Artigo Nordeste Muito Bom

Embed Size (px)

Citation preview

PLANTIO DE OLEAGINOSAS POR AGRICULTORES FAMILIARES DO SEMIRIDO NORDESTINO PARA PRODUO DE BIODIESEL COMO UMA ESTRATGIA DE MITIGAO E ADAPTAO S MUDANAS CLIMTICAS. Joyce Maria Guimares Monteiro TESE SUBMETIDA AO CORPO DOCENTE DA COORDENAO DOS PROGRAMAS DE PS-GRADUAO DE ENGENHARIA DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO COMO PARTE DOS REQUISITOS NECESSRIOS PARA A OBTENO DO GRAU DE DOUTOR EM CINCIAS EM PLANEJAMENTO ENERGTICO. Aprovada por: ________________________________________ Prof. Emilio Lbre La Rovere, D.Sc. ________________________________________ Prof. Roberto Schaeffer, D.Sc. ________________________________________ Prof. Carlos Afonso Nobre, D.Sc. ______________________________________ Prof. Ademar Ribeiro Romeiro, D.Sc. ______________________________________ Prof. Ren Louis de Carvalho, D.Sc. ______________________________________ Dr. Luciano Basto Oliveira, D.Sc. RIO DE JANEIRO, RJ - BRASIL AGOSTO DE 2007

MONTEIRO, JOYCE MARIA GUIMARES Plantio de Oleaginosas por Agricultores Familiares do Semi-rido Nordestino para Produo de Biodiesel como uma Estratgia de Mitigao e Adaptao s Mudanas Climticas [Rio de Janeiro] 2007 XIII, 302 p. 29,7 cm (COPPE/UFRJ, D.Sc, Planejamento Energtico, 2007) Tese Universidade Federal do Rio de Janeiro, COPPE 1. Mudanas Climticas 2. Agricultura familiar 3. Produo biodiesel I. COPPE/UFRJ II. Ttulo (srie)

ii

Dedico: Ao meu filho, Antonio, com amor.

iii

Agradecimentos Meu agradecimento especial, ao Prof. Emilio Lbre La Rovere, pela confiana, apoio amigo e orientao, que foram decisivos para a realizao desta tese. Agradeo a todos os demais professores do Programa de Planejamento Energtico com os quais pude obter valiosos conhecimentos, em particular, ao Professor Roberto Schaeffer, pela ateno e acompanhamento. Agradeo aos ilustres membros da Banca de Avaliao por aceitar integr-la. Agradeo aos Professores Renata La Rovere e Ren de Carvalho do Instituto de Economia da UFRJ, pelo apoio amigo. Agradeo aos colegas do Programa de Planejamento Energtico (PPE), do Centro de Estudos Integrados sobre Meio Ambiente e Mudanas Climticas (Centro Clima), do Laboratrio Interdisciplinar de Meio Ambiente (LIMA) e do Instituto Virtual Internacional de Mudanas Globais (IVIG) pelas discusses elucidativas e, tambm, pelas horas agradveis que passamos juntos. Agradeo a valiosa amizade da Ktia, Lilian, Ana Carolina, Carolina, Flavia, Denise, Claudia e a querida amiga Marilia. Agradeo as secretrias e demais funcionrios do PPE e do LIMA pela qualidade dos servios prestados. Particularmente, agradeo a secretria acadmica do PPE, Sandra Bernardo dos Reis, pelo apoio irrestrito durante minha jornada acadmica e a Carmen Brando, secretria executiva do LIMA, pela ajuda amiga. Agradeo a minha famlia, particularmente ao meu pai, Ezequiel e a minha me, Euny, pela fora e incentivo incansveis. Agradeo ao Prof. Campos, amigo zeloso, que acompanhou a realizao deste trabalho, fornecendo timas sugestes e dicas. Agradeo a CAPES pelo auxlio financeiro que viabilizou deste trabalho.

iv

Resumo da Tese apresentada COPPE/UFRJ como parte dos requisitos necessrios para a obteno do grau de Doutor em Cincias (D. Sc.) PLANTIO DE OLEAGINOSAS POR AGRICULTORES FAMILIARES DO SEMIRIDO NORDESTINO PARA PRODUO DE BIODIESEL COMO UMA ESTRATGIA DE MITIGAO E ADAPTAO S MUDANAS CLIMTICAS. Joyce Maria Guimares Monteiro Agosto/2007 Orientador: Emilio Lbre La Rovere Programa: Planejamento Energtico O aumento das concentraes de Gases de Efeito Estufa tem sido apontado como o principal agente de mudana nos processos dinmicos da atmosfera, promovendo mudanas climticas com ameaas humanidade. A reduo das emisses de GEE para a atmosfera pode ser alcanada pela adoo de medidas mitigadoras, tais como o uso de energia renovvel, como o biodiesel, em substituio aos combustveis fsseis. Os estudos sobre os impactos das alteraes climticas trouxeram preocupaes a respeito das condies de pobreza e da capacidade de adaptao de pases/regies/setores/comunidades especialmente vulnerveis. O semi-rido nordestino conjuga aspectos de fragilidade socioeconmica, aos impactos futuros decorrentes das mudanas climticas, sobre a atividade agrcola local. Foram analisados alguns aspectos tcnicos e econmicos do plantio de oleaginosas por agricultores familiares do semirido e insero desses agricultores na cadeia produtiva do biodiesel, como estratgia de mitigao e adaptao s mudanas climticas. Os cenrios elaborados apontam que a reduo de emisses de CO2 pelo uso de biodiesel produzido a partir da agricultura familiar pode atingir a faixa de 10% a 29% das emisses associadas a uso de leo diesel demandado no Nordeste em 2015. Os benefcios decorrentes da insero dos agricultores familiares na cadeia produtiva do biodiesel refletem-se na oportunidade de diversificar e organizar o processo produtivo gerar renda e emprego, sendo uma alternativa para a melhoria da capacidade de adaptao dessa populao.

v

Abstract of Thesis presented to COPPE/UFRJ as a partial fulfillment of the requirements for the degree of Doctor of Science (D. Sc.) PLANTING OF VEGETABLE OIL CROPS BY FAMILY FARMERS IN THE SEMIARID NORTHEAST FOR THE PRODUCTION OF BIO-DIESEL AS A STRATEGY FOR ADAPTATION AND MITIGATION ON CLIMATIC CHANGES Joyce Maria Guimares Monteiro August/2007 Advisor: Emilio Lbre La Rovere Department: Energy Planning The increased concentration of GHG (especially Carbon Dioxide -CO2) has been identified as the main cause of change in the dynamic atmospheric process, causing climate change that threatens humanity. The reduction of atmospheric carbon emissions can be achieved through the adoption of mitigation measures, such as the use of renewable energy, bio-diesel for example, as a replacement for fossil fuels. The studies of the impacts on climate change have resulted in an increased concern with poverty and adaptation capacity in countries /regions /sectors /communities that are especially vulnerable. The semi-arid northeast joins aspects of socio-economic fragility to the future impacts on climate change on local agricultural activities. Some technical and economic aspects related to the planting of vegetable oil crops by semi-arid farming families and the insertion of these farmers in the bio-diesel productive chain as a mitigation and adaptation strategies on climate change. The different scenarios prepared showed that the reduction of CO2 emissions through the use of bio-diesel produced by farmers could reach 10% - 29% of emissions associated with the use of diesel in the Northeast in 2015. In addition, the benefits resulting from the insertion of family farmers in the bio-diesel chain will be reflected not just in the generation of income and employment, but most especially in the opportunity to diversify and organize the productive process. Furthermore, it is also an alternative that can improve the adaptation capacity of this group in relation to climate change adversity.

vi

ndice CAPTULO 1- INTRODUO........................................................................................1 1.1.Apresentao do Tema ........................................................................................... 1 1.2. Objetivos especficos ............................................................................................. 5 1.3. Abordagem Metodolgica ..................................................................................... 6 1.4. Estruturao da Tese.............................................................................................. 7 CAPTULO 2 MUDANA CLIMTICA ..................................................................10 2.1 As Mudanas Climticas e o Conhecimento Cientfico ....................................... 10 2.2 As negociaes internacionais .............................................................................. 19 2.2.1 A Conveno do Clima ................................................................................. 19 2.2.2 Protocolo de Quioto ....................................................................................... 22 2.2.3. A Evoluo das Negociaes ....................................................................... 25 2.3 Impactos, Vulnerabilidade, Adaptao e Mitigao............................................. 28 2.3.1. Modelos Climticos ...................................................................................... 28 2.3.2. Os Cenrios de Emisso do IPCC e os Impactos das Mudanas Climticas 30 2.3.2.Vulnerabilidade ............................................................................................. 37 2.3.3. Adaptao ..................................................................................................... 39 2.3.4. Mitigao ...................................................................................................... 42 2.3.5 Sinergia de Estratgias de Mitigao e Adaptao ........................................ 45 CAPTULO 3 - MUDANAS CLIMTICAS NO BRASIL E PERSPECTIVA DE INTEGRAO DE ESTRATGIAS DE ADAPTAO E DE MITIGAO POLTICA DE PROMOO DO USO DE BIODIESEL .............................................49 3.1. As Mudanas Climticas no Brasil, com nfase no Nordeste ............................ 49 3.1.1 Aspectos Gerais do Clima Presente ............................................................... 49 3.1.2. Aspectos Gerais das Projees Climticas Futuras ...................................... 55 3.1.3. Projees dos Impactos e Vulnerabilidade Mudana Climtica no Semirido ....................................................................................................................... 60 3.2. Polticas Nacionais de Desenvolvimento e Perspectivas de Adaptao e Mitigao Mudana Climtica ................................................................................. 69 3.2.1. O Biodiesel ................................................................................................... 72 3.2.2. Plano Nacional de Produo e Uso do Biodiesel ......................................... 79 3.2.3. Leiles de Biodiesel ..................................................................................... 85 3.2.4. Cadeia de Produo de Biodiesel ................................................................. 91 3.2.5. Panorama da Produo Mundial de Biodiesel e das Oleaginosas Utilizadas para Produo de Biodiesel .................................................................................... 98 CAPTULO 4- CARACTERIZAO SOCIOAMBIENTAL DO SEMI-RIDO NORDESTINO, A DINMICA DA AGRICULTURA FAMILIAR E A DIVERFICAO DO CULTIVO DE OLEAGINOSAS PARA A PRODUO DE BIODIESEL ..................................................................................................................102

