Artigo Najaraferrari Genero Entrevista

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    Bate-papo: formato do gnero entrevista no processo de popu-larizao da cincia na TV

    Najara Ferrari Pinheiro 1

    Resumo: O programa Vida e Sade da RBSTV/RS, no processo de popularizao da cincia,apresenta entre seus quadros, um denominado bate-papo. Nesse quadro, a editora-chefe/apresentadora do programa entrevista seus convidados combinando caractersticas daconversa informal com a da entrevista temtica e dialogal (LAGE, 2001). Neste artigo discuto,com base na Anlise Crtica de Gneros (MEURER e MOTTA-RORTH), na Anlise Crtica doDiscurso (FAIRCLOUGH), associada Anlise de Discurso Multimodal (O'HALLORAN) aorganizao do quadro bate-papo como um dos formatos do gnero entrevista, um formato comespecificidades e caractersticas prprias, visto que esse programa da TV regional do Rio Gran-de do Sul tambm apresenta peculiaridades se comparado a outros da grade da Televiso decanal aberto brasileira

    Palavras-chave: Entrevista; popularizao da cincia; televiso

    1. O programa Vida e Sade e a popularizao da cincia: situandoa discusso

    O programa Vida e Sade, da RBSTV/RS, est no ar h 9 anos, aborda com pri-

    oridade as temticas relativas sade, bem-estar e qualidade de vida. Tais temticas

    so discutidas e apresentadas nos programas veiculados na grade da emissora aos sba-

    dos entre s 8h05min e 8h30min. A RBS TV uma televiso regional, porque formauma rede que alm de falar com a regio Sul, regio de sua abrangncia, se articula e

    dialoga com as outras regies do Brasil, por meio da Rede Globo. Considerando tais

    aspectos, a investigao se concentra no programa Vida e Sade, transmitido aos sba-

    dos entre 8h05min e 8h30min.

    1 Professora da Faculdade Franciscana de Santa Maria (Unifra); estgio ps-doutorado jnior realizado no LA-BLER/PPGL/UFSM/CNPq; doutora em Comunicao Social (Unisinos);licenciada em Letras/Portugus-Francspela Faculdade Imaculada Conceio (Santa Maria) e Bacharel em Comunicao Social pela UFSM. Email: [email protected].

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    Esse programa tem 25min de durao e, na grade de programao da emissora,

    est entre um programa de circulao nacional Ao (Globo TV) e um programa da

    TV Regional (RBS) AnonymusGourmet. Considero nesta pesquisa o perfil da audin-

    cia na praa de Porto Alegre. Os ndices de audincia correspondem a 11,6% de audin-

    cia domiciliar e 45,2% de share2. A seleo de tais dados implica esboar um perfil dos

    telespectadores do programa na cidade que, por sua diversidade, em tese, representa a

    populao do estado do Rio Grande do Sul.

    O programa apresentado por Laura Medina e Isabel Ferrari (substituda no pe-

    rodo de licena maternidade por Evelyn Bastos). A equipe tambm formada pela re-

    prter Flvia Marroni, pelo cinegrafista Paulo Vitor e pelo operador de udio Paulo

    Srgio. A edio de imagens de Gerson Cordeiro e a finalizao de Rafael Peanha.

    Iraci Lopes o responsvel pela sonorizao. Em 2012, a equipe formada por Laura

    Medina (Editora-chefe e apresentadora), Isabel Ferrari (apresentadora) e Flavia Marroni

    (Editora e apresentadora).

    Na sua organizao, veicula entrevistas e reportagens sobre sade, nutrio, ati-

    vidade fsica, beleza, comportamento e terapias alternativas. Essas informaes foram

    encontradas em site especfico3 no portal Clicrbs em pesquisa realizada em 2011. Des-

    de fevereiro de 2012 as informaes esto com outra configurao, inseridas no portal

    G1, da Rede Globo4. A participao no share revela que, na praa de Porto Alegre, o

    maior nmero de telespectadores do sexo feminino (58,9%), com idade entre 25 e 49

    anos (42,4%) pertencentes classe C (57,1%).

