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Rigo DFH, Ross C, Alves DCI et al. Caracterização sociodemográfica e clínica... Português/Inglês Rev enferm UFPE on line., Recife, 11(12):4854-65, dec., 2017 4854 ISSN: 1981-8963 https://doi.org/10.5205/1981-8963-v11i12a22534p4854-4865-2017 CARACTERIZAÇÃO SOCIODEMOGRÁFICA E CLÍNICA DE ESTRANGEIROS/ IMIGRANTES ADULTOS INTERNADOS EM UM HOSPITAL SOCIODEMOGRAPHIC AND CLINICAL CHARACTERIZATION OF FOREIGN ADULTS / IMMIGRANTS IN A HOSPITAL CARACTERIZACIÓN SOCIODEMOGRÁFICA Y CLÍNICA DE EXTRANJEROS / INMIGRANTES ADULTOS INTERNADOS EN UN HOSPITAL Denise de Fátima Hoffmann Rigo 1 , Claudia Ross 2 , Débora Cristina Ignácio Alves 3 , Luciana Magnani Fernandes 4 RESUMO Objetivo: realizar a caracterização sociodemográfica e clínica de estrangeiros/imigrantes adultos. Método: estudo quantitativo, retrospectivo, descritivo, composto por amostra de 46 prontuários médicos de adultos estrangeiros internados em um hospital escola. A coleta de dados foi realizada a partir de registros nestes prontuários, buscando-se informações sociodemográficas e clínicas por meio de instrumento de coleta construído com base no formulário de internação hospitalar e no laudo para a solicitação de Autorização de Internação Hospitalar (AIH). Os dados foram tabulados no Excel ® for Windows 2007 e analisados no programa XLStat2016 ® . Resultados: a maioria dos pacientes era formada por homens, com idade média 36 anos, solteiros, com 1º grau completo, brancos, católicos, paraguaios, fluentes em português, trabalhadores da área de manutenção e reparação. Adentraram o hospital pelo SIATE e SAMU com diagnósticos frequentes para lesões, envenenamento e outras causas externas. A maioria evolui para a alta hospitalar. Conclusão: o estudo propiciou a caracterização de uma população específica atendida no serviço. Descritores: Emigração; Imigração; Áreas de Fronteira; Epidemiologia; Assistência à Saúde; Hospitalização. ABSTRACT Objective: to carry out the sociodemographic and clinical characterization of foreigners / adult immigrants. Method: quantitative, retrospective, descriptive study, composed of 46 medical records of foreign adults hospitalized in a school hospital. The data collection was done from records in these medical records, seeking sociodemographic and clinical information through a collection instrument constructed based on the hospital admission form and the report on the request for a Hospital Inpatient Authorization (HIA). The data was tabulated in Excel® for Windows 2007 and analyzed in the XLStat2016® program. Results: the majority of the patients were men, with a mean age of 36 years, single, full-grade, white, Catholic, Paraguayan, fluent in Portuguese, maintenance and repair workers. They entered the hospital through SIATE and MECS with frequent diagnoses for injuries, poisoning and other external causes. Most progress to hospital discharge. Conclusion: the study led to the characterization of a specific population served in the service. Descriptors: Emigration; Immigration; Border Areas; Epidemiology; Delivery Of Health Care; Hospitalization. RESUMEN Objetivo: realizar la caracterización sociodemográfica y clínica de extranjeros / inmigrantes adultos. Método: estudio cuantitativo, retrospectivo, descriptivo, compuesto por muestra de 46 prontuarios médicos de adultos extranjeros internados en un hospital escuela. La recolección de datos fue realizada a partir de registros en estos prontuários, buscando informaciones sociodemográficas y clínicas por medio de instrumento de recolección construido con base en el formulario de internación hospitalaria y en el laudo para la solicitud de Autorización de Internación Hospitalaria (AIH). Los datos se tabularon en Excel® para Windows 2007 y analizados en el programa XLStat2016®. Resultados: la mayoría de los pacientes estaba formada por hombres, con edad media 36 años, solteros, con 1º grado completo, blancos, católicos, paraguayos, fluentes en portugués, trabajadores del área de mantenimiento y reparación. Adentraron el hospital por el SIATE y SAMU, con diagnósticos frecuentes para lesiones, envenenamiento y otras causas externas. La mayoría evoluciona hacia alta hospitalaria. Conclusión: el estudio propició la caracterización de una población específica atendida en el servicio. Descriptores: Emigración; Inmigración; Zonas fronterizas; Epidemiología; Prestación de Atención de Salud; Hospitalización. 1 Enfermeira, Especialista em gerenciamento de Enfermagem, Universidade Estadual do Oeste do Paraná/UNIOESTE. Cascavel (PR), Brasil. E-mail: [email protected]; 2 Enfermeira, Professora Doutora, Universidade Estadual do Oeste do Paraná/UNIOESTE. Cascavel (PR), Brasil. E-mail: [email protected]; 3 Enfermeira, Professora Doutora, Universidade Estadual do Oeste do Paraná/UNIOESTE. Cascavel (PR), Brasil. E-mail: [email protected]; 4 Enfermeira, Professora Doutora, Universidade Estadual do Oeste do Paraná/UNIOESTE. Cascavel (PR), Brasil. E-mail: [email protected] ARTIGO ORIGINAL

ARTIGO ORIGINAL CARACTERIZAÇÃO SOCIODEMOGRÁFICA E CLÍNICA

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Rigo DFH, Ross C, Alves DCI et al. Caracterização sociodemográfica e clínica...

Português/Inglês

Rev enferm UFPE on line., Recife, 11(12):4854-65, dec., 2017 4854

ISSN: 1981-8963 ISSN: 1981-8963 https://doi.org/10.5205/1981-8963-v11i12a22534p4854-4865-2017

CARACTERIZAÇÃO SOCIODEMOGRÁFICA E CLÍNICA DE ESTRANGEIROS/ IMIGRANTES ADULTOS INTERNADOS EM UM HOSPITAL

SOCIODEMOGRAPHIC AND CLINICAL CHARACTERIZATION OF FOREIGN ADULTS / IMMIGRANTS IN A HOSPITAL

CARACTERIZACIÓN SOCIODEMOGRÁFICA Y CLÍNICA DE EXTRANJEROS / INMIGRANTES ADULTOS INTERNADOS EN UN HOSPITAL

Denise de Fátima Hoffmann Rigo1, Claudia Ross2, Débora Cristina Ignácio Alves3, Luciana Magnani Fernandes4

RESUMO

Objetivo: realizar a caracterização sociodemográfica e clínica de estrangeiros/imigrantes adultos. Método: estudo quantitativo, retrospectivo, descritivo, composto por amostra de 46 prontuários médicos de adultos estrangeiros internados em um hospital escola. A coleta de dados foi realizada a partir de registros nestes prontuários, buscando-se informações sociodemográficas e clínicas por meio de instrumento de coleta construído com base no formulário de internação hospitalar e no laudo para a solicitação de Autorização de Internação Hospitalar (AIH). Os dados foram tabulados no Excel® for Windows 2007 e analisados no programa XLStat2016®. Resultados: a maioria dos pacientes era formada por homens, com idade média 36 anos, solteiros, com 1º grau completo, brancos, católicos, paraguaios, fluentes em português, trabalhadores da área de manutenção e reparação. Adentraram o hospital pelo SIATE e SAMU com diagnósticos frequentes para lesões, envenenamento e outras causas externas. A maioria evolui para a alta hospitalar. Conclusão: o estudo propiciou a caracterização de uma população específica atendida no serviço. Descritores: Emigração; Imigração; Áreas de Fronteira; Epidemiologia; Assistência à Saúde; Hospitalização.

