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1 SIGNIFICANDO A APRENDIZAGEM COM OS MAPAS CONCEITUAIS Clismeri Moreira Krubniki* RESUMO: Este artigo tem o objetivo de analisar a organização do trabalho pedagógico em relação às dificuldades de aprendizagem dos alunos da 5ª série do Colégio Estadual “Jorge Queiroz Netto” no ano de 2008/2009, sugerindo uma proposta metodológica de encaminhamento dessas dificuldades através da elaboração de mapas conceituais. A proposta de organização do processo de ensino está fundamentada na teoria da aprendizagem significativa de David Ausubel. O conhecimento da técnica dos mapas conceituais desenvolvida por Joseph Novak e o trabalho com o software Cmap Tools como recursos didáticos pretende dar suporte a prática do professor, implementando o processo de ensino e de aprendizagem. Palavras-chave: Trabalho Pedagógico. Dificuldades de Aprendizagem. Aprendizagem Significativa. Mapas Conceituais. MEANING THE LEARNING WITH CONCEPT MAPS ABSTRACT: This article aims to analyze the organization of pedagogical work about the difficulties of learning of students of 5 th stage of Colégio Estadual “Jorge Queiroz Netto”, in the years 2008/2009, suggesting a methodological proposal for forwarding these difficulties through concept maps. The proposed organization of the teaching process is based on the theory of meaningful learning by David Ausubel. The technical knowledge of concept maps developed by Joseph Novak and the work with the software Cmap Tools as teaching resources aims to support the practice of teacher, implementing the process of teaching and learning. Keywords: Educational work. Difficulties of learning. Meaningful learning. Concept maps. ________________________ *Pedagoga da Rede Pública Estadual do Paraná e Especialista em Psicopedagogia pela Universidade Estadual de Ponta Grossa. Colaborou com está produção o professor Oscar Escobar do Departamento de Educação da Universidade Estadual de Ponta Grossa.

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SIGNIFICANDO A APRENDIZAGEM COM OS MAPAS CONCEITUAIS

Clismeri Moreira Krubniki*

RESUMO: Este artigo tem o objetivo de analisar a organização do trabalho

pedagógico em relação às dificuldades de aprendizagem dos alunos da 5ª

série do Colégio Estadual “Jorge Queiroz Netto” no ano de 2008/2009,

sugerindo uma proposta metodológica de encaminhamento dessas dificuldades

através da elaboração de mapas conceituais. A proposta de organização do

processo de ensino está fundamentada na teoria da aprendizagem significativa

de David Ausubel. O conhecimento da técnica dos mapas conceituais

desenvolvida por Joseph Novak e o trabalho com o software Cmap Tools como

recursos didáticos pretende dar suporte a prática do professor, implementando

o processo de ensino e de aprendizagem.

Palavras-chave: Trabalho Pedagógico. Dificuldades de Aprendizagem.

Aprendizagem Significativa. Mapas Conceituais.

MEANING THE LEARNING WITH CONCEPT MAPS

ABSTRACT: This article aims to analyze the organization of pedagogical work

about the difficulties of learning of students of 5th stage of Colégio Estadual

“Jorge Queiroz Netto”, in the years 2008/2009, suggesting a methodological

proposal for forwarding these difficulties through concept maps. The proposed

organization of the teaching process is based on the theory of meaningful

learning by David Ausubel. The technical knowledge of concept maps

developed by Joseph Novak and the work with the software Cmap Tools as

teaching resources aims to support the practice of teacher, implementing the

process of teaching and learning.

Keywords: Educational work. Difficulties of learning. Meaningful learning.

Concept maps.

________________________

*Pedagoga da Rede Pública Estadual do Paraná e Especialista em Psicopedagogia

pela Universidade Estadual de Ponta Grossa. Colaborou com está produção o professor Oscar

Escobar do Departamento de Educação da Universidade Estadual de Ponta Grossa.

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INTRODUÇÃO

Após passar pelo processo classificatório para participar do Programa de

Desenvolvimento Educacional - PDE, desde o estudo do referencial, a

realização da prova até o resultado final ainda não tínhamos a idéia de como a

prática pedagógica se tornaria objeto de análise. A partir do momento que

começamos a participar dos primeiros encontros e a esboçar o projeto de

pesquisa, que se tornaria o Projeto de Intervenção Pedagógica na Escola,

começamos a perceber como o trabalho pedagógico seria o foco da produção

a ser elaborada.

Reconhecer o professor da rede pública como produtor de saberes

sobre o processo de ensino e de aprendizagem é um incentivo para que o

mesmo coloque os problemas enfrentados no cotidiano da escola em

discussão.

Um desses problemas é a dificuldade de aprendizagem dos alunos, que

acabam reprovando, ou mesmo avançando para a série seguinte não

dominando os conhecimentos básicos da série que freqüentou. Este fato

juntado à vontade de levar ao conhecimento dos professores uma possibilidade

de enfrentamento, através do uso do computador como instrumento

metodológico, fez com que vislumbrasse uma oportunidade de projeto que

buscaria promover a aprendizagem dos alunos a partir da reorganização do

trabalho do professor, utilizando o computador com os alunos.

A técnica do mapeamento conceitual, fundamentada na teoria da

aprendizagem significativa, possibilitou a organização dos conteúdos das

disciplinas da série de modo a facilitar a aprendizagem. O ensino baseado na

utilização dos mapas conceituais tem como objetivo introduzir um recurso que

auxilie o trabalho do professor no enfrentamento das dificuldades de

aprendizagem.

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A utilização do software Cmap Tools subsidiou o trabalho, permitindo

aos alunos e aos professores elaborarem e compartilharem seus mapas,

facilitando a compreensão do conteúdo trabalhado e estudado.

A intervenção na sala de aula permitiu ao professor e ao aluno o

revezamento na construção do conhecimento através da prática dialógica, nas

quais as dificuldades de aprendizagem geraram possibilidades de

enfrentamento com a elaboração do trabalho pedagógico prevendo novas

situações de aprendizagem. O cotidiano da sala de aula foi o laboratório para a

coleta de dados, análise e definição das possibilidades de aprendizagem.