    Como pode ser observado no corpus compreendido de programas gravados entre

    agosto de 2010 e maro de 2011, essa produo congrega vrios assuntos, podendo ser

    entendida como um programa de variedades ou de entretenimento, o qual privilegia o

    foco a sade. Considerando seu nome e seu contedo, tende-se a pensar em uma produ-

    o especializada em sade, pois difere de outros programas de variedades da televiso

    2Os dados apresentados referem-se ao Vida e Sade na praa de Porto Alegre em 2008 e esto dispon-veis em: http://www.clicrbs.com.br/pdf/6402640.pdf. Acesso em 21 abr. 2011.3 Saiba mais sobre o programa - disponvel em:http://www.clicrbs.com.br/especial/rs/rbstvrs/conteudo,936,7583,Vida-e-Saude-Sobre-o-programa.html .

    Acesso em 21 abr. 2011.4 Os dados atuais so encontrados no link http://redeglobo.globo.com/rs/rbstvrs/noticia/2011/12/vida-e-saude.html. Acesso 10 ago. 2012.

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    brasileira. No entanto, as discusses no se restringem apenas ao tema sade, mas todas

    convergem e se aproximam do ideal de sade proposto pela Organizao Mundial de

    Sade (OMS): "Sade o estado do mais completo bem-estar fsico, mental e social e

    no apenas a ausncia de enfermidade". A reflexo que deve ser feita est relacionada

    com a ideia de sade e "uma vida plena, sem privaes".

    Na sua configurao genrica e em relao grade de programao o Vi-

    da e Sade (RBSTV/RS) no pode ser interpretado como um programa do gnero jorna-

    lstico ou de variedades ou de entretenimento apenas. preciso entend-lo, no universo

    dos programas televisivos, como um produto que mescla informao, entretenimento e

    prestao de servios. Diante dessa perspectiva, preciso pensar o Vida e Sade como

    um exemplar que se situa na interseco entre o jornalismo cientfico a informa-

    o/prestao de servios - e o entretenimento.

    Nessa tica, Vida e Sade pode ser reconhecido com um fenmeno do infotain-

    ment, neologismo que, segundo Gomes (2009, p.1), traduz o embaralhamento de fron-

    teiras entre informao e entretenimento, tem ocupado boa parte da energia produtiva de

    profissionais e investigadores de algum modo ligados Cultura Miditica. Para a pes-quisadora, nesse embaralhamento de fronteiras e no distanciamento de gneros televisi-

    vos conhecidos, est o infotainment, agora no mais um fenmeno, mas uma estratgia

    miditica que serve para classificar os produtos televisivos que no se enquadram muito

    claramente em nenhum dos gneros que conhecemos. (Gomes, 2009, p.11).

    Em minha pesquisa de doutorado (PINHEIRO, 2004), com base na proposio

    de Capechi e Demaria (2002) j pensava os programas de variedades ou entretenimento

    como um fenmeno do infotainment. Com base em Capechi e Demaria (2002) fiz umaanlise de programas femininos e sua relao com o infotainment. Segundo as pesquisas

    de Capecchi e Demaria (2002), os programas femininos so do tipo infotainment, pro-

    gramas que em geral adotam a frmula de uma produo hbrida de informao e entre-

    tenimento, seguindo uma linha que se situa entre essa duas zonas. informao esto

    associados os contedos prprios do jornalismo. J o entretenimento pode ser definido

    provisoriamente, segundo Gomes (2009, p. 7), como valor das sociedades ocidentais

    contemporneas que se organiza como indstria e se traduz por um conjunto de estrat-gias para atrair a ateno de seus consumidores. Newcomb (2010) ao discutir o dilo-

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    go na televiso refere-se observao de Bakhtin sobre a coexistncia de gneros varia-

    dos. Para Newcomb (2010, p. 375), "os gneros variados coexistem juntos no tempo e

    ele focalizou ainda mais especificamente os modos pelos quais o romance interpola ou-

    tros gneros, engolindo a carta, o discurso, o ensaio, moldando-se com a reportagem, a

    stira e o que mais importante com a pardia". Interessa aqui destacar esse fenmeno

    da interpolao dos gneros j evidenciada por Bakhtin. Dito de outro modo: a mescla,

    o embaralhamento de fronteiras ou a hibridao so modos de dizer que os gneros se

    interpolam e uns engolem os outros tornando-se distintos de seus originais, mas guar-

    dando resqucios de sua histria.