ABSTRACT

Objective: to carry out the sociodemographic and clinical characterization of foreigners / adult immigrants. Method: quantitative, retrospective, descriptive study, composed of 46 medical records of foreign adults hospitalized in a school hospital. The data collection was done from records in these medical records, seeking sociodemographic and clinical information through a collection instrument constructed based on the hospital admission form and the report on the request for a Hospital Inpatient Authorization (HIA). The data was tabulated in Excel® for Windows 2007 and analyzed in the XLStat2016® program. Results: the majority of the patients were men, with a mean age of 36 years, single, full-grade, white, Catholic, Paraguayan, fluent in Portuguese, maintenance and repair workers. They entered the hospital through SIATE and MECS with frequent diagnoses for injuries, poisoning and other external causes. Most progress to hospital discharge. Conclusion: the study led to the characterization of a specific population served in the service. Descriptors: Emigration; Immigration; Border Areas; Epidemiology; Delivery Of Health Care; Hospitalization.

RESUMEN

Objetivo: realizar la caracterización sociodemográfica y clínica de extranjeros / inmigrantes adultos. Método: estudio cuantitativo, retrospectivo, descriptivo, compuesto por muestra de 46 prontuarios médicos de adultos extranjeros internados en un hospital escuela. La recolección de datos fue realizada a partir de registros en estos prontuários, buscando informaciones sociodemográficas y clínicas por medio de instrumento de recolección construido con base en el formulario de internación hospitalaria y en el laudo para la solicitud de Autorización de Internación Hospitalaria (AIH). Los datos se tabularon en Excel® para Windows 2007 y analizados en el programa XLStat2016®. Resultados: la mayoría de los pacientes estaba formada por hombres, con edad media 36 años, solteros, con 1º grado completo, blancos, católicos, paraguayos, fluentes en portugués, trabajadores del área de mantenimiento y reparación. Adentraron el hospital por el SIATE y SAMU, con diagnósticos frecuentes para lesiones, envenenamiento y otras causas externas. La mayoría evoluciona hacia alta hospitalaria. Conclusión: el estudio propició la caracterización de una población específica atendida en el servicio. Descriptores: Emigración; Inmigración; Zonas fronterizas; Epidemiología; Prestación de Atención de Salud; Hospitalización. 1Enfermeira, Especialista em gerenciamento de Enfermagem, Universidade Estadual do Oeste do Paraná/UNIOESTE. Cascavel (PR), Brasil. E-mail: [email protected]; 2Enfermeira, Professora Doutora, Universidade Estadual do Oeste do Paraná/UNIOESTE. Cascavel (PR), Brasil. E-mail: [email protected]; 3Enfermeira, Professora Doutora, Universidade Estadual do Oeste do Paraná/UNIOESTE. Cascavel (PR), Brasil. E-mail: [email protected]; 4Enfermeira, Professora Doutora, Universidade Estadual do Oeste do Paraná/UNIOESTE. Cascavel (PR), Brasil. E-mail: [email protected]

ARTIGO ORIGINAL

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Rev enferm UFPE on line., Recife, 11(12):4854-65, dec., 2017 4855

ISSN: 1981-8963 ISSN: 1981-8963 https://doi.org/10.5205/1981-8963-v11i12a22534p4854-4865-2017

Esta pesquisa foi motivada pelo visível

aumento de estrangeiros⁄imigrantes na cidade

de estudo advindos tanto de países da

fronteira Brasil - Paraguai/Argentina, quanto

de outros países, visto que, geograficamente,

Cascavel/PR é uma cidade de rota de

passagem para estes acessarem outros Estados

do país. No entanto, muitos permanecem na

cidade em busca de oportunidades de trabalho

na indústria e comércio locais, vindo a

utilizar-se do aparato do Estado no que tange

ao acesso à educação, saúde, assistência

social, entre outros. No hospital em estudo,

observou-se, de forma empírica, ao longo dos

últimos anos, um aumento no atendimento

dessa população, desencadeando o interesse

em conhecer as características da mesma.

Nesse contexto, define-se imigração como

um deslocamento de pessoas no espaço e no

tempo, entretanto, esse deslocamento no

espaço físico é determinado no sentido social,

econômico, político, cultural que, por sua

vez, é marcado pela língua, pelas práticas,

pelas crenças e pelos valores e saberes. Dá-se

o nome de estrangeiro ao indivíduo que

executa a imigração e este, por vários

motivos, realiza o ingresso em outro país.1

O Brasil oferta um sistema universal de

saúde e, com base nisso, o direito à saúde se

estende, inclusive, ao imigrante⁄estrangeiro.

Isto institui uma lógica que está por trás de

todo o sistema e faz com que o atendimento

não possa ser negado. No Sistema Único de

Saúde (SUS), não há custos financeiros para o

paciente e os imigrantes não são diferenciados

em relação aos brasileiros, todos são

igualmente pacientes em busca de atenção à

saúde. Mas, numa lógica explícita, isso não

quer dizer que não existam barreiras para o

acesso dos imigrantes à saúde no Brasil, sendo

necessário mais do que o estabelecimento do

direito à saúde na Constituição. A

implementação das políticas que garantem

esse direito no Brasil ainda é um desafio para

os gestores públicos.2

Ao estudar sobre os direitos das minorias,

levanta-se a necessidade de se estabelecerem

políticas públicas multiculturais que

enfrentem as desigualdades verificadas nas

práticas cotidianas de

estrangeiros/imigrantes. A heterogeneidade

com a presença de indivíduos e coletividades

que partilham de outras matrizes culturais,

como os estrangeiros/imigrantes, apresentam

novos desafios para os gestores públicos nos

processos de implantação de políticas e

programas governamentais em todos os

setores da sociedade.2

Nesse contexto, a saúde dos

estrangeiros/imigrantes é um desafio para os

gestores públicos no que concerne à garantia

do direito de acesso aos serviços de saúde,

bem como da necessidade de criação de

políticas e estratégias de promoção,

prevenção e cura.

Assim, a questão norteadora deste estudo

foi: quem são os pacientes

estrangeiros/imigrantes internados em

hospital escola do oeste do Paraná e suas

características sociodemográficas e clínicas?

Nesse sentido, esta pesquisa proporciona

conhecimento acerca do assunto, ainda

deficitário na literatura científica, e é de

suma importância, já que essa população

utiliza o SUS e necessita de acesso e

assistência de forma integral e igualitária.

Realizar a caracterização

sociodemográfica e clínica de

estrangeiros/imigrantes adultos.

Estudo quantitativo, retrospectivo,

descritivo, que apresenta a caraterização

sociodemográfica e clínica de

estrangeiros/imigrantes adultos internados em

um Hospital Escola do oeste do Paraná (PR),

Brasil. Este hospital conta com 210 leitos

ativos3, sendo referência na região para

atendimento de traumas e abrangendo os 25

municípios da 10ª Regional de Saúde da

Secretaria da Saúde do Estado do Paraná – PR

(SESA-PR).