vii

4.1. Caracterizao da Regio Nordeste ................................................................... 102 4.2. Caracterizao da Vulnerabilidade Climtica e Ambiental Atual do Semi-rido .................................................................................................................................. 105 4.3. Caracterizao da Vulnerabilidade Socioeconmica do Semi-rido................ 110 4.4. Agricultura Familiar .......................................................................................... 120 4.4.1. Aspectos Gerais da Agricultura Familiar no Semi-rido .......................... 120 4.4.2. Estrutura Fundiria, Acesso aos Recursos Produtivos e Renda ................. 122 4.4.3. Reforma Agrria ......................................................................................... 128 4.5. A Insero dos Agricultores Familiares do Semi-rido na Cadeia Produtiva do Biodiesel ................................................................................................................... 129 4.5.1. Programa Nacional de Apoio a Agricultura Familiar PRONAF ............. 130 4.5.2. Diferenciao entre os Agricultores Familiares do Semi-rido e Perspectiva de Insero na Cadeia produtiva de Biodiesel ...................................................... 136 4.5.3. Alternativas para a Convivncia com o Semi-rido .................................. 141 4.5.4. Solos e Disponibilidade de rea para o Plantio de Oleaginosas ................ 149 4.6. Caractersticas das Diferentes Oleaginosas para Fornecimento de Matria-prima pela Agricultura Familiar do Semi-rido para a Produo de Biodiesel ................. 158 4.6.1. Algodo ...................................................................................................... 158 4.6.2. Amendoim .................................................................................................. 159 4.6.3. Gergelim ..................................................................................................... 160 4.6.4. Girassol ....................................................................................................... 160 4.6.5. Mamona ...................................................................................................... 161 4.6.6. Pinho Manso ............................................................................................. 161 4.6.7. Outras oleaginosas ...................................................................................... 163 4.7. O cultivo de Oleaginosas por Agricultores Familiares como Estratgia de Adaptao s Mudanas Climticas ......................................................................... 165 4.7.1. Tradio Local de Plantio das Oleaginosas, Variedades Adaptadas ao Semirido e Zoneamento Agroclimtico. .................................................................... 165 4.7.2. Perspectivas de cultivo das Oleaginosas frente Vulnerabilidade Climtica .............................................................................................................................. 176 4.7.3. Possibilidade de Prticas Agrcolas Manuais ............................................. 180 4.7.4. Possibilidade de Consrcio, Diversificao e Utilizao dos Restos Culturais .............................................................................................................................. 181 4.7.5. Caractersticas de Solos e Benefcios da Rotao de Cultura .................... 183 4.7.6. Gerao de Renda ....................................................................................... 185 4.8. Esmagamento e Rendimento em leo .............................................................. 192 4.9. Caractersticas Fsico-Qumicas do Biodiesel oriundo das oleaginosas selecionadas .............................................................................................................. 195 4.10. Custo do Biodiesel Oriundo das Diferentes Oleaginosas ................................ 202 4.11. rea Necessria para Atender Demanda de Biodiesel ................................. 207 4.12. Mitigao s Mudanas Climticas e Aspectos Ambientais do Uso de Biodiesel .................................................................................................................................. 212 CAPTULO 5 ELABORAO DE CENRIOS DE OFERTA DE MATRIAPRIMA NO SEMI-RIDO, DE PRODUO DE BIODIESEL E DE MITIGAO DE GASES DE EFEITO ESTUFA ...............................................................................219 5.1. Anlise comparativa das oleaginosas para produo de biodiesel .................... 219

viii

5.2. Elaborao de cenrios de oferta de matria-prima para produo de biodiesel pelo cultivo de oleaginosas por agricultores familiares do semi-rido .................... 224 5.3. Cenrios de mitigao das mudanas climticas pelo plantio de oleaginosas por agricultores familiares no semi-rido para produo de biodiesel ........................... 237 5.3.1. Cenrios de mitigao pelo lado da oferta de biodiesel a partir da matriaprima dos agricultores familiares ......................................................................... 240 5.4. Mercado de Carbono ......................................................................................... 244 5.5. Anlise do potencial de contribuio para a adaptao s Mudanas Climticas .................................................................................................................................. 253 5.6. Anlise da Viabilidade dos cenrios de oferta de matria-prima, de produo de biodiesel pelos agricultores familiares do semi-rido .............................................. 260 CAPTULO 6 CONCLUSES E RECOMENDAES ..........................................265 6.1. Concluses ......................................................................................................... 265 6.1. Recomendaes ................................................................................................. 269 BIBLIOGRAFIA ...........................................................................................................274

ix

ndice de Tabelas Tabela 1 -Valores obtidos entre as diferenas das mdias de temperatura (mdia, mxima e mnima) (C) e da precipitao (mm) entre os perodos de 1991 a 2004 e 1961 a 1990, para as Regies brasileiras ................................................................................. 49 Tabela 2 - Anos de seca no Nordeste Brasileiro, coincidentes com anos de El Nio, durante os ltimos 4 Sculos .......................................................................................... 53 Tabela 3 - Aumento de temperatura do ar (C) representado pela mdia dos modelos climticos globais do IPCC TAR, para dois cenrios de emisses A2- pessimista e B2otimista, nas diversas regies do Brasil, em 2100 .......................................................... 57 Tabela 4 - Coeficientes Tcnicos do Processo de Produo de Biodiesel ................ 78 Tabela 5 Impostos Federais para produtores de Biodiesel com e sem o Selo Combustvel Social (SCS) .............................................................................................. 84 Tabela 6 - Total de Biodiesel arrematado no Nordeste e no Brasil em cada leilo da ANP, em milhes de litros.............................................................................................. 88 Tabela 7 - Preo mdio de biodiesel arrematado nos leiles da ANP, em R$ por litros .................................................................................................................... 89 Tabela 8 Capacidade de extrao de leo das indstrias associadas ABIOVE nos Estados do Brasil, em 2006 ............................................................................................ 92 Tabela 9 Situao das Usinas de Biodiesel no Brasil em 2007 .............................. 95 Tabela 10 Situao das Usinas de Biodiesel no Nordeste em 2007 ......................... 96 Tabela 11 - Produo das Refinarias de Petrleo no Brasil em 2002 ......................... 97 Tabela 12 rea Territorial Oficial dos Estados da Regio Nordeste e Semi-rido (km2), Nmero de Municpios e Populao da Regio Nordeste e Semi-rido (nmeros absolutos e percentagem) em 2000............................................................................... 111 Tabela 13 ndice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDH-M), ndice de Desenvolvimento Humano Municipal Educao, ndice de Desenvolvimento Humano Municipal Longevidade, ndice de Desenvolvimento Humano Municipal Renda e ndice de Gini Renda no Semi-rido Nordestino, 2002 ......................................................... 114 Tabela 14 - rea, Populao, Densidade Demogrfica e Taxa de Urbanizao das Regies Estratgicas de Planejamento do Semi-rido em 2000 .................................. 117 Tabela 15 rea Total (ha), rea Mdia por Estabelecimento (ha), Renda Total por rea (R$/ha) e Renda Monetria por rea (R$/ha), para as Categorias Agrcolas Familiar e Outros (patronais e outros tipos) da Regio Nordeste e Estado e Semi-rido do Cear e da Bahia, em 1996 ...................................................................................... 125 Tabela 16 - Famlias Assentadas, Famlias Acampadas e rea e Nmeros de Assentamentos para Alguns Municpios do Semi-rido Nordestino por Estado em 2006. .................................................................................................................. 128 Tabela 17 Dimenso dos Mdulos Fiscais em Hectares (ha) para cada Estado Nordestino Selecionado, em 2006 ................................................................................ 130 Tabela 18 - Grupos de Agricultores do PRONAF .................................................... 132 Tabela 19 - Brasil: Evoluo do Montante e do Nmero dos Contratos do PRONAF ... .................................................................................................................. 135 Tabela 20 rea das Unidades da Paisagem (km2) com vegetao original de caatinga e rea ocupada por cada unidade da paisagem em relao a rea total (%) ... 151 Tabela 21 Utilizao das Terras Agrcolas do Nordeste (mil hectares), 1996 ....... 155 Tabela 22 - rea Disponvel para Expanso do Plantio Sustentvel de Oleaginosas Por Agricultores Familiares do Semi-rido ....................................................................... 156

x

Tabela 23 rea Plantada (ha), Produtividade (kg/ha), Valor da Produo (R$/t) e Taxa de Crescimento da rea Plantada (%) de Produtos Selecionados, Nordeste 1996 e 2005 .................................................................................................................. 167 Tabela 24 - rea plantada (ha), Produtividade (kg/ha), Semi-rido Nordestino em 2005 .................................................................................................................. 169 Tabela 25 Cultivares de Oleaginosas Indicadas para Plantio no Semi-rido Nordestino, 2006 .......................................................................................................... 173 Tabela 26 - Faixa de Temperatura (C) e Exigncia Hdrica (mm/ano) para Oleaginosas Selecionadas ............................................................................................. 177 Tabela 27 - Possibilidade de Consrcio entre Oleaginosas e Diversas Culturas ...... 182 Tabela 28 - Custo varivel de Produo (R$/ha), Produtividade (Kg/ha), Preo Mnimo (R$/t) e Renda por Hectares por Oleaginosas em 2006 .................................. 187 Tabela 29 - Produtividades e Receitas Mdias da Cultura da Mamona em Consrcio com Diferentes Culturas em Experimentos no Semi-rido - 2004/05......................... 190 Tabela 30 - Evoluo da renda mdia mensal das famlias conta-prpria domiciliadas na rea rural da regio no-metropolitana, segundo o tipo de atividade Nordeste, 20012004 .................................................................................................................. 191 Tabela 31 - Rotas para Extrao de leos Vegetais.................................................. 193 Tabela 32 - Rendimento em leo e torta pelos processos de esmagamento e extrao de leo com solvente para diversas oleaginosas........................................................... 194 Tabela 33 - Produtividade (kg/ha), Teor de leo (%), Rendimento em leo (t leo/ha) .................................................................................................................. 195 Tabela 34 - Especificao do Biodiesel B100 ........................................................... 197 Tabela 35 - Estimativa de Custo de Extrao de leo a partir de Diferentes Oleaginosas .................................................................................................................. 204 Tabela 36 - Estimativa de Custos do Biodiesel a partir de Oleaginosas Selecionadas ... .................................................................................................................. 205 Tabela 37 - Taxas de Crescimento da Demanda de Diesel no Brasil(%a.a) ............. 208 Tabela 38 - Estimativa da Demanda de Diesel e Biodiesel (bilhes de litros/ano) ... 209 Tabela 39 rea Mdia Necessria para Atender Demanda de Biodiesel no Nordeste, Anos de 2008 e 2013(mil hectares).............................................................. 211 Tabela 40 - Relao entre a Energia Gerada (O) e a Entrada de Energia (I) para Biodiesel Oriundos de Diversas Matrias-Primas e o Etanol da Cana-de-Acar ....... 213 Tabela 41 - Comparao de Emisses do Biodiesel de Soja e do Diesel Mineral (%) ... .................................................................................................................. 215 Tabela 42 - Custo Estimado da Poluio Evitada por Diferentes Misturas de Biodiesel (R$milhes/ano), Brasil, 2003 ...................................................................................... 217 Tabela 43 Comparao entre algumas Caractersticas de Oleaginosas selecionadas... .................................................................................................................. 220 Tabela 44 - rea Disponvel para expanso do plantio de oleaginosas considerada na elaborao dos cenrios de oferta de matria-prima para Produo de Biodiesel........ 225 Tabela 45 Proporo da rea plantada com cada oleaginosa (%) em cada Estado no Semi-rido, em 2015, considerada na elaborao dos cenrios de Matria-prima....... 226 Tabela 46 Evoluo da rea plantada com oleaginosas no Semi-rido Nordestino no Cenrio 1, 2008 a 2015 ................................................................................................. 228 Tabela 47 Evoluo da rea plantada com oleaginosas no Semi-rido Nordestino no Cenrio 2, 2008 a 2015 ................................................................................................. 228 Tabela 48 - Variao da Produtividade Oleaginosa (kg/ha) no Perodo de 2008 a 2015 .................................................................................................................. 232