    Por essa via, passo a analisar os programas como um hbrido que tem no info-

    tainment sua ncora. Dessa forma, observa-se nesse programa o que Newcomb (2010)

    afirma sobre o texto televisivo: "a evoluo dos gneros de televiso nos fornece uma

    espcie de arqueologia do universo dialgico da televiso".

    2. A arquitetura do programa: os gneros e suas mesclas

    Ao olhar sob e sobre o texto televisivo a partir da Anlise de Gneros implica uma srie

    de deslocamentos, visto que as matrizes, neste trabalho, so todas voltadas para o texto

    impresso. Ao mesmo tempo que, por filiao terica, venho estudando desde 2000 o

    texto televisivo a partir dos cruzamento dos referenciais das reas de Lingustica Apli-

    cada e de Comunicao, procuro concentrar o olhar em conceitos que parecem instigan-

    tes para a anlise dos programas no momento em que focalizo determinado aspecto.

    Nesta proposta, importa discutir a organizao do quadro bate-papo como um dos for-matos do gnero entrevista, um formato com especificidades e caractersticas prprias,

    visto que esse um programa da TV regional do Rio Grande do Sul. Para isso elegi co-

    mo fundamentos referidos anteriormente, destacando o papel do infotainmentna organi-

    zao (retrica?) do programa e na configurao de sua identidade.

    As discusses sobre a Anlise de Gneros evoluem e desde a primeira metade da

    dcada de 2000 tm se fortalecido em encontros e trabalhos publicados por pesquisado-

    res brasileiros que tomam como base a proposta de Swales (1990). As pesquisas reali-zadas por estudiosos da rea de Lingustica Aplicada esto convergindo para a Anlise

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    polifonia, em um espao em que os atores sociais - entrevistador e entrevistado - con-

    versam sobre assuntos ligados sade.

    O texto televisivo e suas mltiplas linguagens exigem que se associe e se analise

    os produtos ou textos televisivos pela tica da multimodalidade. Diante dessa demanda,

    associo para a investigao os fundamentos da Anlise de Discurso Multimodal (ADM)

    (O'Halloran, 2011). A ADM torna-se importante para a anlise dos textos televisivos,

    pois, como um paradigma emergente nos estudos do discurso, estende os estudos da

    linguagem per si para os estudos da linguagem em combinao com outros recursos tais

    como as imagens, smbolos cientficos, gestos, aes, msica e sons, em sntese, as lin-

    guagens visual, sonora e verbal, caractersticas da produo televisual.

    Com apoio em Halliday (1978) O'Halloran (2011) afirma que os recursos semi-

    ticos so sistemas de significados que constituem a realidade da cultura. O medium o

    meio atravs do qual o fenmeno multimodal se materializa (jornal, televiso, computa-

    dor).Na perspectiva de Jewitt (2009, p. 34) necessrio investigar os atores sociais e,

    nesse caso, o entrevistado e o entrevistador observando/analisando gestos, olhar, movi-mento do corpo e layout, dentre outros modos, para mediarem a interao num dado

    contexto". No caso da entrevista, ou do quadro bate-papo no programa Vida e Sade

    importante associar essa perspectiva para anlise do quadro, visto que ela contribui para

    evidenciar as regularidades das linguagens visual e sonora desse quadro.

    No desenho das regularidades do quadro bate-papo, utiliza-se como critrio para

    anlise o enquadre, a distncia e a posio (ver tambm Kress e van Leuween, 1996,2006). Tais perspectivas, aliadas Anlise Crtica de Gnero e Anlise Crtica do Dis-curso contribuem para se construir uma investigao do formato com uma mirada mais

    abrangente. Essa discusso ser aprofundada na seo 3.

    2.1 O desenho do programa: gneros - derrubando barreiras, avanando fronteira

    O Vida e Sade dividido em captulos ou blocos separados por intervalos co-

    merciais ou breaks. Os 25 minutos de programa podem ser assim representados:

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    Cen

    rio

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    mdico

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    Restaurante

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    Parque

    Parque Parque

    Vinheta de

    abertura/

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    programa

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    abertura

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    passagem

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    bloco

    Interv

    alo

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    bloco

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    Vinhe

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    Vinhe

    ta

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    bloco

    Editora-

    chefe e

    Apresenta

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    passagem

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    do

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    ento

    Editora-

    chefe e

    Apresenta

    dora

    Vinheta de

    encerramen

    to

    Figura 1: Representao de um programa

    A sequncia representa os eventos apresentados em um programa especfico. Os

    fragmentos no so aleatrios e replicam o movimento que ocorre nos 21 programas

    gravados que constituem o corpus da pesquisa.