A amostra do estudo foi composta por 46

prontuários médicos de

estrangeiros/imigrantes adultos que

cumpriram os critérios de inclusão, de um

total de 52 prontuários obtidos no sistema de

prontuário eletrônico Tasy Philips (sistema de

gestão em saúde) e prontuários manuais

acessados no setor do Serviço de Arquivo

Médico e Estatística (SAME) do Hospital

referentes ao período de 2011 a 2016.

Os critérios de inclusão foram todos os

pacientes estrangeiros/imigrantes adultos

internados em um hospital escola do oeste do

Paraná. Os de exclusão, todas as mulheres

estrangeiras que internaram por causas

obstétricas, bem como crianças, e prontuários

incompletos e não localizados no SAME e Tasy

Philips.

A coleta de dados foi realizada a partir dos

registros nestes prontuários médicos,

buscando-se informações sociodemográficas e

clínicas pertinentes aos internamentos. O

instrumento de coleta de dados foi construído

INTRODUÇÃO

MÉTODO

OBJETIVO

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com base no formulário de internação

hospitalar da instituição pesquisada e no laudo

para a solicitação de Autorização de

Internação Hospitalar (AIH). Este contemplou:

sexo; idade; escolaridade; estado civil;

portador cartão SUS; profissão; nacionalidade;

município de residência; motivo de

internação; diagnóstico principal; tempo de

internação; internamento por causas externas;

especialidade de atendimento; unidade de

internação; exames laboratoriais e de

imagem; medicamentos; procedimentos;

condutas e desfechos.

Para a variável idade, utilizou-se uma

classificação de faixa etária a cada dez anos.

Para a escolaridade, adotou-se a classificação

disponível no sistema de prontuário eletrônico

do Tasy Philips. Para a profissão, empregou-se

a Classificação Brasileira de Ocupações 4 e

para o diagnóstico principal, usou-se a

Classificação Estatística Internacional de

Doenças (CID10) registrada na AIH do

paciente.5

Destaca-se que, para os exames de

laboratório e imagem, medicamentos e

procedimentos, foram computados somente os

primeiros registros de cada um destes em

prontuário médico. Os medicamentos foram

agrupados conforme sistema de classificação

Anatomical Therapeutic Chemical (ATC) para

o grupo principal e primeiro nível de

classificação.6

As informações foram tabuladas no Excel®

for Windows 2007 e todas as análises

estatísticas, realizadas no programa

XLStat2016®. A caracterização

sociodemográfica foi realizada por meio de

estatística descritiva (frequências absolutas e

relativas percentuais, médias e desvio padrão

e teste de Qui quadrado para Aderência) para

as variáveis do perfil geral dos

estrangeiros/imigrantes. Para a

caracterização clínica, as frequências

absolutas e relativas foram obtidas e,

posteriormente, o teste de Qui Quadrado para

a Independência foi realizado para cada grupo

de variáveis (exames laboratoriais, exames de

imagem, medicamentos em nível terapêutico,

comorbidades, procedimentos), para verificar

diferença significativa nas frequências das

categorias de respostas das mesmas. O Qui

Quadrado para a Aderência foi realizado para

as variáveis: características do internamento;

medicamentos em nível de classificação de

grupo anatômico; condutas e desfechos.

O nível de decisão dos testes foi p=0,05,

onde p<0,05 indica que as categorias são

estatisticamente diferentes, ou seja, “p

significativo” e p>0,05 indicam que as

categorias não são estatisticamente

diferentes, são iguais, ou seja, “p não-

significativo”.

A pesquisa foi desenvolvida respeitando

todos os preceitos éticos de acordo com a

Resolução n.º 466/12 do Conselho Nacional de

Saúde (CNS), com parecer favorável do Comitê

de Ética e Pesquisa (CEP) da Unioeste sob o

n.º 1.664.856, CAAE 57044616.6.0000.0107 e

assinado o termo de comprometimento para a

utilização de dados pelos pesquisadores.

Foram analisados 46 prontuários manuais e

eletrônicos de pacientes

estrangeiros/imigrantes internados em

hospital escola do oeste do Paraná. Os

resultados foram agrupados em caracterização

sociodemográfica e clínica.

Caracterização Sociodemográfica

Os resultados apontam que, do total de 46

prontuários analisados, a maioria dos

pacientes estrangeiros/ imigrantes internados

era formada por homens (69,57%; n= 32). A

idade mínima foi de 18 anos e a máxima, de

82, com média e desvio padrão de 36+18 anos.

A maior parte dos pacientes era solteira

(43,48%; n= 20) e casada/amasiada (32,61%;

n= 15), destacando-se que, para 17,39% (n=

8), Não Consta Registro (NCR) para esta

variável. Em relação à escolaridade, 23,91%

(n= 11) tinham 1º grau de escolaridade

completo, porém, em 41,30% (n= 19) NCR. A

maioria se declarou da cor branca (69,57%; n=

32), seguida de pardos (15,22%; n= 7) e negros

(13,04%; n= 6). Quanto à religião,

prevaleceram os católicos (45,65%; n= 21),

seguidos de evangélicos (19,57%; n= 9) e NCR

para 13,04% (n= 6).

Em relação ao país de origem, cerca da

metade dos pacientes internados era

proveniente do Paraguai (50%; n= 23), seguido

de Argentina (13,04%; n=6) e Haiti (13,04%; n=

6). Porém, a maioria apresentava fluência no

idioma português (80,43%; n= 37) e 10,86% (n=

5) NCR acerca desta variável. Mais da metade

(54,35%; n= 25) não portava o Cartão SUS. O

município de residência da maioria era

Cascavel (71,74%; n= 33).

Na variável profissão, obteve-se registro

em apenas 50% (n=23) dos prontuários que, de

acordo com os grupos ocupacionais da

classificação brasileira de ocupações, 4

verificou-se que predominaram os grupos de

“Trabalhadores de manutenção e reparação”

(15,22%; n= 7), “Trabalhadores da produção

de bens e serviços industriais” e

“Trabalhadores dos serviços, vendedores do

comércio em lojas e mercados” (10,87%; n=

5), respectivamente. Todas as variáveis

RESULTADOS

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ISSN: 1981-8963 ISSN: 1981-8963 https://doi.org/10.5205/1981-8963-v11i12a22534p4854-4865-2017

apresentaram diferença significativa entre as

suas frequências (p<0,05), exceto para a

variável faixa etária (p=0,384) e possuir cartão

SUS (p=0,553).

Caracterização Clínica

Características da internação

A porta de entrada mais frequente no

hospital escola do oeste do Paraná ocorreu

por meio do Sistema Integrado de

Atendimento ao Trauma e Emergências

(SIATE), (21,74%; n=10), seguido da Unidade

de Pronto Atendimento (UPA), (19,57%; n=9).

Transferência da UPA, com pacientes

transportados pelo Serviço de Atendimento

Móvel de Urgência (SAMU) e livre demanda

contabilizaram (17,39%; n= 8),

respectivamente. A maioria dos pacientes

permaneceu internada até sete dias (58,69%;

n= 27), seguida de 08-14 dias (21,73%, n= 10)

e com mais de 21 dias de internamento

(13,04%; n= 6). Ocorreu um maior número de

internamentos nos anos de 2015 (41,30%; n=

19), 2014 (21,74%; n= 10) e 2013 (19,57%; n=

9).