xi

Tabela 49 Teor de leo mdio (%) e Densidade a 20C (kg/l) para Oleaginosas Selecionadas ................................................................................................................. 233 Tabela 50 - Quantidade de biodiesel produzido (milhes de litros) a partir do plantio de oleaginosas por agricultores familiares do semi-rido no cenrio 1, no perodo de 2008 a 2015 .................................................................................................................. 233 Tabela 51 - Quantidade de biodiesel produzido (milhes de litros) a partir do plantio de oleaginosas por agricultores familiares do semi-rido no Cenrio 2, no perodo de 2008 a 2015 .................................................................................................................. 234 Tabela 52 Comparao entre a produo de biodiesel prevista nos cenrios e a capacidade de produo de biodiesel estimada para o Nordeste de 2008 a 2015 ........ 236 Tabela 53 Produo de Biodiesel a partir da Agricultura Familiar do semi-rido (milhes de litros), quantidade de diesel mineral deslocado (milhes de litros) e emisso evitada de CO2 pelo uso do biodiesel em substituio ao diesel a partir dos cenrios de oferta. .................................................................................................................. 241 Tabela 54 - Relao entre a emisses evitadas de CO2 no Cenrio 1 e Cenrio 2 e as emisses derivadas ao uso de leo diesel demandado no Nordeste e no Brasil, 2008 a 2015. .................................................................................................................. 243 Tabela 55 Emisses Evitadas e Crditos gerados pelo uso do biodiesel produzido a partir da agricultura familiar do semi-rido (Cenrios de oferta), 2008 a 2015 ........... 251 Tabela 56 -Renda bruta da comercializao dos crditos de carbono, gerado pelo uso do biodiesel produzido a partir da matria-prima dos agricultores familiares ............. 252 Tabela 57 -Renda bruta da comercializao dos crditos de carbono por metro cbico de biodiesel produzido a partir da matria-prima dos agricultores familiares ............. 253 Tabela 58 - Estimativa da Renda lquida alcanada pelo plantio de oleaginosas nos cenrios de oferta de matria-prima (R$/ha/ano) ......................................................... 255 Tabela 59 - Estimativa da Renda lquida total nos Cenrios de oferta de matria-prima (R$) .................................................................................................................. 256 Tabela 60 rea plantada com oleaginosas (de oferta), Estimativa do Nmero de famlias e da Renda mdia anual e mensal por famlia ................................................ 257

ndice de Figuras

Figura 1 Efeito Estufa ............................................................................................... 10 Figura 2 Foramento radiativo (FR) em W/m2 para Gases de Efeito Estufa e outras substncias para o ano de 2005, relativos aos valores de 1750 ...................................... 13 Figura 3 - Emisses globais de CO2 acumuladas (GtC) de 1990 a 2100 nos cenrios SRES .................................................................................................................... 33 Figura 4 - Valores mdios das temperaturas (C) (mdia, mxima e mnima) e precipitao (mm) para as regies brasileiras no perodo de 1961 a 2004. .................... 51 Figura 5 Padres de circulao atmosfrica e de anomalias de TSM no Atlntico Tropical Norte e Sul durante anos secos (a) e chuvosos (b) no Nordeste. ..................... 54 Figura 6 - Vulnerabilidade Social Seca no Semi-rido Nordestino ...................... 61 Figura 7 - Excesso (mm) e Dficit (%) de gua para o Municpio de Arco Verde/PE, para a Temperatura Inicial, Temperatura Inicial mais 2C, Temperatura Inicial mais 4C .................................................................................................................... 63

xii

Figura 8 - reas com Dficit Superior a 30 dias no Trimestre Chuvoso no Perodo de 1999 a 2003 .................................................................................................................... 65 Figura 9 - Esquema do Processo de Transesterificao ............................................ 76 Figura 10 Percentuais previstos de mistura de biodiesel ao diesel no Brasil e mercado potencial de biodiesel....................................................................................... 80 Figura 11 Agentes envolvidos no PNPB ................................................................. 90 Figura 12 Sub-regies do Nordeste........................................................................ 102 Figura 13 - rea de Incidncia de Secas ................................................................... 107 Figura 14 Vulnerabilidade do Nordeste Desertificao em 1998 ....................... 110 Figura 15 Diviso do Semi-rido de acordo com as reas Geoestratgicas do Plano de Desenvolvimento Sustentvel do Semi-rido - PDSA ........................................... 116 Figura 16 - Efeito do Tamanho da Propriedade na Produtividade do Estabelecimento . .................................................................................................................. 127 Figura 17 Fotos de algumas Tecnologias de Convivncia com Semi-rido ......... 145 Figura 18 - Abrangncia da Depresso Sertaneja ..................................................... 152 Figura 19 Mapa do Nordeste com Unidades da Paisagem com Precipitao Mdia Anual Inferior a 800mm e reas de Potencial Agrcola Baixo (a), Mdio (b) e Alto (c) .. .................................................................................................................. 153 Figura 20 - ndice de Iodo de leos Vegetais Selecionados .................................... 199 ndice de Grficos Grfico 1.- Volume de biodiesel (m3) arrematado nos cinco leiles de biodiesel da ANP .................................................................................................................... 87 Grfico 2.- Distribuio Geogrfica das Plantas de Biodiesel, por Regio em 2007 ... 94 Grfico 3.- Produo Mundial de Biodiesel, de 1991 a 2005, em 106 litros/ano .......... 99 Grfico 4.- Participao da Produo Mundial de Oleaginosas, em percentagem (%), no perodo 2005/2006. .................................................................................................. 100 Grfico 5.- Nmero de Estabelecimentos, rea Ocupada, Pessoal Ocupado e Valor Bruto da Produo da Agricultura Familiar em Porcentagem (%), para Estados Nordestinos e Nordeste, 1996....................................................................................... 121 Grfico 6.- Percentual de Estabelecimentos Familiares por rea Ocupada de acordo com Grupos de rea Total no Nordeste, em 1996 ....................................................... 123 Grfico 7.- Proporo do biodiesel com cada oleaginosa no perodo de 2008 a 2015 nos cenrios de oferta de matria-prima para produo de biodiesel ................................. 235 Grfico 8.- Emisses anuais evitadas de CO2 (GgCO2/ano) pelo uso de biodiesel em substituio ao leo diesel de 2008 a 2015................................................................... 242 Grfico 9.- Emisses anuais de CO2 pelo uso do leo diesel, biodiesel, conforme previsto no PNPB e biodiesel, produzido a partir dos agricultores familiares do semirido (cenrio 1 e cenrio 2) ......................................................................................... 249 Grfico 10.Emisses evitadas de CO2 pelo uso de biodiesel em substituio ao diesel no cenrio de referncia (PNPB) e no Cenrio 1 e 2 ......................................... 250 ndice de Fluxograma: Fluxograma 1.- Etapas da Transesterificao ............................................................... 73

xiii

Captulo 1- Introduo

1.1.Apresentao do Tema O efeito estufa um fenmeno natural causado pela presena de determinados gases na atmosfera terrestre como o vapor dgua (H2O), o metano (CH4), o xido nitroso (N2O) e o dixido de carbono (CO2). Esses gases so conhecidos como Gases de Efeito Estufa (GEE), os quais permitem a passagem da energia solar (ondas curtas) superfcie terrestre, mas absorvem e re-emitem a radiao infravermelha (ondas longas) emitida pelo planeta, dificultando que parte da energia trmica seja perdida para o espao. A temperatura mdia prxima superfcie da Terra seria cerca de 17 C abaixo de zero em razo do balano energtico natural do planeta com o sol, a atmosfera e o espao, caso no existisse esses gases. Esse fenmeno auxilia na manuteno da temperatura mdia prxima superfcie terrestre em cerca de 15C. No entanto as atividades humanas, principalmente as relacionadas queima de combustveis fsseis e s atividades de Agricultura, Silvicultura e Outros Usos do Solo (conhecido pela sigla AFOLU - Agriculture, Forestry and Other Land Use), tm aumentado a emisso de gases de efeito estufa na atmosfera. O aumento da concentrao desses gases na atmosfera relacionado as atividades humanas vem contribuindo para a intensificao do efeito estufa, afentado o balano energtico da Terra, o que tem acarretado modificaes climticas no planeta. O dixido de carbono (CO2) o principal gs de efeito estufa antropognico, apontado como o responsvel por mais de 60% do aumento do efeito estufa de origem antrpica. A concentrao de CO2 na atmosfera aumentou de 280 para 379 ppm (partes por milho) desde a revoluo industrial, sendo a principal fonte de aumento da concentrao atmosfrica de dixido de carbono nesse perodo se deve ao uso de combustveis fsseis (IPCC, 2007). Frente s ameaas de mudanas climticas, criou-se uma Conveno para estabelecer diretrizes tcnicas e polticas relacionadas s questes decorrentes do aquecimento global. Essa Conveno (Conveno-Quadro das Naes Unidas sobre Mudanas Climticas) foi adotada durante a Rio 92 como um tratado internacional de carter essencialmente universal, firmado pelos representantes de quase todos os pases do

1

mundo. A Conveno identificou duas estratgias para lidar com essas ameaas: mitigao e adaptao s mudanas climticas (UNFCCC, 2004). Segundo o IPCC1 (2001) mitigao definida como a interveno antrpica para reduzir as fontes de gases de efeito estufa ou para realar os seus sumidouros (aumento dos estoques de carbono em ecossistemas terrestre e marinhos). Porm, a dinmica da atmosfera complexa e existem diferentes variveis que atuam na sua circulao (viscosidade cinemtica, condutividade trmica, espessura da camada, gravidade, entre outras). Com isso, o sistema climtico responde ao aumento nos nveis de gases de efeito estufa com um tempo de atraso. Assim, at mesmo uma reduo imediata das emisses globais de GEE no elimina totalmente seus impactos sobre o clima (IPCC, 2001). As emisses passadas e as atuais j comprometeram o planeta, que est experimentando os impactos da mudana do clima neste sculo. O quanto antes as medidas de mitigao forem adotadas, maiores sero as facilidades de adaptao no futuro, porm a adaptao a nica resposta disponvel para os impactos que ocorrero nas prximas dcadas e antes que as medidas de mitigao possam ter efeito (STERN, 2006). Dessa forma, nas discusses sobre mudanas climticas, os impactos, a vulnerabilidade e a adaptao s mudanas climticas ganham destaque especial. De acordo com o IPCC (2001), os impactos (climticos) referem-se s conseqncias das mudanas climticas nos sistemas naturais e humanos. Considera-se vulnerabilidade climtica o nvel de reao que um determinado sistema expressa devido a uma mudana climtica especfica; adaptao refere-se aos ajustes em sistemas ecolgicos ou scio-econmicos em resposta s mudanas climticas correntes ou projetadas, resultantes de prticas, processos, medidas ou mudanas estruturais (IPCC, 2001). As medidas de adaptao e mitigao podem mostrar importante relacionamento entre elas, incluindo possveis interaes e complementaridades. A sinergia ou integrao entre estratgias de adaptao e mitigao s mudanas climticas so criadas quando a adoo de medidas de reduo das emisses de GEE tambm reduz os efeitos adversos das mudanas climticas, ou vice-versa (KANE & SHOGREN, 2000).1

IPCC - Intergovernmental Panel on Climate Change (Painel Intergovernamental sobre Mudana do Clima das Naes Unidas).O IPCC rene mais de mil cientistas de diferentes partes do mundo e o principal foro para avaliao do desenvolvimento cientfico sobre mudana do clima.