As oficinas realizadas na sala de informática do Paraná Digital

permitiram aos professores explorarem as ferramentas disponibilizadas no

software Cmap Tools, organizando as aulas a partir da proposta de

encaminhamento dos conteúdos através da construção de mapas conceituais.

De início, a proposta se direcionava aos professores do ensino

fundamental – 5ª a 8ª séries, porém após as primeiras orientações sobre

delineamento e abrangência do tema, optamos por trabalhar com os

professores das 5ª séries, de todas as disciplinas: Língua Portuguesa,

Matemática, Ciências, História, Geografia, Inglês, Ensino Religioso, Arte e

Educação Física. A proposta foi desenvolvida no Colégio Estadual “Jorge

Queiroz Netto” – Ensino Fundamental, Médio e Profissional, no qual trabalho

há 13 anos como pedagoga e professora.

Durante a elaboração do projeto surgem variáveis que interferem no

processo de ensino, como: o comprometimento das políticas públicas com o

trabalho pedagógico, o compromisso dos pais com a aprendizagem de seu

filho, a organização da escola para com o processo de ensino e a prática

pedagógica dos professores.

No momento da elaboração do projeto de pesquisa, os professores

pensavam em temáticas relacionadas à sua área de atuação para

desenvolverem com seus alunos. Já os pedagogos, pensavam em temáticas a

serem desenvolvidas com os professores, portanto o assunto a ser pesquisado

deveria ser interessante no sentido de repensar a prática pedagógica e

motivador no sentido de incentivar o desenvolvimento de uma metodologia de

ensino inovadora.

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Quando falamos em inovação pensamos em tecnologia, quando falamos

em tecnologia pensamos em computador e quando falamos em computador

pensamos sobre como utilizá-lo no processo de ensino. Essa premissa

fundamentou o projeto sobre como organizar o trabalho pedagógico de modo a

promover a aprendizagem, usando o computador como recurso metodológico.

Responder ao desafio de ensinar de modo a promover aprendizagem é

o objetivo do ensino. Porém, na escola a realidade que se apresenta ainda é a

do fracasso escolar evidenciado pelo número de alunos que apresentam

dificuldades de aprendizagem durante o processo de escolarização.

Neste universo, o trabalho pedagógico não tem sido repensado a partir

das dificuldades de aprendizagem apresentadas pelos alunos. Nos momentos

de análise do processo educativo não realizam encaminhamentos com base

nos dados fornecidos pela avaliação diagnóstica, que procura dar pistas sobre

as dificuldades apresentadas pelos alunos em aprender.

Os resultados obtidos nas avaliações não estão servindo de parâmetro

para o diagnóstico do nível de aprendizagem dos alunos; esses resultados

deveriam subsidiar a redefinição do processo de ensino como um todo.

A avaliação tem contribuído com o fracasso escolar quando é tomada

como medida para categorizar os alunos por suas notas correspondentemente

ao nível cognitivo. Os que não se enquadram na média são considerados

alunos com dificuldades ou problemas de aprendizagem.

O processo de aprendizagem ainda está relacionado à nota que o aluno

atinge nas áreas do conhecimento ao final de cada um dos bimestres da série

que frequenta. Isso se explica através dos conselhos de classe que ainda

classificam os alunos pelas suas notas: os que não aprenderam o conteúdo e

os que aprenderam. A tônica recai sobre o resultado e não sobre o caminho

percorrido pelos alunos no processo de aprendizagem.

Como não adianta constatar uma determinada situação e nada fazer

com os dados que ela revela, buscamos refletir sobre o processo de ensino-

aprendizagem definindo encaminhamentos de mudança na prática de sala de

aula.

O fracasso escolar, que também é da escola, se evidencia pela

incompatibilidade da proposta da mesma em trabalhar com interesses,

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necessidades, conhecimento, aprendizagem, enfim características do

desenvolvimento dos alunos.

Na escola, para a qual o projeto de intervenção foi desenvolvido,

constatou-se o fracasso escolar analisando os resultados bimestrais, que

indicou o grande número de alunos que apresentam dificuldades de

aprendizagem. Nos relatórios finais observou-se o grande número de alunos

reprovados na 5ª série, alguns são multirepetentes.

Cabe salientar que alguns reprovados foram aprovados por decisão do

colegiado de professores no conselho de classe final, que após analisarem

cada situação, decidiram quais poderiam prosseguir para a série subseqüente.

A produção didático-pedagógica deteve-se à questão das dificuldades

de aprendizagem, tanto dos alunos que são reprovados como dos que são

aprovados, pois avançar para a série subseqüente não garante,

necessariamente, que ocorreu aprendizagem.

A realidade do fracasso na escola diz respeito aos responsáveis pela

freqüência do aluno, aos responsáveis pelas metodologias de ensino, aos

responsáveis pela implementação dos recursos que viabilizam o processo

educativo, aos responsáveis pela análise dos modos diferenciados de

aprender. Enfim, responsabilizar é fácil, porque são muitos os envolvidos é

possível até dividir as responsabilidades, difícil é refletir sobre a

responsabilidade em promover o sucesso escolar. Sucesso é uma palavra

positiva, pois quem tem sucesso é feliz. Então, podemos concluir que os alunos

que fracassam durante o processo de escolarização estão infelizes. E, quem

somos nós para decidirmos a felicidade ou não dos nossos alunos. Somos

reconhecidos pela nossa capacidade de ensinar, e, se isso traz felicidade,

porque não fazê-lo. A escola deve preocupar-se em possibilitar aos seus

alunos a vivência de uma escolarização bem sucedida.

A escola aceita esse diagnóstico porque ofereceu o acesso, sem

questionar as condições de permanência e até de não-permanência do aluno.

Se a escola é um espaço privilegiado da igualdade, porque existem alunos que

não se desenvolvem e aprendem como seus colegas para estarem juntos no

ano seguinte, na série seguinte? Se o professor ofereceu oportunidades de

aprendizagem, porque existem os que não dominam os conteúdos necessários

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para freqüentarem a série seguinte ou a modalidade de ensino seguinte? Por

que os pais precisam se conformar com a decepção de seu filho em não

avançar nos estudos junto com a sua turma, com seus colegas?