Entre os tipos de internamento, 39,13% (n=

18) destes foram decorrentes de causas

externas, destacando-se acidente de trânsito

(19,57%; n= 9), acidente de trabalho (10,87%;

n= 5) e violências (8,7%; n= 4). O restante dos

internamentos ocorreu por outros motivos,

sendo os mais frequentes os referentes ao

trato gastrointestinal (17,39%; n=8), Sistema

Neurológico (8,79%; n= 4) e Sistema

respiratório (6,52%, n= 3). A especialidade

com maior número de internamentos foi

Traumatologia e Ortopedia (41, 30%; n= 19),

seguida de Clínica Cirúrgica (34, 78%; n= 16) e

Neurologia (13,04%; n= 6). A unidade com

maior número de internamentos foi o pronto-

socorro (54, 35%; n= 25), seguido de sala de

emergência e unidade cirúrgica (13,04%; n=

6), respectivamente, e Unidade de Terapia

Intensiva (UTI) (10,87%; n= 5). Todas as

variáveis apresentaram diferença significativa

entre as suas frequências (p<0,05), exceto

para a variável internamento por causas

externas (p=0,1403).

Neste estudo, não houve diferenças

estatísticas significativas entre as frequências

de diagnósticos principais, pois ocorreu uma

grande variedade destes distribuídos entre os

pacientes (p>0,05). No entanto, quando estes

foram analisados por grupos do CID 10,5

verificou-se significância estatística (p<0,05),

destacando-se, com maior frequência, o grupo

“Lesões, envenenamento e outras causas

externas” (50%; n= 23), seguido de aparelho

digestivo (13,04; n=6), “infecciosas e

parasitárias” (10,87%; n= 5) e “Achados

anormais de exames clínicos e de laboratório”

(8,70%; n= 4). O restante dos diagnósticos dos

pacientes (n=8) foi distribuído entre

“Aparelho circulatório”, “Aparelho

respiratório”, “Pele e tecido subcutâneo e

Sistema osteomuscular e tecido Conjuntivo”,

“neoplasias” e “Aparelho geniturinário”.

(Tabela 1).

Acerca dos motivos de internação, os que

prevaleceram foram relacionados à lesão

osteomuscular e cutânea (41,30%; n=19),

seguidos de comprometimento no trato

gastrointestinal (17,39%; n= 8), politrauma e

sistema neurológico, com 8,70%; n= 4 cada,

infecção hospitalar e sistema respiratório,

com 6, 52%; n=3, trauma cranioencefálico e

sistema geniturinário, com 4,35%; n= 2.

Exames Laboratoriais e de Imagem

Em torno de 50 tipos de exames foram

solicitados e realizados nos pacientes

internados. Entre os diversos tipos de exames,

observaram-se 259 (59,82%) exames

bioquímicos; 76 (17,55%), hematológicos; 34

(7,86%), imunológicos; 33 (7,62%),

microbiológicos; dez (2,31%) de urina; sete

(1,62%), hormonais; cinco (1,15%),

coprológicos; cinco (1,15%), patológicos; dois

(0,46%), micológicos; um (0,23%), toxicológico

e um (0,23%) de líquido pleural, totalizando

433 (100%) exames solicitados.

Foi possível observar diferenças estatísticas

significativas para os exames Bilirrubina,

Cloro, Ácido Úrico, Desidrogenase Lática,

Ácido Lático, Creatininofosfoquinase,

Fosfatase Alcalina, Cálcio, Fósforo, Magnésio,

Pró-Calcitonina, Gasometria, Pesquisa de

fungos, Sorologia de Paracoccidioidomicose,

Rotina Líquido Pleural, Perfil Toxicológico,

Hemograma, Velocidade de

Hemossedimentação, pesquisa Bacilos Álcool-

Ácido Resistentes, Hemocultura, Cultura de

Líquor, Cultura de Ponta de Cateter, Cultura

de Secreção, Urocultura, Parcial de Urina,

Exame Anatomopatológico, Albumina,

Clostridium Difficile - Toxina A/B, β-

Gonadotrofina Coriônica Humana, Tiroxina

Livre, Sorologia para Hepatite C, Anticorpo

Antiácido desoxirribonucleico, Fator

Antinuclear (FAN), Sorologia para Vírus da

Imunodeficiência Humana (anti-HIV), Antígeno

Prostático Específico (PSA), sorologia para

Citomegalovírus, sorologia para Herpes

Simples, sorologia para Hepatite B, sorologia

para Leptospirose (p<0,05), porém, não sendo

estes os mais frequentemente realizados.

Apesar de os exames Creatinina, Potássio,

Sódio, Ureia, Proteína C Reativa (PCR), Tempo

de Protrombina (TP), Tempo de

Tromboplastina Parcial Ativado (KPTT),

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ISSN: 1981-8963 ISSN: 1981-8963 https://doi.org/10.5205/1981-8963-v11i12a22534p4854-4865-2017

Transaminase Aminotransferase de Aspartato

(TGO/AST) e a Transaminase Aminotransferase

de Alanina (TGP/ALT) e Glicose não

apresentarem diferenças estatísticas (p>0,05),

estes foram considerados os mais frequentes

entre os pacientes estrangeiros. O único

exame considerado estatisticamente

significativo e mais frequente entre estes

pacientes foi o Hemograma (p<0,05).

Em torno de 106 (100%) exames de imagem

foram solicitados e realizados nos pacientes

internados, destacando-se o RX de tórax, com

18 (16,98%) solicitações; a tomografia de

crânio, com 13 (12,26%); o RX de Membro

Superior Direito (MSD), com nove (8,49%) e o

ECG, com oito (7,55%), entre outros.

Foi possível observar diferenças

significativas para os exames de imagem

referente ao Raio X (RX) coluna torácica, RX

coluna lombar, RX coluna sacral, RX pelve, RX

Membro Inferior Esquerdo (MIE), RX Membro

Inferior Direito (MID), RX Membro Superior

Esquerdo (MSE), RX Membro Superior Direito

(MSD), RX de abdome superior, tomografia de

crânio, tomografia do tórax, tomografia de

coluna cervical, tomografia de coluna lombar,

tomografia de abdome inferior, tomografia de

abdome superior, ultrassonografia (USG) de

abdômen total, eletrocardiograma (ECG),

ecografia transtorácica e ecografia

transvaginal (p<0,05). O único exame que não

apresentou diferença significativa foi o RX de

tórax (p=0,1403), contudo, foi o exame mais

realizado.

Medicamentos - Classificação de

Medicamentos Anatomical Therapeutic

Chemical (ATC)

De acordo com a classificação ATC (6) para o

grupo principal, predominaram os seguintes

grupos anatômicos: A - Trato Alimentar e

metabolismo; B - Sangue e órgãos

hematopoiéticos; C - Aparelho Cardiovascular;

D - Medicamentos Dermatológicos; H -

Preparados hormonais para uso sistêmico; J -

Anti-Infecciosos gerais para uso sistêmico; M -

Sistema Musculoesquelético; N - Sistema

Nervoso; R - Aparelho Respiratório. Estes

grupos referem-se ao órgão ou sistema no qual

os medicamentos atuam. Foi possível observar

que houve diferença estatística na

distribuição das frequências entre as classes

(p<0,05), indicando haver maior consumo de

medicamentos relacionados ao Sistema

Musculoesquelético (70%) e Sangue e Órgãos

Hematopoiéticos (62%).