2

Os pases em desenvolvimento so os mais vulnerveis as mudanas climticas e com menor capacidade de adaptao. Nesses pases, os recursos so escassos e existem questes prioritrias e mais imediatas que s mudanas climticas, como a reduo da pobreza, a segurana alimentar, a sade, o gerenciamento dos recursos naturais, o acesso energia. Por outro lado, as mudanas climticas podem ser um importante bice ao desenvolvimento desses pases (ADGER et al., 2003). Em comparao aos outros setores da economia, a agricultura uma atividade extremamente vulnervel s mudanas climticas, uma vez que o clima o fator mais importante na determinao da sustentabilidade de sistemas de produo agrcola. As comunidades que dependem das atividades agrcolas para sua sobrevivncia esto entre as mais duramente afetadas e a populao mais vulnervel, desse grupo, so aquelas de menor renda e nvel educacional (MOTHA, 2007). No Brasil, o Nordeste, particularmente, o semi-rido Nordestino uma das regies mais vulnerveis s mudanas climticas. Essa regio representa 18% do territrio nacional (cerca de 1,5 milhes de km2), sendo 60% dessa rea localizada no semi-rido. O Nordeste abriga um tero da populao brasileira, cerca de 48 milhes de habitantes, sendo que 20 milhes vivem no semi-rido (IBGE, 2000), registrando os maiores ndices de pobreza do pas. No semi-rido o regime de chuvas irregular e escasso, com longos perodos de seca. Para a regio, os modelos climticos indicam o aumento da ocorrncia e intensidade de perodos secos, decorrentes das mudanas climticas (SILVA DIAS & MARENGO, 1999). Ao analisar a escala espacial dos fenmenos atmosfricos e ocenicos associados com a seca do Nordeste brasileiro, MOURA & KAGANO (1986) concluram que esse efeito no regional, mas a manifestao local de um fenmeno de grande escala. BUCHMANN et al. (1986) reforam que h influncia de sistemas extratropicais nas oscilaes climticas na regio, como o caso do fenmeno El Nio. Em anos de El Nio, as chuvas no semi-rido diminuem, agravando o processo de seca. O aumento na frequncia e intensidade do El Nio atinge, particularmente, o semi-rido nordestino, afetando negativamente as atividades agropecuria da regio.

3

A agricultura e a pecuria so as principais atividades econmicas de fixao da populao nordestina nas condies do semi-rido. Cerca de 80% dos estabelecimentos agrcolas nordestinos se enquadram na categoria de agricultura familiar, onde os agricultores e suas familias dependem majoritariamente das atividades agrcolas para seu sustento (INCRA/FAO, 2000). Nesse sistema de manejo, a agropecuria depende da melhor oferta de clima-solo, j que o agricultor familiar no possui alternativas tecnolgicas e econmicas para o acesso s sementes com alto poder gentico, adaptadas as condies do semi-rido, melhoria da fertilidade dos solos e a irrigaes nos perodos crticos de escassez hdrica. Sob esse panorama, os agricultores familiares locais apresentam-se como grupo social mais vulnervel s mudanas climticas. Em face vulnerabilidade scio-ambiental da regio, vrios programas e aes de Governo j foram estruturados e implementados visando o combate a seca no Nordeste e o desenvolvimento dessa regio. Em 2004, o Governo Federal lanou o Programa Nacional de Produo e Uso do Biodiesel PNPB, com o objetivo de fomentar a produo e uso do biodiesel no Brasil e promover a incluso social do agricultor familiar, gerando renda e emprego, pela insero de agricultor na cadeia produtiva do biodiesel. A utilizao de biodiesel em substituio parcial ao uso do leo diesel pode resultar em reduo das emisses de gases de efeito estufa para a atmosfera. Vrias seriam as vantagens em inserir o agricultor familiar do semi-rido na cadeia produtiva do biodiesel. Alm da possibilidade de gerao de renda e empregos agrcolas, o apoio a insero dos agricultores familiares do semi-rido na cadeia produtiva de biodiesel tende a fomentar a diversificao de cultivos agrcolas nessa regio. Atualmente no semi-rido existem poucas opes de diversificao de cultivos compatveis com as restries de solo e clima e com os sistemas produtivos adotados pelos agricultores familiares. A demanda por matria-prima para a produo de biodiesel pode aumentar s chances de seleo e melhoramento de espcies oleaginosas aptas ao desenvolvimento nas condies edafoclimticas e sistemas produtivos atuais do semi-rido. Alm disso, a prpria organizao da cadeia produtiva do biodiesel pode funcionar como um vetor de desenvolvimento regional, gerando no s empregos agrcolas, mas tambm empregos no agrcolas, tendendo a dinamizar a economia local.

4

A questo da adaptao s mudanas climticas pode ser analisada sob o ponto de vista da reduo da pobreza e do fortalecimento dessas comunidades vulnerveis. Por outro lado, o uso do biodiesel em substituio parcial ao leo diesel resulta na reduo de emisses de gases de efeito estufa para a atmosfera. A reduo de emisso de carbono decorrente do uso de biodiesel produzido a partir da matria-prima dos agricultores familiares em substituio ao leo diesel pode ser analisada como uma estratgia de mitigao s mudanas climticas. O objetivo geral da tese analisar o plantio de oleaginosas por agricultores familiares do semi-rido nordestino para a produo de biodiesel como uma estratgia de adaptao e mitigao s mudanas climticas. A insero do agricultor familiar na cadeia produtiva do biodiesel analisada no s quanto ao potencial de gerao de renda e empregos decorrente do plantio de oleaginosas, mas, tambm, quanto ao potencial de difuso e diversificao de oleaginosas que apresentam aptido para o cultivo sob as condies scio-econmicas e ambientais particulares da agricultura familiar do semi-rido. Para cada oleaginosa selecionada so analisados os aspectos produtivos e econmicos (referentes fase agrcola), os aspectos relativos ao rendimento em leo, caractersticas fsico-qumicas dos leos para produo de biodiesel e o custo de biodiesel. Adicionalmente estimado o potencial de reduo de emisses de CO2 pelo uso do biodiesel produzido a partir da matria-prima fornecida pelos agricultores familiares do semi-rido, ou seja, o potencial de mitigao das emisses de CO2 resultante da insero do agricultor familiar na cadeia produtiva do biodiesel. Parte-se, portanto, da hiptese que a insero dos agricultores familiares do semi-rido na cadeia produtiva do biodiesel uma estratgia de adaptao e mitigao s mudanas climticas.

1.2. Objetivos especficos

Para atingir o objetivo acima proposto foram estabelecidos os seguintes objetivos especficos:

5

Elaborar cenrios de expanso do cultivo de oleaginosas para produo de biodiesel e de potencial de mitigao de carbono pelo uso do biodiesel em substituio ao leo diesel. Identificar as barreiras para a difuso do plantio de oleaginosas por agricultores familiares do semi-rido para produo de biodiesel. Identificar os requisitos necessrios viabilizao do cultivo de oleaginosas por agricultores familiares do semi-rido nordestino. Analisar o potencial de contribuio da difuso do cultivo de oleaginosas por agricultores familiares do semi-rido Nordestino para produo de biodiesel, como estratgia de adaptao s mudanas climticas. Analisar o potencial do uso de biodiesel em substituio ao leo diesel como estratgia de mitigao.

1.3. Abordagem Metodolgica

Os levantamentos das informaes e dados gerais da Tese foram baseados em reviso de literatura e contemplam as informaes referentes ao Programa Nacional de Produo e Uso de biodiesel, dados sobre o biodiesel, aspectos tcnicos relacionados produo do biodiesel, dados socioeconmicos e ambientais do semi-rido Nordestino, dados gerais sobre a dinmica da agricultura familiar e os aspectos tcnicos gerais do cultivo de oleaginosas. A participao nos projetos South South North 2 (SSN fase 2)2, Development & Climate (fase 2)3 e Projeto Petrobrs4 foi fundamental para elaborao da Tese, pois auxiliou na deciso de desenvolver uma proposta de anlise estratgica de cultivos de oleaginosasO projeto South South North 2 (SSN fase 2) envolve o Brasil, a frica do Sul, Bangladesh, Indonsia, Moambique e Tanznia. O objetivo do SSN identificar aes e formular projetos que alcancem a reduo da pobreza nas comunidades localizadas nos pases em desenvolvimento, atravs da implementao de prticas sustentveis de mitigao e adaptao mudana climtica. 3 O projeto Development & Climate, que uma iniciativa de 12 institutos de pesquisa internacionais, envolvendo pases tanto do Hemisfrio Norte quanto do Hemisfrio Sul, explora a idia da construo de polticas climticas e ambientais, em funo das prioridades de desenvolvimento dos pases do Hemisfrio Sul. 4 O projeto Petrobrs uma iniciativa da gerncia de gs e energia e da gerncia de responsabilidade social da empresa, cuja coordenao do Instituto de Economia da UFRJ e que visa a elaborao do Plano de Ao para a Incluso do Agricultor Familiar como fornecedor de matria-prima para as plantas de biodiesel da Petrobrs em Candeias - BA, Quixad-CE e Montes Claro-MG)2

6

por agricultores familiares para produo de biodiesel, visando a adaptao e mitigao s mudanas climticas. A partir da participao nesses projetos, foi possvel o conhecimento sobre as experincias de integrao das estratgias de mitigao, adaptao e desenvolvimento sustentvel, como uma alternativa para beneficiar as comunidades, particularmente vulnerveis s mudanas climticas. Especialmente, o Projeto Petrobrs oportunizou o conhecimento de resultados prticos quanto dinnica utilizada por agricultores familiares do semi-rido, nos Estados da Bahia e do Cear, como fornecedores de matria-prima produo de biodiesel. 1.4. Estruturao da Tese