É preciso desmistificar as causas geradoras do fracasso da

aprendizagem desvinculada de patologias, visões distorcidas e equivocadas

como justificativas que buscam omitir os envolvidos no processo educativo de

suas competências em promoverem o sucesso dos alunos na escola,

conseqüentemente, na vida.

A figura dos alunos com problemas serve para justificar o fracasso

escolar através da patologização do ensino, com o objetivo de deslocar o foco

da discussão sobre a prática pedagógica para uma visão conformada de que o

fracasso do aluno é decorrente de distúrbios de aprendizagem, problemas

afetivos e de contexto sócio-cultural.

Os estudos de Patto, evidenciaram que “o pensamento educacional

brasileiro tinha a tendência em atribuir os sucessos e os fracassos dos alunos a

fatores individuais. Os alunos de classes populares eram vistos como “fracos” e

se vinculava a produção escolar desses alunos às oportunidades oferecidas

pelo contexto social em que viviam; enfatizando a relação entre as diferenças

no rendimento escolar e o meio sócio-econômico do qual cada criança

provinha.” (PATTO, 1990, P.37).

Ao centrar o fracasso como causa e efeito de responsabilidade médica,

psicológica e sociológica o mesmo não precisa ser analisado pela competência

pedagógica, eximindo a escola de sua parcela de culpa pelo insucesso dos

alunos. Esse processo não é verdadeiro, pois embutido ao fracasso do aluno

está o da instituição e de seus envolvidos.

Com o objetivo de oportunizar a releitura do ensino e da aprendizagem

como processos decorrentes e recorrentes, esta produção busca possibilitar a

reflexão sobre as dificuldades que permeiam o processo educativo, no que

tange à aprendizagem dos alunos, em relação à organização do trabalho

pedagógico. Ou, como o nível de competência da aprendizagem pode definir o

nível de competência do ensino. Para isso, é preciso visualizar a aprendizagem

e o ensino como processos que interagem em função do conhecimento, pois o

ensino se apóia em uma concepção de aprendizagem.

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É importante, ao definir o nível de aquisição do conhecimento através da

aprovação ou da reprovação, que a instituição escolar coloque em xeque a

maneira como o ensino tem se processado em seu contexto. O fracasso

escolar também se caracteriza como o fracasso da organização pedagógica

em não propiciar aprendizagem aos alunos. As metodologias de ensino

contribuem para o fracasso escolar à medida que não correspondem aos

interesses e necessidades dos alunos.

Muitas vezes, o professor fecha os olhos para a realidade do fracasso

escolar, afirmando que aprender é tarefa do aluno e se este não tem

competência para tal, conforme-se com a situação. Esta afirmação perde o seu

valor a partir do momento em que o processo educativo torna-se

responsabilidade de todos os envolvidos. Portanto o fracasso escolar

representa o fracasso de professores, pedagogos e gestores em não

garantirem aprendizagem aos alunos.

O TRABALHO PEDAGÓGICO E AS DIFICULDADES DE

APRENDIZAGEM

A intenção deste trabalho é aprofundar a reflexão sobre a organização

da prática pedagógica em relação às dificuldades de aprendizagem e promover

a elaboração dos mapas conceituais como estratégia facilitadora da

aprendizagem significativa.

As dificuldades de aprendizagem não tem solicitado a organização do

trabalho do professor na perspectiva da prevenção e da busca de soluções

para as mesmas, é preciso analisar o trabalho pedagógico desenvolvido, para

então organizar metodologias que possibilitem a reversão deste quadro.

Nas entrevistas realizadas com os professores, sobre as dificuldades

para ensinar, apareceram as seguintes respostas: falta de interesse do aluno,

falta de colaboração dos pais, “Indisciplina”, superlotação das salas de aula,

material didático, ansiedade e deslumbramento do aluno com a novidade de

estar na 5ª série, defasagem de aprendizagem das séries iniciais, imaturidade

e pouco tempo para o professor preparar as atividades

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Acredita-se que a dificuldade está no aluno em não aprender,

justificando que apresentam problemas no desenvolvimento psicomotor,

cognitivo, perceptivo, lingüístico, não dominam os conhecimentos básicos da

série anterior, não contam com o apoio da família no acompanhamento das

atividades escolares, estão desinteressados e desmotivados para estudar.

O professor não ensina diferente aos que aprendem diferente, não

reelabora sua proposta de trabalho a partir do diagnóstico das diferentes

maneiras de aprender; entende que só existe uma forma de ensinar, cabendo

aos diferentes (alunos) se adequarem a mesma.

Existem professores que continuam prevendo os mesmos conteúdos e

as mesmas metodologias sem buscar dialogar sobre a sua prática em sala de

aula. Os professores tornaram-se reticentes, “não questionando a prática

pedagógica excludente que produz o fracasso escolar”. (CARVALHO, 2002,

p.63). O professor é resistente à idéia de colocar sua prática em análise,

mesmo que o objetivo seja de melhorá-la; por mais que vivencie as mudanças

no dia-a-dia, não as contextualiza no ato educativo, isto gera propósitos

contrários, tanto das expectativas do professor quanto do aluno.

Nos dias atuais, a confrontação entre o trabalho pedagógico e as

dificuldades de aprendizagem fez com que a sala de aula se transformasse

num espaço para experienciar metodologias que melhor respondam ao

sucesso do aluno na escola.

Nesse processo o papel do aluno e do professor se definem à medida

que ambos efetivam suas participações de modo fundamentado. Isso demanda

reconhecer que o professor não é o detentor do conhecimento, dos conteúdos

e das metodologias, mas tem o comprometimento de organizá-los para

produzir condições favoráveis para que ocorra o ensino e a aprendizagem.

O aluno é o sujeito, que ao interagir no seu contexto, permite o

redimensionamento do processo educativo a partir da análise das informações

sobre sua aprendizagem e seu desenvolvimento.