As classes de medicamentos em segundo

nível, que se referem ao subgrupo

terapêutico, apresentaram diferença

estatística significativa (p<0,05) para: A02 -

Antiácidos; A07 - Antidiarreicos, agentes anti-

inflamatórios, anti-infecciosos intestinais; A10

- Medicamentos utilizados no diabetes; B05 -

Substitutos do sangue e soluções para

perfusão; C01 - Terapia cardíaca; C02 - Anti-

hipertensivos; C03 - Diuréticos; C05 -

Vasoprotetores; C08 - Bloqueadores do canal

de cálcio; C10 - Agentes modificadores de

lipídeos; D04 – Antipruriginosos, incluindo

anti-histamínicos; H02 - Corticosteroides para

uso sistêmico; J04 - Antibacterianos

(Tuberculose); J05 - Antivirais; M01 - Anti-

inflamatórios; N01 - Anestésico; N02 -

Analgésico; N05 - Psicoepiléticos; N06 -

Psicoanapléticos e R06 - Anti-histamínico para

uso sistêmico. As classes A03 - Agentes

antiespasmódicos, anticolinérgicos e

propulsivos (p=0,0768), A04 - Antiemético,

antinauseantes (p=0,1403) e B01 - Agentes

antitrombóticos não apresentaram diferença

(p>0,05) (Tabela 1).

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Tabela 1. Frequências absolutas (FA) e relativas (%) do uso de medicamentos (sim) ou (não). P valor do teste de Qui-quadrado de Independência. Cascavel (PR), Brasil, 2016.

Classes detalhadas dos medicamentos (n= 46) Sim Não p-valor FA % FA %

A02 – Antiácidos 30 65% 16 35% 0,039* A03 – Agentes Antiespasmódico, anticolinérgicos e propulsivos

29 63% 17 37% 0,0768

A04- Antieméticos e antinauseantes 18 39% 28 61% 0,1403 A07- Antidiarreicos, agentes anti-inflamatórios, anti-infecciosos intestinais

1 2% 45 98% <0,001*

A10- Medicamentos utilizados no diabetes 4 9% 42 91% <0,001* B01- Agentes antitrombóticos 19 41% 27 59% 0,2381 B05- Substitutos do sangue e soluções para perfusão 38 83% 8 17% <0,001* C01- Terapia cardíaca 6 13% 40 87% <0,001* C02- Anti-hipertensivos 2 4% 44 96% <0,001* C03- Diuréticos 7 15% 39 85% <0,001* C05- Vasoprotetores 3 7% 43 93% <0,001* C08- Bloqueadores do canal de cálcio 1 2% 45 98% <0,001* C10- Agentes modificadores de lipídeos 2 4% 44 96% <0,001* D04- Antipruriginosos, incluindo anti-histamínicos 1 2% 45 98% <0,001* H02- Corticosteroides para uso sistêmico 4 9% 42 91% <0,001* H03- Terapia da tireoide 1 2% 45 98% <0,001* J01- Antibacterianos para uso sistêmico 30 65% 16 35% 0,039* J02- Antimicóticos para uso sistêmico 1 2% 45 98% <0,001* J04- Antibacterianos (Tuberculose) 4 9% 42 91% <0,001* J05- Antivirais 3 7% 43 93% <0,001* M01- Anti-inflamatórios 32 70% 14 30% 0,0079* N01- Anestésico 8 17% 38 83% <0,001* N02- Analgésico 45 98% 1 2% <0,001* N05- Psicoepiléticos 9 20% 37 80% <0,001* N06- Psicoanapléticos 2 4% 44 96% <0,001* R06- Anti-histamínico para uso sistêmico 2 4% 44 96% <0,001*

Comorbidades

Apenas oito pacientes apresentaram uma

ou mais comorbidades, sendo que nenhuma

delas apresentou diferença significativa

(p=0,880), e as comorbidades mais frequentes

foram HIV (10%; n= 3), Diabetes Mellitus (10%;

n=3), Tabagismo (6%; n= 2) e Hipertensão

Arterial (6%; n= 2).

Ao avaliar a associação entre os diferentes

tipos de comorbidades destes pacientes e seus

respectivos diagnósticos de internação, (CID 10)

verificou-se que não havia nenhum tipo de

relação entre a comorbidade e o diagnóstico

destes pacientes (p=0,448).

Procedimentos

Todos os procedimentos apresentaram

diferenças significativas (p<0,05), exceto

sondagem vesical de demora (p=0,3763) e

cirurgia (p=0,7680). Os procedimentos

considerados mais frequentes foram punção

venosa periférica, cirurgia e sondagem vesical

de demora.

Condutas e Desfechos

Tanto para as condutas e desfechos,

verificaram-se diferenças significativas

(p<0,05). O tratamento cirúrgico (cirurgia,

drenagem torácica, suturas e traqueostomia)

foi a conduta mais utilizada (73,91%; n= 34),

seguido pelo tratamento clínico (21,74%; n=

10), e apenas um indivíduo (2,17%) em

tratamento cirúrgico e clínico e mais um

paciente (2,17%) em estabilização. Acerca do

desfecho os pacientes, tiveram alta hospitalar

67,39%; n= 31; alta com encaminhamento para

ambulatório 15,21%; n= 7; transferência

hospitalar 8,69%; n= 4 e óbito 8,69%; n= 4.

Caracterização Sociodemográfica

Este estudo não aspira a reconhecer um

perfil da demanda real da população, mas

verificar características de uma demanda

específica, sem inferir a magnitude do

problema e, sim, como este se apresenta no

âmbito de um hospital escola do oeste do

Paraná. Destaca-se que, em revisão de

literatura acerca da temática em questão,

verificou-se uma baixa produção científica, o

que dificultou a discussão dos resultados. Para

tal, buscou-se referencial disponível que mais

se aproximasse da realidade estudada.

Os resultados da caracterização

sociodemográfica apontam que a maioria dos

pacientes estrangeiros/imigrantes internados

no hospital eram homens, com média de idade

de 36 anos, solteiros, com 1º grau de

escolaridade completo, brancos e católicos.

O maior número de internações de homens

pode estar relacionado à maior

vulnerabilidade destes às causas externas, ora

na condição de autor ou vítima, e ainda pela

maior propensão a doenças crônicas

decorrentes de fatores de riscos e negligência

ao autocuidado.7

A média de idade encontrada também pode

estar relacionada à maior exposição a riscos,

DISCUSSÃO

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ISSN: 1981-8963 ISSN: 1981-8963 https://doi.org/10.5205/1981-8963-v11i12a22534p4854-4865-2017

considerando-se esta uma época da vida onde

o indivíduo encontra-se em idade produtiva. O

baixo nível de escolaridade pode influenciar

os cuidados com a saúde e, no caso do

estrangeiro, ocasionar problemas culturais e

de inclusão social. Acerca dos aspectos cor de

pele e religião, estes podem estar

relacionados à discriminação do

estrangeiro/imigrante.8

Em relação ao país de origem, cerca da

metade dos pacientes internados no hospital

era proveniente do Paraguai e não portava o

Cartão SUS. Em sua maioria, estes pacientes

tinham fluência no idioma português e

residiam em Cascavel.