A Tese est estruturada em seis captulos. O captulo 1 composto da introduo da Tese, propriamente dita, ressaltando a relevncia do tema e a viabilidade da pesquisa, objetivo geral e especficos e abordagem metodolgica. Nesse captulo apresentado o problema que ser discutido no desenvolvimento da tese, ou seja, a anlise de cultivos de oleaginosas por agricultores familiares do semi-rido Nordestino para produo de biodiesel, como alternativa para reduzir a vulnerabilidade dessa populao, frente aos impactos das mudanas climticas projetados para regio e a anlise do potencial de mitiao pelo uso do biodiesel em substituio (parcial) ao leo diesel. No captulo 2 apresentado o tema Mudanas Climticas. So abordados o conhecimento cientfico atual sobre o tema; as negociaes internacionais referentes s mudanas climticas, com nfase na Conveno do Clima, no Protocolo de Quioto e na Evoluo das Negociaes. Nessa abordagem, busca-se dar uma viso geral sobre o cenrio poltico relacionado as questes de mitigao e adaptao s mudanas climticas. So apresentados os conceitos de impactos, vulnerabilidade, adaptao e comentado sobre a sinergia de estratgias de mitigao e adaptao s mudanas climticas. O captulo 3 refere-se s questes de adaptao e mitigao no Brasil e s Polticas Nacionais relativas ao Biodiesel. So apresentadas as projees das mudanas climticas no Brasil, com nfase no Nordeste e semi-rido, a partir dos modelos climticos regionais elaborados para o Brasil e os impactos e as vulnerabilidades s 7

mudanas climticas no semi-rido. Ressaltam-se as vulnerabilidades climticas do semi-rido, o fenmeno El Nio e os impactos no setor agrcola. Nessa parte tambm esto includas a apresentao da Poltica de Promoo do Uso do Biodiesel no Brasil, do Plano Nacional de Produo e Uso do Biodiesel, e os aspectos tcnicos e mercadolgicos do biodiesel. O captulo 4 apresenta a caracterizao do semi-rido Nordestino, abrangendo os aspectos ambientais, as condies edafoclimticas atuais e os aspectos socioeconomicos. A seguir mostra-se uma anlise da dinmica da agricultura familiar nesse contexto, incluindo os aspectos socieconomicos gerais dessa populao rural, a estrutura fundiria e os aspectos relacionados s prticas de sobrevivncia dos agricultores familiares neste ambiente. So abordadas as prticas agrcolas correntes, os cultivos de subsistncia e a questo da reforma agrria. Nesse contexto, discutem-se alguns aspectos relevantes para a insero dos agricultores familiares do semi-rido na cadeia produtiva do biodiesel, como o acesso ao crdito, tcnicas de convivncia com o semi-rido, perspectiva de insero dos diferentes grupos de agricultores familiares na cadeia produtiva de biodiesel, a disponibilidade de solos para a expanso do cultivo de oleaginosas e as alternativas de cultivos de oleaginosas por agricultores familiares do semi-rido, particularmente, o algodo, o amendoim, o girassol, o gergelim e a mamona. Tambm so citadas outras oleaginosas com potencial para produo de biodiesel, como o pinho manso, oitica e moringa. Em seguida realizada a anlise, propriamente dita, do cultivo de oleaginosas por agricultores familiares para produo de biodiesel como estratgia de adaptao s mudanas climticas. Neste captulo so levantados os aspectos particularmente importantes sobre as culturas analisadas, desde a tradio de cultivo local, passando pela gerao de renda, rendimento em leo e caratersticas fsico-qumicas do biodiesel e o custo de produo desse biocombustvel a partir de cada oleaginosa selecionada para anlise. Tambm so estimadas as demandas de diesel e do biodiesel no Nordeste, as reas de plantio necessrias para cada oleaginosa analisada atender a demanda por esse biocombustvel e os aspectos ambientais do uso do biodiesel em substituio ao leo diesel. No captulo 5 so elaborados cenrios de fornecimento de matria-prima para produo de biodiesel a partir do cultivo de oleaginosas produzidas pelos agricultores familiares.

8

Esses cenrios consideram que todas as oleaginosas analisadas, com maior ou menor viabilidade, sero plantadas nas reas estimadas como disponvel para a expanso de oleaginosas. A partir desses cenrios so calculadas a produo de biodiesel, considerando as prticas culturais adotadas pelos agricultores familiares, a produo atual de oleaginosas, a estimativa de produo futura e a estimativa de produo de leo a partir das oleaginosas. A produo de biodiesel em cada cenrio comparada a produo de biodiesel das usinas previstas para operar no Nordeste. Tambm so elaborados cenrios de reduo de emisso de CO2 pelo uso do biodiesel produzido a partir do cultivo de oleagionosas pelos agricultores familiares do semirido Nordestino (cenrios de mitigao). So discutidas tambm as oportunidades de insero dessa proposta no escopo das negociaes internacionais de mudanas climticas, da adaptao e mitigao s mudanas climticas no Brasil e das Polticas Nacionais relativas ao Biodiesel. No captulo 6 so apresentadas as concluses e recomendaes da Tese.

9

Captulo 2 Mudana Climtica 2.1 As Mudanas Climticas e o Conhecimento Cientfico O efeito estufa um fenmeno natural, causado pela presena de determinados gases na atmosfera terrestre como o vapor dgua (H2O), o metano (CH4), o xido nitroso (N2O) e o dixido de carbono (CO2), que permitem a passagem da energia solar para a superfcie da terra, mas absorvem e re-emitem a radiao infravermelha (radiao trmica) emitida pelo planeta, dificultando que parte desta energia trmica seja perdida para o espao. A maior parte da irradiao infravermelha que a Terra emite absorvida pelo vapor dgua, pelo dixido de carbono e outros "gases de efeito estufa" que existem naturalmente na atmosfera. Sem a presena desses gases na atmosfera, conhecidos como gases de efeito estufa, a temperatura mdia prxima superfcie da Terra seria cerca de 17 C abaixo de zero (GATES, 1983). A Figura 1 mostra a dinmica do efeito estufa causado pela presena destes gases na atmosfera.

Fonte: http://www.nccnsw.org.au/member/cipse/context/ Figura 1 Efeito Estufa

10

Note-se que o esquema da Figura 1 indica que grande parte da energia da Terra vem do sol (1). Parte da energia do sol que alcana a atmosfera terrestre refletida de volta ao espao (2), enquanto que alguns comprimentos de onda so absorvidos pela camada de oznio (3). A energia do sol que alcana a superfcie da Terra a aquece (4), e por sua vez, a Terra irradia energia mas em comprimentos de onda maiores que as do sol (5). Se toda esta energia escapasse de volta para o espao (6), a temperatura da Terra seria de 17oC abaixo de zero em vez de 15oC como em mdia. Isto ocorre graas presena de gases de efeito estufa na atmosfera que aprisionam parte desta energia de maior comprimento de ondas, contribuindo para manter a Terra aquecida (7). As atividades humanas, principalmente s relacionadas queima de combustveis fsseis e s atividades de Agricultura, Silvicultura e Outros Usos do Solo (conhecido pela sigla AFOLU - Agriculture, Forestry and Other Land Use), tm aumentado a liberao de gases de efeito estufa (GEE) para a atmosfera, intensificando o efeito estufa5. Os principais GEE derivados dessas atividades so: dixido de carbono (CO2), metano (CH4), xido nitroso (N2O), hidrofluorcarbonetos (HFCs), perflurcarbonetos (PFCs), clorofluorcarbonetos (CFCs) e o hexafluoreto de enxofre (SF6). Contudo, o CO2 considerado responsvel por mais de 60% do aumento do efeito estufa, isso porque sua concentrao na atmosfera bem maior do que a dos outros gases de efeito estufa antrpicos. A mudana das concentraes e distribuies atmosfricas dos gases de efeito estufa produz um foramento radiativo6, alterando a reflexo ou a absoro da radiao solar e da radiao terrestre. O foramento radiativo uma medida de mudana na quantidade de energia disponvel no sistema Terra-atmosfera7, no qual, mantido todo o resto constante, um aumento das concentraes de determinados GEE na atmosfera produz

Tambm as atividades humanas relacionadas produo de cimento, s atividades industriais e a deposio e tratamento de resduos contribuem para o aumento de efeito estufa, porm em proporo bem menor do que as categorias citadas. 6 Foramento radiativo definido como a mudana na radiao vertical lquida (expressa em W/m2) na tropopausa (fronteira entre a troposfera e a estratosfera) devida a uma mudana interna ou a uma mudana externa do sistema climtico (IPCC, 2001). Ou seja uma medida da influncia de um fator na alterao do equilbrio da energia que entra e que sai do sistema Terra-atmosfera. O foramento positivo tende a contribuir para o aquecimento da superfcie, enquanto o foramento negativo tende a contribuir para o esfriamento. 7 A atmosfera pode ser dividida em camadas, sendo a troposfera at 15 km de altura, estratosfera da altura de 15 a 50 km e a mesosfera de 50 a 90 km de altura.

5

11

um foramento radiativo positivo - um aumento lquido na absoro de energia pela Terra. As propriedades radiativas controlam a absoro da radiao por quilograma de gs presente a um determinado instante, mas o tempo de vida controla o perodo em que uma quantidade emitida de GEE fica retida na atmosfera8 e, portanto, capaz de influenciar no estoque trmico, ou seja, de alterar o equilibrio energtico do sistema climtico. O sistema climtico responde s mudanas no estoque trmico em escalas de tempo que vo da ordem de meses a milnios, dependendo dos processos que ocorrem entre a superfcie da terra e a atmosfera. Figura 2 mostra as estimativas da mdia global do foramento radiativo (FR) para o dixido de carbono (CO2), o metano (CH4), o xido nitroso (N2O), vapor dgua (H2O), oznio (O3) e de outras substncias. Os nmeros entre parnteses na coluna de FR (foramento radiativo) so faixas estimadas para o FR dos GEE e outras substncias em 2005, relativos s condies pr-industriais definidas em 1750. A Figura 2 apresenta, tambm, a escala espacial tpica do foramento radiativo (global, local ou continental) e o nvel avaliado de compreenso cientfica (NCC).

8 O tempo de vida atmosfrico definido como uma carga (Tg = 1012g) dividida pelo sumidouro global mdio (Tg/ano) de um gs em um estado estacionrio (i.e., de carga constante). Por exemplo, para uma carga de 100 Tg de um gs X onde este gs decai em 10 Tg/ano, seu tempo de vida de 10 anos. (IPCC, 2001a).