    Na desconstruo de um dos programas (e todos se repetem), os gneros predo-

    minantes, como se pode observar, so a reportagem e a entrevista. A entrevista, em seus

    variados formatos (ver Lage, 2001), se interpola, nos termos de Bakhtin, nas reporta-

    gens. Sobre o gnero reportagem ou um formato do gnero informativo (ver Bonini e

    2003; Melo e Assis, 2010) e ainda sobre abordagens especficas relativas reportagem(ver Lage, 2001). No programa h diferentes espaos para apresent-las em variados

    formatos, considerando tambm a presena de diferentes apresentadoras/reprteres em

    cenrios especficos.

    Nessa arquitetura, muitas temticas so tratadas, muitos assuntos so pauta de

    reportagens ou de entrevistas na seo bate-papo e muitos cenrios so utilizados para

    realizar essas produes. Um das locaes frequentes o Hotel Vila Ventura, localizado

    na cidade de Viamo/RS. As entrevistas ou bate-papo so, em geral, ambientadas emlocais fechados como cafs, restaurantes, salas de visita ou sala de recepo/descanso de

    hotel (Hotel Vila Ventura). Esses ambientes, segundo Lage (2001) so caractersticos de

    entrevistas caracterizadas como dialogal. A entrevista dialogal

    marcada com antecedncia, rene entrevistado e entrevistador em ambientecontrolado sentados, em geral, e, de preferncia, sem a interferncia de umaparato (como uma mesa de escritrio) capaz de estabelecer hierarquia (quemse senta diante das gavetas da mesa assume, de certa forma, posio de man-do). Entrevistador e entrevistado constroem o tom de sua conversa, que evo-lui a partir de questes propostas pelo primeiro, mas no se limitam a esses

    tpicos; permite-se o aprofundamento e detalhamento dos temas abordados(LAGE, 2001, p.77).

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    De acordo com o autor, essa caracterstica refere-se circunstncia de realizaoda entrevista. Neste artigo destaco o ambiente ou cenrio como lugar importante para

    construir o tom da entrevista, no quadro bate-papo. Alm disso, possvel observar que

    a conversa flui e no se limita s respostas do entrevistado, s perguntas do entrevista-

    dor. No h um sistema totalmente ordenado com regras aparentes para troca ou tomada

    de de turno5, em alguns casos entrevistador e entrevistado, no bate-papo, misturam suas

    falas, sobrepem a palavra at que um organize e siga a sua abordagem sobre o assunto.

    Isso ocorre no bate-papo sobre ansiedade, quadro do programa Vida e Sade de07.08.2010.

    2.2 Os gneros e os formatos no VeS

    A natureza do dilogo inerente TV, torna-se evidente no programa Vida e Sa-

    de. Os gneros e formatos, mesmo que frutos de hibridao, de mescla ou ainda um

    programa caracterstico do fenmeno do infotainment, revela a presena marcante de

    reportagens e de entrevistas.

    Neste texto, interessa discutir especificamente a entrevista, o quadro bate-papo.

    De acordo com os objetivos, a entrevista, nesse programa, tem caractersticas prprias e

    pode ser observada e analisada a partir da proposta de tipos de entrevista de Lage (2001,

    p. 74): ritual, temtica, testemunhal e em profundidade.

    No formato analisado interessa relacionar ao tipo de entrevista temtica pelas ca-

    ractersticas comuns: aborda um tema sobre o qual se supe que o entrevistado tenha

    condies e autoridade para discorrer. Geralmente consiste na exposio de verses ou

    interpretaes de acontecimentos. Pode servir para ajudar na compreenso de um pro-

    blema, expor um ponto de vista, reiterar uma linha editorial com o argumento de autori-

    dade (a validao pelo entrevistado).