Conhecer o país de origem e o município de

residência dos pacientes internados possibilita

conhecer o fluxo dos mesmos no sistema local

de saúde, o diagnóstico de possíveis

problemas e distorções e a avaliação dos

encaminhamentos nos diversos pontos de

atenção à saúde.9

No Brasil, o direito à saúde é universal e,

assim, qualquer indivíduo,

independentemente de sua nacionalidade,

pode ter acesso ao SUS, sendo de extrema

importância possuir o Cartão SUS, também

conhecido popularmente como “carteirinha do

SUS”. No entanto, o processo para a obtenção

de tal documento tem se tornado barreira de

acesso aos serviços médicos, principalmente,

para estrangeiros. Nesta pesquisa, destaca-se

que cerca da metade dos

estrangeiros/imigrantes internados no hospital

estudado não possuía o cartão, porém,

recebeu atendimento no hospital.2

O domínio do idioma do país receptor, por

parte de estrangeiros/imigrantes, contribui

para a sua aculturação e, consequentemente,

para uma melhor percepção das necessidades

médicas e na busca por tratamentos formais

de saúde.2

Na variável profissão, obteve-se registro

desta em metade dos prontuários,

verificando-se o predomínio de

“Trabalhadores de manutenção e reparação”.

Muitos estrangeiros/imigrantes,

principalmente os recém-chegados,

submetem-se a empregos instáveis e mal

remunerados, em função de menos

oportunidades decorrentes da familiarização

com o idioma e a cultura local, a obtenção de

documentos legais e o isolamento social.

Associado a isto, vale ressaltar que os

estrangeiros enfrentam conflitos de valores na

família, escola e trabalho, dificuldades

econômicas e moradias precárias, tornando-se

mais vulneráveis social e economicamente.8

Nesse contexto, estes são mais vulneráveis

e compõem um grupo cujo acesso aos serviços

de saúde é dificultado por vários fatores que

propiciam maior risco à saúde.

Caracterização Clínica

Características da internação

O internamento é definido como um

conjunto de serviços destinados a situações

em que os cuidados de saúde são prestados ao

indivíduo a partir do momento em que é

admitido no serviço hospitalar.10 A porta de

entrada a este serviço pode variar conforme a

forma de regulação do acesso e características

da região. Neste estudo, pôde-se constatar

que a maioria dos pacientes

estrangeiros/imigrantes adentrou o sistema

por meio de atendimento pré-hospitalar, ou

seja, SIATE e SAMU.

A verificação da porta de entrada para o

serviço constitui um importante observatório

da condição de saúde de determinada

população, pois, ao se identificar a origem do

paciente, possibilita programar melhorias da

rede de atendimento e da resolubilidade do

sistema de saúde.9

Outra variável, que está diretamente ligada

à questão de resolubilidade e qualidade da

assistência na instituição prestadora do

cuidado ao paciente, é o tempo de

internamento hospitalar, constantando-se que

a maioria permaneceu internada por até sete

dias, seguida de oito a 14 dias de internação.

O tempo de permanência hospitalar,

especialmente em hospitais universitários,

pode apresentar períodos de internação

prolongados, revelando-se superiores às

médias regionais e nacionais, que variam de

4,5 a 6,8 dias. A complexidade do hospital, o

papel da internação via pronto-socorro na

demanda do hospital, o perfil clínico dos

pacientes e o tipo de procedimentos ofertados

são fatores que interferem no período de

permanência do paciente na instituição.10

No que se refere ao quantitativo de

internações, verificou-se que houve um

aumento gradual das internações entre 2011 e

2015. Essa busca de estrangeiros/imigrantes

por atenção à saúde pode ser um fator

dificultador para a gestão, uma vez que, nos

recursos do SUS repassados aos municípios e

serviços de saúde, não é contabilizada a

população itinerante e, sim, per capita.12

Dentre os tipos de internamento,

destacaram-se aqueles decorrentes de causas

externas (acidente de trânsito, acidente de

trabalho e violência). Tal achado corrobora

com resultados observados para outras

variáveis analisadas neste mesmo estudo,

como para as especialidades onde se verificou

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ISSN: 1981-8963 ISSN: 1981-8963 https://doi.org/10.5205/1981-8963-v11i12a22534p4854-4865-2017

um maior número de internamentos na

ortopedia, clínica cirúrgica e neurologia; para

a classificação dos grupos do CID 10, no qual

se constatou maior frequência do grupo

“Lesões, envenenamento e outras causas

externas” e para os principais motivos de

internação, onde prevaleceram aqueles

relacionados à lesão osteomuscular e cutânea,

comprometimento no trato gastrointestinal e

politrauma.

As internações por causas externas geram

impacto econômico para o sistema de saúde,

no qual refletem negativamente, gerando um

ônus pelo aumento crescente de internações

que, em alguns casos, são de longa

permanência, devido ao grau de

complexidade, bem como ônus para o

paciente, uma vez que pode causar danos,

lesões, incapacidade e, em alguns casos, até

mesmo a morte.13

Entre as causas externas, os acidentes de

trânsito e violência representam as principais

causas de internação. Sua ocorrência está

relacionada, na maioria das vezes, a atitudes

e posturas que levam ao aumento de riscos e a

situações a eles vinculados, sendo necessária

a vigilância epidemiológica destas causas. A

vigilância objetiva subsidiar ações de

enfrentamento dos determinantes e dos

condicionantes das causas externas, visando à

prevenção da saúde.14

Internações por causas externas

caracterizam, em sua maioria, trauma, que é

definido como o conjunto das perturbações ou

qualquer lesão de tecido, órgão ou parte do

corpo causada subitamente por um agente

físico de etiologia, natureza e extensão

variadas e, predominantemente, de origens

externas. Representa um sério problema de

saúde pública com relevância crescente, pois

causa importantes consequências sociais e

econômicas, além do iminente risco de óbito

ou incapacidade temporária ou permanente. O

alto custo com a recuperação e a piora da

qualidade de vida são fatores desafiantes ao

SUS.13

Nessa conjuntura, o estrangeiro é mais

vulnerável, uma vez que este se submete mais

frequentemente a atividades laborais

insalubres, baixos salários, condições

precárias de moradia, ficando mais exposto a

tensões, conflitos, violências, doenças e

exclusão social.8

Ainda verificou-se que a unidade com maior

número de internação foi o pronto-socorro

(PS), o que indica uma possível baixa

rotatividade de leitos na instituição, gerando

superlotação neste setor, ambas justificadas

pelo fato de o hospital ser referência para

traumatologia e ortopedia. Destaca-se que, na

rotina da instituição, o paciente é submetido

a procedimento cirúrgico e retorna ao PS e ali

permanece internado até a alta hospitalar, o

que acaba por descaracterizar a unidade de

emergência, que deve prestar o primeiro

atendimento e destinar o paciente para uma

conduta definitiva em outra unidade.9

Exames Laboratoriais e de Imagem

Os exames laboratoriais Creatinina,

Potássio, Sódio, Ureia, PCR, Tempo de

Protrombina (TAP), KPTT (TTPA), TGO, TGP e

Glicose foram considerados os mais frequentes

entre os pacientes estrangeiros, porém, não

apresentaram diferença significativa (p<0,05).

O único exame laboratorial considerado

estatisticamente significativo e mais

frequentemente realizado entre os pacientes

foi o Hemograma (p<0,05).