12

Fonte: IPCC, 2007 Figura 2 Foramento radiativo (FR) em W/m2 para Gases de Efeito Estufa e outras substncias para o ano de 2005, relativos aos valores de 1750 O total do foramento radiativo devido ao aumento da concentrao de dixido de carbono, metano e xido nitroso de +2,30 (+2,07 a +2,53) Wm-2 (Figura 2). De acordo com o IPCC (2007), a concentrao atmosfrica global de dixido de carbono aumentou de um valor pr-industrial de cerca de 280 ppm para 379 ppm em 2005; a concentrao atmosfrica global do metano aumentou de um valor pr-industrial de cerca de 715 ppb9 para 1732 ppb no incio da dcada de 90, sendo de 1774 ppb em 2005 e a concentrao atmosfrica global de xido nitroso aumentou de um valor pr-industrial de cerca de 270 ppb para 319 ppb em 2005. A principal fonte de aumento da concentrao atmosfrica de dixido de carbono desde o perodo pr-industrial se deve ao uso de combustveis fsseis, mas s mudanas no uso da terra contribuem com uma parcela menor, entretanto bastante significativa, de cerca de 25% das emisses totais de dixido de carbono na dcada de 90 (IPCC, 2007). Tanto o aumento da concentrao de metano quanto de xido nitroso esto principalmente relacionados as atividades agropecurias (plantio de arroz inundado, pecuria e uso de fertilizantes). O vapor dgua o nico constituinte da atmosfera que muda de estado em condies naturais, sendo o responsvel pela formao das nuvens e por uma extensa srie de9

ppb parte por bilho

13

fenmenos atmosfricos, como a chuva, neve e orvalho. O vapor d gua intefere na distribuio da temperatura na atmosfera, participa ativamente dos processos de absoro e emisso de calor sensvel pela atmosfera e atua como veculo de energia ao transferir calor latente de evaporao de uma regio para a outra, o qual liberado na forma de calor sensvel, quando o vapor se condensa. Um aumento da temperatura da atmosfera amplia sua capacidade de reteno de gua e deve ser seguido por um aumento da quantidade de vapor dgua. Como o vapor dgua um poderoso gs de efeito estufa, o aumento do vapor dgua levaria, por sua vez, a um aumento do efeito estufa (um feedback positivo). O teor mdio de vapor dgua na atmosfera e na alta troposfera vem aumentando desde da dcada de 80, sendo esse aumento coerente com a quantidade extra de vapor dgua que o ar mais quente consegue carregar (IPCC, 2007), causando um foramento radiativo positivo (Figura 2). Gases como o CO2, CH4, N2O e os halognios (HFCs, PFCs CFCs e o SF6 ) so GEE com efeito direto no foramento radiativo, sua simples presena na atmosfera representa um foramento radiativo positivo, provocando um aquecimento. Porm, o dixido de carbono, o metano e o xido nitroso so constantemente emitidos e removidos da atmosfera por processos naturais, as atividades humanas esto apenas aumentando a concentrao desses gases na atmosfera. Por outro lado, os halognios e o SF6 so gases sintetizados pelo homem e permanecem na atmosfera (o SF6 por 23.900 anos). O oznio estratosfrico um importante gs de efeito estufa. As mudanas na concentrao do oznio estratosfrico provocam um foramento radiativo. O progressivo aquecimento do ar com a altitude na estratosfera devido liberao de energia no processo de formao do oznio. O oznio estratosfrico uma componente chave na absoro da radiao ultravioleta, protegendo a vida contra os efeitos nocivos desta radiao. Redues no oznio estratosfrico tm ocorrido desde a dcada de 70, principalmente na baixa estratosfera (buraco na camada de oznio). A perda de oznio na baixa estratosfera nos ltimos 15 a 30 anos provocou uma mdia global de foramento radiativo negativo (Figura 2). Esse foramento radiativo negativo representa um efeito indireto dos compostos antrpicos de cloro e bromo.

14

No que se refere ao oznio troposfrico, este produzido a partir de complexas reaes qumicas envolvendo principalmente CH4, CO, COVNM (Compostos Orgnicos Volteis no Metnicos) e NO2, na presena da luz sendo, portanto, um poluente secundrio. A concentrao do O3 troposfrico, tais como de outros poluentes locais tem vida curta e, portanto, varia espacialmente. As mudanas no oznio troposfrico tm conseqncias potenciais importantes para o foramento radiativo. O foramento radiativo mdio global devido ao oznio troposfrico positivo (Figura 2). Outros gases como o monxido de carbono (CO), dixido de nitrognio (NO2), dixido de enxofre (SO2) alm do oznio troposfrico (O3) contribuem para o aumento do efeito estufa, mas de forma indireta ou por interferirem no ciclo dos GEE ou alterando o albedo10. Os Aerossis so pequenas partculas slidas ou lquidas que se encontram na atmosfera que so emitidas j como partculas por tempestades de poeira e atividades vulcnicas ou por processos antropognicos, tais como queima de combustveis fsseis e de biomassa e atividades agrcolas (p.ex. sulfato, carvo e fuligem). Podem, tambm, ser criadas a partir de reaes qumicas e fsicas na atmosfera (aerossis secundrios) pela reao de CO, SOx, NOx e outros gases denominados precursores.Os aerossis tm tanto efeitos diretos quanto indiretos no foramento radiativo. No primeiro caso, ora aquecendo (black carbon), ora esfriando (partculas de sulfato e partculas orgnicas) e, no segundo caso, aumentando a quantidade de gotculas que modificam a formao, a eficincia de precipitao e as propriedades radiativas das nuvens (albedo das nuvens e quantidade de nuvens). Entretanto, o efeito de resfriamento prevalece sobre o do aquecimento. A alterao da temperatura da superfcie da terra correspondente variao do foramento radiativo determinado pela emisso dos GEE na atmosfera estimada por modelos climticos11.. A redistribuio de energia dentro da atmosfera e entre a10

Frao da radiao solar refletida por uma superfcie ou objeto, freqentemente expressa como um percentual. O albedo dos solos varia, conforme o tipo de superfcie. Superfcies cobertas de neve tm um albedo alto; superfcies cobertas com vegetao e oceanos tm um albedo baixo. O albedo da terra varia principalmente em funo da nebulosidade, neve, gelo, reas folhadas e mudanas na cobertura da terra. (IPCC, 2001).

Modelos climticos so representaes numricas do sistema climtico, baseados nas suas propriedades fsicas, qumicas e biolgicas de seus componentes, nas suas interaes e nos processos de retro-alimentao. Os modelos climticos so tratados com maiores detalhes na seo 2.3. desse trabalho.

11

15

atmosfera, a terra e os oceanos, afeta o clima e tempo12 do planeta. O aumento da concentrao dos GEE altera as temperaturas atmosfricas, ocenicas e os correspondentes padres de circulao e tempo, acarretando mudanas no ciclo hidrolgico como, por exemplo, alteraes na distribuio das nuvens e mudanas nos regimes de precipitao e evaporao. As variaes relativas s mudanas antrpicas no clima que ocorrem adicionalmente e sobreposto s variaes climticas naturais, podem ser definidas como mudanas climticas13. O aquecimento global e a conseqente mudana no sistema climtico do planeta representam um grande desafio que se apresenta humanidade neste sculo. Destaca-se, entre outros, que o aumento da temperatura mdia do planeta relacionado ao derretimento das geleiras e das calotas polares, elevao do nvel dos oceanos devido ao derretimento das geleiras e ao aumento da temperatura dos oceanos (expanso trmica), as mudanas no regime de chuvas, intensificao de fenmenos climticos extremos, como furaces, ciclones e tempestades. Porm, apesar do crescente conhecimento cientfico sobre as questes das mudanas climticas, a certeza cientfica sobre a responsabilidade antropognica nas mudanas climticas globais tem sido um processo lento e cauteloso, principalmente devido dificuldade de se distinguir entre as mudanas antrpicas do clima e as variaes climticas naturais ao longo do tempo. Nesse sentido, cabe salientar, que datam da dcada de 80, as primeiras publicaes das evidncias cientficas que indicam que as emisses de Gases de Efeito Estufa (GEE) provenientes das atividades humanas esto relacionadas mudana climtica global. Em 1988, foi criado pela Organizao Meteorolgica Mundial - OMM e pelo Programa das Naes Unidas para o Meio Ambiente - PNUMA, o Painel Intergovernamental sobre Mudana do Clima das Naes12 O tempo e o clima so conceitos usados em Meteorologia para se entender o comportamento da atmosfera em diferentes "intervalos de tempo". O tempo em uma determinada regio do planeta pode ser considerado como a soma da ao de diversas variveis atmosfricas (por exemplo: chuva, sol e vento) num limitado e curto perodo de tempo, j o clima (da referida regio) seria o comportamento mdio da atmosfera por um longo perodo de tempo: meses ou anos. 13 Para a Conveno Quadro das Naes Unidas para Mudana do Clima (UNFCCC) que ser tratada na prxima seo deste trabalho, a definio do termo Mudanas Climticas : a mudana do clima que atribuda direta ou indiretamente s atividades antropognicas, as quais alteram a composio da atmosfera global e que so adicionais s variaes climticas naturais, observadas e comparadas por perodos de tempo. O termo Mudanas Climticas bastante genrico, pois engloba vrios assuntos, tais como o efeito estufa, as causas da intensificao deste fenmeno natural, as conseqncias do aquecimento global, as medidas necessrias para prevenir ou minimizar (mitigar) este aquecimento, e tambm as provveis medidas que a humanidade dever adotar para se adaptar a esta mudana, conforme ser comentado nas prximas sees.