Na entrevista com os professores sobre quais fatores colaboram para

que o aluno não aprenda, surgiram as seguintes respostas: “indisciplina”, falta

de atenção, desorganização, descumprimento de tarefas, sono, falta de

alimentação, desinteresse, problemas pessoais, forma de apresentação do

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conteúdo, descaso da família, imaturidade, falta de estímulo, problemas

familiares, falta de estrutura, distúrbios de aprendizagem, amigos envolvidos

com drogas, atenção com aparelhos eletrônicos e falta de entrosamento entre

professor-aluno

Os fatores elencados dizem respeito à diversidade de interesses,

motivação e nível cognitivo, levando em conta as diferenças pessoais e

culturais dos alunos. Apenas dois aspectos se relacionam ao trabalho do

professor. Isto é, a forma de apresentação dos conteúdos remetendo a prática

do professor e a forma de abordar os conteúdos trabalhados em sala de aula e

a falta de entrosamento entre professor-aluno.

O que justifica a preocupação dos professores em repassarem os

conteúdos sem problematizá-los, valorizando a forma linear de transmissão dos

conhecimentos; desconsiderando potencialidades críticas e criativas e

incapacitando o aluno de refletir sobre a sua existência no cotidiano sócio-

econômico e cultural, gerando o conformismo com situações que mascaram a

realidade da desigualdade.

A partir desse diagnóstico é fácil perceber que as propostas de ensino

nem sempre estão em acordo com as propostas de aprendizagem, pois as

restrições de oportunidades para dialogar sobre os problemas, as inquietações,

as dificuldades, as possibilidades, as propostas decorrentes ou recorrentes à

prática pedagógica, fazem com que o professor organize o trabalho

preocupado em cumprir conteúdos pré-estabelecidos de sua área de atuação.

As informações coletadas devem subsidiar e sugerir a elaboração de

propostas para as interpretações sobre a aprendizagem, analisando e definindo

as possibilidades de implementá-las, dentro do espaço escolar.

As pesquisas demonstram que a escola deve possibilitar momentos de

análise e encaminhamentos sobre processo educativo, num movimento

permanente de coleta de dados que promovam a reflexão e demandem novas

possibilidades de intervenção na organização do trabalho escolar.

Quando as propostas de ação concebem o aluno com características

diferentes dos demais como um fator de desigualdade, segrega-os ao grupo

dos que não aprendem. Isso demonstra, que os professores buscam trabalhar

com grupos homogêneos em sala de aula. Ao invés de trabalhar a partir da

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realidade da diversidade, de alunos diferentes, o professor com sua habilidade

em classificar, os seleciona e compartimenta sem perspectivas de mudança, ou

seja, quem não aprendeu jamais aprenderá.

Ao referenciar o respeito à realidade do aluno, historicamente, as

práticas pedagógicas se desvirtuaram de seu objetivo em promover à

apreensão do conhecimento adotando atitudes espontaneístas, sem diretivismo

e sem fundamentação.

A escola não pode permitir que o ato pedagógico se reduza a um

processo mecânico que se efetiva com a utilização de técnicas de transmissão

do conhecimento. O objetivo da escola deve ser o de assumir o desafio de

educar tendo como pressuposto a compreensão das diferenças sócio-culturais

e dos diferentes estilos cognitivos.

Como a atualidade exige um profissional com capacidade de resolver

problemas e administrar conflitos, faz necessária uma política de valorização

dos profissionais da educação que subsidiem a prática em atividades de

aperfeiçoamento e não de adestramento. Políticas que valorizem ações

coletivas comprometidas com a história de seus agentes na perspectiva de

mudar, de transformar a sociedade, hoje tornou-se prioritário.

O projeto desenvolvido na escola pretendeu ajudar a compreender a

organização do trabalho pedagógico, criando e adequando metodologias que

busquem superar o fracasso escolar; visualizando a aprendizagem e o ensino

como processos que interagem em função da produção do conhecimento e de

práticas pedagógicas diferenciadas, de modo a contribuir para alterar a

realidade encontrada.

A escola deve organizar espaços de discussão sobre o fazer

pedagógico. Essa é a oportunidade para que a escola promova a reflexão em

torno da abrangência social do papel dos educadores. Se existem conflitos, é

preciso abordá-los com análise crítica e fundamentada para o

redimensionamento das ações na sala de aula.

Aqui o trabalho dos pedagogos da escola é de fundamental importância,

levantando os problemas das dificuldades de aprendizagem e relacionando-as

com a prática desenvolvida. Diagnosticar a problemática e elaborar junto com

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os professores as possibilidades de implementação da prática pedagógica com

o objetivo de proporcionar avanços no processo de ensino e de aprendizagem.

A partir dessa concepção de educação nos propomos a repensar a

formação do professor, organizando reuniões pedagógicas como momentos de

reflexão, pesquisa e diálogo com os colegas, para então, propor metodologias

que se adequem à possibilidade de aprendizagem que respeite as diferenças.

O papel do professor é o de desencadeador das possibilidaddes de

aprendizagem, numa realidade de ritmos diferentes em que ela ocorre,

experiência de vida distintas entre os alunos e perfis cognitivos diferenciados.

O bom professor é aquele que consegue envolver seus alunos com responsabilidade, com ética, com conteúdos adequados às suas condições e necessidades sócio-históricas. Conhecendo melhor os seus desejos e os de seus alunos, o professor poderá [...], realizar sua utopia, seu sonho de professor, como também poderá ajudar seus alunos a realizarem suas verdades, seus sonhos, seus desejos. O que é ensinar senão mostrar que a questão maior [...] é [...], descobrir se existe um destino que não seja, ele próprio, a viagem da aprendizagem? (SOARES, 1998, p. 33)

Numa visão crítica, a prática educativa é desenvolvida a partir dos

problemas da realidade concreta, na qual o ensino e a aprendizagem se

articulam em todo o seu desenrolar. Mesmo tendo o educando como sujeito

desse processo, ainda falta o aprofundamento que desenvolva uma ligação

entre o ensino e a sua vida cotidiana. Assim, o saber cotidiano e o saber

científico, se constituem em contradições sócio-culturais que irão delimitar o

currículo escolar.