Exames laboratoriais auxiliam no

diagnóstico, tratamento e manejo adequado

dos pacientes. A interpretação da bioquímica

sanguínea, na rotina do cuidado com os

pacientes, é extremamente importante, pois

muitos exames bioquímicos auxiliam na

detecção de alterações do organismo frente a

diferentes enfermidades.

Exames identificados neste estudo, como a

creatinina e ureia, são utilizados para a

avaliação da função renal; o potássio e sódio,

para a detecção de alterações

hidroeletrolíticas; o PCR, como um marcador

de infecção/inflamação; TAP e KPTT, para a

avaliação de hemostasia; AST (TGO) e ALT

(TGP), para a avaliação de função hepática e

a glicose, para alterações glicídicas. Já o

hemograma é, sem dúvida, o exame mais

solicitado na clínica médica cirúrgica, pois

permite a avaliação de qualquer doença

sistêmica.15

Exames laboratoriais são mais

frequentemente solicitados em unidades como

PS e UTI e, neste estudo, o maior número de

internamentos ocorreu nestes setores. Em

estudo realizado em unidade de emergência

de um hospital de ensino, os exames mais

solicitados pela equipe médica foram exame

laboratorial (sangue), diagnóstico por imagem

(raios X, ultrassom e tomografia), fita urinária

e eletrocardiograma.16 Já em outro estudo

realizado em UTI de um hospital universitário,

os exames mais comumente solicitados foram

sódio, potássio, cálcio, fósforo, magnésio,

creatinina e ureia sérica, tempo de

protrombina (TAP), tempo de tromboplastina

e parcial ativada (TTPA), ácido lático,

gasometria arterial, glicemia capilar, glicemia

de jejum, hemograma e plaquetas.17 Em se

tratando de exames de imagem, foi possível

observar diferenças significativas para vários

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Rev enferm UFPE on line., Recife, 11(12):4854-65, dec., 2017 4862

ISSN: 1981-8963 ISSN: 1981-8963 https://doi.org/10.5205/1981-8963-v11i12a22534p4854-4865-2017

exames. O exame de RX de tórax foi o mais

realizado, seguido da tomografia de crânio, no

entanto, o RX de tórax não apresentou

diferença significativa (p=0,1403).

Exames de imagem permitem diagnósticos

rápidos de pacientes para o tratamento em

situações agudas, bem como auxiliam no

acompanhamento e tratamento do paciente

crônico. A radiografia, conhecida como raios-

X, é utilizada para o diagnóstico de várias

condições clínicas e cirúrgicas, sendo o

primeiro exame de imagem executado em

uma unidade de emergência, pois,

normalmente, é indolor e de baixo custo. Já a

tomografia computadorizada, também uma

técnica baseada em raio X, devido ao uso de

contraste, aumenta a capacidade de

diferenciação entre tecidos, facilitando a

visualização de lesões quando comparado com

imagens não contrastadas adquiridas

previamente e, com isso, acompanhar a

evolução do paciente e intervir com maior

eficácia.18

Neste estudo, observou-se que, acerca dos

motivos de internação, prevaleceram aqueles

relacionados à lesão osteomuscular e cutânea,

comprometimento no trato gastrointestinal,

politrauma e sistema neurológico, o que

poderia justificar a maior frequência de

exames de imagem envolvendo estes sistemas

fisiológicos.

Ressalta-se, ainda, que este estudo foi

realizado em um hospital escola onde não

existem diretrizes para a solicitação de

exames, o que dificulta uma análise mais

aprofundada acerca dos resultados

encontrados.

Medicamentos - Classificação de

Medicamentos Anatomical Therapeutic

Chemical (ATC)

Foi possível observar que houve diferença

estatística na distribuição das frequências

entre as classes de medicamentos, conforme

grupo anatômico (p<0,05), indicando haver

maior consumo de Medicamentos relacionados

ao Sistema Musculoesquelético (70%) e Sangue

e Órgãos Hematopoiéticos (62%), o que

corresponde aos achados anteriores deste

estudo, nos quais se apresentam, como

principais motivos de internação, lesão

osteomuscular e cutânea, comprometimento

no trato gastrointestinal e politrauma.

As classes de medicamentos em segundo

nível, nos grupos terapêuticos, apresentaram

diferença estatística significativa (p<0,05)

para várias classes, conforme disposto na

tabela 1, destacando-se, entre estes, os

seguintes medicamentos com significância

estatística e maior frequência: N02 -

Analgésico (Dipirona, tramal e nalbufina); B05

- Substitutos do sangue e soluções para

perfusão (solução de cloreto de sódio 0,9%) e

M01 - Anti-inflamatórios (cetoprofeno).

Novamente, se observa que estes resultados

corroboram com aqueles apresentados

anteriormente, nos quais se evidencia a

maioria das internações decorrente de trauma

e mais da metade submetida à conduta

cirúrgica, o que justifica o uso destes

medicamentos.

No setor de emergência, prevalecem os

atendimentos decorrentes de causas externas,

como acidentes e violências, e um dos

principais sinais em casos de trauma é a dor,

sendo, de extrema importância, seu controle

por meio de analgésicos.19 Outro resultado

importante para esta discussão é o fato de

mais de 50% dos pacientes estrangeiros terem

sido submetidos a procedimentos cirúrgicos

durante a internação, cujo sinal frequente é a

dor, o que reforça o uso de analgésicos e anti-

inflamatórios. Tanto na emergência, quanto

na cirurgia, a reposição de volume é

necessária para a manutenção da hemostasia

do paciente, justificando o uso de soluções

para perfusão como a solução salina de

cloreto de sódio 0,9%.

Nesse contexto, estudo realizado em um

hospital no Sul do Brasil obteve resultados

semelhantes no que tange ao uso de

analgésicos e anti-inflamatórios, sendo o mais

comumente empregado o cetoprofeno, um

anti-inflamatório não-esteroidal (AINE),

pertencente à classe dos não opioides. Ainda,

o único opioide utilizado foi o tramadol,

associado, muitas vezes, à dipirona,

paracetamol ou outro. Estes medicamentos,

comumente, são utilizados nos setores de

emergência.20 Na instituição de pesquisa, não

existe protocolo ou padronização do uso de

analgesia em pacientes traumatizados e pós-

cirúrgicos, nem instrumento de mensuração

da dor no setor de emergência. Instituir

protocolos é de extrema relevância no sentido

de criar processos de trabalho bem

estruturados, buscando oferecer uma

assistência de qualidade ao paciente e

avaliando suas necessidades específicas.

Comorbidades

As comorbidades mais frequentes entre os

pacientes estrangeiros/imigrantes internados

foram vírus da imunodeficiência humana

(HIV), Diabetes Mellitus, Tabagismo e

Hipertensão Arterial, sendo que todas não

apresentaram diferença significativa. Ainda,

ao se associar as comorbidades destes

pacientes e seus respectivos diagnósticos de

internação (CID 10), verificou-se não existir

relação entre estes. Apesar de não existir tal

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ISSN: 1981-8963 ISSN: 1981-8963 https://doi.org/10.5205/1981-8963-v11i12a22534p4854-4865-2017

relação, o conhecimento das comorbidades

torna-se relevante na medida em que estas

podem interferir na assistência à saúde destes

indivíduos.