16

Unidas, conhecido pela sua sigla em ingls- IPCC Intergovernmental Panel on Climate Change. O IPCC rene mais de mil cientistas de diferentes partes do mundo e o principal foro para avaliao do desenvolvimento cientfico sobre mudana do clima. O IPCC produz Ensaios Tcnicos e Relatrios Especiais sobre assuntos especficos relacionados mudana climtica e realiza tambm importantes estudos para o aperfeioamento das metodologias de estimativa das emisses de gases de efeito estufa. Os trabalhos do IPCC so apoiados nos avanos no conhecimento cientfico do clima passado e presente, nos registros da variabilidade climtica natural e na previso das mudanas climticas futuras. Periodicamente, a cada 5 ou 6 anos, o IPCC publica relatrios de avaliao das mudanas climticas, divididos em trs volumes, cada qual referente a um grupo de trabalho do IPCC. O Grupo de trabalho 1 trata da avaliao da cincia da mudana global do clima. O Grupo de trabalho 2 ocupa-se da avaliao da vulnerabilidade14 da humanidade e dos sistemas naturais s mudanas climticas, bem como, das opes para a adaptao s mudanas climticas. O Grupo 3 analisa as possibilidades de limitao de emisses de gases do efeito estufa (GEE), relacionadas mitigao da mudana climtica e as conseqncias destas medidas do ponto de vista scio-econmico. O IPCC publicou seu primeiro relatrio de avaliao em 1990 e est publicando em 2007 seu quarto relatrio de avaliao. A seguir sero comentadas algumas concluses dos relatrios do IPCC, realando a evoluo das evidncias cientficas das mudanas climticas antrpicas. O Primeiro Relatrio de Avaliao (First Assessment Report - FAR) do IPCC, afirmava que a mudana climtica representava, de fato, uma ameaa humanidade, sugerindo a adoo de um tratado internacional sobre o tema. O relatrio citava que o aumento das concentraes atmosfricas de GEE desde o perodo pr-industrial15,havia alterado o balano de energia da Terra/atmosfera, provocando um aquecimento global. Quanto ao aumento da temperatura, as simulaes dos modelos do aquecimento global tenderamOs conceitos de vulnerabilidade, adaptao e mitigao s mudanas climticas encontram-se nas na seo 2.3. Porm, de acordo como o IPCC (2001) vulnerabilidade a sensibilidade de um sistema a uma determinada mudana do clima, adaptao a capacidade do sistema se ajustar s novas condies ou de se antecipar a elas e, mitigao a interveno antropognica para reduzir as fontes de gases de efeito estufa ou para realar os seus sumidouros (locais ou processos que eliminam o carbono). 15 O perodo pr-industrial definido como os vrios sculos anteriores a 1750. A concentrao do GEE, normalmente, carbono so estimadas atravs de amostras de gelo.14

17

para uma estimativa central de cerca de 1C, devido ao aumento observado das concentraes de gases de efeito estufa no ltimo sculo, enquanto a anlise do registro instrumental da temperatura, revelaram um aquecimento de cerca de 0,5C no mesmo perodo. Os aerossis antrpicos foram considerados uma possvel fonte de esfriamento regional, mas no foi apresentada nenhuma estimativa quantitativa dos seus efeitos. O relatrio concluiu que o aumento observado poderia ser devido principalmente a essa variabilidade climtica natural. Portanto, a qualidade e a quantidade de informao sobre o clima no permitiam afirmar categoricamente que a mudana do clima j estava ocorrendo (IPCC, 1990). No segundo Relatrio de Avaliao (Second Assessment Report SAR) do IPCC, publicado cinco anos depois do primeiro, foram examinadas questes relativas magnitude relativa dos fatores humanos e naturais em provocar mudanas no clima, incluindo o papel dos aerossis; como a influncia humana sobre o clima atual poderia ser detectada; e estimativas da mudana futura do clima e do aumento do nvel do mar tanto em escala global como continental a partir da Revoluo Industrial. O relatrio cita que a temperatura mdia global do ar na superfcie aumentou em torno de 0,3 a 0,6C desde o final do sculo 19. O balano das evidncias indicava uma ntida influncia das atividades humanas sobre o clima, mas de acordo como o relatrio, os trabalhos deveriam continuar no sentido de distinguir o sinal antrpico sobre clima do rudo de fundo da variabilidade climtica natural. O Terceiro Relatrio de Avaliao do IPCC (Third Assessment Report TAR), publicado em 2001, cita que as aes decorrentes das atividades antrpicas provocavam alteraes na biosfera, resultando na quase duplicao de gases de Efeito Estufa, durante o perodo de 1750 a 1998 (IPCC, 2001a). No sculo 20, a temperatura global da superfcie da terra aumentou em 0,6 0,2C. Segundo o relatrio era provvel (probabilidade maior que 66%) que o aumento de temperatura observado desde a metade do sculo 20 seja resultado do aumento das concentraes de gases de efeito estufa na atmosfera, provocados por atividades humanas. As conseqncias previstas eram que a mudana climtica global acarretaria impactos em todos os setores econmicos de todas as regies do planeta, causando prejuzos a todos os seres vivos, em diferentes graus e intensidade, dependendo das condies locais. As Mudanas

18

Climticas, no IPCC, foram definidas neste relatrio como as variaes estatisticamente significativas no estado do clima (pela mdia da temperatura) ou em sua variao, persistentes por um longo perodo de tempo (dcadas ou centenas de anos), podendo ser decorrentes de um processo interno natural ou por foras externas, ou por persistentes interferncias antropognicas na composio da atmosfera ou uso da terra. O quarto relatrio de avaliao do IPCC (Fourth Assessment Report FAR) afirma que a concentrao atmosfrica global de dixido de carbono aumentou de um valor prindustrial de cerca de 280 ppm16 para 379 ppm em 2005 (IPCC, 2007). De acordo com o relatrio, a taxa anual de crescimento da concentrao de dixido de carbono nos ltimos dez anos foi em mdia de 1,9 ppm por ano (mdia de 1995-2005). Esse valor maior do que a taxa mdia de crescimento desde o comeo da medio continua e direta da concentrao de CO2 na atmosfera (1960-2005 mdia: 1,4 ppm por ano), apesar de existir variaes de crescimento de um ano para outro. O relatrio afirma que "muito provvel" (probabilidade maior que 90%) que o aumento de temperatura observado desde a metade do sculo 20 seja resultado do aumento das concentraes de GEE na atmosfera, provocado pelas atividades humanas. Conclui que essas emisses tm causado o aquecimento do sistema climtico e este est inequivocamente relacionado s observaes de aumento global das temperaturas do ar e dos oceanos, derretimento de gelo e neve em larga escala e aumento global do nvel dos oceanos (IPCC, 2007).

2.2 As negociaes internacionais

2.2.1 A Conveno do Clima Em resposta aos problemas ambientais ligados s mudanas climticas globais, a comunidade internacional adotou a Conveno Quadro das Naes Unidas sobre Mudana do Clima (CQNUMC) - conhecida internacionalmente pela sigla UNFCCCUnited Nations Framework Convention on Climate Change - em 1992. A CQNUMC, foi aprovada e aberta para assinatura durante a Conferncia das Naes Unidas sobre

16 Partes por milho (ppm) refere-se a razo do nmero de molculas de gases de efeito estufa em relao ao nmero total de molculas de ar seco. Por exemplo, 300 ppm significam 300 molculas de um gs de efeito estufa por milho de molculas de ar seco.

19

Meio Ambiente e Desenvolvimento (UNCED), realizada no Rio de Janeiro no ano de 1992, quando mais de 150 pases assinaram a Conveno. De acordo com seu Artigo 2, o objetivo final da Conveno alcanar a estabilizao das concentraes dos gases de efeito estufa em nvel que impea interferncias antrpicas perigosas ao sistema climtico. Esse nvel dever ser alcanado num prazo suficiente que permita aos ecossistemas adaptarem-se naturalmente mudana do clima, que assegure que a produo de alimentos no seja ameaada e que permita ao desenvolvimento econmico prosseguir de maneira sustentvel (UNFCCC, 1994). Os pases signatrios da Conveno, tambm chamados de Partes da Conveno, esto divididos em grupos. Os pases membros da Organizao para Cooperao e Desenvolvimento Econmico (OCDE), representados pelos pases industrializados, com economias de mercado e com economia de transio (antigo bloco sovitico), compem o grupo de pases do Anexo I17. Os pases no listados no Anexo I so os pases em desenvolvimento, incluindo o Brasil. Alguns princpios orientam as Partes para o alcance do objetivo final da Conveno. Dentre esses princpios consta que todas as Partes devem proteger o sistema climtico em benefcio das geraes presentes e futuras com base na eqidade18 e em conformidade com suas responsabilidades comuns, mas diferenciada em funo da contribuio histrica pelas emisses de GEE e da capacidade atual econmica e tecnolgica dos pases (Artigo 3.1). Alm disso, pelo princpio da precauo, as Partes devem adotar medidas para prever, evitar ou minimizar as causas da mudana do clima e mitigar seus efeitos negativos, de acordo com seus diferentes contextos scioeconmicos (Artigo 3.2). Tambm um princpio da Conveno, o direito ao

Pases do Anexo I: Alemanha, Austrlia, ustria, Belarus, Blgica, Bulgria, Canad, Comunidade Econmica Europia, Crocia, Dinamarca, Eslovnia, Espanha, Estados Unidos da Amrica, Estnia, Federao Russa, Finlndia, Frana, Grcia, Hungria, Irlanda, Islndia, Itlia, Japo, Letnia, Liechtenstein, Litunia, Luxemburgo, Mnaco, Noruega, Nova Zelndia, Pases Baixos, Polnia, Portugal, Reino Unido da Gr-Bretanha e Irlanda do Norte, Repblica Tcheca, Repblica Eslovaca, Romnia, Sucia, Sua, Turquia, Ucrnia. (pases em processo de transio para uma economia de mercado) 18 Abordagens com relao equidade tm sido classificadas em uma variedade de categorias, incluindo aquelas baseadas em alocao, resultados, processos, direitos, responsabilidade, pobreza, e oportunidade, refletindo as diversas expectativas de justia utilizadas para julgar processos polticos e os resultados da sua aplicao (IPCC, 2001).

17

20

desenvolvimento sustentvel19 para todas as Partes da Conveno (Artigo 3.4). Esse princpio considera que as polticas e medidas para proteger o sistema climtico contra mudanas climticas devem ser integradas aos programas nacionais de desenvolvimento e reconhece que o desenvolvimento sustentvel essencial adoo de medidas para enfrentar as mudanas climticas, em especial nos pases em desenvolvimento. As Partes, levando em conta os princpios da Conveno, devem assumir uma srie de obrigaes, que so mencionadas no Artigo 4 da Conveno. Destaca-se, entre outras, o dever das Partes em formular e implementar programas nacionais e, conforme o caso, regionais, que incluam medidas que permitam a mitigao das emisses de GEE e adaptao mudana do clima (Artigo 4.1(b)). Tambm passou a ser um dever de todas as Partes da Conveno apresentar o Inventrio Nacional de emisses antrpicas por fontes20 e de remoes por sumidouros21 de todos os gases de efeito estufa no controlados pelo Protocolo de Montreal22, dentro de suas possibilidades, usando metodologias comparveis desenvolvidas e aprovadas pela Conferncia das Partes. Entretanto, para os pases em desenvolvimento, o cumprimento efetivo dos compromissos assumidos na Conveno ficou condicionado ao repasse de recursos financeiros e transferncia de tecnologia, levando em conta o fato de que o desenvolvimento econmico e social e a erradicao da pobreza so as prioridades primordiais e absolutas das Partes pases em desenvolvimento (Artigo 4.7). Dessa forma, as Partes devem examinar que medidas so necessrias tomar sob a Conveno, inclusive medidas relacionadas ao financiamento, seguro e transferncia de tecnologias, para atender as necessidades e preocupaes especficas das Partes pases em

Desenvolvimento Sustentvel aquele que permite gerao atual suprir as suas necessidades sem comprometer a capacitao das geraes futuras, considerando que o desenvolvimento econmico precisa levar em conta tambm o equilbrio ecolgico e a preservao da qualidade de vida das populaes humanas (Relatrio Brundtland de 1987). 20 As categorias/ setores de fontes de GEE que devem ser contabilizadas nos Inventrios so: Energia, processos industriais, uso de solvente e outros produtos, agricultura e resduos 21 Sumidouro significa qualquer processo, atividade ou mecanismo que remova um gs de efeito estufa, da atmosfera. 22 Os gases de efeito estufa no controlados pelo Protocolo de Montreal so: (CO2), metano (CH4), xido nitroso (N2O), hexafluoreto de enxofre (SF6), hidrofluorcarbonos (HFCs) e perfluorcarbonos (PFCs) Outros gases de efeito estufa, como os hidroclorofluorcarbonetos (HCFCs) e os clorofluorcarbonetos (CFCs), embora sejam gases de efeito estufa, no foram includos na Conveno por estarem includos no Protocolo de Montreal, o qual trata da reduo das emisses de gases que afetam a camada de oznio (oznio estratosfrico, cuja reduo dessa camada permite a passagem de raios ultra- violetas para superfcie terrestre, o que acarreta entre outros, danos sade humana e aos ecossistemas).