Quando refere-se a análise do trabalho escolar necessário se faz

repensar o plano de trabalho docente, pois toda aula começa muito antes do

momento de entrar em classe. Sempre existe um esforço para preparar o

trabalho a ser desenvolvido com os alunos. É preciso percorrer o caminho,

definindo objetivos e elaborando metodologias, conforme interesses,

possibilidades e condições da realidade para a qual será desenvolvida a ação.

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Criar algo de novo através do trabalho pedagógico, transformando a

realidade, supõe conhecer as reais condições, estabelecer o que se pretende

atingir e perceber o aluno como sujeito do processo de compreensão do

mundo.

Para isso, é preciso coletar aspectos da realidade, sobre a história

escolar dos alunos, níveis de aprendizagem, interesse, habilidades e

dificuldades. Essas informações servem para o professor definir conteúdos e

metodologias, selecionar materiais e organizar as atividades, conforme esses

aspectos levantados.

O aluno(a) constrói seu conhecimento, mas precisa ser motivado pelo

que tem significado e promove a sua auto-estima. A consciência dos acertos,

erros e lacunas permite que compreenda seu próprio processo de

aprendizagem.

O professor precisa conhecer as referências sócio-culturais, paixões,

curiosidades, valores, costumes, opiniões, idéias dos alunos. Isso exige

preparo profissional, domínio do conteúdo e da metodologia de ensino. Para

tanto, é necessário conciliar os interesses dos alunos com os objetivos das

atividades planejadas.

O verdadeiro fazer-didático é aquele capaz de refletir corretamente cada situação de aprendizagem a partir do exame concreto da realidade onde educador-educando estão inseridos, envolvendo, cuidadosamente todos os dados necessários à solução que intrinsecamente, será sempre parcial, porém aproximar-se-á mais das necessidades educacionais concretas [...] (RAYS, 1990, p. 45)

Planejar o trabalho pedagógico revela uma intenção da prática educativa

que se quer desenvolver na qual é possível perceber sua dimensão política,

desde o momento da previsão de conteúdos, de metodologias, de processos

de avaliação da aprendizagem, de objetivos.

O objetivo da aprendizagem deve ser o de proporcionar meios para a

formação do educando crítico e criativo através da assimilação dos

conhecimentos. Neste sentido, Masseto (1991, p. 24) ressalta os níveis de

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aprendizagem a serem atingidos: “[...] a aquisição, a reelaboração dos

conhecimentos aprendidos e a produção de novos conhecimentos .”

Nesta perspectiva, o plano de ação docente exige postura pedagógica e

comprometimento político que iram se efetivar através do trabalho coletivo, no

qual os envolvidos. (pais, alunos, professores, especialistas, etc. ) discutem,

decidem, agem e avaliam as propostas coletivamente.

Diante dessa proposta é necessário resgatar o saber produzido, que

permita ao aluno ler e escrever sua própria história e produzir um novo

conhecimento para que possa interpretar o mundo que o rodeia e, nele intervir.

Cabe ao professor, buscar subsídios didático-pedagógicos que vão ao

encontro das necessidades e interesses dos alunos, que os façam sentirem-se

felizes na escola. Essa dimensão se dá através da competência do professor

em organizar e articular o conhecimento, que implica humildade e simplicidade

em suas atitudes, bem como o despojamento de preconceitos e

questionamento de valores que muitas situações são consideradas como

válidos, ao não contextualizá-los e questioná-los. A este respeito é oportuno o

que diz, Marcondes:

Os professores devem buscar sedimentar a postura reflexiva através da organização coletiva em propostas que visem uma melhor compreensão do seu próprio papel, do questionamento do conteúdo dos textos escolares, das metodologias empregadas, das formas de avaliação e das suas próprias condições de trabalho [...] e buscar alternativas de superar de forma conjunta os impasses encontrados. (MARCONDES, 1997, p. 43).

A construção do professor como sujeito da ação pedagógica planejada

deve ser criativa, competente e compromissada, Essa busca se realiza no dia-

a-dia da sala de aula, na articulação da aprendizagem.

Porém é necessário lembrar que o desenvolvimento tecnológico é tão

variado que torna impossível processar com a mesma velocidade a

sistematização da escola sob o “novo paradigma do conhecimento que se

encontra em transição.” (FAZENDA, 1991, p. 16).

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Estas reflexões permitem analisar a prática pedagógica como o marco

do sucesso ou do fracasso do aluno no decorrer da sua escolarização. É

através da maneira como é organizada a ação do professor para ensinar que o

aluno poderá obter êxito na aprendizagem.

Para encaminhar as possibilidades de ensinar é preciso considerar os

mecanismos para aprender, que se desenvolvem desde o nascimento pelas

interações dos indivíduos na sociedade em que se encontram inseridos. O

aluno constrói o conhecimento através de interações com os professores, com

seus colegas de classe e com o próprio conhecimento trabalhado e produzido

coletivamente em sala de aula.

Isso significa que todo aluno pode aprender, criar, produzir e interpretar,

se os professores conhecerem as condições em que a aprendizagem ocorre e,

a partir dessa reflexão organizam a sua ação.

Ao ensino cabe a tarefa de propiciar situações desafiadoras e

desencadeadoras de aprendizagem. O professor analisa o que o aluno produz

e cria condições para que seu conhecimento avance em direção a novos

patamares de compreensão e de interpretação.

Como ressalta André: “A atitude observadora da professora permite-lhe

conhecer cada aluno, percebendo a diversidade de vivências, interesses e

universo culturais que existem entre as crianças na sala de aula[...]perceber a

riqueza de experiências e saberes [...] leva a professora a valorizar e incorporar

esse conhecimento no seu trabalho.” (1999,p.101).

