vem regulada no art. 86 CP e se dar sempre que o

    liberado sofrer nova condenao transitada em julgado a pena privativa de liberdade, seja

    por fato delituoso praticado no curso do benefcio, seja por crime anterior. Na hiptese de

    condenao por crime anterior deve-se observar se a soma do tempo que resta a cumprir

    com a nova condenao iro permitir sua permanncia em liberdade. Caso permitam, o

    benefcio no dever ser revogado.

    Em observncia ao princpio da presuno de inocncia, o benefcio s ser

    revogado aps o trnsito em julgado de sentena condenatria, no justificando a extino

    do livramento a sentena penal pendente de recurso.

    J a revogao facultativa poder ocorrer quando o liberado descumprir

    qualquer das obrigaes impostas na sentena que concedeu o benefcio ou quando for

    condenado por sentena irrecorrvel por crime ou contraveno a pena no privativa de

    liberdade (art. 87, CP). Nessas hipteses, a revogao do livramento fica a critrio do juiz,

    que dever decidir motivadamente.

    Ad cutelam, na hiptese de o liberado no estar cumprindo as condies

    impostas, dever o juiz ouvi-lo em audincia prpria, dando oportunidade para que se

    justifique.

    Os efeitos da revogao esto disciplinados no art. 88 CP, que aduz que

    o benefcio no poder ser novamente concedido e no se desconta na pena o tempo em

    que esteve solto o condenado, salvo se a revogao teve por causa condenao por fato

    criminoso anterior ao benefcio. Aquele que pratica crime no curso do livramento possui

    tratamento mais gravoso, haja vista sua conduta demonstrar que ele no fazia jus ao

    livramento.

    EXTINO DA PENA

    A pena privativa de liberdade ser considerada extinta se at o seu trmino o

    livramento no for revogado (art. 90 CP). No entanto, o juiz no poder considerar extinta

    a pena enquanto no passar em julgado a sentena em processo a que responde o liberado,

    por crime cometido na vigncia do livramento (art.89 CP). Isso se justifica posto que

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    eventual condenao poder ensejar a revogao do livramento com a conseqente perda

    do tempo em que esteve solto para efeitos da extino da pena.

    Questo a ser suscitada se a extino da pena depende de declarao

    judicial ou opera-se automaticamente. Parece-nos que a melhor soluo a ser dada emana

    do texto da lei. Na hiptese do liberado responder por fato delituoso praticado no curso

    livramento, a extino da pena depender de declarao judicial. Na hiptese contrria,

    a extino da pena opera automaticamente, tendo a manifestao judicial contedo

    meramente declaratrio.

    Referncias Bibliogrficas

    QUEIROZ, PauloDireito Penal: parte geral. 2 ed. rev. aum. So Paulo: Saraiva, 2005

    GRECO, Rogrio

    Curso de direito Penal. Rio de Janeiro: Impetus, 2003

    MAGALHES NORONHA, Edgard

    Direito penal. So Paulo: Saraiva