    Sob o ponto de vista das circunstncias de realizao (LAGE, 2001, p. 74), a en-

    trevista dialogal a entrevista por excelncia - e, como exposto anteriormente, reali-

    zada em ambiente controlado, entrevistador e entrevistado ficam sentados, em geral, e

    5 Troca ou tomada de turno: "realizao organizacional colaborativa dos participantes baseada num con-junto simples de regras ordenadas" (FAIRCLOUGH, 2001, p. 192).

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    de preferncia sem interferncia de aparatos capazes de estabelecer hierarquia. A con-

    versa evolui a partir da negociao entre ambos, seguindo questes propostas pelo en-

    trevistador que pode possibilitar o aprofundamento e o detalhamento dos tpicos abor-

    dados. Em outras palavras, pode deixar fluir a conversa do entrevistado sem introduzir

    outras questes.

    Ao investigar o quadro bate-papo foi possvel definir que as entrevistas so mes-

    cladas com conversas informais e seu tom depende daquilo que Stam destaca dos fun-

    damentos bakhtinianos: o tato. A noo de tato, segundo Stam (2010, p. 335) tem rela-

    o com as maneiras pelas quais o poder modula os dilogos televisivos e configura a

    sua representao.

    O tato da televiso [...]

    pode ser analisado em termos bakhtinianos como um produtodas relaes entre os interlocutores (dentro e fora da tela), da 'si-tuao concreta da conversao, e do agregado de relaes so-ciais e dos horizontes ideolgicos que permeiam o discurso.

    O que se observa que na entrevista ou no bate-papo do Vida e Sade interessa

    encontrar o tom, segundo Lage (2001) ou o tato (2010) de acordo com Stam. Tanto o

    tom quanto o tato tm o papel de modular o dilogo, de estabelecer a melhor maneira

    de acontecer a interao e o dilogo tornar-se to natural quanto um bate-papo entre

    amigos, conhecidos ou uma conversa amigvel sobre determinado assunto. Nesse caso o

    assunto sade: ansiedade, depresso. Assunto que est na conversa entre os participan-

    tes do programa, participantes do quadro bate-papo, mas tambm est entre as pessoas

    que assistem ao programa, que esto fora da tela. Ou seja, h uma interao dentro e

    fora da tela e as relaes e interaes em torno do assunto podem se estabelecer entre os

    interlocutores, que se relacionam via programa, no interior do programa e nas casas e

    outros ambientes nos quais podem se assistir ao Vida e Sade.

    Nesse sentido, utilizando a noo de tato, pode-se observar que a entrevistadora

    exerce papel fundamental na maneira de conduzir e modular o dilogo, na maneira de

    estabelecer o dilogo e configurar sua representao. O mdico psiquiatra, detentor do

    conhecimento estabelece, via linguagem, gestos e postura, um direcionamento da con-

    versa com seu pblico e, dessa forma, simula maior aproximao com quem est fora datela. O quase apagamento da imagem da entrevistadora, o posicionamento discreto da

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    entrevistadora na cena, no enquadramento j evidencia a importncia de quem fala e

    para quem deve ser dirigido o olhar e a quem se deve ouvir.

    Assim, seguindo os tipos propostos por Lage (2001) e observando a perspectiva

    bakhtiniana da modulao do dilogo, procuro identificar como essas categorias se rea-

    lizam via linguagem ou, segundo Motta-Roth, a partir de expoentes lingusticos, nos

    quadros selecionados para a anlise.

    3. Bate-papo com Laura Medina

    3.1 Metodologia

    Entre os 21 programas gravados para a pesquisa, selecionei 3 quadros da seo

    bate-papo para essa anlise. Como critrio de seleo utilizei trs variveis: a temtica,

    o cenrio e os entrevistados. Para a anlise do gnero utilizo a tipologia de Lage (2001)

    j destacada anteriormente, procuro relacionar essa tipologia noo de tato, que Stam

    (2010) retoma dos fundamentos de Bakhtin e atualiza para a anlise de produtos televi-

    sivos. Tambm utilizo a ADM para investigar a relao das linguagens visual, sonora,

    gestual, verbal nos quadros analisados. A temtica foi selecionada em funo da pes-quisa que desenvolvo: sade processo de popularizao da cincia -, contou para essa

    seleo o fato de vrios quadros sobre o assunto terem sido apresentados em perodos

    muito prximos. Assim, para essa investigao destaquei:

    A temtica: Transtornos emocionais

    O Cenrio: Sala de visitas e caf/restaurante

    Os entrevistados: Mdico psiquiatra

    3.2 Anlise do quadro sob a perspectiva da ACG associada ADM

    Aspectos comuns

    Considerando o quadro e o programa pode-se observar que todos os bate-papo

    abrem com um making off, alguns em preto e branco outros em cores, onde entrevista-

    dos e entrevistador preparam-se para a entrevista auxiliados por profissionais da equipetcnica. o nico quadro do programa com essa configurao/ estrutura. Concomitante

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    ao making off, em off6 (a apresentadora apesar de aparecer, no fala diretamente com os

    participantes ou para o pblico, o som no revelado pela imagem) apresenta uma sn-

    tese da entrevista ou do bate-papo com o convidado do dia.

    Ao finalizar o making off, na tela inserida a imagem congelada do convidado e

    gradativamente so introduzidas suas credenciais/ seu currculo.

    Os entrevistados dos quadros analisados aqui so:

    Na sequncia, em cenrios variados: sala de estar, varanda, cafs, restaurante os

    participantes do programa, sentados, iniciam a conversa sobre o tema. Todos os quadros

    tm durao mdia de 5 minutos. A variao para mais ou para menos de 30/40 se-

    gundos. So os rigores do tempo na TV.

    O quadro bate-papo

    Entrevistadora e entrevistados sentados sala de estar ou caf/restaurante

    Entrevistadora introduz a entrevista, situa o telespectador sobre o assunto e faz uma

    pergunta ou provoca a entrada da fala do entrevistado. A entrevistadora procura ficar

    fora de cena- aparecendo pouco ou lateralmente. O entrevistado est sempre de frente

    para a cmera e fala direto aos telespectadores.

    6 Fala que acompanha a imagem de uma gravao, pronunciado por algum que no aparece em cena(HERNANDES, 2006, p. 146)

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    Curitiba Pontifcia Universidade Catlica do Paran Novembro de 2012

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    Os entrevistados: mdicos psiquiatras explicam os transtornos emocionais: ansiedade e

    depresso em linguagem que transita entre a linguagem tcnica (distrbio, transtorno) e

    a linguagem cotidiana (doena).

    Neste momento, a entrevistadora intervm e procura redizer ou perguntar de outro modo

    para que o pblico receba a informao em linguagem mais acessvel ou mais prxima

    do seu conhecimento cotidiano.

    Em tom dialogal, numa mesa de caf, a interao face a face evidencia a necessidade de

    facilitar ao pbico a linguagem, de esclarecer com metforas e com o uso de explica-

    es, exemplos e repeties os tpicos e conceitos tratados no bate-papo.

    Em tom de conversa informal entrevistador e entrevistado continuam a falar entre si,

    mas dirigindo-se ao telespectador sobre os sintomas da depresso por exemplo, sobre a

    diferena entre medicamentos tranquilizantes e antidepressivos. Sobre depresso, ansie-

    dade, problemas de insnia.

    A entrevista encerra com um agradecimento da entrevistadora.

    A troca de turno

    Consideraes Finais

    O bate-papo como um formato de entrevista apresenta especificidades desde sua produ-

    o at sua veiculao. H elementos que o relacionam com a entrevista temtica, com

    caractersticas de entrevista dialogal e em funo do meio, apresenta aspectos que s a

    televiso permite. Aparece como uma conversa informal, por isso um bate-papo, afas-

    tando-se, muitas vezes, da entrevista estruturada.

    H quadros em que os entrevistados falam diretamente, sem que haja necessidade deperguntas ou de provocao. Todos os entrevistados so especialistas e tratam o assunto

    desse lugar, procurando modular sua fala e ajustar seu tom quando abordam o tema sa-

    de ao pblico para o qual falam.

    Referncias

    CHOULIARAKI, Lilie; FAIRCLOUGH, Norman. Discourse in late modernity: rethinking

    Critical Discourse Analysis. Edinbourg: Edinbourg University, 1999.

    FAIRCLOUGH, Nornam. Analysing discourse: textual analysis for social research. London: Routledge,2003.

  • 7/31/2019 Artigo Najaraferrari Genero Entrevista

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    Curitiba Pontifcia Universidade Catlica do Paran Novembro de 2012

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