Para isso, o professor deve conhecer os referênciais sócio-culturais de

seus alunos para então planejar as atividades de ensino de modo a contemplar

momentos de intervenção que garantam aprendizagem significativa, a este

respeito podemos observar que:

A questão, talvez esteja em tentar recriar esse espaço de aprendizagem, partindo das trajetórias de vida de nossos alunos, de suas histórias, da história de seus pais. Para quê? Para através de tudo isso, tentar resgatar o sentido de ensinar/aprender, seja costurando, adequando ou sintonizando os conteúdos com as necessidades ou prioridades dos alunos, seja construindo conteúdos novos. (SOARES, 1998, p. 33)

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A diversidade de estilos cognitivos entre os alunos faz com que a

metodologia seja diferenciada cabendo ao professor privilegiar conteúdos

significativos, problematizá-los em situações que explorem as dimensões da

aprendizagem e dos processos de desenvolvimento. O papel da escola, nesta

perspectiva, passa a ser a organizadora de propostas que privilegiem o acesso

ao conhecimento e sua reelaboração através de possibilidades diferenciadas

de acordo com as particularidades sociais dos alunos, reveladas no cotidiano

da sala de aula.

À medida que o cotidiano da escola torna-se objeto de análise para

compreensão do processo ensino-aprendizagem, surgem novas circunstâncias

que induzem aos alunos a terem sucesso no processo de escolarização. Aos

envolvidos nesta realidade, cabe a tarefa de atualizarem sua postura perante o

processo histórico que recria e cria maneiras diferentes de ensinar e aprender.

É importante destacar que a postura, o discurso deve ser coerente com a

prática, com a ação. Caso não exista este equilíbrio os conteúdos tornam-se

estéreis, os procedimentos inócuos e os educadores trabalham de forma

inadequada, que em última instância, gerará propósitos contrários às suas

expectativas e às formas de organizar o ensino.

O papel desempenhado pelas teorias sobre a aprendizagem e o

desenvolvimento colaboram para que os professores repensem sua prática a

partir de características psicológicas e sócio-culturais de seus alunos,

fornecendo subsídios teóricos e metodológicos para que o processo educativo

se viabilize de modo responsável, comprometido e competente.

No desenvolvimento e na aprendizagem o meio e o organismo exercem

ação recíproca que promovem mudanças; a construção do conhecimento se

realiza durante o decorrer da vida do indivíduo que ao interagir com o outro e

com o meio elabora suas características e sua visão do mundo.

Ao professor cabe a tarefa de perceber, nas diferentes situações de

aprendizagem, o momento de ajudar o aluno a alcançar níveis mais elevados

de conhecimento. Para isso, deve conhecer aspectos individuais e coletivos

dos alunos com os quais irá organizar o trabalho pedagógico.

O professor é o organizador das condições para que ocorra a aquisição

do conhecimento, através de situações que motivem o aluno a aprender. É

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preciso por em prática metodologias que possibilitem essas mudanças.

Segundo Zanella, “... quanto mais se desenvolve, mais o ser humano se torna

completo e complexo em suas conexões mentais, pensa melhor, estabelece

relações mais eficientes, apresentando melhores condições de pensar, aplicar,

generalizar e, consequentemente, agir.” (ZANELLA, 2003, p.32).

Conceber o desenvolvimento e a aprendizagem como processos que

interagem durante a escolarização traz contribuições importantes no sentido de

considerar que o aluno constrói o conhecimento, produzindo novas formas de

pensar, de aprender e de apropriar-se dos conteúdos trabalhados

Os professores desmistificam as teorias ao elaborarem uma prática

adequada às diversidades presentes no ambiente escolar, de modo a promover

a aprendizagem e o desenvolvimento.

O papel desempenhado pelas teorias sobre o desenvolvimento e a

aprendizagem requerem o enfrentamento das dificuldades de aprendizagem a

partir da compreensão das características biológicas e sociais do

desenvolvimento psicológico e dos aspectos cognitivos e afetivos que

envolvem o ser humano. Com o objetivo de colaborar para que o processo

ensino-aprendizagem se efetive, a prática pedagógica necessita de

reformulações baseadas na realidade que está posta, ou como escreve Freire

(1993, p.32): “[...] buscar unidade na diversidade.”

Neste sentido, a análise das teorias que explicam a aprendizagem e o

desenvolvimento seja como processos isolados ou que se complementam,

colabora para a tomada de posições a partir da confrontação de suas

implicações para a educação. Os avanços no processo de ensino e

aprendizagem se darão quando os professores atuarem de acordo com o

diálogo desencadeado entre essas teorias.

As abordagens apresentam a possibilidade de reinterpretação dos

elementos que envolvem a prática pedagógica, como as diferenças individuais

culturais, a relação entre professor e aluno, as metodologias e outros. Neste

sentido, cabe a escola redimensionar a sua função social de democratizar o

saber através do acesso e permanência do aluno, de modo a promover o

aprendizado como resultado desejável que conduza ao desenvolvimento.

17

Essa tarefa exige mais do que se intitular construtivista, interacionista ou

sócio-interacionista, mesmo porque é inviável a escolha de uma teoria

específica, porém, é inevitável a constatação de profissionais da educação que

consomem teorias como “a melhor” e até as utilizam de forma simplista.

A análise reflexiva das diferentes abordagens é o referencial que

viabiliza a prática pedagógica comprometida com a aprendizagem e o

desenvolvimento dos alunos. O professor ao vivenciar a dinâmica da sala de

aula confronta a teoria com a prática e reelabora maneiras de ensinar e

aprender integrando as diferenças individuais às diversidades sociais e

culturais.

Ao organizar o trabalho contextualizado com os interesses e

necessidades dos alunos, o professor elabora sua proposta de ação voltada

para o espaço de suas aulas como momentos desencadeadores de desafios;

que redimensionam a prática a partir do confronto das perspectivas do aluno

com as possibilidades do professor.

Segundo, Oliveira, “Caberia aos educadores, e à escola como

instituição, construir estratégias de ensino que contemplassem as diferenças

individuais e grupais, no sentido de permitir o desenvolvimento e a expressão

das várias potencialidades humanas universais corporificadas nas diferentes

modalidades de funcionamento psicológico, as quais são possibilitadas pelas

diferentes culturas e pelo percurso de desenvolvimento individual.” (OLIVEIRA,

1997, p.53).