19

21

desenvolvimento resultantes dos efeitos negativos da mudana do clima e/ou do impacto da implementao de medidas de adaptao (Artigo 4.8). importante destacar a criao do rgo Subsidirio de Assessoramento Cientfico e Tecnolgico (Artigo 9) e do rgo Subsidirio de Implementao da Conveno (Artigo 10), cujas funes so, respectivamente, prover informaes e assessoramento sobre assuntos cientficos e tecnolgicos relativos Conveno e auxiliar a Conferncia das Partes na avaliao e exame do cumprimento efetivo da Conveno. O rgo Subsidirio de Assessoramento Cientfico e Tecnolgico trabalha em relao direta com o IPCC, requisitando pesquisas e baseando suas decises nos trabalhos do IPCC. Igualmente importante que a Conveno estabeleceu uma Conferncia das Partes da Conveno (COP), como rgo supremo da Conveno e com a responsabilidade de manter regularmente sob exame a implementao da Conveno e de quaisquer de seus instrumentos jurdicos e de suas decises (Artigo 7). Cada sesso da Conferncia das Partes (Encontro das Partes) dever ser realizada anualmente, salvo a necessidade de realizao de sesses extraordinrias. Em qualquer sesso de suas sesses a Conferncia das Partes pode adotar protocolos Conveno (Artigo 17). A primeira Conferncia das Partes ou COP 1 foi realizada em Berlim (Alemanha), em 1995, quando foi lanado o Mandato de Berlim, que reconheceu a necessidade de definir compromissos futuros de reduo de emisso de GEE para os pases signatrios. No ano seguinte, a COP 2 foi realizada em Genebra (Sua), ocasio em que foi assinado o Acordo de Genebra, contemplando a criao de obrigaes legais de reduo de emisso de GEE. As metas de reduo de emisses foram acertadas na COP 3, no Protocolo de Quioto.

2.2.2 Protocolo de Quioto No Protocolo de Quioto foram estabelecidos compromissos quantificados de limitao e reduo de emisses de GEE para cada Parte do Anexo I da Conveno. As metas de reduo diferem entre cada pas do Anexo I, e foram estabelecidas com base nas emisses divulgadas nos Inventrios nacionais de emisses antrpicas por fontes e de

22

remoes por sumidouros de gases de efeito estufa. Assim, os pases Anexo I devem alcanar em mdia uma reduo de 5,2% relativamente s emisses de 1990 no perodo 2008 2012 (conhecido como primeiro perodo de compromisso). As redues variam segundo as emisses dos pases industrializados, por exemplo: -6% para Japo e Canad, 0% para Rssia, -8% para os 15 pases da Unio Europia23, -21% para Alemanha, -12,5% para Gr-Bretanha, -6,5% para Itlia, 0% para Frana, +15% para a Espanha, calculados para o perodo de 2008 a 2012 em relao aos nveis de emisso de 1990 (UNFCCC, 1998). Para efeito do Protocolo, os gases de efeito estufa considerados so: dixido de carbono (CO2), metano (CH4), xido nitroso (N2O), hexafluoreto de enxofre (SF6), hidrofluorcarbonos (HFCs) e perfluorcarbonos (PFCs). Alm disso, as emisses antrpicas24 desses gases devem ser expressas em dixido de carbono equivalente. Para expressar as emisses ou as remoes de gases de efeito estufa em CO2 equivalente (CO2eq) se utiliza o poder de aquecimento global, conhecido pela sigla de GWP (Global Warning Power). O GWP expressa uma medida do poder relativo de aquecimento entre um gs em relao a outro gs (CO2) em um horizonte de tempo escolhido (IPCC, 2001). A quantidade de CO2 equivalente o resultado do produto da quantidade de emisses de um determinado gs e seu GWP25, em relao ao CO2. Por exemplo, para o xido nitroso (N2O) em um horizonte de 100 anos, GWP igual a 310 (esse gs tem 310 vezes mais impacto no clima do que o CO2, nesse horizonte de tempo), assim 1 tonelada de xido nitroso corresponde a 310 toneladas de CO2 equivalente. No Protocolo foram criados os mecanismos adicionais de implementao das metas, os chamado mecanismos de flexibilizao, permitindo que as redues de emisso e/ou aumento da remoo de GEE pelas Partes do Anexo I fossem, em parte, obtidos alm de suas fronteiras nacionais. Os mecanismos de flexibilizao so trs: o comercio de Emisses, a Implementao Conjunta e o Mecanismo de Desenvolvimento Limpo.

23 Os quinze pases da Unio Europia so: Alemanha, ustria, Blgica, Dinamarca, Espanha, Finlndia, GrBretanha, Grcia, Irlanda, Itlia, Luxemburgo, Holanda, Portugal e Sucia. 24 Refere-se s emisses lquidas que igual ao que foi emitido por fontes menos o que foi removido por sumidouros. 25 Outros exemplos de GWP para um horizonte de tempo de 100, so para o metano (CH4) igual a 21, hexafluoreto de enxofre (SF6) 23.900, do hidrofluorcarbonos, (HFC-23 e HFC-134a) equivalente respectivamente a 11.700 e 1.300 (IPCC, 1995)

23

Pelo Comercio de Emisses, os pases industrializados (ou firmas desses pases) que conseguem emitir menos do que suas cotas de emisso, podem vender as cotas no utilizadas queles que no conseguem (ou no desejam) reduzir suas emisses (Artigo 17). Pelo mecanismo de implementao conjunta, qualquer pas industrializado pode transferir ou adquirir de outro pas industrializado unidades de reduo de emisses provenientes de projetos que visem reduo das emisses antrpicas por fontes ou o aumento das remoes antrpicas por sumidouros de gases de efeito estufa. O Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL) o nico mecanismo de flexibilizao que permite o envolvimento dos pases em desenvolvimento. O objetivo do MDL auxiliar os pases em desenvolvimento a atingir o desenvolvimento sustentvel, alm de contribuir para o objetivo final da Conveno. Por esse mecanismo, os pases industrializados (Anexo B) podem comprar redues certificadas de emisses geradas por projetos sob o MDL26 nos pases em desenvolvimento e utiliz-las no cumprimento de suas metas. A reduo certificada de emisso (RCE) igual a uma tonelada mtrica equivalente de dixido de carbono (CO2eq), calculada com o uso do Poder de Aquecimento Global (GWP) e emitida em conformidade com os requisitos necessrios para enquadramento como um projeto MDL27. O artigo 12.8 do Protocolo refere-se possibilidade de uma frao dos fundos advindos de atividades dos projetos MDL ser utilizada para cobrir despesas administrativas e assistir s Partes pases em desenvolvimento particularmente vulnerveis aos efeitos adversos da mudana do clima, fazer face aos custos de adaptao frente s mudanas climticas. Uma questo focal foi a importncia das Partes transferirem tecnologias de adaptao s mudanas climticas para os pases em desenvolvimento, com a mesma prioridade dada questo de mitigao. As discusses para se chegar a um acordo sobre vrios assuntos referentes s questes de como operacionalizar o MDL e tratar da vulnerabilidade e adaptao das mudanas climticas prosseguiram aps a COP 3.Projetos sob o MDL atendem as regras especficas para cada categoria de projeto. Os projetos de MDL so divididos em trs reas maiores, a saber: 1) eficincia energtica; 2) energias alternativas; e 3) seqestro de carbono. 27 Alm do pas em desenvolvimento declarar que o projeto MDL contribui para seu desenvolvimento sustentvel, os projetos MDL devem ser aprovados pelo Conselho Executivo da Conveno (tem a funo de supervisionar a implementao deste mecanismo). As redues de emisses resultantes de cada atividade de projeto devem ser certificadas por entidades operacionais (auditores independentes) a serem designadas pela Conferncia das Partes. Essas entidades operacionais devem considerar se a participao de cada Parte envolvida voluntria; se existem benefcios reais, mensurveis e de longo prazo relacionados com a mitigao da mudana do clima e se s redues de emisses so adicionais as que ocorreriam na ausncia da atividade certificada de projeto.26

24

Para que o Protocolo entrasse em vigor era necessria que pelo menos 55 pases dos includos no Anexo B que juntos correspondiam por pelo menos 55% das emisses totais de dixido de carbono em 1990, tenham depositado seus instrumentos de ratificao, aceitao, aprovao ou adeso ao Protocolo de Quioto. Isso significa que o Protocolo de Quioto precisa ser aprovado e sancionado pelo Poder Executivo dos pases Partes da Conveno. Destaca-se que os Estados Unidos assinaram a Conveno, mas no aderiram ao Protocolo de Quioto. Em 16 de fevereiro de 2005 o Protocolo de Quioto entrou em vigor.

2.2.3. A Evoluo das Negociaes Somente a partir da COP 7 em Marrakesh (Marrocos) em 2001, o comrcio de crditos de carbono previsto no Protocolo de Quioto foi iniciado, mesmo sem a entrada em vigor do Protocolo de Quioto28, contanto que estes projetos fossem aprovados pelo Comit Executivo da Mudana Climtica da Conveno. O acordo de Marrakesh terminou de definir as regras para operacionalizar o Protocolo de Quioto, destacando-se os mecanismos de flexibilizao (MDL, Implementao Conjunta e Comrcio de Emisses) e os inventrios nacionais de emisses, entre outros. Como comentado o Protocolo de Quioto estabeleceu que os mecanismos de flexibilizao (Comercio de Emisses, Implementao Conjunto e Mecanismo de Desenvolvimento Limpo) so suplementares, ou seja, uma parte das redues de emisses devem ser alcanadas atravs de redues domsticas (pelos pases em desenvolvidos). Assim, mesmo antes da entrada em vigor do Protocolo o carbono vinha se tornando uma commodity mundialmente negociada em mercados objetivando tanto a implementao futura do Protocolo quanto a criao e consolidao de outros mercados no - conformidade com Quioto. De certa forma podemos entender como mercado no conformidade quando a compra e a venda dos crditos de carbono no so elegveis para atender as metas estabelecidas no protocolo (em pases que no soEm novembro de 2004, co