O HIV ocasiona déficit primário da

imunidade celular, fragilizando o sistema

imunológico e, consequentemente,

proporcionando o aparecimento de infecções

oportunistas, neoplasias e o

comprometimento do sistema nervoso. A

infecção pelo HIV não apresenta distinção de

sexo, etnia, faixa etária ou classe social e se

relaciona diretamente a comportamentos de

risco. O conhecimento de tal comorbidade

detectada no estudo é importante porque

pessoas imunodeprimidas possuem

necessidades e características peculiares,

demandando estratégias e ações específicas

dos serviços de saúde.21

Estudo realizado em unidade de Doenças

Transmissíveis de um Hospital Universitário de

Londrina-PR, sobre o perfil epidemiológico de

adultos portadores de HIV/AIDS internados,

revelou considerável predomínio da infecção

em indivíduos do sexo masculino, solteiros,

com baixo nível de escolaridade e renda.

Acerca das condições clínicas entre os

principais motivos de internação, destacaram-

se a tuberculose, monilíase/candidíase oral e

neurotoxoplasmose; com uma média de 9,4

dias de internação; com predomínio de óbitos

no sexo feminino e, entre as causas terminais

de morte, o choque séptico e a disfunção de

múltiplos órgãos.21

Ressalta-se que doenças como o diabetes e

a hipertensão arterial constituem-se como

primeira causa de hospitalizações no Brasil. O

diabetes é uma doença crônica que tem

repercussões multissistêmicas de natureza

vascular e não vascular, perfazendo 9% dos

óbitos mundiais. Este é frequentemente

acompanhado de dislipidemias, hipertensão

arterial e alterações metabólicas que

culminam em doenças cardiovasculares e

neuropáticas. Já a hipertensão é considerada

uma doença crônica e degenerativa, que

deteriora vários órgãos, além de ser fator de

risco para doenças cardiovasculares e

acidentes vasculares encefálicos, sendo causa

de eventos fatais e não fatais.18

Neste estudo, observou-se, ainda, o

tabagismo como uma das comorbidades

registradas em prontuário médico. Ressalta-se

que entre os principais fatores de risco para o

desenvolvimento de doenças crônicas não

transmissíveis (DCNT) estão o tabagismo, o

consumo excessivo de bebidas alcoólicas, as

dietas inadequadas e a inatividade física,

sobressaindo-se o tabagismo. Este se relaciona

com o desenvolvimento de doenças

cardiovasculares, diabetes, neoplasias e

doenças respiratórias crônicas. A prevalência

do tabagismo é maior entre indivíduos do sexo

masculino, raça/cor preta, provenientes de

região rural, com menor grau de instrução e

com baixa renda.22

Procedimentos, Condutas e Desfechos

Durante o período de internação, os

pacientes foram submetidos a vários

procedimentos invasivos e não invasivos, de

acordo com suas especificidades clínicas. Foi

possível verificar, em análise estatística, que

todos os procedimentos apresentaram

diferenças significativas (p<0,05), exceto a

sondagem vesical de demora (p=0,3763; n=

20) e cirurgia (p=0,7680; n= 24), apesar de

terem sido os procedimentos mais

frequentemente realizados depois de punção

venosa periférica (p< 0,01; n= 46).

Estudo realizado em um hospital

universitário apresentou resultados

semelhantes, onde 70% dos pacientes

passaram pelo procedimento de sondagem

vesical de demora e 70,8% foram submetidos a

algum tipo de cirurgia.23 Neste estudo, não foi

contabilizada a punção venosa periférica,

porém, esta é um procedimento de rotina no

hospital, uma vez que as medicações, em sua

grande maioria, são administradas por via

endovenosa.

Ao analisar a variável procedimentos, foi

possível verificar que o resultado vem de

encontro às condutas médicas para o

tratamento dos pacientes, principalmente o

tratamento cirúrgico (73,91%; n= 34), ao qual

ainda se pode vincular o fato de que a maioria

dos internamentos de estrangeiros/imigrantes

foi decorrente de trauma associado a causas

externas e atendidos pela especialidade de

ortopedia.

O cenário apresentado neste estudo, sobre

a saúde do imigrante⁄estrangeiro no âmbito

hospitalar, mostra impacto para o Sistema

Único de Saúde (SUS), para a sociedade e para

o próprio indivíduo que está fora do seu

contexto social. O impacto para o sistema de

saúde pode ser verificado a partir dos gastos

realizados com os atendimentos em pronto-

socorros e pronto atendimentos, assistência

em unidades de terapia intensiva, altas taxas

de internação hospitalar e na recuperação

pós-alta hospitalar. Além disso, o maior gasto

em sistema de saúde diz respeito ao

atendimento em alta complexidade, ou seja,

hospitais como o desta pesquisa, onde se

efetuam procedimentos complexos que

exigem uma estrutura adequada e equipe

profissional preparada e capacitada,24 além de

especial preparo para assistência

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Rigo DFH, Ross C, Alves DCI et al. Caracterização sociodemográfica e clínica...

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Rev enferm UFPE on line., Recife, 11(12):4854-65, dec., 2017 4864

ISSN: 1981-8963 ISSN: 1981-8963 https://doi.org/10.5205/1981-8963-v11i12a22534p4854-4865-2017

individualizada, de modo a atender as

especificidades que demandam o público

estrangeiro/imigrante.

No desfecho da internação dos pacientes

estrangeiros/imigrantes, constatou-se que a

maioria destes teve alta hospitalar, poucos

continuaram em acompanhamento no serviço

ambulatorial do próprio hospital e apenas

quatro evoluíram para óbito.

Estudos que propiciam o conhecimento das

características de determinada população que

utiliza os serviços de saúde do SUS

constituem-se em instrumentos para o

planejamento em saúde, bem como em

subsídio aos profissionais de saúde para

prestar assistência de qualidade a esta

clientela.

O subregistro de informações no prontuário

médico foi um dos fatores que dificultaram o

desenvolvimento desta pesquisa, uma vez

que, conforme exposto, algumas variáveis não

constavam no registro completo para todos os

pacientes. Deste modo, reforça-se a

importância do registro de dados pessoais dos

pacientes, bem como anotações dos

profissionais de saúde acerca dos

procedimentos, condutas e intercorrências

durante o período de internação. Ações de

educação continuada com toda a equipe de

saúde, acerca da falha encontrada, se fazem

necessárias para melhorias do serviço e

segurança do paciente.

Além disso, a escassez de estudos sobre a

temática limitou a discussão dos resultados e

apontou a necessidade de se ampliar as

investigações sobre o assunto. Ainda, sendo a

saúde do imigrante uma temática

relativamente nova no Brasil, destaca-se a

relevância deste estudo para o incremento da

prática clínica, do ensino e da pesquisa.

Entende-se, a partir do estudo, que

conhecer as características de uma população

específica atendida por serviços de saúde é de

extrema importância para o planejamento em

saúde e para a busca de alternativas que

minimizem as dificuldades enfrentadas pelos

imigrantes no acesso a estes serviços, bem

como pela busca de um atendimento de

qualidade.

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Submissão: 18/05/2017 Aceito: 27/10/2017 Publicado: 01/12/2017

Correspondência

Denise de Fátima Hoffmann Rigo Rua Comandante Carlos Alberto Doro, 986 Bairro Jardim Padovani

CEP: 85803-336 Cascavel (PR), Brasil