Considerando essas influências e aproximando teorias de ensino, o

professor analisa que o aluno aprende em ritmos diferenciados - uns

respondem rapidamente às solicitações das aulas e outros demoram, mas

ambos aprendem.

APRENDIZAGEM SIGNIFICATIVA E MAPAS CONCEITUAIS

A teoria cognitiva de David Ausubel sobre a aprendizagem significativa

norteou esta proposta no sentido de fundamentar a prática de sala de aula.

Moreira explica que:

18

A aprendizagem significativa ocorre quando a nova informação ancora-se em conceitos relevantes preexistentes na estrutura cognitiva de quem aprende... o desenvolvimento de conceitos é facilitado quando os elementos mais gerais, mais inclusivos de um conceito são introduzidos em primeiro lugar, e posteriormente, então, esse conceito é progressivamente diferenciado, em termos de detalhe e especificidade.

O professor deve reconhecer o conhecimento dos alunos e trabalhar a

partir dessas representações. Isso quer dizer que o conhecimento se

reestrutura durante a aprendizagem significativa, num processo dinâmico.

De acordo com o exposto sobre aprendizagem significativa, o papel do

professor é “ensinar utilizando recursos e princípios que facilitem a passagem

da estrutura conceitual da matéria de ensino para a estrutura cognitiva do aluno

de uma maneira significativa”. (MOREIRA, 1982, p.12).

Responder a tarefa de ensinar, de modo a promover o estabelecimento

de uma aprendizagem significativa, é o objetivo pretendido deste projeto. O

mapeamento conceitual, técnica criada por Joseph Novak na década de

setenta, surge como uma possibilidade de se trabalhar com o conceito de

aprendizagem significativa.

Os mapas conceituais são diagramas que indicam as relações entre

conceitos, ou entre palavras que usamos para representá-los. Figuras como

elipses, retângulos, círculos podem ser utilizados, porém nada significam em

um mapa conceitual. Eles podem seguir um modelo hierárquico no qual

conceitos mais inclusivos estão no topo e conceitos específicos estão na base,

mas não se trata de um modelo obrigatório, nem tão pouco o uso de setas.

Elas podem ser usadas para dar sentido de direção a determinadas relações

conceituais. O que deve ficar claro num mapeamento conceitual são os

conceitos contextualmente mais importantes e os secundários ou específicos.

O mapa conceitual é um instrumento capaz de evidenciar significados

atribuídos a conceitos e relações entre conceitos no contexto de um corpo de

conhecimentos, de uma disciplina, de uma matéria de ensino.

Estes mapas servem para tornar significativa a aprendizagem do aluno,

que transforma o conhecimento sistematizado em conteúdo curricular,

19

estabelecendo ligações deste novo conhecimento com os conceitos relevantes

que ele já possui, estruturando o pensamento do sujeito

O professor pode utilizar-se dos mapas conceituais para: tornar claro

conceitos difíceis, estabelecer relações entre conceitos, reforçar a

compreensão e a aprendizagem dos alunos, visualizar conceitos chaves e suas

inter-relações, e auxiliar no processo de avaliação e identificar conceitos não

entendidos e que possam estar faltando.

O aluno é orientado sobre os objetivos pretendidos e como poderá

trabalhar para que eles sejam atingidos, junto com o professor, que estará

avaliando esse processo destacando os conceitos relevantes do

tema/assunto/conteúdo tratado e promovendo ajuda.

Não existe mapa conceitual como o “correto”, o professor apresenta o

mapa do conteúdo estudado, segundo os significados dos conceitos e de suas

relações significativas. O aluno apresenta o seu mapa, dando evidências sobre

como está aprendendo o conteúdo. Na análise dos mapas produzidos pelos

alunos, o professor deve perceber que alguns sugerem falta de compreensão,

nesse momento poderá solicitar explicações, orais ou escritas, em relação ao

mapa apresentado.

Neste projeto, os mapas conceituais podem ser elaborados diretamente

no computador, utilizando o software Cmap Tools. Antes disso, o professor

poderá oportunizar aos alunos a elaboração de seus mapas por escrito, para

depois transcrevê-los no Word ou no PowerPoint, como uma maneira de

familiarizar-se com as ferramentas disponibilizadas no computador.

O software Cmap Tools, foi desenvolvido pela University of West Florida

– UWF e permite digitalizar os mapas conceituais, modificá-los sempre que for

necessário e compartilhar a discussão dos mesmos através da Internet. Esta

proposta pedagógica esta sendo implementada pela Universidade Federal de

Rio Grande do Sul. A característica dialética de utilização deste recurso

evidencia-se quando alunos e professores alteram os mapas; possibilitando a

construção coletiva através de ambientes colaborativos.

Também é de suma importância o conhecimento e a utilização de

recursos tecnológicos que auxiliem nesse processo, como mecanismos

20

facilitadores da aquisição do conhecimento transmitido pelos professores aos

seus alunos.

O uso do computador e de suas ferramentas deve se tornar acessível

aos alunos e aos professores, para que ambos possam aprender e ensinar

num ambiente de construção do conhecimento. É preciso desmistificar a sua

utilização como recurso pedagógico, sem transformá-lo em panacéia para os

problemas educacionais.

A escola deverá integrar o computador aos seus espaços de saber, de

modo a restabelecer a aprendizagem, auxiliando o professor na utilização

desta tecnologia numa perspectiva reflexiva e significativa

Para isso, a escola precisa tornar-se mobilizadora de transformações e o

professor assumir uma nova atitude diante do conhecimento e da

aprendizagem. Valente, diante deste problema assim se expressa:

A mudança da função do computador como meio educacional acontece juntamente com um questionamento da função da escola e do papel do professor. A verdadeira função do aparato educacional não deve ser a de ensinar, mas sim a de criar condições de aprendizagem. Isso significa que o professor precisa deixar de ser o repassador de conhecimento – o computador pode fazer isso e o faz muito mais eficientemente do que o professor – e passar a ser o criador de ambientes de aprendizagem e facilitador do processo de desenvolvimento intelectual do aluno. (VALENTE,2000, p. 15-16)

É preciso criar condições para que o professor saiba contextualizar o

aprendizado e a experiência vividas em sua formação para a realidade da sala

de aula, compatibilizando as necessidades dos alunos aos objetivos que

pretende atingir.

A utilização de tecnologias da informação e da comunicação tem

possibilitado um repensar sobre o processo de ensino, tornando-o objeto de

análise e discussão como desencadeador de propostas que busquem viabilizar

a aprendizagem.

21

Os avanços tecnológicos devem ser encarados como possibilidades de

utilização de recursos que auxiliam o processo de mudança pedagógica, sendo

o computador uma nova maneira de representar o conhecimento.

O papel do professor...é o de facilitador, mediador da construção do

conhecimento. Então, o computador passa a ser aliado do professor na

aprendizagem, proporcionando transformações no ambiente de aprender e

questionando as formas de ensinar.

Desse modo, entende-se que o educador deve buscar utilizar o

computador como apoio pedagógico proporcionando que a aprendizagem

esteja respaldada na descoberta, na investigação e no diálogo e, que o aluno

construa o conhecimento.

Segundo Almeida: “a preparação para usar o computador em sala de

aula deve ser um processo que mobilize e prepare o professor para incitar seus

alunos a: aprender a aprender...” (1999, p. ).

O uso do computador e de suas ferramentas deve favorecer a

construção de práticas pedagógicas que atendam às características e às

necessidades educativas dos alunos, que despertem um interesse significativo

em explorar os conteúdos de forma dinâmica e interativa.

Em relação à utilização do computador como recurso na educação,

alguns professores se negam a conhecer a sua utilização e outros conhecem e

utilizam sem rigor pedagógico. Em face dessa “novidade”, é urgente organizar

propostas que busquem aproximar o trabalho pedagógico das possibilidades

de uso do computador.

Cabe destacar que o professor não precisa ser um especialista em

informática, basta que tenha familiaridade no manejo do software e seja criativo

para explorar todas as possibilidades que o recurso oferece. Também exige

que os professores tenham compreensão dos conteúdos específicos de

atuação.

Segundo Prado: “(...) o aprendizado de um novo referencial educacional

envolve mudança de mentalidade (...). Mudança de valores, concepções, idéias

e, conseqüentemente, de atitudes não é um ato mecânico. É um processo

reflexivo, depurativo de reconstrução, que implica em transformação e,

transformar significa conhecer.” (1993, p.99).

22

FINALIZANDO

Para buscar novas formas de intervir na realidade escolar é necessário

proporcionar espaços de estudo, discussão e reflexão com os professores para

que os mesmos possam expor suas concepções, idéias, teorias, experiências,

desafios, enfim, realizar estudos de aprofundamento teórico e metodológico

que promovam o sucesso do aluno no processo de escolarização.

A reflexão sobre os entrelaçamentos da organização do trabalho

pedagógico com as dificuldades de aprendizagem evidenciam a importância da

mediação docente como possibilidade de superação da problemática dos

alunos que não estão conseguindo aprender. Assim, os professores tornam-se

capazes de refletir, tomar decisões e mudar o rumo de sua ação a partir da

interpretação que faz do processo de aprendizagem dos alunos

Este trabalho procurou refletir sobre a organização do desenvolvimento

pedagógico e do processo de aprendizagem, sugerindo e propondo aos

professores e professoras a utilização da técnica do mapeamento conceitual

como metodologia no enfrentamento das dificuldades de aprendizagem. A

implementação desta proposta exige dos professores a análise das

dificuldades de aprendizagem como possibilidade de reflexão sobre as suas

práticas e a superação dos problemas encontrados em sala de aula.

No momento em que os professores organizam o plano da ação docente

é preciso considerar o que os alunos conhecem sobre os conteúdos a serem

trabalhados, para depois organizar as ações a serem realizadas e

reconstruídas, considerando os objetivos propostos e a avaliação da

aprendizagem dentro de uma perspectiva construtivistsa, pois a realidade

desenvolvida nesta experiência pedagógica evidenciou que esta forma

favorece a aprendizagem.

Este artigo sugere um referencial que pode imprimir um movimento

dinâmico ao fazer pedagógico, constituindo-se como apoio para a elaboração

de metodologias de trabalho no espaço escolar que estimulem o

desenvolvimento de atividades com os alunos de modo a promover a

aprendizagem significativa.

23

O ensino ao utilizar uma didática pedagógica que inclua o uso do

computador pode se constituir numa possibilidade que virá a promover a

aprendizagem significativa, desde que os professores considerem os objetivos

pretendidos com as atividades desenvolvidas.

Durante a realização da pesquisa, constatou-se que existem poucos

referenciais sobre o encaminhamento do processo de ensino-aprendizagem

utilizando recursos tecnológicos. A tecnologia que nos parece tão próxima na

vida cotidiana ainda não está organizada como recurso nas metodologias de

ensino. Os professores que participaram das oficinas não conheciam o

software Cmap Tools, nem mesmo que já se encontra disponível no Paraná

Digital. A escola, que já dispõe de recursos tecnológicos, necessita organizar a

capacitação dos professores promovendo a aprendizagem sobre a utilização

destes recursos como meios facilitadores do processo de ensino. A sala de

informática deve se constituir como espaço que favoreça situações de

aprendizagem significativa de forma integrada ao conhecimento/conteúdo

desenvolvido na sala da aula.

É importante ressaltar que a aprendizagem significativa pode ocorrer a

partir da elaboração dos mapas conceituais utilizando ou não o computador;

não é o recurso em si que demanda a aprendizagem e sim a metodologia.

Portanto, esta experiência pedagógica pode constituir-se e contribuir no

andamento das práticas dos professores e professoras que trabalham seus

conhecimentos no espaço escolar, torna-se um desafio para todos aqueles

que, direta ou indiretamente, trabalham nesta múltipla dimensão chamada

educação.

24

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